12
30 A produção de conhecimento científico é um assunto com o qual todos estão, de algum modo, familiarizados. Ainda assim, poucos concordariam sobre o que tratar em uma disciplina de metodologia científica para alunos de Psicologia, ou mesmo em uma palestra sobre o tema. Iniciamos, portanto, esclarecendo o que será abordado neste artigo. Basicamente, discutiremos o que é conhecimento, o que é a Psicologia e o que é produzir conhecimento psicológico de um ponto de vista analítico-comportamental. Com isso, queremos também deixar claro o que não será examinado. Não nos ocuparemos de técnicas ou procedimentos de investigação empregados no cotidiano científico da análise do comportamento. Não porque o assunto seja irrelevante, mas porque A Produção de Conhecimento em Psicologia: Resumo: O artigo discute a proposta behaviorista radical de constituição da Psicologia como ciência do comportamento, destacando três conjuntos de questões: a) a noção de conhecimento com a qual opera, especialmente do ponto de vista da rejeição de princípios do positivismo lógico e adoção de uma concepção instrumental e relacional; b) uma interpretação da Psicologia como campo de saber que articula conteúdos filosóficos, científicos e aplicados e c) o programa de investigação dos fenômenos psicológicos orientado por um recorte externalista e por uma concepção selecionista de causalidade. A elaboração behaviorista radical é contrastada com concepções modernas acerca do homem, salientando-se seu alcance e seu caráter crítico e inovador na Psicologia e na cultura em geral. Palavras-Chave: Conhecimento psicológico, behaviorismo radical, análise do comportamento. Abstract:This paper discusses radical behaviorist approach to Psychology as a science of behavior, highlighting three sets of issues: a) the notion of knowledge adopted, particularly in its rejection of logical positivist principles, and its accordance to an instrumental and relational view; b) an interpretation of Psychology as a field of knowledge in which philosophical, scientific and applied contents are articulated; and c) a research program of psychological phenomena based on an externalist view of the subject matter and a selectionist conception of causality. The analysis contrasts radical behaviorism to modern conceptions of men, emphasizing its scope and its critical and innovatory character in Psychology and in culture in general. Key Words: Psychological knowledge, radical behaviorism, behavior analysis. Emmanuel Zagury Tourinho Departamento de Psicologia Experimental, Universidade Federal do Pará. a Análise do Comportamento 1 The knowledge Production in Psychology: The Behavioural Analysis PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2003, 23 (2), 30-41 ArtToday

A Produção de Conhecimento em Psicologia - scielo.br · pelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata a

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A Produção de Conhecimento em Psicologia - scielo.br · pelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata a

30

A produção de conhecimento científico é umassunto com o qual todos estão, de algum modo,familiarizados. Ainda assim, poucos concordariamsobre o que tratar em uma disciplina demetodologia científica para alunos de Psicologia,ou mesmo em uma palestra sobre o tema.Iniciamos, portanto, esclarecendo o que seráabordado neste artigo. Basicamente, discutiremos

o que é conhecimento, o que é a Psicologia e oque é produzir conhecimento psicológico de umponto de vista analítico-comportamental. Com isso,queremos também deixar claro o que não seráexaminado. Não nos ocuparemos de técnicas ouprocedimentos de investigação empregados nocotidiano científico da análise do comportamento.Não porque o assunto seja irrelevante, mas porque

A Produção deConhecimento em Psicologia:

Resumo: O artigo discute a proposta behaviorista radical de constituição da Psicologia como ciência docomportamento, destacando três conjuntos de questões: a) a noção de conhecimento com a qual opera,especialmente do ponto de vista da rejeição de princípios do positivismo lógico e adoção de uma concepçãoinstrumental e relacional; b) uma interpretação da Psicologia como campo de saber que articula conteúdosfilosóficos, científicos e aplicados e c) o programa de investigação dos fenômenos psicológicos orientadopor um recorte externalista e por uma concepção selecionista de causalidade. A elaboração behavioristaradical é contrastada com concepções modernas acerca do homem, salientando-se seu alcance e seucaráter crítico e inovador na Psicologia e na cultura em geral.Palavras-Chave: Conhecimento psicológico, behaviorismo radical, análise do comportamento.

Abstract:This paper discusses radical behaviorist approach to Psychology as a science of behavior, highlightingthree sets of issues: a) the notion of knowledge adopted, particularly in its rejection of logical positivistprinciples, and its accordance to an instrumental and relational view; b) an interpretation of Psychologyas a field of knowledge in which philosophical, scientific and applied contents are articulated; and c) aresearch program of psychological phenomena based on an externalist view of the subject matter and aselectionist conception of causality. The analysis contrasts radical behaviorism to modern conceptions ofmen, emphasizing its scope and its critical and innovatory character in Psychology and in culture ingeneral.Key Words: Psychological knowledge, radical behaviorism, behavior analysis.

EmmanuelZagury Tourinho

Departamento dePsicologia Experimental,Universidade Federal do

Pará.

a Análise do Comportamento1

The knowledge Production in Psychology: The Behavioural Analysis

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2003, 23 (2), 30-41

ArtT

oday

Page 2: A Produção de Conhecimento em Psicologia - scielo.br · pelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata a

31

só faz sentido examiná-lo sob o pano de fundodas questões preliminares que serão privilegiadasnesta exposição.

A elaboração aqui apresentada também não deveser tomada como o ponto de vista do conjuntodos analistas do comportamento. Da mesma formaque em outras “comunidades psicológicas”, há,na análise do comportamento, certa variação (ouvariabilidade) nos modos como seus membrosdiscutem alguns problemas. Esperamos estarapresentando uma análise consistente comprincípios filosóficos e conceituais da área, masnão necessariamente representativa do quequalquer analista do comportamento diria sobreo assunto.

Por último, consideramos estar nos dirigindo aleitores predominantemente não familiarizados coma análise do comportamento; evitaremos, portanto,o uso de uma linguagem técnica da área. Por outrolado, devemos antecipar que muitas das idéiasapresentadas conflitam com crenças bemdifundidas sobre psicólogos comportamentais e issose deve a dois fatores que serão focalizados:primeiro, o fato de que algumas afirmações sobreos “behavioristas” são infundadas, ou seja, nãocorrespondem realmente ao que propõem autoresda área; segundo, não existe uma psicologiabehaviorista, mas várias modalidades debehaviorismo, que se diferenciam substancialmentedo ponto de vista de seus princípios e de seusprogramas de pesquisa. Nossas referências serão obehaviorismo radical proposto originalmente porB. F. Skinner e a produção da comunidade deanalistas do comportamento constituída com osuporte de sua obra.

Escolhemos iniciar com uma parábola, contadapelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suasanálises críticas da concepção moderna dehomem. Elias (1994) relata a seguinte parábola dasestátuas pensantes:

“À margem de um largo rio, ou talvez na encostaíngreme de uma montanha elevada, encontra-seuma fileira de estátuas. Elas não conseguemmovimentar seus membros. Mas têm olhos e podemenxergar. Talvez ouvidos, também, capazes de ouvir.E sabem pensar. São dotadas de “entendimento”.Podemos presumir que não vejam umas às outras,embora saibam perfeitamente que existem outras.Cada uma está isolada. Cada estátua em isolamentopercebe que há algo acontecendo do outro ladodo rio ou do vale. Cada uma tem idéias do que estáacontecendo e medita sobre até que ponto essasidéias correspondem ao que está sucedendo.Algumas acham que essas idéias simplesmenteespelham as ocorrências do lado oposto. Outraspensam que uma grande contribuição vem de seu

A Produção de Conhecimento em Psicologia: a Análise do Comportamento

próprio entendimento. No final, é impossível sabero que está acontecendo por lá. Cada estátua formasua própria opinião. Tudo que ela sabe provémde sua própria experiência. Ela sempre foi tal comoé agora. Não se modifica. Enxerga. Observa. Háalgo acontecendo do outro lado. Ela pensa nisso.Mas continua em aberto a questão de se o que elapensa corresponde ao que lá está sucedendo. Elanão tem meios de convencer. É imóvel. E está só. Oabismo é profundo demais. O golfo éintransponível” (pp. 96-97).

A parábola das estátuas pensantes ilustra bem comoincidiu na discussão de ordem epistemológica umaconcepção de homem, de acordo com a qualcondições internas ou subjetivas de sujeitosparticulares definem e circunscrevem suaspossibilidades de conhecimento da realidade.Nessa visão, o intercâmbio humano não exerce umafunção essencial, o sujeito está fechado em simesmo; o mundo social é parte de umaexterioridade, da qual ele se distancia em seuesforço reflexivo; ainda, o status dos enunciadosassim construídos sobre a natureza se define deacordo com a possibilidade de corresponderemao que existe independentemente de sujeitosparticulares e de sua interação efetiva com omundo. O conceito de “sujeito”, aqui constituído,é um correlato do conceito de “indivíduo”(elaborado na reflexão sobre as condições derealização do homem na esfera política,econômica, social e religiosa). Tanto no pensamentofilosófico como em outros domínios, esse homemisolado merecerá extensa investigação de suasfaculdades ou capacidades pessoais, visto seremelas a via para sua realização plena. Embora essaseja uma problematização típica da Filosofia dosséculos XVII e XVIII sua atualidade pode sersurpreendente. Há, por exemplo, claracontinuidade entre aquelas noções ou crenças eo que nos fala Sennett (1988) sobre um narcisismocontemporâneo (como “distúrbio de caráter”), queimpossibilita o indivíduo de atribuir significado ouvalor a certas relações com o mundo, para alémdo que representam em termos de sensaçõesprivadamente experimentadas.

A análise do comportamento se edifica como umamodalidade de discurso psicológico crítico dessavisão de homem e da correspondentesobrevalorização do que ocorre privadamente aoindivíduo, não porque ignora a chamada“experiência subjetiva” ou deixa de reconhecê-lacomo constitutiva de instâncias do fenômenocomportamental, mas porque não atribui a esseseventos uma centralidade na explicação docomportamento humano; diferente disso, busca narelação do Homem com o mundo uma explicaçãotanto para sua experiência subjetiva, quanto paraseu comportamento publicamente partilhado.

1Trabalho parcialmentefinanciado pelo CNPq (Processo520062/98-1). Versõespreliminares foramapresentadas no I Simpósio OHomem e o Método e II Encontrodas Escolas de Psicologia deBelo Horizonte (Belo Horizonte,abril de 2001) e no II CongressoNorte-Nordeste de Psicologia(Salvador, maio de 2001). Aversão apresentada no IICongresso Norte-Nordeste dePsicologia foi divulgada no CD-ROM do evento. Agradeço aoProf. Dr. Marcus Bentes deCarvalho Neto pelos comentáriosa uma versão preliminar dotexto.

Page 3: A Produção de Conhecimento em Psicologia - scielo.br · pelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata a

32

Com essa primeira incursão no pensamentoanalítico-comportamental, passamos a exporcomo o conhecimento, especialmente oconhecimento científico, é interpretado em seuâmbito.

Noção de Conhecimento eCritérios de Validação do SaberProduzido

2

As psicologias comportamentais têm relaçõespróximas com o positivismo, como freqüentementeassinalam seus críticos. É necessário acrescentar,porém, que essas relações assumem contornosbastante variáveis. Historicamente, diferentesversões da filosofia positivista foram elaboradas;algumas delas influenciaram modalidades nãocoincidentes de behaviorismo.

Na primeira metade do século XX, período em queas abordagens comportamentais experimentaramgrande desenvolvimento e repercussão naPsicologia, a vertente do positivismo com maiorimpacto no cenário filosófico era o positivismológico, ou neopositivismo. Os autores neopositivistas(Schlick, Carnap, Neurath, Hahn, Feigl e outros) sededicaram a assuntos diversos, construindo umaobra filosófica difusa. O que os ligava era,principalmente, um interesse em demarcar asfronteiras entre ciência e metafísica, o queconsideravam ser possível a partir de uma análiselingüística dos enunciados de um e de outro tipo.Em termos bastante gerais, os positivistas lógicosdistinguiam três tipos de asserções: asserçõesempíricas, asserções lógico-matemáticas e asserçõessem sentido. A ciência deve operar com enunciadosempíricos, deve ater-se à investigação do que estáacessível a uma verificação pública e limitar suasleis à descrição de regularidades assim definidas.Enunciados com valor de verdade, de acordo comessa leitura, são apenas aqueles que descrevemestados de coisas empiricamente verificáveis. Essaposição colocará em dificuldades o projeto de umaciência dos fatos psicológicos (o que, para aepistemologia positivista, não constituirá umproblema), admitidos como ocorrências inacessíveisa uma observação pública direta.

O positivismo lógico influenciou certos grupos debehavioristas norte-americanos, especialmentequando, fugidos da guerra e da perseguição aosjudeus, alguns membros do Círculo de Viena semudaram para os Estados Unidos e assumiramfunções acadêmicas em universidades norte-americanas. A convivência próxima entre psicólogoscomportamentais e filósofos neopositivistas rendeufrutos muito evidentes, como um ensaio de Stevens(professor em Harvard, que acolheu, na época,Herbert Feigl) sobre a ciência e a linguagem científica(cf. Stevens, 1939). A modalidade de behaviorismo

que incorporou preceitos do positivismo lógicona discussão sobre as feições de um projeto dePsicologia como ciência do comportamento foi,mais tarde, denominada de “behaviorismo(meramente) metodológico” (Skinner, 1945). Naspalavras do próprio Stevens (1939), “a ciência ... éum conjunto de proposições empíricas sobre asquais os membros da sociedade concordam” (p.227) e, assim, “somente aquelas proposiçõesbaseadas em operações públicas e replicáveis sãoadmitidas no corpo da ciência. Nem mesmo aPsicologia sabe alguma coisa sobre a experiênciaprivada, pois uma operação para penetrar naprivacidade é autocontraditória” (pp. 227-228).

No behaviorismo metodológico, o comportamento(entendido apenas como respostas públicas dosorganismos) é o objeto de estudos porque é o quese presta a uma observação pública direta,atendendo aos critérios de cientificidade adotados;ele, no entanto, pode ser expressão indireta defenômenos mais fundamentais, os fenômenos“subjetivos”, que, por não cumprirem as exigênciasde observabilidade, não podem ser assumidoscomo objeto de estudos. Essa é a versão empiristade ciência que, sob a influência de preceitosneopositivistas, promove o distanciamento daPsicologia em relação aos fenômenos consideradossubjetivos, ou privados. Freqüentemente, é a elaque se aplicam as críticas generalizadas para aPsicologia Comportamental como um todo. Ageneralização, no entanto, é incorreta, porque odiscurso verificacionista do behaviorismometodológico não é aceito pelo conjunto dasabordagens behavioristas. No caso particular dobehaviorismo radical, Skinner refutourepetidamente, desde 1945 (Skinner, 1945), as tesesverificacionistas dos behavioristas metodológicos.No lugar da observação pública como critério deverdade, Skinner sugeria uma referênciainstrumental, de acordo com o qual “o critérioúltimo para a boa qualidade de um conceito nãoé se duas pessoas são levadas à concordância, masse o cientista que usa o conceito pode operar comsucesso sobre seu material” (Skinner, 1945, p. 293).Para Skinner, a inacessibilidade de sentimentos epensamentos à observação pública direta não osexclui do campo de interesses de uma ciência docomportamento. Ao abordá-los, a análise docomportamento apenas refuta a suposição de quesão fenômenos “mentais”, preferindo interpretá-los como eventos com dimensões físicas

3, ainda

que inacessíveis à observação pública. Aabordagem científica daqueles eventos podelançar mão de métodos não observacionais; emparticular, a interpretação é postulada por Skinnercomo método legítimo, desde que orientada pelosconceitos já comprovados como eficazes nainterpretação de fenômenos menos complexos eregulada pela eficácia em promover uma melhorinteração do cientista com aqueles eventos.

Emmanuel Zagury Tourinho

2 As considerações apresentadasnesta seção estão amplamentebaseadas na análisedesenvolvida em um trabalhoanterior (Tourinho, 1994).

3 A afirmação de quesentimentos e pensamentos têmdimensões físicas é uma formade argumentar que suaexplicação não requer o apelo asupostos mentalistas/dualistas;dimensões físicas, no entanto,para a análise docomportamento, não definem umfenômeno comportamental(adiante, será discutida a noçãode comportamento para obehaviorismo radical). Portanto,a rejeição do mentalismo nãoestá aqui associada à adoçãode uma interpretação fisicalistapara sentimentos epensamentos.

Page 4: A Produção de Conhecimento em Psicologia - scielo.br · pelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata a

33

Reiterando, o behaviorismo radical admite oestudo de fenômenos como sentimentos epensamentos (abordados com o conceito de“eventos privados”), admite a interpretação comométodo para lidar cientificamente com problemasdessa ordem e adota um critério instrumental deverdade na avaliação de enunciados científicossobre quaisquer fenômenos. Trata-se, portanto, deuma versão de behaviorismo que não coincidecom o behaviorismo metodológico e que nãoincorpora suas teses positivistas.

As relações do behaviorismo radical com opositivismo têm uma outra origem e um outroalcance. Basicamente, Skinner adota desde oinício de seu programa de pesquisas (cf. Skinner,1931/1961) uma noção de causalidade formuladaem termos de relações funcionais entre eventos, oque é um modo de afastar-se de posturasmecanicistas; associado a isso, interpreta a ciênciacomo voltada para a descrição e explicação defenômenos, sendo essas atividades consideradascoincidentes (embora possivelmente diferenciadasquanto à abrangência - cf. Scoz, 2001), ambascorrespondendo à especificação de relaçõesfuncionais. Esse modo de olhar para a ciência epara a causalidade é atribuído por Skinner, emseus primeiros textos, a Ernst Mach, um positivistaque viveu de 1838 a 1916, e cuja obra citada porSkinner foi publicada ainda no século XIX (Mach,1883/1949).

Mach foi um positivista fortemente influenciadopelo pensamento darwinista. Ele interpretava oconhecimento e as atividades dirigidas à suaconstrução como regulados por princípiosadaptativos. Por razões que se relacionam com ahistória de nossa espécie, nossas “representações”do mundo são sempre organizações de nossaexperiência de acordo com nossos interesses ounecessidades práticas e intelectuais. Mach supõehaver uma continuidade entre o conhecimento“prático”, “primitivo”, ou “pré-científico” e oconhecimento científico, sendo que o últimoincorpora de modo mais efetivo um “princípio deeconomia”. De acordo com esse princípio, umaparcela cada vez mais ampla da experiênciahumana é organizada de modo cada vez maissimples. Assim, a ciência não provê o acesso a umconteúdo especial da experiência, mas apenas aorganiza de modo mais produtivo. Observe-se quea análise de Mach implica tanto umreconhecimento da relatividade de todoenunciado científico, quanto uma naturalizaçãodos fenômenos do conhecimento, que acabaresultando em uma valorização da observação eda experimentação como vias privilegiadas.

Como positivista, Mach considerava a ciência umaespécie de “discurso privilegiado” sobre a realidade.

No entanto, ele já se distanciava de uma perspectivarepresentacional, na medida em que acorrespondência formal com a realidade erarejeitada; uma lei científica é apenas “a experiênciaeconomicamente ordenada de forma a estarpronta para uso” (Mach, em Lübbe, 1978, p. 94).Como assinalado por Kolakowski (1972) em umaapresentação da filosofia positivista, Mach “eraprofundamente convencido do caráter provisóriode todo estágio da ciência e de todas as asserçõescientíficas” (p.142). Nesse contexto, a “verdade erauma questão de promoção da adaptação de umindivíduo ou da espécie ao ambiente circundante”(Smith, 1989, p. 272); uma concepção de verdademuito próxima daquela que será veiculada nopragmatismo de William James. Assim, o positivismode Mach já pertencia a uma tradição crítica decertos ideais positivistas “clássicos”, como aquelesrelacionados a uma noção representacional doconhecimento e a uma concepção universal deverdade científica.

Embora o positivismo de Ernst Mach tenhainfluenciado o pensamento de Skinner no iníciode sua carreira, não se pode dizer que tenhadefinido os compromissos de sua ciência docomportamento. Apesar das referências de Skinnera Mach e a outros pensadores, não se deveconsiderar que ele buscava em qualquer filosofiaa sustentação para sua ciência do comportamento.Ao contrário, desde o início, Skinner pensava quea Filosofia tinha muito a usufruir do que umaciência psicológica produzisse sobre ocomportamento humano. Com o desenvolvimentode sua obra, e especialmente com a elaboraçãode uma interpretação funcional para a linguagem,inclusive a linguagem científica, a abordagem do

Mach supõe haveruma continuidadeentre o conhecimento“prático”, “primitivo”,ou “pré-científico” e oconhecimentocientífico, sendo queo último incorpora demodo mais efetivo um“princípio deeconomia”.

A Produção de Conhecimento em Psicologia: a Análise do Comportamento

Page 5: A Produção de Conhecimento em Psicologia - scielo.br · pelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata a

34

problema do conhecimento vai se sofisticando, semque novas referências a pensadores positivistas sejamencontradas; ao contrário, Skinner volta a referir-seao positivismo de um modo mais sistemático apenasem 1945, para criticar os behavioristasmetodológicos e sua aceitação de preceitos dopositivismo lógico. Em outras palavras, as relaçõesdo behaviorismo skinneriano com a tradiçãofilosófica positivista são restritas, não são definitivas enão conduzem aos problemas apontados comrespeito ao behaviorismo metodológico. Qualquertentativa de caracterizar filosoficamente obehaviorismo radical com base na referência aopositivismo exigirá que se ignorem aspectosimportantes da elaboração skinneriana e de outrosanalistas do comportamento; será, de outro modo,uma distorção do que se encontra na literatura daárea. Se for necessário aproximar a análise docomportamento de um sistema filosófico particularde seu tempo, pode-se dizer que as noções deconhecimento e de verdade elaboradas por Skinnerestão muito mais próximas do pragmatismo do quede qualquer outro movimento filosófico nos séculosXIX e XX. Essa relação será ilustrada a seguir.

Conhecer, para Skinner, é comportar-se de modosefetivos com respeito a uma parcela da realidade,isto é, o conhecimento não é uma posse, mas umaprobabilidade de o indivíduo agir no mundo demodos produtivos (modos de ação que produzemconseqüências positivas, com ou sem um menorcusto de resposta). Assim, o conceito deconhecimento diz respeito a algo que aconteceno plano das relações com o mundo físico e social,e é função da história dessas relações; não descreveocorrências internas e singulares dos indivíduos.O afastamento em relação às “estátuas pensantes”,como pode ser notado, é evidente.

O conhecimento apresenta-se também sob a formade enunciados que descrevem modos eficazes deação no mundo, como no caso dos ditadospopulares e das leis científicas. As últimas descrevemnão uma realidade independente dos sujeitos, mas,ao contrário, o comportamento de sujeitos queagem de modo efetivo no mundo. Enquantocomportamento, o conhecimento científico éfunção da história ambiental dos cientistas,especialmente sua história de interação comcontingências sociais providas pela comunidade decientistas. Essas contingências tentam limitar asinfluências pessoais na atividade científica, mas demodo algum colocam o comportamento do cientistasob controle estrito da natureza; são elas tambémque diferenciam o conhecimento científico dosoutros discursos sobre a realidade. Para Skinner, ocientista, o poeta e o leigo estão em contato comum mesmo mundo (o único que existe); apenasinteragem com ele de modos diferentes, por forçade estarem expostos a contingências diversas (cf.Skinner, 1974).

Se o conhecimento científico é comportamentoverbal sob controle de contingências sociais (ascontingências dispostas por uma comunidade decientistas) e naturais (aquela parcela da realidadecom a qual o cientista interage), então ele não é“verdadeiro” em nenhum sentido especial. ParaSkinner (1974), “uma proposição é ‘verdadeira’tanto quanto, com sua ajuda, o ouvinte respondede forma efetiva na situação que ela descreve” (p.235); portanto, “verdadeiro” é um modo dedescrever crenças que possibilitam lidar de modosefetivos com a realidade, e não há verdadeabsoluta.

Uma ciência do comportamento está interessadaem leis gerais sobre o comportamento, no sentidode que ela dispensa especificações topográficas efisicalistas em favor de descrições de relaçõesfuncionais entre o que um indivíduo faz e o queacontece no ambiente como conseqüência de suaação, e está interessada em enunciados verdadeiros,no sentido de que busca descrições que capacitemo cientista para lidar de modo eficaz comfenômenos comportamentais. Qualquer apelopara além disso escapa aos compromissos oupretensões da análise do comportamento.

William James se referia à verdade como aquiloem “que seria melhor para nós acreditar” (James,1907/1949a, p. 77). Segundo ele, os enunciadosverdadeiros “concordam” com a realidade apenasno sentido de que guiam os indivíduos de modoeficaz, isto é, “qualquer idéia que nos ajude a lidar,de forma prática ou intelectual, com a realidadeou seus pertences, que não envolve nosso progressoem frustrações, que se ajusta, de fato, e adaptanossa vida ao cenário todo da realidade,concordará suficientemente para atender orequisito. Ela será verdadeira daquela realidade”(James, 1909/1949b, pp. 304-305).

A proximidade entre as interpretações de Skinnere as teses pragmatistas de William James tem sidoapontada por vários autores (e.g. Day, 1992,Malone Jr., 1975, Tourinho, 1994, 1996, Zuriff,1980). Também a interpretação analítico-comportamental para a linguagem, que enfatiza asfunções do comportamento verbal e reinterpretaas noções de significado e referência (inclusive noexame da chamada “linguagem das emoções”),tem levado a uma identificação com o pensamentodo “segundo” Wittgenstein (cf. Bloor, 1987, Costall,1980, Day, 1969, Waller, 1977). No plano dasproposições filosóficas mais contemporâneas, obehaviorismo radical tem sido interpretado comoconsistente com o neopragmatismo de RichardRorty (cf. Lamal, 1983, 1984, Leigland, 1999).Parece justificado considerar o pragmatismo deJames, o neopragmatismo de Rorty e a análisewittgensteiniana da linguagem como contrapontosimportantes de uma tradição representacional em

Emmanuel Zagury Tourinho

Page 6: A Produção de Conhecimento em Psicologia - scielo.br · pelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata a

35

Filosofia, aquela mesma contida na parábola dasestátuas pensantes e em filosofias positivistas.Apontar aproximações do behaviorismo radical aesses autores (ainda que relações nesses domíniospossam ser problematizadas) é um modo de indicarque, em matéria de conhecimento, ciência everdade, a análise do comportamento não apenasrejeita o subjetivismo de certas doutrinas modernas,dirigindo sua atenção para o intercâmbio humano,como também dispensa o recurso a critériosempiristas na validação de seus enunciados.

Esclarecida a concepção instrumental e relacionalde conhecimento com a qual a análise docomportamento opera, passamos a examinarcomo é possível definir o campo da Psicologia, nointerior do qual se busca construir umconhecimento original e produtivo.

A Psicologia como Área deConhecimento e a Análise doComportamento como SistemaPsicológico

Há diversos modos de definir ou caracterizar aPsicologia, especialmente quando isso é feito porpsicólogos, com base em seus sistemas teóricosespecíficos. Tentaremos falar da Psicologia de ummodo que pensamos não estar comprometido comum referencial teórico particular. A Psicologia podeser interpretada como um campo de saber, ummodo particular de os indivíduos (na culturaocidental moderna) abordarem certos conjuntosde problemas historicamente constituídos. Temsido apontado (e.g. Figueiredo, 1991) que essesproblemas dizem respeito, em geral, a sentimentos,pensamentos, emoções etc., experimentadospredominantemente nas relações do indivíduoconsigo mesmo, isto é, de modo privatizado. Aemergência dessa ordem de problemas produzdemandas de vários tipos na cultura. De um lado,é necessário tornar inteligível uma experiência queé nova e que se articula de modos complexos comuma visão de homem também original e sedutora,porém ilusória - a concepção do homemautônomo. Além disso, espera-se da Psicologia quelide com produtos dessas mudanças, dificuldadesnovas experimentadas pelos indivíduos em suasrelações cotidianas com o mundo - efreqüentemente atribuídas ao que se passa dentrode cada um. Assim, o campo de saber da Psicologiajá nasce multifacetado, não simplesmente porqueé habitado por discursos conflitantes, mas nosentido de que seus conteúdos têm umaconformação variada, respondendo a demandassociais em várias direções. A Psicologia se edificacomo um campo de saber que envolve,simultaneamente: a) um esforço reflexivo sobre anatureza humana, seus problemas e suas

possibilidades de realização em diferentes domíniosda vida (social, material, intelectual, religioso etc.);b) uma investigação cientificamente orientada paraa descoberta de regularidades dos fenômenospsicológicos (um modo de tentar apreender asnovas experiências sob a forma de enunciados queincorporam os requisitos empírico-racionais daemergente ciência); c) uma profissão de ajuda,voltada para a solução de problemas humanos.Ou seja, o campo psicológico se constituihistoricamente como Filosofia, como ciência ecomo profissão. Pensar a Psicologia desse modoajuda na tarefa de compreender seusdesenvolvimentos em muitas direções e o conflitoentre discursos que são concorrentes, mas nemsempre comparáveis.

Tendo como referência essa leitura, o campopsicológico pode ser representado como umtriângulo, cujos vértices correspondem àquelas trêsáreas (cf. Tourinho, 1999). A figura sugere deimediato a ligação ou vínculo do que pertence auma área com o que pertence às demais. É possível,porém, ir mais longe e dizer que os fazeres daPsicologia estão localizados não exatamente emum daqueles vértices, mas em posiçõesintermediárias entre eles, isto é, em algum pontoda área interna do triângulo. Produçõesconsistentes em Psicologia localizam-se em pontosvariados da área interna da figura, guardamrelações variadas com preocupações/interessesfilosóficos, científicos e aplicados, aproximam-semais de uma do que de outra área (o que semprepossibilitará restrições de alguma ordem). Quantomais próximo de um vértice e mais distante dosdemais, maior a caracterização de um discursocomo eficiente em uma direção, mas insuficienteenquanto representante da Psicologia como umtodo. Por exemplo, técnicas de ajuda sem vínculoscom uma produção científica e com uma reflexãofilosófica consistente com nossos sistemas amplosde interpretação da realidade provavelmente terãoalgum sucesso na cultura, mas não serãoreconhecidas como suficientes enquanto sistemaspsicológicos. Terão algum sucesso porque estarãose voltando para uma necessidade real da cultura,mas não alcançarão o status de Psicologia porquesuprem apenas parcialmente as demandas dirigidasà disciplina. Do mesmo modo, produçõescientíficas que não se articulam com elaboraçõesfilosóficas consistentes, ou que não se mostramcapazes de instrumentalizar para a intervençãofrente a problemas humanos complexos, poderãoaté obter reconhecimento científico, mas nãoocuparão facilmente o lugar reservado na culturapara os saberes psicológicos. Por último,interpretações psicológicas mais aproximadas dediscursos filosóficos que conflitem com a lógicaempírico-racional da cultura científica e/oudemonstram vínculos restritos com modeloseficazes de intervenção enfrentarão dificuldade

Assim, o campo desaber da Psicologiajá nascemultifacetado, nãosimplesmente porqueé habitado pordiscursos conflitantes,mas no sentido deque seus conteúdostêm umaconformaçãovariada,respondendo ademandas sociais emvárias direções.

A Produção de Conhecimento em Psicologia: a Análise do Comportamento

Page 7: A Produção de Conhecimento em Psicologia - scielo.br · pelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata a

36

semelhante. Se essa interpretação estiver correta,são bem sucedidas na cultura aquelas versões dePsicologia que conjugam: a) um esforço filosóficosintonizado com as produções reflexivascontemporâneas; b) um compromisso com aincorporação de exigências empírico-racionais emseus enunciados e/ou com a interlocução comproduções na área científica; c) uma buscasistemática de alternativas para a solução deproblemas humanos. Como a academia é, porexcelência, um espaço para o debate e validaçãode nossos sistemas elaborados de crenças, aspsicologias bem sucedidas tornam-se psicologiasacademicamente validadas, em contraste comoutras práticas ou explicações “psi” (como aschamadas “psicologias alternativas”), queeventualmente penetram na cultura por força defatores diversos, mas não alcançam umreconhecimento social duradouro. Falar empsicologias academicamente validadas parecemais eficiente do que falar em psicologias científicas,considerando o que foi afirmado sobre aconformação do campo da Psicologia.

Na medida em que a análise do comportamento éconsiderada um sistema psicológico, sugere-se queela é mais do que a ciência experimental referidanos manuais de Psicologia. Como sistemapsicológico, a análise do comportamento é umcampo de saber, no interior do qual se articulamconteúdos filosóficos, empíricos e aplicados.

Na análise do comportamento, o behaviorismoradical ocupa o lugar das produções filosóficas,reflexivas ou conceituais. Isso leva Skinner (1969)a referir-se ao behaviorismo radical como “umafilosofia da ciência que se ocupa do objeto deestudos e dos métodos da Psicologia” (p. 221,itálico acrescentado). O vértice da produçãocientífica é representado pela pesquisa empírica,freqüentemente referida como análiseexperimental do comportamento, mas que, emmuitas circunstâncias, é apenas descritiva, nãoenvolvendo a manipulação de variáveis típicas daaplicação do método experimental. No vértice dasproduções aplicadas, encontra-se a análiseaplicada do comportamento. O desenvolvimentode tecnologias de caráter analítico-comportamentalpara a solução de problemas conta com razoávelreconhecimento, especialmente nas áreas deeducação regular e especial, às quais os analistasdo comportamento se dedicaram maissistematicamente. Outras áreas também jáexperimentaram o avanço da análise aplicada docomportamento, como a Psicologia Institucional,a Psicologia do Esporte etc. Mais recentemente,também vem-se desenvolvendo de modo especiala terapia analítico-comportamental, voltada paraa intervenção verbal face a face e distanciada domodelo de modificação do comportamento (quese mostrou eficaz na intervenção em contextosinstitucionais). Em algumas áreas, a aceitação deprogramas de intervenção analítico-comportamentais tem excepcional resultado,contrastando com a menor aceitação que a análisedo comportamento tem experimentado em algunsambientes acadêmicos, em alguma medidaresultante de sua dificuldade em dialogar com outrasáreas e com outras vertentes da Psicologia.

A denominação de “behaviorismo radical” para oconteúdo filosófico do sistema cultural analítico-comportamental é, por vezes, consideradainadequada, seja porque o termo “radical” seencontra associado a concepções negativas emnossa sociedade (Drash, 1988), seja porque asproposições skinnerianas precisariam ser revisadascom vistas à eliminação de inconsistências (Hayes& Hayes, 1992). Alternativamente, tem sidoproposta a adoção de expressões como“behaviorismo científico” (Drash, 1988), ou“behaviorismo contextualista” (Hayes & Hayes,1992). Nesse último caso, haveria um esforço paraeliminar do sistema filosófico/conceitual da análisedo comportamento qualquer resquício depensamento mecanicista em favor de uma visãointeiramente consistente com uma filosofiacontextualista (cf. Cavalcante, 1999).

A investigação empírica ocupa, na análise docomportamento, um lugar privilegiado; reúne osesforços de uma boa parcela de analistas do

Na medidaem que a análise do

comportamento éconsiderada um

sistema psicológico,sugere-se que ela é

mais do que a ciênciaexperimental referida

nos manuais dePsicologia.

Emmanuel Zagury Tourinho

Page 8: A Produção de Conhecimento em Psicologia - scielo.br · pelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata a

37

comportamento, e seus produtos representam amaior parte da literatura analítico-comportamental. Desse ponto de vista, pode-semesmo falar de um desequilíbrio na distribuiçãoda produção da análise do comportamento comrespeito às três áreas citadas. Isso também explicaa identificação da área com a pesquisa empírica(experimental) e a suposição, equivocada, de queanalistas do comportamento se dedicam apenasprecariamente a incursões filosóficas e à soluçãodos problemas humanos “mais profundos” ou“complexos”. A suposição de confinamento daanálise do comportamento ao vértice dos estudosempíricos também responde, em larga medida,pela recusa em reconhecer na disciplina ascondições para pleitear a condição de “sistemapsicológico”. Por outro lado, tem sido apontado(Tourinho, 1999) um interesse crescente porestudos conceituais na análise do comportamento,possivelmente como decorrência, entre outros, dofato de que trabalhos desse tipo criam ou fomentamáreas de interlocução com outras teorias oudisciplinas, o que seria relevante para asobrevivência da análise do comportamento comosistema cultural.

Como na ciência em geral e na Psicologia emparticular, na análise do comportamento otrabalho conceitual é requisito para a instauraçãode programas de pesquisa. Esse fato é reconhecidopor Skinner (cf. Tourinho, 1999) desde o início deseu trabalho, ainda que não se possa dizer queseja sempre valorizado por seus seguidores. De todomodo, pode-se ir adiante afirmando que otrabalho conceitual é não apenas condição paraa instauração de programas de pesquisa, mastambém para o desenvolvimento da investigaçãoempírica. Na verdade, uma vez constituído umsistema explicativo psicológico, as diferentes áreasparecem ir permanentemente se influenciandoumas às outras; a produção em um domínio vaisendo permanentemente regulada pela produçãonos demais. Desse modo, as três áreas são nãoapenas complementares, mas, também,interdependentes. Nem sempre isso é claramentepercebido:

“Do ponto de vista da percepção imediata de umpesquisador, sua investigação é tipicamenteconceitual, ou empírico-experimental, ouaplicada. No entanto, essa vem a ser uma visãorestrita dos processos em curso quando umacomunidade promove e valida estudos emqualquer área particular, pelos motivos deinterdependência e complementaridadeassinalados acima” (Tourinho, 1999, pp. 7-8).

Considerando que a análise do comportamentoreivindica o status de saber psicológico e buscaqualificar-se para tal com uma produção nas três

áreas que definem o campo da disciplina,passaremos a apresentar alguns aspectos envolvidosno modo analítico-comportamental de interpretare conhecer os fenômenos psicológicos.

O Campo de Saber Analítico-Comportamental

Há diversos modos de abordar as formas pelas quaisa análise do comportamento se volta para aprodução de conhecimento. As considerações aseguir constituem apenas uma amostra do quepode ser discutido a esse respeito, vale dizer, umaamostra com o viés de quem se dedicaprincipalmente ao trabalho conceitual e aplicado.

A análise do comportamento pretende ocupar olugar da Psicologia porque entende quefenômenos psicológicos são fenômenoscomportamentais. O conceito de comportamento,porém, é empregado por analistas docomportamento para abordar relações. Ele nãodesigna o que um organismo faz, mas uma relaçãoentre um organismo e o mundo à sua volta. Poressa razão, às vezes prefere-se falar de relaçõescomportamentais. Assim, a proposta é a deinterpretar os fenômenos psicológicos comofenômenos relacionais, em outras palavras,fenômenos que dizem respeito às relações dosorganismos com o seu ambiente físico e social(especialmente o ambiente social, no caso docomportamento humano).

Quando Watson inaugurou a PsicologiaBehaviorista, as relações comportamentais estudadaseram as do tipo respondente ou reflexo. Ainvestigação de processos comportamentaisenvolvidos em relações reflexas teve importânciacentral para o desenvolvimento da Psicologia comociência do comportamento, mas rapidamentemostrou-se insuficiente para dar conta dacomplexidade do fenômeno comportamental.Atualmente, na análise do comportamento, oparadigma operante orienta predominantemente ainterpretação e investigação de relaçõescomportamentais, mostrando-se produtivo.Relações operantes são relações do organismo como ambiente nas quais as conseqüências das açõesexercem um papel seletivo, fortalecendo ouenfraquecendo padrões de resposta. Nas relaçõesoperantes, condições antecedentes não eliciamrespostas (como no reflexo); basicamente adquiremfunções discriminativas ou estabelecedoras, isto é,tornam-se contextos para as relações respostas-conseqüências. Comportamentos humanoscomplexos são interpretados como relaçõesoperantes, relações do indivíduo com o ambientefísico e social nas quais as conseqüênciasdesempenham um papel seletivo. Comodecorrência, tanto a investigação quanto as práticas

A Produção de Conhecimento em Psicologia: a Análise do Comportamento

Page 9: A Produção de Conhecimento em Psicologia - scielo.br · pelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata a

38

profissionais de analistas do comportamento diantede problemas “comportamentais” (ou“psicológicos”) estarão voltadas para a identificaçãode regularidades nas relações entre o que umindivíduo faz e aspectos antecedentes econseqüentes às suas ações, ou seja, estarão voltadaspara a identificação de relações funcionais.

A adoção de uma visão selecionista de causalidadefoi inaugurada com o advento do conceito deoperante (em 1937) e já significou um afastamentoem relação ao modelo de causalidade mecanicistapresente no conceito de reflexo. O selecionismoskinneriano sofisticou-se, em seguida, com aelaboração de um modelo que agrega umapreocupação com a multideterminação docomportamento em diferentes níveis. Para Skinner,o comportamento humano é o produto simultâneode três níveis de determinação: a filogênese (queseleciona certas características anátomo-fisiológicas,certas respostas - reflexos incondicionados - asensibilidade às conseqüências da ação e asensibilidade diferenciada a certos eventosambientais); a ontogênese (na qual a imitação,modelação e modelagem produzem repertóriosnovos e adaptativos ao ambiente atual do indivíduo)e a cultura (que possibilita, por meio da linguagem,a aquisição de comportamentos novos semnecessidade de exposição às contingências queoriginalmente produziram aquele comportamento).Os programas de pesquisa em análise docomportamento ocupam-se, basicamente, dasrelações ao nível da ontogênese, especialmente ocondicionamento operante. Nesses programas quenão são ignorados os determinantes filogenéticos(portanto, não são “ambientalistas extremos” comoalguns etólogos sugerem - cf. Carvalho Neto &Tourinho, 1999), tampouco é desconhecida aimportância das práticas culturais para asobrevivência da cultura como um todo (osdeterminantes culturais são abordados apenas doponto de vista de seu efeito sobre o comportamentode indivíduos particulares); simplesmente édefinido um recorte de análise limitado ao planoontogenético, tentando examinar em que medidaou de que modos operações nesse nível podemafetar o comportamento individual (em outraspalavras, como solucionar problemas humanosalterando o ambiente contemporâneo dosindivíduos).

O reconhecimento da multideterminação docomportamento (mesmo quando se permaneceapenas no nível ontogenético) levará o analista docomportamento a trabalhar com um determinismoprobabilístico. Isso significa que é impossível lidarcom todas as variáveis, das quais umcomportamento é função; quando se lida comalgumas daquelas variáveis pode-se apenasaumentar ou reduzir a probabilidade de umcomportamento, mas não determiná-lo de modo

absoluto. Para um analista do comportamento,todo comportamento humano é, em algumamedida, imprevisível, dado que o indivíduo possuiuma história ambiental única e é sensível a muitasvariáveis de seu ambiente físico e social. Isso édiferente, porém, de considerar impossívelpromover certas formas de comportamentoalterando aspectos do ambiente do indivíduo,especialmente quando é possível identificarvariáveis que têm relevância especial na instalaçãoe/ou manutenção de um padrão comportamental(por exemplo, quando a coerção no ambienteescolar é crucial para a produção de respostasagressivas).

Na medida em que interpreta os fenômenospsicológicos como fenômenos relacionais, aprodução de conhecimento na análise docomportamento estará voltada para a investigaçãode aspectos dessas relações. Como assinaladoacima, descrições fisicalistas do que os organismosfazem não têm relevância especial aqui. Aspectosformais/topográficos de uma resposta precisam serespecificados apenas até onde auxiliam aidentificar uma relação do organismo com seuambiente

4.

Dado o interesse em identificar regularidades nasrelações organismo-ambiente, o métodoexperimental é o recurso privilegiado para ainvestigação analítico-comportamental; é por meiodo seu uso que a quase totalidade da pesquisasobre processos comportamentais básicos sedesenvolve. O emprego extensivo do métodopossivelmente motiva muitas das críticas dirigidas àárea. Há dois fatos, porém, a observar. Primeiro, ométodo experimental não é o único utilizado poranalistas do comportamento. Muitos problemastêm um grau de complexidade que os tornainacessíveis à investigação experimental. Além disso,há circunstâncias nas quais aspectos éticosimpossibilitam o seu uso. Nesses contextos, osanalistas do comportamento freqüentemente selimitam à observação e descrição docomportamento ou à interpretação para lidar comfenômenos comportamentais. O segundo fato aobservar é que não apenas a análise docomportamento, mas inúmeras outras abordagenspsicológicas (como certas versões de cognitivismo)fazem uso do método experimental, o que tambémnão as torna propostas restritivas de investigação.Assim, as críticas dirigidas à pesquisa experimentalem análise do comportamento parecem motivadasmais propriamente por outros fatores, como apesquisa com organismos não humanos. Comoapontado por Luna (2001), “a defesa do uso deorganismos inferiores na pesquisa nunca foi aceitapela comunidade de psicólogos não-analistas docomportamento e ajudou a fundamentar arejeição” (p.146).

Emmanuel Zagury Tourinho

4 Essa posição implicará, porexemplo, considerar restritivo ouinadequado o uso do ManualDiagnóstico e Estatístico dosTranstornos Mentais, DSM-IV(Associação PsiquiátricaAmericana, 1995) nodiagnóstico de problemaspsicológicos, pois suascategorias são baseadas apenasem sinais e sintomas relatadospelo cliente, o que informa, nomáximo, aspectos topográficosdo comportamento (ver, arespeito, Cavalcante & Tourinho,1998).

Page 10: A Produção de Conhecimento em Psicologia - scielo.br · pelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata a

O que sintetiza os modos como a análise docomportamento se volta para a investigação dofenômeno comportamental, seja na pesquisabásica, seja em situações aplicadas, é a análisefuncional (cf. Cavalcante, 1999; Micheletto, 1997).Concluiremos esta parte, portanto, com um resumodo que orienta a análise funcional, não nainvestigação controlada de laboratório, mas naprática de intervenção do analista docomportamento. Será usada como referência asistematização apresentada por Cavalcante (1999)em uma discussão sobre a terapia analítico-comportamental. Segundo Cavalcante, a análisefuncional envolve: “a) selecionismo como modelocausal e funcionalismo como princípio de análise”(p. 40): esse princípio corresponde aoreconhecimento da “complexidade dos processosde determinação dos comportamentos humanos”(p. 40) e ao interesse pelas “funções docomportamento na produção de conseqüênciasambientais” (p. 40); “b) externalismo como recortede análise” (p. 40): aqui, a ênfase é na abordagemdo fenômeno comportamental como relação doindivíduo como um todo com o ambiente, o quenão exclui considerações sobre “eventos privados”,mas impõe sua interpretação no contexto daquelasrelações; “c) complexidade, variabilidade e caráteridiossincrático das relações comportamentais” (p.41): nesse caso, trata-se do reconhecimento deque os produtos da história ambiental são variáveise idiossincráticos, tornando necessárias análisesidiográficas; “d) critério pragmático na definiçãodo nível de intervenção” (p. 41): na intervenção“a análise funcional desenvolve-se dentro de limitesque atendem ao interesse pela solução deproblemas comportamentais concretos” (p. 41);por último, “e) distinção entre alcance da avaliaçãoe alcance da intervenção” (p. 42): se a avaliaçãose volta para a complexidade de eventospertinentes às relações comportamentais deinteresse, considerando, inclusive, eventos remotose/ou inobserváveis, a intervenção lida basicamentecom variáveis presentes, visando à solução deproblemas.

Considerações Finais

Gostaríamos de finalizar com algumas observaçõessobre as posições da análise do comportamentodiscutidas neste trabalho. Em um artigo no qualdiscute as “alternativas” metodológicas disponíveis(ou não), como, por exemplo, na pesquisapsicológica, Luna (1988) chama a atenção para oque denomina de “falso conflito” entre elas.Segundo esse autor, as alternativas metodológicaspodem não constituir, propriamente, “opções”diante das quais o pesquisador (nesse caso, opesquisador psicólogo) delibera ou “escolhe”. Oargumento de Luna é o de que o sistema teóricono interior do qual formulamos um problema de

A Produção de Conhecimento em Psicologia: a Análise do Comportamento

pesquisa orienta a decisão acerca do que são osmodos apropriados, ou pertinentes, deinvestigação. Assim, a metodologia não tem statuspróprio, precisando ser definida em um contextoteórico-metodológico qualquer. Em outras palavras,abandonou-se (ou vem se abandonando) a idéiade que faça qualquer sentido discutir a metodologiafora de um quadro de referência teórico que, porsua vez, é condicionado por pressupostosepistemológicos (Luna, 1988, p. 71).

A “decisão metodológica”, se é que há uma decisãometodológica, se dá antecipadamente, desde omomento em que o problema é formulado nocontexto de um modelo particular de interpretaçãodo fenômeno de interesse. Nosso sistema teórico eos supostos epistemológicos envolvidoscomportam talvez “técnicas” ou “procedimentos”diferenciados, mas não recortes conflitantes dosfenômenos que se pretende estudar. Nas palavrasde Luna (1988):

“O referencial teórico de um pesquisador é umfiltro pelo qual ele enxerga a realidade, sugerindoperguntas e indicando possibilidades. É tãoimprovável que um psicanalista cogite dos efeitosda estrutura cognitiva de uma criança sobre seudesempenho, quanto um piagetiano procure levantarinformações sobre a resolução do complexo de Édipodas crianças que estude” (p. 74).

Os princípios comportamentais discutidos aolongo desta apresentação constituem o “filtro” deque a análise do comportamento se serve ao olharpara os fenômenos psicológicos; elescircunscrevem as “alternativas metodológicas”.Como resultado, o que a análise docomportamento tem a oferecer para a cultura éuma interpretação do comportamento humanoque conflita com crenças e práticas cotidianas, mas

39

Page 11: A Produção de Conhecimento em Psicologia - scielo.br · pelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata a

Recebido 15/10/01 Aprovado 07/03/03

Emmanuel Zagury Tourinho.Departamento de Psicologia

Experimental, Universidade Federal do Pará.Tel.: (91) 224-24-79 (residência) / (91) 211-1453 (UFPA).

Rua Aristides Lobo , 884, Apto.100.Reduto. CEP.:66 053-020, Belém, Pará.

E- mail: [email protected]

que se pretende efetiva na solução dos problemaspara os quais é dirigida. O que se pode indagar ése tem sido produtivo para a cultura promover essadisciplina. A resposta nos parece ser afirmativa.

O sujeito epistemológico retratado nas estátuaspensantes de Elias (1994) não sobrevive nossistemas contemporâneos de crenças; ele sofreucríticas arrasadoras nos últimos séculos. O mesmo,porém, não ocorreu com a cultura internalista aele associada. Continuamos a interpretar o quenos ocorre privadamente (ou subjetivamente)

como essencial para a definição de nossasrealizações. Aprendemos a falar da importânciadas nossas relações com o mundo para aconstrução dessa realidade mais essencial, porémnem sempre vemos essas relações como algo quemerece um lugar central nas teorias ou nasintervenções psicológicas. A análise docomportamento oferece uma leitura diferente, queconfere centralidade àquelas relações. Comoesperamos ter ilustrado, trata-se de uma leiturarefinada e produtiva.

Emmanuel Zagury Tourinho

40

Page 12: A Produção de Conhecimento em Psicologia - scielo.br · pelo sociólogo Norbert Elias, em uma de suas análises críticas da concepção moderna de homem. Elias (1994) relata a

ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA. Manual diagnóstico eestatístico de transtornos mentais – DSM-IV. Tradução de: D. Batista.Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

BLOOR, D. Wittgenstein: a social theory of knowledge. 1. reimpressão.London: MacMillan, 1987.

CARVALHO NETO, M. B.; TOURINHO, E. Z. Skinner e o lugar dasvariáveis biológicas em uma explicação comportamental. Psicologia:teoria e pesquisa, v. 15, n. 1, p. 45-53, 1999.

CAVALCANTE, S. N. Análise funcional na terapia comportamental:uma discussão das recomendações do behaviorismo contextualista.Pará, 1999. Dissertação (Mestrado) - Programa de pós-graduação emTeoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará.

CAVALCANTE, S. N.; TOURINHO, E. Z. Classificação e diagnóstico naclínica: possibilidades de um modelo analítico-comportamental.Psicologia: teoria e pesquisa, n. 14, p. 139-147, 1998.

COSTALL, A. The limits of language: wittgenstein’s later philosophyand skinner’s radical behaviorism. Behaviorism, n. 8, p. 123-131, 1980.

DAY, W. F. On certain similarities between the philosophicalinvestigations of Ludwig Wittgenstein and the operationism of B. F.Skinner. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, n. 12, p. 489-506, 1969.

DAY, W. F. The historical antecedents of contemporary behaviorism.In: LEIGLAND, S. (Ed.). Radical behaviorism: Willard Day on psychologyand philosophy. Reno, Nevada: Context Press, 1992. p. 13-58.

DRASH, P. W. Radical behaviorism: a nonradical recommendation.The Behavior Analyst, n. 11, p. 87-89, 1988.

ELIAS, N. A sociedade dos indivíduos. Tradução de: V. Ribeiro. Rio deJaneiro: Jorge Zahar, 1994.

FIGUEIREDO, L. C. M. Matrizes do pensamento psicológico. Petrópolis:Vozes, 1991.

HAYES S. C.; HAYES, L. J. Some clinical implications of contextualisticbehaviorism: the example of cognition. Behavior Therapy, n. 23, p.225-249, 1992.JAMES, W. Pragmatism: a new name for some old ways of thinking. In:_____. (Ed.). Pragmatism: a new name for some old ways of thinking/four related essays selected from “the meaning of truth”. New York:Longmans, 1949a. p. 6-301. Publicado originalmente em 1907.

JAMES, W. (1949b). Four related essays selected from “the meaning oftruth”. In: _____. (Ed.). Pragmatism: a new name for some old ways ofthinking / four related essays selected from “the meaning of truth”.New York: Longmans, 1949b. p. 303-419. Publicado originalmenteem 1909.

KOLAKOWSKI, L. Positivist philosophy: from Hume to the Viena circle.Tradução de: N. Guterman. Harmondsworth: Penguin Books, 1972.

LAMAL, P. A. A cogent critique of epistemology leaves radicalbehaviorism unscathed. Behaviorism, n. 11, p. 103-109, 1983.

LAMAL, P. A. Getting it right: a reply to Wool folk. Behaviorism, n. 12,p. 97-98, 1984.

LEIGLAND, S. Pragmatism, science, and society: a review of RichardRorty’s objectivity, relativism, and truth: philosophical papers. Journalof the Experimental Analysis of Behavior, v. 1, n. 71, p. 483-500, 1999.

A Produção de Conhecimento em Psicologia: a Análise do Comportamento

LÜBBE, H. Positivism and phenomenology: Mach and Husserl. In:LUCKMANN, T. (Ed.). Phenomenology and sociology: selectedreadings. Middlesex: Penguin Books, 1978. p. 90-118.

LUNA, S. V. O falso conflito entre tendências metodológicas. Cadernosde Pesquisa, n. 66, p. 70-74, 1988.

LUNA, S. V. A crise na educação e o behaviorismo. Que parte nos cabenela? temos soluções a oferecer? In: CARRARA, K. (Org.). Educação,universidade e pesquisa. São Paulo: Unesp, 2001. p. 143-155.

MACH, E. Desarrollo histórico-critico de la mecánica. Tradução de: J.Babini. Buenos Aires: Espasa-Calpe Argentina, 1949. Publicadooriginalmente em 1883.

MALONE JÚNIOR, J. C. William James and B. F. Skinner: behaviorism,reinforcement, and interest. Behaviorism, n. 3, p. 140-151, 1975.

MICHELETTO, N. Bases filosóficas da noção de relação funcional. In:ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOTERAPIA EMEDICINA COMPORTAMENTAL, 6., 1997, Santos. Anais... Santos:[s.n.], 1997.

SCOZ, M. C. P. Conhecer o outro: uma análise crítica do conceito dediagnóstico psicológico a partir do behaviorismo radical de B. F. Skinner.São Paulo, 2001. Dissertação (Mestrado em Psicologia Experimental)- Programa de estudos pós-graduados, Pontifícia Universidade Católicade São Paulo.

SENNETT, R. O declínio do homem público. São Paulo: Companhia dasLetras, 1988.

SKINNER, B. F. The operational analysis of psychological terms.Psychological Review, n. 52, p. 270-277; p. 291-294, 1945.

SKINNER, B. F. The concept of the reflex in the description of behavior.In: SKINNER, B. F. Cumulative record – enlarged edition. New York:Appleton-Century-Crofts, 1961. p. 319-346. Publicado originalmenteem 1931.

SKINNER, B. F. Contingencies of reinforcement: a theoretical analysis.New York: Appleton-Century-Crofts, 1969.

SKINNER, B. F. About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf, 1974.

SMITH, L. D. Behaviorism and Logical Positivism. Stanford: StanfordUniversity Press, 1989.

STEVENS, S. S. Psychology and the science of science. PsychologicalBulletin, n. 36, p. 221-263, 1939.

TOURINHO, E. Z. Behaviorismo radical, representacionismo epragmatismo: uma discussão epistemológica do pensamento de B. F.Skinner. São Paulo, 1994. Tese (Doutorado) - Instituto de Psicologia,Universidade de São Paulo.

TOURINHO, E. Z. Behaviorismo radical, representacionismo epragmatismo. Temas em Psicologia, n. 2, p. 41-56, 1996.

TOURINHO, E. Z. Estudos conceituais na análise do comportamento.Temas em Psicologia da SBP, v. 7, n. 3, p. 213-222, 1999.

WALLER, B. Chomsky, wittgenstein and the behaviorist perspectiveon language. Behaviorism, n. 5, p. 43-59, 1977.

ZURIFF, G. E. Radical behaviorist epistemology. Psychological Bulletin,n. 87, p. 337-350, 1980.

Referênciasbibliográficas

41