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A QUALIDADE DOS ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS NO ÂMBITO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL
Danilo CuradoCoordenador de Pesquisa e Licenciamento
CNA/IPHAN
• 1) Diplomas legais- Lei 3.924/61;- Portaria IPHAN 07/88;- Portaria IPHAN 230/02;- IN 001/15
• 2) Conceitos Metodológicos (Prospecção)- Conceitos científicos- Levantamento de dados secundários
• 3) Projetos apresentados
• 4) A qualidade dos estudos (números)
1) Diplomas legais
• - Lei 3.924/61; Art 9º O pedido de permissão deve ser dirigido à Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, acompanhado de indicação exata do local, do vulto e da duração aproximada dos trabalhos a serem executados, da prova de idoneidade técnico-científica e financeira do requerente e do nome do responsável pela realização dos trabalhos.
Desde 1961 a definição metodológica, enquanto indicação exata dos locais a serem pesquisados, já demonstrava a necessidade da
metodicidade arqueológica
• Portaria IPHAN 07/88;
Art. 5º: IV - plano de trabalho científico que contenha:
1. definição dos objetivos;
2. conceituação e metodologia;
3. seqüência das operações a serem realizadas no sítio;
4. cronograma da execução;
1) Diplomas legais
O diploma normatiza e padroniza os projetos de arqueologia a serem protocolizados no IPHAN. Para tanto, amparada por métodos
científicos, a metodologia de pesquisa torna-se imprescindível.
• - Portaria IPHAN 230/02;• Art. 5º - Nesta fase, dever-se-á implantar o Programa de
Prospecção proposto na fase anterior, o qual deverão prever prospecções intensivas (aprimorando a fase anterior de intervenções no subsolo) nos compartimentos ambientais de maior potencial arqueológico da área de influência direta do empreendimento e nos locais que sofrerão impactos indiretos potencialmente lesivos ao patrimônio arqueológico, tai como áreas de reassentamento de população, expansão urbana ou agrícola, serviços e obras de infra-estrutura.
1) Diplomas legais
Na fase de obtenção da Licença de Instalação, é necessário a protocolização de projeto de pesquisa em que deve prever a execução de prospecções (arqueológicas) intensivas nos
compartimentos com maior potencial arqueológico.
IN 001/15:Art. 18 – II - proposição de metodologia de pesquisa para caracterização arqueológica da Área Diretamente Afetada - ADA, prevendo levantamento de dados primários em campo com base em levantamento prospectivo intensivo de sub-superfície;
Parágrafo único. O IPHAN não aceitará projetos que indiquem a realização de prospecções em toda a extensão dos empreendimentos, sem a necessária justificativa, resultante do cruzamento de dados do processo histórico de ocupação, com a incidência de sítios cadastrados, indicadores geomorfológicos e demais modelos preditivos de avaliação, de forma a demostrar o efetivo potencial arqueológico de cada área a ser prospectada.
1) Diplomas legais
No mais recente documento normativo, o IPHAN ainda mantem a exigência de prospecção em áreas com potencial arqueológico, desde que, naturalmente, devidamente estudadas
previamente.
2) Conceitos Metodológicos (Prospecção)• Conceitos científicos• A prospecção arqueológica tem como objetivo primário
identificar sítios e elementos de interesse arqueológico (ocorrências arqueológicas, áreas de captação de recursos, etc.)
• No caso de pesquisas arqueológicas relacionadas ao licenciamento ambiental de empreendimentos, a prospecção deve mensurar, com alto grau de confiabilidade, a quantidade e diversidade de sítios arqueológicos, bem como delimitá-los em termos horizontais (extensão e forma dos sítios) e verticais (sequência estratigráfica cultural);
• Na literatura arqueológica brasileira e internacional se tornou consenso que abordagens intensivas sistemáticas a partir de métodos amostrais probabilísticos são a melhor forma de atingir os objetivos acima mencionados.
Estratificada randômicaSimples randômica
Sistemática Estratificada sistemática não alinhada
POR QUÊ?
1. Em áreas de grandes dimensões é impossível cobrir todo o terreno por razões de tempo e recursos;
2. A diversidade ambiental pode estar relacionada a diversidade de fenômenos arqueológicos. Portanto, os compartimentos ambientais devem ser amostrados de forma equivalente;
3. Amostragens sistemáticas atenuam possíveis distorções nos resultados geradas por condições variadas detecção arqueológica (grau de visibilidade da superfície, profundidade dos vestígios em função dos processos de deposição de sedimentos etc.);
4. Amostragens sistemáticas atenuam o viés dos pesquisadores decorrente do grau de conhecimento, expertise e experiências de pesquisa;
• Em suma, a prospecção intensiva sistemática, baseada no método amostral probabilístico, é a abordagem mais segura e razoável.
• Como definir o espaçamento entre as linhas de caminhamento e entre as intervenções de subsuperfíce?
• Em regiões pouco pesquisadas nas quais não dispomos de conhecimento sobre as dimensões, quantidade, diversidade e organização espacial dos sítios, malhas com espaçamento reduzido geram amostras mais representativas e confiáveis;
• Em contrapartida, regiões que dispõe de pesquisas arqueológicas sistemáticas possibilitam o estabelecimento de modelos baseados nos dados sobre a quantidade, diversidade, dimensões e organização espacial dos sítios. Dessa forma, o espaçamento entre as linhas de caminhamento e entre as intervenções de subsuperfíce pode ser definido com base na probabilidade de identificação de sítios arqueológicos esperados dentro do modelo.
• Segundo Araújo (2001, p. 109):• “Nance & Ball (1986:459) apresentaram um modelo relacionado
à amostragem por poços-teste, que pode ser adaptado a qualquer situação onde se proceda a um levantamento sistemático (Tabela 1). Neste modelo, a probabilidade de detecção de vestígios arqueológicos depende do produto de duas probabilidades distintas: a probabilidade de intersecção e a probabilidade de encontro. A probabilidade de intersecção relaciona-se ao fato de que, para que um determinado vestígio seja detectado, o trajeto realizado pelo pesquisador ou pelo aparelho responsável pela detecção deve interceptar a área ou o local onde o(s) vestígio(s) se localiza(m). Como um evento de intersecção não implica necessariamente na detecção do(s) vestígio(s), temos uma segunda componente: A probabilidade de encontro, que diz respeito ao fato de que dependendo de fatores como o método de inspeção, o tipo de cobertura vegetal e a densidade de artefatos, pode haver uma maior ou menor probabilidade de encontro de material arqueológico. Juntas, estas duas probabilidades resultam na probabilidade de se detectar vestígios arqueológicos”.
• Tabela 1 – Modelo de probabilidade de detecção de vestígios em levantamentos sistemáticos, levando em conta dois componentes: a probabilidade de intersecção p(I) e a probabilidade de encontro p(E). (Modificado de Nance & Ball,1986:459).
“Com a aplicação das fórmulas que envolvem relações geométricas simples, é possível avaliar qual a porcentagem de elementos com um dado diâmetro que podem ter sido interceptados por linhas de prospecção realizadas com um dado espaçamento.
A fórmula para um alvo elíptico é:P = 2 √ (a² + b²) / 2 ( I ) dOnde P é a probabilidade de intersecção, a e b são os semi-eixos da elipse, e d é
a distância entre as linhas de prospecção, ou a intensidade. Para uma forma circular, temos: P = 2r ( II ) Onde r é o raio do círculo. d dPara uma forma linear, a fórmula é: P = 2 l (III) Onde l é o comprimento da linha.” πd
“Tomemos como exemplo um levantamento arqueológico cujas linhas de prospecção distam 50 m entre si. No caso de um alvo elíptico de 40 x 30 m por exemplo, a probabilidade de haver intersecção é dada pela fórmula ( I ) acima. Substituindo as variáveis, temos que:
P = 2 √ (a² + b²) / 2 = 2 √ (20² + 15²) / 2 = 0,707
d 50Ou seja, uma fração aproximada de 71 % dos agregados de material arqueológico com estas
dimensões seriam detectados por linhas paralelas espaçadas de 50 m. Se sítios arqueológicos com estas dimensões forem os maiores existentes na região, o “levantamento de 100%” estaria na verdade, e na melhor das hipóteses encontrando apenas 71% destes sítios. Para sítios com áreas menores as fórmulas são bastante ilustrativas. No mesmo exemplo, uma área apresentando vestígios com eixos de 20 m x 10 m tem uma probabilidade de intersecção de apenas 32 % ( P = 0,316).
Resumindo, a estipulação da intensidade a ser empregada em um levantamento arqueológico deve levar em conta a fração de vestígios que deverão estar sendo teoricamente interceptados. Esta fração é um teto, e representa o número máximo de sítios com uma determinada área que poderiam ser encontrados se a interceptação equivalesse à detecção. O raciocínio inverso também pode ser usado; dadas as dimensões dos sítios que se pretende detectar, estipula-se o intervalo máximo ou a intensidade mínima que deve ser usada para satisfazer tal objetivo com uma probabilidade de intersecção de, por exemplo, 80%.”
“No tocante à prospecção de sub-superfície, a configuração geométrica de poços-teste ou sondagens em geral também afeta a probabilidade de intersecção. Krakker et al.(1983) apresentam uma discussão destes fatores, usando círculos como exemplos. Sondagens são geralmente realizadas seguindo linhas, e o distanciamento entre essas linhas geralmente é igual à distância entre as sondagens, resultando em uma malha quadrada.
A probabilidade de intersecção de um círculo dentro de uma malha quadrada regular é dada pela fórmula:
P = (π r²)/ d² (V)
Onde r é o raio do círculo, e d é a distância entre as sondagens. Aplicando a fórmula (V), temos que a probabilidade de se interceptar um
sítio circular cujo diâmetro seja igual ao espaçamento entre as sondagens é de 0,78 ou 78%.” (Araújo, 2001, p. 109-118)
Pensando em espaçamentos de intervenções para contextos com sítios de pequenas dimensões Gaspar de Oliveira (2011, p. 45) propõe:
“É preciso adotar estratégias mais refinadas de pesquisa arqueológica, que tenham como meta a investigação do subsolo em pequenos intervalos de não mais de 50 m”.
Em suma, o espaçamento proposto pelo CNA/IPHAN para pesquisas de licenciamento ambiental é razoável e cientificamente embasado.
• Levantamento de dados secundários:• “cruzamento de dados do processo histórico de ocupação, com a incidência de
sítios cadastrados, indicadores geomorfológicos e demais modelos preditivos de avaliação”
2) Conceitos Metodológicos (Prospecção)
Fonte: Louis Leithold
2) Conceitos Metodológicos (Prospecção)
2) Conceitos Metodológicos (Prospecção)
3) Projetos apresentados
4) A qualidade dos estudos encaminhados - Das 199 autorizações publicadas para as rodovias federais, 20% referem-se às renovações/prorrogações solicitadas pelos arqueólogos coordenadores. Ou seja, o plano de trabalho apresentado pelo arqueólogo proponente, e aprovado pelo Iphan, não foi cumprido conforme proposta inicialmente prevista. Observação: Outro importante sintoma são as complementações.
Portarias Renovações0
50
100
150
200
250
199
40
Portarias de pesquisas arqueológicas nas Rodovias Federais (1999-2015)
Referências bibliográficas
• ARAÚJO, A. G. M. (2001) Teoria e método em Arqueologia Regional: um estudo de caso no Alto Paranapanema, Estado de São Paulo. Tese de Doutoramento, Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.
• GASPAR, Maria Dulce. Os próximos passos... aperfeiçoar a prospecção arqueológica e abrir a caixa do passado. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 6, n. 1, p. 41-55, jan.-abr. 2011.
Danilo CuradoCoordenador de Pesquisa e Licenciamento
Centro Nacional de ArqueologiaIPHAN