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A presença da tecnofobia na utilização de equipamentos eletrônicos por idosos Raymundo T M 1 , Elui V M C 2 e Santana C S 3 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Bioengenharia EESC/IQSC/FMRP Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Professora Doutora, Docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento.. Orientadora do Programa de Pós-Graduação Inteunidades em Bioengenharia EESC/IQSC/FMRP Universidade de São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected] 3 Professora Doutora Docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São, Paulo Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento. Orientadora do Programa de Pós-Graduação Inteunidades em Bioengenharia EESC/IQSC/FMRP Universidade de São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected] Resumo. As tecnologias encontram-se presentes no dia-a-dia dos idosos, tanto nas suas atividades do cotidiano mais complexa como nas mais simples. Em meio a essa realidade nos deparamos com fatores que interferem no uso destes aparelhos como a tecnofobia, ou seja, o medo de utilizar aparelhos tecnológicos. Este estudo foi pensado buscando conhecer um pouco mais dos aspectos relacionados ao uso de equipamentos eletrônicos por idosos. O estudo tem como objetivo identificar a presença de tecnofobia relacionada ao uso de tecnologias por idosos e quais os possíveis fatores que interferem na não utilização da tecnologia. Trata-se de um estudo prospectivo, exploratório, descritivo e transversal desenvolvido no período de fevereiro/2011 a maio/2011. A amostra foi composta por 44 idosos procedentes de diferentes localizações do estado de São Paulo, Brasil, participantes do Projeto de Inclusão Digital da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Os procedimentos de coleta de dados incluíram: 1) Questionário sócio econômico; 2) Questionário para identificação dos aparelhos que os idosos possuem maior dificuldade na utilização; 3) Avaliação da capacidade funcional no desenvolvimento de Atividades Instrumentais de Vida Diária AIVD; 4) Questionário com uma pergunta aberta sobre o medo na utilização das novas tecnologias e aparelhos digitais. A maioria dos participantes pertence às classes sociais médias e alta e possuem um alto nível de escolarização. Todos os sujeitos foram classificados como independentes. Os idosos relataram ter maior dificuldade no uso de produtos e tecnologias para a comunicação, sendo que o celular apareceu em primeiro lugar seguido do controle remoto e o DVD/vídeo cassete. Foi observada a presença do medo tanto em homens quanto em mulheres. Embora os dados relatem o medo de manusear aparelhos eletrônicos, eles não permitem caracterizar a presença da tecnofobia, pois estes idosos são freqüentadores de um programa de inclusão digital e estão em busca do desafio de superarem estas dificuldades. XVIII Congreso Argentino de Bioingeniería SABI 2011 - VII Jornadas de Ingeniería Clínica Mar del Plata, 28 al 30 de septiembre de 2011

A presença da tecnofobia na utilização de equipamentos ... · O estudo tem como objetivo identificar a presença de ... localizações do estado de São Paulo, Brasil; com média

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A presença da tecnofobia na utilização de equipamentos

eletrônicos por idosos

Raymundo T M1, Elui V M C

2 e Santana C S

3

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Bioengenharia

EESC/IQSC/FMRP – Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil. E-mail:

[email protected] 2 Professora Doutora, Docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo – Departamento de Neurociências e Ciências do

Comportamento.. Orientadora do Programa de Pós-Graduação Inteunidades em

Bioengenharia EESC/IQSC/FMRP – Universidade de São Paulo, Brasil. E-mail:

[email protected] 3

Professora Doutora Docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da

Universidade de São, Paulo – Departamento de Neurociências e Ciências do

Comportamento. Orientadora do Programa de Pós-Graduação Inteunidades em

Bioengenharia EESC/IQSC/FMRP – Universidade de São Paulo, Brasil. E-mail:

[email protected]

Resumo. As tecnologias encontram-se presentes no dia-a-dia dos idosos, tanto nas

suas atividades do cotidiano mais complexa como nas mais simples. Em meio a essa

realidade nos deparamos com fatores que interferem no uso destes aparelhos como a

tecnofobia, ou seja, o medo de utilizar aparelhos tecnológicos. Este estudo foi pensado

buscando conhecer um pouco mais dos aspectos relacionados ao uso de equipamentos

eletrônicos por idosos. O estudo tem como objetivo identificar a presença de

tecnofobia relacionada ao uso de tecnologias por idosos e quais os possíveis fatores

que interferem na não utilização da tecnologia. Trata-se de um estudo prospectivo,

exploratório, descritivo e transversal desenvolvido no período de fevereiro/2011 a

maio/2011. A amostra foi composta por 44 idosos procedentes de diferentes

localizações do estado de São Paulo, Brasil, participantes do Projeto de Inclusão

Digital da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Os

procedimentos de coleta de dados incluíram: 1) Questionário sócio econômico; 2)

Questionário para identificação dos aparelhos que os idosos possuem maior

dificuldade na utilização; 3) Avaliação da capacidade funcional no desenvolvimento

de Atividades Instrumentais de Vida Diária – AIVD; 4) Questionário com uma

pergunta aberta sobre o medo na utilização das novas tecnologias e aparelhos digitais.

A maioria dos participantes pertence às classes sociais médias e alta e possuem um

alto nível de escolarização. Todos os sujeitos foram classificados como independentes.

Os idosos relataram ter maior dificuldade no uso de produtos e tecnologias para a

comunicação, sendo que o celular apareceu em primeiro lugar seguido do controle

remoto e o DVD/vídeo cassete. Foi observada a presença do medo tanto em homens

quanto em mulheres. Embora os dados relatem o medo de manusear aparelhos

eletrônicos, eles não permitem caracterizar a presença da tecnofobia, pois estes idosos

são freqüentadores de um programa de inclusão digital e estão em busca do desafio de

superarem estas dificuldades.

XVIII Congreso Argentino de Bioingeniería SABI 2011 - VII Jornadas de Ingeniería Clínica Mar del Plata, 28 al 30 de septiembre de 2011

1. Introdução O envelhecimento é um processo natural, contínuo e particular que ocorre com todos os seres vivos e

provoca modificações significativas nos aspectos biopsicossociais como, por exemplo, nas alterações

das funções orgânicas (modificações químicas, físicas e biológicas), nas constantes adaptações a

situações novas do cotidiano (modificações psicológicas), e mudanças nas relações familiares sociais

[1].

O preconceito enfrentado hoje pelo idoso decorre de um processo histórico baseado em um estereótipo

que associa a idéia de improdutividade, incapacidade e dependência. Este estigma alimenta uma falsa

noção de que o idoso não é capaz de aprender novas tarefas, porém, este está sendo aos poucos

revertido [2].

A vida contemporânea está marcada pela revolução da informática, da robótica e da microeletrônica.

Cada vez mais estamos dependentes das máquinas eletrônicas, e o idoso se vê frente a um novo

desafio. Frente a essas novidades, nos deparamos com a necessidade da criação de estratégias que

viabilizem a inclusão do segmento idoso no mundo tecnológico.

As tecnologias encontram-se presentes no dia-a-dia dos longevos, tanto nas suas atividades do

cotidiano mais complexa como nas atividades mais simples, exigindo assim uma mudança no

comportamento e no aprimoramento do uso destes aparelhos. A partir do momento em que o idoso

passa a ter acesso e são incluídos nos meios informatizados, eles percebem que as tecnologias não são

tão complexas como imaginavam e que podem sim aprender e se atualizar, sentindo-se, portanto, mais

valorizados [2]

Muitas vezes, os novos produtos, as tecnologias e serviços disponíveis são apresentados sem uma

maior preocupação com as consequências para o consumidor. Alguns desses consumidores se adaptam

rapidamente, porém, há uma parcela da população que vivencia dificuldades, em níveis variados para

se adequar e conviver com um produto inovador ou uma nova tecnologia, chegando até a evitá-los [3].

A população idosa é a maioria quando se fala de consumidores que evitam a tecnologia e muito se

deve ao fato de o avanço desta ter acontecido recentemente e não ter estado presente durante muitos

anos da vida dessas pessoas mais velhas. Alguns idosos têm revelado suas dificuldades e resistências

em entender e lidar com os avanços tecnológicos, até mesmo quando se trata dos mais comuns como

eletrodomésticos, celulares, caixas eletrônicos. Devido a essas dificuldades há um aumento no número

de longevos excluídos nesse processo digital, e com isso, a maioria recebe um rótulo de analfabetos

digitais [4]

O avanço tecnológico, ao mesmo tempo em que promove melhorias para a população, também

propicia uma forma de exclusão, a digital. A exclusão digital no Brasil ocorre de acordo com as

diferenças regionais, acompanhado da desigualdade social e serviços de cada região do país sendo a

população idosa um dos segmentos mais atingidos [5].

Grande parte dos idosos não se mostra motivada para se inserir no mundo informatizado, por medo,

por pensar ser um desafio inalcançável ou por não perceber a importância da inclusão digital e achar

que o aprendizado do manuseio dos aparelhos eletrônicos é uma tarefa que pertence apenas aos mais

jovens. O medo na utilização das novas tecnologias ocorre, sobretudo, pela falta de conhecimento e

pelo medo do funcionamento e de como manusear o equipamento o que pode, em alguns casos, gerar

insegurança [6].

A tecnologia pode ser benéfica quando se trata da facilitação da vida, porém, quando vista por outro

lado ela pode ser maléfica, causando tensões sociais e psicológicas. A desmistificação e o

enfrentamento da relação homem/tecnologia são passos difíceis para os idosos. No manuseio do

equipamento quase sempre, ocorrem obstáculos que podem provocar medo, resistência ou aversão

levando assim a um quadro de “tecnofobia”.

A tecnofobia é uma dimensão afetiva do medo e da ansiedade face às novas tecnologias [7]. Esta pode

ser dividida em três dimensões: (1) resistência em falar sobre ela, incluindo pensar nela; (2) medo ou

ansiedade frente à tecnologia; e (3) pensamentos hostis e agressivos com relação às tecnologias [8].

Têm-se, portanto, a necessidade do contato e do uso de novas tecnologias como elementos

indispensáveis à conquista do exercício pleno dos direitos do idoso como cidadão, tendo em vista que,

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cada vez mais nossa sociedade depende de computadores e de outras ferramentas tecnológicas para

atividades cotidianas que variam de simples a complexas [6].

O presente estudo vai ao encontro dessa necessidade e procura investigar a presença da tecnofobia e

demais fatores que interferem na não utilização das tecnologias por parte dos idosos.

2. Objetivos

Identificar a presença de tecnofobia relacionada ao uso de tecnologias por idosos.

Identificar os fatores que interferem na não utilização da tecnologia por idosos

3. Materiais e Métodos

Trata-se de um estudo prospectivo, exploratório, descritivo e transversal desenvolvido no período de

fevereiro/2011 a maio/2011. A amostra foi composta por 44 idosos procedentes de diferentes

localizações do estado de São Paulo, Brasil; com média de idade entre 66 a 71 anos, de ambos os

gêneros; diversas classes sócio-econômicas, escolaridade, residindo sozinho ou não, sendo estes,

participantes do Projeto de Inclusão Digital de Idosos – PIDI, da Faculdade de Medicina de Ribeirão

Preto – Universidade de São Paulo (USP). Os procedimentos de coleta de dados incluíram: 1)

Questionário sócio econômico semi-estruturado que busca informações como nome, idade, classe

sócio-econômica, escolaridade, ocupação prévia e atual, interesses; 2) Questionário para

identificação dos aparelhos que os idosos possuem maior dificuldade na utilização com questões

sobre o uso de 62 aparelhos eletrônicos organizados a partir da classificação dos Produtos e

Tecnologias contidos nos Aspectos Ambientais da Classificação de Funcionalidade, Incapacidade e

Saúde (CIF) da Organização Mundial de Saúde – OMS [9], compreendendo produtos e tecnologias

para uso pessoal na vida diária; para a comunicação; trabalho; cultura, atividades recreativas e

desportivas; conforto e bem estar. 3) Avaliação da capacidade funcional no desenvolvimento de

Atividades Instrumentais de Vida Diária – AIVD, foi utilizada a Escala de Lawton e Brody [10], a

qual leva em consideração a independência para a realização de tarefas mais adaptativas ou

necessárias para a convivência na comunidade [11]. Contém uma metodologia de pontuação de oito

domínios de funções que avaliam tarefas diárias tais como capacidade de utilizar o telefone, realização

de compras, preparo de refeições, desempenho de tarefas domésticas, lavagem de roupa, uso de meio

de transportes, responsabilidade em relação à medicação e gestão dos assuntos econômicos.

Considerou-se que estariam inclusas as mulheres com pontuação igual ou maior a 04 (para uma

pontuação máxima na escala para independência que é 08) e homens com pontuação igual ou maior a

03 (para uma pontuação máxima da Escala para independência que é 05), pontuações menores foram

ponderadas como de alto nível de dependência; 4) Questionário com uma pergunta aberta sobre o

medo na utilização das novas tecnologias e aparelhos digitais (você tem medo de utilizar as novas

tecnologias e aparelhos digitais, se sim, por quê?). A aplicação dos testes puderam ser auto ou hetero-

respondidas.

4. Análise dos dados

A metodologia de análise de dados baseou-se na análise de conteúdo do tipo temática a partir de

categorias de análise conforme proposta por Bardin (1977) associada à análise frequencial. [12].

5. Resultados e Discussão

Quanto às características socioeconômicas dos sujeitos, 51,16% dos idosos pertencem à Classe média

(C), 27,9% pertence à classe alta e média alta (A e B), 6,97% pertence à baixa (D) e 13,95% à classe

miserável (E). Estes dados estão baseados nos dados da Fundação Getúlio Vargas-FGV de 2008 [13],

tendo como base o salário mínimo da época no valor de 450 reais. A Classe C com salários variando

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de R$1064,00 a R$ 4591,00, as classes sociais A e B com salário maior que R$4591,00, a classe D

com salários entre R$768,00 a R$1064,00 e a classe E com salários variando de R$260,00 a R$780,00.

Percebe-se que a maioria dos participantes pertence às classes sociais médias e alta, podendo ser

considerada uma população privilegiada em relação a acesso e condições de adquirir aparelhos

tecnológicos levando-se em conta o custo destes dispositivos.

Quanto à escolaridade 34,09% possui ensino superior completo e 4,54% possui superior incompleto;

25% possui ensino fundamental incompleto e 15,9% ensino fundamental completo; 9,09% possui

ensino médio incompleto e o mesmo número de idosos possui ensino médio completo; apenas 1

participante não é escolarizado (2,27%). Pode-se observar que a maioria dos idosos possuem um alto

nível de escolarização.

Quanto à Capacidade Funcional e Qualidade de Vida, todos os sujeitos foram classificados como

independentes. Observa-se que são idosos ativos, sem queixas funcionais embora apresentem doenças

crônicas como hipertensão arterial e diabetes.

Quanto aos aparelhos eletrônicos nos quais os idosos apresentam maior dificuldade na utilização, os

idosos relataram ter maior dificuldade no uso de produtos e tecnologias para a comunicação (aparelho

de som – cd, DVD/vídeo cassete, televisão, vídeo game, telefone fixo, interfone, secretária eletrônica,

webcam, celular, walkman/discman/MP3), sendo que, dentre esses produtos o celular apareceu em

primeiro lugar nas dificuldades dos idosos, seguido do controle remoto o qual não estava na lista mas

foi citado pelos idosos e o DVD/vídeo cassete. Nos produtos e tecnologias para uso pessoal na vida

diária (aparelho auditivo, inalador, medidor de glicemia, medidor de pressão, porta comprimidos,

cortador de comprimidos, termômetro digital) a maior dificuldade relatada é no manuseio do medidor

de pressão. Já em relação ao preparo de alimentos (batedeira, chapa elétrica, fogão, forno elétrico,

geladeira, liquidificador, microondas, panela elétrica, processador de alimentos, sanduicheira, máquina

de fazer pão, filtro elétrico, cafeteira, misturador de alimentos, torradeira) a maior dificuldade dos

idosos está em lidar com o forno microondas. Os produtos e tecnologias para o trabalho também

apareceram entre as dificuldades dos idosos (aparelho de fax, câmera fotográfica comum e digital,

calculadora, computador, filmadora, ferramentas, cortador de grama, impressora) podendo-se notar o

relato de maior dificuldade na utilização da câmera fotográfica digital, filmadora e o computador.

Nota-se que as tecnologias relacionadas à comunicação ganham destaque quanto às dificuldades dos

idosos devido à evolução destas e a constante mudança e aumento de funções.

Quanto ao medo de utilizar as novas tecnologias, de acordo com a Tabela 1, foi observada a presença

do medo tanto em homens quanto em mulheres. Das participantes do sexo feminino (N=77,3%),

apenas 27,3% responderam não ter medo e 45,46% relataram ter algum medo específico. Em relação

aos homens (N=23,7%), 9,48% relataram não ter medo frente às novas tecnologias e, apenas 7,11%

relataram ter medo.

As dificuldades relatadas variam desde as simples operações do equipamento até a compreensão dos

processos básicos de funcionamento, utilização de caixas eletrônicos de banco, programação de

eletrodomésticos como DVD/vídeo cassete e forno microondas ou até mesmo de aparelhos celulares

[3]. As dificuldades apresentadas pelos idosos na utilização da tecnologia podem, muitas vezes, estar

ligada a presença de fatores psicológicos como é o caso do medo, resistência em utilizar equipamentos

tecnológicos, a chamada “tecnofobia”. Uma pessoa que apresenta tecnofobia pode não conseguir

utilizar um controle remoto, ter dificuldades com o telefone celular e suas funções, e até mesmo se

alterar emocionalmente caso tenham que executar uma tarefa exigida por esses aparelhos [14]. De

acordo com a literatura e com os resultados encontrados nesse trabalho, o medo muitas vezes consiste

em danificar o dispositivo eletrônico por não saber como utilizar [3].

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Tabela 1. Resultados relacionados ao medo na utilização das novas tecnologias e aparelhos

digitais

Respostas Homens * Mulheres

**

Não tenho medo 9,48% 27,3%

Tenho medo 2,37% 4,55%

Tenho medo por falta de conhecimento 0,0% 11,36%

Sim, tenho medo de não conseguir aprender 0,0% 11,36%

Sim, acho complicado 0,0% 4,55%

Sim, tenho medo de danificar o aparelho 2,37% 11,36%

Sim, tenho medo e não tenho interesse 0,0% 2,28%

Sim, tenho medo de utilizar a internet e ter o meu cartão clonado 2,37% 0,0%

Não responderam 7,11% 4,54

Total* 23,7% 77,3%

* Valores apresentados em relação à porcentagem total (44 participantes = 100%) de homens (10 =

23,7%) e mulheres (34 = 77,3%) na população estudada

6. Conclusão Embora os dados relatem o medo de manusear aparelhos eletrônicos, eles não permitem caracterizar a

presença da tecnofobia, pois estes idosos são freqüentadores de um programa de inclusão digital e

estão em busca do desafio de superarem estas dificuldades.

De acordo com os resultados obtidos, nota-se que os idosos ainda não estão acostumados com os

novos dispositivos eletrônicos e muitos criam uma barreira frente a estes dispositivos e como uma

maneira de proteção, um grande número de idosos apresentam o medo em relação ao manuseio das

novas tecnologias, relacionado à falta de interesse, dificuldade em aprender e o não reconhecimento

das funções, praticidade e benefício de tais equipamentos. A tecnofobia é um distúrbio, uma

dificuldade que deve ser objeto de outros estudos, pois, provoca sentimentos de incapacidade e

sofrimento em quem a vivencia. É necessário pensar em estratégias que auxiliem o sujeito idoso no

enfrentamento deste medo e faça com que estes percebam que as tecnologias não são tão complexas

como imaginam e que podem aprender e se atualizar, garantindo a estes uma maior independência no

manuseio destes dispositivos e consequente melhora na auto-estima e qualidade de vida. Projetos de

inclusão digital auxiliam os sujeitos a se instrumentalizarem quanto ao uso, e devem ser incentivados,

pois em geral, estes oferecem oportunidades de aprendizado que os idosos não conseguem efetivar

com os membros de sua família, ou preferem um espaço de trocas e aprendizagem mais adequados à

sua faixa etária, onde podem perceber que os temores e dificuldades não são exclusividades

individuais mas semelhantes a outros sujeitos idosos. Foi possível notar que os idosos descobrem e

redescobrem suas capacidades e assim passam a notar os benefícios das tecnologias, deixando de lado

e o medo e substituem estes sentimentos por sentimentos de alegria e auto-eficácia.

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7. Referências

[1] Schwanke C H A. As oficinas de inclusão digital do projeto Potencial/Idade: ontem, hoje e

amanhã. In: Ferreira A J et al. Inclusão digital de idosos: a descoberta de um novo mundo.

Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. Cap. 2, p. 19-24.

[2] Ferreira A J, Machado L R. Inclusão digital de idosos: a descoberta de um novo mundo. Porto

Alegre: EDIPUCRS, 2008.

[3] Veiga Neto A R. Atitudes de consumidores frente a novas tecnologias. 1999. Dissertação de

Mestrado, Campinas, Brasil, PUC-Campinas, 1999. Disponível

em:<http://www.veiga.net/tecnofobia/>. Acesso em: 25 mai. 2011.

[4] Tacques C O. et al. A inclusão digital do idoso através da educação a distância. In: Ferreira A

J et al. Inclusão digital de idosos: a descoberta de um novo mundo. Porto Alegre: EDIPUCRS,

2008. Cap. 10, p. 105-115.

[5] Sé, E V G. Inclusão digital traz benefícios em qualquer faixa etária.

http://www2.uol.com.br/vyaestelar/inclusao_digital.htm.> Acesso em: 21 de março de 2011.

[6] Oliveira S M L. Expectativas e desafios de longevos como participantes de um projeto de

inclusão digital. Tese (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2009.

[7] Pocinho M D, Garcia J C. Impacto psicossocial das tecnologias da informação e comunicação

(TIC): Tecnostress, danos físicos e satisfação laboral. Associação Colombiana de Psicologia,

Bogotá, v.11, n. 2, jul.- dec., 2008.

[8] Jay T. Computerphobia: What to do about it? Educational Technology, 21, p.47-48, 1981.

[9] Organização Mundial da Saúde (2004). CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade,

Incapacidade e Saúde. Lisboa.

[10] Lawton M P, Brody E M. Assessment of older people: Self-maintaining and instrumental

activities of daily living. The Gerontologist, 9(3), p. 179-186, 1969.

[11] Santos R L, Virtuoso Júnior J S. Confiabilidade da Escala de AIVD, p. 290-296, 2008.

[12] Bardin L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1977.

[13] Neri M C (coord.). A nova classe média. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas (FGV) /

Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) / Centro de Políticas Sociais (CPS), 85 p., 2008.

Disponível em: http:<//www.fgv.br/cps/classe_media/>. Acesso em: 25 mai.2011.

[14] Sabbatini R M E. Medo de computador. Correio Popular, Caderno de Informática 04/02/96,

1996.

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