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Nº4 junho 2016 | 3€ Mensal www.revistarua.pt “A política precisa de gente credível” Jogo dos Milhões ENTREVISTA AVENIDA DA LIBERDADE Distribuição Comercial FESTAS! Entre cortejos, desfiles, exposições e espetáculos há mais de 220 horas de folia e 14 dias de festa. A comissão de festas do São João de Braga pretende revitalizar a festa popular, afirmando-se cada vez mais como a festa mais antiga e a maior festa popular do país. Vamos às festas antes que a sardinha acabe! VAMOS ÀS REVISTA Diretor Luís Leite Amadeu Portilha, Vice-Presidente da Câmara de Guimarães

“A política precisa de gente credível” Jogo dos Milhões

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Nº4 junho 2016 | 3€ Mensalwww.revistarua.pt

“A política precisa de gente credível”

Jogo dos Milhões

ENTREVISTA

AVENIDA DA LIBERDADE

Distribuição Comercial

FESTAS!Entre cortejos, desfiles, exposições e espetáculos há mais de 220

horas de folia e 14 dias de festa. A comissão de festas do São João de Braga pretende revitalizar a festa popular, afirmando-se cada vez mais como a festa mais antiga e a maior festa popular

do país. Vamos às festas antes que a sardinha acabe!

VAMOSÀS

REVISTA

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Leite

Amadeu Portilha, Vice-Presidente da Câmara de Guimarães

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ORIE

NTA

-TE OBSERVAR

02| Conquista das Taças04| Editorial 08| Radar12| Código Postal

Capela de São João, Braga

14| Passeio Público20 minutos com Casa ao Lado,Vila Nova de Famalicão

16| TalentoBruno Brolido

COMPREENDER

22| São João de BragaTradições e associações que animam a festa sanjoanina

28| St.º AntónioBenção dos animais em Vila Verde

38| Sinos em BragaCarrilhões de sucesso

CONHECER

52| EntrevistaMarcos Barbosa, diretor artístico da Teatro Oficina

57| MúsicaB Fachada

60| Made InBela Luz - Chás e infusões

57| Minhotos pelo MundoA experiência sevilhana

DESFRUTAR

68| EspairecerBosque encantado - Tibães

70| PlantarPlantit - hortas urbanas o ano inteiro

74| MimarMust-haves

76| InstagramPedro está na rua

78| Agenda Junho 2016

OPINIÃO

06| Braga Ciclável18| Histórias da rua

No país das crianças

21| Autor convidadoRui Ferreira escreve sobre o São João

40| Avenida da LiberdadeO Jogo dos Milhões

54| TeatroOs novos rosto

80| HumorO casamento: parte 2

Amadeu PortilhaGuimarães quer ser, em 2020, Capital Verde Europeia. Amadeu Portilha, vice-presidente da Câmara Municipal de Guimarães, acredita que “havendo vontade as coisas mudam”

30ENTREVISTA

ESPECIAL

DIA DA

CRIANÇAPÁG. 43

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O ABC conquistou, pela primeira vez na sua história, a Taça Challenge de andebol.FOTOGRAFIA Sérgio Freitas - CMB

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Cinquenta anos depois, o Sporting Clube de Braga volta a ganhar a Taça de Portugal de futebol.FOTOGRAFIA Sérgio Freitas - CMB

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Primeiro vamos mostrar as tradições das festas e as associações que vivem e dão vida ao São João de Braga. Nesta edição, temos como autor convidado Rui Ferreira, Presidente da Associação de Festas de São João.

Para o mês que vem iremos à pesca de histórias dos homens do mar. O mar é grande mas a sardinha é pouca, sardinha que é simbolo de festas populares, de todos os santos, mas que também poderia ser símbolo da luta pela biodiversidade num apelo à preservação do ambiente, celebrado todos os anos a 5 de junho, um dia que tem como objetivo assinalar ações positi-vas de proteção e preservação do ambiente. Nesse sen-tido, entrevistámos Amadeu Portilha, Vice-Presidente da Câmara de Guimarães. Depois de ter sido Capital Europeia da Cultura em 2012, Cidade Europeia do Desporto em 2013, Guimarães concorre agora ao títu-lo de Capital Verde Europeia em 2020. A candidatura a apresentar em 2017 conta também com um comité de aconselhamento liderado pelo Prémio Nobel da Paz em 2007, Mohan Munasinghe.

Alertando para a necessidade de salvar o ambiente, o uso de bicicleta na mobilidade é um primeiro passo. Por isso, fizemos um convite à Braga Ciclável – As-sociação Pela Mobilidade Urbana em Bicicleta para escrever todos os meses na RUA. O objetivo é que haja cada vez mais rodas a pedalar em segurança pela cidade bracarense e que a voz dos ciclistas seja cada vez mais ouvida. Braga é uma cidade com todas as caraterísticas para a adoção do ciclismo urbano no dia a dia, falta vontade política para melhorar as suas condições.

Quanto às crianças, tirámos as espinhas à censura e deixamos que elas fizessem tudo, desde o planeamen-to editorial à paginação da revista. Um agradecimento à Joana Rocha que coordenou e dirigiu a secção, assim como à Companhia da Música por nos ter apoiado no

Luís LeiteDiretor

EDITORIALNão há nada mais tradicional do que comer uma bela sardinha numa noite de São João em Braga ou numa rua da Póvoa de Varzim, no São Pedro. Nos restaurantes das pedrinhas, Apúlia, dizem-me que a sardinha ainda está muito “seca” e que precisa de engordar. “Venha cá em junho”, aceito a proposta já a pensar numa alinhamento interessante para a RUA. Contato feito e reportagem combinada, mas calma que vamos seguir a história ao contrário.

DiretorLuís Leite

Diretora AdjuntaSofia Moleiro

ColaboradoresLeonor PereiraAndreia FerreiraNuno SimõesFilipa OliveiraSara LopesAdriana CostaJoana Rocha

OpiniãoLuís Tarroso GomesRui MoreiraLiliana TrigueirosRui Leite GonçalvesCátia FaíscoRui Ferreira (autor convidado)Marta Sofia Silva

Direção de ArteCarolina Campos

ArteJoana Ribeiro

FotografiaNuno Sampaio

CapaShutterstock

Redaçãoredaçã[email protected]

Rua dos Capelistas, nº304º Andar Sala S4700-307 Braga

Departamento ComercialPara questões relacionadas com marketing e publicidade:[email protected] 928 181

ComercialRosa SampaioInês ChavesAngélica Noversa

Departamento JurídicoLuís Sepúlveda Cantanhede,Rui Marado Moreira - Advogados [email protected]

ProtocolosUniversidade Católica - Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais de Braga

ImpressãoLIDERGRAFARTES GRÁFICAS, S.A.Rua do Galhano, n.º 154480-089 Vila do Conde

Tiragem 5000

Periodicidade Mensal

PropriedadeBrito&Roby, Lda

Rua Dom Frei Caetano BrandãoNº154 4700-031 Braga

Contribuinte513 669 868N. DL 405636/16N. ERC 126 818

O estatuto editorial pode ser consultado em www.revistarua.pt/Info/Estatuto-Editorial

Os artigos de opinião são de exclusiva responsabilidade dos seus autores.

Agradecimentos à Companhia da Música pela colaboração com o especial dia da criança, com a coordenação de Joana Rocha.

concurso de seleção de crianças. Em suma, é este o resumo desta edição, mas há mais milhões para contar além da cota anual que limita as toneladas de pesca deste belo espécime que tanto degustamos. Vamos jogar aos milhões? Destaque-se a nossa Avenida da Liberdade: Luís Tarroso Gomes e Rui Marado Morei-ra jogam aos milhões. Para onde vão os milhões dos fundos comunitários, quais as prioridades? Vai um joguinho?

Ainda uma palavra para os feitos desportivos da cidade dos arcebispos. O Sporting Clube de Braga, muito orgulho deixou em todos o cantos da cidade Bracarense pela conquista da sua segunda Taça de Portugal. Em 1998, tinha eu treze anos quando fui assistir à final da Taça de Portugal. É das recordações mais felizes que tenho cravadas na memória, apesar de o clube ter perdido essa final. A Taça é família em festa e a festa devia-se fazer na Avenida da Liberdade ou Avenida Central, para quem se lembra da tradição de descer a avenida em dias de jogo terá com toda a certeza a mesma opinião. Também devem lembrar-se que juntava-se dois em um. Ia-se à bola, deixavam-se uns trocos no bar do ABC e muitas vezes apoiava-se ambos os clubes, em duas modalidades diferentes, no mesmo dia. Tempos idos também de glória do ABC que também está de parabéns pela conquista do título europeu. Opiniões à parte: Balões ao alto e sardinha na brasa. Vamos lá que redemo-nos às festas e em junho temos horas e horas sem parar. Um conselho, programa-te bem que não é fácil escolher. Amigos, venham às festas que o povo está cansado de tra-balhar. Haja estômago para encher a barriga!

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Quem somos? Qual a nossa luta? O que queremos? Muito simples. A Associação Braga Ciclável é uma associação sem fins lucrativos que luta por uma política de mobilidade sustentável onde as bicicletas tenham um papel ativo. É nosso grande objetivo fomentar o uso da bicicleta, enquanto

meio de transporte quotidiano, numa vasta faixa etária, mas com especial incidência/insistência nos mais novos, aqueles que serão o futuro da nossa cidade, do nosso país, do nosso planeta. Não lutamos contra os automóveis, lutamos a favor de maior qualidade no ar que respiramos, de um modo de vida inteligente do ponto de vista dos gastos energéticos e da pegada ecológica, de uma postura socialmente responsável, porque o ar que respiramos não é propriedade exclusivamente nossa, o ar que poluímos é de todos. Isto para não falar que pedalar traz benefícios físicos e psicológicos, que podem evitar umas quantas idas ao médico ou ao psicólogo... claro!

Suor, falta de condições de circulação, falta de estacionamentos para velocípedes, falta de civismo, são alguns dos argumentos, uns mais válidos do que outros, que a maioria apresenta para resistir à utilização da bicicleta. A falta de infraestruturas é real, mas é algo que há muito reclamamos junto das autoridades competentes. Estacionamentos são precisos mais, embora já existam alguns, mesmo que a sinalização esteja por homologar. Para atenuar o suor, existem os desodorizantes. Para a falta de civismo, a melhor solução é a educação!

E para aqueles que dizem que não somos Amesterdão, desenganem-se porque aquela nem sempre foi a capital da bicicleta. No início do século XX, Amesterdão era uma cidade repleta de carros, mas que soube reconhecer o caminho urbanisticamente destrutivo que estava a seguir e teve a coragem de mudar de rumo.

Se mesmo assim ainda não acreditam que é possível utilizar a bicicleta como meio de transporte, em Braga, juntem-se a nós no dia 5 de Junho, Dia do Ambiente, para o II Braga Cycle Chic. Vamos todos pedalar juntos, num percurso pré-definido, em grande estilo, conhecendo um pouco mais do património histórico-cultural da nossa cidade e do muito que tem para oferecer. No ano passado fomos cerca de 220 pessoas a conviver, este ano queremos ainda mais. Partiremos da Praça da República às 15h e se, no final, ainda continuarem a acreditar que não é possível pedalar em Braga... aceitamos reclamações e sugestões!

Marta Sofia Silva

Não somos contra os carros!WEBRAGA

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Festa das cruzes Barcelos - Batalha das flores 2016FOTOGRAFIA Nuno Sampaio

+CAPELA DE S. JOÃO

CÓDIGO POSTAL

CASA AO LADOPASSEIO PÚBLICO

LILIANA TRIGUEIROSHISTÓRIAS DA RUA

OBSERVAR

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Braga desafia Juventude Ibero-Americana a mostrar o seu talento

Com inscrições até 15 de julho, Braga lança o Prémio Jovens Talentos sob o mote ‘Braga 2016 – Capital Ibero-Americana da Juventude’. Podem participar jovens naturais dos 21 países que compõem a Organização Ibero-Americana da Juventude, entre os 10 e os 18 anos, com talentos no âmbito da dança, música, canto, artes performativas, magia, teatro ou outras atividades passíveis de serem apresentadas em palco.Inscrições individuais ou em grupo em [email protected]émios: 1º) 2.500€; 2º) 1.500€ e 3º) 1000€. Mais informações: https://goo.gl/wW4Saf

Guimarães eleita “Cidade Amiga das Crianças” pela UNICEF

A candidatura submetida por Guimarães ao programa “Cidades Amigas das Crianças” acaba de ser aprovada pela UNICEF, depois da demonstração de interesse oficializada no último dia 04 de fevereiro.Renovável ao fim de três anos, o projeto, que incentiva a participação dos cidadãos mais jovens na vida da comunidade, prevê a adoção de políticas administrativas e de gestão territorial que promovam o bem-estar de todos os cidadãos, em particular das crianças, bem como a criação de condições

favoráveis a um desenvolvimento saudável.

Centro de Famalicão com mais estacionamento público

O novo parque de estacionamento vai abrir na zona poente da cidade, junto à estação ferroviária de Famalicão e próximo de importantes serviços públicos como a Unidade de Saúde Familiar, entre outros. Estará aberto entre as cinco horas da manhã e as duas da madrugada .O funcionamento do parque será garantido por recursos humanos afetos ao município e para lá dos 70 lugares para viaturas disponibilizará um espaço para estacionamento de bicicletas de utilização gratuita.O parque é gratuito para quem tiver bilhete válido de transporte público (comboio e autocarro). Para os restantes utilizadores aplica-se o preço fixado no Regulamento Municipal de Taxas Municipais que fixa o valor de 0,20€ pela primeira fração de quinze minutos e de 0,10€ da segunda à quarta fração de quinze minutos, diminuindo progressivamente o valor a partir daí.

BREVES

OBSERVAR

23 milhões de euros

em fundos comunitários

5,9 milhões de euros

para a reabilitação urbana

12,7

milhões de eurospara a mobilidade

4,1

milhões de eurospara os bairros sociais.

10

7milhões de euros

requalificação do PEB

4milhões de euros

requalificação do Mercado Municipal

Requalificação do PEB e Mercado Municipal são prioridades de reabilitação urbana em Braga

RADAR

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‘Tou barado!

OBSERVAR

Ricardo Rio, Presidente da Câmara de Braga

em Correio da Manhã

Excelente entrevista com um nome incontornável do automobilismo bracarense! Parabéns!

Filipe Miranda (sobre a entrevista a Rui Lages)

CorreçãoNa edição nº3 de maio de 2016, no artigo Vaca das Cordas em

Ponte de Lima, onde se lê “Rua de Arrabalde” deve ler-se “Rua do Arrabalde”e onde se lê “Casa da Nossa Senhora da Aurora”, deve

ler-se “Casa de Nossa Senhora de Aurora”.

Na secção Mimar, o texto com o título ‘ombros descobertos’ está incorreto. Deve ler-se antes: “Um tendência incontornável é deixar os ombros descobertos! Vestido, blusas e t-shirts atualizados com este detalhe que revela um ar mais feminino. Tanto para dia como

para noite, sobreposto por cima de tops ou usado sobre a pele, este detalhe pode ser aplicado a todo o tipo de estilos e looks.”

[email protected]

Correio do Leitor

“No tempo das vacas gordas, a rede pública expandiu-se (...) Algo mais carente da

distribuição de Viagra do que da prescrição de pastilhas de

neoliberalismo…”

Se na entrevista do número 3 desta revista D. Jorge Ortiga desafia o movimento cívico S. Geraldo Cultural a repensar a causa que tem defendido, também o movimento cívico não pode deixar de desafiar o Senhor Arcebispo a repensar o seu projeto, considerando que há na cidade agentes culturais capazes de dinamizar o S. Geraldo e que um projeto cultural se enquadra melhor nos fins espirituais da Igreja Católica do que um projeto comercial com praça de alimentação e hotel. O movimento S. Geraldo Cultural está totalmente disponível para ajudar a Arquidiocese nessa redefinição e a encontrar uma solução financeiramente viável sendo certo que a uma grande perda - a demolição do Convento dos Remédios - não se deve somar outra tragédia - a demolição de um teatro centenário!

Desafio a D. Jorge Ortiga

RADAR

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OBSERVAR

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CÓDIGO POSTAL

TEXTO Sara Lopes

Capela de São João da Ponte

Por entre as árvores que escondem a entrada do Parque da Ponte, em Braga, está uma pequena capela. Quase que oculta no coração da cidade, e acompanhada por um coreto, a capela de São João da Ponte é um ícone da capital do Minho.

Foi em 1616 que foi edificada. Construída no centro das celebrações em honra a São João Baptista, a capela não se mede pela qualidade artística, mas sim pela importância simbólica que tem na memória dos bracarenses. Reza a tradição que tudo começou com a corrida do porco preto. Em 1614, foi proibida a incorporação da Bandeira da Cidade na corrida. Em forma compensação, começou-se a celebrar uma eucaristia para acalmar os acicatados ânimos que antecediam a competição. Os anos foram passando e a tradição da corrida

4715-049 BRAGA

Av. Dr. Francisco Pires Gonçalves

N101

N101

Parqueda Ponte

do Porco Preto terminou, mas a capela continuou a ser um dos epicentros das festividades do São João, em Braga.

Em 1919, depois de enriquecido com elementos do então demolido Convento dos Remédios, este monumento pitoresco viu nascer, em seu redor, o primeiro parque urbano da cidade, o Parque da Ponte.

Dois campanários e um alpendre marcam a arquitetura singela da capela que foi batizada como Capela de São João da Ponte por ladear a ponte que servia e serve, ainda hoje, de passagem sobre o rio Este.

Agora, passado 400 anos, esta capela permanece uma peça essencial da cidade, com honras de destaque no cartaz e na programação das Festas de São João de 2016.

FOTOGRAFIA Arquivo Aliança/Museu da Imagem e Nuno Sampaio

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TEXTO Andreia Ferreira FOTOGRAFIA Nuno Sampaio e A Casa ao Lado

O CANTINHO ONDE MORAM AS ARTESJoana Brito e Ricardo Miranda são artistas plásticos. O seu sonho de viver na arte deu origem ao projeto A Casa ao Lado, em Vila Nova de Famalicão.

20 minutos com…

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Em pleno coração da cidade de Vila Nova de Famalicão existe uma casa que aquece o coração de quem lá passa. Cheia de vida e cor, seja nas paredes, nas mesas ou nos tetos, esta casa veste-se de pincéis e tintas, mostrando à cidade – e um dia, quem sabe, ao mundo – que a arte

é para todos. Embora Joana Brito e Ricardo Miranda tenham sido os artistas plásticos que deram a pincelada inicial, hoje esta casa recebe pequenos e grandes artistas, venham eles de esco-las, instituições ou até empresas. O objetivo? Mostrar às pessoas que a arte é algo sério e exige profissionalismo.

Depois de 11 anos de existência, como descrevem A Casa ao Lado?É um centro artístico que tem como objetivo a aprendizagem, a experimentação e a sensibilização artística. Ocupando dois an-dares num edifício ímpar e com carácter, em pleno centro da cidade de V.N. Famalicão, reunimos várias faixas etárias e fo-camo-nos nas diferentes temáticas das artes plásticas e visuais. Os principais objetivos do projeto são ajudar a desenvolver cul-turalmente a cidade, sensibilizando a população para as áreas artísticas; mostrar o profissionalismo que é necessário na re-alização de qualquer projeto artístico e plástico; e continuar a levar a qualidade do trabalho desenvolvido n’A Casa ao Lado a projetos a nível nacional e internacional.

Podemos assumir que A Casa ao Lado tem um papel im-portante como dinamizador cultural na cidade de V.N. Famalicão? Que tipo de serviços prestam à comunidade?Cumprimos um papel ativo de dinamizador cultural, realizan-do atividades complementares de divulgação, como exposições, visitas a museus ou galerias, exibições de filmes ou docu-mentários. Visando a promoção deste tipo de iniciativas, mante-mos relações de colaboração com entidades públicas e privadas. Sentimos que o projeto preencheu uma lacuna a nível das artes plásticas, que em termos de intervenção artística urbana não existia. Com naturalidade, a população sensibilizou-se.

Que tipo de atividades realizam? E para que tipo de públi-co-alvo? Dentro d’A Casa, trabalhamos com formadores de áreas específi-cas a nível nacional, desde desenho, pintura, joalharia, cinema de animação, decoração de interiores, conservação e restauro, fo-tografia, ilustração, realização de cinema, vídeo, multimédia, en-tre outros. O intuito dos cursos é fazer com que os participantes fiquem com uma noção correta de cada um deles. Por exemplo, o curso de Desenho e Pintura, que é anual, apresenta aos alunos um programa estruturado, quase de faculdade, mas direcionado de uma forma mais leve, dando a conhecer a base do desenho e da pintura dentro do contexto da História da Arte.Também fora d’A Casa trabalhamos semanalmente com cerca de 700 pessoas, dos três aos 100 anos. Para esta diversidade etária, criámos diferentes programas: o Projeto Escolas, que é um pro-grama pedagógico de iniciação às artes plásticas, destinado a in-fantários e escolas do 1.º ciclo. Este projeto tem como missão estimular a sensibilização dos mais pequenos face ao ensino artístico, mediante estratégias de aprendizagem sustentadas nas vertentes conhecer, experimentar, pensar e criar. Há ainda um programa específico de formação sénior, com o ob-jetivo de complementar a oferta formativa das instituições. Neste modelo educativo são lecionadas aulas de desenho, pintura e de

oficinas, estimulando a capacidade criativa do estudante sénior. Convém mencionar ainda que somos parceiros em projetos de inclusão social, onde se pretende facilitar o encontro e o diálo-go entre diferentes gerações, reforçando a coesão social e ter-ritorial, e em projetos com empresas, em que A Casa ao Lado desenvolve ações de transformação de espaços, pinturas de murais e tetos, ilustrações em pavimentos, criação de cenários e logomarcas, intervenções artísticas nos espaços das próprias empresas, etc.

Em termos de apoio às artes, como definem V.N. Famalicão? É uma cidade onde a cultura e as artes têm um lugar priv-ilegiado?Sentimos da parte da cidade e dos famalicenses um reconhec-imento pelo trabalho d’A Casa ao Lado. Um respeito pelo tra-balho executado. Ao longo destes 11 anos sentimos uma mu-dança positiva de mentalidades.

Que atividades têm planeadas para os próximos meses?Vamos continuar a ter desafios muito gratificantes. Estamos em processo de criação de um cenário para a Companhia Um por 1, a desenvolver ilustrações para um livro infantil, várias intervenções murais, tanto no concelho como fora… A partir de junho vamos ter um projeto que vai complementar o nosso espaço no centro da cidade: a Quinta d’A Casa, uma quinta na vila de Requião, com um extraordinário espaço exterior, onde serão desenvolvidas atividades, desde festas de aniversário, campos de férias, even-tos, espetáculos… tudo dentro de um contexto artístico! A Casa ao Lado está em crescimento artístico e empresarial. O objetivo futuro é desenvolver projetos de intervenção a nível internacion-al, de forma a crescermos noutros territórios.

A Casa ao Lado conta com a ajuda de designers e artistas plásticos que criam peças personalizadas para determinados clientes ou eventos.

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TEXTO Nuno Sampaio FOTOGRAFIA Lourenço José

BRUNO BORLIDO: A ETERNIDADE DE UM SEGUNDO“A perseverança e o crer fazem muito pelas nossas conquistas”

TALENTO

PerfilBruno Borlido, apenas com 19 anos, já conta com um palmarés invejável na modalidade do karting: Vice-campeão Mundial Rotax. Tricampeão Rotax Max Challenge Portugal e Campeão Series Rotax Espanha, na categoria Sénior Max; Bicampeão nacional e Campeão Rotax Max Challenge, na categoria júnior. Entre outros títulos nestas mesmas categorias e nas categorias de formação. Profissionalismo, dedicação e paixão são os ingredientes para o sucesso de uma carreira que já conta com 11 anos de modalidade. Bruno iniciou a carreira ainda muito novo no Kartódromo Internacional de Viana, escola que já não se encontra no ativo, mas que forneceu bastantes pilotos ao longo da sua existência. Sempre que se senta no kart só pensa na vitória e tem como grande objetivo corrigir o “vice” para “campeão” nas Rotax Grand Finals.

Ao longo de 11 anos, sempre a grande velocidade, não faltaram peripécias, algumas engraçadas outras que o marcaram para a vida. Bruno conta um episódio marcante que teve lugar o ano passado nas Finais Mundiais Rotax: “Tivemos problemas com o set-up durante todo o início de semana, sempre muito lentos, o que não era habitual,

até que na última sessão de treinos ficamos em 64º, a cerca de um segundo do primeiro - no karting é uma eternidade. A certa altura o meu pai disse: “Isto assim vai ser complicado… sabendo como tu és, vais riscar muito os plásticos, desta forma nem sei se vale a pena correres.” E eu, praticamente na mesma fração de segundo respondo: “Oh… deixa-te de ser nervosinho que ainda vamos ganhar isto!”. Nos treinos cronometrados, Bruno fez 9º à geral, a duas décimas do mais rápido. Dois dias depois, na Pré-final, passou para primeiro, mas um incidente na corrida fez com que caísse para último ficando arredado da luta pela vitória. “A perseverança e o crer fazem muito pelas nossas conquistas. A minha atitude como piloto, também faz com que esteja sempre a melhorar, a inovar, a aperfeiçoar, porque só assim sei que não vou baixar o nível; Só assim sei que posso estabelecer como objetivo, para qualquer que seja o campeonato ou corrida que vá disputar, a vitória”.

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À medida que me vou inteirando do que tenho à minha volta, tudo me parece diferente do que já me habituei a entender como realidade.

No país das crianças os adultos são aqueles que protegem, os que cuidam, os que amam e, por isso, os que criam as leis que regem esse lugar. Quando somos crianças amamos o que nos faz pertencer pelo afeto e pela regra.

No país das crianças há a magia em cada canto, em cada objeto que de repente ganha vida. Quando somos crianças as histórias estão sempre inacabadas, podemos sempre integrar outras personagens e criar novos enredos. Nunca estamos presos, como os adultos, a um alinhamento que por vezes já sabemos o seu fim mas não conseguimos impedir a repetição.

No país das crianças há a liberdade de expressão pelo que somos e não por aquilo que pais, professores, psicólogos – adultos, querem a toda força que venham a ser, movidos por regras, ideais, vidas de pais não vividas que não entram neste país.

No país das crianças há uma língua em que tudo se compreende: os castigos, os afetos, as distâncias, os desencontros e a diferença.

No país das crianças os adultos tomam decisões incluindo-as, perguntando e explicando como será a sua vida.

No país das crianças o afeto dá-se pela partilha e não pelo poder ou manipulação.

Entranho-me neste país e de repente as relações parecem-me mais intensas, contudo pela sua simplicidade. Os problemas são facilmente resolvidos. Os momentos mais difíceis, aqueles que nos fazem chorar são mais verdadeiros, mais vividos.

Aqui o sofrimento toma a dimensão de um gigante. Um medo de perda, de não-aceitação transforma-se na impotência e na dor maior de qualquer adulto que o ouça e não consiga

resgatá-lo desse vazio relacional. Mas no país das crianças as emoções, as lembranças más são apagadas com a mesma intensidade do momento anterior. Basta que haja a certeza de que não estamos sozinhos e que teremos sempre por perto alguém em quem podemos confiar os nossos tesouros, segredos, medos e que nos acompanhará até as roupas já não caberem nos nossos braços agora grandes. Quantas crianças adormecem nesta certeza?

Sempre que encontro uma criança tento entrar neste país. Em muitos momentos dou-me conta que estou contaminada pelo mundo dos adultos – complicado, com muitos pontos de interrogação, demasiado focado ou naquilo que gostariam de ter sido como família ou nas expetativas do que ainda não têm. Inebriados em tempos que não permitem viver o agora, o presente, como no país das crianças.

As crianças mostram-me esse outro país e deixo-me sempre encantar e aprender com aquilo que me dizem sobre o que é amar, o que é existir, o que é essa coisa da resiliência, o que é viver num sonho quando o que temos de real nos oprime.

Às vezes dizem-me que sou a fada que vai ajudar os pais como se tivesse um condão que apazigua toda a dor. Outros meninos pedem-me para fazer uma magia que termine com a guerra dos adultos como nos livros que lhes mostro. Muitas vezes sufocam na obrigação da escolha pelo medo do abandono e de não pertença a alguém, a uma casa, a uma família. Outros trazem-me desenhos com famílias imaginadas, personagens de histórias que adoram e que amenizam a realidade em que vivem. Noutros momentos, digo aos mais velhos que me sinto o seu saco de boxe, como se a minha presença fosse um espaço para exorcizar toda a raiva, incompreensão, falta de amor que sentem nos adultos.

Com as crianças entro sempre num país de um sofrimento quase insuportável quer

pelos pedidos mágicos que nunca conseguirei corresponder quer pela genuinidade dos seus sentimentos e pela incapacidade de opção dos mais novos – não escolhemos onde e como nascemos. Quando somos crianças acreditamos em psicólogas que se podem transformar em fadas, em pais que podem ser o que nunca foram, em promessas que sabemos que nunca serão cumpridas, acreditamos em tudo que nos faça sentir parte de uma família que nos garanta o que precisamos para crescer.

Como narradora de tantas vidas, tantos gritos de ajuda, tantas lágrimas que não consegui conter, gostava que todos os adultos pais ou que se imaginem a sê-lo sentissem por um momento enquanto leem este texto todas estas histórias. Gostava que entrassem, assim como eu, no país das crianças e aprendessem a amar, a sofrer, a viver como elas.

Estou certa de que terei que agradecer a todas as crianças e adolescentes que acompanhei porque entre desabafos, pedidos, conquistas, transformações foram as que mais me fizeram crescer e perceber afinal o que é isto de viver.

OPINIÃO

HISTÓRIAS DA RUA

NO PAÍS DAS CRIANÇAS

[email protected]

TEXTO Liliana Trigueiros - Psicóloga

Abro os braços. Rodopio sobre o meu corpo vezes sem conta até perder o fôlego. Com este movimento, tento rodar os ponteiros do relógio até à meninice. Sou levada para um outro lugar, para um país do faz de conta construído com as formas, as cores, o tamanho de uma criança.

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21www.brcomunica.pt

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Já dizia Ayrton Senna: “O segundo lugar é o primeiro que perde”. A emoção, a adrenalina da velocidade e o desafio do perigo são as grandes motivações dos pilotos e o maior grau de importância para as organizações deste tipo de eventos que hoje recorrem, cada vez mais, às novas tecnologias que permitem a segurança e o con-trolo das regras estabelecidas.É através de uma longa e forte ligação às corridas de automobilismo que a WFR – WiseFrontier, especial-ista em soluções integradas de segu-rança, desenvolveu uma solução de controlo e segurança à medida desta necessidade desportiva. Pensando na segurança dos pilotos e nos riscos associados a este desporto, em 2014 a WFR cria a Events & Race Control, uma solução que auxilia no controlo de corridas, proporcionado o melhoramento e a justiça da qual-idade das decisões desportivas. Este sistema foi implementado pela primeira vez na organização da Rotax Max Challenge Por-tugal e Espanha e tem vindo a ser utilizado até aos dias de hoje. A solução Events & Race Control foi criada para ser de fácil mob-ilidade. Este sistema torna-se simples, dado não ser necessário a

criação de infraestruturas, assim como de fácil instalação e im-plementação. Adaptável a qualquer espaço, permite a redução de 80% do tempo normal de uma instalação convencional e o acompanhamento em tempo real. Esta solução é totalmente

autossustentada pelo que permite ser adaptada a qualquer tipo de eventos indoor e outdoor. Concer-tos, festivais de música, locais de grande concertação de pessoas, eventos esporádicos, entre outros são também acontecimentos que necessitam de segurança e contro-lo e onde a solução Events & Race Control tem vindo a dar cartas e garantir o auxilio às organizações destes eventos.Uma aposta na implementação de soluções inigualáveis é o mo-

tor que alimenta cada vez mais as empresas a optarem pelos serviços e soluções de segurança, tais como controlo de assi-duidade e acessos, vídeo vigilância e analytics e deteção de intrusos e incêndio. Criar, inovar e garantir segurança são as chaves de sucesso da WFR - WiseFrontier.

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SEGURANÇA EM ALTA VELOCIDADE

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O Minho é um lugar especial. Aqueles que já tiveram o privilégio de permanecer neste solo molhado de verde e vestido de tradição sabem disso. E Braga, o seu inequívoco e secular âmago religioso, político e económico, vive e experimenta o clímax do temperamento minhoto com o seu São João.

Estes seculares festejos em honra do santo mais aplaudido do Cristianismo nascen-te – e ainda o mais repetido em Portugal com 31 feriados municipais – acordam as almas bracarenses há, pelo menos, oito séculos.

Se a corrida do porco preto foi o decisivo fator que fez descolar a celebração do Santo Percursor das demais seis celebrações estatutárias que se registavam no século XVI, os mascarados sanjoaninos acabariam por transformar Braga no Brasil da Cidade durante o período barroco. Os forasteiros, ordenados em barulhentas rusgas, acorriam à romaria bracarense, não perdendo a grande noite da véspera passada no pitoresco lugar de São João da Ponte.

A chegada do comboio em 1875 haveria de impulsionar a fama das sanjoaninas bracarenses, dando arranque a um período áureo que se alongou por várias décadas. Tempo de folia vibrante, era o palco ideal para os grandes acontecimentos da cidade.

Fenómeno comunitário sem par, o São João de Braga arrasta-se no tempo como memória viva da autenticidade das gentes brácaras. Nestes dias, o aspeto exterior da cidade ganha novas cores e o ritmo vibrante encontrado no percurso que intermedeia o arco da Porta Nova, entrada triunfal da cidade, e o recatado recinto do parque de S. João da Ponte, com passagem obrigatória defronte da Arcada, marca decidida-mente o quotidiano dos bracarenses.

Os gigantones e cabeçudos saem dos seus esconderijos. A Capotilha vermelha desvela a beleza bracarense e abre caminho às mais repetidas danças e cantares do Baixo Minho. Para além dos bombos e das concertinas, o cavaquinho faz-se ouvir, in-vocando o rasto da história que o transformou, nos lugares onde vagueou a diáspora bracarense, no machete de Braga ou braguinha. As filarmónicas enchem o ouvido, enquanto a bifana se deita no pão aguardando a ansiada hora do “fez-se luz” nas inéditas e coloridas ornamentações anuais.

O Rei David e os Pastores com as suas seculares coreografias rodopiam pelas ruas, avivando a memória do Batista. No fim, a procissão arranca por entre incomensu-ráveis pétalas de flores, dando o remate aos esfusiantes dias de festa!

Junto da antiga Ponte de Guimaraens são expostos os quadros bíblicos. Lá bem perto, no alto de uma tribuna da quadrissecular ermida, São João sorri, não dis-farçando a vaidade por tão magna romaria.

Enquanto isso, no ar, os foguetes estalam, atordoando as almas. Pum! Pum! Pum!Porque o São João é (mesmo) de Braga!

O SÃO JOÃO É (MESMO) DE BRAGA!

TEXTO Rui Ferreira - Presidente da Comissão de Festas do São João

ILUSTRAÇÃO Nuno Simões

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REPORTAGEM

Enquanto os valentes homens do mar nos trazem o alimento para aguentar a farra, por cá preparam-se as festas mais tradicionais do ano. A cidade bracarense fervilha de antecipação. São festas, eventos, romarias. É popular! Sardinhas, manjericos, alho-porro, martelos e martelinhos. Benção dos bois, cortejos e tradições. É o mês das romarias. Junta-te à festa antes que acabe a sardinha. São as festas sanjoaninas que se festejam por toda a região minhota.TEXTO Luís Leite FOTOGRAFIA Nuno Sampaio

HÁ FESTA PARA TODOS!

COMPREENDER

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cidade fervilha de antecipação. São festas, even-tos, romarias. É popular! Sardinhas, manjericos, alho-porro, martelos e martelinhos. É popular! Benção dos bois, cortejos e tradições. É popular! É o mês das romarias. Pega no alho-porro, no balão de São João e anda para a rua. Brinca com os gigantones, cabeçudos, vê a Parada Folclórica. É Popular, é alegria, é a animação que enche as ruas da cidade, de 11 a 24 de junho.

Nas ruas e vielas descobrem-se os cheiros intensos a manjericos e a sardinha assada. Salta-se à fogueira. Canta-se, bebe-se, come-se e dança-se. Vamos descendo a avenida da liberdade em direção à Capela de São João. No meio da multidão poucos serão os que sabem a razão dessa romaria. Mais provável é que sejam guiados pela alegria e pelo aroma da sardinha assada. Os diversos grupos de romeiros, che-gados das aldeias, juntavam-se no centro da cidade e, ao início da noite, iam em cortejo até

ao parque da Ponte, sempre cantando e dançan-do. Na segunda metade do século XIX, a cidade bracarense detinha duas festas: a do São João do Souto e a do São João da Ponte. Só em 1893 se instituiu a primeira comissão de festas, que unificou os dois festejos sanjoaninos, o que lhes proporcionou um impulso maior.

Recuperar as tradições

As festas de São João e o Grupo Folclórico Dr. Gonçalo Sampaio têm uma ligação especial. Há 80 anos, numa tarde do dia 24 de junho, o gru-po realizou a primeira atuação em público, inte-grada nas festas sanjoaninas. Em 2016, volta-se a mostrar os trajes do Baixo Minho na Parada Folclórica, tradição recuperada na edição de 2014. “O São João é também uma festa popular, o que tem sempre uma componente etnográfica. A parada é essencial para educar para que se reconheçam os trajes mais característicos da região”, conta Manuela Sá Fernandes, diretora do Museu Dr. Gonçalo Sampaio.

O presidente da Associação de Festas do São João de Braga, Rui Ferreira, queria recuperar uma tradição que já tinha sido realizada há muitos anos atrás, entretanto descontinuada. Com 23 grupos folclóricos inscritos, em 2016 a expectativa da organização é que o número de participantes venha a aumentar. Foram abertas inscrições individuais para para garantir um maior envolvimento dos bracarenses. “Temos conhecimento de muitas pessoas que têm o traje

em casa que já era dos avós. Certamente que há muitas relíquias guardadas que nós não vimos e que a cidade não vê. Isto dá essa oportunidade”, conta Manuela Sá Fernandes.

O Museu do Traje Dr Gonçalo Sampaio, aberto desde 2013, veio preencher um vazio na cidade relacionado com a representação etnográfica desta. O Grupo apresenta trajes de há 150 anos em uso na região de Braga, tais como o traje da cidade de Braga, o de capotilha vermelha e capotilha azul, o traje de Sequeira, o traje de Valdeste, o traje da Encosta, o da Ribeira e o masculino. Tendo nascido de um sonho antigo, nomeadamente pelos seus antigos dirigentes, pelo Dr. Gonçalo Sampaio, pelo Prof. Mota Leite e pelo Dr. Sá Fernandes, tem vindo a divulgar as danças, cantares e trajes da Região do Baixo Minho por todo o país e pelo estrangeiro. “O Doutor Mota Leite, aproveitan-do a sua atividade de botânico, foi de terra em terra, às zonas mais características de cada zona geográfica, recolhendo os trajes considerados os mais certos de dada zona”, revela Manuela Sá Fernandes.

A diretora do Museu instalado na Rua do Raio acrescenta ainda que “a preservação da memória e do património é uma grade luta que acreditamos sempre valer a pena. A percepção de que ano para ano há mais participantes, mais visitantes, compensa todo aquele esforço que dedicamos ao longo de meses para uma hora e meia de parada. É um esforço que vale a pena”, conclui.

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O gosto pelo folclore

Carlos Vieira é quem marca as danças. A camisa tradicional que ainda hoje usa foi-lhe oferecida por Mota Leite há 20 anos. Está no grupo por gosto ao folclore, pela cultura e pelas pessoas. Enquanto ensaia vemos o rigor com que marca os passos, para que nada saia do lugar. “Quan-do foram pedir autorização ao Dr. Gonçalo Sampaio para usar o nome dele no grupo, escreveu uma carta que está ali exposta onde diz que temos de cumprir escrupulosamente o que lá está escrito”, diz. Todos falam da carta que está exposta como se fosse sagrada, Carlos adianta: “Tem-se cumprido o que está na carta, que remédio! Ele era homem para se levantar da campa e tirar o nome ao grupo. E diz isso na carta”. Conta com orgulho e emoção a história de quando Mota Leite lhe deu um exemplar do traje, afirmando que valia mais do que toda a roupa que ele tinha. A frase ficou-lhe gravada na memória: “Foi há mais ou menos 40 anos mas nunca mais me esqueci”. Atualmente há falta de tocadores porque muitos emigraram. É a maior dificuldade, mas vamos mantendo as tradições. “Atualmente sou cantador, canto, danço, e toco bombo quando é preciso”.

O amor pelas tradições - casaram com o traje

Sameiro Soares casou vestida com o traje. “Ca-sei há 25 anos e ando cá há 30 anos. Conheci o meu marido aqui. Tenho seis filhos e todos andaram cá desde que estavam na barriga”. Tinha 18 anos quando começou a frequentar o Grupo Folclórico Dr Gonçalo Sampaio. Aos 48 anos, a paixão pelo grupo não esmoreceu. Os filhos mais velhos foram crescendo e deixando aos poucos de frequentar assiduamente o gru-po. “Nunca os obriguei a vir. Quando chegam à adolescência pensam que é um bocado parolo porque há grupos que nos envergonham pela forma de trajar, porque se pintam e não deviam, porque andam com os cabelos ao vento, não canta e berram, pincham, saltam e atualmente também há muita coisa que rouba a atenção dos miúdos. Há outras distrações”. A filha mais nova, Renata Soares Lopes, segue as pisadas da mãe. Sabe os passos todos de cor e adora dançar. Aos 10 anos já começa a ter altura para atuar em público, o que “significa que já faço parte do grupo. O que gosto mais é das roupas e dançar, porque sempre gostei”, conta com um sorriso. Passar da sala de ensaios para o palco é um orgulho imenso. Vestir o traje pela primeira vez é sempre um momento importante: “Foi uma experiência boa, estava muito ansiosa. Ao

principio senti-me apertada mas depois com-ecei a habituar-me”. Apesar de alguns colegas dizerem que é ridículo aquilo que Renata mais gosta de fazer, ela é peremptória: “eu não me importo, gosto é de dançar. Vir para aqui pode ser uma experiência boa”.

As ligações familiares são um aspeto muito assente no grupo. Filipa Silva tem 16 anos, começou a frequentar o grupo porque é tradição de família. “Comecei desde pequenina, a minha mãe já andava aqui e eu dançava e praticava. Vinha sempre”. Aprendem desde muito novos absorvendo o conhecimento dos mais velhos, mas será difícil aprender a dançar? “É preciso muita concentração para fazer tudo direitinho. É muito rigoroso, mas para quem gosta é bom”. A primeira atuação que fez foi em 2010, estava muito nervosa “mas fiquei orgulhosa de mim”. Com 16 anos, pensando no futuro, deixar o gru-po não é uma possibilidade: “Quero continuar, é giro, engraçado e até onde puder vou continuar. Já convenci alguns amigos a vir também, alguns gostam e outros não”. Filipa diz que gosta não só de dançar, mas também da história do grupo, que é muito importante: “O que gosto mais é de dançar, do espaço, da coreografia, do passado, da história do grupo. É tudo muito bonito”.

Aprender a bordar

O Museu procura dinamizar o ensino de bor-dados e de instrumentos musicais, de modo a garantir a transmissão dos conhecimentos populares, evitando que caiam no esqueci-mento. As aulas de bordado enchem a sala no museu do traje. Não demora muito tempo a aprender, dizem, mas há pontos que são mais difíceis. O mais importante é o convívio. “Nós viemos para aprender, não sabemos tudo”, diz Rosa Rodrigues, aos 62 anos. “Além do convívio, fazemos coisa bonitas”. No São João, Rosa lem-bra-se das romarias que se faziam ao parque da ponte, dizendo que havia cantigas e muita folia: “Havia pessoas que levavam o vinho do Porto para afinar a garganta mas acho que era uma desculpa, porque gostavam era do gosto”. Maria Amélia Freitas, com 69 anos, conta que bordou 95 sacas e que já as deu todas. Segundo Maria Gracinda Duro, antiga professora, é importante a transmissão do conhecimento. “Antigamente, as escolas tinham no programa os trabalhos manuais, o que envolvia aprender os bordados tanto na prática como na teoria, em muito por-menor. Os programas da escola mudaram tanto a ponto de deixar de haver interesse em coisas tradicionais”, afirma com pesar.

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Associação Ida e Volta

Não há São João sem Gigantes, Gigantones e Cabeçudos. É no Bairro das Andorinhas, onde está sediada a Associação Cultural Ida e Volta, que se restauram os bonecos gigantes. Com quatro metros de altura e entre vinte a trinta quilos, os Gigantes são feitos de pasta de papel e suportados por uma estrutura que se encaixa no corpo da pessoa que o manuseia: “Os braços dos nossos Gigantes, os Gigantones, são feitos em esponja para poderem rodar, para podem brincar à vontade”, refere Carlos Bom Jardim, presidente da Associação. A Ida e Volta existe desde 1996 e atualmente vive da boa vontade das pessoas. Está limitada a um número reduz-ido de pessoas, entre 12 a 15 elementos, todos voluntários. “Tenho de dar valor aos miúdos das Andorinhas que se oferecem para pegar nos Gigantes. A partir do momento que andam connosco pertencem à associação”, afirma. Todas as sextas-feiras reúnem-se na sede, uma tradição recuperada com a nova direção, para restaurar os bonecos: “Nem que venha sozinho, todas as sextas-feiras venho abrir as portas”.

O encontro de Gigantones

O encontro de Gigantones, criado em 1898, foi posteriormente integrado nas festas da ci-dade, que reúne algumas dezenas de grupos de Gigantones e Cabeçudos do município de Braga e de localidades do norte de Portugal, de Espanha e também de França. Este ano, o encontro de Gigantes e Cabeçudos vai ser completamente diferente: “O Sábado será todo an-imado por associações. O principal encontro será à noite. A partir das 21h00 sairá um desfile da Câmara em direção à Avenida Central”. São, no total, cerca de dois mil participantes que transformam este certame no maior do género.

Gigantes, Cabeçudos e Gigantones

Gigantes, Cabeçudos e Gigantones são característicos das festas populares. O Cabeçudo é constituído somente por uma cabeça colocada por cima dos ombros de uma pes-soa. O Gigante pesa em média 30 a 40 quilos e tem uma estrutura com armação em ferro, alumínio ou em madeira. O Gigantone é semelhante a um Gigante mas tem braços feitos de esponja, que se movem livremente. Os Gigantones da Associação Ida e Volta têm a particularidade de rodar e dar chapadas, são muito brincalhões, conseguem infil-trar-se no meio das pessoas. Carlos Bom Jardim acrescenta com entusiasmo: “quando as pessoas vêm, deliram com-pletamente, interagem e brincam”. O espírito das pessoas que os carregam tem de ser de diversão e animação. Tem mesmo de ser para a paródia. É vestir os calções, calçar as sapatilhas, meter-se no meio das pessoas e brincar. “O que nos motiva mais é o prazer de ver a reação das pessoas, a alegria e o riso e também o reconhecimento dos nossos bonecos que dão muito trabalho” concluí.

As Cascatas Sanjoaninas

A origem é incerta mas é provável que tenha começado por ser uma adaptação dos presépios natalícios reinterpretados para os santos populares. A água e a imagem de S. João Baptista baptizando Jesus são os ele-mentos principais, sendo um dos requisitos obrigatórios no concurso que recuperou as tradicionais cascatas de S. João de Braga em 2014, quando a JovemCoop foi convi-dada pela Junta de Freguesia de São João a participar: “Temos um bom vício de não dizer não a um desafio. As cascatas também têm uma missão pedagógica muito impor-tante porque ajudam a aprender sobre as tradições do São João de Braga”, diz Mar-garida Pereira, Coordenadora Geral da Jo-vemCoop - Associação Jovem Cooperante Natureza/Cultura.

Este ano, a JovemCoop faz 35 anos de ex-istência. Quando Margarida Pereira a inte-grou tinha apenas 14 anos: “A sementinha fica ali para sempre. Neste momento estou a coordenar uma associação que é mais velha do que eu. Para mim já é a Senhora Associação JovemCoop”. A recriação das tradições é o maior objetivo, com a mo-tivação inerente de preservar o conhecimen-to patrimonial e histórico da cidade. O mais importante é o fomento da participação e integração da comunidade nos festejos. “No fim, conseguimos ver um produto fi-nal, resultado do nosso trabalho. Para uma criança isso é o concretizar que muitas vez-es lhes falta. Isto é um excelente estímulo que lhes proporciona ferramentas que serão úteis para toda a vida”. De um ano para o outro, a JovemCoop reutiliza os materiais, melhorando e aprimorando a globalidade da cascata, sempre com o objetivo da preser-vação e da pedagogia. Apesar do segundo lugar em dois anos consecutivos, há sempre uma vitória mais valiosa: após 16 anos es-quecidas, as cascatas têm hoje lugar cativo nas festas de São João. A apresentação ofi-cial está agendada para o dia 12 de Junho.

ILUSTRAÇÃO Mário Gonçalves

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A pé, de carro ou a cavalo vão pelo monte acima, para cumprirem as promessas feitas a Sto. António ou simplesmente para lhe pedirem a proteção para mais um ano.

Animais e devotos em frente ao Santuário assistem à missa. No final da celebração, o sacerdote, de alva e estola, percorre o

recinto abençoando todos os animais, enquanto o grupo coral e a população canta “animais dos campos criados por Deus/bendizei, bendizei, o Senhor”.

Durante todo o domingo e o dia 13, continuam a suceder-se os atos de fé. Os fiéis adquirem, na casa das promessas, pequenas figurações em cera representando animais, para, num mesmo ritual secular, cumprirem as promessas à volta do Santuário, terminando dentro dele onde ajoelham e rezam. No fim em fila vão beijar a imagem de Sto. António. Não faltam os mais novos que, por serem ainda muito pequeninos, são levantados para que possam também beijar a imagem do santo milagroso.

Sobre a origem desta tradição, conta-se que os pastores pediram proteção a Stº António para os seus rebanhos, devido aos lobos que os atacavam quan-do pastavam naquela serra e também para os livrar da peste que por essa altura matava dezenas e dezenas de animais, prometendo que se fossem ouvidos, construiriam uma capela no cimo do monte de Mixões da Serra, em seu louvor. O milagre aconteceu, o lobo deixou de matar os animais e a peste também desapareceu. Os lavradores apressaram-se a construir a capela.

Não se sabe ao certo a data em que isto se passou, no entanto, sabe-se que o cruzeiro, que fazia parte da capela, data de 1607.

Desde esse ano ou até mesmo antes, o povo reunia-se, todos os anos, a 13 de Junho, para agradecerem juntamente com os seus animais a proteção de Sto. António.

Para muitos a caminhada eram longa, árdua e madrugadora. Cada um, calcorreando as agrestes serras, procuravam chegar o mais cedo possível ao recinto, a fim de aproveitar a melhor posição. Não era menos empen-

hada a deslocação daqueles que se faziam transportar com os animais em camionetas. Não fica mal referir que cada um que leva os animais a essas cerimónia, tem duas preocupações: o enfeite e a nutrição dos mesmos, a que não está alheia uma certa dose de vaidade por parte dos seus donos.

Em 1916, sob a direção do Padre José Maria Dias, deu-se início à con-strução do atual Santuário de Stº António de Mixões da Serra. A primitiva capela, como ficava à frente do Santuário, foi, infelizmente, demolida após o dia 13 desse ano.

Em 1952, realizou-se a inauguração, com missa cantada, sermão, bênção dos animais, sendo o evento acompanhado por duas bandas de música. Esta construção foi realizada durante o período de construção aconteceu numa época de grandes dificuldades económicas, devido às duas grandes guerras mundiais que Portugal atravessou; mas, nem por isso, o povo desanimou.

Até 1972, a bênção dos animais realizou-se sempre no dia 13 de Junho. A partir daí, como o santuário e todo o recinto à volta ficava completa-mente cheio por devotos e animais, a Irmandade determinou celebrar os dois eventos em datas diferentes, passando a bênção dos animais para o domingo anterior ao dia 13 e a festa celebrar-se sempre a 13 de Junho.

A par dos atos religiosos, o recinto enche-se com tascas de comes e be-bes, restaurantes improvisados, vendedores de fruta, pão e doces típicos.

Não falta também a animação com grupos de folclore, cantares ao de-safio, bandas de música e uma sessão de fogo de artifício que encerra as festividades.

*Texto extraído do Roteiro de Festas, Feiras e Romarias, SANTOS, Adélia, BRITO, MÁRIO, Edição Câmara Municipal de Vila Verde.

FOTOGRAFIA Cedida pela Câmara Municipal de Vila Verde

No domingo anterior ao dia 13 de Junho, cumpre-se um ritual secular: a Bênção dos Animais, em Mixões da Serra, na freguesia de Valdreu, concelho de Vila Verde. Nesse dia, milhares de romeiros de Vila Verde e concelhos vizinhos de Ponte de Lima, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e Terras de Bouro, saem de casa muito cedo com os seus animais, vacas, bois, cavalos, cabras, ovelhas, cães e gatos.

BENÇÃO DOS ANIMAIS EM MIXÕES DA SERRA

SANTO ANTÓNIO DE VILA VERDE

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"A POLÍTICA PRECISA DE GENTE CREDÍVEL”Guimarães quer ser, em 2020, Capital Verde Europeia. Amadeu Portilha, vice-presidente da Câmara Municipal de Guimarães, acredita que “havendo vontade as coisas mudam” e que por isso Guimarães está a caminhar na direcção certa. Apostando no desenvolvimento e implementação de novos métodos como o PAYT e na formação dos mais novos.

ENTREVISTA

TEXTO Luís Leite FOTOGRAFIA Nuno Sampaio

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pós um ano da anunciada candidatura a Capi-tal Verde Europeia, qual o balanço que faz das iniciativas relacionadas com o ambiente?O balanço é muito positivo. Para começarmos esta conversa era preciso começar aqui a fazer um ponto de ordem. Tanto ou mais importante que a candidatura que queremos preparar é o valor do caminho que queremos percorrer, isto significa que temos uma forte consciência políti-ca de que é necessário alterar o paradigma do desenvolvimento das cidades e dos nossos ter-ritórios. O tempo das infraestruturas já passou, hoje vivemos um tempo totalmente diferente. Um tempo de garantir que essas infraestrutu-ras e o território onde nós vivemos seja suste-ntável, seja amigo do ambiente e que não seja predador, pelo menos, dos recursos naturais que nós temos. Portanto é um caminho que inevi-tavelmente ou inexoravelmente qualquer cidade há de ter e prosseguir no futuro e que nós de-cidimos antecipar. Antecipar no sentido de que assumimos esse projecto com grande entusiasmo A

e com grande força. A nossa candidatura à Cap-ital Verde Europeia é um processo muito difícil e muito complexo, que geralmente está destinado às grandes cidades do norte da Europa onde a consciência ambiental já leva muito tempo de avanço aos países periféricos. Guimarães está habituada a estes desafios, ninguém imaginaria que fossemos património da humanidade e fo-mos, Capital Europeia da Cultura e fomos, Ci-dade Europeia do Desporto e fomos. Portanto, é mais um grande desígnio que nós colocamos à nossa comunidade política da Câmara Municipal de Guimarães mas principalmente a toda a co-munidade vimaranense.

Acha que será mesmo possível realizar este objectivo?Nós estamos a trabalhar intensamente nesse sen-tido, preencher o formulário é o mais fácil.

Ganhar é que é o mais difícil e portanto, de-cidimos fazer as coisas de forma diferente. Em 2013 anunciámos este propósito mas também

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sistema. O primeiro mês do PAYT é um mês que nos dá motivos para sorrir. Subimos 80% a recol-ha de resíduos valorizáveis, na recolha selectiva aumentou 80%, a recolha de lixo indiferenciado baixou 37%. Portanto, isto é sinal que as coisas estão a funcionar. Que tem todas as condições para ser um grande sucesso, mas que se fosse fácil, toda a gente tinha feito.

O projeto está implementado no centro histórico. Qual seria a possibilidade de alar-gar para as redondezas?O caminho faz-se caminhado. O sistema PAYT depende de três coisas: vontade política, que ex-iste, a adesão da população, que é um processo que exige algum tempo, e acima de tudo uma grande capacidade de fiscalização que nós não temos. No centro histórico, um espaço mais con-

centrado temos. Se, de repente, fossemos para o concelho todo, tudo seria mais difícil. Portan-to, noutros países onde o sistema PAYT já existe, principalmente na Bélgica e na Holanda, o que acontece é que há uma forte consciência cívica e há uma forte consciência de cidadania. É o próprio cidadão que é o fiscal. Aqui ainda não acontece isso.

O saco é a tarifa. Antes uma pessoa pagava 2.40€ de tarifa fixa e pagava 2.10€ de tarifa variável. Cada vimaranense, no centro histórico, paga em média quatro euros por mês. Agora vai pagar um euro de tarifa variável e depois só paga os sacos que produzir. Numa casa que tenha duas ou três pessoas, nós imaginamos que um saco de 30 litros dá para uma semana. Só tem de com-prar quatro sacos, o que custa 1.20€, mais 1€ da tarifa fixa, passa a 2€. É menos de metade do que pagava antes. Muita gente só se apercebe disto ao fim de 10 sacos. Porque tem um bocadinho de lixo e coloca dentro do saco e coloca logo na rua. Isso fica caro. O objetivo do PAYT é que se utilize o saco na sua integralidade para que nós tenha-mos que ir menos vezes recolher o lixo.

Nota-se que há uma grande dedicação à con-sciencialização dos cidadão para com o am-biente. Existe também essa preocupação de consciencializar as empresas que poluem e que criam resíduos? Claro que existe, sendo que nós hoje temos uma noção muito clara que só alterando comporta-mentos, hábitos e rotinas é que podemos mudar o paradigma de uma cidade. De uma cidade, um território e até um paradigma de uma profis-são. Nós temos hoje uma task-force constituída que está a trabalhar arduamente no sentido de combater a poluição do Rio Ave, mas todas as semanas ou de mês-a-mês temos um atentado, digamos, à qualidade do Rio Ave. O que significa que só temos dois caminhos a seguir: desistir (o que não é o nosso caso) ou seguir firme convictos

Estamos num caminho, em primeiro lugar de identificação do nosso potencial, de combate

às nossas fragilidades e constrangimentos e acima de tudo procurando um tridente

que definimos como essencial: sensibilizar, formar e educar.

dissemos que iríamos preparar o caminho à apresentação de uma candidatura que nós en-tendêssemos que tivesse já fortes probabilidades de sucesso. Por exemplo, há dois anos, Lisboa, Porto e Cascais também se candidataram mas nem sequer passaram à Short List. Estamos num caminho, em primeiro lugar de identificação do nosso potencial, de combate às nossas fragi-lidades e constrangimentos e acima de tudo procurando um tridente que definimos como essencial: sensibilizar, formar e educar.

Não há alteração do paradigma que não esteja estruturada e ancorada na vontade das pessoas. A vontade política pode ser imensa mas se as pessoas não corresponderem, se as pessoas não estiverem envolvidas nada disto se consegue. Começamos tudo isto com um mega inquérito à população vimaranense, o resultado foi es-magador, ou seja, 87% dos vimaranenses estão connosco e estão disponíveis a alterar compor-tamentos e rotinas. Mas, no dia a dia as coisas são diferentes. Dou-lhe um pequeno exemplo, o sistema PAYT (pay as you throw). O sistema onde as pessoas pagam apenas aquilo que pro-duzem. Está no terreno há um mês e já está a funcionar, e todos os dias temos problemas.

Quais são os problemas?São vários. São pessoas que não compram os sa-cos, são pessoas que colocam o lixo fora do cen-tro histórico para não terem de comprar o saco, são pessoas que colocam lixo fora dos horários. Há um conjunto de pequenos problemas que ne-cessitam daquilo que nós sempre dissemos que era fundamental para o sucesso do PAYT que é tempo e paciência para conversar, dialogar e ex-plicar todos os dias às pessoas as vantagens do

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que o caminho que estamos a seguir é um camin-ho para calcorrearmos nos próximos anos, tendo esta noção clara que nós dependemos da pessoas e dos seus comportamentos. Por isso é que temos um foco muito especial à comunidade escolar.

Uma vez que o ambiente não tem fronteiras, como trabalham ou vão trabalhar com os out-ros municípios para resolver os problemas da poluição dos rios?Essa é a grande dificuldade, principalmente no que respeita ao Rio Ave. Nós temos essa noção muito clara, e por isso é que nesta task-force que nós criamos para tratar destas questões da polu-ição do Rio Ave pedimos que estivessem cá enti-dades que também trabalham em alta, o caso da Resinorte, o caso das Águas de Portugal, Águas do Norte. Com outros municípios, procuramos no âmbito das associações onde estamos envolvi-das, como a ANAVE, a CIM do AVE, combinar e paginar com eles algumas formas de atuação. Mas sabemos que é complicado e por isso é que advogamos que qualquer alteração profunda no Rio Ave tem que envolver a administração, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que é no fundo a gestora da bacia hidrográfica do Ave. Tem que ser com base nela que estas questões têm de ser feitas.

É um dos requisitos e dos 12 indicadores que terão de ser cumpridos para o sucesso da Candidatura a Capital Verde Europeia. Esta situação da poluição dos rios é o calcanhar de Aquiles neste processo?Não creio. Temos de desmistificar algumas situ-ações. O Rio Ave é um rio poluído mas não é

poluído com era há 15 ou 20 anos atrás. Só quem não conhece o Rio Ave. Já se gastaram mil-hões e milhões na sua despoluição. Continuam a haver situações, cada vez mais pontuais, que não tem nada a ver com aquilo que já foi no passa-do. Hoje, acontece de dois em dois meses uma descarga ilegal, rapidamente identificada porque vem das pedreiras. Antigamente, praticamente todas as industrias que estavam nas margens do Rio Ave estavam ligada ao rio. Neste momento há uma fiscalização muito grande. O que interes-sa é que haja mecanismos de sindicância e fiscal-ização muito fortes, e de atuação, fundamental-mente de condenação muito fortes.

Queria abordar o orçamento para a candida-tura…É curioso que muita gente me pergunta isso. Nós

não temos nenhum orçamento para a candidatura. Temos um orçamento municipal e hoje uma

grande parte está focado nisso. Tínhamos um projeto para fazer uma academia de ginásti-ca desportiva em Guimarães e o projeto estava feito, mas porque não transformar o projeto no primeiro edifício Near Carbon Zero em Guim-arães? Isto só aconteceu porque criamos este desígnio da Capital Verde. Isto para lhe dizer que por força desta vontade e deste entusiasmo que temos em criar um território ambientalmente mais sustentável e mais diferenciado, o nosso foco está muito virado para aí. Todo o investi-mento que estamos a fazer neste ano é em ações de sensibilização da comunidade escolar. Dou lhe três ou quatro exemplos: o programa pega-das que é um programa fantástico de educação e sensibilização ambiental; estamos muito empen-hados em alterar o paradigma da mobilização em Guimarães, introduzindo de modos suaves o uso da bicicleta. Sabemos as dificuldades que isto vai criar e estamos a atacar em duas frentes, construindo uma ecovia e criando um programa que se chama educabicla, o que faz com que este-jamos todo o ano com alunos do 5º e 6º ano edu-cando e sensibilizando as crianças para o uso da bicicleta em segurança. A ecovia tem uma dupla função, o uso da bicicleta e caminhada. Tão im-portante como construir estruturas físicas é sen-sibilizar; o Educabicla, o Teatro Bus, que durante todo o ano está a ir a escolas de Guimarães, onde transforma um autocarro num teatro com uma peça que se chama “A Viagem”, que foi pensada, escrita e encenada só com o objetivo especifico de sensibilizar para esta questão ambiental.

Mas, mais importante do que ser Capital Verde Europeia é o valor do caminho que estamos a percorrer.

Se daqui a um ano ou dois, com esta ações de sensibilização e a educação ambiental, o Eco-parlamento jovem e tantas e tantas coisas que estamos a fazer, conseguirmos alterar os comportamentos e mentalidades dos homens e

Mais importante do que ser Capital Verde Europeia é o valor do caminho que

estamos a percorrer.

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Eu nasci há cinquenta anos em pleno centro histórico de Guimarães. Na Rua

Nova, hoje chamada Egas Moniz. Eu nasci no meio de prostitutas, nasci no meio de bandidos e gente com pistolas na cinta,

nasci no meio de tascos, nasci numa rua que não tinha saneamento, que não tinha água,

que era em terra.

mulheres do amanhã que são os jovens de hoje, eu estou convencido que mesmo que um dia a nossa candidatura não seja sucedida, o sucesso destas políticas terá de facto uma amplitude e uma dimensão bastante grande para o futuro. O que me compete a mim e aos meus colegas é tentar deixar uma cidade e um território muito melhor do que aquele que nos foi deixado.

Falou da questão da mobilidade. Como se de-sloca para o seu trabalho?Eu, de carro. Infelizmente, porque moro longe. Morando longe, Guimarães tem um problema que não é fácil para andar de bicicleta, tem uma topografia muito acidentada. A Câmara deu al-gum sinal nisso e o meu carro é um híbrido e todos os carros que estamos a adquirir são car-ros elétricos. Estamos muito empenhados em ter os primeiros autocarros elétricos portugueses, criados por uma empresa portuguesa, em Guim-arães, que serão apresentados dia 4 e 5 de junho. Em princípio, até ao final do ano, estarão a fazer transporte coletivo de passageiros.

Assistimos à inauguração da ligação do Alfa Pendular entre a cidade de Guimarães e Lis-boa. Para quando uma ligação direta entre Braga e Guimarães, uma vez que há tanta gente a transitar de uma cidade para a out-ra, inclusive estudantes da Universidade do Minho? É uma questão muito difícil. Não é uma utopia, é um problema muito complexo de decidir, prin-cipalmente porque os fundos comunitários não estão virados para grandes infraestruturas. Nen-huma das duas câmaras teria capacidade finan-ceira para financiar um projeto destes.

Mas, falando do ambiente, não poderia…Eu adoraria… Se perguntasse assim: Pessoal-mente, gostava que houvesse uma linha rápi-da, ferroviária que ligasse Braga e Guimarães? Adorava. Acho que até poderia ter sucesso em termos de utilização, a questão é o financiamen-to que era necessário para uma coisa destas. Devemos estar a falar de 50 ou 60 milhões de euros, nem imagino quanto é que custa. Neste momento, os fundos comunitários embora este-jam virados para a mobilidade, mas não é para ligar duas cidades, é para ligar Porto - Madrid ou algo assim. Temos conversado muito sobre ess-es assuntos mas esbarramos sempre no mesmo, onde vamos buscar dinheiro para financiar uma obra desta dimensão e desta envergadura? De-pois há outro problema, eu já vi resquícios disso, ligar Guimarães e Braga não é muito fácil em ter-mos de topografia terrena.

Na apresentação do programa para a candi-datura a Capital Verde Europeia, o Presidente da Câmara, Domingos Bragança, abordou os

parâmetros da felicidade e bem-estar. Como se mede isso?Pelo sorriso das pessoas, provavelmente. (risos)

Antes, deixe-me dizer isto que me parece im-portante. Desde o início que sentimos que era im-portante que tivéssemos um conjunto de pessoas de Guimarães que nos pudessem validar o tra-balho que estamos a fazer. Temos um comité de aconselhamento que é absolutamente notável, pelas pessoas que o compõe. O Professor Mo-han Munasinghe, [uma das principais figuras do mundo em matérias ambientais, destacando-se como vice-presidente do Painel Intergoverna-mental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas], que foi prémio Nobel da Paz juntam-ente com Al Gore. Temos o Will Wynn (arquiteto, ex-mayor de Austin, Texas, EUA), o Mauro Ag-noletti (professor universitário, Florença, Itália), Ane Carruthers (professora universitária, África do Sul).

O Professor Munasinghe é um estudioso e académico respeitadíssimo a nível da alterações climáticas mas fundamentalmente alertando para o problema das pessoas. Porque o ambiente somos nós, somo nós que interferimos, somos nós que interagimos e somos nós que o trans-formarmos.

Nada pode ser feito contra as pessoas e nada pode ser feito sem as pessoas. Os índices de fe-licidade tem um bocadinho a ver com esta sen-sação que nós temos de viver numa cidade qual-ificada. Gosto de muito de viajar. Mas gosto de viajar para voltar para a minha cidadezinha de Guimarães. É uma cidade média, cresceu muito, decidiu recuperar o seu património, com espaços verdes, uma cidade muito agradável onde não

há filas de trânsito. Isto faz de mim uma pessoa mais feliz. O ambiente faz parte disso. As políti-cas cada vez mais tem de ser para dar qualidade de vida às pessoas, descomplicando a sua vida, para que seja mais agradável, com mais segu-rança. Tratar do ambiente é acima de tudo tratar das pessoas.

Como vê Guimarães no futuro?Primeiro, espero estar cá para a ver. Vou contar-lhe uma história:

Eu nasci há cinquenta anos em pleno cen-tro histórico de Guimarães. Na rua nova, hoje chamada Egas Moniz. Eu nasci no meio de pros-titutas, nasci no meio de bandidos e gente com pistolas na cinta, nasci no meio de tascos, nasci numa rua que não tinha saneamento, que não tinha água, que era em terra. Se há 30 anos dis-sessem ao menino Amadeu Portilha que morava na Rua Nova que a rua dele ia ser património do mundo, ele ria-se. Era impossível! A verdade é que há 25 anos pegamos no centro histórico que era um gueto onde as pessoas não gostavam de ir e, envolvendo as pessoas. (...) Porque a câmara municipal é que deu o exemplo, quando se recu-pera uma praça, as pessoas que moram lá quer-em recuperar a sua casa. Hoje a minha rua não é só mais minha, é de todo o mundo. É Património Cultural da Humanidade.

Há 30 anos, quando um senhor que se chama Moncho Rodrigues, um Galego, chegou aqui a Guimarães e começou a fazer pecinhas de teatro em fábricas abandonados e dissessem que isso seria a génese da Capital Europeia da Cultura, eu ria-me, mas fomos.

Acredito que o que estamos agora a fazer até

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pode não resultar na Capital Verde Europeia em 2020. Daqui a 20 anos, se estivermos cá, vamos dizer que valeu a pena. Havendo vontade política, havendo vontade das pessoas, e em Guimarães ela existe, havendo vontade as coisas mudam.

Falou da sua infância. Foi um percurso impor-tante para a formação da sua personalidade?Não sou muito dessas coisas do destino. As pes-soas fazem-se e eu também me fiz. Fiz-me em muitos momentos da minha vida, quando nasci no meio mais desprotegido, quando o meu pai, que era empregado numa fábrica de calçado, tudo fez para que eu tivesse alguma formação, fiz-me no dia em decidi abandonar a faculdade. Estava no terceiro ano do curso de direito e de-cidi que não queria mais, que queria ser jornalis-ta. Hoje não sou licenciado porque não quero, porque não quis e escolhi outra opção.

Porque gosta de contar essa história?Eu não gosto da história. Gosto de pegar naquilo que aconteceu em Guimarães para dizer às pes-soas que vale a pena acreditar. Quando vejo pes-soas com desdém, a rir-se de Guimarães querer ser Capital Verde Europeia, eu rio-me porque provavelmente estas pessoas que se riem hoje são as mesmas que há 30 anos se riam daqui-lo que são os grande desígnios. Só não se riem quando depois vêm coisas maravilhosas ditas nos jornais sobre Guimarães, e ditas por quem nos visita porque é absolutamente delicioso. Ten-ho a sorte de viajar muito, Guimarães é refer-enciado em quase todo o lado porque tivemos a capacidade de ser diferentes e diferenciadores. Se seguíssemos o caminho de Braga, por exem-plo - o que não é mau, não estou a fazer nen-hum juízo de valor. Braga seguiu um caminho que teve sucesso, uma cidade cosmopolitíssima, com 180 mil habitantes enquanto nós perdem-os habitantes. Se mimetizássemos esse caminho, Guimarães já tinha desaparecido. Hoje temos num espaço de 10 km em linha reta de duas ci-dades absolutamente vibrantes. Uma porque re-cuperou, respeitou e quis fazer uma caminho de aproveitamento do seu património edificado, a outra porque quis ser uma cidade cosmopolita, cheia de empresas, cheia de jovens, aberta ao mundo. Acho que isto se completa. Não percebo a rivalidade que existe entre as duas cidades. As duas juntas são um portentado. São as cidades mais vibrantes deste país, cada uma com o seu caminho.

Portanto, julgo que o tempo é o melhor juízo de tudo.

É inevitável que outras cidades comecem a se-guir este caminho porque ninguém aguenta viver nas cidades que temos hoje.

Mas quais são os recursos necessário para fazer isso?

Não são os recursos que são necessários porque sempre o tivemos, mas a vontade de fazer politi-camente coisas completamente diferentes. Você alguma cidade como Guimarães que tem um parque da cidade com 22 hectares no coração da cidade? Que tem uma quinta pedagógica com seiscentos utentes no coração da cidade? Porque decidimos que queríamos ter uma cidade pequena, mais amiga do ambiente do que ter uma grande cidade. É a forma como orientamos os recursos que determina o futuro das cidades.

Digo isto com orgulho, com bairrismo, com vaidade mas acho seguimos um caminho acer-tado tendo noção que cometemos alguns erros. Olhando para o panorama geral, eu sorrio.

O que precisam as pessoas de fazer para aju-dar na sua envolvência no projeto Guimarães Mais Verde e também para a Capital Verde Europeia?Mudar alguns comportamentos e atitudes que têm. Acredito que vai ser possível. A Capital Europeia da Cultura foi um exemplo paradigmático de como estas coisas mudam completamente a mentali-dade das pessoas. Há pouco tempo dei uma en-trevista onde disse que Guimarães, por ser muito bairrista, fazia-me lembrar aquelas aldeias do Asterix e Obelix. Fizemos intervenções no espaço público no ano de 2012 onde vi coisas do arco da velha. Pensei, como é que os meus conterrâneos

vão reagir a isto? As pessoas reagiram bem, cu-riosamente.

Se os vimaranenses nos ajudarem e nos entu-siasmarem, daqui a alguns anos vamos ter uma cidade muito mais agradável de viver. Acho que é possível, basta que acreditem e acreditando, que nos ajudem com os seus comportamentos e rotinas a mudar um bocadinho isto.

O que lhe dá mais prazer fazer no seu tra-balho?Gerir desafios. Estive envolvido em tudo que é de-safio para Guimarães. Pessoalmente, também gos-to de o fazer. Quando me perguntam o que tu és? Gosto de dizer que sou gestor de desafios. A roti-na mata-me. Tenho de estar permanentemente a ser desafiado. Não perco muito tempo a pensar no que será o meu futuro político. Acho que esta-mos a fazer um mandato absolutamente fantásti-co do ponto de vista da execução daquilo a que nos prometemos perante os vimaranenses. Tudo aquilo que prometemos está praticamente feito, e se não está estará pelo menos projectado, está estruturado para ser feito no próximo ano. Isso sim, dá um grande gozo. Hoje a política precisa de gente credível. Precisa de gente que diga que pro-mete mas que faz. Hoje, a cidade de Guimarães tem sido um exemplo para todo lado e por isso é que provavelmente estamos aqui há tanto tempo. As pessoas acreditam e confiam em nós.

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www.lrb.pt

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CARRILHÕES DE SUCESSOA riqueza do timbre aliada à pureza do tom e à sonoridade, são características em constante aperfeiçoamento na Fundição de Sinos de Braga e que conduzem a um produto de reconhecida qualidade.TEXTO Luís Leite FOTOGRAFIA Nuno Sampaio

ARTE SACRA

O fabrico de sinos é o coração da empresa. É a única empresa do ramo em Portugal. Os seus sinos repicam, dobram ou tocam a rebate, res-soando por todas as freguesias portuguesas e tendo amplitude no estrangeiro. Serafim da Sil-

va Jerónimo & Filhos, lda é a Fundição de Sinos de Braga, dedica-se à criação de sinos, relógios, órgãos e conservação e restauro. O lema da empresa é tratar um sino como um instrumento musical. Já produziram e instalaram cerca de 12.500 sinos, 5.000 relógios de torre, 8.000 mostradores exteriores, 12.200 aparelhos de toque de sinos e vendeu mais de 6.000 órgãos eletrónicos.

Sempre na vanguarda da inovação

O espírito inovador é uma das chaves para que a fundição se mantenha na vanguarda da inovação. Esta tem sido uma aposta da empresa. Foi pioneira na automação dos toques de sinos por meios electromecânicos em 1964. Em 1975, foi uma das empresas fundadoras da Associação Empresarial do Minho (AIMinho). Em 1983 criou uma parceria com a Uni-versidade do Minho, projetando e desenvolvendo o primeiro relógio de torre computorizado, com microprocessador. Em conjunto com a Idite Minho (Instituto de Desenvolvimento Tecnológico do Minho), a empresa projectou e desenvolveu um sofisticado sistema digital “DigiBamb” para controlo au-tomático do movimento de bamboar dos sinos.

O Fabrico de sinos

Depois dos cálculos e planos para a instalação de um car-rilhão de sinos, que é a base de todo o processo, dois mold-es são fabricados: uma para o perfil interior “macho do sino” do sino e outro para o perfil exterior ou “falso sino”. Este falso sino, composto de material refratário, é recober-to de uma fina de uma cera sobre o qual são colocados os ornamentos, as inscrições e as esculturas também em cera. Após um período de secagem de vários dias, separa-se a moldação exterior do macho e elimina-se o falso sino. Fi-nalmente, depois de uma limpeza do macho e da moldação exterior, voltam a ser colocados um sobre o outro e entre os dois é criado um espaço no qual o bronze fundido é vazado.

A fusão do sino

Chega, finalmente, o momento tão aguardado de todo o processo de produção. A uma temperatura de cerca de 1040ºC, o metal fundido é vazado no molde. Logo que o sino arrefece parte-se o molde e limpa-se o sino. A primei-ra badalada no sino emite um som que apesar de não ser inteiramente puro dá uma indicação do timbre. É neste mo-mento que se pode avaliar se esta preparação, que dura por vezes semana, foi ou não um sucesso. Não somente o perfil e composição do bronze dos sinos (78% de cobre e 22% de estanho), mas igualmente a forma de vazar e a velocidade de arrefecimento são também determinantes para a quali-dade do som.

A afinação

A afinação é a última etapa de um produto acabado com um timbre rico e puro. Para afinar um sino escuta-se so-bretudo o timbre, a nota fundamental e os harmónicos, bem como a combinação com ou sem harmonia, uma ver-dadeira arte de engenharia, acústica e perícia.

[email protected]

Tel.: 253 619 023

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41Conteúdo Patrocinado

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TEXTO Luís Tarroso Gomes

O JOGO DOS MILHÕESAVENIDA DA LIBERDADE

Sem milhões e bem parece que não há quem!

Jaime Lerner, o famoso urbanista prefeito de Curitiba, diz que a criatividade dos planeadores de uma cidade começa quando se retira um zero ao valor do orçamento. O que na maior parte das vezes vemos

acontecer nas decisões políticas, porém, é que sem esse zero não há sequer projeto. O que por outras palavras quer dizer que, em geral, há pouca criatividade no processo de planeamento da cidade.

Vivemos, aliás, num período em que todos os projetos privados ou públicos são sempre investimentos de milhões de euros (M€). É como se já não fossemos capazes de pensar e de desenhar projetos simples e baratos. A verdade é que, dependendo da opção política, com alguns milhões de euros podemos implementar centenas de projetos ou apenas um.

Braga conquistou no âmbito do Norte 2020 apenas 5,9M€ para reabilitação urbana (entre outros, os projectos candidatos eram: PEB - 7M€; Mercado Municipal - 4M€; Fábrica Confiança - 4M€). Com apenas 5,9M€, diz a Câmara, a prioridade é o PEB. Mas o executivo podia ter tomado uma de duas opções: ou sacrificar projetos ou redefinir a ambição de cada um. Optou-se pelo primeiro caminho e até se admitiu a hipótese bizarra de vender a Fábrica Confiança. No fundo, neste caso para o executivo, ou havia 4M€ ou nada nasce na Fábrica. Se esta desistência não esconde uma outra intenção ainda não revelada, gera pelo menos uma frustração das expetativas criadas. Para que serviu o concurso de ideias para a Fábrica? Também não se percebe como é que a Confiança está culturalmente inativa desde que foi municipalizada, se antes - quando era privada - acolhia teatro, exposições, conferências,

concertos, etc. Faltará a tal criatividade que Lerner refere?

O pior é que esta incapacidade de pensar em modo low cost está enraizada tal como pude verificar na Assembleia Municipal. Em resposta à recomendação da Oposição de se encontrar uma solução para evitar a demolição do S. Geraldo, João Granja do PSD disse que não há dinheiro para fazer outro Theatro Circo. Mas quem é que pediu outro Theatro Circo!? Por que razão o que ocorre primeiro a um político não é pensar num equipamento cultural muito simples, com eventual gestão associativa ou privada, como sempre aconteceu com o Salão Recreativo/S. Geraldo?

Curiosamente o discurso de que não há dinheiro, não é acompanhado de grande cuidado na altura de fazer investimentos ou alienações. Apesar de haver avaliações substancialmente mais baixas de peritos-avaliadores oficiais, a Confiança foi expropriada amigavelmente por 3,6M€. Apesar de não faltarem imóveis e frações disponíveis em S. Lázaro - a começar pelos centros comerciais -, a Câmara quer instalar a sede da Junta num imóvel novo que, com meros 745m2, vai custar 1,8M€ em 10 anos (e sustentar com muito dinheiro público o tal investimento “privado” do S. Geraldo). Apesar de terem sido expropriados, e portanto adquiridos com dinheiro dos contribuintes, a Câmara não hesitou em doar pelo menos 2,5M€ em terrenos ao SCB e emprestar a estrutura da piscina olímpica de 8M€. Claro que depois não sobra dinheiro...

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TEXTO Rui Moreira

O JOGO DOS MILHÕESAVENIDA DA LIBERDADE

Descansem, autarcas: finalmente, a “massa” vem a caminho.

Ao longo do mês passado foram sendo, um pouco por toda a parte, conhecidos os financiamentos europeus atribuídos no âmbito do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU).

As novidades não agradam plenamente a todos os que, na boa tradição da política lusa, aguardavam ansiosamente a distribuição dos dinheiros do quadro comunitário de apoio para darem largas ao exercício do “obreirismo militante” que lhes sustenta a propaganda e lhes permite desvalorizar a gestão diária da coisa pública, naquela que é uma das piores facetas de uma certa obsessão pela hiperactividade que corrói o nosso sistema político. Desta vez, a Europa trocou as voltas aos candidatos, ao decidir dividir as verbas a atribuir em função de objectivos específicos e prioritários: a regeneração urbana, a mobilidade urbana sustentável e as intervenções destinadas a reabilitar comunidades desfavorecidas.

Tomando como exemplo a cidade de Braga, verificamos que, ao invés dos 35 M€ a que se candidatou, a cidade ira receber “apenas” cerca de 23 M€, sendo 5,9 M€ para a reabilitação urbana, 12,7 M€ para a mobilidade e 4,1 M€ para os bairros sociais.

Do ponto de vista da percepção pública, sobressai a imagem ambígua do copo que tanto pode estar meio cheio, como meio vazio. Se, por um lado, projectos emblemáticos como a requalificação do PEB e do Mercado Municipal serão financiados, por outro lado as pretensões camaŕarias quanto à Fábrica Confiança, a Escola Francisco Sanches e a Pousada da Juventude (entre outras) terão de aguardar, pelo menos, até 2018.

Contrariando o tom “agridoce” das reacções, saúdo que a UE tenha forçado as autarquias a direccionarem parte significativa do investimento para a reabilitação dos bairros sociais e para projectos de mobilidade. Em Braga, tal implicou que o poder fosse obrigado a lidar com problemas urgentes, como o muro urbano que constitui a Av. Pe. Júlio Fragata ou a decadência de muitos dos bairros mais pobres da cidade. Temo que projectos desta natureza tivessem sido descartados, um pouco por toda a parte, se aos poderes autárquicos tivesse sido dada a oportunidade de gastar todo o dinheiro europeu edifícios municipais, assim fazendo por cumprir algumas promessas eleitorais de utilidade e/ou urgência mais ou menos duvidosas.

Em todo o caso, os políticos vão poder apresentar “obra feita” e – já se sabe - não há nada que os faça mais felizes. No específico caso bracarense, quando já pairava no ar o estigma da “falta de obra”, dá-se ainda a felicidade de vermos a oportunidade do PEDU incidir sobre um equipamento determinante para as actividades económicas, no que representa uma saudável obsessão e uma lufada de ar fresco do poder pós-mesquitista. A lamentar, apenas a ausência de debate público sobre os termos, valores, objectivos e enquadramentos económicos e sociais dos projectos considerados prioritários, no que é apenas mais um sintoma da urgência de reformas pela transparência e pela participação dos cidadãos.

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ESPECIAL

dia dacriança

ILUSTRAÇÃO Raquel Costa

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Durante o mês de Junho, o Castelo Invisível irá permitir a entrada de adultos, numa ação sem precedentes que pretende dar uma oportunidade aos mesmos, pois “os adultos às vezes nem são assim tão maus” – como afirma Daniela Candeias, residente do Castelo (11 anos?). O Castelo Invisível, situado em Braga, é governado por crianças desde a sua fundação e, naturalmente, invisível aos olhos de quem já não se rege pela imaginação.

Esta oportunidade é limitada e permanecerá em aberto caso se verifique que os adultos cumprem os seguintes valores: Tolerância,Imaginação e Bondade. Será esperada muita diversão e é desaconselhada a seriedade responsável.

conselhos

Era uma vez três jornalistas sem voz que foram para a RUA e se fizeram ouvir.

O tema foi escolhido unanimemente e sem hesitação: A Voz das Crianças. “Porque temos opinião e ninguém nos ouve”, dizem

elas. “Porque temos soluções e ninguém nos ouve”, dizem elas. “Porque não vamos dar ouvidos a cri-anças!”, dizemos nós.

Desta vez não temos outra hipótese se não dar ouvidos, ou não estivessem três pequenos a escrever numa revista de crescidos. Deixar cinco páginas nas mãos de crianças teve tanto de assustador como de surpreendente. Não houve bloqueio de escritor nem falta de ideias, o que tinha a ser dito (e escrito) era expressado sem divagações, claro e direto, sem ter em conta o incómodo que poderia criar no leitor. Há quanto tempo não via Comunicação dessa forma?

Gonçalo, Daniela e Maria Afonso conheceram-se na RUA, e apresentam hoje a sua própria versão de revista, sem censuras nem correções. Através dos breves momentos de redação, surgiram as vontades inatas impulsionadas pela expectativa de serem ouvidas e foi assim que descobrimos um Gonçalo de pensamento profundo, uma Daniela de argumen-tação política e uma Maria Afonso escritora inata.

A mensagem está por todo o lado. Se tentarmos ouvir - como nós queremos que elas ouçam - o que os mais novos nos querem dizer, pode ser que sem querer damos conta de quão familiares são as pala-vras, que afinal eram nossas, mas esquecemos.

Uma palavra especial de agradecimento à ilus-tradora Raquel Costa que, não só nos proporcio-nou uma entrevista inspiradora, mas teve também disponibilidade e vontade de nos criar a ilustração do suplemento, que remata todas as palavras das crianças nas suas linhas limpas e redondas.

Da mesma forma, um obrigado aos pais, que ouviram a voz dos seus filhos e permitiram que esta experiência tomasse lugar. Serão sempre a voz que eles mais ouvem, logo, a sua primeira voz.

Como é habitual nestas situações, aprendi mais do que ensinei, e por momentos relembrei de como Era Uma Vez.

O Castelo Invisível abre portas aos adultos!

NotíciaImaginária

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M esmo antes de a entrevista começar já começam as pergun-tas: “Será aquela senhora? Trouxe lápis para pintar? É loira ou more-na?” – pergunta o Gonçalo. Sim,

sempre é aquela senhora, e não é que afinal é mesmo parecida com o seu auto retrato?

Raquel Costa é uma ilustradora bracarense mais recentemente reconhecida pela sua marca – Little Black Spot. Através de postais,marcadores e pequenas obras, deixa-nos espreitar nos seus mundosimaginários e, sem querer, nos nossos também.

Trazia um saco cheio de personagens e cenários mágicos, que nos mostrou página a página, entre dicas de pintura e debates sobre os últimos episódios dos seus desenhos animados preferidos.

Antes da entrevista analisamos cuidadosamente cada ilustração sua disponível, nunca deixando de comentar: “quem me dera que ela me fizesse um desenho”. E afinal a Raquel, com toda a bondade que deixa passar na sua arte, aceitou ajudar-nos a dar “voz às crianças” com uma nova criação para esta edição. E como se isso não fosse suficiente, ainda levamos para casa a mensagem ilustrada que a Raquel mais deseja para nós e para todas as crianças que nos estão a ler: “Be Extraordinary”.

Mini-Jornalistas – Quem lhe ensinou a desenhar?

Raquel Costa - Muitas pessoas ao longo da minha vida. Primeiro comecei por vontade própria a desenhar sozinha, gostava de mexer nas tintas com as mãos e estava sempre a pintar. Depois, ao longo do meu tempo como estudante, fui tendo professores que me incentivaram. Houve uma professora em particular, no meu nono ano, que me deu muita força. Disse-me que eu tinha muito talento e que eu não devia deixar para trás o meu sonho de seguir artes, de tentar trabalhar no meio das artes. Foi um conselho muito importante, pois foi isso que me fez decidir tirar um curso. Grande parte da minha decisão veio pela maneira como essa professora que me marcou. Depois tive um professor de desenho que era fabuloso, era uma pessoa muito inteligente, muito culta, sempre disponível para partilhar o próprio conhecimento, e aprendi muito com ele. Para além disso... praticar todos os dias. Não há nada melhor, nem ninguém, para nos ensinar do que o treino, a prática, e a observação dos desenhos de outras pessoas.

Os seus pais ajudaram-na a perceber que a sua vocação era ilustrar?

Muito. Ou melhor, mais do que ajudar a perceber, sempre que eu conversava com eles sobre isso davam-me muito apoio, confiavam nas minhas escolhas e queriam que eu escolhesse aquilo que me faziam mais feliz. Em momentos de dúvida reforçaram esse apoio. Disseram-me:“deves fazer aquilo em que achas que vais ser melhor e que te vai fazer mais feliz”. E portanto, mais do que me ajudar a perceber, deram-me todo o apoio que às vezes é importante naqueles momentos em que nós nos sentimos inseguros - “será que devo seguir esta vida ou não?”. Deram-me apoio sempre que precisei, para que eu nunca duvidasse que era este o meu caminho.

De onde vem a sua inspiração?A inspiração não cai do céu. Temos que estar atentos ao mundo que nos rodeia. Pode ser uma árvore lá fora, pode ser uma pessoa que vai a passar e que cante uma música que tu gostas, pode ser uma personagem que tu vês na rua com uma roupa estranha. É só uma questão de prestar atenção e dedicar-te a ver muitas coisas, ler livros, ver bons filmes, ver bons desenhos animados. Mesmo na internet, temos muitas vezes acesso a trabalhos de outros artistas. Temos também que procurar conhecer as coisas, observar. Procurar também ver trabalhos dos

entrevistaILUSTRAÇÃO Raquel Costa

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Aconteceu outra vez. Fiquei de canto e não me deixaram contribuir. Olhei e tentei transmitir a mensagem de que eu tinha a solução. Mas nem assim eles me deixaram falar. Olharam para mim e disseram para não me intrometer nas ‘con-versas dos adultos’.

Mas eu sabia… Nunca me deixam dar a minha opinião. Mesmo quando eu ten-ho a solução, e o problema, é que isto não acontece só comigo...

Não, não... Acontece com todas as crianças: altas, baixas, magras, gordas, feias, bonitas, portuguesas e estrangeiras. Todas são sujeitas ao mesmo. Não temos voz, não temos opinião... E qual é a desculpa?

- Não te intrometas na conversa dos adultos, dizem eles, mas nós já estamos fartos (acredito que não sou a única). Esta resposta já está a ficar velha demais, já devia ter caído em desuso mas eles não veem isso...

Cá para mim, se eles não aprendem sozinhos precisam de alguém que lhes chame à realidade. Mas, eu tentei, e não funcionou:

- Já não te tinha mandado calar?! Foi a resposta que obtive.Esta situação aconteceu-me tantas vezes que eu até fiquei intrigada e fui per-

guntar às minhas amigas se, de facto, isto só acontecia comigo. A resposta que elas me deram foi o que me incentivou a escrever isto, pois, aparentemente, esta situação é normal e elas até me olharam de lado quando perguntei.

Esta situação é normal... Que mentalidade é esta?Estamos no século vinte e um adultos. Nós, segundo vós, somos a geração do

futuro portanto, quando é que iram começar a tratar-nos mais como indivíduos com voz própria e menos como incultos?! Nós também ouvimos tudo o que vocês dizem, por isso, quando é que este respeito será mútuo? Alguma vez o será?!

Temos que dar voz às crianças para termos um futuro melhor!

Os adultos acham que não no devemos meter nas suas conversas.Eles acham que somos muito pequenos, mas isso não é razão para não nos

ouvirem.Às vezes nós, crianças, queremos dizer-lhes coisas importantes e eles não nos

dão ouvidos. Esquecem-se que também muitas vezes não foram escutados.

Opiniãooutros, manter a cabeça aberta. Ver é muito importante. Mas por outro lado, ver não é nada sem a prática.

Acha que as crianças têm voz?Claro que sim. Às vezes os adultos é se esquecem de que vocês têm coisas a dizer. Quando vocês dizem coisas em que pensaram e que são sentidas, que vêm do coração, faz sentido. Se estivermos atentos, por vezes é quem nós menos esperamos que acaba por dizer qualquer coisa que nos vai marcar, que nos vai ensinar qualquer coisa.

Quando era criança, alguma vez sentiu que não era ouvida?Sim. Eu era filha única, com pais que trabalhavam muito. Muitas vezes dava por mim a falar com as paredes e a brincar sozinha. Se calhar isso também foi uma das coisas que fez com que eu quisesse ser ilustradora. Quando se está sozinho e a nossa voz não se faz ouvir, acabamos por viver mais dentro da nossa imaginação. Vivemos mais nas histórias. Eu gostava muito de ler, por exemplo, e por isso estava sempre dentro das histórias que lia e a imaginar novas histórias na minha cabeça. Muitas das vezes essas histórias convertiam-se em desenhos.

Uma mensagem para as crianças que acham que não têm voz.O que eu gostaria de deixar como mensagem são palavras de força e de esperança. Quando vocês acharem que não têm uma voz, não desesperem. Não fiquem tristes, não desistam dos vossos sonhos. Não fiquem a pensar que não vale a pena. Que uma vez que ninguém vos dá ouvidos, não vale a pena ter os vossos sonhos, não vale a pena alimentar as ideias que têm na vossa imaginação. Lembrem-se que há sempre alguém que vos vai compreender. Por vezes só têm que ter paciência para encontrar essa pessoa, quer seja um amigo da vossa idade, um professor, um familiar, ou uma pessoa que aparecerá mais tarde na vossa vida. Vai haver alguém que vos vai saber ouvir, que vai saber compreender. Portanto, nunca desistam de guardar essa voz, mesmo que seja cá dentro, porque vai chegar o momento certo para vocês a fazerem ouvir. E nessa altura devem aproveitar a oportunidade.

A criança posta de lado

Porque é que os adultos não nos ouvem

Maria Afonso Pereira, 14 anos

Gonçalo Costa, 10 anos

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agenda

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A educação agroambiental nas escolas deve ser um processo contínuo e integrado de aprendizagens. Atualmente, é realiza-da utilizando um ciclo político baseado em datas definidas por uma agenda global, sem sistematização, contextualização ou continuidade temporal.

O apelo à consciencialização da comunidade educativa para a importân-cia da agricultura e do ambiente/floresta, na vida social ativa tem sido per-manente. A este apelo alia-se a importância de conhecer quais os processos agrícolas e ambientais, os seus problemas e as suas necessidades, dotando as crianças, enquanto agentes privilegiados de mudança, de competências de sensibilização para o apoio e integração de programas de defesa da na-tureza e, acima de tudo, provocar a mudança social face às problemáticas agroambientais.

Dentro das comunidades locais, as crianças são o público mais atento e exigente. No contexto da sua formação académica e pessoal o paradigma alterou-se e, atualmente, as crianças precisam de sentir que estão a realizar atividades de enriquecimento curricular, cujas competências se cruzam com atividades da vida diária, independentemente do espaço onde ocorrem. O propósito da participação nestas atividades deve ser coerente e permitir visualizar resultados a curto ou a longo prazo. Desta forma, será possível proporcionar aprendizagens de qualidade e fomentar-lhes conceitos como eco-friendly, entendido como a realização de atividades no quotidiano mais sustentáveis e amigas do ambiente. O maior desafio é saber motivá-los para o conceito de gestão dos recursos naturais, cativar-lhes a atenção para a sua utilização correta, alertando-os para a situação da escassez ou extinção dos mesmos. Assim, numa perspetiva de educação de qualidade, cabe aos políticos, educadores, pais e cidadãos lutarem pela inclusão de novos pro-jetos educativos da área.

O projeto “Agronomia na Escola” tem como objetivo centrar a comu-nidade educativa nos padrões da agricultura e do ambiente que tenham maior enfoque na vida ativa das crianças, pensando nas principais ativi-dades que se enquadram nas suas vivências mas também criando planos que se interliguem com os restantes planos curriculares. Dotar as crianças destes conhecimentos técnicos, permitirá que sejam capazes de obter uma bagagem social, educativa e comunicativa que lhes permita implementá-la

O projeto agronomia na escola visa promover educação agroambiental. Durante o ano letivo têm sido realizadas atividades em diferentes escolas, abordando temáticas da agricultura, ambiente e floresta, sensibilizando as crianças para os problemas ambientais e influenciando a sociedade em geral.

Agronomia na escolaTEXTO Ana Leite

Pirâmide de Plantas Aromáticas e Medicinais (Escola Sementes de Liberdade – Esposende).

Criação de um herbário (Escola Sementes de Liberdade).

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na sua vida pessoal e profissional no futuro. O projeto foi desenhado numa abordagem transdisciplinar integrando diferentes áreas dos sistemas agroambientais. O planeamento das atividades é feito incentivando as cri-anças à reflexão e realização de práticas que permitam a experimentação de técnicas sustentáveis, adaptadas a cada tema.

Listando alguns dos projetos já desenvolvidos, considera-se que para além da concretização dos objetivos, as crianças assumiram papeis e profis-sões das áreas das ciências naturais, como o agricultor, o zootécnico, o agrónomo ou o bombeiro, incentivando por um lado à participação ativa e, por outro, permitindo o conhecimento de áreas científicas mais abandona-das pela sociedade. Um dos temas abordados foi a produção de cogumelos, na área da agricultura e floresta. Nesta atividade, as crianças para além de reconhecerem todas as características dos fungos, tiveram oportunidade de inocular um tronco, replicando o que é feito pelos produtores. Como os resultados deste tipo de atividade são obtidos num curto espaço tem-poral, foi possível dar a conhecer, em contexto real, o conceito de ciclo de vida. Na temática associada à horta foi implementada, na escola parceira, uma estrutura piramidal, aplicando conceitos de agricultura biológica, sus-tentável e diferentes formas estruturais de produção. A área zootécnica facilitou o estudo do bem-estar animal. As crianças reconheceram os ani-mais da quinta e as suas principais características. Ao estarem em contato direto com várias espécies, puderam cuidar e compreender que devemos viver em equilíbrio com os animais, respeitando-os. Outro exemplo acer-ca da temática da floresta foi a atividade “guardiões da floresta”, onde as crianças estudaram espécies arbóreas autóctones e alóctones e principal-mente reconheceram o trabalho dos bombeiros na prevenção e defesa da floresta contra incêndios.

Muitas outras atividades estão no planeamento de execução do proje-to, abrangendo outros temas cruciais para a aprendizagem infantil e, mais tarde, mobilizar a sociedade em geral. Ao longo da realização destas ativ-idades é notório o grau de satisfação das crianças ao aprender fazendo fora da sala de aula, comprovando assim que as ferramentas educacionais podem ser criativas, em contextos diferentes e sem nunca deixarem de ser eficazes. Poderá, no futuro, ser esta a metodologia de ocupação de tempos livres ou num sistema organizacional ótimo, ser incluída nos planos curric-ulares das escolas públicas pelas suas inúmeras vantagens a longo prazo para a formação integral do indivíduo.

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+MARCOS BARBOSA

ENTREVISTA

CÁTIA FAÍSCOOS NOVOS ROSTOS

B FACHADAMÚSICA

BELA LUZMADE IN

UMA EXPERIÊNCIASEVILHANA

MINHOTOS PELO MUNDO

CONHECER

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Cátia Faísco – Os Festivais de Gil Vicente de Guimarães arrancam mais uma vez daqui a uns dias e, embora, a Teatro Oficina não esteja presente com um espectáculo, este ano prepa-raram outra actividade.

Marcos Barbosa – Este ano, estamos presentes no festival de uma forma diferente. Como activ-idade paralela, decidimos organizar um Work-shop de Dramaturgia e a ideia é que as pessoas que vêm, que são algumas das mais interessantes do meio teatral neste momento, se envolvam e estejam presentes. Gostávamos muito de estar presentes nos FGV, mas por causa de um convite exactamente para a mesma data, tivemos que faz-er uma escolha e como já tínhamos apresentado em Guimarães, acabámos por preterir esta. Tam-bém é importante irmos a outras cidades e rodar o espectáculo. Em Outubro, estreamos “O Conto de Inverno” de Shakespeare, mas é preciso refer-ir que o Teatro Oficina não é composto somente pelas produções profissionais. Temos sempre, em Maio, o espectáculo das Turma de Iniciação Te-atral que é igualmente importante. E, no próximo ano, creio que vamos apresentar algo bastante diferente acerca da obra de Raul Brandão.

“EU GOSTAVA IMENSO QUE HOUVESSE DEZ COMPANHIAS DE TEATRO EM GUIMARÃES”

TEXTO Catia Faísco TEXTO Nuno Sampaio

Marcos Barbosa, encenador e ator, é director artístico da Teatro Oficina, a companhia residente do Centro Cultural Vila Flor que apresenta este mês, mais uma edição do Festivais de Gil Vicente, em Guimarães.

ENTREVISTA

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Ainda relativamente ao workshop, o convite para participar foi estendido a todos, desde estu-dantes de teatro a profissionais do meio, ou até a quem tem menos experiência. O facto até de lhe chamarmos “workshop”, porque work significa trabalhar, reside no conceito de que os partici-pantes vão pôr em prática aquilo que vão escre-ver. Além disso, é mesmo com o intuito de que não seja apenas uma exposição de uma teoria sobre o ato da escrita para teatro.

E como é que vai funcionar?O workshop vai ser orientado por três pessoas: dois dramaturgos norte-americanos da Lark Foundation, Rogelio Martinez e Anton Dudley, e pelo dramaturgo português Jacinto Lucas Pires. O Rogelio e o Anton vão expor uma série de ex-ercícios onde estão explícitas as regras de uma escrita para teatro e o Jacinto, à sua maneira, irá partilhar como é que acha que se chega a uma peça de teatro e quais os mecanismos para o fazer. Aos participantes, ser-lhes-á pedido que experimentem esses exercícios e que escrevam para que depois recebam um feedback. O work-shop será orientado maioritariamente em inglês, mas tentar-se-á criar uma dinâmica para aqueles que não entendem tão bem.

Como é que se vai constituir o grupo de tra-balho?Pretende-se que este grupo de trabalho seja con-stituído por todo o tipo de pessoas, desde au-tores, encenadores, atores, estudantes, porque o tipo de exercícios que eles, normalmente, propõem é tão claro que cada um pode apli-car-se à sua própria maneira. Claro que os níveis de compreensão serão variáveis, mas é útil para toda a gente.

Numa perspectiva mais ampla, como é que vês o panorama teatral na região minhota?Embora eu trabalhe em Guimarães, não vejo o panorama teatral por zonas, mas sim numa perspectiva mais ampla, como país. O teatro português é, normalmente, paradoxal. Há cois-as muito interessantes a acontecer e as políti-cas culturais que têm regido o país nos últimos anos poderiam levar a uma situação contrária, mas não. E isto não é só agora. Se observarmos a história, vemos que sempre foi assim, como com Cornucópia, o Meridional, e, mais recente-mente a Mala Voadora. Há sempre coisas boas a surgir no meio do caos e quando comparo com outros países, até acho que o nosso panorama é bastante bom. Quando olho à volta, sinto que há outra vez, ao contrário de há uns anos atrás, uma força maior em Lisboa e menor no Porto, com menos projectos interessantes. Num dado momento da história, o Porto teve uma força enorme que, curiosamente, coincidiu com o re-nascimento do Teatro Nacional São João com o Ricardo Pais, nas suas duas fases, que origi-nou um grande crescimento a nível teatral na cidade. E acho que isso marcou o teatro por-tuguês, quer a nível do funcionamento dos te-atros, quer a nível de programação, quer a nível da própria criação. Havia um enorme respeito pelo criador e pelas condições em que criava. De repente, acho que há novamente uma força centralizadora e está tudo novamente centrado em Lisboa, embora considere que há outros te-atros no país com igual interesse. Nesta zona, à excepção da Comédias do Minho que faz um trabalho muito específico e que é muito coer-ente e estável, eu não sinto outros projectos de criação teatral que eu consiga perceber o que é que estão a fazer.

E porque é que achas que isso acontece?Porque não surgiram projectos novos apoia-dos de forma estruturada pelas entidades. Há pequenas estruturas que são projectos que não têm dimensão de cidade. Ou seja, não estou a menosprezar o trabalho que fazem, mas num mundo ideal todas a cidades deveriam ter uma companhia como a Teatro Oficina, apoiadas pela Câmara com condições de acesso aos equipa-mentos. A verdade é que as companhias que já existiam também não se renovaram e repetem as mesmas fórmulas, não sendo o seu trabalho se-quer posto em causa, rodando todas pelos mes-mos circuitos que estão viciados. E mesmo com as novas companhias ninguém as questiona. Há também uma precariedade nas relações e quem está a começar, talvez por ignorância ou falta de noção do que é trabalhar neste meio, não sente necessidade de comunicar com os criadores que já estão estabelecidos. E essa necessidade de troca deveria existir. Eu gostava imenso que houvesse dez companhias de teatro em Guim-arães e que pudesse haver outros trabalhos com os quais pudéssemos estabelecer relações, mas não há.

Achas que Lisboa está fechada às companhias do norte?Lisboa está fechada a três, quatro companhias, que não lhes retirando o mérito, fazem todas parte do mesmo lobby e circulam por todos os teatros da capital. Depois há dois ou três grupos que vão apresentando uns projectos paralela-mente a isto. Isto não quer dizer que a culpa seja deles. Os recursos são menores e os programa-dores acabam por programar todos a mesma coi-sa. Penso que um dos motivos que leva as com-panhias a não evoluir, é precisamente a falta de circulação.

Num mundo ideal, o que é que se poderia faz-er para alterar este cenário?O Ministério da Cultura deveria obrigar a Di-reção Geral das Artes a, nos apoios que faz, im-por às companhias a ter relações com cidades diferentes e aos Teatros Municipais a contratar essas companhias. Deveria haver uma articu-lação entre estes últimos e os orçamentos munic-ipais que as Câmaras têm e os apoios do estado. Quando o estado apoia uma companhia, está a validar o seu trabalho. Então, o contribuinte que paga os seus impostos, deveria ter acesso a esses espectáculos. Portanto, uma companhia que é apoiada deveria ser obrigada a fazer 40 espectáculos num ano, circulando pelo país e sendo avaliada, com o número de espectadores, com as suas opiniões, com o que a crítica disse, para que as coisas possam fazer algum sentido. Por exemplo, uma companhia como a Teatro Ofi-cina deveria estar, pelo menos de dois em dois anos, num Teatro Nacional.

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Chegam à universidade com o sonho de preencher os ecrãs da televisão e as telas do cinema. Não todos, alguns, como gostam de frisar. Dizem, a sorrir, que se a Daniela Ruah conseguiu, também eles o conseguirão. Querem ser atores. Querem escrever. Querem encenar. E, durante o tempo em que estão a

estudar, dividem-se entre o criar de uma atitude e a certeza de cimentar um caminho que se avizinha árduo. Procuram a definição de uma personalidade artística que os definirá perante os colegas e os distinguirá em frente aos professores. Constroem modelos à volta de atores, dramaturgos e encenadores que vão conhecendo. E três anos, passam a correr. Ainda ontem não sabiam quem era a Sarah Kane e hoje têm muito mais dramaturgos na mesa de cabeceira; hoje têm de se despedir dos companheiros de palco.

No entanto, à semelhança de outras tantas licenciaturas, ser graduado em Teatro, significa que não há promessas e que, passando o cliché, só os mais fortes sobrevivem. Ouvem os conselhos dos professores como se fossem ruído de fundo porque, na verdade, esperam que o futuro se apresente muito mais risonho do que a outros que chegaram antes deles. A genialidade é uma construção de muitas horas, muitos meses e muitos anos de trabalho. Essa percepção começa a ganhar forma muito mais tarde do que aquilo que reconhecem.

Olhando para o tecido teatral da região há uma clara noção do espectro residual de estruturas profissionais e, ainda menos, daquelas que terão possibilidade de acolher estes novos rostos com vontade de iniciar a sua prática. Há sempre espaço para estágios, claramente, mas pouca ou nenhuma oportunidade de uma integração mais contínua. E, por isso mesmo, Lisboa continua a ser a cidade que marcam no mapa como ponto de arranque para a sua carreira. Não deixo de lamentar que, de certa forma, compreenda porque o fazem. Há muito mais oportunidades, mais espaços, mais estruturas artísticas, mais companhias. Então, de que modo é que podemos, enquanto região, promover uma igualdade de ofertas? Não deveríamos promover de uma forma mais assertiva a integração destes novos artistas? Não deveríamos, enquanto educadores, incentivá-los a criar e fortalecer mais afincadamente os seus projectos pessoais? Não deveríamos também, enquanto profissionais das artes do espectáculo, estar atentos a quem está a começar? Não deveríamos incentivá-los a ficar e renovar a oferta teatral?

Ouço profissionais, sem ou com pouco trabalho, a lamentarem-se do facto do meio funcionar na base do compadrio, dos amigos que chamam os amigos e os amigos dos amigos. Reconhecem, na maioria das vezes, o talento de quem circula entre os “preferidos”, mas a falta de oportunidades alimenta o desalento perante o mercado artístico.

E, o mais incrível, é que aqueles que estão a começar revêm-se neste pensamento. É como se houvesse uma passagem de testemunho silenciosa. Ou, por vezes, tão ensurdecedora que não são capazes de dar um passo em frente. Sabem que não chegarão longe se não fizerem os contactos certos, na hora certa, com a pessoa certa. Em conversa com o encenador Marcos Barbosa (entrevista publicada na R U A), ouvia-o falar do panorama nacional e não de um regional, numa análise às artes performativas. Embora concorde com esta visão, não deixo de sentir uma certa necessidade de fragmentar esta visão para que se possa olhar as cidades de uma perspectiva mais acolhedora e receptiva a novas formas de intervenção artística. Perceber que, por vezes, estes novos rostos que estão aqui tão perto se sentem longe da realidade regional. Num mundo ideal, dizem-me, queriam que que a universidade reconhecesse que tem um curso com especificidades próprias para que o futuro se desenhasse de outra forma, queriam ficar por cá, queriam uma maior aproximação às estruturas, queriam estágios, queriam bolsas de criação. E o querer tem muita força.

NOTA: Este artigo não foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

OPINIÃO

A CIVILIZAÇÃO DO ESPETÁCULO

OS NOVOS ROSTOSTEXTO Cátia Faísco

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MAIS FACHADA(S) PELA RUA, POR FAVORB Fachada quase dispensa apresentações. Já gravou mais de uma dezena de discos, com sonoridades bem diferentes entre eles, mas sempre com uma constante: as letras inconfundíveis e atrevidas, escritas com a mestria que lhe é tão própria. O cantautor e multi-instrumentalista desafia a língua portuguesa como poucos, invocando muitas vezes músicos de intervenção que outrora marcaram a nação. Gosta da música com pronúncia, por isso, minhotos, não se deixem ficar e façam-se ouvir no concerto do tio B no gnration, no dia 25 de junho, em Braga. A promessa está feita: “vai ser de certeza um concerto completamente diferente do outro.”TEXTO Filipa Oliveira FOTOGRAFIA Mané Pacheco

MÚSICA

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Tiveste desde muito cedo ligado à música, inclusive, estudaste música durante muitos anos. O que fizeste, entretanto? Quando sentiste vontade de iniciar carreira a solo?Senti vontade de começar a fazer música através das canções. Tive acesso ao ensino formal da música, mas só quando comecei a compreender as subtilezas da canção popular é que senti vontade de produzir. O formalismo só voltou a dar jeito muito mais tarde, quando começou a ser preciso tocar umas pianadas e pensar nas harmonias.

Quais são as tuas principais referências e influências na música? O processo de ouvir música não é bidimensional. Tem muitas camadas que vão desde o ato físico de ouvir até ao estímulo de memórias simples e compostas. É um labirinto, na verdade. Posso não aprender nada com um disco que ouço 10 vezes e de que gosto muito e aprender imenso com um disco horrível do qual não consegui chegar ao fim de nenhuma faixa… Apesar disso, quanto mais próxima de mim for a música (no espaço, no tempo e na palavra), mais fácil fica aprender/retirar/copiar descaradamente um bocado para o meu próprio trabalho.

Como caracterizas o teu percurso musical?Exponencial!

No início as canções eram mais cruas e foram passando para uma roupagem mais eletrónica. Porquê?Gosto de acreditar que fui alternando nesse aspecto...fui sempre para estúdio de mente mais

ou menos vazia e à procura de uma textura que não conhecesse. Fui também ficando cronicamente sozinho a tocar e só há um tanto que dois braços e duas pernas conseguem fazer ao mesmo tempo. As eletrónicas fazem-me companhia: são os meus músicos.

Foste um dos músicos convidados para participar no espetáculo de homenagem a Dina, “Dinamite”. Como foi interpretar estas músicas? O que representa para ti?Foi um encontro bestial de gente! Entre a Dina, os amigos que só encontro na estrada (quando o rei faz anos) e os amigos novos que ainda não conhecia, foi uma avalanche de companheirismo e, claro, de massa crítica sobre aquele repertório. Todos discutimos, recantámos e brincámos com as canções da Dina.

O que achas do panorama atual da música portuguesa? Acho que já vai passando o tempo de dar a minha opinião sobre este assunto… não sou imparcial! Há coisas que gosto muito, coisas que não gosto nada, coisas que nunca ouvi e não vou ouvir (e não gosto mesmo nada). Também não acredito que haja só uma Música: nem acho que se possam misturar as várias que há. Há lugar para quase toda a gente, isso sim; deve ser uma coisa boa, mas só daqui a uns anos é que vamos saber.

No final do ano que passou andaste em digressão com as Pega Monstro, de onde resultou um EP com versões mútuas de alguns temas. Tendo em conta que crias

e tocas sempre sozinho, como foi esta experiência? A minha relação com a Cafetra no geral e, neste caso, Pega em particular, é um contínuo que vem de 2011. Já correu muita água, já nos vamos habituando uns aos outros. Eu tento não interferir negativamente… e quando não consigo eles toleram as minhas contradições. Pega Monstro está à cabeça do grupo, a desbravar território. É mesmo muito fácil aprender com elas.

No dia 25 de Junho tens concerto no gnration, em Braga, onde já estiveste também em 2014. O que podemos esperar deste concerto?Nunca planeei um concerto para ser repetido. Até evito fazer alinhamentos de antemão para nada estar viciado à partida. O concerto é do público. Eu preparo instrumentos e repertórios. Vai ser de certeza um concerto completamente diferente do outro: tenho dito!

Ao longo da tua carreira passaste por muitas salas, muitos públicos diferentes. Como te sentes quando uma sala está cheia de pessoas para te ver? Agradecido. Tento também retirar algum conhecimento pragmático: saber porque está cheia a sala, de que pessoas e como é que isso se repete, claro!

Tens algum episódio mais caricato que gostasses de partilhar?Todos os episódios profissionais são mais caricatos que a minha vida quotidiana que consiste em criar os filhos, cuidar da casa, tocar um pouco, ler umas páginas. Mas o grotesco não é algo que eu goste de partilhar. As estranhezas do trabalho são para digerir em intimidade.

Os teus discos são todos muito diferentes, mas as letras têm geralmente um toque de sarcasmo ou crítica e uma mensagem muito forte. É a tua forma confortável de lidares com situações desconfortáveis?O desconforto é nosso, não das situações. Sentimos desconforto quando qualquer coisa foge ao nosso entendimento lógico. Mas se tiveres muito tempo para pensar (como eu) tudo acaba por escapar à lógica do certo e do errado… tornas-te sensível a isso e habituas-te a ver o errado que há sempre dentro do certo e o certo que há sempre dentro do errado.

O que te falta fazer?Uma excelente pergunta sem resposta! Falta-me fazer quase tudo, evidentemente.

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UM ELIXIR DE BEM-ESTAR

O aroma intenso que emana das plantas faz adivinhar um sabor peculiar, diferente de tudo aquilo que já provamos. Perdendo o rasto do horizonte, camuflado pela

área florestal que faz companhia às plantas aromáticas e medicinais que por aqui crescem, esse cheiro convida-nos a conhecer cada recanto desta plantação agrícola bracarense, tão bem conhecida pelos habitantes de São Mamede de Este. Mas, se os aromas nos conquistam desde a chegada, os sabores acompanham-nos mesmo depois da saída, como se dali trouxéssemos um verdadeiro elixir do bem-estar.

Antes de explorarmos o processo de produção das infusões, condimentos e plantas medicinais com o selo de qualidade Bela Luz, convém esclarecer o leitor sobre os propósitos da agricultura biológica. Por definição, este tipo de produção agrícola procura fornecer ao consumidor ingredientes frescos e saborosos, respeitando os ciclos de vida naturais dos produtos e minimizando o impacto humano sobre o ambiente, não recorrendo, portanto, a pesticidas, aditivos ou conservantes químicos. Cumprindo à risca estes padrões, Elisabete Martins da Costa encara a agricultura biológica como «um modo de vida» e, aos 43 anos, é o rosto por detrás do sucesso da marca Bela Luz. Aplicando os ensinamentos adquiridos na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), através do curso de Engenharia Agrícola e de cinco anos de trabalho no departamento de Botânica e Biologia dessa mesma universidade, Elisabete lançou-se numa aventura que muito orgulho e satisfação lhe tem garantido. Com um gosto cada vez mais crescente pelo cultivo de plantas, a bracarense aproveitou os mais

Um recanto de aromas fortes

São chás, ervas aromáticas, cogumelos, mel… A enumeração continua à medida que percorremos a área de produção. Os aromas misturam-se e o que para nós se assemelha a uma confusão sensorial, é perfeitamente assimilado por Elisabete, que conhece todas as plantas, todas as técnicas de cultivo e todos os efeitos associados. Por exemplo, se falarmos das alturas ideais para as colheitas, Elisabete rapidamente explica todo o processo, quase sem pestanejar: “Não se deve colher em qualquer altura do ano. A planta tem substâncias ativas que lhe dão características próprias, sejam

de três hectares de terra dos seus pais para iniciar um império de agricultura biológica. “Quando voltei a Braga, pensei no que iria fazer a seguir. Na altura, já dava formações na área da agricultura biológica, cogumelos e plantas aromáticas e, como os meus pais não estavam a ter rentabilidade com as suas produções, pensei em dinamizar a oferta”. Hoje, o espaço que era apenas destinado à produção para consumo dos pais de Elisabete está dividido em várias secções: cerca de 1,4 hectares está ocupado pela floresta e a área restante reparte-se por área agrícola, área para autoconsumo e área para produção de plantas aromáticas e medicinais – a área que nos apressamos a conhecer.

TEXTO Andreia Ferreira FOTOGRAFIA Nuno Sampaio

CONHECER

MADE IN

Respeitando todos os requisitos da produção biológica, os chás e as ervas aromáticas da Bela Luz são reconhecidos como autênticas dádivas da natureza.

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plantas medicinais ou aromáticas. Essas substâncias têm picos e é nvesses picos que se deve colher a planta”, conta-nos Elisabete, acrescentando que a hora certa da colheita também varia consoante o uso. Com um conhecimento técnico que nos prova que com as plantas não se brinca, Elisabete vai recebendo os mais sinceros elogios. “Às vezes perguntam-me: porque é que tua cidreira sabe tão bem? Eu explico que é porque eu colho-a na altura do S. João, quando a planta é mais rica em componentes ativos que lhe darão aquele travo a limão. É também importante que a secagem da planta seja bem-feita, caso contrário a planta pode ficar com alguma humidade e desenvolver bolores”, justifica Elisabete, com uma facilidade espantosa.

À marca produzida neste recanto de aromas fortes deu o nome de Bela Luz, fazendo alusão à planta tomilho, também conhecida como sal-puro, que cresce apenas na Península Ibérica. Desde 2009, altura em que a marca é registada, que Elisabete não tem mãos a medir. Trabalhando manualmente, já que a mecanização do trabalho não compensa devido à pequena dimensão da produção, Elisabete vai contando com a ajuda dos pais e dos amigos quando chegam os picos de produção. Mas desengane-se quem acha que numa produção

biológica pequena o ritmo de trabalho ou os patamares de investimento são baixos. “É um trabalho bastante exaustivo e a valorização é muito baixa. Como respeitamos o ciclo natural das plantas, tem de existir maior disponibilidade do agricultor, mais gastos com água, etc. Sem esquecer os custos da certificação biológica, que são muito caros, e outros produtos que utilizamos, como o açúcar mascavado bio para as compotas, que é mais caro quase 300%. Claro que isso se reflete no preço dos produtos”, explica Elisabete.

O mercado de proximidade

Nos primórdios da produção da Bela Luz, Elisabete apostava na venda a granel, comercializando produtos como a lúcia-lima, a hortelã-pimenta e o tomilho-limão para o sul de França. Mas aos poucos, a bracarense foi-se apercebendo que a valorização do comércio a granel era baixa, começando então a apostar no embalamento dos produtos e a vender para mercados mais próximos. “Hoje, aposto na proximidade com os meus clientes, fazendo demonstrações dos meus produtos em workshops, vendendo para lojas físicas ou digitais de produtos biológicos e para casas de restauração, principalmente restaurantes

vegetarianos. Para além disso, no ano passado fiz uma parceria com uma empresa de cosmética biológica chamada Organii e estou atualmente a trabalhar com a gama de chás que essa empresa lançou”, revela a empresária.

Variedade de produtos em crescimento

Alcachofra, alecrim, alfazema, bétula, camomila, chá verde, cidreira, dente de leão, erva-príncipe, hortelã-pimenta, salva, tília, tomilho-limão… Infusões e condimentos biológicos para tratamento de hipertensão arterial, stress, nervosismo, cansaço, dores de cabeça, distúrbios digestivos, febres, tosse, asma… Misturas de plantas medicinais para acalmar as mais diversas patologias… A lista é quase interminável e, para cada caso, existe uma planta ou erva aromática que atua como arma secreta. Elisabete conhece todas as características, todos os efeitos, todas as formas de confecionar esta variedade de produtos e, como anjo da guarda, vai mimando os seus clientes com novas experiências. “Faço aquilo que amo”, diz-nos Elisabete, em jeito de despedida. Nós não duvidamos.

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Foi isso que aconteceu a João Ferreira, no final da sua licenciatura deparou-se com uma das maiores dificuldades no nosso país, a procura de estágio, devido à chamada falta de experiência. Face a esta situação pediu ajuda à sua universidade e foi a partir dai que surgiu a “última gota de esperança de tirar um estágio”, assim o referiu.

Surgiu então o estágio de João em Sevilha. A principal dificuldade que João encontrou em Andaluzia foi a

comunicação, João descreve a fala dos sevilhanos como “um espanhol corrido, rápido e entre os dentes, muito difícil de compreender. É incrível ver tanta miséria na comunicação em Sevilha, cidade esta que vive principalmente do turismo”. Este jovem realça a diferença do tempo que se faz sentir em Braga e em Sevilha. “ Em Sevilha sente-se um calor infernal, somente no Verão consumi 3 litros de água por dia e dormi 5h por dia.”, declara.

As diferenças entre Braga e Sevilha são mais que muitas, segundo João Ferreira, Sevilha consegue estar 20 anos mais avançada que a cidade minhota. A capital de Andaluzia, para além de ter uma cultura totalmente diferente, consegue conservar as suas tradições mais antigas.

Descreve o povo sevilhano como um “povo que vive muito na rua no sentido de que em qualquer rua vê-se sempre gente alegre, a tomar um copo, a comer tapas, são muitos festivos”.

O dia à dia que João tinha em Portugal foi o que mais falta lhe fez na sua estadia em Sevilha. “Quando sais da tua zona de conforto, torna-se difícil construir novamente tudo o que tinhas”, acrescentou. A distância em relação à família é algo que vai passando com o tempo, ocupar a mente com outro tipo de coisas é a solução.

João confessa que adorou a experiência e afirma que devia ser obrigatório passar uma temporada no estrangeiro. Esta experiência permiti-lhe abrir os horizontes, conhecer novas pessoas com filosofias completamente diferentes da cultura portuguesa. “Criei uma rede de contactos pelos 4 cantos do mundo e tenho amigos pra vida. Não me arrependo de ter ido.”

Uma jornada no estrangeiro transforma-nos enquanto profissionais e ser humanos, algo que todos devíamos experimentar afirma João Ferreira.

Este artigo foi escrito ao abrigo do protocolo com a Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais de Braga, Curso de Ciências da Comunicação.

João Ferreira de 22 anos licenciou-se em Design Gráfico em Braga e nunca esteve nos seus panos estagiar fora do seu país, mas é quando menos se espera que surgem as oportunidades.

A EXPERIÊNCIA SEVILHANA

CONHECER

TEXTO Catarina Marques

MIN

HOTOS

pelo M undo

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Um bosque encantado, cheio de elfos e duendes abre-se para o mundo das crianças no Mosteiro de São Martin-ho de Tibães. Entre os dias um a cin-co de junho, a diversão e a animação

vai tomar conta do reino da crianças, que se abre no ‘Dias de Festa em Tibães´, uma parceria do Mosteiro com a Câmara Municipal de Braga.

As crianças poderão ouvir histórias e contos, ver filmes e experimentar jogos, interagir com simpáticos animais e até um acampamento no-turno. São cinco dias de cultura, animação e divertimento com teatros e atores, musicais e músicos, animações e animadores, contos e con-tadores, exposições e artistas, jogos e jogadores, duendes e fadas, cinema, e um conjunto de ex-periências inesquecíveis. A ideia passa por reve-lar e explorar o mundo encantado das crianças em todas as suas vertentes e formas de expressão no seu mundo apaixonante.

A iniciativa é dedicada ao público escolar nos dias um, dois e três de junho, sendo que o

DESFRUTAR

fim-de-semana é de portas abertas a toda a co-munidade. Durante a conferência de imprensa de apresentação do evento, que se realizou dia 23 de maio, no Mosteiro de Tibães, a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Braga, Lídia Dias, sublinhou que a atividade representa um “encontro feliz” entre património, infância e cul-tura. “Este ano subimos a fasquia nas atividades para as crianças que realizamos nesta época fes-tiva para os mais novos. Sempre entendemos que é fundamental dar a conhecer o nosso patrimó-nio, o que temos de melhor e mais belo, espe-cialmente ao público escolar e infantil”, afirmou.

De acordo com Lídia Dias, estão reunidas to-das as condições para que o evento seja uma fes-ta para os mais novos, proporcionando momen-tos de convívio e partilha em família. “Temos uma programação rica e extremamente diver-sificada que todos podem descobrir e explorar livremente. Em parceria com o Mosteiro de Tibães criamos as condições para que tudo esteja adaptado às necessidades do nosso público-alvo,

podendo as crianças desfrutar dos espetáculos e atividades que temos para oferecer no ambiente único que o Mosteiro propicia”, realçou.

Para a diretora do Mosteiro de Tibães, Lurdes Rufino, o evento é resultado de uma profícua relação com o Município que traz vantagens à comunidade no seu todo. “Estamos certos de que esta será uma aposta de sucesso e de que os par-ticipantes sairão mais ricos desta experiência”, referiu.

O Mosteiro e a Cerca de São Martinho de Tibães vão ser autenticamente inundados por doses industriais de animação, magia e imag-inação. Resta ir, sorrir, viver e sonhar.

TEXTO Redação | com Gabinete de Comunicação - CMB

BOSQUE ENCANTADOESPAIRECER

Mosteiro de Tibães abre as portas ao público infantil

Foto Sérgio Freitas

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HISTÓRIAS SUSPENSAS – RADAR 360ºE se todas as histórias contadas na infância se cruzassem numa só? Em histórias Suspensas, isso é possível, através de um armário que guarda segredos. Dentro deste, as histórias revelam-se umas dentro das outras. Entre voos, voltas e reviravoltas, as possibilidades são infinitas, nesta caixa de fabricar sonhos onde o limite é imaginação.4 e 5 junho |16h30 | Terreiro da Adega, Mosteiro S. Martinho de Tibães ANTES DE COMEÇAR – TEATRO DO BOLHÃOSó não entende o coração quem não sabe escutá-lo. Quando dois bonecos ganham vida, fora do olhar do Homem (ou do bonecreiro que os manipula em palco) abre-se espaço para a poesia e para a descoberta do coração… Escrita em 1919 por Almada Negreiros, figura ímpar do modernismo português do século XX, Antes de Começar retrata o momento imediatamente antes da subida ao palco de dois bonecos (marionetas) que, descobrindo uma nova vida fora da manipulação do homem, desvendam também virtudes tão humanas como a amizade, a vontade da descoberta e do conhecimento, a brincadeira e os afetos… 5 junho | 11h . 15h Capítulo, Mosteiro S. Martinho de Tibães PEDRO E O LOBO - ENSEMBLE HARAWIEra uma vez o Pedro, o lobo, o avô, o passarinho, o pato, o gato e os caçadores…Um musical infantil, composto por Sergei Prokofiev, conta com uma narração especial e assume-se como ação pedagógica que revela as personagens através de diversos instrumentos e suas sonoridades.4 junho | 11h30 . 15h00 | Capítulo, Mosteiro S. Martinho de Tibães EXPOSIÇÃO “ANIMAIS IMAGINÁRIOS” – RUI SOUSA4 e 5 junho | 9h00 – 18h00 | Volfrâmio

Dias de Festa em Tibães - Exposição AnimaisImaginários - Rui Sousa

Dias de Festa em Tibães - Histórias Suspensas - Radar 360º

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Sendo filha de agricultores, Susana Caseiro sempre quis partilhar a paixão que sente pela agricultura. Terminou a licenciatura em Engenharia Bi-ológica na Universidade do Minho e iniciou a sua atividade profissional entre 2000 e 2001. A Plantit surgiu porque, querendo trabalhar por conta própria, teria de ser algo em que acreditasse verdadeiramente. Como

já tinha o hobbie de estar ligada ao campo e à natureza na cidade, seguiu esse caminho: “A ideia foi um bocadinho ambiciosa e de facto não correu pelo melhor”. Susana pensou em iniciar um negócio com o desenho e lançamento do produto em simultâneo, que seria o Kit Plantit. “Só me apercebi que era muito ambicioso um ano e tal depois”, realça num tom de brincadeira. O Kit Plantit é uma floreira que leva setenta litros de terra, permitindo cultivar dez tipos de variedades de cultivo.

Susana confessa que no início o projeto não correu como esperaria que corresse. No entanto, sendo os primeiros anos bastante desafiantes, os seus produtos foram sempre bem recebidos. “Com uma série de altos e baixos pelo meio, a Plantit foi salientando aquilo em que ela é melhor: os serviços especializados que tem”.

Ultimamente, o projeto tem sido mais direcionado para os serviços e para a or-ganização da formação. A própria Susana é formadora com muitos anos de expe-riência. Um dos primeiros públicos a quem foi direcionada esta formação foram as escolas, para ensinar os professores e as crianças a explorarem a horta como uma oficina e como um laboratório vivo. “As hortas nas escolas não são exploradas para aquilo que deveriam ser, e é isso que a Plantit faz”.

Aprender a fazer, a experimentar e a ver

Com a experiência que tem em casa com os filhos, Susana acredita que as crian-ças aprendem a fazer, a experimentar e a ver. Esta atividade não ensina apenas às crianças as origens dos alimentos e a terem uma alimentação saudável. “Quando eles estão em contato com um jardim e se aproximam da natureza, irão protegê-la mais facilmente, ligando mais às questões ambientais”. Ao serem realmente incenti-vados a cuidar e a trabalhar em grupo irão aprender a esperar, a ter mais paciência, levando consigo um ensinamento para a vida.

A horta pode ser utilizada como uma ferramenta completamente diferente e di-dática para os professores poderem ensinar português, matemática, inglês, artes plásticas, etc. “O que a Plantit trouxe de novo foi ensinar os professores um boca-dinho mais sobre como ter a horta na escola e planeá-la para ser utilizada o ano inteiro.”

A ideia da agricultura urbana é uma tendência crescente. Nos workshops que Susana dá ao público em geral, existem muitas pessoas que têm já alguma sensibi-lidade em relação à horta e outras que nunca plantaram nada.

HORTAS URBANAS O ANO INTEIROTEXTO Adriana Castro

O projeto Plantit, criado em 2010 por Susana Caseiro, planta valores para melhorar a sociedade e o futuro da população. O recente lançamento da aplicação Plantit teve uma adesão extraordinária, ensinando quando, como e onde semear, plantar e colher inúmeras variedades de cultivos durante o ano inteiro.

PLANTAR

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ELE:

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Nuno Sampaio - As tuas fotos são um encontro urbano entre formas geométricas e a luz. Podemos afirmar que pormenorizas as cidades de encontro à tua visão?

Pedro Rangel - Sim. Eu acabo por fotografar muitos momentos que envolvem formas geométricas porque gosto de capturar essas geometrias, linhas e posições e quando a luz entra nessa equação acaba por dar fotografias fantásticas.

Nuno Sampaio - Denota-se uma evolução abrupta do início do teu instragram até hoje: desde a composição, técnica de luz ou enquadramento. Deve-se a uma crescente maturação fotográfica, ou existe outro motivo?É verdade! A primeira fotografia que postei no instagram foi no Natal de 2012. Naquela altura não tinha qualquer intenção de seguir fotografia, mesmo até quando comprei a minha primeira máquina fotográfica, uma Canon 600D, apenas a usava para trabalhos de faculdade mas foi por aí que comecei a ficar interessado nisto tudo. Até ao início deste ano o meu instagram era apenas uma

plataforma onde colocava fotos aleatórias do meu quotidiano contudo decidi dedicar-me um pouco mais à fotografia, pois eu sempre fui uma pessoa criativa mas um pouco introvertida em relação a mostrar os meus trabalhos. Decidi sair da minha zona de conforto e levar este caminho para a frente.

Existe uma forte presença do azul nas tuas fotografias. É uma questão de pertinência dos dias mais solarengos ou uma busca pessoal?Acaba por ser um pouco dos dois. Nunca gostei muito de fotografar a noite, talvez um dia. Por agora o mais tarde que fotografo é o por do sol. Uma das minhas coisas favoritas é brincar um pouco com as cores e os seus contrastes, não gosto muito de ruído visual nem de muitas cores na mesma composição e essas cores têm de se dar bem. Por estas razões o azul para mim não tem como escapar, terá sempre um lugar nas minhas fotografias, até em dias cinzentos procuro essa cor.

Na tua página do instragram revelas-te um fotógrafo de contraste entre cores frias e um calor quase acolhedor que nos deixa curiosos, impacientes - algo que nos transporta para

“…o azul para mim não tem como escapar, terá sempre um lugar nas minhas fotografias, até em dias cinzentos procuro essa cor”.

ARQUITETURA DO AZULTEXTO Nuno Sampaio FOTOGRAFIA @lepedrorangel

PEDRO RANGEL ESTÁ NA RUA

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um universo etéreo. A tua ideia é dissolver uma personagem nas coisas mundanas?Adoro mexer com as cores das minhas fotografias. Com isso também mexo nas emoções das pessoas que as vêm, pelo menos é essa a minha intenção. Tenho um estilo um bocado virado para as linhas e composições minimalistas e, juntamente com os contrastes de cores, crio a sensação que há algo mais para além do que se vê na fotografia.

Existe um período, - vou chamar de “período Switzerland” - , onde nos levas a uma viagem minimalista. Como foi fotografar fora do teu país?Foi fantástico, foi a primeira vez que fotografei fora do país e posso dizer com certeza que não será a última. O tempo lá não estava o melhor, teve quase sempre a chover mas isso não me impediu de fazer das coisas que mais gosto e o pouco tempo que lá passei deu-me a imensa vontade de ir fotografar a muitos outros sítios que já tinha em mente. Pode-se mesmo chamar uma viagem minimalista ao que fui fazer, como o Swiss Style no design tentei continuar as minhas linhas minimalistas com uniformidade e geometria, no entanto a Suíça tem de tudo, as cidades são lindas, mas o que mais me cativou foi a parte rural: as montanhas, os lagos, os campos, as árvores. Isto acordou algo na minha mente criativa. Tenho de fotografar mais paisagens destas e por isso lembrei-me logo de dois países que tenho de visitar para satisfazer essa necessidade: as paisagens da Escócia e a diversidade dos EUA.

Um fotógrafo com quem gostasses de tomar um café. Onde seria, idilicamente, esse café?Isso é uma pergunta muito difícil. Um dos meus fotógrafos favoritos é o Andrew Smith (@cubagallery) devido ao uso de cor e composições minimalistas. Outro fotógrafo que sigo desde que comecei a levar isto mais para a serio é o João Bernardino (@joao.bernardino). Os enquadramentos dele são perfeitos e as cores completam a fotografia muito bem. Tomar café com qualquer um destes dois fotógrafos seria uma excelente experiência, sem dúvida, pois aprendia imenso com eles, agora onde não sei bem, mas talvez escolhesse Londres já que é uma cidade que estou para visitar há imenso tempo e um bom sítio para tomar um café.

Uma rua onde voltavas para fotografar.Vou ter de escolher alguma da Suíça. Estive lá pouco tempo e ficou muito por fotografar. Escolhia a rua em Montreux mesmo ao lado do Léman onde tirei várias fotografias, mas aquelas paisagens e mesmo só a sensação de lá estar, mereciam muitas mais.

@zebitu 3º @ifalbuquerque @so.typicall

2 3 4

Às quartas mostramos as melhores fotos da semana. No final do mês selecionamos o top 3 e o vencedor será entrevistado pela RUA.#ruatop #aminharua

@revistarua

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30 URBAN ALGAY FOLLY EXTENDEDInterpretação sonora de Rui Dias

O Urban Algae Folly, desenvolvido pelo ecoLogicStudio, é a primeira peça arquitetural viva do mundo, caracterizada por integrar culturas de microalgas e protocolos de cul-tivo digital em tempo real. Depois de uma estreia na Expo Milão de 2015 foi adaptada ao contexto da cidade de Braga e instalada na Praça da República, funcionando como plataforma de teste a uma visão futura de arquitetura biodigi-tal para a cidade.

Em exibição até 9 de Julho.

ENTRADA GRATUITAINL - Laboratório Ibérico de nanotecnologia - Braga

2-11FESTIVAIS GIL VICENTETEATRO CONTEMPORÂNEO

As artes sempre se revelaram fun-damentais na progressiva tecitura civilizacional urdida pelo homem. E mais do que qualquer outro motor de desenvolvimento social ou cultural, tem sido através das artes e do permanente questiona-mento de matérias primordiais que o mundo vai avançando. Porque, na verdade, este só se transforma para melhor quando o pensamen-to engrandece. E é no palco que essa grandiosidade produzida pelas maiores mentes da história humana melhor se representa. Viva o teatro!

4€CCVF - Centro Cultural Vila Flor Guimarães

3-4“CARGA DE OMBRO”Samuel ÚriaMÚSICA

AGigante aperaltado alternativo a aspirar o Pop Devia ser cada vez mais fácil deci-frá-lo. Mas não é. Samuel Úria é rebuscado, cifrado e, para dificultar a tarefa, está cheio de conteúdo para desvendar.

1€Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão - Famalicão

3-4"POR DETRÁS DO SOL"TEATRO

"Por detrás do sol” surge no âmbi-to do 15º Aniversário da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão.

É um projeto performativo com encenação de Luísa Pinto e drama-turgia de Roberto Merino. “Por detrás do Sol” joga-se na hibridez entre o teatro e as artes plásticas, transpondo barreiras entre o real e o imaginário. Os intérpretes convocam o público para uma viagem pelas várias salas da Casa das artes experiencian-do atmosferas distintas em cada espaço. .

1€Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão - Famalicão21h30

30NON HUMAN DEVICE #3Boris ChimpINSTALAÇÃO

Non Human Device #003 é a ter-ceira de uma série de instalações interativas onde são exploradas diferentes interfaces audiovisuais. Com base na narrativa especulativa do projeto Boris Chimp 504 - uma performance audiovisual que conta as aventuras de um cosmonauta chimpanzé pelo espaço profun-do - em cada nova instalação é apresentada uma nova interface “encontrada” pelo chimpanzé durante cada missão espacial.Na sua versão #003 a interface provém da última expedição de Boris ao planeta Kepler 22b, com a qual o público poderá interatuar, manipulando conteúdos audiovi-suais e provocando perturbações espaço-temporais.

Em exibição até 9 de Julho.

ENTRADA GRATUITAINL - Laboratório Ibérico de nanotecnologia - Braga

AGENDA CULTURALJUNHO ‘16

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4"UN RECUERDO DEAVIGNON"TEATRO

"O teatro é uma arte viva, tão viva que às vezes pode suplantar a realidade, superá-la. Duas mul-heres, mãe e filha, encontram-se em palco para levar a cabo um drama histórico. Por outro lado, no plano da realidade, ambas com-petem pela atenção do diretor da fundação, ex-amante da maioria das mulheres. No meio de tudo isto, as personagens expõem os seus pontos de vista divergentes sobre o teatro e a arte em geral, o amor e tudo o que envolve as emoções”. Ignasi Vidal.

10€Theatro Circo - Braga21h30

7CINEMA AMBIENTALCINEMA

No âmbito da Semana do Ambi-ente, o Pelouro promove no dia 7 de junho às 21h30, uma sessão de cinema ambiental, a qual pretende juntar diversos documentários a um concurso municipal de vídeo ambiental.Será apresentada uma longa metragem “O Negócio da Na-tureza” e duas curtas metragens, “Novo Mercado” e “Conservar”. Os documentários apresentados, resultam de obras audiovisuais do “Cine Eco”.Serão igualmente exibidos os vídeos resultantes do concurso de vídeo ambiental.

ENTRADA GRATUITATeatro Gil Vicente - Barcelos21h30

28BRIGADA VICTOR JARAMÚSICA

A Brigada Victor Jara nasceu em Coimbra em 1975, tendo-se dedicado, ao longo dos anos, à recolha de músicas de todas as regiões portuguesas. Os seus concertos são um reflexo desta diversidade, congregando as canções mais ritmadas do norte com belas harmonias do Alentejo e até mesmo com influências trazidas por emigrantes de lugares tão contrastantes como o Norte de África e a Escócia.

10€Theatro Circo - Braga21h30

13RUMO Á OUTRA MARGEMCINEMA

No coração do Japão, Yusuke convida a mulher Mizuki para uma viagem pelas aldeias e arrozais. Juntos, vão ao encontro daqueles com quem Yusuke se cruzou nestes três últimos anos, desde que se afogou no mar, desde o dia em que morreu. Por que razão voltou?

Com: Eri Fukatsu, Tadanobu Asano, Masao Komatsu.

3,5€Theatro Circo21h30

25"SLOW MOVE"Grandfather's HouseMÚSICA

"Slow Move” é o primeiro álbum dos bracarenses Grandfather’s House (edição 4 março 2016 – plataformas digitais). Em 2014 editaram o EP “Sketelon” que infelizmente não chegou ao conhe-cimento da maioria dos jornalistas. Não teria passado despercebido. O público dos concertos que fizeram por Portugal e Espanha não ficou indiferente à sua proposta. Seria difícil. O som da banda- alter-nativo - viaja entre o rock e o blues. Convida a uma escuta atenta. Nesta casa mora talento, autentici-dade e entrega.

6€Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão - Famalicão

18II GALA SANJOANINACancioneiro MinhotoOUTROS

Na primeira metade do século XX, Gonçalo Sampaio (1865-1937), insigne folclorista, compila o seu “Cancioneiro Minhoto”, um compêndio de quase duas centenas de canções tradicionais, que o povo aqui e ali cantarolava no território minhoto. Foi à sombra desta “bíblia” que foram nascendo diversos projetos de promoção et-nográfica. Sendo as Festas de São João de Braga o maior palco do ethos minhoto, foi desenvolvido um projeto musical que visa a reinter-pretação dos temas recolhidos por Gonçalo Sampaio, sob a direção e orquestração de José Hermínio Machado.

5€Theatro Circo22h30

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O s mais atentos já o sabem, sou um homem casado. Os mais distraídos, sabem-no agora e devem começar a habituar-se a ler a revista Rua. Não digo que a leiam na íntegra, mas apenas a minha crónica.

O homem quando se casa é como o amigo que se atira em primeiro lugar para a piscina, fica a fingir que a água está boa para os outros saltarem (não quero desencorajar ninguém!). No entanto, quero falar sobre a questão mais colocada: “o que mudou ?”. Sim, eu sei que já ouviram diversas vezes a resposta de que nada muda. Nada mais falso, no meu caso fui fruto de uma transição de 180 graus.

Em primeiro lugar, hoje sou um homem mais bonito e sensual que outrora para a generalidade do universo e não só para a minha mãe. O casamento trás isto, o facto de “termos” uma mulher pemite-nos um sentimento de superioridade em relação a grandes ícones como Tino de Rans ou Michael Carreira.

Em segundo lugar, hoje sou um homem mais credível. Tenho a sensação que desde que a minha querida esposa (isto ainda soa mal) me colocou esta aliança no dedo, as pessoas me escutam com mais atenção.

Sou uma espécie de Dr. House, ou seja, tudo o que disser é verdade. Menina, isto não é uma unha encravada, trata-se de um indício de varicela. Posso dizer mesmo qualquer coisa, acreditem.

Em terceiro lugar e não menos importante, hoje sou um homem mais sensível. Olho com outros olhos as nobres causas que envolvem a nossa sociedade. Prova disso é a tranferência de um milhar de euros que efetuei para a conta da Maya – a vidente. Não acredito que alguém lhe pague por aquele trabalho e no final das contas, todos temos de nos alimentar.

Quanto à história de “boda molhada, boda abençoada”, também não acreditem nisso nem queiram.

Caríssimos, se o nível de benção for demasiado elevado, correm o risco de que a noite de núpcias não corra como espectável.

Quero que o leitor saiba que estou a escrever este artigo no oitavo andar do hotel Melia em Braga, e sinto-me um pouco alcoolizado depois de três ou quatro ou cinco taças de champagne. Enquanto escrevo a minha esposa toma banho, goza com os comentários de Jorge Jesus...sim o Benfica foi campeão e obrigou-me a inserir este parágrafo no texto sem sair da banheira. Nos tempos que correm, o casamento também é isto. São elas que vestem as calças.

PS: Agora a sério pessoal, o Amor vale a pena. Como diz o provérbio chinês – “Se queres ir depressa, vai sozinho. Se queres ir longe, vai acompanhado.”

Este artigo não foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico

OPINIÃO

O CASAMENTO: PARTE 2

CRÓNICA DE HUMOR

ILUSTRAÇÃO Nuno Simões

[email protected]

TEXTO Rui Leite Gonçalves

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