15
Depósito de Gente Toda verdade sobre o Sistema Penitenciário de Pernambuco

Depósito de Gente - PerSe · homem que passou pelo ... o Judiciário precisa agir com veemência e punir. ... processo na cidade de Lucas do Rio Verde,

Embed Size (px)

Citation preview

Depósito de Gente

Toda verdade sobre o Sistema Penitenciário de Pernambuco

2

CLODOALDO TURCATO

Depósito de Gente

Toda verdade sobre o Sistema Penitenciário de Pernambuco

Primeira Edição

Editora do Livre Pensador

Recife, Pernambuco

2012

3

Titulo Original

Depósito de Gente

Toda verdade sobre o Sistema Penitenciário de Pernambuco

Primeira Edição

Copyright @ 2012 by Clodoaldo Turcato

Copyright da edição @ 2012

Editora do Livre Pensador

Avenida Presidente Kennedy, 4834

Candeias

54430-030 – Jaboatão dos Guararapes – PE

Telefone (081) 3425.4516/ (081) 8162.4184

e-mail: [email protected]

Endereço Eletrônico: www.editoradodolivrepensador.xpg.com.br

Todos os direitos reservados.

A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,

constitui violação dos direitos autorais. (Lei 9.610/98).

Capa: Instituto do Livre Pensador

Ilustração de capa: Clodoaldo Turcato

4

Índice

Dedicatória..........................................................................07

Introdução...........................................................................08

Sobre minha prisão.............................................................12

Como é a distribuição dos presos em Pernambuco............23

Como é o comando nos Presídios e Penitenciárias.............28

Como é a distribuição dos pavilhões..................................34

Como funciona a organização dos pavilhões......................40

O comércio das celas, camas e barracos.............................50

Detentos privilegiados no Sistema......................................56

A corrupção no Sistema......................................................67

A segurança interna das Unidades Prisionais.....................80

As revoltas na prisão...........................................................87

Torturas...............................................................................97

CTA..................................................................................105

Máfia dos advogados........................................................113

5

Audiências........................................................................121

Fugas ................................................................................125

Saúde.................................................................................135

Armas................................................................................142

Telefones móveis..............................................................145

Tráfico de Drogas.............................................................148

Visitas...............................................................................154

Prostituição.......................................................................162

Homossexualismo.............................................................166

Apelido.............................................................................171

Tatuagens..........................................................................173

Vestimentas.......................................................................175

Música...............................................................................177

Linguagem da cadeia........................................................180

Estrangeiros......................................................................187

6

Contagem..........................................................................192

Roubo de material.............................................................194

Ameaças às testemunhas...................................................197

Compra de juízes..............................................................200

Festas................................................................................203

Cachaça artesanal : gengibirra.........................................205

Gravidez na cadeia............................................................208

Mãe de presos...................................................................210

Continuidade do crime......................................................213

Politica na cadeia..............................................................217

Epílogo..............................................................................218

7

A alguns bons amigos que fiz

quando detido no sistema, e

especial a Josesito da Silva

Calado, seu Zito, um grande

homem que passou pelo

Inferno.

8

Introdução

Em princípio pensei em não relatar nada da prisão;

esquece-la. Dos escritos que lá produzi em crônicas deixar

apenas no papel e ignorar aquelas impressões tão

detestáveis. Seria uma forma de tocar minha jornada sem

registro das amplas experiências que tive em um ano, cinco

meses e quatorze dias. Bem, hoje revi esta posição e resolvi

encarar. Vai ser trabalhoso, no entanto necessário.

Não imagino que isso vá ter alguma dimensão além

destas parcas linhas e meu arquivo escondido. No futuro

quando ler estas palavras cruéis terei as mais diversas

reações. Só não quero o arrependimento de não ter efetuado

os devidos registros.

Escrevi a maioria de minhas coisas em cadernos,

folhas soltas ou rascunhos, sempre às escondidas, porém um

destes, logo do início, foi deixado pelos meus bons amigos

para que a chuva os destruísse e perdi parte de relatos. Bem,

paciência, menos lodo talvez. De qualquer maneira os

acontecimentos desumanos de uma prisão não necessitam

de registro maior do que as impressões infundadas em

minha cabeça.

9

A maioria de minhas impressões, anotei em

pequenos códigos, sempre temendo ser descoberto por

alguém e entregue ao Sistema.

O que relato neste trabalho é os fatos, sem intenção

pessoal de prejudicar ninguém ou fazer uma grande

denúncia. Ocorre que os atos de muitos aqui os atinge

diretamente, portanto nada se pode fazer se a proposta é o

relato verídico. Insisto que não é um livro pessoal, tanto que

o meu olhar transita de forma quase anônima; se por ventura

algum comentário foge a esta linha, isso ocorre

principalmente pela minha falta de talento, coisa que

verificaremos no decorrer deste trabalho. Em suma eu não

tenho culpa alguma se as autoridades designadas para cuidar

do patrimônio público e da segurança, se utilizam desta

condição para angariarem vantagens ilícitas.

Paciência, eu estava lá e vou contar: ponto final.

Em meu trabalho utilizo os nomes com que os

presos são conhecidos; são mais que apelidos, diria que são

suas senhas no mundo do crime. Claro que seria necessário

pesquisar mais, porém o Sistema não permite. De qualquer

maneira os nomes não são fundamentais, o que fica clara é a

10

necessidade de se mudar a forma como é conduzida a

política pública de segurança no Estado de Pernambuco,

quiçá Brasil. Cada autoridade que mencionarei neste

volume sabe que foi moldada para atender as normas que o

Sistema criou. Parece complexo, porém nenhum homem

que assume a Segurança Pública deste Estado pode fazer de

outra maneira, senão as consequências serão ainda mais

danosas para toda a sociedade. Portanto o que verão a seguir

é a exposição de como funciona esta chaga social e cabe a

cada um expor suas iniciativas para alterar o atual quadro.

E se me perguntarem como fazer isso digo sem o menor

constrangimento: não tenho a menor ideia.

Torno a dizer: não estou me vingando do Sistema.

Absolutamente! Tenho convicção de que os crimes

precisam ser punidos, todos eles, exemplarmente os

praticados pelas autoridades designadas para guardar a

sociedade destes perigosos criminosos. Quando um agente

do Sistema se une ao criminoso, pelas diversas maneiras

que veremos, o Judiciário precisa agir com veemência e

punir. Então não estamos querendo vangloriar o bandido,

muito menos denegrir o Estado. Longe disso. Esta obra tem

a finalidade de mostrar os pontos fracos, colaborando com

11

aqueles que pretendem alcançar alguma excelência no trato

do Sistema Prisional.

Tomara que este trabalho sirva par algo mais do que

contar mazelas de cadeia.

12

Sobre minha prisão

Em 2000 e 2001 servi como testemunha num

processo na cidade de Lucas do Rio Verde, Estado de Mato

Grosso, quando criminosos da região extorquiam dinheiro

de fazendeiros. Após testemunhar GAECO percebeu que a

quadrilha era maior do que imaginamos. Então comecei a

receber ameaças e fui colocado no Programa de Proteção às

Testemunhas e trazido para o Nordeste com documentos

trocados. Após sair do Programa, assumi novamente minha

identidade e eliminei os documentos “criados” pelo Sistema

de Proteção.

Minha ex esposa guardou cópias autenticadas...

Fui detido pela polícia militar no dia 04 de fevereiro

de 2010, uma quinta-feira, por volta da dezesseis horas, na

sede do Conselho Tutelar do Bairro Curado II, na cidade de

Jaboatão dos Guararapes, Estado de Pernambuco. A seis

meses meu casamento entrara em crise, eu e minha esposa

tínhamos toda sorte de comportamentos extras-conjugais.

No entanto mantínhamos certa estabilidade matrimonial,

principalmente por causa de nossos dois filhos. Neste

período ela conheceu um sujeito chamado Rodrigo, e a

13

partir de então passou a abandonar a casa deixando a

incumbência de cuidar dos filhos pela minha conta. Resolvi

me separar definitivamente e requerer a guarda das crianças.

Dois dias antes de minha prisão entrei com uma queixa

contra ela por maus trato as criança no Conselho Tutelar do

Bairro Curado II, onde morava. Foi um erro terrível.

Logo que souberam da minha representação,

Rodrigo passou a me ameaçar. Prestei queixa na Delegacia

de Polícia da Boa Vista, sem efeito algum. Naquela tarde

Rodrigo entrou em meu apartamento ameaçador; então

deixei o apartamento de carro e chamei a Polícia Militar.

Em defesa, ela e seu amante, surrupiaram uma cópia de um

documento de identidade falso e apresentaram aos policiais

que eu mesmo chamara para me proteger. Pelas dezesseis

horas recebi um telefone da Conselheira Tutelar para que

me apresentasse imediatamente.

Cheguei ao Conselho e o Conselheiro verificava

uma pasta que Rodrigo apresentara, juntamente com dois

policias. Em poucos instantes chegaram meus filhos com a

babá – Lili, minha ex, havia me acusado de sequestro. Linda

a babá relatou o que aconteceu e logo foi tudo esclarecido:

não havia sequestro algum. O problema era uma cópia

14

autenticada de uma carteira de identidade, em nome de

Josuel Marcos Aparecido com minha foto, que levantaram

suspeitas sobre mim.

Após várias discussões e a definição de que as

crianças seriam abrigadas, os policiais pediram que eu fosse

até a Delegacia do Bairro de Cavaleiro, para as verificações.

Segui em um pálio que tinha alugado dois dias antes,

juntamente com meu vizinho Rinaldo. Dentro do carro eu

tinha uma pasta com uma carteira de trabalho, contas

telefônicas e anotações que me comprometiam. Porém não

retirei, deixei sob o banco, sem imaginar que aquilo fosse

tão longe.

Em Cavaleiro o policial de plantão verificou em

principio a cópia que Rodrigo apresentou e depois, induzido

por este, vasculhou o carro e encontrou a pasta, o que

comprometeu minha situação. Respondi a todas as questões,

confessei que eram meus os documentos. Então o policial

ordenou que eu fosse levado para a Delegacia de Piedade,

agora no carro de policia. Rodrigo foi comigo no mesmo

carro e Rinaldo foi de pálio. Ainda em Cavaleiro Lili não

conseguia me olhar, sabia quanto aquilo estava me

prejudicando, percebi que fazia a mando do amante, um

15

sujeito sem qualquer escrúpulo em me prejudicar. Em uma

rápida passagem me disse:

_ Você vai conseguir.

Por certo não tinha noção clara do que representava

aquilo; supunha que não passaria de uma noite apenas. Mas

não foi.

Na Delegacia de Piedade os militares iniciaram o

processo de flagrante. Havia muitas pessoas a espera,

algumas suspeitas de porte de armas, furtos e agressões.

Logo que entrei sentei-me em uma cadeira de plástico,

Rinaldo se postou ao meu lado. Rodrigo e Lili (não sei

como ela veio) ficaram na minha frente. Ela mantinha-se de

cabeça baixa, enquanto Rodrigo me olhava, sempre esnobe,

por vezes chupando o dedo, cantando sua vitória. Não reagi,

apenas mantive meu olhar, nem sei o porquê, talvez pra

mostrar que não haviam me derrotado.

E o tumulto era grande; entra e saí de gente sem fim,

todos com pressa pra resolver logo suas vidas. Eu também

pretendia ir pra casa e jantar, estava cansado com as

emoções do dia, precisava de um banho e cama. Rinaldo

insistia que nem tudo estava bem, me alertou que ia acabar