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1 INSTITUTO PACKTER FACULDADES PADRE BAGOZZI Curso de Especialização em Filosofia Clínica Carlos Copelli Neto A CONTRIBUIÇÃO DA FENOMENOLOGIA DE MAURICE MERLEAU-PONTY PARA A FILOSOFIA CLÍNICA A QUESTÃO DA SUBJETIVIDADE EM CLÍNICA São Paulo 2007

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INSTITUTO PACKTER

FACULDADES PADRE BAGOZZI

Curso de Especialização em Filosofia Clínica

Carlos Copelli Neto

A CONTRIBUIÇÃO DA FENOMENOLOGIA

DE MAURICE MERLEAU-PONTY PARA

A FILOSOFIA CLÍNICA

A QUESTÃO DA SUBJETIVIDADE EM CLÍNICA

São Paulo 2007

2

Carlos Copelli Neto

A CONTRIBUIÇÃO DA FENOMENOLOGIA

DE MAURICE MERLEAU-PONTY PARA

A FILOSOFIA CLÍNICA

A QUESTÃO DA SUBJETIVIDADE EM CLÍNICA

Monografia elaborada como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Filosofia Clínica. Orientadora: Profa. Monica Aiub

São Paulo

2007

3

À memória de

Margarida e Mário Copelli Meus pais, a quem devo a vida ...

... o início de tudo ...

À presença viva e constante de

GIANCARLO MONTAGNER COPELLI Meu filho, a quem transmiti a vida ...

... continuidade de tudo ...

4

MINHA GRATIDÃO

. PROFª. MONICA AIUB - minha orientadora e mestra, cuja presença

firme, competente, dedicada e meiga permitiu que eu levasse a termo este curso e também desenvolveu em mim o potencial pelo filosofar.

. ONEIDE ALVES MARTINI - colega e amiga, que gentilmente

compartilhou comigo seu profundo saber acerca da obra de Merleau-Ponty.

. ALMIR JOSÉ DA SILVA e JADIR ANTONIO DA SILVA – colegas,

parceiros e amigos desde o início de minha jornada na Filosofia Clínica.

. CINIRA ALICE ALFA PALOTTA e ANGÉLICA APARECIDA CAVALCANTI DA COSTA – amigas e cúmplices de longa data, pelo

carinho, incentivo e atitudes terapêuticas em todos os segmentos de minha vida.

. PALMIRA PAULETTE DE NOVAES – amiga inestimável de todas as

horas, solícita e amável, por todo apoio a mim dispensado para que eu trilhasse a trajetória deste curso.

. CARLOS ARTUR AGUENA – amigo e companheiro de busca

intelectual, por sua carinhosa empatia pelas temáticas filosóficas. . GIANCARLO MONTAGNER COPELLI – por ter sempre enxergado

com os olhos do coração a minha vocação terapêutica. Meu filho, em você tudo continua ...

5

A verdadeira filosofia é

reaprender a ver o mundo.

Merleau-Ponty

6

RESUMO O ponto de partida para a prática filosófico-clínica é a representação, tanto por parte do partilhante,

como por parte do terapeuta; assim a compreensão da subjetividade se afigura como absolutamente

relevante. Portanto, no contexto da subjetividade a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty

contribui para a ampliação da respectiva base teórica e a conseqüente prática clínica, enquanto

método de trabalho e também enquanto postura pessoal e profissional do filósofo clínico. Para se

chegar à noção de subjetividade no âmbito da fenomenologia merleau-pontyana faz-se necessário

percorrer o itinerário do pensamento filosófico ocidental, especificamente no campo da

epistemologia, desde os seus primórdios, observando as variações de concepções e o seu

desenvolvimento. Uma vez estabelecida a subjetividade fenomenologicamente, chega-se a uma

compreensão da percepção que se tem de si mesmo e do respectivo meio exterior em seu aspecto

amplo e também terapêutico.

Palavras-chave: Filosofia, Subjetividade, Epistemologia, Fenomenologia, Fenômeno,

Merleau-Ponty, Metodologia, Filosofia Clínica, Terapia.

ABSTRACT

The starting point of clinical philosophy as a practice is representation, both from the sharer’s standpoint as from the therapist’s; thus an understanding of subjectivity is of crucial relevance. Therefore, within the context of subjectivity Maurice Marleau-Ponty’s Phenomenology also contributes in enhancing the theoretical base and consequently the clinical practice as a working method and also by the professional and personal posture of the clinical philosopher. In order to arrive at the notion of subjectivity in the scope of Merleau-Ponty’s phenomenology, it is necessary to go through the itinerary of western philosophical thought, specifically the field regarded as epistemology, since its beginnings, thereby observing the variations in conceptuality as well as in its development. Once the subjectivity is phenomenologically established, one arrives at an understanding of the perception one has of oneself and of the outside world in its broad and also therapeutic

aspect.

Key-words: Philosophy, Subjectivity, Epistemology, Phenomenology, Phenomenon, Merleau-

Ponty, Methodology, Clinical Philosophy, Therapy.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 7

Capítulo 1 – EPISTEMOLOGIA ................................................................. 9

Capítulo 2 – A FENOMENOLOGIA ............................................................ 16 .2.a. – Edmund Husserl .................................................…… 18

.2.b. – Maurice Merleau-Ponty ……………………………….. 20

Capítulo 3 – A FENOMENOLOGIA DE MERLEAU-PONTY E A

FILOSOFIA CLÍNICA ............................................................. 24

.3.a. – A Fenomenologia enquanto método de trabalho .................................................................. 24

.3.b. – A Fenomenologia enquanto postura do filósofo clínico ....................................................... 27

.3.c. – A Fenomenologia e os Exames Categoriais (Categorias Circunstância e Lugar) .......................... 29 .3.c.1. – Categoria Circunstância ............................... 30 .3.c.2. – Categoria Lugar ............................................. 32

.3.d. – A Fenomenologia e a Estrutura de Pensamento (Tópicos 1 e 2) ............................................................ 34 .3.d.1. – Tópico 1: Como o mundo parece ............... 34 .3.d.2. – Tópico 2: O que acha de si mesmo ............ 36

.3.e. - Relação: Exames Categoriais e Tópicos 1 e 2 ....... 37

CONCLUSÃO ................................................................................................ 37 APÊNDICE ..................................................................................................... 39 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 41

8

INTRODUÇÃO

Inúmeras são as abordagens psicoterápicas dentro de uma vasta e variada

gama de escolas de psicologia com suas respectivas correntes de pensamento.

Todas elas têm um ponto em comum: a melhoria da qualidade da vida mental do

ser humano, trazendo alívio para suas queixas e, conseqüentemente,

promovendo o seu bem-estar.

A Filosofia Clínica, enquanto prática terapêutica, tem a mesma finalidade,

não obstante não pertencer ao ramo das psicologias, pois como o próprio nome

diz, trata-se de Filosofia como uma modalidade de abordagem aos processos

mentais. Esta prática nada mais é do que o resgate histórico da Filosofia, a qual,

em suas origens tinha também um caráter terapêutico, que foi gradualmente

sendo relegado, dando lugar a outras formas de filosofar.

Esta recuperação, ainda que recente, busca também apresentar o seu

próprio diferencial em relação às demais psicoterapias, o qual é constituído pela

total ausência de tipologias e/ou patologias. Assim, não há paradigmas definidos

sobre questões acerca do que é considerado normal ou patológico; ou ainda a

respeito do que são fatores psíquicos determinantes em tipologias, conforme

verificado em muitas correntes da Psicologia.

Estes são os principais aspectos relativos ao que a Filosofia Clínica não é;

portanto, faz-se necessária a demonstração da real abordagem filosófico-clínica,

considerando o seu diferencial.

Esta abordagem tem como ponto de partida a própria questão da

metodologia utilizada em clínica. Não há um único método de trabalho, mas sim a

somatória de vários deles, conforme a necessidade clínica, onde os vários

sistemas filosóficos encontram-se em diálogo, sem que haja primazia de um em

detrimento de outro.

Assim, ao ouvir o histórico de vida do partilhante, o filósofo clínico

procurará garantir uma visão de mundo e significação mais próximas possíveis

daquele que a vivenciou, valendo-se para tanto de um critério metodológico

compreensivo-descritivo. Descritivo porque a pessoa que procura os serviços do

9

filósofo clínico irá inicialmente narrar o seu histórico de vida, ou seja, irá descrevê-

lo com sua própria terminologia, atribuindo ou não valores pessoais aos eventos

narrados, cabendo ao profissional, inicialmente, apenas escutá-la. Compreensivo

porque o terapeuta irá compreender as situações vividas pela pessoa em seus

respectivos contextos, suspendendo suas eventuais considerações pessoais

sobre esses temas, posto que não lhe cabe a emissão de quaisquer juízos.

Cabe retomar aqui, a título de ilustração, novamente um paralelo entre a

Filosofia Clínica e as demais psicoterapias no tocante à questão do método.

Estas, via de regra, valem-se do método interpretativo, onde o terapeuta, a partir

de teorias pré-estabelecidas irá interpretar a fala de seu paciente, de acordo com

aquilo que o seu referencial teórico já pré-determinou. Sobre esta questão

metodológica, outras menções serão feitas no decorrer deste trabalho.

Foi citado no parágrafo anterior o termo “paciente”, normalmente utilizado

nas relações clínicas; no entanto, em Filosofia Clínica este termo não é utilizado,

uma vez que, conforme já dito, não há patologias alojadas em paradigmas pré-

fixados, não cabendo, portanto, o uso desse termo. Para a pessoa que procura os

préstimos do filósofo clínico, há a utilização do termo “partilhante”, uma vez que

há um partilhamento de sua vida com o terapeuta.

Ainda com relação à metodologia aplicada, cumpre salientar que esta

modalidade terapêutica não privilegia qualquer corrente filosófica e/ou qualquer

pensador isoladamente; mas antes para cada ponto da abordagem, busca-se o

pensamento filosófico que lhe é mais adequado.

O escopo geral da Filosofia Clínica é a compreensão da existência do

partilhante, segundo os seus próprios critérios de representação, tanto de si

mesmo, como dos seus contextos sociais. Portanto, a questão da subjetividade

individual e singular norteiam o trabalho do filósofo clínico, que ao suspender seus

próprios juízos pessoais (ou melhor, suas representações), entrará no mundo da

subjetividade e da representação de seu partilhante, buscando compreendê-lo e

estabelecendo uma relação de ajuda existencial, dentro dos parâmetros de

representação e subjetividade daquele que o procurou.

Esta é a temática central desta monografia, “a questão da subjetividade

em clínica”, onde serão abordadas as questões de método e postura do filósofo

clínico diante das representações subjetivas de seu partilhante, no que se refere à

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idéia que ele tem de si próprio, como também do mundo que o rodeia, tendo

por base a Fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty.

Capítulo 1 - EPISTEMOLOGIA

Para que se fale em subjetividade, faz-se mister falar primeiramente em

objetividade – o seu oposto - tendo em vista a historicidade da filosofia ocidental.

Esta em seus primórdios no mundo grego voltou-se para tentar entender o

cosmos e o homem nele inserido e parte integrante. Tanto um como outro

elemento constituíam objetos de estudo e observação. Assim, o ser humano fora

analisado enquanto objeto, e tentativas de elaborar uma compreensão de sua

essência mais íntima.

Inicialmente a filosofia ainda está envolta nos aspectos mítico-religiosos da

época, mas os primeiros e largos passos em busca de explicações racionais

foram dados. Não caberia aqui uma citação dos primeiros filósofos que

precederam Sócrates; todavia, os dois maiores pilares da filosofia grega já da era

socrática – Platão e Aristóteles - carecem de citações específicas, dada a sua

importância e relevância no pensamento ocidental.

O primeiro, Platão (428-347 a.C.), cuja obra é cronologicamente anterior à

de Aristóteles, é praticamente o primeiro a formular uma teoria do conhecimento

(epistemologia1 em termos modernos), ou seja, uma teoria que explique como o

conhecimento das coisas objetivas se dá. Para esse filósofo o mito ainda está

muito presente em sua epistemologia, visto que vale-se do mesmo para justificá-

la.

Platão expõe que há a existência de um mundo supra-sensível que ele

denomina mundo das idéias perfeitas e imutáveis (eis um ponto de concordância

com a aplicação do mito). Nesse plano estão contidas todas as idéias em sua

forma de perfeição de todos os objetos de existência temporal no mundo. Em

outras palavras, no mundo das idéias estão as essências puras, enquanto que no

mundo terreno, os sentidos apenas captam uma pálida recordação das idéias

perfeitas. Portanto, para Platão, aprender é recordar (ZILLES, 73).

1 A partir de Kant, o problema do conhecimento tornou-se um problema central. É em sua época,

que surge uma disciplina própria chamada “epistemologia”. Nela estuda-se, de modo especial, o sujeito cognoscente. (Zilles, 127).

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Já Aristóteles (384-322 a.C), embora tenha sido discípulo de Platão, irá

discordar totalmente de seu mestre, descartando totalmente a idéia desse mundo

ideal, como também, não fazendo mais referência aos mitos. Para esse filósofo, o

mundo dos objetos é real e pode ser apreendido primeiramente pelos sentidos e,

em um segundo momento, pelo intelecto. Segundo ele, o homem nasce

completamente desprovido de qualquer conhecimento, daí a sua expressão

“tabula rasa”, isto é, não traz consigo nenhuma reminiscência de idéias anteriores,

conforme preconizado por Platão.

A primeira via de acesso do conhecimento se dá pelos sentidos, que

apreendem a realidade e dentro de um processo interno de intelecção, poderá,

então, o homem entabular os respectivos conceitos.

Não obstante as diferenças entre Platão e Aristóteles no tocante às formas

de conhecimento do mundo, o ponto comum entre os dois constitui que ambos

são objetivos, sem que haja preocupações com a questão da subjetividade. As

respectivas filosofias ao se referirem ao homem, sempre o fazem em sua forma

universal e essencialista, sem quaisquer direcionamentos para o homem

existencial e concreto, particular e singular, que vive na temporalidade.

As teses desses dois filósofos estão expostas aqui de forma absolutamente

sintéticas e restritas, citadas apenas à guisa de ilustração, a fim de que um roteiro

da história da epistemologia seja brevemente traçado, possibilitando uma

compreensão do movimento da filosofia.

As teses platônica e aristotélica continuaram sendo estudadas e

comentadas por filósofos do mundo helênico ainda na Antiguidade e com o

advento do Cristianismo, este embasou seus pontos doutrinários principalmente

nesses dois filósofos, entre outros. Assim, da Antiguidade à Idade Média, verifica-

se o surgimento e o desenvolvimento da Patrística e da Escolástica. Estas duas

correntes do pensamento cristão, a fim de fundamentar doutrinas a respeito de

Deus, anjos, homem, pecado, paraíso, etc., valer-se-ão dos pensadores acima

citados, procedendo às devidas adaptações da visão pagã para a visão cristã

que se apresentava.

No entanto, retomando a questão da objetividade que está em foco no

momento, toda a filosofia medieval também é completamente objetiva,

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essencialista e universal, sem quaisquer espaços ainda para o chamado homem

individual e singular, ou seja, o homem subjetivo.

Retomando esta linha do tempo, chega-se ao século XIV com o declínio da

Idade Média e surgimento do Renascença, a qual retoma valores culturais,

artísticos e religiosos do mundo greco-romano, em oposição às normas impostas

pela Igreja. Além dessa recuperação do pensamento greco-romano, a

Renascença também foi pródiga na elaboração de novas formas estilos de vida,

tendo em vista o desenvolvimento do comércio, as descobertas científicas, as

grandes navegações, a formação e ascensão de uma nova classe social – a

burguesia - a criação de sistemas financeiros, etc. Paralelamente e

conseqüentemente o pensamento filosófico também irá sofrer grandes alterações.

Dessa forma, no século XVI vamos encontrar a figura do filósofo René

Descartes, que inaugurou uma nova época na filosofia, vindo a ser o pai da

filosofia moderna (ZILLES, 129). Podemos considerar que a partir de Descartes a

questão da subjetividade começa a ter lugar.

Esse filósofo, dentro do contexto de sua época, coloca em xeque toda a

tradição filosófica da qual era herdeiro2 e se vale, portanto, da dúvida a fim de

começar toda a sua reflexão de um ponto zero. Inicialmente questiona a validade

das informações que nos chegam através dos sentidos, os quais podem nos

enganar, para chegar às idéias claras e distintas, que são soberanas enquanto

critérios de verdade. Aqui encontra-se o primado da razão! A razão é um

elemento interno no homem, portanto subjetivo. A razão cartesiana constitui-se

como um árbitro para identificar a verdade, portanto há o surgimento de mais uma

escola do pensamento – o racionalismo.3

Esta escola mostra que para conhecer a verdade a única norma válida é a

razão, sem que haja necessidade de recorrer à experiência do mundo dos fatos.

Dessa forma, este método também poderia ser chamado de apriorístico. (Idem,

128-129).

Ora, a razão está vinculada ao ato de pensar, daí a origem do cogito

cartesiano (eu penso) e, se eu penso, necessariamente, existo. Dessa forma, este

2 Descartes foi educado nos moldes da Filosofia Escolástica.

3 Paralelamente ao racionalismo encontra-se o empirismo, diametralmente em oposição àquele,

pois sua norma de verdade é a apreensão do mundo dos fatos, através dos sentidos, sendo, portanto, aposteriorístico. (Idem, 128)

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postulado caracteriza como elemento fundamental a própria razão que é interna

ao sujeito, portanto há um deslocamento da objetividade para a subjetividade,

modificando radicalmente a epistemologia dos antigos e dos medievais, que

estava, até então, em plena aceitação.

Cabe aqui, a título de ilustração para uma melhor elucidação da origem do

pensamento voltado à subjetividade, através de Descartes, uma citação de

Urbano Zilles:

Com sua reflexão sobre a dúvida, em busca de um

fundamento novo e incontestável para o conhecimento

humano, descobre a subjetividade no sentido moderno da

palavra. Essa descoberta revoluciona toda a filosofia

moderna e determina uma nova era no pensamento

filosófico. A descoberta cartesiana da subjetividade

moderna é como uma gigantesca cortina de ferro a dividir a

história da filosofia em duas grandes metades, i. é, os

filósofos antigos e medievais ficam do lado de lá, e do lado

de cá toda inteira a modernidade. (ZILLES, 138) – grifos

meus.

A citação acima por si só justifica o que foi dito anteriormente quanto ao

fato de Descartes ter sido o pai da Filosofia Moderna, como também o início de

todo um filosofar voltado para a subjetividade. A partir deste momento, a razão é

o sujeito e o mundo é o objeto; assim, a Filosofia poderá falar de sujeito e objeto e

não mais de uma forma unilateral como fazia anteriormente, conforme o seu

caráter apenas objetivo.

Mas a importância do pensamento cartesiano não está limitada apenas à

questão da subjetividade, do método e da dúvida como ponto de partida para

chegar à verdade; há também a questão do dualismo, tema que gera divergências

de opiniões até a contemporaneidade, não apenas entre o pensamento filosófico,

mas entre algumas ciências de um modo geral.

A questão do dualismo pode ser assim definida: a composição do homem é

feita de duas substâncias distintas: a primeira – res extensa – é aquela que pode

ser medida, dada a sua materialidade e finitude: o corpo físico; a segunda – res

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cogitans – é aquela que não há como ser medida dado o seu caráter imaterial e

imortal: a alma (mente).

Esta dualidade permeia todo o pensamento ocidental e constitui objeto de

debates entre os filósofos contemporâneos4 (monistas, dualistas, materialistas,

funcionalistas, emergentistas, etc.), como também na Medicina que estuda o ser

humano, quer em um aspecto (físico), quer em outro (mental), sem considerar o

homem como um todo. Ainda sob este aspecto, há que se destacar os estudos

das Neurociências, alguns com enfoques monistas e outros com enfoques

dualistas.

Porém, voltando a percorrer a História da Filosofia, há que se fazer

referência ao empirismo5 e a sua oposição ao racionalismo. Observando a

premissa epistemológica empirista, verifica-se que esta coloca que as idéias que

conhecemos são provenientes de nossas percepções sensoriais, conforme a

proposição feita por John Locke (1632-1704).

Segundo tal premissa, o processo de conhecimento é proveniente tão

somente da experiência, o qual é adquirido, em um processo dinâmico, em

contato com o meio físico e social, através dos sentidos.

Assim sendo, Locke está em oposição ao racionalismo cartesiano, pois

para ele o intelecto apenas pode pensar, depois da recepção dos dados

fornecidos pela experiência sensorial; isto significa que os sentidos fornecem ao

intelecto as idéias que facultam a possibilidade de pensar. Conseqüentemente, o

ponto de partida deixa de ser o sujeito cognoscente – contrariamente à posição

de Descartes – mas antes as informações provenientes do meio exterior.

Considerando o exposto, vê-se que o empirismo acentua fortemente o

papel do ambiente externo, ao negar, veementemente qualquer possibilidade de

conhecimento a priori, com a sua afirmação categórica de que uma pessoa ao

nascer é uma tabula rasa (aqui uma retomada a Aristóteles), isto é, como uma

folha de papel em branco, que vai recebendo todo o material de conhecimento

exclusivamente pela experiência. Essa afirmação engloba que a partir daí (da

experiência), é que o intelecto passa a refletir suas próprias operações,

aumentando o seu acervo intelectual, permitindo que haja recordações,

4 O debate entre monismo e dualismo estende-se até a Filosofia Contemporânea.

5 Vide nota nº. 3.

15

raciocínios e a continuidade para outras faculdades relativas às reflexões sobre a

realidade.

Ainda dentro do âmbito do empirismo, faz-se necessária uma referência à

obra de David Hume (1711-1776). Para este filósofo, os conteúdos da mente são

percepções que são divididas em dois tipos: (1) impressões e (2) idéias.

Embora as percepções englobem as idéias e as impressões, estas chegam

à mente com força e vivacidade, compreendendo as sensações, paixões e

emoções. Já as idéias, sobretudo aquelas que podem ser consideradas simples,

têm semelhança com as impressões, todavia são mais fracas que aquelas.

Dessa forma, o pensamento humeano apresenta um aparato de

duplicidade em relação às percepções (1) em primeiro lugar elas são sentidas e

(2) em segundo lugar elas são pensadas como idéias, daí a sua proposição

acerca da diferença entre sentir e pensar. Não obstante, as idéias que conservam

um grau maior de vivacidade das impressões originais, pertencem à categoria da

memória, enquanto que as outras (em grau menor de vivacidade), pertencem à

imaginação.

Resumidamente, David Hume coloca em primazia a percepção enquanto

elemento captador do conhecimento, uma vez que aquilo que se apresenta à

mente é o fenômeno, e não a coisa-em-si, do qual está separado.

Sobre esta temática, entra-se na obra de Imanuel Kant (1724-1804), que

sofreu influências do empirismo e, de um modo especial, pelo pensamento de

David Hume; no entanto, Kant tenta superar o dogmatismo racionalista e o

ceticismo empirista através de uma posição própria: o criticismo (ZILLES, 145),

como o seu sistema epistemológico6.

A investigação kantiana é absolutamente rigorosa e procura determinar os

limites da razão naquilo que se refere aos conhecimentos de um modo geral;

admite ainda que o conhecimento não é regido pelos objetos, mas sim os objetos

são regidos pelo conhecimento. Como pode ser visto, há aqui uma inversão da

perspectiva empirista e Kant denomina esse campo de investigação de

transcendental, referindo-se com esse termo, a tudo o que já está no sujeito do

conhecimento. Inclusive esse termo também se refere às estruturas da

sensibilidade e do intelecto. Tais estruturas são a priori e próprias do sujeito, mas

6 Vide explicação do termo epistemologia na nota nº. 1.

16

nunca são inerentes ao objeto; na realidade, são condições que possibilitam a

experiência do objeto, considerando que o modo originário do conhecimento é a

intuição.

Portanto, a intuição7 é o instrumento para o conhecimento do objeto,

ressaltando que o objeto é intuído no espaço e no tempo, constituindo-se em

fenômeno8, uma vez que está limitado à espacialidade e à temporalidade, ainda

em caráter indeterminado. Para que um objeto possa ser determinado é

necessário que haja um ato de união (ou síntese) das diversas representações

desse mesmo objeto em uma certa unidade.

Assim sendo, para esse pensador, o objeto não pode ser conhecido de

forma total, mas tão somente o que aparece ao sujeito enquanto fenômeno, isto é,

o múltiplo no espaço e no tempo. O objeto – “a coisa em si”9 – encontra-se em

oposição ao fenômeno, portanto é impossível ter o seu conhecimento pleno, visto

que está além de qualquer experiência possível.

Concluindo este breve esboço do pensamento kantiano, depreende-se que

este retoma a subjetividade, embora de forma diversa daquela postulada por

Descartes, considerando também uma interrupção nesse sentido, pela

objetividade postulada pelo empirismo.

Na seqüência deste roteiro da história da epistemologia, cabe também uma

referência ao pensamento de Friedrich Nietzche (1844-1900), notadamente no

que se refere ao perspectivismo e a sua importância para o existencialismo de um

modo geral, como também, em especial, para a fenomenologia.

Por ser o existencialismo um sistema filosófico que se opõe à filosofia

essencialista das épocas antecedentes, este sistema parte exatamente da

existência contingente do ser humano, enquanto ser individual e objeto de estudo;

daí o postulado existencialista de que a existência precede a essência, ou seja,

significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo e que

só posteriormente se define.

7 Há indicativos que a “intuição” kantiana assemelhe-se à “atitude pré-reflexiva” (perceptiva) de

Merleau-Ponty. 8 O conceito de “fenômeno” constitui um elemento importante para os objetivos deste trabalho,

posto que será abordado em capítulos seguintes com maiores detalhes. 9 O conceito de “coisa-em-si” constitui outro elemento de importância, o qual, juntamente com o

apontado na nota anterior, constituem pontos de fundamental importância na Filosofia Clínica.

17

Dessa forma, ao se observar o pensamento de Nietzche verifica-se que

ele, antecedendo os parâmetros existencialistas, chega a radicalizar a crítica

iniciada por Hume no que se refere à primazia da percepção, visto ser esta o

elemento que capta o fenômeno exterior; essa radicalização também abrange a

crítica de Kant, dadas as suas proposições relativas às limitações do

conhecimento, visto que este abrange tão somente o fenômeno, isto é, aquilo que

se apresenta aos sentidos.

Na obra de Nietzche encontra-se o privilegiamento do corpo sobre o

espírito, da aparência sobre a essência, como também o primado da

subjetividade. Ora, tais elementos são os pontos de oposição às filosofias

anteriores, conforme acima descrito; elementos esses que também comporão o

quadro teórico da fenomenologia.

Assim, ao se tomar o perspectivismo nietzchiano, verifica-se como ponto

de partida a constatação de que o homem é um ser que julga, em outras palavras,

é um animal que pratica atos de aferição de tudo, como também o seu olhar é

sempre um juízo. Portanto, constitui erro crer que para cada coisa particularmente

deve haver apenas um único conceito que a definiria por excelência. Dessa

forma, tendo em vista o julgamento que é inerente ao ser humano, esse

julgamento do mundo implica, evidentemente, em uma avaliação, que leva em

consideração os impactos que os objetos externos exercem sobre os homens;

impactos esses, definidos por Nietzche, como sensações graduadas de prazer e

de dor que acompanham a apreensão desses mesmos objetos. São esses

sentimentos que moldam as perspectivas e as interpretações que o homem faz

das coisas.

Dessa forma, restam apenas olhares em perspectiva diante dos elementos

empíricos, não havendo, portanto, possibilidade de um conhecimento essencial e

uno dos citados elementos. Em outras palavras, pode ser dito também que o ser

humano apenas apreende o fenômeno (nunca a sua essência) sob variadas

formas, segundo a perspectiva do seu próprio olhar subjetivo.

Considerando pois, a proposição perspectivista nietzchiana, que tem suas

raízes no empirismo cético de Hume e na criticismo de Kant, caminha-se para a

idealização do pensamento existencialista e, conseqüentemente para a

18

fenomenologia, enquanto sua vertente, conforme a abordagem a seguir

apresentada.

Capítulo 2 - A FENOMENOLOGIA

Iniciando este capítulo, convém definir o que significa exatamente

fenomenologia etimologicamente. De uma maneira objetiva, esse termo tem por

significado “o estudo do fenômeno”, ou seja, “tudo o que aparece, que se

manifesta ou se revela”. Originariamente este termo referia-se apenas ao que

tinha existência exteriormente, isto é, fenômenos físicos. No entanto, passou a ter

outra conotação de significado posteriormente, no sentido de ser uma aparência

enganosa que se opõe à realidade. Com relação a esta última colocação, convém

lembrar o que já foi dito anteriormente no que se refere à filosofia platônica de que

o que os sentidos captam do mundo exterior são pálidas recordações da

realidade, ou seja, segundo Platão, o fenômeno (externo) não dá possibilidades

de um conhecimento total e absoluto do real. Em contrapartida, Aristóteles irá

privilegiar o conhecimento obtido através dos sentidos, pois atribui um caráter de

evidência empírica (realidade) aos objetos externos (fenômenos).

No decorrer da história, alguns pensadores voltados à questão da

cognoscibilidade da realidade vão admitir que o mundo externo (objetivo) pode

ser conhecido através de nosso aparato sensível, enquanto outros dirão

exatamente o contrário, isto é, os fenômenos não fornecem informações plenas e

precisas sobre o que é realmente o real.

Retomando Platão, encontra-se a sua afirmação de que o sensível

(fenômeno) está em oposição ao mundo inteligível. Por outro lado, Protágoras

(anterior a Platão), determina que há como conhecer o fenômeno, no entanto, é

impossível conhecer o que está atrás dele, aquilo que se oculta. Esta oposição

entre aparência e ser não existe para Aristóteles (cf. dito acima), como também

para Tomás de Aquino (na Idade Média).

Há que se salientar que essa separação entre o fenômeno (aparência) e o

próprio ser em si, encontra plena vigência em toda a Filosofia Moderna, como por

exemplo, em David Hume onde o “fenômeno é objeto do nosso conhecimento, no

entanto está separado da coisa-em-si”. Recapitulando Kant, encontra-se a nítida

separação entre a coisa-em-si e o fenômeno apresentado.(ZILLES, 158).

19

Cabe aqui, apenas a título de ilustração, uma recapitulação do pensamento

kantiano, em concordância com o pensamento humeano, acerca da limitação do

conhecimento humano. A variante de Kant no que se refere a essa limitação, está

embasada nas categorias a priori próprias do sujeito cognoscente, que

determinam que os objetos são regidos pelo conhecimento que o sujeito tem

deles, e não o seu inverso. Assim, tais categorias mentais é que determinariam “o

quanto” do objeto pode ser conhecido, pois o conhecimento total objetivo é

impossível, restando apenas a apreensão cognitiva do fenômeno. Tal se deve ao

postulado que todo objeto empírico encontra-se em condicionamento espaço-

temporal.

Não obstante às nítidas diferenças entre o pensamento fenomenológico e o

pensamento kantiano, a noção de fenômeno figura como elemento fundamental

da epistemologia dessa corrente filosófica – a fenomenologia – iniciada por

Edmund Husserl.

.2.a. - EDMUND HUSSERL

Este filósofo (1859-1938), considerado o pai do movimento fenomenológico

contemporâneo, recusa-se a aceitar que o fenômeno (aquilo que aparece) não

seja a verdadeira coisa. Interessa-se Husserl pelo puro fenômeno da forma como

ele se torna presente à consciência, dando, assim, um caráter mais subjetivo ao

termo fenômeno. Diz ainda Husserl, que o sentido do ser e do fenômeno são

inseparáveis (ZILLES, 159).

Em reforço ao acima exposto, cabe uma citação de Zilles, acerca da

fenomenologia husserliana:

A fenomenologia husserliana pretende estudar, pois, não

puramente o ser, nem puramente a representação ou

aparência do ser, mas o ser tal como se apresenta no

próprio fenômeno. E fenômeno é tudo aquilo de que

podemos ter consciência, de qualquer modo que seja.

Fenomenologia, no sentido husserliano, será pois o estudo

dos fenômenos puros, ou seja, uma fenomenologia pura.

(Idem, 160).

20

Prossegue Husserl dizendo que a tarefa da fenomenologia consiste em

estudar a significação das vivências da consciência, chamando a atenção para o

mundo interior, o qual ele chama de transcendental (o mundo exterior, é chamado

por ele de transcendente)10. Assim, a sua proposta é uma exploração do mundo

interior – da consciência transcendental, não apenas enquanto um estudo relativo

tão somente às representações do ser e tampouco um estudo do ser em si

mesmo, mas uma abordagem do “ser tal como e enquanto se apresenta à

consciência como fenômeno”. (ZILLES, 160).

Há que se destacar que Husserl pretende uma volta às essências, porém

com uma coloração diferente daquela concepção de essência que os antigos e

medievais tiveram (cf. abordado anteriormente). Esta volta às essências, neste

novo contexto husserliano, tem uma conotação completamente distinta, pois

volta-se para a existência concreta e real de cada ser humano em seu aspecto

singular e particular (não mais ao homem ideal, conforme preconizado pelas

filosofias precedentes).

Isto significa que quando alguém capta um fato do mundo exterior

(transcendente), capta simultaneamente a sua essência respectiva. Passando

esta captação para o plural, quando se depara uma variedade de elementos

semelhantes, capta-se a essência comum a eles, dado que há o reconhecimento

de que há algo em comum nos elementos apreendidos.

Novamente cito Zilles, em confirmação ao exposto, como também, em

ampliação ao conceito de essência em Husserl:

No fato, portanto, captamos sempre uma essência. As

essências são as maneiras características do aparecer dos

fenômenos. Não são resultados de uma abstração ou

comparação de vários fatos. Para poder comparar vários

fatos singulares, já é preciso ter captado uma essência, ou

seja, um aspecto pelo qual eles são semelhantes ... As

essências são conceitos, isto é, objetos ideais que nos

permitem distinguir e classificar os fatos. (Idem, 161) –

grifos meus.

10

Faço esta observação entre parênteses, a fim de que não haja confusão entre os termos – transcendente e transcendental - quanto aos seus significados e objetivos.

21

Não obstante esta valorização do subjetivo e da consciência individual,

Husserl mostra que o ponto de partida para todo e qualquer conhecimento é o

fato dado (transcendente). No entanto, além deste dado externo, está a evidência

intelectual, ou seja, a intuição da idéia da coisa, que também é dada à

consciência.

Prosseguindo nestes brevíssimos comentários sobre a filosofia de Husserl,

pode-se dizer que a Fenomenologia pretende ser uma filosofia das essências e

não dos fatos externos (lembrando o que já foi dito, que por fenômeno entende-se

aquilo que se apresenta). Eis como Urbano Zilles apresenta esta proposição:

[A Fenomenologia] ... é a ciência de experiência, que

descreve os universais que a consciência intui quando se

lhe apresentam os fenômenos.11

(ZILLES, 162).

Além dessa proposição, que se recordar também, que há uma base

cartesiana no pensamento de Husserl, no que se refere ao sujeito cognoscente,

ou seja, a base do conhecimento não se encontra mais na objetividade (cf.

Descartes), mas no sujeito que conhece (cogito). Embora Husserl não negue em

nenhum momento o real e o transcendente, a sua base filosófica está na

subjetividade, onde os dados naturais e as respectivas essências são dadas à

consciência (subjetiva e individual), chamando a atenção para o transcendental

com vistas à significação das vivências dessa mesma consciência.

Dessa forma, encontra-se na obra epistemológica de Husserl, dados

bastante originais em relação ao pensamento filosófico anterior, onde essência e

existência caminham lado a lado, sem que haja o privilégio da primeira sobre a

segunda (cf. visto nas filosofias antiga e medieval), não obstante o existencialismo

colocar a existência como elemento totalmente precedente (a existência precede

a essência); este novo paradigma apresentado, onde a essência comum aos fatos

é intuída a partir dos dados dos fenômenos – particulares, singulares e temporais

– constitui um dos pilares da corrente fenomenológica, não obstante outros

direcionamentos venham a ser dados durante o curso da História.

11

Relativamente a este aspecto da consciência que intui diante da apresentação dos fenômenos,

ver-se-á algo similar na Fenomenologia de Merleau-Ponty no tocante à atitude pré-reflexiva perante os fatos.

22

Entre esses direcionamentos de base husserliana, está o pensamento de

Maurice Merleau-Ponty, que será abordado a seguir.

.2.b. - MAURICE MERLEAU-PONTY

O sistema filosófico elaborado por este filósofo (1908-1961) possui uma

base de sustentação voltada para o pensamento de Husserl, não obstante haver

nítidos pontos de originalidade em seu pensamento, porém dentro da perspectiva

fenomenológica.

Em linhas bastante gerais, pode-se afirmar que Merleau-Ponty apresenta

uma desconfiança em relação às ciências empíricas, inclusive com relação à

filosofia, que buscam antes de tudo explicar e analisar o mundo, para,

posteriormente, submeter esse mesmo mundo a seus esquemas paradigmáticos.

Portanto, segundo esse filósofo, as ciências e principalmente a filosofia deveriam

ter como preocupação última tão somente descrever o mundo. Assim, a filosofia

merleau-pontyana voltar-se-á para o regresso às próprias coisas, ou seja, voltar-

se-á ao mundo como ele é antes de qualquer conhecimento, posto que é do

conhecimento que costumeiramente se fala. Merleau-Ponty coloca uma filosofia

de oposição, portanto.

Com foi visto em páginas anteriores quando colocações acerca da filosofia

de Descartes foram apresentadas, há o primado da razão e o respectivo cogito

(penso) cartesiano, para a partir dele chegar-se à noção de existência – penso,

logo existo12. Em Merleau-Ponty esta proposição é colocada de forma contrária,

que poderia ser denominada: existo, logo penso. De igual forma, o mundo está

sempre lá, isto é, tem sua existência antes que haja qualquer conhecimento dele,

ou seja, ele precede (em sua existência) toda a forma de conhecimento.

Assim, ao tirar o primado da razão cartesiano, Merleau-Ponty outorga esse

primado à percepção. Esta será a base do seu pensamento, considerando a

existência sempre precede o pensamento reflexivo a respeito dela. A existência

da existência é um fato indiscutível, que com uma atitude reflexiva sobre ela ou

sem esta atitude, o mundo estará sempre presente.

12

Esta é a primeira certeza de Descartes. A partir da noção de que eu penso, chega-se à noção de que eu existo.

23

Partindo desse pressuposto a sua investigação estará dirigida para um

campo primordial da atitude pré-reflexiva diante do mundo e, nesse campo

primordial não há distinção nítida entre sujeito e objeto, ou ainda entre

consciência e mundo. Sendo destituído o primado da razão cartesiano, Merleau-

Ponty ao introduzir o primado da percepção, quebra a dicotomia proposta por

Descartes acerca das duas diferentes substâncias que compõem o homem:

matéria e mente13. A racionalidade para ele está na relação que o homem tem

com o mundo, com o seu próprio corpo, enquanto ser encarnado.

Este é um grande diferencial em sua filosofia – a noção de corpo. Para ele,

pode ser utilizada esta expressão: eu sou o meu corpo. Evidentemente, a noção

de homem como apresentada pelos antigos e pelos medievais, diante desse

conceito, fica completamente descartada. Há que se lembrar que Merleau-Ponty é

um fenomenólogo, que por seu turno, tem suas raízes no existencialismo,

portanto, busca elementos dentro da subjetividade e da singularidade.

É através do corpo que é possível ter um saber do mundo; é através do

corpo que é possível atentar para como os objetos se configuram para nós

enquanto desejos, movimentos, etc. Apenas o corpo pode proporcionar a visão da

percepção que percebe todo o saber intelectivo.

Portanto, as noções de corpo e de percepção são importantíssimas para a

compreensão do pensamento merleau-pontyano, considerando a íntima relação

entre ambos para apreensão do objetivo, do externo.

A fim de que haja uma compreensão mais clara do exposto, uma

exemplificação se faz necessária: quando eu me movimento dentro de um

determinado espaço, o meu corpo “sabe” de forma ainda não reflexiva, o que é

um espaço, pois ele habita em um espaço e também se movimenta nele. A partir

deste exemplo, depreende-se o que o filósofo quis dizer com atitude pré-reflexiva.

Assim, conforme o exemplo, o corpo “saber” o que é um espaço, não houve

necessidade de que nenhum filósofo ou cientista explicasse dentro dos critérios

racionais o que é um espaço. A própria percepção do espaço constitui uma “forma

de conhecimento” diferente daquela preconizada pela corrente racionalista, na

qual toda a ciência se funda. Dessa forma, percebe-se o mundo, antes de ser

teorizado racionalmente.

13

Res extensa e res cogitans, respectivamente, segundo o pensamento de Descartes.

24

Cabe neste ponto uma referência ao perspectivismo de Nietzche, onde o

corpo tem primazia sobre o espírito, assim como a aparência sobre a essência,

sob a égide da subjetividade. Além disso, o homem ao perceber o mundo, lança

sobre ele um olhar de julgamento14 que considera os impactos que o externo

exercem sobre ele, segundo sua perspectiva subjetiva própria, sem o

embasamento em teorizações racionais prévias.

Indo adiante do pensamento nietzchiano, o corpo para Merleau-Ponty, é a

integração entre o fisiológico e o psicológico sem qualquer dicotomia, como fora

observado na concepção cartesiana do homem. A proposta merleau-pontyana

para corpo enquanto a integração acima citada é denominada como corpo-sujeito

que é uma unidade indissolúvel no sentido de ser uma potência de agir, de

perceber, de comportar-se, antes de ser um eu penso. Por ser potência, pode ser

designado como eu posso.

Retoma-se aqui a noção da atitude pré-reflexiva15 mencionada

anteriormente, pois essa atitude é anterior a qualquer reflexão sobre o fenômeno,

pois o corpo enquanto corpo-sujeito diante de quaisquer fenômenos atribuirá

imediatamente o seu significado16 para si próprio (subjetivo), antes das análises

feitas quer pela filosofia, quer pelas demais ciências acerca do mesmo fenômeno.

Daí a afirmação do filósofo dita no início de que a filosofia deveria se preocupar

simplesmente com a descrição e não com a análise.

Assim sendo, afirma o filósofo que a ciência se fundamenta na percepção

que os sentidos têm do mundo, portanto, tem suas raízes fincadas no sensível; no

entanto, esse elemento de informação fica relegado, diante da construção

intelectiva que se faz no âmbito das referidas informações.

Os fenômenos que são percebidos pelos sentidos, ainda dentro do

contexto das atitudes pré-reflexivas (âmbito da percepção), o são de uma forma

de conjunto e nunca isoladamente. É um todo articulado, que pode ser

denominado como a forma que cada elemento se integra aos outros. É a gestalt,

onde figura e fundo estão em harmonia, portanto é um todo articulado e não

apenas a soma das partes.

14

Em Merleau-Ponty fala-se, para esta circunstância, em atribuição de significados. 15

Vide paralelo entre a intuição da consciência diante dos fatos segundo Kant e a atitude pré-reflexiva de Merleau-Ponty, conforme nota nº. 7. 16

Vide nota nº. 14.

25

Portanto, dentro do primado da percepção não há ainda como estabelecer

conceitos definidos que são frutos da análise reflexiva; a conceituação apenas

limita tudo aquilo que poderia ser dito do fenômeno (ou do mundo) de uma forma

mais ampla, não obstante, segundo o pensamento de Merleau-Ponty, o mundo

não se deixa apreender como absoluto, mas tão somente pelos fenômenos.

Dentro dessa abordagem perceptiva há que salientar também a questão do

comportamento diante dos fenômenos. Os fenômenos que originam

comportamentos têm sempre intenções e sentidos. Diante de cada fenômeno,

automaticamente o sujeito atribui um significado e um sentido para ele, em

conformidade com a situação em que este mesmo sujeito está no mundo. Sendo

o sujeito um ser encarnado dentro do mundo, necessariamente esse aspecto

situacional permite a atribuição de significado para aquilo que ele contempla (ou

percebe).

Em conclusão acerca destes breves enunciados relativos à filosofia de

Merleau-Ponty, cumpre o destaque à noção de percepção em oposição à noção

de razão clássica, conforme pensadores anteriores. Estes enunciados abordam a

importância da percepção nos atos cognitivos, inicialmente dentro de uma

perspectiva pré-reflexiva para uma posterior análise reflexiva (nota-se aqui um

contexto de ordem temporal entre a percepção e a reflexão). Abordam ainda a

íntima relação entre o sujeito cognoscente e o mundo exterior dos fenômenos,

onde é descartada a hipótese da dicotomia entre um e outro. Importante também

é a referência à noção de comportamento merleau-pontyana, a qual é

determinada segundo a atribuição dos significados e dos sentidos que o sujeito

atribui.

Esta questão de atribuição de significados e a ausência de dicotomia entre

o sujeito e o mundo (objetos) são os elementos que são considerados na clínica

filosófica no tocante aos tópicos 1 (como o mundo se parece) e 2 (o que acha de

si mesmo), pois o partilhante, a partir dos fenômenos vividos em sua existência,

estará atribuindo significados segundo sua própria percepção subjetiva,

independentemente de conceitos ou racionalizações já previamente estabelecidos

pelas ciências empíricas ou pela própria filosofia.

Capítulo 3 - A FENOMENOLOGIA DE

26

MERLEAU-PONTY E A FILOSOFIA CLÍNICA

.3.a. - A FENOMENOLOGIA ENQUANTO MÉTODO DE TRABALHO

A Filosofia Clínica não possui uma abordagem metodológica específica de

trabalho, que privilegia um determinado pensador ou uma determinada corrente

filosófica, conforme já foi dito anteriormente nesta monografia. Há sim, um elenco

de métodos utilizados, segundo a necessidade que se apresenta diante de cada

caso e/ou circunstância clínica, considerando que este segmento terapêutico é

bastante eclético (AIUB, 2004: 111).

Todavia, há que se ressaltar (novamente nesta oportunidade) que em

termos metodológicos, não obstante as várias correntes de pensamento serem

utilizadas, a metodologia utilizada pelo clínico está calcada na descrição feita pelo

partilhante de seu histórico de vida e, a partir dele, o filósofo clínico entabulará a

compreensão do que foi dito, dentro sempre da ótica desse mesmo partilhante,

com a suspensão de seus juízos prévios, ou seja, não julgará e tampouco

interpretará o conteúdo do que foi narrado. Fica, assim, descartada a colocação

de um método interpretativo, como o faz outras psicoterapias, conforme já

mencionado.

Aliando descrição e compreensão, terá o clínico o seu instrumental de

trabalho, objetivando a ajuda àquele que o procurou. Compreendendo a vida de

seu partilhante, terá esse profissional condições de entender o mundo de

representações e de significados que essa pessoa tem da vida e dos

acontecimentos que vivenciou; de verificar como ela se situou circunstancialmente

dentro desses eventos; como os organizou e ainda o seu modo de agir (ou não)

diante deles.

Cumpre ressaltar novamente que esta modalidade terapêutica não trabalha

com tipologias e/ou patologias, enquadrando o sujeito neste ou naquele

parâmetro tipológico, ou ainda, classificando-o dentro de padrões de normalidade

ou patologia. O método de trabalho em Filosofia Clínica consiste tão somente na

compreensão do universo de representações que o partilhante acumulou durante

a sua existência e, dentro desse universo, ajudá-lo a encontrar alívio para aquilo

27

que o incomoda, conforme suas próprias possibilidades e modos pessoais de

ação.

Dois pontos são fundamentais dentro do método compreensivo adotado em

clínica: o primeiro é uma noção clara do que seja subjetividade e o segundo,

igualmente, um conhecimento adequado das representações do partilhante.

Tendo esses dois pontos incorporados ao seu sistema de trabalho, poderá o

filósofo clínico iniciar sua atividade.

Nessa questão metodológica, se forem tomados como fundamentos

teóricos as filosofias essencialistas e objetivas como único critério de abordagem,

a Filosofia Clínica perderia o seu referencial específico, vindo a ter uma atitude

terapêutica similar às da Psicologia e da Psicanálise, tratando o sujeito como um

objeto, dentro de padrões específicos de normalidade ou tipologias já previamente

estabelecidos. O sujeito passaria a ser um objeto de uma avaliação, conforme as

teorias vigentes dentro desses sistemas. A subjetividade pessoal, única, particular

e singular do sujeito não seria levada em consideração. Nesses segmentos

psicoterápicos, o trabalho do terapeuta seria trazê-lo de volta à “normalidade”.

No sentido da abordagem filosófico-clínica, onde, ressalta-se, que a

subjetividade é um fator primordial e fundamental, a fenomenologia de Merleau-

Ponty apresenta importantes contribuições enquanto método de trabalho.

Inicialmente, a própria noção de existência merleau-pontyana que antecede

toda e qualquer reflexão a respeito mais específica, irá nortear preliminarmente o

citado método, pois o clínico tem diante de si, alguém cuja existência é um fato e,

quaisquer reflexões que vierem a ser feitas, tanto por esse alguém, como pelo

terapeuta, serão atitudes a posteriori, posto que a priori, o que importa é que a

existência se afigura de forma clara e distinta, independentemente das reflexões

que foram ou virão a ser feitas.

Prosseguindo, o partilhante antes de refletir o que lhe aconteceu ou o que

lhe incomoda, teve percepções desses eventos enquanto fenômenos que se lhe

apresentaram. O primeiro momento (lembrando que a percepção precede o

raciocínio) foi tão somente de apreensão do fato externo, ou mesmo, de um fato

interno, como um ato de memória, que em seu interior “soube” o que era; aqui

reporta-se à atitude pré-reflexiva preconizada por Merleau-Ponty.

28

Este momento de pré-reflexão é o que proporcionará a reflexão sobre o

ocorrido, como também, o estabelecimento da respectiva representação mental,

ou seja, a atribuição do sentido e do significado desse evento (ou fenômeno).

O olhar atento do clínico, dentro deste paradigma metodológico, terá

condições de compreender a forma como se processou a representação e a

avaliação desse evento na mente do partilhante.

Ora, segundo Merleau-Ponty, o sujeito não é visto como algo isolado sem a

integração com o outro e com o mundo; o corpo é um lugar situacional e é o

veículo da existência. Sendo um local situacional dissipa-se a dicotomia

sujeito/mundo.

Observará o filósofo clínico que o sujeito está em íntima relação com o seu

meio ambiente, atribuindo significados e buscando sentidos dentro dos

respectivos contextos, ainda antes de atitudes reflexivas que poderão vir a ocorrer

posteriormente.

Portanto, em termos metodológicos, essa questão do sentido e do

significado diante dos fenômenos da vida, são ferramentas que o clínico dispõe

para o seu desempenho.

.3.b. – A FENOMENOLOGIA ENQUANTO POSTURA

DO FILÓSOFO CLÍNICO

A exemplo da metodologia fenomenológica merleau-pontyana, o mesmo

critério pode ser aplicado para a postura do filósofo clínico em seu desempenho

em consultório.

Essa postura consiste em ouvir a descrição do partilhante para

compreendê-la sem quaisquer julgamentos e/ou avaliações, conforme já foi dito

anteriormente. Tem em vista o terapeuta, que o partilhante estará narrando para

ele os fatos de sua vida, segundo o seu próprio critério de representação, como

também, de acordo com suas medidas inerentes ao seu modo de pensar. O

âmbito da representação e da medida está fundamentado em Schopenhauer e

Protágoras, respectivamente.

No entanto, a abordagem dos dois filósofos acima que fundamentam

genericamente a questão da subjetividade em clínica filosófica encontra respaldo

29

na fenomenologia de Merleau-Ponty, que poderá auxiliar o seu modo de agir junto

à pessoa que lhe procurou em busca de auxílio para algum problema de ordem

existencial.

O filósofo clínico, da mesma forma que o seu partilhante, é uma pessoa

que está inserida no mundo, é um ser encarnado que vivencia também os

fenômenos que se lhe apresentam e lhes atribui sentido e significado. Neste

patamar, tanto o clínico como o partilhante são seres-no-mundo e projetam-se

para o mundo.

Assim, durante o trabalho terapêutico o clínico manterá uma postura pré-

reflexiva, voltada tão somente para a percepção dos fatos (fenômenos) que lhe

são apresentados via a narração da historicidade. Essas informações,

evidentemente, lhe chegarão através dos órgãos dos sentidos, todavia a sua

postura manter-se-á à moda merleau-pontyana, ou seja, dentro dos parâmetros

apenas da percepção em seus momentos iniciais. Nessa oportunidade,

considerando a narrativa de eventos segundo a representação do partilhante,

naturalmente entrará em contato com a subjetividade e representatividade do

terapeuta, onde residem conceitos já formados e pré-juízos. Aí jaz um ponto

absolutamente nevrálgico, pois se o clínico desviar-se dos parâmetros específicos

da Filosofia Clínica, poderá agendar17 indevidamente, causando problemas, uma

vez que seria a sua representação subjetiva que estaria falando em lugar de

compreender a do partilhante.

Dessa forma, atentando para a posição merleau-pontyana acerca da pré-

reflexão, o clínico sabe que o seu lugar não é de transmitir a sua própria

experiência de vida, ou seja, a sua bagagem vivencial, mas compreender a do

outro. Isto não significa que em nenhum momento da clínica, o terapeuta

permaneça no âmbito da pré-reflexão, pois dentro da compreensão cabe,

evidentemente, a reflexão mais apurada. Mas este é um outro momento da

clínica, onde o filósofo irá agendar adequadamente junto ao partilhante, mas

sempre em conformidade com a sua subjetividade própria.

Sempre dentro da ótica do não julgamento e da não avaliação valorativa, o

clínico manterá a postura de não conceituar o que lhe é apresentado, segundo os

seus padrões de entendimento; aqui entra uma proposta de Merleau-Ponty no

17

Agendar em Filosofia Clínica significa interferir na fala do partilhante.

30

sentido de que o conceito reduz aquilo que poderia ser dito a respeito. E não é

essa a proposta terapêutica da Filosofia Clínica; não há o que reduzir por meio de

conceituações, pois a avaliação e a obtenção de significado cabe ao partilhante

segundo sua subjetividade. A conceituação é um ato da razão e esta apresenta

limitações (conforme Kant), portanto já é um momento posterior à percepção

Apenas a título de ilustração no que diz respeito à conceituação, cito as

tipologias de Jung e Reich. O primeiro conceitua um grupo de “tipos” psicológicos

segundo as atitudes que têm diante do mundo e de si mesmos; há, portanto, uma

tipologia já pré-estabelecida que determinará a sua conduta diante dos

fenômenos. O segundo conceitua os tipos dentro de um esquema de constituição

corporal, que refletem a psique do sujeito, que por seu turno, também determina o

seu agir no mundo.

Independentemente da validade ou não das tipologias acima citadas, este

não é o caminho da abordagem filosófico-clínica, pois no momento da atitude

reflexiva do terapeuta, este agirá em conformidade com o modo de ser do seu

partilhante, pelos mesmos caminhos por ele já trilhados, até que se encontre uma

solução favorável para o seu caso. Portanto, a conceituação em Filosofia Clínica

é totalmente subjetiva e voltada tão somente para a representação da pessoa.

Há que se lembrar que a filosofia de Merleau-Ponty destitui o primado da

razão em favor do primado da percepção; assim, as conceituações que se

estabelecem segundo padrões de racionalidade ficam para este outro momento,

conforme dito acima, mas sem quaisquer relações lógicas de causa e efeito

dentro de paradigmas já estabelecidos conforme apresentado nas duas tipologias

acima.

Observa o clínico que o seu partilhante, evidentemente, apresenta

condutas e comportamentos que lhe são próprios, todavia, enxergá-los-á à luz de

uma estrutura, conforme diz Merleau-Ponty, que tem intenções e sentido.

.3.c. - A FENOMENOLOGIA E OS EXAMES CATEGORIAIS

- Categorias CIRCUNSTÂNCIA E LUGAR -

31

A forma de abordagem da Filosofia Clínica está montada sobre três

grandes eixos18, a saber: (1) Exames Categoriais; (2) Estrutura de Pensamento e

(3) Submodos Informais19.

A definição de Exames Categoriais pode ser vista na citação a seguir,

conforme Aiub:

Os Exames Categoriais têm por objetivo localizar

existencialmente a pessoa, ou seja, conhecer o universo no

qual ela está inserida, a realidade na qual vive: sociedade,

cultura, educação, linguagem, hábitos, valores, enfim todas

as referências a seu contexto (AIUB, 2004: 64-65).

Esses exames levam o nome de categoriais posto que estão embasados

nas categorias estabelecidas por Aristóteles e Kant; o primeiro nos mostra que as

mesmas constituem o predicado das coisas, enquanto que o segundo afirma que

elas são os conceitos existentes a priori no sujeito, permitindo que o

conhecimento se estabeleça e, paralelamente, limitam esse mesmo

conhecimento, tendo em vista a impossibilidade do acesso ao noumenon (a coisa

em si, conforme já abordado na epistemologia kantiana), mas apenas ao

fenomenon (dado o caráter limitador das categorias).

São cinco as Categorias de Exames20, mas esta monografia contempla

apenas duas: (1) Circunstância e (2) Lugar, considerando o seu objetivo último.

.3.c.1. - Categoria CIRCUNSTÂNCIA

Nesta categoria há a observação do universo em que a pessoa está

inserida: o local onde vive; cultural do local e da época; vivências já passadas;

rotinas; enfim pontos que traçam o que está em torno do partilhante.

Na seqüência, um exemplo através de um caso hipotético:

Tenho atualmente trinta anos, nasci em uma

grande metrópole e sou filha única de pais

relativamente instruídos, mas que primam pelo

18

Vide apêndice relativo a estes eixos. 19

Este eixo não está contemplado nesta monografia. 20

Conforme apêndice.

32

conhecimento intelectual. Quando eu tinha menos

de um ano de idade eles se divorciaram, mas

mantiveram um bom padrão de convivência,

sobretudo em relação à minha educação.

A despeito da separação deles, considero que tive

uma infância feliz, pois tinha minhas vontades

satisfeitas (tanto as materiais como as afetivas)

tanto de um como de outro.

Fui alfabetizada ainda em casa pelo meu pai e

alguns “retoques” dessa alfabetização foram

dados por minha mãe, que mantinha um ritmo de

trabalho bastante acelerado. Meu pai, embora um

homem muito ocupado, sabia dividir o tempo

entre os seus afazeres e eu.

Chegou o momento de ir à escola, aliás, a pré-

escola e eu estava muito ansiosa por esse

momento, que finalmente chegou.

Mas, em função de mudança de cidade de minha

mãe, acabei passando por três dessas

“escolinhas”. Uma eu detestei: era com o método

montessoriano, um horror! As outras deu para

levar.

Chegou o momento do Ensino Fundamental e lá

fui eu para um colégio-padrão. Novamente em

função de mudança de minha mãe, fui transferida

para um colégio religioso, mas apenas os dois

primeiros anos foram tranqüilos e agradáveis ...

Este é um pequeno trecho de um histórico sendo narrado ao filósofo

clínico; nele não há menção qual é o fator (assunto imediato21) que levou essa

pessoa a procurar uma terapia, ou seja, qual a sua queixa. Ele serve apenas de

exemplo para ilustrar, neste momento, a categoria Circunstância.

21

O assunto imediato é a primeira das categorias e consiste na queixa, isto é, o que move a pessoa à clínica.

33

Há aqui, de forma resumida as atividades trilhadas pela partilhante dentro

do seu universo vivencial, em seu primeiro momento de clínica. Seguindo a linha

do método fenomenológico merleau-pontyano o terapeuta simplesmente ouvirá a

descrição dos fatos feita segundo os critérios de representação e subjetividade da

pessoa que tem diante de si. A sua postura profissional e metodológica será de

uma atitude pré-reflexiva tão somente de compreensão.

Nesse tipo de atitude o clínico “saberá” ainda que não de forma totalmente

racional, que a partilhante não está sozinha em seu universo, mas que há todo

um contexto que a circunda e o seu “eu” está em relação ao mundo e ao outro e

nessa relação está buscando sentido e atribuindo significado diante dos

fenômenos externos.

Os pré-juízos do filósofo estão suspensos, não lhe cabendo a emissão de

opiniões e tampouco o estabelecimento de interpretações reflexivas oriundas

desses mesmos pré-conceitos.

Assim, ele apenas compreenderá que a partilhante: (a) nasceu em uma

grande cidade; (b) seus pais se divorciaram quando ela era ainda muito pequena;

(c) pais relativamente instruídos; (d) gostam de conhecimentos; (e) mantiveram

bom relacionamento; (f) infância feliz; (g) alfabetização doméstica; (h) três pré-

escolas; (i) horror por uma delas; (j) em duas “deu para levar”; (k) duas mudanças

de residência da mãe; (l) colégio-padrão; (m) colégio religioso; e (n) apenas os

dois primeiros anos foram felizes nesse colégio religioso.

Esse foi o universo em que a vida partilhante se contextualizou durante o

período de tempo relatado. Assim, o clínico apenas situará sua cliente nesse

contexto, sem atribuir quaisquer critérios tipológicos de estrutura familiar e estilos

de escolas, por exemplo. Estará atento apenas à descrição dos fenômenos,

compreendê-los-á, conforme o sentido e o significado que a partilhante vier a

oferecer.

.3.c.2. - Categoria Lugar

Esta categoria é definida como a pessoa se sente subjetivamente nas

vivências, nos ambientes e nas relações. É ainda uma categoria na qual se nota

como a pessoa está sensorialmente e abstratamente em cada momento e

34

circunstância de sua vida, como se sente, como vivencia o seu próprio corpo.

(AIUB, 66-67). – grifos meus.

A fundamentação filosófica desta categoria está em Merleau-Ponty,

especificamente, e alguns pontos merecem destaque, conforme exposto por Aiub

(Idem):

1. o corpo é o somatório dos modos de existência;

2. nele são anotadas as referências ao sensorial e às reações internas

que tais modos de existência geram;

3. nada existe de isolado ou fora de contexto;

4. os dados coletados estão em movimento e são variáveis conforme

os respectivos contextos;

5. as vivências sensoriais e abstratas adquirem significados dentro do

que foi vivido;

6. esta categoria refere-se à espacialidade do próprio corpo enquanto

situação vivida (não espacialidade geográfica);

7. igualmente, esta categoria possibilita a compreensão das

circunstâncias dos eventos vivenciados pela pessoa; e

8. como a pessoa significou tais experiências.

Considerando os itens acima, embasados na fenomenologia de Merleau-

Ponty, depreende-se os seguintes elementos do breve histórico citado na

categoria lugar:

1. infância feliz;

2. ansiedade pela iniciação escolar;

3. horror por uma das escolas;

4. as outras duas escolas “deu para levar”; e

5. os dois primeiros anos do colégio religioso foram tranqüilos e

agradáveis.

35

Esses foram os significados que a partilhante atribuiu aos eventos citados e

considerando a noção de corpo em Merleau-Ponty, vê-se que todos esses

significados foram sentidos em seu corpo, quer em âmbito sensorial, quer em

abstrato. Isto em termos metodológicos, permite que o clínico compreenda

circunstancialmente as experiências da pessoa e o seu modo subjetivo de senti-

las.

Método e postura caminham juntos na clínica filosófica e a abordagem sob

a ótica da fenomenologia merleau-pontyana leva o terapeuta a compreender com

maior abrangência o universo subjetivo de seu partilhante, observando como os

fenômenos (ou eventos) se lhe apresentaram, sua percepção a respeito e,

conseqüentemente, sua eventual reação a eles.

.3.d. – A FENOMENOLOGIA E A ESTRUTURA DE PENSAMENTO

. Tópico 1: Como o mundo parece (fenomenologicamente)

. Tópico 2: O que acha de si mesmo.

O segundo eixo da Filosofia Clínica constitui a Estrutura de Pensamento,

constituída por trinta tópicos. Todavia, considerando o objetivo desta monografia,

haverá apenas a contemplação para os dois primeiros, e a sua fundamentação

primeira está nos filósofos Schopenhauer e Protágoras (já citados anteriormente),

considerando, sobretudo, a idéia de representação aos quais eles estão ligados.

Ainda dentro dos parâmetros da Filosofia Clínica, tais tópicos também recebem a

influência da Fenomenologia de Husserl e de Merleau-Ponty.

Por representação entende-se inicialmente que não há como atingir o

conhecimento pleno e absoluto de tudo o que existe ou que ocorre enquanto

eventos. Assim, convém lembrar que além dos filósofos acima citados, cabe

também uma referência a Kant, no sentido de sua premissa de que apenas

podemos conhecer o fenomenon, pois não temos acesso ao noumenon (coisa-

em-si). Tal premissa também pode ser corroborada por Aristóteles, conforme sua

colocação que o nosso acesso ao conhecimento restringe-se apenas ao

predicado das coisas (Idem, 65).

36

Portanto, nestes dois tópicos há as considerações sobre a visão pessoal

(representação) que a pessoa tem do seu meio ambiente (tópico 1), como

também a sua visão pessoal de si mesma (tópico 2). Há que se destacar que tais

óticas constituem criações pessoais da pessoa. Por exemplo, um mesmo evento

vivido por duas pessoas diferentes, embora nas mesmas condições, geram

representações completamente diferentes. Isso é o que importa em Filosofia

Clínica, a representação pessoal de cada um de acordo com sua subjetividade e

singularidade.

.3.d.1. - Tópico 1: Como o mundo parece (fenomenologicamente)

Partindo da colocação merleau-pontyana da interação entre sujeito e

mundo, é impossível estabelecer um histórico de um partilhante apenas

considerando os fatos isoladamente, sem contextualizá-los nas circunstâncias em

que tais vivências ocorreram. Destaca-se novamente a questão da subjetividade,

sempre presente através das representações que a pessoa faz.

Embora o exemplo apresentado em linhas anteriores de um caso hipotético

seja bastante sucinto e refere-se a um primeiro momento em clínica, no qual a

partilhante está iniciando o seu histórico, depreende-se, então, nesse momento

de sua historicidade a sua representação de mundo, devendo o clínico observar a

maneira como ele é descrito, seus detalhes, seu relacionamento com o meio

ambiente, seu modo de significá-lo, enfim, como o (a) partilhante se situa dentro

do mundo.

Alguns pontos relativos a este tópico do histórico em pauta:

.1. .... considero que tive uma infância feliz, pois

tinha minhas vontades satisfeitas (tanto as

materiais como as afetivas) tanto de um como de

outro.

.2. Fui alfabetizada ainda em casa pelo meu pai e

alguns “retoques” dessa alfabetização foram

dados por minha mãe, que mantinha um ritmo de

trabalho bastante acelerado. Meu pai, embora um

37

homem muito ocupado, sabia dividir o tempo

entre os seus afazeres e eu.

Essa foi a visão de mundo da partilhante durante o período de vida que foi

narrado ao clínico; evidentemente, ainda há pouquíssimos elementos para que se

tenha uma visão de sua representação mais completa. Portanto, o filósofo clínico

manterá a sua postura em atitude pré-reflexiva, voltada tão somente para a

observação dos fatos onde a partilhante está em interação com o seu meio

ambiente.

Observará, portanto, quais os significados que a partilhante atribuiu a

esses contextos:

1. infância feliz;

2. mãe atarefada, com menos tempo para ela;

3. pai atarefado, com mais tempo para ela;

4. ansiedade para a iniciação escolar;

5. horror por uma das escolas (método montessoriano);

6. significação não clara pelas outras duas escolas; e

7. tranqüilidade nos dois primeiros anos no colégio religioso.

Assim sendo, a visão de mundo, ou seja, sua representação subjetiva do

mundo naquele período pode ser caracterizada pelos sete itens acima citados; no

entanto, a Estrutura de Pensamento não é estática, mas sim dinâmica e no

decorrer da clínica, outros elementos poderão vir a surgir dentro desses mesmo

período, o que poderá modificar radicalmente os dados que o filósofo tem a

respeito. Conseqüentemente, a visão de mundo poderá sofrer (ou não) sensíveis

alterações.

.3.d.2. - Tópico 2: O que acha de si mesmo.

Este tópico mostra a visão que a pessoa tem de si mesmo, isto é, de

acordo com o seu sistema de representações, que idéia ela tem de sua própria

subjetividade.

38

Considerando os dados apresentados no exemplo (pouquíssimos) e

relativos a um breve período de vida narrado, depreende-se apenas um ponto de

sua visão pessoal: infância feliz. Segundo a narrativa, este é o único elemento

que pode ser detectado neste momento da clínica, visto que a partilhante

enunciou o que ela achava de si mesma – uma criança feliz!

Assim, tendo em vista as circunstâncias que a envolveram, quer familiares,

quer escolares, ela tem uma visão pessoal e subjetiva de que foi uma criança

feliz, pelo menos até aquele momento, ou ainda, que outros fatores venham a ser

narrados, relativos ao mesmo período em que ela própria venha a expressar outra

visão de si, diferente da primeira. Poderá ainda haver, hipoteticamente, outros

elementos que venham a corroborar essa felicidade, intensificando-a.

Os fenômenos que se lhe apresentaram durante esse período de infância

foram por ela percebidos e expressos ao terapeuta com um significado de

felicidade, salientando que esse significado foi mencionado literalmente.

.3.e. - RELAÇÃO: EXAMES CATEGORIAIS E OS TÓPICOS 1 E 2

Embora a Filosofia Clínica esteja montada nos três citados eixos, vale

ressaltar que os mesmos encontram-se em estreita vinculação de dependência

recíproca, sendo inviável a montagem de uma Estrutura de Pensamento, sem que

haja os Exames Categoriais e a observação dos Submodos (para a sua aplicação

posteriormente). Assim, depreendeu-se do exemplo apresentado, que o conteúdo

das duas categorias apontadas localizaram existencialmente a partilhante,

enquanto que os dois tópicos mostraram o seu modo de ser.

CONCLUSÃO

Conforme previsto na Introdução desta monografia, o seu objetivo central

foi a demonstração da subjetividade em clínica, que requereu uma retrospectiva

dos estudos de epistemologia em diversos segmentos do pensamento filosófico

ao longo da história. Esse retrospecto se fez necessário, posto que em seus

39

primeiros momentos a Filosofia apresentou um caráter absolutamente objetivo

dentro do tema do processamento do conhecimento humano.

A questão da subjetividade começa a surgir a partir do pensamento

racionalista de Descartes, mas sofre uma interrupção na filosofia empirista;

todavia o enfoque subjetivo volta a ganhar espaço no criticismo kantiano, como

também na postura perspectivista de Nietzche, que abriu espaço para os

existencialismos, dos quais foi destacada a fenomenologia.

Esta, por seu turno, foi abordada a partir de seu idealizador, Husserl, onde

se pretende estudar o ser como este se apresenta no próprio fenômeno, ou seja,

um estudo dos fenômenos puros; além disso, pretende também a fenomenologia

husserliana estudar a significação das vivências da consciência no mundo interior

do ser humano.

Partindo da obra do citado filósofo, Merleau-Ponty apresenta alguns pontos

de originalidade dentro da própria fenomenologia, onde a Filosofia e as ciências

empíricas deveriam ocupar-se tão somente em descrever as coisas como elas

são, antes de qualquer conhecimento racional elaborado a respeito. Coloca

também Merleau-Ponty a existência precedendo toda e qualquer forma de

conhecimento. Através desse pensador, o primado da razão cartesiano cede lugar

à percepção e à atitude pré-reflexiva do sujeito, dando importância ao significado

e o sentido que os fenômenos geram no interior do indivíduo.

Dessa forma, o método fenomenológico pretende mostrar a importância da

apreensão dos fenômenos do mundo através da percepção dos órgãos dos

sentidos, antes que se faça uma reflexão racional dos mesmos. Isto significa em

termos de subjetividade em clínica, a significação pessoal desses fenômenos

para a pessoa que está em processo terapêutico, sem quaisquer enquadramentos

racionais em teorias já estabelecidas.

Além de instrumento metodológico de trabalho, a fenomenologia também

fornece ao filósofo clínico os elementos constituintes de sua postura profissional

diante de seu partilhante, pois os seus juízos pessoais devem ser suspensos, a

fim de impedir que quaisquer julgamentos sejam efetuados. Sempre, em clínica, o

pólo de maior importância é a representação que a pessoa tem de si e dos

eventos externos, suas significações e sentidos pessoais, visto que é a partir

desses elementos que o filósofo terá condições de interagir terapeuticamente com

40

o indivíduo em busca do alívio para o problema existencial que o trouxe para a

clínica.

Portanto, é na subjetividade individual que reside a originalidade da

Filosofia Clínica em relação às demais psicoterapias, considerando que é através

dela e pela compreensão dos elementos que a constituíram, que se pode

estabelecer criteriosamente um planejamento clínico direcionado para o objetivo

final, que é a solução das questões que se apresentaram à pessoa.

Pelo exemplo que foi apresentado, depreende-se a importância da leitura

fenomenológica do histórico de vida de um indivíduo, onde os fenômenos (ou

eventos) falam por si e adquirem significados para aquele que os vivenciou.

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APÊNDICE

.(a) – Exames Categoriais22:

.1. – Assunto (imediato e último)

.2. – Circunstância

.3. – Lugar

.4. – Tempo

.5. – Relação.

.(b). – Tópicos da Estrutura de Pensamento23:

.1. – Como o mundo parece (fenomenologicamente)

.2. – O que acha de si mesmo

.3. – Sensorial e abstrato

.4. – Emoções

22

As categorias assinaladas em negrito são aquelas que foram abordadas neste trabalho. 23

Os tópicos assinados em negrito são aqueles que foram abordados neste trabalho.

41

.5. – Pré-juízos

.6. – Termos agendados no intelecto

.7. – Termos: universal, particular e singular

.8. – Termos: unívoco e equívoco

.9. – Discurso: completo e incompleto

.10. - Estruturação de raciocínio

.11. - Busca

.12. - Paixões dominantes

.13. - Comportamento e função

.14 .- Espacialidade: inversão

recíproca de inversão

deslocamento curto

deslocamento longo

.15 .- Semiose

.16 .- Significado

.17. - Padrão e armadilha conceitual

.18 .- Axiologia

.19. - Tópico de singularidade existencial

.20 .- Epistemologia

.21. - Expressividade

.22 .- Papel existencial

.23. - Ação

.24. - Hipótese

.25. - Experimentação

.26 - Princípios de verdade

.27. - Análise da estrutura

.28. - Interseções de estruturas de pensamento

.29. - Dados da matemática simbólica

.30. - Autogenia.

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BIBLIOGRAFIA

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