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A PRESERVAÇÃO DA ARTE VITRAL EM INSTITUIÇÕES DE SAÚDE NA CIDADE DO RIO DE JANIERO Ellen Marianne Röpke Ferrando 1 INTRODUÇÃO No campo do patrimônio cultural, tem-se observado cada vez mais danos nestes últimos tempos onde, entre outros aspectos, o infeliz destino de muitos painéis de vitrais serve como exemplo. A enorme perda, a nível mundial, de belíssimos exemplares de vitrais ou até mesmo de conjuntos de painéis, devido às grandes guerras, desvalorização e vandalismo são reflexo da falta de cuidados, conhecimento e até mesmo identificação com este tipo de bem por grande parte da população. Aponta-se aqui não só para aqueles painéis mais antigos, como também aos mais recentes, de finais do século XIX e início do século XX, localizados inclusive em outros países que não somente aqueles do velho mundo (RAUCH, 2004: s.p). No Brasil não foi diferente. Este tipo de manifestação artística permanece até hoje em nosso país às margens do merecido reconhecimento quer como elemento histórico e artístico, quer como referência patrimonial da identidade cultural. Desta forma, o presente trabalho visa lançar à luz este tipo de bem cultural no Brasil através do levantamento de alguns exemplares, localizados em instituições de saúde na cidade do Rio de Janeiro, uma vez que encerram painéis em sua grande maioria desconhecidos tendo seu valor e suas especificidades encobertas. Ao tratar desta tipologia bastante específica de vitrais, fazem-se cruciais algumas indagações: como as escolhas estilísticas dos vitrais são vinculadas a estas instituições e seus usos? O que representam? E mais, quais as leituras possibilitadas? Os exemplares de vitrais abordados neste trabalho localizam-se nas seguintes instituições na cidade do Rio de Janeiro: Centro - edifício da Cruz Vermelha Brasileira (com início das atividades em 1924) (Fig. 1) e antiga sede da Diretoria Geral de Saúde Pública, atual Instituto Nacional do Câncer – INCA, (1914); Tijuca: Hospital Gaffrée e Guinle (1929) * Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Preservação e gestão do patrimônio cultural das ciências e da saúde COC/Fiocruz, Bacharel em Artes Visuais (UFRGS), aluna de Licenciatura em Artes Visuais (UFRGS). *

A PRESERVAÇÃO DA ARTE VITRAL EM INSTITUIÇÕES DE … · mesma apresentava uma claraboia com estrutura semelhante a do Castelo Mourisco da Fiocruz, mas que, no entanto, sofreu substituição

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A PRESERVAÇÃO DA ARTE VITRAL EM INSTITUIÇÕES DE SAÚDE NA CIDADE

DO RIO DE JANIERO

Ellen Marianne Röpke Ferrando 1

INTRODUÇÃO

No campo do patrimônio cultural, tem-se observado cada vez mais danos nestes

últimos tempos onde, entre outros aspectos, o infeliz destino de muitos painéis de vitrais serve

como exemplo. A enorme perda, a nível mundial, de belíssimos exemplares de vitrais ou até

mesmo de conjuntos de painéis, devido às grandes guerras, desvalorização e vandalismo são

reflexo da falta de cuidados, conhecimento e até mesmo identificação com este tipo de bem

por grande parte da população. Aponta-se aqui não só para aqueles painéis mais antigos,

como também aos mais recentes, de finais do século XIX e início do século XX, localizados

inclusive em outros países que não somente aqueles do velho mundo (RAUCH, 2004: s.p).

No Brasil não foi diferente. Este tipo de manifestação artística permanece até hoje em nosso

país às margens do merecido reconhecimento quer como elemento histórico e artístico, quer

como referência patrimonial da identidade cultural.

Desta forma, o presente trabalho visa lançar à luz este tipo de bem cultural no Brasil

através do levantamento de alguns exemplares, localizados em instituições de saúde na cidade

do Rio de Janeiro, uma vez que encerram painéis em sua grande maioria desconhecidos tendo

seu valor e suas especificidades encobertas. Ao tratar desta tipologia bastante específica de

vitrais, fazem-se cruciais algumas indagações: como as escolhas estilísticas dos vitrais são

vinculadas a estas instituições e seus usos? O que representam? E mais, quais as leituras

possibilitadas?

Os exemplares de vitrais abordados neste trabalho localizam-se nas seguintes

instituições na cidade do Rio de Janeiro: Centro - edifício da Cruz Vermelha Brasileira (com

início das atividades em 1924) (Fig. 1) e antiga sede da Diretoria Geral de Saúde Pública,

atual Instituto Nacional do Câncer – INCA, (1914); Tijuca: Hospital Gaffrée e Guinle (1929)

*Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Preservação e gestão do patrimônio

cultural das ciências e da saúde COC/Fiocruz, Bacharel em Artes Visuais (UFRGS), aluna de Licenciatura em

Artes Visuais (UFRGS).

*

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(Fig. 2-4); São Cristóvão: Hospital Frei Antônio, antigo Hospital dos Lázaros, (edificação de

1752) (Fig. 5-7); Glória: Hospital da Beneficência Portuguesa (edificação do séc. XIX) (Fig.

8-10). Tais instituições apresentam exemplares de vitrais emblemáticos para este estudo em

questão, pois voltam-se a programas bastante específicos dentro da medicina. As imagens dos

vitrais abaixo ilustram algumas diferenças entre as instituições e seus propósitos.

Fig. 2, 3 e 4. Vitrais do Hospital Gaffrée e Guinle. Fotografia: Ellen Ferrando.

Fig. 1. Vitrais do edifício da Cruz Vermelha Brasileira. Fotografia: Ellen Ferrando.

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A busca por um estudo mais aprofundado sobre o vitral no Brasil faz-se urgente

principalmente pela perda crescente de belíssimos exemplares advinda do não

(re)conhecimento dos mesmos pela sociedade e do consequente abandono evidenciado no

estudo de muitos dos espaços de saúde aqui apresentados. Esta identificação da sociedade

com o vitral é provavelmente o maior desafio a ser vencido ao se buscar a preservação deste

tipo de bem cultural. Sua apreensão permanece ainda muito restrita em virtude de fatores que

contribuíram ao longo da história para que estivesse distante de uma compreensão mais

ampla. Pretende-se a partir deste trabalho trazer a público parte do patrimônio de vitrais na

cidade do Rio de Janeiro possibilitando uma maior conceituação e instrumentalização para

sua salvaguarda. Busca-se ainda incentivar e valorizar o reconhecimento desta linguagem de

arte como integrante da memória e patrimônio cultural no Brasil

A PRESERVAÇÃO DO VITRAL COMO OBRA DE ARTE

Fig. 8, 9 e 10. Detalhes dos vitrais do Hospital da Beneficência Portuguesa. Fotografias: Ellen Ferrando.

Fig. 5, 6 e 7. Vitrais do Hospital Frei Antônio. Fotografias: Ellen Ferrando.

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Para o que se propõe o presente trabalho é necessário lembrar que o objeto vitral pode

ser compreendido de diversas formas, prevalecendo atualmente em nosso país a noção de

acessório decorativo ou religioso. Esta ideia restringe drasticamente sua compreensão e

apreensão pela sociedade civil. Muito didaticamente classifica Michelotti (2011) os diversos

tipos de vitrais em três grupos, mostrando que sua abrangência ultrapassa a esfera religiosa2.

A autora aponta para os vitrais de cunho arquitetônicos (vitrais de uso integrado nas estruturas

arquitetônicas, como claraboias e outras aberturas para passagem de luz), vitrais utilitários/

decorativos (aqueles vitrais confeccionados como peças de uso doméstico e decorativo, como

as luminárias, mobiliário e biombos) e ainda, os vitrais artísticos (vitrais utilizados

exclusivamente para produção artística, mais comum na contemporaneidade, e que não se

integram funcionalmente à arquitetura) (2011: 27). No entanto ela deixa claro no decorrer do

texto que para além desta classificação todos eles são fruto de uma artesania especializada

(que deve ser conhecida e preservada) e que resulta em objetos com alto potencial estético e

social, independente do lugar que ocupam.

Posto isto, o trabalho aqui exposto refere-se ao vitral, em primeira instância, como

obra de arte em sua compreensão mais ampla, independente das demais classificações.

Portanto, como nos lembra Brandi, a obra de arte compreendida em sua bipolaridade estética

e histórica (Brandi, 2004), isto é, como imagem, como consistência material, sem deixar de

levar em conta os elementos intermediários entre artista (artífice), obra e observador. Assim, o

vitral, como obra de arte, apresenta-se como objeto multifacetado, ou ainda enquanto objeto

híbrido. Ao mesmo tempo em que encerra questões relacionadas à funcionalidade prática e

artística, também se encontra diretamente relacionado com questões de ordem social. Procura-

se voltar a ele, apontando questões estéticas e iconográficas e ainda, como produto de uma

manifestação cultural específica (europeia), de um saber fazer pela figura de um artífice

bastante especializado (WERTHEIMER, 2011). Torna-se da mesma forma importante

compreender que tipo de ideias e significados estes painéis representam e para quem são

destinados (o lugar que ocuparam e ocupam hoje dentro da sociedade).

Preservar os vitrais em sua materialidade significa assim, possibilitar a permanência

do mesmo como objeto e identificação cultural, inclusive no que diz respeito à 2 Apesar da classificação feita por Michelotti e sugerida também por outros autores, sustenta-se a presente

pesquisa no entendimento do vitral como obra de arte, independente de sua tipologia.

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processualidade manual de seu fabrico, um saber fazer que quase nada foi alterado desde a

idade média e que atualmente está praticamente esquecido. Desta forma, informações sobre os

painéis e o registro sobre sua manufatura (artífices e casas vitralistas) constituem ferramentas

essenciais para sua permanência material e consequente preservação.

O ATUAL ESTADO DE CONSERVAÇÃO DOS VITRAIS

Apesar da existência de algumas ações de salvaguarda do patrimônio de vitrais no Brasil3 as

mesmas estão longe de serem suficientes para abarcar todo o patrimônio nacional. “Sabe-se

que o acervo brasileiro de vitrais é muito grande, aguardando a oportunidade de receber um

levantamento específico mais abrangente” (MICHELOTTI, 2011: 37). O levantamento do

qual fala Michelotti, caracteriza-se como chave fundamental, ainda que não única, na

preservação de bens culturais.

No caso dos vitrais aqui abordados, este levantamento mostra-se essencial devido à

eminente perda de alguns destes exemplares ou até mesmo da perda já ocorrida. É o caso da

claraboia localizado na antiga sede da Diretoria Geral de Saúde Pública, hoje inexistente e

substituída por vidros comuns. Segundo artigo de Oliveira sobre esta edificação (2007), a

mesma apresentava uma claraboia com estrutura semelhante a do Castelo Mourisco da

Fiocruz, mas que, no entanto, sofreu substituição dos vidros tendo suas características

originais perdidas. Neste caso, a pesquisa sobre esta claraboia faz-se de grande importância,

pois procura buscar informações que auxiliem na compreensão do objeto original e na

consequente preservação de sua memória. Outro caso em que o levantamento e inventário dos

vitrais é fundamental pode ser observado no Hospital da Beneficência Portuguesa. Os vitrais

ali encontrados referem-se à vida da Rainha Santa Isabel, representações da coroa portuguesa

e por um vitral da Natividade. Devido ao abandono da edificação notam-se graves problemas

relacionados à degradação do edifício, sendo talvez os mais preocupantes os danos estruturais

no telhado sobre a escadaria, local onde se encontram todos os painéis do hospital. Notam-se 3 As pesquisas sobre o vitral no Brasil, ainda que bastante escassas vem ganhando coro nos últimos anos.

Pesquisas históricas sobre sua trajetória em nosso país foram pioneiramente investigadas, de forma bastante

abrangente, por Brandão (1994) e posteriormente de forma mais localizada por outros pesquisadores. Dentre

eles, Mello (1996) que debruça-se sobre o ateliê da Casa Conrado em São Paulo, e Wertheimer (2011), que

apresenta como foco de pesquisa as casas vitralistas da região sul do país. Ainda outra pesquisa desenvolvida

recentemente é a de Michelotti (2011), a qual procura estabelecer um processo de sistematização

preservacional museológica aplicada à salvaguarda de acervos em vitral no Brasil.

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diversos fragmentos do teto em desprendimento, representando grande risco a estabilidade

dos vitrais (Fig. 11 e 12).

O abandono e desuso de algumas instituições aqui abordadas evidenciam a premissa

de que o uso dos espaços é fundamental para sua preservação. É o que acontece também com

os vitrais do Hospital Frei Antônio, instituição com maior número de painéis identificados

neste levantamento. Trata-se de um conjunto bastante interessante, não só em relação à

quantidade e diversidade de vitrais, mas também no que diz respeito ao conjunto estilístico e,

para o estudo em questão, às representações referentes ao espaço de tratamento da hanseníase.

Outro dado importante diz respeito à procedência dos vitrais. Consta em mais de um dos

exemplares a assinatura da casa vitralista Atelier Formenti & Cº, além de ser conhecido

igualmente o período de seu fabrico como sendo de 19204 (PORTO; OLIVEIRA, 1996). Até

o momento esta é a única instituição da qual se têm estas informações.

4 A data de 1920 refere-se ao vitral localizado no hall do andar superior. No entanto, é nesta década que o

edifício passa por grandes modificações e, sendo todos os painéis procedentes da mesma casa vitralista,

acredita-se que os demais vitrais sejam igualmente deste período.

Fig. 11 e 12. Vista parcial da escadaria e dos problemas estruturais do telhado do Hospital da Beneficência Portuguesa. Fotografias: Ellen Ferrando.

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O estado de conservação do conjunto do Hospital Frei Antônio é bastante delicado.

São visíveis danos nos vitrais relativos a vandalismo (arrombamentos), falta de cuidados com

a fragilidade dos materiais (evidenciado em salas abarrotadas de entulho) e ao

desconhecimento do comportamento dos materiais com as intempéries (abaulamento dos

painéis, rompimento das calhas de chumbo, fraturas instáveis nos vidros, entre outros) (Fig.

13-15).

Provavelmente da mesma época é o conjunto de vitrais encontrados no atual Hospital

Universitário Gaffrée e Guinle, localizados na capela, no Instituto de Patologia e na atual sala

da diretoria da Escola de Medicina. Os painéis nestes três espaços diferem-se drasticamente

nos estilos e representações sendo, provavelmente, fruto do trabalho de mestres vitralistas

diversos e que merecem um estudo mais aprofundado. De todas as instituições pesquisadas é

este o hospital que apresenta seu conjunto de painéis em melhor estado de conservação. Vale

salientar ainda que todos estes espaços com presença de vitrais são ainda bastante utilizados.

Como já mencionado anteriormente, é fundamental na preservação dos bens culturais

que os mesmos sejam identificados e conhecidos pela população e, no caso das obras de arte é

necessário que sejam vistas para poderem ser experimentados esteticamente. No entanto, as

obras de arte abordadas neste trabalho, inserem-se muitas vezes em espaços de circulação

Fig. 13, 14 e 15. Estado de conservação dos vitrais do Hospital Frei Antônio e de seu estado de conservação. Fotografias: Ellen Ferrando.

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restrita, sendo este um dos grandes fatores para que permaneçam desconhecidas até mesmo

dentro da própria instituição5.

Nestes dois últimos hospitais fazem-se evidentes em alguns dos painéis indícios que

possibilitam localizá-los temporalmente e também socialmente dentro da história da medicina

nacional. Tanto os vitrais do antigo laboratório do Hospital Frei Antônio (Fig. 16 e 17) como

o vitral localizado no biotério do Hospital Gaffrée e Guinle (Fig. 18) apresentam aspectos

notáveis para a compreensão dos avanços da medicina, principalmente em relação aos novos

conceitos bacteriológicos, em um período bastante importante da história da saúde pública no

Brasil. Ou seja, podemos compreender estes vitrais como elementos chave na divulgação da

medicina do início do século XX.

5 Apesar de cumprirem, entre outros, também a função de iluminar e vedar, os vitrais apresentam a

peculiaridade de serem visíveis e fruídos somente à luz transmitida, e neste caso, quase sempre são vistos

apenas a partir do interior dos edifícios.

Fig. 16 e 17. Detalhe dos vitrais do laboratório do Hospital Frei Antônio. Fotografias: Ellen Ferrando.

Fig. 18. Vitral presente na escadaria de acesso ao primeiro pavimento do atual Instituto de Patologia no Hospital Gaffrée e Guinle. Fotografia: Ellen Ferrando.

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O edifício no qual se encontra o vitral do Hospital Gaffrée e Guinle “foi pensado como

uma homenagem clara à moderna bacteriologia” (SANGLARD; COSTA, 2004: s.p.). O vitral

localizado no atual Instituto de Patologia é um exemplo disto uma vez que representa nomes

emblemáticos para a medicina da época como Louis Pasteur e Paul Ehrlich, ladeando o

grande bacteriologista Oswaldo Cruz. Já o Hospital Frei Antônio, em uma de suas grandes

reformas ocorrida em 1893, conta com a instalação de um moderníssimo laboratório

experimental. “A direção do laboratório é entregue a Wolff Havelburg, discípulo de Robert

Koch6 que consegue aparelhá-lo com instrumentos importados da Alemanha, próprios para os

estudos anatomopatológicos e bacteriológicos relativos à lepra” (PORTO; OLIVEIRA, 1996:

172). É, pois, muito provável que tais aparelhos sejam posteriormente representados nos

vitrais que vem a ocupar os vãos de duas das janelas do laboratório.

Por fim são trazidos os painéis do edifício da Cruz Vermelha Brasileira, localizados no

primeiro e segundo pavimentos. Esta é a única instituição na qual os vitrais não se preocupam

em ilustrar representações figurativas. Mas, apesar de distanciarem-se figurativamente dos

demais conjuntos de painéis, os vitrais desta instituição sofrem danos bastante semelhantes

aos já mencionados. Muitas são as lacunas encontradas (Fig. 19), sobretudo nos painéis

maiores, como também são visíveis fraturas nos vidros e rompimentos na estrutura das calhas.

O prédio como um todo necessita visivelmente de intervenções de restauro o que não deixa de

ser diferente com os vitrais ali existentes.

6 Trata-se de um dos maiores nomes da bacteriologia mundial e do qual também é discípulo Paul Ehrlich

representado no vitral do Hospital Gaffrée e Guinle.

Fig. 19. Lacunas e fraturas nos vitrais do edifício da Cruz Vermelha Brasileira. Fotografia: Ellen Ferrando.

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CONCLUSÃO

Não são poucos os esforços somados pelos profissionais da preservação para que o

patrimônio cultural seja resguardado, por ser compreendido como legitimador de uma

identidade nacional. Por outro lado, existem sempre algumas questões que influenciam a

formulação das políticas preservacionistas. No caso da preservação do patrimônio, as mesmas

são estabelecidas, frequentemente, por grupos de interesses diversos, onde, dependendo da

época, dá-se mais ou menos atenção a determinadas obras, em um processo dinâmico.

Apesar de seu caráter inicial, esta é uma pesquisa que já apresenta informações

relevantes para traçarmos um panorama geral dos vitrais localizados em instituições voltadas

à saúde no Rio de Janeiro. Devido às dimensões da cidade, como também da sua importância

para a história nacional, forma poucos os espaços aqui mapeados com a presença de vitrais.

Este pode ser um indício de que muito provavelmente este acervo já tenha sofrido inúmeras

perdas ao longo dos anos. Neste sentido, a arte vitral no Brasil necessita primeiramente de seu

reconhecimento e legitimação como bem cultural junto aos profissionais da preservação e à

sociedade. Ou seja, torna-se necessário conhecer o vitral e aprender a usufruir deste bem.

Caberia como instância primeira indagar sobre qual a melhor abordagem a ser feita para que a

memória do vitral e de todos os aspectos envolvidos em sua fabricação sejam preservados.

Para tal, faz-se imprescindível ainda compreender o que possibilita a aproximação entre a

sociedade e o vitral, indo para além da atribuição do mesmo como mero acessório

arquitetônico religioso. Parte-se destas questões para contribuir com a produção do

conhecimento sobre o patrimônio de vitrais no Brasil, mais especificamente daquele

localizado em instituições de saúde e sua caracterização frente a sua inserção nestes espaços

hospitalares, objetivando sua preservação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MICHELOTTI, Denise. Arte em vitrais: a salvaguarda, a extroversão e a sociomuseologia. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2011, 118f. Dissertação apresentada ao Departamento de Museologia, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias para a obtenção do grau de Mestre em Museologia. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa: 2011. OLIVEIRA, Benedito Tadeu de. Da antiga sede da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) ao atual Instituto Nacional do Câncer (Inca). In: História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.14, n.1, p. 1-12, jan.-mar. 2007. PORTO, Ângelo; OLIVEIRA, Benedito Tadeu de. Edifício colonial construído pelos jesuítas é lazareto desde 1752 no Rio de Janeiro. In: Manguinhos, Rio de Janeiro, v. II (p. 171 - 180),Nov. 1995 - fev, 1996. RAUCH, Ivo. The Conservation and Restoration of Historical Stained Glass and Painted

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