18
A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE e a sua admissibilidade na execução trabalhista *Eloina Maria Barbosa Machado Louise de Oliveira B. Novaes SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Prescrição intercorrente conceito e admissibilidade na execução trabalhista. 3. Prazo e momento para argüição. 4. A suspensão do processo executivo e a prescrição intercorrente. 5. Conclusão. 7. Referências Bibliográficas. 1. INTRODUÇÃO Como esclarecem Pablo Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho , “o tempo é um fato natural de enorme importância nas relações jurídicas travadas na sociedade, uma vez que tem grandes repercussões no nascimento, exercício e extinção dos direitos” 1 . De fato, pelo decurso do tempo, somado a outros requisitos, direitos podem ser adquiridos, como no usucapião, ou até mesmo extintos, como no caso da decadência. Em outras situações, pelo decurso do tempo ainda poder-se-á perder o direito de reivindicar a 1 *, Juíza Federal do Trabalho, titular da 2ª Vara do Trabalho de Itabuna; Oficiala da Justiça do Trabalho, respectivamente. ? GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. São Paulo: Editora Saraiva, v. 1, 3ª ed., p.473-474.

A Prescrição Intercorrente

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Direito Artigo

Citation preview

A PRESCRIO INTERCORRENTE

A PRESCRIO INTERCORRENTE

e a sua admissibilidade na execuo trabalhista

*Eloina Maria Barbosa Machado

Louise de Oliveira B. Novaes

SUMRIO: 1. Introduo. 2. Prescrio intercorrente conceito e admissibilidade na execuo trabalhista. 3. Prazo e momento para argio. 4. A suspenso do processo executivo e a prescrio intercorrente. 5. Concluso. 7. Referncias Bibliogrficas.

1. INTRODUO

Como esclarecem Pablo Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, o tempo um fato natural de enorme importncia nas relaes jurdicas travadas na sociedade, uma vez que tem grandes repercusses no nascimento, exerccio e extino dos direitos. De fato, pelo decurso do tempo, somado a outros requisitos, direitos podem ser adquiridos, como no usucapio, ou at mesmo extintos, como no caso da decadncia. Em outras situaes, pelo decurso do tempo ainda poder-se- perder o direito de reivindicar a reparao de uma leso, ou, nas palavras dos aludidos autores, ser fulminada de morte as pretenses decorrentes da violao do direito. Trata-se da prescrio, plenamente cabvel no processo do trabalho. Todavia, uma das questes no muito recente, mas ainda alvo de grande celeuma na doutrina e jurisprudncia a que se refere ao cabimento da prescrio intercorrente na execuo trabalhista. consabido que ocorrida leso a um direito, poder o ofendido insurgir-se contra ela atravs da ao cabvel. Caso assim no o faa em determinado tempo, perder o direito de acionar o infrator, ocorrendo prescrio em benefcio da segurana das relaes jurdicas. O instituto da prescrio, portanto, tem carter de ordem pblica, em prol da paz social. Trata-se de uma prescrio extintiva. Contudo, estando em curso execuo na justia, poder ainda haver a prescrio? Humberto Theodoro Junior dentre outros processualistas, responde negativamente, tendo em vista que a execuo deve ser impulsionada de ofcio pelo juiz, como determina o art. 878 da CLT. Outros como Mozart Victor Russomano, defendem que a prescrio mencionada no pargrafo 1, art. 884 do mesmo diploma celetista, somente pode ser aquela ocorrida no curso da execuo, ou seja, a intercorrente, no sendo plausvel que as execues perdurem ad infinitum, devendo ser limitadas no tempo, em respeito estabilidade das relaes jurdicas. Como visto, a matria polmica e tentar elucid-la o objetivo deste trabalho, sem a pretenso, contudo, de esgot-la, ainda que se fomente a continuidade do debate, nico meio de se chegar ao consenso em qualquer rea das cincias humanas. 2. PRESCRIO INTERCORRENTE CONCEITO E ADMISSIBILIDADE NA EXECUO TRABALHISTA

A prescrio pode ser aquisitiva ou extintiva (ou liberatria). Na modalidade aquisitiva, a prescrio constitui uma forma originria de aquisio do direito de propriedade, a exemplo da usucapio. A prescrio extintiva representa a perda da pretenso, quando o titular do direito, pela inrcia e decurso do tempo, no exercita a tutela defensiva para exigi-lo. So requisitos da prescrio extintiva: existncia de uma ao exercitvel; inrcia do titular da ao pelo seu no exerccio; continuidade dessa inrcia durante certo lapso de tempo; ausncia de algum fato ou ato que a lei confere eficcia impeditiva, suspensiva ou interruptiva do prazo prescricional.

A prescrio intercorrente a perda do direito de ao que ocorre no curso da mesma, sendo esse o objeto do presente estudo. Para sis de Almeida, a prescrio intercorrente aquela que vai fulminar a execuo durante a sua tramitao. Alice Monteiro de Barros ensina que a prescrio intercorrente a que se verifica durante a tramitao do feito na Justia, paralisado por negligncia do autor na prtica de atos de sua responsabilidade Portanto, depreende-se que a prescrio intercorrente a que ocorre no curso da ao e decorre da inrcia da parte. Nesse sentido a lio de Wagner D. Giglio: a prescrio decorre da inrcia do titular de direito subjetivo em provocar o Poder Judicirio a reconhec-lo, por sentena, ou a satisfaz-lo, atravs da execuo do julgado

O Tribunal Superior do Trabalho tem entendendo que inaplicvel na Justia do Trabalho a prescrio intercorrente (Smula n 114). O primeiro fator determinante que motivou a rejeio da prescrio intercorrente pelo c. TST, foi o reconhecimento da capacidade postulatria do empregado, que reflete a influncia do princpio da proteo ao hipossuficiente. No se pode exigir do empregado leigo, sobretudo quando se focaliza seu nvel de escolaridade, em sua grande maioria, primrio, conhecimentos tcnicos exigveis apenas do profissional habilitado em direito. Eis um dos motivos que fundamenta a rejeio do perecimento da ao quando j iniciada, pela inrcia para impulsion-la. No entanto, outra a hiptese e no se justifica essa liberalidade quando o empregado estiver assistido por advogado, pois a encontrar-se- em igualdade de condies com o empregador. O segundo fator a ser considerado o de maior impulso processual conferido ao juiz. Note-se que, mais uma vez, o legislador quis proteger o economicamente mais fraco atravs dessa regra, porquanto a participao do juiz impulsiona o processo dando-lhe celeridade. Entretanto, desnecessria se torna essa proteo quando o empregado dispe de assistncia profissional. Jos Augusto Rodrigues Pinto ao tratar da matria, afirma que:

... o prprio legislador restringiu a regra relativa ao impulso inicial na execuo (CLT, art. 878) aos casos de dissdios de alada exclusiva das juntas e queles em que os empregados e empregadores (ou seja, os autores da ao, futuros exeqentes da sentena) reclamarem pessoalmente (Lei n. 5.584/70, art. 4). e conclui enfaticamente: Por isso, entendemos que o juiz do trabalho deve declarar a prescrio intercorrente quando, na execuo, o advogado do exequente haja provocado, por simples inrcia, a paralisao do fluxo processual, alm do prazo de tolerncia para os efeitos da precluso mxima.

Nada obstante o fato de haver intensa controvrsia acerca da prescrio intercorrente, sobreleva citar que a sua aplicao na Justia do Trabalho, encontra azo no art. 884, pargrafo 1 da CLT, que expressamente autoriza como matria de defesa, em sede de embargos execuo, a alegao de prescrio da dvida. Tal entendimento reforado pela Smula n. 150 do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual: Prescreve a execuo no mesmo prazo de prescrio da ao.

Atualmente a aplicao da prescrio intercorrente uma praxe no judicirio, to comum que, os doutrinadores a defendem sob argumentos de difcil contestao, ratificados pela jurisprudncia , in verbis:

Prescrio intercorrente. Admissibilidade no processo trabalhista. aplicvel Justia do Trabalho a prescrio intercorrente. A lei no se revoga por entendimentos jurisprudenciais. A CLT prev, como fundamento dos embargos do executado, a prescrio, no art. 884 (a matria de defesa ser restrita s alegaes de...). Essa prescrio s poder ser intercorrente, posterior sentena do processo de cognio, posto que a anterior sepultada pela coisa julgada. (TRT/SP 02850245733. Ac. 8 T., 7.778/87, Rel. Juiz Valentin carrion, DOE 1.6.87, Synthesis, 6/88, p.221).

Ementa: EXECUO. PRESCRIO INTERCORRENTE. APLICAO. Quando o art. 884, pargrafo 1, da CLT, autoriza que, nos embargos execuo, seja alegada a prescrio da dvida exeqenda, dvida esta fundada na existncia de ttulo executivo judicial, proveniente de processo cognitivo, resultando em direito lquido e certo da parte, e resguardado pelo manto da coisa julgada, est a dizer por deduo lgica, que a prescrio de que trata a intercorrente, posterior prolao da sentena, no admitindo seja argida em execuo matria que deveria ter sido deduzida no processo de conhecimento.

Portanto, no se revelam consistentes opinies contrrias que defendam a inaplicabilidade da prescrio intercorrente em juzo trabalhista, vista de que, sendo a prescrio resultado da inrcia do titular do direito, pode ocorrer por ocasio da propositura da ao, bem como, em decorrncia do abandono dos atos que lhe incumbem no curso processual. importante ressaltar que o impulso processual ex officio pelo Juiz, na execuo, (art. 878 da CLT) no impede a fluncia do prazo pela impossibilidade de ser o interessado responsabilizado pela paralisao do processo. O impedimento no se verifica, porque o impulso oficial no corresponde a um dever do Juiz, e sim a uma faculdade. Portanto, a atividade do autor independe da do Juiz ou da do ru; o primeiro tem o nus de iniciar a execuo caso queira receber o seu crdito, os dois ltimos tm apenas uma faculdade concorrente.

Manoel Antnio Teixeira Filho defende a prescrio intercorrente sempre que a prtica do ato estiver a cargo do credor, como na hiptese de apresentao dos artigos de liquidao, tendo em vista que tal tarefa de inteira competncia do Autor da execuo, e, uma vez que ele silente se torna, configura a total negligncia da parte interessada. Tal entendimento comungado por grande parte dos doutrinadores, a exemplo de Francisco Antnio Oliveira:

Entendemos que, excepcionalmente, poder haver a possibilidade de declarar-se a prescrio intercorrente, durante a fase dita de acertamentos (liquidao de sentena), tambm dita por alguns de pr-execuo. Tal se dar quando em havendo sentena lquida com trnsito em julgado, o credor, com advogado devidamente constitudo ou assistido por sindicato, no providencia a liquidao (acertamentos) dentro de dois anos.

Nesse mesmo sentido, Wagner Giglio: A prescrio decorre da inrcia do titular de direito subjetivo em provocar o poder Judicirio a reconhec-lo, por sentena, ou a satisfaz-lo, atravs da execuo do julgado . Continua dizendo o eminente jurista, a ttulo de exemplo, que o juiz no poder propor artigos de liquidao em lugar do exeqente. Se no propuser o vencedor da ao, sua inrcia acarreta a prescrio intercorrente, isto , consumada no curso da ao.

Severas so as crticas contra a aplicabilidade da smula 114 do c. Tribunal Superior do Trabalho, as quais reforamos, por entendermos aplicvel a Smula 327 do Supremo Tribunal Federal, em detrimento daquela, eis que de outro modo seria desconsiderar o preceituado no art. 884 da Consolidao das Leis Trabalhistas.

De fato, a sobredita jurisprudncia oriunda do rgo de cpula da Justia do Trabalho, com a devida vnia, colide frontalmente com o dispositivo legal consolidado, desvirtuando a lgica do princpio constitucional da separao dos poderes e a reserva legal em caso de competncia da Unio pertencente ao Congresso Nacional e apenas excepcionalmente ao Presidente da Repblica, enquanto nunca ao Tribunal Superior do Trabalho, pela via de mera edio de verbete sumular do entendimento jurisprudencial dominante, eis que a Justia no detm competncia constitucional para tanto. Veja-se, a esse respeito, a lio de Valentin Carrion:Paralisada a ao em processo de cognio ou no da execuo por culpa do autor, por mais de dois anos, opera-se a chamada prescrio intercorrente; mesmo que caiba ao juiz prossiga revelia do autor, quando este no cumpre os atos que lhe forem determinados, como o remdio que mata o enfermo. Pretender a inexistncia da prescrio intercorrente a mesma coisa que criar a lide perptua (Russomano, Comentrios CLT), o que no se coaduna com o Direito brasileiro. Entretanto, a prescrio intercorrente trabalhista, reconhecida pelo STF (Smula 327), contestada por grande parte da doutrina (Sussekind, Comentrios; Amaro, Tutela, v. 1) e por Smula do TST (114), apesar de haver lei expressa que a prev (CLT, art. 884, pargrafo 1).

Em que pese os termos da smula 114 do C. TST, perfeitamente cabvel a aplicao da prescrio intercorrente na Justia do Trabalho, haja vista a ausncia da fora vinculante (por enquanto) da smula de jurisprudncia. No entanto, imprescindvel que a inrcia seja do autor, e que o ato que devesse ser praticado fosse de sua exclusiva responsabilidade, como na hiptese da necessidade de propositura de artigos de liquidao, em que o juiz no poder prop-los em lugar do exeqente. A inrcia deste acarretar a prescrio intercorrente, isto , consumada no curso da ao. Vale ressaltar que, mesmo nas hipteses em que o exeqente no tenha culpa na paralisao do processo, no o exime da prescrio, visto que tem como fim precpuo resguardar a paz coletiva, evitando que situaes conflituosas perdurem por longo tempo.

3. PRAZO E MOMENTO PARA ARGIO

Admitido o seu cabimento na execuo trabalhista, mister a anlise do prazo prescricional e o momento no qual poder ser argida. Saliente-se que somente poder ser alegada quando referente a fatos supervenientes sentena exeqenda. Seu prazo tem incio com o trnsito em julgado da sentena exeqenda e, conforme a Smula 150 do STF, prescreve a execuo no mesmo prazo de prescrio da ao. Dever ser argida nos embargos execuo, conforme dispe o pargrafo 1, art.884 da CLT, j mencionado, e ser de dois anos, nas hipteses em que admitida, se porventura o contrato de trabalho j se encontrar extinto, pois estabelece o inciso XXIX, art.7 da Carta Magna que a ao, quanto aos crditos resultantes das relaes de trabalho, ter prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, at o limite de dois anos aps a extino do contrato de trabalho. Todavia, se o contrato ainda estiver em curso, ser esse o prazo a ser observado? Inexiste empecilho para o empregado ajuizar ao quando ainda em curso o contrato, a despeito de isso ocorrer raramente ante a possibilidade de ter o pacto rescindido unilateralmente pelo empregador, exceto nos casos do estvel. Destarte, so poucas as execues trabalhistas envolvendo partes em que o contrato ainda esteja em vigor. Geralmente o empregado, muitas vezes perdendo vrios direitos ao longo do vnculo, somente os reivindica aps a dissoluo do pacto, sendo-lhe deferidos somente os violados nos ltimos cinco anos, ante a argio de prescrio pelo empregador. Contudo, ante o teor da smula acima transcrita, estando em vigor o pacto, a prescrio que incide a de cinco anos. Logo, forosa a concluso de que neste caso, o prazo da prescrio intercorrente de cinco anos. Questo pacfica na doutrina e jurisprudncia a da impossibilidade de conhecimento da prescrio de ofcio pelo Juiz da execuo uma vez que os direitos postulados possuem natureza patrimonial, no se aplicando o disposto no 5, art.219 do CPC. Portanto, o juiz no pode decret-la, como menciona o cdigo, sem a provocao da parte interessada.

4. A SUSPENSO DO PROCESSO EXECUTIVO E A PRESCRIO INTERCORRENTE

Enuncia o artigo 793 do Cdigo de Processo Civil: Suspensa a execuo, defeso praticar quaisquer atos processuais. O juiz poder, entretanto, ordenar providncias cautelares urgentes. Durante a suspenso nenhum ato executivo novo pode ser praticado, sob pena de nulidade. Subsistem, contudo, os efeitos do processo, a penhora e depsito dos bens executados.Pode o juiz, em carter excepcional, determinar medidas cautelares que julgar urgentes, por exemplo, a alienao de bens facilmente deteriorveis (art. 1.113 e ). A eficcia da suspenso ex nunc, ou seja, atinge o processo apenas na fase ou situao em que se encontrar, projetando seus efeitos a partir de ento s para o futuro. Inibe o prosseguimento da marcha processual, mas preserva intactos os atos j realizados. Ao final da crise de suspenso, o processo retorna seu curso normal a partir da fase em que se deu a paralisao, salvo se a causa de suspenso transmudar-se, a seu termo, como ocorre nos casos de extino da execuo.

Mas, na hiptese de a suspenso do processo de execuo ocorrer por no ter o credor encontrado, em nome do devedor, patrimnio passvel de ser penhorado, indaga-se se seria aplicvel o instituto da prescrio intercorrente, iniciando-se, a partir da data do sobrestamento do feito, a contagem do prazo prescricional. Humberto Theodoro Jnior sustenta que:

O objeto da execuo forada so os bens do devedor, dos quais se procura extrair os meios de resgatar a dvida exeqenda. No h, no processo de execuo, provas a examinar, nem sentena a proferir. E sem penhora, nem mesmo os embargos execuo podem ser opostos. Da porque a falta de bens penhorveis do devedor importa em suspenso sine die da execuo (art. 791, III).

J Araken de Assis assevera que a suspenso indefinida seria ilegal e gravosa, porque expe o executado, cuja responsabilidade se cifra ao patrimnio (art. 591), aos efeitos permanentes da litispendncia. Mesmo que a responsabilidade respeite a bens futuros, eles serviro ao processo futuro, e no, necessariamente, ao atual. Em verdade, no processo civil no existe disposio legal a respeito do prazo de durao da suspenso processual, pretendendo a doutrina, to-s, preencher o vcuo. Vrios autores findam por defender a fluncia do prazo prescricional durante a suspenso, no intuito de resguardar a segurana jurdica. Insustentvel, entretanto, tal posicionamento, posto que a prescrio tem como requisito essencial para a sua consumao a inrcia do titular do direito, e durante a suspenso processual ser defesa a prtica de quaisquer atos processuais, com exceo de providncias cautelares urgentes, a serem decretadas pelo juiz. Ora, se durante a suspenso no ser permitido ao credor promover qualquer ato processual, no se pode consider-lo inerte. No pode ser punido, por exemplo, o exeqente que, embora diligente, no encontre bens do executado passveis de garantir a execuo. -lhe impossvel dar o devido impulso ao feito. A prescrio, assim, insuscetvel de fluir contra aquele que no pode agir, sendo essa a hiptese exemplificada, razo pela qual dever a execuo permanecer suspensa, nos termos do artigo 791 do CPC.

A Lei 6.830/80, aplicvel ao processo trabalhista por fora do art. 889 da CLT, entretanto, dispe expressamente em seu art. 40 que o juiz suspender o curso da execuo, enquanto no for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, no ocorrer o prazo de prescrio. Cumpre destacar a propriedade da referida lei, ao prever, ainda, que, decorrido o prazo mximo de 1 (um) ano, sem que seja localizado o devedor ou encontrado patrimnio penhorvel, o juiz ordenar o arquivamento dos autos, porm, tal arquivamento tem efeito apenas administrativo. Isso porque, quando o credor encontrar, a qualquer tempo, bens, o processo ser desarquivado para o prosseguimento da execuo. Verifica-se, portanto, que, diferentemente do processo civil, no laboral, no est tal situao merc de entendimentos doutrinrios das mais diversas ordens: inaplicvel a prescrio intercorrente ao processo paralisado em virtude da inexistncia de bens do devedor que satisfaam o crdito do exeqente.

5. CONCLUSO

O instituto da prescrio intercorrente, tambm nomeada superveniente, conquanto no aceito pelo Colendo Tribunal Superior do Trabalho, segundo se infere do teor da Smula 114, que, admitido pelo Supremo Tribunal Federal, por meio da Smula 377, quando, na fase executria, o autor deixa de atender s inmeras intimaes para tomar providncia necessria ao andamento do feito. Comungamos, data venia, com este ltimo posicionamento, considerando que deve ser avaliado caso a caso o motivo da paralisao do processo. De outro modo, desconsiderar-se-ia o preceituado no artigo 884 consolidado, que evidencia a possibilidade de arguio da prescrio da dvida reconhecida na sentena, diversa, diga-se, da invocvel em fase de conhecimento contra o prprio direito material. Devem ser excetuadas, assim, as hipteses em que no o credor responsvel pelo retardamento, como aquelas em que possvel o impulso ex officio e ainda no caso de no ser localizado o devedor ou encontrado bens sobre os quais possa recair a penhora, quando no se poderia imputar desdia ao exeqente. Tem o instituto da prescrio por escopo a paz social, fundando-se exclusivamente na inrcia e negligncia do possuidor do direito.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

ALMEIDA, sis de. Manual de Direito Processual do Trabalho. So Paulo: LTr, 1998, 2 v., 9 ed.

ASSIS, Araken de. Manual do processo de execuo. 6.ed. rev., atual. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

BARROS, Alice Monteiro de. Aspectos Jurisprudenciais da Prescrio Trabalhsta. In: Curso de Direito do Trabalho Estudos em memria de Clio Goyat. So Paulo: LTr, 1994, 1 v., 2 ed.

CARRION, Valentin. Comentrios Consolidao das Leis do Trabalho. So Paulo: Saraiva, 2000, 28 ed.

DINIZ, Maria Helena. Dicionrio Jurdico. So Paulo: Saraiva, 1998, v. 1.

GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. So Paulo: Saraiva, v. 1, 3 ed.

GIGLIO, Wagner D. Direito processual do Trabalho. So Paulo: Saraiva, 1994.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. So Paulo: Saraiva, 1993.

NERY JNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Cdigo de Processo Civil Comentado. So Paulo: Editora revista dos Tribunais, 2002.

PINTO, Jos Augusto Rodrigues. Execuo Trabalhista. So Paulo: LTr, 2002, 9 ed.

SILVA, De Plcido e. Vocabulrio Jurdico. Rio de Janeiro: Forense, 1982, v. 3.

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antnio. Execuo Trabalhista. So Paulo: LTr, 1991.

THEODORO JNIOR, Humberto. Processo de Execuo. 6. ed. rev. e atual. So Paulo: Editora Universitria de Direito, 2002.

*, Juza Federal do Trabalho, titular da 2 Vara do Trabalho de Itabuna; Oficiala da Justia do Trabalho, respectivamente.

GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. So Paulo: Editora Saraiva, v. 1, 3 ed., p.473-474.

THEODORO JUNIOR, Humberto, Processo de execuo, 13. ed., So Paulo: LEUD, 1989, p. 436

RUSSOMANO, Mozart Victor. 6. ed . O empregado e o empregador no direito brasileiro .So Paulo: LTr, 1978, p. 560

- ALMEIDA, sis de. Manual de Direito Processual do Trabalho. So Paulo: LTr, 1998, 2 v., 9 ed., p. 441.

- BARROS, Alice Monteiro de. Aspectos Jurisprudenciais da Prescrio Trabalhista. In: Curso de Direito do Trabalho Estudos em memria de Clio Goyat. So Paulo: LTr, 1994, 1 v , 2 ed., p. 201.

- GIGLIO, Wagner D. Direito Processual do Trabalho. So Paulo: LTr, 1994, 8 ed., p. 523-524.

- PINTO, Jos Augusto Rodrigues. Execuo Trabalhista. So Paulo: LTr, 2002, 9 ed., p. 482.

- in verbis: a material de defesa ser restrita s alegaes de cumprimento da deciso ou do acordo, quitao ou prescrio da dvida.

- TEIXEIRA FILHO, Manoel Antnio. Execuo no Processo do Trabalho. So Paulo: LTr, 1991, p. 218-219.

- OLIVEIRA, Francisco Antnio de. Comentrios aos Enunciados do TST. So Paulo: Revista dos Tribunais., , 2 ed. p. 114.

- Ob. Cit., p. 523-524.

CARRION, Valentin. Comentrios Consolidao das Leis do Trabalho. So Paulo: Saraiva, 2004, 28 ed., p. 78.

[ - THEODORO JNIOR, Humberto. Processo de execuo. 21. ed. rev. e atual. So Paulo: Editora Universitria de Direito, 2002, p. 480-481.

- ASSIS, Araken de. Manual do processo de execuo. 6. ed. rev., atual. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 1.027.