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CAMPO DE INVESTIGAÇÃO III: CONHECER Tema: A Racionalidade Científica Tópico: Teoria e Experiência II: O problema da indução Porque ensinar A crença de que a ciência é a única forma válida de conhecimento, cuja legitimidade se baseia na obediência estrita aos preceitos do chamado “método científico” ou método indutivo, é compartilhada de maneira ingênua por uma ampla maioria de pessoas. O estudo dos problemas epistemológicos acarretados pela adoção dessa crença pode levar os estudantes a um posicionamento mais crítico sobre os alcances e limites do conhecimento científico. Condições prévias para ensinar Os livros didáticos dedicados ao ensino de ciências, tanto do nível fundamental quanto do médio, são os principais veículos de uma concepção positivista, que credita ao método indutivo a razão do sucesso da ciência. A adequação dessa perspectiva metodológica ao que se passa efetivamente na prática das diversas ciências será o objetivo do estudo deste tópico. O professor deve ter claro que o chamado “método científico” é uma invenção filosófica e não científica. Ela foi criada para se tentar compreender as razões do sucesso científico. Resta-nos no entanto saber se essa concepção resiste a uma análise mais aprofundada. O que ensinar O objetivo deste tópico é, pois, investigar os problemas ligados à adoção da perspectiva indutivista. Antes, porém, é preciso explicitar o que é o método indutivo e o que se pretende com ele. O professor não deve preocupar-se com as diversas formas de indução, trazidas à luz pelo desenvolvimento da lógica contemporânea, mas somente com uma forma particular de indução, denominada indução enumerativa ou indução por enumeração. Trata-se de uma forma de inferir proposições universais (Todos os gansos são brancos) a partir de proposições derivadas de instâncias particulares de observação (a é um ganso branco, b é um ganso branco, c é um ganso branco, etc ...). As inferências indutivas se distinguem das inferências dedutivas principalmente pelo fato de suas conclusões apresentarem informações que não estão presentes, nem mesmo implicitamente, em suas premissas. Na indução, a conclusão extrapola o conteúdo das premissas, sendo por isso considerada ampliativa. Isto é, as inferências indutivas buscam ampliar o escopo do nosso conhecimento. Nas inferências dedutivas, logicamente válidas, ao contrário, se as premissas forem consideradas verdadeiras, a conclusão será também necessariamente verdadeira. Toda informação da conclusão obtida numa inferência dedutiva já estava contida nas premissas. Nesse sentido, os raciocínios dedutivos apenas explicitam o conteúdo de suas premissas. Não há ampliação de conhecimento, apenas clarificação ou explicitação. Essas características fizeram com que Francis Bacon (1561-1626) considerasse o raciocínio indutivo a base do chamado “método científico experimental”. A partir de Bacon, a indução por enumeração passou a ser considerada o mot or da atividade científica legitimamente válida, a forma de obter leis universais a partir das informações particulares obtidas com base em observações meticulosas e isentas de noções pré-concebidas. No entanto, do ponto de vista lógico, as inferências indutivas não são confiáveis como são as inferências dedutivas. Por não implicarem em necessidade lógica, o conhecimento científico não teria nenhuma garantia de verdade. O filósofo escocês David Hume (1711-1776) foi o primeiro a explicitar o chamado problema da indução, denunciando a ilusão presente nas conexões pretensamente necessárias obtidas com base na observação dos fatos. Se o método indutivo não nos serve de base para separar um conhecimento confiável daquele que não o é, qual critério poderemos utilizar para demarcar o campo da ciência, distinguindo-a de outras formas de conhecimento? Ao se deparar com o problema da indução, o filósofo Karl Popper (1902-1994) vai sustentar que a indução não tem nenhuma função na lógica da ciência. Segundo ele, a ciência é um processo dedutivo no qual teorias universais são conjecturas que são testadas pela derivação de conseqüências observáveis. Teorias não são obtidas via indução, nem tão pouco confirmadas ou verificadas pela experiência. Para Popper, teorias são produtos da imaginação, que deverão ser submetidas a testes de falsificação a fim de serem rejeitadas ou corroboradas. Como ensinar Sequenciação: (continuação da OP anterior) 3. O problema da indução

A Racionalidade Científica - Teoria e Experiêcia II

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  • CAMPO DE INVESTIGAO III:

    CONHECER

    Tema: A Racionalidade Cientfica

    Tpico: Teoria e Experincia II: O problema da induo

    Porque ensinar

    A crena de que a cincia a nica forma vlida de conhecimento, cuja legitimidade se baseia na obedincia estrita aos preceitos do chamado mtodo cientfico ou mtodo indutivo, compartilhada de maneira ingnua por uma ampla maioria de pessoas. O estudo dos problemas epistemolgicos acarretados pela adoo dessa crena pode levar os estudantes a um posicionamento mais crtico sobre os alcances e limites do conhecimento cientfico.

    Condies prvias para ensinar

    Os livros didticos dedicados ao ensino de cincias, tanto do nvel fundamental quanto do mdio, so os principais veculos de uma concepo positivista, que credita ao mtodo indutivo a razo do sucesso da cincia. A adequao dessa perspectiva metodolgica ao que se passa efetivamente na prtica das diversas cincias ser o objetivo do estudo deste tpico.

    O professor deve ter claro que o chamado mtodo cientfico uma inveno filosfica e no cientfica. Ela foi criada para se tentar compreender as razes do sucesso cientfico. Resta-nos no entanto saber se essa concepo resiste a uma anlise mais aprofundada.

    O que ensinar

    O objetivo deste tpico , pois, investigar os problemas ligados adoo da perspectiva indutivista. Antes, porm, preciso explicitar o que o mtodo indutivo e o que se pretende com ele.

    O professor no deve preocupar-se com as diversas formas de induo, trazidas luz pelo desenvolvimento da lgica contempornea, mas somente com uma forma particular de induo, denominada induo enumerativa ou induo por enumerao. Trata-se de uma forma de inferir proposies universais (Todos os gansos so brancos) a partir de proposies derivadas de instncias particulares de observao (a um ganso branco, b um ganso branco, c um ganso branco, etc ...).

    As inferncias indutivas se distinguem das inferncias dedutivas principalmente pelo fato de suas concluses apresentarem informaes que no esto presentes, nem mesmo implicitamente, em suas premissas. Na induo, a concluso extrapola o contedo das premissas, sendo por isso considerada ampliativa. Isto , as inferncias indutivas buscam ampliar o escopo do nosso conhecimento. Nas inferncias dedutivas, logicamente vlidas, ao contrrio, se as premissas forem consideradas verdadeiras, a concluso ser tambm necessariamente verdadeira. Toda informao da concluso obtida numa inferncia dedutiva j estava contida nas premissas. Nesse sentido, os raciocnios dedutivos apenas explicitam o contedo de suas premissas. No h ampliao de conhecimento, apenas clarificao ou explicitao.

    Essas caractersticas fizeram com que Francis Bacon (1561-1626) considerasse o raciocnio indutivo a base do chamado mtodo cientfico experimental. A partir de Bacon, a induo por enumerao passou a ser considerada o motor da atividade cientfica legitimamente vlida, a forma de obter leis universais a partir das informaes particulares obtidas com base em observaes meticulosas e isentas de noes pr-concebidas.

    No entanto, do ponto de vista lgico, as inferncias indutivas no so confiveis como so as inferncias dedutivas. Por no implicarem em necessidade lgica, o conhecimento cientfico no teria nenhuma garantia de verdade. O filsofo escocs David Hume (1711-1776) foi o primeiro a explicitar o chamado problema da induo, denunciando a iluso presente nas conexes pretensamente necessrias obtidas com base na observao dos fatos. Se o mtodo indutivo no nos serve de base para separar um conhecimento confivel daquele que no o , qual critrio poderemos utilizar para demarcar o campo da cincia, distinguindo-a de outras formas de conhecimento?

    Ao se deparar com o problema da induo, o filsofo Karl Popper (1902-1994) vai sustentar que a induo no tem nenhuma funo na lgica da cincia. Segundo ele, a cincia um processo dedutivo no qual teorias universais so conjecturas que so testadas pela derivao de conseqncias observveis. Teorias no so obtidas via induo, nem to pouco confirmadas ou verificadas pela experincia. Para Popper, teorias so produtos da imaginao, que devero ser submetidas a testes de falsificao a fim de serem rejeitadas ou corroboradas.

    Como ensinar

    Sequenciao: (continuao da OP anterior)

    3. O problema da induo

  • 4. Alternativas crticas ao problema da induo

    Formas de abordagem, mtodos e recursos:

    3a. ETAPA : Problematizao - Apresentao seja atravs de aula expositiva ou da leitura de alguns fragmentos de textos

    previamente selecionados do problema da induo.

    Textos de referncia para o professor:

    1. CHALMERS, A. F. O problema da induo. In: O Que a Cincia, Afinal? Trad. Raul Fiker. So Paulo: Brasiliense, 2000. Cap. II. p. 36-45.

    2. ALVES, R. A Aposta. In: Filosofia da Cincia. So Paulo: Brasiliense, 1981. Cap. 7. p. 109-126.

    4a. ETAPA : Aprofundamento Apresentao seja atravs de aula expositiva ou da leitura de alguns fragmentos de textos

    previamente selecionados de alternativas crticas ao problema da induo:

    Textos de referncia para o professor:

    1. CHALMERS, A. F. A dependncia que a observao tem da teoria. In: O Que a Cincia, Afinal? Trad. Raul Fiker. So Paulo: Brasiliense, 2000. Cap. III. p. 46-63.

    2. ALVES, R. A Construo dos Fatos. In: Filosofia da Cincia. So Paulo: Brasiliense, 1981. Cap. 8. p. 127-141.

    Como avaliar

    Sugesto de algumas questes que podero ser objeto de textos dissertativos:

    - Pode existir experincia sem teoria?

    - Todo conhecimento provm da experincia?

    - Os fatos cientficos so simplesmente constatados?

    - Em que condies uma experincia cientfica?

    - A teoria pode prescindir da experincia?

    - Pode-se ter razo contra os fatos?

    - A experincia pode confirmar uma idia falsa?

    Orientao Pedaggica: Teoria e Experincia II: O problema da induo

    Currculo Bsico Comum - Filosofia Ensino Mdio

    Autor: Patrcia Kauark Leite

    Centro de Referncia Virtual do Professor - SEE-MG / abril 2009