Upload
hoangnhi
View
219
Download
2
Embed Size (px)
Citation preview
_______________________________________________________________________
MARIA DE FÁTIMA PIRES MARTINS CARMEZINI
A POÉTICA DA MULHER ATRAVÉS DA PINTURA
______________________________________________________
LONDRINA
2008
2
MARIA DE FÁTIMA PIRES MARTINS CARMEZINI
A POÉTICA DA MULHER ATRAVÉS DA PINTURA
Produção Didático-Pedagógica, Unidade Didática, prevista no Projeto de Intervenção Pedagógica como estratégia de ação a ser utilizada pela professora PDE durante a Implementação do Projeto na Escola, como requisito ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2008, do Estado do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Marcos R. Aulicino
LONDRINA 2008
3
UNIDADE DIDÁTICA
NRE: Londrina
Município: Primeiro de Maio
Nome do professor: Maria de Fátima Pires Martins Carmezini
E-mail: [email protected]
Escola: Colégio Estadual Marechal Castelo Branco-
Fone: 32351331
Disciplina: Arte – Série: 8ª
Conteúdo Estruturante: Movimentos e Períodos
Conteúdo Específico: As mulheres produtoras na História da Arte.
Tema: O Perfil da Mulher Produtora na História da Arte
Título: A Poética da Mulher Através da Pintura
Relação interdisciplinar: Português
A Poética da mulher através da pintura – Do figurativo ao abstrato
“A mulher forte não deve ser mais que um símbolo, ela apavora quando é vista em realidade”.
Balzac (Landim, 2007 p.1)
A História da Arte tem contemplado uma produção artística feita preferencialmente
por homens? Em que período da história a mulher se destacou como produtora de
arte?
A mulher como modelo para o olhar masculino
Alexandre Cabanel, La Naissance de Vênus ( Nascimento de Vênus), 1863, óleo sobre tela, 130 x225 cm. Musée d’ Orsay, Paris. www.lindsaybraun.com/mixed/naissance_de_venus.jpg - acesso em: 20 nov. 2008
A figura feminina na história da arte
tem sido representada sob a interpretação masculina que a vê como fonte de
4
inspiração para suas obras de arte. Hoje no século XXI, vamos rever a História da
Arte com um olhar diferente, porque até então, temos em mente somente artistas
homens como Botticelli, Ticiano, Rubens, Picasso, Renoir e outros. E a mulher como
fica nesta História? Vamos lançar um olhar na produção feminina e apresentar uma
História da Arte a partir de algumas artistas que vem ocupando seu espaço nas
artes.
Nas imagens dominantes da arte a mulher exibia-se, na maioria das vezes,
como belo espetáculo. Como diria o crítico John Berger de maneira generalizada e
simplificada, Que “os homens agem e as mulheres exibem-se. Os homens olham
para as mulheres. As mulheres observam-se a si mesmas sendo olhadas”( Berger,
Ways of Seeing, p.47 apud Garb, 1998, p.222). Esta afirmativa coloca o homem
como portador ativo do olhar e a mulher como seu objeto. Nesse contexto, a questão
do olhar e ser objeto do olhar se relaciona com a identidade de gênero. Podemos
observar na pintura ocidental, Nascimento de Vênus, uma representação de
passividade, enquanto aos homens um olhar atento, ativo e poderoso.
A arte é testemunha da história e de acordo com os estudos feitos, a figura
feminina sempre foi um dos temas preferidos dos artistas seja como objeto de
sedução, de beleza, de representação de um estado de espírito ou de um ideal de
perfeição. Sua representação sofreu mudanças de acordo com os acontecimentos
sociais de cada época. Mas podemos colocá-la sempre presente nas produções
artísticas em qualquer época da
história da arte.
Vênus de Willendorf. Altura: 11cm. Encontrada na Áustria. Museu de História Natural, Viena. http://bp2.blogger.com/_iM2QC611E/R7S51tXmdrI/AAAAAAAAAHY/T_mXVK1iZOw/s1600-h/venus1.jpg -acesso em: 15 nov. 2008
Pintura parietal representado no seu túmulo, http://pt.wkipedia.org/wiki/Nefertari – acesso em: 15 nov. 2008.
Mona Lisa, Leonardo da Vinci, 1503- 1507, óleo sobre madeira de álamo,77x53cm. MuseudoLouvre.http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/2arte/2monalisa.jpg – acesso em: 15 nov. 2008
5
Observe as imagens da página anterior. Já às conhece? O que você sabe
sobre elas? O que elas representam para você? São de épocas diferentes? Por
quê? Por que a figura feminina sempre aparece do outro lado (sendo representada)
e não produzindo?
Assista ao vídeo: “Mulheres na arte”, disponível no site you tube e reflita.
A mulher como modelo para o olhar masculino e algumas implicações encontradas
na questão do olhar. Vamos analisar através das questões abaixo:
ATIVIDADE: Observe na obra de Renoir, La Loge: (reflita em dupla, anote, para o
debate com a turma):
� Homem e mulher representados no quadro encenam e pode estar reforçando as
tradicionais relações de observação mútua. Quem vê e quem está sendo visto?
� Nesta imagem do séc.XIX, uma figura é retratada como se estivesse agindo,
“prazer em olhar” e a outra “exibindo-se” como se fosse um espetáculo? Por
quê?
� Você acha que desta forma, a figura masculina é detentor do poder e a figura
feminina fica como um objeto seu?
� É possível, que a figura do homem no quadro atue como representante do
observador/artista que olha para a mulher/quadro?
� A figura masculina com seu olhar ativo nega o seu valor enquanto espetáculo?
Por quê? Qual é a importância da mulher nesta obra?
Ao observarmos a obra, entramos no contexto daquela época, como a mulher era representada, descrever o quadro é descrever a mulher, reagir à imagem é ser seduzido pelos encantos dela. “A questão do olhar como forma de engajamento ativo é representado no quadro pelo homen, o que dá suporte ao olhar como prerrogativa masculina na cultura francesa do final do século XIX” (Garb, 1998, p.225).
Auguste Renoir, La Loge, 1874, óleo sobre tela, 80 x 64 cm. Coutauld Institute Gallerie, Londres. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/64/Pierre-Auguste_Renoir_023.jpg/480px-Pierre-Auguste_Renoir_023.jpg - acesso em: 20 nov. 2008.
6
A Produção Feminina - Um olhar diferente sobre a História da Arte
O foco deste trabalho é a mulher produtora, aquela que constrói e conquista
em seu cotidiano, seu espaço e sua liberdade, estabelecendo uma história de
relação e não de exclusão. A figura feminina atuante, como um ser social, com
participação determinante também nas estruturas econômicas e políticas, passando
de objetos de representação, para produtoras de arte, questionando a própria
História da Arte e o lugar em segundo plano das artistas.
Catarina Landim, “A Mulher na Arte”, a partir do movimento feminista dos
anos 60 questiona-se a produção de arte somente para o público masculino, mesmo
quando se constava à presença de mulheres artistas a posição machista de alguns
artistas era a recorrente. “Ela desenha como um homem”, declaração feita por
Degas para enaltecer o trabalho de Mary Cassat. Já para Picasso, “pintar é em
realidade como fazer amor”. Podemos perceber que a produção artística moderna é
associada a uma energia inexplicável associada ao desejo do homem.
Desde o século XVII, algumas mulheres lutam para serem artistas. São elas,
filhas de aristocratas, pintavam por lazer, outras filhas de artistas ou mesmo
mulheres que pintavam por necessidade. A partir do séc. XIX elas tiveram acesso
às academias de arte e ateliês particulares.
Vamos fazer uma comparação entre a obra maneirista de Tintoreto, Susanna
e os anciões de 1557 e a obra do período barroco de Artemísia Gentilleshi, de1610
com o mesmo tema:
• • • • •
Tintoretto. Susanna e dois velhos, 1557. http://bp3.blogger.com/_B1y_VzCwENU/RtAUOI/AAAAAAAAJ9Q/GZOjgMAciiY/s1600-h/tintoreto.jpg - acesso em: 20 nov. 2008.
Artemísia Gentilleschi, Susanna e os velhos, 1610. htpp://www.espacioblog.com/myfiles/huma_garciapadilla/Artemisia-Gentilleschi-Susana-y-los-viejos.jpg – acesso em: 20 nov.2008. .
7
• O que percebemos nestas obras?
• Qual é posição da mulher diante da cena?
• Como os artistas representam o corpo da mulher?
• E hoje como a mulher é representada na sociedade?
• Pesquise sobre a mulher artista: Artemísia Gentileschi (1593 – 1652/3).
A mulher artista do século XlX ainda teve que enfrentar críticas, conflitos
internos e externos, preconceitos e elogios para mostrar a sua poética diante da
sociedade. Podemos dizer que em diferentes contextos e momentos históricos a
categoria de artista não significa a mesma coisa. No séc. XIX homens e mulheres
não tinham as mesmas chances de alcançarem identidade de artista, pois aos
homens era destinado discutir arte e política, enfrentar o mercado competitivo e
estudar rigorosamente para escola do governo e às mulheres cabia bordar e estudar
em escolas particulares de arte.
O gênero está presente em muitas formas, além das mais óbvias. Assim como o Deus masculino criou o universo a partir da terra, considerada feminina, o artista cria arte com os materiais a sua disposição (Garb, 1998, p. 230).
Em termos de gênero, o reconhecimento da identidade do artista não é novo.
Algumas feministas, no século XlX, demonstravam essa equiparação entre homem e
mulher era mais social do que uma qualidade intrínseca. Alguns críticos diziam que
o que desqualificava e excluía a mulher era a falta de originalidade, sua tendência à
imitação, é conservadora, por seu temperamento emocional e suas preocupações
quanto à maternidade. O que separava os verdadeiros artistas dos homens comuns
e das mulheres é essa energia masculina apresentada como forma inexplicável. E
que essa energia seria fundamental para a produção de uma obra significante que
está centrada na história da arte como “grandes artistas”. Maria Deraimes, feminista
republicana, coloca em 1876: “entende-se facilmente que a vida limitada e
sedentária imposta às mulheres pelos costumes tenha impedido até hoje que elas
encontrassem meios de se sobressaírem entre os melhores no campo das artes”
(“Les Femmes au Salon”, p. 115 apud Garb, 1998, p.231).
Cito também neste contexto as declarações que as feministas e as artistas
tiveram que enfrentar ainda no século XIX, como: “As mulheres nunca produziram
nenhuma obra-prima em qualquer gênero... mas produziram algo maior que isto: é
8
nos joelhos delas que mulheres e homens honestos (e não há nada maior que isto)
são formados”( Harvard, “exposition de I’ Union dês femmes peintres et sculpteurs”,
s/p apud Garb, 1998, p.231). A respeito destas alegações, algumas feministas e
artistas foram contra, enquanto que outras aceitaram e explicavam socialmente.
Estudar a artista é tomar posição contra as descrições tradicionais do artista e muitas feministas o fizeram e mostram que são tão “grandes quanto os homens e expor assim muitos dos preconceitos contra as mulheres que se refletem no cânone”. Garb (1998, p. 232).
Rosa Bonheur (1822-1899), pintora francesa que estudou com seu pai,
Raymond Bonheur, expôs no Salão de Paris a partir de 1841 pinturas de animais
selvagens. A feira de cavalos, um quadro valioso e muito fascinante na questão de
gênero e representação, transgrediu o estereótipo de gênero e fez dessa pintora o
exemplo para muitas artistas dos anos que se seguiram. A artista vestia trajes
masculinos, fumava cigarros e abusava de temas másculos, por isto foi
desqualificada em alguns círculos de forma preconceituosa. Mas foi também a
primeira mulher condecorada com a Grande Cruz da Legião de Honra, entregue pela
Imperatriz.
Rosa Bonheur, Le Marché aux chevaux (A feira de cavalos), 1853, óleo sobre tela, 245 x 407 cm. Metropolitan Museum of Art, Nova York - http://italiangreyhounds.org/errata/wp-content/uploads/2007/12/horsefair.jpg - acesso em: 20 nov. 2008.
Só em 1897, foi admitida a primeira estudante na École dês Beax-Arts, na
França, mas sua presença na Academia ainda causava barulho, marginalizada, sua
liberdade era restrita, se vista desacompanhada, podia ser confundida como
prostituta e humilhada pela polícia que de costume regulava o número de mulheres
nas ruas.
9
Nos quadros ela se apresenta de forma mítica, uma figura pequena sobre a
mesa, com associações como musa, ou como ideal abstrato, ou como alegoria ou
portadora de outros símbolos. Tanto o pintor clássico como os naturalistas usam o
poder simbólico do corpo da mulher para assim definir a sua posição no mundo da
prática artística.
No final do século XlX, já havia um número de mulheres artistas trabalhando
profissionalmente, sem o apoio estatal ou com liberdade de movimentos que os
homens tinham. Ser uma artista profissional no final do
século XlX, era transgredir a expectativa social.
Manet representou Berthe Morisot, em Descanso;
Retrato de Berthe Morisot pintora de seu círculo, como
modelo, a bela dos olhos negros, melancólica, possui uma
feminilidade sensual, mas passiva.
Manet pintou os retratos de Eva Gonzáles e Berthe
Morisot que é colocado como símbolo da
feminilidade da classe média, mas esta
representação não nos informa sobre as realizações
e a vida das mulheres.
Morisot pintou seu marido Eugene Manet, e a
filha do casal, Julie. Era raro que a mulher pintasse
retratos de homens públicos, pois o mesmo
questionava sua capacidade. Os retratos de homens eram julgados em sua
representação a identidade e o caráter, e os de mulheres eram transmitidas pela
representação da pose, o rosto as vestes, a
elegância e beleza.
Eva Gonzalés, artista ambiciosa, filha de pai
escritor e mãe musicista, criada no meio artístico,
que representa o lazer urbano. Ao começar o seu
trabalho sobre a vida moderna, no qual a
representação do corpo
feminino era exibida ao luxo
e prazer, era fazer uso desta
linguagem masculina já
elaborada, para entrar na esfera pública e também fazer sucesso.
Édouard Manet, Le Repôs (Descanso; Retrato de Berthe Morisot), 1870, óleo sobre tela, 148cm x 113cm. Museum of Art, Rhode Island School of Design. Legado do espólio de Edith Stuyvesant Vanderbilt Gerry. http://static.howstuffworks.com/gif/paintings-by-edouard-manet-2.jpg - acesso em: 20 nov. 2008
Eva Gonzalés, Um camarote no Theatre dês Italiens, c 1874, óleo sobre tela, 98 x 130 cm. Musée d Órsay, Paris. http://www.artexpertswebsite.com/pages/artists/artists_a-K-/gonzales/Gonzales_ABoxAtTheTheatreDesItaliens.jpg - acesso em:20 nov. 2008.
10
Mary Cassatt, outra artista de sucesso, ativista feminista. Uma
mulher solteira, a forasteira criada na Filadélfia, também usou
o tema de ópera, com 8 variações sobre ele. Fez cópia de
Renoir, pois era normal que os artistas fizessem cópias dos
mestres de admiração. Cassatt e Morisot trabalharam de
maneiras diferentes como artistas na vanguarda. Cassatt se
afastou de suas precursoras quando deu início em 1879 à sua
própria série de mulheres em loges. Na obra de Mary, Mulher
de preto na ópera foi um jeito consciente e perfeito de mostrar
o papel de subversão de gênero dominante. No qual afasta a
mulher como representação de receptáculo do
desejo dos homens nos espaços públicos.
Seus lemas mais importantes eram o registro,
observação e o olhar (o olhar atento).
Atividade - Vamos fazer a leitura da obra de Cassatt:
• O que vemos nesta imagem?
• Você sabe o que é ópera?
• Como são as linhas presentes?
• Quais as formas que podemos destacar?
• Como as cores são trabalhadas?
• Existe algum elemento que se destaca mais? Por quê? Há algum detalhe que
lembra nosso cotidiano ou algum filme? O que você acha que a artista quis
representar nesta obra?
• Que tipo de sentimento esta imagem lhe desperta? (tranqüilidade, tensão,
curiosidade, alegria, etc.)
• Que relação podemos estabelecer entre as obras de Cassat e Renoir? Qual o
fio condutor que apresentam estas imagens?
Maternidade _ A mulher é capaz de pintar a infância e Cassatt faz isto muito bem,
mesmo sem ter filhos, portanto foi uma artista bem sucedida e independente.
Mary Cassatt, Mulher de preto na ópera, 1879, óleo sobre tela 80 x 65 cm. Museum of Fine Arts, Boston. http://blindflaneur.com/wp-content/uploads/2007/12/mary_cassatt_in_the_opera_1880.jpg - acesso em: 20 nov. 2008
11
Mary Cassatt, Mãe prestes a lavar seu filho sonolento, 1880, óleo sobre tela, 100 x 66 cm. Los Angeles County Museum of Art legado da sra. Fred Hathaway Bixby M. 62.8.14 http://arttoheartweb.com/images/Mary%20Cassatt%20Woman%20Preparing%20to%20Wash%20her%20Sleepy%20Child.jpg – acesso em: 20 nov. 2008. .
...só a mulher é capaz de pintar a infância. Há um sentimento particular que o homem não sabe transmitir; a menos que seja singularmente sensível e delicado, seus dedos são grandes demais para não deixar marcas desajeitadas e brutais; só a mulher pode fazer a criança posar, vesti-la, prendê-la sem amarrá-la. (Citado em Mathews, Mary Cassatt and the Modern Madonna, p.65 apud Garb, 1998, p.267).
O impressionismo enquanto arte feminina.
Em 1890, o impressionismo antes era uma forma de encontrar o eu em sua
prática. Para os que tomam seu partido é uma relação fiel e sincera, quanto ao
estado do artista. Mas para os que difamam é uma pintura sem pensar, mecânica,
sem imaginação.
Foi o suposto apego do impressionismo à superfície, justamente a celebração
da experiência sensorial nascida da percepção rápida e do registro de impressões
fugidas, que fez com que ele passasse a ser visto, na década de 1890, como a
prática mais adequada ao temperamento e ao caráter das mulheres. De forma
pejorativa e preconceituosa o crítico Camille Mauclair, coloca a falência do
impressionismo quando atribui características femininas à pintura
impressionista, sua materialidade e inconstância, sua
dependência da sensação e das aparências superficiais. Sua
personagem principal seria Berthe Morisot que representou a
modernidade no meio privado (mães, filhos, cenas domésticas),
sua arte concentra-se nos rituais da feminilidade burguesa.
Havia uma tentativa de qualificar a arte feminina usando-
se os termos encantado, meigo e elegante. Os críticos
procuravam as marcas da feminilidade no próprio
modo como os trabalhos das artistas eram
concebidos, como superação de suas fraquezas.
Berthe Morisot, Figura de mulher(antes do teatro), 1875-76, óleo sobre tela, 57 x31cm. Galeria Shroder e Leisewitz, Bremen.
12
A união de desenho e cor é essencial para engendrar pintura, assim como a união de homem e mulher é essencial para a humanidade, mas é preciso que o desenho conserve o seu predomínio sobre a cor. Se assim não fosse, a pintura estaria cortejando sua própria ruína; estaria perdida por causa da cor assim como a humanidade por causa de Eva. ( Blanc, Grammaire historique, citado em Garb, “Berthe Morisot”, p.61, apud Garb, 1998, p.285).
Berthe Morisot representou o modelo de artista mulher aceitável para a
sociedade burguesa. Pessoa reservada e de estilo refinado, não deixou de ser vista,
com graça e encanto, como esposa elegante, anfitriã e mãe. Morisot, sendo
impressionista pode cumprir seu papel como artista e como mulher.
Considerava-se que a verdadeira “feminilidade” de Morisot se encontrava não só no “mundo da mulher” que ela retratava, mas também, significativamente, em sua maneira de perceber e registrar esse mundo: “feche o catalogo e olhe para uma obra cheia de frescor e delicadeza, executada com leveza na pincelada, uma fineza que flui de uma graça inteiramente feminina... è o poema de uma mulher moderna, imaginado e sonhado por uma mulher”, escreveu um entusiasta. Onde Manet fora o pintor do moderno do ponto de vista masculino e metropolitano dominante, Morisot representava o seu contrário feminizado, contido, apartado e suburbano, mas vibrante com a energia de uma sensibilidade feminina que se expressava nas marcas feitas na superfície de suas telas. (Garb, 1998,p.286).
Outra artista marcante na história foi Suzanne Valladon (1865-1938)_Uma
artista francesa que marcou esta época com sua pintura, que expressa um olhar
renovado e pessoal. Trabalhou em um circo, mas devido a uma queda, tornou-se
modelo. Como desenhava bem e com incentivo de Degas, (outros que se associou
foram Renoir, Toulouse Lautrec) tornou-se uma pintora de sucesso, com pequena
influência do estudo formal, surpreendentes contornos e cores planas. Uma de suas
obras, entre outras, foi Banhistas, 1923.
ATIVIDADE:
• Para saber mais... Vamos pesquisar sobre: O Movimento Impressionista.
13
• No século XIX era normal que os artistas fizessem cópias dos mestres de
admiração. Qual foi a obra que mais admirou no movimento Impressionista?
Agora é sua vez, faça a leitura e releitura de uma obra desse movimento.
Na arte brasileira – A mulher artista em questão
No fim do século XIX, inicia-se profissionalmente a arte produzida pelas
brasileiras, aproximadamente por volta de 1898. No Rio de Janeiro, elas ingressam
na Academia Imperial de Belas Artes (AIBA), fundada por artistas franceses como
Nicolas Taunay e Debret em 1826, devido a Missão Artística Francesa que chegara
ao Brasil em 1816. Artistas importantes foram formados na AIBA, como Vitor
Meireles e Pedro Américo, que criaram obras que relatam a História do Brasil como
Primeira Missa no Brasil (1886) Independência ou Morte (1888), representando a fiel
realidade. Podemos citar Nicolina Vaz e Julieta França que se tornaram artistas pela
coragem e perseverança, pois tiveram que enfrentar ainda no século XX o
preconceito da sociedade. A primeira mulher a dirigir a escola Nocional de Belas
Artes e pintar um tema histórico foi Georgina de Albuquerque.
Georgina de Albuquerque (1885 - 1962)- Iniciou seus estudos artísticos
ainda na cidade natal, Taubaté. Com 19 anos mudou-se para o Rio de Janeiro,
estudou na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), foi aluna de Henrique Bernadelli
e nesta mesma escola conheceu o pintor Lucílio de Albuquerque, com o qual se
casou. Em 1906, o casal muda-se para Paris, na qual, Georgina aprofunda seus
conhecimentos na École des Beaux-Arts, e na Academia Julian. Georgina volta ao
Brasil em 1911, com formação para enfrentar o mercado e lecionar na ENBA, mais
tarde foi diretora da escola, sendo a primeira mulher a conquistar este espaço.
Depois de muitos anos seu marido veio a falecer e com incentivo de seus amigos
montou um museu em sua própria casa, com nome de Lucílio de Albuquerque, com
todo o acervo familiar. Participou de exposições internacionais, conquistando várias
medalhas e recebeu inúmeros prêmios nos salões. Considerava-se impressionista
pelo contato com os franceses, quando esteve em Paris.
14
O Modernismo e as mulheres artistas
Você já ouviu falar em Anita Malfatti?
O que você sabe sobre essa artista paulistana?
São Paulo povoado de imigrantes, devido ao processo de industrialização
começa a se transformar no início do século XX. Podemos observar a importância
da figura da mulher neste período e a sua participação concreta na História da Arte
brasileira. O período de instalação da arte moderna no Brasil é caracterizado pela
busca de uma identidade local. Neste contexto, é o primeiro momento da cultura
brasileira em que de fato a mulher busca a sua poética através de uma arte nova,
que procura romper com modelos acadêmicos, vencendo os preconceitos e conflitos
diante da sociedade. Como diz Carlos Drummond de Andrade: “... a artista-mulher,
que rompeu clichês artísticos e o estereótipo dos papéis femininos para se fazer
símbolo do modernismo brasileiro”.
Os Acontecimentos precipitavam-se tão depressa, que eu me lembro de ter vivido dentro de um sonho. Comprei incontinente uma porção de tintas e a festa começou. Anita Malfatti(Vieira, 2006 p. 3)
Anita Malfatti-(São Paulo/SP, 1889 - São Paulo. 1964),
Pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora.
Devido a uma atrofia congênita no braço e na mão
direita, utiliza a esquerda para pintar. No ano de 1909,
pinta algumas obras, entre elas a chamada Primeira Tela
de Anita Malfatti e A estudante,1915. Desde menina
Malfatti se envolve com o mundo das tintas mesmo
sabendo que naquela época o costume era que a moça
bordasse e tocasse piano para uma vida mais doméstica,
a presença de sua mãe norte-americana a influenciou.
Depois da morte de seu pai que era italiano, em 1910, foi
para Alemanha e entra em contato com a pintura de
Lowis Corinth, um expressionista moderado, e passa a
ter aulas com ele. Volta ao Brasil em 1914, com uma
pintura dita como “pintura de homens”, numa explosão de cores e formas e o que
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/2arte/1estudante.jpg– acesso em:20 nov. 2008
15
todos esperavam era uma “pintura de senhorita”, Anita considerou a crítica como
elogio. No ano seguinte foi para os Estados Unidos e manteve contato com artistas
expressionistas, onde a sua pintura se torna mais cheia de luz e mais solta com a
explosão da forma e da cor, produzindo assim sua famosa obra O farol, (ilha de
Monhegan). Obra que foi transformada em tridimensional para que os visitantes
pudessem entrar e viajar com Anita - a festa da forma e da cor, realizado em uma
exposição no MAB/FAAP- 2001, em São Paulo (DVDteca, Arte na Escola, 2001, p1).
Atividade: • Vamos assistir o DVD: “Anita Malfatti: modernista por natureza”.
• Anotem palavras significativas do vídeo, para o debate sobre os pontos
relevantes do documentário.
• A obra de Anita Malfatti: O Farol, no vídeo foi mostrado na exposição à re-
criação tridimensional da obra. Você já tinha visto alguma obra (pintura)
transformada do bidimensional em tridimensional (maquete)?
• Escolha um obra de arte feita por mulheres e represente-a no tridimensional
para fazermos uma exposição. Não esqueça de sua biografia (dados mais
importantes).
Outros trabalhos de Anita com tendência expressionista são: O Homem
amarelo e A mulher de cabelos verdes. Anita volta ao Brasil em 1917, para expor
seus trabalhos, marcando assim o início do Modernismo Brasileiro. Monteiro Lobato,
afirmava entre outras coisas que essa artista possui um talento vigoroso, fora do
comum. Poucas vezes, através de uma obra torcida em má direção, se notam tantas
e tão preciosas qualidades latentes. No entanto usou seu talento a serviço de uma
nova espécie de caricatura, seduzida pelas teorias modernas. Tal crítica de teor
exaltado e insultante mexe com Anita mudando o rumo de sua pintura.
Anita ainda participa da Semana de Arte Moderna de 1922 a pedidos de
amigos, mas sem o mesmo vigor de 17. Depois vai para Paris, com bolsa, encontra
com os artistas Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Victor Brecheret e Oswaldo de
Andrade. Volta ao Brasil em 1928, para dar aulas em seu ateliê em São Paulo.
Segundo a arte-educadora Ana Mae Barbosa, a artista como professora de
Arte infantil tem em sua ação pedagógica um ensino individualizado que valoriza o
16
desenvolvimento de cada aluno, devido o seu aprendizado na Alemanha e Estados
Unidos.
Suas figuras sempre estão enviesadas com relação à superfície da tela, ao
contrário de Tarsila que sempre as coloca de frente para observador. Anita costuma
carregar na dramaticidade, através do desenho, da cor, no olhar e no dinamismo das
figuras. Sua preferência era o tema da figura e do retrato, mas nunca deixou de ser
uma excelente paisagista, ela contava com a arte enquanto linguagem e não como
mera narrativa para se exprimir, pois tinha um temperamento fechado e solitário. A
pintura era a expressão de seu ser interior, independente dos temas apresentados.
A primeira retrospectiva de Anita acontece em 1949, no Museu de Arte de
São Paulo Assis Chateaubriand - Masp. Em 1951, participa do 1º Salão Paulista de
Arte Moderna e da1ª Bienal Internacional de São Paulo.
Nada nesse mundo é incolor ou sem luz. Anita Malfatti (Vieira, 2006 p.5)
Outra figura marcante no modernismo é Tarsila do Amaral (1886-1973).
Pintora de enorme talento, mulher bonita e elegante, artista-mulher.
Tarsila
Descendente direta de Brás Cubas
Tarsila
Princesa do café na alta de ilusões
Tarsila
Engastada na pulseira gótica do colégio de Barcelona
Tarsila
Medularmente paulistinha de Capivari reaprendendo
O amarelo vivo
O rosa violácio
O azul pureza
O verde cantante
Desprezados pelo doutor bom gosto oficial.
(trecho da poesia)Carlos Drummond de Andrade
“BRASIL/TARSILA’’ (Gotlib,1998 p.14).
17
Nasce em 01 de setembro, em Capivari (SP). Filha de Lygia Dias de Aguiar
do Amaral, família tradicional de fazendeiros paulistas e falece a 17 de janeiro de
1973, em São Paulo.
Parece mentira... mais foi no Brasil que tomei contato com a arte moderna. Tarsila do Amaral, “Confissão geral” (Gotlib, 1998 p.59).
Tarsila do Amaral também ajudou a concretizar o movimento que mudaria
radicalmente os rumos da nossa cultura. Este movimento reuniu representantes de
vários segmentos em seus objetivos de romper com os parâmetros acadêmicos, os
únicos existentes no país e até aquele momento e abrir a pesquisa artística para as
novas tendências desenvolvidas pelas vanguardas européias.
A carreira de Tarsila se realiza na influência do Cubismo, Surrealismo e do
Nacionalismo. Em 1917 estuda desenho e pintura com Pedro Alexandrino. Vai à
Europa em 1921, em Paris e estuda na Academia Julien. Em 1923 retorna para
iniciar o seu aprendizado cubista, aluna aplicada de Léger estuda também com
André Lhote e Gleizes. Conhece e admira a primeira pintora cubista Marie
Laurencin, “onde seus quadros dispensam assinatura, pois suas tintas são
inconfundíveis, feliz como mulher, realiza uma arte feminina, uma arte feliz’’. Além
disso, Tarsila visita o ateliê de Picasso e fica muito emocionada e diz que o cubismo
é uma “arte cerebral” e que “requer uma educação sentimental”.
Seus trabalhos a partir daí estão agrupados em três fases distintas: O Pau
Brasil, a partir de 1924, Antropofagia a partir de 1928 e temas sociais em 1933. Em
1946 retoma aspectos da antropofagia e em 1950, fase neopau-brasil que retoma
temas caipiras.
Sérgio Milliet explica a aprendizagem da artista...
“Com Lhote, Tarsila aprende ‘a necessidade de uma reação contra o bolchevismo impressionista’ e atravessa a ponte do academismo para o cubismo. Com Léger, aprende o ‘mecanismo da vida moderna, assunto novo, síntese, ritmo, movimento’. Com Gleizes, a importância da geometria: abstração do objeto, criação’”.(apud. Gotlib, 1998, p.78).
A caipirinha de São Bernardo descobre sua identidade mergulhando nas
coisas nacionais, mais tarde exploradas pelo turismo. Tarsila, a pintora que procura
18
sintetizar entre a estética Nacionalista, e o aprendizado cubista, buscando um
esquema mais ingênuo, procura exagerar nos verde-amarelos e as tonalidades das
casas coloniais, baseado-se na cultura local; “transportando para o quadro o curioso
amálgama da cultura cabocla, onde os sinais ferroviários, postes, as torres metálicas
convivem na paisagem com mamoeiros”. “Os contrastes que em Léger são sobre
plásticos, entre formas geométricas dos objetos e formas orgânicas dos homens,
transformam-se em seus quadros em oposições pitorescas da cultura, tão
características da nossa civilização urbana” (Souza, 1980, p. 286).
Na realidade pictural da fase do Pau Brasil, foi satisfatória em partes, pois
quando a artista aproxima a personagem do primeiro plano como no quadro O
Vendedor de frutas, essa relação de figura e fundo não é tão harmonicamente
estilizado, pois ela coloca os elementos com o mesmo valor de acessório, nivelando-
os. Seu período talvez mais feliz é a fase do Pau- Brasil, que representa a realidade
nacional ( rural e urbana),até então desprezada, mediante o uso da técnica das
vanguardas européias(o Cubismo) nas cores puras e lisas. “A imagem, enfim, de um
mundo sem tensões, cuja ordenação mais melódica do que sinfônica nos obriga a
uma leitura linear e parcelada”. O resultado é um espaço ingênuo, analítico e
enumerativo e de estruturas simétricas simples, (Souza, 1980, p.268). Nesta fase
podemos citar: O vendedor de fruta, O Mamoeiro, Manacá e o seu auto-retrato e
outros.
Já na fase antropofágica, Tarsila desenvolve com intensidade o impulso
mágico, ganha mistério, onde o subconsciente se extravasa, mostrando para alguns
a fase precursora da arte surrealista no Brasil. Considerada nesta fase o primeiro
quadro pintado de caráter antropofágico: A Negra. E outros
como: Abaporu, Antropofagia, Urutu ou ovo.
Óleo, sobre tela, 60,5 x 72,5 cm, coleção de Gilberto Chateaubriand – MAM, Rio de Janeiro
Óleo sobre tela,100 x 80 cm, Coleção Museu de Arte Contemporânea da USP –
Óleo sobre tela, 85 x 73 cm, Coleção Eduardo Francisco Costantini, Buenos Aires
19
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/arte/3abaporu.jp
g-
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/arte/2tarsila.jpg
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/arte/4tarsila1.jpg
– acessados em: 18 nov. 2008.
A partir da década 30, o que predomina é a preocupação social, com a obra:
Operários, 1933.
A artista realizou várias exposições na Europa e em 1951 recebeu o Prêmio
de Pintura Nacional da I Bienal de São Paulo. Sua pintura também foi motivo de
polêmica e alvo de reação daqueles que não reconheceram a mudança como um
passo adiante da liberdade de expressão e a busca de novas formas artísticas.
Podemos destacar a importância das artistas Anita e Tarsila dentro do
modernismo como aponta Mário da Silva Brito: “Pode-se dizer que a pintura de
vanguarda, no Brasil, enquanto luta e polêmica, tem o seu ponto de partida numa
mulher e o de chegada em outra. A sua conquista de compreensão e a imposição de
sua legitimidade, como expressão nova de arte, começam e terminam,
respectivamente, em Anita Malfatti e Tarsila do Amaral”. (apud Gotlib, 1998, p.48)
Mario de Andrade, em carta de 3 de janeiro de 1924 para Anita, destaca: “Tu
e ela são a esperança da pintura brasileira”. “Tu (Anita) no teu expressionismo, ela
(Tarsila) no seu cubismo”. (...) “È engraçado! A pintura brasileira hoje está
dependendo das mulheres e nas mãos delas”! “Tu, Tarsila e Zina sempre
caminhando, enquanto os homens decaem”. (Gotlib, 1998, p. 79 e 80)
Tarsila do Amaral, foi uma mulher caprichosa e bem feminina, que cultiva sua
beleza em sucessivos auto retratos, como podemos observar em um deles, Auto-
Retrato (Manteau Rouge)1923. Tarsila é considerada o primeiro caso de
emancipação mental entre as mulheres paulistas. Foi casada várias vezes, marcada
por um comportamento de mulher tranqüilamente firme nos seus propósitos. Pintora
de enorme talento, mulher bonita, elegante, brilhante, imaginária, que só inventa
sobre um esquema preexistente, onde pinta a realidade brasileira, trazendo as cores
de nossa gente.
20
Tarsila
nome Brasil,
musa radiante
que não queima,
dália sobrevivente no jardim desfolhado,
mas constante em serena presença nacional fixada
com doçura,
Tarsila
amora amorável
d’amaral
prazer dos olhos meus
onde te encontres
azul e rosa e
verde para sempre.( trecho da poesia)
Carlos Drummond de Andrade
“BRASIL/TARSILA”( Gotlib, 1998, p.15)
Para saber mais....
Procure saber mais sobre os movimentos cubista e expressionista que influenciaram
as obras das artistas.
ANITA E TARSILA, mulheres corajosas...
Podemos notar entre as artistas-mulheres, uma poética diferente ao
representarem o feminino em suas obras.
Em Auto-retrato, 1923 (Lê Manteau Rouge):
abandona a pincelada impressionista e passa a utilizar planos relativamente lisos de cor. Preocupada com o espaço da tela, coloca a figura numa frontalidade nobre, inscrevendo com nitidez o oval do rosto e dos ombros, no grande círculo aberto da gola; e destaca no fundo escuro os planos violentamente iluminados da face, do colo, da mão direita, tratados sem modelado ( Souza, 1980, p. 266).
Tarsila coloca a figura feminina de frente para o observador, e procura
destacar o rosto em relação a figura e fundo. Já Anita no retrato A Boba; “dispõe as
figuras enviesadas com relação à superfície da tela, usando uma torção às vezes
21
violenta e marcando as zonas de luz e sombra por um modelado geométrico, de
planos coloridos estridentes” (Souza, 1980, p. 270).
Nas obras de Tarsila, há uma entrega espontânea, no seu universo
organizado e limpo. Enquanto Anita, em sua obra há uma atmosfera sombria
carregada de dramaticidade, procurando representar em seus retratos, escondendo
sempre uma das mãos; reflete um comportamento diferente.
É no bom humor de Tarsila que representa a realidade brasileira, trazendo as
cores da nossa gente, o exercício da emancipação da artista que pinta, vencendo
preconceitos, sem nunca perder a elegância.
Os textos evidenciam a explosão da arte feminina no século XX e o
reconhecimento da mulher transformadora e criadora de uma arte. Uma arte que
abre espaço para as mulheres brasileiras expressarem a sua poética através da
pintura e assim mostrar a sua forma de pensar e de criar conforme seu contexto.
Atividade:
Pedir aos alunos imagens de mulheres em diferentes contextos, situações,
atividades, trabalho e das mais diversas etnias. Para posteriormente, montarmos um
painel da mulher contemporânea: A partir dessas situações, aproveite o contorno da
mulher e recrie uma nova mulher e o seu contexto, representando a mulher do
século XXI. Cole a figura ao lado de sua produção, para a comparação e análise das
possibilidades existentes e criadas.
Ampliando o olhar...
Você sabia que as mudanças que houve no início do século XX, não foi
somente na pintura? Além da Pintura: com Anita Malfatti, Ferrignac, J. F. de Almeida
Prado, John Graz, Martins Ribeiro, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita. Na Música:
Guiomar Novais, Heitor Villa-Lobos. Na Escultura: Victor Brecheret, W. Haarberg. Na
arquitetura: Antônio Moya, Georg Przyembel.Na Literatura: Menotti Del Picchia,
Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Manoel Bandeira e Cassiano Ricardo.
Participaram da Semana de Arte Moderna de 1922 intensivamente, juntos com os
outros, buscando novas idéias com marca nacional.
A literatura, bem como outras artes, tem o poder de encantar e ao mesmo
tempo de chocar. E ela está muito presente na música brasileira. A música como
22
linguagem literária, encantou muita gente quando teve a frente uma mulher:
Francisca Edwiges Neves Gonzaga (1847- 1935). “Chiquinha Gonzaga”
considerada a primeira compositora brasileira, genuinamente popular. A primeira
música feita especialmente para o carnaval foi composta por ela. Chiquinha
Gonzaga é um exemplo de coragem e força. Foi a primeira regente a conduzir uma
Banda da Polícia Militar. Sua determinação deveria ser seguida por todo o jovem.
Para isso, bastam três fatores importantes: dedicação, empenho e muita força de
vontade. Exemplo de mulher, Chiquinha Gonzaga esteve sempre à frente de seu
tempo. Grande admiradora do carnaval, compôs “O Abre Alas” no ano de 1889, em
homenagem ao Cordão Rosas de Ouro (espécie de Bloco Carnavalesco).
O Abre Alas
Chiquinha Gonzaga
Composição: Chiquinha Gonzaga
O Abre Alas,
Que eu quero passar (2 X)
Eu sou da Lira,
Não posso negar (2 X)
Ô Abre Alas,
Que eu quero passar (2 X)
Rosas de Ouro é quem vai ganhar (2 X)
http://letras.terra.com.br/chiquinha-gonzaga/242251/ - Acesso em : 23 nov. 2008.
Atividade:
Na contemporaneidade, qual a compositora ou cantora que mais te encanta?
Em grupo, escolham uma música de uma cantora ou compositora brasileira e falem
sobre sua temática: que idéia ela tenta passar em sua música, a letra tem algo a ver
com os acontecimentos de hoje com relação ao papel da mulher na sociedade?
Depois criem uma paródia em cima da música escolhida, tendo como foco a
importância da mulher hoje na sociedade (incluindo suas conquistas até hoje) para
isto faça uma pesquisa sobre as conquistas femininas nas últimas décadas.
23
Na Arte Contemporânea, a poética das mulheres foi mais longe que
imaginamos...
Nos dias de hoje, os exercícios de emancipação da mulher, a sua poética
através da pintura, foi mais longe que imaginamos. Não lhe bastou somente pintar
para sua realização profissional. Quero destacar que a diversidade e as
possibilidades de expressão artística já havia começado antes da arte
contemporânea. Mas é na arte atual que as artistas passaram a fazer novas leituras
de mundo a partir de uma visão feminina e realizar muitos trabalhos diversificando o
material a ser usado para mostrar ao mundo a sua poética.
Podemos perceber nos dias atuais uma arte com mistura de estilos, formas,
práticas e programas que ás vezes parece estranho a um ponto de vista tradicional.
A arte atual tem se utilizado além de tinta, metal e pedra, como também pessoas,
palavras, som, luz, ar, comida e outros..., ou seja, uma arte híbrida.
Você sabe o que é Híbrido? Você já ouviu este termo? (discuta com seus
colegas de sala).
Citaremos aqui o trabalho de algumas artistas que passam, a se preocupar
com as questões relativas à própria obra, dentre muitas artistas que atuaram e
atuam a partir dessa época. Algumas idéias feministas têm influenciado na
diversidade das representações, como exemplo, tem a instalação A Festa do Jantar
da feminista Judy Chicago.
Judy Chicago (1939) - Educadora intelectual, escritora, feminista e artista.
Tem sido reconhecida como pioneira quanto a definição mais ampla de arte, pois
suas obras são de natureza anti-convencionais. Seus livros de arte e filosofia são
conhecidos no mundo todo, pois são publicados em várias línguas. Um de seus
livros: “Através da flor: minha luta como uma mulher artista” (1975). Um papel mais
relevante para a artista, é dos direitos da mulher quanto a sua liberdade de
expressão. Seu trabalho: “A Festa do Jantar” (1974-79), com técnica mista, é uma
grande homenagem às mulheres. Simbolicamente, representa “39 convidadas de
honra” para o jantar especial.
24
Frida Khalo y Caldéron (1907 – 1954) - Artista que
começou a pintar sem compromisso profissional. Mexicana e
filha de artista, sofre um acidente gravíssimo em 1925, pelo
qual a deixa de cama por muito tempo. Em 1928 conhece o
muralista Diego Rivera, que se casa algum tempo depois e
vive um bom tempo em Nova Iorque. Em 1938, suas obras
foram consideradas surrealistas,
mas ela dizia que nunca pintou
seus sonhos e sim a sua própria
realidade. Foi considerada por
alguns como a pintora do século
pelas obras intrigantes e magníficas que deixou.
Niki de Saint Phalle (1930 – 2002) Artista francesa iniciou em 1952 a pintar,
sem o estudo formal de artes. Conhecida por suas assemblages e por suas
esculturas, pois estes incorporam recipientes de tinta para serem estourados com
tiros de pistola. Representou o papel da mulher em esculturas gigantes e coloridas,
chamadas Nanas, expostas em lugares públicos. Sua maior obra é Hon (ela em
sueco), uma escultura de mais de 25m de comprimento, tendo uma abertura na
perna da figura para que as pessoas possam entrar.
Você sabe o que assemblages? Procure pesquisar para saber mais...
Leda Catunda (1961) - Pintora e gravadora estudou artes plásticas na Faap-
Fundação Armando Álvares Penteado em São Paulo, foi aluna de Nelson Leirner
(1932) e Walter Zanini(1925) e outros. Leciona em seu ateliê, na Faap e também
administra workshops, incluindo cursos no Brasil e no exterior. Em 1990 recebe
Prêmio Brasília de Artes Plásticas/ distrito Federal Catunda, em 1998 e em 2003 fez
doutorado em artes, com o estudo sobre a Poética da Maciez: Pinturas e Objetos
Poéticos, na USP. Leda Catunda apontada como um dos maiores talentos surgidos
nos anos 80, explora as propriedades dos materiais que utiliza, seus procedimentos
são próximos ao da colagem, com tecidos ricos em textura e cores intensas que são
sobrepostos.
Frida Khalo - Auto retrato com monos, 1943
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/arte/2Frida3.jpg - acesso em: 23 nov. 2008.
25
Vamos conhecer um pouco do ambiente de trabalho de duas artistas,
mostrando a diversidade do processo de criação e dos materiais usado em suas
obras, cada qual marca a sua poética no gesto materializado da mulher
contemporânea. Através do DVDteca Arte na escola, apresentamos:
• Recortes de Leda Catunda.
• Tomie ohtake – O traço essencial
Iremos conhecer um pouco mais da vida e obra de Tomie Ohtake pela sua
trajetória que demonstra em:
Tomie Ohtake (1913) - Nasceu no Japão e chega ao Brasil em 1934,
naturalizou-se brasileira em 1960. Artista considerada como a dama das artes
visuais pela sua capacidade e conquista. Com mais de 90 anos, ainda produz com
satisfação e revela com sabedoria e humildade as suas composições. Tomie tem a
força e a suavidade ao mesmo tempo, de renovar em diferentes fases: de sua
pintura, nas composições de gravura e na escultura, a trama de sua arte que se
mistura à própria vida. Inicia suas produções com 40 anos, participa de exposições
como a Bienal de São Paulo e a de Veneza. Poucos artistas no Brasil têm uma
trajetória com 27 obras públicas de sua autoria. Suas imensas esculturas espalham-
se pelas cidades brasileiras. Esteve presente em cinco edições da Bienal
Internacional de São Paulo, conquistando 28 prêmios, realiza exposições no Brasil e
no exterior, cerca de 50 individuais e 85 coletivas. Sua primeira retrospectiva
realizada em 1983, no MASP, teve sucesso espantoso, na abertura compareceram
mais 4.000 pessoas. Em sua homenagem, deu-se o nome ao Instituto de: “Instituto
Cultural Tomie Ohtake”, pela relevância de Tomie nas artes plásticas brasileiras. Em
2005, comemora seus 90 anos com: “Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte
Brasileira”.
A artista que participa ativamente do Instituto Tomie Ohtake, deixa marcas de
sua poética pessoal nas diferentes linguagens. Na pintura, na gravura e na
escultura, com a tradição e a contemporaneidade, percorre um caminho de
harmonia em sua carreira.
“A obra de Tomie Ohtake, como trajetória íntegra e integral, tem enfrentado o desafio de construir um tempo reconciliado entre a sabedoria de uma tradição e a experiência visual do sujeito moderno. Sua obra parece buscar em nosso olhar um haicai perdido”, escreve o crítico Paulo Herkenhoff,
26
curador do MoMA Museum of Modern Art, Nova. http://www.institutotomieohtake.org.br/tomie/tetomie.htm - acesso em 23 nov. 2008.
Atividade:
Convido você para conhecer outras obras de Tomie,
através da internet.
Analisando o vídeo: “Tomie Ohtake – O traço essencial“
e a imagem ao lado:
• Que nome daria a essa obra? O que você pode
dizer sobre ela: as cores e as formas.
• O que chamou mais atenção sobre as linguagens
de Tomie?
• O que é possível perceber no
processo de criação da artista no vídeo apresentado?
• Você já viu alguma obra pública de Ohtake? Você fez alguma relação com
obras de sua cidade ( monumento) ?
• Você percebeu o abstrato presente em suas obras?
• Que outros artistas trabalham dessa forma?
A artista já em suas primeiras telas, seu olhar aponta para a arte abstrata,
pela qual define bem seus contornos. Vamos conhecer um pouco sobre essa
tendência? A pintura abstrata pode ser informal ou geométrica. No abstracionismo
pode ser usado: manchas, cores e linhas para criar formas indefinidas. O pintor que
inicia a pintura abstrata é o pintor Wassily Kandinsky (1866- 1944). No século XX a
pintura abstrata marcou com suas tendências: o abstracionismo informal - onde o
artista expressa seus sentimentos e idéias, utilizando de forma espontânea, cores e
formas. Já no abstracionismo geométrico – o artista usa as formas e as cores de
forma organizadas e a base da composição são linhas e figuras geométricas. Para
este tipo de pintura temos como pioneiros: o russo Kasimir Malevitch (1878-1935) e
o pintor holandês Piet Mondrian (1872- 1944)
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/2arte/3tomie.jpg - acesso em: 23 nov. 2008.
27
Abrindo caminhos para a poética pessoal do aluno:
Das linguagens artísticas apresentadas, iremos trabalhar uma delas que é a
pintura. Mas a pintura pode ser realizada em vários lugares. Vamos registrá-las em
um material que seja acessível a todos.
Como a arte abstrata foi destaque nas obras de Tomie, vamos fazer releituras
de suas composições. Mas o que releitura? É a possibilidade de criar, refletir sobre a
produção em questão e a partir dela modificar aspectos da obra original e assim
viajar na obra estudada, despertando a sua criatividade. Pesquise mais sobre as
obras de tomie Ohtake para a realização deste trabalho. Escolha a obra para fazer a
releitura.
Agora a criação é totalmente sua, pode ser abstrato informal ou geométrico.
Com material diversificado, usando tintas, pincéis, tela ou outros (rever a primeira
parte do documentário, para lembrar o gesto paciente e suave da artista). Agora é
hora de criar e mostrar a sua poética.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARCHER, Michael. Arte Contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001. BUORO, Anamélia Bueno. Olhos que pintam: a leitura da imagem e o ensino da arte. São Paulo: Educ.; Fapesp; Cortez, 2002. CALABRIA, Carla Paula Brondi. Arte, história & produção, 2: arte ocidental. São Paulo: FTD, 1997.. CUNHA, Sérgio. Arte, Educação e Projetos – Tarsila do Amaral. Campinas: Educação & Cia, 2005. GARB, Tamar. In FRASCINA, F. (et al). Modernidade e Modernismo - Pintura Francesa. São Paulo: Cosac & Naify, 1998. GOTLIB, Nádia Batella. Tarsila do Amaral, a modernista. São Paulo: Senac, 1998. MARTINS, Miriam Celeste. Mediação: provocações estéticas. São Paulo: Mediação, 2005. OSTROWER, Fayga Peria. Universos da Arte. Rio de Janeiro: Campus, 1991.
28
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares de Arte para os anos finais do Ensino fundamental e Médio. Curitiba, 2008. SOUZA, Gilda de Mello. O Baile das Quatro Artes – Exercícios de leitura. São Paulo: Duas Cidades, 1980. UTUARI, Solange. Tomie Ohtake: o traço essencial / Instituto Arte na Escola. São Paulo: Instituto Arte na Escola, 2005. VIEIRA, Eliane de Fátima. Anita Malfatti: modernista por natureza / Instituto Arte na Escola. São Paulo: Instituto Arte na Escola, 2006. Sites acessados em 22 nov. 2008: GONZAGA, Chiquinha. Disponível em: http://www.spiner.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=813 OHTAKE, Tomie. Disponível em: http/</www.institutotomieohtake.org.br/tetomie.htm>. LANDIM, Catarina. (org.) A Mulher na Arte. São Paulo: Livraria Exótica, 2007. Disponível em: www.portaberta.net/apostilamulhernaarte.pdf