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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A PROVA ILÍCITA NO PROCESSO PENAL EM FACE DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ADRIANA PICCOLI FORNEROLI Itajaí, 15 de maio de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A PROVA ILÍCITA NO PROCESSO PENAL EM FACE DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

ADRIANA PICCOLI FORNEROLI

Itajaí, 15 de maio de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A PROVA ILÍCITA NO PROCESSO PENAL EM FACE DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

ADRIANA PICCOLI FORNEROLI

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Direito.

Orientador: Professor MSc. Rogério Ristow

Itajaí , 15 de maio de 2006.

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AGRADECIMENTO

À Deus, que me guiou na busca da

sabedoria e do conhecimento.

À minha família por tudo que representam.

Aos meus amigos, em especial a Duty,

Marianne e Sabine pelo apoio e

companheirismo.

Ao meu namorado Leandro pela

compreensão, apoio e carinho.

Ao mestre Rogério Ristow, que procurou

sempre dedicar seus conhecimentos à

orientação e confecção deste estudo.

Obrigada.

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DEDICATÓRIA

À minha família, em especial aos meus pais,

Edson e Cleuse que sempre ensinaram que

“é preciso estudar para ter valor”.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a

Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a

Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade

acerca do mesmo.

Itajaí (SC), 10 de julho de 2006.

Adriana Piccoli Forneroli Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Adriana Piccoli

Forneroli, sob o título A Prova Ilícita no Processo Penal, foi submetida em

23/06/2006 à banca examinadora composta pelos seguintes professores:

Msc. Rogério Ristow, Esp. Luiz Eduardo Cleto Righetto e Renato Massoni

Domingues e aprovada com a nota 9,3 (nove vírgula três).

Itajaí (SC), 10 de julho de 2006.

Rogério Ristow Orientador e Presidente da Banca

Rogério Ristow Coordenação da Monografia

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ROL DE CATEGORIAS

Direito processual penal

“Regulamenta o exercício da jurisdição penal, exercida em face de lides

de natureza penal, que se caracterizam por pretensões punitivas ou

medidas preventivas de ordem penal. Regem-no, no nosso direito, o

Código de Processo Penal e algumas outras leis”. 1

Meios de Prova

“as fontes probantes, os meios pelos quais o juiz recebe os elementos ou

motivos de prova. Através deles é que o magistrado forma a sua

convicção e as partes procuram demonstrar os fatos que alegaram”. 2

Objeto da prova

“é a coisa, fato, acontecimento ou circunstância que deva ser

demonstrado no processo”. 3

Ônus da prova

“a prova da alegação incumbirá a quem a fizer” . 4

Princípio da audiência contraditória

“toda prova admite a contraprova, não sendo admissível a produção

delas sem o conhecimento da outra parte”. 5

1 Disponível em: http://www.dji.com.br/dicionario/direito_processual_penal.htm. Acesso: 14 de maio de 2006. 2 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. São Paulo: Millenium, 2000, p. 274. 3 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal, p. 254. 4 Art. 156 do Código de Processo Penal. 5 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 8. ed. São Paulo: Atlas S.A., 1998, p. 266.

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Princípio da auto-responsabilidade das partes

“é o princípio em que as partes assumem e suportam as conseqüências de

sua inatividade, negligência, erro ou atos intencionais”. 6

Princípio da oralidade

“os depoimentos serão sempre orais, não sendo possível substituí-los por

outros meios, como declarações particulares. No júri e no processo

sumário os debates são orais”. 7

Processo

“é o instrumento estatal dirigido para a composição dos litígios. Compõe-

se de uma série de atos ordenados e coordenados, todos tendentes a um

ato final que faça a entrega devida prestação jurisdicional”. 8

Processo penal

“é o modo pelo qual atua a jurisdição em matéria penal”.9

Prova

“o conjunto dos meios e de métodos positivos, pelos quais é possível

esprimir o nosso julgamento sobre a verdade de uma acusação”. 10

Prova ilegítima

“(...) quando a prova, ao contrario, é produzida com infringência a uma

norma de caráter processual, usa-se o termo prova ilegítima (...)”. 11

6 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. p. 266. 7 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. Belo Horizonte: Livraria del rey, 1998. p. 164. 8 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo Penal. 2. ed. São Paulo: Revista dos tribunais, 1994; p. 351. 9 Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6109. Acesso: 14 de maio de 2006. 10 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita, p 149. 11 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita, p. 180.

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Prova ilícita

“(...) quando a prova é feita em violação a uma norma de caráter

material, essa prova é denominada por prova ilícita (...)”. 12

Teoria da proporcionalidade

“tem o propósito de manter equilíbrio entre os interesses da sociedade em

punir o criminoso, e os de defender os direitos fundamentais do

indivíduo”. 13

12 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita, p. 180. 13 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita, p 192.

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................XI

INTRODUÇÃO .................................................................................. 12

CAPÍTULO 1...................................................................................... 14

A PROVA NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO ................................ 14 1.1 CONCEITO DE PROVA...................................................................................14 1.2 DESTAQUES HISTÓRICOS ACERCA DA PROVA............................................16 1.3 OBJETO DA PROVA .......................................................................................18 1.4 CLASSIFICAÇÃO DAS PROVAS.....................................................................19 1.5 MEIOS DE PROVA ..........................................................................................22 1.6 ÔNUS DA PROVA...........................................................................................25 1.7 SISTEMA DE APRECIAÇÃO DAS PROVAS .....................................................26 1.7.1 SISTEMA LEGAL (FORMAL, TARIFADO)...................................................................27 1.7.2 SISTEMA DA ÍNTIMA CONVICÇÃO (SENTIMENTAL) ..................................................28 1.7.3 SISTEMA DA LIVRE CONVICÇÃO MOTIVADA OU SISTEMA REAL OU AINDA DA PERSUASÃO RACIONAL ...............................................................................................................29

CAPÍTULO 2...................................................................................... 33

O DIREITO À PROVA E SEUS LIMITES................................................ 33 2.1 O DIREITO À PROVA ......................................................................................33 2.2 PRINCÍPIOS NORTEADORES DA PROVA .......................................................35 2.2.1 AUTO-RESPONSABILIDADE DAS PARTES .................................................................35 2.2.2 AUDIÊNCIA CONTRADITÓRIA, OU SIMPLESMENTE PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO.........35 2.2.3 COMUNHÃO OU AQUISIÇÃO DA PROVA ..............................................................38 2.2.4 PUBLICIDADE ...................................................................................................38 2.2.5 ORALIDADE .....................................................................................................40 2.2.6 LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO ....................................................................41

CAPÍTULO 3...................................................................................... 43

PROVAS ILÍCITAS ............................................................................. 43

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3.1 PROVA ILÍCITA E PROVA ILEGÍTIMA .............................................................43 3.2 CORRENTES DOUTRINÁRIAS ..........................................................................49 3.2.1 CORRENTE FAVORÁVEL......................................................................................49 3.2.2 CORRENTES CONTRÁRIAS...................................................................................52 3.3 TEORIA DA PROPORCIONALIDADE ..............................................................55 3.4 POSIÇÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA:.......................58 3.5 POSIÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL................................................62

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 68

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ................................................ 71

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RESUMO

Atualmente, a grande controvérsia entre a

admissibilidade ou inadmissibilidade da prova ilícita no processo penal

brasileiro vem levando os doutrinadores a um estudo mais rigoroso sobre o

tema. Utilizando-se do método indutivo, o presente estudo teve como

objetivo análise do uso da prova ilícita no processo penal, destacando

pontos controversos na doutrina. A Constituição Federal de 1988 em seu

artigo 5°, LVI, expressamente diz que são inadmissíveis no processo as

provas obtidas por meios ilícitos. Ou seja, a prova obtida em confronto

com a lei, com os costumes, com a moral e com os princípios gerais do

Direito configuram provas que tem sua utilização vedada no processo

pelo próprio texto constitucional. Contudo, fato é que, vem crescendo em

nossos tribunais o acolhimento da teoria da proporcionalidade, a qual

pretende um equilíbrio entre o interesse estatal e social em punir os

criminosos e os direitos e garantias fundamentais dos indivíduos.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo

sobre a prova ilícita, mais especificamente em relação com sua

admissibilidade e inadmissibilidade no processo penal.

O seu objetivo institucional é a conclusão do curso

para obtenção do título de bacharel em direito. Tem como objetivo geral

uma análise sobre a prova ilícita, e como objetivo específico um estudo

sobre sua admissibilidade ou inadmissibilidade no processo penal brasileiro.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando da

prova no processo penal brasileiro, conceituando a prova, destacando o

histórico acerca da prova, do objeto da prova, suas classificações, seus

meios, seus ônus e seus sistemas de apreciação.

No Capítulo 2, tratou-se do direito a prova e seus

limites. Pesquisou-se sobre os princípios norteadores da prova, o princípio

da publicidade, o princípio da oralidade e o princípio do livre

convencimento motivado.

No Capítulo 3, tratou-se das provas ilícitas, fazendo a

priori uma distinção entre provas ilícitas e provas ilegítimas, em seguida é

mostrado correntes doutrinária favoráveis (admitindo a utilização da prova

ilícita no processo penal) e contrárias (não admitindo a utilização da

prova ilícita no processo penal), logo, é feita uma explanação sobre a

teoria da proporcionalidade e por final vê-se os julgados sobre a

admissibilidade ou não das provas ilícitas no Tribunal de Justiça de Santa

Catarina e no Supremo Tribunal Federal.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais será apresentada uma síntese dos

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capítulos, bem como a verificação da hipótese inicial, seguida da

estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre as provas

ilícitas no processo penal brasileiro.

Para impulsionar a pesquisa, parte-se da seguinte

problemática: Existem situações em que a prova adquirida por meios

ilícitos pode ser utilizada no processo penal?

Para a presente monografia foi levantada a seguinte

hipótese: Em determinados casos, admite-se a utilização no processo

penal de provas obtidas por meios ilícitos, pois como explica Pedroso14,

“Ora, se o fim precípuo do processo penal é a descoberta da verdade

real (na qual há que se fulcrar a própria realização do direito penal

substantivo, pela aplicação ou não da pena), crível é que, se a prova

ilegalmente obtida ostentar essa verdade, há de ser aceita”.

O Método15 a ser utilizado na fase de Investigação será

o Indutivo; na fase de Tratamento dos Dados será o Cartesiano, e,

dependendo do resultado das análises, no Relatório da Pesquisa poderá

ser empregada a base indutiva e/ou outra que for a mais indicada 16.

Serão acionadas as técnicas do referente17, da

categoria18, dos conceitos operacionais19, da pesquisa bibliográfica20 e do

fichamento21.

14 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo Penal. p. 384. 15 “Método é a forma lógico-comportamental na qual se baseia o Pesquisador para

investigar, tratar os dados colhidos e relatar os resultados”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática

da Pesquisa Jurídica- idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. 7 ed.

rev.atual.amp.Florianópolis: OAB/SC Editora, 2002, p.104 .

16 Sobre os métodos nas diversas fases da Pesquisa Científica, vide PASOLD, Cesar Luiz.

Prática da Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p. 99 a 107.

17 "explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitado o alcance

temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma

pesquisa". PASOLD,Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p. 241.

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CAPÍTULO 1

A PROVA NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO

1.1 CONCEITO DE PROVA

O vocábulo Prova vem do latim proba, de probare

que significa demonstrar, reconhecer, formar juízo. Compreende-se, assim,

no sentido jurídico, “a demonstração que se faz, pelos meios legais, da

existência ou veracidade de um fato material ou de um ato jurídico, em

virtude da qual se conclui por sua existência ou se afirma a certeza a

respeito da existência do fato ou do ato demonstrado”. 22

Tourinho Filho23 alerta que o vocábulo prova tem

diversos significados, conceituando: “os elementos produzidos pelas partes

18 “palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia".

PASOLD,Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p. 229.

19 “definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito

de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas”. PASOLD,Cesar

Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p. 229.

20 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas

legais”.PASOLD,Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p. 240.

21 “Técnica que tem como principal utilidade otimizar a leitura na Pesquisa Científica,

mediante a reunião de elementos selecionados pelo Pesquisador que registra e/ou

resume e/ou reflete e/ou analisa de maneira sucinta, uma Obra, um Ensaio, uma Tese

ou Dissertação, um Artigo ou uma aula, segundo Referente previamente

estabelecido”. PASOLD,Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p.

233.

22 Apud FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p.149. 23 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 203.

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ou pelo juiz, visando estabelecer, dentro do processo, a existência de

certos fatos”. 24

Conceitua Sabatini25 como prova, “o conjunto dos

meios e de métodos positivos, pelos quais é possível esprimir o nosso

julgamento sobre a verdade de uma acusação”.

Para Gomes Filho26:

Os mecanismos probatórios servem à formação do

convencimento do juiz, e concomitante, cumprem função

não menos relevante de justificar perante o corpo social a

decisão adotada...em outras palavras, além de ser um

procedimento cognitivo, a prova é também um fenômeno

psicossocial; daí a extraordinária importancia da natureza

das provas e do modo como são obtidas e incorporadas

ao processo.

Neves27 a respeito da prova salienta que:

Prova penal é aquela que, não atentando contra a moral, a

saúde, a segurança e a liberdade individual, fornece ao juiz

o material indispensável e seguro para a sentença. O que

sair desse limite legal, certamente não será prova, mas

arremedo de prova, ou simplesmente torpeza processual.

A prova tem como objetivo dar certeza ao Juiz,

convencendo-o a acreditar ou não na existência de um fato, ou da

verdade ou falsidade de uma afirmação sobre uma situação de fato

considerada importante para o processo.

24 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 203. 25 Apud FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 149. 26 LIMA, Marcellus Polastri. A prova penal. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002. p. 21. 27 Apud: FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 150.

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16

Ensina Marques28 que a prova é o elemento

instrumental para que as partes influam na convicçao do juiz, e o meio de

que este se serve para averiguar sobre os fatos em partes fundamentam

suas alegações. Pois, com a prova o que se busca é a configuração real

dos fatos sobre as questões a serem decididas no processo. Para a

averiguação desses fatos, a prova que se serve o juiz, formando, ao

depois, sua convícção.

Intitula-se como processo o conjunto de atos

legalmente ordenados, para verificação do fato, da autoria e a exata

aplicação da lei. O término do processo é a descoberta da verdade, para

a correta aplicação da lei. Provar é fornecer, no processo, o

conhecimento de qualquer fato, adquirindo, para si, e gerando noutrem,

a convicção da verdade do mesmo fato.

Vê-se, desde logo, que a objetivo da prova é o

convencimento do juiz, que é o seu destinatário e que provar significa

retratar o mais verdadeiramente possível, os fatos passados.

1.2 DESTAQUES HISTÓRICOS ACERCA DA PROVA

Destaca AQUINO29 que:

Através da Biblia, na Palestina, verifica-se a presença da

prova testemunhal como meio de atestar a realidade de

um fato. Assim é que não poderia haver condenação sem

testemunha (Números 5,13). Desde então havia a

preocupação com o falso testemunho: “Não levantarás

falso testemunho contra teu próximo” (Êxodo 20,16;

Deuteronômio 5,20). Também se observa a pre0sença de

normas práticas para evitara mentira (Deuteronômio 19,15-

28 MARQUES, José Frederico.Elementos de Direito Processual Penal. vol. II; 2000; pg.330. 29 AQUINO, José Carlos G. Xavier de. A Prova Testemunhal no Processo Penal Brasileiro. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 3.

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20), pois quem prestava um falso testemunho recebia a

punição que, pela sua acusação, queria fazer infligir a seu

próximo (princípio de Talião).

Pedroso30 discorre sobre o meio primitivo de provas

denominado “ordália” como sendo:

(...)repressão aos crimes, instituindo-se a oportunidade da

palavra ao acusado e sendo este submetido a provas para

a aferição da veracidade de suas asserções. Despontou

dessa forma a defesa mística do réu, pela sua obrigatória

submissão a árduas provas, das quais como Juiz assumia-se

Deus.

Vislumbra-se ai que, os povos antigos, mesmo aqueles

de civilização mais primitiva, possuíam certa noção de prova. Contudo,

nessa época, predominava a chamada prova mística, que sujeitava os

acusados a determinados processos bárbaros e desumanos. Tais processos

recorriam ao juízo dos deuses, onde, os suspeitos tinham de suportar todo

o sofrimento, pois, resistindo a eles era prova de sua inocência. Esse meio

primitivo de prova denominava-se “ordália”.

Já no final da época medieval e durante a idade

moderna, surgiram os tribunais da inquisição, que constituia-se em um

tribunal religioso, nesse período quem contrariasse os dogmas da Igreja

Católica, era tido como Hereges. Sobre este momento discorre Cotrin que

a tortura era utilizada nos interrogatórios na presença do juiz, com o

objetivo de obter a confissão. 31

O Juiz partia de uma convicção formada a priori e que

procurava demonstrar com a posterior prova que colhia. Em outras

palavras – realça Afrânio Silva Jardim - ao invés de convencer-se através

da prova carreada para os autos, inversamente, a prova servia para

30 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo Penal. p. 16 e 17. 31 CONTRIN, Gilberto. História e Consciência do Mundo. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 157.

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demonstrar o acerto da imputação antes formulada pelo Juiz – Inquisidor.

32

A partir daí surgiu assim, numa ânsia de mudança, o

sistema processual acusatório, que consistia em separar os poderes e

funções e concentrar o julgamento em uma única pessoa, o Juiz.

1.3 OBJETO DA PROVA

Trata-se de objeto da prova tudo o que possa de

alguma maneira influenciar na reconstituição do fato delituoso e na

demonstração de circunstâncias pessoais do agente.

Escreve Marques33 a respeito:

é a coisa, fato, acontecimento ou circunstância que deva

ser demonstrado no processo” (...) “Como o juiz se presume

instruído sobre o direito a aplicar, os atos instrutórios só se

referem à prova das quaestiones facti. O juiz deve conhecer

o Direito, obrigação essa que é elementar para o exercício

da jurisdição (jura novit curia). Donde se segue que,

abstratamente falando, constitui objeto de prova tão-só o

que diz respeito às questões de fato surgidas no processo.

Importante delinear que não se confundem as

expressões objeto da prova e objeto de prova. Objeto da prova - refere-se

a circunstâncias diretamente relacionadas ao fato em apuração

enquanto que Objeto de prova - refere-se às coisas passíveis, em tese, de

serem provadas (isto é, de serem objetos de prova): os fatos em si.

Noronha34 entende como objeto da prova, o que se

deve demonstrar, ou seja, o fato, a circunstância, a causa, sobre o que

32 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo Penal. p. 19. 33 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. p. 254.

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versa o litígio. Já que nem tudo que surge ou aparece no processo é

objeto da prova, como as questões de somenos, adiáforas ou evidentes.

Observa Manzini35 que:

só podem formar objeto de prova os fatos, que, por si

mesmos, já não estão provados, isto é, que dão acesso à

dúvida, que exigem uma apuração [...] Provar a evidência

é empresa de idiotas [...] quando seja evidente um fato,

não pode o juiz desconhecê-lo, porque o seu poder

discricionário na avaliação da prova se exerce no campo

do duvidoso, e não pode admitir-se no da certeza.

Objeto da prova, logo, são os fatos. Nem todos, porém,

apenas os fatos convenientes ao processo é que suscitam o interesse da

parte em demonstrá-los.

Além de pertinentes, só devem ser objeto de prova os

fatos relevantes, que entende-se como aqueles que podem influir, em

diferentes graus, na decisão da causa.

Como se viu, entende-se que, o objeto de prova tem

por objetivo formar a convicção do Juiz sobre os elementos necessários

para a decisão da lide estabelecida.

1.4 CLASSIFICAÇÃO DAS PROVAS

Há inúmeras classificações da prova apresentadas por

doutrinadores, segundo diversos critérios. Santos36, acolhendo o sistema

proposto por Malatesta, classifica as provas segundo três critérios: o do

objeto, o do sujeito e o da forma.

34 Apud FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 151. 35 Apud FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 153. 36 SANTOS, Moacyr Amaral dos. Prova Judiciária no Cível e Comercial. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 1983. p .331-333.

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a) Objeto da prova é o fato a provar-se e, quanto a ele, as

provas são diretas ou indiretas. Referem-se as primeiras,

direta e imediatamente ao fato a ser provado. As segundas

dizem respeito a outro(s) fato(s) que, por sua vez, se liga(m)

ao fato a ser provado. São provas indiretas as presunções e

indícios. A prova indireta é também chamadas de

circunstancial, assim definida por João Mendes Júnior:

“prova circunstancial é, pois, aquela que se deduz da

existência de um fato ou de um grupo de fatos, que,

aplicando-se imediatamente ao fato principal, levam a

concluir que este fato existiu”.37 A essa classificação

corresponde a proposta Por Carnelutti, que denominou de

históricas as provas diretas, e de críticas as indiretas.

b) Sujeito da prova é a pessoa ou coisa de quem ou de

onde dimana a prova; a pessoa ou coisa que afirma ou

atesta a existência do fato probando.Prova pessoal é toda

afirmação pessoal consciente, destinada a fazer fé dos

fatos afirmados, como a testemunha que narra o fato que

presenciou. Prova real de um fato consiste na atestação

inconsciente, feita por uma coisa, das modalidades que o

fato probando lhe imprimiu. Reais, por exemplo, são o lugar,

a arma, o cadáver, a ferida etc. Vicente de Azevedo

prefere falar em “meios de prova objetivos e meios de

prova subjetivos”. 38

c) Forma da prova é a modalidade ou maneira pela qual se

apresenta em juízo. Em relação à forma a prova é

testemunhal, documental ou material. Prova testemunhal,

em sentido amplo, é a afirmação pessoal oral,

compreendendo as produzidas por testemunhas,

declarações da vítima e do réu. Documental é a afirmação

escrita ou gravada. Diz-se material a prova consistente em

qualquer materialidade que sirva de prova ao fato

probando; é a atestação emanada da coisa: o corpo de

delito, os exames periciais, os instrumentos do crime etc.

37 MARQUES, José Frederico. Instituições de direito processual Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1960. p. 338. 38 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. p. 256

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21

Nestes critérios adotados soma-se a preparação da

prova, também citado por Santos e por Marques39, onde dividi-se em

causais e preconstituídas. Por causais, também chamadas de simples se

consideram as provas preparadas no curso da demanda. Exemplo de

causais: as provas testemunhais, os exames periciais etc. Preconstituídas,

em sentido amplo, são as provas preparadas preventivamente, em vista

de possível utilização em futura demanda. Em sentido estrito dizem-se

preconstituídas as provas consistentes em instrumentos públicos ou

particulares, representativos de atos jurídicos que pelos mesmos se

constituem.

Já Marques40 classifica, utilizando outros critérios:

a) quanto à sua relevância, podem ser principais e

acessórios, desde que sejam propriamente condicionantes

da decisão a ser proferida ou se refiram simplesmente à

eficácia probatória dos meios de prova (por exemplo, a

idoneidade dos peritos, a falta de impedimento de uma

testemunha);

b) quanto ao âmbito de sua verificação, podem se produzir

interiormente e exteriormente, conforme digam respeito à

vida psíquica do agente (pensamentos, motivos, intenção,

erro) ou se verifiquem no mundo exterior;

c)quanto ao efeito jurídico que condicionam, podem ser

constitutivos, impeditivos, modificativos ou extintivos do

direito alegado (ou da responsabilidade penal do agente),

que acarretam diferentes soluções na questão relacionada

ao ônus da prova, mesmo no sentido mais restrito que tal

questão assume no âmbito do processo penal.

Aquino41 constitui ainda mais uma classificação, a de

prova pessoal, representada por uma pessoa (testemunha), e a de prova

real, representada por uma coisa (documento).

39 MARQUES, José Frederico. Instituições de Direito Processual Civil. p. 338. 40 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. p. 311.

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Como viu-se, os doutrinadores usam critérios diversos

para a classificação da prova, uns classificando a prova por objeto da

prova, sujeito da prova e forma da prova, outros, quanto a sua relevância,

quanto ao âmbito de sua verificação e quanto ao efeito jurídico que

condicionam.

1.5 MEIOS DE PROVA

Definem-se meios de prova como os meios materiais

de que se lança mão para a demonstração da veracidade de

determinado fato.

Conceituam Demercian e Maluly42 como meios de

prova sendo “tudo que possa ser utilizado para demonstração da

ocorrência dos fatos alegados e perseguidos no processo. São os

instrumentos necessários para comprovar a existência ou não da verdade

de um fato”.

Para Marques43 meios de prova são “as fontes

probantes, os meios pelos quais o juiz recebe os elementos ou motivos de

prova. Através deles é que o magistrado forma a sua convicção e as

partes procuram demonstrar os fatos que alegaram”.

Percebe-se que a especificação dos meios de prova

não se colide com a livre investigação pelo juiz, que avançará na

pesquisa da verdade com total iniciativa, baseando-se pelo princípio do

41 AQUINO, José Carlos G. Xavier de. A Prova Testemunhal no Processo Penal Brasileiro. p. 11. 42 DEMERCIAN, Pedro Henrique e MALULY, Jorge Assaf. Curso de processo penal. São Paulo: Atlas S.A., 1999. p. 251. 43 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. P. 274

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impulso oficial, à vista do que dispõe a lei processual penal em inúmeros

dispositivos, tais como44:

art. 156 - (...)mas o juiz poderá, no curso da instrução ou

antes de proferir sentença, determinar, de oficio, diligências

para dirimir dúvida sobre ponto relevante; art. 182 o juiz não

ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no

todo ou em parte; art. 196 - (...) o juiz poderá proceder a

novo interrogatório; art. 205 - se ocorrer dúvida sobre a

identidade da testemunha, o juiz procederá à verificação

pelos meios ao seu alcance, podendo, entretanto, tomar-

lhe o depoimento desde logo; art. 209 - o juiz, quando

necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das

indicadas pelas partes; art. 242 - a busca poderá ser

determinada de oficio ou a requerimento de qualquer das

partes. 45

Destaca-se, que o juiz deve agir com imparcialidade

não adotando o lugar da parte, sendo a imparcialidade a posição

desinteressada do espírito entre duas soluções contrárias. 46

Leciona Hungria47 nesse sentido, senão veja-se:

desde que se atribua ao processo penal a descoberta da

verdade material e se admita liberdade de convicção do

juiz, seria um ilogismo que este ficasse adstrito a critérios

prefixos na admissibilidade de modos ou instrumentos de

prova. A enumeração legal é apenas exemplificativa. A

desconcertante versatilidade dos fatos humanos e o

constante progresso dos métodos técnicos aplicáveis à

investigação criminal podem exigir ou justificar a adoção de

meios probatórios estranhos a experiência do passado,

sobre a qual se baseia a exemplificação da lei.

44 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 157. 45 BRASIL. Decreto –Lei nº 3.689 de 3 de outubro de 1941. 46 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 158. 47 Apud FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 158.

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Esclarece ainda Hungria48, que certos meios

probatórios não podem ser admitidos, senão veja-se:

Não podem ser admitidos os meios ofensivos do pudor, os

subversivos da ordem pública, os violentos e os atentatórios

da personalidade humana. A própria reprodução simulada

dos fatos, ainda que indicada para esclarecimento do

modus faciendi do crime, não será permitida quando

‘contrária à moral ou à ordem pública’ (art. 7 do CPP). O

emprego de meios coativos (violência física ou moral), ou,

de qualquer modo, supressivos da vontade livre e

consciente, poderá constituir o crime de constrangimento

ilegal, previsto no art. 146 do Código Penal.

Os meios de obtenção e produção da prova devem

ser idôneos para que ela seja considerada idônea ao fim a que se destina,

é imprescindível que seja obtida ou produzida licitamente, pois como

enfatiza nossa constituição são inadmissíveis, no processo, as provas

obtidas por meios ilícitos. 49

Marques50 mostra que não se pode aceitar que na

busca da verdade real “lance-se mão de meios iníquos de investigação e

prova, além de outros fundados em superstições, crendices ou práticas

não mais consagradas pela ciência processual”.

E vai além o autor: “inadmissível é na justiça penal, a

adoção do princípio de que os fins justificam os meios, para assim tentar

legitimar-se a procura da verdade através de qualquer fonte probatória”.

51

Está especificado no Código de Processo Penal vários

meios de prova (arts.158 a 250), os chamados meios legais de prova. A

enumeração, entretanto, não é taxativa. Outros meios de prova se

48 Apud FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. 159. 49 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 159. 50 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. p. 274. 51 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. p. 293 e 294.

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admitem, mas desde que compatíveis com os princípios de respeito ao

direito de defesa e à dignidade da pessoa humana.

O julgador não pode condenar o réu baseado em

alguma prova obtida ilicitamente.

1.6 ÔNUS DA PROVA

O ônus da prova é a necessidade de as partes

provarem o que alegam dentro do processo. Assim, cabe a acusação

provar o que imputou no requisitório inicial, enquanto é ônus da defesa

provar um álibi por ela oferecido. Ao contrário do que se pode pensar, o

ônus da parte não se traduz em uma obrigação. Enquanto esta se

consubstancia em um ato positivo através do qual se impõe a alguém

certo dever, aquele, conquanto tenha conotação de gravame, faculta

ao sujeito a realização ou não de determinado ato. 52

O art. 156 do Código de Processo Penal dispõe

restritivamente que “a prova da alegação incumbirá a quem a fizer”. Essa

passagem demonstra que existe, em nosso processo penal, um onus

probandi. 53

Destacam Demercian e Maluly54:

O juiz por seu turno, não é mero expectador das provas

produzidas pelas partes, devendo, na busca da verdade

real, determinar diligências de ofício com o fito de dirimir

dúvidas sobre pontos que entenda relevantes. Não pode,

porém, obrigar qualquer das partes a demonstrar algo.

52 AQUINO, José C.G. Xavier. A Prova Testemunhal no Processo Penal Brasileiro. P. 10 53 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. p. 342 54 DEMERCIAN, Pedro Henrique e MALULY, Jorge Assaf. Curso de processo penal. p. 259.

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Tourinho Filho55, segundo a quem deve provar:

Cabe, pois, à parte acusadora provar a existência do fato e

demonstrar sua autoria. Também lhe cabe demonstrar o

elemento subjetivo que se traduz por dolo ou culpa. Se o réu

goza da presunção de inocência, é evidente que a prova

do crime, quer a parte objecti, quer a parte subjecti, deve

ficar a cargo da Acusação.

Como exposto, o ônus da prova cabe às partes, no

entanto, existe uma diferença, à acusação há de ser plena e

convincente, já ao acusado basta a dúvida.

1.7 SISTEMA DE APRECIAÇÃO DAS PROVAS

O direito à prova abrange o direito à sua apreciação

pelo julgador, no momento da sentença. Assim, todas as provas e

alegações das partes, garantidas pelo princípio do contraditório, devem

ser objeto de análise e avaliação pelo juiz.

A apreciação da prova é um ato distinto do juiz, por

meio do qual, analisa, pondera e respeita os elementos oferecidos pelas

partes, chegando a uma conclusão sobre o alegado.

O Juiz deve analisar cautelosamente as provas, para

formar seu convencimento, conferindo a cada prova o valor que merece.

Conforme Tornaghi56 como avaliar a prova:

Tem variado, amoldando-se às convicções, às

conveniências, aos costumes, aos regimes políticos de cada

povo e, especialmente, de cada época, à necessidade de

55 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. p. 237. 56 Apud FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 167.

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maior segurança ou de melhor justiça, às concepções da

vida e da Ordem Jurídica.

A apreciação das provas passou por diferentes fases

na história do processo penal. Destas fases, três merecem destaque: a)

sistema da livre apreciação ou íntima convicção; b) sistema das provas

legais; c) sistema da persuasão racional. A baixo relacionadas.

1.7.1 Sistema legal (formal, tarifado)

No sistema legal cada prova tem seu peso e valor,

ficando o juiz vinculado dosimetricamente às provas apresentadas.

Tem base este sistema no rigorismo e formalismo do

Direito germânico e sua origem nas ordálias, em razão da invasão dos

bárbaros passa a prevalecer em quase toda a Europa. Ao juiz cabia

apenas apreciar e declarar o resultado, pois acreditava-se na intervenção

da divindade em favor de quem estivesse com a razão.

Neste período, foi base do sistema probatório, a

tortura, na ânsia de obter a confissão do acusado.

Neste sistema a valoração da prova era fixada por lei,

não deixando ao julgador qualquer margem para valorar em liberdade.

As provas a que não fosse atribuído um valor qualquer pela lei não

poderiam ser consideradas. Não era permitido ao julgador levar em conta

provas que não estivessem nos autos (o que não está nos autos não está

no mundo).

Comenta Beccaria57 a respeito da credibilidade da

testemunha “é necessário mais de uma testemunha, porque enquanto

57 Apud FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 169.

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uma afirmar e outra negar, nada haverá de certo, e prevalecerá o direito

que cada um tem de ser considerado inocente”.

Para Demercian e Maluly58 “no processo penal legal,

ou verdade legal, o julgador decide, com base nas provas apresentadas,

que tem valores predeterminados. Em suma, a lei diz qual valor se deve

dar a esta ou àquela prova”.

Lembra Morais59 que no nosso Estatuto Processual

Penal em seu art. 158 encontramos um caso típico de prova legal ou

tarifada, pois o exame de corpo de delito direto ou indireto não poderá

ser substituído nem pela confissão do acusado, quando a infração deixar

vestígios.

1.7.2 Sistema da íntima convicção (sentimental)

No sistema da íntima convicção tem o juiz ampla

liberdade de decidir, convencendo-se da verdade dos fatos conforme

critérios de valoração íntima, não dependendo do que conste dos autos,

e sem a obrigação de fundamentar seu convencimento. Podendo

aproveitar-se de conhecimento particular que tenha sobre o caso, mesmo

que não haja prova correspondente nos autos. “a verdade jurídica reside

por inteiro na consciência do juiz, que julga os fatos segundo sua

impressão pessoal, sem necessidade de motivar sua convicção”. 60

Vislumbrasse que ainda hoje é adotado este sistema

nos julgamentos do Júri Popular, onde os jurados decidem, sigilosamente,

através de um sim ou não, não precisando fundamentar sua decisão.

58 DEMERCIAN, Pedro Henrique e MALULY, Jorge Assaf. Curso de processo penal. p. 259. 59 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 170. 60 MARQUES, J. F. (Op. cii., p. 298).

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Tornaghi61 chama este princípio de certeza moral do

juiz, pois, o legislador nada diz sobre o valor das provas. A admissibilidade

delas, sua avaliação, seu carreamento para os autos, tudo isso é

inteiramente deixado à discrição do juiz. E ele quem vai julgar; para ele só

para ele é que se faz a prova; ele decide ex informata conscientia e, por

isso mesmo, não precisa fundamentar a sentença. Pode valer-se de seu

conhecimento privado, das provas que tem e que não estão nos autos.

Assim, o julgamento fica a critério do julgador, que não

precisa dar as razões do seu convencimento. Esse sistema segundo Maria

da Colucci e Silva62, “atribui à subjetividade do juiz validade suficiente

para examinar as provas e decidir com soberania e liberdades tais, que

não precisa motivar ou mesmo expor os elementos de sua íntima

convicção (julgamento secundum conscientiam)”.

1.7.3 Sistema da livre convicção motivada ou sistema real ou ainda da

persuasão racional

No sistema da persuasão racional mantém-se ao juiz a

liberdade de apreciação e valoração das provas (não tem estas um valor

predeterminado nem peso legal), mas vincula o seu convencimento ao

material probatório constante dos autos, e o obriga a fundamentar sua

decisão.

Já neste sistema, o juiz não fica preso a critérios

valorativos, sendo que nenhum padrão lhe é imposto, não é dito

antecipadamente qual o valor de cada prova, ficando vasto o seu

campo de investigação. Mas é exigido que fundamente sua decisão nos

61 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p.170. 62 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 171.

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elementos contidos nos autos. Esse sistema é adotado pelo nosso processo

para o juiz togado, que precisa dar as razões da sua convicção. 63

Com competência esclarecem Demercian e Maluly64

que este sistema é a união do sistema de intima convicção e do sistema

de prova legal, senão veja-se:

Trata-se, na verdade, de uma conjunção dos dois sistemas

anteriores. Devolve-se ao juiz o livre arbítrio, a ampla

liberdade para a apreciação de provas, valorando-as

conforme sua consciência. Contudo, ele fica com o

encargo de motivar sua decisão, que há de estar pautada

nos elementos de convencimento coligidos aos autos, não

podendo ignorar o conteúdo dessas provas e tampouco as

razões aduzidas pelas partes nos debates ou alegações

finais, sob pena de proferir decisão absolutamente nula.

Para garantir o direito das partes e do interesse social,

o juiz terá que fundamentar sua sentença no que foi alegado e provado,

conforme discorre Camelutti, que mesmo que tenha um conhecimento

pessoal diverso do narrado pelas partes, não poderá fazer uso de tal

ciência para julgar, porque “o que não está nos autos não está no

mundo”. 65

Código de Processo Penal na exposição de Motivos,

item VII, ensina:

Nunca é demais, porém, advertir que livre convencimento

não quer dizer puro capricho de opinião ou mero arbítrio na

apreciação das provas, O juiz está livre de preconceitos

legais na aferição das provas, mas não pode abstrair—se ou

alhear-se ao seu conteúdo. Não estará ele dispensado de

motivar a sua sentença. E precisamente nisto reside a

63 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. p. 217 e 218) 64 DEMERCIAN, Pedro Henrique e MALULY, Jorge Assaf. Curso de processo penal. p. 260. 65 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 173.

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suficiente garantia do direito das partes e do interesse

social. 66

Ao sentenciar o juiz deve designar os motivos de fato e

de direito em que fundamentou a decisão (CPP, art. 381). Ou como diz,

com mais precisão, o art. 118. parágrafo único, do CPC: “O juiz indicará

na sentença ou despacho os fatos e circunstâncias que motivarem o seu

convencimento”.

Salienta Luciana Fregadolli que não se pode ser feita

de qualquer maneira a colheita de provas, senão vejamos:

No processo penal, a colheita de provas não pode ser feita

de qualquer maneira, limitando-se a aplicação da verdade

real, pois não são admitidas as provas que possam atingir a

pessoa humana na sua integridade física ou moral: vedado

o emprego da hipnose para obter-se confissão; não se

permite o uso de narcoanálise, nem mesmo quando

pedida pelo acusado, pois é meio que atenta contra a

liberdade; não se admite o detector de mentiras, aparelho

destinado a medir as reações do acusado. 67

Destaca Antônio Magalhães Gomes Filho,

“que afetam a liberdade declaração, a intimidade e a

dignidade pessoal do interrogado, caracterizando violação

até mais séria do que a própria tortura, pois nesta, como

lembrou José Frederico Marques, ainda existe uma

possibilidade de resistência, ao passo que tais métodos

levam a uma subjugação total da vontade, com uma

despersonalização da criatura humana”. 68

É importante mencionar três princípios tradicionais da

processualística: “o réu é coisa sagrada”, “ninguém é obrigado a depor

66 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 173. 67 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 174. 68 Apud FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 175.

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contra si mesmo” e “é preferivel deixar impune um culpado a condenar

um inocente”. 69

Segue o sistema de persuasão racional a apreciação

da prova, no nosso sistema em vigor. Onde, exige a fundamentação da

sentença, garantindo às partes e aos tribunais conferir o raciocínio

desenvolvido pelo julgador, o qual deve apontar a prova, passada pelo

contraditório e pela ampla defesa, em que se baseou para chegar à

conclusão satisfatória que ancorou.

As várias formas de sistemas para apreciação da

prova, entendem que deve prevalecer a livre apreciação pelo juiz, de

todas as provas, em decorrência do crescimento do fator confiança em

relação à pessoa do juiz, no entanto, deve-se considerar que o direito a

prova restringe-se aos limites inseridos na lei processual penal.

69 Apud. FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p.175.

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CAPÍTULO 2

O DIREITO À PROVA E SEUS LIMITES

2.1 O DIREITO À PROVA

O direito à prova é garantido no processo onde quer

que as provas se representem admissíveis, seja na fase dos debates, seja,

excepcionalmente, no incidente probatório, seja na audiência preliminar.

E, por princípio basta, para a produção da prova, que as partes a

requeiram. Exceto as provas vedadas e as manifestamente protelatórias, o

juiz deve ordenar, sem delongas, à sua produção. 70

Percebe-se que a instrução probatória é o momento

de importância fundamental no processo, pois é o momento integrador

do convencimento do juiz com os fatos, de forma que, nesta fase é

indispensável garantir às partes o direito de produzir provas, com o

objetivo de demonstrar o fundamento da acusação ou da defesa.

Cabe também ao Juiz a iniciativa probatória, quando

entender necessária ao esclarecimento dos fatos, não se limitando o

direito a prova só às partes.

O direito à prova e o princípio da verdade real tornam

a atividade probatória, no processo penal, mais livre do que no processo

civil e também menos sujeita a limitações.

70 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas Ilícitas. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 37.

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Por outro lado, o direito a prova no processo penal,

não é ilimitado, apesar do vigor dos princípios da verdade real, do

contraditório e da ampla defesa. Assim, salienta Gomes Filho:

o direito das partes de introdução, no processo, das provas

que entendam úteis e necessárias à demonstração dos

fatos em que se assentam suas pretensões, embora de

índole constitucional, não é, entretanto, absoluto. Ao

contrario, como qualquer direito, também está sujeito a

limitações decorrentes da tutela que o ordenamento

confere a outros valores e interesse igualmente dignos de

proteção.

Ao abordar este tema, discorre Espínola Filho:

Como resultado da inadmissibilidade de limitações dos

meios de prova, utilizáveis nos processos criminais, é-se

levado à conclusão de que, para recorrer a qualquer

expediente, reputado capaz de dar conhecimento da

verdade, não é preciso seja um meio de prova previsto, ou

autorizado pela lei, basta não seja expressamente proibido,

se não mostrar incompatível com o sistema geral do direito

positivo, não repugne à moralidade pública e aos

sentimentos da humanidade, piedade e decoro, nem

acarrete a perspectiva de um dano, ou abalo sério, a

saúde física ou mental das pessoas, que sejam chamadas a

intervir na diligência.

Como se vê, percebe-se que mesmo com essa maior

liberdade não significa que, no processo penal, a prova é absolutamente

livre, insuscetível de limite. Por outras palavras, a verdade real não justifica

a produção de toda e qualquer prova.

Há uma tendência dos modernos ordenamentos

processuais em permitir que, além de documentos, depoimentos, perícias

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e outros meios legais habituais, regulados em textos legais específicos, se

recorra a recursos não previstos em termos expressos, mas casualmente

idôneos para fornecer ao juiz informações úteis à reconstituição dos fatos,

ex.: provas atípicas.

2.2 PRINCÍPIOS NORTEADORES DA PROVA

Nos tópicos abaixo trazemos os principais princípios

que regem as provas no processo penal.

2.2.1 Auto-responsabilidade das partes

O princípio da auto-responsabilidade das partes

segundo Mirabete71, é o princípio em que as partes assumem e suportam

as conseqüências de sua inatividade, negligência, erro ou atos

intencionais.

Este princípio origina-se do ônus das provas onde cabe

a cada parte apresentar provas que lhe pareçam necessárias, devendo

suportar ou assumir as conseqüências de sua inatividade, erros e

negligência, tendo as partes que apresentar em juízo os elementos

comprobatórios das alegações feitas.

2.2.2 Audiência contraditória, ou simplesmente princípio do contraditório.

Mirabete72 ensina que pelo princípio da audiência

contraditória, toda prova admite a contraprova, não sendo admissível a

produção delas sem o conhecimento da outra parte (princípio do

contraditório). Diante desse princípio, a prova emprestada não pode

71 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. P. 266. 72 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. P. 266.

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gerar efeito contra quem não tenha figurado como uma das partes do

processo originário.

O princípio do contraditório é a garantia constitucional

que assegura a ampla defesa do acusado, este princípio esta assegurado

na Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LV: “Aos litigantes, em

processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são

assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a

ela inerentes”.

Salienta Mirabete73:

Do principio do contraditório decorre a igualdade

processual, ou seja, a igualdade de direitos entre as partes

acusadora e acusada, que se encontram num mesmo

plano; e a liberdade processual, que consiste na faculdade

que tem o acusado de nomear o advogado que bem

entender, de apresentar as provas que lhe convenham etc.

Para Alvim74, o contraditório significa:

Que toda pessoa física ou jurídica que tiver de manifestar-se

no processo tem o direito de invocá-lo a seu favor. Deve ser

dado conhecimento da ação e de todos os atos do

processo às partes, bem como a possibilidade de

responderem, de produzirem provas próprias e adequadas

à demonstração do direito que alegam ter.

Discorrem sobre este princípio Silveira e Leal75, que:

As partes estão no mesmo pé de igualdade, estão

niveladas perante o Estado-Juiz, todas as provas que forem

produzidas contra o acusado deverão ser levadas ao

73 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. p. 43. 74 ALVIM, Angélica Arruda. Princípios Constitucionais do Processo. São Paulo: Revista de Processo nº 74. abril/junho/1994. p. 20-37. 75 SILVEIRA, Carlos Alberto de Arruda e LEAL, Adriano José. Manual doutrinário e prático de processo penal. De direito, 1999. p. 20.

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conhecimento dele, para poder refutá-la, caso contrário,

não lhe sendo permitido delas tomar conhecimento ou

contrária-las, haverá a quebra imediata do princípio do

contraditório.

Tourinho Filho discorre que em todo o processo de tipo

acusatório vigora o princípio do contraditório, segundo o qual o acusado,

desfruta do direito primário e absoluto da defesa. O acusado deve

conhecer a acusação para poder contrariá-la, evitando que possa ser

condenado sem ser ouvido. 76

Também salienta Tourinho Filho77:

Do princípio do contraditório decorrem duas regras

importantes: a da igualdade processual e a da

liberdade processual. Esta última consiste na

faculdade que tem o acusado de nomear o

advogado que bem quiser e entender; na faculdade

que possui de apresentar provas que entender

convinháveis, desde que permitidas em Direito, de

formular ou não reperguntas às testemunhas etc.

Porém, como alerta Petry78, no processo penal “é

imperativa a ocorrência do contraditório efetivo, tanto que a confissão do

acusado, isoladamente, não pode servir de base para a sua

condenação”, já o no processo civil “é aceito o denominado

contraditório virtual, no sentido de que é admitido que o juiz profira

sentença condenatória baseada na revelia do réu”.

76 TOURINHO Filho, Fernando da Costa. Processo penal. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p.46. vol1. 77 TOURINHO Filho, Fernando da Costa. Processo penal. p. 48. 78 PETRY, Vinícius Daniel. A prova ilícita. Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n. 146, 29 nov. 2003. Disponível em: http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=4534. Acesso em: 10 de maio de 2006.

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Este princípio se manifesta na oportunidade que as

partes têm de requerer a produção de provas e de participarem de sua

realização, assim como também de se pronunciarem a respeito de seu

resultado.

2.2.3 Comunhão ou aquisição da prova

Quando uma prova é apresentada e admitida no

processo, é necessária sua aquisição, isto é, corresponde a assumi-la e

faze-la constar do processo, seja através da apreciação de uma coisa

(perícia, documento e etc.) seja através da oitiva de testemunhas, do

interrogatório do acusado ou de declaração da vítima. 79

No princípio da comunhão ou aquisição da prova, a

prova trazida ao processo não pertencerá à parte q a produziu, e sim,

servirá a ambos litigantes e ao interesse da justiça na investigação da

verdade. 80

No Processo Penal, pertence a cada parte o ônus da

produção da sua respectiva prova, mas uma vez produzida, existirá a sua

comunhão. 81

2.2.4 Publicidade

Os autos do processo, salvo as exceções legais,

devem-se realizar em público (art. 792 do CPP).

Salientam sobre o princípio da publicidade Carlos

Alberto de Arruda Silveira e Adriano José Leal, que “todos os atos

79 LIMA, Marcellus Polastri. A prova penal. p. 35. 80 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. P. 266. 81 LIMA, Marcellus Polastri. A prova penal.p. 31.

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processuais são públicos, salvo exceções feitas pela própria norma ou a

critério da autoridade judiciária”. 82

Sobre este principio entendem Demercian e Maluly83

que:

A publicidade dos atos, contudo, não atinge o inquérito

policial, não só por sua natureza inquisitiva (peça

informativa onde não se estabelece o contraditório), como

por sua própria finalidade investigatória, que pode resultar

frustrada ou sofrer sérios gravames com a divulgação dos

atos. Tal entendimento, aliás, está expresso no art. 20 do

CPP, que dispõe sobre a necessidade de sigilo no inquérito

policial, não afronta a ordem Constitucional, que só trata do

sigilo dos “atos processuais” (art.5º, LX, CF), e inquérito não é

processo.

Cintra, Grinover e Dibnamarco84 lecionam que,

o princípio da publicidade do processo constitui uma

preciosa garantia do individuo no tocante ao exercício da

jurisdição. A presença do público nas audiências e a

possibilidade do exame dos autos por qualquer pessoa

representam o mais seguro instrumento de fiscalização

popular sobre a obra dos magistrados e dos defensores.

Discorre Tourinho Filho85, que:

Tal princípio é próprio do processo de tipo acusatório.

Explica Eberhard Schmidt que a significação da Justiça

Penal é tão grande, o interesse da comunidade no seu

manejo e em seu espírito é tão importante, a situação da

Justiça na totalidade da vida pública, é tão problemática,

82 SILVEIRA, Carlos Alberto de Arruda e LEAL, Adriano José. Manual doutrinário e prático de processo penal. p. 20. 83 DEMERCIAN, Pedro Henrique e MALULY, Jorge Assaf. Curso de Processo Penal. P. 30. 84 Apud. FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 164. 85 TOURINHO Filho, Fernando da Costa. Processo penal. p. 48.

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que seria simplesmente impossível eliminar a publicidade

dos debates judiciais. E arremata: se isso ocorresse, só

poderia significar o temor à crítica do povo, e a chamada

“crise de confiança” na Justiça seria algo permanente.

Vislumbra-se, que, este princípio constitui uma garantia

da legalidade e de justiça da sentença, permite o acesso do cidadão

comum ao sistema de administração da justiça e fortalece sua confiança

nela. Assim, ao proteger as partes de uma justiça removida do controle

público, se garante um dos aspectos do devido processo.

No entanto, este princípio não é absoluto, pois é

possível restringir a publicidade do processo em casos especiais

específicos em lei.

2.2.5 Oralidade

Através do princípio da oralidade, predomina a

palavra falada. Assim destaca Adalberto de Camargo Aranha, “os

depoimentos serão sempre orais, não sendo possível substituí-los por outros

meios, como declarações particulares. No júri e no processo sumário os

debates são orais”. 86

O princípio da oralidade supõe que a decisão judicial

baseia-se nas evidências apresentadas em forma oral. A oralidade, mais

do que um princípio, é uma forma de conduzir o processo, como

conseqüência, temos os subprincípios: da imediação (do juiz com as

partes e as provas), da concentração e da vinculação do juiz. Implicando

a oralidade na realização dês todas as provas numa só audiência de

instrução e julgamento, exceto as perícias.

86 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 164.

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2.2.6 Livre convencimento motivado

O Princípio do Livre Convencimento Motivado é

segundo o qual o juiz tem liberdade para dar a determinado litígio a

resolução que lhe pareça mais adequada, conforme seu convencimento,

dentro dos limites impostos pela lei e pela Constituição, fundamentando

sua decisão. Cabe-lhe, decidir a lide com base nas provas e argumentos

reunidos pelas partes.

Salienta Silva87 que,

Este princípio se encontra presente quando da colheita da

prova e sua avaliação, e consiste na liberdade concedida

ao juiz na apreciação da prova, mas atendendo aos fatos

e circunstancias dos autos, ainda que não alegados pelas

partes, cabendo-lhe indicar na sentença os motivos de seu

convencimento.

O magistrado não fica limitado a critérios valorativos e

apriorísticos da prova, devendo os litígios, caso a caso, serem, conforme

seu convencimento, sem limitações ou rígidos princípios legais.

O princípio do Livre convencimento motivado vem

expressamente consagrado no art. 157 do CPP: “o juiz formará sua

convicção pela livre apreciação da prova”.

Neste sentido Cintra, Grinover e Dinamarco88:

O Brasil também adota o princípio da persuasão racional: o

juiz não é desvinculado da prova e dos elementos

existentes nos autos (quod non est in actis non est in

mundo), mas a sua apreciação não depende de critérios

87 Apud. FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 165. 88 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 68.

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legais determinados a priori. O juiz só decide com base nos

elementos existentes no processo, mas os avalia segundo

critérios críticos e racionais (CPC, art. 131 e 436).

Por fim, entende-se que as provas são os elementos

responsáveis pela formação do conhecimento do magistrado sobre os

fatos expostos durante o processo. Contudo, no exercício do seu mister

jurisprudencial o juiz não se encontra preso às provas trazidas ao processo

através das partes, mas poderá formar seu convencimento designando

provas de oficio.

É certo que, as provas firmadas em determinado

processo devem atender aos limites e princípios encarnados na própria

Constituição Federal de 1988, para deste modo, serem admitidas de forma

legítima.

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CAPÍTULO 3

PROVAS ILÍCITAS

3.1 PROVA ILÍCITA E PROVA ILEGÍTIMA

Como prescreve o art. 5º, LVI, da CF, são inadmissíveis

no processo todas as provas obtidas por meios ilícitos. Enquadrando-se na

categoria das provas vedadas.

Por provas vedadas entendem Grinover, Scarance e

Gomes Filho, por aquela “que for contrária a uma específica norma legal,

ou a um princípio do direito positivo”. 89

Conforme Avolio90, pode-se apreciar:

As provas ilícitas são colocadas como espécie das ‘provas

vedadas’, que compreendem: as provas ilícitas,

propriamente ditas, e as provas ilegítimas. A importância

dessa corrente doutrinária se verifica, outrossim, pelo fato

de que a utilização da expressão “vedadas” já indica a sua

opção pela inadmissibilidade, no processo, das provas

obtidas por meios ilícitos. Coincide, assim, perfeitamente,

com o enunciado da garantia inserida pelo constituinte

brasileiro, no art. 5º, inc. LVI: ‘São inadmissíveis, no processo,

as provasobtidas por meios ilícitos’.

A vedação pode ser estabelecida por uma norma de

direito material ou processual, tendo como objetivo a proteção de

89 Grinover, Ada P., Fernandes, Antônio Scarance, Gomes Filho, Antônio Magalhães. As Nulidades no Processo Penal. 6. ed. São Paulo: RT, 1998. p. 131. 90 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas. P. 43

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interesses relativos à lógica e à finalidade do processo. Todas as provas

produzidas que afrontarem esta serão denominadas provas ilícitas ou

Ilegítimas.

Grinover91, adverte:

A doutrina usa de nomenclatura heterogênea, que pode

dar margem a confusão: às vezes essas provas são

qualificadas como ilícitas, outras vezes são chamadas

ilegítimas, outras, ainda proibidas; alguns falam em provas

ilegalmente admitidas, outros em provas ilicitamente

produzidas, estabelecendo assim as distinções mais

diversas, a complicar o entendimento da matéria.

Discorre ainda a autora sobre prova ilícita e ilegítima:

A prova pode ser ilegal, por infringir a norma, quer de

caráter material, quer de caráter processual. Assim,

quando a prova é feita em violação a uma norma de

caráter material, essa prova é denominada por prova

ilícita. Quando a prova, ao contrário, é produzida com

infringência a uma norma de caráter processual, usa-se o

termo prova ilegítima. 92

Como se vê às provas ilícitas são aquelas produzidas

com violação a regras de direito material sobre tudo de direito

constitucional, ou seja, mediante a prática de algum ilícito penal, civil ou

administrativo. Pode-se citar como exemplo o art. 233 do CPP.

Já as provas ilegítimas são as produzidas com violação

a regra de natureza meramente processual, tais como: o documento

exibido em plenário de júri, com obediência ao art. 475 do CPP; os

documentos juntados na fase do art. 406 do CPP; a proibição de depor

91 Apud. FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita 92 Apud. FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 180.

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em relação a fatos que envolvam o sigilo profissional do art. 207 do CPP; a

recusa de depor por parte de parentes e afins do art. 206 do CPP.

Na conceituação de provas ilícitas discorre Avolio93:

Diversamente, por prova ilícita, ou ilicitamente obtida, é de

se manter a prova colhida com infração a normas ou

princípios de direito material – sobretudo de direito

constitucional, porque, como vimos, a problemática da

prova ilícita se prende sempre à questão das liberdades

públicas, onde estão assegurados os direitos e garantias

atinentes à intimidade, à liberdade, à dignidade humana;

mas, também, de direito penal, civil, administrativo, onde já

se encontram definidos na ordem infraconstitucional outros

direitos ou cominações legais que podem se contrapor às

exigências de segurança social, investigação criminal e

acertamento da verdade, tais os de propriedade,

inviolabilidade do domicilio, sigilo da correspondência, e

outros. Para a violação dessas normas, é o direito material

que estabelece sanções próprias. Assim, em se tratando da

violação do sigilo da correspondência ou de infração à

inviolabilidade do domicilio, ou ainda de uma prova obtida

sob tortura, haverá sanções penais para o infrator. O direito

processual mantinha-se, até pouco tempo atrás, alheio a

essa realidade.

Avolio faz a distinção entre provas ilícitas e provas

ilegítimas expondo que enquanto na prova ilegítima a norma é violada no

momento que ocorre sua produção no processo, na prova ilícita presumi-

se a violação da norma no momento em que é colhida a prova,

93 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas. P. 43

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anteriormente ao processo ou simultaneamente ao processo, mas em

todo o tempo externamente a este. 94

É importante destacar que atualmente há a chamada

prova ilícita por derivação, sendo o caso em que a prova deriva de outra

obtida ilicitamente, mas a prova em si é lícita, entretanto se origina de

alguma informação obtida de outra ilicitamente colhida. 95

Por exemplo, a confissão colhida por meio de tortura,

em que o réu afirma o local onde se encontra o produto do crime, que

vem a ser posteriormente apreendido, e a interceptação telefônica

clandestina, na qual o órgão policial descobre uma testemunha do

ocorrido, que, após seu depoimento, incrimina o acusado. 96

A prova ilícita por derivação é conhecida como a

"teoria dos frutos da árvore envenenada" (the fruit of poisonous tree),

criada pela Suprema Corte norte-americana, onde o vício da planta se

transmite a todos os seus frutos. 97

Originou-se a teoria dos frutos da árvore envenenada

na Suprema Corte norte-americana a partir da decisão proferida no caso

“Silverthorne Lumber Co. v. United States” (251 US 385; 40 S.Ct. 182; 64 L. Ed.

319), de 1920, assim, as Cortes passaram a excluir a prova derivadamente

obtida a partir de práticas ilegais. 98

Esta teoria prega que se a árvore esta envenenada ela

transmitirá a seus frutos, ou seja, se a prova for colhida ilicitamente, logo, a

prova derivada a ela será ilícita, embora pareça lícita.

94 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas. p. 43. 95 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas. p. 68. 96 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas. p. 68. 97 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas. p. 68. 98 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas. p. 68.

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Não há qualquer disposição legal acerca da prova

ilícita por derivação, no Brasil, sendo assim, buscada a solução dos casos

na doutrina e na jurisprudência.

No tocante à admissibilidade da prova ilícita por

derivação, esta é a posição de Mirabete 99:

Como a lei ordinária não prevê expressamente a

cominação de admissibilidade ou nulidade das provas por

derivação, prevalece a eficácia do dispositivo

constitucional que veda apenas a admissibilidade da

prova colhida ilicitamente, e não a da que dela deriva.

Pedroso100 diverge de Mirabete, posicionando assim:

A se preconizar pela inadmissibilidade processual da prova

ilícita, igualmente se terá, como consectário lógico, que

repudiar e rejeitar a admissibilidade das provas ilícitas por

derivação, pois a elas se transfere a mácula da obtenção.

É – realçam Grionover, Scarance Fernandes e Gomes Filho –

a conhecida teoria dos ‘frutos da árvore envenenada’,

cunhada pela Suprema Corte Americana, segundo a qual

o vício da planta se transmite a todos os seus frutos.

Neste sentido, salienta Grinover:

Que a posição mais sensível às garantias da pessoa

humana, e consequentemente mais intransigente com os

princípios e normas constitucionais, é a que professa a

transmissão da ilicitude da obtenção da prova às provas

derivadas, que são, assim, igualmente banidas do

processo. Afirma, ainda, que a Constituição brasileira não

toma partido na discussão sobre a admissibilidade das

99 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas. p. 71 e 72. 100 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo penal. p. 384.

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provas derivadas, deixando espaço para construção da

doutrina e da jurisprudência.

Ainda neste sentido é a jurisprudência101:

Prova ilícita: escuta telefônica mediante autorização

judicial: afirmação pela maioria da exigência de lei, até

agora não editada, para que, ‘nas hipóteses e na forma’

por ela estabelecida, possa o juiz, nos termos do artigo 5º,

XII, da Constituição, autorizar a interceptação de

comunicação telefônica para fins de investigação criminal;

não obstante, indeferimento inicial do habeas corpus pela

soma dos votos, no total de seis, que, ou recusaram a tese

da contaminação das provas decorrentes da escuta

telefônica, indevidamente autorizada, ou entenderam ser

impossível, na via processual do habeas corpus, verificar a

existência de provas livres da contaminação e suficientes a

sustentar a condenação questionada; nulidade da primeira

decisão, dada a participação decisiva, no julgamento, de

Ministro impedido (MS 21.750, 24.11.93, Velloso);

conseqüente renovação do julgamento, no qual se deferiu

a ordem pela prevalência dos cinco votos vencidos no

anterior, no sentido de que a ilicitude da interceptação

telefônica - à falta de lei que, nos termos constitucionais,

venha a discipliná-la e viabilizá-la - contaminou, no caso, as

demais provas, todas oriundas, direta ou indiretamente, das

informações obtidas na escuta (fruits of the poisonous tree),

nas quais se fundou a condenação do paciente.

No caso em tela, as provas ilícitas não foram admitidas por

ferir a constituição e ainda pela contaminação de todas as demais provas

oriundas desta. Entendendo o Tribunal que a prova ilícita “contaminou” o

restante das provas.

101BRASIL. HC nº 69912-0/RS, STF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, D. J. 25.03.94, deferido, por maioria.

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Ementa: CRIME CONTRA A ORDEM ECONÔMICA (Lei

8.176/91). INQUÉRITO POLICIAL INSTAURADO COM BASE EM

APREENSÃO ILÍCITA DE DOCUMENTOS. TRANCAMENTO

PRETENDIDO. 1. Eventual vício na primeira apreensão, que

foi desconstituída judicialmente, não contamina a segunda

apreensão, que foi precedida de prévia autorização

judicial. Discutível, ademais, cogitar-se de apreensão ilícita,

uma vez que a comunicação de possível crime ao

Ministério Público não configura afronta ao sigilo fiscal (CTN,

art. 198, § 3º, I ). 2. Habeas corpus indeferido. 102

Já o julgado acima a segunda apreensão foi aceita,

diferente da primeira, pois precedia de ordem judicial, portanto no entendimento

dos magistrados não restou “contaminada”.

Diante ao exposto, podemos observar que a doutrina e

a Jurisprudência não são unânimes ao que se refere à admissibilidade da

prova ilícita por derivação.

3.2 CORRENTES DOUTRINÁRIAS

Há correntes doutrinárias favoráveis e contrárias à

admissibilidade da prova ilícita e estas correntes estarão relacionadas

abaixo.

3.2.1 Corrente favorável

Na corrente favorável onde são admissíveis as provas

ilícitas no processo, os doutrinadores pregam que na prova ilícita deve ser

reconhecida a ofensa ao Direito Material, aplicando-se ao ofensor a

102 BRASIL. HC 87654 / PR – PARANÁ, HABEAS CORPUS Relator(a): Min. ELLEN GRACIE; Julgamento: 07/03/2006; Órgão Julgador: Segunda Turma; Publicação: DJ 20-04-2006 PP-00037 EMENT VOL-02229-02 PP-00267.

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sanção correspondente, a penalidade adequada; contudo, não pode ser

afastadas as ofensas com sanção especificamente processual. 103

Nesta corrente prevalece o interesse no descobrimento

da verdade, sendo que a ilicitude na obtenção da prova não tem a

capacidade de retirar o valor que possui como informação útil para a

formação do convencimento do Julgador. Porém, o infrator ficará sujeito

às sanções previstas pelo ilícito cometido.

Assim justifica o autor italiano Franco Cordero citado

por Fegadolli: “captum, bene retentum, ou seja, mal colhida, mas bem

produzida”. 104

Segundo entendimento de Pedroso105, vejamos:

Ora, se o fim precípuo do processo penal é a descoberta

da verdade real (na qual há que se fulcrar a própria

realização do direito penal substantivo, pela aplicação ou

não da pena), crível é que, se a prova ilegalmente obtida

ostentar essa verdade, há de ser aceita.

Avolio106 discorre sobre a admissibilidade das provas

ilícitas:

Numa fase preambular, onde o tema das provas ilícitas

mereceu, pela primeira vez, atenção dos juristas, o

condicionamento aos dogmas do ‘do livre convencimento’

e da ‘verdade real’ fazia com que um eventual

balanceamento dos interesses em jogo pendesse,

inequivocamente, em favor do princípio da investigação

da verdade, ainda que baseada em meios ilícitos.

103 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 187 104 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p 187 105 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo Penal. p.384. 106 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas. P. 44.

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Ainda sobre admissibilidade da prova ilícita salienta

Avolio107:

Neste sentido, entre juristas alemães, Schonke sustentava

que o interesse da coletividade deveria prevalecer sobre

uma formalidade antijurídica no procedimento, como, por

exemplo, a busca ilegal; Guasp reputava eficaz a prova

ilicitamente obtida, sem prejuízo da aplicação das sanções

civis, penais ou disciplinares aos responsáveis. Na doutrina

norte-americana, Flemeng condenava a supressão da

prova ilicitamente obtida, que não poderia ser afastada a

custa de castigo à policia pelo mau comportamento; e

Wigmore entendia que a regra de exclusão levava a

considerar o oficial da lei demasiado zeloso um perigo

maior para a comunidade do que o próprio assassino sem

castigo; e para o juiz Cardozo, a prova obtida ilicitamente

deveria ser válida e eficaz, sem prejuízo das sanções

cabíveis aos responsáveis – policiais ou particulares – por

sua obtenção. Esses autores, extremamente devotados à

concepção da busca da verdade real, colocavam a

reconstrução da realidade como o princípio inspirador do

processo, argumentando que prescindir de provas

formalmente corretas pela tão-só existência de fraude em

sua obtenção seria prescindir voluntariamente de

elementos de convicção relevante para o justo resultado

do processo.

Professou assim, o Ministro Cordeiro Guerra108, no STF:

Não creio que entre os direitos humanos se encontre o

direito de assegurar a impunidade dos próprios crimes,

ainda que provados por outro modo nos autos, só porque o

agente da autoridade se excedeu no cumprimento do

107 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas. P. 44. 108 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo penal. p. 387.

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dever e deva ser responsabilizado. Nesse caso, creio que a

razão assiste à nossa jurisprudência: pune-se o responsável

pelos excessos cometidos, mas não se absolve o culpado

pelo crime efetivamente comprovado.

Como se vê ao seguir esta corrente de admissibilidade

da prova ilicitamente obtida, deve-se sempre ser válida e eficaz a prova

ilícita no processo, por entender-se que o ilícito se refere ao meio de

obtenção e não ao seu conteúdo, porém, deverá ser punido o autor do

ilícito pela violação praticada.

Observa-se que o princípio da verdade real é

primordial nesta corrente.

3.2.2 Correntes contrárias

Nas correntes contrárias onde são inadmissíveis as

provas ilícitas no processo, os doutrinadores pregam que a busca da

verdade real não pode sobrepor aos direitos e garantias do imputado

afrontando a Constituição; que não se pode ferir o princípio da

moralidade dos atos praticados pelo Estado.

Pedroso109 descreve sobre o conceito do ilícito,

tomando base para fundamentação da inadmissibilidade:

O ilícito é um só, atingindo e alcançando, portanto,

qualquer rama ou seara do Direito. Desta sorte, existente

um ilícito material, não pode o mesmo, sob o prisma

processual, ser havido como indiferente ou como válida a

prova dele derivada.

Grinover110 a este respeito afirma que:

109 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo Penal. p. 380.

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Não se constituindo o ordenamento jurídico de

departamentos estanques, não se poderia admitir no

processo ato ilícito, ainda que a norma violada não fosse

de natureza processual.

Sustenta Lima Filho111, que “a prova obtida por meios

ilícitos deve ser banida do processo, por mais altos e relevantes que

possam se apresentar os fatos apurados”.

Já com base no princípio da moralidade dos atos

praticados pelo Estado Aranha112 ensina:

Como o mundo jurídico reconhece em favor do Estado

uma presunção de legalidade e moralidade de todos os

atos praticados, não se pode admitir por parte de seus

agentes o uso de meios condenáveis, ombreando-se aos

marginais combatidos.

Alguns doutrinadores partem do principio de que toda

prova ilícita ofende a Constituição, por atingir valores fundamentais do

indivíduo. Deste modo, toda prova colhida ilicitamente fica fulminada

pela inconstitucionalidade113. Senão veja-se:

Sobre este princípio Pedroso114 cita a seguinte decisão:

A ilegalidade da busca e apreensão domiciliar, por si só,

prejudica, irregularmente, a ação penal,

independentemente da própria veracidade da acusação.

Ao Estado se não pode permitir a violação da lei, a

pretexto de colheita de elementos probatórios. Os fins não

110 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 189 111 LIMA FILHO, Francisco das Chagas. Provas Ilícitas. Repertório IOB de Jurisprudência: Civil, Processual, Penal e Comercial, São Paulo, nº 14/98, p. 288/296, 2ª quinzena de julho de 1998. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4534&p=2. Acesso: 10 de maio de 2006. 112 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 190. 113 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p. 190. 114 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo Penal. p.380

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justificam os meios. O direito a prova, meramente adjetivo,

não se sobrepõe às garantias individuais de natureza

constitucional substantiva (RT 526/391). No sentido da

inadmissibilidade jurídica da prova ilícita: RT 593/263,

621/378 e 273.

E comenta o mesmo autor:

Em síntese: o princípio importa vedar ao Juiz, que tem o

dever constitucional de fundamentar a sua decisão, sob

pena de nulidade, levar em conta a prova conseguida por

meio ilícito. É como, então se o fato não houvesse

acontecido, porque o magistrado semente pode

considerar o que consta (e o que consta idoneamente) dos

autos. 115

Assegura Tucci116 que as provas ilícitas,

Uma vez conseguidas ou produzidas por outros meios que

não os estabelecidos em lei, e, ainda, moralmente

legítimos, por maior que seja a importância do direito

individual a ser preservado, não têm elas como serem

levadas em conta pelo órgão jurisdicional incumbido de

definir a relação jurídica penal submetida à sua

apreciação.

Entende-se que não deve o direito proteger alguém

que tenha infringido preceito legal para obter qualquer prova, com

prejuízo alheio. Assim, o órgão judicial tem o dever de ordenar que seja

tirada dos autos a prova ilicitamente obtida, não lhe reconhecendo.

Adotando estas correntes a prova ilícita sempre será

rejeitada, pois afronta os princípios gerais do direito, especialmente a

115 PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo Penal. p.380 116 FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p 191.

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Constituições quanto ao reconhecimento de direitos e garantias

individuais.

3.3 TEORIA DA PROPORCIONALIDADE

A teoria da proporcionalidade adota um princípio de

proporção que admite a produção da prova ilícita mesmo ante a

violação de norma constitucional, em determinados casos, em caráter

excepcional, casos estes que se perceba que o direito tutelado é mais

importante que o direito a intimidade, segredo, liberdade de

comunicação, ou seja, também devendo considerar valores igualmente

constitucionais.

Sobre a teoria da proporcionalidade na concepção

atual salienta Avolio117, que:

É dotada de um sentido técnico no direito público e teoria

do direito germânicos, correspondente a ‘uma limitação do

poder estatal em benefício da garantia de integridade

física e moral dos que lhe estão sub-rogados’.

Ao discorrer sobre a teoria da proporcionalidade

Grinover118 pontifica que:

Trata-se, portanto, de uma questão de proporcionalidade

entre a infringência à norma e os valores que a produção

da prova pode proteger, por intermédio do processo.

Assim, por exemplo, na Alemanha Federal foi recentemente

considerada legítima, porquanto processualmente

admissível, válida e eficaz, gravação clandestina de

entendimentos feitos com a finalidade de extorsão gravou 117 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas ilícitas. p. 57. 118 Apud. FREGADOLLI, Luciana. O direito a intimidade e a prova ilícita. p 192.

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clandestinamente a conversa e a prova foi colhida em juízo

pelo fundamento de que sua produção seria razoável,

para que se chegasse a punir o criminoso. Haveria um

equilíbrio, uma proporcionalidade entre a ilicitude da

colheita da prova e a finalidade a que tendia a gravação.

Observam-se dois pontos relevantes sob a ótica do

princípio da proporcionalidade. O primeiro - quando o direito de maior

relevância for o violado. Neste caso, este direito deverá ser protegido pelo

Poder Judiciário, conseqüentemente não devendo ser aceita a prova

ilicitamente obtida. O segundo - o direito originário da prova ilicitamente

obtida possuir maior relevância que o direito violado pela ilicitude na

obtenção da prova. Neste caso, a prova ilícita deverá ser aceita válida e

eficazmente.

Seria a teoria da proporcionalidade a teoria

intermediária, entre a teoria da admissibilidade da prova ilícita e a teoria

da inadmissibilidade, sendo a qual não defende nenhum dos dois

extremos, ou seja, nem a inadmissibilidade absoluta da prova ilícita,

tampouco a admissibilidade absoluta da prova ilícita.

Entretanto, não é fácil para o Julgador quando for

valorar esses direitos colocados em confronto, já que ambos possuem

pesos diferentes de acordo com cada situação concreta que se

apresentam.

Sobre este ponto salienta Avolio119, que:

O estabelecimento do princípio da proporcionalidade ao

nível de intermediação do relacionamento entre as

matérias mais relevantes a serem disciplinadas numa

Constituição – como são aquelas referentes aos direitos e

119 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas Ilícitas. p. 59.

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garantias fundamentais dos indivíduos – já implica aceitar a

sua aplicação generalizada nos vários ramos do direito.

Apesar de BVerfGE ter se mostrado coerente com essa

tese, por ele esposada, tem havido muita relutância por

parte da doutrina em se tratando de introduzir o princípio

fora do seu campo tradicional de atuação, o direito

administrativo e constitucional. Mas, segundo Guerra Filho,

a proporcionalidade pode ser considerada como

constitutiva e, logo, imanente, em relação a setores inteiros

do direito. Exemplo típico é fornecido pelo Direito Penal, ao

se levar em conta que toda pena fere direitos individuais e

só justifica a sua previsão para atender reclamos de bem-

estar da comunidade.

Deste modo, vê-se que o princípio da

proporcionalidade se une a tese intermediária, ou seja, nem deve aceitar

todas as provas ilícitas, nem proibir qualquer prova pelo fato de ser ilícita.

Deve haver uma análise de proporcionalidade de bens jurídicos.

Pode-se observar ainda que na aplicação teoria da

proporcionalidade em favor ao réu a sua aceitação é praticamente

unânime como destaca Avolio:

A aplicação do princípio da proporcionalidade sob a ótica

do direito de defesa, também garantido

constitucionalmente, e de forma prioritária no processo

penal, onde impera o princípio do favor rei é de aceitação

praticamente unânime pela doutrina e jurisprudência. 120

Ainda neste sentido discorre Avolio121:

Até mesmo quando se trata de prova ilícita colhida pelo

próprio acusado, tem-se entendido que a ilicitude é

120 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas Ilícitas. p. 67. 121 AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas Ilícitas. p. 67.

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eliminada por causas de justificação legais da

antijuridicidade, como a legítima defesa. Segundo Ada

Pellegrini Grionover, Antonio Scarance Fernandes e Antonio

Magalhães Gomes Filho, assim têm entendido a doutrina e

jurisprudência estrangeiras no tocante, por exemplo para

demonstrar a própria inocência.

Assim, a tória da proporcionalidade estabelece certo

equilíbrio entre o interesse social em punir o criminoso, e o interesse em manter

seguros os direitos e garantias fundamentais do indivíduo.

3.4 POSIÇÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA:

Relativamente à matéria de provas ilícitas, destacamos

alguns julgados do Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROVA OBTIDA MEDIANTE

TORTURA CONSIDERADA ILÍCITA POR ESTE TRIBUNAL.

PRETENSÃO DO ÓRGÃO ACUSADOR DE UTILIZÁ-LA EM

SESSÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI. IMPOSSIBILIDADE. A PROVA

OBTIDA MEDIANTE MEIOS ILÍCITOS, TAL QUAL A TORTURA, É

INADMITIDA NO NOSSO ORDENAMENTO JURÍDICO (ART. 5º,

LVI, DA C.F.). ORDEM CONCEDIDA PARA VEDAR SUA

UTILIZAÇÃO NO TRIBUNAL DO JÚRI. 122

EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.

INTELIGÊNCIA DO ART. 37, § 6° DA CF. AÇÃO PENAL

INSTAURADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO COM SUCEDÂNEO

EM PROVA ILÍCITA, OBTIDA EM INQUÉRITO POLICIAL SOB

VIOLÊNCIA E TORTURA. DANO MORAL CARACTERIZADO.

DESCONSIDERAÇÃO DA PROVA NO JUÍZO PENAL QUE

IMPORTOU EM ABSOLVIÇÃO. INSTAURAÇÃO INJUSTA DA

122 BRASIL. TJ/SC. Acórdão: Habeas corpus 96.007040-0, Relator: Des. Genésio Nolli. Data da Decisão: 26/05/1998.

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PERSECUTIO CRIMINIS. SETENÇA REFORMADA. RECURSO

PROVIDO. 123

As jurisprudências acima não admitem a prova obtida

por meio ilícito, no caso, a obtenção da prova por meio de tortura,

vedando sua utilização no juízo penal apoiando-se estas decisões no art.

5º, LVI da Constituição Federal.

EMENTA: PROCESSUAL PENAL - PROVA ILÍCITA -

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA QUE NÃO OBEDECEU AOS

DITAMES DA LEI N. 9.296/96 - RECONHECIMENTO DA

ILICITUDE DA GRAVAÇÃO REALIZADA -

DESENTRANHAMENTO DETERMINADO DE OFÍCIO - PLEITO DE

NULIDADE DO PROCESSO - INOCORRÊNCIA -

CONTAMINAÇÃO APENAS DAS PROVAS DELA DERIVADAS -

VALIDAÇÃO DO DEPOIMENTO DESACREDITADO PELA

MAGISTRADA EM RAZÃO DA ESCUTA TELEFÔNICA. ROUBO

CIRCUNSTANCIADO - EMPREGO DE ARMA, CONCURSO DE

AGENTES E MANUTENÇÃO DAS VÍTIMAS EM PODER DOS

AGENTES COM RESTRIÇÃO DE LIBERDADE - MATERIALIDADE E

AUTORIA SOBEJAMENTE DEMONSTRADAS - PALAVRAS DAS

VÍTIMAS ALIADAS AO RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO -

RELEVÂNCIA DOS DEPOIMENTOS DOS OFENDIDOS,

PRINCIPALMENTE EM SE TRATANDO DE CRIME CONTRA O

PATRIMÔNIO - ABSOLVIÇÃO REPELIDA. RECURSO

DESPROVIDO. 124

No caso acima, foi reconhecido à ilicitude da

gravação, assim caracterizada como prova ilícita determinando a

decisão o desentranhamento dos autos.

123 BRASIL. TJ/SC. Acórdão: Apelação Cível 2003.027746-3, Relator: Des. Cesar Abreu. Data da Decisão: 21/10/2004. 124 BRASIL. TJ/SC. Acórdão: Apelação Criminal 2003.029062-1, Relator: Juiz José Carlos Carstens Köhler. Data da Decisão: 24/03/2004.

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EMENTA: CRIME CONTRA A SAÚDE PÚBLICA. TRÁFICO ILÍCITO

DE ENTORPECENTES (ART. 12, CAPUT, DA LEI 6368/76).

COCAÍNA. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA REALIZADA FORA

DO PRAZO DETERMINADO POR DECISÃO JUDICIAL E

PREVISTO PELA LEI 9.296, DE 24 de julho de 1996. ESCUTA

QUE VISAVA APURAR A AUTORIA DE CRIME DE TRÁFICO EM

RELAÇÃO A OUTRAS PESSOAS E NÃO AO RÉU. ALEGAÇÃO

DE PROVA ILÍCITA. PRETENDIDA NULIDADE DO CONJUNTO

PROBATÓRIO. PRELIMINAR AFASTADA. APLICAÇÃO DA

TEORIA DA PROPORCIONALIDADE. MERO INDÍCIO ILEGÍTIMO

QUE NÃO ORIGINOU NOVAS PROVAS. Sentença que não se

baseou EXCLUSIVAMENTE na prova obtida pelas escutas. Se

a interceptação telefônica realizada foi considerada mero

indício que não originou novas provas, tendo sido as

posteriores inteiramente independentes, o não

reconhecimento de seu caráter probatório não implica

contaminação das demais. Ou seja, aqui não se aplica a

teoria dos frutos da árvore envenenada (fruits of the

poisonous tree), segundo a inteligência do art. 573,§ 1º, do

CPP. FLAGRANTE. AUTORIA E MATERIALIDADE

COMPROVADAS. PROVA ROBUSTA E SEGURA. DEPOIMENTOS

DE POLICIAIS FIRMES E COERENTES, CORROBORADOS PELAS

DEMAIS TESTEMUNHAS. PRETENDIDA DESCLASSIFICAÇÃO

PARA USO PRÓPRIO. IMPOSSIBILIDADE. CONDENAÇÃO

MANTIDA. CRIME EQUIPARADO A HEDIONDO. SUBSTITUIÇÃO

DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE

DIREITOS. IMPOSSIBILIDADE. REPRIMENDA QUE DEVE SER

RESGATADA INTEGRALMENTE NO REGIME FECHADO. A

substituição preconizada no art. 44 do CP, com a nova

redação que lhe foi dada pela Lei n. 9.714/98, não é

compatível com a prática de crimes considerados

hediondos. 125

125 BRASIL. TJ/SC. Acórdão: Apelação criminal (Réu Preso) 2002.018667-3, Relator: Desa.

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No caso acima referido não houve a materialidade e

comprovação da escuta telefônica, portanto não houve a prova ilícita no

processo, então não tem como contaminar as demais.

EMENTA: PENAL E PROCESSUAL - CRIME COMUM -MINISTÉRIO

PÚBLICO - ÓRGÃO INCOMPETENTE PARA PRESIDIR

INQUÉRITO - ARTIGO 127, VIII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL -

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA - AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO

JUDICIAL - REALIZAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO DIRETAMENTE

PELO ÓRGÃO MINISTERIAL, SEM INTERVENÇÃO DA

AUTORIDADE POLICIAL - ILEGALIDADE - PROVA EMPRESTADA

- AUSÊNCIA DO CONTRADITÓRIO - MEIOS DE PROVA

ILÍCITOS. PREVARICAÇÃO - NÃO LAVRATURA DE AUTO DE

PRISÃO EM FLAGRANTE - ATO DISCRICIONÁRIO -INTERESSE

OU SENTIMENTO PESSOAL DO AGENTE PÚBLICO NÃO

DEMONSTRADO - EXTORSÃO - CONDUTA TIPIFICADA, NA

REALIDADE, COMO CORRUPÇÃO PASSIVA - AUSÊNCIA DE

PROVA - ABSOLVIÇÃO MANTIDA. RECEPTAÇÃO

QUALIFICADA - MATERIALIDADE E AUTORIA DEMONSTRADAS

- NEGATIVA DE AUTORIA - PROVA ROBUSTA - AGENTE

SURPREENDIDO NA POSSE DA RES FURTIVA - ÁLIBI NÃO

COMPROVADO - PROVA TESTEMUNHAL FARTA - DELAÇÃO -

SUPORTE NA PROVA DOS AUTOS - VALIDADE - DOLO -

AUFERIÇÃO PELO CONJUNTO PROBATÓRIO - FORMA

QUALIFICADA - PRÁTICA DE COMÉRCIO, AINDA QUE DE

FORMA NÃO HABITUAL E IRREGULAR - CONDENAÇÕES

MANTIDAS. O Ministério Público não detém, via de regra,

competência para presidir inquérito policial. A atuação,

nessa qualidade, é de caráter excepcional, somente

possível quando envolver autoridade policial, ainda assim

se houver necessidade de controle externo, a teor do

artigo 129, VII, da Constituição Federal. Em sede de

receptação, o dolo se prova pelas circunstâncias do crime

Maria do Rocio Luz Santa Ritta. Data da Decisão: 22/10/2002.

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e, inclusive, pela ausência de explicação plausível para a

posse da res. Válida a delação para condenar quando

encontra suporte na prova dos autos. Para a receptação

qualificada, não há necessidade que o comércio seja

exercido de forma regular e habitual, conforme o artigo

180, §2º, do Código Penal. 126

EMENTA: HABEAS CORPUS. POSSÍVEL AMEAÇA À LIBERDADE

DE LOCOMOÇÃO. CONHECIMENTO. PRETENSÃO DO

PACIENTE NO SENTIDO DE ANULAR A DECISÃO DO

MAGISTRADO, QUE DEFERIU AO ÓRGÃO DO MINISTÉRIO

PÚBLICO, A LEITURA DE DEPOIMENTOS EXISTENTES NOS

AUTOS, CONSIDERADOS PELA EGRÉGIA PRIMEIRA CÂMARA

CRIMINAL, COMO PROVAS ILÍCITAS. VEDADA A

APRECIAÇÃO DA QUALIDADE DAS PROVAS NOS ESTREITOS

LIMITES DO WRIT. ORDEM DENEGADA. 127

Diante do exposto, observa-se que o Egrégio Tribunal de

Justiça Catarinense corrobora com a vertente doutrinaria que não admite o uso

das provas ilícitas no processo, não sobrepondo o princípio da verdade real aos

direitos fundamentais elencados na própria constituição.

3.5 POSIÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Passaremos agora a estudar algumas decisões do

Supremo Tribunal Federal, a fim de identificar o seu entendimento acerca

da possibilidade de utilização no processo penal de provas obtidas por

meios ilícitos.

126 BRASIL. TJ/SC. Acórdão: Apelação Criminal 2005.024411-9, Relator: Des. Amaral e Silva. Data da Decisão: 18/10/2005. 127 BRASIL. TJ/SC. Acórdão: Habeas Corpus 96.007040-0, Relator: Des. Genésio Nolli. Data da Decisão: 17/09/1996.

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Relativamente à matéria de provas ilícitas, estes são

alguns julgados do Supremo Tribunal Federal:

Prova ilícita: escuta telefônica mediante autorização

judicial: afirmação pela maioria da exigência de lei, até

agora não editada, para que, ‘nas hipóteses e na forma’

por ela estabelecida, possa o juiz, nos termos do artigo 5º,

XII, da Constituição, autorizar a interceptação de

comunicação telefônica para fins de investigação criminal;

não obstante, indeferimento inicial do habeas corpus pela

soma dos votos, no total de seis, que, ou recusaram a tese

da contaminação das provas decorrentes da escuta

telefônica, indevidamente autorizada, ou entenderam ser

impossível, na via processual do habeas corpus, verificar a

existência de provas livres da contaminação e suficientes a

sustentar a condenação questionada; nulidade da primeira

decisão, dada a participação decisiva, no julgamento, de

Ministro impedido (MS 21.750, 24.11.93, Velloso);

conseqüente renovação do julgamento, no qual se deferiu

a ordem pela prevalência dos cinco votos vencidos no

anterior, no sentido de que a ilicitude da interceptação

telefônica – à falta de lei que, nos termos constitucionais,

venha a discipliná-la e viabilizá-la – contaminou, no caso,

as demais provas, todas oriundas, direta ou indiretamente,

das informações obtidas na escuta (fruits of the poisonous

tree), nas quais se fundou a condenação do paciente. 128

EMENTA: I. Habeas corpus: cabimento: prova ilícita. 1.

Admissibilidade, em tese, do habeas corpus para impugnar

a inserção de provas ilícitas em procedimento penal e

postular o seu desentranhamento: sempre que, da

imputação, possa advir condenação a pena privativa de

128 BRASIL. STF. HC nº 69912-0/RS, STF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, D. J. 25.03.94, deferido, por maioria.

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liberdade: precedentes do Supremo Tribunal. II. Provas

ilícitas: sua inadmissibilidade no processo (CF, art. 5º, LVI):

considerações gerais. 2. Da explícita proscrição da prova

ilícita, sem distinções quanto ao crime objeto do processo

(CF, art. 5º, LVI), resulta a prevalência da garantia nela

estabelecida sobre o interesse na busca, a qualquer custo,

da verdade real no processo: conseqüente impertinência

de apelar-se ao princípio da proporcionalidade - à luz de

teorias estrangeiras inadequadas à ordem constitucional

brasileira - para sobrepor, à vedação constitucional da

admissão da prova ilícita, considerações sobre a gravidade

da infração penal objeto da investigação ou da

imputação. III. Gravação clandestina de "conversa

informal" do indiciado com policiais. 3. Ilicitude decorrente -

quando não da evidência de estar o suspeito, na ocasião,

ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do seu

assentimento à gravação ambiental - de constituir, dita

"conversa informal", modalidade de "interrogatório" sub-

reptício, o qual - além de realizar-se sem as formalidades

legais do interrogatório no inquérito policial (C.Pr.Pen., art.

6º, V) -, se faz sem que o indiciado seja advertido do seu

direito ao silêncio. 4. O privilégio contra a auto-

incriminação - nemo tenetur se detegere -, erigido em

garantia fundamental pela Constituição - além da

inconstitucionalidade superveniente da parte final do art.

186 C.Pr.Pen. - importou compelir o inquiridor, na polícia ou

em juízo, ao dever de advertir o interrogado do seu direito

ao silêncio: a falta da advertência - e da sua

documentação formal - faz ilícita a prova que, contra si

mesmo, forneça o indiciado ou acusado no interrogatório

formal e, com mais razão, em "conversa informal" gravada,

clandestinamente ou não. IV. Escuta gravada da

comunicação telefônica com terceiro, que conteria

evidência de quadrilha que integrariam: ilicitude, nas

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circunstâncias, com relação a ambos os interlocutores. 5. A

hipótese não configura a gravação da conversa telefônica

própria por um dos interlocutores - cujo uso como prova o

STF, em dadas circunstâncias, tem julgado lícito - mas, sim,

escuta e gravação por terceiro de comunicação

telefônica alheia, ainda que com a ciência ou mesmo a

cooperação de um dos interlocutores: essa última, dada a

intervenção de terceiro, se compreende no âmbito da

garantia constitucional do sigilo das comunicações

telefônicas e o seu registro só se admitirá como prova, se

realizada mediante prévia e regular autorização judicial. 6.

A prova obtida mediante a escuta gravada por terceiro de

conversa telefônica alheia é patentemente ilícita em

relação ao interlocutor insciente da intromissão indevida,

não importando o conteúdo do diálogo assim captado. 7.

A ilicitude da escuta e gravação não autorizadas de

conversa alheia não aproveita, em princípio, ao interlocutor

que, ciente, haja aquiescido na operação; aproveita-lhe,

no entanto, se, ilegalmente preso na ocasião, o seu

aparente assentimento na empreitada policial, ainda que

existente, não seria válido. 8. A extensão ao interlocutor

ciente da exclusão processual do registro da escuta

telefônica clandestina - ainda quando livre o seu

assentimento nela - em princípio, parece inevitável, se a

participação de ambos os interlocutores no fato probando

for incindível ou mesmo necessária à composição do tipo

criminal cogitado, qual, na espécie, o de quadrilha. V.

Prova ilícita e contaminação de provas derivadas (fruits of

the poisonous tree). 9. A imprecisão do pedido genérico de

exclusão de provas derivadas daquelas cuja ilicitude se

declara e o estágio do procedimento (ainda em curso o

inquérito policial) levam, no ponto, ao indeferimento do

pedido. 129

129 BRASIL. STF. HC 80949 / RJ - RIO DE JANEIRO, HABEAS CORPUS, Relator(a): Min.

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Nas jurisprudências acima foi caracterizada a prova

ilícita e utilizada a teoria dos frutos da árvore envenenada, onde

demonstra a contaminação da prova derivada da obtida ilicitamente.

Restando não admitidas.

EMENTA: Habeas Corpus. 2. Notitia criminis originária de

representação formulada por Deputado Federal com base

em degravação de conversa telefônica. 3. Obtenção de

provas por meio ilícito. Art. 5º, LVI, da Constituição Federal.

Inadmissibilidade. 4. O só fato de a única prova ou

referência aos indícios apontados na representação do

MPF resultarem de gravação clandestina de conversa

telefônica que teria sido concretizada por terceira pessoa,

sem qualquer autorização judicial, na linha da

jurisprudência do STF, não é elemento invocável a servir de

base à propulsão de procedimento criminal legítimo contra

um cidadão, que passa a ter a situação de investigado. 5.

À vista dos fatos noticiados na representação, o Ministério

Público Federal poderá proceder à apuração criminal,

respeitados o devido processo legal, a ampla defesa e o

contraditório. 6. Habeas corpus deferido para determinar o

trancamento da investigação penal contra o paciente,

baseada em elemento de prova ilícita. 130

O Supremo Tribunal Federal assim como o egrégio Tribunal

de Justiça de Santa Catarina tem filiado-se a tese de que o uso da prova ilícita

no processo judicial ofende a própria lei maior, por entrar em conflito

especialmente com as cláusulas pétreas elencadas na Constituição da

Republica Federativa do Brasil.

SEPÚLVEDA PERTENCE, Julgamento: 30/10/2001, Órgão Julgador: Primeira Turma, Publicação: DJ 14-12-2001 PP-00026 EMENT VOL-02053-06 PP-01145 RTJ VOL-00180-03 PP-01001. 130 BRASIL. STF. HC 80948 / ES, Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, Julgamento: 07/08/2001,Órgão Julgador: Segunda Turma, Publicação: DJ 19-12-2001 PP-00004 EMENT VOL-02054-02 PP-00309.

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Por fim, pode-se observar que há divergências doutrinarias

a respeito da admissibilidade ou não da prova ilícita, mas como vimos em

algumas decisões os tribunais não estão admitindo a prova ilícita vedando sua

utilização no processo penal.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o presente estudo, resta clara a idéia de que o

direito à prova não é absoluto. Devendo o juiz sobrepesar os direitos em

jogo, quando do embate de princípios constitucionais protegidos, e

buscar a justiça no caso concreto.

Os fundamentos utilizados na pesquisa, desde o início,

motivaram a conquista dos objetivos almejados. O entendimento

doutrinário e a legislação vigente dão margens a diversas ponderações e

conceituações.

Para auxiliar o estudo e o agrupamento de idéias, o

presente estudo foi dividido em três capítulos.

No primeiro capítulo, ficou estabelecido que a prova é

uma síntese de meios através dos quais se atinge a verdade real, sendo o

objeto da prova tudo que possa influenciar no fato supostamente em tela.

Tais meios se caracterizam por fontes probantes submetidas ao juiz para

análise das referidas provas. Restou entendido que o ônus da prova é a

necessidade das partes de provarem o alegado no processo, tendo o

magistrado o dever de avaliar todas as provas e alegações das partes.

No segundo capítulo, o estudo voltou-se à análise do

direito a prova e seus limites, os quais estão demonstrados através de

princípios.

O princípio da auto-responsabilidade das partes

destaca que as partes devem suportar o ônus de sua atividade ou

inatividade dentro do processo. Já o princípio do contraditório acerta que

toda prova admite a contraprova, tendo a outra parte o direito ao

conhecimento de quaisquer provas trazidas ao processo sob pena de

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restarem estas inadmissíveis. Através do princípio da aquisição da prova

entende-se que as provas devem estar contidas no processo através de

um dos meios admitidos no direito, assim como no principio da comunhão

das provas estas aproveitam a ambas as partes. De acordo com o

princípio da publicidade os atos do processo devem ser públicos, salvo

exceções legais, adequando-se ao principio da oralidade, o qual traz a

idéia de que deve predominar a palavra falada. Ainda, o princípio do livre

convencimento motivado traduz-se no fato de que o juiz pode resolver os

litígios da maneira que lhe melhor aprouver, devendo, no entanto, levar

sempre em consideração a lei e a Constituição.

O terceiro capítulo foi dedicado ao tema específico

objeto de estudo deste trabalho, qual tal, provas ilícitas.

Inicialmente tratou-se da conceituação da prova ilícita

diferenciando-a da prova ilegítima. Restou consignado que ilícito é o meio

pelo qual a prova foi obtida, por exemplo, por meio de tortura, violação

de correspondência, gravações clandestinas, interceptação telefônicas

sem autorização judicial. Já as provas ilegítimas são aquelas obtidas com

violação a regras meramente processuais, assim como, a proibição de

depor em relação a fatos que envolvam o sigilo profissional do art. 207 do

CPP. Deste modo as provas ilícitas trazem violação a regras materiais, ao

tempo que as ilegítimas trazem violação a regras processuais.

Nos pontos consecutivos, expõem-se as correntes

doutrinárias favoráveis e as contrárias a utilização da prova ilícita, na

favorável os doutrinadores salientam que apesar de a prova ser obtida por

meio ilícito, o resultado será favorável para a busca da verdade real,

primordial no processo. Já nas correntes contrárias, os doutrinadores

entendem que por mais que se consiga a verdade real, esse tipo de meio

afronta os preceitos constitucionais.

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Enfim, explica-se sobre a teoria da proporcionalidade,

que seria uma espécie de teoria intermediária, onde não se defende

nenhum dos dois extremos, mas, sim a ponderação e bom senso do

magistrado no caso em concreto, para então decidir se a prova ilícita será

aceita ou não.

Por fim, a crítica. No tocante a aceitabilidade ou não

da prova, o que deve sempre ser observado pelos magistrados, e o que

não vem acontecendo na maioria dos casos, é a teoria da

proporcionalidade, em cada caso, deveriam usar tal teoria, em busca da

verdade real, de maneira que ela se sobressaia à violação dos princípios

constitucionais. Mas para isso, o que sempre deve existir é uma análise

criteriosa e ponderada de todos os tipos de provas.

Levando em consideração a divergência doutrinaria

acerca da possibilidade de utilização no processo penal de provas

obtidas por meios ilícitos, bem como a escassez jurisprudencial, pode-se

dizer que a hipótese inicial não se confirmou.

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BRASIL. STF. HC nº 69912-0/RS, STF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Sepúlveda

Pertence, D. J. 25.03.94, deferido, por maioria.

BRASIL. STF. HC 80949 / RJ - RIO DE JANEIRO, HABEAS CORPUS, Relator(a):

Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Julgamento: 30/10/2001, Órgão Julgador:

Primeira Turma, Publicação: DJ 14-12-2001 PP-00026 EMENT VOL-02053-06

PP-01145 RTJ VOL-00180-03 PP-01001.

BRASIL. STF. HC 80948 / ES, Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, Julgamento:

07/08/2001,Órgão Julgador: Segunda Turma, Publicação: DJ 19-12-2001

PP-00004 EMENT VOL-02054-02 PP-00309.

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BRASIL. TJ/SC. Acórdão: Apelação Criminal 2003.029062-1, Relator: Juiz

José Carlos Carstens Köhler. Data da Decisão: 24/03/2004.

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Relator: Desa. Maria do Rocio Luz Santa Ritta. Data da Decisão:

22/10/2002.

BRASIL. TJ/SC. Acórdão: Apelação Criminal 2005.024411-9, Relator: Des.

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