Upload
franklin-flauzino
View
9
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Tema de Monografia
Citation preview
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Graduação em Direito
Franklin Leonardo Ferreira Flauzino
A POSSIBILIDADE DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA AOS DEPENDENTES QUÍMICOS FRENTE O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO BRASILEIRO
Serro 2014
Franklin Leonardo Ferreira Flauzino
A POSSIBILIDADE DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA AOS DEPENDENTES QUÍMICOS FRENTE O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO BRASILEIRO
Monografia apresentada ao Curso de Direito da
Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerias - PUC Minas Serro, como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel em
Direito.
Orientador: José Emílio Medauar Ommati
Serro
2014
Franklin Leonardo Ferreira Flauzino
A POSSIBILIDADE DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA AOS DEPENDENTES
QUÍMICOS FRENTE O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO BRASILEIRO
Monografia apresentada ao Curso de Direito da
Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerias - PUC Minas Serro, como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel em
Direito.
_____________________________________________
José Emílio Medauar Ommati (orientador) – PUC Minas
______________________________________________
Examinador (a)
______________________________________________
Examinador (a)
Serro, ___ de ___________ de 2014
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pela presença constante em minha vida.
Ao meu orientador, Professor José Emílio Medauar Ommati, pela paciência,
ensinamentos e principalmente pela orientação proporcionada.
A meus pais, Reinaldo e Leo, que sempre me apóiam, estruturam e
possibilitam conquistas.
Aos amigos e colegas nos quais sempre encontrei amparo e parceria nos
mais atribulados momentos no decorrer da vida acadêmica.
À Vanessa Duarte, exemplo de amizade, apoio e consideração.
Aos professores e seus ensinamentos que tornaram possível o raciocínio
jurídico e crítico que consolidaram o presente trabalho.
De forma geral a todos que contribuíram seja de forma direta ou indireta, meu
muito obrigado!...
RESUMO
O presente trabalho realiza algumas considerações sobre a possibilidade da
internação compulsória de dependentes químicos no Brasil, frente à Constituição
Federal de 1988, tendo em vista os direitos de igualdade, liberdade e dignidade
humana nessa garantidos. Inicialmente realiza-se uma abordagem das legislações
brasileiras pertinentes ao tema, bem como as modalidades de internação, quais
sejam, voluntária, involuntária e compulsória. Após a exposição de tais legislações,
as mesmas são refletidas criticamente, analisando a equiparação da dependência
química ao transtorno mental, demonstrando-se primeiramente a origem histórica da
anormalidade como construção social, conforme compreende Michel Foucault, e
como esta deveria ser analisada a fim de considerar peculiaridades específicas
pertencentes a cada indivíduo e a relação saúde/doença. A partir de tais exposições
são traçadas considerações sobre a constitucionalidade das internações e sua
aplicabilidade em face da dignidade humana no sentido que lhe dá a teoria de
Ronald Dworkin, bem como a igualdade e liberdade considerando o entendimento
de José Emílio Medauar Ommati. Por fim, diante da implementação da internação
compulsória nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, aborda-se sua aplicação
face à Lei nº 10.216/2001.
Palavras-chave: Internação compulsória. Dependência química. Igualdade.
Liberdade. Dignidade humana.
ABSTRACT
This paper does some considerations about the possibility of compulsory
hospitalization of drug addicts in Brazil, front of the Federal Constitution of 1988, in
view of the rights of equality, liberty and human dignity that guaranteed. Initially we
make an approach to the issue of the relevant Brazilian laws, as well as the
modalities of admission, which they are, voluntary, involuntary and compulsory. After
exposure of those laws, they are reflected critically, analyzing the chemical equation
of mental disorder dependence by first demonstrating the historical origin of the
abnormality as a social construct, as Michel Foucault understands, and how it should
be analyzed in order to consider specific peculiarities belonging to each individual
and relationship health / disease. From these considerations explanations about the
constitutionality of compulsory internment and its applicability in the face of human
dignity towards giving you the theory of Ronald Dworkin, as well as equality and
freedom considering the understanding José Emilio Medauar Ommati are drawn.
Ultimately, front of implementation of compulsory admission in the cities of Rio de
Janeiro and São Paulo, it approaches its application to Law No. 10.216 / 2001.
Keywords: Compulsory Internment. Chemical dependency. Equality liberty. Human
dignity.
LISTA DE SIGLAS
§ - Parágrafo
OMS - Organização Mundial de Saúde
TJ-SP – Tribunal de Justiça de São Paulo
OAB-SP Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo
MP-SP – Ministério Público de São Paulo
CRATOD - Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 19 2 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DE DEPENDENTES QUÍMICOS .................................................................................... 20 3 A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA UTILIZAÇÃO DA INTERNAÇÃO DE DEPENDENTES QUÍMICOS .................................................................................... 26 4 ANÁLISE CRÍTICA DA LEGISLAÇÃO.................................................................. 29 4.1 A dependência química é um transtorno mental? ........................................ 31 4.2 A legislação fere os direitos da igualdade, liberdade e dignidade humana do dependente químico? ............................................................................................. 37 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 50
19
1 INTRODUÇÃO
As internações de dependentes químicos constituem um tema controverso no
Brasil, isto porque parte da doutrina a entende como uma violação da liberdade
individual, a qual o Estado não possui competência para agir, tendo em vista que
não há danos a terceiros.
Ao contrário, há também entendimentos que consideram as intervenções
obrigações estatais com objetivo de resguardar os direitos de quem, em determinado
período, não possui condições de deliberar suas vontades.
O trabalho tem início com a abordagem das formas de internação com base
na legislação brasileira e a sua relação com a legislação direcionada ao modelo
assistencial em saúde mental. Diante do exposto, aborda-se a experiência brasileira
das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, as primeiras a realizarem de maneira
mais efetiva o cumprimento das internações compulsórias.
Frente à utilização da legislação que trata de transtornos psiquiátricos na
aplicação das internações, realiza-se uma análise crítica sobre a consideração da
dependência química um transtorno mental, utilizando-se para tanto, as exposições
de Michel Foucault (2010) sobre os anormais.
Partindo dessas considerações, passa-se à análise das internações e se
estas constituem lesões aos direitos constitucionalmente garantidos por nossa
Constituição Federal de 1988, frente à dignidade humana, conforme o entendimento
de Ronald Dworkin (2014), além dos direitos de igualdade e liberdade conforme o
entendimento do autor José Emílio Medauar Ommati (2014).
Por fim, demonstra-se a necessidade da utilização da internação em
determinados casos, como modo de efetivação da dignidade humana, não sendo
aceitável a mera alegação de liberdade individual ou livre-arbítrio para o afastamento
das medidas cabíveis no que tange o tratamento, cuidado, e, como último recurso, a
internação de dependentes químicos.
20
2 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DE
DEPENDENTES QUÍMICOS
A legislação brasileira acerca das internações tem início com a publicação do
Decreto Federal n° 24.559/1934 que trata da profilaxia mental, a assistência e
proteção à pessoa, aos bens dos psicopatas, a fiscalização dos serviços
psiquiátricos e dá outras providências. Conforme se vê, esta legislação apresenta
uma série de termos amplos e maleáveis, tais como: psicopatas toxicômanos e
intoxicados habituais. (JUNIOR; VENTURA, 2013).
Art. 9º Sempre que, por qualquer motivo, for inconveniente a conservação do psicopata em domicílio, será o mesmo removido para estabelecimento psiquiátrico. Art. 10. O psicopata ou o indivíduo suspeito que atentar contra a própria vida ou a de outrem, perturbar a ordem ou ofender a moral pública, deverá ser recolhido a estabelecimento psiquiátrico para observação ou tratamento. Art. 11 A internação de psicopatas toxicómanos e intoxicados habituais em estabelecimentos psiquiátricos, públicos ou particulares, será feita: a) por ordem judicial ou a requisição de autoridade policial; b) a pedido do próprio paciente ou por solicitação do cônjuge, pai ou filho ou parente até o 4º grau inclusive, e, na sua falta, pelo curador, tutor, diretor de hospital civil ou militar, diretor ou presidente de qualquer sociedade de assistência social, leiga ou religiosa, chefe do dispensário psiquiátrico ou ainda por algum interessado, declarando a natureza das suas relações com o doente e as razões determinantes da sua solicitação. § 1º Para a internação voluntária, que somente poderá ser feita em estabelecimento aberto ou parte aberta do estabelecimento misto, o paciente apresentará por escrito o pedido, ou declaração de sua aquiescência. § 2º Para a internação por solicitação de outros será exigida a prova da maioridade do requerente e de ter se avistado com o internando há menos de 7 dias contados da data do requerimento. § 3º A internação no Manicômio Judiciário far-se-há por ordem do juiz. § 4º Os pacientes, cuja internação for requisitada pela autoridade policial, sem atestação médica serão sujeitos a exame na Secção de Admissão do Serviço de Profilaxia Mental, que expedirá, então, a respectiva guia. (BRASIL, 1934).
Posteriormente, em decorrência da preocupação do Estado com o tratamento
e internação de usuários de drogas, adveio o Decreto-Lei nº. 891/1938, que
distanciou a concepção de usuário como sujeito de direitos e consolidou sua
estigmatização e estereotipização como enfermo. (JUNIOR; VENTURA, 2013).
Artigo 27. A toxicomania ou a intoxicação habitual, por substâncias entorpecentes, é considerada doença de notificação compulsória, em caráter reservado, à autoridade sanitária local. (BRASIL, 1938).
21
Deve-se observar que o decreto impossibilita a alternativa de tratamento em
domicílio (JUNIOR; VENTURA, 2013), tendo em vista que o artigo 28 do mesmo
Decreto expõe que “[...] não é permitido o tratamento de toxicômanos em domicílio.”
(BRASIL, 1938).
Ademais, a redação trazida no art. 28 do Decreto nº 891/38, revoga o artigo 9º
do Decreto n° 24.559/34, vez que os dois artigos apresentam divergência quanto à
possibilidade de tratamento em domicílio, o que impediria a vigência simultânea. O
Decreto de 1938 autoriza ainda, a internação por conveniência pública, ou seja,
ficaria a critério do Estado a opção de quem internar e de como seria realizada essa
internação, frente à ausência de parâmetros interpretativos ou hermenêuticos
plausíveis. (JUNIOR; VENTURA, 2013).
Art. 29. Os toxicômanos ou os intoxicados habituais, por entorpecentes, por inebriantes em geral ou bebidas alcoólicas, são passíveis de internação obrigatória ou facultativa por tempo determinado ou não. §1º. A internação obrigatória se dará, nos casos de toxicomania por entorpecentes ou nos outros casos, quando provada à necessidade de tratamento adequado ao enfermo, ou for conveniente à ordem pública. Essa internação se verificará mediante representação da autoridade policial ou a requerimento do Ministério Público, só se tornando efetiva após decisão judicial. (BRASIL, 1938).
No ano de 2001 entraram em vigor as considerações da Lei nº 10.216/2001
(BRASIL, 2001) que tratam da proteção e dos direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Como a
legislação brasileira não possui redações específicas sobre procedimentos inerentes
aos drogodependentes, são empregadas as concepções relativas à psiquiatria e aos
transtornos mentais. (JUNIOR; VENTURA, 2013).
O art. 6°, caput, da Lei nº 10.216/2001 expõe que a internação somente será
realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos,
posto que no parágrafo único e seus incisos I, II e III do mesmo artigo são
apresentadas as espécies de internações, senão vejamos:
Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo
médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica: I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário; II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
22
III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça. (BRASIL, 2001).
O art. 7º1 da mesma lei assevera que a internação voluntária ocorre quando o
indivíduo a solicita voluntariamente ou a consente, assinando no momento da
admissão uma declaração de que optou pelo regime de tratamento, dado que o
término ocorrerá por solicitação do paciente ou determinação do médico assistente.
(BRASIL, 2001).
A internação involuntária ocorre sem a anuência do indivíduo e a pedido de
terceiro, devendo-se atentar ao § 1° do art. 8° da Lei nº 10.216/2001 que mostra a
necessidade da internação ser relatada ao Ministério Público no prazo de setenta e
duas horas pelo responsável técnico do estabelecimento em que esteja ocorrendo à
internação, utilizando-se o mesmo procedimento na respectiva alta.
O término da internação involuntária se dará por solicitação escrita do familiar,
ou responsável legal do internado, ou ainda, quando estabelecido pelo especialista
responsável pelo tratamento, nos termos do §2° do art. 8° da Lei n° 10.216/2001.
(BRASIL, 2001).
Por fim, temos a internação compulsória que decorre de decisão judicial,
considerando as condições de segurança do estabelecimento, bem como a proteção
do paciente, demais internados e funcionários2.
Posterior à Lei nº 10.216/2001 foi editada a Lei nº 11.343 de 23 de agosto de
2006 que versa sobre a prevenção do uso indevido de drogas, atenção e reinserção
social de seus usuários e dependentes, além de possuir várias outras competências,
sem, contudo, fazer qualquer referência considerável acerca da internação de
dependentes químicos ou dos requisitos para sua ocorrência. (JUNIOR; VENTURA,
2013).
A Lei nº 11.343/2006 modifica o sistema das internações psiquiátricas, tendo
em vista as legislações do início do século, fazendo com que o atendimento seja
1 Art. 7 - A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar, no
momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento. Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou por determinação do médico assistente. (BRASIL, 2001). 2 Art. 9
o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz
competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários. (BRASIL, 2001).
23
realizado em comunidade, afastando a exclusão através de controle legal. (JUNIOR;
VENTURA, 2013).
Isto posto, a mesma não trata de “psicopatas toxicômanos” (como o Decreto
Federal nº 24.559/1934) e não faz menção a “intoxicados habituais”. Esta apresenta
ambulatórios especializados (Centros de Atenção Psicossocial – CAPS) com
objetivo de por fim ao modelo asilar dos hospitais psiquiátricos. (JUNIOR;
VENTURA, apud DANTAS, 2013, p. 273).
Conforme exposto, há uma lacuna legislativa na Lei nº 11.343/2006, motivo
pelo qual tramita no Senado o Projeto de Lei nº 7.663/2010, visando a inclusão do
art. 23A à respectiva lei, nos termos a seguir expostos:
Art. 11. Inclua-se o seguinte art. 23-A à Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006: “Art. 23-A A internação de usuário ou dependente de drogas obedecerá ao seguinte: I – será realizada por médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina (CRM) do Estado onde se localize o estabelecimento no qual se dará a internação e com base na avaliação da equipe técnica; II – ocorrerá em uma das seguintes situações: a) internação voluntária: aquela que é consentida pela pessoa a ser internada; b) internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e c) internação compulsória: aquela determinada pela Justiça. § 1º A internação voluntária: I – deve ser precedida da elaboração de documento que formalize, no momento da admissão, a vontade da pessoa que optou por esse regime de tratamento; e II – seu término dar-se-á por determinação do médico responsável ou por solicitação escrita da pessoa que deseja interromper o tratamento. § 2º A internação involuntária: I – deve ser precedida da elaboração de documento que formalize, no momento da admissão, a vontade da pessoa que solicita a internação; e II – seu término dar-se-á por determinação do médico responsável ou por solicitação escrita de familiar, ou responsável legal. § 3º A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente. § 4º Todas as internações e altas de que trata esta Lei deverão ser registradas no Sistema Nacional de Informações sobre Drogas às quais terão acesso o Ministério Público, Conselhos de Políticas sobre Drogas e outros órgãos de fiscalização, na forma do regulamento. § 5º É garantido o sigilo das informações disponíveis no sistema e o acesso permitido apenas aos cadastrados e àqueles autorizados para o trato dessas informações, cuja inobservância fica sujeita ao disposto no art. 39-A desta Lei. § 6º O planejamento e execução da terapêutica deverá observar o previsto na Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.”(BRASIL, 2010).
24
Não houve alterações nos requisitos da internação em relação à redação dos
artigos 6º, 7º e 9º da Lei nº 10.216/2001, quando comparados ao art. 11 do Projeto
de Lei nº 7.663/2010, podendo-se indicar apenas o acréscimo de procedimentos, tal
como, a necessidade de inscrição do médico no CRM do Estado onde se localiza o
estabelecimento onde ocorrerá a internação, conforme inciso I do art. 23A.
Ademais, o Projeto de Lei incluiu também a necessidade de registro das
internações e altas no Sistema Nacional de Informações sobre Drogas, as quais
terão acesso o Ministério Público, Conselhos de Políticas sobre Drogas e órgãos de
fiscalização, nos termos do §4° do art. 23A, bem como a garantia de sigilo das
informações disponíveis no sistema e o acesso permitido apenas aos cadastrados e
autorizados para o trato das informações, sob pena de sujeição ao art. 39A da
mesma lei, nos termos do art. 23A, §5°.
Não obstante as semelhanças com a Lei 10.216/2001, o Projeto de Lei nº
7.663/2010 foi criticado no aspecto em que visa à relativização do conceito de
usuário e dependente químico, ao passo que almeja a internação de usuários (art.
11 do Projeto de Lei) permitindo assim, que os mesmos também sejam internados
contra sua vontade, além de não demandar a necessidade do noticiamento das
internações voluntárias e involuntárias, conforme fora estabelecido no §1° do art. 8°
da Lei 10.216/2001. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2014)
Frente às legislações apresentadas no âmbito da internação de dependentes
químicos, cabe analisar se a determinação de um tratamento médico compulsório
ocasiona uma transgressão da liberdade individual, intimidade e vida privada, diante
do fato da intervenção do Estado sobre indivíduos de condutas que não danificam
concretamente bens jurídicos de terceiros. (KARAM, 2010).
Ou ainda, se o ato de internar compulsoriamente não emana da própria
dignidade humana, que segundo o autor Ronald Dworkin citado por José Emílio
Medauar Ommati, “[...] teria duas dimensões: a primeira ressalta a igual importância
que todos temos que assegurar a toda e qualquer vida; a segunda ressalta a ideia
de responsabilidade individual”. (DWORKIN apud OMMATI, 2014, p. 31)
Desta forma, Ronald Dworkin, novamente citado por José Emílio Medauar
Ommati, revela que “[...] o Estado de Direito visa assegurar que somos governados
por nós mesmos e não pelos caprichos de quem quer se seja. Fundamos, assim, um
25
autogoverno coletivo, baseado no igual respeito e consideração por todos”.
(DWORKIN apud OMMATI, 2014, p.19).
26
3 A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA UTILIZAÇÃO DA INTERNAÇÃO DE
DEPENDENTES QUÍMICOS
No ano de 2012, o município do Rio de Janeiro passou a exercer uma política
que tornou possível o recolhimento compulsório de dependentes de crack para
tratamento, sendo que o mesmo ocorreu posteriormente na cidade de São Paulo.
(KELTER; SILVA, 2013).
No Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Assistência Social constituiu a
medida de internação compulsória de crianças e adolescentes que, na análise de
especialistas, se encontravam vulneráveis em função da dependência química. A
medida foi fundamentada na Resolução nº 20, de 27 de maio de 2011, publicada
após várias ações civis públicas interpostas pelo Ministério Público, que suscitaram
ao Município a adoção de medidas protetivas às crianças e adolescentes que viviam
nas ruas. (SILVA, 2013).
Entretanto, tal finalidade protetiva em favor dos dependentes químicos restou
prejudicada, tendo em vista que a legislação é contraditória e torna possível o
nascimento de uma gama de disposições repressivas. (JUNIOR; VENTURA, 2013).
Destarte, a Resolução nº 20, de 27 de maio de 2011 é pautada na
discricionariedade, maleabilidade e legitimação do controle estatal sobre as pessoas,
ao passo que estabelece o “abrigamento compulsório”. (JUNIOR; VENTURA, 2013).
Resolução SMAS nº 20 de 27 de maio de 2011 Art. 5º - São considerados procedimentos do Serviço Especializado em Abordagem Social, devendo ser realizados pelas equipes dos CREAS/Equipe Técnica/Equipe de Educadores: V - oferecer o abrigamento e fazer contato com as Centrais de Recepção para os devidos encaminhamentos; XV - respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional. [...] Art. 7º- São atribuições da equipe de educadores sociais do Serviço Especializado em Abordagem Social: Parágrafo Único- Fica aqui estabelecido que crianças e adolescentes que estiverem em situação de rua, abandono e em risco eminente, deverão ser abrigados, imediatamente, com segurança , devendo o responsável pelo estabelecimento do abrigamento intervir com as ações planejadas, no primeiro dia útil seguinte, se prejuízo do cumprimento dos §§ 2º e 3º do art. 5º desta Resolução. (RIO DE JANEIRO, 2011).
27
Essa resolução vem sendo aplicada especialmente em crianças e jovens
menores de 18 anos que ficam vulneráveis a sua finalidade, designada pela
prefeitura do Rio de Janeiro como “Sistema de abrigamento compulsório”,
excedendo os casos de dependência de drogas e alcançando todo e qualquer
menor que se ajuste ao flexível conceito de “situação de rua, abandono e em risco
eminente”. (JUNIOR; VENTURA, 2013)
Diante do total desrespeito à Lei nº 10.216/2001 que institui a internação
compulsória, não deve ser admissível a aplicação desta resolução, tendo em vista
que a mesma desconsidera o mínimo exigido, qual seja a existência de laudo
médico que a legitime. Seria fundamental, para uma melhor análise do caso
concreto, a consideração de características que ultrapassam apenas o âmbito
médico, atentando as particularidades do indivíduo e não aplicando as internações a
qualquer um, sob o pretexto que o mesmo se encontra nas ruas.
No caso das internações ocorridas em São Paulo, foi firmado um termo de
cooperação técnica com o Tribunal de Justiça do estado (TJ-SP), Ministério Público
(MP-SP) e a seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), a fim de
possibilitar a internação de dependentes químicos em casos avaliados graves de
maneira ágil. (SILVA, 2013).
O programa agrupa no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras
Drogas (Cratod), juízes, promotores e advogados. O CRATOD3 é acessível todos os
3 Artigo 3º - O Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas tem por finalidades:
I - constituir-se em referência para a definição de políticas públicas para promoção de saúde, prevenção e tratamento dos transtornos decorrentes do uso indevido de álcool, tabaco e outras drogas; II - desenvolver conhecimento e tecnologia voltados ao enfrentamento: a) dos problemas causados à saúde, relacionados ao uso indevido de álcool, tabaco e outras drogas; b) de outros transtornos compulsivos, dentre os quais os alimentares e sexuais; c) de outros transtornos causados por álcool, tabaco e outras drogas no período da adolescência; III - prestar assistência médica intensiva e não intensiva a pacientes com transtornos decorrentes de álcool, tabaco e outras drogas, nas diversas faixas etárias, incluindo o período de adolescência; IV - elaborar, promover e coordenar programas, cursos, projetos de capacitação, treinamento ou aperfeiçoamento de recursos humanos, em consonância com a especificidade do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas; V - contribuir para formação e desenvolvimento de recursos humanos especializados; VI - desenvolver programas especiais de educação preventiva e promover campanhas educativas e de informação à população; VII - orientar as organizações de apoio, quanto aos aspectos assistenciais e psicossociais; VIII - atuar de forma articulada e integrada com as demais unidades pertencentes ao Sistema Único de Saúde - SUS, bem como com entidades públicas e privadas; IX - desenvolver e avaliar processos de investigação e pesquisa científica e criar mecanismos para a sua divulgação; X - propor e executar as ações de vigilância epidemiológica;
28
dias, 24 horas, e tem em sua equipe médicos, psicólogos e assistentes sociais. Esta
cooperação pretende acelerar a condução ao tratamento apropriado dos
dependentes químicos, considerando a avaliação médica e multiprofissional,
abarcando internações em serviços hospitalares, considerando a legislação vigente.
(SILVA, 2013).
O programa paulista mostra-se pertinente e adequado, visando a atenção aos
dependentes químicos, ao passo que pondera sobre as condições alheias as
médicas, correspondendo também aos termos da Lei nº 10.216/01, diferentemente
da Resolução nº 20, de 27 de maio de 2011, que apresenta características
extremamente discriminatórias.
A internação é uma fase considerada indispensável, um meio que não pode
ser abandonado em determinada fase do tratamento. Mas há a necessidade de
continuidade do tratamento após a alta. Este, indubitavelmente, é o maior obstáculo.
A divisão da família e o preconceito social, diversas vezes, impossibilitam o
prosseguimento do tratamento e isto é intensamente nocivo. (COSTA, Ileno Izídio
da, 2013).
A dependência química é um procedimento de tratamento terapêutico que
deve possuir métodos distintos, conforme as condições individuais. É necessário que
nos tratamentos, as famílias sejam informadas e, mais que isso, sejam utilizadas no
procedimento de restabelecimento e acompanhamento. (COSTA, Ileno Izídio da,
2013).
É essencial, quando da apreciação sobre a interpretação e da adoção da Lei
nº 10.216/01, que se entenda a indispensabilidade do enfrentamento pelo Estado
contra tão séria e crescente circunstância de pessoas em dependência química,
através de políticas que privilegiem medidas duradouras e que combatam de fato, os
reais elementos determinantes. Do contrário, o tratamento se reduzirá à clara e pura
realização de medidas definitivamente incompetentes e paliativas. (COELHO;
OLIVEIRA, 2014).
XI - estabelecer parcerias com universidades para consolidação e validação de tecnologia e com organizações nacionais e internacionais para intercâmbio de experiências; XII - proporcionar campo de treinamento e estágio adequado nos programas de prevenção e controle de álcool, tabaco e outras drogas.
29
4 ANÁLISE CRÍTICA DA LEGISLAÇÃO
Devemos considerar que a constatação do uso indevido de drogas é fator de
interferência na qualidade de vida do indivíduo, bem como na relação com a
comunidade à qual pertence, nos termos do art. 19, I da Lei 11.343/06. (BRASIL,
2006).
Na prática do consumo abusivo de drogas, nos deparamos com usuários
contumazes, doentes mentais, pequenos traficantes, vulneráveis, crianças e
adolescentes, devendo-se considerar que cada um destes necessita de avaliações,
abordagens e tratamentos diferentes entre si. (COSTA, Ileno Izídio da, 2013).
Diante do uso excessivo, ocorre uma dupla vitimização: por um lado
encontramos o viciado, subordinado pelo descontrolado desejo de consumo, que
consequentemente, torna-se um delinquente; e os inocentes, que por infortúnio,
acabam cruzando seu caminho durante uma determinada ação criminosa. (CAPEZ,
2011).
O autor Michel Foucault (2010) expõe que desde o Código Penal Francês de
1810, mais precisamente em seu art. 64, já não era considerado crime ou delito
acaso o sujeito se encontrasse em condição de insanidade na ocasião do crime.
Assim, o exame médico-legal deve proporcionar uma divisão:
Uma demarcação dicotômica entre doença e responsabilidade, entre causalidade patológica e liberdade do sujeito jurídico, entre terapêutica e punição, entre medicina e penalidade, entre hospital e prisão. É necessário optar, porque a loucura apaga o crime, a loucura não pode ser o lugar do crime e, inversamente, o crime não pode ser, em si, um ato que se arraiga na loucura. Princípio da porta giratória: quando o patológico entra em cena, a criminalidade, nos termos da lei, deve desaparecer. A instituição médica, em caso de loucura, deve tomar o lugar da instituição judiciária. (FOUCAULT, 2010, p.27).
Michel Foucault (2010) versa também sobre a maneira como o poder se
exerce acerca dos dementes, dos indivíduos que sofrem de alguma patologia, dos
delituosos, dos desviantes, dos infantes e dos necessitados. Apresentam-se
geralmente consequências e estruturas de poder que se desempenham em face
destes como recursos e consequências de supressão, de depreciação, de
banimento, de desaprovação, de escassez, de renúncia, de insciência; isto é, um
completo conjunto de noções e estruturas negativas de exclusão.
30
Entretanto, a dependência química não deve ser entendida com base apenas
em suas características penais ou patológicas, mas sim na busca da percepção de
seus fatores sociais, na clareza da relação saúde/doença envolta, na utilização de
determinada substância, causando com isso, a dependência, sendo necessárias
análises que superam os estereótipos sociais, objetivando a constituição de políticas
públicas de inclusão.
O debate sobre as drogas demanda também medidas objetivas, com vontade
política, atenção social e equipamentos de saúde apropriados ao processo de
acompanhamento do dependente químico. (COSTA, Ileno Izídio da, 2013).
Ao passo que o instituto trazido no art. 6°4 de nossa Constituição Federal de
1988 deveria ser aplicado de forma mais eficaz, no que tange ao direito social de
assistência a saúde, bem como o emprego do art. 1965 da mesma Carta, que aponta
especificamente o papel reservado ao Estado no que concerne à assistência a
saúde, podendo-se alegar inclusive, ser este o principal direito fundamental social
trazido em nossa Constituição. (COSTA, Ileno Izídio da, 2013).
Além disso, a internação compulsória nunca deve ser utilizada a fim de
dispensar os demais encargos, jamais devendo ser empregada como réplica única a
complexidade do tema.
Assim, a internação, independentemente da espécie, apenas será empregada
quando os recursos extra-hospitalares se revelarem ineficazes, conforme o art. 4º da
Lei 10.216/2001, tendo em vista a finalidade permanente (§ 1º), de reinserção social
do dependente em seu meio, devendo o modelo de internação ser constituído (§ 2º)
de maneira que proporcione amparo absoluto ao indivíduo, abarcando benefícios
médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, dentre outros.
(COSTA, Ileno Izídio da, 2013).
O art. 6º da mesma lei trata da internação psiquiátrica, mostrando que esta
“[...] somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize
os seus motivos” (BRASIL, 2001), deve-se compreender que o objetivo de toda
4 Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 1988).
5 Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).
31
internação é intervir no transtorno e contê-lo, a fim de estabilizar os pacientes
gravemente doentes, garantindo a sua segurança e das outras pessoas. (COSTA,
Ileno Izídio da, 2013).
4.1 A dependência química é um transtorno mental?
A Lei nº 10.216/2001, conforme já mencionado, se destina à assistência e
direitos dos indivíduos portadores de transtornos mentais e desvia o modelo
assistencial em saúde mental, contudo, não se refere claramente aos
drogodependentes, toxicômanos ou adictos, mas ainda sim é aplicada tendo em
vista que a atual lei de drogas não faz nenhuma referência significativa sobre as
internações. (JUNIOR; VENTURA, 2013).
Perante tais considerações, é necessário examinar se a dependência química
realmente constitui um transtorno mental, podendo ser diagnosticada ou se houve
apenas uma ampliação da competência desta lei em face da lacuna legislativa
correspondente à internação dos drogodependentes.
Sobre o transtorno mental, o autor Michel Foucault realiza uma análise
histórica sobre o indivíduo anormal através de três modelos, sendo que estes
começam a se definir e diferenciar a partir do século XVIII quando seu estudo tem
início. (FOUCAULT, 2010)
O primeiro deles é denominado monstro humano e possui como
correspondência a lei, sendo formado não somente pela transgressão das leis, mas
como uma vinculação as leis da natureza, seu surgimento se dá no âmbito jurídico-
biológico. O monstro contraria a lei, ele é a infração, ao passo que não enseja uma
conclusão legal, ele encontra-se fora da lei, sendo considerado o aspecto natural da
contranatureza.
O segundo modelo é denominado indivíduo a ser corrigido, encontrado
especificamente nos séculos XVII e XVIII, seu aparecimento se deu na família e seu
entorno. O indivíduo a ser corrigido tem como principal característica o fato de ser
incorrigível, necessitando de determinadas assistências específicas em volta deste,
também sendo necessárias modificações nos métodos familiares, educação e
correção.
32
Quanto ao terceiro modelo, o masturbador, é uma espécie encontrada no fim
do século XVIII, sendo que sua presença se deu na família, como um espaço mais
restrito que os anteriores. Este ocorre e surge no pensamento, no conhecimento e
nos métodos pedagógicos, como um sujeito corriqueiro, ao passo que a realização
da masturbação é comum, como segredo partilhado, sobre a qual ninguém revela a
ninguém. Essa prática é disposta como o possível motivo, e até mesmo como motivo
legítimo de praticamente todas as desgraças imagináveis, onde os médicos do
século XVIII conectam as patologias corporais, nervosas e psíquicas. (FOUCAULT,
2010).
Identificando a arqueologia da anomalia, o anormal é progênito de um desses
três indivíduos, monstro, incorrigível ou masturbador, sendo que a linhagem do
sujeito anormal remete a qualquer destas. (FOUCAULT, 2010).
Ademais, Michel Foucault (2010) declara também que a psiquiatria,
constituída no final do século XVIII e começo do século XIX, não se classificou como
parte da medicina, mas como área específica de higiene pública, como atribuição da
proteção social contra os riscos das doenças, ou do que pode-se considerar direta
ou indiretamente a patologia, ocasionada à sociedade.
Como forma de providência social a psiquiatria se institucionalizou, como
instituto de conhecimento, sendo necessário para tanto, a realização de duas
consolidações concomitantes, tornar a loucura uma moléstia, fazendo com que seus
transtornos, falhas e alucinações tivessem caráter patológico, além de firmar a
loucura como ameaça, para que com isso pudesse subsistir como higiene pública.
(FOUCAULT, 2010).
Posteriormente, Michel Foucault identifica que quando a loucura se mostra
como procedimento do anormal, das circunstâncias anormais definidas
hereditariamente pela linhagem do sujeito, entende-se que a concepção de curar
não tem coerência. Desta forma, a acepção terapêutica não faz sentido, tendo em
vista o teor patológico da psiquiatria, sendo que esta não visa mais
fundamentalmente a cura, passando apenas à salvaguarda da sociedade, frente os
riscos dos sujeitos que se encontram em estado anormal, possuindo competência
somente de proteção e ordem. (FOUCAULT, 2010).
A psiquiatria visa assumir a competência da própria justiça; não somente no
que tange a higiene pública, mas também de grande parte das manipulações e
33
domínios da sociedade, como empenho comum de proteção da mesma, frente às
ameaças que a afligem de seu interior.
Neste ambiente, a psiquiatria cria o que Michel Foucault (2010) denomina
como racismo:
O racismo que nasce na psiquiatria dessa época é o racismo contra o anormal, é o racismo contra os indivíduos, que, sendo portadores seja de um estado, seja de um estigma, seja de um defeito qualquer, podem transmitir a seus herdeiros, da maneira mais aleatória, as consequências imprevisíveis do mal que trazem em si, ou antes, do não normal que trazem em si. É portanto um racismo que terá por função não tanto a prevenção ou a defesa de um grupo contra outro, quanto a detecção, no interior mesmo de um grupo, de todos que poderão ser efetivamente portadores do perigo. (FOUCAULT, 2010, p. 277)
Este novo racismo, denominado neoracismo, advindo da psiquiatria, é
correspondente ao século XX, como forma de proteção interior da sociedade frente
seus anormais. (FOUCAULT, 2010).
Contemporaneamente, a dependência em drogas é mundialmente identificada
em meio aos transtornos psiquiátricos, sendo declarada uma patologia crônica que
segue o indivíduo por toda a sua vida; entretanto, há possibilidade de ser cuidada e
controlada, diminuindo seus sintomas, modificando-se, os momentos de controle dos
mesmos e de regresso da sintomatologia (AGUILAR & PILLON; LEITE apud
PRATTA; SANTOS, 2009).
Nota-se que a presente caracterização da anormalidade como patologia
decorreu da psiquiatria, ao passo que esta pretendia através da estigmatização dos
indivíduos diferentes ou portadores de quase toda espécie de deficiência ou
imperfeição, sua retirada do convívio social de modo justificado e legitimado.
Forçoso concluir que, contemporaneamente, a dependência química não
deve se limitar a mera caracterização patológica, sob pena de realizar-se um
tratamento inadequado que restará inútil. É necessário compreender que os
indivíduos drogodependentes devem ser atendidos de formas diferentes,
considerando suas particularidades, condições sociais e o meio ao qual o mesmo
está inserido, afastando-se a generalização do transtorno mental.
Fazem-se necessárias intervenções objetivas quando do tratamento com
laudos médicos fundamentados, bem como a consideração da dependência no
contexto saúde/doença e social do indivíduo. (PRATTA; SANTOS, 2009).
34
Ainda no século XX, a compreensão reducionista de patologia se concentra
no âmbito biológico, omitindo-se a análise de diversos aspectos pertinentes que
teriam a capacidade de intervir na mesma. Já no contexto da especialização, temos
um verdadeiro fracionamento do corpo que modifica o caráter patológico, ao passo
que cada fração precisa ser zelada conforme um determinado conhecimento da área
de especialistas, deixando-se de considerar apenas o caráter biológico, mas
podendo-se avaliar o social, o psicológico e demais campos pertinentes.
Essa perspectiva proporciona consequências claras na relação do profissional
com o paciente, que deverá ser assistido pelo profissional de saúde em sua
conjuntura, como somente um sintoma que presta conexão com uma enfermidade.
(PRATTA; SANTOS, 2009).
É pertinente a compreensão do entendimento da Organização Mundial de
Saúde citada pelos autores Elisângela Maria Machado Pratta e Manoel Antônio dos
Santos (2009, p. 208) sobre a dependência química, senão vejamos:
A OMS (2001) destaca ainda, que a dependência química deve ser tratada
simultaneamente como uma doença médica crônica e como um problema
social. Pode ser caracterizada como um estado mental e, muitas vezes,
físico que resulta da interação entre um organismo vivo e uma droga,
gerando uma compulsão por tomar a substância e experimentar seu efeito
psíquico e, às vezes, evitar o desconforto provocado por sua ausência.
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE apud PRATTA; SANTOS, 2009, p.
39)
Ademais, deve-se atentar que nem toda utilização de substância psicoativa
corresponde à dependência química, nos termos trazidos pela Organização Mundial
de Saúde (2001):
A síndrome de dependência envolve desejo pronunciado de tomar a substância, dificuldade de controlar o uso, estados de supressão fisiológica, tolerância, diminuição ou abandono da participação noutros prazeres e interesses e uso persistente não obstante os danos causados ao próprio e aos outros. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2001, p. 70)
Neste sentido, não deve ser defendida a possibilidade da redução da
liberdade de usuários de drogas em todos os casos, tendo em vista a existência de
indivíduos que permanecem exercendo suas atividades convencionais, além do fato
de o vínculo dos indivíduos com a droga ser desigual, pois fazer uso de um
35
medicamento para dormir e os dependentes que vivem em uma cracolândia têm
grau de utilização, submissão e comportamentos aos efeitos da droga totalmente
diferentes.
Assim, a internação somente será dirigida aos casos em que a utilização da
droga excede a noção de mero uso para se tornar vício em que o indivíduo não
consegue mais gerir-se, convertendo-se em verdadeiro subordinado pela utilização
sucessiva de determinada droga. (COSTA, Jessica Hind Ribeiro, 2013).
Não obstante o entendimento da Organização Mundial de Saúde ao
considerar o uso de drogas, em especial a dependência química um transtorno
mental, deve-se atentar aos aspectos pautados na área da saúde, o que torna
indispensável à consideração dessa ocorrência no campo da saúde e da doença,
vigentes no decorrer da história do homem, assim como na atualidade. (PRATTA;
SANTOS, 2009).
Discorrer a respeito da saúde não é somente confrontar a doença, tendo em
vista que a saúde é algo mais vasto e complexo, não estando sujeita apenas e
unicamente ao âmbito biológico. Ao se tratar do binômio saúde/doença, é essencial
que estes sejam percebidos como procedimentos diligentes que se realizam em todo
lugar considerando múltiplos elementos correspondentes a circunstância humana.
(PRATTA; SANTOS, 2009).
Faz-se necessária a observação dos vários aspectos pautados e
determinantes ao diagnóstico da dependência química. Assim, a mera classificação
discriminatória social não deve subsistir, tendo em vista que esta agrava a situação
dos indivíduos, dificultando o acesso a condições mínimas de trabalho, habitação,
dentre outras. Assim, as políticas de inclusão social, como emprego e formação
profissional são essenciais, vez que oferecem uma saída aos dependentes,
indicando a possibilidade de vida próspera longe das drogas.
Dessa forma, o anormal mencionado por Michel Foucault (2010) como mera
produção social pautado no higienismo deve ser afastado, visando uma análise
adequada de todos os elementos que constituem e são caracterizadores da
dependência química de determinado indivíduo, para que assim, haja a possibilidade
de realização do tratamento adequado, superando a mera caracterização neoracista
da anomalia e a internação desnecessária em qualquer de suas modalidades.
36
É indiscutível a correspondência entre a saúde/doença, tendo em vista seus
elementos psicológicos, sociais, políticos, econômicos e ambientais, devido às
interferências impróprias que o ambiente efetua na oportunidade do sujeito
conservar sua saúde. (ROSA, CAVICCHIOLI & BRÊTAS apud PRATTA; SANTOS,
2009)
Além do que, é necessário tomar um ponto de vista amplo e diligente,
considerando o processo saúde/doença como um elemento histórico e
multideterminado. Referindo-se inevitavelmente ao arquétipo biopsicossocial, que
leva a ideia de conexão, apreciando a saúde como uma produção social, possuindo
afinidade com a área biológica, mas que está sujeita também a uma cadeia de
outros categóricos sociais que estão presentes na vida de cada indivíduo, como
cultura, lazer, transporte, alimentação, educação, trabalho, saneamento básico
dentre outros. (MENDES apud PRATTA; SANTOS, 2009).
Abordar o tema da utilização excessiva de substâncias psicoativas e a
dependência que pode surgir em determinadas circunstâncias, alude debater não
somente temas orgânicos e psicológicos, mas da mesma forma temas sociais,
políticos, econômicos, legais e culturais correspondentes a esse fato, além dos
resultados físicos, psíquicos e sociais do mesmo. (OCCHINI & TEIXEIRA apud
PRATTA; SANTOS, 2009).
A clareza desses fatos é basilar para se ponderar quanto ao tratamento e
cuidado, especialmente quanto à eficiência dos mesmos, pois a ciência fornecida
sobre o fenômeno da drogadição não deve ser separada do âmbito mais aberto no
qual são determinadas os aspectos que amparam e estabelecem a existência social,
dando significação aos atos humanos. (PRATTA; SANTOS, 2009).
Deste modo, a observância das características pertencentes ao dependente
químico é de suma importância ao seu tratamento, bem como para que sejam
criadas políticas públicas que realizem de forma efetiva a inclusão social de
determinada população, visando o distanciamento dos indivíduos através da
informação, educação, esporte dentre outros meios sociais. Afinal, descobrir as
necessidades de determinada comunidade e supri-las é muito mais eficiente do que
qualquer tratamento ao dependente químico.
37
4.2 A legislação fere os direitos da igualdade, liberdade e dignidade humana do
dependente químico?
Fundamentando-se na legislação brasileira pertinente à internação de
dependentes químicos, bem como na discussão sobre a dependência química
enquanto transtorno mental, resta analisar se as aplicações de tais institutos ferem
direitos constitucionalmente garantidos aos indivíduos pelo Estado Democrático de
Direito6.
A questão é conflituosa, ao passo que parte da doutrina entende que o
dependente químico é sujeito de direitos, devendo estes serem considerados assim
como suas garantias fundamentais, dignidade da pessoa humana e o direito de não
ter retirada sua liberdade, senão em flagrante crime ou determinação judicial escrita
e motivada (com normas vigentes, que integram princípios constitucionais e sejam
características no tratamento e garantam a redução de danos e o proibicionismo).
(JUNIOR; VENTURA, 2013).
No mesmo sentido, encontramos a internação como ofensa aos direitos
garantidos constitucionalmente, como transgressão ao princípio da legalidade, art.
5°, inciso II de nossa Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), que assegura
que “ninguém poderá ser obrigado a fazer ou deixar de fazer coisa alguma senão
em virtude da lei”. Assim, a supressão da liberdade sem razão legítima, ordem
judicial (internação involuntária), assentimento ou escolha do indivíduo,
caracterizaria ofensa ao princípio da legalidade e transgressão ao direito a liberdade
de ir e vir. (COSTA, Ileno Izídio da, 2013).
A autora Maria Lúcia Karam evidencia que a racionalidade, imprescindível às
ações do governo em um Estado Democrático, não se ajusta aos bloqueios e
empecilhos lançados a vontade e direitos dos possuidores dos direitos que motivam
a tutela jurídica. (KARAM, 2011)
6 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. (BRASIL, 1988).
38
Desta forma, Maria Lúcia Karam esclarece que:
Toda intervenção estatal supostamente dirigida à proteção de um direito contra a vontade do indivíduo que é seu titular se torna absolutamente inconciliável com a própria ideia de democracia, pois impede que o indivíduo tenha a opção de não fazer uso dele ou de renunciar a seu exercício, assim excluindo sua capacidade de escolha. (KARAM, 2011, p. 5).
Assim sendo, o Estado Democrático não deve sobrepor o sujeito nas
deliberações correspondentes exclusivamente a ele mesmo. Ao sujeito deve ser
oferecida a liberdade de tomar decisões, mesmo que esta possa ter como
consequência uma perda ou um prejuízo, ainda que essa perda ou prejuízo tenha
um resultado irreparável. (KARAM, 2011).
Ainda sob este ponto de vista, há doutrinadores contrários à internação
compulsória, utilizando o argumento de que esta fere os direitos constitucionais
quanto à liberdade de escolha do cidadão, servindo como um disfarce para os
interesses econômicos e políticos conexos ao antigo método higienista7, isto é,
considera-se uma maneira de remover os indivíduos da rua e acrescer as
desigualdades sociais, não possuindo caráter de legítimo cuidado. (SILVA, 2013).
Assim, o proibicionismo, segundo estes posicionamentos, não deve sobrepor
à dignidade humana. O Estado necessita, no afrontamento das drogas, preferir as
políticas que protejam os direitos e garantias dos indivíduos e não os meios que
tendam ao cerceamento da liberdade, a restrição de direitos e o extermínio da
subjetividade e individualidade do sujeito. (JUNIOR; VENTURA, 2013).
A autora Ana Cristina Ferreira Silva (2013) enuncia que é necessária a
intercessão pelos drogodependentes, mas esta não deve ocorrer de qualquer forma
e a qualquer custo. Toda espécie de procedimento com objetivo de tratamento deve
ser avaliada e apoiada em garantias mínimas, ao passo que o contrário se revelará
como mera política de limpeza urbana e segregação, com absoluta ofensa à
liberdade do cidadão.
7 Em nosso país, o higienismo nasceu no fim do século XIX e começo do século XX, como
oportunidade de melhora das condições de saúde geral dos cidadãos, contudo foi considerado um movimento social dirigido pelas classes dominantes, com finalidades ideológicas, políticas e econômicas. Ele destina-se a solucionar problemas pautados na miséria, moradia, desemprego, alcoolismo e as epidemias de tuberculose, varíola, febre amarela, dentre outras, que afligiam o país na época, e acarretavam problemas para a economia agroexportadora. (SILVA, 2013, p.148).
39
Desta forma, na oposição de interesses e princípios, a sugestão de internação
tem de possuir como fins principais a dignidade, o bem estar e recuperação do
dependente. (SILVA, 2013).
Isto posto, a internação compulsória seria constitucional ao estabelecer a
necessidade de autorização judicial que a determine, ao passo que é essencial que
o Estado não permita que pessoas dependentes de drogas fiquem vulneráveis,
devendo agir em determinados casos, cautelarmente, resguardando a integridade
dos que não podem mais deliberar sua vontade e que se encontram em perigo
iminente. (KELTER; SILVA, 2013).
Para uma melhor compreensão da constitucionalidade de tal instituto, faz-se
necessária a abordagem da constitucionalidade da internação dos dependentes
perante os direitos de igualdade, legalidade e dignidade da pessoa humana.
O autor Ingo Wolfgang Sarlet (2012) explica que a dignidade humana possui
um caráter dúplice ao passo que respectivamente é a liberdade do indivíduo
(deliberações fundamentais sobre sua própria vida), além da imprescindibilidade de
sua custódia, tanto por parte da sociedade, quanto do Estado, principalmente em
momento que não haja condições de autodeterminação.
Para analisar o tema da dignidade humana, o autor Ronald Dworkin citado por
José Emílio Medauar Ommati (2014) inclui nesta os conceitos de ética, moral, moral
política e direito.
Ronald Dworkin, novamente citado por José Emílio Medauar Ommati, mostra
que a ética é considerada a procura da felicidade, enquanto que as perguntas que
esta levanta, tais como, o que é uma vida boa ou o que um indivíduo deve aos
outros? As respostas se encontram no ramo da moral, ao passo que ninguém vive
solitariamente e é impossível buscar a felicidade diante da ausência de
relacionamento com os demais sujeitos integrantes da sociedade. (DWORKIN apud
OMMATI, 2014)
Cada competidor deve ficar em sua raia (domínio da Ética); contudo, em algumas situações, ele é compelido a atravessar sua raia e interferir na raia do outro competidor. No entanto, essa interferência apenas é justificável se for para tentar ajudar o outro competidor, de modo a não prejudicar nenhum dos dois (domínio da Moral). (OMMATI, 2014, p. 33).
Deste modo, Ronald Dworkin (2014) ao tratar do conceito de bem viver
mostra que o mesmo possui dois princípios basilares, o primeiro é o princípio de
40
respeito por si mesmo, cada indivíduo deve considerar sua própria vida, deve
compreender que é de suma importância que sua existência seja uma realização
bem-sucedida, e não uma oportunidade perdida.
O segundo princípio tratado por Dworkin é a autenticidade, cada pessoa tem
um encargo individual e específico de reconhecer quais devem ser os parâmetros de
êxito em sua própria vida; tem o dever pessoal de instituir essa vida por meio de
uma história ou de um modo coeso com os quais ela mesma consinta. (DWORKIN,
2014)
Ademais, o respeito por si mesmo se fundamenta no dever de identificar a
consideração objetiva do bem viver, ou seja, admitir que seria um erro não se
empenhar em seu modo de vida. Contudo, o respeito por si mesmo que a dignidade
demanda não é o respeito de apreciação, mas o respeito de reconhecimento - a
consciência de que as atitudes e as práticas têm importância - que a infelicidade
frente a quem a pessoa se tornou e o que praticou recebe significado.
Sobre o segundo princípio da dignidade Ronald Dworkin exibe que a
autenticidade é o outro lado pertencente ao respeito por si mesmo. Ao considerar-se
seriamente, o indivíduo percebe que viver bem constitui o ato de manifestar-se em
sua vida, procurar por atitudes de viver que lhe aparentem mais adequadamente
certas para si e suas situações. O essencial não é possuir um estilo de vida distinto
dos outros, mas viver conforme seu cenário e utilizando valores que lhe aparentem
apropriados, e não de modo contrário ao dessas coisas. (DWORKIN, 2014)
Além disso, Dworkin (2014) expõe que a autenticidade não implica em um
planejamento detalhado ou um curso delineado na juventude. Todos têm a
capacidade de encontrar um caráter ou um estilo enquanto vivem, analisando ações
na medida em que são efetuadas, não acompanhando uma linha, mas buscando-a.
Não obstante, a autenticidade dispõe de outra característica: determina as
demandas que a dignidade atribui nas relações com outros indivíduos. Há a
necessidade de se obter a independência. Porém, isso não indica buscar resistir à
influência ou a persuasão. Não há a possibilidade de criação de um estilo de vida
inteiramente novo; todos habitam numa cultura ética que proporciona, a todo o
momento, uma gama de valores éticos perceptíveis de onde devem ser retiradas
alternativas individuais.
41
A autenticidade estabelece também que conforme seja preciso a uma pessoa
decidir sobre a melhor aplicação a ser dada a sua vida, essas devem ser
determinadas pela própria pessoa. Este conceito de autenticidade não pode,
contudo, ser igualado à autonomia, tendo em vista que esta última requer somente
que certa série de opções seja permitida pelos somatórios das situações, sendo
estas naturais ou políticas. Assim sendo, há autonomia individual quando o governo
maneja a cultura da comunidade, visando à eliminação ou a tornar menos
admissíveis determinados estilos de vida que ele reprova.
Por outro lado, a autenticidade, tal como deliberada pelo segundo princípio da
dignidade, atenta não apenas a ocorrência de empecilhos à opção, mas também as
características desses empecilhos. A autenticidade é danificada na ocasião em que
alguém é constrangido a acolher o critério de outro sobre os valores ou objetivos que
deveriam se demonstrar em sua existência. (DWORKIN, 2014)
Desta forma, nota-se que a internação compulsória não caracteriza ofensa a
dignidade humana, quando utilizada com objetivo de auxiliar um indivíduo que não
possui qualquer respeito por sua própria vida, momento em que sua autenticidade é
reduzida, impossibilitando a busca pelo melhor destino que sua vida pode e deve
tomar.
Estas pessoas que se encontram sujeitas ao uso de determinada substância,
quando perdem a consideração ou apresso por qualquer outro interesse que não
seja o próximo uso, muito raramente terão consciência ou conseguirão pedir ajuda.
Por isso, nestes casos é importante a intervenção do Poder Público, não de
qualquer forma, mas com objetivos terapêuticos que considerem as particularidades
e necessidades para que o tratamento proporcionado surta os efeitos desejados
reintegrando o indivíduo a sociedade.
Acerca da moral, Ronald Dworkin (2014) aduz que a motivação que os
indivíduos possuem para acreditar que o desenvolvimento de sua vida é
precisamente considerável também é um motivo para acreditar que o
desenvolvimento da vida de qualquer indivíduo é significante: a consideração
objetiva da sua existência repercute na consideração objetiva da vida de qualquer
outro indivíduo.
A riqueza e a sorte se repartem de forma irregular entre os indivíduos. Assim,
constantemente os indivíduos se encontram em condições de amparar estranhos
42
que estão em circunstância pior que a sua, seja de caráter total, ou por motivo de
ocorrência de acidente ou algum perigo.
Segundo Dworkin (2014), a questão a ser abordada primeiramente é até que
ponto os indivíduos devem deixar seu caminho com objetivo de amparar outras
pessoas? E segundo, diante do conflito sobre quem ajudar em momentos em que
não se pode socorrer a todos, mas somente alguns, como agir?
É imprescindível a demonstração de pleno respeito pela idêntica importância
objetiva da vida de cada pessoa, mas também é necessário demonstrar pleno
respeito pela responsabilidade individual de fazer algo de valor com sua própria
existência, a interpretação da primeira exigência deve deixar espaço para a
segunda, e vice-versa.
Destarte, o respeito que as pessoas devem ter por elas mesmas deve ser
levado aos demais membros da sociedade como parte do princípio da dignidade
humana. Dessa forma, a consideração pela vida se faz necessária no âmbito
individual (própria vida) e coletivo (zelar pela vida alheia), assim como a liberdade de
escolha que cada indivíduo possui para decidir sobre seu modo de vida, tendo por
base novamente o respeito por sua própria vida.
Assim, pela integração entre Ética e Moral, somos responsáveis não apenas pela nossa própria vida, mas também pela vida de nossos concidadãos, se isso for possível. Temos a responsabilidade moral de tentarmos tornar a vida dos nossos concidadãos tão boa quanto as nossas próprias vidas. Temos o dever de evitar, sempre que possível que uma vida se desperdice! Nesse aspecto, como afirma Dworkin, às vezes um pouco de paternalismo é inevitável e necessário. (OMMATI, 2014, p. 34).
Contudo, Ronald Dworkin (2014) expõe também que há possibilidade de se
admitir a importância objetiva das vidas dos desconhecidos, sem a necessidade de
aceitar o dever de submeter a vida e interesses a importância coletiva ou até mesmo
a apenas uma vida cujas carências sejam maiores.
Somente o fato de não aceitar a realização de sacrifícios esplêndidos não
ocasiona o desprezo pelo conceito de igual importância das vidas humanas.
Contudo, há uma baliza para o quanto se pode desconsiderar algo que possui valor
objetivo, afinal, a insensibilidade ao destino em alguns casos, seria manifestação de
semelhante indiferença pela importância da vida humana.
43
Suponhamos que você esteja numa praia e, não muito longe, uma senhora idosa chamada Hécuba grita que está se afogando. Você não a conhece e ela não o conhece. Mas você pode facilmente salvá-la e, se não o fizer não poderá afirmar que tem respeito pela importância objetiva da vida humana. (DWORKIN, 2014, p. 419)
A elaboração de um método objetivo para formar a interpretação, apontando
os elementos que precisam ser considerados e como o devem; ainda assim não
podem ser esboçados a ponto prever todas as decisões em episódios complexos e
próximos. Este método plausível pondera sobre três fatores: as lesões que a vítima
pode sofrer, os dispêndios possíveis para quem a salva e a confrontação entre a
vítima e seu potencial salvador.
A respeito dos danos que a vítima pode sofrer, atenta-se a avaliação do estilo
da ameaça ou da dificuldade confrontada pela vítima, livre do fato de sua situação
geral ser pior que a de seu possível salvador. Para avaliar objetivamente o risco ou a
dificuldade que a vítima confronta, não indaga-se quão má a própria vítima declara a
sua circunstância, a julgar por suas intenções e anseios, mas o quanto a
circunstância a impede de oportunidades convencionais que os indivíduos têm para
alcançar suas pretensões escolhidas.
Essa avaliação é a mais adequada para reconhecer determinados episódios
em que a ameaça ou a necessidade é grande ao ponto que a desconsideração será
a demonstração de uma imprópria falta de respeito pela importância de outra vida
humana.
No que diz respeito à métrica do dano, independentemente do caráter e da
dimensão do dano que intimida um indivíduo, a responsabilidade de evitar o dano é
superior quando pode ser realizado sob riscos menores e prejudicando menos a vida
de quem presta o auxílio. No primeiro momento, pode parecer que o que deve ser
considerado é a avaliação dos custos. Porém, a questão permanece interpretativa -
é necessário ter ciência de quando uma renúncia de ajudar configura a falta de
respeito pela importância objetiva da vida humana - e está sujeito a acepção da
despesa dessa ajuda para o indivíduo, não para outro que possua condições
distintas.
A confrontação traz duas dimensões, a primeira é a particularização: quanto
mais evidente a identificação de quem sofrerá os prejuízos, caso não haja
intervenção, mais forte o contexto favorecendo a obrigação de interferir. A segunda
dimensão é a proximidade: quanto mais direta for à confrontação com certa ameaça
44
ou necessidade, mais forte o contexto em favor da obrigação de auxiliar.
(DWORKIN, 2014).
Segundo entendimento de Ronald Dworkin (2014), ao desconsiderar o dever
moral geral de manifestar pelos desconhecidos a igual importância que o indivíduo
possui por si mesmo e ao sugerir, ao invés disso, ao tema interpretativo de conhecer
se a abdicação de auxílio nega a importância objetiva da vida humana, o indivíduo
se torna apto a esclarecer a diferença entre esses episódios trazendo a escala de
ponderação da confrontação.
A prática de ignorar um indivíduo que está prestes a falecer a sua frente
implica uma indiferença que contradiz toda provável consideração pela humanidade.
Não ambicionando demonstrar que as obrigações são determinadas inteiramente
pelo choque visceral, mas a moral do salvamento está envolta em um aspecto
interpretativo, e que deve considerar os instintos e a conduta natural dos indivíduos
para solucionar essa questão.
Mesmo quando as vítimas se encontram longínquas, e não sabe-se quem são
e quais delas falecerão, e por qual razão, se não houver colaboração com os fundos
gerais de auxílio. Ainda sim, essas ocorrências não representam uma atenuação
integral do dever de ajudar, ou seja, se determinada circunstância possui pontuação
consideravelmente alta e baixa nas primeiras duas escalas, necessidade e custo
respectivamente, a obrigação de ajudar não será extinta apenas por uma pontuação
baixa na terceira escala, a da confrontação. (DWORKIN, 2014).
A consideração pela importância da vida humana deve estar presente na
prática social, principalmente quando os ônus são menores e há a possibilidade de
realizá-la. (DWORKIN, 2014).
Compreende-se que a consideração pela vida dos demais indivíduos não
exige heroísmos ou sacrifícios pessoais, porém em determinadas ocasiões a
importância objetiva dada a vida humana não deve ser desconsiderada,
principalmente quando os esforços e prejuízos por parte de quem auxiliam são
menores, assim cabe também ao Poder Público não se comportar como mero
espectador, sob o confortável argumento do respeito ao direito de ir e vir, no caso
dos dependentes químicos, mas, deve fazer imperar seu direito à vida. (CAPEZ,
2011).
45
Conforme exposto, a dignidade humana não se constitui apenas pela
valorização de nossa própria vida, mas também pelo que é realizado em prol dos
outros, principalmente os que se encontram em situação de vulnerabilidade ou na
proeminência de danos.
Portanto, é imperativa a intercessão em prol dos indivíduos que se encontram
em situação de risco pelo próprio princípio da dignidade humana, na ocorrência de
dependência química, por exemplo, torna-se imprescindível a tomada de medidas a
fim de recuperá-lo, tendo como finalidade principal de preservação da vida e
principalmente que a esta seja dada a condição de ser bem-sucedida.
[...] a dignidade humana pressupõe que toda vida humana deve ser respeitada. E, mais que respeitada, todos devemos lutar para que uma vida humana não seja desperdiçada. Além disso, a dignidade humana pressupõe a responsabilidade individual no desenvolvimento dos projetos de felicidade. É dizer, garantir que as pessoas possam viver com autenticidade. Neste sentido, o direito à vida deve ser visto a partir da ótica da dignidade humana. Não basta assegurar corpos vivos na comunidade: é de fundamental importância que esses corpos possam se desenvolver plenamente e, para isso, a comunidade deve garantir condições mínimas para esse desenvolvimento pleno. (OMMATI, 2014, p. 89-90)
Assim sendo, a dignidade na sua concepção de proteção do indivíduo, tem
a faculdade em determinadas ocasiões de imperar sobre a liberdade daquele que
não possui condições para uma deliberação própria e responsável, podendo ocorrer
à sua perda – através de nomeação de curador ou sujeição involuntária a tratamento
ou internação – do desempenho de sua prática deliberativa, permanecendo apenas
o direito a ser cuidado com dignidade. (SARLET, 2012).
Quanto aos direitos de igualdade e liberdade, o autor José Emílio Medauar
Ommati (2014) entende que estes princípios se integram, ou seja, se pressupõem
reciprocamente. Uma vez que, seja histórica, seja normativamente estes princípios
jamais entraram em conflito, desde o surgimento do constitucionalismo moderno.
A leitura histórica de Bobbio é equivocada, pois, se no Estado Liberal de Direito, houve uma preocupação com a liberdade, contudo essa preocupação se deu apenas para com os ricos, com os proprietários, já que os demais indivíduos eram livres para aceitar contratos de trabalho que os levavam à miséria e à quase eliminação física! Assim, não se pode dizer que todos eram livres, pois todos não eram iguais! Por outro lado, a preocupação com a igualdade no Estado Social de Direito levou a que a humanidade cometesse as maiores atrocidades para com seus semelhantes. Nesse sentido, também não se pode afirmar que houve afirmação de igualdade, já que a liberdade foi violada. Mais uma vez, sem
46
igualdade não há que se falar em liberdade e vice-versa. (OMMATI, 2014, p. 73)
Quanto ao âmbito normativo, os direitos de igualdade e liberdade também não
estão em conflito, pois igualdade não exprime tratar de forma semelhante os iguais e
de forma diferente os desiguais na proporção em que se desigualam, mas na
verdade tratar todos como iguais. E tratar todos como iguais constitui que tanto o
Estado, quanto os particulares precisam tratar todos com o semelhante respeito e
importância. O direito que os indivíduos têm de serem tratados de forma igual, ou
com idêntico respeito e consideração, faz com que sejam identificados direitos de
liberdade a este sujeito. (OMMATI, 2014).
Deste modo, o semelhante respeito e consideração geram essencialmente as
análogas liberdades para todos os sujeitos. Por isso, igualdade e liberdade se
implicam reciprocamente. De outra forma, caso o tema fosse ponderado sob o
aspecto da liberdade, ainda sim seria compreendido que a concepção apropriada de
liberdade abarca essencialmente a igualdade. Dessa forma, a liberdade não constitui
praticar o que quiser sem qualquer limitação. Liberdade acarreta basicamente o
direito de deliberar com responsabilidade, conexo ao igual respeito e consideração.
Deste modo, o entendimento pela permissibilidade da dependência química
em determinados casos em que a submissão a substância é grande não deve
prosperar, sob a alegação do direito de liberdade, visto que essa não poderá ser
exercida de qualquer maneira, devendo sempre ser deliberada de forma consciente
e tendo como alicerce o respeito e a consideração por sua própria vida, bem como a
possibilidade de exercer a autenticidade.
Segundo Ronald Dworkin, citado por José Emílio Medauar Ommati (2014)
“[...] pode-se afirmar que a igualdade é a sombra que cobre a liberdade, ou, ainda,
caso haja algum conflito entre igualdade e liberdade, a liberdade necessariamente
irá perder” (DWORKIN apud OMMATI, 2014, p.74).
Ainda segundo o entendimento de Ronald Dworkin citado por José Emílio
Medauar Ommati (2014), a igualdade como semelhante respeito e consideração é a
virtude soberana do Estado Democrático ou de uma sociedade de princípios. Assim
sendo, o mesmo princípio democrático está unido ao direito de todo e qualquer
indivíduo a receber do Estado e da própria sociedade uma importância igualitária ou
a ter considerada sua dignidade. (DWORKIN apud OMMATI, 2014, p.74).
47
5 CONCLUSÃO
No decorrer do presente trabalho, abordou-se a divergência sobre a
possibilidade da internação compulsória no direito brasileiro, tema complexo e
controvertido ao considerar a permissibilidade de sujeição de determinados
indivíduos dependentes de drogas a tratamentos contra sua vontade.
O presente estudo demonstrou sob a perspectiva de Michel Foucault (2010)
que historicamente as intervenções dirigidas aos anormais se apresentavam como
mera política de discriminação (neoracismo), que através da psiquiatria objetivavam
a retirada do convívio social todos aqueles indivíduos que possuíam qualquer
espécie de patologia ou que não se enquadravam nos padrões sociais à época,
tornando-os passíveis de tratamentos segregatórios.
Tornou-se evidente que, contemporaneamente, essa relativização do
transtorno mental se mostra inadmissível, sendo necessárias análises através de
laudos médicos, psicológicos e sociais, que quando da constatação de patologia e a
necessidade de tratamento direcionem o indivíduo ao recurso terapêutico adequado.
Assim, a dependência química não deve ser entendida essencialmente como
um transtorno mental, sendo indispensável para tanto, a realização de diagnósticos
pertinentes, a fim de traçar as características da dependência individualmente,
tratando-a como uma relação saúde/doença.
Ademais, averiguou-se a necessidade de diferenciação entre conceito de
usuário e dependente de drogas, considerando as particularidades e tratamentos a
serem dedicados a cada espécie de acordo com seu vínculo e sujeição às drogas, o
que revelou incabível a relativização proposta pelo Projeto de Lei nº 7.763/2010, vez
que independente do modelo de internação este deve ser indicado somente aos
casos mais graves, mediante laudo médico que o fundamente.
Apurou-se também que os tratamentos devem atentar as diferentes
características que o uso e a dependência possuem, tendo em vista que na
dependência química, por exemplo, o grau de submissão à droga é muito mais
expressivo, podendo alcançar estados em que o indivíduo não possua outros
interesses ou objetivos que não sejam a utilização, sujeitando sua vida
exclusivamente as drogas.
48
Assim, conclui-se pela possibilidade da internação compulsória em
determinados casos, quando o indivíduo não possui condições de deliberar de forma
consciente, ou seja, quando o indivíduo não reconhece a importância da sua própria
vida e não consegue exercer sua autenticidade de forma sensata.
Deste modo, como bem expõe Dworkin (2014), a dignidade da pessoa
humana se respalda na consideração pela importância individual da vida,
incumbindo a cada indivíduo a percepção de que sua vida deve ser próspera e
produtiva, além de ser autêntica com o reconhecimento de critérios de êxito com os
quais o sujeito consinta.
Quanto aos direitos de igualdade e liberdade citados por José Emílio Medauar
Ommati (2014), a igualdade é estabelecida pela consideração de todos os indivíduos
de forma idêntica, ao mesmo tempo em que a liberdade é caracterizada como a
possibilidade de tomada de decisões individuais com responsabilidade,
considerando o respeito e importância da própria vida.
Isto posto, constatou-se pela presente pesquisa que a internação compulsória
é fundada na dignidade da pessoa humana e na igualdade, sendo necessária tal
intervenção quando o dependente não possui condições de exercer seu juízo crítico,
ou seja, quando inexistente o reconhecimento da importância de sua própria vida e
frente à impossibilidade de exercício da autenticidade para decidir o que é melhor
para si, pois a internação visa assegurar o direito à vida, sendo necessárias medidas
que visem condições de igualdade para o seu desenvolvimento.
Assim, se o dependente não possui condições de tomar decisões que
considerem a importância de sua própria vida, não há que se ponderar em face do
direito de liberdade quando da recusa ao tratamento por meio da internação
compulsória, tendo em vista que a liberdade não pode ser exercida ao bel prazer do
dependente ou de qualquer outro indivíduo.
Contudo, a internação é indicada quando outros tratamentos forem
considerados ineficazes, necessitando primariamente da análise das características
pertencentes ao dependente, não apenas na saúde, mas também nos âmbitos
social, psicológico e nos demais que forem considerados pertinentes.
Ademais, o tratamento terapêutico não deve visar somente a recuperação
dos dependentes, mas também sua reinserção social, pois mais que salvar uma
vida, a dignidade humana exige que esta vida prospere.
49
Dessa forma, é justamente fundamentando-se no Estado Democrático de
Direito e nos direitos por ele garantidos através da Constituição Federal de 1988,
como, dignidade da pessoa humana, igualdade e liberdade, que as intervenções,
observadas as particularidades do caso, se fazem necessárias a fim de assegurar
que a vida, a dignidade e a igualdade prevaleçam.
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Assembléia Legislativa. Projeto de Lei 7763/2010. Acrescenta e altera dispositivos à Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, para tratar do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas, dispor sobre a obrigatoriedade da classificação das drogas, introduzir circunstâncias qualificadoras dos crimes previstos nos arts. 33 a 37, definir as condições de atenção aos usuários ou dependentes de drogas e dá outras providências. Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=483808> Acesso em 05 set. 2014 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. BRASIL. Decreto-Lei 891, de 25 de novembro de 1938. Aprova a lei de fiscalização de entorpecentes. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 25 de novembro de 1938. BRASIL. Decreto nº 24.559, de 3 de julho de 1934. Dispõe sobre a profilaxia mental, a assistência e proteção á pessoa e aos bens dos psicopatas, a fiscalização dos serviços psiquiátricos e dá outras providências. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 3 de julho de 1934. BRASIL. Decreto nº 46.860, de 25 de junho de 2002. Cria e organiza o centro de referência de álcool, tabaco e outras drogas e dá providências correlatas. Secretária de Estado do Governo e Gestão Estratégica, São Paulo, 25 de junho de 2002. BRASIL. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União. Brasília, 6 de abril de 2001. BRASIL, Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 23 de agosto de 2006. CAPEZ, Fernando.Tóxicos – Internação Compulsória e Educação. Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal. Porto Alegre, v. 8, n. 45, p. 26-27, dez/jan. 2011.
51
COELHO, Isabel; OLIVEIRA, Maria Helena Barros de. Internação compulsória de crack: um desserviço à saúde pública. Saúde Debate. Rio de Janeiro, v. 38, n. 101, p. 359-367, abr/jun. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v38n101/0103-1104-sdeb-38-101-0359.pdf> Acesso em 25 set. 2014. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Parecer do Conselho Federal de Psicologia (CFP) sobre o Projeto de Lei n° 7663/2010. Disponível em:< http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/03/Parecer-Conselho-Federal-de-Psicologia-PL-7663-2010.pdf>. Acesso: 10 de set. 2014. COSTA, Ileno Izídio da. Problematizações sobre a eficácia da internação compulsória no tratamento da drogadição. In: DEBATE “INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA” - OAB/DF E CLDF, 04, 2013, Brasília/DF. Brasília: Ordem dos Advogados do Brasil - Distrito Federal, 2013. Disponível em: < http://www.unb.br/noticias/downloads/ATT00013.pdf>. Acesso em: 15 set. 2014. COSTA, Jessica Hind Ribeiro. A internação compulsória dos viciados em crack a partir da ponderação entre liberdade e dignidade humana. Juris Poiesis Revista do Curso de Direito da Universidade Estácio de Sá. Rio de Janeiro, ano 16, n.16, jan-dez. 2013. Disponível: < http://portal.estacio.br/media/4462808/rafael%20iorio%20-%2023%2003%2014%20-%2016%2008%20-%20gr.pdf>. Acesso em 20 set. 2014. COUSINS, Norman. Pensador. Disponível em: < http://pensador.uol.com.br/frase/Mjkz/>. Acesso em: 23 out. 2014. DWORKIN, Ronald. A raposa e o porco-espinho: justiça e valor. 1° Ed. Tradução: Marcelo Brandão Cipolla - São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2014. FOUCAULT, Michel. Os anormais: curso no Collège de France (1974-1975). 2º Ed. Tradução Eduardo Brandão, São Paulo, Editora WMF Martins Fontes, 2010. JUNIOR, Rubens Correia; VENTURA, Carla Aparecida Arena. As internações involuntárias de drogodependentes frente à legislação brasileira – uma análise em relação ao contexto histórico do tratamento de dependentes e as políticas higienistas e de profilaxia social. Revista de Direitos Fundamentais e Democracia, Curitiba, v. 13, n. 13, p. 250-280, jan/jun. 2013. Disponível em: < http://revistaeletronicardfd.unibrasil.com.br/index.php/rdfd/article/download/352/320>. Acesso em 22 set. 2014.
52
KARAM, Maria Lúcia. Crack: obrigatório x contraditório – processos de tratamento e compulsoriedade. In: I SIMPÓSIO SUL-AMERICANO DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS: CRACK E CENÁRIOS URBANOS, 05, 2010. Belo Horizonte: Subsecretaria de Políticas Antidrogas da Secretaria de Esportes e Juventude do Estado de Minas Gerais, 2010. Disponível em: < http://www.leapbrasil.com.br/textos> Acesso em: 20 set. 2014. KARAM, Maria Lúcia. Direitos Humanos, laço social e drogas: por uma política solidária ao sofrimento humano. In: CONFERÊNCIA NA ABERTURA DO VII SEMINÁRIO NACIONAL PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS, 11, 2011. Brasília: Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP), 2011. Disponível em: < http://www.leapbrasil.com.br/textos> Acesso em 20 set. 2014. KELTER, Paul Jurgen; SILVA, Nilson Tadeu Reis Campos. Legalidade e Finalidade da Internação Compulsória dos Dependentes de Crack. Revista Jurídica Cesumar - Mestrado, v. 13, n. 2, p. 541-559, jul./dez. 2013. Disponível em: < http://www.cesumar.br/pesquisa/periodicos/index.php/revjuridica/article/view/3058/2138> Acesso em 17 set. 2014. OMMATI, José Emílio Medauar. Uma teoria dos direitos fundamentais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Transtornos devido ao uso de substâncias. Em Organização Pan-Americana da Saúde & Organização Mundial da Saúde (Orgs.). Relatório sobre a saúde no mundo. Saúde Mental: nova concepção, nova esperança. Brasília: Gráfica Brasil. 2001. Disponível em: < www.who.int/whr/2001/en/whr01_djmessage_po.pdf > Acesso em: 23 set. 2014. PRATTA, Elisângela Maria Machado; SANTOS, Manoel Antônio dos. O Processo Saúde-Doença e a Dependência Química: Interfaces e Evolução. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Brasília, vol. 25, n. 2, pp. 203-211, 2009. Disponível em: < www.scielo.br/pdf/ptp/v25n2/a08v25n2.pdf> Acesso em 10 set. 2014. RIO DE JANEIRO, PREFEITURA MUNICIPAL DO.Resolução SMAS nº 20/2011.Cria e regulamenta o protocolo do serviço especializado em abordagem social, no âmbito das ações da proteção social especial de média complexidade da Secretaria Municipal de Assistência Social, assim como institui os instrumentos a serem utilizados no processo de trabalho. Disponível em: <http://smaonline.rio.rj.gov.br/ConLegis/ato.asp?37082> Acesso em 20 de out de 2014.
53
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1998. 9º Edição. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012. SILVA, Ana Cristina Ferreira. Ciências Sociais Aplicadas em Revista - UNIOESTE/MCR - v. 13 - n. 25 - 2º sem. 2013 - p. 137 a 155. Disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/csaemrevista/article/download/9218/7650>. Acesso em 03 out 2014.