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novembro | 2017
A Perspetiva Temporal de Futurona Construção de Carreira de Adolescentesde Meios Socioeconómicos DesfavorecidosDISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Maurício Manuel Abreu OrnelasMESTRADO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
A Perspetiva Temporal de Futurona Construção de Carreira de Adolescentesde Meios Socioeconómicos DesfavorecidosDISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Maurício Manuel Abreu OrnelasMESTRADO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
ORIENTADORRenato Gil Gomes Carvalho
Agradecimentos
A presente dissertação representa o culminar de um percurso académico, repleto
de altos e baixos, ao qual está subjacente o meu desenvolvimento pessoal, exponenciado
pelo conjunto de vivências que experienciei ao longo dos anos. Sinto como
merecidamente devido, um conjunto sincero e profundo de agradecimentos, aos que
contribuíram para o fim desta importante etapa.
Ao meu orientador, Professor Renato Carvalho, pela orientação que me
proporcionou, ajudando-me na tarefa de desenvolver um estudo do qual me orgulhasse,
incitando-me sempre a procurar a verdadeira autonomia e imparcialidade de um
investigador.
Aos adolescentes que participaram neste estudo. Sem o vosso contributo esta
dissertação não existia, mas ainda mais importante, eu não teria descoberto novas
fronteiras e aberto novos horizontes na minha forma de pensar. Que este documento
tenha efeitos práticos que conduzam à melhoria da qualidade de vida de todos os jovens
que vocês “representam”.
Aos meus colegas, pela partilha diversa de angústias, dúvidas e incertezas, bem
como pelos indispensáveis contributos para que concretizasse este estudo.
Aos meus amigos, pela insistente preocupação com o estado da dissertação,
motivando-me sempre a continuar com a tarefa que assumi.
À minha família, por me apoiar incondicionalmente durante todo este percurso.
Aos meus irmãos, por me estimularem a criatividade para encontrar novas
formas de me concentrar nas tarefas e no estudo, e pelas distrações proporcionadas, que
tanto precisei.
2
À minha mãe, por nunca duvidar de mim, nunca desistir de estar a meu lado,
mostrando sempre o seu orgulho em me ter como filho. Chegar aqui só foi possível
pelos valores e princípios que me transmitiu, mesmo com todas as dificuldades que a
vida se encarregou de lhe colocar.
À minha avó. Por tudo. A sua memória faz-me continuar. Esta dissertação é lhe
dedicada.
3
Índice
Resumo ............................................................................................................................. 5
Introdução ......................................................................................................................... 7
Capítulo I - Enquadramento ............................................................................................. 9
Estatuto Socioeconómico e Construção da Carreira ................................................... 10
A PTF na Construção de Carreira na Adolescência ................................................... 12
Capítulo II - Metodologia ............................................................................................... 16
Método ............................................................................................................................ 17
Objetivo e Questões da Investigação .......................................................................... 17
Grounded Theory ........................................................................................................ 20
Amostra ....................................................................................................................... 21
Instrumento ................................................................................................................. 22
Procedimentos ............................................................................................................. 25
Capítulo III – Resultados ................................................................................................ 30
Resultados ....................................................................................................................... 31
Meio familiar e influência na futura profissão ............................................................ 32
O desenrolar do percurso escolar ................................................................................ 35
Vivência num bairro social ......................................................................................... 37
Perspetivas de futuro a curto prazo e longo prazo ...................................................... 39
Definição de estratégias para cumprir objetivos. ........................................................ 42
Discussão .................................................................................................................... 43
Conclusão ....................................................................................................................... 46
Bibliografia ..................................................................................................................... 51
4
Anexos ............................................................................................................................ 58
5
Resumo
A construção de carreira e a forma como os adolescentes inseridos em meios
socioeconómicos designados de desfavorecidos desenvolvem perspetivas face ao futuro,
tem vindo a receber muito interesse da investigação no domínio da psicologia
vocacional. No presente estudo pretende-se fornecer um contributo para o
aprofundamento do conhecimento nesta área, procurando estudar a perspetiva temporal
de futuro (PTF) de adolescentes madeirenses inseridos num contexto considerado
menos favorecido do ponto de vista socioeconómico. Para este efeito, construiu-se uma
amostra, constituída por 7 adolescentes, com idades compreendidas entre os 15 e os 21
anos, que residem num bairro social do Funchal, e a quem foi conduzida uma entrevista
qualitativa semiestruturada. Os resultados foram sistematizados e analisados através de
análise de conteúdo, tendo sido identificadas 4 categorias, nomeadamente as seguintes:
meio familiar e influência na futura profissão, o desenrolar do percurso escolar, vivência
num bairro social e perspetivas de futuro a curto e longo prazo. Identificou-se ainda
uma subcategoria: definição de estratégias para cumprir objetivos. Os resultados são
discutidos tendo em conta a importância da PTF para a inclusão social, assim como a
potencialidade da PTF enquanto dinamizadora do desenvolvimento de metas e
estratégias para o futuro.
Palavras-chave: Construção de carreira; Perspetiva Temporal de Futuro; Estatuto
socioeconómico; Adolescentes; Inclusão Social.
6
Abstract
Career construction and the way in which adolescents inserted in designated
socioeconomic means of disadvantaged develop perspectives towards the future, has
received much interest of the investigation in the field of vocational psychology. In the
present study we intend to provide a contribution to the deepening of knowledge in this
area, seeking to study future time perspective (FTP) of Madeira adolescents inserted in a
context considered less favored from a socio-economic point of view. For this purpose,
a sample of 7 adolescents, aged between 15 and 21, residing in a social housing in
Funchal was created, and a semi-structured qualitative interview was conducted. The
results were systematized and analyzed through content analysis. Four categories were
identified, namely: family environment and influence in the future profession, the
development of the school course, living in a social neighborhood and perspectives of
the future in the short and long term. A subcategory was identified: definition of
strategies to achieve objectives. The results are discussed taking into account the
importance of FTP for social inclusion, as well as the potential of FTP as a driving force
in the development of goals and strategies for the future.
Key-words: Career development; Future Time Perspective; Social and Economic Status;
Teenagers; Social Inclusion.
7
Introdução
Pelas oportunidades e acesso a recursos que envolve, o estatuto socioeconómico
corresponde a um fator central ao longo do ciclo de vida dos indivíduos, nomeadamente
na forma como constroem e tomam decisões de carreira. Com o aumentar das
desigualdades entre as classes com menos recursos e aquelas que mais riqueza
acumulam, surge uma crescente preocupação em diluir os efeitos destas diferenças,
evidenciando-se a relevância da igualdade de oportunidades e acesso aos mesmos
recursos por parte de pessoas dos diversos estratos sociais (American Psychological
Association, 2007).
O interesse pela dinâmica criada entre o estatuto socioeconómico e o
desenvolvimento vocacional tem que ver, entre outros aspetos, com o facto de que o
estatuto socioeconómico está também associado à perceção que os indivíduos das
classes mais baixos têm em relação à construção de carreira (Gottfredson, 2005).
Apesar de esta temática ter vindo a ser estudada, persiste ainda a necessidade de
compreender melhor como os adolescentes integrados em meios com menor acesso a
recursos sociais e económicos constroem a sua carreira e, especificamente, desenvolvem
perspetivas face ao futuro. Assim, no presente estudo pretendemos explorar o papel da
PTF na construção de carreira na adolescência que provêm de meios socioeconómicos
desfavorecidos, encontrando estratégias para potenciar uma profícua construção de
carreira destes jovens.
Efetivamente, a perspetiva temporal de futuro pode exercer uma função de
mitigação dos efeitos negativos de um contexto socioeconómico desfavorecido, visto
que através da PTF, os adolescentes desenvolvem uma visão positiva para o seu futuro,
dado que se preocupam com questões importantes que virão a marcar a sua vida em
8
diversos níveis, tais como o percurso escolar, o percurso profissional e atividades
sociais (Carvalho, 2015a; Savickas, 1997).
9
Capítulo I - Enquadramento
10
Estatuto Socioeconómico e Construção da Carreira
No espetro alargado de fatores que influenciam a construção da carreira
enquadra-se, entre muitos outros, o meio socioeconómico. Podendo ser discutido o peso
que cada fator possui, é imprescindível atentar cuidadosamente à classe social, como
potenciadora ou inibidora de um percurso de sucesso no mercado de trabalho (Blustein
et al., 2002; Hsieh & Huang, 2014).
O estabelecimento de relações com os outros reveste-se de especial importância
porque integra-se aqui a relação e influência da família de origem para o
desenvolvimento vocacional e posterior construção de carreira. Lankard (1995) salienta
o papel da família para a edificação de um percurso profissional saudável, dado que é
através do núcleo familiar que se constroem os alicerces que sustentam o
desenvolvimento pessoal e vocacional. No entanto, apesar da influência defendida por
Lankard, outros autores, nomeadamente Keller e Whiston (2005), argumentam que, de
acordo com um estudo realizado pelos próprios, não existe uma relação clara entre a
forma como os adolescentes se relacionam aos 18 anos com os seus pais, e o percurso
vocacional, nos 5 anos seguintes, que os filhos percorrem.
A família, a escola, os pares e a comunidade, constituem-se como fundamentais
para o desenvolvimento vocacional de adolescentes de meios socioeconómicos
desfavorecidos. Na mesma linha, Balbinotti (2003), revela que o peso do estatuto social
no percurso vocacional é enorme, fruto das aspirações, hábitos e atitudes, e em especial
à forma como é encarada a escolha profissional.
A investigação mostra diferenças no percurso vocacional entre indivíduos das
classes mais altas e pessoas provenientes de meios socioeconómicos desfavorecidos,
sendo que os últimos encontram-se, não raras vezes, à margem da sociedade, reflexo da
11
forma como é encarado o estatuto social no acesso ao trabalho (Brown, Fukunaga,
Umemoto, & Wicker, 1996; Carvalho & Novo, 2012; Richardson, 1993).Tal divisão
deve-se, fundamentalmente, ao acesso a recursos, tanto educacionais como
profissionais, como também às oportunidades que surgem nos diferentes momentos da
vida do ser humano, categorias onde as classes sociais mais elevadas são privilegiadas
(McWhirter, Hackett, & Bandalos, 1998; Turner & Lapan, 2003). Efetivamente, é nos
meios desfavorecidos a nível económico e social, onde residem os cidadãos que têm
maiores dificuldades em encontrar alternativas para prosseguir os seus estudos e em
adquirir competências que permitam encontrar emprego da forma mais profícua
possível (Silva, 2010).
Ainda de acordo com Silva (2010), em locais como bairros sociais, conjuntos
habitacionais sob a égide de instituições públicos, e outras zonas consideradas
socioeconomicamente desfavorecidas é expectável que as escolhas vocacionais sejam
realizadas em função da procura de um trabalho, sem empregar muita importância às
necessidades e especificidades individuais subjacentes à satisfação e bem-estar e à
construção da identidade. Esta circunstância é ainda mais problemática no caso dos
adolescentes, uma vez que é frequente abandonarem os estudos para entrar
precocemente no mercado de trabalho.
Como Blustein (2006) refere, das três necessidades humanas concretizadas
através do trabalho (poder e sobrevivência, conexão social e autodeterminação), apenas
a primeira é parcialmente tida como motor da procura de trabalho em contextos
socialmente desfavorecidos, já que nestes casos, é comum que a sobrevivência seja a
principal, e muitas vezes única, preocupação aquando da construção de carreira.
Nos meios socioeconomicamente desfavorecidos as dificuldades no acesso às
oportunidades formativas são maiores do que noutros contextos. Assim, tendo por base
12
Creed et al. (2009 citados por Silva, 2010), a probabilidade de alcançar, através do
percurso escolar, ferramentas que permitam obter, não só sucesso escolar, como
também uma maximização das competências necessárias para encontrar e manter um
trabalho que satisfaça as necessidades individuais é menor.
Ou um outro aspeto pertinente da Psicologia vocacional em contextos
socioeconómicos deste cariz prende-se com a maturidade vocacional. Balbinotti (2003)
refere inúmeras causas no desenvolvimento da maturidade vocacional, enquadrando-se
o estabelecimento de relações com os outros, as atividades experienciadas durante o
período em que o indivíduo é considerado criança, mas também na adolescência, e por
fim, a observação do meio onde estão inseridos e a forma como estão estipuladas as
diversas funções e papeis. O mesmo autor revela que o estatuto socioeconómico
condiciona ou exponencia a construção de carreira, na medida em que a posição social
determina as oportunidades de desenvolvimento dos indivíduos, para além de
influenciar o autoconceito, ou seja a imagem que o ser humano tem de si próprio.
A PTF na Construção de Carreira na Adolescência
A perspetiva temporal de futuro (PTF) tem vindo a ser estuda em múltiplas
investigações a nível nacional e internacional. A PTF engloba um conjunto de
características, nomeadamente ao nível da motivação e também da cognição, como o
próprio nome indica, para o futuro (Savickas, 1997). A PTF traduz-se na criação de
metas, objetivos e projetos para o futuro, em diferentes domínios da nossa vida, tais
como o percurso académico, o percurso profissional e as relações sociais (Carvalho,
2012). Os objetivos identificados não têm que se encontrar num futuro próximo,
podendo se situar num espaço temporal muito distante daquele em que o indivíduo se
13
encontra aquando da formulação das suas metas (Husman & Lens, 1999; Lens &
Tsuzuki, 2007). Segundo Carvalho (2015b), a motivação surge nas pessoas que têm a
capacidade de organizar o presente, empreendendo ações concretas com a finalidade de
concretizar projetos no futuro.
Lens et al. (2012) referem que através de uma PTF plenamente desenvolvida, os
indivíduos serão capazes de entender o presente como fundamental para alcançar os
objetivos propostos para o tempo vindouro. Consideram igualmente que, do ponto de
vista psicológico, a distância que separa o tempo atual e as metas futuras é percecionada
pelos indivíduos como mais curta, em relação à sua verdadeira dimensão temporal.
Desta forma, o desenvolvimento da PTF constitui-se por si só como um veículo para
uma maior adaptabilidade dos indivíduos, demonstrada em vários contextos e culturas,
mormente através dos comportamentos observáveis (Carvalho, Pocinho, & Silva, 2010;
Sircova et al., 2015; Shell & Husman, 2001).
Esta capacidade de compreender a relação entre o presente e o futuro, revela-se
determinante para que os adolescentes possam estar intrinsecamente motivados a atingir
objetivos, ainda que estes se situem num espaço temporal longínquo, especialmente no
mundo atual, em constante mudança e onde os resultados são cada vez mais exigidos
em tempo recorde (Teles, 2013). Nos contextos educativos, a PTF detém redobrada
importância, tendo em conta que a mesma promove e fomenta maior envolvimento dos
estudantes na comunidade escolar, cumulativamente a um desempenho escolar de
superação das dificuldades (Shell & Husman, 2001). De facto, o investimento nos
resultados escolares é conseguido mediante fortes índices motivacionais, que podem ser
alcançados, em parte, com o auxílio da PTF (Teles, 2013).
As expetativas criadas pelos adolescentes nas diferentes áreas do seu quotidiano,
interferem no surgimento e manutenção de objetivos e motivação para a concretização
14
dos mesmos (Carvalho, 2012). Esta ideia é sustentada por Teles (2013), que argumenta
que, quando se verifica desinteresse sobre o que será o futuro, os adolescentes
manifestam elevados níveis de desmotivação, abdicando do estabelecimento de metas,
objetivos e projetos para o futuro, sendo muitas vezes obrigadas a permanecer no
sistema educativa por imposição dos pais, ou pelo facto da escolaridade até aos 18 anos
ser obrigatória. Grosso modo, estes adolescentes abdicam de um desenvolvimento
escolar e vocacional, centrando-se no aqui e agora, ao contrário dos alunos que,
apresentando perspetivas face ao futuro, colocam nas tarefas escolares o brio e esforço
requerido para ultrapassar as adversidades que vão surgindo. Logo, estes adolescentes
terão a capacidade de, em várias áreas da sua vida, manifestar comportamentos
adaptativos que promovam um maior bem-estar psicológico, encontrar soluções para
diferentes problemas, gerir o seu tempo de acordo com as metas estipuladas ou delinear
tarefas para cumprir, autonomamente, os objetivos definidos (Teles, 2013). Zimbardo e
Boyd (1999) demonstram que a PTF encaminha os adolescentes para determinados
sacrifícios em relação a gratificações no tempo presente, em prol da concretização de
metas de futuro, que se enquadram no âmbito da construção de carreira. Não obstante,
fruto da exigência que impõem a si próprios, estes adolescentes tendem a passar por
mais momentos de stress que os seus pares.
A PTF também se encontra presente no desenvolvimento da autoestima por parte
dos adolescentes (Mello, Finan, & Worrell, 2013). No seu estudo, estes autores
verificaram que adolescentes que se centram somente nas vivências do presente ou do
passado têm uma autoestima menor, comparativamente àqueles que utilizam a PTF
como meio de orientação das experiências vividas.
Outro campo onde a PTF é significativa, é nas decisões subjacentes ao
desenvolvimento vocacional, já a partir da adolescência, o que se traduz na planificação
15
de uma carreira futura. Assim, o adolescente compreende que para enveredar por algum
percurso vocacional, é essencial fazer escolhas adequadas e munir-se das competências
indispensáveis para a consecução dos seus objetivos (Marko & Savickas,1998),
verificando-se então a importância da PTF, na medida em que possibilita uma maior
compreensão acerca da forma como os adolescentes tomam as decisões nas mais
variadas áreas da sua vida, durante o seu desenvolvimento pessoal e vocacional
(Carvalho, 2015a).
A PTF pode ter também um impacto significativo para a inclusão social, visto
que esta dimensão da personalidade está associada ao envolvimento dos adolescentes
em atividades extracurriculares, o que serve como veículo para a integração dos
adolescentes juntos dos seus pares. Para além disso, a forma como os jovens interagem
com os outros, é influenciada pela PTF, dado que encarar o futuro com preocupação,
ajuda a desenvolver planos que criem um envolvimento com a comunidade, reduzindo
assim o fator de exclusão social (Shores & Scott, 2007).
16
Capítulo II - Metodologia
17
Método
Objetivo e Questões da Investigação
Tendo em conta a preocupação, cada vez mais na ordem dia, das questões
tocantes à inclusão social, torna-se importante estudar a forma como a perspetiva
temporal de futura se manifesta nos adolescentes de meios socioeconómicos
desfavorecidos, em particular na construção de carreira. Assim, os objetivos desta
investigação passam por compreender as várias dimensões da vida dos adolescentes
onde a PTF pode atuar e como se manifesta, mais especificamente como pode contribuir
para a construção de carreira dos adolescentes, e contribuir para a inclusão social.
Desta forma, a questão geral da investigação é a seguinte: Qual a importância da
PTF para a construção da carreira de jovens de meios socioeconómicos desfavorecidos?
Partindo da questão geral acima colocada, procura-se aprofundar algumas
vertentes, elaborando então as questões específicas de investigação enunciadas: Como
se caracteriza a PTF de adolescentes de meios socioeconómicos desfavorecidos? Que
relação existe entre a PTF e a inserção em contextos socioeconómicos desfavorecidos?
Que implicações tem o desenvolvimento da PTF para a inclusão social?
A questão principal desta investigação tem como intuito compreender qual o
papel que a perspetiva temporal de futuro tem na construção de carreira de adolescentes
a residir em meios considerados desfavorecidos do ponto de vista socioeconómico. Para
tal, é importante estudar as vertentes associadas às questões específicas da investigação,
18
mais especificamente, o meio onde residem os adolescentes, a visão que têm do seu
futuro e a promoção da inclusão social na nossa região.
Posto isto, este estudo pretende contribuir para a promoção da inclusão social,
demonstrando a importância da perspetiva temporal de futuro para a construção de
carreira de adolescentes de meios socioeconómicos desfavorecidos.
De forma a alcançarmos os objetivos da presente investigação, recorremos a
metodologia qualitativa que se define como um paradigma que tem por base conceitos
construtivistas e interpretativistas (Altheide & Johnson, 1994; Guba & Lincoln, 1994;
Kuzel & Like, 1991; Secker et al., 1995). Tal facto pressupõe a existência de diferentes
realidades, consoante a visão de cada investigador, dado que é a interação com o meio
social envolvente e influenciador, que possibilita construções sobre o que é a realidade.
A noção daquilo que é, ou não, real, é em si própria mutável, consoante a própria
mutação da sociedade onde o investigador conduz o seu estudo (Berger & Luckmann,
1966).
Partindo dos pressupostos descritos, e acrescentando a visão de Yin (1984,
citado por Alves-Mazzotti, 2006), que argumenta que a generalização na metodologia
qualitativa é possível, embora concretizada de forma diferente do que na metodologia
quantitativa, visto que a amostra não tem dimensão suficiente para permitir as
generalizações observadas na investigação quantitativa. Na primeira, procura-se através
dos resultados encontrados, elaborar teoricamente, proposições a serem seguidas
noutros contextos, o mais semelhantes possível ao meio estudado. Por sua vez, na
metodologia quantitativa, o que se procura é a generalização dos resultados, fazendo da
amostra encontrada, uma representação fiel da população de onde saiu essa mesma
amostra. Como tal, não existe uma preocupação, nesta investigação, com generalizar os
19
resultados obtidos, mas sim em compreender individualmente, as particularidades de
cada participante, elaborando um quadro onde seja observado a singularidade de cada
um, como também uma análise à forma como o meio em que estão inseridos e a
perspetiva temporal de futuro se manifesta (Reid, 1996).
Atendendo ao objetivo da investigação e àquilo a que se propõe analisar, é
imperativo o uso de uma metodologia que siga uma linha de compreensão entre aquilo é
o meio social onde os indivíduos se inserem e os seus comportamentos. Öhman (2005)
sustenta que esta interação permite atribuir significados aos pensamentos, ideias e
emoções, dos diferentes participantes, medindo as suas experiências de forma flexível,
levando em conta a volatilidade do meio socioeconómico em questão. Para além disso,
é fulcral a constante adaptação em relação aos desenvolvimentos que surgem na
investigação, sendo natural o aparecimento de diferentes rumos, do que aqueles
inicialmente planeados.
A metodologia qualitativa é portanto um processo de compreensão e
interpretação da forma como o ser humano lida com o que o envolve, procurando
explorar, de diferentes formas os problemas advindos da relação ser humano-meio
social (Creswell, 2007; Morse, 1992). Por sua vez, Godoy (1995), sublinha que todas as
informações obtidas na investigação devem ser analisadas como tendo o mesmo grau de
importância. Só dessa forma se consegue obter uma visão holística sobre o fenómeno
em estudo.
O exposto afigura-se ainda mais importante, na medida em que, e seguindo o
raciocínio de Guba e Lincoln (1994), a interação entre os participantes e o investigador
cria uma ligação, que os liga, e ao estudo, a um contexto muito específico.
Aprofundando esta premissa, Denzin e Lincoln (1994), mostram que só à luz desse
contexto, compreende-se os resultados obtidos, mas essencialmente as conclusões
20
retiradas do estudo. Daí que Smith (1983), diga que há uma realidade especificamente
construída quando se efetua uma investigação deste género.
Na mesma linha de Smith (1983), também Lincoln e Guba (1985) e Öhman
(2005), seguem a ideia que a verdade na investigação é uma noção que varia de acordo
com a perspetiva de cada um. Se se retirar o investigador de determinado contexto para
realizar o mesmo estudo noutro meio, ou se forem realizados dois estudos com os
mesmos objetivos procedimentos, no mesmo meio, mas por dois investigadores, em
ambos os cenários obteríamos resultados diferentes. Não se pode afirmar que um estudo
seria mais verdadeiro, ou até mesmo verossímil, que outro. Por via da interação entre os
diferentes fatores que influenciam os resultados que provêm da realização da
investigação, a verdade é um constructo subjetivo.
Optou-se pela metodologia qualitativa, visto que oferece uma viagem ao mundo
interno de cada indivíduo, atribuindo aos participantes na investigação um papel central,
e de relevada importância, ouvindo-os atentamente e atribuindo significado às suas
histórias. Dessa forma, transforma-se os dados obtidos em resultados concretos que
consubstanciam as múltiplas vertentes de um determinado contexto (Creswell, 2007).
De entre as cinco abordagens existentes na metodologia qualitativa, recorre-se neste
estudo à Grounded Theory para auxiliar a condução da investigação.
Grounded Theory
A Grounded Theory tem como principal intuito criar uma teoria a partir do zero,
tendo por base a informação recolhida, e deixando que dessa informação emirjam
explicações e quadros analíticos (Strauss & Corbin, 1998). Com início na Sociologia,
esta teoria, desenvolvida por Anselm Strauss e Barney Glaser, defende que não devem
21
existir conceções pré-concebidas sobre possíveis resultados dos estudos conduzidos,
mas sim deve-se permitir que seja o conjunto de informações recolhidas a basear toda e
qualquer interpretação sobre as interações e ações dos indivíduos (Creswell, 2007). É
necessário, segundo Glaser (1992), extremo cuidado para não seguir uma estruturação
muito rígida na Grounded Theory, tornando-a demasiado previsível. Tendo isso em
conta, Charmaz (2006) apresenta-nos, dentro da Grounded Theory, uma outra
perspetiva sobre os procedimentos a seguir, de base construtivista, que levantou
inúmeras questões, até aqui encobertas. Esta nova perspetiva leva-nos a ir além da
superfície, e procurar nos dados disponíveis, informações sobre as ideologias, crenças e
valores dos participantes, o que, em última análise, permite descobrir a realidade social
onde as pessoas se inserem.
Escolheu-se a Grounded Theory, pela ausência de uma teoria explicativa sobre o
fenómeno em estudo. Não havendo ainda uma teoria que permita perceber, na plenitude,
como é que adolescentes fazem uso da perspetiva temporal de futuro na construção da
sua carreira, atendendo ao facto de viverem em contextos desfavorecidos. Outra das
razões que levaram a esta escolha prende-se com a capacidade desta abordagem em
compreender de forma abrangente o ser humano, explorando questões pertinentes no
tocante às experiências do indivíduo. Por fim, esta teoria ajuda a explicar um
determinado fenómeno, analisando as suas diversas dimensões (Creswell, 2007).
Amostra
A amostra constituída para esta investigação contou com 7 adolescentes com
idades compreendidas entre os 15 e os 21 anos. Dos 7 participantes, 4 são do sexo
masculino, e os outros 3, do sexo feminino. Todos os participantes deste estudo vivem
22
no Conjunto Habitacional da Quinta Falcão, estando este Conjunto Habitacional
subdividido em dois núcleos habitacionais. Apenas um dos participantes não viveu
sempre neste bairro social.
No que concerne à escolaridade, somente um dos participantes não se encontra a
estudar, sendo que o ano que frequentam é consideravelmente diverso e varia entre um
curso de formação para adultos que dá equivalência ao sexto ano, e o ensino
profissional, que dá uma dupla certificação, nomeadamente o décimo segundo ano e a
carteira profissional.
A amostra foi constituída de acordo com as necessidades da investigação,
fazendo com que o fenómeno em estudo esteja a ser corretamente representado
(Almeida & Freire, 2008). Tendo em conta o equilíbrio entre os géneros escolhidos, as
idades e o nível de escolaridade atual, acredita-se que este objetivo foi concretizado.
Salienta-se que, esta amostra é representativa da população à luz da metodologia
qualitativa, não devendo existir extrapolações de âmbito estatístico na
representatividade em questão. Para além disso, é fundamental perspetivar a
flexibilidade e adaptabilidade da amostra ao longo da investigação (Glaser, 1978).
Instrumento
Entrevista Semiestruturada. Foi desenhada uma entrevista tendo em conta as
dimensões que o presente estudo se propõe a abordar. Em trabalhos de natureza
científica a entrevista é um instrumento que pode contribuir significativamente para
uma recolha de dados eficaz. Mais ou menos estruturada, a entrevista possui suficiente
profundidade para obter dados de enorme valor para a investigação, permitindo
23
compreender fenómenos complexos, como aqueles investigados pela Psicologia (Júnior
& Júnior, 2011). Embora existam outro tipo de instrumentos utilizados para recolher
informação, a entrevista é o método principal ao qual recorrem os investigadores que
seguem pela via qualitativa. Efetivamente, este é o instrumento que permite uma recolha
mais eficiente de dados pertinentes (Öhman, 2005).
Esta entrevista semiestruturada foi constituída por seis blocos temáticos,
relativos aos temas da vida familiar, do percurso escolar, dos tempos livres, dos
interesses pessoais e dos planos para o futuro, estando previstas aproximadamente
quarenta e cinco perguntas. Os blocos temáticos, com exceção do último, podem ser
agrupados no percurso de vida, até ao presente. Tal organização permite que exista um
racional que acompanha a sequência de perguntas realizadas, sempre em acordo com os
objetivos da investigação, naquele que deve ser o foco da entrevista semiestruturada
(Belei, Gimeniz-Paschoal, Nascimento & Matsumoto, 2008).
O guião foi seguido de forma flexível, permitindo que tivessem surgido outras
questões ao longo das entrevistas, bem como fossem suprimidas outras que não se
enquadraram no contexto. Como tal, foi imprescindível que a dinâmica entre o
entrevistador e o entrevistado se concretizasse numa lógica de informalidade, não
obstante a manutenção dos pressupostos que conduzem uma investigação séria e
imparcial. A existência de um ambiente deste cariz favorece a abertura por parte dos
entrevistados, em responder às questões formuladas de forma o mais expansiva possível
(Boni & Quaresma, 2005).
Tendo em conta o conjunto de aspetos referidos, procedeu-se à elaboração da
entrevista semiestruturada (Quadro 1), levando igualmente em consideração as
características da amostra.
24
Quadro 1. Guião da Entrevista
Blocos Temáticos Objetivos Gerais Questões
I. Dados pessoais. II. Vida Familiar. III. Percurso escolar. IV. Expectativas em relação ao trabalho. V. Vivência num bairro Social. VI. Ocupação dos tempos livres. VII. Planos futuros.
- Recolher dados biográficos sobre os entrevistados. - Conhecer o seio familiar dos sujeitos, bem como - Compreender o percurso escolar dos jovens. Aferir o seu envolvimento na escola. - Perceber se os entrevistados já pensam no futuro profissional e qual a sua visão em relação a este futuro. - Compreender como se processa a vida no meio onde vivem os sujeitos e explorar a perceção que estes têm sobre o bairro social. - Assimilar a forma como os sujeitos vivem no bairro social, e perceber se querem continuar nesse lugar, no futuro. - Perceber que tipo de atividades os participantes do estudo realizam nos seus tempos livres. Identificar com quem realizar as atividades que mencionam. - Compreender a visão que os jovens têm para o seu futuro e que planos estão a elaborar para concretizar essa visão.
- Que idade tens? - Onde nascestes?
- Qual o ano de escolaridade que frequentas (nível
escolar) - Sempre viveste aqui? - Onde viveste antes?
- Há quanto tempo vives aqui?
- Vives com quem?
- Que relação tens com os teus familiares?
- Que atividades fazes com a tua família?
- Qual é a profissão dos teus pais?
- O que achas da escola? - Já repetiste algum ano?
Qual/Quais? - Quais foram as tuas notas
no último período? - Quais são as disciplinas que
mais gostas? - E as que menos gostas?
- Até onde queres continuar a estudar? Porquê?
- Consideras a escola importante para o teu
futuro? - Tens amigos na escola?
- Para além das aulas, o que fazes na escola?
- Qual a profissão que queres
seguir? - O que te levou a querer ter
essa profissão? - Existe alguém que te encoraje a seguir esse
trabalho? - O que precisas de fazer
para alcançar a profissão que queres?
25
- Gostas de viver aqui?
Porquê? - Quais são os teus hábitos
aqui no bairro? - Como te dás com os teus
vizinhos? - No futuro, queres viver noutro local, ou preferes
continuar a viver aqui? - O que gostas mais no
bairro? O que gostas menos?
- O que fazes nos tempos livres? (ex.: ler, ver televisão,
desporto, música) - Quando estás de férias o
que costumas fazer? - Com quem costumas
passar os teus tempos livres?
- O que te vês a fazer daqui a um ano?
- E daqui a cinco anos? - Tens alguma estratégia para alcançar aquilo que
queres?
Procedimentos
Recolha de dados. O contacto com os participantes deu-se por iniciativa do
investigador, indo a casa de cada um dos possíveis participantes. Após uma primeira
abordagem onde foram explicados os objetivos da investigação, aos indivíduos que
aceitaram fazer parte do estudo, foi sugerido uma data para se proceder à entrevista.
Todas as entrevistas foram conduzidas na casa dos entrevistados, mediante acordo dos
adolescentes, como também dos seus pais e/ou donos da casa. A todos os adolescentes
foi facultado o mesmo modelo de Consentimento Informado (Anexo I), bem como aos
26
pais, ou tutores, dos menores que tinham à data da entrevista menos de 18 anos, foi
providenciado um outro modelo, adaptado, de Consentimento Informado (Anexo II).
As entrevistas foram todas gravadas, em registo áudio, após o acordo explícito
de todos os adolescentes. Com uma duração variada, entre os 10 e os 30 minutos, as
entrevistas foram levadas a cabo num espaço temporal de uma semana, no mês de Maio
de 2017.
Análise de dados. Recorreu-se à análise de conteúdo para a análise dos dados
obtidos nesta investigação. A análise de conteúdo é um método que analisa, recorrendo
a conjunto de técnicas, a comunicação do sujeito alvo de estudo, utilizando
procedimentos sistemáticos para descrever o teor das mensagens dos participantes da
investigação (Bardin, 2009). Com recurso a este método pretende-se descodificar
mensagens subliminares, na tentativa de decifrar todos os sentidos das respostas
proferidas pelos participantes. Desta forma, todas as informações que possam estar
subentendidas nas afirmações dos adolescentes são esmiuçadas e utilizadas de forma
profícua no estudo (Minayo, 2000).
Na investigação qualitativa, a análise de conteúdo segue um conjunto de
procedimentos que se repetem cada vez que se recorre a está técnica de análise de
dados. Primeiramente, organiza-se a informação obtida, passando depois a codifica-la
sob várias formas, e acabando por apresentar os resultados, quer seja através de tabelas,
quadros, ou mesmo numa discussão (Creswell, 2007).
Aprofundando a análise de conteúdo, refira-se que existem algumas estratégias
para efetuar a análise dos dados obtidos. Por vezes é necessário escrever nas margens
das entrevistas, ou sublinhar e marcar certas partes importantes que contenham alguma
ideia essencial para a análise. É usual tirar notas ao longo deste processo, cabendo um
27
papel reflexivo a algumas delas. Outra questão a ter em conta é a tomada de notas
durante as entrevistas, que têm que ser agora sistematizadas, à luz da restante
informação. Os códigos devem ser criados pelo investigador, revelando-se fundamental
compreender as diversas categorias que emergem dos dados. A partir de determinado
momento, é igualmente pertinente voltar a analisar os códigos e temas criados, para
compreender se é preciso fundi-los, reagrupa-los ou até mesmo suprimi-los. A
contagem da frequência de cada código é fundamental para a criação de registos. Ainda
dentro da análise de conteúdo, importa relacionar as categorias entre si, criando uma
lógica de ligação entre as mesmas, e posteriormente contextualiza-las face à literatura
existente. O último ponto de uma análise de conteúdo tem que ver com a apresentação
dos dados, que pode ser concretizada em textos comparativos, em tabelas, gráficos,
quadros, entre outros (Miles & Huberman, 1994; Wolcott, 1994).
A categorização dos dados seguiu uma ótica de modelo aberto, através da qual
existiu uma definição prévia das categorias, sem prejuízo de com o decorrer do estudo,
serem feitos pequenos ajustes às mesmas, uma vez que nem sempre aquilo que se previu
através da revisão bibliográfica e indo de encontro às questões de investigação, tem
correspondência, na íntegra, aos dados obtidos (Laville & Dionne, 1999, citados por
Silva, Gobbi, & Simão, 2005). Também no que toca às categorias, organizou-se a
informação mediante a perspetiva dedutiva e a perspetiva indutiva, alternando entre as
duas abordagens, consoante a necessidade (Tesch, 1990, citado por Schilling, 2006).
Apesar disso, foi através da indução que organizamos a maior parte dos dados em
categorias, dado que foi o conteúdo observável que levou ao surgimento das categorias
(Schilling, 2006).
Respeitou-se, durante a análise de conteúdo, os passos que devem ser seguidos
para analisar os dados. Não obstante, é preciso reconhecer que este tipo de análise não é
28
rígido e imutável, mas mantendo em todos os momentos o rigor científico exigido a
uma investigação deste cariz (Bardin, 2009).
Validade na investigação qualitativa. Um dos principais desafios daqueles que
seguem a investigação qualitativa, qualquer que seja a abordagem específica que
venham a seguir, prende-se com a validade dos dados obtidos. Vários autores, ao longo
dos anos, tentaram definir a forma ideal para aferir a validade num estudo qualitativo,
enumerando diversos critérios, tais como a credibilidade, a capacidade de generalização,
a criatividade, ser assente em valores morais e éticos, ser plausível, entre outros
(Altheide & Johnson, 1994; Eisenhart & Howe, 1992; Leininger, 1994; Lincoln, 1995;
Marshal, 1990; Thorne, 1997).
De entre as múltiplas abordagens presentes na literatura, selecionou-se a
interpretação de Creswell (2007), como guia orientador da procura da validade neste
estudo. As estratégias utilizadas para aferir e garantir a validade da investigação
baseiam-se, na sua totalidade, nas considerações deste autor, que emitiu a sua posição,
após sintetizar as posições de um conjunto de autores. Como tal, considera-se que a
validade consiste na exatidão das descobertas realizadas durante a investigação, sem
prejuízo da opinião tanto dos participantes, como do investigador, que devem ter uma
estreita ligação durante a investigação, dando assim mais suporte à validade do estudo.
Neste referencial teórico, imperam os termos precisão e exatidão, adjacentes ao
processo desenvolvido na condução do estudo, e não imputados à verificação dos
resultados.
Ainda de acordo com Creswell (2007), existe uma panóplia de estratégias que
devem ser seguidas na investigação qualitativa, e que serviram como pontos centrais da
aferição da validade do estudo. Desde logo, houve lugar a uma constante preocupação
29
de promover um grande envolvimento do investigador no meio onde foram recolhidos
os dados, procurando-se estabelecer uma relação de respeito mútuo com os
adolescentes. Outra estratégia a que se recorreu foi a troca de ideias e constatação de
significados, com os próprios participantes, tentando esclarecer certos aspetos e
perceber se algumas das considerações e conclusões a que se chegou foram aquelas que
os entrevistados queriam transmitir. Os dados e resultados da investigação foram
disponibilizados a um outro investigador, sem qualquer envolvimento na investigação,
que teceu as suas considerações sobre o estudo. Foi ainda realizada uma extensiva
análise a todo trabalho levado a cabo na recolha de dados, a todo o processo de
tratamento de dados e a todas as conclusões obtidas, levando em conta a subjetividade
patente em investigações deste cariz, sem nunca deixar que essa subjetividade retire
validade ao estudo.
30
Capítulo III – Resultados
31
Resultados
O processo de codificação, que permite a apresentação dos resultados do estudo,
consistiu em três fases: codificação aberta, codificação axial e codificação seletiva. A
fase inicial, codificação aberta, teve como propósito analisar a informação recolhida e
encontrar categoria onde colocar os dados. Posteriormente, na fase da codificação axial,
olhou-se para as diferentes categorias, tentando encontrar pontos em comum, zonas de
ligação entre as mesmas, para perceber se existe, ou não, uma continuidade dos dados
em certos aspetos. Na última fase, depois de estabelecidas todas as conexões possíveis,
criou-se uma narrativa que permite compreender, num plano mais geral e alargado, o
conjunto dos resultados obtidos, organizados em categorias e vistos como uma história
contínua (Strauss & Corbin, 1990).
Para uma profícua apresentação de resultados na investigação qualitativa, é
essencial ter em atenção o público-alvo, que irá analisar o estudo, que seja na sua
vertente escrita, ou na apresentação oral do mesmo. Daí que, e em concordância com
aquilo que defende (Clandinin & Connelly, 2000), espera-se que esteja patente o
cuidado com a linguagem, mas também a atenção dada à explanação dos resultados, que
foi composta com o objetivo de possibilitar a compreensão dos mesmos.
Passar-se-á então à apresentação e discussão dos resultados, mediante a
categorização efetuada e as unidades de registo.
32
Quadro 2. Categorização
Categorias Descrição
Meio familiar e influência
na futura profissão
Relação com a família, profissão dos pais e influência
dos familiares na escolha de um ofício
O desenrolar do percurso
escolar
Ano de escolaridade que os jovens frequentam,
retenções, importância da escola para o futuro.
Vivência num bairro social
Como se vive num bairro social, escolha de um local
futuro para viver.
Perspetivas de futuro a
curto e longo prazo
O quê que os jovens se imaginam a fazer daqui a um
ano, o que se vêm a fazer daqui a cinco anos.
Subcategorias
Descrição
Definição de estratégias
para cumprir objetivos
De acordo com as metas definidas, encontrar formas de
alcançar os objetivos propostos.
Meio familiar e influência na futura profissão
Na opinião de Lankard (1995), a base sob a qual se constrói um saudável
desenvolvimento pessoal e vocacional é a relação com o núcleo familiar. Núcleo esse
que deve ser entendido num sentido mais restrito.
A esmagadora maioria dos participantes revelam ter uma relação positiva com a
família, classificando-a de “Boa” (P1; P2; P3; P4 e P7) e “Ótima” (P6)
Apenas um dos entrevistados (P5) mencionou que a sua relação familiar consiste
em “Brigas e isso”, acrescentando, quando lhe foi perguntado se as interações com a
sua família se baseavam em discussões, que “às vezes” brigavam.
33
As informações prestadas pelos jovens, acerca do apoio que têm para seguir a
profissão desejada, vão ao encontro da visão de Lankard (1995), onde a família é
essencial no apoio a um percurso profissional. À exceção de um entrevistado que ainda
não sabe o que quer seguir, e outro que, quando inquirido sobre se existia alguém que
lhe encorajasse a seguir a sua profissão se sonho, mencionou que “Não. Neste momento
não” (P2). Todos os outros falaram sobre o apoio de algum familiar.
“A minha madrasta, (…) o meu pai” (P3).
“ (…) o meu gosto por isto começou pela minha tia”, “a minha mãe” (P4).
“A pessoa que eu vi ele a trabalhar foi o meu primo o Marco. Sempre vi ele a
trabalhar em motas em casa e deu-me a intenção de mexer naquilo” (P5).
“Os meus irmãos e as minhas cunhadas” (P6).
“O meu pai” (P7).
Para além da família, há ainda menções a outras pessoas, nomeadamente
professores, que motivam os participantes a avançar na sua exploração profissional e
vocacional.
“ (…) A minha madrasta, os mues professores, o meu pai.” (P3)
“ (…) as minhas professoras na escola” (P4)
Um outro aspeto pertinente é a profissão dos pais, que pode influenciar a decisão
dos jovens na escolha de uma profissão. Esta escolha é concretizada tendo por base o
contato com as profissões e posterior formação de conceitos acerca das mesmas
(Filomeno, 1997). Outro autor, que partilha desta ideia, é Silva (2006), que acrescenta
que os adolescentes identificam-se com as profissões das pessoas adultas com quem se
relacionam, e uma vez que os pais são os adultos mais próximo, existe uma natural
afinidade a essas profissões. As entrevistas efetuadas neste estudo apontam, em parte,
34
noutro sentido, o de que não há ligação entre a profissão dos pais, e emprego pretendido
pelos adolescentes.
“A Minha mãe é desempregada e o meu padrasto é camionista” (P2), que
depois revela que “Gostava de ser biólogo”.
“O meu pai é camionista e a minha madrasta é desempregada” (P3), que quer
“Auxiliar de saúde”.
“Minha mãe é doméstica e o meu pai é serralheiro” (P6), que ao abordar os
seus desejos profissionais disse que “(…) queria ser veterinária mas agora mudei de
opinião. Eu queria arranjar um trabalho nem que fosse numa loja ou assim”.
“Operadora de charcutaria, a minha mãe. O meu pai manobrador” (P7), que
explica que está “ (…) mais ligado a tentar seguir a eletricidade”.
Por outro lado, de dois dos participantes, obtiveram-se dados mais próximos
daquilo que nos diz a literatura.
“ (…) pensei em ir para o curso de esteticista” (P4), revelando que o “gosto por
isto começou pela minha tia”. Apesar de tudo, neste caso em particular, a mãe deste
participante é cozinheiro.
“Gosto de mecânica” (P5), que quando inquirido sobre se havia alguém a lhe
incentivar, respondeu “ (…) o meu primo o Marco. Sempre vi ele a trabalhar em motas
em casa e deu-me a intenção de mexer naquilo”.
Fica patente que existem diversas formas de influenciar as decisões dos
adolescentes, por parte do núcleo familiar, quer sejam direta ou indiretamente, de forma
mais ou menos consciente (Almeida & Pinho, 2008). Observamos essas múltiplas
influências nos dados recolhidos nas entrevistas deste estudo.
35
O desenrolar do percurso escolar
Levando em consideração a classe social dos participantes, é expectável que os
potenciais défices de acesso a recursos e oportunidades se reflita no desempenho escolar
(Turner & Lapan, 2003).
Face, igualmente, ao nível socioeconómico, os adolescentes de meios como
aquele onde vivem os adolescentes entrevistados, têm mais dificuldades em encontrar
percursos alternativos, dentro do sistema de ensino, para colmatar lacunas que vão
surgindo ao longo dos anos, como a sistemática reprovação (Silva, 2010).
Nas respostas dos jovens, fica visível que em todos os casos, exceto num, o
percurso escolar é feito de percalços, o que os levou a encontrar outros caminhos para
prosseguir os estudos, ou até mesmo, num dos casos, desistir da escola.
“Já não estou na escola…”, “Repeti… o 3º… Mas eu entrei um ano mais tarde.
Perdi o 3º e desisti no 10º” (P6).
Nos restantes casos, nota-se a procura de outros rumos, face também ao
desempenho escolar abaixo do esperado, constatando isso mesmo quando se pergunta se
já perderam algum ano, pelas suas respostas:
“5º e 6º” (P1), que menciona que está no “6º ano, num curso de práticas
comerciais”.
“1º, 6º e 8º” (P2), estando agora no “11º. Num curso profissional”.
“O 4º, o 7º e o 9º” (P3), que atualmente frequenta o “10º, num curso
profissional.”
“Já. O 5º e o 7º” (P7), informando que “estou num curso” que “equivale até ao
9º ano”.
36
Um dos participantes, (P5), diz que “Eu não estou na escola, estou no ATL”,
que ministra cursos de formação de adultos. Este jovem também já perdeu um, ou mais
anos, de escolaridade, mas não referiu quais.
Só um dos participantes no estudo, (P4), não perdeu nenhum ano e frequenta o
ensino recorrente, nomeadamente o 10º ano, no curso de Línguas e Humanidades. No
entanto, os planos para a continuação dos estudos para este jovem passam por outra via:
“por acaso pensei em ir para o curso de esteticista porque não sei se vou conseguir
seguir o ensino regular e vou ter que ir para o ensino profissional e queria tirar o curso
de esteticista”.
Um ponto emergente deste estudo consiste na aferição de até onde querem os
adolescentes continuar o seu percurso escolar. Este aspeto tem um cariz importante, na
medida em que, segundo Blustein (2006), o trabalho é absolutamente necessário nestes
meios, dado que é encarado como um meio de sobrevivência, essencialmente
económico. As respostas obtidas indicam que os jovens querem continuar a estudar, até
ao ponto em que lhes permita ter um bom trabalho.
“Que é para ter um emprego no futuro… Um emprego razoável.” (P1),
querendo continuar a estudar “Até ao 12º”.
“hoje em dia se for para arranjar trabalho, são poucos os trabalhos ou
empresas que recebem pessoas só com o 9º ano”, (P3).
“Até ao 12º ano. Porque hoje em dia para arranjar trabalho é necessário o 12º
em quase todos os estabelecimentos e empresas”, (P4).
“Até ao 12º. Porque é o que é preciso para começar a trabalhar, arranjar um
trabalho mais ou menos”, (P7).
Em contrapartida, tanto (P2), que “Gostava de ir até à Universidade”, porque
“Gostava de ser biólogo”, como (P6), que quer continuar a estudar “Até ao 12º. Para
37
ter mais oportunidades no futuro e ser a única filha dos meus pais a fazer as capas”,
vêm na prossecução de uma maior escolaridade, um meio para a realização pessoal, seja
pelo alcançar da profissão desejada, seja pela vontade de querer fazer com o que os pais
demonstrem orgulho por si.
No que concerne às disciplinas que preferem, e àquelas que não gostam, as
respostas são variadas, e enquanto uns gostam, por exemplo, de Português, outros não
se vêm interesse nessa disciplina. De igual forma, não foi possível verificar uma ligação
entre a profissão desejada no futuro e as matérias que mais ou menos gostam.
As respostas dadas pelos participantes vão de encontro ao que é referido por
Creed et al. (2009 citados por Silva, 2010), quando afirmam que, nestes meios, torna-se
mais complicada potenciar, ao máximo, as competências individuais necessárias para
encontrar e manter um emprego que satisfaça as necessidades de concretização
individual. Constatou-se ainda que, tal como defendido por Silva (2010), que a escola é
vista como um meio para atingir um trabalho, que assegure a subsistência. Apesar disto,
existe nos participantes a noção de que uma escolaridade mínima é requerida para
aceder a empregos que garantam tal subsistência.
Vivência num bairro social
Os estigmas associados aos moradores dos bairros sociais, e a forma como
desenvolvem as suas atividades nestes locais, estão ligados, não raras vezes, à
proliferação de problemáticas sociais como o consumo de drogas, a delinquência, a
gravidez na adolescência, entre outros (Maia, 1994). Sendo necessária a inclusão das
pessoas que residem neste tipo de habitação, segundo Augusto (1998), a ligação entre a
38
população dos bairros sociais e o “mundo exterior” não teve o sucesso esperado, o que
comporta dificuldades adicionais na vivência nos próprios bairros.
Os adolescentes que participaram neste estudo deixam transparecer, na
generalidade, uma boa relação com a vizinhança, gostando de viver no bairro.
Quando responderam à pergunta se gostavam de viver onde se encontram, 5 dos
inquiridos disseram que “Sim”, ou “Gosto”. Quando aos participantes que não
responderam desta forma, (P2) respondeu “Mais ou menos” e (P6) admitiu que “Para
ser sincera não”. Quanto às razões apontadas, (P2) mencionou que “não é um bairro
onde uma pessoa socialize muito, pelo menos eu não”, enquanto que, por sua vez, (P6)
descortinou que “é porque metade é minha família, e sabes que muita família junta da
confusão. E eu queria sair de casa, ter a minha própria vida, deixar os meus pais viver
a vida deles”.
As razões apontadas prendem-se com a não existência de muitas confusões e a
boa relação com os vizinhos:
“ (…) porque não tem confusões, tudo calmo” (P1).
“É um bairro calmo, não confusões, cada um no seu sítio” (P3).
“Porque apesar de ser pequenino, tem bastante gente e nós conhecemo-nos e
todos e damo-nos bem, no geral” (P4).
“Nunca mudei e isto depois de uma pessoa se habituar… Nunca mudei, nunca
tive… Já tive em Machico, mas sinto sempre a falta da zona” (P5).
“Já conheço os meus vizinhos há bastante tempo e dou-me bem com eles” (P7).
A boa relação com os vizinhos é, aliás, um parâmetro onde todos jovens
disseram a mesma coisa: todos se dão bem com a vizinhança.
Não obstante o facto de a maioria dos adolescentes gostar de viver onde vive,
apenas (P6) diz que “(…) não queria” mudar de habitação, e continuar no bairro social.
39
Há ainda um participante (P3), que não sabe se quer ou não continuar a viver no mesmo
sítio. Os outros cinco jovens enumeram várias razões para querer sair de onde vivem,
nomeadamente:
“Porque… Não gostava de ficar sempre na mesma casa” (P1).
“Porque há lugares melhores para se viver” (P4).
“Porque também não vou viver o resto da vida com a minha mãe e eu quero
seguir a minha vida” (P5).
“Ter a minha própria casa e isso” (P7).
O quadro pintado por diversos autores, como Guerra (1994), Maia (1994) e
Pinto (1994), de que as pessoas que habitam em meios socioeconómicos
desfavorecidos, mais especificamente em bairros sociais, acabam por se fechar em mini
comunidades e gerar alguns conflitos entre si, não é corroborado pelas declarações dos
adolescentes que fazem do estudo. De facto, a está patente uma relação harmoniosa
entre vizinhos, o que leva também a um gosto pelo local onde vivem.
Apesar disso, os resultados apontam para uma tendência dos jovens em
quererem ir viver noutros locais, num reconhecimento de que há sítios melhores para se
viver, por um conjunto de motivos.
Perspetivas de futuro a curto prazo e longo prazo
A perspetivação do futuro, através da criação de metas, projetos e objetivos
variados, está umbicalmente ligada ao interesse, ou falta dele, por parte dos
adolescentes, sobre o amanhã (Teles, 2013). O mesmo autor defende que os jovens que
se preocupem com o seu futuro, terão a capacidade de o perspetivar, levando a que
façam uma melhor gestão do seu tempo e tarefas a realizar, de acordo com o que
40
pretendem para si próprios, o que, em última análise, levará a um maior bem-estar
psicológico. O contrário é válido para os adolescentes que não se interessam com o dia
de amanhã, pelo que tenderão a apresentar elevados níveis de desinteresse e,
consequentemente, desmotivação para perseguir objetivos a longo prazo.
Os participantes do nosso estudo responderam de forma homogénea sobre o que
vêm a fazer daqui a um ano. A continuação dos estudos é um ponto central no futuro, a
curto prazo, dos jovens: “Vejo-me num curso profissional” (P1);“A estudar ainda”
(P2);“Provavelmente a estudar, para conseguir ter o meu objetivo realizado” (P3);“A
estudar ainda” (P4);“Acabar o curso. E trabalho… o que tiver eu vou” (P5);“Vejo-me
a ir para o 10º. Para completar o 12º” (P7).
Somente um dos adolescentes manifestou a vontade de estar já a trabalhar:
“A trabalhar. Por mim trabalhava já” (P6).
Embora, o mesmo participante, quando questionado sobre onde ficaria a escola
no meio dos seus planos, respondeu:
“Eu pretendia tar a trabalhar e a estudar. Não sei se vai ser possível, mas era o
que eu queria” (P6).
Quando colocado face a uma putativa escolha entre trabalhar e estudar, o
participante foi pronto a afirmar “Trabalhar”.
No tocante a planos para o prazo de cinco anos, encontraram-se respostas
divergentes, que indicam diferente formas de encarar o futuro, mas que têm que ver
essencialmente com a acabar a formação, estar a trabalhar e há aqueles que não sabem o
que estarão a fazer por essa altura. No primeiro lote, obteve-se as seguintes
considerações:
“Vejo-me num curso profissional” (P1).
41
“Se conseguir, entrar para a Universidade, se não, com esperanças em
trabalhar” (P2).
Os participantes que anteveem estar a trabalhar daqui a cinco anos, responderam
da seguinte forma:
“Penso que já vou estar a trabalhar” (P4).
“ (…) provavelmente tava ligado a essa cena da eletricidade”, acrescentando
mais à frente que “Já a trabalhar” (P7).
Há ainda aqueles que não sabem, ou que não conseguem perspetivar o que
estarão a fazer daqui a meia década.
“Não sei” (P3).
“Não sei. Eu tou a pensar no presente e não no futuro” (P5).
A única visão que diverge exponencialmente das apresentadas, é a de um dos
participantes que sintetiza:
“Ter uma família. Criar a minha própria família e ter a minha própria casa”.
(P6).
Os planos revelados pelos jovens, bem como a ausências desses mesmos planos,
vão ao encontro do que é referido por Carvalho (2012), sobre a gestão de expectativas
acerca do seu futuro, levam a que a motivação para a concretização das metas
delineadas seja maior ou menor. É mediante a PTF que os adolescentes apresentam, em
diferentes áreas, aquilo que se vêm a fazer no futuro (Carvalho, 2012), quer seja a curto
ou longo prazo, dado que, atentando a Husman e Lens (1999), os objetivos não têm
obrigatoriamente que se situar num futuro mais próximo, podendo encontrar-se deveras
distantes do tempo presente.
42
Definição de estratégias para cumprir objetivos.
Uma das características da PTF é a definição de estratégias, para serem aplicadas no
presente, com o intuito de alcançar os objetivos propostos, em particular no âmbito da
construção de carreira, sendo que os adolescentes têm a capacidade de fazer sacrifícios
de forma a concretizar os planos definidos. (Zimbardo & Boyd, 1999). Assim sendo, é
evidente a compreensão, por parte dos jovens, de que as suas escolhas têm que ser
adequadas face às expectativas para o futuro (Marko & Savickas,1998).
Também na definição de estratégias para cumprir objetivos traçados, constata-se
que, quando têm estratégias definidas, o que nem sempre acontece, os participantes
tendem a se cingir a conseguir um bom trabalho, ou a continuar focado nos estudos.
“Primeiro eu vou trabalhar” (P5).
“É arranjar um bom trabalho e poupar” (P6).
“Não me distrair dos estudos e não me focar em coisas más” (P1).
“Por enquanto a minha única estratégia é estudar” (P4).
Dois dos participantes não têm qualquer tipo de estratégia para alcançar aquilo
que desejam, admitindo, quando inquirido sobre este assunto, que:
“Ainda não” (P2).
“Não, só deixo ir” (P7).
Um dos jovens responde apenas “Esforçar-me”, (P3), quando lhe foi feita esta
pergunta.
Outro resultado extraído desta pergunta, nos participantes que definiram como
estratégia encontrar emprego, tem que ver com o fim a que se destina o trabalho,
ficando-se pela aquisição de bens, o que parece estar ligado a uma certa autonomia e/ou
independência.
43
“ (…) guardar dinheiro e a seguir… viver sozinho. E vou comprando as cenas
que sempre quis” (P5).
“ (...) Poupar para ir tendo as minhas coisinhas aos poucos, claro que não
vamos ter tudo de uma vez” (P6).
Discussão
A PTF assume um caráter sobremaneira importante, na medida em que coloca
em relevo as ações no presente e as implicações futuras. As consequências entre aquilo
que se decide fazer hoje, terão impacto no dia de amanhã, pelo que importa referir que a
PTF não se trata de uma mera contemplação em relação ao futuro, mas sim de um
instrumento que deve ser utilizado em benefício da definição de metas, a curto, médio e
longo prazo, e estratégias, para concretizar os seus intentos (Locatelli et al, 2007).
Salienta-se então a importância da PTF para a construção do futuro (Janeiro, 2012).
Os jovens demonstraram que sentem apoio dos seus familiares para a
prossecução dos seus planos para o futuro, o que está em consonância com o exposto
por Lankard (1995), que incide sobre a importância da família para a construção de uma
carreira, de forma saudável, propiciando o desenvolvimento pessoal e vocacional. No
entanto, ao contrário do suportado pela literatura (Lankard, Keller, & Whiston, 2005),
os participantes não querem seguir o mesmo rumo profissional dos pais, o que é
pertinente atentar, dado que revela que a influência da família pode ser encara de formas
e não apenas pela imposição, mais ou menos manifesta, de que os filhos sigam a
profissão dos pais.
44
Porventura a exposição de Balbinotti (2003), está mais de acordo com o que
sucede com estes participantes, dado que a construção de carreira assenta em profissões
que não precisam de um elevado nível de qualificação. Tirando um dos adolescentes
que quer ingressar no ensino superior, todos os outros jovens, querem ter empregos para
os quais, no máximo, o 12º é requisito. A PTF pode ser vista como um fator extra de
motivação para os adolescentes encontrarem o rumo certo para alcançar a profissão
desejada.
Acrescenta-se ainda o facto de o percurso escolar ser um meio para atingir um
fim, fim esse que traduz-se em, uma vez mais, conseguir o emprego pretendido. Ao
contrário do que seria desejado, os participantes apenas querem continuar a estudar, até
obterem habilitações que lhes permita ser aceites num trabalho que ofereça o mínimo de
boas condições. Sendo que quase todos os jovens tiveram um percurso escolar com
percalços, mais especificamente a retenção em alguns anos de escolaridade, tem
redobrada importância a informação de Shell e Husman (2001), de que a PTF pode
aumentar o interesse dos estudantes pela escola, o que leva a um maior envolvimentos
dos mesmos na comunidade escolar.
A demanda por percursos escolares alternativos é uma constante na vida destes
jovens, que ou optaram por seguir o ensino profissional, ou até mesmo a formação para
adultos. A aparente incapacidade de atingir os requisitos para alcançar o sucesso escolar
dito normal, embora este conceito seja discutível, faz com que as alternativas existentes
no sistema de ensino português, sejam mais-valias para os participantes, que podem
assim prosseguir os estudos, o que é oposto do defendido por Silva (2010), que
argumenta que há dificuldades, em pessoas provenientes destes meios, em continuar os
estudos, por vias consideradas alternativas.
45
Entrando no meio no qual foi realizado o estudo, observou-se o gosto dos
adolescentes em viver no bairro onde residem. Constatou-se também que as razões para
tal centram-se na relação com a vizinhança que é descrita como sendo saudável, o que
leva a que não existam confusões e sobressaltos de maior, mais um fator que conduz a
um aproximar entre os jovens e o bairro. O contacto com os participantes aponta no
sentido oposto ao de Guerra (1994), que classifica os bairros sociais como ‘guetos’,
onde a convivência torna-se difícil, por uma multiplicidade de fatores. Mesmo assim, os
adolescentes, regra geral, têm planos para viver noutros locais, na procura de melhores
condições, o que pode indicar que a perceção que os participantes têm acerca das suas
possibilidades de sucesso, vivendo num meio deste cariz, é diminuta, o que vai ao
encontro das ideias de Richardson (1993), que estipula que indivíduos de meios
socioeconómicos desfavorecidos são encarados, em muitas ocasiões, como estando à
margem da sociedade.
Os participantes deste estudo têm bem claros os planos a curto prazo. Dentro de
um ano vêm-se ainda a estudar ou prestes a terminar a sua formação. Novamente, é
premente o facto de que os estudos estão ao serviço da procura de uma profissão que
satisfaça as mais básicas necessidades de autossuficiência. Tal afirmação, deve-se ao
vislumbrar, pelos próprios jovens, de o seu futuro, num prazo de cinco anos, consistir
no desempenho da profissão desejada, como também pela aparente ânsia de ganhar uma
maior autonomia financeira. Marko e Savickas (1998) seguem uma linha de raciocínio
que, de certa forma, sustenta as afirmações dos jovens, dado que a PTF está ao serviço
dos adolescentes, possibilitando a planificação de uma futura carreira. Como
complemento, Silva (2010) acrescenta que em meios socioeconómicos desfavorecidos,
os adolescentes não procuram uma formação que lhes garanta desenvolvimento pessoal,
46
aumento da autoestima e bem-estar, mas sim que lhes oriente, da melhor forma
possível, para um emprego que lhes dê garantias de subsistência.
Para atingir os objetivos definidos, é fundamental desenhar estratégias que
satisfaçam os requisitos precisos para alcançar as metas delineadas. Os participantes do
deste estudo transmitiram, de uma forma simplista, com conceitos deveras abrangentes,
que as estratégias que têm para lograr os seus objetivos, baseia-se na continuação dos
estudos, ou no ingresso no mercado de trabalho. Pelas respostas dadas, gerou-se a
assunção, e seguindo a linha de Carvalho (2012), que nos demonstra que a PTF permite
elaborar planos e estratégias para o futuro, de que os participantes ainda não conseguem
potencializar a PTF como um instrumento que levará ao desenvolvimento de um futuro
próspero.
Conclusão
Com a concretização desta investigação pretendeu-se explorar as questões
adjacentes à construção de carreira em adolescentes de meios socioeconómicos
desfavorecidos, mais precisamente qual a influência da perspetiva temporal de futuro
em todo este processo. Ao longo do estudo, foram-se descobrindo novas informações
que alteraram, de forma mais, ou menos, significativa, o rumo inicialmente tomado.
Reforça-se novamente o princípio de que os resultados obtidos no decorrer deste
estudo devem ser lidos à luz do contexto onde se levou a cabo a investigação. Não se
deseja, de todo, a generalização dos resultados a outros contextos e/ou participantes. No
entanto, havendo naturais similaridades entre o meio em estudo, e outros meios com as
mesmas características, espera-se que a dissertação agora finalizada venha contribuir
para uma maior compreensão das vivências dos adolescentes que estão inseridos nesta
47
esfera, e a forma como a PTF pode impactar as suas vidas em geral, e carreiras
profissionais, em particular. O fomento de uma maior inclusão social, capacitando as
populações mais desfavorecidas, nomeadamente os mais jovens, é outro ponto central
deste trabalho.
Em meios socioeconómicos desfavorecidos sempre foi observável uma
discrepância entre o percurso de vida das pessoas que residem em zonas que dispõem de
um conjunto de critérios para assim o serem consideradas, em relação a áreas habitadas
por cidadãos de estatutos sociais mais elevados. Não obstante, as políticas públicas
tiveram um efeito positivo na transformação da vida dos moradores dos bairros sociais.
A procura por uma maior justiça social levou a que fossem implementadas medidas que
facilitaram o acesso, por parte dos adolescentes, a recursos que visaram o aumento das
suas competências.
Mesmo sendo expectável que em meios como aquele em estudo a exploração
vocacional seja feito em função da entrada do mercado de trabalho, mais propriamente
com o intuito de encontrar um emprego que satisfaça as necessidades mais básicas
(Silva, 2010), é imprescindível olhar para as questões da construção de carreiras destes
jovens de uma maneira diferente. Afigura-se fulcral direcionar os adolescentes para
escolhas vocacionais e profissionais que se traduzam num aumento da sua autoestima,
promovendo a autorrealização e levando a que haja um incremento da valorização
pessoal. Cingir a construção de carreira a um propósito de sobrevivência é demasiado
simplista e não se coaduna com os princípios defendidos pela sociedade de hoje.
O meio familiar surge como um importante apoio para a sustentação de um
percurso que se quer de sucesso (Lankard, 1995). Proporcionar condições às famílias
para se tornarem parte integrante do desenvolvimento pessoal e vocacional dos mais
novos, tem que ser uma prioridade, especialmente a se atentarmos ao suporte concedido
48
pelos membros da família aos adolescentes deste estudo, que favorece
significativamente os resultados obtidos pelos jovens nas mais diversas áreas do seu
desenvolvimento pessoal e vocacional.
Reduzir a escolaridade a apenas um meio ao serviço da obtenção de um
emprego é demasiado redutor, no entanto é exatamente isso que acontece com os jovens
que integraram o estudo, que vêm a escola no seu horizonte a curto prazo, mas
reduzem-na à função especificada. Deve ser uma preocupação de todos nós, incentivar a
consecução dos estudos numa ótica de crescimento enquanto seres humanos. Por sua
vez, os planos a longo prazo são igualmente redutores, e novamente não existe por parte
dos adolescentes a capacidade de perceber que o trabalho não é um fim em si mesmo,
mas um meio para atingir uma das três necessidades básicas concretizadas através do
trabalho (Blustein, 2006). Colocar em relevo o papel do trabalho na autodeterminação e
a conexão social é imprescindível para facultar a quem vive nestes contextos, a
capacidade de ter um futuro feliz.
A definição de estratégias para o futuro é um aspeto basilar para que os
participantes neste estudo consigam alcançar aqui que desejam e os objetivos que
delinearam para si. As estratégias apresentadas pelos jovens revelam-se extremamente
generalistas, demonstrando a incapacidade de dividir por pequenas etapas o processo
que leva à concretização das suas metas. Embora tenham a vista a conquista de uma
maior autonomia, os jovens apenas se fixam na procura de um trabalho, como forma de
garantir essa conquista. É, portanto, crucial encaminhar os jovens para um percurso que
lhes ensine a definir estratégias mais específicas, com o intuito de aproximar as metas
desejadas, que se afiguram longínquas, tendo em conta as deficitárias estratégias.
No meio em estudo, e caracterizando a PTF, esta encontra-se subdesenvolvida
face ao que seria desejável. Sendo verdade que os jovens conseguem descortinar a
49
importância de certas vertentes, como a escolarização, há uma dificuldade em
compreender um quadro mais geral em que a perspetiva temporal de futuro teria um
papel central no desenvolvimento pessoal e vocacional dos adolescentes. A perspetiva
que têm sobre o tempo futuro é influenciada pela forma como vivem no presente,
sobretudo pelas condições que possuem, as quais querem ver melhoras. Como tal, é
imprescindível aprimorar a PTF, desenvolvendo esta dimensão da personalidade nos
jovens.
O meio em que foi realizado o estudo parece ter influência na PTF, na medida
em que os jovens demonstram dificuldades em perspetivar o seu futuro para além da
obtenção de um trabalho que garanto um rendimento que permita a obtenção de bens
materiais, que por sua vez irá se traduzir numa maior autonomia. Não parece também
existir a visão para elaborar planos a concretizar no futuro, de forma detalhada e
específica, para além de que as estratégias são demasiado generalistas, o que pode ter
que ver com, face à vivência no meio em questão, não ser haver estímulos para pensar
no futuro, começando, já no presente, a definir formas de alcançar os resultados
desejados.
A inclusão social passa, também, por atribuir ferramentas aos adolescentes
destes meios, que os capacitem a se desenvolverem como seres humanos de pleno
direito, procurando a sua felicidade. Neste sentido, a PTF tem que ser explorada e
desenvolvida, com recurso às autoridades competentes, dinamizando programas com
estes jovens, a fim de se demonstrar que é possível prosperar no futuro, se se agir no
presente, levando em conta aquilo que se quer para a vida.
A PTF é importante para a construção de carreira de adolescentes de meios
socioeconómicos desfavorecidos, na medida quem tem a particularidade de servir de
mitigadora dos efeitos que a influência do meio em questão tem no desenvolvimento
50
vocacional dos jovens. Tal feito é conseguido mediante a compreensão de que as ações
que hoje são desempenhadas têm um papel fundamental no dia de amanhã. Os
sacrifícios do presente são insubstituíveis, para os benefícios conseguidos no futuro.
Assim, a PTF ajuda os adolescentes a superar as adversidades que se lhes apresentam ao
longo do seu percurso, permitindo-lhes alagar horizontes, pelo que é uma área que
merece maior atenção por parte da sociedade.
Como limitações do presente estudo, e implicações para futuras investigações,
constata-se que a amostra poderia ser um pouco maior, de forma a tornar mais fiel o
conjunto de resultados obtidos. Também seria interessante alargar os locais onde o
estudo foi conduzido, dado que os adolescentes que constituem a amostra moram
apenas num bairro social do Funchal. Um outro aspeto a aprimorar, prende-se com a
própria condução da entrevista que poderia abarcar questões mais específicas relativas
às perspetivas de futuro dos jovens, em especial quando estes são parcos nas respostas.
É fundamental que os investigadores se debrucem, cada vez mais, sobre esta
problemática, procurando modelos teóricos alternativos para explicar um fenómeno que
é tão característicos dos nossos tempos.
51
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58
Anexos
59
Anexo I – Consentimento Informado (participantes)
Eu, ________________________________________________________, declaro que
participei de livre e espontânea vontade, no estudo “Perspetiva Temporal de Futuro na
Construção de Carreira de Adolescentes de Meios Socioeconómicos Desfavorecidos”,
no âmbito do 2º Ciclo de Estudos de Psicologia da Educação, pelo aluno Maurício
Manuel Abreu Ornelas, tendo sido informado/a dos objetivos do mesmo. Declaro
igualmente que fui informado/a de que os dados fornecidos são sigilosos, e apenas serão
usados no presente estudo.
Qualquer informação prestada no decorrer do estudo pode ser por mim requerida,
independentemente da forma que foi registada.
Funchal, _______________, de 2017
___________________________________
60
Anexo II – Consentimento Informado (pais)
Eu, ______________________________________________________, declaro que
autorizo o meu filho/a ___________________________________________ a participar
no estudo “Perspetiva Temporal de Futuro na Construção de Carreira de Adolescentes
de Meios Socioeconómicos Desfavorecidos”, elaborado no âmbito do 2º Ciclo de
Estudos em Psicologia da Educação, pelo aluno Maurício Manuel Abreu Ornelas, tendo
sido informado/a dos objetivos do mesmo.
Declaro igualmente que fui informado/a de que os dados fornecidos são sigilosos, e
apenas serão usados no presente estudo.
Qualquer informação prestada no decorrer do estudo pode ser por mim requerida,
independentemente da forma que foi registada.
Funchal, _____________ de 2017
_____________________________________
61
Anexo III – Entrevista P1
Dados pessoais:
- Que idade tens?
R: 15.
- Onde nascestes?
R: Na Madeira. (Em que parte da Madeira?) R: Santo António (Foi aqui no Bairro?) R:
Sim.
- Qual o ano de escolaridade que frequentas (nível escolar)?
R: 6º, num curso de práticas comerciais.
- Sempre viveste aqui?
R: Não.
- Onde viveste antes?
R: No bairro da Quinta Falcão, só que noutro bairro.
- Há quanto tempo vives aqui?
R: 7 a 8 anos
Vida familiar:
- Vives com quem?
R: Com a minha mãe, com os meus 5 irmãos e com o meu padrasto.
- Que relação tens com os teus familiares?
R: Boa.
- Que atividades fazes com a tua família?
R: Falamos. Brincamos
- Qual é a profissão dos teus pais?
R: Minha mãe é desempregada e camionista (Quem é camionista?) R: O meu padastro.
Percurso escolar:
- O que achas da escola?
R: Acho boa.
- Já repetiste algum ano? Qual/Quais?
R: 5º e 6º.
- Quais foram as tuas notas no último período?
R: Não tive nenhuma negativa.
- E tiveste 5, 4, 3?
R: Tive quatros… Tive um cinco e o resto foi quase tudo quatros… tive um três.
62
- Quais são as disciplinas que mais gostas?
R: Matemática, TIC e E.F.
- E as que menos gostas?
R: Português, Ciências e Historia
- Até onde queres continuar a estudar? Porquê?
R: Até ao 12º.
- E porquê que queres continuar a estudar até ao 12º?
R: Que é para ter um emprego no futuro… Um emprego razoável.
- Consideras a escola importante para o teu futuro?
R: Sim.
- Tens amigos na escola?
R: Tenho
- Para além das aulas, o que fazes na escola com os teus amigos?
R: Jogar a bola, falo com eles.
Expectativas em relação ao trabalho:
- Qual a profissão que queres seguir?
R: Não sei.
- Não tens nenhuma ideia?
R: Não, Não.
Vivência num bairro Social:
- Gostas de viver aqui? Porquê?
R: Gosto, porque não tem confusões, tudo calmo.
- Quais são os teus hábitos aqui no bairro?
R: Não costumo…
- Não? Ficas mais em casa?
R: Sim.
- Como te dás com os teus vizinhos?
R: Dou-me bem. Dentro do possível…
- No futuro, queres viver noutro local, ou preferes continuar a viver aqui?
R: Gostava de viver noutro sítio.
- E porquê?
R: Não sei… Porque… Não gostava de ficar sempre na mesma casa.
- O que gostas mais no bairro?
R: O facto de ser muito calmo e não haver confusões como já disse…
63
- O que gostas menos?
R: Não há nada que eu não goste.
Ocupação dos tempos livres:
- O que fazes nos tempos livres? (ex.: ler, ver televisão, desporto, música)
R: Falar ao telefone, vejo televisão…
- Vais ao telefone fazer o quê?
R: Ouvir música.
- E o que fazes mais?
R: Ver filmes e séries e falo com os meus amigos. Jogo playstation…
- Quando estás de férias o que costumas fazer?
R: Costumo fazer a mesma coisa… às vezes caminho… com os meus amigos ou a
minha família.
- Passeias com a tua família?
R: Sim…
- Com quem costumas passar os teus tempos livres?
R: Com a minha família
Planos futuros:
- O que te vês a fazer daqui a um ano?
R: Vejo-me num curso profissional.
- De quê, sabes de quê?
R: Ainda não sei.
- E daqui a cinco anos?
R: Talvez, num 11º ou 12º. Não tenho a certeza.
- Tens alguma estratégia para alcançar aquilo que queres?
R: Não me distrair dos estudos e não me focar em coisas más.
64
Anexo IV – Entrevista P2
Dados pessoais:
- Que idade tens?
R: 21
- Onde nascestes?
R: Na Madeira. Santo António
- Santo António, em que parte de Santo António?
R: Quinta Falcão.
- Qual o ano de escolaridade que frequentas (nível escolar)?
R: 11º. Tou num curso profissional.
- Sempre viveste aqui?
R: Não
- Onde viveste antes?
R: Na outra Quinta Falcão.
- Há quanto tempo vives aqui?
R: 7 anos.
Vida familiar:
- Vives com quem?
R: Com a minha mãe, com os meus 5 irmãos e o meu padastro.
- Que relação tens com os teus familiares?
R: Boa.
- O que consideres que é uma boa relação?
R: Consigo tolerar eles.
- Que atividades fazes com a tua família?
R: Não faço muitas. Só costuma-se conversar ou ver televisão e vídeos juntos.
- Qual é a profissão dos teus pais?
R: A Minha mãe é desempregada e o meu padrasto é camionista.
Percurso escolar:
- O que achas da escola?
R: Que é uma coisa necessária.
- Já repetiste algum ano?
R: 3 anos.
- Podes dizer quais?
65
R: 1º, 6º e 8º.
- Quais foram as tuas notas no último período?
R: Foram decentes…
- E o que é isso de decentes?
R: Só tive uma nega, o resto foram positivas.
- Foi tudo 3, 4? As tuas notas são de 0 a 5, ou de 0 a 20?
R: São de 0 a 20. Foram todas acima do 10…
- Quais são as disciplinas que mais gostas?
R: As disciplinas que eu mais gosto é biologia, embora não tenha e… Inglês
- E as que menos gostas?
R: Educação Física e Português.
- Até onde queres continuar a estudar? Porquê?
R: Gostava de ir até à Universidade.
- Gostavas de tirar um curso superior… e porquê?
R: Gostava de ser biólogo.
- Consideras a escola importante para o teu futuro?
R: Sim.
- Porquê?
R: Que é onde ensinam as capacidades que é necessárias… Embora nem sempre eu seja
bem-educado de vez em quando
- Como assim?
R: às vezes os professores não dão bem as aulas, ou não sabem como dar as aulas…
- Tens amigos na escola?
R: Tenho alguns.
- Para além das aulas, o que fazes na escola com os teus amigos?
R: Não faço muita coisa… às vezes falo com os professores ou vou para a biblioteca ler
alguma coisa que gosto.
Expectativas em relação ao trabalho:
- Já disseste que querias ser biólogo… O que te levou a querer ter essa profissão?
R: Ehhh… Eu acho a Natureza interessante. A maneira como ela pode evoluir… E as
maneiras como ela pode ser tão diferente. Dependendo do lugar onde tão, ou quais
foram os parentes do… do… do ser vivo.
- Existe alguém que te encoraje a seguir esse trabalho?
R: Não. Neste momento não.
66
- O que precisas de fazer para alcançar a profissão que queres?
R: Estudar bastante e ter vontade para conseguir fazer.
Vivência num bairro Social:
- Gostas de viver aqui? Porquê?
R: Mais ou menos. Não costuma haver muitas confusões, mas também não é um bairro
onde uma pessoa socialize muito, pelo menos eu não.
- Quais são os teus hábitos aqui no bairro?
R: Não tenho muitos. Só costumo ficar em casa, ou de vez em quando vou com a
família a algum lado.
- Se saíres é só com a família é isso?
R: Sim.
- Como te dás com os teus vizinhos?
R: Bem acho eu. Não costuma falar com eles, só quando saio de casa.
- E quando falas com eles, dás-te bem?
R: Dou, dou.
- No futuro, queres viver noutro local, ou preferes continuar a viver aqui?
R: Gostaria de continuar a viver na Madeira, mas noutra parte da Madeira.
- O que gostas mais no bairro?
R: Não sei, não costuma haver muitas confusões…
- O que gostas menos?
R: Eh, como a área tá feita.
- Como assim?
R: Tipo a estrada que tá ali ao pé do café na tá bem feita, podia tar mais bem feita. E as
áreas à volta do edifício têm áreas abandonas. Fizer hortas e abandonaram-nas.
Ocupação dos tempos livres:
- O que fazes nos tempos livres? (ex.: ler, ver televisão, desporto, música)
R: Não muita coisa. Tar no telemóvel ou a ver vídeos na playstation, ou no telemóvel
- O que fazes no telemóvel? Só ver jogos?
R: Jogo. Vejo twitter e facebook e falo com uns amigos online.
- Quando estás de férias o que costumas fazer?
R: A mesma coisa que disse na pergunta anterior, mas tento arranjar algum projeto para
me entreter…
- E, por exemplo, nas férias de Verão passadas arranjaste algum projeto para te
entreteres?
67
R: Não, não consegui.
- Com quem costumas passar os teus tempos livres?
R: Com a família. Tou sempre em casa com a família.
Planos futuros:
- O que te vês a fazer daqui a um ano?
R: A estudar ainda
- E daqui a cinco anos? A estudar ainda?
R: Talvez, Se conseguir entrar para a Universidade, se não, com esperanças em
trabalhar.
- Tens alguma estratégia para alcançar aquilo que queres?
R: Ainda não
- E já pensas em arranjar alguma estratégia?
R: Sim.
- E o quê que tu pensas?
R: Que vai ser difícil.
68
Anexo V – Entrevista P3
Dados pessoais:
- Que idade tens?
R: 18
- Onde nascestes?
R: No Funchal. Em São Pedro.
- Ok. Estás a te referir ao hospital, mas quando saíste do hospital foste para onde?
R: São João.
- Qual o ano de escolaridade que frequentas (nível escolar)?
R: 10º, no ensino profissional.
- Sempre viveste aqui?
R: Não
- Onde viveste antes? Sempre em São João?
R: Não. Foi no Imaculado Coração de Maria.
- Há quanto tempo vives aqui?
R: Há… 7 anos
Vida familiar:
- Vives com quem?
R: Com o meu pai, os meus 5 irmãos e a minha madrasta
- Que relação tens com os teus familiares?
R: Posso dizer que é boa.
- Que atividades fazes com a tua família?
R: Jogos. Conversar. Passear.
- Qual é a profissão dos teus pais?
R: O meu pai é camionista e a minha madrasta é desempregada.
Percurso escolar:
- O que achas da escola?
R: É boa
- O que é isso de ser boa, porquê é que boa?
R: Dá-nos mais informação daquilo que queremos saber. Mais escolaridade para poder
ter um trabalho.
- Já repetiste algum ano?
R: Sim.
69
- Quantos e Quais?
R: O 4º, o 7º e o 9º.
- Quais foram as tuas notas no último período?
R: Não me lembro, mas acho que só tive uma negativa
- Quais são as disciplinas que mais gostas?
R: Saúde…
O nome da disciplina é saúde?
R: É prevenção de cuidados de saúde.
- Ok… Tens mais que gostas?
R: TIC, Educação Física
- E as que menos gostas?
R: Matemática, Inglês e Área de Integração
- E o que é a área de Integração?
R: é como se fosse um bocadinho de geografia e história.
- Estás no ensino profissional então?
R: Sim
- Até onde queres continuar a estudar? Porquê?
R: Até ao 12º ano. Porque nunca pensei ir para a Universidade.
- E porquê que queres ir até o 12º
R: Porque hoje em dia se for para arranjar trabalho, são poucos os trabalhos ou
empresas que recebem pessoas só com o 9º ano.
- Consideras a escola importante para o teu futuro?
R: Sim claro
- Tens amigos na escola?
R: Sim.
- Muitos? Poucos?
R: Poucos amigos mas muitos colegas.
- Para além das aulas, o que fazes na escola com os teus amigos?
R: às vezes fazemos atividades, outras vezes trabalhos em conjunto…
- Que tipo de atividades?
R: Às vezes ficamos um bocadinho na hora de almoço a jogar as cartas, ou até mesmo a
conversarmos ou vamos dar uma volta. Depende do tempo que nós temos.
Expectativas em relação ao trabalho:
- Qual a profissão que queres seguir?
70
R: ehhh… Auxiliar de saúde.
- E o que te levou a querer seguir essa profissão?
R: Ver que hoje em dia na… na… na minha área, digamos assim, há menos pessoas a
trabalhar, e mais… e mais idosos e crianças nos lares e instituições e é aí que eu posso
trabalhar e ajudar os outros.
- Existe alguém que te encoraje a seguir esse trabalho?
R: Sim… A minha madrasta, os mues professores, o meu pai.
- O que precisas de fazer para alcançar a profissão que queres?
R: Preciso de estudar. Acabar este curso, porque é para isso que estou no curso
profissional de auxiliar de saúde e estudar bastante para passar os anos para conseguir…
Vivência num bairro Social:
- Gostas de viver aqui? Porquê?
R: Sim. É um bairro calmo, não confusões, cada um no seu sítio. Gosto.
- Quais são os teus hábitos aqui no bairro?
R: Como assim?
- O que costumas fazer no bairro?
R: Normalmente fico em casa, ou saio com a minha família… Não sou de andar muito
no bairro.
- Como te dás com os teus vizinhos?
R: Bem. Bom dia, boa tarde, não sou muito de conviver.
- No futuro, queres viver noutro local, ou preferes continuar a viver aqui?
R: Não sei…
- O que gostas mais no bairro?
R: O facto de ser calmo.
- O que gostas menos?
R: Não tenho nada a apontar.
Ocupação dos tempos livres:
- O que fazes nos tempos livres? (ex.: ler, ver televisão, desporto, música)
R: Costumo brincar com a minha irmã. Ajudar a minha madrasta. Ver televisão.
- Quando estás de férias o que costumas fazer?
R: Passear com a minha família.
- Com quem costumas passar os teus tempos livres?
R: Com os meus irmãos, com a minha madrasta e com o meu pai.
Planos futuros:
71
- O que te vês a fazer daqui a um ano?
R: Provavelmente a estudar, para conseguir ter o meu objetivo realizado.
- E esse objetivo é?
R: Ter trabalho na área que estou a estudar.
- E daqui a cinco anos?
R: Não sei.
- Não consegues imaginar o que vais estar a fazer daqui a 5 anos?
R: Não.
- Tens alguma estratégia para alcançar aquilo que queres?
R: Esforçar-me.
72
Anexo VI – Entrevista P4
Dados pessoais:
- Que idade tens?
R: 15
- Onde nascestes?
R: No Funchal.
- Ok. Quando nasceste já vivias aqui?
R: Sim.
- Qual o ano de escolaridade que frequentas (nível escolar)?
R: 10º
- Frequentas onde?
R: Na Escola Gonçalves Zarco
Vida familiar:
- Vives com quem?
R: Com a minha irmã e com a minha mãe.
- Que relação tens com os teus familiares?
R: É uma boa relação
- Que atividades fazes com a tua família?
R: Eu estudo, a minha irmão e a minha trabalham. Só durante o fim-de-semana estamos
em casa as três.
- E o que fazem ao fim-de-semana?
R: Limpamos a casa, fazemos o almoço e o jantar…
- As tarefas da casa então…?
R: Sim.
- Qual é a profissão da tua mãe?
R: É cozinheira.
Percurso escolar:
- O que achas da escola?
R: A escola é preciso.
- A escola é preciso… Fazes como uma necessidade é?
R: Sim.
- Se pudesses não ir, não ias?
73
R: Agora eu não desistia porque tou no 10º e quero acabar o 12º, mas eu não gosto
assim muito.
- Já repetiste algum ano?
R: Não.
- Quais foram as tuas notas no último período?
R: Acho que tive duas negativas.
- Sabes a quê?
R: A MACS, matemática aplicada às ciências e Geografia A.
- Quais são as disciplinas que mais gostas?
R: Inglês e Português.
- E as que menos gostas?
R: Filosofia e História.
- Até onde queres continuar a estudar? Porquê?
R: Até ao 12º ano. Porque hoje em dia para arranjar trabalho é necessário o 12º em
quase todos os estabelecimentos e empresas
- Consideras a escola importante para o teu futuro?
R: Sim. A escola é importante não só pelo futuro, no mundo do trabalho, como também
para nos tornarmos pessoas melhores.
- Tens amigos na escola?
R: Sim.
- Muitos? Poucos?
R: Poucos, porque eu fiz transferência a meio do ano.
- E fizeste transferência porquê?
R: Eu fui para a Francisco Franco, mas não estava a gostar, não me estava a adaptar
muito bem.
- Para além das aulas, o que fazes na escola com os teus amigos?
R: Nada, na escola nada.
- Ou seja quando vais à escola é so para as aulas e depois vens para casa?
R: Sim
Expectativas em relação ao trabalho:
- Qual a profissão que queres seguir?
R: Eu ainda não sei.
- Não tens assim nenhuma ideia?
74
R: Eu… por acaso pensei em ir para o curso de esteticista porque não sei se vou
conseguir seguir o ensino regular e vou ter que ir para o ensino profissional e queria
tirar o curso de esteticista.
- Ok, estás em que agrupamento?
R: Não sei… agora não me lembro.
- Estás em línguas e humanidades?
R: Ah sim, Línguas e Humanidades. Tou.
- E o que te levou a querer esteticista e não outra coisa qualquer?
R: Por acaso o meu gosto por isto começou pela minha tia, pelas unhas.
- Então vias a tua tia a fazer e querias fazer?
- Existe alguém que te encoraje a seguir esse trabalho?
R: Sim, a minha mãe e as minhas professoras na escola também.
- O que precisas de fazer para alcançar a profissão que queres?
R: Preciso de tirar o curso… e procurar trabalho
Vivência num bairro Social:
- Gostas de viver aqui? Porquê?
R: Gosto. Porque apesar de ser pequenino, tem bastante gente e nós conhecemo-nos e
todos e damo-nos bem, no geral.
- Quais são os teus hábitos aqui no bairro?
R: Vou até à rua com os vizinhos da minha idade… Ficamos a falar…
- No futuro, queres viver noutro local, ou preferes continuar a viver aqui?
R: Não… Eu gosto disto, mas no futuro queria sair daqui.
- Porquê?
R: Porque há lugares melhores para se viver.
- O que gostas mais no bairro?
R: A minha casa. E o Atelier.
- O que gostas menos?
R: De alguns espaços daqui do bairro.
- Como assim, podes explicar?
R: Por exemplo as hortas. Não é tão bom. O pinheiro, aquele pinheiro grande suja
bastante.
Ocupação dos tempos livres:
- O que fazes nos tempos livres? (ex.: ler, ver televisão, desporto, música)
75
R: Costumo tar com as minha amigas. Não só daqui e de fora também. Vamos passear,
e tou com o meu namorado.
- Quando estás de férias o que costumas fazer?
R: Normalmente fico em casa, ou vou para a praia se for Verão. No Verão também
costumo trabalhar no programa do Jovem em Formação.
- Vais trabalhar este Verão?
R: Sim. Se for umas férias mais pequeninas, fico por casa com a minha mãe.
- Então passas os teus tempos livres com estas pessoas que disseste em cima?
R: Sim.
Planos futuros:
- O que te vês a fazer daqui a um ano?
R: A estudar ainda.
- E a estudar em que curso? No ensino regular ou outro?
R: Num curso profissional.
- De esteticista?
R: E se não conseguir entrar, no de práticas comerciais.
- E daqui a cinco anos?
R: Penso que já vou estar a trabalhar.
- Tens alguma estratégia para alcançar aquilo que queres?
R: Por enquanto a minha única estratégias é estudar.
- E depois disso tens alguma coisa pensada?
R: Ainda não.
76
Anexo VII – Entrevista P5
Dados pessoais:
- Que idade tens?
R: 18
- Onde nascestes?
R: Aqui no bairro
- Qual o ano de escolaridade que frequentas (nível escolar)?
R: Tou a acabar o 9º.
- Sempre viveste aqui?
R: Sim nunca mudei.
Vida familiar:
- Vives com quem?
R: Com minha mãe, minhas irmãs e meu irmão.
- Quantas irmãs, duas?
R: Sim, e um irmão.
- Que relação tens com os teus familiares?
R: Brigas e isso…
- Brigas… Mas estão sempre em brigas?
R: Às vezes brigamos.
- Que atividades fazes com a tua família?
R: De vez em quando à noite vamos ao café, mas nada de mais.
- Qual é a profissão da tua mãe?
R: É desempregada.
Percurso escolar:
- O que achas da escola?
R: Eu não estou na escola, estou no ATL.
- Estás a tirar o 9º… e o que tu achas do ATL?
R: Gosto. Tem pessoas mais velhas que eu e tão sempre a se divertir.
- Já repetiste algum ano?
R: Sim…
- Quais foram as tuas notas no último período?
R: Passei. Com boas notas.
- Quais são as disciplinas que mais gostas?
77
R: Não gosto de nenhuma.
- E as que menos gostas?
R: Inglês.
- Até onde queres continuar a estudar? Porquê?
R: Até acabar o 9º só.
- Consideras a escola importante para o teu futuro?
R: Não muito.
- Porquê?
R: Porque a minha vida não foi muito de escola… Eu gosto de aventuras, de me meter
em aventuras.
- Tens amigos na escola?
R: Sim.
- Para além das aulas, o que fazes na escola com os teus amigos?
R: Às vezes, de vez em quando a gente faz uma patusca.
Expectativas em relação ao trabalho:
- Qual a profissão que queres seguir?
R: Gosto de mecânica, mas o que tiver é o que vem.
- Porquê que gostas mais da mecânica?
R: Desde pequenino que eu vejo o meu primo e a minha família a mexer em carros e
motas.
- Existe alguém que te encoraje a seguir esse trabalho?
R: A pessoa que eu vi ele a trabalhar foi o meu primo o Marco. Sempre vi ele a
trabalhar em motas em casa e deu-me a intenção de mexer naquilo.
- O que precisas de fazer para alcançar a profissão que queres?
R: Estudar mais e acabar o curso para ir para mecânico.
- A tua ideia é acabar o curso e ir logo trabalhar?
R: Eu tou a acabar o curso de cozinha, se não resultar na mecânica eu vou pa cozinha.
Vivência num bairro Social:
- Gostas de viver aqui? Porquê?
R: Sim. Nunca mudei e isto depois de uma pessoa se habituar… Nunca mudei, nunca
tive… Já tive em Machico, mas sinto sempre a falta da zona.
- Quais são os teus hábitos aqui no bairro?
R: Andar de mota, ou em casa…
Como é que te dás com os vizinhos?
78
R: Dou bem.
- No futuro, queres viver noutro local, ou preferes continuar a viver aqui?
R: Mudar.
- Porquê?
R: Porque também não vou viver o resto da vida com a minha mãe e eu quero seguir a
minha vida.
- O que gostas mais no bairro?
R: Gosto de… hmmmm…
- O que gostas menos?
R: Da vizinhança, de viver com família no bairro.
Ocupação dos tempos livres:
- O que fazes nos tempos livres? (ex.: ler, ver televisão, desporto, música)
R: De vez em quando vou dar uma volta. Vejo televisão ou oiço música
- Quando estás de férias o que costumas fazer?
R: É a mesma coisa.
- Com quem costumas passar os teus tempos livres?
R: Eu gosto de tar sozinho, mas de vez em quando o pessoal chama-me para ir à rua.
Planos futuros:
- O que te vês a fazer daqui a um ano?
R: Acabar o curso. E trabalho… o que tiver eu vou
- E daqui a cinco anos?
R: Não sei. Eu tou a pensar no presente e não no futuro.
- Tens alguma estratégia para alcançar aquilo que queres?
R: Primeiro eu vou trabalhar, guardar dinheiro e a seguir… viver sozinho. E vou
comprando as cenas que sempre quis.
79
Anexo VIII – Entrevista P6
Dados pessoais:
- Que idade tens?
R: 18
- Onde nascestes?
R: Na Quinta Falcão.
- Qual o ano de escolaridade que frequentas (nível escolar)?
R: Já não estou na escola…
- Mas qual é o ano que ficaste?
R: Com o 9º.
- Sempre viveste aqui?
R: Sim.
Vida familiar:
- Vives com quem?
R: Com a minha mãe e com o meu pai
- Que relação tens com os teus familiares?
R: Ótima.
- Ótima. Com os dois?
R: Sim. Apesar de tar mais à vontade com a minha mãe, mas talvez seja por ela ser
mulher.
- Que atividades fazes com a tua família?
R: Vejo Televisão, às vezes ajudo a arrumar a casa. Passeio.
- Qual é a profissão dos teus pais?
R: Minha mãe é doméstica e o meu pai é serralheiro.
Percurso escolar:
80
- O que achas da escola?
R: É bom para nós aprendermos… Mas às vezes consegue ser uma seca. É porque é
muito tempo. Eu tive muito tempo na escola. Eu tive no 9º… no 8º… No 8º ano e no 9º,
eu tive o dia todo.
- Passavas o dia todo na escola?
R: Sim
- E achavas isso muito tempo?
R: Sim, mas agora mudei de escola e penso “fogo que saudades que eu tinha”
- Já repetiste algum ano?
R: Repeti… o 3º… Mas eu entrei um ano mais tarde. Perdi o 3º e desisti no 10º.
- Lembraste das notas que tiveste na altura?
R: Eram notas fracas.
- Quais são as disciplinas que mais gostas?
R: No 9º ou no 10º?
- No geral…
R: Ginástica, Português… Não tive muitas.
- E as que menos gostas?
R: História e Matemática
- Queres voltar à escola?
R: Sim
- Até onde queres continuar a estudar? Porquê?
R: Até ao 12º. Para ter mais oportunidades no futuro e ser a única filha dos meus pais a
fazer as capas.
- Consideras a escola importante para o teu futuro?
R: Sim. Sim.
81
- Ainda tens amigos da escola?
R: Sim. Mas falo com poucos. Tinha alguns mas entretanto fomo-nos separando e
deixamos de falar.
- Para além das aulas, o que fazes na escola com os teus amigos?
R: Convivia com os meus colegas.
Expectativas em relação ao trabalho:
- Qual a profissão que queres seguir?
R: Olhe, eu quando era pequenina queria ser veterinária mas agora mudei de opinião. Eu
queria arranjar um trabalho nem que fosse numa loja ou assim. Ou talvez ir para fora.
- Porquê que estás a pensar ir para fora?
R: Uma vida melhor. Os meus irmãos sempre me aconselharam a isso e porquê lá é
muito melhor.
- Tens irmãos fora?
R: Sim. Dois.
- Existe alguém que te encoraje a saíres da ilha?
R: Sim. Os meus irmãos e as minhas cunhadas.
- O que precisas de fazer para alcançar a profissão que queres?
R: Era acabar o estudo. Estudar essa área. Depois olhe, tentar a minha sorte.
Vivência num bairro Social:
- Gostas de viver aqui? Porquê?
R: Para ser sincera não. Pá, é porque metade é minha família, e sabes que muita família
junta da confusão. E eu queria sair de casa, ter a minha própria vida, deixar os meus pais
viver a vida deles.
- Quais são os teus hábitos aqui no bairro?
R: Ir à casa da minha madrinha…
82
Como é que te dás com os vizinhos?
R: Dou-me bem.
- No futuro, queres viver noutro local, ou preferes continuar a viver aqui?
R: Eu não queria, mas acho que vou ser obrigada. Se não conseguir arranjar trabalho cá
eu vou ter que ir para fora.
- Mas se conseguisses trabalho cá, ficavas a viver aqui?
R: Sim tentava.
- O que gostas mais no bairro?
R: Sinceramente… Talvez os vizinhos.
- O que gostas menos?
R: Olha eu não gosto de como foram feitas as casas.
- Mas o quê que não gostas?
R: Não gosto da minha varanda. A vizinha, a Fátima, já reclamou que caiu bocados da
minha varanda para baixo.
Ocupação dos tempos livres:
- O que fazes nos tempos livres? (ex.: ler, ver televisão, desporto, música)
R: Passear com o meu namorado. Conviver com a minha família. Arrumar a casa. E é
só.
- Quando estás de férias o que costumas fazer?
R: No verão aproveitava para ir a praia, o Natal para conviver com a família.
- Com quem costumas passar os teus tempos livres?
R: Com o meu namorado, a família e uma amiga.
Planos futuros:
- O que te vês a fazer daqui a um ano?
R: A trabalhar. Por mim trabalhava já.
83
- E daqui a cinco anos?
R: Ter uma família. Criar a minha própria família e ter a minha própria casa.
- E já agora, onde fica a escola no meio destes planos?
R: Eu pretendia tar a trabalhar e a estudar. Não sei se vai ser possível, mas era o que eu
queria.
- E se tiveres que escolher entre trabalhar e estudar?
R: Trabalhar.
- Tens alguma estratégia para alcançar aquilo que queres?
R: É arranjar um bom trabalho e poupar. Poupar para ir tendo as minhas coisinhas aos
poucos, claro que não vamos ter tudo de uma vez…
84
Anexo IX – Entrevista P7
Dados pessoais:
- Que idade tens?
R: 16
- Onde nascestes?
R: No Funchal.
- Mas em que zona do Funchal?
R: Santo António.
- Nasceste aqui no Bairro?
R: Sim.
- Qual o ano de escolaridade que frequentas (nível escolar)?
R: Tou num curso.
- E equivale a que ano o curso em que estás?
R: Equivale até ao 9º
- E estás no último ano do curso?
R: Sim.
- Sempre viveste aqui?
R: Sim.
Vida familiar:
- Vives com quem?
R: Com minha mãe, meu pai, minhas irmãs e minha avó.
- Que relação tens com os teus familiares?
R: Boa.
- Porquê que dizes que é boa?
R: Porque eu posso confiar neles. Consigo desabafar com eles.
85
- Que atividades fazes com a tua família?
R: Passear.
- Qual é a profissão dos teus pais?
R: Operadora de charcutaria, a minha mãe. O meu pai manobrador.
Percurso escolar:
- O que achas da escola?
R: O meu pensamento ultimamente mudou em relação a escola. Tou mais ciente que a
escola é necessária para ser alguém na vida.
- Quando é que começou a mudar o pensamento?
R: Mais ou menos há um ano, um ano e meio.
- E o quê que pensavas antes?
R: Pensava que não precisava daquilo para nada, mas já vi que não.
- O que fez mudar o teu pensamento?
R: Os meus pais. A forma como eles têm que lutar para ganhar dinheiro e essas coisas...
- Já repetiste algum ano?
R: Já. O 5º e o 7º.
- Cada um, uma vez?
R: Sim, cada um, uma vez.
Lembraste das tuas notas no último período?
R: Não.
- Mas foram boas? Foram más? Muitas negativas?
R: Não, não tive muitas. Tive duas.
- Sabes quais foram as tuas negativas?
R: TIC e a outra não sei.
- Quais são as disciplinas que mais gostas?
86
R: Português. Educação Física.
- E as que menos gostas?
R: Matemática.
- Até onde queres continuar a estudar? Porquê?
R: Até ao 12º. Porque é o que é preciso para começar a trabalhar, arranjar um trabalho
mais ou menos.
- Ou seja, queres continuar a estudar até ao 12º para arranjar um bom trabalho?
R: Sim.
- Tens amigos da escola?
R: Tenho. Muitos amigos.
- Para além das aulas, o que fazes na escola com os teus amigos?
R: Vou sair, vou ao cinema e tal.
- Ok. Vais sair com os amigos da escola. E dentro da escola, costumas fazer alguma
coisa?
R: Ponho-me lá a ouvir música, mais o pessoal e mais nada.
Expectativas em relação ao trabalho:
- Qual a profissão que queres seguir?
R: Não tenho isso idealizado.
- Mas nunca tiveste alguma ideia em relação a alguma profissão?
R: Não. Agora tou mais ligado a tentar seguir a eletricidade, como tou a tirar o curso.
- É algo que tu gostavas de fazer, de acordo com o que já viste no curso?
R: Eu gosto daquilo. Acho que podia…
- Veste a ter essa profissão?
R: Eu acho que é rentável. Entrar para aquela área.
- E o que te levava a seguir essa profissão?
87
R: É por gosto. Eu até acho consideravelmente aquilo fácil, até desenrasco-me
consideravelmente bem, que eu sou dos melhores alunos. Acho que sim.
- Existe alguém que te encoraje a seguir esse trabalho?
R: O meu pai.
- O que precisas de fazer para alcançar a profissão que queres?
R: Preciso de estudar.
- E precisas de mais alguma coisa? Precisas só de acabar ou curso, ou precisas
também de tirar o 12º como falaste há pouco?
R: É isso. O curso e tirar o 12º
Vivência num bairro Social:
- Gostas de viver aqui? Porquê?
R: Gosto. Já conheço os meus vizinhos há bastante tempo e dou-me bem com eles.
- Dás-te bem com os teus vizinhos?
R: Sim, os da minha idade.
- Quais são os teus hábitos aqui no bairro?
R: Andar de bicicleta, andar de mota… Essas coisas.
- No futuro, queres viver noutro local, ou preferes continuar a viver aqui?
R: No futuro gostava de viver noutro local. Ter a minha própria casa e isso.
- Era para teres uma casa só tua?
R: Sim. Privacidade e essas coisas.
- O que gostas mais no bairro?
R: O ambiente.
- O que gostas menos?
R: A droga.
- A droga, como assim? Podes explicar mais um pouco?
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R: O ambiente do pessoal mais velho, o ambiente da droga e essas coisas.
Ocupação dos tempos livres:
- O que fazes nos tempos livres? (ex.: ler, ver televisão, desporto, música)
R: Oiço música. Jogo.
- Quando estás de férias o que costumas fazer?
R: Costumo sair com os meus amigos. Tomar café.
- Com quem costumas passar os teus tempos livres?
R: Com os meus amigos. Com os meus pais. Com a família.
Planos futuros:
- O que te vês a fazer daqui a um ano?
R: Vejo-me a ir para o 10º. Para completar o 12º.
- É para fazer um curso ligado à eletricidade?
R: Sim, ligado à eletricidade.
- E daqui a cinco anos?
R: Não sei, provavelmente tava ligado a essa cena da eletricidade. E... Ter a minha
independência.
- Mas já a trabalhar?
R: Já a trabalhar.
- Tens alguma estratégia para alcançar aquilo que queres?
R: Não, só deixo ir. Vou ao meu ritmo.
- Vives mais o dia-a-dia, um dia de cada vez?
R: Sim.