A Politica Externa do Brasil

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    MINISTRIODAS RELAES EXTERIORESMinistro de Estado

    Embaixador Celso Amorim

    Secretrio-Geral

    Embaixador Samuel Pinheiro Guimares

    .UNDAO ALEXANDREDE GUSMOPresidente

    Embaixadora Thereza Maria Machado Quintella

    INSTITUTODE PESQUISADE RELAES INTERNACIONAIS IPRIDiretor

    Ministro Carlos Henrique Cardim

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    Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais IPRI /.UNAG

    Braslia, 2003

    A Poltica Externa do Brasil

    Luiz Incio Lula da Silva

    Celso Amorim

    Samuel Pinheiro Guimares

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    INSTITUTO DE PESQUISA DE RELAES INTERNACIONAIS IPRIEsplanada dos Ministrios, bloco h, anexo I, s. 70870170-900, Braslia, DTel: (61) 411-6800/6816ax: (61) 224-2157www.mre.gov.br/[email protected]

    Coordenao editorialMinistro Joo Batista Cruz

    Preparao dos originaisAna Claudia Bezerra de Melo ilterEliane Miranda Paiva

    Editorao eletrnicaIsnaldo Martins de SouzaSamuel Tabosa de Castro

    Silva, Luz Incio Lula daA poltica externa do Brasil / Luz Incio Lula da Silva, Celso

    Amorim, SamuelPinheiro Guimares. Braslia : IPRI/UNAG, 2003.80p.

    1. Brasil Relaes Exteriores Discursos ensaios, conferncias.I. Amorim, Celso. II. Guimares, Samuel Pinheiro. III. Instituto dePesquisas e Relaes Internacionais. IV. undao Alexandre deGusmo. V. Ttulo.

    C.D.U. : 327(81)(04)

    Capa: JB Cruz, Composies, acrlico sobre tela, 60 x 50, 2001.

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    Sumrio

    10 de dezembro de 2002Discurso do Senhor Luiz Incio Lula da SilvaPresidente eleito da Repblica ederativado Brasil no National Press Club, emWashington, D.C. .................................................. 7

    1 de janeiro de 2003

    Discurso do Senhor Presidente da Repblica,Luiz Incio Lula da Silva, na Sesso de Posse,no Congresso Nacional, em Braslia. ................ 25

    1 de janeiro de 2003Discurso do Embaixador Celso Amorimpor ocasio da Transmisso do Cargo de

    Ministro de Estado das Relaes Exteriores,em Braslia. .......................................................... 47

    9 de janeiro de 2003Discurso do Embaixador Samuel PinheiroGuimares por ocasio da Transmisso doCargo de Secretrio-Geral das RelaesExteriores, em Braslia. ....................................... 61

    9 de janeiro de 2003Discurso do Ministro de Estado das RelaesExteriores, Embaixador Celso Amorim,por ocasio da Cerimnia de Transmissodo Cargo de Secretrio-Geral das RelaesExteriores, em Braslia. ...................................... 71

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    10 de dezembro de 2002Discurso do Senhor Luiz Incio Lula daSilva Presidente eleito da Repblicaederativa do Brasil no National Press

    Club, em Washington, D.C.

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    Senhor presidente do Clube Nacional da Imprensa,

    Senhores e senhoras jornalistas dos Estados Unidos, doBrasil e dos demais pases aqui representados,

    Cidads e cidados dos Estados Unidos da Amrica,

    I.

    Desejo agradecer, uma vez mais, de pblico, oconvite que me dirigiu o presidente George W. Bush,logo aps a minha eleio, para visitar os EstadosUnidos. Quero registrar, tambm, com gratido, ahospitalidade com que fui recebido hoje na Casa Branca.

    Venho a Washington para trazer, do Brasil, umamensagem de amizade.

    Pretendo, logo que tiver tomado posse, dar incioa quatro anos de convivncia franca, construtiva ebenfica entre os nossos dois pases.

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    Brasil e Estados Unidos tm muito em comum.Detm, no continente, as duas maiores populaes.Somos democracias pujantes, com economias complexase industrializadas.

    Brasil e Estados Unidos constituem um ricomosaico de etnias, credos, histrias e culturas. So naesde imigrantes e de oportunidades.

    Brasil e Estados Unidos so a expresso de ummesmo sonho de liberdade, oportunidades justas emobilidade social.

    Essas afinidades, necessariamente condicionadaspelos diferentes estgios de desenvolvimento em que nosencontramos, devem ser a base do entendimento entre

    Brasil e Estados Unidos.

    A histria nos ensina que no soubemosaproveitar, no passado, alguns momentos propcios paraconstruirmos uma parceria mais abrangente. Poderamoster tirado maiores benefcios do impulso resultante daluta que travamos juntos contra o nazismo, na Europa,para criarmos, em tempos de paz, uma cooperao altura dos nossos pases.

    Estou convencido, no entanto, de que o nossovnculo pode melhorar. Se as nossas sociedades seconhecerem mais. Se nos livrarmos de esteretipos e

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    preconceitos. Se aprendermos a valorizar as afinidadese respeitar as diferenas que existem entre ns.

    O respeito pela diferena um dos princpiosfundamentais do convvio tanto entre seres humanosquanto entre Estados.

    A minha vida, como a de muitos outrosbrasileiros e brasileiras, tem sido uma histria de luta

    contra os preconceitos, sempre pela via do dilogo e doesclarecimento.

    Aprendi, ao longo dos anos, que as principaisarmas nessa luta so o esforo para informar e informar-se. A determinao de compreender e ser compreendido.

    Creio que o dilogo franco e direto entrepresidentes, como o que tivemos hoje, e tambm entreas equipes ministeriais dos dois pases, pode pavimentaresse desenvolvimento das relaes entre Brasil e EstadosUnidos. Percebo por parte da atual administrao norte-americana o desejo de trilhar esse caminho, que o meugoverno igualmente adotar com entusiasmo.

    Esto, assim, dadas as condies para quefaamos um investimento poltico decidido na parceriaentre Brasil e Estados Unidos. Para buscar umaassociao madura, de respeito mtuo e proveitosa paraambas as partes.

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    II.

    Tenho a convico de que a persistncia emesclarecer a opinio pblica acaba sempre por servitoriosa. Dessa forma, na grande celebrao democrticaque foram as eleies deste ano no Brasil, a esperana,por fim, triunfou sobre o medo e o preconceito.

    Os mais de 52 milhes de votos que obtivemos,

    e a transio serena que estamos levando a efeito, sosinais de amadurecimento da sociedade brasileira.

    A voz das urnas indicou que o Brasil precisavoltar a crescer, com gerao de empregos e distribuioda renda. Isso se far com a expanso das exportaes,a ampliao do mercado interno e a incluso social.

    A partir de primeiro de janeiro de 2003, quandotomaremos posse, daremos prioridade ao combate fome, ao desemprego e insegurana.

    Sabemos que o momento econmico-financeiro delicado, o que verdade no s para o Brasil comopara a economia mundial como um todo, na qual se

    observa uma forte tendncia de averso ao risco.

    E, quando os mercados globais se contraem, hum reflexo ampliado nos pases em desenvolvimento.

    Tenho plena conscincia de que o meu governoherdar uma situao difcil. Na frente interna, a dvida

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    pblica aumentou substancialmente nos ltimos anos.No plano externo, as empresas brasileiras tm enfrentadoum indito corte nas linhas de crdito.

    Mesmo assim, estou otimista. Creio que o Brasiltem meios para superar as atuais dificuldades e retomaro caminho do crescimento sustentado.

    De nossa parte, faremos as mudanas necessrias

    de maneira gradual e transparente. Meu governo vaipautar-se pela responsabilidade fiscal, pelo combate inflao e pelo respeito aos contratos e acordos. Essasso as bases para a retomada do crescimento econmicosustentado.

    Sabemos que, para cumprirmos os importantes

    compromissos sociais que assumimos durante acampanha, precisamos manter a inflao sob controle ea economia estvel. Ao mesmo tempo, temos claro quea nica estabilidade duradoura aquela que se ancora najustia social.

    Precisamos, tambm, de uma atitude construtiva

    por parte da chamada comunidade financeirainternacional. Estejam seguros de que todas as instituiese empresas responsveis, interessadas na prosperidadee nos ganhos que advm do crescimento econmico,encontraro no Brasil um ambiente seguro e estvel parainvestir.

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    III.

    A agenda internacional est mudando. E, numcenrio em transformao, todos os pases procuramredefinir os seus espaos.

    Para ns, no se trata de adotar uma acomodao,passiva ou reativa, s mudanas em curso. Precisamos,sim, nos antecipar criativamente a elas, sempre de acordo

    com os interesses legtimos do Brasil.Temos que ser capazes de traduzir esses interesses

    em pontos da agenda internacional.

    Para tanto, no seremos prisioneiros deconfrontos ideolgicos estreis. Tampouco noscontentaremos com o atual estado de coisas.

    Vamos olhar com ateno especial aos nossosvizinhos da Amrica do Sul.

    O Brasil tem as slidas credenciais de um pasque h mais de um sculo vive em paz e harmonia comseus dez vizinhos. De um pas que participou

    decididamente, desde sempre, da construo do direitointernacional e da fundao das organizaes multilateraisque so os pilares da boa ordem mundial.

    Tem tambm as credenciais de um pas quedecidiu, pela fora do voto, engajar-se num grandeprocesso pacfico de mudana.

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    Isso nos d as melhores condies possveis parasermos um ativo promotor da estabilidade poltica,econmica e social na regio. Estabilidade que tambminteressa, evidentemente, aos Estados Unidos.

    Queremos ajudar a garantir a paz e a democraciana regio, condies essenciais para o avano social.

    Estamos profundamente empenhados na

    integrao da Amrica do Sul. Vemos essa integraono s do ponto de vista econmico e comercial.Acreditamos em um amplo processo de aproximaopoltica, social e cultural entre os pases da regio,processo no qual o Mercosul tem papel de destaque.

    O Mercosul um projeto nacional e como tal,uma das principais prioridades da poltica comercialexterna brasileira. O meu governo est determinado apreserv-lo e fortalec-lo, buscando, com os demaispases membros, encontrar frmulas para superar asatuais dificuldades e tornar os mecanismos comerciaisexistentes mais realistas e ajustados s peculiaridades detodos os parceiros.

    O Mercosul um projeto estratgico e para seuaprofundamento existe vontade poltica de todas asnaes que o integram. A visita que fiz na semana passadaa Buenos Aires, a primeira ao exterior na qualidade dePresidente eleito, foi uma mensagem sobre minhadeterminao de trabalhar nesse rumo.

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    Contudo, em um mundo cada vez maisinterdependente, a ao de qualquer pas, mas emparticular a de uma nao das dimenses do Brasil, nopode ficar limitada a uma nica regio ou continente.Ela precisa ser global.

    O Brasil, em meu governo, estar aberto aomundo. Queremos melhorar as relaes que temos comos Estados Unidos e a Unio Europia. Buscaremosnovos parceiros comerciais em pases com dimenso epotencial parecidos aos nossos, como o caso da Rssia,da China e da ndia.

    Neste novo sculo, necessrio construir umaordem mundial mais pacfica e solidria, comdesenvolvimento e justia social.

    Temos que promover os direitos humanos.Terminar de vez com o racismo e outras formas dediscriminao. Defender o meio ambiente. Enfrentar osdesafios do terrorismo e das armas de destruio emmassa.

    No caso destas ltimas, seria bom que as grandespotncias dessem o exemplo, engajando-se num processoautntico de desarmamento nuclear. Mais importanteainda: precisamos fazer isso tudo dentro dos princpiosdo direito internacional. essencial fortalecer a ONUe outros organismos multilaterais, adaptando-os

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    ou criando-os como foi o caso do Tribunal PenalInternacional , s novas condies mundiais.

    O Conselho de Segurana da ONU, em especial,deve ser reformado para manter e aumentar a sualegitimidade. No faz sentido que entre os seus membrospermanentes no estejam representantes da Amrica doSul e da frica.

    Podem estar certos que, no caso de uma reforma,o Brasil estar pronto a assumir novas responsabilidades.

    Um outro aspecto da crescente interdependncia a importncia cada vez maior da cooperaointernacional nos mais variados campos.

    Uma rea particularmente propcia a essacooperao a do meio ambiente. O mundo no podefechar os olhos s polticas de preservao ambientaldecididas pela Rio 92. Da mesma maneira que cabe aospases menos adiantados pensar em formas dedesenvolvimento sustentvel, cabe aos pases ricosdiminurem a poluio no planeta.

    Ao Brasil interessa, em particular, apoio aprogramas nacionais de preservao da biodiversidadee de aproveitamento racional do seu potencial econmico.

    Outro setor em que a coordenao internacionalse faz cada vez mais necessria o dos movimentos de

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    capitais. Precisamos criar mecanismos mundiais deregulao que permitam mitigar o efeito da volatilidadedos fluxos financeiros. necessrio, igualmente, eliminaros parasos fiscais e aumentar a capacidade, por partedos Bancos Centrais da Amrica Latina, de fiscalizaoe represso lavagem de dinheiro.

    Aproveito para afirmar aqui que, da parte demeu governo, haver um combate intransigente aosdesvios de recursos pblicos. No daremos trgua aoscorruptos e corrupo.

    Um terceiro mbito que requer intensacooperao internacional o da segurana.

    Ns, brasileiros, felizmente, no temos sido alvos

    de terrorismo. Nem, por isso, deixamos de participardos esforos internacionais para combat-lo com amxima energia e determinao, para que nunca maisacontea o horror que desabou sobre o mundo em 11de setembro do ano passado. A nossa solidariedade svtimas do terror inequvoca.

    Cremos firmemente que o melhor caminho paracombater o terrorismo, assim como outras ameaas quepairam sobre a paz mundial, o de aes decididas peloConselho de Segurana da ONU.

    Interessa a todos os pases e em particular aosmais poderosos a consolidao das organizaes

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    multilaterais, uma vez que apenas elas podem garantira justia e a legitimidade das decises de mbitointernacional.

    O povo brasileiro sofre intensamente os efeitosde outras formas de violncia que, tal como o terrorismo,tambm vo assumindo crescentemente uma dimensointernacional.

    O crime organizado, a lavagem de dinheiro, otrfico de drogas e de armas tambm matam, destroem,corrompem e desmoralizam.

    Combater o crime e a violncia em nossas grandescidades ser uma prioridade do meu governo. aremosisso na frente interna, ao longo de nossas fronteiras, e,

    na medida de nossa capacidade, tambm na esferainternacional, pois essa uma das maiores preocupaescotidianas de muitos milhes de brasileiros.

    Em tal luta, iremos promover maior cooperaoexterna, seja com os nossos vizinhos, seja comorganizaes multilaterais, ou com outros pases, entre

    eles os Estados Unidos.Alm de combater o terrorismo e o crime

    organizado por meio da execuo das polticas decididasnos organismos multilaterais, deve-se dar uma atenoespecial guerra contra a pobreza.

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    Por isso, vital que o mundo, e em especial ospases ricos, se empenhem em uma agenda para odesenvolvimento. Os nveis atuais de misria, fome, faltade educao e de sade, enfim, de terrvel desesperana,so moralmente inaceitveis, poltica e economicamenteinsustentveis.

    preciso que a tecnologia, geradora de tantariqueza, seja acompanhada de polticas nacionais einternacionais que busquem uma repartio maiseqitativa do bem-estar.

    IV.

    Para ns, a paz e a segurana, a estabilidade

    poltico-institucional, o avano da democracia e a maiorintegrao da economia global so inseparveis dodesenvolvimento e da justia social.

    nesse contexto que se insere, com altaprecedncia em nossa poltica externa, a busca pelo Brasilde relaes comerciais ao mesmo tempo mais densas emais equilibradas com o resto do mundo.

    Acreditamos que um comrcio livre de barreiraspode ser um fator de desenvolvimento e gerao deriqueza. Para a realizao desse potencial, so necessrias,no entanto, regras e prticas garantidoras de verdadeiracompetio.

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    Para o meu governo, sem perder de vista anecessidade de ampliar e desenvolver o grande potencialdo mercado interno, o aumento da nossa participaono comrcio mundial ser passo importante naimplementao de uma poltica de crescimentosustentado que gere empregos, aumente a renda dostrabalhadores e reduza substancialmente a vulnerabilidadeexterna da economia brasileira.

    Negociaremos nos foros internacionais comesprito aberto, mas com grande firmeza. Valorizaremosa Organizao Mundial do Comrcio (OMC), maslutaremos para corrigir os seus desequilbrios.

    Daremos nfase eliminao dos subsdios ebarreiras que distorcem o comrcio de produtos agrcolas.

    Lutaremos tambm para que a OMC passea contemplar as necessidades dos pases emdesenvolvimento em reas como a da defesa comercial,da propriedade intelectual e de polticas sociais esetoriais.

    O protecionismo dos pases ricos, as restriescomerciais e os subsdios, apontados pelo MI, peloBanco Mundial, pela OCDE e pela OMC como umasdas causas principais que impedem o crescimento dospases em desenvolvimento, tero no Brasil um opositortenaz.

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    Para o Brasil, a construo de relaes econmicasinternacionais mais equilibradas passa, necessariamente,pela unificao do espao sul-americano. Vamoscontinuar a apoiar a reunio de chefes de Estado da regiopara dar seguimento aos projetos de integrao noscampos dos transportes, da energia e das comunicaes.

    Buscaremos concluir as negociaes entre o

    Mercosul e a Comunidade Andina de Naes paraaproveitar, tambm na rea comercial, o extraordinriopotencial da vizinhana.

    A partir de janeiro de 2003, e at o final dosentendimentos, o Brasil participar das negociaes darea de Livre Comrcio das Amricas (ALCA). L,

    defenderemos os interesses nacionais de maneiraobjetiva, realista e propositiva.

    O Brasil favorvel a uma verdadeira integraoamericana, mas no pode deixar de reconhecer que huma situao de ntida desigualdade entre o norte e osul das Amricas.

    Essas assimetrias precisam ser corrigidas pornovas prticas comerciais e por polticas de apoio aodesenvolvimento dos pases mais pobres.

    Para crescer, o Brasil precisa aumentar o volumede seu comrcio exterior e a ALCA, para ns, pode

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    representar uma verdadeira abertura do mercado dosEstados Unidos e do Canad. Para isso, trabalharemospara eliminar os subsdios, as barreiras tarifrias e no-tarifrias, especialmente no setor agrcola.

    O fato de Estados Unidos e Brasil exerceremhoje, desde novembro, a co-presidncia do processonegociador, poder ser um fator importante para queele avance de um modo que possa atender aos interessese expectativas de todas as partes.

    V.

    Ao concluir, quero reafirmar o meu otimismocom relao ao futuro. Sero grandes os desafios, internose externos. Contudo, acredito no Brasil e no apoio deque disponho para retomar o caminho do crescimentoe para melhorar as condies de vida dos menosfavorecidos no meu pas.

    Confio na rpida retomada do crescimento daeconomia, com a volta dos crditos e dos investimentosexternos produtivos.

    Tal como a sociedade americana que, emmomentos crticos da sua histria, soube enfrentar demaneira criativa e solidria os desafios da recesso e dafome, vamos trabalhar de maneira incansvel para tirarmilhes de brasileiros e brasileiras da misria.

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    No encontro que acabo de ter com o presidenteBush, ele props a criao de uma agenda comum entreo Brasil e os Estados Unidos. Props ainda que estaagenda seja inaugurada por uma reunio entre osrepresentantes dos dois governos, no incio do prximoano, envolvendo as vrias reas de interesse comum ecoordenada pelos presidentes do Brasil e dos EstadosUnidos. Nossa resposta foi claramente positiva.

    Samos daqui animados a preparar de imediatoesse encontro. Temos a convico de que poderemosavanar muito no relacionamento entre as nossas duasnaes. Trabalharemos incansavelmente para que opovo brasileiro colha os melhores frutos desse novomomento.

    Em meu primeiro pronunciamento aps vencera eleio, disse que pressentia o nascimento de um novoBrasil. Volto ao meu pas convencido de que terei nopresidente George W. Bush um importante aliado nessanova e decisiva etapa que se inaugura para a naobrasileira.

    Washington, 10 de dezembro de 2002

    Luiz Incio Lula da SilvaPresidente eleito da Repblica ederativa do Brasil

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    1 de janeiro de 2003Discurso do Senhor Presidente daRepblica, Luiz Incio Lula da Silva,na Sesso de Posse, no Congresso

    Nacional, em Braslia.

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    Excelentssimos Senhores Chefes de Estado e deGoverno; senhoras e senhores; visitantes e chefes dasmisses especiais estrangeiras; Excelentssimo SenhorPresidente do Congresso Nacional Senador RamezTebet;

    Excelentssimo Senhor Vice-Presidente da Repblica

    Jos Alencar; Excelentssimo Senhor Presidente daCmara dos Deputados, Deputado Efraim Morais,Excelentssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunalederal, Ministro Marco Aurlio Mendes de aria Mello;Senhoras e Senhores Ministros e Ministras de Estado;Senhoras e Senhores Parlamentares, senhoras e senhorespresentes a este ato de posse.

    Mudana; esta a palavra chave, esta foi agrande mensagem da sociedade brasileira nas eleiesde outubro. A esperana finalmente venceu o medo e asociedade brasileira decidiu que estava na hora de trilharnovos caminhos.

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    Diante do esgotamento de um modelo que, emvez de gerar crescimento, produziu estagnao,desemprego e fome; diante do fracasso de uma culturado individualismo, do egosmo, da indiferena peranteo prximo, da desintegrao das famlias e dascomunidades;

    Diante das ameaas soberania nacional, daprecariedade avassaladora da segurana pblica, do

    desrespeito aos mais velhos e do desalento dos maisjovens; diante do impasse econmico, social e moral doPas, a sociedade brasileira escolheu mudar e comeou,ela mesma, a promover a mudana necessria.

    oi para isso que o povo brasileiro me elegeuPresidente da Repblica: para mudar. Este foi o sentido

    de cada voto dado a mim e ao meu bravo companheiroJos Alencar. E eu estou aqui, neste dia sonhado portantas geraes de lutadores que vieram antes de ns,para reafirmar os meus compromissos mais profundose essenciais, para reiterar a todo cidado e cidad domeu Pas o significado de cada palavra dita na campanha,para imprimir mudana um carter de intensidadeprtica, para dizer que chegou a hora de transformar oBrasil naquela nao com a qual a gente sempre sonhou:uma nao soberana, digna, consciente da prpriaimportncia no cenrio internacional e, ao mesmotempo, capaz de abrigar, acolher e tratar com justiatodos os seus filhos.

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    Vamos mudar, sim. Mudar com coragem ecuidado, humildade e ousadia, mudar tendo conscinciade que a mudana um processo gradativo e continuado,no um simples ato de vontade, no um arroubovoluntarista. Mudana por meio do dilogo e danegociao, sem atropelos ou precipitaes, para que oresultado seja consistente e duradouro.

    O Brasil um Pas imenso, um continente de altacomplexidade humana, ecolgica e social, com quase175 milhes de habitantes. No podemos deix-lo seguir deriva, ao sabor dos ventos, carente de um verdadeiroprojeto de desenvolvimento nacional e de um plane-jamento de fato estratgico. Se queremos transform-lo,a fim de vivermos em uma Nao em que todos possam

    andar de cabea erguida, teremos de exercer quotidiana-mente duas virtudes: a pacincia e a perseverana.

    Teremos que manter sob controle as nossasmuitas e legtimas ansiedades sociais, para que elaspossam ser atendidas no ritmo adequado e no momentojusto; teremos que pisar na estrada com os olhos abertos

    e caminhar com os passos pensados, precisos e slidos,pelo simples motivo de que ningum pode colher osfrutos antes de plantar as rvores.

    Mas comearemos a mudar j, pois como diz asabedoria popular, uma longa caminhada comea pelosprimeiros passos.

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    Este um Pas extraordinrio. Da Amaznia aoRio Grande do Sul, em meio a populaes praieiras,sertanejas e ribeirinhas, o que vejo em todo lugar umpovo maduro, calejado e otimista. Um povo que nodeixa nunca de ser novo e jovem, um povo que sabe oque sofrer, mas sabe tambm o que alegria, que confiaem si mesmo em suas prprias foras. Creio num futurograndioso para o Brasil, porque a nossa alegria maior

    do que a nossa dor, a nossa fora maior do que a nossamisria, a nossa esperana maior do que o nosso medo.

    O povo brasileiro, tanto em sua histria maisantiga, quanto na mais recente, tem dado provasincontestveis de sua grandeza e generosidade, provasde sua capacidade de mobilizar a energia nacional em

    grandes momentos cvicos; e eu desejo, antes de qualqueroutra coisa, convocar o meu povo, justamente para umgrande mutiro cvico, para um mutiro nacional contraa fome.

    Num pas que conta com tantas terras frteis ecom tanta gente que quer trabalhar, no deveria haver

    razo alguma para se falar em fome. No entanto, milhesde brasileiros, no campo e na cidade, nas zonas ruraismais desamparadas e nas periferias urbanas, esto,neste momento, sem ter o que comer. Sobrevivemmilagrosamente abaixo da linha da pobreza, quando nomorrem de misria, mendigando um pedao de po.

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    Essa uma histria antiga. O Brasil conheceu ariqueza dos engenhos e das plantaes de cana-de-acarnos primeiros tempos coloniais, mas no venceu a fome;proclamou a independncia nacional e aboliu aescravido, mas no venceu a fome; conheceu a riquezadas jazidas de ouro, em Minas Gerais, e da produo decaf, no Vale do Paraba, mas no venceu a fome;industrializou-se e forjou um notvel e diversificado

    parque produtivo, mas no venceu a fome. Isso no podecontinuar assim.

    Enquanto houver um irmo brasileiro ou umairm brasileira passando fome, teremos motivo de sobrapara nos cobrirmos de vergonha.

    Por isso, defini entre as prioridade de meuGoverno um programa de segurana alimentar que levao nome de ome Zero. Como disse em meu primeiropronunciamento aps a eleio, se, ao final do meumandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidadede tomar caf da manh, almoar e jantar, terei cumpridoa misso da minha vida.

    por isso que hoje conclamo: Vamos acabarcom a fome em nosso Pas. Transformemos o fim dafome em uma grande causa nacional, como foram nopassado a criao da PETROBRAS e a memorvel lutapela redemocratizao do Pas. Essa uma causa que

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    pode e deve ser de todos, sem distino de classe,partido, ideologia. Em face do clamor dos que padecemo flagelo da fome, deve prevalecer o imperativo ticode somar foras, capacidades e instrumentos paradefender o que mais sagrado: a dignidade humana.

    Para isso, ser tambm imprescindvel fazeruma reforma agrria pacfica, organizada e planejada.

    Vamos garantir acesso terra para quem quertrabalhar, no apenas por uma questo de justia social,mas para que os campos do Brasil produzam mais etragam mais alimentos para a mesa de todos ns, tragamtrigo, tragam soja, tragam farinha, tragam frutos, tragamo nosso feijo com arroz.

    Para que o homem do campo recupere suadignidade sabendo que, ao se levantar com o nascer dosol, cada movimento de sua enxada ou do seu trator ircontribuir para o bem-estar dos brasileiros do campo eda cidade, vamos incrementar tambm a agriculturafamiliar, o cooperativismo, as formas de economiasolidria. Elas so perfeitamente compatveis com onosso vigoroso apoio pecuria e agriculturaempresarial, agroindstria e ao agronegcio, so, naverdade, complementares tanto na dimenso econmicaquanto social. Temos de nos orgulhar de todos essesbens que produzimos e comercializamos.

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    A reforma agrria ser feita em terras ociosas,nos milhes de hectares hoje disponveis para a chegadade famlias e de sementes, que brotaro viosas comlinhas de crdito e assistncia tcnica e cientfica. aremosisso sem afetar de modo algum as terras que produzem,porque as terras produtivas se justificam por si mesmase sero estimuladas a produzir sempre mais, a exemploda gigantesca montanha de gros que colhemos a

    cada ano.

    Hoje, tantas e tantas reas do Pas estodevidamente ocupadas, as plantaes espalham-se aperder de vista, h locais em que alcanamos produtividademaior do que a da Austrlia e a dos Estados Unidos.Temos que cuidar bem muito bem deste imenso

    patrimnio produtivo brasileiro. Por outro lado, absolutamente necessrio que o Pas volte a crescer,gerando empregos e distribuindo renda.

    Quero reafirmar aqui o meu compromisso coma produo, com os brasileiros e brasileiras, que queremtrabalhar e viver dignamente do fruto do seu trabalho.

    Disse e repito: criar empregos ser a minha obsesso.Vamos dar nfase especial ao Projeto Primeiro Emprego,voltado para criar oportunidades aos jovens, que hojeencontram tremenda dificuldade em se inserir nomercado de trabalho. Nesse sentido, trabalharemos parasuperar nossas vulnerabilidades atuais e criar condies

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    macroeconmicas favorveis retomada do crescimentosustentado para a qual a estabilidade e a gestoresponsvel das finanas pblicas so valores essenciais.

    Para avanar nessa direo, alm de travarcombate implacvel inflao, precisaremos exportarmais, agregando valor aos nossos produtos e atuando,com energia e criatividade, nos solos internacionais docomrcio globalizado.

    Da mesma forma, necessrio incrementar emuito o mercado interno, fortalecendo as pequenas emicroempresas. necessrio tambm investir emcapacitao tecnolgica e infra-estrutura voltada para oescoamento da produo.

    Para repor o Brasil no caminho do crescimento,que gere os postos de trabalho to necessrios, carecemosde um autntico pacto social pelas mudana e de umaaliana que entrelace objetivamente o trabalho e o capitalprodutivo, geradores da riqueza fundamental da Nao,de modo a que o Brasil supere a estagnao atual e paraque o Pas volte a navegar no mar aberto dodesenvolvimento econmico e social.

    O pacto social ser, igualmente, decisivo paraviabilizar as reformas que a sociedade brasileira reclamae que eu me comprometi a fazer: a reforma daPrevidncia, reforma tributria, reforma poltica e da

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    legislao trabalhista, alm da prpria reforma agrria.Esse conjunto de reformas vai impulsionar um novo ciclodo desenvolvimento nacional.

    Instrumento fundamental desse pacto pelamudana ser o Conselho Nacional de DesenvolvimentoEconmico e Social que pretendo instalar j a partir dejaneiro, reunindo empresrios, trabalhadores e lideranasdos diferentes segmentos da sociedade civil.

    Estamos em um momento particularmentepropcio para isso. Um momento raro da vida de umpovo. Um momento em que o Presidente da Repblicatem consigo, ao seu lado, a vontade nacional. Oempresariado, os partidos polticos, as oras Armadase os trabalhadores esto unidos. Os homens, as mulheres,

    os mais velhos, os mais jovens, esto irmanados em ummesmo propsito de contribuir para que o Pas cumprao seu destino histrico de prosperidade e justia.

    Alm do apoio da imensa maioria dasorganizaes e dos movimentos sociais, contamostambm com a adeso entusiasmada de milhes de

    brasileiros e brasileiras que querem participar dessacruzada pela retomada pelo crescimento contra a fome,o desemprego e a desigualdade social. Trata-se de umapoderosa energia solidria que a nossa campanhadespertou e que no podemos e no vamos desperdiar.Uma energia tico-poltica extraordinria que nos

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    empenharemos para que se encontre canais de expressoem nosso Governo.

    Por tudo isso, acredito no pacto social. Com essemesmo esprito constitu o meu Ministrio com algunsdos melhores lderes de cada segmento econmico esocial brasileiro. Trabalharemos em equipe, sempersonalismo, pelo bem do Brasil e vamos adotar umnovo estilo de Governo com absoluta transparncia epermanente estmulo participao popular.

    O combate corrupo e a defesa da tica notrato da coisa pblica sero objetivos centrais epermanentes do meu Governo. preciso enfrentar comdeterminao e derrotar a verdadeira cultura daimpunidade que prevalece em certos setores da vidapblica.

    No permitiremos que a corrupo, a sonegaoe o desperdcio continuem privando a populao derecursos que so seus e que tanto poderiam ajudar nasua dura luta pela sobrevivncia.

    Ser honesto mais do que apenas no roubar eno deixar roubar. tambm aplicar com eficincia etransparncia, sem desperdcios, os recursos pblicosfocados em resultados sociais concretos. Estouconvencido de que temos, dessa forma, uma chance nicade superar os principais entraves ao desenvolvimento

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    sustentado do Pas. E acreditem, acreditem mesmo, nopretendo desperdiar essa oportunidade conquistadacom a luta de muitos milhes e milhes de brasileiros ebrasileiras.

    Sob a minha liderana o Poder Executivo manteruma relao construtiva e fraterna com os outros Poderesda Repblica, respeitando exemplarmente a suaindependncia e o exerccio de suas altas funes

    constitucionais.

    Eu, que tive a honra de ser Parlamentar destaCasa, espero contar com a contribuio do CongressoNacional no debate criterioso e na viabilizao dasreformas estruturais de que o Pas demanda detodos ns.

    Em meu Governo, o Brasil vai estar no centrode todas as atenes. O Brasil precisa fazer em todos osdomnios um mergulho para dentro de si mesmo, deforma a criar foras que lhe permitam ampliar o seuhorizonte. azer esse mergulho no significa fechar asportas e janelas ao mundo. O Brasil pode e deve ter um

    projeto de desenvolvimento que seja ao mesmo temponacional e universalista, significa, simplesmente, adquirirconfiana em ns mesmos, na capacidade de fixarobjetivos de curto, mdio e longo prazos e de buscarrealiz-los. O ponto principal do modelo para o qualqueremos caminhar a ampliao da poupana interna

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    e da nossa capacidade prpria de investimento, assimcomo o Brasil necessita valorizar o seu capital humanoinvestindo em conhecimento e tecnologia.

    Sobretudo vamos produzir. A riqueza que conta aquela gerada por nossas prprias mos, produzidapor nossas mquinas, pela nossa inteligncia e pelo nossosuor.

    O Brasil grande. Apesar de todas as crueldadese discriminaes, especialmente contra as comunidadesindgenas e negras, e de todas as desigualdades e doresque no devemos esquecer jamais, o povo brasileirorealizou uma obra de resistncia e construo nacionaladmirvel. Construiu, ao longo do sculo, uma naoplural, diversificada, contraditria at, mas que seentende de uma ponta a outra do Territrio. Dosencantados da Amaznia aos orixs da Bahia; do frevopernambucano s escolas de samba do Rio de Janeiro;dos tambores do Maranho ao barroco mineiro; daarquitetura de Braslia msica sertaneja. Estendendo oarco de sua multiplicidade nas culturas de So Paulo, do

    Paran, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e daRegio Centro-Oeste. Esta uma nao que fala a mesmalngua, partilha os mesmos valores fundamentais, se senteque brasileira. Onde a mestiagem e o sincretismo seimpuseram dando uma contribuio original ao mundo.Onde judeus e rabes conversam sem medo.

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    Onde a mestiagem e o sincretismo seimpuseram, dando uma contribuio original ao mundo,onde judeus e rabes conversam sem medo, onde todamigrao bem-vinda, porque sabemos que em poucotempo, pela nossa prpria capacidade de assimilao ede bem-querer, cada migrante se transforma em maisum brasileiro.

    Esta Nao que se criou sob o cu tropical temque dizer a que veio; internamente, fazendo justia lutapela sobrevivncia em que seus filhos se achamengajados; externamente, afirmando a sua presenasoberana e criativa no mundo. Nossa poltica externarefletir tambm os anseios de mudana que seexpressaram nas ruas. No meu Governo, a ao

    diplomtica do Brasil estar orientada por umaperspectiva humanista e ser, antes de tudo, uminstrumento do desenvolvimento nacional. Por meio docomrcio exterior, da capacitao de tecnologiasavanadas, e da busca de investimentos produtivos, orelacionamento externo do Brasil dever contribuir paraa melhoria das condies de vida da mulher e do homembrasileiros, elevando os nveis de renda e gerandoempregos dignos.

    As negociaes comerciais so hoje de importnciavital. Em relao ALCA, nos entendimentos entre oMERCOSUL e a Unio Europia, que na Organizao

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    Mundial do Comrcio, o Brasil combater o protecio-nismo, lutar pela eliminao e tratar de obter regrasmais justas e adequadas nossa condio de Pas emdesenvolvimento. Buscaremos eliminar os escandalosossubsdios agrcolas dos pases desenvolvidos queprejudicam os nossos produtores privando-os desuas vantagens comparativas. Com igual empenho,esforaremo-nos para remover os injustificveis

    obstculos s exportaes de produtos industriais.Essencial em todos esses foros preservar os espaosde flexibilidade para nossas polticas de desenvolvimentonos campos social e regional, de meio ambiente,agrcola, industrial e tecnolgico. No perderemos devista que o ser humano o destinatrio ltimo doresultado das negociaes. De pouco valer participarmos

    de esforo to amplo e em tantas frentes se da nodecorrerem benefcios diretos para o nosso povo.Estaremos atentos tambm para que essas negociaes,que hoje em dia vo muito alm de meras reduestarifrias e englobam um amplo espectro normativo, nocriem restries inaceitveis ao direito soberano dopovo brasileiro de decidir sobre seu modelo dedesenvolvimento.

    A grande prioridade da poltica externa duranteo meu Governo ser a construo de uma Amrica doSul politicamente estvel, prspera e unida, com baseem ideais democrticos e de justia social. Para isso

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    essencial uma ao decidida de revitalizao doMERCOSUL, enfraquecido pelas crises de cada um deseus membros e por vises muitas vezes estreitas eegostas do significado da integrao.

    O MERCOSUL, assim como a integrao daAmrica do Sul em seu conjunto, sobretudo um projetopoltico. Mas esse projeto repousa em alicerceseconmico-comerciais que precisam ser urgentementereparados e reforados.

    Cuidaremos tambm das dimenses social,cultural e cientfico-tecnolgica do processo deintegrao. Estimularemos empreendimentos conjuntose fomentaremos um vivo intercmbio intelectual eartstico entre os pases sul-americanos. Apoiaremos osarranjos institucionais necessrios, para que possaflorescer uma verdadeira identidade do MERCOSUL eda Amrica do Sul. Vrios dos nossos vizinhos vivemhoje situaes difceis. Contribuiremos, desde quechamados e na medida de nossas possibilidades, paraencontrar solues pacficas para tais crises, com base

    no dilogo, nos preceitos democrticos e nas normasconstitucionais de cada pas.

    O mesmo empenho de cooperao concreta ede dilogos substantivos teremos com todos os pasesda Amrica Latina.

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    Procuraremos ter com os Estados Unidos daAmrica uma parceria madura, com base no interesserecproco e no respeito mtuo. Trataremos de fortalecero entendimento e a cooperao com a Unio Europiae os seus Estados-Membros, bem como com outrosimportantes pases desenvolvidos, a exemplo do Japo.Aprofundaremos as relaes com grandes naes emdesenvolvimento: a China, a ndia, a Rssia, a frica do

    Sul, entre outros.Reafirmamos os laos profundos que nos unem

    a todo o continente africano e a nossa disposio decontribuir ativamente para que ele desenvolva as suasenormes potencialidades.

    Visamos no s a explorar os benefcios

    potenciais de um maior intercmbio econmico e deuma presena maior do Brasil no mercado internacional,mas tambm a estimular os incipientes elementos demultipolaridade da vida internacional contempornea.

    A democratizao das relaes internacionaissem hegemonias de qualquer espcie to importante

    para o futuro da humanidade quanto a consolidao e odesenvolvimento da democracia no interior de cadaEstado.

    Vamos valorizar as organizaes multilaterais, emespecial as Naes Unidas, a quem cabe a primazia napreservao da paz e da segurana internacionais.

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    As resolues do Conselho de Segurana devemser fielmente cumpridas. Crises internacionais como ado Oriente Mdio devem ser resolvidas por meiospacficos e pela negociao. Defenderemos um Conselhode Segurana reformado, representativo da realidadecontempornea com pases desenvolvidos e emdesenvolvimento das vrias regies do mundo entre osseus membros permanentes.

    Enfrentaremos os desafios da hora atual como oterrorismo e o crime organizado, valendo-nos dacooperao internacional e com base nos princpios domultilateralismo e do Direito Internacional.

    Apoiaremos os esforos para tornar a ONU esuas agncias instrumentos geis e eficazes da promoodo desenvolvimento social e econmico do combate pobreza, s desigualdades e a todas as formas dediscriminao da defesa dos direitos humanos e dapreservao do meio ambiental.

    Sim, temos uma mensagem a dar ao mundo:temos de colocar nosso projeto nacional

    democraticamente em dilogo aberto, como as demaisnaes do planeta, porque ns somos o novo, somos anovidade de uma civilizao que se desenhou sem temor,porque se desenhou no corpo, na alma e no corao dopovo, muitas vezes, revelia das elites, das instituies eat mesmo do Estado.

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    verdade que a deteriorao dos laos sociaisno Brasil nas ltimas duas dcadas decorrentes depolticas econmicas que no favoreceram o crescimentotrouxe uma nuvem ameaadora ao padro tolerante dacultura nacional. Crimes hediondos, massacres elinchamentos crisparam o Pas e fizeram do cotidiano,sobretudo nas grandes cidades, uma experincia prximada guerra de todos contra todos.

    Por isso, inicio este mandato com a firme decisode colocar o Governo ederal em parceria com osEstados a servio de uma poltica de segurana pblicamuito mais vigorosa e eficiente. Uma poltica que,combinada com aes de sade, educao, entre outras,seja capaz de prevenir a violncia, reprimir a

    criminalidade e restabelecer a segurana dos cidados ecidads.

    Se conseguirmos voltar a andar em paz emnossas ruas e praas, daremos um extraordinrio impulsoao projeto nacional de construir, neste rinco daAmrica, um bastio mundial da tolerncia, do

    pluralismo democrtico e do convvio respeitoso coma diferena.

    O Brasil pode dar muito a si mesmo e ao mundo.Por isso devemos exigir muito de ns mesmos. Devemosexigir at mais do que pensamos, porque ainda no nosexpressamos por inteiro na nossa Histria, porque ainda

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    no cumprimos a grande misso planetria que nosespera. O Brasil, nesta nova empreitada histrica, social,cultural e econmica, ter de contar, sobretudo, consigomesmo; ter de pensar com a sua cabea; andar com assuas prprias pernas; ouvir o que diz o seu corao. Etodos vamos ter de aprender a amar com intensidadeainda maior o nosso Pas, amar a nossa bandeira, amar anossa luta, amar o nosso povo.

    Cada um de ns, brasileiros, sabe que o quefizemos at hoje no foi pouco, mas sabe tambm quepodemos fazer muito mais. Quando olho a minhaprpria vida de retirante nordestino, de menino quevendia amendoim e laranja no cais de Santos, que setornou torneiro mecnico e lder sindical, que um dia

    fundou o Partido dos Trabalhadores e acreditou no queestava fazendo, que agora assume o posto de SupremoMandatrio da Nao, vejo e sei, com toda a clareza ecom toda a convico, que ns podemos muito mais.

    E, para isso, basta acreditar em ns mesmos, emnossa fora, em nossa capacidade de criar e em nossa

    disposio para fazer.Estamos comeando hoje um novo captulo na

    Histria do Brasil, no como nao submissa, abrindomo de sua soberania, no como nao injusta, assistindopassivamente ao sofrimento dos mais pobres, mas comonao altiva, nobre, afirmando-se corajosamente no

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    mundo como nao de todos, sem distino de classe,etnia, sexo e crena.

    Este um pas que pode dar, e vai dar, umverdadeiro salto de qualidade. Este o Pas do novomilnio, pela sua potncia agrcola, pela sua estruturaurbana e industrial, por sua fantstica biodiversidade,por sua riqueza cultural, por seu amor natureza, pelasua criatividade, por sua competncia intelectual ecientfica, por seu calor humano, pelo seu amor ao novoe inveno, mas sobretudo pelos dons e poderes doseu povo.

    O que ns estamos vivendo hoje neste momento,meus companheiros e minhas companheiras, meusirmos e minhas irms de todo o Brasil, pode serresumido em poucas palavras: hoje o dia do reencontrodo Brasil consigo mesmo.

    Agradeo a Deus por chegar at aonde cheguei.Sou agora o servidor pblico nmero um do meu Pas.

    Peo a Deus sabedoria para governar, discer-

    nimento para julgar, serenidade para administrar,coragem para decidir e um corao do tamanho doBrasil para me sentir unido a cada cidado e cidad destePas no dia a dia dos prximos quatro anos.

    Viva o povo brasileiro!

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    1 de janeiro de 2003Discurso do Embaixador Celso Amorimpor ocasio da Transmisso do Cargo deMinistro de Estado das Relaes

    Exteriores, em Braslia.

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    Excelentssimo Senhor Ministro e caro amigo ProfessorCelso Lafer

    Excelentssimos Senhores Ministros, SenhoresParlamentares

    Senhoras e Senhores Membros do Corpo Diplomtico

    Senhora Professora Mary Lafer

    Senhoras e Senhores,

    Desejo agradecer ao Presidente da RepblicaLuiz Incio Lula da Silva a confiana em mim depositada.

    Vivi hoje, possivelmente, um dos momentos maisemocionantes de minha vida, no s, creio, da minhavida pessoal, mas da minha vida de cidado. Poucospases que eu tenha visto passaram por um momentode tanta vibrao popular com a eleio de umpresidente. , portanto, com o sentimento da grande

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    responsabilidade que decorre dessas expectativas queassumo este cargo.

    tambm com satisfao que recebo o cargodo Professor Celso Lafer, bom amigo, a quem tive ahonra de suceder como Embaixador em Genebra,quando l estive pela segunda vez, e de quem sempretenho lies a aprender. Guardarei a de hoje e refletireisobre ela.

    Quero tambm prestar minha homenagem aoSecretrio-Geral que parte, Osmar Chohfi, e na pessoadele homenageio outros Embaixadores e Chefes daCasa, com quem tive de me relacionar.

    J que estou neste captulo de evocaes e

    registros, quero tambm anunciar que esto sendotomadas as medidas necessrias para a nomeao doEmbaixador Samuel Pinheiro Guimares comoSecretrio-Geral do Itamaraty.

    Com a eleio do Presidente Lula, o povobrasileiro expressou de forma inequvoca o desejo de

    ver realizada uma profunda reforma poltica e social,dentro de um marco pacfico e democrtico, com amplaparticipao popular na conduo dos assuntos doEstado. Coerentemente com os anseios manifestados nasurnas, o Brasil ter uma poltica externa voltada para odesenvolvimento e para a paz, que buscar reduzir o

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    hiato entre naes ricas e pobres, promover o respeitoda igualdade entre os povos e a democratizao efetivado sistema internacional. Uma poltica externa que sejaum elemento essencial do esforo de todos paramelhorar as condies de vida do nosso povo, e queesteja embasada nos mesmos princpios ticos,humanistas e de justia social que estaro presentes emtodas as aes do Governo Lula.

    Convoco todos os diplomatas e servidores doMinistrio das Relaes Exteriores a participaremativamente deste grande projeto.

    A poltica externa no s responsabilidade doItamaraty, ou mesmo do Governo. Ela envolve asociedade como um todo. Para definir o interessenacional em cada situao concreta, reforarei acoordenao com outros rgos governamentais e comos diversos setores sociais trabalhadores, empresrios,intelectuais e entidades da sociedade civil.

    Senhoras e Senhores,

    O povo brasileiro deu uma grande demonstraode auto-estima ao manifestar sua crena na capacidadede mudar criativamente a realidade. Temos que levaresta postura de ativismo responsvel e confiante ao planodas relaes externas. No fugiremos de um protagonismoengajado, sempre que for necessrio na defesa do

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    interesse nacional e dos valores que nos inspiram. Comodisse o Presidente Lula, precisamos traduzir, de formapersistente, nossos interesses e valores em pontos daagenda internacional.

    O cenrio em que teremos de realizar essa tarefa complexo e nem sempre amistoso. A economiamundial est estagnada. Os fluxos financeiros secomportam de forma errtica e segundo uma lgica

    perversa que penaliza os pases em desenvolvimento.A despeito das muitas promessas, os mercados dospases desenvolvidos continuam fechados a grande partedos nossos produtos. Prticas comerciais predatriasdos pases ricos nos privam dos benefcios da nossacompetitividade. No plano poltico, conflitos que se

    supunha estarem em vias de soluo recrudesceram,alimentados pela intolerncia e o fanatismo. Atosterroristas de indescritvel barbrie provocam reaes esuscitam posturas que tm o potencial de afetar osprincpios do multilateralismo. O risco de guerra voltaa pairar sobre o mundo. Tudo isso se reflete em criseseconmicas, financeiras e polticas, que tendem a ser mais

    graves nos pases mais pobres. Nossa regio a Amricado Sul tambm sofre os efeitos desses abalos.

    Senhoras e Senhores,

    O aumento das exportaes, a busca detecnologias e investimentos produtivos sero elementos

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    importantes da estratgia nacional de crescimento e dareduo da vulnerabilidade externa. Participaremosempenhadamente das diversas negociaes comerciaismovidos pela busca de vantagens concretas, semconstrangimento de nos apresentarmos como pas emdesenvolvimento e de reivindicarmos tratamento justo.Saberemos nos articular, sem preconceitos, com asnaes que compartilham conosco interesses e

    preocupaes. Atuaremos em cada momento norteadospela necessidade de assegurar a compatibilidade do queest sendo proposto com as polticas nacionais.Lutaremos para preservar o espao de flexibilidade paraque possamos decidir, soberanamente, qual o modelode desenvolvimento que mais nos convm.

    Combateremos prticas protecionistas que tantoprejudicam nossa agricultura e nossa indstria.Trataremos de ampliar os mercados consumidores debens primrios ou semi-elaborados, que continuam a terum papel importante em nossa pauta. Mas daremosnfase especial queles bens e servios de maior valoragregado e contedo de conhecimento. Para fazermos

    isso de forma sustentvel, teremos que nos empenharprofundamente na verdadeira batalha pela eliminaode barreiras e subsdios que hoje distorcem brutalmenteo comrcio e privam os pases em desenvolvimento desuas vantagens comparativas (as naturais ou aquelasobtidas atravs do esforo e engenho criativo).

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    neste contexto de busca de oportunidades quevemos as grandes negociaes comerciais em curso. Noqueremos um Brasil fechado em si mesmo, imune aosventos do progresso e da competio. Na ALCA, nasnegociaes MERCOSUL-Unio Europia e naOrganizao Mundial do Comrcio trataremos deampliar mercados para os produtos e servios em quesomos competitivos, procurando corrigir distores do

    passado e evitando restries excessivas nossacapacidade de fomentar polticas sociais, ambientais,industriais e tecnolgicas.

    Ainda que nada esteja acordado em definitivo,os pressupostos em que se baseiam estes processos denegociao vo muito alm de meras rebaixas tarifrias.Envolvem aspectos normativos sobre praticamentetodos os campos da atividade econmica. Por isso mesmo,devem ser analisados com cuidadosa ateno, semprejulgamento. A despeito dos prazos desconfortavelmenteestreitos de algumas dessas negociaes, pretendemosdiscutir amplamente com empresrios, trabalhadores eoutros setores sociais e com o Congresso Nacional as

    posies que devemos tomar, tendo em vista a vastagama de interesses envolvidos e as complexas articulaesque se fazem necessrias, a comear no mbito doMERCOSUL.

    No Governo Lula, a Amrica do Sul ser nossaprioridade. O relacionamento com a Argentina o pilar

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    da construo do MERCOSUL, cuja vitalidade edinamismo cuidaremos de resgatar. Reforaremos asdimenses poltica e social do MERCOSUL, sem perderde vista a necessidade de enfrentar as dificuldades daagenda econmico-comercial, de acordo com umcronograma preciso. Temos que enfrentar comdeterminao as questes da Tarifa Externa Comum eda Unio Aduaneira, sem as quais a pretenso de

    negociar em conjunto com outros pases e blocos merailuso. undamental para a recuperao do MERCOSUL a revitalizao do rum Econmico-Social. Devemosimpulsionar igualmente a Comisso ParlamentarConjunta de modo a reforar a participao da sociedadeno processo de integrao. Atribuiremos importncia construo de instituies comuns, de polticas sociais,

    de parcerias na rea educacional e cultural, da livrecirculao de pessoas e de mecanismos financeiros emonetrios que promovam o comrcio e a integrao.

    Consideramos essencial aprofundar a integraoentre os pases da Amrica do Sul nos mais diversosplanos. A formao de um espao econmico unificado,

    com base no livre comrcio e em projetos de infra-estrutura, ter repercusses positivas tanto internamentequanto no relacionamento da regio com o resto domundo. Vrios de nossos vizinhos vivem situaesdifceis ou mesmo de crise. O processo de mudanademocrtica por que o Brasil est passando com o

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    Governo Lula pode ser elemento de inspirao eestabilidade para toda a Amrica do Sul. Respeitaremoszelosamente o princpio da no interveno, da mesmaforma que velaremos para que seja respeitado por outros.Mas no nos furtaremos a dar nossa contribuio para asoluo de situaes conflituosas, desde que convidadose quando considerarmos que poderemos ter um papeltil, tendo em conta o primado da democracia e da

    constitucionalidade.Uma Amrica do Sul politicamente estvel,

    socialmente justa e economicamente prspera umobjetivo a ser perseguido no s por natural solidariedade,mas em funo do nosso prprio progresso e bem-estar.

    Com os Estados Unidos da Amrica partilhamos

    valores e interesses. Pretendo explorar ao mximo nossahistria de amizade, fortalecendo as bases para oentendimento construtivo e a parceria madura. O dilogofluido com os Estados Unidos da Amrica defundamental importncia no s em questes econmico-comerciais do nosso interesse imediato, mas tambmpara assegurarmos influncia no encaminhamento dosgrandes temas da agenda internacional, de formacompatvel com nossas dimenses e valores.

    O Brasil manter uma relao prxima econstrutiva com a Unio Europia. Reconhecemos alonga histria de xito da Unio Europia na construo

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    da paz e da prosperidade pela via da integrao. Noplano poltico, o dilogo com a Unio Europia e ospases que a constituem importante tambm com vistasa fortalecer os elementos de multipolaridade do sistemainternacional. A cooperao com o Japo e outros pasesdesenvolvidos ser tambm fortalecida.

    orjaremos alianas com grandes pases emdesenvolvimento. Reforaremos o dilogo com a China,a Rssia, a ndia, o Mxico e a frica do Sul, entre outros.Desenvolveremos, inclusive por meio de parcerias comoutros pases e organizaes, maior cooperao com ospases africanos. Angola e Moambique, que passarampor prolongados conflitos internos, recebero atenoespecial. Valorizaremos a cooperao no mbito da

    Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa (a CPLP),inclusive com o seu mais novo membro, o Timor Leste.

    Nossa poltica externa no pode estar confinadaa uma nica regio, nem pode ficar restrita a uma nicadimenso. O Brasil pode e deve contribuir para aconstruo de uma ordem mundial pacfica e solidria,

    fundada no Direito e nos princpios do multilateralismo,consciente do seu peso demogrfico, territorial,econmico e cultural, e de ser uma grande democraciaem processo de transformao social. O Brasil atuar,sem inibies, nos vrios foros internacionais, regionaise globais. Incentivaremos a promoo universal dos

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    direitos humanos e o combate a todas as formas dediscriminao. Lutaremos para viabilizar odesenvolvimento sustentvel e para eliminar a pobreza.Apoiaremos a cooperao internacional para o meioambiente, em especial a implementao do Protocolode Kyoto e da Conveno de Biodiversidade.Promoveremos o banimento das armas de destruioem massa e daremos impulso aos esforos pelo

    desarmamento, sobretudo o nuclear. Participaremos daluta contra o terrorismo e o crime organizado, com basena cooperao e no Direito internacionais.

    A soluo pacfica de controvrsias um dos pilaresda diplomacia brasileira. Aps um encaminhamentoque despertou tantas esperanas, triste ver a deteriorao

    da situao no Oriente Mdio, onde vivem populaescom as quais temos vnculos profundos. No se pode,de forma alguma, abandonar a via pacfica e do dilogo,sob pena de perpetuar-se o sofrimento das populaesenvolvidas e de desencadear foras incontrolveis comenorme potencial desestabilizador para a regio e parao mundo. preciso resgatar a confiana nas Naes

    Unidas. O Conselho de Segurana da ONU o nicorgo legalmente habilitado a autorizar o uso da fora,este recurso extremo a ser utilizado apenas quandotodos os outros esforos e possibilidades se tenhamefetivamente esgotado. Mas igualmente importantepara a credibilidade do Conselho em sua tarefa de manter

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    a paz que suas resolues sejam fielmente cumpridas.Defenderemos a ampliao do Conselho de Seguranacom a incluso de pases em desenvolvimento entre seusmembros permanentes, de modo a reforar sualegitimidade e representatividade.

    * * *

    O crescente nmero de brasileiros que vivem e

    trabalham no exterior torna imprescindvel umavigorosa poltica consular e cultural capaz de assisti-lose de manter vivos seus vnculos com o Pas.

    As polticas cultural, de cooperao tcnica,cientfica e tecnolgica sero elementos essenciais dapoltica externa do Governo Lula.

    Senhoras e Senhores,

    Considero a honrosa indicao com que o SenhorPresidente da Repblica me distinguiu como sinal dereconhecimento da excelncia e patriotismo dos quadrosdo Servio Exterior Brasileiro. A imagem pblica quese tem da vida diplomtica costuma ressaltar apenas os

    aspectos de maior brilho. Mas h um outro lado, detraumas pessoais e familiares, representados pelasconstantes mudanas, readaptaes foradas e, emmuitos casos, o enfrentamento de situaes crticas, doponto de vista material e psicolgico. Tais dificuldadesgeram necessidades que no podem ser desatendidas.

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    No caso da carreira diplomtica, enfrenta-se umcomplexo desafio: como conciliar a valiosa experinciaacumulada com a justa e necessria renovao nos postosde chefia.

    Estou consciente de que as tarefas que temosdiante de ns somente podem ser executadas a contentocom a participao engajada de todas as categorias deservidores do Itamaraty. Examinarei sempre comateno e boa vontade suas sugestes e reivindicaes.

    Senhoras e Senhores, meus colegas,

    No s o Brasil, mas todo o mundo estconsciente de que o Pas vive um grande momento desua histria. Pude testemunhar isso pessoalmente. Noso poucos os analistas, intelectuais ou ativistas polticosde variadas tendncias que pensam que do xitobrasileiro depende no s o nosso prprio futuro, maso de outras naes, que, como ns, buscam a via dodesenvolvimento com democracia e justia social.

    Sou tentado a dizer, como o poeta, que tenho

    duas mos e o sentimento do mundo. Mas o que me dconfiana a certeza de que, desta feita, sero muitasmos a colaborar. A tarefa grandiosa. O Itamaraty nofalhar na sua parte dessa misso.

    Muito obrigado.

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    9 de janeiro de 2003Discurso do Embaixador Samuel PinheiroGuimares por ocasio da Transmisso doCargo de Secretrio-Geral das Relaes

    Exteriores, em Braslia.

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    Senhor Ministro de Estado,

    Peo agradecer ao Senhor Presidente daRepblica, Luiz Incio Lula da Silva, ter aceito aindicao de meu nome feita por Vossa Excelncia, dequem me orgulho de ser amigo e colaborador h maisde quarenta anos.

    um prazer, uma honra e uma tarefa rduasuceder o Embaixador Osmar Chohfi no cargo deSecretrio-Geral, que ele tanto abrilhantou.

    Agradeo a presena de todos os amigos, colegase colaboradores.

    Agradeo o apoio de meus filhos e de Maria.

    A sociedade brasileira tem de enfrentar quatrodesafios. Reduzir as disparidades de natureza econmica,de natureza social, de natureza tnica e de gnero. Desafiosecular, agora inadivel. A sntese dessas disparidades

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    a extraordinria concentrao de riqueza e de renda; e afome a sua expresso mais dramtica.

    Eliminar as vulnerabilidades externas queconstrangem o nosso desenvolvimento econmico,poltico e social igualmente tarefa inadivel, inclusivepara poder executar polticas pblicas que reduzam comeficcia aquelas disparidades.

    Essas vulnerabilidades so econmicas, e suasntese o elevado dficit em transaes correntes; sotecnolgicas, e se expressam pela necessidade de importartecnologia devido reduzida gerao de inovaes; sode natureza poltica, pela ausncia do Brasil dosprincipais centros de deciso mundial, como o Conselhode Segurana da ONU e o G-8; so de natureza militar,diante da imensido do territrio e da instabilidade docenrio mundial.

    O terceiro desafio realizar o potencial brasileiro,cuja dimenso pode ser aferida pelo fato de que o Brasil,juntamente com os Estados Unidos da Amrica e aChina, so os trs nicos pases que aparecem

    simultneamente nas relaes dos dez pases de maiorterritrio, de maior populao, e de maior produto.

    O quarto desafio a construo de umademocracia efetiva, que torne cada brasileiro um cidadoque participa da formulao das polticas pblicas e do

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    controle das atividades dos representantes e servidoresdo povo no Congresso, no Executivo e no Judicirio.

    O Governo do Presidente Luiz Incio Lula daSilva j enfrenta esses quatro desafios atravs doprograma de combate fome; da deciso de reconstruira infra-estrutura fsica e social da economia brasileira,de exercer com plena soberania a defesa dos interessesnacionais e de convocar todos os setores da sociedadepara o dilogo mais amplo e mais democrtico sobre aspolticas pblicas.

    O Presidente Luiz Incio Lula da Silva, em seudiscurso no Congresso Nacional, e Vossa Excelncia,em seu discurso de posse, expressaram com toda aclareza os objetivos da poltica externa brasileira e anecessidade fundamental de que ela contribua paraenfrentar aqueles desafios da sociedade, que so osdesafios do Governo e de todos ns.

    Tenho certeza de que todos leram, com cuidado,esses discursos e refletiram sobre o que eles significampara o trabalho cotidiano do Itamaraty.

    Estou seguro de que, para poder bem cumpriras tarefas de Secretrio-Geral das Relaes Exteriores,e assim honrar a confiana de Vossa Excelncia,contarei com a mais dedicada colaborao e o conselhoexperiente dos meus amigos de tantos anos, os Senhores

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    Subsecretrios-Gerais, Embaixadores Arajo Castro,Clodoaldo Hugueney, Gilberto Saboia, Carlos Paranhose, em breve, Luiz ilipe de Macedo Soares.

    Espero contar igualmente com a cooperao dosSenhores Chefes da Casa e de todos os Embaixadores,diplomatas e funcionrios do Itamaraty na realizaodesta tarefa.

    A tarefa da poltica externa uma tarefacoordenada de todos os setores da Casa: da rea poltica,da rea econmica, da rea cultural, da rea cientfica etecnolgica, da rea consular, da rea administrativa.

    Senhoras e Senhores,

    A Amrica do Sul constitui a prioridade dapoltica externa, conforme deixaram claro o SenhorPresidente da Repblica e Vossa Excelncia. A ao naAmrica do Sul dever atender ao objetivo deconstruo da integrao econmica e da cooperaopoltica e social, a partir de uma atitude brasileira quereconhea as assimetrias e procure equacion-las de

    forma generosa.

    A construo de uma sociedade brasileira maisdemocrtica, mais justa e mais prspera somente poderser bem sucedida se nossos vizinhos tambmparticiparem desse processo.

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    As questes da Amrica do Sul, plenas dedesafios e oportunidades para o Governo do Brasil emum mundo multipolar que desejamos construir, tero,assim, toda a prioridade necessria para cumprir odeterminado por Vossa Excelncia.

    Os Estados Unidos da Amrica so a nao maispoderosa econmica, tecnolgica e militarmente. Comos Estados Unidos, a sociedade e o Estado brasileiros

    tm tradicionalmente relaes de amizade, decooperao, de respeito e de entendimento. Temos ainteno de ampliar esta cooperao, sempre com basenos ideais comuns de democracia, de justia e desoberania.

    A amizade do Brasil pela Europa, pela frica, e

    pela sia est em nosso sangue. A contribuio para aformao social brasileira dos descendentes de povosdesses continentes extraordinria e est refletida napluralidade de nossos sobrenomes e etnias.

    A poltica externa do Presidente Lula, executadapor Vossa Excelncia, refletir esta realidade. A

    cooperao com a Europa, econmica e poltica, toimportante que foi para o nosso desenvolvimento, deveser expandida. A cooperao com a frica deveencontrar novos projetos que contribuam para viabilizara superao de suas dificuldades, poltica em que a CPLPter valioso papel. Com os pases do Oriente Prximo,

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    cujos descendentes aqui vivem em harmonia, desejamoscontribuir para que encontrem soluo pacfica para suasdiferenas. Com o Japo, a ndia e a China faremos omelhor para estreitar as nossas relaes de toda ordem.

    Os desafios da sociedade brasileira exigeminstrumentos eficazes para garantir a execuo de umprojeto de desenvolvimento econmico e socialsustentvel com a mais ampla participao popular. Nasnegociaes internacionais, ser necessrio zelar para quea evoluo das normas que regem as relaes econmicase polticas entre os Estados preservem a capacidadesoberana do Estado e da sociedade brasileira de construiro seu futuro.

    Seguindo a orientao de Vossa Excelncia, evalendo-me do cabedal de conhecimentos de experientesnegociadores, darei toda a ateno s negociaeseconmicas, em especial as da OMC, do Mercosul e daALCA, para contribuir da melhor forma para a defesa epromoo de nossos interesses vitais de longo prazo,lembrando sempre o exemplo de Esa e Jac.

    A paz e o progresso econmico e social de todosos povos dependem do cumprimento dos princpios daCarta das Naes Unidas: igualdade soberana dosEstados, autodeterminao, no-interveno, soluopacfica de controvrsias. Estes princpios esto inscritosna Constituio brasileira, justamente para orientar, em

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    carter permanente e em cada situao, a poltica externa.E ela deve refletir sempre as palavras do Baro do RioBranco:

    Sou antes brasileiro, e tenho o dever de colocaracima de tudo, de todas as consideraes pessoaise de meus sentimentos particulares, a dignidade ea honra do Brasil.

    O mundo multipolar sem hegemonias em quetodos os Estados obedeam ao Direito Internacional eprocurem resolver suas controvrsias de forma pacfica o mundo que mais interessa nao brasileira. Cadadia, cada ato da Chancelaria, deve procurar contribuirpara este objetivo. As organizaes multilaterais, em

    especial as Naes Unidas e a OEA, devem contribuirpara esses objetivos, e o Brasil nelas atuar de formaativa.

    Vossa Excelncia determinou-me que procure acooperao e a participao de todos os funcionriosda Casa no processo de formulao e de execuo da

    poltica externa. Essa participao depende da formaoe do treinamento permanente de todos os funcionrios,da organizao das carreiras e do aperfeioamento dosmtodos de trabalho a que dedicarei especial ateno.

    Esta participao depende, em suma, de aesconcretas para tornar a poltica externa um projeto de

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    todos, que contribua como instrumento eficaz para oprojeto de mudana do Governo do Presidente Lula.

    Minhas Senhoras e meus Senhores,

    Como Vossa Excelncia lembrou, a auto-estimae a altivez sero sempre a inspirao de nossa polticaexterna. No nos furtaremos ao protagonismo necessrio.Cabe a ns acreditar na possibilidade de transformar oBrasil e o mundo para torn-los mais justos, maisdemocrticos, mais prsperos, mais humanos.

    Muito obrigado.

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    Senhoras Ministras, Senhores Ministros,

    Senhoras Secretrias de Estado, Senhores Secretrios deEstado,

    Senhores Embaixadores, Senhoras Embaixadoras,

    Meu amigo Valdir Pires, se me permite cham-lo assim,

    porque o ttulo mais pomposo do que a amizade,

    Queridos amigos e colegas,

    Embaixador Osmar Chohfi,

    Meu querido Samuel e seus familiares.

    Tenho especial satisfao em nomear voc,Samuel, Secretrio-Geral das Relaes Exteriores. Todossabemos que , possivelmente, o cargo mais difcil doItamaraty, provavelmente at mais difcil do que o deMinistro de Estado, que faz os discursos, aparece naimprensa, participa das negociaes, que tem maior

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    brilho mas, como o nosso querido Embaixador OsmarChohfi tambm sabe, no quem tem que carregar opiano todo dia.

    motivo de satisfao contar com voc, Samuel,como voc j assinalou, com uma amizade de quarentaanos, durante os quais, muitas vezes, voc foi meucolaborador mas, s vezes, eu tambm fui o seu, se nocolaborador direto, pelo menos o seu parceiro maisjnior, quando, sugerido por voc, o nosso querido esaudoso Embaixador Paulo Nogueira Batista nosconvidou para servir na Secretaria de Planejamento.

    No so apenas quarenta anos de amizade. Soquarenta anos tambm de afinidades, de luta. Lutasdifceis, momentos em que os espaos, para ns queacreditvamos no Brasil democrtico, no Brasil capazde defender seus interesses, num Brasil que no cedessea presses, esses espaos eram muito pequenos. Mas nssempre procuramos lutar dessa maneira, comeando,talvez at antes, mas comeando nesse perodo em quetrabalhamos juntos na Secretaria de Planejamento,

    durante, ainda, as agruras do governo militar, masdurante um perodo de pequena abertura sob o GovernoCosta e Silva. Mais tarde, no cinema, representado aquipelo nosso querido amigo Lus Carlos Barreto (entreoutros, o que eu estou vendo) tivemos tambm a grata,apesar de difcil, tarefa que redundou no final na nossa

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    sada de contribuir, na medida da nossa capacidade,para ampliar os espaos da abertura, como disse CarlosCastello Branco. izemos isso com convico e, semmodstia posso dizer, com coragem.

    Na poca, muitos poderiam ter achado que nsfizemos uma bobagem, perdemos tempo na carreira,poderamos ter feito outras coisas. Hoje, creio, nem paravoc nem para mim sobra sequer uma gota de arrepen-dimento pela participao naqueles momentos difceis.E, no bastasse o testemunho de quem acompanhou,temos tambm nossos filhos que se dedicam, hoje, emtempos mais favorveis, ao mesmo trabalho.

    Devemos todos um reconhecimento muitogrande ao Embaixador Osmar Chohfi, que um grande

    profissional, e uma pessoa a quem conheo h muitosanos, que assumiu sempre tarefas difceis e das quaissempre se desincumbiu com grande serenidade. Doponto de vista pessoal, enquanto fui Embaixador noexterior e tive o Secretrio-Geral como meu chefe maisimediato, recebi todo o apoio e lhe sou muito grato.

    Espero que voc e Ktia sejam muito felizes na Espanha,onde os espera, tambm, um importante trabalho nessecontexto de um Brasil novo, que quer aprender de todasas experincias para ter delas o melhor e aqui aplicar.

    Samuel, se eu tivesse alguma dvida sobre oacerto da minha escolha, a presena de tantos ministros,

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    de tantos secretrios de Estado, de tantos parlamentares,bem como os aplausos que voc recebeu, teriam hojedissipado essas dvidas para sempre. Contar com vocna Secretaria-geral ser para mim um motivo de grandesatisfao e de tranqilidade.

    A poltica externa se desenvolve hoje nummundo nem sempre amistoso, com muitos problemas.Ela feita de projetos, mas ela tambm feita derespostas a desafios que muitas vezes ns nodesejvamos que estivessem a. Em alguns casos, sodesafios de natureza poltica. Alguns dos nossos vizinhospassam por situaes extremamente difceis. E o Brasilno pode, pela sua dimenso, pela sua tradiodemocrtica, pela sua capacidade de promover a

    mudana social por via pacfica, agora acentuada com aeleio do Presidente Lula, no pode se furtar a dar asua contribuio. Sem interferncias, mas sem tambmmedos desnecessrios, que no seriam compatveis coma nossa grandeza, grandeza em que ns todosacreditamos.

    Alguns de ns presentes aqui hoje estaremosamanh viajando para o nordeste brasileiro. Um outroMinistro e colega nosso me sugeriu ser de proveito essamesma viagem que ns, Ministros de Estado, faremosamanh para conhecer mais de perto a realidade brasileira que alguns de ns conhecamos apenas do cinema, ou

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    da literatura ser essa viagem de proveito tambm paraos alunos do Rio Branco, para os jovens diplomatas,para que eles saibam qual o Brasil que eles representam.Que no um Brasil s dos grandes nmeros, que no um Brasil s dos equilbrios macroeconmicos, mas um Brasil de grandes deficincias sociais, de grandesdisparidades, mas disparidades que ns estamosdispostos a enfrentar e para as quais a nossa diplomacia

    vai trabalhar intensamente, em todos os campos. Vocsublinhou, com muita razo, a Amrica do Sul, porqueessa ser uma prioridade, ela uma prioridade quaseque necessria, mas ser agora acentuada com mais razo,at porque o processo de transio pacfica poder serum fator de inspirao tambm para outros pases.

    s vezes nos perguntam se o Brasil quer ser lder.Ns no temos pretenso liderana, se lideranasignifica hegemonia de qualquer espcie. Mas, se o nossodesenvolvimento interno, se as nossas atitudes, comovoc sublinhou, de respeito ao direito internacional, dabusca de soluo pacfica para controvrsias, de combatea todas as formas de discriminao, de defesa dosdireitos humanos e do meio ambiente, se essas atitudesgeram liderana, no h por que recus-la. E seria,certamente, um erro, uma timidez injustificada.

    Samuel, eu no quero me prolongar sobre ostemas da poltica externa porque o Presidente os

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    mencionou, no s no discurso de posse, mas antes, noseu discurso no Clube de Imprensa nos Estados Unidos.Eu tambm tive oportunidade de falar deles; vocmesmo mencionou vrios hoje aqui. Mas voc mencionouuma palavra muito importante. muito importante parao Brasil de hoje, para o Brasil do Presidente Lula, masmuito importante tambm para o Itamaraty. A palavra participao. Ns queremos que todos no Itamaraty

    se sintam engajados numa causa. Quem diplomata noprocurou um emprego. Procurou um trabalho, abraouuma causa. E a causa o Brasil. E ns temos que lutarpor esse Brasil. Um Brasil voltado para a paz, voltadopara a realizao do desenvolvimento, para a democraciano plano interno e no plano internacional. Para isso,Samuel, eu sei que eu no poderia contar com melhorauxiliar do que voc.

    Muito obrigado.

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