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1 A presença da Literatura Portuguesa nas pesquisas de pós-graduação na Universidade de São Paulo ____________________________________________________________________________________ Resumo Este trabalho apresenta uma análise quantitativa da base de dados do banco de dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre Literatura Portuguesa da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo -USP. Palavras-chave: Literatura Portuguesa – Pesquisa – Pós-Graduação – USP. Abstract This paper presents a quantitative analysis of the database of dissertations and doctoral theses on Portuguese Literature of the Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas of the Universidade de São Paulo- USP. Keywords: Portuguese Literature - Research - Graduate School - USP. ____________________________________________________________________________________ O que pretendemos apresentar a seguir constitui-se como resultado parcial de uma pesquisa mais abrangente, desenvolvida em nível de pós-doutorado, cujo projeto inicial intitula- se A presença da Literatura Portuguesa no Brasil: percursos e percalços do ensino e da pesquisa no processo de constituição da área de Literatura Portuguesa nas universidades brasileiras. A pesquisa encontra-se em andamento, tem como sede a Universidade de São Paulo (USP), é desenvolvida no âmbito do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas (DLCV) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), sob a supervisão da professora Dra. Maria Helena Nery Garcez e conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP 1 . Tendo como dado que os primeiros cursos de Letras do Brasil surgiram nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o projeto propõe-se a investigar o processo de constituição da Literatura Portuguesa nas universidades públicas brasileiras primeiramente na região sudeste do país. O projeto prevê, portanto, a compilação e a centralização de informações e de documentos que possam revelar o percurso de constituição da Literatura Portuguesa como disciplina e área de investigação acadêmica. Para a viabilização das atividades de pesquisa nas universidades da região sudeste do país destacadas no projeto inicial foi traçado um plano de ação que teve como objetivo padronizar o 1 O número do processo na FAPESP é 2013/07623-3. A pesquisa iniciou-se em agosto de 2013 e tem previsão de término em agosto de 2015.

A presença da Literatura Portuguesa nas pesquisas de pós ... · Para a viabilização das atividades de pesquisa nas universidades da região sudeste do país destacadas no projeto

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1

A presença da Literatura Portuguesa nas pesquisas de pós-graduação na

Universidade de São Paulo

____________________________________________________________________________________

Resumo

Este trabalho apresenta uma análise quantitativa da base de dados do banco de dissertações de mestrado e

teses de doutorado sobre Literatura Portuguesa da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da

Universidade de São Paulo -USP.

Palavras-chave: Literatura Portuguesa – Pesquisa – Pós-Graduação – USP.

Abstract

This paper presents a quantitative analysis of the database of dissertations and doctoral theses on

Portuguese Literature of the Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas of the Universidade de

São Paulo- USP.

Keywords: Portuguese Literature - Research - Graduate School - USP.

____________________________________________________________________________________

O que pretendemos apresentar a seguir constitui-se como resultado parcial de uma

pesquisa mais abrangente, desenvolvida em nível de pós-doutorado, cujo projeto inicial intitula-

se A presença da Literatura Portuguesa no Brasil: percursos e percalços do ensino e da

pesquisa no processo de constituição da área de Literatura Portuguesa nas universidades

brasileiras. A pesquisa encontra-se em andamento, tem como sede a Universidade de São Paulo

(USP), é desenvolvida no âmbito do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas (DLCV) da

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), sob a supervisão da professora

Dra. Maria Helena Nery Garcez e conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa

do Estado de São Paulo – FAPESP1.

Tendo como dado que os primeiros cursos de Letras do Brasil surgiram nos estados de

São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o projeto propõe-se a investigar o processo de

constituição da Literatura Portuguesa nas universidades públicas brasileiras primeiramente na

região sudeste do país. O projeto prevê, portanto, a compilação e a centralização de informações

e de documentos que possam revelar o percurso de constituição da Literatura Portuguesa como

disciplina e área de investigação acadêmica.

Para a viabilização das atividades de pesquisa nas universidades da região sudeste do país

destacadas no projeto inicial foi traçado um plano de ação que teve como objetivo padronizar o

1 O número do processo na FAPESP é 2013/07623-3. A pesquisa iniciou-se em agosto de 2013 e tem previsão de término em agosto de 2015.

2

procedimento de investigação em cada universidade abordada, o qual contempla quatro grandes

frentes que são apresentadas na tabela que segue:

1. Memória Institucional

Descrição: levantamento de material sobre a memória e sobre a história da

universidade em geral; sobre o curso de Letras e sobre a área de Literatura Portuguesa.

Ações: levantar bibliografia já publicada e material ainda não publicado, mantido em

bibliotecas, acervos especiais, centros de memória e de documentação sobre a história da

universidade, do curso de Letras e sobre a área de Literatura Portuguesa; verificação se há ou

houve algum Centro de Estudos específico para a área de Literatura Portuguesa e, em caso

positivo, levantamento das principais ações e das publicações resultantes.

2. Documentação Acadêmica

Descrição: levantamento de documentação acadêmica de Graduação e Pós-

Graduação.

Ações:

Na Graduação: realizar o levantamento de projetos pedagógicos; organização

curricular, grade de disciplinas; programas das disciplinas; dentre outros dados;

Na Pós-graduação: verificar a estruturação da pós-graduação em Literatura; se

contempla a especialidade de Literatura Portuguesa como área de concentração ou não;

realizar o levantamento de programas de disciplinas de pós-graduação ofertadas na área;

orientadores da área.

3. Pesquisa

Descrição: levantamento da produção resultante da pesquisa realizada na

universidade sobre Literatura Portuguesa. Análise em termos quantitativos e qualitativos.

Ações: verificar áreas de pesquisa relacionadas à Literatura Portuguesa ao longo da

história da instituição; levantamento da produção: quantidade de dissertações e teses

produzidas na área de Literatura Portuguesa; verificação da existência ou não de periódicos

especializados na área.

4. Depoimentos

Descrição: convite a professores e funcionários a darem depoimentos sobre a área de

Literatura Portuguesa por meio de entrevistas orais ou escritas.

Ações: registrar e editar depoimentos de professores e funcionários a respeito da

história da área na instituição.

Tabela 1. Plano de ação.

Fonte: elaboração do autor.

O que segue é, portanto, o resultado parcial do trabalho de pesquisa referente ao terceiro

item do quadro acima apresentado no que se refere à Universidade de São Paulo, a primeira a ter

figurado como alvo da investigação proposta no projeto de pesquisa.

1. A base de dados

O documento aqui utilizado como objeto de estudo foi extraído (em formato .xls) da base

de dados que alimenta o sistema de buscas ao banco de teses e dissertações que se encontra

disponibilizado no site da Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

3

da USP (http://pos.fflch.usp.br/bancodefesas)2. Este banco de defesas contempla todas as teses

de doutorado e dissertações de mestrado produzidas desde o ano de 1937 até a atualidade,

inicialmente no âmbito da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e, posteriormente, após a

reforma universitária iniciada em sessenta e implantada em setenta, no âmbito da Faculdade de

Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. No caso do arquivo

utilizado, o período compreendido vai até o mês de novembro de 2013; não se encontram

contabilizadas, portanto, as defesas do ano de 2014.

Paralelamente a essa base de dados disponibilizada on-line, há, também, um Catálogo de

Teses e Dissertações impresso, que foi publicado em 1998 pela Comissão de Pós-Graduação da

FFLCH, a qual propunha uma organização de todos as dissertações e teses defendidas na

faculdade desde 1942 até 1997. Na apresentação do referido catálogo faz-se menção às origens

das pesquisas em nível de pós-graduação na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da

USP, bem como sobre a instauração dos programas específicos de mestrado e doutorado:

Até 1970, o mestrado e o doutorado da Faculdade correspondiam a um conjunto de

cursos e atividades de pesquisas determinados pelo orientador e que tinham como ápice a

apresentação e defesa pública da dissertação da tese. Essas trajetórias espontâneas e

individuais formaram massa crítica de peso que, a partir de 1971, constituíram Programas

Específicos de mestrado e doutorado, núclo básico de nossos atuais Programas de Pós-

Graduação. (Catálogo de Teses e Dissertações 1942-1997. São Paulo: Faculdade de

Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1998. p. 9).

Os títulos apresentados de modo organizado nesse catálogo estão todos contemplados no

documento que contém a base de dados aqui utilizada, com a diferença de que no catálogo

houve um esforço por organizar os títulos de acordo com os departamentos e suas respectivas

áreas, conforme se encontram estabelecidas atualmente3. Assim, no referido catálogo, há seções

correspondetes aos onze departamentos (além do Museu de Arqueologia e Etnologia) da

Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP, sendo que, em cada uma destas, há

subdivisões por áreas, onde se encontram listados, separadamente, os trabalhos em nível de

mestrado e em nível de doutorado, obedecendo à ordem cronológica das defesas.

Em princípio, trabalhamos conjuntamente com o Catálogo e a base de dados de que aqui

dispomos, no sentido, iclusive, de aproveitarmos a organizção já feita no Catálogo, uma vez que

2 Aproveitamos a oportunidade para apresentar os agradecimentos ao servidor Paltônio Dauan Fraga do setor de Pós-Graduação da

Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP que me auxiliou na obtenção do arquivo extraído da base de dados que alimenta o referido banco de defesas. 3 “Manteve-se a atual divisão dos Departamentos e dos Programas dos cursos de pós-graduação desenvolvidos em cada área. As

teses e dissertações desenvolvidas em departamentos e áreas extintos ou desmembrados foram inseridas nos atuais departamentos e respectivas áreas (ex: antigo departamento de Ciências Sociais, atuais departamentos de Antropologia, Ciência Política e

Sociologia). Consideraram-se as informações sobre os Programas (características, docentes e linhas de pesquisa), fornecidas pelos

Srs. Coordenadores das Áreas.” Cf. Catálogo de Teses e Dissertações 1942-1997. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1998. p10.

4

ali as teses e dissertações encontravam-se já devidamente alinhadas às áreas dentro dos

departamentos. Portanto, o trabalho complementar seria o de utilizar a base de dados em arquivo

.xls apenas para contemplar o período de tempo que não se mostrava coberto pelo Catálogo, ou

seja, no período anterior a 1942 e posterior a 1997. Contudo, ao confrontarmos a base de dados

de que dispúnhamos com o que era apresentado no Catálogo, percebemos que havia algumas

redundâncias de informações na forma de organização desta publicação, as quais poderiam

gerar algumas inconsistências nos resultados de nosso estudo. Ao analisarmos o Catálogo,

especificamente a parte referente ao DLCV, percebemos que havia trabalhos alocados em outras

áreas, mas que poderiam ser entendidos legitimamente como pertencentes à área de investigação

da Literatura Portuguesa, como é o caso, por exemplo, da tese de doutorado de Sigismundo

Spina, intitulada Fenômenos formais da poesia primitiva (de 1950) que aparece apenas alocada

na área de Filologia e Língua Portuguesa e não aparece na área de Literatura Portuguesa.

Ainda que institucionalmente o trabalho possa ter sido desenvolvido no âmbito da área de

Filologia e Língua Portuguesa, isso não significa que não pertença à área de interesse da

Literatura Portuguesa. Se considerássemos, portanto, apenas essa divisão proposta no Catálogo,

esse trabalho não apareceria conteplado como pertencente à área que aqui investigamos. Assim,

se, por um lado, há ausência de alguns títulos, por outro, há redundância de algumas

informações que se traduz no fato de um mesmo trabalho aparecer duplamente contabilizado,

tanto numa área quanto noutra, como é o caso, por exemplo, da tese de doutoramento de Felipe

Jorge, do ano de 1964, intitulada Cantigas de Pero da Ponte, que se encontra mencionada no

catálogo tanto na área de Literatura Portuguesa quanto na de Filologia e Língua Portuguesa. O

mesmo ocorre com a dissertação de mestrado de 1975, de Dulce de Faria Paiva, intitulada A

farsa do Almocreves, que aparece mencionada nas duas áreas. Tanto a ocorrência da ausência,

no caso do trabalho de Spina, quanto a redundância de contabilização destes dois casos

exemplres, portanto, tornam inconsistente qualquer trabalho que busque, por exemplo,

contabilizar a totalidade dos trabalhos de uma área e de outra e, a partir daí, tente estabelecer

comparações numéricas. Diante disso, descartamos a possibilidade de trabalhar

complementarmente com o referido Catálogo e passamos a nos concentrar apenas no arquivo

contendo a base de dados espelho da que se encontra disponibilizada on-line, ao qual passamos

a dar um outro tratamento a fim de constituir a análise dos dados.

5

2. O tratamento dos dados

A base de dados apresentava, inicialmente, a indicação de todas as teses e dissertações

defendidas na instituição desde o ano de 1937 até o final de 2013, organizadas segundo a data

da defesa, o departamento, o nível (M ou D); o nome do orientador; o nome do autor; o título do

trabalho. Nesta base de dados estavam inclusos todos os departamentos da Faculdade de

Filosofia, Letras e Ciências Humanas, não havendo indicação das áreas em que cada trabalho

teria sido desenvolvido em cada departamento. Os departamentos compreendidos são:

Departamento de Antropologia (DA); Departamento de Ciência Política (DCP); Departamento

de Sociologia (DS); Departamento de Filosofia (DF); Departamento de Geografia Humana

(DG); Departamento de História (DH); Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (MAE);

Departamento de Linguística (DL); Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas (DLCV);

Departamento de Letras Modernas (DLM); Departamento de Línguas Orientais (DLO);

Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada (DTLLC). Além dos trabalhos

identificados por Departamento, havia uma quantidade considerável de trabalhos não

identificados a qualquer departamento, precisamente 325 trabalhos. Somando-se os trabalhos

identificados aos não identificados, a base de dados apresentava, inicialmente, 13.395 registros

de títulos de trabalhos, entre dissertações e teses, iniciando-se no ano de 1937 e encerrando-se

em novembro de 2013.

Diante desse quadro inicial, procedemos aos primeiros tratamentos do arquivo no sentido

de sanar as possíveis inconsistências. Primeiramente, procuramos verificar se havia títulos de

trabalhos mencionados em redundância. Ou seja, buscamos realizar um trabalho de conferência

no sentido de verificar se havia dados duplicados ou replicados indevidamente na planilha. Ao

realizarmos esse trabalho de verifcação, identificamos algumas inconsistências na planilha

espelho da base de dados que se encontra disponibilizada on-line no endereço já indicado.

Comentaremos, aqui, alguns casos, para exemplificar o tipo de tratamento de dados que foi

realizado, para que o leitor entenda a diferença entre os números trabalhados e aqueles que se

encontram disponibilizados on-line. Por exemplo, havia trabalhos com o mesmo nome de autor,

de orientador, do mesmo nível, referente ao mesmo ano, mas com o título do trabalho grafado

de forma diferente, em que há a omissão de uma palavra do título ou a grafia em letras

maiúsculas num caso e em minúsculas no outro. Assim, as informações, apesar de se referirem

ao mesmo trabalho, foram registradas no sistema como sendo trabalhos diferentes, aparecendo,

6

inclusive, como dois registros distintos quando realizada uma busca on-line4. Outra causa de

duplicação de dados se dá quando os nomes do orientado ou do orientador são registrados duas

vezes com variações, com omissão ou inclusão de sobrenomes5. Além desses casos envolvendo

problemas quanto à grafia de títulos de trabalhos e nomes, uma causa possível de duplicação de

dados é o caso de trabalho com coorientação. Como a base é organizada também de acordo com

o nome do orientador, então, um mesmo trabalho corre o risco de ser contabilizado duas vezes

se registrado uma vez pelo nome do orientador e outra pelo do coorientador6.

Depois de feita essa conferência e triagem inicial das teses e dissertações registradas em

redundância, passamos do número de 13.395 registros para um total de 13.370, os quais se

encontram distribuídos da seguinte forma:

Departamento Sigla Quantidade

Museu de Arqueologia e Etnologia da USP MAE 161

Departamento de Línguas Orientais DLO 282

Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada DTLLC 527

Departamento de Antropologia DA 587

Departamento de Ciência Política DCP 646

Departamento de Linguística DL 857

Departamento de Filosofia DF 958

Departamento de Sociologia DS 1079

Departamento de Letras Modernas DLM 1398

Departamento de Geografia Humana DG 1962

Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas DLCV 2032

Departamento de História DH 2556

* Trabalhos sem identificação de Departamento TSID 325

Total 13.370

Tabela 2. Quantidade de teses e dissertações por departamento.

Fonte: elaboração do autor.

4 Este é o caso, por exemplo, da dissertação de mestrado intitulada A mineração nos municípios de Guarulhos e Mairiporã, SP:

aspectos geomorfológicos aplicados à sua organização e desenvolvimento, que aparece uma segunda vez no sistema em que a palavra “aplicados” é omitida do título do trabalho. Outro caso que serve como exemplo de duplicação é a da tese de doutorado

intitulada A cidadania inexistente: incivilidade e pobreza: um estudo sobre trabalho e família na Grande São Paulo, que aparece

registrada uma segunda vez com o título em caixa alta. Outro exemplo de duplicação de dados e que pode ser verificado numa simples busca ao sistema é o que ocorre com o título Sedução da paisagem: a Chapada Diamantina e o turismo ecológico. Esta

dissertação aparece uma segunda vez no banco, mas com a palavra “diamantina” grafada errada: “Diamentina”. Cf.

http://pos.fflch.usp.br/bancodefesas 5 Por exemplo, a dissertação intitulada A ideologia liberal de "O Estado de São Paulo" (1932-1937) aparece contabilizada duas

vezes no sistema, por conta de o nome da autora estar grafado de duas maneiras diferentes, ora Maria Ligia Prado Medeiros, ora

Maria Ligia Coelho Prado. O fato é que se trata de apenas um trabalho. Neste caso, para piorar a confusão, há um outro trabalho com título muito próximo, mas que se trata de uma dissertação sobre o mesmo tema, com o mesmo orientador, mas de outro

pesquisador, trata-se do título: A ideologia liberal de "O Estado de São Paulo" (1927-1932), da autoria de Maria Helena Rolim

Capelato. Cf. http://pos.fflch.usp.br/bancodefesas 6 Este é o caso, por exemplo, da tese de doutorado intitulada Didática da leitura na formação em FLE: em busca dos leitores, da

autoria de Rita Jover Faleiros. Cf. http://pos.fflch.usp.br/bancodefesas

7

Gráfico 1. Quantidade de teses e dissertações por departamento.

Fonte: elaboração do autor.

Após esse primeiro tratamento, procedemos à verificação, dentre os 325 trabalhos que

não apareciam atrelados a qualquer departamento, se havia trabalhos na área de literatura e, em

específico, que tivessem algum aspecto que possibilitasse ser alocado no escopo da área de

Literatura Portuguesa. Feito esse rastreamento, verificamos que não havia qualquer trabalho

pertinente à área de Literatura Portuguesa dentre os 325 não atrelados a qualquer departamento.

Tendo dado esses dois passos iniciais, estabelecemos o critério de trabalhar sobre a

produção da pesquisa em Literatura Portuguesa nessa base de dados apenas a partir dos

trabalhos alocados no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas (DLCV). A partir dessa

decisão, procedemos ao tratamento que passamos descrever a seguir. Primeiramente, filtramos

as teses e dissertações apenas do DLCV, departamento que conglomera atualmente cinco áreas:

Letras Clássicas (LC); Literatura Brasileira (LB); Literatura Portuguesa (LP); Filologia e Língua

Portuguesa (FLL) e Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa (ECLLP). Vale

lembrar, contudo, que as áreas de conhecimento não apareciam identificadas na planilha, o que

foi positivo, já que tivemos de abandonar esse critério de divisão institucional por área para nos

preocuparmos exclusivamente com o teor do trabalho, se tomava a Literatura Portuguesa como

objeto de pesquisa. Vale salientar, portanto, que o critério para a seleção dos trabalhos sobre

Literatura Portuguesa não se deu por sua vinculação institucional a uma ou outra área, mas sim

em razão do conteúdo do trabalho. Para tanto, analisamos cada um dos títulos das teses e

MAE DLO DTLLC DA DCP DL DF DS DLM DG DLCV DH

161282

527 587 646

857958

1079

1398

19622032

2556

8

dissertações contidos na planilha, fazendo remissão aos resumos dos trabalhos para nos

certificarmos de que eram estudos que contemplavam a Literatura Portuguesa. A partir desse

trabalho, chegamos a uma base de 548 trabalhos que apresentavam em seu escopo de estudo a

Literatura Portuguesa, independetemente da área do departamento. Assim, dentre tais trabalhos,

havia teses e dissertações que tratavam de Literatura Portuguesa, mas que poderiam ter sido

defendidas na área (institucional) de Literatura Brasileira, de Estudos Comparados de

Literaturas em Língua Portuguesa ou até mesmo de Filologia e Língua Portuguesa.

Apesar de a área institucional não ter sido um critério inicial, num momento posterior,

procuramos destacar e identificar em que área institucional do DLCV os trabalhos constantes da

base de dados teriam sido desenvolvidos. Depois de realizado esse trabalho de identificação,

chegamos à seguinte distribuição:

Gráfico 2. Quantidade de teses e dissertações por área no DLCV.

Fonte: elaboração do autor.

Assim, tendo feito essa distribuição, foi possível verificar a existência de trabalhos que

contemplavam o tema de Literatura Portuguesa, mas que haviam sido desenvolvidos em outras

áreas. Por exemplo, quando uma tese era pertencente à área de ECLLP, isso poderia significar

que o autor português foi abordado em comparação com algum autor de outro país de língua

portuguesa, mas como o presente trabalho enfoca a pesquisa sobre Literatura Portuguesa, não

procuramos delimitar as nacionalidades dos autores/obras em comparação. Assim, por exemplo,

se uma tese ou dissertação enfocava a comparação entre um autor português e outro brasileiro,

ou entre um autor português e outro africano, foi considerada como atinente à área de Literatura

129 139

227

308

403

102 106

181157

280

231 245

408

465

683

ECLLP LC LP FLL LB

M

D

Total

9

Portuguesa, mesmo que pertencente à área institucional de Estudos Comparados de Literaturas

de Língua Portuguesa.

Desse modo, para o estabelecimento da quantidade dos trabalhos que abordaram a

Literatura Portuguesa foram considerados os dados totais do departamento, assim, aqui se

encontra a totalidade de trabalhos sobre Literatura Portuguesa, incluindo os desenvolvidos na

própria área institucional e os que foram desenvolvidos nas demais áreas:

Áreas

Literatura

Portuguesa

LC 0

LB 4

LP 408

FLL 16

ECLLP 120

Total 548

Tabela 3. Quantidade de teses e dissertações sobre Literatura Portuguesa.

Fonte: elaboração do autor.

De acordo com o quadro acima, temos 408 trabalhos sobre Literatura Portuguesa

identificados à própria área, quatro trabalhos identificados à área de Literatura Brasileira, mas

que abordam a Literatura Portuguesa, dezesseis trabalhos identificados à área de Filologia e

Língua Portuguesa e que abordam a Literatura Portuguesa e cento e vinte trabalhos identificados

à área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa e que abordam a Literatura

Portuguesa. Não foram encontrados trabalhos sobre Literatura Portuguesa identificados como

pertencentes à área de Letras Clássicas. Em razão dessa distribuição, preferimos nos referir à

quantidade de teses e dissertações “sobre” Literatura Portuguesa e não como sendo da “área” de

Literatura Portuguesa. Na sequêcia, apresentamos a distribuição da quantidade de trabalhos ao

longo das décadas.

10

Gráfico 3. Quantidade de defesas sobre Literatura Portuguesa, por década.

Fonte: elaboração do autor.

Gráfico 4. Quantidade de teses e dissertações sobre Literatura Portuguesa, por década.

Fonte: elaboração do autor.

1 511

49

7892

230

82

40 50 60 70 80 90 2000 2010

40 50 60 70 80 902000 2010

1 5 819

3635

96

43

0 0 3

30

42

57

134

39

Doutorado

Mestrado

11

Gráfico 5. Comparativo entre a produção total de teses e dissertações do DLCV e a produção

acerca de Literatura Portuguesa, por décadas.

Fonte: elaboração do autor.

A primeira tese de que se tem registro nesta Faculdade, conforme tal banco de dados, data

do ano de 1937 e pertence à área de Ciências, mais especificamente àrea de Biologia. Apesar de

o curso de Letras na USP ter sido criado já em 1934, conforme relata Santilli (1994), a primeira

tese da área de Letras só viria a ser defendida cinco anos depois da defesa da primeira tese, no

ano de 1942, na área de Letras Clássicas, tratava-se de um estudo sobre Sófocles. Curiosamente,

a segunda tese na grande área de Letras de que se tem regristo nesta instituição concerne à área

de Literatura Brasileira, diz respeito a um estudo sobre a poesia de Amadeu do Amaral, tese

defendida em abril de 1942. A terceira tese da grande área concerne ao estudo da língua latina,

defendida em junho de 1944; já a quarta concerne à área de língua indígina, com um estudo

sobre a influência indígina no português do Brasil, em tese defendida em outubro de 1944. A

Literatura Portuguesa viria a ser contemplada em termos de pesquisa apenas na quinta tese da

grande área de Letras defendida na universidade, justamente no mês de novembo do ano de

1946, em trabalho intitulado Nobilário do Conde D. Pedro de Barcelos, da autoria de António

Soares Amora, tese defendida sob a orientação do professor Fidelino de Figueiredo. A segunda

tese sobre Literatura Portuguesa só viria a ser defendida quatro anos depois, em outubro de

1950, por Sigismundo Spina, com o trabalho intitulado Fenômenos formais da poesia primitiva,

1 5 1149

78 92

230

82

4 7 20

105

178

350

930

438

40 50 60 70 80 90 2000 2010

Soma de DLCV

Soma de Lit. Port

12

também sob a orientação do professor Fidelino de Figueiredo. Se este é o segundo trabalho na

área de Literatura Portuguesa, no computo geral da grande área de Letras da universidade ele

aparece em décimo lugar, sendo antecedido ainda por uma tese sobre tupi-guarani, datada de

1946, e mais três com foco em literatura, respectivamente sobre a lenda de Tristão e Isolda em

língua alemã, sobre John Donne e sobre o romantismo no Brasil, as três teses defendidas no ano

de 1950. De 1937 a 1949, em se considerando toda a Universidade de São Paulo, contabilizam-

se 10 teses pertencentes à grande área de Letras (sendo que, dentre estas, quantro aparecem

alocadas ao atual DLCV) e uma à área de Literatura Portuguesa, justamente a tese de Antônio

Soares Amora.

Na década de cinquenta, foram cinco teses de doutoramento defendidas sobre Literatura

Portuguesa, sendo três delas já sob a orientação do professor Antônio Soares Amora, dentre as

quais merce destaque o trabalho de Massaud Moisés sobre a Novela de Cavalaria no

Quinhentismo Português, título de seu doutoramento defendido em 1954. Há, ainda, na década

de cinquenta, além do já mencionado título de Sigismundo Spina, uma tese que dialoga com a

Literatura Portuguesa, mas que fora desenvolvida no âmbito da cadeira de Filologia e Língua

Portuguesa e que trabalha os códices medievas da vida de Santo Aleixo, orientada por Francisco

da Silveira Bueno. De qualquer modo, é interessante notar, a partir desses dados, que até a

primeira metade da década de cinquenta, o quarteto de intelectuais que formou a base da área de

Literatura Portuguesa na Universidade de São Paulo já se apresentava de maneira

suficientemente clara: Fidelino de Figueiredo; Antônio Soares Amora; Sigismundo Spina e

Massaud Moisés.7

Em dezessseis anos de vida da Universdidade de São Paulo, entre 1934 e 1950,

contabilizaram-se menos de uma tese defendida por ano na área de Letras e apenas duas na área

de Literatura Portuguesa. Já em seus vinte e seis anos iniciais de existência (1934 a 1959), a

Universidade de São Paulo produziu seis teses sobre Literatura Portuguesa. Aos olhos de hoje,

isso pode parecer mínimo, mas para a época, em que o número de ingressantes era muito

reduzido e o de egressos dos cursos de Letras ainda mais, esse número parece muito coerente.

Se considerarmos, a título de curiosidade, o que está documentado nos anuários da Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, é possível vislumbrar a dimensão

7 Sobre a origem da área de Literatura Portuguesa na USP e seus intelectuais, merece destaque o texto de Maria Aparecida Santilli

intitulado “Literatura Portuguesa”, bem como os depoimentos de António Soares Amora sobre o professor Fidelino de Figueiredo e

o de Sigismundo Spina, a respeito da criação da área de estudo de camonologia, todos publicados em Estudos Avançados. Vol. 8, No. 22. São Paulo, Universidade de São Paulo, Set/Dez. 1994. Mais recentemente, no XXII congresso da ABRAPLIP, que abordou

a constituição da memória da Literatura Portuguesa, houve um esforço de recuperação, inclusive, da memória de uma série de

personalidades da área, dentre elas a do próprio Sigismundo Spina, cuja recuperação do percurso intelectual ficou a cargo da professora Yara Frateschi Vieira e também do próprio António Soares Amora, cuja memória foi celebrada pelo igualmente

fundamental Massaud Moisés. Cf. VIEIRA, Yara Frateschi. “O papel intelectual e docente do professor Segismundo Spina”. Anais

do XXII Congresso Internacional da ABRAPLIP. Salvador, BA: Universidade Federal da Bahia, 2009. P. 63 a 75. MOISÉS, Massaud. “António Soares Amora”. Anais do XXII Congresso Internacional da ABRAPLIP. Salvador, BA: Universidade Federal da

Bahia, 2009.

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dos cursos da época. No ano de 1934, por exemplo, a sub-seção de Letras Clássicas e Português

contava com cinco alunos matriculados e a de Línguas Estrangeiras com 9, totalizando,

portanto, 14 matrículas na área de Letras. Já no ano de 1935, as mesmas sub-seções

apresentavam, respectivamente, 16 e 26 matrículas, o que resulta num total de 42 matrículas. No

ano de 1936, para o curso de Letras Clássicas e Português, há o registro de um total de 14

alunos matriculados e para o curso de Línguas Estrangeiras 22 matrículas, perfazendo 36 no

total 8. No ano de 1937, foram 28 e 29 matriculados nos dois cursos respectivamente, um total

de 57 matriculados em toda a área de Letras; já no ano de 1938, foram 25 matrículas no

primeiro curso e 12 no segundo, totalizando 37 matrículas 9.

Cabe lembrar que nesse período inicial do curso de Letras o modelo de Pós-Graduação do

qual se originavam as pesquisas e as referidas defesas era bem distinto do que viria a se

estabelecer a apartir dos anos setenta. Conforme lembra Santilli (1994), na origem dos cursos de

Letras, as áreas de conhecimento eram organizadas por cadeiras. Se tomarmos como base os

documentos apresentados nos anuários da Faculdade deste período inicial da universidade,

veremos que a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras organizava-se em três seções: A

primeira seção, a de Filosofia, a segunda, de Ciências, e a terceira, de Letras. Na primeira seção,

agrupavam-se quatro cadeiras, a de Filosofia, de História da Filosofia, de Filosofia das Ciências

e de Psicologia. A segunda seção era organizada em seis sub-seções, todas com suas respectivas

cadeiras: Ciências Matemáticas (três cadeiras); Ciências Físicas (duas cadeiras); Ciências

Químicas (duas cadeiras); Ciências Naturais (seis cadeiras); Geografia e História (cinco

cadeiras); Ciências Sociais e Políticas (cinco cadeiras). A terceira seção era organizada em duas

sub-seções, a de Letras Clássicas e Português (que abrigava cinco cadeiras: a de Filologia Grega

e Latina; Filologia Portuguesa; Literatura Luso-Brasileira; Literatura Grega e Literatura Latina)

e a de Línguas Estrangeiras (com cinco cadeiras: Língua e Literatura Francesa; Língua e

Literatura Italiana; Língua e Literatura Espanhola; Língua e Literatura Inglesa; Língua e

Literatura Alemã).

A grande área de Letras, portanto, abrigava em seu bojo duas sub-áreas e dez áreas

específicas de conhecimentos, denominadas cadeiras. A área de conhecimento que interessa à

nossa pesquisa esteve abrigada, inicialmente, portanto, pela cadeira de Literatura Luso-

Brasileira, a qual esteve inicialmente sob a responsabilidade do professor Otoniel Mota10 e, a

8 Anuário da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras 1936. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 1937. Pp. 309-

313. 9 Anuário da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras 1937-1938. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 1938. Pp. 226-228. 10 No Anuário da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de 1936 é possível encontrar a seguinte nota biográfica acerca do Prof.

Ontoniel Mota: “O prof. Otoniel de Campos Mota, filho de José Rodrigues e de D. Bernardina Deoclecia da Mota Pais, nasceu em Porto Feliz, a 16 de Abril de 1878. Fez seus primeiros preparatórios no antigo Curso Anexo à Faculdade de Direito. Completou-os

no Seminário Presbiteriano, onde fez o seu curso teológico, em São Paulo. Foi lente de português em Ribeirão Preto, e depois em

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partir de 1938, conforme nos lembra Santilli (1994), sob a responsabilidade de Fidelino de

Figueiredo.

Se atrelarmos os dados sobre a produção de pesquisa na área de Literatura Portuguesa

acima apresentados com as fases de organização da instituição indicadas por Santilli (1994),

poderemos perceber que as teses na área só começaram a ser produzidas depois que houve o

desmembramento das cadeiras em 1942, ou seja, apenas depois de quatro anos dessa data é que

tivemos a primeira tese de doutorado em Literatura Portuguesa defendida na USP. As outras

seguintes, curiosamente, só foram concluídas na décda de cinquenta, momento de

fortalecimento da área na universidade, em que se dá, por exemplo, a instalação do Instituto de

Estudos Portugues, o qual perdurou com este nome até o final década de sessenta, com a

reforma universitária que viria a estabelecer a criação dos departamentos, organizados por áreas

e segundo suas disciplinas afins. Em razão de tal reforma, a menor unidade institucional passou

a ser o departamento e, deste modo, o Instituto de Estudos Portugueses teve de ser transformado

em Centro de Estudos Portugueses, de maneira que se constituísse como um órgão

interdepartamental.

Em 1970 estabeleceram-se, por portaria, as disciplinas e áreas de Letras e, em 1971,

agruparam-se as disciplinas aos departamentos, establecendo-se a organização departamental

que hoje se conhece, ficando a disicplina de Literatura Portuguesa dentro do Departamento de

Letras Clássicas e Vernáculas; foi nesta mesma época, a partir dessa nova organização, que se

instituiram os programas de Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências

Humanas. Vale salientar, portanto, que até a instituição desses programas, contabilizaram-se,

durante a década de sessenta (entre 60 e 1969), mais onze defesas pertinentes à Literatura

Portuguesa, sendo oito em nível de doutorado e três em nível de mestrado. Foi nessa década,

precisamente no ano de 1968, que se deu a primeira defesa de mestrado com trabalho

envolvendo Literatura Portuguesa. Dos onze trabalhos produzidos, seis se deram sob a

orientação de Antônio Soares Amora; quatro sob a orientação de Sigismundo Spina e um sob a

orientação de Francisco da Silveira Bueno.

É interessante observar que, mesmo antes da década de setenta, anteriormente à

reorganização das áreas de conhecimento em nível de Pós-Graduação, a área concernente à

Literatura Portuguesa mostrava-se já desde o início proponderante no que se refere à quantidade

de produção em pesquisa, o que é possível concluir da observação do quadro abaixo:

Campinas, e Diretor da Biblioteca Pública de S. Paulo”. Cf. Anuário da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras 1936. São Paulo:

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 1937. p. 306.

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Década DLCV Lit. Port. Lit. Port. em %

40 4 1 25%

50 7 5 71,5

60 20 11 55%

70 105 49 46,7%

80 178 78 43,8%

90 350 92 26,3%

2000 930 230 24,7%

2010 438 82 18,7%

Tabela 4. Porcentagem de trabalhos sobre Literatura Portuguesa em relação ao total do DLCV,

por década.

Fonte: elaboração do autor.

Se na primeira década a Literatura Portuguesa correspondeu a vinte e cinco por cento, nas

duas seguintes a área passou a represetar mais da metade da produção em nível de Pós-

Graduação do DLCV. Mesmo depois da reforma que implantou o atual sistema de Pós-

Graduação, na década de setenta, a área de Literatura Portuguesa continuou a ocupar lugar

expressivo em termos de produção, ficando próxima ainda da metade da produção total do

departamento nas décadas de setenta e oitenta. Nas década seguinte, contudo, voltou à

proporção próxima de um quarto. Se, por um lado, proporcionalmente ao departamento, há uma

diminuição na porcentagem da produção (o que poderia significar uma diminuição da força da

área em relação às outras), por outro, quando considerada isoladamente, a produção na área

apresenta um aumento. Isso pode ser observado quando consideramos apenas o universo dos

trabalhos sobre Literatura Portuguesa, em que temos a seguinte distribuição por décadas:

Década Porcentagem

Quarenta 0,20%

Cinquenta 0,90%

Sessenta 2,00%

Setenta 8,95%

Oitenta 14,23%

Noventa 16,80%

Dois mil 41,96%

Dois mil e dez 14,96%

1940 a 2013 100%

Tabela 5. Relação entre a produção por década e o total de trabalhos sobre Literatura Portuguesa

produzidos no período entre 1940 e 2013.

Fonte: elaboração do autor.

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Gráfico 6. Relação entre a produção por década e o total de trabalhos sobre Literatura Portuguesa

produzidos no período entre 1940 e 2013.

Fonte: Elaboração do autor.

3. Considerações Finais

Apesar de, proporcionalmente, a relação entre a produção de dissertações e teses sobre

Literatura Portuguesa e o total de dissertações e teses produzidas nas demais áreas que hoje

compõem o DLCV ser maior entre o período que vai da década de quarenta à década de

noventa, o maior número de produções sobre Literatura Portuguesa se verifica a partir dos anos

dois mil. Em outros termos, nos treze anos finais de história de pesquisa na área, no período que

vai de 2000 a 2013, foram produzidos 56,92% de todos os trabalhos da área, sendo que o

período que compreende a década de quarenta até o final da década de noventa corresponde a

43,08%. Ou seja, nos últimos treze anos do departamento produziram-se mais dissertações e

teses que abordaram a Literatura Portuguesa do que nas seis décadas anteriores.

Se considerarmos a década que se inicia em 2010, que contempla apenas três anos, o

prognóstico de aumento da produção se confirma, já que somente neste curto período a

quantidade de trabalhos já superou os números de cada década até a de oitenta. Apenas nesse

período de três anos, a produção já se aproxima do número total de trabalhos produzidos em

toda a década de noventa, diferindo para baixo em apenas dez trabalhos.

Esses dados, vistos sob essa perspectiva temporal, permitem concluir que se, por um

lado, a produção de pesquisa sobre Literatura Portuguesa, atualmente, nas duas últimas décadas,

aumentou consideravelmente, por outro lado, tem diminuído sensivelmente em termos relativos

Quarenta0,2%

Cinquenta0,9%

Sessenta2% Setenta

8,95%Oitenta14,23%

Noventa16,80%

Dois mil41,96%

Dois mil e dez14,96%

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aos números totais do departamento. Trata-se, portanto, de um fenômeno que, visto sob uma

perspectiva temporal, representa, ao mesmo tempo, uma retração e uma expansão.

4. Bibliografia

Anuário da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras 1934-35. São Paulo: Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras, 1937.

Anuário da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras 1936. São Paulo: Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras, 1937.

Anuário da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras 1937-1938. São Paulo: Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras, 1938. Pp. 226-228.

AMORA, António Soares. “Fidelino de Figueiredo na origem dos estudos de Literatura

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São Paulo, Set/Dez. 1994. p. 423-426.

Catálogo de Teses e Dissertações 1942-1997. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e

Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1998. p. 9

MOISÉS, Massaud. “Antônio Soares Amora”. Anais do XXII Congresso Internacional da

ABRAPLIP. Salvador, BA: Universidade Federal da Bahia, 2009.

SANTILLI, Maria Aparecida. “Literatura Portuguesa”. Estudos Avançados. Vol. 8, No. 22. São

Paulo: Universidade de São Paulo, Set/Dez. 1994. p. 427-429.

SPINA, Sigismundo. Estudos Camonianos. Estudos Avançados. Vol. 8, No. 22. São Paulo:

Universidade de São Paulo, Set/Dez. 1994. p. 427-429.

VIEIRA, Yara Frateschi. O papel intelectual e docente do professor Segismundo Spina. Anais

do XXII Congresso Internacional da ABRAPLIP. Salvador, BA: Universidade Federal

da Bahia, 2009. Pp. 63 a 75.