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A Regulação dos Operadores de Infra-Estruturas Rodoviárias Gonçalo Pereira Rosmaninho Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Júri Presidente: Doutor José Álvaro Pereira Antunes Ferreira Orientador: Doutor Rui Domingos Ribeiro da Cunha Marques Vogal: Doutor João António de Abreu e Silva Outubro de 2010

A Regulação dos Operadores de Infra-Estruturas Rodoviárias · Como principal resultado dessas mudanças, o país hoje apresenta uma rede de auto-estradas ... que em Portugal é

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A Regulação dos Operadores de Infra-Estruturas

Rodoviárias

Gonçalo Pereira Rosmaninho

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Júri

Presidente: Doutor José Álvaro Pereira Antunes Ferreira

Orientador: Doutor Rui Domingos Ribeiro da Cunha Marques

Vogal: Doutor João António de Abreu e Silva

Outubro de 2010

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Agradecimentos

Ao professor Rui Cunha Marques, o meu especial agradecimento pela orientação e

conhecimentos transmitidos ao longo deste último ano.

À Direcção de Regulação e Concessão do InIR e à Estradas de Portugal, que forneceram toda

a documentação por mim solicitada e pela sua disponibilidade em responder a todas as

questões levantadas.

Aos meus pais e a todas as pessoas, que directa ou indirectamente, contribuíram para a

execução deste documento.

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Resumo

O sector rodoviário em Portugal tem sofrido nas últimas duas décadas profundas alterações.

Como principal resultado dessas mudanças, o país hoje apresenta uma rede de auto-estradas

de qualidade, que permite a circulação com qualidade para praticamente qualquer ponto do

país. Essas auto-estradas são operadas por entidades privadas, através de contratos de

concessão outorgados entre estas e os parceiros públicos, o Estado directamente, ou através

da Estradas de Portugal. Estas concessões rodoviárias, enquadráveis no espectro das

parcerias público-privadas, necessitam de ser alvo de regulação. Esta regulação poderá estar

contida nos contratos de concessão, ou ser desenvolvida através de uma entidade reguladora

do sector rodoviário, que em Portugal é o Instituto de Infra-estruturas Rodoviárias (InIR). A

regulação contida nos contratos, apesar de terem alguns pontos em comum, varia de

concessão para concessão, tendo cada um as suas particularidades. As atribuições do InIR

enquanto regulador do sector rodoviário em Portugal em conjunto com os contratos e

legislação aplicável em vigor definem as regras para a participação neste sector. Apesar de

todos os méritos das concessões rodoviárias em Portugal, este poderá ser bem maior se for

aumentada a qualidade da regulação dos operadores, quer ao nível de desenho dos contratos,

quer tornando o InIR num regulador mais independente, pró-activo e conferir-lhe as

ferramentas adequadas para o desempenho das suas atribuições na área da regulação.

Palavras-chave: regulação; concessão; sector rodoviário; contrato.

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Abstract

The Portuguese road sector, in the last two decades, has experienced profound changes. The

main outcome of these changes is a fine motorway network, which allows traveling across

almost all the country with comfort and ease. These highways are operated by private entities,

through concession contracts signed between them and the public partner, the State directly, or

indirectly by the Portugal Road Company (EP). These concessions, which are public-private

partnerships types, need to be subject to regulation. This regulation could be contained in the

concession contracts, or carried by a road sector regulator, which in Portugal is the Institute for

the Road Sector (InIR). The regulation by contract, although some common features, differs and

has specific particularities on each contract type. The regulation duties designated to InIR

together with the contracts and the legal framework, defines the Portuguese road sector

participation rules. In Portugal, the success of concessions in the road sector can be much

higher if there are improvements on contract design and if the regulator becomes more

independent, more pro-active, and is endowed with more tools.

Keywords: regulation; concession; road sector; contract.

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Índice

Agradecimentos………………………………………………………………………...i

Resumo……………………………………………………………………………....…ii

1.Introdução ........................................................................................ 1

1.1. Considerações gerais ......................................................................................................... 1

1.2.Objectivos da dissertação ................................................................................................... 2

1.3. Metodologia ........................................................................................................................ 3

2. Sector Rodoviário em Portugal ............................................................ 4

2.1. Descrição da rede rodoviária Nacional .............................................................................. 4

2.2. Entidades e players envolvidos .......................................................................................... 4

2.2.1. Sector Público (Estado) ............................................................................................... 5

2.2.2. ―Players‖ – Parceiros Privados .................................................................................. 10

2.2.3 Outros intervenientes ................................................................................................. 11

2.3. Outros sectores rodoviários na Europa – Players e entidades reguladoras .................... 12

3. Fundamentos Teóricos da Regulação ................................................. 15

3.1. Introdução teórica ............................................................................................................. 15

3.2. Monopólios ....................................................................................................................... 15

3.3. Informação........................................................................................................................ 17

3.4. Objectivos e finalidades da regulação ............................................................................. 17

3.5. Regulação pública Vs auto-regulação ............................................................................. 18

3.6. Quem regula? ................................................................................................................... 20

3.7. Classificação da regulação .............................................................................................. 20

3.8. Estratégias de regulação para infra-estruturas ................................................................ 23

3.9. Regulação no sector rodoviário........................................................................................ 24

3.9.1. Funções da regulação ............................................................................................... 24

3.9.2. O que é uma concessão? ......................................................................................... 25

3.9.3. Como funciona uma concessão? .............................................................................. 26

3.9.4. Procedimento concursal ............................................................................................ 28

3.9.4. Riscos ........................................................................................................................ 30

3.9.5. Renegociação ........................................................................................................... 31

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4. Enquadramento e análise de contratos ................................................ 32

4.1. Código dos contratos públicos ......................................................................................... 32

4.2. Regime Jurídico das PPP (RJPPP) ................................................................................. 34

4.3. Outros pontos em comum ................................................................................................ 35

4.3.1 Reposição do equilíbrio financeiro ............................................................................. 35

4.3.2. Duração ..................................................................................................................... 36

4.3.3. Expropriações............................................................................................................ 37

4.3.4. Plano de controlo e qualidade/Manual de operação e manutenção ......................... 37

4.3.5. Caução e seguros ..................................................................................................... 38

4.3.6. Resgate, sequestro e rescisão .................................................................................. 38

4.4. Concessão Brisa .............................................................................................................. 40

4.4.2. Análise do contrato .................................................................................................... 41

4.5. Contrato Beira Interior ...................................................................................................... 42

4.5.2. Análise do contrato .................................................................................................... 43

4.6. Concessão Norte .............................................................................................................. 46

4.6.2. Análise do contrato .................................................................................................... 47

4.7. Concessão Douro Interior ................................................................................................ 50

4.7.2 Concurso até ao contrato final - Follow up ................................................................. 51

4.7.3. Análise do contrato .................................................................................................... 58

4.8. Análise comparativa dos contratos e conclusões ............................................................ 62

5. InIR .............................................................................................. 66

5.1. Enquadramento e missão ................................................................................................ 66

5.2. Estrutura ........................................................................................................................... 68

5.3. InIR nos contratos de concessão ..................................................................................... 69

5.4. InIR, regulador do sector rodoviário - análise de actividade e recomendações .............. 72

6. Disposições Finais .......................................................................... 75

6.1. Conclusões ....................................................................................................................... 75

6.2. Desafios e expectativas ................................................................................................... 77

6.3. Desenvolvimentos futuros ................................................................................................ 77

Bibliografia ........................................................................................ 79

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Índice de Figuras

Figura 1 – Restrições às concessões rodoviárias ......................................................................... 2

Figura 2 - Principais intervenientes no sector rodoviário nacional. ............................................... 4

Figura 3 - Estratégias para regular monopólios .......................................................................... 16

Figura 4 - Divisão da regulação em estatal e auto-regulação .................................................... 18

Figura 5 - Comparação entre limite de preços e taxa de remuneração ..................................... 22

Figura 6 - Espectro de formas de participação do sector privado no fornecimento e gestão de

uma infra-estrutura .................................................................................................... 26

Figura 7 - Etapas de uma concessão ......................................................................................... 28

Figura 8 - Regulação ex-ante e ex-post. ..................................................................................... 29

Figura 9 - Principais riscos de uma concessão de uma obra pública ......................................... 30

Figura 10 – Procedimentos habituais no decorrer de um concurso público internacional. ........ 33

Figura 11 – Km de auto-estrada concessionados pela Brisa e restantes concessionárias........ 40

Figura 12 – Esquema com a localização da concessão Beira Interior. ...................................... 43

Figura 13 – Esquema com a localização das duas vias pertencentes à concessão Norte ........ 46

Figura 14 – Esquema com a localização das duas vias pertencentes ....................................... 51

Figura 15 – Evolução dos mecanismos de regulação nos contratos. ......................................... 63

Figura 16 – Necessidade de regulação face ao número e complexidade de mecanismos de

regulação contratual .................................................................................................. 64

Figura 17 – Organigrama do InIR................................................................................................ 68

Figura 18 – Encadeamento dos contratos e relações entre Estado, EP e concessionárias ...... 71

Índice de Quadros

Quadro 1 – Extensão do Plano Rodoviário Nacional .................................................................... 4

Quadro 2 - Matriz de classificação de regulação. ....................................................................... 21

Quadro 3 – Ano em que expiram os contratos de concessão estudados. ................................. 37

Quadro 4 – Auto-estradas incluídas na concessão Brisa e respectiva extensão. ...................... 40

Quadro 5 – Critérios de avaliação das propostas. ...................................................................... 52

Quadro 6 – Comparação das pontuações atribuídas às propostas dos dois concorrentes

finalistas. .................................................................................................................... 53

Quadro 7 – Diferenças entre a proposta da primeira fase e a BAFO. ........................................ 55

Quadro 8 – Pontuações obtidas pela subconcessionária desde a 1ª Fase até à proposta final

reformada. ................................................................................................................. 57

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Índice de Abreviaturas

AC – Autoridade da Concorrência

AE – Auto-estrada

ANAS - Azienda Nazionale Autonoma delle Strade

APCAP - Associação Portuguesa das Sociedades Concessionárias de Auto-Estradas ou

Pontes com Portagem

ASECAP - Association Européenne des Concessionnaires d'Autoroutes et d'ouvrages à Péage

ASETA - Asociación de Sociedades Españolas Concesionarias de Autopistas, Túneles,

Puentes y Vías de Peaje

BAFO – Best And Final Offer

BCP – Banco Comercial Português

BEI – Banco Europeu de Investimento

BES – Banco Espírito Santo

BOOT – Build-Own-Operate-Transfer

BOT – Build-Operate-Transfer

BPI – Banco Português de Investimento

CCDR - Comissões de Coordenação do Desenvolvimento Regional

CCP – Código dos Contratos Públicos

CCR - Companhia de Concessões Rodoviárias

CGD – Caixa Geral de Depósitos

DBOT – Design-Build-Operate-Transfer

DFBO – Design-Finance-Build-Operate

DGTF - Direcção Geral do Tesouro e Finanças

DIA – Declaração de Impacte Ambiental

DL – Decreto-Lei

DR – Diário da República

EN – Estrada Nacional

EP – Estradas de Portugal, S.A.

GASEPC - Gabinete de Acompanhamento do Sector Empresarial do Estado, das Parcerias

Público-Privadas e Concessões

IC – Itinerário Complementar

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ICERR - Instituto para a Conservação e Exploração da Rede Rodoviária

ICOR – Instituto para a Conservação Rodoviária

IEP – Instituto das Estradas de Portugal, I.P.

IGF - Inspecção-Geral de Finanças

IGOPTC – Inspecção-Geral das Obras Públicas, Transportes e Comunicações

InIR – Instituto de Infra-Estruturas Rodoviárias, I.P.

IP – Itinerário Principal

IPC – Índice de Preços no Consumidor

JAE – Junta Autónoma das Estradas

JOUE – Jornal Oficial da União Europeia

MA – Ministério do Ambiente

MAPP - Mission d’appui à la réalisation dês contrats partenariat.

MFAP - Ministério das Finanças e da Administração Pública

MOPTC – Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações

NAO – National Audit Office

NMGFSR – Novo Modelo de Gestão e Financiamento do Sector Rodoviário

NRA - National Roads Authority

OECD – Organization for Economic Co-operation and Development

OGC - Office of Government Commerce

PFI - Private Finance Initiative

PPP – Parceria Público-Privadas

PRN – Plano Nacional Rodoviário

RACVE - Rácio de Cobertura da Vida do Empréstimo

RCASD - Rácio de Cobertura Anual do Serviço da Dívida

RJPPP – Regime Jurídico da Parcerias Público-Privadas

SCI - Sistema de controlo interno da administração financeira do Estado

SCUT – Auto-estrada sem custos para o utilizador

TC – Tribunal de Contas

TIR – Taxa Interna de Rentabilidade

TMDA – Tráfego Médio Diário Anual

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UE – União Europeia

UFP - Unitá tecnica Finanza di Progetto

UN – United Nations

VAL – Valor Actualizado Liquido

VFM – Value for Money

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1.Introdução

1.1. Considerações gerais

A primeira concessão rodoviária no nosso país foi atribuída em 1972, tendo por objecto a

construção, manutenção e exploração da auto-estrada de ligação de Lisboa ao Porto. Mas

poder-se-á dizer que as concessões rodoviárias modernas, ou seja, inseridas num contexto de

parceria público-privada, PPP, em que concretamente existem duas partes distintas com

diferentes interesses, uma pública e outra privada, apenas surgiram no nosso país na última

década do século passado. Com a entrada em vigor do Novo Modelo de Gestão e

Financiamento do Sector Rodoviário alterações, o NMGFSR, em 2007, houve significativas

alterações no sector, especialmente na forma como o sector privado interage com o público,

principalmente modificações ao nível dos contratos e respectivo formato de regulação neles

contido. Implicou ainda a criação de uma entidade com funções de regulação e fiscalização do

sector. Foram revistas as atribuições e estatutos da Estradas de Portugal, dando a esta

independência financeira. Ainda se estará numa fase algo precoce para que os reais resultados

deste novo modelo possam ser aferidos, entre outras razões pelo facto de este ainda estar a

ser implementado, onde muitos contratos ainda estão a ser enquadrados nesta nova filosofia.

Esta reforma tem sofrido alguns revezes, sendo o mais relevante a actual crise dos mercados

financeiros, que tornam sobremaneira mais difícil o acesso aos fundos necessários ao

financiamento do sector. Também alguma contestação política e mesmo dentro do próprio

sector com alguma resistência à implementação de novas dinâmicas de relações entre as

instituições com responsabilidade em termos de regulação no sector.

Quanto aos operadores privados, contém sempre na sua estrutura grandes empresas e

bancos, que por norma têm outras áreas de negócio para além das concessões rodoviárias.

Esta omnipresença por parte destes grandes grupos gera sempre desconfiança por parte das

populações quanto às reais intenções e méritos dos proveitos obtidos. A questão colocada será

quanto à legitimidade desses lucros, ou se existe algum sobre aproveitamento da conjuntura ou

de relações ao nível governamental que possam existir. Outra questão bastante polémica,

principalmente nos tempos mais recentes tem sido o modelo de financiamento das

concessões. A recente disposição, justificada pela implementação do princípio do utilizador-

pagador, para alterar as concessões sem custos para o utente1, as SCUT, por vias fisicamente

portajadas, mesmo que com isenções pontuais, tem causado alguma celeuma na opinião

pública. A regulação poderá ter um importante papel a desempenhar, quanto mais que não

seja, credibilizar na opinião pública as concessões rodoviárias.

Apesar de todas as críticas e defeitos que possam ser apontados a este sistema, são

incontornáveis os méritos das concessões rodoviárias em Portugal. O nosso país tinha uma

1 Neste documento, o conceito de utente englobará os conceitos de cliente, utilizador e cliente.

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rede de auto-estradas muito pobre, e graves problemas relacionados com sinistralidade na

rede viária existente. Este modelo de concessões em regime de PPP, permitiu a rápida

construção de adequadas infra-estruturas rodoviárias sem violar os limites de deficit e divida

pública, impostos pela União Europeia, permitindo ainda canalizar fundos para outros sectores

da sociedade como educação e saúde. A verdade é que actualmente existe uma rede de infra-

estruturas rodoviárias, sobretudo auto-estradas que permite viajar com rapidez, conforto e

segurança por praticamente todo o território português.

Figura 1 – Restrições às concessões rodoviárias

1.2.Objectivos da dissertação

Com a realização deste trabalho de investigação pretende-se estudar a regulação pública dos

operadores de infra-estruturas rodoviárias concessionadas em Portugal. Compreender o que é

a regulação e os seus fundamentos verificar como se processa em todas as etapas do ciclo de

vida de uma concessão, desde o processo de concurso até ao final do período de vigência

desta. Procuram se aferir o tipo de entidades, e respectivas atribuições, bem como os

mecanismos previstos, quer a nível de contrato em si, quer fora deste. Este documento

pretende não apenas encarar as concessões rodoviárias do ponto de vista estatal, mas

também tentar compreender o lado das concessionárias privadas.

A forma como decorrem os procedimentos concursais, e o modo como a regulação poderá

fazer-se sentir logo nesta fase mais precoce, e que benefícios se poderão tirar desta será

também um aspecto abordado. Outro ponto importante será entender a dinâmica contratual

entre concessionária e concedente, de que forma esta é recompensada pelo fornecimento do

serviço, e que penalizações estão previstas para o caso de se verificarem incumprimentos. Por

último, outro objectivo será tentar compreender o papel do Instituto de Infra-estruturas

Rodoviárias, o InIR. Que funções são desempenhadas por este organismo, que oficialmente é

o regulador dedicado deste sector, e de que forma intervém e interage, quer com as

concessionárias, quer com o concedente, serão assuntos relevantes nesta dissertação, bem

Problema

• Rede de infra-estruturas rodoviárias deficiente

• Graves problemas de segurança, traduzida em elevados indíces de sinistralidade

Restrições

• Fundos públicos tinham que estar disponiveis para outra áreas

• Restrições impostas pela UE em termos de déficit e divida pública

Solução

• O governo Português recorreu a PPP sob a forma de concessões para proceder à construção e operação de infra-estruturas rodoviárias

Resultado

• Portugal está neste momento equipado com uma moderna rede de auto-estradas

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como perceber as dificuldades que esta instituição se depara na prossecução das suas

atribuições.

1.3. Metodologia

O primeiro passo na realização desta dissertação foi perceber o sector rodoviário, quais os

seus intervenientes e respectivas atribuições, sejam eles pertencentes ao sector público ou

privado. Basicamente as fontes utilizadas para recolher esta informação foram as páginas de

internet institucionais das entidades públicas e companhias privadas, e o recurso a relatórios

de actividades bem como alguma legislação.

Depois, e talvez o passo mais importante, foi compreender o conceito de regulação. Foi

realizada vasta pesquisa bibliográfica que, numa primeira instancia até poder-se-ia pensar que

seria parca, mas que apresentou como uma das maiores dificuldades a selecção e filtragem de

conteúdos. Trata-se de uma temática que apresenta variadas correntes de pensamento, e com

alguma facilidade se encontram artigos que defendem uma posição face a uma problemática, e

provam a sua razão, e logo a seguir outro artigo que defende claramente o oposto. Trata-se de

uma matéria pluridisciplinar que encerra conceitos de economia, gestão, administração pública,

direito, engenharia, entre outros. Salientar a existência de alguma bibliografia portuguesa com

qualidade a respeito desta temática.

Seguiu-se depois uma análise de casos de estudo relativos a quatro contratos de concessão.

Para a obtenção dos contratos, e de alguns anexos que pudessem ser úteis, contactou-se o

InIR e a EP, forneceram estes documentos, assim como alguma informação complementar

acerca da gestão dos contratos, e das relações entre as duas entidades. No processo de

reunião de informação acerca dos contratos, por ser o mais recente e ter estado envolvido

nalguma polémica, obteve-se muito material acerca do contrato Douro Interior. Decidiu-se

então, aproveitando essa informação, realizar um estudo mais aprofundado de todo o processo

contratual, desde o lançamento do concurso, até à sua adjudicação final. São analisados os

mecanismos de regulação presentes nestes contratos, confrontando os seus pontos em

comum e as suas diferenças, e de que forma isso poderá afectar a sua eficácia e eficiência.

Finalmente procede-se a uma análise mais profunda ao InIR. São descritos os seus objectivos,

bem como a sua estrutura orgânica. Como fonte principal de informação recorreu-se aos

decretos que o criaram, e outros documentos fornecidos pela instituição, como o balanço social

e plano de gestão de riscos. Voltou-se a recorrer aos contratos de concessão, para analisar em

que medida e com que funções o InIR está nestes presente. Tentou-se apontar alguns

aspectos com margem para melhoria, indicando possíveis abordagens, e enquadrando o InIR

nos conceitos teóricos descritos na primeira fase do trabalho. Realçar a importância do

contacto directo com o InIR e EP, que permitiu compreender as dificuldades que surgem no

desempenhar das suas funções.

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2. Sector Rodoviário em Portugal

2.1. Descrição da rede rodoviária Nacional

De acordo com o relatório de monitorização da rede de auto-estradas de 2009, produzido pelo

INIR, existem cerca de 8.500km da rede rodoviária nacional já construídos dos quais 2.200 km

são Itinerários Principais (IP), 1.400 são km Itinerários Complementares (IC) e 4.900 km são

Estradas Nacionais (EN).

No quadro 1 compara-se a rede viária já em exploração, com a extensão prevista pelo PRN.

Quadro 1 – Extensão do Plano Rodoviário Nacional

PRN

(km)

Em Exploração

(km)

Realização

(%)

IP 2.516 2.200 87%

IC 3.365 1.400 42%

EN 4.900 4.900 100%

Quanto à rede nacional de auto-estradas, apresenta actualmente uma extensão de 2.575 km,

sendo que 1.500 km são auto-estradas com portagem (58%), e os restantes 1.075 km sem

portagem (42%). De notar que nos últimos oito anos entraram em exploração 1.288 km de

auto-estradas.

2.2. Entidades e players envolvidos

Figura 2 - Principais intervenientes no sector rodoviário nacional

Estado

Regulação/

Fiscalização

Sectorial

INIR

IGOPTC

MOPTC

Comissões

Transversal

TC

IGF

DGTF

Parpublica

MFAP

MA

AC

Concedente

EP

Outros Intervenientes

Municípios

Sector Privado

"Players"

Brisa

Ascendi

etc.

Outros Intervenientes

Bancos

Entidades Financeiras

Consultores Externos

Projectistas

Construtoras

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No panorama nacional existem muitos stakeholders, ou seja entidades que afectam ou são

afectadas por toda a envolvente do sector rodoviário nacional. O estado assume dois papéis, o

de concedente, e ainda as funções fiscalização/regulação. Depois do lado privado temos todos

os players intervenientes, empresas e consórcios que afiguram o parceiro privado. Existem

ainda outros stakeholders importantes a considerar, como as entidades autárquicas, bancos e

outras entidades financiadoras, consultores externos e por fim a população em geral. Na figura

2 são indicados os principais actores do sector rodoviário português.

2.2.1. Sector Público (Estado)

O papel do Estado enquanto concedente, ou seja, enquanto um dos parceiros da PPP, é

desempenhado pela EP. Já as funções de fiscalização e regulação são atribuídas a diferentes

entidades estatais, umas específicas do sector rodoviário, enquanto outras transversais a

diversas áreas de intervenção. Devido ao grande número, talvez excessivo, de entidades com

responsabilidades neste processo, por vezes existem divergências entre os vários

intervenientes em pontos como, processos de reequilíbrio financeiro, contratação de

outsourcing, aferição do value for money (VFM) ou questões relacionadas com a assimetria de

informação concedente/concessionária. 2

De seguida apresentam-se esses intervenientes, com

as suas respectivas funções e actividade recente.

a) EP

A EP, tem nos últimos anos sofrido muitas transformações. 3

É sucedânea de três Institutos

públicos constituídos em 1999: o Instituto das Estradas de Portugal (IEP), o Instituto para a

Conservação Rodoviária (ICOR) e o Instituto para a Conservação e Exploração da Rede

Rodoviária (ICERR). A criação destes três institutos públicos surgiu como resposta a uma série

de acontecimentos polémicos que expuseram fragilidades funcionais e alguma falta de

transparência da antiga Junta Autónoma das Estradas (JAE), que desde 1927 vinha sendo a

representante estatal no que tocava a assuntos envolvendo infra-estruturas rodoviárias. A

partição das funções da JAE nos três institutos públicos não teve os resultados esperados,

devido à falta de articulação, indefinição funcional e à falta de apoio da opinião pública. Prova

deste insucesso foi a sua curta existência. Logo em 2002 foram extintos o ICOR e o ICERR,

assumindo o IEP as funções destes. Em 2004 o IEP, foi transformado na Estradas de Portugal,

E.P.E., classificada com uma entidade pública empresarial, convertendo-se a administração

rodoviária numa entidade de natureza empresarial. Finalmente, já em 2007, com a

implementação do novo Modelo de Gestão e Financiamento do Sector Rodoviário, 4

assume o

formato actual com a denominação de EP - Estradas de Portugal, S.A, através do Decreto-Lei

(DL) n.º 374/2007.

2 Acerca destas divergências de posição verificadas na fiscalização destes projectos, vide (TC, 2008b).

3 Vide site institucional: www.estradasdeportugal.pt.

4 Aprovado pela resolução do Conselho de Ministros n.º 89/2007.

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A EP S.A., enquanto empresa, define-se como uma sociedade anónima de capitais públicos,

cujo capital social é detido na sua totalidade pelo Estado Português, que exerce os seus

direitos como accionista através da Direcção-Geral do Tesouro e das Finanças. Em 2007 foi

assinado um contrato de concessão, com a duração de 75 anos (embora originalmente fosse

92 anos, ou seja até ao final de 2099) entre o estado português, concedente, e a EP,

concessionária, tendo por objecto de concessão o financiamento, planeamento, concepção,

projecto, construção, requalificação, alargamento, exploração e conservação da rede rodoviária

actual e futura. Torna-se então a ser a concessionária geral da rede rodoviária nacional,

passando todos os operadores privados com contratos de concessão, a serem

subconcessionários da EP. As atribuições da EP são transversais às diversas fases do de todo

o processo, desde o planeamento ao controlo da exploração, passando pelo apoio às diversas

comissões que, nas fases de lançamento, contratação, reequilíbrio financeiro e renegociação,

são constituídas.

b) InIR

O Instituto de Infra-estruturas Rodoviárias, I.P. (INIR), é um instituto público dotado de

autonomia administrativa integrado na administração indirecta do estado. Prossegue

atribuições do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, sob

superintendência e tutela do respectivo ministro. 5

Criado pelo DL n.º 148/2007, é o regulador

oficial do sector rodoviário. Segundo este decreto, estão sujeitas à jurisdição do INIR, a EP e

os concessionários e subconcessionários de segmentos da rede rodoviária, e ainda

fornecedores de bens e serviços de construção, operação e manutenção de infra-estruturas

rodoviárias, em actividades sujeitas a regime legal de contratação pública, e no que respeita às

funções de normalização. Tem, entre outras, as seguintes atribuições:

Fiscalizar o cumprimento das obrigações pelos operadores do sector;

Promover a concorrência no sector rodoviário;

Desempenhar funções de arbitragem e resolução de litígios e promover a resolução

de conflitos entre operadores e gestores da rede ou entre eles e os utentes;

Supervisionar a gestão da rede rodoviária e fazer cumprir as regras e obrigações que

lhe são aplicáveis, nos termos da lei e dos respectivos contratos de concessão e

subconcessão;

Exercer as demais funções previstas noutros instrumentos legais ou contratuais,

designadamente no Estatuto das Estradas Nacionais, no Plano Rodoviário Nacional e

nos contratos de concessão e subconcessão de infra-estruturas rodoviárias;

Produzir e prestar informação ao Governo e ao público nas áreas de gestão e

regulação das infra-estruturas rodoviárias.

5 Vide site institucional: www.inir.pt.

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7

A necessidade da criação de um regulador específico do sector nasce com a conversão da EP

em concessionária da rede nacional rodoviária. A esta última estavam-lhe atribuídas as

funções de regulação, no entanto, com a conversão deixava de poder regular o sector. O INIR

é o representante do concedente, o Estado Português, junto da concessionária, a Estradas de

Portugal. Enquanto regulador do sector rodoviário em Portugal, o INIR, não obstante a sua

juventude, tem demonstrado algumas debilidades, nomeadamente na prossecução de algumas

das atribuições acima referidas.

c) IGOPTC

À Inspecção-Geral das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, compete as funções de

inspeccionar, auditar e controlar a actividade dos serviços, organismos e empresas do

Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, acompanhando e avaliando a

execução das políticas públicas no âmbito do mesmo. 6

Funciona na dependência directa do

Ministro e tem vindo a produzir auditorias e estudos de acompanhamento das concessões

rodoviárias.

d) Comissões

No âmbito da implementação das PPPs, e nos termos do actual quadro jurídico, o processo de

avaliação/negociação das parcerias implica a constituição de um conjunto de comissões (TC,

2008a):

Comissão de acompanhamento, para a fase de estudo e acompanhamento da PPP;

Comissão de avaliação das propostas, à qual cabe avaliar o impacto dos riscos e dos

encargos incorridos pelo parceiro público, assim como o mérito das respectivas

propostas;

Comissão de negociação, que compete representar o parceiro público nas

negociações que venham a ocorrer com o parceiro privado. A esta cumpre analisar a

conformidade do projecto de alteração com os pressupostos e princípios de partilha

de riscos inerentes ao lançamento e contratação da PPP, bem como aferir do impacto

dos encargos e riscos incorridos pelo parceiro público.

Todas estas comissões são designadas por despacho conjunto entre o MOPTC e MFAP, tendo

sido um dos objectos de revisão aquando da entrada em vigor do DL n.º 141/2006 que substitui

o DL n.º 86/2003. Uma das novidades mais relevantes deste diploma, foi o facto de, apesar da

constituição das comissões ter de ser aprovada pelo MFAP, deixou de ser obrigatório a

presença de elementos representantes deste ministério. Esta medida veio agilizar todo o

processo de constituição de uma PPP, sendo exemplo disso o facto da comissão de

acompanhamento já não necessitar de emitir dois pareceres independentes por parte dos dois

ministérios envolvidos. Por outro lado, refira-se que uma maior envolvência por parte do

6 Vide site institucional: www.ig.moptc.pt.

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8

ministério das finanças até 2002 assegurava um maior rigor e controlo. Outra importante

revisão, verifica-se, quando estão em causa alterações a contratos de concessões ou quando

há lugar à reposição do equilíbrio financeiro dos mesmos, a obrigatoriedade de se constituírem

comissões de negociação.

e) MOPTC e MFAP

O MOPTC e o MFAP representam, respectivamente, a tutela financeira e a tutela técnica no

domínio das PPP rodoviárias. Sendo responsáveis pelo despacho conjunto que constitui as

comissões, sob a sua alçada estão quase todas as entidades públicas envolvidas em todo o

processo das concessões rodoviárias. O MOPTC conta ainda com a controladora financeira

(CFMOPTC), que em articulação com a EP, tem tido actividade na definição e aperfeiçoamento

de formas de recolha de informação relevante, para o acompanhamento dos riscos inerentes à

posição contratual do Estado nas PPP.

f) Tribunal de Contas

Outra entidade estatal de muita importância em todo o processo de contratação pública no

sector rodoviário é o Tribunal de Contas (TC), uma vez que, segundo o artigo 214º da

Constituição da República Portuguesa, é o órgão supremo de fiscalização da legalidade das

despesas públicas e de julgamento das contas que a lei mandar submeter-lhe. O TC tem

funcionado como auditor externo do estado, tendo poderes de controlo, fiscalização e auditoria

das concessões rodoviárias. 7

Nos últimos anos tem vindo a publicar algumas auditorias, onde descreve o funcionamento de

todo o processo e faz análises críticas e recomendações ao actual modelo de aplicação das

PPP no sector. Recentemente, no final do ano de 2009, emitiu acórdãos recusando o visto a

cinco contratos de concessão. Pode dizer-se que o TC tem funcionado como uma

―consciência‖ face ao ―deslumbramento‖ dos recentes Governos para com as PPP enquanto

instrumento de provisão de infra-estruturas, sendo o primeiro a afirmar que a utilização desta

ferramenta de contratação pode trazer vantagens, mas terá que ser usada de forma

ponderada.

Finalmente, um papel importante que tem assumido é o de ser, provavelmente, a única

entidade pública a produzir, com regularidade, publicações com procedimentos, linhas de

orientação, e mesmo elementos didácticos acerca desta temática em Portugal.

g) Parpública

A Parpública — Participações Públicas (SGPS), S. A., segundo o estabelecido no DL n.º

209/2000, refere-se a uma sociedade gestora de participações sociais de capitais

exclusivamente públicos, com a missão de deter as participações do Estado que não sejam

7 Vide site institucional: www.tcontas.pt.

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9

consideradas estratégicas e não interessem manter na directa dependência do Governo, e de

apoiar tecnicamente o MFAP no exercício da tutela financeira sobre as restantes, e no

acompanhamento das concessões. 8

Embora fizesse parte integrante das comissões de

acompanhamento dos processos de PPP, depois da entrada em vigor do DL n.º 141/2006 tal

deixou de acontecer. De referir que a EP não faz parte da carteira de participações da

Parpública.

h) IGF

A Inspecção-Geral de Finanças é um organismo directamente dependente do Ministro das

Finanças, tendo como missão o controlo estratégico da administração financeira do Estado e

apoio técnico especializado ao Ministério das Finanças e da Administração Pública. 9

Este

organismo, uma das entidades coordenadoras do sistema de controlo interno da administração

financeira do Estado (SCI)10

, realiza auditorias, nomeadamente à EP, que têm como principal

objectivo a identificação de aspectos fundamentais do seu funcionamento nas suas atribuições

de representante do Estado/Concedente, relativamente às concessões rodoviárias.

i) DGFT

A Direcção-Geral do Tesouro e Finanças, sob a alçada directa da Secretaria de Estado do

Tesouro e Finanças, tem como uma das suas atribuições assegurar o estudo,

acompanhamento e intervenção nas matérias respeitantes ao exercício da tutela financeira do

sector público, administrativo e empresarial e ao exercício da função accionista do Estado, nos

planos interno e internacional, bem como nas matérias respeitantes ao acompanhamento das

PPP e das concessões (DGTF, 2009). 11

Em 2007, foi criado o Gabinete de Acompanhamento do Sector Empresarial do Estado, das

Parcerias Público-Privadas e Concessões (GASEPC). Esta entidade produz relatórios anuais e

trimestrais com o acompanhamento e reporte de informação sobre projectos desenvolvidos e a

desenvolver pelo Estado na modalidade de PPP.

j) Ministério do Ambiente

O Ministério do Ambiente é a entidade responsável pelas avaliações de impacto ambiental e

subsequentes declarações de impacto ambiental necessárias no âmbito do procedimento de

licenciamento ou de autorização do projecto.12

No caso das auto-estradas esta tarefa é

desempenhada pela Agencia Portuguesa do Ambiente, que resultou da fusão entre o Instituto

8 Vide site institucional: www.parpublicasgps.com.

9 Vide site institucional: www.igf.min-financas.pt.

10 DL nº 166/98 de 25 de Junho, o SCI compreende os domínios orçamental, económico, financeiro e

patrimonial e visa assegurar o exercício coerente e articulado do controlo no âmbito da administração pública. 11

Vide site institucional: www.dgtf.pt. 12

Vide site institucional: www.maotdr.gov.pt.

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10

do Ambiente e o Instituto do Resíduos, sob a tutela do Ministério do Ambiente em conjunto com

as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) afectadas pelo projecto.

2.2.2. “Players” – Parceiros Privados

Do lado privado, o sector rodoviário conta actualmente com muitos agentes envolvidos. Até há

relativamente pouco tempo, o mercado das concessões era dominado apenas por uma

entidade, a antiga empresa pública Brisa, mas com a sua privatização, e consequente

liberalização deste mercado, outras concessionárias entraram na corrida pelos contratos de

concessão, atraídas pelo grande investimento público no sector rodoviário, nomeadamente na

construção de auto-estradas, verificado nas últimas décadas.

a) BRISA

A principal empresa, ou pelo menos a com mais história, é a Brisa Auto-Estradas de Portugal

S.A. Criada ainda no antigo regime, em 1971, tinha por objectivo a construção, conservação e

exploração, em regime de portagem, de um conjunto de auto-estradas, tendo assinado o

primeiro contrato de concessão com o Estado português em 1972. 13

Com o 25 de Abril de

1974, a empresa foi nacionalizada, tornando-se o estado português o seu maior accionista,

convertendo-se numa empresa pública. Até ao início da década de 90 do século passado, a

Brisa era a única concessionária, tendo a hegemonia no sector rodoviário no que a auto-

estradas diz respeito. A Brisa foi entretanto privatizada, tendo este processo sido concluído em

1999. Para além do contrato principal de concessão, a Brisa também participa noutros

consórcios gestores de concessões, nomeadamente, na concessionária Auto-estradas do

Atlântico SA., na Auto-estradas do Douro Litoral, SA., na Brisal – Auto-estradas do Litoral, SA,

e mais recentemente integrou o consórcio vencedor do concurso para a concessão do Baixo-

Tejo. Também se verificou nos últimos anos a sua expansão além fronteiras, detendo uma

concessão nos Estados Unidos (Northwest Parkway, Denver, Colorado) para além de ter

participação de 16,35% da brasileira CCR – Companhia de Concessões Rodoviárias, uma das

maiores concessionárias de auto-estradas da América Latina. No entanto, desde o final da

última década até aos nossos dias, apesar de líder, tem vindo a perder terreno para novos

players, que entretanto foram surgindo e ganhando terreno no panorama nacional.

b) Ascendi

Um desses novos actores é a Ascendi, antiga Aenor. Esta organização é detida pela empresa

de construção Mota-Engil e pelo Grupo Espírito Santo por via da ES Concessões. 14

Viu a sua

primeira concessão, Concessão Norte, ser-lhe atribuída em 1999. É hoje responsável pela

exploração de um conjunto de sete concessões, importando destacar a mais recente, a

13 Vide site institucional: www.brisa.pt.

14 Vide site institucional: www.ascendi.pt.

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Concessão do Pinhal Interior. Também com ambições internacionais, perfila-se neste momento

como a mais séria rival da Brisa neste sector no mercado nacional.

c) Outros players

Entre os demais players na área das concessões, é preciso destacar ainda outros importantes

nomes. Entre eles a Euroscut, detentora de duas concessões em regime SCUT, Norte Litoral e

Algarve. É detida maioritariamente pelas companhias Cintra e Ferrovial, empresas espanholas

de concessões com grande experiencia internacional.

Outras grandes empresas de construção, grupos económicos, e não só, estão presentes neste

concorrido mercado, designadamente a Teixeira Duarte, a Somague, a Soares da Costa e a

Sonae, têm todas participações em concessões, assim como empresas, mais pequenas, que

detêm participações diminutas em alguns consórcios.

É notória, ainda, a predominância de empresas portuguesas, com a excepção das já

mencionadas empresas espanholas, e de empresas francesas, a Eiffage e Egis, integrantes da

Norscut, o que demonstra grande preparação e know-how das entidades privadas nacionais na

preparação das suas propostas a concurso. No entanto, isto também pode ser visto de outra

perspectiva: a existência de algum proteccionismo da parte de quem atribui os contratos, ou

ainda o pouco interesse económico que as concessões portuguesas representam face a outros

concursos internacionais.

Refira-se também a existência no em Portugal da Associação Portuguesa das Sociedades

Concessionárias de Auto-Estradas ou Pontes com Portagem (APCAP). Nem todas as

concessionárias a operar em Portugal fazem parte desta associação, que tem como principal

missão promover e defender os interesses dos seus associados junto de quaisquer instituições

nacionais, comunitárias e internacionais. A APCAP15

é membro da ASECAP, 16

a associação

europeia de concessionárias do sector rodoviário.

2.2.3 Outros intervenientes

a) Autarquias

As autarquias assumem responsabilidades de licenciamento e análise da conformidade dos

projectos em relação à legislação. Para além disto, são importantes stakeholders, que não

podem ser desprezados aquando do desenho do traçado das infra-estruturas rodoviárias. É do

maior interesse por parte de um autarca, que o seu concelho tenha bons acessos à rede

nacional de auto-estradas para assim aumentar a sua atractividade. Contudo, as auto-estradas

15 Vide site institucional: www.apcap.pt.

16 Vide site institucional: www.asecap.com.

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são, normalmente, obras transversais a muitos concelhos, o que implica negociarem na gestão

de interesses, muitas vezes divergentes, de diferentes autarcas, cada qual com a sua agenda.

b) Bancos e outras entidades financeiras

Outros agentes de crucial importância, são os bancos e outras entidades do sector financeiro.

Estas asseguram o financiamento das infra-estruturas, quer financiando a concessionária, quer

no financiando o concedente. Como referido, muitas vezes têm participação directa nos

consórcios concessionários, assim como na estrutura accionista de quase todas as empresas

nacionais participantes neste sector. Os maiores bancos nacionais, como o BES, BCP, BPI e

mesmo a CGD, participam no financiamento deste mercado, assim como algumas entidades

internacionais, principalmente em consórcios onde empresas estrangeiras são parte integrante.

De destacar a presença do Banco Europeu de Investimento (BEI) no financiamento de muitas

das concessões rodoviárias nacionais. Esta entidade criada em 1958, tem como principal tarefa

contribuir para a integração, o desenvolvimento sustentável e coesão económica e social dos

Estados Membros da União Europeia. Recentemente, foi aprovado pelo BEI um financiamento

à EP para a subconcessão do Pinhal Interior num valor até 345 milhões de euros.

c) Consultores externos

O recurso a consultores externos para apoio aos processos de PPP é prática corrente,

principalmente do lado do estado. Este recurso ao outsourcing serve para colmatar alguma

falta de experiencia e know-how que se tem verificado. Consultores jurídicos, consultores

financeiros e consultores técnicos (tráfego, seguros etc.), que defendem os interesses do

parceiro público e dos parceiros privados, prestam assessoria em diversas fases, inclusive às

várias comissões constituídas ao longo da parceria.

2.3. Outros sectores rodoviários na Europa – Players e reguladores

À semelhança de Portugal, noutros países europeus também se envolvem variadas entidades,

desde as estatais até às do sector privado.

Começando por Espanha, o sector privado começou a envolver-se no desenvolvimento e na

gestão de auto-estradas da década de 60, com o lançamento do plano nacional de auto-

estradas. Uma vez que não existia enquadramento legal aplicável para as concessões

rodoviárias, foi criada legislação específica para cada uma delas, o que em muitos casos,

favoreceu o lado privado. Como tal, o estado reconheceu a necessidade de criar legislação

específica para regulamentar este tipo de iniciativas, criando em 1972 a lei que fornecia as

bases legais para o sector, diploma esse que foi sendo actualizada com o passar dos anos,

tendo sido a última revisão em 2007. A rede de auto-estradas espanhola é gerida pela

Direcção Geral de Estradas que reporta directamente ao Ministério do Fomento, não existindo,

ao contrário de Portugal uma agência ou empresa pública independente, responsável pela

gestão e manutenção da rede de auto-estradas. As comunidades autónomas também possuem

departamentos de estradas que participam activamente neste processo. Finalmente, o governo

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espanhol delega num representante do Ministério da Obras Publicas as tarefas de

administração e gestão dos contratos de PPP. Quanto ao sector privado, a ASETA, que é a

associação de concessionárias do sector rodoviário de Espanha, conta com 23 empresas de

concessão e duas holdings. Muitas destas companhias já se internacionalizaram, vencendo

concursos internacionais, inclusive em Portugal.

No Reino Unido, a participação privada na provisão e gestão de infra-estruturas teve um

grande desenvolvimento no início da década de 1990 com o lançamento por parte do governo

do programa de Iniciativas de Financiamento Privado (PFI). Um dos sectores abrangidos por

esse programa foi o rodoviário. Uma especificidade das concessões rodoviárias britânicas é o

facto de quase todas não terem portagem real, ou seja os seus custos são financiados via

orçamento de estado. Existe uma Agencia Nacional de Auto-estradas, unidade do

Departamento de Transportes, responsável pela gestão estratégica da rede. À semelhança do

que acontece em Espanha, são delegadas num representante do Departamento de

Transportes a administração e gestão dos contratos das PPP. O departamento do Tesouro,

assegura a eficiente utilização dos dinheiros públicos nestes projectos, e criou uma ―task force‖

especializada em PFI/PPP, com a finalidade de assistir o governo a concretizar de forma

eficiente e eficaz todos os projectos que recorrem a esta ferramenta. Existem ainda outras

entidades responsáveis por fiscalizar e acompanhar as parcerias, sendo uma delas a Entidade

Nacional de Auditorias (NAO), que em conjunto com a Entidade para as Participações

Comerciais do Governo (OGC) têm produzido relatórios, auditorias e outros textos com

procedimentos e recomendações. Numa primeira análise têm as funções correspondentes,

respectivamente, aos organismos portugueses TC e Parpública.

Em Itália, que foi o primeiro país a usar o conceito de auto-estradas com portagens, ainda nos

anos 20 do século passado, a regulação e fiscalização dos contratos de concessão é

assegurada por um comité inter-ministerial, Obras Publicas e Finanças. Neste país, a

Autoridade para a Concorrência do Mercado também assume um papel de vigilância no que diz

respeito a concessões rodoviárias. As auto-estradas são geridas por concessionárias privadas,

mas muitas das concessões estão a cargo de uma empresa estatal, a ANAS (Azienda

Nazionale Autonoma delle Strade), que tem concessionados cerca de 1.300 km de auto-

estradas. A ANAS, cujo accionista único é o Ministério da Economia, mas que está sob

vigilância técnica e operacional do Ministério das Infra-estruturas e Transportes, é ainda

responsável por todo o processo de concurso, incluindo a decisão de a quem atribuir a

concessão. Outro organismo muito importante é a Unitá tecnica Finanza di Progetto (UFP), que

é inspirada na task force do Departamento do Tesouro Britânico, tem como missão, assistir as

administrações centrais, regionais e locais aquando da sua participação em processos de PPP,

melhorar o enquadramento legal das PPP e promover o uso de best practices.

França, a par do Reino Unido, é talvez dos países europeus com mais experiencia no que a

PPP diz respeito. As concessões são monitorizadas pelo Ministério da Economia, Finanças e

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Emprego. Em 2004 o governo francês criou o MAPPP, Mission d’appui à la réalisation dês

contrats partenariat. Esta entidade governamental fornece às autoridades públicas

aconselhamento técnico e consultoria em todos os passos dos contratos de parceria. Também

avalia e classifica os projectos de PPP. Cerca de 75% dos km de auto-estradas francesas são

construídos e financiados através de contratos de concessão, sendo que a maior parte das

concessionárias são empresas públicas ou semi-públicas.

Finalmente, na Irlanda, a aplicação das PPP em projectos rodoviários iniciou-se em 1999.

Integrado no Plano de Desenvolvimento Nacional 2000-2006, estava o Plano Rodoviário

Nacional, que teve como intenção desenvolver a rede nacional de estradas, que à data, era

uma das mais pobres da UE. Previa a aplicação de regimes de concessão em três projectos-

piloto de auto-estradas, mas antevia a aplicação deste mesmo método num total de 11 infra-

estruturas rodoviárias. Contudo, este programa sofreu alguns atrasos, derivados de alguma

inexperiência na implementação de uma PPP. Actualmente estão concluídos 4 projectos sob

este regime, e prevê-se a conclusão para 2010 de mais 6 projectos. A curiosidade que dos 11

projectos iniciais em que estava prevista a aplicação de modelos de PPP, houve um que

acabou por recorrer aos processos de contratação tradicionais, alegadamente por razões de

VFM. Institucionalmente, a NRA (National Roads Authority) é a entidade responsável pela rede

rodoviária nacional, reportando directamente ao Ministro dos Transportes. Ficou também

encarregue da implementação e monitorização das PPP no sector rodoviário. Olhando para os

players privados, a grande maioria são consórcios, sendo que se nota uma significativa

presença de empresas estrangeiras no mercado das concessões irlandês.

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3. Fundamentos Teóricos da Regulação

3.1. Introdução teórica

A regulação pode ser vista como um ―jogo‖ entre vários players, com diferentes graus de

conhecimento e informação necessária para tomar as decisões que levem a uma eficiente e

justa alocação de recursos (Estache, 1999). Do ponto de vista estatal, a regulação é a tentativa

de atenuar os possíveis efeitos negativos das falhas do mercado, i.e., os governos têm a

necessidade de regular os preços e a qualidade dos serviços e da infra-estruturas providos por

entidades privadas pois na sua maioria são essenciais para a qualidade de vida das

populações, considerando que o principal objectivo será o garante do bem-estar das

populações. Nas últimas décadas, o sector privado tem vindo a aumentar a sua participação

nas várias etapas do período de vida das infra-estruturas rodoviárias. Esta tendência pode ser

explicada por várias razões, mas objectivamente, o principal fundamento estará relacionado

com as restrições financeiras com que os governos têm que lidar na sua generalidade, tendo

que canalizar o seu orçamento para outras áreas, possivelmente mais urgentes. Para além

disto, são também apontadas algumas vantagens num modelo de provisão privada.

A escolha pelas autoridades públicas de uma provisão pública ou privada deve basear-se em

análises custo-benefício. O envolvimento de operadores privados é aconselhado quando se

pode tirar partido da sua maior eficiência e economia, mesmo quando, por vezes, o sector

público tem acesso a financiamento mais barato do que o sector privado (OECD, 2007).

Directamente relacionada com a privatização de um sector está a necessidade de regulação,

sendo esta ideia bem suportada pela literatura nas temáticas de ciências políticas e

administração pública. Muitos trabalhos estudaram como os governos aumentaram a sua

presença regulatória ao proceder à privatização de monopólios públicos. O facto de abdicar da

administração directa do estado não implica necessariamente a perda do controlo. Em vez

disso, o Estado pode transformar a sua forma de intervenção e recorrer a mecanismos de

controlo para assegurar o cumprimento dos seus objectivos, enquanto depositam a

responsabilidade da prestação de serviços nos operadores privados (Albalate, 2009). Verifica-

se então uma mudança de paradoxo, de um ―estado provedor‖ para um ―estado regulador‖, em

que este mantém a capacidade de intervir, mesmo em casos que abdique da posse.

3.2. Monopólios

Um monopólio caracteriza-se pela falta de competição num mercado, exigindo por conseguinte,

algumas medidas para que se permaneça num ambiente concorrencial. Verifica-se uma

situação de monopólio, em particular monopólio natural, quando os custos de produção são

menores num caso de um só produtor para um determinado espectro de procura, ou seja, a

função de custos é subaditiva, o que significa que para uma dada quantidade o custo do

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somatório das parcelas dessa quantidade é sempre menor ou igual ao somatório dos custos de

cada parcela (Marques, 2005). Normalmente os monopólios naturais ocorrem em indústrias

caracterizadas por infra-estruturas que se apresentam sob a forma de grandes redes,

exemplos típicos são os mercados de gás, água e electricidade. Outro exemplo de com

características monopolistas será as infra-estruturas rodoviárias concessionadas, pois não

seria de todo eficiente ter duas ou mais estradas lado a lado concorrendo entre si. Associado

às situações de monopólios estão sempre alguns comportamentos oportunistas por parte das

entidades detentoras dos mesmos, quer sejam de índole pública ou privada. Como tal, a

principal razão para que se regulem monopólios será minimizar ao máximo as tendências que

surgem, nestes casos, de os preços (rendas) serem estipulados acima do normal, enquanto

que o ‖output‖ tem tendência para ser menor. Na figura 3 apresenta-se o espectro de respostas

da regulação aos monopólios (Gomez-Ibañes, 2003):

Figura 3 - Estratégias para regular monopólios

Como se pode verificar no esquema acima, existem duas formas de regular os preços e os

serviços: ou através do mercado, deixando-o actuar e esperar que a concorrência o regule, ou

então através da intervenção, mais ou menos directa, do estado. Com a finalidade de regular o

operador da infra-estrutura rodoviária, que encerra em si um características monopolistas, os

governos podem optar por diferentes estratégias ou políticas, designadamente taxar lucros

excessivos, vender licenças ou direitos para operar um monopólio, ou ainda controlar os preços

definidos pelo detentor monopolista.

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3.3. Informação

Mercados competitivos apenas podem funcionar de forma apropriada se os utentes receberem

informação suficiente (UN, 2001), de forma a correctamente avaliar o VFM do produto/serviço

que estão a adquirir, para que possa estudar a existência de alternativas viáveis para assim

gerar concorrência. Para além do VFM informação sobre a qualidade de serviço e produtos,

desempenho e resultados deve ser divulgada. Esta informação serve também para fomentar a

confiança do utente no mercado em questão. Os fornecedores de um serviço podem ter

tendência a não partilhar a informação necessária da forma mais completa, tentando proteger

os seus interesses. Compete portanto à regulação atenuar ao máximo estas assimetrias de

informação defendendo os interesses do utente. Para além disto existe ainda a assimetria de

informação entre regulador e regulado, que pode dificultar a actividade do primeiro.

3.4. Objectivos e finalidades da regulação

São pelo menos cinco os principais objectivos da regulação económica que se encontram

interligados entre si (Marques, 2005):

Promover a eficiência;

Proteger os interesses dos utentes;

Assegurar, sempre que possível, o auto-financiamento pelo serviço prestado;

Dar seguimento às políticas inicialmente definidas para o sector; e

Assegurar que o serviço seja robusto e sustentável.

Estes objectivos estão interligados entre si. Relativamente ao primeiro objectivo, a problemática

da eficiência terá de ser vista segundo duas perspectivas distintas, a saber, a visão economista

e a perspectiva política (Crampes, 1998). A primeira concentra-se no ―output‖, sobretudo na

quantidade e desenvolvimento de processos, enquanto que a perspectiva política preocupa-se

acima de tudo com o preço com o qual esse serviço será disponibilizado ao utente e se as

necessidades deste são supridas. Estas duas interpretações do mesmo problema podem ser

antagónicas, o governo preocupa-se com que o preço seja o mais próximo possível do custo

marginal, tentando evitar assim lucros excessivos às custas dos utentes ou mesmo dos

contribuintes. Mas, esta atitude poderá levar o fornecedor/produtor, na tentativa de assegurar o

maior valor possível, a não promover o progresso técnico, potenciando o corte de despesas no

curto prazo, em vez do desenvolvimento de políticas de gestão, que iriam igualmente reduzir as

despesas, mas a um prazo mais largo. Outra finalidade da regulação terá que ser o

salvaguardar dos interesses dos utentes, sobretudo o princípio da universalidade, com preços

que não excluam utentes, importante para assegurar coesão económica e social. No sector

rodoviário, especialmente em Portugal, a segurança também terá que ser um objectivo da

regulação. O terceiro ponto, o auto-financiamento, poderá ser o mais polémico dos objectivos

acima descritos. Deverá, sempre que possível, adoptar-se o princípio do utilizador-pagador. Os

utentes devem pagar o custo real do serviço, englobando tanto os custos de operação como os

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custos de capital, incluindo uma remuneração justa da entidade regulada, a qual corresponde

àquela obtida em investimentos alternativos com riscos semelhantes (Marques, 2005). Este

princípio não poderá ser sempre cumprido, tendo os governos que recorrer a políticas de

subsidiação. Contudo, tais métodos poderão distorcer o mercado, alterando, por exemplo, a

percepção do valor de um bem e/ou serviço. No ponto seguinte, ou seja, o poder dar

seguimento às políticas inicialmente definidas pelo estado para determinado sector, é

importante salientar que a regulação pode ser uma importante ferramenta política, que como

até já foi referido num ponto anterior, promove a coesão económica, social e territorial, sendo

também uma ferramenta importante na persecução de objectivos estratégicos. Para além disto,

o tipo de regulação utilizada é, com certeza, influenciada pelas políticas dos governos em

funções. Finalmente, a regulação deve ser executada para um horizonte de longo prazo, em

vez de procurar o benefício imediato, que poderá ser bastante mais atraente, pois será mais

popular e susceptível de atrair eleitorado, mas que pode ir de encontro a objectivos mais

importantes de longo prazo, a gestão de um serviço/infra-estrutura não poderá ser pensada em

função dos ciclos políticos.

3.5. Regulação pública Vs auto-regulação

Quanto à sua origem podemos classificar a regulação como publica, ou seja por iniciativa dos

governos, ou como auto-regulação, ou seja sem a intervenção destes., como indica a figura 4.

Figura 4 - Divisão da regulação em estatal e auto-regulação

A auto-regulação poderá, em primeira análise, ser confundida com ausência de regulação. Esta

é a regulação que existe naturalmente num mercado saudável e concorrencial, sem a

necessidade de intervenção pública. É um modelo em que o mercado em questão é regulado

pelos próprios agentes regulados e pode ser considerada a regulação levada a cabo por esses

agentes, numa co-operação implicante no compromisso entre os agentes integrantes daquele

mercado (Moreira, 1997). Existem alguns argumentos que sugerem que a auto-regulação

poderia ser mais efectiva do que a praticada pelo estado (Ogus, 1994), como a experiência e

conhecimentos técnicos e a maior facilidade na inovação, assim como o facto de o regulado

também assumir o papel de regulador, promovendo assim maior confiança, por parte do

regulado, face ao regulador e ainda o facto de os custos poderem ser reduzidos, para além

destes serem internalizados pela actividade sujeita a regulação, ao contrário do que acontece

Regulação

Regulação Estatal

Auto-regulação

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19

na regulação pública em que os custos são suportados pelo utente ou mesmo pelo

contribuinte. Contudo a auto-regulação poderá levantar questões relacionadas com

corporativismo, protecção (não dos interesses do utente, mas sim os dos regulados), bem

como da legitimidade política/democrática que, e apesar de se poder estar a desenvolver um

bom trabalho, nunca existe. Ainda acrescentar, que talvez fosse complicado implementar no

sector rodoviário em Portugal um modelo de auto-regulação face à omnipresença estatal em

todas as etapas de uma concessão, mas tentar envolver mais os players privados no acto

regulatório poderia trazer benefícios.

Quanto à regulação pública propriamente dita, esta poderá ser dividida em três tipos:

A regulação estatal directa, feita por departamentos governamentais, tem como

maior vantagem a facilidade de coordenação com as políticas do governo, sempre

baseada nos juízos deste em cada momento. O principal problema desta

modalidade é a percepção da falta de dinamismo, know-how e independência,

reconhecendo-se actualmente a necessidade de formar corpos com maior

independência dos governos;

A regulação por entidade independente, que é feita por um órgão autónomo do

governo, com a sua própria agenda, porventura dando mais importância aos

objectivos económicos da regulação face aos objectivos políticos. Estas entidades

são providas de quadros técnicos especializados e bem preparados. Com a recente

tendência dos governos em envolverem operadores privados em muitas das suas

funções, mas, contudo mantendo a sua condição de player, necessitando de ser

sujeitos a regulação, muita da literatura aponta esta como a melhor solução.

Todavia, também poderá apresentar algumas desvantagens face a outras soluções

de regulação, uma fragilidade será sempre a legitimidade, pois não são órgãos

eleitos. Poderão ainda de padecer de algum ―autismo‖, ou seja, uma independência

excessiva, podendo criar alguma animosidade pela entidade reguladora, podendo

dificultar as situações de diálogo, ou ainda nalgumas situações afastar ―o privado‖

ou, pelo menos, reduzir a atractividade de algumas iniciativas. Finalmente, terá

maiores custos de implementação e de operação;

A regulação estadual indirecta, que continua numa orbita próxima do governo, mas

já é dotada de alguma autonomia. Será o meio-termo entre as duas anteriores

modalidades, tentando aproveitar a proximidade do estado para transparecer na sua

actuação as políticas democraticamente legitimadas pela população, associada a

uma maior independência face à regulação estatal directa, necessária para ter o

mínimo de isenção e agilidade requerida para a prossecução dos objectivos.

Contudo, corre-se o risco que em vez de aproveitar as qualidades das situações

acima descritas, concentrar apenas os defeitos. Existe ainda a percepção de que

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acaba por ser o mesmo que a regulação directa estatal apenas encoberta por uma

suposta autonomia, que na prática não existe.

A regulação estatal acaba por ser escolha mais natural dos governos e pode assumir qualquer

um dos formatos acima descritos, mas, muitas vezes é complicado o enquadramento do

modelo num dos sistemas discretos, pois em termos formais a regulação pode ser inserida num

tipo, mas ao analisar-se o modo de operação poderá chegar-se a um juízo diferente.

3.6. Quem regula?

Baldwin e Cave (1999) respondem à questão ―Quem regula?‖, apresentando os principais tipos

de entidade com objectivos de regulação:

Entidades de auto-regulação;

Autoridades e governos locais;

Tribunais;

Departamentos governamentais/ministeriais;

Agências de regulação;

Directores gerais.

Fazer aqui referencia às autoridades e governos locais, pois têm um importante papel na

regulação de aspectos relacionados com a qualidade ambiental e urbanismo. Ao terem uma

maior proximidade com as populações e problemas locais e regionais derramam essas

preocupações na sua actividade de regulação (principio da subsidiariedade). Quanto aos

tribunais, regulação através de procedimentos judiciais existem, porém conflitos com as

políticas governamentais que poderão enfraquecer as suas funções regulatórias. Adiante neste

trabalho documenta-se uma situação envolvendo o TC que retrata esta situação. Referir ainda

que em algumas circunstâncias são concentradas numa só pessoa os poderes regulatórios,

sob a forma de um director geral. A vantagem deste tipo de entidade será a individualização da

responsabilidade. Evita maiores perdas de tempo com burocracias e normalmente a pessoa

escolhida para desempenhar estas funções detém grande conhecimento técnico e experiencia

no sector.

3.7. Classificação da regulação

No quadro 2 apresenta-se uma matriz com os critérios de classificação de vários tipos de

regulação [Marques, 2005 (adaptado)].

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Quadro 2 - Matriz de classificação de regulação

Critério Classificação

Natureza Pública

Privada

Finalidade Económica

Social

Âmbito Transversal

Vertical

Separação da Regulação Implícita

Explicita

Intensidade Leve

Média

Forte

Beneficiários da Regulação Proteccionismo

Interesse geral

Em favor de outros interesses

Tipo de Regulação Estadual directa

Estadual indirecta

Entidade independente

Auto-regulação

Área geográfica Local

Regional

Nacional

Internacional

Mundial

Instrumentos de regulação Normas

Decisões

Sanções

Instrumentos convencionais

Método de fixação de preços Taxa de remuneração

Incentivos de desempenho

Híbrido

Destacar aqui dois critérios relevantes para a compreensão da mesma. O ―Âmbito‖ da

regulação apresenta dois tipos, transversal, quando a regulação abrange vários sectores

diferentes, enquanto que uma regulação vertical implica que esta apenas incida sobre

determinado sector. Tem-se verificado a tendência dos governos por optarem por reguladores

dedicados a cada sector, ou seja uma regulação mais vertical, que concentre mais

conhecimentos técnicos específicos, evitando a criação de grandes reguladores abrangendo

todas as áreas, onde depois ocorrem com frequência ineficiências.

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Quanto ao critério ―Método de fixação de preços‖, apresenta três classificações possíveis:

Regulação por taxa de remuneração (rate of return), onde é fixada uma taxa de

retorno que o operador poderá obter sobre os seus activos ou investimentos

efectuados. É estabelecido um preço por ambas as partes que o regulado

poderá cobrar de maneira a alcançar o pré-acordado retorno, e não mais que

isso. O preço definido poderá ser ajustado, para cima no caso de não ser

atingido a taxa de remuneração, ou para baixo se este valor for ultrapassado

(Alexander and Irwin, 1996).

Regulação por incentivos ao desempenho, onde a ideia será promover a

eficiência e o aumento de produtividade por parte do regulado. Pode-se dividir

em dois tipos, a regulação por imposição de um tecto, e a regulação por

comparação. Quanto ao primeiro tipo, um dos métodos mais utilizados é a

regulação por limitação de preços, onde o preço regulado é ajustado antes do

início de cada período regulatório consoante a inflação e uma parcela,

normalmente denominada de ―X‖, calculado com base na produtividade. Com o

mesmo princípio do método anterior, aumentar a eficiência e produtividade,

existe também a regulação por limitação de receitas, onde a diferença formal

diz respeito à definição no início de cada período regulatório das receitas, que

são limitadas a um valor máximo. Quanto à regulação por comparação, como o

nome indica, tenta promover a eficiência do regulado através da comparação

com outras entidades reguladas, criando um ambiente de concorrencial

saudável.

Métodos híbridos – É ainda frequente encontrar combinações entre os dois

métodos acima descritos, que em última análise é o que acontece sempre, pois

serão raros os casos em que acontecerá uma regulação por limite de preços

pura ou por taxa de remuneração pura.

A figura 5 faz a comparação entre regulação por limite de preços e regulação por taxa de

remuneração [Ergas, 2001 (adaptado)].

Figura 5 - Comparação entre limite de preços e taxa de remuneração

Um sistema regulatório baseado numa taxa de remuneração assegura sempre um lucro

mínimo, apesar de também o limitar, enquanto que recorrendo a mecanismos de limitação de

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preços e receitas, os lucros já não estão garantidos, mas por outro lado também não são

limitados.

3.8. Estratégias de regulação para infra-estruturas

Os governos têm várias técnicas para regular os mercados de forma efectiva, sobretudo em

casos de monopólios naturais. Têm de optar pelos métodos regulatórios ou sistemas que

providenciem o melhor custo benefício na persecução dos seus objectivos. Numa publicação

das Nações Unidas (UN, 2001) são apresentadas as seguintes estratégias para que não se

verifiquem abusos pelos players envolvidos nos mercados:

―Harnessing‖ (―trela curta‖)

O estado tenta ―tomar as rédeas‖ do mercado na tentativa de promover a competição entre os

intervenientes usando algumas das seguintes metodologias:

a) Leis de concorrência – servem para assegurar níveis ―saudáveis‖ de concorrência e

comportamentos competitivos necessários para fornecer serviços de forma adequada

ao utente;

b) Franchising/Concessão – Em casos de monopólio natural, como é o caso de uma infra-

estrutura rodoviária, o recurso a concessões, ou outros tipos de contratação que

assegurem ―outputs‖ semelhantes permite assegurar, pelo menos, a competição a

montante da assinatura do contrato;

c) Regulação por contrato – Normalmente usada pelas agências e empresas públicas

para assegurar um comportamento comercial das entidades fornecedoras de infra-

estruturas e serviços, bem como impor níveis de serviço mínimo;

d) Emissão de licenças - Permite efectuar o controlo de quem está em condições de

competir no mercado.

A distinção que é feita entre Franchising/Concessão e regulação por contrato poderá não ser a

mais correcta, porventura franchising e concessão serão tipos de contratos.

Incentivos

Os governos procuram regular o comportamento das entidades privadas recorrendo ao uso de

contratos, subvenções, taxas, empréstimos, subsídios e outros incentivos. Os principais

problemas apontados pela bibliografia é a dificuldade de prever os resultados de uma medida

em particular, podem causar atrasos no processo de regulação, bem como mostrar-se pouco

flexíveis ao longo do tempo.

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Informação

A regulação envolve, através de regulamentação sectorial, a obrigação das empresas privadas,

por elas próprias, ou através de outros canais, informar os utentes dos resultados operacionais

e económicos numa serie de indicadores. O problema com estes métodos será o controlo da

veracidade dos resultados apresentados.

Actuação directa

Os governos podem regular através da intervenção directa, por exemplo assumindo o controlo

directo de uma infra-estrutura, ou a participação na estrutura accionista da entidade operadora.

A participação directa pode permitir ao estado assegurar bons níveis de desempenho, bem

como planos de investimento com horizontes mais largos, pois não existe a ―pressão‖ dos

lucros. Porém esta forma de intervenção requer a entrada de fundos públicos no mercado,

sempre escassos, bem como alguma perda de níveis eficiência e inovação. Além disso, pode

surgir alguma contestação política devido ao envolvimento directo do sector público. Outra

forma de participação directa, poderá ser a entrada do Estado enquanto ―player‖ fornecedor de

serviços. Como não terá como objectivo o lucro, poderá fornecer o serviço a preços próximos

do custo marginal, e assim estimular os restantes concorrentes privados a também criarem

eficiências que lhes permita manterem-se competitivos no mercado.

3.9. Regulação no sector rodoviário

3.9.1. Funções da regulação

Sendo um sector com características de monopólio, existe a necessidade de se proceder à sua

regulação, principalmente em casos com a participação do sector privado. A regulação através

de contrato é a norma, não dispensando, porém, uma entidade responsável por regular,

fiscalizar e/ou gerir o contrato. O sector público tem de desempenhar algumas funções básicas

para assegurar que as concessões de infra-estruturas, concretamente no caso de infra-

estruturas rodoviárias, sejam o mais eficientes possíveis, quer de um ponto de vista económico

para as partes envolvidas, quer socialmente, assegurando que o principal objectivo será

melhorar os níveis de qualidade de vida e bem-estar das populações. As principais funções

serão:

Realização de uma adequada monitorização das condições contratuais - Nos contratos

são sempre estabelecidas obrigações e requisitos mínimos, no que diz respeito à

qualidade de serviço. Essas condições devem ser devidamente monitorizadas com a

finalidade de tornar os contratos mais efectivos. Tem-se, contudo, de chegar a um bom

compromisso, pois uma ―sobre-monitorização‖ trará, com certeza, custos acrescidos, e

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mesmo que estes custos de monitorização sejam imputados à parte privada, podem

tirar atractividade ao projecto;

Controlo de preço – A definição e esquema de preços/receitas são parte fundamental

no processo regulatório, principalmente em concessões de longo prazo. São utilizados

os mecanismos já descritos anteriormente, regulação por limitação de preços e

receitas, por taxa de remuneração, bem como situações híbridas. Nos casos de

concessões rodoviárias com portagens, em situações de monopólio evidente, por

exemplo em casos de não existirem alternativas válidas sem portagem, o sector

público deverá ter especial cautela;

Definição de regras de acesso ao mercado – Devem ser impostas algumas regras para

o acesso e permanência no mercado, tentando desta forma garantir a qualidade do

serviço a prestar. Nos concursos públicos para uma concessão poderão ser exigidas

algumas pré-qualificações;

Regras ambientais e de segurança – À partida estas regras ambientais e de segurança

já estarão estipuladas na lei, mas cabe ao estado assegurar o cumprimento destas

normas.

3.9.2. O que é uma concessão?

Nas infra-estruturas rodoviárias, a noção de necessidade de regulação aumentou com o

advento da participação privada neste tipo de projectos, e a concessão é um dos formatos que

estas PPPs podem assumir. Existe, porém um largo espectro de formas de interacção do

sector público com o sector privado. Na figura 6 apresentam-se essas opções que vão desde o

fornecimento e gestão da infra-estrutura e serviço por parte do estado, até ao completo oposto,

onde o estado não participa, pelo menos directamente, ou seja, o fornecimento e gestão da

infra-estrutura e serviço é toda efectuada pelo sector privado. (Guislain e Kerf, 1995)

Segundo as Nações Unidas (UN, 2001) uma concessão é um acordo contratual pelo qual um

fornecedor adquire direitos para prestar um serviço dentro de um determinado padrão ou

especificação, por um tempo fixo, geralmente em nome de um governo ou agência

governamental. Considerando um sentido mais largo, o termo concessão inclui contratos de

affermage, 17

franchises18

e os contratos tipo BOT (Build, Operate and Transfer). Este últimos

serão os ―verdadeiros‖ contratos de concessão, em que os operadores cobrem os custos de

investimento e assumem grande parte do risco comercial. A denominação varia consoante as

fases do projecto em que o sector privado participa, DBOT (Design, Build, Operate and

Transfer), BOOT (Build, Own, Operate and Transfer), DFBO (Design, Finance, Operate and

17 Contratos de affermage - Os operadores arrendam a infra-estrutura e equipamento, assumindo alguns

riscos e tomando decisões comerciais. 18

Franchises – Os operadores providenciam serviços especificados pelo concedente, suportando alguns

riscos comerciais e cobrindo custos de investimento. O concedente mantém o controlo e responsabilidade sobre algumas funções.

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Transfer) são modelos diferentes para a PPP. Apesar destas denominações para os diferentes

tipos de concessões, variando consoante o investimento, risco, remuneração, duração,

propriedade, etc., será algo dúbio classificar peremptoriamente num ou noutro modelo. Cada

contrato terá as suas especificações de acordo com o output esperado.

Figura 6 - Espectro de formas de participação do sector privado no desenvolvimento de uma infra-

estrutura

3.9.3. Como funciona uma concessão?

A concessão funciona com base num contrato escrito. No contrato de concessão são definidas

as ―regras do jogo‖. Um contrato é um acordo vinculativo entre duas ou mais partes, em que

são explicitados direitos e deveres das partes envolvidas. O acordo é assegurado por lei ou por

recurso a arbitragem. Um contrato de concessão garante a eficácia da regulação sobre um

operador. Neste, terão de vir especificados algumas características básicas da concessão que

definem a forma como esta será regulada.

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As concessões são normalmente definidas pelas seguintes quatro características (Guasch,

2004):

O contrato que governa a relação entre concedente e concessionária privada, em que

o concedente é o governo, uma comissão/agência interministerial ou, pouco comum, e

muito menos apropriado, a agência regulatória;

Período limitado mas potencialmente renovável. Durante este período a concessionária

goza do direito exclusivo de usar os bens e explorar as instalações incluídos na

concessão. O contrato determina as condições e os preços a que a concessionária

presta o serviço e usa esses bens, que continuam a ser propriedade do sector público;

A responsabilidade por todos os investimentos e pelo desenvolvimento de novas infra-

estruturas sob a supervisão do estado ou do regulador, muitos dos quais virão

especificados no contrato. A concessionária retém o controlo e os direitos de uso sobre

os novos bens até que sejam entregues no término contratual. Os contratos poderão

conter cláusulas de compensação para investimentos não totalmente amortizados no

final do período de concessão, e clausulas especificando as situações em que poderá

haver rescisão contratual antecipada, bem como multas e sanções a aplicar pelo não

cumprimento dos termos acordados;

A remuneração com base nas tarifas contratualmente estabelecidas (com orientações

adequadas para sua revisão e ajuste), que poderão ser recolhidas directamente dos

utentes ou através de outros mecanismos. Estes preços são tipicamente regulados

através de mecanismos de taxa de remuneração ou de limitação de preços,

normalmente conduzidos pelo princípio de atingir o equilíbrio financeiro da concessão,

permitindo que a empresa privada possa ganhar um justo retorno sobre os seus

investimentos. Se as receitas não forem suficientes para cobrir os custos serão

estabelecidos mecanismos de compensação.

Apesar de, numa primeira análise, serem simples as características acima descritas, são

inúmeras as possibilidades de configuração destas num contrato de concessão, que dotam

cada concessão de uma dinâmica específica. Os contratos ainda podem conter outros direitos

e obrigações que requerem regulação na fiscalização do cumprimento, na conciliação de

diferentes interpretações que possam surgir, no ajustamento e revisão de tarifas e mecanismos

de renegociação.

O nível de regulação requerido numa concessão varia com a completude do contrato. Por

outras palavras, um contrato pouco completo, que deixe muitos aspectos ao critério da

concessionária, para que seja efectivo terá de ser sujeito a uma forte regulação extra

contratual. Enquanto um contrato que tente prever o máximo de situações possíveis e limite a

actuação da concessionária, embora requeira menos regulação, poderá acusar falta de

flexibilidade e aumentar a probabilidade de incorrer em processos de renegociação, por norma

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lesivos para o concedente. Referir ainda a duração do contrato, que tende a reflectir o período

requerido para que os investidores recuperem os seus investimentos, este período nas

concessões rodoviárias que envolvem a construção da infra-estrutura, este período terá que

ser relativamente grande devido aos avultados custos iniciais. Na figura 7 [Mudhe, 2008

(adaptado)] apresentam-se as etapas típicas de uma concessão:

Figura 7 - Etapas de uma concessão

3.9.4. Procedimento concursal

A concessão rodoviária é atribuída a uma entidade através de um procedimento concursal,

onde os interessados apresentam propostas, sendo que a melhor será escolhida. O propósito

destes procedimentos é o de fomentar concorrência num mercado que de génese se trata de

um monopólio, ou seja, onde é mais eficiente se existir apenas um provedor de serviço/infra-

estrutura. Substitui-se então a competição no mercado (competition in the field) pela

competição pelo mercado (competition for the field).19

No campo teórico, o aumento da

concorrência (i.e. o número de licitantes) deve encorajar a propostas mais agressivas, para

que, no limite, com o aumento do número de propostas, os preços tendem a descer até aos

custos médios, proporcionando lucro normal. (Amaral, 2006). Um concurso deve assegurar que

o provedor da infra-estrutura é conduzido a oferecer condições que reflictam o custo do

projecto, incluindo uma justa remuneração ao operador, e nada mais (Gomez-Ibáñez, 2003).

Procedimentos concursais diferem, mesmo em projectos do mesmo país e no mesmo sector. O

princípio orientador deverá ser o de maximizar a competição e transparência no processo para

19 ―Competition in the field‖ e ―competition for the field‖, refere-se à terminologia primeiramente utilizada

por Chadwick (1859).

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que o utente final pague um preço mais reduzido para uma dada qualidade, mesmo que não

exista competição no mercado. Quando são estabelecidas as directrizes do procedimento

concursal, terão de ser definidos pelo governo, ou regulador, os critérios usados para se

escolher o vencedor, bem como publicitar adequadamente, de forma a não excluir potenciais

concorrentes.

Os critérios para avaliar as propostas podem incluir, entre outros, os seguintes:

Duração;

Resultados do caso base;

A tarifa a ser cobrada;

Pagamentos ao governo/concessionárias;

Maior nível de investimento;

Experiencia do candidato;

Melhor solução para resolver determinado problema;

Qualidade.

Para além do acima descrito, os governos podem requerer que os concorrentes se pré-

qualifiquem antes de submeter a sua proposta, e assim evitar perder tempo e recursos com

propostas que não terão hipóteses no concurso (Shaw, 1996).

É fundamental que o regulador seja quais forem os moldes em que este se apresente, não

inicie a sua actividade apenas após a assinatura do contrato. Esta regulação ex-ante, que

incide na fase de preparação do procedimento concursal e elaboração do contrato, será

porventura o período onde o regulador terá o maior poder para conduzir o desenlace de todo o

procedimento nos moldes mais apropriados. Com a assinatura do contrato, ou seja depois de

cristalizadas as condições e os termos, resta a regulação ex-post, que monitoriza, procede a

ajustamentos e partilha os resultados da concessão. A figura 8 explicita estes dois tipos de

regulação.

Figura 8 - Regulação ex-ante e ex-post.

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3.9.4. Riscos

Numa visão mais simplista, um contrato de uma PPP, é um documento onde são distribuídas

pelas partes envolvidas as obrigações e responsabilidades perante os riscos que um projecto

encerra. As concessões rodoviárias abarcam muitos riscos que devem ser alocados e

partilhados de forma adequada. Os contratos devem conter uma apropriada estrutura de

partilha de riscos, que se podem revelar críticos para o sucesso destes projectos (Partnerships

Victoria, 2001). O princípio geral é que cada risco deverá ser suportado pelo parceiro que

melhores condições tem para o assumir ou mitigar (Shaw, 1996). A avaliação de riscos envolve

alguns passos fundamentais (Marques e Berg, 2009), como:

Identificação do risco;

Classificação do risco;

Avaliação da sua probabilidade de ocorrência;

Avaliação do seu impacto no projecto;

Identificação de medidas para a minimização do seu impacto.

Todo o processo de gestão de riscos reveste-se de grande importância, pois se for mal

executado poderá pôr em risco a viabilidade e estabilidade da concessão. Na seguinte figura

(Alves, 2009) apresentam-se os riscos mais relevantes de uma concessão de uma obra

pública, bem como a evolução de risco do projecto ao longo da sua duração.

Figura 9 - Principais riscos de uma concessão de uma obra pública

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3.9.5. Renegociação

Não existe um contrato perfeito e definitivo, que antecipe todas as continências e eventos

futuros com impactos numa concessão rodoviária. Com base nisto, as renegociações

contratuais são parte integral do ciclo de vida contratual. Por princípio, a renegociação pode ser

um instrumento positivo quando usado para colmatar as imperfeições de um contrato de

concessão que é incompleto por natureza (Guasch, 2004). Nesta visão, os mecanismos de

renegociação dão ao contrato a flexibilidade necessária. Numa sociedade em que as

necessidades e os objectivos estão em constante mudança, isto poderá ser um grande auxílio.

Porém, quando a renegociação acontece, pode ser vista como a tradução mais explícita de que

o contrato não foi bem pensado, bem como da regulação a montante da assinatura deste, pois

as regras iniciais definidas num contexto de competição são pervertidas. Daí que todos os

processos de renegociação devem ser tratados com especial cuidado, pois são potenciadores

do surgimento de comportamentos oportunistas das partes envolvidas. Um dos problemas

ocorre quando as empresas privadas participam no procedimento concursal, visando logo

futuras renegociações, que normalmente lhes trazem benefícios económicos. Isto acontece

porque na ―mesa de renegociações‖ não existe propriamente um ambiente concorrencial entre

as duas partes, concedente e concessionária, e muitas vezes devido a assimetrias de

informação e melhores recursos técnicos do parceiro privado, o parceiro público poderá estar

sujeito a ter que aceitar termos da negociação que não serão os mais benéficos para os

interesses da sociedade.

A regulação, os riscos e a renegociação são três assuntos que devem ser estudados em

conjunto pois estão todos inter-relacionados. Uma inadequada distribuição de riscos poderá

levar a processos de renegociação e consequente necessidade de regulação.

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4. Enquadramento e análise de contratos

Neste capítulo proceder-se-á à análise dos seguintes contratos de concessões rodoviárias em

Portugal, em particular os seus aspectos regulatórios:

Contrato Brisa;

Contrato Beira Interior;

Contrato Concessão Norte;

Contrato Douro Interior

Primeiramente proceder-se-á a um, não exaustivo, enquadramento legal destes contratos,

seguindo-se uma análise comparativa de alguns pontos em comum e finalmente será feita uma

descrição, contrato a contrato, do objecto das concessões, bem como dos respectivos

mecanismos de regulação de preços. Na análise ao contrato Douro Interior será feita uma

análise follow-up dos recentes acontecimentos envolvendo o TC, que não emitiu em primeira

instancia o visto necessário a este contrato.

4.1. Código dos Contratos Públicos

Todos os quatro contratos apresentam pontos em comum, pois apesar das diferenças são

contratos de concessão que são uma forma de contrato público. O regime legal aplicável é

estabelecido pelo Código dos Contratos Públicos, doravante CCP, aprovado pelo DL n.º

18/2008 e revalidado pela Declaração de Rectificação n.º 18-A/2008 e alterado pelo DL n.º

278/2009. Neste documento são estipuladas algumas regras específicas para concessões de

obras públicas bem como para as PPP. Regulamenta o tipo e a escolha de procedimentos para

a formação de contratos. No caso das concessões rodoviárias em estudo, à excepção da

concessão Brisa, foram atribuídas através de concurso público internacional publicitado no

Jornal Oficial da União Europeia. Esta estipulação visa promover a concorrência publicitando o

procedimento concursal, procurando atrair um número substancial de concorrentes com o

objectivo de melhorar as propostas.

Num concurso público as peças dos procedimentos concursais são, o programa de

procedimento e o caderno de encargos. Segundo o CCP, 20

o programa de procedimento é o

regulamento que define os termos a que obedece a fase de formação do contrato até à sua

celebração, enquanto o caderno de encargos é a peça do procedimento que contém as

clausulas a incluir no contrato a celebrar. O caderno de encargos do processo de formação de

uma concessão terá que conter os direitos e as obrigações das partes envolvidas.

20 Artigo 41º e 42º.

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33

No CCP são definidas as regras de participação e como se desenvolve a acção concursal,

desde a escolha do tipo de procedimento, até à adjudicação. Na figura 10, baseada no CCP,

apresenta-se o procedimento de concurso público internacional habitual nos casos das

concessões rodoviárias, desde o anúncio do concurso até à adjudicação:

Figura 10 – Procedimentos habituais no decorrer de um concurso público internacional

O CCP tem secções dedicadas especificamente às PPPs e a concessões de obras públicas.

Nos artigos dedicados às PPPs, 21

são estabelecidos deveres de informação por parte da

concessionária, são estipuladas competências no que respeita à fiscalização e

acompanhamento do contrato, atribuível ao ministro responsável pela área das finanças e pelo

ministro da tutela sectorial. No caso das concessões rodoviárias o ministro responsável pelas

obras públicas que define também que caso existam benefícios financeiros, e que o contrato

não preveja os mecanismos de partilha dos mesmos, devem ser partilhados de forma

equitativa. Quanto aos artigos referentes a concessões de obras públicas e serviços públicos, 22

são definidas regras e orientações importantes para a concepção de um contrato. O CCP

Define o prazo, que deverá ser fixado em função do período de tempo necessário para

amortização e remuneração do capital investido pela concessionária. Atente-se também ao art.

21 Do artigo 339º até ao 342º.

22 Do artigo 407º ao 430º.

Anuncio DR +JOUE

Consulta e fornecimento das peças do concurso

Apresentação das propostas

Avaliação das propostas

Fase de negociações

Apresentação dos documentos de habilitação

Anuncio de adjudicação

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413º que refere: ―O contrato deve implicar uma significativa e efectiva partilha do risco para o

concessionário.‖. Compreende-se a intenção do legislador, que marca de forma assertiva que

um dos objectivos de uma concessão será a transferência para o privado de parte do risco,

mas deixa um pouco à descrição do contrato de concessão o grau de transferência de risco

nele contida. Noutro artigo 418º, faz-se a alusão a indicadores de acompanhamento e

avaliação da concessionária, que determina que se devem estabelecer estes indicadores para

aferir e avaliar o desempenho da concessionária, da perspectiva do utente e do interesse

público, e que esses resultados poderão ser utilizados para atribuir vantagens económicas ou

aplicar penalizações económicas. No artigo 420º, onde entre outros, está consagrado o direito,

do parceiro público, de estabelecer as tarifas mínimas e máximas pela utilização das infra-

estruturas ou dos serviços bem como exigir a partilha equitativa de possíveis benefícios

extraordinários.

O CCP constitui uma ferramenta muito importante na óptica da regulação, pois é responsável

por uma primeira triagem das entidades que têm ou não condições de entrar na competição

pela concessão, regulando o acesso ao mercado. Poder-se-á considerar então um relevante

instrumento de regulação ex-ante. Mas define importantes directrizes na regulação por contrato

das concessões, influenciando a regulação ex-post das concessionárias.

4.2. Regime Jurídico das PPP (RJPPP)

Existe outro diploma de grande importância na regulação, mais de ordem jurídica, das PPP.O

DL n.º 86/2003, de 26 de Abril, tem por objecto ―a definição de normas gerais aplicáveis à

intervenção do Estado na definição, concepção, preparação, concurso, adjudicação, alteração,

fiscalização e acompanhamento global das parcerias público-privadas‖. Mencionar aqui alguns

artigos relevantes para a análise dos contratos, pois enquanto concessões de obra pública,

estes terão de respeitar todas as disposições deste diploma. No artigo 6.º, são explanados os

pressupostos do lançamento e contratação de uma PPP. O modelo de parceria terá de

apresentar vantagens para o parceiro público, sendo que essas vantagens relativas a outros

modelos terão de ser comprovadas e demonstradas. Não dispensam de forma alguma a

obtenção de autorizações e pareceres administrativos exigidos dos quais dependa o

desenvolvimento do projecto, por exemplo, os de natureza ambiental e urbanística. De

qualquer forma terá sempre que apresentar aos parceiros privados uma expectativa de

obtenção de remuneração adequada aos montantes investidos e aos riscos em que lhe são

alocados. Segue se o artigo 7.º, onde é definida a partilha de riscos, que determina que esta

deve estar claramente identificada no contrato, bem como os princípios a que tem que

obedecer. No capítulo II e III deste diploma, constam os artigos que regulamentam a avaliação,

a fiscalização e o acompanhamento das parcerias. Estas funções deverão ser desempenhadas

pelo ministério das finanças e pela tutela sectorial, ou devidamente delegadas por estas duas

entidades.

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35

4.3. Outros pontos em comum

Os contratos de concessão apresentam inúmeras características e disposições em comum, eis

alguns dos pontos mais relevantes:

4.3.1 Reposição do equilíbrio financeiro

Talvez seja um dos aspectos mais importantes para o sucesso do contrato. A reposição do

equilíbrio financeiro, correspondem aos processos de renegociação descritos anteriormente,

com os seus aspectos negativos e positivos. Neste ponto os contratos concessão Norte, Beira

Interior e Douro Interior apresentam muitas semelhanças. Todos eles definem os critérios

chave, ou seja os critérios a utilizar para a reposição do equilíbrio financeiro da concessão. O

caso base23

representa a equação financeira com base na qual será efectuada a reposição do

equilíbrio financeiro da concessão. As concessionárias terão direito à reposição de equilíbrio

financeiro no caso de modificação unilateral, imposta pelo concedente, das condições de

desenvolvimento das actividades integradas na concessão, ocorrência de casos de força

maior24

e alterações legislativas de carácter específico que tenham impacte directo sobre as

receitas ou custos. No caso do contrato Douro Interior está prevista especificamente, a

introdução de portagens num dos lanços, de portagens reais, como caso que levará à

reposição do equilíbrio financeiro. Quanto às alterações legislativas, estão excluídas alterações

à lei fiscal e lei ambiental. Para que estas situações resultem em situações de reequilíbrio

financeiro caso os seguintes critérios-chave sofram redução superior a 0,01 pontos

percentuais:

Valor mínimo de rácio de cobertura anual do serviço da divida; 25

Valor mínimo de rácio de cobertura da vida do empréstimo; 26

ou

Taxa interna de rendibilidade anual para os accionistas (TIR accionista). 27

23 É definido nos contratos como ―o conjunto dos pressupostos e projecções económico – financeiras‖. 24

Consideram-se, unicamente, casos de força maior os acontecimentos, imprevisíveis e irresistíveis, cujos efeitos se produzam independentemente da vontade ou das circunstâncias pessoais da concessionária (definição retirada do contrato Douro Interior). 25

Rácio de Cobertura Anual do Serviço da Dívida Sénior (RCASD) — o Rácio de Cobertura Anual do Serviço da Dívida Sénior, definido como o quociente entre: i) os meios libertos do projecto acrescidos do saldo de disponibilidades de caixa e ii) o capital devido nos termos dos Contratos de Financiamento, acrescido de todos os juros, comissões e despesas a liquidar pela Concessionária ao abrigo dos mesmos, sendo este rácio calculado no final de cada semestre do período relevante com referência ao período subsequente de 12 (doze) meses, nos termos constantes do Caso Base. 26

Rácio Anual de Cobertura da Vida do Empréstimo (RACVE) — o Rácio de Cobertura da Vida do Empréstimo, definido como o quociente entre: i) o valor actual líquido dos meios libertos do projecto, desde a data de cálculo até à data do último vencimento da dívida sénior descontado ao custo médio ponderado da dívida sénior, acrescido do saldo de abertura da conta de reserva do serviço da dívida e das disponibilidades de caixa, e ii) o total de dívida sénior existente à data do cálculo, sendo este rácio calculado no final de cada ano civil do período relevante, nos termos constantes do Caso Base. 27

TIR Accionista — a taxa interna de rendibilidade para os accionistas, em termos anuais nominais, para todo o prazo da Concessão, definida como a taxa interna de rendibilidade nominal dos fundos disponibilizados pelos accionistas e do cash flow distribuído aos accionistas, designadamente sob a forma de juros e reembolso de prestações acessórias e outros empréstimos subordinados, dividendos pagos ou

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São ainda definidas as modalidades através das quais poderá ser efectuada a reposição do

equilíbrio financeiro, constando a atribuição de compensação directa nos três contratos

referidos. Nos contratos concessão Norte e Douro Interior surge a possibilidade de alteração do

prazo de concessão. Esta modalidade não será porventura a mais correcta, apesar de

apresentar a vantagem para o concedente de não ter que entrar com pagamentos directos, de

certa forma ao ser implementada são subvertidos alguns princípios de concorrência, pois a

concessionária terá direito a mais ―x‖ número de anos de concessão que não estavam incluídos

no objecto da concessão na altura da fase de concurso. No contrato da Beira Interior, a

alteração das tarifas é realçada como uma possível modalidade. Apesar das situações

referidas anteriormente, em todos os três contratos, a última alínea da cláusula onde são

especificadas as modalidades dispõe a seguinte possibilidade: ―Combinação das modalidades

anteriores ou qualquer outra forma que seja acordada pelas partes‖. Poderá afirmar-se que

com esta ultima disposição, qualquer forma poderá ser escolhida, provavelmente ganhar-se-ia

em estipular quais as formas permitidas de forma conclusiva, não permitindo tanta descrição.

Por outro lado poder-se-ia incorrer numa situação de excessiva rigidez contratual, sempre

indesejada.

Relativamente ao contrato BRISA, este revela-se praticamente omisso relativamente ao

equilíbrio financeiro, sendo que na alínea 7 do 13.º artigo no contrato conste o seguinte:

‖Sempre que, em virtude de desajustamentos ocorridos nos factores integrantes do equilíbrio

financeiro da concessão ou no sistema geral de preços, ou de outras variáveis imprevisíveis, a

concessionária pretenda actualização tarifária que ultrapasse os valores decorrentes da

aplicação das regras previstas (…), deve apresentar proposta nesse sentido ao InIR - Instituto

de Infraestruturas Rodoviárias, I. P., e à Inspecção-Geral de Finanças (…)‖, ou seja, está

previsto que, caso necessário, a reposição do equilíbrio financeiro da concessão se proceda

através de aumento das tarifas de portagem. Ao longo do período de vigência deste contrato,

varias reposições tiveram lugar, sobretudo sob a forma de pagamentos directos do Estado,

incremento do objecto da concessão ou extensão do período da concessão. Acerca deste

ponto, numa auditoria ao contrato de concessão Brisa, levada a cabo pelo TC em 2003, consta

o seguinte :‖ (…)torna-se difícil apreender o acautelamento do equilíbrio financeiro da

concessão, bem como do princípio da concorrência, sobretudo se se tiver em conta a

circunstância de o processo de privatização ter conduzido à perda da participação directa do

Estado no capital da concessionária(…)‖.

4.3.2. Duração

Quanto ao termo, as concessões apresentam todas, uma duração inicial de 30 anos, sendo

que o contrato Brisa sofreu uma recente extensão de três anos. No seguinte quadro

apresentam o ano do termo da concessão:

reservas distribuídas, a preços correntes, durante todo o período da Concessão, nos termos constantes do Caso Base [definições retiradas da minuta de contrato da concessão Norte (2010)].

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Quadro 3 – Ano em que expiram os contratos de concessão estudados

Concessão Ano de termo

Brisa 2035

Beira Interior 2029

Norte 2029

Douro Interior 2038

4.3.3. Expropriações

Quanto aos processos expropriativos, em todos os casos terá de ser respeitado o código das

expropriações. 28

Referir, no entanto, a existência duas modalidades para proceder ao acto de

expropriação. Os contratos Beira Interior e concessão Norte, contratos em que os processos

expropriativos foram concluídos, prevêem que as expropriações estejam a cargo do Estado,

sendo que em situações de atraso decorrentes destes processos imputáveis ao concedente, a

concessionária terá direito à reposição do equilíbrio financeiro nos termos anteriormente

apresentados. Nos contratos Brisa e Douro Interior, compete à concessionária, em nome do

Estado, a realização destes processos, ficando responsáveis por qualquer pagamento a

efectuar decorrentes dessa situação. Segundo Marques e Silva (2008) a alocação ao Estado

do risco das expropriações foi o erro que maiores consequências negativas trouxe ao programa

de concessões rodoviárias, com reclamação de compensações associadas a ascenderem a

muitos milhões de euros. Na origem desse erro esteve a convicção de que, por tradição,

devem ser os serviços do Estado a promover os processos de expropriação. Nas concessões

em que a concessionária assumiu o processo de expropriação, verificaram-se que os privados

não só têm capacidade para assumir essa responsabilidade, como se garante uma maior

flexibilidade no planeamento, que permite acomodar eventuais atrasos nas expropriações.

4.3.4. Plano de controlo e qualidade/Manual de operação e manutenção

Em qualquer dos quatros contratos em estudo verifica se a presença da obrigatoriedade de

dois documentos, o plano de controlo e qualidade e manual de operação e manutenção.

Quanto ao primeiro, é onde são estabelecidos os critérios a verificar, a respectiva periodicidade

de verificação, os padrões mínimos a respeitar e o tipo de operação de reposição, integrando

os seguintes componentes:

Pavimentos;

Obras de arte e túneis;

Drenagem;

Equipamentos de segurança e sinalização;

28 Diploma aprovado pela Lei n.º 168/99, de 18 de Setembro.

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Integração paisagística e ambiental;

Iluminação e telecomunicações;

Sistema de controlo e gestão de tráfego.

O manual de operação e manutenção, é o documento onde são estabelecidas as regras,

princípios e procedimentos a observar em matéria de operação e manutenção da concessão,

designadamente:

Funcionamento de portagens (caso existam) e do sistema de controlo e gestão

de tráfego;

Informação e normas de comportamento para com os utentes;

Segurança dos trabalhadores portageiros;

Normas de actuação no caso de restrições de circulação nas auto-estradas;

Segurança dos utentes e das instalações;

Funcionamento dos serviços de vigilância e socorro, com definição das taxas a

cobrar aos utentes e sua forma de actualização;

Monitorização e controlo ambiental;

Estatísticas;

Áreas de Serviço.

Trata-se de importantes mecanismos de regulação, sobretudo no controlo de qualidade e

performance da concessão, pois ambos têm que ser submetidos à aprovação do concedente, e

afiguram-se como o compromisso que a concessionária assume com o concedente e os

utentes.

4.3.5. Caução e seguros

As cauções são uma constante nestes contratos de concessão, aliás segundo o CCP, artigo

88.º, deve ser exigida à concessionária a prestação de uma caução à ordem do concedente,

destinada a garantir o exacto e pontual cumprimento de todas as obrigações legais e

contratuais que assume com essa celebração. Sempre que a caução for utilizada pelo

concedente, a concessionária deverá repor o montante integral. Todas as actividades

integradas nas concessões terão de estar cobertas por apólices de seguro, necessárias para

garantir uma efectiva e compreensiva cobertura dos riscos inerentes.

4.3.6. Resgate, sequestro e rescisão

Existem três actos administrativos ao dispor do concedente caso este resolva proceder à

extinção desta e suspensão da concessão, designadamente o resgate, o sequestro e a

rescisão (ou resolução). Durante os últimos cinco anos da concessão, poderá o concedente

proceder ao respectivo resgate, tendo que notificar a concessionária com um ano de

antecedência. Em caso de resgate, a concessionária terá direito a receber do concedente, a

título de indemnização, uma quantia correspondente ao somatório dos reembolsos,

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remunerações e outros cash-flows para accionistas previstos no caso base até à data de termo

da concessão. Em caso de incumprimento grave, pela concessionária, das obrigações

contratualizadas, o concedente poderá, através de sequestro, tomar a seu cargo as actividades

integradas na concessão. Assim que for restabelecido o normal funcionamento da concessão,

a concessionária será notificada para retomar as suas prévias funções. Finalmente, o

concedente poderá pôr fim à concessão através de rescisão contratual, em casos de violação

grave, não sanada ou não sanável, das obrigações da concessionária. Caso se verifique um

dos incumprimentos graves, sanável, que possa motivar a rescisão, será fixado um prazo para

que a concessionária cumpra as suas obrigações, prazo não superior a seis meses. A rescisão

do contrato não inclui a obrigação de indemnização que aplicável por lei, devendo o valor do

montante ser determinado nos termos gerais de direito. Referir que a rescisão pode também

partir da iniciativa da concessionária, neste caso, e se forem provados os motivos, imputáveis

ao concedente, originadores da rescisão, este terá que indemnizar a concessionária nos

termos gerais de direito e assumirá todas as obrigações da concessionária.

As definições acima descritas repetem-se de igual maneira, com excepção do contrato Brisa,

nos contratos analisados. No contrato Brisa não existe a figura do sequestro, apenas é referido

na alínea 6 do artigo 41.º que o InIR pode temporariamente substituir a concessionária para

execução de trabalhos interrompidos, de trabalhos de conservação, exploração ou outros, por

conta e risco da concessionária. Mesmo a rescisão apresenta-se em moldes um pouco

diferentes, caso se verifique, serão avaliados os valores abrangidos pela concessão, será

aberto concurso, cujos concorrentes terão de apresentar proposta do montante que se

comprometem a pagar à concessionária cessante, tendo como base de licitação o valor

previamente determinado na avaliação. Se o concurso não resultar em adjudicação, será

aberto novo concurso, sem base de licitação. No caso de também este concurso não conduzir

a qualquer resultado, a concessionária ficará sem indemnização, privada de todos os seus

direitos, e o estado passará a assumir os seus compromissos e obrigações decorrentes do

contrato de concessão.

O resgate, o sequestro e a rescisão contratual, são ―ferramentas‖ necessárias para acautelar o

bom funcionamento e longevidade de uma concessão rodoviária. Visam criar alguma pressão

na concessionária para que esta execute da melhor forma as suas obrigações contratuais. A

verdade é que caso sejam aplicadas qualquer uma destes actos administrativos, a

concessionária verá sempre grande parte do seu investimento retribuído, mas por outro lado

verá manchado o seu currículo, e este facto poderá pesar em futuros concursos que queira

disputar.

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40

4.4. Concessão Brisa

4.4.1 Apresentação e descrição

O contrato Brisa regula a maior concessão rodoviária de Portugal. Tem a extensão de 1.094,7

km (INIR, 2009) englobando 12 auto-estradas diferentes, cujas extensões vão desde os 6,3

km, até aos 295 km.

Figura 11 – Km de auto-estrada concessionados pela Brisa e pelas restantes concessionárias

Quadro 4 – Auto-estradas incluídas na concessão Brisa e respectiva extensão

AE A1 A2 A3 Circ.

Braga A4 A5 A6 A9 A10 A12 A13 A14 TOTAL

(km) 295,1 234,8 106,5 6,3 51,3 25 157,9 34,4 39,8 24,8 78,7 40,1 1.094,7

Esta concessão é detida pela Brisa SA, que, como já referido anteriormente, era uma empresa

pública, que foi privatizada na última década do século passado, tendo o Estado lucrado com

esse processo, segundo o TC (2003), um bilião e 875 milhões de euros.

As bases do primeiro contrato entre a Brisa e o Estado Português foram definidas pelo DL n.º

467/72 de 22 de Novembro, onde a concessionária se comprometia a construir 390 km de

auto-estrada. As bases deste contrato foram sofrendo várias alterações ao longo do tempo.

Foram sendo incluídos nele novos troços, bem como aumentado o prazo da concessão e

alterações tarifárias. Este aumento do objecto e prazo, decerto que valorizou a concessão

Brisa, permitindo maiores proveitos no processo de privatização.

42%

58%

% de km de AE Concessionados

Brisa (1.095 Km)

Restantes (1.482 Km)

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Praticamente a totalidade das obras de construção encontram-se concluídas, sendo que em

falta ainda estão as plataformas logísticas do Poceirão e Lisboa Norte e respectivas ligações. A

ligação ao novo aeroporto de Lisboa também está incluída neste contrato de concessão, não

se conhecendo ainda a sua extensão.

A 30 de Dezembro de 2008 foi publicado em Diário da República o DL nº. 247-C/2008 que revê

o contrato de concessão da Brisa nos moldes em que hoje se encontra.

4.4.2. Análise do contrato

Trata-se porventura do mais diferente dos contratos de concessão rodoviária em Portugal,

como já se denotou em pontos anteriores, tendo-se registado muita intervenção a nível

financeiro por parte do Estado. Este facto poderá estar relacionado com as várias funções que

este tem vindo a desempenhar, Estado accionista, Estado gestor, Estado fiscalizador e Estado

concedente.

O contrato foi outorgado entre o Estado Português, concedente, e a BRISA – Auto-Estradas de

Portugal, S.A. tendo a minuta sido aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 198-

B/2008. O estado faz-se representar pelos ministros das obras públicas e finanças, contudo

com autoridade para delegar esse poder.

A concessão tem por objecto a construção, conservação e exploração, em regime de

portagem, de cerca de 1.030 km de auto-estrada e respectivas ligações. Sendo que os

restantes troços, apesar de estarem incluídos na concessão para efeitos de conservação e

exploração, mas sem a cobrança de portagem.

As importâncias recolhidas através da cobrança de portagem aos utentes serão receita da

concessionária, bem como os rendimentos de exploração das áreas de serviço ou qualquer

outro rendimento obtido no âmbito da concessão. O valor da tarifa de portagem aumenta

segundo a classe do veículo, sendo que a relação entre a tarifa mais baixa, referente a

veículos da classe 1, e a tarifa mais alta, referente a veículos da classe 4, poderá ser no

máximo de 1 para 2,5. A taxa de portagem é por conseguinte o produto de tarifa aplicada à

extensão percorrida pelo utente. A actualização das taxas de portagem poderá acontecer

anualmente, dependendo apenas do Índice de Preços no Consumidor, IPC29

, sendo que a

actualização máxima permitida é calculada com a seguinte expressão:

29 IPC - O Índice de Preços no Consumidor tem por finalidade medir a evolução no tempo dos preços de

um conjunto de bens e serviços considerados representativos da estrutura de consumo da população residente em Portugal. É medido através da quantificação do custo de um determinado cabaz fixo de bens de consumo em dois momentos diferentes [INE – Nota metodológica (2003)].

(1)

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42

Sendo:

td(1) — valor máximo admissível para a data da tarifa actualizada por sublanço e para a classe

de veículos 1;

tv(1) — valor da tarifa em vigor por sublanço, ou da tarifa de referência no caso dos lanços a

construir, para a classe de veículos 1;

IPC(p) — valor do último IPC, sem habitação, publicado para o continente;

p — mês a que se refere o último índice publicado;

n — número de meses decorridos entre a data da última actualização tarifária e a pretendida

para a entrada em vigor da nova tarifa;

IPC(p − n) — valor do IPC no Consumidor, sem habitação, para o continente, relativo ao mês

(p − n).

Para além da limitação dos preços, não existem muitos mais incentivos de desempenho e/ou

disponibilidade nesta fórmula de revisão tarifária. Ainda existe um regime de sanções, em que

no caso de incumprimento de alguma das obrigações contratuais pontuais, o ministro

responsável pelo sector rodoviário poderá aplicar multas contratuais cujo valor é variável

consoante a gravidade da falta e por cada dia de atraso.

4.5. Contrato Beira Interior

4.5.1. Apresentação e descrição

Contrato celebrado entre o Estado Português e o consórcio SCUTVIAS – Auto Estradas da

Beira Interior S.A., em regime de portagem SCUT, publicado em Diário da República em 20 de

Agosto de 1999 e visado pelo TC em 25 de Fevereiro de 2000 (TC, 2003a). O concurso foi

regulado pelo DL n.º 267/97, de 2 de Outubro (regime de realização dos concursos para as

concessões SCUT) e pelo programa de concurso e caderno de encargos aprovados pelos

Ministros das Finanças e Obras Públicas em 9 de Dezembro de 1997, sendo aberto o último

lanço em Julho de 2003.

Este projecto compreende uma extensão total de 176,5 km, dos quais 82,3 km correspondem a

construção nova, 47 km a construção de duplicação e o restante a construção já existente,

esquematizados na figura 12.

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Figura 12 – Esquema com a localização da concessão Beira Interior.

O custo da empreitada de construção a preços correntes foi estimado em 590,4 milhões de

Euros. O total dos custos de investimento e de operação e manutenção, da inteira

responsabilidade da concessionária, ascende a 1.203,2 milhões de Euros. O preço desta

concessão para o Estado (pagamentos fixos e variáveis) ascende, nos termos do Caso Base, a

2.379,2 milhões de Euros (TC, 2003a).

4.5.2. Análise do contrato

O contrato prevê a concepção, duplicação do número de vias, financiamento conservação e

exploração, de auto-estrada.

Contém cláusulas que penalizam a concessionária em situações de indisponibilidade da infra-

estrutura. Apenas será permitido sem penalidade o encerramento de vias, até ao limite de

30.000 via x quilómetro x hora por ano, entre as 7 e as 21 horas, sendo que no restante

período o limite será de 50.000. Por cada fracção inteira de 1.000 via x quilometro x hora por

ano que os limites anuais forem ultrapassados será aplicada uma penalização de cerca de

2.500€ para o período diurno e de 5.000€ para o período nocturno, a preços de 1999, sujeitos a

revisão de acordo com o IPC. Esta clausula visa garantir uma boa qualidade de serviço,

assegurando a sua continuidade o máximo tempo possível, e incentivando a que operações de

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manutenção e reabilitação a serem executadas em horário nocturno, pois a penalização neste

período é o dobro face ao período diurno.

Também está estipulado um regime de prémios e multas consoante o índice de sinistralidade.

O Índice de sinistralidade calcula-se com a seguinte fórmula:

Sendo:

ISt(BI) - índice de sinistralidade da concessão para o ano t;

Nt - número de acidentes no ano t, com vítimas (mortes e ou feridos), registados pela

autoridade policial competente na concessão;

L - extensão total em quilómetros dos lanços em Serviço;

TMDAt - TMDA30

registado na concessão no ano t;

O concedente pagará prémio à concessionária, sempre que se verifique:

Sendo ISt-1(ponderado) calculado por uma ponderação entre o índice de sinistralidade da

concessão Beira Interior com o índice de sinistralidade de todas as concessões SCUT,

calculado de forma em tudo semelhante ao anterior. Caso contrário, ou seja:

A concessionária pagará uma multa ao concedente.

Já os pagamentos a efectuar à concessionária por parte do concedente, por se tratar de uma

concessão com portagens SCUT, recorre a um sistema de bandas de tráfego. Neste modelo,

basicamente, são estabelecidos três níveis de bandas de tráfego de veículos por quilómetro:

banda inferior, banda de referência e banda superior. A cada um destes níveis é aplicado um

tarifário que será superior na banda inferior e menor na banda superior. Na banda superior, por

cada veículo/km a mais, que exceda o limite máximo desta banda, o Estado pagará ―zero‖.

Esta proporcionalidade inversa (mais tráfego/tarifas mais baixas e menos tráfego/tarifas mais

elevadas) tem como único objectivo balizar os riscos incorridos pelas duas partes (Estado e

concessionária). Em casos de excesso de volume de tráfego, o Estado pagará apenas um

determinado limite de tráfego, porém, em casos de níveis insuficientes de tráfego, a

30 TMDA – Tráfego Médio Diário Anual.

(2)

(3)

(4)

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45

concessionária, embora beneficie de uma tarifa mais elevada, não possui uma receita mínima

de tráfego garantida, o que significa que esta se encontra, efectivamente, nos termos deste

modelo, exposta ao risco de tráfego (TC, 2003a).

A fórmula de cálculo foi alterada depois de ultrapassado o período inicial da concessão,

correspondente aos cinco primeiros anos de funcionamento da concessão. Durante o período

inicial a fórmula de cálculo para o pagamento à concessionária é constituída por uma parcela

fixa e por uma parcela variável. A parcela fixa é o produto de um montante fixo definido por

lanço pela extensão do mesmo, enquanto a parcela variável é em função do TMDA.

Passado o período inicial da concessão a fórmula geral de pagamento passou a ser:

Sendo:

Pt - pagamento referente a Portagens SCUT do ano t;

PBt(i) - pagamento relativo à banda i no ano t com i =1,2,3;

Quanto aos factores de redução Kt1 e Kt

2, são de valor 0,12 e 0,05 até que determinados lanços

a construir pela concessionária estejam concluídos. Clara é a intenção de promover a

celeridade por parte da concessionária na conclusão de todo o projecto, quanto mais cedo

concluir os lanços em falta, menos tempo são aplicados os factores de redução.

Calcula-se então o prémio ou a multa consoante o índice de sinistralidade em função do valor

do pagamento referente às portagens SCUT:

é

(5)

(6)

(7)

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46

4.6. Concessão Norte

4.6.1. Apresentação e descrição

A Concessão Norte foi atribuída à AENOR – Auto-Estradas do Norte, S.A., pelo DL n.º 248-

A/99, 6 de Julho, através de concurso público internacional tendo a minuta do contrato sido

aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros nº67-A/99. Contudo, recentemente as

bases da concessão sofreram alterações significativas, sendo o contrato de concessão

aprovada pela resolução do Conselho de Ministros n.º 39-E/2010.

As auto-estradas A7, Povoa de Varzim/Vila Pouca de Aguiar e A11, Apúlia/Penafiel, somando

um total de 175,1 km, constituem esta concessão em regime de portagem real, tendo o ultimo

lanço entrado em funcionamento no início de 2006. A figura 13 esquematiza a localização das

duas vias pertencentes a esta concessão

Figura 13 – Esquema com a localização das duas vias pertencentes à concessão Norte

Os custos de empreitada de construção ascendem a 808 milhões de Euros. Se lhes juntarmos

os custos de operações e manutenção obtém-se valores de investimento global na ordem dos

1.490 milhões de Euros (TC, 2005).

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47

4.6.2. Análise do contrato

Com a implementação do NMGFSR, houve uma alteração contratual profunda. No anterior

documento, a concessionária tinha direito a receber dos utentes das auto-estradas as

importâncias das portagens nestas cobradas. Ainda receberiam os rendimentos referentes à

exploração das áreas de serviço. A fórmula de actualização das taxas de portagem era em

tudo semelhante à presente no contrato Brisa, ou seja, apenas influenciada pelo IPC. Existia

um regime algo vago de multas por incumprimentos imputáveis à concessionária que só se

tornava mais objectivo se a infracção consistisse no atraso na data de entrada em serviço dos

lanços a construir. O valor da multa aumentaria com a duração do atraso. Ainda no anterior

contrato refira-se o conteúdo da cláusula contratual nº 57.1 que refere que ―(…), a

Concessionária assume integralmente o risco de tráfego inerente à exploração das Auto-

Estradas, (…)‖, que assim passa, de forma bastante assertiva, todo o risco de procura para o

lado da concessionária.

Com a recente revisão contratual, esse risco passa inteiramente para o estado, particularmente

para a EP. Ao invés de embolsar as receitas provenientes das portagens, a concessionária

passa a receber consoante a disponibilidade da via, como vem descrito no ponto 5.1 do

contrato, referente ao objecto da concessão: ―A concessão tem por objecto a concepção,

projecto, construção, financiamento, exploração e conservação, com cobrança de portagens

aos utentes, pela Concessionária, e em regime de disponibilidade, (…)‖.

Apesar de não ser o credor directo das receitas das portagens, estas serão atribuídas à EP, o

concedente desta concessão continua a ser o estado português.

Como no contrato Brisa, estão definidas tarifas por km que permitem o cálculo das taxas de

portagem por lanço. Estas podem ser actualizadas anualmente, por despacho do MOPTC,

recorrendo a uma expressão idêntica à utilizada também no contrato Brisa, tendo em atenção a

evolução do IPC:

Sendo:

td(1) — valor máximo admissível para a data da tarifa actualizada por sublanço e para a classe

de veículos 1;

tv(1) — valor da tarifa em vigor por sublanço, ou da tarifa de referência no caso dos lanços a

construir, para a classe de veículos 1;

IPC(p) — valor do último IPC, sem habitação, publicado para o continente;

p — mês a que se refere o último índice publicado;

(8)

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48

n — número de meses decorridos entre a data da última actualização tarifária e a pretendida

para a entrada em vigor da nova tarifa;

IPC(p − n) — valor do IPC, sem habitação, para o continente, relativo ao mês (p − n).

Quanto às receitas da concessionária, esta recebe uma remuneração anual calculada com a

seguinte fórmula:

em que:

Dist - componente da remuneração anual relativa à disponibilidade verificada no ano t.

Dedt - componente correspondente às deduções a efectuar em virtude da ocorrência de falhas

de desempenho e de disponibilidade no ano t.

Sint - montante correspondente à dedução ou incremento imposto em resultado da evolução

dos índices de sinistralidade para o ano t.

Ou seja, a concessionária recebe em função, da disponibilidade, mas pode ver esse valor

reduzido em função de falhas de desempenho e disponibilidade, e ainda ser penalizada ou

premiada consoantes os níveis de sinistralidade. Quanto à parcela referente à remuneração

relativa à disponibilidade é calculada nos termos da seguinte fórmula:

Sendo:

tdAit - valor da tarifa diária de disponibilidade, actualizável, no ano t;

tdAt - valor da tarifa diária de disponibilidade, não actualizável, no ano t;

ndt - número de dias do ano t em que a Concessão se encontrou em serviço;

IPCDezt -1 - IPC a Dezembro do ano t -1;

IPCDez2009 - IPC a Dezembro de 2009.

As tarifas de disponibilidade são definidas no contrato, e verifica-se que apenas parte é

submetida a actualização recorrendo ao IPC.

(9)

(10)

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49

O montante, a deduzir, relativo às falhas de disponibilidade, Dedt, corresponde à soma das

deduções diárias a aplicar, sendo cada uma delas calculada de acordo com a seguinte fórmula:

Com:

T - relação entre o número total de quilómetros afectados pela indisponibilidade e o número

total de quilómetros da Concessão;

c(g) - coeficiente de gravidade da falha de disponibilidade, sendo, para este efeito,

considerados 2 graus de indisponibilidade:

i) indisponibilidade absoluta — a que corresponde um coeficiente de valor 1;

ii) indisponibilidade relativa — a que corresponde um coeficiente de valor 0,5;

c(d) - coeficiente de duração da falha de disponibilidade, sendo, para este efeito, considerados

3 graus de indisponibilidade:

i) Indisponibilidade durante o período nocturno [entre as 22 e as 6 horas] — a que

corresponde um coeficiente de valor 0,3;

ii) indisponibilidade durante o período diurno [entre as 6 e as 22 horas] — a que

corresponde um coeficiente de valor 0,7;

iii) indisponibilidade durante 1 dia — a que corresponde um coeficiente de valor 1.

É clara a preocupação do contrato em garantir que a infra-estrutura esteja disponível ao serviço

o máximo de tempo possível. Será do interesse da concessionária, caso seja imperativo a

interrupção do serviço, que a indisponibilidade não seja total, que esta tenha a menor duração

possível e que aconteça em períodos com pouco tráfego, ou seja em período nocturno.

Finalmente, a última parcela da fórmula de cálculo da remuneração da concessionária é

calculada em função do índice de sinistralidade. O cálculo do índice de sinistralidade é feito de

igual forma ao apresentado na análise ao contrato Beira Interior, e é comparado com o índice

de sinistralidade ponderado, calculado por uma ponderação entre o índice de sinistralidade da

concessão Norte, com o índice de sinistralidade de todas as concessões com portagem real.

Caso o índice de sinistralidade da concessão seja superior ao índice ponderado, existe lugar a

uma dedução no pagamento, caso contrário existe lugar a um incremento. Os incrementos e

deduções atrás referidos são calculados da seguinte forma:

(11)

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50

Incremento:

Dedução:

Em que:

IS(ponderado) - índice de sinistralidade ponderado;

IS(Conc) - índice de sinistralidade da Concessão;

Dist – remuneração anual por disponibilidade.

Realçar que para além da remuneração descrita, as receitas provenientes da exploração das

áreas de serviço continuam a constituir receita da concessionária.

Como já foi dito, a EP recebe as receitas de portagem, como vem exposto no ponto 73.1 do

contrato de concessão: ―A EP é titular, nos termos regulados no contrato de concessão

celebrado entre esta e o Concedente, do direito de cobrança de portagens na rede

concessionada, incluindo as Auto -Estradas, assumindo integralmente a EP o risco de tráfego

associado a esse direito.‖ Contudo, no caso de as receitas de portagem obtidas pela

concessionária e entregues à EP, em determinado ano, forem superiores, aos montantes

previstos no caso base, a concessionária terá direito a uma remuneração de valor equivalente

a 25% do montante excedente. Isto poderá servir de incentivo à concessionária a tentar ter o

maior número de utentes possível, pois caso contrário, não tem mais nenhum incentivo

contratual que a levasse querer atrair mais utentes, numa análise simplista, o interesse maior

até seria ter poucos utentes para assim minimizar custos de manutenção. Mencionar-se ainda

que se mantém, apesar das muitas alterações que o contrato sofreu, o regime de multas em

situações de incumprimento atribuível à concessionária, cujo montante varia em função da

gravidade das infracções.

4.7. Concessão Douro Interior

4.7.1. Apresentação e descrição

A concessão Douro Interior, sem cobrança de portagem aos utentes, situada no Nordeste de

Portugal, tem uma extensão total de 242 km divididos por dois grandes eixos viários, o IP2,

com 111 km, entre Macedo de Cavaleiros e Celorico da Beira, unindo o distrito de Bragança ao

(12)

(13)

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distrito da Guarda e o IC5, com 131 km que ligará Murça, no distrito de Vila Real, a Miranda do

Douro no distrito de Bragança, como se encontra esquematizado na figura 14.

Figura 14 – Esquema com a localização das duas vias pertencentes

Nenhum dos lanços incluídos na concessão possui perfil de auto-estrada, pois

reconhecidamente não se justificaria para as funções para a qual é projectada, e das quatro

analisadas neste trabalho, é a única ainda não concluída. Concessão adjudicada inicialmente à

Ascendi em 25 de Novembro de 2008, mas que enfrentou alguns problemas no que diz

respeito ao visto do TC com questões relacionadas com o procedimento concursal.

4.7.2 Concurso até ao contrato final - Follow up

a) Concurso

Pela resolução do Conselho de Ministros n.º 177/2007, de 22 de Novembro, determinou-se que

até ao final desse ano, a EP, a sub-concedente, lançasse um concurso público internacional

para a concessão Douro Interior, em regime de PPP. O anúncio do concurso foi publicado no

JOUE, em Diário da Republica e ainda nalguma imprensa nacional e regional. Sabia-se logo à

partida que se tratava de um projecto deficitário, ou seja, para que o projecto fosse

economicamente viável para o parceiro privado, a EP teria que fazer pagamentos por

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disponibilidade e por serviço. A comissão de avaliação de propostas foi nomeada pelo

Concelho de Administração da EP, sendo composta por três membros efectivos e dois

suplentes, esta comissão esteve encarregue de qualificar e avaliar as propostas. A qualificação

dos concorrentes, como vem descrito no n.º 24.1 do programa de concurso, tem por objectivo

seleccionar os concorrentes que possuam as qualificações e experiencia técnicas específicas

necessárias ao exercício das actividades de uma concessão. A capacidade e experiencia

técnica em projectos de obras similares nos últimos três anos, era o critério de qualificação dos

concorrentes, tendo como indicadores de avaliação (EP, 2007):

A extensão de quilómetros projectados;

Custo associado a essas obras;

Valores de obra dos contratos de conservação ou de gestão de concessões em

que os concorrentes estiverem envolvidos.

Entende-se o propósito destes critérios de qualificação, que visam assegurar que existe know-

how por parte dos concorrentes, tendo o concedente mais garantias, mas por outro lado, limita

a concorrência, pois o concurso está fechado a possíveis novos concorrentes que queiram

entrar no mercado das concessões rodoviárias.

Quadro 5 – Critérios de avaliação das propostas

A - Critérios de natureza financeira 50%

A1. Valor actualizado do esforço financeiro líquido do Estado 85%

A2. Equilíbrio económico-financeiro 6%

A3. Robustez da proposta face aos riscos do projecto 6%

A4. Meios e condições dos financiamentos 3%

B - Critérios de natureza técnica 40%

B1. Qualidade técnica da proposta 60%

B2. Níveis de qualidade do serviço e segurança no que respeita ao sistema de exploração e

manutenção 20%

B3. Níveis de qualidade do serviço e segurança quanto ao sistema de assistência aos

utentes e gestão de incidentes, incluindo sistema de controlo e gestão de tráfego 10 10%

B4. Garantia de cumprimento das datas de entrada em serviço 10%

C - Critérios de natureza jurídica 10%

C1. Análise da estrutura contratual 15%

C2. Transferência do risco 15%

C3. Risco do concedente na execução do contrato de concessão 70%

O programa de concurso previa ainda os seguintes critérios de avaliação de propostas

apresentados no quadro 5.

O critério A1, Valor Actualizado do esforço financeiro líquido do estado, basicamente o que iria

custar ao estado Português a concessão era por alguma margem o factor mais importante

seguido pelo critério B1, referente à qualidade técnica da proposta.

O concurso contou com duas fases, uma de qualificação e avaliação de propostas, que teria

como finalidade a escolha dos dois concorrentes com melhores pontuações para a segunda

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fase, a fase de negociações. A fase de negociações, visa atingir uma melhoria das propostas

seleccionadas. Foram seleccionadas duas propostas para a fase de negociações. As

negociações decorrem em simultâneo com ambos os concorrentes seleccionados, sendo

efectuadas entre a comissão de avaliação de propostas e os concorrentes. Como resultado

desta última fase, cada concorrente apresentou nova proposta, designada Best And Final Offer,

doravante BAFO. No quadro 6 (TC, 2009) apresentam-se as pontuações atribuídas aos dois

concorrentes, quer na primeira fase de avaliação, quer na BAFO:

Quadro 6 – Comparação das pontuações atribuídas às propostas dos dois concorrentes finalistas

Critério Concorrente 5 Concorrente 6 (subconcessionária)

A 1ª Fase BAFO 1ª Fase BAFO

A1 11,4 4,8 12,9 11,4

A2 11,5 13 12,5 12,5

A3 8 7,5 12,5 13,5

A4 10,5 12,5 11 12

B

B1 9 12 12 12

B2 12,3 12 14,3 13,5

B3 12,9 12 12,2 13

B4 10 12 12 9

C

C1 12 5,9 12 14

C2 14 5,9 14 14

C3 12 5,9 12 14

Classificação Final 11,38 8,008 12,34 11,64

Depois de decorridas as negociações, e ao contrário do que seria à partida esperado, as

pontuações atribuídas às BAFO de ambos os concorrentes foram inferiores face ao verificado

na 1ª Fase. De qualquer forma, o concorrente 6 detém a melhor classificação e foi-lhe atribuída

a concessão.

b) “Chumbo” do Tribunal de Contas

Passado o processo concursal, o contrato teria que ser submetido à aprovação do TC. Em

Novembro de 2009, foi emitido por esta entidade o acórdão n.º 160/09, em que era recusado o

visto ao contrato devido a violações à lei aplicável relativas ao concurso público. Citando o

ponto 85 desse acórdão: ―(…) tais violações respeitam no essencial a:

a) Ausência de declaração de impacto ambiental para um troço do trajecto, antes do

lançamento do procedimento, o que provocou a alteração do objecto da subconcessão,

com impacto na realização física do projecto e na sua dimensão financeira;

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b) Ausência do estudo que a lei exige demonstrando que a modalidade de parceria

público-privada é mais adequada que as soluções alternativas para atingir os mesmos

fins, designadamente as tradicionais para a realização de obras públicas (estudo de

comparador público);

c) Degradação das condições oferecidas ao concedente na fase final de negociações,

contrariando as regras que a própria EP estabeleceu no programa de concurso e

violando princípios fundamentais da contratação pública.‖

Quanto ao ponto a), esta questão prende-se com um lanço, 31

cuja declaração de impacto

ambiental não foi emitida a tempo do lançamento do concurso. Contudo a EP no programa de

concurso previa que se a DIA desse troço em particular não fosse emitido até à fase de

negociações, seria retirado do objecto da concessão, como veio de facto a acontecer. O TC

considerou que essa disposição do programa de concurso não respeitava o RJPPP,

nomeadamente o n.º 1 do artigo 6º que afirma que o lançamento e a contratação da PPP

pressupõem a obtenção das autorizações e pareceres administrativos de natureza ambiental.

Como resultados do facto de não ter sido obtida previamente ao procedimento concursal a DIA,

o TC aponta os seguintes:

O lanço foi retirado;

Consequentemente procedeu-se à redução do objecto da subconcessão tal como

colocada a concurso;

Produziram-se relevantes impactos físicos na construção dos lanços de via;

Produziram-se relevantes impactos financeiros, levando a um incremento de

custos no lanço do IP2 que a própria CAP considerou ―estranho‖.

Analisando a ausência do estudo de comparador público, que segundo a alínea c) do n.º1 do 6º

artigo do RJPPP, terá que existir estudo que prove o benefício para o parceiro público nesta

forma de contratação face a outras opções. No quadro 7 apresentam-se as diferenças entre a

proposta da primeira fase e a BAFO.

Finalmente, a degradação das propostas em fase de negociação, que viola o disposto na

alínea 28.2 do programa de concurso: ―O resultado das negociações não pode resultar em

condições menos vantajosas para o Concedente do que as inicialmente propostas. Entende-se

que uma proposta tem condições menos vantajosas para o Concedente se obtiver, no termo da

fase de negociações, uma pontuação que, no subcritério A1 ou na nota global, seja inferior

àquela que obteve para efeitos de selecção para essa fase.‖

31 O troço em questão trata-se do lanço Junqueira/Pocinho do IP2.

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Quadro 7 – Diferenças entre a proposta da primeira fase e a BAFO

1ª Fase BAFO Diferenças

Objecto

Lanços do IP2

Valebenfeito/Junqueira

Junqueira/Pocinho

Pocinho/Longroiva

Longroiva/Trancoso

Trancoso/Celorico da Beira

Macedo de Cavaleiros

(IP4)/Valebenfeito

Lanços do IC5

Murça(IP4)/Nó de Pombal

Nó de Pombal/Nozelos(IP2)

Nozelos(IP2)/Miranda do Douro

Lanços do IP2

Valebenfeito/Junqueira

-

Pocinho/Longroiva

Longroiva/Trancoso

Trancoso/Celorico da Beira

Macedo de Cavaleiros

(IP4)/Valebenfeito

Lanços do IC5

Murça(IP4)/Nó de Pombal

Nó de Pombal/Nozelos(IP2)

Nozelos(IP2)/Miranda do Douro

Retirada do Lanço Junqueira/Pocinh

o do IP2

Alterações da CAP

Alt de Nós desnivelados para

Ligações de Nível;

Supressão de Vias de Lentos;

Alteração do Perfil Transversal Tipo

em Secção Corrente;

Alteração do Perfil Transversal Tipo

na zona de influência dos

Nós.

Investimento Total 762.869 747.651 -15.718

VAL do esforço financeiro da EP

698.57M€ 757.33M€ + 60M€

Pagamentos à EP 200M€ 0

Na BAFO não se prevêem

pagamentos à concedente

Classificação atribuída ao

subcritério A1)- VAL 12.9 11.4 Menor Pontuação

Classificação Global

12.34 11.64 Menor Pontuação

Referir ainda que na fase de negociações, os concorrentes seleccionados já conhecem as

restantes propostas, e permitir a degradação das propostas relativamente ao que fora

previamente apresentado implica uma subversão dos princípios de concorrência. Por absurdo,

um concorrente poderia fazer uma proposta muito boa só com o intuito de eliminar grande

parte da concorrência, e posto isto, fazer então uma proposta viável para si, mas com a

benesse de apenas contar com um concorrente. No quadro 7, retirado do acórdão do TC

(2009), que mostra as diferenças entre a proposta da concessionária antes e depois da fase de

negociações.

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Refira-se que foi recusado o visto pelo TC a outros quatro contratos de concessão, por razões

semelhantes às anteriormente descritas, apesar de cada caso possuir as suas particularidades.

Este processo teve alguma cobertura mediática, mas através dos meios de comunicação social

nunca se percebeu em concreto as reais e concretas causas do chumbo do TC.

c) O “Visto”

A EP, já em 2010, submeteu então um contrato reformado de subconcessão, produzindo o TC

um acórdão que concedia o visto à subconcessão. Quanto às questões levantadas no acórdão

que negara o visto ao contrato aparentemente foram resolvidas. Quanto à questão da DIA, o

novo acórdão transparece que já haveria pouco a fazer, e mantém que esta questão não foi

abordada da melhor forma e acautelando a EP para futuras situações semelhantes. No ponto

do estudo de comparador público, a EP remeteu ao TC um estudo, realizado em Novembro de

2009, que segundo o TC (2010), embora relativo à matéria em questão, é centrado na

comparação dos custos de desenvolvimento do projecto, não incluindo uma análise de custo-

benefício. Por outro lado, trata-se de uma análise efectuada posteriormente à própria

contratação, que, em consequência, não afasta a ilegalidade no lançamento do procedimento,

por o mesmo não ter sido precedido de uma avaliação das vantagens da parceria relativamente

a formas alternativas de alcançar os mesmos fins. Em jeito de remate a este assunto o TC

afirma o seguinte:‖A verdade é que o procedimento foi lançado sem cumprimento de uma

exigência material indispensável e não pode dar-se como assente que o resultado seria o

mesmo caso ela tivesse sido atempadamente cumprida.‖ Finalmente, quanto à questão da fase

de negociações ter, ao contrário do que se pretendia, resultado num decréscimo da qualidade

das propostas, talvez a falha mais grave do procedimento, a EP assegurou ao TC que iria

proceder a uma reforma do procedimento concursal. Assim sendo, a comissão de análise de

propostas voltou a reunir com os concorrentes seleccionados para a fase de negociações,

indicando que teriam que apresentar nova proposta final, no âmbito da reforma do contrato de

subconcessão. A concorrente n.º 5 indicou que não iria alterar a sua proposta anteriormente

apresentada, já a concorrente n.º 6, a subconcessionária, apresentou uma proposta reformada,

no seguinte quadro retirado do acórdão (TC, 2010) confrontam-se as três propostas

apresentadas pelo concorrente vencedor no quadro 8.

A grande alteração de proposta final reformada, face à BAFO, foi registada no critério A1,

referente ao VAL do esforço financeiro do concedente. O novo VAL apresentado de 696,57

milhões de euros é consideravelmente inferior ao apresentado na BAFO, de 757,33 milhões,

sendo este valor idêntico ao apresentado pela subconcessionária na primeira fase do concurso,

obtendo assim pontuação igual à obtida nessa fase.

Foi então adjudicada a concessão ao concorrente 6, a subconcessionária Ascendi Douro

Interior, tendo o contrato reformado recebido o visto através de acórdão do TC.

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Quadro 8 – Pontuações obtidas pela subconcessionária desde a 1ª Fase até à proposta final reformada.

Critério Concorrente 6 (subconcessionária)

A 1ª Fase BAFO Proposta final reformada

A1 12,9 11,4 12,9

A2 12,5 12,5 12,5

A3 12,5 13,5 13,5

A4 11,0 12,0 12,0

B

B1 12,0 12,0 12,0

B2 14,3 13,5 13,5

B3 12,2 13,0 13,0

B4 12,0 9,0 9,0

C

C1 12,0 14,0 14,0

C2 14,0 14,0 14,0

C3 12,0 14,0 13,5

Classificação Final 12,3 11,6 12,7

Apesar de concedido o visto, o TC, no deixa inúmeras recomendações à EP entre as quais que

esta (TC, 2010):

― (…) a) Dê integral cumprimento ao disposto nos artigos 4.º e 6.º do DL n.º 86/2003,

na redacção do DL n.º 141/2006, de 27 de Julho, assegurando que o lançamento das

PPPs é precedido dos estudos necessários que demonstrem, em concreto, as

vantagens do recurso a essa modalidade relativamente a formas alternativas de

alcançar os mesmos fins e a capacidade dessas parcerias para alcançar os fins

estabelecidos na lei;

b) Assegure o respeito pelo estipulado na alínea d) do n.º 1 e no n.º 4 do artigo 6.º do

mesmo diploma legal, garantindo que o lançamento e objecto das parcerias não

abrangem quaisquer intervenções para as quais não tenha sido previamente obtida a

exigível Declaração de Impacte Ambiental;

c) Garanta a observância do disposto nos n.ºs 3 e 4 do artigo 152.º do Código dos

Contratos Públicos, de acordo com os quais, em concursos em que haja negociação

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de propostas, não podem ser escolhidas propostas finais cuja pontuação global seja

inferior à das respectivas versões iniciais;

d) Tenha em conta que a decisão de contratar é aferida em função das circunstâncias

que se verificam à data em que é tomada. Assim, sempre que ocorrerem

circunstâncias supervenientes ao lançamento dos procedimentos que introduzam

diferenças relevantes entre os pressupostos do procedimento e os pressupostos da

decisão de contratar, deve ser accionado o disposto no artigo 79.º, n.º1, alínea d), do

Código dos Contratos Públicos, que fixa essa ocorrência como causa de não

adjudicação; …)‖

Importa referir que aquando da primeira adjudicação, em 2008, o anterior contrato tinha logo

começado a produzir efeitos, começando desde logo a execução da obra, assumindo a

subconcessionária compromissos e realizando investimentos, em caso de nova recusa do

visto, elevado encargos seriam suportados pela EP por via de indemnizações requeridas pela

subconcessionária. Este facto terá pesado na decisão do TC, demovendo-o de tomar uma

decisão mais drástica como a de recomendar a anulação no concurso e subsequente novo

procedimento concursal, que porventura seria a decisão mais correcta a tomar à luz dos

princípios da regulação e da concorrência. Todavia, será de forma realista que se verifica que,

ao dar o visto ao contrato reformado, o TC terá tomado, quiçá não a mais correcta, com certeza

a decisão mais útil.

4.7.3. Análise do contrato

Como já vinha sendo anunciado ao longo deste documento, este contrato, denominado

Contrato de Subconcessão Reformado, celebrado entre a EP, o concedente, e a AENOR

DOURO – Estradas do Douro Interior, S.A., a subconcessionária. A subconcessionária

receberá pagamentos por disponibilidade da infra-estrutura, e não existindo cobrança de

portagens.

No que diz respeito à remuneração da subconcessão, a fórmula para o cálculo desta é a mais

complexa dos quatro contratos analisados até agora, e apresenta a seguinte forma:

Em que:

Dist - componente da remuneração anual relativa à disponibilidade verificada no ano t;

Servt - componente da remuneração anual relativa ao serviço prestado pela subconcessionária

efectivamente verificado no ano t;

(14)

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59

Dedt - componente correspondente às deduções a efectuar em virtude da ocorrência de falhas

de desempenho e de disponibilidade no ano t;

Pent – componente correspondente à penalidade resultante das externalidades ambientais e da

sinistralidade, no ano t;

Sint - montante correspondente à dedução ou incremento imposto em resultado da evolução

dos índices de sinistralidade para o ano t.

Comparando com a fórmula de remuneração da concessão Norte, verifica-se que foram

incluídas duas novas parcelas. Para além das parcelas referentes à disponibilidade, às falhas

de desempenho e à sinistralidade, constam na fórmula parcelas referente ao serviço prestado

pela concessionária e externalidades ambientais.

A remuneração anual relativa à disponibilidade apresenta a seguinte fórmula de cálculo:

sendo:

tdt – valor da tarifa diária de disponibilidade no ano t;

ndt(j) – número de dias em que o sublanço j se encontrou em serviço;

L(j) – extensão do sublanço j;

LTotal – Extensão total dos sublanços que integram a subconcessão.

O valor da tarifa é definido no anexo e não é sujeita a actualização durante a vigência do

mesmo.

A parcela referente á remuneração devido ao serviço prestado pela subconcessionária,

calculada anualmente, será calculada de acordo com a seguinte fórmula:

em que:

L(j) – extensão do sublanço j;

tst – valor da tarifa diária, actualizável, por quilometro por serviço prestado;

TMDAt(j) – tráfego médio diário anual de veículos de todas as classes;

ndt(j) – número de dias em que o sublanço j se encontrou em serviço.

(15)

(16)

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60

Relativamente ao valor da tarifa de serviço, esta será actualizada anualmente com base no

IPC. Observa-se ainda o seguinte, se o TMDA for maior ou igual do que 20.000 e menor do

que 25.000, e para veículos deste intervalo, a tarifa por serviço prestado será igual a 75% do

valor definido anteriormente. No caso de o TMDA for maior que 25.000, e para os veículos que

ultrapassem este limite, a tarifa diária por serviço prestado será igual a 50% do valor da

referida tarifa. Esta medida evita prémios excessivos por serviço, pois a anterior formula

apenas tem em conta o TMDA, e não o nível de serviço, e a partir de valores grandes de

tráfego, a qualidade de serviço decresce.

A componente correspondente a deduções a efectuar relativas a falhas de

disponibilidade, tal como na concessão Norte é a soma das deduções diárias, , sendo

estas calculadas da seguinte forma:

Com:

T - relação entre o número total de quilómetros afectados pela indisponibilidade e o número

total de quilómetros da Concessão;

c(g) - coeficiente de gravidade da falha de disponibilidade, sendo, para este efeito,

considerados 2 graus de indisponibilidade:

i) indisponibilidade absoluta — a que corresponde um coeficiente de valor 1;

ii) indisponibilidade relativa — a que corresponde um coeficiente de valor 0,5;

c(d) - coeficiente de duração da falha de disponibilidade, sendo, para este efeito, considerados

3 graus de indisponibilidade:

i) Indisponibilidade durante o período nocturno [entre as 22 e as 6 horas] — a que

corresponde um coeficiente de valor 0,3;

ii) indisponibilidade durante o período diurno [entre as 6 e as 22] — a que

corresponde um coeficiente de valor 0,7;

iii) indisponibilidade durante um dia — a que corresponde um coeficiente de valor 1.

Fica assegurado o incentivo à subconcessionária para que reduza ao máximo as interrupções

no serviço, e se estas tiverem que acontecer, o que é normal com operações de manutenção,

que sejam à noite e que tenham a menor duração possível.

A penalidade relativa às externalidades ambientais e à sinistralidade, que se trata de uma das

inovações desta geração de contratos de concessão, tem a seguinte fórmula de cálculo:

(17)

(18)

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61

Em que:

Pent – Montante correspondente à penalidade relativa às externalidade ambientais e à

sinistralidade;

Ppent – Pontos de penalização incorridos no ano t;

Puni – Valor unitário da penalidade a impor por cada ponto de penalização incorrido.

O sistema de pontos de penalização entra com indicadores ambientais e relativos à

sinistralidade. Compreende uma serie de factores, que são avaliados, e atribuídos pontos de

penalização consoante a distancia às metas e objectivos que se pretendem atingir. São quatro

os indicadores ambientais avaliados: 32

Qualidade do ar;

Nível de ruído ambiente exterior;

Qualidade da água, e;

Fragmentação dos habitats naturais.

A sinistralidade é avaliada e pontuada recorrendo a dois indicadores:

Número de pontos negros; 33

Índice de gravidade de acidentes.

Será positiva a introdução destes factores, consciencializando a subconcessionária com as

questões ambientais, nomeadamente do impacto que uma infra-estrutura rodoviária tem no

ecossistema, incentivando a que esta tente ao máximo minimizar as externalidades negativas

que da subconcessão possam advir. Resta saber se a monitorização de tantos indicadores

será eficaz.

Neste contrato verifica-se ainda, a dedução ou incremento imposto em resultado da evolução

dos índices de sinistralidade já verificado em dois dos contratos já analisados. Existe uma

pequena nuance neste ponto que marca a diferença face aos anteriores. Enquanto nos

anteriores contratos o índice de sinistralidade da concessão era comparado com o índice de

todas as concessões com as mesmas características, neste compara-se o índice de

sinistralidade da subconcessão de um ano com o do ano anterior da subconcessão. Deixa-se

de avaliar a sinistralidade em termos relativos, incentivando à constante evolução positiva, por

32 Não se expõem as fórmulas de cálculo das pontuações relativas a externalidades ambientais e

sinistralidade neste trabalho, estas podem ser encontradas no anexo 12 do caderno de encargos e contrato da subconcessão. 33

A definição sumária de ―ponto negro‖ segundo a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária é ―lanço de estrada com o máximo de 200 metros de extensão, no qual se registou, pelo menos, 5 acidentes com vítimas‖. Contudo, a definição envolve mais alguns factores relacionados com a gravidade dos acidentes.

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exemplo, num ano em que a sinistralidade global seja muito elevada, se, apesar de elevado, o

índice de sinistralidade da concessão for inferior ao índice global, esta será recompensada.

Assinalar ainda, a preocupação existente com a sinistralidade nesta subconcessão, existe um

notório reforço do sistema de incentivos neste aspecto, juntando-se a este mecanismo já usado

noutras concessões, o sistema de pontos relativos a pontos negros e gravidade dos acidentes.

Este incremento regulatório nesta área poderá ser explicado com o tipo de infra-estrutura, pois

por não ter perfil de auto-estrada e por outras questões relacionadas com projecto, terá

intrínseco maiores índices de sinistralidade, sendo necessário tentar contornar este facto de

recorrendo a estes mecanismos.

Finalmente, a subconcessionária terá que pagar ao concedente uma taxa de gestão do

contrato, para suporte de despesas deste com o acompanhamento, gestão e fiscalização da

subconcessão. Essa taxa é calculada de acordo com a seguinte fórmula:

em que:

T - taxa anual de gestão do contrato;

K - constante de valor € 100 (cem euros), a preços de Dezembro de 2007, actualizável

anualmente de acordo com o IPC;

CA - somatório da circulação anual de cada um dos sublanços da subconcessão, sendo esta

medida em veículos x Km x 365 dias.

4.8. Análise comparativa dos contratos e conclusões

Tentando analisar os contratos do ponto de vista da regulação, é notório o aumento, ou pelo

menos o esforço em aumentar a carga regulatória que consta nos contratos. Esta evolução é

bem retratada com o estudo destes quatro contratos, desde o contrato BRISA, o contrato com

mais história, que é algo pobre em mecanismos de incentivo e desempenho, até ao contrato

Douro Interior, incluído na nova geração de contratos, em que são bem explícitas

preocupações não só em termos de disponibilidade, mas também no desempenho em termos

ambientais e de sinistralidade. Esta evolução é esquematizada pela figura 15.

O contrato Brisa, como já foi mencionado, trata-se de o mais peculiar dos contratos de

concessão. Antes de mais não foi submetido a procedimento concursal, em termos mais

simples, poder-se-á afirmar que o contrato foi ―comprado‖ aquando da privatização da Brisa,

evitando uma importante etapa, que deve estar sempre presente num mercado saudável e

concorrencial. Quanto ao modelo regulatório que este contrato em si encerra, é muito simples,

talvez em demasia, sem um regime concreto de incentivos ou penalizações, sem descriminar

(19)

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63

as situações em que se procede a renegociação contratual. Terá uma vantagem relativamente

aos restantes contratos, no que ao Estado diz respeito, o risco da procura encontra-se do lado

da concessionária. Será o contrato que requererá mais regulação extracontratual,

principalmente em processos de renegociação.

Figura 15 – Evolução dos mecanismos de regulação nos contratos.

Relativamente ao contrato Beira Interior, em regime SCUT, à partida estará prestes a ser

reformado, sendo incluídas portagens, que reverterão a favor da EP, realizando estes

pagamentos por disponibilidade à concessionária. O novo modelo não andará muito longe do

que se verifica na concessão Norte, existindo ainda especial interesse em como se irá

desenrolar o regime de isenções anunciado pelo governo. Fica a ideia que a alteração do

regime de SCUT para portagens reais nesta infra-estrutura terá mais a ver com as recentes

dificuldades orçamentais verificadas pelo governo, do que com alguma falha ou lacuna que se

lhe possa apontar.

Quanto à concessão Norte, a recente alteração contratual causou alguma polémica,

relacionada com a transferência de risco de procura da concessionária para o concedente, que

pode e deve realmente ser discutida, mas contudo, foram incluídos mecanismos mais fortes e,

porventura, mais eficazes, de regulação contratual, tornando num contrato mais forte e com

menos necessidade de regulação extracontratual.

Finalmente, relativamente ao contrato Douro Interior, que ganhou o sufixo ―reformado‖ devido

às irregularidades que se verificaram no processo de concurso de atribuição desta concessão,

este deve acima de tudo servir de lição para futuros processos. Mencionar o importante papel

que o TC teve em toda este processo, deixando em aberto a possibilidade de ser um pouco

Brisa

•Com poucos ou nenhuns incentivos ao desempenho e performance, existindo apenas um regime de sanções por incumprimento.

Beira Interior

•Já tem em atenção o indice de sinistralidade, bem como penalizações por indisponibilidade.

Norte

•Penalizações por falta de desempenho ou disponibilidade, prémios ou deduções consoante o indice de sinistralidade, incentivo em caso de receitas extraordinárias por parte da EP, e regime de multas por incumprimentos.

Douro Interior

•Deduções por falhas de desempenho e disponibilidade, sistema de prémios os deduções consoante o indice de sinistralidade, e penalização por sistema de pontos resultante de externalidade ambientais e de sinistralidade.

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mais rigoroso, mas compreensível a decisão em termos de estabilidade para a concessão e

celeridade para a conclusão da infra-estrutura. É o contrato, dos analisados neste trabalho,

mais completo em termos de regulação, talvez por não gerar receitas directas ao Estado,

incluindo inclusive factores ambientais no cálculo do pagamento a efectuar à concessionária,

neste caso, subconcessionária. Será de interesse acompanhar o desenrolar deste contrato e

eficácia dos seus mecanismos.

O risco de tráfego (ou procura), é diferentemente alocado, sendo que no contrato Brisa e Beira

Interior, este recai sobre a concessionária, apesar de no segundo caso estes riscos sejam

diluídos pelo sistema de bandas, ao contrário do que sucede nos outros contratos. Será valido

que o concedente assuma o risco de tráfego? Esta questão gera muita discussão. O caso base

é montado tendo em conta projecções de tráfego até ao termo da concessão. O que se tem

vindo a verificar é que essas projecções têm se demonstrado demasiado optimistas. O

concessionário, ou seja, o parceiro privado, historicamente terá melhores condições para lidar

com este risco, e ao colocar-se este risco do lado do concedente à partida verifica-se um

decréscimo de VFM para o contribuinte. Esta transferência de risco tem sido recentemente

muito aplicada pelo Estado Português, quer nos contratos recentemente renegociados, em que

se incluem a concessão Norte, quer na futura inclusão de portagens nas agora concessões

SCUT, que apesar de prevista, numa primeira fase não incluirá a concessão da Beira Interior.

A necessidade e a intensidade de regulação dos contratos estudados são variáveis. Sendo

claro que o contrato Brisa terá de ter mais atenção por parte do regulador em comparação com

o contrato do Douro Interior. De qualquer forma mesmo este último não dispensará o

acompanhamento por parte de uma terceira entidade, sem ser a concessionária ou o

concedente. Na figura 16 confronta-se a necessidade de regulação não contratual face à força

que o contrato apresenta em termos de mecanismos de regulação:

Figura 16 – Necessidade de regulação face ao número e complexidade de mecanismos de regulação

contratual

Verifica-se, apesar dos recentes esforços por parte do Estado, alguma heterogeneidade nos

contratos, quer em questões básicas, como por exemplo quem é o concedente, ou quem o

representa, quer em questões mais complexas, como regimes de prémios e sanções. Este

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facto pode ser justificado pela premissa de que cada contrato deverá ser desenhado para cada

caso em concreto, tendo em conta os objectivos de cada concessão, mas por outro lado

colocará mais dificuldades à implementação de um modelo regulatório eficiente e efectivo.

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5. InIR

5.1. Enquadramento e Missão

Como já foi referido neste documento, o InIR trata-se de um instituto público dotado de

autonomia administrativa, integrado na administração indirecta do estado. Prossegue

atribuições do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, sob

superintendência e tutela do respectivo ministro. O InIR foi criado pelo DL n.º 148/2007, e é o

regulador oficial do estado no sector rodoviário.

A criação do InIR surgiu como consequência do NMGFSR, aprovado pela Resolução do

Conselho de Ministros n.º 89/2007. Segundo este, visa-se promover uma maior eficiência na

afectação dos recursos e uma maior aproximação ao mercado, implementando princípios de

gestão privada e transferindo de forma sistemática os riscos de projecto, de construção e

financiamento, originariamente a cargo do Estado, para os operadores do sector. Pretende-se

ainda centrar energias no reforço e consolidação dos conceitos base da solidariedade

intergeracional, da coesão nacional, da transparência dos custos das funções do Estado e da

auto-sustentabilidade do sector rodoviário. Uma das medidas-base na implementação deste

novo modelo foi dotar a EP de autonomia empresarial, procedendo-se à sua transformação em

sociedade anónima, assegurando assim que o Estado, em princípio, não garante nem avaliza,

directa ou indirectamente, qualquer dívida ou obrigação desta sociedade, sendo que a relação

entre ambos seguirá os Princípios de bom governo das empresas do sector empresarial do

Estado, aprovados pelo Governo através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 49/2007.

Traduz-se esta nova organização, num contrato de concessão de longo prazo, 70 anos, que

para além de contratualizar o acima disposto, permite um maior controlo público do

desempenho e eficiência da EP, bem como a fixação de objectivos no que se refere à

qualidade de serviço das vias nacionais. Desempenhando o Estado as funções de concedente,

e a EP de concessionária deste contrato, surge a necessidade a criação de um organismo

público com funções de regulação, foi assim criado o InIR.

Como já referido, foi criado pelo DL n.º 148/2007, sofrendo algumas alterações no DL n.º

132/2008. Segundo o 3.º artigo, intitulado ―missão e atribuições‖, são definidas, entre outras, as

seguintes atribuições:

a) Contribuir para a definição das políticas do sector e aconselhar o Governo sobre as

matérias da sua competência;

b) Propor medidas legislativas ou regulamentares que tenham por objecto a gestão da

rede de infra-estruturas rodoviárias;

c) Apoiar o planeamento da rede rodoviária nacional, no âmbito das políticas de

planeamento dos transportes;

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d) Superintender a segurança e qualidade da infra-estrutura rodoviária;

e) Promover a definição e aplicação de normas relativas à qualidade e segurança das

infra-estruturas rodoviárias;

f) Definir as normas regulamentares aplicáveis ao sector e os níveis de desempenho

das infra-estruturas rodoviárias;

g) Fiscalizar o cumprimento das obrigações pelos operadores do sector;

h) Assegurar e monitorizar a defesa dos direitos e interesses dos utentes;

i) Promover a concorrência no sector rodoviário;

j) Desempenhar funções de arbitragem e resolução de litígios e promover a resolução

de conflitos entre operadores e gestores da rede ou entre eles e os utentes;

No ponto seguinte do mesmo artigo, é referida como atribuição específica do InIR, entre outras,

produzir e prestar informação ao governo e ao público nas áreas de gestão e regulação das

infra-estruturas rodoviárias. Finalmente, e ainda relativo a este artigo, com as alterações

introduzidas em 2008, foi a inclusão do seguinte ponto:

O InIR, I. P. representa o Estado perante os concessionários das infra-estruturas rodoviárias

cabendo-lhe, sem prejuízo de outras atribuições que a lei lhe confira neste âmbito,

designadamente:

a) Exercer os poderes e as competências atribuídas ao concedente Estado, por lei ou

por contrato;

b) Gerir, em nome e representação do Estado, os contratos de concessão da rede

rodoviária;

c) Acompanhar o cumprimento, pelos concessionários, dos contratos referidos na

alínea anterior;

d) Fiscalizar o cumprimento, pelos concessionários, das respectivas obrigações legais,

regulamentares e contratuais.

Outras disposições importantes são definidas por estes decretos legislativos, como

estrutura e organização da instituição, gestão financeira e patrimonial e procedimentos

na actividade regulatória.

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5.2. Estrutura

Na Portaria n.º 546/2007 de 30 de Abril são aprovados os estatutos do InIR, entre outras

disposições resulta a seguinte estrutura orgânica esquematizada na figura 17 (InIR, 2010a).

Figura 17 – Organigrama do InIR

A estrutura com maiores responsabilidades no que diz respeito à regulação dos operadores é a

Direcção de Regulação e Concessão, cuja supramencionada portaria atribui entre outras as

seguintes competências, o apoio à formulação de estratégias e políticas de regulação,

desempenhar funções de arbitragem e resolução de conflitos entre gestores e operadores de

rede e entre estes e os utentes, promover a defesa da concorrência no sector e acompanhar,

fiscalizar e reportar periodicamente sobre o cumprimento dos contratos de concessão e

subconcessão, por parte da EP, e das concessionárias e subconcessionárias da rede

rodoviária nacional. Por último, referira-se que esta direcção integra na sua estrutura o

Departamento de Análise e Regulação e o Departamento de Gestão dos Contratos de

Concessão, que dividem entre si as atribuições já mencionadas. O gabinete jurídico também

tem um papel importante no que a regulação diz respeito, pois entre as suas atribuições, presta

apoio jurídico especializado à Direcção de Regulação e Concessões em matérias relacionadas

com o enquadramento legal do sector, da actividade de regulação, do exercício da função de

concedente e do funcionamento do InIR. Realçar ainda Conselho o Consultivo, que se trata de

um órgão de consulta, apoio e participação na definição das linhas gerais de actuação do InIR.

Conselho Directivo

Direcção de Regulação e Concessão

Departamento de Análise e Regulação

Departamento de Gestão dos Contratos de Concessão

Direcção de Planeamento

Direcção de Segurança e Qualidade

Departamento de Normalização Técnica

Departamento de Segurança Rodoviária

Direcção Administrativa, Financeira e de

Recursos Humanos

Gabinete do Controlo de Gestão e Sistemas

de InformaçãoGabinete Jurídico

Departamento de Comunicação e

Relações Externas

Conselho ConsultivoFiscal Único

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Este órgão conta, entre outros, com a presença do Presidente do Conselho de Administração

da EP, um representante da Associação Nacional de Municípios Portugueses, um

representante das empresas concessionárias e subconcessionárias de auto-estradas e outro

das auto-estradas SCUT.

Segundo o documento Balanço Social 2009 (2010), o InIR contava no final desse ano com 43

trabalhadores afectos ao seu mapa de pessoal. Na conclusão desse documento vem disposto

o seguinte: ―Do exposto resulta o retrato de um serviço ainda pequeno, mas em fase de

crescimento, dotado de efectivos já com alguns anos de experiencia na Administração Pública

e em particular no sector rodoviário (…)‖. Diga-se que os efectivos com experiencia no sector

rodoviário referidos na anterior citação resultam da transferência de recursos humanos afectos

ao exercício de funções na área da supervisão das infra-estruturas rodoviárias na EP.

5.3. InIR nos contratos de concessão

Com a excepção do contrato da Beira Interior, o InIR é sempre mencionado nos contratos

analisados neste trabalho. Nestes são definidas as suas funções e papel atribuído, que varia

de contrato para contrato.

Relativamente ao contrato da Beira Interior, como já foi referido, o InIR não vem mencionado,

devendo-se isto ao simples facto de o contrato ter sido assinado em 1999 e o InIR ter sido

criado em 2007. De qualquer forma neste contrato o InIR, de acordo com o decreto que o criou,

assume os poderes e as competências atribuídas ao concedente Estado, realizando a gestão

do contrato em nome deste.

O contrato Brisa, de 2008, foi o primeiro a contar com o InIR nas suas cláusulas. Entra as

atribuições mencionadas neste documento, encontram-se o emitir parecer quanto a alterações

tarifárias fora do regime contratualmente estipulado, bem como ter que ser informado de

qualquer actualização. Em questões relativas a estudos e projectos InIR aparece sempre como

entidade a consultar ou a informar, sendo que alguns, como o estudo prévio de obras de arte

terão que ser sujeitos à sua aprovação. Como já mencionado, neste contrato a concessionária

é responsável por qualquer processo expropriativo necessário à concessão, sendo que o InIR

terá que aprovar as plantas parcelares com as quais as expropriações terão que estar em

conformidade, ainda referente a este assunto, ―antes da realização das expropriações, a

concessionária submeterá ao InIR, para cada sublanço, a tabela dos valores unitários dos

terrenos segundo os diversos tipos de utilização ou ocupação devendo a sua aprovação

ocorrer no prazo de 30 dias após aquela apresentação, prazo findo o qual se considerarão tais

valores tacitamente aprovados.‖. Também terá tarefas no supervisionamento da execução das

obras e acompanhamentos de empreitadas. No n.º 4 do artigo 27.º deste contrato vem

estipulado que o InIR enquanto entidade fiscalizadora, pode intervir em qualquer fase da

concessão, ordenando a verificação quer de anomalias de execução, quer do incumprimento

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do que seja exigido e estiver aprovado, e determinando, consequentemente, alterações e

melhorias, nos prazos e condições que considerar mais convenientes. As concessionárias

ainda terão que submeter à aprovação do InIR o manual de operação e manutenção e o plano

de controlo de qualidade, bem como qualquer alteração que queira introduzir a posteriori

nestes documentos. Todas as intervenções realizadas pela concessionária que obriguem a

desvios do tráfego ou a alterações da normal circulação de veículos, impostos, nomeadamente,

pela redução do número de vias de tráfego em serviço, devem ser comunicadas ao InIR, em

relatórios trimestrais e deverão ser optimizadas quanto ao período de duração e frequência.

Trimestralmente, são enviadas ao InIR as reclamações registadas pelos utentes,

acompanhadas das respostas dadas aos utentes e dos resultados das investigações que,

porventura, tenham sido efectuadas. Finalmente, no artigo n.º44, intitulado ―Fiscalização‖ é

referido que a fiscalização para questões financeiras é exercida IGF, cabendo ao InIR os

demais aspectos.

No contrato da concessão Norte o InIR já vem menos vezes referenciado, não tanto por lhe

competir menos atribuições, mas por compilar a maior parte destas num só artigo intitulado

―InIR‖ no qual consta o seguinte: ‖Sem prejuízo dos poderes cometidos a outras entidades,

sempre que no Contrato de Concessão se atribuam poderes ou se preveja o exercício de

faculdades pelo Concedente, tais poderes e tal exercício podem ser executados pelo InIR, o

qual fica autorizado para tanto por força das Bases da Concessão e do Contrato de

Concessão, salvo quando o contrário resultar do presente contrato ou de disposição imperativa

da lei.‖ Analisando os poderes do concedente, traduz-se esta cláusula em praticamente as

mesmas funções descritas anteriormente para o contrato Brisa. Fica bem marcado que o InIR

desempenha as funções de concedente neste contrato, inclusive no final do contrato, é

considerado como domicílio do concedente, a morada do InIR. O InIR é ainda mencionado

especificamente noutros artigos referentes a estudos e projectos e fiscalização, em que

exceptuando a área financeira, encerra em si os poderes de fiscalização.

Por fim, relativamente ao contrato de subconcessão Douro Interior, é dos quatro contratos aqui

estudados, o que menos funções aloca ao InIR. Este facto é facilmente explicável pelo facto do

concedente neste caso ser a EP, sendo que todas as obrigações atribuídas ao concedente,

mas desempenhadas pelo InIR, descritas para os anteriores contratos, são desempenhadas

pela EP. Ainda assim, nas poucas menções feitas ao InIR, destacar que a subconcessionária

terá que apresentar todas as informações que lhe sejam solicitadas por este, e ainda, após a

conclusão dos trabalhos e antes da entrada em serviço de qualquer troço, aquando da

respectiva vistoria será necessária a presença de representantes do InIR. Referir que a acção

relativa a este contrato, não se limitará apenas ao aqui descrito, este contrato apenas define e

regula a relação entre a subconcessionária e a EP, a relação entre InIR e EP definida noutro

contrato, já mencionado neste trabalho, o contrato de concessão EP assinada entre o Estado

Português e a EP, na figura 18 são esquematizadas as relações entre estas entidades.

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Figura 18 – Encadeamento dos contratos e das relações entre Estado, EP e concessionárias

Os esquemas da figura resumem o encadeamento entre Estado, InIR, EP e concessionárias e

contratos que definem as relações entre eles. Fazendo uma análise comparativa entre os

vários contratos relativamente ao papel que o InIR assume, em todos tem como principal

responsabilidade defender os interesses do Estado, nos três primeiros contratos desempenha

tarefas de monitorização, regulamentação e fiscalização interagindo directamente com a

concessionária. No último desempenha essas tarefas de forma indirecta, pois não as

desempenha sobre a subconcessionária ou subconcessão em particular, mas sim sobre a

concessão EP, que abrange outras subconcessões e restante rede rodoviária nacional não

concessionada. Do ponto de vista da regulação, considerando o InIR será a entidade

reguladora, o primeiro modelo apresenta algumas ambiguidades. Sendo que desempenha o

papel de concedente, tentando zelar pelos interesses deste, no caso o Estado, poderá não ter

o ponto de vista mais correcto que uma entidade reguladora deverá ter, pois o regulador

também tem o compromisso de atender aos interesses, sempre que legítimos, da

concessionária. Esta questão levanta-se não tanto pela necessidade da concessionária ter

apoio da entidade reguladora, mas acima de tudo por uma questão de imagem perante esta,

pois com isenção, a credibilidade, e por consequência, o poder do regulador, será porventura

mais efectivo. Outra questão de fundo relativa ao modelo mais antigo, será a real necessidade

da participação directa do InIR, pois antes da sua criação, as tarefas agora desempenhadas

por este, eram executadas pela EP, sendo que, efectivamente, o surgimento do InIR nos

contratos que seguem este modelo trouxe alterações formais, e poucas alterações ao nível dos

seus processos.

Quanto ao segundo modelo, pelo menos formalmente, parece ser mais correcto que o anterior.

Apesar de na relação com a EP, poder-se apontar as mesmas situações referidas

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anteriormente, neste caso essas fragilidades não se farão sentir da mesma forma, pois quer o

InIR quer a EP são entidades estatais, e em última análise terão o mesmo objectivo, assegurar

e maximizar o bem-estar das populações. Do ponto de vista do regulador, encontra-se em

melhor posição para desempenhar estas funções, pelo menos ao nível de isenção e

imparcialidade. É um modelo que ainda não tem tempo suficiente de implementação para que

se possa fazer uma avaliação da realidade, e se de facto potencia as atribuições do InIR

enquanto entidade reguladora.

Esta falta de homogeneidade dos modelos que definem a participação do InIR, não facilitam

em nada a acção deste, pois as suas competências e responsabilidades variam quase de

contrato para contrato. Uma uniformização seria porventura benéfica, mas sem esquecer que

cada situação terá as suas especificidades, e terá que se tentar encontrar a melhor solução

para todos os intervenientes.

5.4. InIR, regulador do sector rodoviário - análise de actividade e

recomendações

Criado em 2007, encontra-se ainda em fase de crescimento no sector. Tem tido alguma

dificuldade em afirmar-se perante os operadores intervenientes no mercado das concessões

rodoviárias, tanto do lado privado, com as concessionárias, que ainda a não reconhecerem em

toda a plenitude enquanto regulador. Mesmo do lado do sector público, em que conversando

com alguns quadros da EP fica-se com a sensação que o InIR é apenas mais um

departamento. Poderá esta atitude ser explicada pela maior parte dos quadros técnicos do InIR

serem provenientes da própria EP, não se criando uma real ruptura, criando a percepção de

continuidade. Estas dificuldades com que se tem deparado também podem ser explicadas pelo

facto deste novo modelo de gestão e financiamento do sector rodoviário ainda se encontrar em

fase de implementação, com contratos a serem renegociados e indefinição verificada

recentemente no sector. Contudo, analisando de outra perspectiva, também podia ter-se

assumido como elemento esclarecedor neste período de mudança, mas o que se verificou foi a

ausência de qualquer posição ou nota informativa referente a qualquer uma das recentes

situações mais mediáticas.

Saliente-se o excelente trabalho desenvolvido na área de divulgação técnica, tendo o InIR

produzidas disposições normativas, guias de procedimentos, notas e normas técnicas, bem

como pormenorizados relatórios de monitorização de tráfego da rede rodoviária nacional. Mas

esta divulgação técnica tem sido parca relativamente a temáticas relacionadas com a

regulação ou gestão contratual. Esta produção e divulgação de literatura enquadrável na

temática da regulação trata-se de um papel muito importante na actividade de um regulador,

permitindo um incremento em termos de know-how por parte dos intervenientes públicos, e

consolidando a sua imagem perante os operadores privados. Fazer referencia que o TC tem

vindo a publicar alguns documentos nos quais são abordados temas relacionados com este

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73

assunto, será um bom exemplo a seguir pelo InIR, podendo complementar o trabalho feito pelo

TC, que terá uma visão ―de fora para dentro‖, enquanto a visão do InIR será do ponto de vista

interno ao sector rodoviário.

A actividade do InIR referente ao período de construção e operação está bem definida e

estipulada, acções de monitorização e fiscalização, principalmente em áreas técnicas

relacionadas com a construção e manutenção da infra-estrutura e processamento de

reclamações dos utentes constituem uma grande fatia da sua actividade. Quanto a regulação

económica propriamente dita, a actividade do InIR não é tão intensa, devendo-se este facto

aos modelos contratuais em vigor, que definem bem os processos e mecanismos relativos a

esta área, restando a este assegurar que é cumprido o estipulado. Ultimamente, em processos

de negociação entre partes, elementos do InIR já têm sido chamados a participar, esperando-

se que esta participação nestes processos vá aumentando de intensidade, para tentar evitar ao

máximo a ocorrência de possíveis comportamentos oportunistas, algo característicos nestes

procedimentos.

Outra questão pertinente é a participação do regulador InIR nos procedimentos concursais, que

neste momento é quase inexistente. Estes procedimentos estão bem definidos legalmente,

mas ter uma entidade externa a acompanhar as diversas fases de concurso poderia ser

positivo, podendo evitar situações como as que se passaram recentemente envolvendo o TC.

Se o processo tivesse sido logo acompanhado desde uma fase inicial, provavelmente ter-se-ia

poupado muito tempo e transtorno. Uma atitude proactiva de acompanhamento e

monitorização destes processos seria benéfico para o sector, principalmente nestes tempos de

mudanças.

Torna-se interessante para este trabalho analisar o documento, ―Quadro de Avaliação e

Responsabilização – 2010‖, produzido pelo Ministério das Obras Públicas, e aprovado pelo

Secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas e Comunicações, referente ao InIR, são

definidos quatro objectivos estratégicos desta entidade, sendo um deles, posicionar-se como

um regulador de infra-estruturas rodoviárias de elevada competência, reconhecido por todos os

agentes do sector, pelos seus contributos para o desenvolvimento, competitividade e

sustentabilidade do sector. Neste documento são ainda estipulados sete objectivos

operacionais, que são avaliados através de indicadores. O objectivo ―Regular – Elaborar actos

regulatórios no âmbito das competências atribuídas ao Instituto pelo Estado concedente‖, é

avaliado pelo indicador ―Actos Regulatórios Produzidos‖. 34

Este indicador diz-nos que nos anos

de 2008 e 2009 não existiu avaliação, e que para o ano de 2010 está estipulada a meta de 30

actos produzidos. Finalmente, na rubrica ―Recursos financeiros‖ está previsto um orçamento de

funcionamento de 7.379.999 Euros.

34 Entende-se por acto regulatório a elaboração de pareceres, recomendações e notificações aos

regulados, a elaboração de regulamentos e legislação, o acompanhamento dos actos previstos nos contratos e nos termos da legislação em vigor.

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Fazendo o enquadramento do InIR, em termos de regulação, principalmente da área

económica, recorrendo aos princípios teóricos enunciados na parte inicial desta dissertação,

conclui-se que faltam cumprir alguns dos objectivos tradicionais traçados para uma entidade

reguladora. Esta situação poderá dever-se, em parte, à dúvida que persiste, se este modelo de

regulação através do InIR, será mantido casos se verifique a alteração de Governo, não sendo

este clima de incerteza no seio do instituto pouco saudável, impedindo que se efectuem

alterações muito profundas e que envolvam grandes mudanças estruturais. Fica então bem

explícito, que o InIR não pode ser encaixado como um regulador independente, pois não se

trata de um órgão autónomo face ao governo, será enquadrável como regulação estadual

indirecta, pois conta com alguma autonomia, mas actuando sempre tendo em conta os

objectivos do poder político. Outro aspecto importante a melhorar seria talvez a visibilidade,

dando-se mais a conhecer à população em geral, tendo como intenção credibilizar a instituição

e o sector perante a opinião pública.

Fica por vezes a sensação que o InIR tem sido mais espectador que propriamente actor,

realizando os serviços mínimos necessários, mas sem querer assumir qualquer papel decisivo,

funcionando em demasia na orbita da EP. Referir, mais uma vez, que é uma entidade recente,

e que tem muita margem para progredir, sendo expectável que o faça. O sector rodoviário, em

particular, mas os utentes deste em especial, teriam sempre a ganhar com um InIR mais

participativo e independente.

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75

6. Conclusão

6.1. Síntese final

O sector rodoviário português, em termos de nível de infra-estruturação, especialmente no que

diz respeito à rede de auto-estradas, é um dos mais desenvolvidos da Europa. Talvez poder-

se-á afirmar que outros sectores e outras obras seriam mais prioritários, e que até poderão ter

existido alguns excessos, onde se aponta normalmente o dedo ao poder político, pois a

inauguração de um troço de auto-estrada trata-se sempre de um evento susceptível de

aumentar a popularidade, mostrando aos eleitores ―obra feita‖. Criticas à parte, o resultado é

uma moderna rede de auto-estradas, que abrange quase todo o território nacional.

Quanto aos actores envolvidos neste sector, são inúmeros, dividindo-se por ambos os

sectores, público e privado. Dentro do sector público existem muitas entidades com atribuições

nesta matéria, algumas com competências exclusivas ao sector, como o InIR e a EP, outras

com uma maior transversalidade nos seus domínios, como o TC, MOPTC e MFAP. Verifica-se

um certo emaranhado de competências e atribuições, sendo que muitas se sobrepõem, criando

algumas ―áreas cinzentas‖, como por exemplo, no que à fiscalização e monitorização do sector

diz respeito. Têm-se verificado inclusive divergências de posição entre entidades estatais em

diversos pontos, que criam alguma resistência ao bom e rápido desenvolvimento de projectos

no sector rodoviário. Do lado dos operadores privados, normalmente com grandes empresas

de construção e entidades privadas responsáveis pela sua génese, afiguram-se, por razões

óbvias, como os intervenientes principais. Como qualquer entidade do sector privado, terão

como principal objectivo a maximização dos proveitos da sua actividade, sendo usual alguns

comportamentos oportunistas da parte destas, mas que têm que ser encarados com

normalidade e ver neles formas de detectar fraquezas e assim poder corrigi-las.

Quanto aos fundamentos teóricos que sustentam a regulação, existem muitas teorias, e uma

vasta bibliografia acerca desta temática. Não existe um método ou mecanismo de regulação

perfeito, existirão sempre falhas de mercado com necessidade de serem supridas, e não se

pode exigir da regulação a sua completa remissão, apenas que as suas consequências nocivas

possam ser limitadas ao máximo. Pode-se afirmar que o mercado tem sempre tendência para

criar falhas e loop holes, propensão esta, que deverá ser constantemente contrariada com a

evolução da regulação e seus mecanismos. Quanto à regulação no sector rodoviário

propriamente dita, esta apresenta sobretudo duas formas, a regulação através do contrato e a

regulação através da actividade de um regulador específico. Esta dualidade formal deve ser

encarada como uma forma de se complementarem uma à outra, pois não será efectivo

estipular tudo contratualmente nem deixar tudo sob o poder discricionário de uma entidade

reguladora. Quanto à questão do dever recorrer à concessão no molde de PPP enquanto forma

de contratação pública, apesar de se ter comprovado ultimamente a eficácia e eficiência deste

método, obviamente quando bem aplicado, não se deverá desenvolver ―miopias‖ nem qualquer

espécie de ―cartilha dogmática‖ que deverá ser seguida à risca. Os estudos de VFM deverão

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76

ser feitos, comprovando assim qual o melhor método de contratação pública para determinada

situação, tendo sempre em conta as suas especificidades.

Olhando agora para os contratos, em específico os estudados neste trabalho, fazendo uma

análise global ao conjunto, é bem perceptível a evolução, no sentido de aumento de

complexidade dos mecanismos de regulação presentes nos contratos. No contrato Brisa, para

além da limitação de preços e de um regime de sanções pouco claro, não existem muitos mais

incentivos ao desempenho. No contrato Beira Interior, já existe preocupação com o índice de

sinistralidade, bem como algumas penalizações específicas por indisponibilidade da via. De

referir que muito provavelmente este contrato vai, num futuro próximo, ser alterado,

abandonando o seu actual modelo SCUT. Já o contrato Norte, alterado muito recentemente,

conta com regime de penalizações por falta de desempenho ou disponibilidade, prémios ou

deduções consoante o índice de sinistralidade, prémios em caso de receitas extraordinárias por

parte da EP, e regime de multas por incumprimentos. Finalmente, no contrato Douro Interior, é

onde se encontram mais e com maior complexidade estes mecanismos de regulação, decerto

influenciado pelo facto de não existirem receitas directas com portagens, e de ser um projecto

deficitário, que requer, pelo menos do ponto de vista teórico, uma maior atenção no que a

regulação diz respeito. Nele está presente, para além dos mecanismos já referidos,

penalizações calculadas através de um complexo sistema de pontos, resultantes de

externalidades ambientais e de sinistralidade. Ainda relativo a este contrato, de referir os

problemas que existiram aquando do respectivo procedimento concursal. Numa primeira

tentativa, o contrato foi chumbado pelo TC, alegadamente, por incumprimentos face às normas

legais vigentes, sendo aprovado posteriormente depois de serem feitas algumas correcções e

ficando a ideia que o TC mostrou alguma complacência, pois naquele ponto do processo de

contratação seria bem mais danoso para o Estado Português considerar nulo o concurso, e

iniciar todo o processo novamente.

Finalmente, focando-nos no InIR e na sua actividade, são manifestas algumas debilidades na

persecução das suas atribuições. Algumas destas fragilidades poderão ser justificadas pela

sua recente criação, e da, ainda não terminada, implementação do NMGFSR. A instabilidade

económica, que trouxe alguns revezes e atrasos a esta implementação também poderá ser

apontada como causa. Analisando a relação deste órgão com funções de regulação, com as

concessionárias, denota-se ainda alguma falta de ―peso‖ no sector, podendo ser justificada em

parte pela atitude da EP face ao InIR, deixando a imagem de que este se trata apenas de mais

uma direcção, como tantas outras, dentro de concessionária do estado. É relevante assinalar a

publicação com qualidade de muitos guias e normas de caris técnico por parte do InIR, mas

também assinalar a ausência da mesma em questões mais relacionadas com a regulação.

Será quase certo que é necessário um regulador específico do sector rodoviário em Portugal,

resta saber se o InIR nos actuais moldes e atribuições, será a entidade reguladora necessária

ao sector.

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77

6.2. Desafios e expectativas

As concessões rodoviárias, nos moldes actuais, são relativamente recentes. Os contratos

assinados entre o Estado ou EP, e as concessionárias privadas ainda estão a alguma distância

temporal da sua conclusão, logo poderá ser ainda algo precoce fazer rigorosas análises dos

seus resultados. Contudo, um dos desafios na regulação dos operadores do sector rodoviário

nacional será a conclusão da implementação do NMGFSR, que se arrisca a perder o prefixo

―Novo‖, tal tem sido a demora. Nesta implementação, as renegociações dos contratos, quer os

SCUT quer os com portagem real, serão um aspecto fundamental, pois a mudança para

modelos de pagamentos por disponibilidade às concessionárias terá de ser feita de forma

responsável, tentando assegura o máximo VFM. Outro desafio e expectativa, será sem dúvida

a afirmação do InIR enquanto regulador do sector, esperando-se desta entidade mais

independência e relevância em todas as áreas e aspectos do sector. Contudo será

provavelmente necessário ―dar um passo a trás, para ver mais longe‖, ou seja, analisar a real

necessidade das novas concessões ainda não atribuídas, apesar de já serem poucas as que

se encontram nesta situação, e tentar assegurar um princípio básico, aliás uma das missões do

InIR, que é a sustentabilidade do sector rodoviário. Outra grande expectativa será o desenrolar

dos processos de cessão dos contratos, e a passagem dos objectos das concessões para a

responsabilidade estatal. Este será um momento chave, que poderá ditar o sucesso, ou pelo

contrário, o fracasso, em caso destes serem feitos de forma incorrecta, do programa de

concessões em Portugal.

6.3. Desenvolvimentos futuros

São muitos os desenvolvimentos que este estudo pode vir a ter. Seria relevante apontar boas

práticas em matéria de regulação no sector rodoviário a nível internacional que pudessem ser,

com o devido acautelamento, implementadas no nosso país. Países com maior experiencia na

regulação e com resultados positivos na aplicação desta, podem ser utilizados como bons

exemplos.

A análise de outros contratos rodoviários seria também importante, pois os quatro contratos

analisados nesta dissertação não cobrem todos os tipos. O contrato EP e o Lusoponte seriam

bons candidatos a semelhante escrutínio, principalmente por razões de transparência e

esclarecimento das populações que, muitas vezes por desinformação, pré concebem algumas

ideias associadas a corrupção envolvendo estas duas entidades em particular.

Seria também relevante analisar até que ponto este modelo de concessões, poderia ser

aplicado a uma escala mais ―micro‖, em infra-estruturas mais pequenas, como estradas

municipais, ou outras infra-estruturas rodoviárias com responsabilidades de operação por parte

das autarquias, e se seria porventura sustentável, quer em termos económicos quer em termos

de implementação, pois seria necessário o estabelecimento de know-how nos quadros

municipais para que não houvesse um aproveitamento nocivo por parte de entidades privadas.

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Finalmente, seria porventura interessante e pertinente criar um sistema de regulação por

comparação, ou seja, desenvolver um sistema de avaliação objectiva das concessionárias,

criando índices e parâmetros susceptíveis de serem comparados entre estas, tentando

promover a eficiência dos regulados através da comparação com outras concessionárias,

contribuindo ainda mais para um ambiente concorrencial saudável.

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