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A QUESTÃO DA HIDRELÉTRICA COMO
FONTE DE ENERGIA ESSENCIAL NO
MODELO ATUAL DE
SUSTENTABILIDADE: O CASO DE
BELO MONTE
Viviane Wallen Silva de Moura Ribeiro
(Universidade Gama Filho)
Christina Bassani
(Universidade Gama Filho)
Resumo No Brasil 76,9% da energia elétrica são provenientes de hidrelétricas
conferindo uma posição entre os cinco maiores produtores no mundo.
Em função da demanda do consumo de eletricidade questionou-se
sobre a inserção das usinas hidrelétricass no modelo brasileiro de
sustentabilidade. O objetivo foi discutir o modelo atual e apresentar o
caso de Belo Monte. A pesquisa foi exploratória, descritiva, de revisão
bibliográfica e de estudo de caso. Foram consultadas as bases do
Scielo, Periódicos Capes e Bireme nos últimos 20 anos. Foram
apresentados conceitos sobre energia e sustentabilidade, política
energética brasileira, legislação ambiental pertinente, fontes
alternativas e o embate sobre a liberação de Belo Monte. Concluiu-se
que a questão energética no Brasil não está alinhada com os conceitos
de sustentabilidade e que o modelo atual está baseado no aumento da
produção e que o empreendimento de Belo Monte não corresponderá
às expectativas econômicas e ambientais.
Palavras-chaves: energia, hidrelétrica, sustentabilidade, Belo Monte.
12 e 13 de agosto de 2011
ISSN 1984-9354
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
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1. INTRODUÇÃO
A disponibilidade de energia elétrica é fundamental para o desenvolvimento de um
país. No Brasil, aproximadamente 76,9% da produção anual de eletricidade são provenientes
de hidrelétricas e, conforme informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL),
o Brasil está entre os cinco maiores produtores de energia hidrelétrica no mundo, possuindo
atualmente 158 usinas hidrelétricas de grande porte, que produzem um total de 74.438.695
KW (AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA, 2003). Entretanto, a geração de energia
elétrica por meio de hidrelétricas causa uma série de impactos ambientais que em sua maioria
ocorrem durante a construção das usinas afetando diretamente a fauna e flora da região, além
de provocar a desterritorialização das comunidades envolvidas.
O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDEE) entre 2008 e 2017 desenvolvido
pelo Ministério de Minas e Energia prevê um crescimento do consumo de cerca de 4 % ao
ano. Para minimizar os impactos deste crescimento, o governo pretende aperfeiçoar os
equipamentos elétricos a fim de que possibilitem economia de energia. No PDEE estão
descritas metas para suprir o aumento no consumo, o que demonstra que o modelo nacional
para produção de energia elétrica se baseia no aumento da oferta sem apresentar uma
preocupação com o destino desta eletricidade, fazendo com que o alvo seja atender às grandes
indústrias estimulando o desenvolvimento e o crescimento econômico. Desta forma depara-se
com o fato de que de que se não forem construídas hidrelétricas serão construídas
termelétricas para atender às necessidades do país (COSTA, 2010). Isto se configura uma
temática de grande relevância em função de que a maior parte da energia do país provém das
hidrelétricas e apesar disso os danos causados por essas construções não são de conhecimento
da maioria da população já que este tema é pouco explorado. Como a demanda no consumo
de eletricidade tende a crescer, os danos ambientais causados por hidrelétricas devem ser
evidenciados para provocar reflexões acerca do destino da produção energética, já que os
principais consumidores são as grandes indústrias e por isso deve-se avaliar a relação custo-
benefício para o meio ambiente.
No sentido de refletir sobre esses assuntos tão pertinentes e de interesse global uma
grande questão que norteou e motivou a realização da pesquisa foi sobre até que ponto as
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hidrelétricas estão inseridas no modelo brasileiro de sustentabilidade? Sabendo-se que se trata
de um assunto muito discutido atualmente em função da importância ambiental ligada à
construção da usina de Belo Monte, o objetivo geral desta pesquisa foi discutir o modelo atual
de sustentabilidade em relação às hidrelétricas no Brasil. Para isso, pretendeu-se apresentar os
conceitos voltados para sustentabilidade e energia; o modelo de sustentabilidade com relação
à produção de energia elétrica; descrever o funcionamento da hidrelétrica de Belo Monte e
apresentar os impactos causados além da legislação pertinente à construção de hidrelétricas.
Foi analisado o caso da Hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu, que tem sido
evidenciada como solução para atender à demanda de eletricidade principalmente da região
sudeste. Contudo, tal solução pode acarretar importantes perdas para o meio ambiente,
comunidades indígenas e para a população local.
2. METODOLOGIA
A pesquisa seguiu a classificação adotada por Acevedo e Nohara (2004) que a
classificam de acordo com critérios previamente selecionados. O primeiro deles está
relacionado à origem dos dados e, neste caso, a pesquisa é classificada como básica porque
não previu aplicação da teoria na prática sendo, portanto, geradora de conhecimento teórico.
Quanto ao problema identificado, a pesquisa é qualitativa por identificar as situações e não se
utilizar de dados estatísticos. De acordo com os objetivos é exploratória por buscar uma
familiaridade em relação a um fato ou fenômeno através da prospecção de materiais que
informem ao pesquisador a verdadeira importância do problema, o estágio em que se
encontram as informações já disponíveis a respeito do assunto e até mesmo, revelar ao
pesquisador novas fontes de informações (SANTOS, 2006). É também descritiva, pois faz um
levantamento dos componentes dos fatos sob a forma de sua observação.
Quanto ao procedimento técnico é classificada como de revisão bibliográfica já que
procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos,
buscando o conhecimento e a análise das contribuições culturais ou científicas do passado
existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema (CERVO; BERVIAN, 2002). Foi
consultada a literatura especializada, além de reportagens sobre impactos causados por
hidrelétricas nos últimos 20 anos. As bases de dados foram principalmente: Scielo, Periódicos
Capes e Bireme e as palavras-chave foram: energia, hidrelétrica, sustentabilidade e Belo
Monte. Foi realizada uma revisão sistemática planejada para responder a uma pergunta
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específica onde foram utilizados métodos para identificar, selecionar e avaliar criticamente os
estudos (ROTHER, 2007). É também um estudo de caso por se tratar do exemplo de Belo
Monte que prevê um estudo aprofundado diante da evolução dos fatos tão divulgados
atualmente nos meios de comunicação e de interesse público.
3. A RELAÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE E ENERGIA
ELÉTRICA
Segundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, 1987)
o conceito de desenvolvimento sustentável demonstra que o crescimento econômico não pode
ser desmembrado da necessidade de conservação ambiental. É formado pelo tripé
econômico/social/ambiental, sendo que todos esses fatores se equivalem (SILVESTRE, 2007)
para manter o bem-estar da população. Dentre os recursos naturais utilizados, esta pesquisa
destacou a água, já que esta é de extrema importância e não está sendo utilizada de forma
sustentável. A falta e/ou escassez da água associadas à poluição geram o que está descrito no
1º Relatório das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento da Água, como a “crise da água”
(UNESCO, 2003) que afeta o meio ambiente, produção agrícola e consequentemente a
qualidade de vida. O modo como têm sido utilizados e gerenciados os recursos hídricos tem
levado a um nível de degradação ambiental e a um risco de escassez que comprometem a
qualidade de vida (FERREIRA; CUNHA, 2005).
Os recursos hídricos têm sido utilizados não somente como fonte de abastecimento,
mas também como fonte de energia, pois a maior parte da energia elétrica produzida no
Brasil, 76,9% é proveniente das usinas hidrelétricas. De acordo com Leão (2009), a energia
elétrica proporciona à sociedade trabalho, produtividade e desenvolvimento, e para usufruir de
todos os benefícios obtidos através da eletricidade, os cidadãos se tornam cada vez mais
dependentes do fornecimento e por isso sujeitos às falhas do sistema elétrico. Essa relação de
dependência faz com que os usuários sejam mais exigentes com relação à qualidade de
serviços e produtos.
Devido ao crescimento da população e ao desenvolvimento econômico dos países
emergentes, ocorrerá o aumento do consumo de energia, o que não impossibilitará o uso de
tecnologias modernas e eficientes no início do processo de desenvolvimento, gerando o efeito
chamado de leapfrogging, que é um salto tecnológico e contraria o conceito de que para haver
desenvolvimento, os impactos ambientais devem ocorrer (GOLDEMBERG; LUCON, 2007).
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A produção energética necessária para suprir o aumento da demanda deve estar amparada
pelos conceitos de desenvolvimento sustentável e de responsabilidade ambiental. Segundo
Udaeta (1997), em uma política energética baseada no desenvolvimento sustentável, os
seguintes aspectos devem ser identificados: garantia de suprimento através de fontes
diversificadas com novas tecnologias e produção descentralizada; uso, adaptação e
desenvolvimento racional dos recursos; custo mínimo da energia; valor agregado a partir dos
usos, obtidos com otimização dos recursos; custos reais que contemplem impactos ambientais
e sociais, gerados com represamento, extração, produção, transmissão e distribuição,
armazenamento e uso das energias do mercado.
4. A MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA E A POLÍTICA ENERGÉTICA
Entre os anos de 1980 e 2002, a geração de eletricidade no Brasil cresceu a uma taxa
média anual de 4,2%, com dominância da energia hidráulica. Existem outras tecnologias
geradoras de eletricidade no país: nuclear, gás e óleo diesel, porém, nenhuma delas apresenta
uma porcentagem maior do que 7%. Com a introdução da biomassa, energia nuclear e o gás
natural, a hidroeletricidade foi reduzida de 92% em 1995 para 76,9% em 2009, mas o
aumento da demanda no consumo de eletricidade exige que a produção hidrelétrica dobre,
mesmo considerando as outras fontes de energia, pois a hidroeletricidade ainda é a principal
responsável pelo abastecimento do país. A grande participação da hidroeletricidade se deve à
abundância do país em termos de recursos hídricos. Para continuar garantindo o progresso
econômico e qualidade de vida da população, a produção de energia precisa aumentar e ainda
atender ao crescimento da população, que é cerca de 1% ao ano. Segundo Goldemberg e
Moreira (2005), por uma questão de segurança, essa demanda deveria ser suprida a partir de
diversas fontes, pois seria melhor do que depender de uma ou duas, como acontece
atualmente.
Além da questão da segurança, existe ainda o risco de esgotamento dos recursos
hídricos como fonte de energia e como abastecimento. O modelo atual não considera os locais
onde a energia é prioritária e não questiona o destino desta energia, somente considera que
para garantir o crescimento econômico é necessário aumentar a produção e para suprir a
demanda apresenta como opções: hidrelétricas, termelétricas ou usinas nucleares. E em
termos de danos ao meio ambiente, entre as opções apresentadas, as hidrelétricas são
consideradas como a melhor opção (COSTA, 2010).
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Para Goldemberg e Moreira (2005) torna-se necessário um planejamento com vistas a
melhorias na produção energética nacional devendo ser considerada não apenas a quantidade
de energia necessária para a sociedade, mas principalmente em que região ela é mais
prioritária e como os menos favorecidos terão acesso a ela. Costa (2010) concorda quando
observa que ao ter sido criado o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDEE) ele visou
atender aos grandes consumidores e não à população tendo sido criada, a seu ver, uma falsa
ideia de que as opções disponíveis para a produção estão relacionadas somente a hidrelétricas
e termelétricas, não levando em consideração as fontes alternativas que deveriam ser tratadas
como fontes complementares. Estas, porém, são consideradas como um gasto, sem garantia de
retorno. Não foi mencionado que as hidrelétricas também representam alto custo financeiro e
ambiental.
5. POTENCIAL HIDRELÉTRICO DO PAÍS
No Brasil, água e energia estão relacionadas, já que a utilização da energia hidráulica
tem contribuído para o desenvolvimento econômico do País atendendo às demandas da
economia (indústria, agricultura, comércio e serviços) e da sociedade, com melhoria das
habitações e da qualidade de vida das pessoas. Segundo a Agência Nacional de Energia
Elétrica (2003), a energia hidráulica contribui com 14% da matriz energética nacional e com
quase 77% de toda a energia elétrica gerada no País.
Entende-se por potencial hidrelétrico a capacidade de produção de energia elétrica de
um rio ou de uma bacia hidrográfica, ou seja, o aproveitamento de energia através da
construção de hidrelétricas. Esse potencial é medido em termos de energia firme, que
corresponde à máxima produção contínua de energia que pode ser obtida. O potencial
hidrelétrico é dividido em: inventariado, que compreende as usinas em operação ou
construção e os aproveitamentos disponíveis estudados nos níveis de inventário, viabilidade e
projeto básico; instalado, que se refere somente às usinas em operação; estimado, que se
refere às áreas que são estimadas a partir dos inventários, mas não compreende usinas em
operação ou em construção (Tabela 1). De acordo com estudos de avaliação, os valores
estimados são cerca de 35% abaixo do valor final inventariado (AGÊNCIA NACIONAL DE
ENERGIA ELÉTRICA, 2005; 2010).
Tabela 1: Índice de aproveitamento hidrelétrico por bacia (ano base: 2002)
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Bacia Inventariado
(MW)
[a]
Inventariado +
Estimado (MW)
[b]
Capacidade
Instalada
[c]
Índices de aproveitamento
[c] / [a] [c] / [b]
Bacia do Rio Amazonas 40.883,07 105.047,56 667,30 1,6% 0,6%
Bacia do Rio Tocantins 24.620,65 26.639,45 7.729,65 31,4% 29,0%
Bacia do Atlântico Norte/Nordeste 2.127,85 3.198,35 300,92 14,1% 9,4%
Bacia do Rio São Francisco 24.299,84 26.217,12 10.289,64 42,3% 39,2%
Bacia do Atlântico Leste 12.759,81 14.539,01 2.589,00 20,3% 17,8%
Bacia do Rio Paraná 53.783,42 60.902,71 39.262,81 73,0% 64,5%
Bacia do Rio Uruguai 11.664,16 12.815,86 2.859,89 24,5% 22,3%
Bacia do Atlântico Sudeste 7.296,77 9.465,93 2.519,32 34,5% 26,6%
Brasil 177.435,57 258.825,99 66.218,23 37,3% 25,6%
Fonte: Sistema do Potencial hidrelétrico (ELETROBRAS, 2003)
Apesar de existirem restrições socioeconômicas e ambientais a projetos hidrelétricos, a
energia hidráulica continuará sendo a principal fonte geradora de energia elétrica do Brasil,
devido ao seu potencial hidrelétrico, mesmo com o aumento de outras fontes e avanços
tecnológicos. Essa dependência da hidroeletricidade é ainda um reflexo da falta de
investimentos sérios em fontes alternativas de energia, isso é uma constatação das
informações contidas nos anuários e registros da ELETROBRAS e ANEEL, que afirmam que
nos próximos anos, pelo menos 50% da necessidade de expansão serão supridos pela energia
hidrelétrica (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2010).
6. HIDRELÉTRICA
A usina hidrelétrica tem a finalidade de gerar energia elétrica através do
aproveitamento do potencial hidráulico de um rio. Esse potencial é aproveitado de duas
formas: 1) natural - quando o desnível concentra-se em uma queda d’água; 2) artificial –
quando é construída uma barragem, para concentração de pequenos desníveis na altura desta
ou ainda quando é feito o desvio do rio de seu leito natural, concentrando-se os pequenos
desníveis nesse desvio. (LEÃO, 2009).
As usinas hidrelétricas são construídas em locais onde se tem o melhor aproveitamento
dos desníveis dos rios e as quedas d’água; esses locais, geralmente são distante dos centros
consumidores. A força da água faz com que a turbina gire, transformando a energia potencial,
que existe entre o nível do reservatório antes da barragem e o nível do rio após a barragem em
energia cinética. Esta turbina através de um eixo possui ligação com um gerador, que também
entra em movimento; no gerador a energia cinética (ou mecânica), é convertida em energia
elétrica.
6.1. Hidrelétrica e impactos ambientais
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A implantação de hidrelétricas pode também gerar impactos no clima provocando
alterações na temperatura, na umidade relativa e na evaporação, onde ocorre aumento desta
em regiões mais secas. Pode causar erosão das margens do rio com perda do solo e árvores
gerando o assoreamento que afeta a vida útil do próprio reservatório. Na hidrologia, altera o
fluxo de corrente e a vazão do rio causando alargamento do leito; provoca aumento de
profundidade e elevação do nível do lençol freático criando pântanos. Sem contar com a perda
significativa de biodiversidade em relação à fauna e à flora, devido ao alagamento de grandes
áreas (INATOMI; UDAETA, 2000).
As emissões de gases de efeito estufa são mais altas em hidrelétricas em áreas
tropicais, onde através da decomposição das árvores acima da água (em áreas não desmatadas
antes que se encham os reservatórios), emitem gás carbônico (CO2). Mas a maior contribuição
das hidrelétricas com o efeito estufa ocorre com a liberação de metano (CH4). Na zona de
deplecionamento (área do fundo do reservatório que se expõe com o nível de água baixo), a
vegetação cresce muito rapidamente e quando o nível de água sobe, essa vegetação se
decompõe e produz metano. Os reservatórios de hidrelétricas apresentam estratificação
térmica, o que acarreta na formação da termoclina, que fica localizada entre dois e três m de
profundidade. Abaixo da termoclina, a temperatura diminui e a água abaixo desta camada
(hipolímnio) não se mistura com a água da superfície. A água do hipolímnio é ausente de
oxigênio e por isso a vegetação da zona de deplecionamento não produz CO2 e sim CH4, que
provoca mais impacto sobre o efeito estufa do que o gás carbônico. Conforme a vegetação do
fundo do reservatório cresce a cada redução do nível de água, o gás carbônico da superfície é
removido da atmosfera através da fotossíntese e o carbono é liberado pela vegetação em
forma de metano, quando ocorre novamente a inundação (FEARNSIDE, 2008).
De acordo com o Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC), o metano
gera 25 vezes mais impacto sobre o aquecimento global por tonelada de gás do que o gás
carbônico (CLIMATE CHANGE, 2007). Os estudos de impacto ambiental de hidrelétricas
(realizados principalmente por FURNAS E ELETROBRAS) indicam que as UHEs (Usinas
Hidrelétricas) apresentam menores taxas de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) do que
as Usinas Termelétricas (UTEs) com a mesma potência, contudo esses estudos calculam essas
baixas emissões de metano das hidrelétricas por ignorarem a água que passa pelas turbinas e
pelos vertedouros que é tirada de uma profundidade isolada da camada superficial do
reservatório, onde possui alta concentração de metano dissolvido; com a redução da pressão
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ao sair das turbinas ou vertedouros, grande parte do gás é liberada para a atmosfera
(FEARNSIDE, 2009). Essas emissões foram comprovadas em medições realizadas em
hidrelétricas como Balbina, no Amazonas e Petit Saut, na Guyana Francesa (DE LIMA,
2005).
6.3. Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) e legislação
A Lei que criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) que é formado
por representantes dos governos federais, estaduais e entidades da sociedade civil, formulou a
Resolução CONAMA nº 01 de 23 de janeiro de 1986, a qual dispõe sobre critérios básicos e
diretrizes para elaboração do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) e define impacto
ambiental (BRASIL, 1986). Essa Resolução estabeleceu que dentro do processo de avaliação
de impacto ambiental, dois documentos devem ser apresentados pelas empresas que desejam
construir empreendimentos com potencial de causar significativa degradação ambiental: o
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima), destinado à
consulta pública, devendo ser elaborado em linguagem simplificada e conter as conclusões do
EIA (SÁNCHEZ, 2008).
No Brasil, avaliação de impacto ambiental está associada ao licenciamento ambiental,
que é de competência estadual. Licenciamento ambiental é a autorização governamental para
realização de atividades que utilizem recursos ambientais e visa evitar que danos ambientais
ocorram. O Licenciamento no País está dividido em etapas, descritas pelo Decreto nº
99.274/90 que regulamentou a Política Nacional do Meio Ambiente: Licença Prévia (LP), que
é solicitada na fase de preparação do projeto, quando a localização e as alternativas
tecnológicas podem ser alteradas; Licença de Instalação (LI), solicitada após concessão de LP
onde o projeto é detalhado e atende às condições estabelecidas pela Licença Prévia; Licença
de Operação (LO), concedida após construção do empreendimento e quando este está pronto
para operar, porém a concessão desta licença só ocorre quando as condições estabelecidas
pela LI forem cumpridas. A definição dos estudos necessários para concessão do
licenciamento é estabelecida pelo órgão licenciador (BRASIL, 1990). A avaliação ambiental
serve como ferramenta para elaboração do plano de gestão ambiental, este plano é
fundamental para transformar uma obra potencialmente arriscada em contribuição para o
desenvolvimento sustentável e envolve compromissos firmados pelo empreendedor
(SÁNCHEZ, 2008).
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Dentro do Plano de Gestão Ambiental existem medidas criadas para diminuir os
impactos ambientais como as medidas mitigadoras e o plano de monitoramento. As medidas
mitigadoras são um conjunto de ações que visam reduzir os impactos negativos de um
empreendimento, ou seja, devem-se prever quais serão os principais impactos e estabelecer
medidas para impedir que estes ocorram ou para minimizar sua importância. O plano de
monitoramento é uma descrição de procedimentos adotados durante a implantação, operação
e até em caso de desativação do empreendimento. Tem a finalidade de verificar se os
impactos previstos no EIA ocorreram e se o empreendimento funciona dentro das
condicionantes estabelecidas em sua licença ambiental. Quando os impactos ambientais não
podem ser evitados ou até mesmo reduzidos devido à alta magnitude, existem as medidas
compensatórias, que servem para compensar os danos não mitigados. Por exemplo, a perda de
vegetação comum em construção de barragens, pode ser minimizada com a redução da altura
da barragem para diminuir a área de inundação do reservatório. Quando nenhuma alternativa
elimina completamente o impacto ou não o reduz de modo satisfatório, a compensação é
utilizada para amenizar as conseqüências socioambientais (SÁNCHEZ, 2008).
Muitas vezes as medidas compensatórias estão distantes das preocupações ambientais.
A legislação brasileira obriga o empreendedor a criar unidades de conservação em caso de
significativo impacto ambiental (BRASIL, 2000). A lei prevê percentual mínimo de 0,5% dos
custos totais do empreendimento para aplicação nas unidades de conservação. Esse percentual
pode ser maior dependendo do grau do impacto ambiental causado.
A visão global é que se busquem fontes renováveis de energia que gerem baixas
emissões de gases que causam o efeito estufa e para isso é necessário diversificar as fontes.
As principais fontes alternativas de energia são: eólica, solar e maremotriz (ou oceânica).
Essas fontes poderiam ser utilizadas para complementar a produção nacional.
8. ESTUDO DE CASO
8.1. Histórico de hidrelétricas na Amazônia
Desde 1989, existe uma polêmica a respeito da construção de um complexo
hidrelétrico na cidade de Altamira, no Rio Xingu (PA) planejado pela Eletronorte. Neste ano
aconteceu o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, onde se reuniram três mil participantes
descontentes com a política de construção de barragens no Rio Xingu e buscavam acabar com
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as decisões tomadas na Amazôniza sem a participação dos índios. O encontro foi motivado
pelas experiências anteriores, das usinas de Tucuruí (PA) e Balbina (AM) que acabaram por
desalojar comunidades, inundar enormes extensões de terras e destruir a fauna e a flora
regional. Balbina inundou a reserva indígena Waimiri-Atroari, matou peixes e causou a
escassez de alimentos provocando fome nas populações locais, ao mesmo tempo que o
abastecimento de energia elétrica para a população local não foi cumprido. Em 1989, após
uma análise da situação do Rio Uatumã, onde a hidrelétrica foi construída, o Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) decretou a morte biológica do rio (FIGUEIRA,
2008). Essas obras faziam parte do Programa Avança Brasil, que foi herdado pelo atual
Governo, que o transformou em Programa de Aceleração do Crescimento, onde a base é o
desenvolvimento a qualquer custo, contudo, o desenvolvimento deve (ou deveria ser)
sustentável, conciliando o desenvolvimento econômico com o ambiental.
O projeto para barramento do Rio Xingu começou em 1975, quando técnicos da
empresa de consultoria CNEC, de SP calcularam o potencial hidráulico do rio e foi descoberto
que o potencial do Xingu, se construídas todas as hidrelétricas do projeto, somaria mais de 22
milhões de KW. Com essa descoberta entrou em cena a Eletronorte, que foi criada pelos
militares no período da ditadura, em 1973 por recomendação estrangeira, a fim de abrir portas
para empreiteiras e grandes consumidores de eletricidade. Sendo assim, esperava-se que as
usinas seriam construídas e que a Eletronorte seria a proprietária, com a justificativa de que
essa eletricidade seria utilizada para abastecer o País, contudo alguns fatos vêm desmentindo
a ideia de abastecimento nacional: 1) a usina de Tucuruí no rio Tocantins, foi anunciada como
salvação para Belém e para a região Nordeste, porém quando foi inaugurada em 1984, seu
objetivo principal era garantir o suprimento, 24 horas por dia e a baixo custo, dos processos
de mineração da Serra dos Carajás e dos processos de fundição de ferro. 2) antes mesmo de
Tucuruí começar a operar, já estava energizada a Linha de Transmissão Nordeste – Norte, que
saía da usina de Boa Esperança (rio Parnaíba, PI-MA) até São Luís, passando por Presidente
Dutra, no centro do Maranhão com a energia elétrica proveniente da Chesf! 3) somente no
final da década de 1990, esta LT Norte – Nordeste foi interligada com a malha elétrica
Centro – Oeste e Sudeste do sistema interligado nacional (por meio das LTs Norte-Sul I e II,
entre Imperatriz e Açailândia/MA - e – Serra da Mesa/GO e Brasília/DF.
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No final dos 1980, quando se estava sob o governo José Sarney, a Eletronorte iniciou
os estudos de viabilidade técnica e econômica do chamado Complexo Hidrelétrico de
Altamira, formado pelas usinas de Babaquara e Kararaô. Em 1986 foi concluído o Plano
Nacional de Energia Elétrica 1987/2010, que propõe a construção de 165 usinas hidrelétricas
até 2010, 40 delas na Amazônia Legal, com o aumento da potência instalada de 43 mil MW
para 160 mil MW (LUNA, 2010). Em 1994, devido à pressão internacional e de índios e
ambientalistas, houve uma mudança no projeto ficando a área do reservatório reduzida de
1.225 km2 para 400 km2 o que evitou a inundação da Área Indígena Paquiçamba. Hoje,
segundo a ANEEL, a área do lago da usina é de 516 km2. Já no ano de 2001, o governo
federal divulgou um plano de emergência de US$ 30 bilhões, para gerar aumento na oferta de
energia no país e este plano incluiria a construção de 15 usinas, dentre elas a de Belo Monte.
8.2. O caso de Belo Monte
Pretende-se construir a usina de Belo Monte no município de Altamira, no Pará
(Figura 1). O município possui uma área territorial de 159.696 km², com uma população de
mais de mais de 100. 000 habitantes, onde mais de 30.000 serão diretamente atingidos pela
obra.
Figura 1: Mapa com a localização da usina
Fonte: Ribeiro (2010)
No ano de 2002 foi contratada uma consultoria para definir a forma em que seria
vendido o projeto de Belo Monte, na ocasião, o então presidente Fernando Henrique Cardoso
criticou ambientalistas e disse que as oposições à construção de usinas hidrelétricas impediam
o desenvolvimento do País. Na ocasião, o candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva
lançou um documento intitulado "O Lugar da Amazônia no Desenvolvimento do Brasil",
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onde Belo Monte foi citada e também onde fez críticas afirmando que a matriz energética
brasileira, que se apóia basicamente na hidroeletricidade, com megaobras de represamento de
rios, tem afetado a Bacia Amazônica (LUNA, 2010).
Em 2006, o processo de análise do empreendimento foi suspenso e os estudos sobre os
impactos ambientais da hidrelétrica foram impedidos de continuar, para que os índios afetados
pela obra fossem ouvidos pelo Congresso Nacional. Em 2007, após o Encontro Xingu para
Sempre, foi elaborada a "Carta Xingu Vivo para Sempre", que especificava as ameaças ao Rio
Xingu e apresentava um projeto de desenvolvimento para a região e exigia sua implementação
por parte das autoridades públicas. No mesmo período, o Tribunal Regional Federal da 1ª
Região, de Brasília, autorizou a participação das empreiteiras Camargo Corrêa, Norberto
Odebrecht e Andrade Gutierrez nos estudos de impacto ambiental da usina. Mas em 2009, a
Justiça Federal suspendeu o licenciamento e determinou novas audiências para Belo Monte,
atendendo ao pedido do Ministério Público. Houve nova análise do projeto, pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o governo
dependia do licenciamento ambiental para poder realizar o leilão de concessão do projeto da
hidrelétrica, previsto para 21 de dezembro (PEDUZZI, 2009). O então secretário do
Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmerman, propôs adiamento do leilão para janeiro
de 2010, porém em fevereiro de 2010, o IBAMA concedeu a Licença Prévia para Belo Monte,
impondo uma série de 40 condicionantes socioeconômicas e ambientais ao projeto.
No dia 20 de abril, após uma batalha judicial e duas suspensões, foi realizado um
leilão para decidir qual grupo de empresas seria o responsável pela construção da usina, com a
vitória do consórcio Norte Energia, liderado pela construtora Queiroz Galvão e pela
Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf). O preço oferecido pelo grupo vencedor
foi de R$ 78 pelo megawatt-hora (MWh), um deságio de 6,02% em relação ao teto que havia
sido estabelecido. Já o valor oferecido pelo consórcio derrotado, que era formado por seis
empresas e liderado pela construtora Andrade Gutierrez, não foi divulgado. De acordo com a
ANEEL (2010), o leilão durou aproximadamente sete minutos, sendo realizado apenas após a
cassação de uma liminar da Justiça Federal do Pará que havia determinado sua suspensão.
Uma semana antes do leilão, apenas o consórcio liderado pela Andrade Gutierrez estava
oficialmente no páreo, após a desistência do grupo encabeçado por Camargo Corrêa e
Odebrecht, no início de abril. Essa desistência fez com que o governo lançasse um pacote de
medidas para estimular a participação privada no leilão, entre elas, um desconto de 75% no
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imposto de renda da usina nos primeiro dez anos de operação, além da ampliação para 30
anos do prazo para o financiamento pelo BNDES, que pode financiar até 80% da obra. Além
de todo incentivo, os dois consórcios contam com participações em empresas estatais.
Em entrevista à Rádio CBN, no dia dezessete de novembro de 2010, o Bispo de
Altamira Dom Erwin Kräutler, afirmou que as concessões do IBAMA persistem apesar de
alertas de especialistas. Segundo o Bispo, a construção é uma decisão política e que 1/3 da
cidade será alagada, áreas indígenas serão atingidas com redução da vazão e as conseqüências
serão imprevisíveis e irreversíveis inclusive com relação à disseminação da malária. A cidade
não possui infraestrutura. Nenhuma das condicionantes estipuladas pelo IBAMA em fevereiro
foi cumprida e o empreendimento viola a Constituição Federal (KRÄUTLER, 2010). A
justificativa para realização deste projeto seria de que a usina terá capacidade instalada de 11
mil MW, sendo a segunda maior hidrelétrica do país. Contudo, Belo Monte tem energia firme
(que pode ser assegurada já prevendo os períodos de seca) de 4,4 mil MW, ou seja, 40% da
capacidade esperada (OLIVEIRA; JUSTE, 2010).
Segundo o engenheiro Silvio Areco, da consultoria Andrade & Canellas, especializada
em energia e com atuação direta em hidrelétricas, o percentual ideal para energia firme em
relação à capacidade instalada é de 55% e como visto anteriormente, Belo Monte terá uma
capacidade de energia firme abaixo disso. Há ainda informações de que os custos para
cumprir as condicionantes impostas pelo IBAMA podem ser mais altos do que os previstos
(OLIVEIRA; JUSTE, 2010).
8.2.1. Painel de Especialistas e o EIA/RIMA de Belo Monte
O grande questionamento de especialistas e ambientalistas é quanto à elaboração do
estudo de impacto ambiental da usina e, segundo o Painel de Especialistas (SANTOS;
HERNANDEZ, 2009), existem diversas inconsistências no projeto, tanto sobre os estudos
quanto sobre os reais impactos que essa construção ocasionaria. O Painel de Especialistas
alerta para o fato de que a literatura preexistente sobre a região de implantação da usina foi
ignorada na elaboração do EIA, o que seria no mínimo intrigante, já que a região tem sido
foco de estudos devido a sua importância científica e diversos trabalhos acadêmicos têm sido
realizados nessa área. A análise da literatura do local seria de extrema importância, ao menos
para observação de como outros projetos similares foram inseridos na Amazônia e de como
estes impactaram seus locais de implantação, isso provavelmente, serviria como base para ao
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menos fundamentar os impactos causados em Belo Monte. Ainda segundo o referido Painel, o
estudo não especifica programas e projetos de mitigação de impactos e nem tampouco
evidencia de forma clara e coerente as áreas que de fato serão afetadas com o projeto. O EIA
delimitou os impactos em três áreas: área de influência indireta, área de influência direta e
área diretamente afetada (SANTOS; MARIN; CASTRO, 2009).
A Área de Influência Indireta, que compreende todos os outros municípios que
compõem a Região de Integração do Xingu, está fora de programas de compensação e/ou
mitigação. Da Área Diretamente Afetada (fig. 7), o estudo exclui uma área de 1522 km2, que
será ocupada pelo lago, canteiros, diques, etc, além da vila dos trabalhadores (SANTOS;
HERNANDES, 2009). As terras de diversos agricultores serão alagadas, contudo esta
população não está quantificada na área diretamente afetada, segundo o EIA, “foi deixado
para avaliação posterior”. Na Volta Grande, um trecho do rio terá sua vazão será reduzida a
níveis de verão. Nesta região estão as Terras Indígenas Juruna do Paquiçamba e Arara da
Volta Grande, e ainda uma série de vilarejos que também foram excluídos pelo estudo, mas
estudos sobre os efeitos da redução de vazão afirmam que não será possível a permanência da
população nesta área.
Dessa forma, o EIA chega a um número de 2822 pessoas diretamente atingidas na
Região rural (EIA, 2009, p.23/24, vol.23). Número esse que exclui: trecho de vazão reduzida
da Volta Grande; lotes que serão inviabilizados com a implantação do projeto; pessoas
ausentes do domicílio no momento da pesquisa; possíveis migrantes que se instalarão nessas
áreas. Onde na verdade deveria haver projetos de mitigação de impactos para essa população,
no volume 33 do EIA, foi elaborada uma lista com os temas, com intenções não específicas e
custos não definidos (SANTOS; HERNANDEZ, 2009).
9. DISCUSSÃO
O modelo brasileiro de desenvolvimento se baseia em suprir a demanda de energia
elétrica, quando deveria haver a preocupação com a qualidade do serviço prestado e com o
destino dessa produção. Antes de se pensar em aumento de produção, deve-se investir em
eficiência energética otimizando as linhas de transmissão a fim de reduzir as perdas que
ocorrem devido à distância entre as usinas geradoras e os grandes centros consumidores. Isso
foi visto por Costa (2009b) que afirma que o modelo energético brasileiro é “ofertista” e
insustentável.
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O que se tem visto e que é confirmado por Costa (2009a) é que o Brasil insiste em
apostar em hidrelétricas enquanto o mundo tem percebido a necessidade de considerar
alternativas como energia eólica e solar. No país, como alternativa principal se oferecem as
termoelétricas que causam mais impactos do que as hidrelétricas. Esses impactos variam de
acordo com o combustível utilizado para o funcionamento dessas usinas; elas podem
contribuir com a poluição do ar, aquecimento das águas, aumento do efeito estufa e chuva
ácida. Devido ao crescimento da população e ao desenvolvimento econômico dos países
emergentes, ocorrerá o aumento do consumo de energia e isso exigirá que a produção
hidrelétrica nacional dobre, mesmo considerando as outras fontes de energia, pois a
hidroeletricidade ainda é a principal responsável pelo abastecimento do país, conforme
Goldemberg e Moreira (2005). Segundo Goldemberg e Lucon (2007) isso não impossibilita o
uso de tecnologias modernas e eficientes no início do processo de desenvolvimento e os
impactos ambientais gerados não podem ser justificados pelo desenvolvimento. A produção
energética necessária para suprir o aumento da demanda deve estar amparada pelos conceitos
de desenvolvimento sustentável e de responsabilidade ambiental.
Em relação a uma política energética mais sustentável, em 1997 Udaeta já apontava
para algumas alternativas que pensava serem mais eficientes para o desenvolvimento
sustentável. Ele já falava na necessidade do emprego de novas tecnologias e uma produção
mais descentralizada para que fosse garantido o suprimento de fontes diversificadas. Além
disso, deveria ser observado o uso, adaptação e desenvolvimento racional dos recursos uma
vez que são finitos bem como o valor agregado a partir desse uso e o custo mínimo da
energia, obtidos com a otimização dos recursos. Não deveria deixar de considerar os custos
reais que contemplem os impactos ambientais e sociais gerados com o represamento,
extração, produção, transmissão e distribuição, armazenamento e uso das energias do
mercado. Some-se a isso a questão importante relacionada à transmissão de doenças que
seriam disseminadas principalmente em relação àquela que já vem se tornando um grande
vilão na região a ser atingida como Altamira, que é a malária. Desta forma, percebe-se que
deveriam ocorrer mudanças na política energética nacional já que o Brasil tem interesse em
ser considerado um país sustentável.
Por outro lado, como foi visto por Inatomi e Udaeta (2000), a construção de barragens
acarreta em inundações de grandes áreas de mata e interfere no curso dos rios, destruindo e
prejudicando espécies vegetais e animais e afeta a ocupação humana. Esta pesquisa verificou
que apesar destes impactos existe ainda a emissão de gases do efeito estufa, em particular o
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metano. Essa emissão não é de conhecimento da maior parte da população e segundo
Fearnside (2008), as emissões são mais altas em hidrelétricas construídas em áreas tropicais
devido à liberação de CO2. Porém, a maior contribuição das hidrelétricas com o efeito estufa é
a liberação de metano (CH4), que gera 25 vezes mais impacto sobre o aquecimento global do
que o gás carbônico. Segundo, De Lima (2005), essas emissões foram comprovadas em
medições realizadas em hidrelétricas como Balbina, no Amazonas e Petit Saut, na Guyana
Francesa. Através dessas informações, esta pesquisa constatou que a ideia de que as
hidrelétricas são fontes de energia limpa não condiz com a realidade.
Quanto à legislação ambiental, verificou-se que existem muitas leias a respeito de
construções como a hidrelétrica de Belo Monte, porém segundo o painel de especialistas
(SANTOS; HERNANDEZ, 2009) os impactos socioambientais deste empreendimento não
foram plenamente dimensionados e que a eficiência energética não compensará os
investimentos e impactos gerados com esse projeto. A lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981
que instituiu no Brasil a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) promoveria o acesso
ao Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) desenvolvido para a região. Mas, o que foi visto é
que, até a realização do leilão, em 20 de abril de 2010, o EIA/RIMA de Belo Monte estava
indisponível para consulta, tanto no site do IBAMA como no site da ELETROBRAS o que
prejudica o acompanhamento pela população do que está sendo previsto para a região.
A Resolução CONAMA nº 01 de 23 de janeiro de 1986, também não foi plenamente
obedecida, pois o EIA de Belo Monte não definiu corretamente os limites geográficos que
serão direta e indiretamente afetados com o projeto, o que também foi visto por Magalhães,
Marin e Castro (2009) no Painel de Especialistas. Não foi considerada, por exemplo, a área
em que ficará a vila de residências dos trabalhadores, nem os agricultores que terão sua
permanência inviabilizada. No trecho de vazão reduzida, estão as Terras Indígenas de Juruna
do Paquiçamba e Arara da Volta Grande e a sua permanência também será prejudicada.
Segundo a Lei Nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que define, no Art. 1º, a Política
Nacional de Recursos Hídricos e seus fundamentos como a água que é um bem de domínio
público; recurso limitado, possui valor econômico; em caso de escassez, o uso prioritário é o
consumo humano e a dessedentação de animais (BRASIL, 1997), está sendo completamente
ignorada pelo projeto de Belo Monte, pois o Rio Xingu será desviado para produção
energética e o consumo humano e de animais, onde a vazão será reduzida, se tornará
impossível. A lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, que é a Lei de Crimes Ambientais, foi
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posta de lado, pois os arts. 68 e 69 A apontam que falhas, omissões ou ausências no
EIA/RIMA são consideradas crime federal (BRASIL, 1998). De acordo com o Painel de
Especialistas, o estudo de Belo Monte, apresenta diversas falhas e omissões (SANTOS;
HERNANDEZ, 2009). Essa lei prevê inclusive, reclusão para aquele que omitir informações
no EIA, mas o que se percebe é que não houve cumprimento da lei. Independente de medidas
compensatórias e/ou mitigadoras que sejam aplicadas com a implantação deste projeto é
fundamental que cada item do EIA seja analisado e que cada uma das 40 condicionantes
estipuladas pelo IBAMA seja cumprida.
10. CONCLUSÃO
Esta pesquisa permitiu perceber que as hidrelétricas são consideradas como fonte
essencial e limpa de energia, a despeito dos impactos socioambientais causados com essas
construções e os órgãos responsáveis pelo suprimento de energia elétrica, voltam atenção
prioritariamente à energia hidráulica, o que pode ocasionar esgotamento dos recursos hídricos,
bem como impactar flora e fauna das regiões de instalação. Verificou-se que a questão
energética no Brasil não está alinhada com os conceitos de sustentabilidade e que o modelo
atual está baseado no aumento da produção, enquanto poderia investir em aperfeiçoamento e
redução de perdas nas linhas de transmissão.
Com relação à Hidrelétrica de Belo Monte, a literatura consultada permitiu identificar
que o empreendimento não é vantajoso, não somente do ponto de vista ambiental devido aos
impactos gerados, mas também do ponto de vista financeiro, pois a usina terá energia firme
assegurada de 40% de sua capacidade, ou seja, 4,4 mil MW ao invés dos 11 mil MW
divulgados, com um investimento de R$ 30 bilhões. Foi verificado que a construção desta
hidrelétrica contribuirá ainda com a proliferação de doenças como malária e Oncocercose
devido à infestação de insetos na região do reservatório.
Concluiu-se que esse tipo de construção não se enquadra mais nos moldes mundiais,
onde a demanda de energia elétrica tem sido suprida por energia eólica, solar ou por pequenas
centrais hidrelétricas. Essas construções megalomaníacas só servem para ilustrar ao mundo o
quanto o Brasil é desenvolvido, mas qual será o tipo de desenvolvimento que a população
realmente quer? O crescimento não pode ser restrito a algumas camadas sociais, o
desenvolvimento deveria contemplar a opinião todos os envolvidos e privilegiar já que se trata
de desenvolvimento sustentável, a preservação da natureza.
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