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A PERÍCIA SOCIAL COMO POSSIBILIDADE DE ACESSO AO BPC NA ESFERA JUDICIAL Anayara Raissa Pereira de Souza 1 Bruna de Melo Vitorino 2 Adriana Giaqueto 3 RESUMO: O Serviço Social é uma profissão que vem se afirmando como uma “especialização do trabalho” inscrita na divisão sócio técnica do trabalho. Os assistentes sociais têm como obj eto de trabalho as diversas manifestações da questão social, devido a isso, ampliam-se as demandas sociocupacionais para este profissional. O Juizado Especial Federal (JEF) é um desses espaços de atuação e foi criado para agilizar os processos de pequeno valor em que a União, suas fundações e autarquias sejam rés. Quando ocorre o indeferimento da solicitação do Benefício de Prestação Continuada (BPC) administrativamente no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), o usuário tem direito a recorrer ao Juizado e solicitar recurso. Desta forma, quando o processo é instaurado, os Assistentes Sociais peritos inscritos no Juizado desenvolverão a Perícia Social, que terá como resultado o Laudo Social, que será apresentado ao Juiz e juntado aos autos processuais. Assim, o presente estudo objetiva compreender a atuação destes profissionais que prestaram serviços ao Juizado Especial Federal nos anos de 2001 a 2006, enquanto peritos sociais nos processos de solicitações de BPC. Para isso, primeiramente foi realizado estudo para evidenciar a importância da proteção social no Brasil. Em seguida, foram realizados questionários para a apreensão do processo de trabalho do assistente social no contexto sociojuridico e por fim, a análise e discussão das categorias elencadas do roteiro das entrevistas. Os dados obtidos demonstram algumas dificuldades como precarização das condições de trabalho, ausência de conhecimentos sobre perícia na graduação, aumento crescente da demanda por solicitações de BPC na esfera judicial, como também demonstram que a perícia social pode ser uma forma de intervenção no cotidiano dos usuários. Palavras-chave: Benefício de Prestação Continuada; Perícia Social; Trabalho do Assistente Social. 1 Assistente social da universidade Federal de Alfenas, discente do mestrado do programa de pós- graduação em serviço social pela UNESP-Franca. Membro do GEDUCAS Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Dimensão Educativa no Trabalho Social 2 Assistente social, Discente do mestrado do programa de pós-graduação em serviço social pela UNESP-Franca. Membro do GEDUCAS Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Dimensão Educativa no Trabalho Social 3 Prof.(a) Dr.(a) da UNESP-Franca. Orientadora vinculada ao programa de pós-graduação em serviço social pela UNESP- Franca. Líder do GEDUCAS Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Dimensão Educativa no Trabalho Social

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A PERÍCIA SOCIAL COMO POSSIBILIDADE DE ACESSO AO BPC NA ESFERA

JUDICIAL

Anayara Raissa Pereira de Souza1

Bruna de Melo Vitorino2

Adriana Giaqueto3

RESUMO:

O Serviço Social é uma profissão que vem se afirmando como uma “especialização do

trabalho” inscrita na divisão sócio técnica do trabalho. Os assistentes sociais têm como objeto

de trabalho as diversas manifestações da questão social, devido a isso, ampliam-se as

demandas sociocupacionais para este profissional. O Juizado Especial Federal (JEF) é um

desses espaços de atuação e foi criado para agilizar os processos de pequeno valor em que a

União, suas fundações e autarquias sejam rés. Quando ocorre o indeferimento da solicitação

do Benefício de Prestação Continuada (BPC) administrativamente no Instituto Nacional de

Seguridade Social (INSS), o usuário tem direito a recorrer ao Juizado e solicitar recurso.

Desta forma, quando o processo é instaurado, os Assistentes Sociais peritos inscritos no

Juizado desenvolverão a Perícia Social, que terá como resultado o Laudo Social, que será

apresentado ao Juiz e juntado aos autos processuais. Assim, o presente estudo objetiva

compreender a atuação destes profissionais que prestaram serviços ao Juizado Especial

Federal nos anos de 2001 a 2006, enquanto peritos sociais nos processos de solicitações de

BPC. Para isso, primeiramente foi realizado estudo para evidenciar a importância da proteção

social no Brasil. Em seguida, foram realizados questionários para a apreensão do processo de

trabalho do assistente social no contexto sociojuridico e por fim, a análise e discussão das

categorias elencadas do roteiro das entrevistas. Os dados obtidos demonstram algumas

dificuldades como precarização das condições de trabalho, ausência de conhecimentos sobre

perícia na graduação, aumento crescente da demanda por solicitações de BPC na esfera

judicial, como também demonstram que a perícia social pode ser uma forma de intervenção

no cotidiano dos usuários.

Palavras-chave: Benefício de Prestação Continuada; Perícia Social; Trabalho do Assistente

Social.

1 Assistente social da universidade Federal de Alfenas, discente do mestrado do programa de pós- graduação em serviço

social pela UNESP-Franca. Membro do GEDUCAS – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Dimensão Educativa no Trabalho

Social

2 Assistente social, Discente do mestrado do programa de pós-graduação em serviço social pela UNESP-Franca. Membro do

GEDUCAS – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Dimensão Educativa no Trabalho Social

3 Prof.(a) Dr.(a) da UNESP-Franca. Orientadora vinculada ao programa de pós-graduação em serviço social pela UNESP-

Franca. Líder do GEDUCAS – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Dimensão Educativa no Trabalho Social

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1. Introdução

O presente trabalho tem por intento apresentar a perspectiva do trabalho do assistente

social no Juizado Especial Federal de Franca (JEF), como perito social nas solicitações de

Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Esse artigo é fruto de uma pesquisa realizada com os profissionais de Serviço Social

que trabalharam no JEF na cidade de Franca nos anos de 2001 a 2006. Este órgão tem como

função julgar causas de pequeno valor em que a União e seus equipamentos sejam réus. O

objetivo foi conhecer o processo de trabalho neste órgão da justiça justifica-se pelo fato da

importância em analisar a demanda por profissionais para desenvolver perícias, considerando

que o número de indeferimentos no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) ratifica a

negatória de direitos. Considera-se que o trabalho do assistente social é fundamental neste

espaço, pois possui instrumentais que podem colaborar na compreensão de carência para além

da ausência material, para que a análise possa ir além do aparente, não restringindo apenas aos

recursos financeiros da família.

Através da pesquisa realizada muitos dados foram obtidos, nesse sentido, considera-

se necessário que se socialize as informações da pesquisa com os demais profissionais

assistentes sociais, para que no coletivo sejam repensadas as demandas profissionais e as

estratégias de enfrentamento a essas demandas. Esse artigo propõe, assim, instigar uma

reflexão acerca do trabalho das assistentes sociais que prestaram serviços ao Juizado Especial

Federal de Franca em casos de solicitações de BPC, assim como se faz necessário um olhar

para as condições de trabalho desses profissionais, inseridos no cenário desfavorável

neoliberal, em que o Estado não tem como prioridade o direito social e sim a manutenção do

mercado, fazendo com que os/as assistentes sociais comprometidos/as com o código de ética

profissional e o projeto ético político, sejam capazes de buscar estratégias de enfrentamento à

barbárie.

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2. Caminho da pesquisa: técnicas e métodos

Antes da reflexão acerca do tema pesquisado, é necessário que se mostre e entenda o

cominho percorrido para realização da pesquisa. Inicialmente foi realizada uma pesquisa

bibliográfica e documental ao redor da temática sobre diversas fontes do saber, já em segundo

momento priorizou-se a pesquisa de campo junto às profissionais.

Todo o processo de construção da pesquisa utilizou-se do método qualitativo, que

visa compreender a totalidade, a valorização dos sujeitos como autores e transformadores da

história e da realidade em que estão inseridos.

A pesquisa qualitativa é defina por Minayo (1994, p.22):

[...] se preocupa, nas ciências sociais, com o nível de realidade que

não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de

significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que

corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e

dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de

variáveis.

Para a coleta dos dados foram utilizados questionários, as quais contaram com roteiro

pré-estabelecido, com questões abertas, a fim de obter informações dos sujeitos entrevistados.

Os mesmos foram realizados via comunicação eletrônica, devido ao fato que duas das

entrevistadas não residiam em Franca.

Com o objetivo de preservar a identidade dos sujeitos da pesquisa, foi mantido em

sigilo o nome das profissionais, sendo substituídos pelos seguintes nomes fictícios: Rosa,

Vânia e Fernanda.

As análises das entrevistas são baseadas na utilização de categorias, que segundo

Minayo (1994) é um método a fim de estabelecer classificações e agrupar ideias que

estabelecem afinidades e possuam um mesmo conceito.

2.1 Dados da pesquisa: análise e interpretação

O processo de trabalho do assistente social é polarizado por interesses de classes, que

se recriam contraditoriamente além da intencionalidade dos sujeitos individuais, não podendo

ser eliminados as condições de trabalho do profissional. Como trabalhador assalariado, o

assistente social é contratado predominantemente pelo Estado e por empresários, para atuar

junto aos vários segmentos de trabalhadores, por intermédio da mediação de organizações

atuantes no campo das políticas sociais públicas e empresariais, geralmente articuladas à

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órbita do poder econômico, político e cultural, por meio das quais são recriados interesses

divergentes.

A ideologia neoliberal divulga o sucesso do mercado auto regulável, entretanto

desmistifica-se esta economia perversa, quando pensamos que:

Essa explicação é totalmente incorreta, pois não é verdade que a economia

capitalista esteja passando por uma situação favorável. Pelo contrário. Os

países que aplicaram mais as políticas neoliberais têm tido, inclusive, certo

recuo histórico. É o caso da Inglaterra, de Margareth Tacher, que é celebrada

como uma das grandes lideranças dessa concepção. Todos os indicadores

econômicos apontam o fato de que a Inglaterra, primeiro país imperialista,

que liderou o capitalismo desde a época da Revolução Industrial [...] A

Inglaterra, cada vez mais, é uma potência capitalista de segunda categoria.

Não apenas está ultrapassada pelos Estados Unidos, pela Alemanha, pelo

Japão, como pela França, Itália e por uma série de outros países europeus,

em termos de produtividade do trabalho e de eficiência. (Machado 2008,

p.37)

Diante do exposto, observamos o crescimento da demanda pela intervenção do

assistente social, que como um profissional inserido na divisão sócio-técnica do trabalho,

também tem rebatimentos das transformações ocorridas em nível de organização do trabalho

que se evidenciam na precarização das condições de sua realização. São reflexos dessa

reestruturação a contratação informal, terceirização, achatamento dos salários entre outros; os

profissionais se veem duplamente excluídos por possuírem cada vez menos condições

materiais de trabalho e por perceberem que a demanda por suas competências, mesmo que de

forma precária, é crescente.

Esses aspectos podem ser percebidos na vivência relatada pelas assistentes sociais

que prestaram serviços ao JEF de Franca e em suas falas ficam claramente demonstradas a

precarização do trabalho e os reflexos do neoliberalismo.

Somos profissionais autônomos e recebemos por laudo realizado, os quais

são descontados INSS, IR e ISS, todas as despesas são da nossa total

responsabilidade, temos que atender todos os municípios que fazem parte da

área de jurisprudência e não importa se é zona urbana ou rural, os

pagamentos são efetuados após quarenta dias ou muito mais da entrega do

laudo (às vezes demora até seis meses) em depósito em conta corrente,

nunca sabemos quando vamos receber. (VÂNIA).

Sobre os contratos de trabalho estabelecidos, as entrevistadas se referiram à

indicação:

Fui indicada pelo diretor da UNESP, pois na época estava prestando serviços

no Centro Jurídico Social e com a Justiça Federal solicitou a indicação de 02

assistentes sociais, ele nos indicou a Rosa e eu. (VÂNIA).

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Aos onze dias do mês de setembro do ano dois mil e um, chegou ao meu

conhecimento por meio de uma analista judiciária da Justiça Federal de

Franca a necessidade de preencher uma vaga de assistente social para

realizar laudos socioeconômicos na primeira vara federal. Com o

interesse em fazer parte dessa atuação profissional entreguei

currículo, como também de cópias de documentações pessoais, inscrição

no Conselho específico, inscrição de cadastro na Prefeitura como

trabalhador autônomo (ISS), assinatura de termo de compromisso na qual

o juiz federal deferiu o compromisso de bem e fielmente sem dolo e sem

malícia, desempenhar as funções de perita judicial (assistente

social). Prestado, assim, o compromisso, prometeu cumpri-lo com

fidelidade, sob as penas da lei. Para constar, lavrei este termo que,

lido e achado conforme, vai devidamente assinado. Assim, uns trinta

dias após fui nomeada por meio de diário oficial a realizar perícia em

um caso de aposentadoria por invalidez. (FERNANDA).

Tais falas evidenciam a informalidade na contratação dos serviços, e ainda como tal

serviço não efetiva o princípio da Impessoalidade contido no § I do art.37 da Constituição

Federal de 1988, por este princípio, o agente público deve conduzir suas atividades de forma

genérica e abstrata, sem visar interesses próprios ou de terceiros. Ou seja, a administração

pública não pode agir com intuito de beneficiar ou prejudicar pessoas ou grupos. Assim, a lei

8112 – que institui o Regime Jurídico dos Servidores Públicos da União, afirma que a

prestação de serviços sem vínculo empregatício com a união só deve acontecer em casos

excepcionais de calamidade pública, o qual não pode se esperar o provimento por via de

concurso público.

A Constituição Federal de 1988 promulga, dentre outros, os direitos sociais:

Educação, Saúde, Lazer, Trabalho, Moradia, Segurança, Previdência Social, Proteção à

maternidade, à Infância e a Assistência aos desamparados. Assim que foram garantidos

direitos pela constituição magna, o país na década de 1990 ingressou nos ajustes para inserção

no sistema neoliberal.

Desta forma, há muitas dificuldades para efetivação dos direitos, tendo como

consequência uma nova tendência, a judicialização dos direitos sociais, que transformam

problemas coletivos em demandas individuais que acumulam processos na Justiça.

Como já dissemos, a diversidade do conhecimento dificulta a apreensão do juiz de

determinadas situações, assim ele pode solicitar ser assistido por outros profissionais que irão

fornecer suporte a sua decisão; o assistente social desenvolve estes trabalhos como perito da

Justiça. As solicitações por perícia social no JEF- Franca são realizadas como citadas a seguir:

Quanto às perícias do Juizado Especial as solicitações são feitas online por

E-mail, através de uma senha que cada perito tem consegue-se entrar no

processo, sendo que o laudo é emitido e protocolado da mesma forma, as das

varas os funcionários dos cartórios ligam e o profissional tem que ir

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pessoalmente ao cartório da vara, assinar a distribuição e levar o processo,

após a conclusão do laudo protocola-se no cartório distribuidor uma via, mas

segundo os cartórios os juízes é que indicam quais profissionais irão atuar no

processo e quais os prazos e honorários estabelecidos, todas são publicadas

em Diário Oficial. (VÂNIA).

Quanto ao conteúdo do pedido por perícia enviado pelo juiz foi identificado que o

objetivo é conhecer a realidade da parte autora. Destacaram também, que o perito ainda deve

estar atento aos prazos, pois o laudo pericial compõe provas que serão anexadas aos autos

processuais.

Ele (o Juiz) determina o profissional que irá realizar a perícia, o prazo de

entrega e honorários,. Os quesitos, geralmente, são solicitados pelo INSS e

os próprios advogados do réu (VÂNIA).

De acordo com Pizzol (2006), a perícia no judiciário tem a finalidade de conhecer,

analisar e emitir parecer sobre situações vistas como conflituosas ou problemáticas. Pode

constituir-se em um meio de prova, pois se trata de uma declaração técnica. Assim descreve

uma das entrevistadas:

Com tais dados inicio a coleta de dados e investigo a situação

socioeconômica do requerente. Utilizo de ficha social que a cada dia englobo

mais informações que possa dar suporte à construção do laudo

socioeconômico. Ainda considero que há autonomia para o desenvolvimento

do trabalho, ainda que há cerca de um ano e meio, com a entrada de uma

profissional assistente social que utiliza de máquina fotográfica para registrar

o que já deveria estar compreendido por meio da escrita, houve na

renovação de cadastramento de peritos judiciais do juizado especial

federal cível da 13ª subseção judiciária de Franca-seção judiciária do

Estado de São Paulo teve a menção do uso desse instrumental baseado no

código de processo cível art. 429. (Fernanda)

Quando ocorreu a publicização do fato de que estavam sendo usadas máquinas

fotográficas para a realização de perícias sociais no ano de 2007, em Franca, houve discussões

do que isso poderia significar num plano futuro para a categoria, vários foram os

posicionamentos que partiam da pressuposição de que representava a perda de espaço

ocupacional, pois não se faz necessário ter formação acadêmica para desenvolver tais

atividades; outros apontavam na direção de falhas no processo de formação/ capacitação

continuada, logo desconsiderando o compromisso de prestação de serviços com qualidade aos

usuários e principalmente o abandono do coletivo. Consideramos que embora a utilização da

máquina fotográfica seja permitida pelo art.429 do Código de Processo Civil, tal instrumental

descaracteriza o propósito do trabalho e a competência da profissão.

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A multidisciplinaridade é uma constante no trabalho, ela acontece quando a solução

do problema necessita obter informação de duas ou mais ciências ou setores do conhecimento

sem que as disciplinas envolvidas no processo sejam elas mesmas modificadas ou

enriquecidas. Ela acontece com interação entre o Serviço Social e a Medicina. Vejamos os

relatos:

Sempre após a perícia médica, há o encaminhamento dos laudos ao perito

social. E sempre que necessário tínhamos abertura para discutir os casos.

(FERNANDA).

A discussão dos processos, quando ocorre, é sempre com os profissionais da

área médica. (VÂNIA).

Para a realização da perícia são utilizadas as ferramentas de trabalho (o instrumental

técnico-operativo do Serviço Social) e a postura política desenhada no código de ética

profissional.

Embora saibamos que não há receitas para a realização de atividades inerentes à

profissão, consideramos importante resgatar os instrumentais utilizados para que possamos

compreendê-los. Assim, de acordo com Fávero; Melão; Jorge (2008), as ferramentas de

trabalho para a realização da perícia podem ser assim apresentas: Entrevista, Visita

domiciliar, Estudo Social, Estudo socioeconômico e Laudo Social.

As Assistentes sociais relatam não terem obtido qualquer tipo de conhecimento

sobre perícia social na graduação. A abordagem sobre o ensino do método foi extinta dos

currículos dos cursos de Serviço Social quando houve o rompimento com o Serviço Social

tradicional, o que trouxe evidentemente uma lacuna no que se refere aos instrumentais de

trabalho. Vejamos o que diz uma das entrevistadas:

Eu não recebi especificamente conhecimentos sobre perícia não, apesar que

na minha época [década de 70] o Serviço Social de Caso era muito estudado

e trabalhado e isto nos deu muita base, principalmente na abordagem do

usuário, na coleta de dados e relatórios.(VANIA).

No que refere aos instrumentais:

Realizo a leitura e entendimento da situação, do objeto da ação requerida e

desde o início tabulei uma ficha social da qual preencho por meio da

investigação realizada in loco, onde subsidia a construção do laudo

socioeconômico. (FERNANDA)

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Considerando que o estudo social é realizado para conhecer a realidade vivida pelo

usuário, ele consiste numa utilização articulada de vários outros instrumentos que nos

permitem a abordagem dos sujeitos envolvidos na situação. Tais instrumentos são as

entrevistas individuais ou conjuntas, a observação, a visita domiciliar e a análise de

documentos. Eles se constituem nos meios pelos quais o perito operacionaliza a abordagem da

situação.

Precisamos observar a situação particular apresentada na sua totalidade. Para

se realizar o estudo socioeconômico é preciso ir além do imediato, num

exercício constante da mediação. (ROSA)

O laudo social é muito específico de cada perito, pois representa seu parecer sobre o

caso solicitado. Assim os depoimentos evidenciam como são feitos por cada uma das

profissionais:

Considero que os laudos são individuais e a critério do profissional. (Vânia).

Especificamente o meu é composto de preâmbulo onde pontuo fatos

relevantes de forma sucinta, depois segue a ficha social onde consta

nome/data de nascimento/endereço/escolaridade/atividade laboral do

requerente, acrescido da sua composição familiar, situação

habitacional, atendimento médico e medicações ingeridas, quadro

financeiro, situação econômica, contendo orçamento receita/despesas e

eventual saldo, nível financeiro, assistência social (se a família é

atendida por benefício de transferência de renda (...) (Fernanda)

Os laudos são elaborados com base na ficha que foi preenchida durante o

estudo social e através dos registros que foram feitos na entrevista. É

composto pela Identificação, Histórico Social e Situação Apresentada,

Composição Familiar, Situação Habitacional, Situação de Saúde, Situação

Econômica e Conclusão. (Rosa).

No que tange ao processo de perícia ser também um processo de intervenção na vida

dos usuários. Assim apreendemos que toda vez que um agente entra em interação com uma

situação ou com elementos que nela se encontra, ele já está interferindo na situação. Neste

contexto, isto quer dizer que à medida que o assistente social entra em contato com uma

situação social a ser descoberta, ou com os sujeitos nela envolvidos, ele intervém e mais que

isso, produz modificações, quando realiza orientações, encaminhamentos e outros

procedimentos. Essas intervenções podem ser analisadas tanto do ponto de vista do momento

de sua realização como dos possíveis impactos que o parecer emitido poderá causar na vida

das pessoas. Tais aspectos são evidenciados na pesquisa realizada, a exemplo da fala da Vânia

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Considero que seja intervenção na realidade dos indivíduos sim, pois na

maioria das vezes são pessoas desprovidas de atenção,

condições psicossociais, necessitando de humanização e direcionamento

sobre a rede de assistência social do município, como de saúde pública e

privada. (VÂNIA)

O Benefício de Prestação Continuada consiste na garantia de um salário mínimo ao

idoso (com 65 ou mais), com renda per capita familiar inferior a ¼ de salário e a pessoa com

deficiência incapacitada para o trabalho que não possua meios de manutenção e nem de tê-los

providos por sua família. De fato, é o maior benefício da Assistência Social, no entanto, é

gerido pelo INSS. Este vem passando por constantes reformas para se ajustar às políticas

neoliberais, que atingem de forma direta o princípio da universalidade da cobertura do

atendimento, equidade e da desburocratização do cidadão ao bem público.

De acordo com Demo (1995) é possível considerar que a política social no contexto

contemporâneo está cada vez mais focalizada, seletiva e com ações residuais. O autor ainda

afirma que é “a política pobre feita para o pobre”.

Assim, o que se observa é a negação de direitos. O BPC, neste cenário, não atinge a

população em risco de vulnerabilidade social, a qual se destina. E o acesso está cada vez mais

burocratizado para proteger os interesses da burguesia. Segundo ilustrado pela fala a seguir:

O BPC trouxe para a previdência um significativo aumento de sua

demanda, que já é grande. Por ser um benefício assistencial, não

contributivo, não gera arrecadação para os cofres previdenciários.

Porém, por ser um Direito Social conquistado, necessita ser melhor

informado para a população poder ter conhecimento desse benefício.

(ROSA)

De acordo com Faleiros (2008), o assistente social tem suas ações profissionais

direcionadas aos mais pobres e mais excluídos (sem bens e sem poder), reservas,

“imprestáveis para o capital”. Faleiros (1997) complementa que para trabalhar com os pobres,

em geral, não há muitos recursos e poder. Desta forma as questões teóricas estão articuladas

às questões políticas, culturais e ideológicas e econômicas, num processo complexo de

mediações (Faleiros, 2008, p.180).

Ao longo da história as categorias de classificação de pobreza sofreram alterações.

Na idade média a classificação era feita por noções que distinguiam os pobres em bons e

maus: os bons eram os que não se revoltavam contra sua miséria e as condições de trabalho.

A revolução de 1848 reivindicava, não direito à assistência, mas o direito ao trabalho

que nunca foi garantido na ótica liberal. No bojo da chamada “questão social” do século XIX

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emerge com força a figura do trabalhador no processo da Revolução Industrial. O trabalhador

se inscreve numa relação contratual de troca de força de trabalho por salário direto ou indireto

(FALEIROS, 2008, p 183).

Com a distinção do trabalhador e do beneficiário, surgiu uma terceira: a dos

vagabundos que não queriam trabalhar, aos quais se destinavam a repressão.

Com o agravamento das manifestações da questão social e a crise econômica

mundial, conforme Pereira (2002), desde os anos 1930 Keynes fundamenta e propaga a

necessidade de intervenção do Estado na economia para assegurar o público, o trabalho

intensivo, a propensão ao consumo e o pleno emprego. No plano social, Keynes ainda postula

a instauração e a organização de sistema de seguridade pública como direito do cidadão e

obrigação do Estado. A principal iniciativa neste sentido foi o Plano Beveridge, elaborado em

plena Segunda Guerra Mundial (1942) que incluiu no sistema de Seguridade Social todos os

cidadãos e todas as necessidades sociais importantes da vida moderna. Entendemos que foi

instituída uma cobertura universal, diferente da noção Bismarckiana de Previdência que

assegurava somente os trabalhadores formais.

A intervenção do Estado para estabelecer certos mínimos sociais de

Previdência Social sem, contudo, afetar as transações do mercado e do

contrato capitalista de trabalho leva em conta não só o trabalhador como

indivíduo isolado e contribuinte, mas também o controle de certo nível de

miséria e pobreza pela obrigatoriedade do seguro social. (FALEIROS, 2008,

p.86)

Como vimos, os critérios para categorização da pobreza são históricos. Em 1988,

quando a Assistência Social passa a configurar como um direito de quem dela necessitar,

contraditoriamente elenca critérios de elegibilidade que determinam critérios de pobreza no

cotidiano do usuário solicitante. Sendo definidos pelas participantes os critérios de pobreza

como:

Baixa renda, empobrecimento escolar, condições precárias de moradia,

dependência e utilização da aposentadoria da pessoa idosa encontrada

sempre nesses lares e a visão crítica da realidade. (Fernanda)

Na verdade, para caracterização da “pobreza” na ocasião do estudo social,

utilizamos desse instrumental para conhecimento da realidade é análise da

conjuntura. Portanto, não temos como generalizar, pois esses critérios são

postos mediante estudo de cada situação específica. (Rosa)

O BPC é considerado repleto de contradições, entre estas está a consideração da renda

familiar como um dos requisitos para se ter direito ao benefício, embora este seja um

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benefício individual destinado aos cuidados do idoso e do deficiente. Diante disto, as

entrevistadas fazem algumas considerações sobre os usuários:

A grande maioria dos periciados encontra-se em situações difíceis com

problemas de saúde, moradia, desemprego, idade avançada, estando

totalmente incapacitados para suprirem suas necessidades básicas e muitas

vezes sem perspectiva nenhuma de melhora, outros se encontra em situações

de vulnerabilidade social sem acesso a recursos sociais por total

desconhecimento e falta de orientações, mas tem sempre aqueles que

usufruem dos benefícios sociais e que tem plenas condições de se manterem,

mas são orientados e muitas vezes “iludidos” pelos seus advogados a

solicitarem os benefícios. (Vânia)

Os depoimentos ratificam os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios- PNAD, de 1998, divulgados pela revista da Associação Nacional dos Auditores

Fiscais da Previdência Social (ANFIP) “o rendimento dos idosos corresponde a 66,9% da

renda familiar. Nas famílias em que são chefes, os idosos são responsáveis por 75,2% da

renda total percentual que é ainda mais elevado nas áreas rurais onde os idosos respondem

81,7% da renda total da família”.

No que se refere ao conhecimento do usuário sobre o BPC, analisamos pelas

entrevistas que muitos confundem o BPC com aposentadoria, ou seja, não sabem que é um

benefício da Assistência Social, também não possuem conhecimento sobre a avaliação que

ocorre a cada dois anos para continuar recebendo, que não têm direito ao 13º pagamento.

E que o mesmo cessará caso sejam superadas as condições que lhe deram início ou

ocorra o falecimento do beneficiário. Os indivíduos que solicitam o benefício,

predominantemente, parafraseando Pedro Demo (2005), vivem em condições de pobreza

política, onde a implicação da pobreza é desdobrada também em sua dimensão política, a

destituição material é algo muito grave, mas mais grave ainda é ser massa de manobra, não

poder comandar seu destino, depender em tudo dos outros. Logo, a falta de cidadania é a

pobreza mais aguda. De acordo com Demo (2005, p. 96), Passar fome é uma questão de

extrema gravidade, inconcebível em qualquer democracia ligada aos direitos humanos. Mas

não saber que a fome é inventada, imposta, manipulada, é uma questão ainda pior, porque se

extermina o sujeito, tornando-o objeto de forças externas e estranhas.

Fulcro fundamental é a ignorância cultivada, no sentido de manter as pessoas na

inconsciência política, de tal sorte que não saibam reagir e confrontar-se com o

processo de marginalização. Trata-se de reconhecer a “politicidade” da pobreza,

para além de sua marca material entendida como “carência”. O pobre não tem

apenas carência material- falta de comida, emprego, renda, casa – mas antes de tudo

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é “marginalizado”, no sentido dialético do termo: é incluído na margem, como

massa de manobra. Faz parte intrínseca do sistema capitalista periférico, no

movimento da politicidade da realidade. (DEMO, 2005, p.95)

Daí a importância de destacar a intervenção do Assistente Social, pois diferente de

outros profissionais, este trabalha a dimensão educativa e a compreensão do solicitante como

sujeito de direitos. Assim as entrevistadas elucidaram esta situação:

Eu considero que nem sempre eles sabem o que é o BPC, e também

normalmente o advogado é que acompanha todo o processo e não orienta

corretamente o usuário, é muito difícil você encontrar usuário que tem pleno

conhecimento do seu processo. (Vânia)

Foram anos de luta da categoria para reaver o espaço do Serviço Social no INSS que foi

extinto no primeiro governo do presidente Fernando Henrique Cardoso por ter identificado o

potencial e a militância dos profissionais que desenvolviam os serviços compromissados com

a efetivação dos direitos dos usuários. Deste então, as intervenções foram pontuais e sem

melhoria nas condições de acesso do usuário ao BPC. Em 2009 foi realizado o concurso para

a contratação de 900 assistentes sociais para trabalharem com o BPC no INSS. Indagamos às

entrevistadas se elas acreditam se com esta conquista a demanda por perícias no JEF irá

diminuir. Vejamos o que elas responderam:

Considero que foi uma conquista para a categoria. Se o trabalho for

desenvolvido com competência e desde que sejam respeitadas e aceitas as

intervenções das profissionais as perícias deverão diminuir pela metade.

(Vânia)

Evidenciam-se nas falas as dúvidas quanto à atuação do assistente social, se este será

mais um instrumento de burocratização e restrição ou se o trabalho, desenvolvido por um

profissional crítico propositivo, será uma possibilidade de acesso ao BPC, considerando que

dificuldades estruturais continuam se agravando.

São muitos os desafios para a realização do processo de trabalho do assistente social

no âmbito da justiça, a busca da essência do complexo social se faz incessante no cotidiano

profissional. São inúmeras as dificuldades para que as políticas públicas existentes possam

viabilizar proteção social ao segmento mais necessitado, bem como ao conjunto da população

no atual estágio do sistema capitalista. Entretanto, ao profissional cabe o desafio de atuar nos

liames das contradições em que está inserido e imprimir ao seu trabalho a perspectiva do

projeto ético-político da profissão.

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3. Considerações finais

Pelo estudo realizado foi possível perceber como o neoliberalismo, caracterizado

pela escassez de recursos e o Estado Mínimo (para o Social) tem repercutido na vida do

trabalhador e no trabalho dos assistentes sociais. Destacamos nesse cenário, o ataque aos

direitos de cidadania conquistados às duras penas pelos movimentos sociais e setores políticos

engajados com a luta dos trabalhadores.

O Benefício de Prestação Continuada constitui-se o maior benefício da Assistência

Social, destinado à população em estado de extrema pobreza. No entanto, seu histórico de

regulamentação e gestão foi repleto de incoerências e descontinuidades. Tudo isso, ocasionou

dificuldades de acesso ao mesmo.

O estudo possibilitou-nos constatar que as assistentes sociais que prestaram serviços

ao Juizado Especial Federal de Franca em casos de solicitações de BPC, apresentaram

precárias condições de trabalho, materializando-se na ausência de vínculo empregatício,

irregularidades nos vencimentos percebidos pelas mesmas e utilização de recursos próprios

para a realização de atividades relacionadas ao processo pericial.

As profissionais empenham-se na realização de perícias sociais com

comprometimento ético e com qualidade, embora não tenham recebido as diretrizes deste

trabalho na graduação.

A compreensão que as mesmas demonstram a respeito dos usuários e suas famílias

solicitantes nos chamou a atenção, devido à evidência do comprometimento com a efetivação

de direitos destes sujeitos espoliados dos meios de produção e reprodução de sua

sobrevivência.

Além disso, foi destacada a burocracia como meio de defesa dos interesses das

classes dominantes como forma de cercear ou ocultar uma problemática de grande dimensão

como são os indeferimentos do INSS.

Embora existam restrições e exigências ao trabalho do assistente social como Perito

Judicial, a intervenção deste profissional configura-se como uma possibilidade de inclusão do

beneficiário, visto que a categoria se compromete com ações crítico propositivas, que

apreendam a questão da pobreza para além da ausência de recursos materiais.

4. Referências:

BRASIL. Ministério da Previdência Social. Disponível em: <http://www.mpas.gov.br>.

Acesso em: 2009.

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