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(Versão deste artigo foi publicada também sob o título “A previdência complementar no Brasil e o capitalismo social” em: GÓES, Wagner de (coordenador). Papel dos fundos de pensão na formação da economia brasileira: capitalismo social. São Paulo: Abrapp / ICSS / Sindapp, 2007, p. 53-80). A PREVIDÊNCIA ASSOCIATIVA E O CAPITALISMO SOCIAL Leonardo André Paixão ( ) 1. INTRODUÇÃO Em meados da década de 1970, Peter Drucker lançou nos Esta- dos Unidos um texto hoje clássico sobre previdência complementar 1 , cha- mando a atenção para o fenômeno da participação dos fundos de pensão no capital das empresas norte-americanas. O livro, que ganhou versão brasileira já no ano seguinte 2 , é mar- cado pelo ambiente da guerra fria e procura, em diversas passagens, con- trapor as instituições políticas e econômicas capitalistas àquelas defendidas pelos adeptos dos modelos socialistas. Por esse motivo, Drucker destacou o fato de um socialismo – diferente daquele apregoado pelos seguidores de Marx – ter sido efetivamente implantado não em um país do bloco liderado pela antiga União Soviética, mas sim na mais capitalista de todas as nações: os Estados Unidos. Logo na abertura do texto, Drucker afirma categoricamente que “se o socialismo for definido como a propriedade dos meios de produção pelos trabalhadores (...) então os Estados Unidos são a primeira nação re- almente socialista3 . E acrescenta, pouco adiante: “Mais importante ainda, especialmente no que se refere à teoria socialista, é o fato dos maiores fundos de pensão dos empregados, isto é, os fundos das 1 000 ou 1 300 maio- res companhias, somados aos 35 grandes fundos de pensão setoriais (...) já possuírem o controle de praticamente todas as 1 000 maiores empresas industriais dos Estados Unidos.” 4 Leonardo André Paixão. Advogado. Doutor em Direito do Estado pela Faculdade de Di- reito do Largo São Francisco (USP). Servidor público federal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Atual Secretário de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social.

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(Versão deste artigo foi publicada também sob o título “A previdência complementar no Brasil e o capitalismo social” em: GÓES, Wagner de (coordenador). Papel dos fundos de pensão na formação da economia brasileira: capitalismo social. São Paulo: Abrapp / ICSS / Sindapp, 2007, p. 53-80).

A PREVIDÊNCIA ASSOCIATIVA E O CAPITALISMO SOCIAL

Leonardo André Paixão (∗) 1. INTRODUÇÃO Em meados da década de 1970, Peter Drucker lançou nos Esta-

dos Unidos um texto hoje clássico sobre previdência complementar1, cha-mando a atenção para o fenômeno da participação dos fundos de pensão no capital das empresas norte-americanas.

O livro, que ganhou versão brasileira já no ano seguinte2, é mar-cado pelo ambiente da guerra fria e procura, em diversas passagens, con-trapor as instituições políticas e econômicas capitalistas àquelas defendidas pelos adeptos dos modelos socialistas. Por esse motivo, Drucker destacou o fato de um socialismo – diferente daquele apregoado pelos seguidores de Marx – ter sido efetivamente implantado não em um país do bloco liderado pela antiga União Soviética, mas sim na mais capitalista de todas as nações: os Estados Unidos.

Logo na abertura do texto, Drucker afirma categoricamente que “se o socialismo for definido como a propriedade dos meios de produção pelos trabalhadores (...) então os Estados Unidos são a primeira nação re-almente socialista”3. E acrescenta, pouco adiante:

“Mais importante ainda, especialmente no que se refere

à teoria socialista, é o fato dos maiores fundos de pensão dos empregados, isto é, os fundos das 1 000 ou 1 300 maio-res companhias, somados aos 35 grandes fundos de pensão setoriais (...) já possuírem o controle de praticamente todas as 1 000 maiores empresas industriais dos Estados Unidos.”4

∗ Leonardo André Paixão. Advogado. Doutor em Direito do Estado pela Faculdade de Di-

reito do Largo São Francisco (USP). Servidor público federal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Atual Secretário de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social.

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Contudo, e supreendentemente, Drucker destacou que nos Esta-

dos Unidos dos anos 1970, “em qualquer discussão sobre a estrutura da e-conomia e da sociedade americanas nunca, ou só raramente, se menciona os fundos de pensão”. Essa omissão, para ele, era um paradoxo, já que

“o direito a uma pensão é, sem dúvida, uma riqueza. É,

provavelmente, o maior patrimônio individual de uma famí-lia de meia-idade dos Estados Unidos, excedendo em valor a casa própria e o automóvel, os dois tradicionais bens de maior valor da família americana.”5

A realidade norte-americana descrita por Drucker ainda não exis-

te no Brasil. Primeiro, porque entre nós a participação dos fundos de pen-são no capital das grandes empresas é substancialmente menor do que nos Estados Unidos, embora seja, ainda assim, extremamente relevante. Segun-do, porque a cobertura previdenciária privada alcança, até o momento, uma parcela pequena da população economicamente ativa (aproximadamente 2,6%). Em suma, poucas pessoas participam de fundos de pensão, e estes têm participação ainda modesta no capital social das empresas, de modo que não se pode, ainda, falar em socialização dos meios de produção no Brasil.

Mesmo assim, o Brasil possui o maior sistema de previdência complementar da América Latina e um dos dez maiores do mundo em ter-mos absolutos, apesar da formação de poupança previdenciária privada ser totalmente voluntária (ao passo que é obrigatória em muitos países, inclusi-ve em alguns cujo sistema de fundos de pensão é maior do que o brasilei-ro).

Mais importante, contudo, do que a dimensão atual do sistema de previdência complementar brasileiro é o fato de ele estar em franca expan-são. Isso permite que se possa vislumbrar, para um futuro próximo, o sur-gimento daquilo que Drucker denominou “socialismo fundos-de-pensão” e que chamarei, neste texto, de “capitalismo social”. Entendo por capitalismo social aquele estágio do desenvolvimento do capitalismo em que a proprie-dade dos meios de produção está nas mãos de instituições (como os planos de benefícios administrados por fundos de pensão) que reúnem recursos de inúmeras pessoas físicas, de modo que se possa considerar, a rigor, que o-corre uma verdadeira pulverização do controle dos meios de produção.

A idéia está próxima do conceito trazido por Paulo Rabello de Castro6, o sociocapitalismo, ou seja,

“o Capitalismo de (muitos) Sócios. Diferente do Socia-

lismo, que propõe socializar os meios e as decisões de pro-

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dução, o Sociocapitalismo tenta socializar os lucros e a a-cumulação do capital. O Sociocapitalismo é visceralmente distinto, portanto, da proposta de estatizar os processos pro-dutivos, pois opta por compartilhar resultados, ao longo do tempo, por intermédio da sua acumulação entre muitos só-cios.”

Como apontaram, recentemente, Davis, Lukomnik e Pitt-Watson,

“o poder corporativo costumava ser detido por ricos magnatas ou pelo Estado. Em alguns lugares, este ainda é o cenário. Mas na América do Norte, na Europa, no Japão e crescentemente em outras partes do mundo, os proprietários das corporações multinacionais são as dezenas de milhares de trabalhadores que têm suas poupanças previdenciárias e outras economias investidas, por meio de fundos, em parti-cipações nas maiores companhias do mundo”.7

O advento deste novo cenário, marcado por uma pulverização do

controle dos meios de produção, depende, entre outros fatores, da continui-dade da expansão previdência complementar. Ao lado dos fundos de inves-timento e das companhias seguradoras, os fundos de pensão são os investi-dores principais do capitalismo social.

O tema dos reflexos da atuação dos fundos de pensão sobre o de-senvolvimento do capitalismo brasileiro, por ser abrangente demais, ultra-passa as pretensões deste texto. Pretendo apenas trazer algumas reflexões sobre a expansão da previdência complementar brasileira – em especial so-bre uma de suas vertentes, a previdência associativa – e algumas das suas conseqüências.

2. A EXPANSÃO DA PREVIDÊNCIA COM-

PLEMENTAR E A CRIAÇÃO DA PREVIDÊNCIA ASSOCIATIVA.

2.1. A EXPANSÃO DA PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR. A previdência complementar brasileira administrada por fundos

de pensão vive, desde 2003, uma fase de expansão que reverteu a tendência de estagnação iniciada na década de 1990.

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Esse fato resulta da combinação de vários fatores que podem ser divididos em dois grupos: o dos fatores que fizeram aumentar a demanda por previdência complementar e o dos fatores que propiciaram um ambien-te favorável à expansão da previdência complementar.

2.1.1. Crescimento da demanda por previdência comple-mentar.

O primeiro grupo é composto de dois fatores principais. Um, de abrangência mundial, com expressão importante no Brasil, que é o aumento da expectativa de vida das populações. Outro, mais acentuado no plano na-cional, que é a preocupação crescente da população com relação à capaci-dade da previdência pública de fornecer uma aposentadoria digna.

a) aumento da expectativa de vida da população brasileira.

O aumento da expectativa de vida da população, tanto ao nascer quanto ao longo da vida, é decorrência de uma série de mudanças de infra-estrutura, culturais e sociais do Brasil nas últimas décadas. Dentre estas, destacam-se a expansão das estruturas de saneamento básico, as campanhas de vacinação em massa contra enfermidades como a poliomielite, a difusão do acompanhamento pré-natal, a melhoria do aspecto nutricional da popu-lação, a utilização de novos medicamentos, a celeridade e eficiência na transmissão de informações sobre saúde por meio do rádio e da televisão, entre outros.

Essa maior expectativa de vida, conjugada com taxas de fecundi-dade declinantes, propiciaram a mudança do perfil demográfico da popula-ção brasileira que atualmente está em curso. A redução, em termos relati-vos, da população jovem e o crescimento da população idosa já se fazem sentir.

Nesse contexto, é natural que a preocupação com a proteção pre-videnciária se acentue, notadamente no que se refere à aposentadoria.

b) preocupação com a taxa de reposição da previdência pública.

A expansão da previdência complementar também está associa-da, em alguma medida, à insegurança da parcela melhor remunerada da po-pulação brasileira. Seus integrantes temem que a previdência pública seja incapaz de assegurar, na velhice, a manutenção do padrão de vida de que desfrutam durante a fase laborativa da vida. Atualmente mais de vinte e

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cinco milhões de brasileiros recebem alguma modalidade de benefício pre-videnciário do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, de modo que todos sabem o que esperar da previdência oficial. Embora para a maioria dos beneficiários o valor pago pelo INSS seja muito significativo, a ponto de se considerar o regime geral de previdência como um fator importante para a redução da desigualdade de renda no país, para algumas famílias de maior poder aquisitivo os benefícios são considerados muito modestos.

Além disso, as reformas previdenciárias da última década indi-cam que a previdência oficial tende a expandir sua cobertura para parcelas maiores da população, mas tende também a pagar benefícios relativamente menores. Isso faz com que aqueles que têm maior renda procurem meca-nismos privados para complementar a cobertura previdenciária oferecida pelo Estado.

2.1.2. Desenvolvimento de um ambiente favorável ao cres-cimento da previdência complementar.

Além de uma demanda crescente por previdência complementar, a expansão do segmento tem resultado também de um ambiente de negó-cios favorável não só à expansão dos planos de benefícios e fundos de pen-são existentes, mas também à criação de novos. Isso significa que há dois movimentos convergentes: a demanda crescente e a formação de um ambi-ente de negócios propício ao desenvolvimento da previdência complemen-tar. Esse ambiente favorável é resultado de alguns fatores, mencionados a seguir.

a) ambiente macroeconômico positivo

O ambiente propício resulta, em primeiro lugar, de um cenário macroeconômico positivo, marcado por conquistas como o crescimento sustentado do PIB, taxas de juros declinantes e inflação sob controle. Estas circunstâncias, sobretudo a inflação domesticada, são extremamente favo-ráveis ao planejamento e à atuação com foco no longo prazo. Nesse contex-to, ficou mais fácil incorporar o tema previdenciário no dia a dia das famí-lias.

Acrescente-se ao cenário geral favorável o fato da desigualdade na distribuição de renda do Brasil estar em queda. Com efeito, milhões de brasileiros estão melhorando seu padrão de vida, sendo que destes, milha-res estão ingressando em uma faixa de remuneração que já dá espaço para o desejo de possuir mecanismos de complementação da renda na aposentado-ria.

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b) instituição de um ambiente regulatório adequado

Outro fator determinante para a formação de um ambiente geral favorável à expansão da previdência complementar é a existência de um ambiente regulatório adequado. A nova legislação8 que rege a previdência privada deu melhor tratamento normativo a várias inovações surgidas desde 1977, ano em que foi aprovada a primeira lei a tratar do tema. Por exemplo, as entidades fechadas que administram vários planos de benefícios, com independência patrimonial, por exemplo, tornaram-se extremamente co-muns, mas não eram expressamente referidas na legislação de 1977. Os planos de contribuição definida também não. São fatos relativamente re-centes, que não estavam adequadamente tratados na legislação anterior, ge-rando um ambiente pleno de ambigüidades e incertezas que desestimulava o desenvolvimento da previdência complementar.

Devanir Silva, já em 2002, antecipava que o aprimoramento da legislação e de sua regulamentação levaria a um novo período de expansão dos fundos de pensão:

“A previdência complementar brasileira encontra-se à

beira de ingressar em um novo ciclo de crescimento, talvez mais rápido do que a trajetória que seguiu nos últimos 20 anos de vida regulamentada. As leis complementares que dão a nova moldura de atuação dos fundos de pensão (...) abriram perspectivas ainda mais encorajadoras para um sis-tema que já era conhecido por seu extenso potencial.”9

É preciso ponderar, porém, que a nova legislação, embora tenha

traçado um desenho jurídico mais adequado, causou, por outro lado, uma série de movimentos de ajuste nos estatutos dos fundos de pensão e nos re-gulamentos dos planos de benefícios que administram. Este sobressalto era inevitável, mas necessário para permitir a incorporação dos avanços trazi-dos pela nova legislação. Superada, porém, a fase de ajustes, o mesmo De-vanir Silva lembra com propriedade que:

“O crescimento que deverá advir desse novo ambiente

regulatório, é claro, cria ainda maiores responsabilidades. Das autoridades, pede-se cada vez mais que assegurem re-gras estáveis, sem as quais torna-se difícil fomentar um sis-tema cujas práticas e objetivos são de longo prazo.”10

Tais considerações se faziam plenamente justificadas naquela o-

casião. Às vésperas da aprovação das novas leis complementares e logo após sua promulgação, houve certo furor normativo, causado em parte pe-

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las dificuldades de transição, que gerou um ambiente de insegurança e in-certeza para a previdência complementar fechada.

No contexto de passagem para um novo ambiente normativo, foi fundamental a elaboração de um conjunto de normas regulamentadoras pe-lo Conselho de Gestão da Previdência Complementar (CGPC), dentro de um espírito marcadamente democrático e com o objetivo de produzir regras duradouras. Este movimento pode ser observado a partir do exame do nú-mero de resoluções do Conselho e instruções da Secretaria de Previdência Complementar (SPC) editadas após o advento das leis complementares de 2001.

Identifica-se um pico de atividade regulatória e a passagem, em um momento subseqüente, para um cenário de estabilidade de regras pelo qual os atores do setor de previdência complementar ansiavam há muito.

Ano Resoluções CGPC Instruções SPC

2001(*) 3 4 2002 10 14 2003 7 5 2004 7 5 2005 2 3 2006 7 5

2007 (**) 1 4 * a partir de maio. ** até setembro. A mesma preocupação com a elaboração de regras duradouras e

adaptadas à nova legislação presidiu também a elaboração da regulamenta-ção das diretrizes de investimento pelo Conselho Monetário Nacional – CMN11. Nos anos imediatamente anteriores às leis complementares de 2001, o tempo médio de vigência das resoluções do CMN era de poucos meses, mas as normas posteriores provavelmente alcançarão prazo médio de vigência bem mais extenso. A Resolução CMN n.º 3.121/03, por exem-plo, durou quase quatro anos, recebendo apenas pequenos ajustes pontuais.

Outro ponto determinante foi o apoio governamental inédito ao setor. O programa de governo do então candidato Luiz Inácio Lula da Sil-va, em 2002, já indicava que seria dada prioridade à formação de poupança interna e de longo prazo. É o que, já em 2003, Luciano Coutinho12 destaca-va:

“Passos importantes na direção da expansão da previ-

dência vêm sendo implementados nos últimos anos (desde a aprovação das Leis Complementares 108 e 109 de 2001) e, recentemente, pelo governo do presidente Lula, que reestru-turou e fortaleceu o Conselho de Gestão da Previdência

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Complementar, tornou pró-ativa a Secretaria de Previdência Complementar e aprovou novas regras estimuladoras da ins-tituição de novos planos de previdência por categorias orga-nizadas, tendo sido estabelecidas salvaguardas para evitar desvios de gestão / conduta.”

Além das mudanças citadas por Luciano Coutinho, houve a regu-

lamentação de institutos como a portabilidade de recursos entre planos de benefícios e o benefício proporcional diferido, que significaram maior mo-bilidade para o participante e a possibilidade de interromper suas contribui-ções sem ter que necessariamente abandonar a formação de poupança pre-videnciária.

Em 2004 foi aprovada a Resolução CGPC n.º 13, que induziu os fundos de pensão a repensarem seus mecanismos de controles internos de modo a poderem lidar melhor com os riscos inerentes a suas atividades. A norma, mais do que determinar condutas, estimulou ações compatíveis com a realidade de cada fundo de pensão.

Outra medida importante foi a aprovação de um novo modelo de tributação para os fundos de pensão. Por um lado, a nova legislação tributá-ria vigente a partir de 2005 corrigiu uma distorção flagrante ao diferir a tri-butação para a fase de percepção de benefícios, mantendo a isenção das contribuições (dentro de certos limites) que já existia e passando a não mais tributar os rendimentos decorrentes da aplicação das reservas previdenciá-rias acumuladas. Por outro lado, a nova legislação criou um regime tributá-rio alternativo que estabelece alíquotas decrescentes em função do tempo de acumulação dos recursos, o que constitui forte estímulo para a formação de poupança de longo prazo.

Ainda no campo normativo, mais recentemente foram adotadas algumas disposições que têm a pretensão de induzir comportamentos, de modo que ao mesmo tempo valorize a liberdade dos dirigentes de fundos de pensão e estabeleça mecanismos de controle adequados para que o Esta-do possa acompanhar as ações do universo fiscalizado. Exemplo disso é a Resolução do CGPC que trata da compra e venda de títulos e valores mobi-liários do segmento de renda fixa13.

Também foram adotadas medidas para tornar menos burocrática e onerosa a relação dos fundos de pensão com seus participantes14 e com o Estado15. Por força de lei, os participantes devem receber informações peri-ódicas sobre os seus planos de benefícios. E por força de sua atividade fis-calizadora, a SPC deve receber periodicamente uma grande quantidade de dados enviados pelos fundos de pensão.

A preparação e envio desses dados aos participantes e ao órgão fiscalizador, embora necessária para um acompanhamento adequado dos fundos de pensão, sempre foi considerada excessivamente trabalhosa e ine-

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ficaz, seja pelo conteúdo repetitivo de alguns informativos, seja pela utili-zação de meios ultrapassados como os formulários de papel. Como lembra Adacir Reis16, “os mecanismos de publicação das informações (…) devem ser baseados no perfil de seus participantes, a fim de evitar gastos desne-cessários para a entidade previdenciária.” A partir de uma simplificação conceitual e do uso intensivo de ferramentas de tecnologia da informação, as medidas adotadas procuraram facilitar a produção dos dados e o seu en-caminhamento ao órgão fiscalizador. Também houve uma preocupação de racionalizar e uniformizar os prazos para envio de dados, tanto para os par-ticipantes quanto para o Estado.

c) eficiência na atuação do Estado

Além de inúmeras iniciativas no campo regulatório, promovidas com apoio e colaboração dos agentes privados, o surgimento de um ambi-ente favorável à expansão da previdência complementar decorreu também de medidas adotadas pela SPC para dotá-la de maior eficiência no exercício de suas atribuições.

Por um lado, promoveu-se uma reestruturação da diretoria da SPC responsável pela aprovação prévia dos estatutos de fundos de pensão e dos regulamentos de planos de benefícios, bem como de suas alterações. O tempo médio para análise de pedidos de aprovação caiu de cerca de dezoito meses para menos de trinta dias.

Por outro lado, na atividade de fiscalização foi dado início a um processo de modernização, a ser desenvolvido ao longo de alguns anos, pa-ra conceber e implantar uma maneira nova e mais moderna de fiscalização, por meio da adoção de uma metodologia de supervisão baseada em riscos. Os resultados colhidos até o momento, e que certamente serão mais notá-veis dentro de alguns anos, já indicam o acerto da medida, seja pela otimi-zação no uso dos recursos escassos de que o Estado dispõe, seja pela maior segurança que a nova metodologia tem propiciado aos participantes dos planos de benefícios.

O conjunto das iniciativas apontadas acima e no item anterior, a-lém de outras mais que poderiam ter sido citadas, constitui uma verdadeira política pública de fomento à previdência complementar. Embora cada uma das ações, isoladamente, tenha eficácia limitada, as medidas adotadas, vis-tas no seu conjunto, certamente contribuíram para o novo ciclo de expansão vivido pela previdência complementar fechada.

d) ações dos fundos de pensão

Por fim, acrescente-se que os próprios fundos de pensão reagiram

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de modo muito positivo ao novo contexto, e deram passos significativos no sentido de aprimorar seus mecanismos de gestão e governança, seus contro-les internos e sua responsabilidade social.

O principal patrimônio de um fundo de pensão, na qualidade de gestor de recursos de terceiros, é a credibilidade. Para que um fundo de pensão alcance e mantenha um grau de confiabilidade elevado junto aos participantes, assistidos, patrocinadores e demais partes relacionadas, é fundamental que abrace entusiasmadamente princípios e mecanismos como transparência para o participante, prestação de contas (accountability) aos interessados e ao poder público, profissionalismo na gestão dos investimen-tos e do passivo atuarial, elevados padrões de governança corporativa, ad-ministração competente dos riscos e adoção de mecanismos eficientes de controles internos. Os esforços nesse sentido são notórios, e têm trazido resultados para a esmagadora maioria dos fundos de pensão.

Embora o aprimoramento da gestão, em alguns casos, tenha co-meçado como um movimento para adequação aos ditames da Resolução CGPC n.º 13/04, as ações adotadas, em muitos casos, foram além das exi-gências normativas. Tanto que alguns fundos de pensão já começam a em-punhar a bandeira da auto-regulação, que nada mais é do que a adesão vo-luntária a padrões mais elevados e rigorosos de conduta do que aqueles im-postos pelas normas estatais.

2.2. AS LINHAS DE EXPANSÃO DA PREVIDÊNCIA COM-

PLEMENTAR. Em síntese, a conjugação de circunstâncias favoráveis – ambiente

macroeconômico positivo, regulação adequada, Estado eficiente e fundos de pensão modernizados – levou a um novo ciclo de expansão da previdên-cia complementar. Como conseqüência, mais de cento e cinqüenta novos planos de benefícios foram aprovados nos últimos anos17. Além disso, os recursos acumulados pelos planos mais antigos cresceram a taxas superio-res à sua meta atuarial.

No que se refere à expansão da previdência complementar, um aspecto que merece ser destacado é o fato de o crescimento não ter se dado apenas a partir dos tradicionais planos de benefícios patrocinados por em-presas de grande porte, até porque a maior parte delas já oferece um pro-grama de previdência complementar aos seus empregados. Recentemente, novos públicos têm sido incorporados ao universo da previdência comple-mentar, tais como os empregados de empresas de médio porte, os servido-res públicos e os profissionais liberais.

Convém, neste ponto, apresentar algumas das principais linhas de expansão.

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2.2.1. Grandes empresas.

O ambiente de negócios favorável certamente fez com que algu-mas grandes empresas criassem novos fundos de pensão. Por outro lado, algumas empresas que já haviam manifestado o desejo de abandonar o pa-trocínio de programas de previdência privada acabaram reconsiderando a decisão. A partir de 2003, houve desistência expressa de pedidos para reti-rada de patrocínio que haviam sido apresentados por algumas empresas à SPC.

No segmento dos planos de benefícios para trabalhadores de grandes empresas, o crescimento da presença da previdência complementar se deu principalmente pela rentabilidade dos investimentos, embora a con-tratação de novos empregados por empresas que já ofereciam programas de previdência complementar tenha tido também um papel relevante na ex-pansão.

2.2.2. Fundos de pensão multipatrocinados.

Os fundos de pensão multipatrocinados18 também se beneficia-ram do ambiente de negócios favorável, o que impulsionou de forma con-sistente a expansão da previdência complementar.

Apesar de, nestes fundos de pensão, as empresas e seus respecti-vos empregados terem que compartilhar a gestão com várias outras empre-sas e seus empregados, a possibilidade de compartilhamento e rateio pro-porcional de muitas das despesas administrativas acaba por baratear o custo total dos planos, estimulando seu crescimento. Sobretudo entre as empresas de médio porte é comum que o início de um programa previdenciário para os empregados se dê por meio dos fundos de pensão multipatrocinados. Eventualmente, aquelas empresas que se expandirem e atingirem um qua-dro de colaboradores mais robusto poderão optar, em algum momento, pela criação de um fundo de pensão próprio. Mas o ingresso de novas empresas no segmento de previdência complementar através dos fundos de pensão multipatrocinados tem sido significativo, principalmente oeka redylçai de custos decorrente dos ganhos de escala.

2.2.3. Servidores públicos.

Outra linha de expansão do sistema de previdência complementar que atualmente se mostra bastante promissora é a dos planos de benefícios criados para servidores públicos da administração direta. Embora essa pos-sibilidade já existisse há vários anos, na prática, dentre os vários entes da

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administração pública (administração direta, autarquias, fundações e em-presas estatais), apenas as empresas estatais (empresas públicas e socieda-des de economia mista) haviam criado planos de benefícios para seus em-pregados.

Com a Emenda Constitucional n.º 41, de 19 de dezembro de 2003, a Constituição passou a disciplinar de forma mais incisiva a previ-dência complementar destinada aos servidores públicos titulares de cargo efetivo19. Apesar da implantação desse regime previdenciário, no âmbito dos diversos entes federativos, depender ainda da aprovação de leis federal, estaduais e municipais, conforme o caso, provavelmente esta será uma sea-ra em que a previdência complementar se expandirá de forma marcante.

2.2.4. Previdência associativa.

Finalmente, a quarta vertente de expansão do sistema de previ-dência complementar é a chamada previdência associativa, uma novidade trazida pela legislação de 2001 e que foi regulamentada nos anos seguintes, alcançando o início de funcionamento a partir de 2004. Por seu potencial de crescimento, possivelmente será aquela que trará o impacto mais significa-tivo. A previdência associativa é tratada em maiores detalhes no item se-guinte.

2.3. A PREVIDÊNCIA ASSOCIATIVA. “Previdência Associativa” é a designação consagrada para nome-

ar um segmento dos planos de previdência privada operados por fundos de pensão. Este segmento tornou-se realidade a partir de 2004, mas ainda não atingiu sua plenitude. O traço fundamental que diferencia os planos de be-nefícios tradicionais dos planos de benefícios da previdência associativa é o fato destes últimos prescindirem da figura do patrocinador, amparando-se, ao contrário, na figura do instituidor20.

Para melhor compreensão dos impactos que inevitavelmente de-correrão do surgimento e popularização da previdência associativa, convém antes de tudo localizá-la adequadamente no universo previdenciário, recu-perando os elementos históricos que, de algum modo, serviram de inspira-ção para sua criação e apontando as principais características dessa vertente da previdência complementar.

2.3.1. Antecedentes da previdência associativa.

A idéia de uma previdência privada segmentada por categoria profissional não é de todo nova.

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É possível encontrar antecedentes dessa concepção, no Brasil, nos antigos Institutos de Aposentadoria e Pensões (os chamados “IAPs”). Criados no Governo Vargas, os Institutos foram inspirados no modelo fas-cista personificado em Benito Mussolini e documentado na Carta del La-voro. Tinham abrangência nacional e estavam organizados em torno de ca-tegorias profissionais. Os primeiros foram o IAPM, dos marítimos, criado em 1933, o IAPC, dos comerciários, e o IAPB, dos bancários, estes últimos em 1934.

Com a criação dos Institutos, mudou o perfil da previdência bra-sileira. Como observa Ricardo Pena Pinheiro21,

“(...) enquanto na década de 20 o sistema previdenciá-

rio era formado por órgãos de direito privado constituídos no âmbito das empresas, nos anos 30, os Institutos de Apo-sentadoria e Pensões passaram à condição de autarquias centralizadas pelo Estado e supervisionadas pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.”

Os Institutos, depois de terem seus recursos desviados para fina-

lidades não previdenciárias, passaram por um processo de unificação, da qual resultou a criação do Instituto Nacional de Previdência Social – INPS, em 1966.

Embora organizados em torno de categorias profissionais, os an-tigos IAPs distinguem-se totalmente da previdência associativa por diver-sos aspectos, em especial por seu caráter fascista, baseado em uma concep-ção que tinha por finalidade política estabelecer o controle das categorias profissionais pelo Estado totalitário, e por sua natureza jurídica pública, que contrasta com os fundos de pensão atuais, que são privados por expresa determinação constitucional.

Paralelamente, no exterior também é possível encontrar antece-dentes da previdência associativa, por exemplo, em fundos de pensão dos Estados Unidos da América organizados em torno de categorias profissio-nais. Destes, o mais famoso é o TIAA22, criado em 1905, a partir de uma doação feita pelo lendário magnata Andrew Carnegie para a formação de um fundo previdenciário em favor dos professores de ensino superior23.

Sendo assim, pode-se concluir que a previdência associativa é uma idéia esboçada em outras épocas e lugares, mas que, nos moldes pos-tos pela Lei Complementar n.º 109/01, guarda uma característica de origi-nalidade.

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2.3.2. A previdência associativa no sistema previdenciário brasileiro.

No Brasil, o sistema previdenciário previsto pela Constituição Federal está estruturado em três regimes.

O regime geral24, operado pelo Instituto Nacional do Seguro So-cial – INSS, público, obrigatório e destinado aos trabalhadores da iniciativa privada, aos empregados públicos e aos servidores titulares de cargo efetivo de entes federativos que não tiverem um regime próprio de previdência.

Os regimes próprios de previdência25 instituídos para os servi-dores públicos titulares de cargo efetivo da União, dos Estados, do Distrito Federal e de cerca de 2.200 Municípios. Esses regimes próprios também são públicos e obrigatórios, funcionando como alternativa ao regime geral. Permanecem vinculados ao regime geral os servidores públicos titulares de cargo efetivo dos cerca de 3.300 Municípios que não criaram regimes pró-prios, bem como os servidores públicos federais, estaduais, distritais ou municipais titulares apenas de cargo em comissão.

Ao lado da previdência pública, consubstanciada nos regimes a-cima mencionados, existe o regime de previdência complementar26, que possui como principais características: a natureza jurídica contratual priva-da (com sujeição ao regime jurídico de direito privado, em que prevalece a autonomia da vontade); o caráter complementar e autônomo em relação à previdência pública; e a constituição de reservas em regime de capitaliza-ção.

Esse regime se subdivide em dois segmentos, aberto e fechado, operados respectivamente

“por entidades abertas de previdência complementar

(ou seguradoras autorizadas a operar no ramo vida) e por entidades fechadas de previdência complementar (também conhecidas como fundos de pensão).”27

O segmento aberto da previdência complementar, operado prin-

cipalmente por sociedades comerciais (sociedades anônimas) e umas pou-cas associações civis criadas antes da entrada em vigor da Lei Complemen-tar n.º 109, de 2001, é acessível a qualquer pessoa, tendo como produtos de destaque os chamados Plano Gerador de Benefício Livre – PGBL e Vida Gerador de Benefício Livre – VGBL (sendo este último uma modalidade de seguro travestida de plano previdenciário). Sua regulamentação é feita pelo Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP e sua fiscalização cabe à Superintendência de Seguros Privados – Susep, respectivamente ór-gão do e entidade vinculada ao Ministério da Fazenda.

A previdência complementar fechada, por sua vez, é operada por

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pessoas jurídicas sem finalidade lucrativa e é acessível a grupos pré-existentes, aos quais o plano previdenciário é oferecido. Sua regulamenta-ção é feita pelo CGPC e sua fiscalização cabe à SPC, sendo ambos os ór-gãos integrantes da estrutura básica do Ministério da Previdência Social.

O caráter exclusivo e reservado a grupos pré-existentes da previ-dência fechada é estabelecido pela Lei Complementar n.º 109, de 29 de maio de 2001, que assim dispõe em seu artigo 31:

“Art. 31. As entidades fechadas são aquelas acessíveis,

na forma regulamentada pelo órgão regulador e fiscalizador, exclusivamente:

I – aos empregados de uma empresa ou grupo de em-presas e aos servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entes denominados patrocinado-res; e

II – aos associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial, denominadas insti-tuidores.

Vê-se bem a contraposição de planos patrocinados, de um lado, e

planos instituídos, de outro. Os planos patrocinados são tradicionais no sistema de previdên-

cia complementar e têm como característica principal o fato de uma pessoa jurídica privada ou pública assumir a condição de patrocinador, contribuin-do financeiramente para a formação dos recursos garantidores acumulados pelos planos de benefícios que patrocinam. O grupo de pessoas que tem acesso a esses planos é constituído por empregados de uma empresa ou grupo de empresas.

Já os planos instituídos são criados por uma pessoa jurídica de caráter profissional, classista ou setorial, que não contribui financeiramente para a formação do patrimônio do plano de benefícios que instituiu. O uni-verso dos planos instituídos constitui a chamada previdência associativa, por conta da identidade de grupo subjacente à sua criação decorrer do vín-culo associativo, sindical ou profissional, e não do vínculo empregatício.

2.3.3. Características principais da previdência associativa.

As características fundamentais dos planos da previdência asso-ciativa, segundo a legislação vigente, são a terceirização da gestão dos re-cursos garantidores para instituição especializada e o oferecimento exclusi-vamente de planos de benefícios da modalidade contribuição definida28.

A terceirização da gestão de recursos, imposta pela legislação, se justifica por conta da necessidade de profissionalização na gestão dos ati-

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vos acumulados pelos participantes de planos instituídos pelas associações, sindicatos, entidades de classe e cooperativas. Como as pessoas jurídicas instituidoras e os participantes dos planos da previdência associativa nor-malmente não têm afinidade com a gestão de recursos financeiros, o legis-lador considerou prudente determinar que tal gestão fosse entregue a insti-tuições especializadas. Em um ou outro caso (como o dos planos instituídos por cooperativas de crédito, por exemplo) a exigência pode parecer desne-cessária, mas de modo geral a regra tem o sentido de proteger a poupança previdenciária dos participantes.

Quanto ao oferecimento de planos exclusivamente na modalidade “contribuição definida”, trata-se de determinação legislativa cujo provável objetivo foi o de evitar a possibilidade de criação de planos que pudessem enfrentar uma situação deficitária, tendo em vista que a ausência da figura do patrocinador poderia tornar o equacionamento da insuficiência extre-mamente desafiador. Contudo, a resolução do CGPC que estabeleceu o que se deve entender por plano de contribuição definida atenuou uma parte do viés restritivo colocado pelo legislador29.

2.3.4. A expansão da previdência associativa

Além das características fundamentais apontadas acima, que de-correm diretamente do texto legal, o desenho dos planos da previdência associativa foi aprimorado por resoluções do CGPC que permitiram o apor-te eventual de recursos pelo empregador de participante vinculado a plano instituído30 e a contratação de seguro para cobertura de riscos atuariais de-correntes do pagamento de benefícios de risco31.

Como conseqüência, após um começo tímido, em que os primei-ros planos instituídos por entidades de caráter profissional, classista ou se-torial foram aprovados apenas em julho de 2003, entrando efetivamente em funcionamento somente no ano seguinte, a previdência associativa ingres-sou em um ciclo vigoroso de expansão. Até agosto de 2007 já foram cria-dos mais de trinta planos dessa modalidade, reunindo participantes de al-guns grupos compostos por formadores de opinião, como advogados, mé-dicos, engenheiros, promotores de justiça e magistrados.

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3. CONSEQÜÊNCIAS DO CRESCIMENTO

DA PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR: RUMO AO CAPITALISMO SOCIAL.

Os impactos do surgimento e desenvolvimento da previdência complementar em geral – e da previdência associativa em particular – ainda não foram completamente sentidos e compreendidos. Já houve e certamen-te ainda haverá impactos significativos nos planos econômico, social, cultu-ral e político.

3.1. CONSEQÜÊNCIAS ECONÔMICAS. Os economistas já apontaram a existência de uma correlação po-

sitiva entre investimento e crescimento econômico. Embora a relação de causalidade não seja objeto de consenso, havendo discussão quanto a qual dos dois é a causa e qual é a conseqüência, o fato é que a correlação positi-va existe.

O produto interno bruto (PIB) de um país é igual à soma do con-sumo das famílias e empresas, dos gastos do Estado, do investimento pú-blico ou privado e das exportações líquidas.

O investimento, por sua vez, é influenciado pela poupança, pois – se for considerado apenas o investimento nacional – só pode ser investido o recurso que não foi consumido, gasto ou exportado. Em outras palavras, o recurso poupado. A menos que se pretenda utilizar em larga escala o capital estrangeiro, o investimento depende da poupança nacional (que tem, entre outras, a vantagem de ser mais estável).

Como o financiamento do desenvolvimento com recursos exter-nos gera algumas conseqüências desfavoráveis, como choques cambiais adversos – a ponto de praticamente não haver exemplo de ingresso de uma nação no grupo das nações desenvolvidas com base apenas no investimento estrangeiro32 – o crescimento da poupança interna (e conseqüentemente do investimento nacional) é fundamental para o desenvolvimento do país.

Mas além da relevância da poupança previdenciária privada para o crescimento da economia como um todo, por conta do aumento do inves-timento (aspecto macro), o crescimento da previdência complementar tem também um efeito positivo sobre as empresas (aspecto micro). Na medida em que os fundos de pensão investem no capital social de empresas, ten-dem a adotar postura ativa na gestão dos empreendimentos aos quais se as-sociaram. Como um fundo de pensão não pode, isoladamente, adquirir o controle acionário de uma empresa33, seu papel é necessariamente o de a-cionista minoritário (embora eventualmente possa integrar, por força de

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acordo de acionistas, o bloco de controle de empresa na qual investe). Essa posição faz com que o fundo de pensão, freqüentemente, cobre das empre-sas a adoção das melhores práticas em termos de governança corporativa.

3.2. CONSEQÜÊNCIAS SOCIAIS. No plano social, por sua vez, a ampliação da previdência com-

plementar, em especial da previdência associativa, poderá significar, no longo prazo, a transformação de muitos brasileiros em investidores, fazen-do surgir o fenômeno do capitalismo social. Com isso, o próprio país pode mudar de características, deixando de ser uma nação de empregados e sub-empregados para se transformar em uma nação de investidores e empresá-rios (ainda que apenas por intermédio de seus planos de benefícios de pre-vidência complementar).

Como lembra Paulo Rabello de Castro34,

“este é o país que sempre tentou redistribuir e sociali-zar pela mão do Estado, fórmula essencialmente ineficiente, uma vez que a máquina do poder público já é apropriada por poucos”.

Ora, o capitalismo social, por intermédio dos fundos de pensão, é

um meio extremamente eficiente de superar o conflito (relativamente) ana-crônico entre capital e trabalho. A superação se dá pela conquista do capital pelos trabalhadores, por intermédio dos recursos acumulados em seus pla-nos de benefícios. Pode ser um mecanismo eficiente de finalmente promo-ver a redistribuição da riqueza nacional, alterando a correlação de forças entre as diferentes camadas sociais da população.

Paralelamente, é preciso lembrar que os fundos de pensão têm si-do um importante agente indutor de investimentos com responsabilidade social. Como lembra Fernando Pimentel de Melo35,

“por serem patrimônio do trabalhador, os Fundos de

Pensão cumprem no mercado um papel diferente dos outros investidores. A explicação é simples: ao investir em uma empresa, na verdade eles estão democratizando seu capital. Caso se tornem acionistas importantes, certamente vão levar estas companhias a agir de forma socialmente mais respon-sável, tanto no respeito aos direitos dos trabalhadores, das comunidades e consumidores, como no cuidado com o meio ambiente.”

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Os atuais fundos já estão engajados na busca de investimentos

socialmente responsáveis. Mas não apenas deverá ocorrer um aprofunda-mento dessa tendência, mas também uma abrangência maior de seus efei-tos, decorrente da criação de novos planos de previdencia complementar.

3.3. CONSEQÜÊNCIAS CULTURAIS. Já no plano cultural as modificações significarão, por certo, uma

transformação na visão de mundo para um grupo extenso de pessoas. Como corolário da transformação de parte da população em investidores (cujas poupanças previdenciárias são reunidas em planos de benefícios adminis-trados por fundos de pensão), certamente ocorrerá a difusão de um espírito empreendedor no seio da sociedade, além de um aumento no nível médio de cultura financeira da população.

Outra mudança importante é o incremento da visão de longo pra-zo que resultará do fato de fundos de pensão se tornarem instituições co-nhecidas e inseridas no dia a dia das pessoas. Quando temas como poupan-ça previdenciária, planejamento de aposentadoria e investimentos de longo prazo fizerem parte do vocabulário corrente das famílias, estará em curso uma verdadeira mudança cultural na sociedade. Estará aberta a oportunida-de para a passagem de uma sociedade que valoriza excessivamente o con-sumo (sobretudo o consumo de luxo) para uma sociedade que glorifica a poupança.

Por fim, é possível antever também uma mudança importante na visão de mundo dos servidores públicos. De fato, a criação da previdência complementar do servidor público, na esteira da autorização dada pelas re-formas constitucionais, introduzirá no seio do serviço público um traço de visão empresarial. Não creio que seja marcante a ponto de desviar o servi-dor público do objetivo de prestar um bom serviço à população para con-vertê-lo em um agente na busca de lucro. Mas será suficiente para ajudar a disseminar a cultura da eficiência na prestação dos serviços, em moldes consagrados há muito no âmbito da iniciativa privada.

3.4. CONSEQÜÊNCIAS POLÍTICAS. Das implicações econômicas, sociais e culturais resultarão, tam-

bém, implicações políticas. A pulverização do capital, o surgimento de uma nova composição da sociedade e as mudanças culturais certamente contri-buirão para o nascimento de uma nova concepção política.

Embora seja difícil prever os rumos de uma alteração dessa or-dem, é possível imaginar que a população em geral tenderá a se identificar

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menos com o assistencialismo estatal, tão presente na cultura política brasi-leira desde antes mesmo da existência do Brasil como nação independente. Um bem vindo sopro de empreendedorismo e apreço pela livre iniciativa poderá ensejar uma discussão sobre o papel do Estado posta em novos ter-mos. Quem sabe, para além do Estado ausente e do Estado paternalista, ga-nhe força a defesa do Estado eficiente e com vocação para o fomento de um ambiente favorável à criação e expansão de negócios privados, concebidos e geridos a partir de um pensamento pautado pela ética e pelo respeito aos investidores, trabalhadores, consumidores, cidadãos e meio ambiente.

4. DESAFIOS FUTUROS. Embora a expansão da previdência complementar e o possível

advento do capitalismo social tragam inúmeras vantagens para o indivíduo, para o Estado e para a sociedade como um todo, há aspectos desafiadores que merecem ser mencionados.

Aponto a seguir quatro das muitas questões que deverão ser obje-to de reflexão por parte dos futuros dirigentes de fundos de pensão e dos futuros agentes do Estado responsáveis pela regulação e fiscalização da previdência complementar.

1. Primeiro, é preciso lembrar que em um cenário macroeconô-mico marcado por taxas de juros declinantes, a rentabilidade de títulos pú-blicos que vierem a ser emitidos tende a ser menor, gerando demanda dos fundos de pensão (e de outros investidores institucionais) por mais aplica-ções do setor privado, inclusive participações acionárias. Esse movimento contribui para o preço desses ativos subirem. O investimento estrangeiro em ações de companhias brasileiras também cresce à medida que o Brasil caminha para ser classificado como investment grade pelas agências avali-adoras de risco. Tudo isso gera um efeito positivo e capaz de elevar, por muitos anos, o preço das ações negociadas em bolsa de valores.

Contudo, quando o grau de maturidade dos planos de benefícios exigir a venda de ativos para fazer frente ao pagamento das aposentadorias, pensões e demais prestações previdenciárias, a concentração de vários pla-nos da modalidade de benefício definido entrando em fase de maturidade e vendendo participações acionárias ao mesmo tempo pode derrubar o valor dos ativos de renda variável. Dependendo do tamanho do mercado na oca-sião, essa queda pode ser relevante e duradoura. Desses eventos podem surgir déficits expressivos e persistentes.

2. Ainda no campo dos investimentos, o futuro próximo trará, certamente, um debate sobre investimentos no exterior. Por mais que haja muito que fazer no Brasil em termos de infra-estrutura, e por mais que haja

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muitas oportunidades de investimento em território nacional, a questão do investimento no exterior se colocará a partir de uma dupla motivação. De um lado, os planos de benefícios sentirão a necessidade de alocar parte de seus recursos em mercados (talvez) mais arriscados, porém com melhores oportunidades de retorno significativo. À medida que o Brasil se aproximar do pleno desenvolvimento, deixando o grupo de países emergentes, as ta-xas médias de retorno das aplicações tenderão a ficar menores. Ou seja, no Brasil de daqui a alguns anos – assim como acontece nos países atualmente desenvolvidos – os investimentos serão, na média, mais seguros, porém menos rentáveis. O direcionamento de aplicações para o exterior, em espe-cial para os países emergentes, será uma alternativa a ser considerada. De outra parte, constata-se que cada vez mais fundos de pensão estrangeiros investem no Brasil. Esse movimento aumentará a partir do grau de investi-mento. Como é natural, nas relações internacionais, haverá uma pressão crescente por reciprocidade. Isto é, os países cujos fundos de pensão já in-vestem com poucas restrições no Brasil certamente demandarão que nossas regras de investimento passem a permitir que os fundos de pensão brasilei-ros invistam com mais desenvoltura no exterior.

3. Outra questão relevante é o aumento da longevidade dos assis-tidos. O futuro próximo poderá trazer impactos significativos sobre os pla-nos de previdência em função de avanços trazidos pelo segmento da bio-tecnologia. Para ficar em apenas um exemplo, menciono que, após o se-qüenciamento do genoma humano, concluído há pouco, está aberto o cami-nho a criação de novos tratamentos para diversas enfermidades de origem genética. E, mais do que isso, para a criação de tratamentos personalizados, capazes de atuar com eficácia muito maior do que os atuais. A era de medi-camentos específicos para mulheres, para negros, para idosos, para hemofí-licos ou para daltônicos, por exemplo, criados em função de características genéticas específicas desses grupos populacionais, e de muitos outros está próxima. Em um futuro um pouco mais distante, esse processo poderá levar à produção de medicamentos individuais.

Hoje já se conhece o genoma da espécie humana (isto é, quais segmentos das moléculas de DNA dos humanos carregam genes associados a quais características). Mas em breve será bastante acessível realizar o mapeamento do genoma de cada indivíduo, isto é, não apenas conhecer qual setor do DNA humano é responsável por uma determinada função, mas saber especificamente como cada indivíduo executa essa função. Se-gundo algumas estimativas36, por volta do ano 2014 o mapeamento genéti-co individual estará disponível por um custo de aproximadamente mil dóla-res norte-americanos. Assim, poderá ser possível conhecer o que um de-terminado gene de uma determinada pessoa realiza normalmente (quais ca-racterísticas expressa, quais proteínas produz etc.), permitindo que se avali-e, antecipadamente, qual o tipo de medicamento mais adequado para en-

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frentar um determinado problema. Os desdobramentos da revolução biotecnológica em curso (setor

em que o Brasil tem destaque internacional) ainda não são totalmente ima-gináveis. Há uma infinidade de aplicações em desenvolvimento, e muitas delas darão frutos diretos sobre o aumento da longevidade. Essa é a boa notícia. O aspecto delicado fica por conta dos impactos sobre os regimes previdenciários, inclusive a previdência complementar.

4. Por fim, coloca-se um desafio fundamental para o Estado. A estrutura de regulação e fiscalização da previdência complementar fechada precisa ser fortalecida. Atualmente, a complexidade e a dimensão do regi-me de previdência executado pelos fundos de pensão já exigem um órgão de supervisão mais robusto. Com a expansão da previdência complementar que está em curso, coloca-se de forma mais evidente a necessidade de uma nova estrutura que tenha quadro de pessoal especializado, autonomia admi-nistrativa e orçamentária e atuação descentralizada, com a presença de uni-dades regionais em todo o território nacional.

A criação da nova estrutura foi determinada pela Lei Comple-mentar n.º 109/01 e chegou a ser estabelecida por medida provisória em 2004, sem que, naquela ocasião, o Congresso Nacional tivesse aprovado a sua conversão em lei dentro do prazo que a Constituição estabelece.

O encaminhamento de projeto de lei ordinária ao Congresso Na-cional em 2007, propondo a criação da nova estrutura de supervisão, é an-tes de tudo o cumprimento de um comando legal.

Porém, mais do que ação deste ou daquele governo, o estabele-cimento de uma autarquia para regular e fiscalizar o sistema de previdência complementar deve ser uma preocupação de toda a sociedade, em especial dos participantes e assistidos de planos de benefícios administrados por fundos de pensão. Afinal, são eles os verdadeiros destinatários e maiores beneficiários de uma estrutura estatal de supervisão eficiente e compatível com a complexidade e a importância do sistema de previdência comple-mentar brasileiro.

CONCLUSÃO. Para concluir, umas poucas palavras. A expansão da previdência complementar veio em boa hora. É

positiva do ponto de vista econômico, é justa do ponto de vista social. Fa-vorece o desenvolvimento do Brasil, dá segurança às pessoas e aprimora a atuação das empresas.

Os brasileiros que ainda estão por nascer terão, talvez, muitas crí-

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ticas para dirigir à geração atual. Possivelmente seremos vistos, pelas futu-ras gerações, como pessoas terrivelmente atrasadas, individualistas e polui-doras, entre muitos outros defeitos. Mas se a expansão da previdência com-plementar que está em curso realmente se concretizar e efetivamente pro-duzir todos os frutos esperados, haverá pelo menos uma grande obra da ge-ração atual para testemunhar em seu favor perante os brasileiros do futuro.

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NOTAS 1 The unseen revolution: how pension fund socialism came to America (1976). 2 A revolução invisível: como o socialismo fundo-de-pensão invadiu os Estados Unidos. Tradução

de Carlos A. Malferrari. São Paulo, Pioneira, 1977. 3 Ob. cit., p. 3. 4 Ob. cit., p. 4. 5 Ob. cit., p. 46. 6 CASTRO, Novo enfoque para a economia brasileira, p. 124. 7 DAVIS, LUKOMNIK e PITT-WATSON, The new capitalists, preface, p. xi: “Corporate power

used to be wielded either by wealthy tycoons or by state. In some places, this is still the case. But in North America, Europe, Japan, and increasingly throughout the world, the owners of multinational corporations are the ten of millions of working people who have their pension and life savings invested through funds in share of the world’s largest companies.”

8 Leis Complementares n.º 108 e n.º 109, ambas de 29 de maio de 2001. 9 SILVA, De 1977 a 2002: reflexões para o atual momento de transição, p. 41. 10 SILVA, ob. cit., p. 45. 11 A regulamentação dos dispositivos das leis complementares de 2001 cabe, em princípio, ao

Conselho de Gestão da Previdência Complementar, por meio de resoluções. Há, contudo, duas exceções. Alguns artigos da Lei Complementar n.º 109/01 devem ser regulamentados por decreto do Presidente da República (artigos 13, caput, 65 e 66) e um dispositivo da mesma lei deve ser regulamentado por resolu-ção do Conselho Monetário Nacional: “A aplicação dos recursos correspondentes às reservas, às provi-sões e aos fundos de que trata o caput será feita conforme diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetá-rio Nacional.” (art. 9º, § 1º).

12 COUTINHO, Luciano, A contribuição dos fundos de previdência complementar para o desen-volvimento econômico e social do Brasil, p. 50.

13 Resolução CGPC n.º 21, de 25 de setembro de 2006, em especial seu artigo 5º, que induz (mas não obriga) o uso de plataformas eletrônicas de negociação.

14 Resolução CGPC n.º 23, de 6 de dezembro de 2006 15 Instrução SPC n.º 14, 18 de janeiro de 2007. 16 REIS, Temas centrais da nova legislação, p. 28. 17 Dos atuais 1.077 planos de previdência complementar, que abrigam cerca de 2.500.000 partici-

pantes e assistidos, 156 surgiram a partir de 2003. Alguns, é verdade, surgiram da reestruturação de pro-gramas previdenciários que já existiam. Mas a maioria nasceu a partir da criação de programas previden-ciários para grupos que até então não eram cobertos pelo sistema de previdência complementar.

18 Conforme classificação que consta da definição da Lei Complementar n.º 109, de 29 de maio de 2001, art. 34:

Art. 34. As entidades fechadas podem ser qualificadas da seguinte forma, a-lém de outras que possam ser definidas pelo órgão regulador e fiscalizador:

(...) II – de acordo com seus patrocinadores ou instituidores: (...) b) multipatrocinadas, quando congregarem mais de um patrocinador ou insti-

tuidor.” 19 Conforme disposições dos parágrafos 14 a 16 do art. 40 da Constituição Federal, com a redação

que lhes foi dada pelas Emendas Constitucionais n.º 20/98 e n.º 41/03: “§ 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, desde que

instituam regime de previdência complementar para os seus respectivos servidores titulares de cargo efetivo, poderão fixar, para o valor das aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo regime de que trata este artigo, o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201.

§ 15. O regime de previdência complementar de que trata o § 14 será instituí-do por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, observado o disposto no art. 202 e seus parágrafos, no que couber, por intermédio de entidades fechadas de pre-vidência complementar, de natureza pública, que oferecerão aos respectivos partici-pantes planos de benefícios somente na modalidade contribuição definida.

§ 16. Somente mediante sua prévia e expressa opção, o disposto nos §§ 14 e

Page 26: A PREVIDÊNCIA ASSOCIATIVA E O CAPITALISMO … paixao...Brasil e o capitalismo social” em: GÓES, Wagner de (coordenador). Papel dos fundos de pensão na formação da economia brasileira:

15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressado no serviço público até a data da publicação do ato de instituição do correspondente regime de previdência com-plementar.”

20 Lei Complementar n.º 109/01, art. 31. 21 PINHEIRO, A demografia dos fundos de pensão, p. 29. 22 Teachers Insurance and Annuity Association. 23 D’AMBROSIO, Ajudando pessoas a economizar, p. 90. 24 Seu fundamento constitucional está no artigo 201 da Constituição brasileira e as principais nor-

mas regulamentadoras são as Leis n.º 8.212/91 e n.º 8.213/91. 25 Seu fundamento jurídico está no artigo 40 da Constituição Federal e a principal norma regula-

mentadora é a Lei n.º 9.717/98. 26 Seu fundamento jurídico está no artigo 202 da Constituição Federal, com a redação que lhe foi

dada pela Emenda Constitucional n.º 20, de 15 de dezembro de 1998, sendo que as principais normas regulamentadoras são as Leis Complementares n.º 108/01 e n.º 109/01.

27 PAIXÃO, A previdência complementar fechada: uma visão geral, p. 9. 28 Lei Complementar n.º 109/201, art. 31, § 2º. 29 Segundo o art. 3º da Resolução CGPC n.º 3, 22 de novembro de 2005, “entende-se por plano de

benefícios de caráter previdenciário na modalidade de contribuição definida aquele cujos benefícios pro-gramados têm seu valor permanentemente ajustado ao saldo de conta mantido em favor do participante, inclusive na fase de percepção de benefícios, considerando o resultado líquido de sua aplicação, os valo-res aportados e os benefícios pagos.” Em outras palavras, a modalidade é estabelecida pelo benefício de renda programada, não havendo restrição à adoção de benefícios de risco com caráter mutualista (e, por-tanto, com possibilidade de resultados afetados por ganhos e perdas atuariais).

30 Resolução CGPC n.º 3, 22 de março de 2003, que deu nova redação à Resolução CGPC n.º 12, de 17 de setembro de 2002.

31 Resolução CGPC n.º 10, de 30 de março de 2004. 32 Conforme CHANG, Chutando a escada. 33 Conforme a Resolução CMN n.º 3.456/07, art. 22, I, o limite para aplicação de recursos é de

20% do capital votante de uma companhia. 34 CASTRO, ob. cit., p. 126. 35 MELO, Reflexões sobre o novo modelo previdenciário brasileiro, P. 19. 36 CHURCH, Genomes for all, p. 48.