A relação entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do São Francisco

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  • 7/24/2019 A relao entre o Estado e a Industra de Vinhos do Vale do So Francisco

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    Universidade Federal de PernambucoCentro de Cincias Sociais Aplicadas

    Departamento de Cincias AdministrativasPrograma de Ps-Graduao em Administrao PROPAD

    Otavio de Moura e Reis de Melo

    A relao entre o Estado e a indstria de vinhos do

    Vale do So Francisco sob a tica da Teoria do

    Principal-Agente

    Recife, 2007

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO

    CLASSIFICAO DE ACESSO A TESES E DISSERTAES

    Considerando a natureza das informaes e compromissos assumidos com suas fontes, oacesso a monografias do Programa de Ps-Graduao em Administrao da UniversidadeFederal de Pernambuco definido em trs graus:

    - "Grau 1": livre (sem prejuzo das referncias ordinrias em citaes diretas e indiretas);- "Grau 2": com vedao a cpias, no todo ou em parte, sendo, em conseqncia, restrita a

    consulta em ambientes de biblioteca com sada controlada;

    - "Grau 3": apenas com autorizao expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto,se confiado a bibliotecas que assegurem a restrio, ser mantido em local sob chave oucustdia;

    A classificao desta dissertao/tese se encontra, abaixo, definida por seu autor.Solicita-se aos depositrios e usurios sua fiel observncia, a fim de que se preservem as

    condies ticas e operacionais da pesquisa cientfica na rea da administrao.___________________________________________________________________________

    Ttulo da Monografia: A relao entre o Estado e a indstria de vinhos do Vale do SoFrancisco sob a tica da Teoria do Principal-Agente

    Nome do Autor: Otavio de Moura e Reis de Melo

    Data da aprovao: 26 de Janeiro de 2007

    Classificao, conforme especificao acima:

    Grau 1

    Grau 2

    Grau 3

    Local e data:

    ---------------------------------------Assinatura do autor

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    Otavio de Moura e Reis de Melo

    A relao entre o Estado e a indstria de vinhos do

    Vale do So Francisco sob a tica da Teoria do

    Principal-Agente

    Orientador: David Ricardo Colao Bezerra

    Dissertao apresentada como requisitocomplementar para obteno do grau deMestre em Administrao, rea deconcentrao em Gesto Organizacional,do Programa de Ps-Graduao emAdministrao da Universidade Federalde Pernambuco.

    Recife, 2007

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    Melo, Otavio de Moura e Reis deA relao entre o Estado e a indstria de vinhos do

    Vale do So Francisco sob a tica da teoria doprincipal - agente / Otavio de Moura e Reis de Melo. Recife : O Autor, 2007.

    126 folhas : fig.,tab. e quadro.

    Dissertao (mestrado) Universidade Federal dePernambuco. CCSA. Administrao, 2007.

    Inclui bibliografia .

    1. Organizao industrial 2. Relaes pblicas ePoltica. 3. Vinho e vinificao. I. Ttulo.

    658.5 CDU (1997) UFPE658.5 CDD (22.ed.) CSA2007-046

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    Universidade Federal de PernambucoCentro de Cincias Sociais Aplicadas

    Departamento de Cincias Administrativas

    Programa de Ps-Graduao em Administrao PROPAD

    A relao entre o Estado e a indstria de vinhos do

    Vale do So Francisco sob a tica da Teoria do

    Principal-Agente

    Otavio de Moura e Reis de Melo

    Dissertao submetida ao corpo docente do Programa de Ps-Graduao em Administraoda Universidade Federal de Pernambuco e aprovada em 26 de janeiro de 2007.

    Banca Examinadora:

    Prof. David Ricardo Colao Bezerra, Doutor, UFPE (orientador)

    Prof. Fernando de Mendona Dias, Doutor, UFPE (examinador externo)

    Prof. Marcos Andr Mendes Primo, Doutor, UFPE (examinador interno)

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    A Deus e minha famlia por terem sido

    to presentes neste sonho.

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    Agradecimentos

    A Deus, que me deu tanto alento nas adversidades.

    A Kalina, esposa e companheira pelo incentivo, fora e pacincia.

    Aos meus pais, Antnio e Letcia, pelo exemplo de pessoas e o esforo empreendido.

    Ao meu orientador Professor David Ricardo, pela dedicao e comprometimento, essenciais realizao deste trabalho, assim como pela amizade e experincias proporcionadas por estaconvivncia.

    Aos Professores Pedro Lincoln e Marcos Viera, por terem sido os primeiros a acreditar que

    um sonho poderia se tornar realidade.Ao Corpo Docente do Mestrado em Administrao da UFPE, especialmente aos

    professores Marcos Primo e Rezilda Rodrigues, Marcos Feitosa e Bruno Campello.

    Aos colegas da Turma 11 do Curso de Mestrado em Administrao da UFPE, pelaconvivncia, motivao e suporte nos momentos bons e nos difceis. Aprendi muito comvocs, um agradecimento especial ao grupo de estudo da BP.

    Ao grande amigo Srgio Ferreira, parceiro da Turma 11, pela presena e amizade.

    A Irani Vitorino e Ana Alice, pelo suporte administrativo, assim como a todos aqueles quefazem parte do Propad.

    Um agradecimento especial a todos aqueles que de alguma forma contriburam para esteprojeto de vida. Obrigado, do corao!

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    Vers que um filho teu no foge a luta,

    (Hino nacional brasileiro)

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    Resumo

    Em pleno serto nordestino, uma regio s margens do Rio So Francisco, vem se destacando

    como um plo fruticultor no Brasil. O Sub-mdio So Francisco, regio centrada no eixo

    Petrolina/PE e Juazeiro/BA, apresenta condies nicas quanto ao clima e ao solo, que aliados

    ao aproveitamento da gua do Rio So Francisco e a tcnicas modernas de produo agrcola

    permitiram, tambm o desenvolvimento da indstria de vinhos finos que vem conquistando

    reconhecimento nacional e internacional, atraindo tradicionais produtores do Rio Grande do

    Sul e da Europa. Alinhado a este fenmeno existe a participao do Estado quanto implementao de polticas pblicas capazes de fomentar e regular o setor. Esta dissertao

    tem como foco estudar o relacionamento entre o Estado e a indstria de vinhos finos da

    Regio do So Francisco, identificando as polticas governamentais e seus impactos na

    obteno de novos investimentos em busca de um aumento na arrecadao e de

    desenvolvimento local. Para estudarmos este relacionamento optamos pela Teoria do

    Principal-Agente, pois procura analisar os conflitos e custos resultantes de um relacionamento

    onde o Governo (principal) tem interesses divergentes dos empresrios (agentes). Desta forma

    o Governo lana aes que possam incentivar os empresrios de acordo com seus interesses

    ao menor custo possvel. A pesquisa analisa o esforo de ambos os atores e conclui que o

    setor j apresenta caractersticas tpicas de uma economia de aglomerao capaz de prover um

    desenvolvimento da renda per capita da regio e avaliando de maneira positiva o Programa do

    Vinho realizado pelo Governo do Estado.

    Palavras-Chaves: Indstria Vincola. Polticas Pblicas. Teoria do Principal-Agente.

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    Abstract

    In the middle of the Northeastern interior, an area at the margins of the Rio San Francisco,

    comes if highlighting as a pole producing fruit in Brazil. The San Francisco Valley, area

    between the cities Petrolina/PE and Juazeiro/BA present unique conditions of the climate and

    the soil, that formed an alliance with the Rio San Francisco's waters and of modern techniques

    of agricultural production, that allowed, also the development of the industry of fine wines.

    The region is conquering recognition, national and international, attracting the traditional

    producers of Rio Grande do Sul and of Europe. Aligned to this phenomenon, there is theparticipation of the State with the implementation of public politics capable to foment and to

    regulate the sector. This dissertation has as focus, study the relationship between the State and

    the industry of fine wines of the San Francisco Valley, identifying the government politics

    and their impacts in the obtaining of new investments in search of an increase in the outturn

    and of local development. For study this relationship chose for the principal-agent theory,

    because it tries to analyze the conflicts and resulting costs of a relationship where the

    Government (principal) has the entrepreneurs' divergent interests (agents). This way the

    Government launches actions that can motivate the entrepreneurs in agreement with yours

    interests at the smallest cost possible. The research analyzes both actors' effort and it

    concludes that the sector already presents typical characteristics of a gathering economy

    capable to provide a development of the per capita income of the region. Evaluating in a

    positive way the Program of the Wine accomplished by the Government of the State.

    Word-key: Wine-Producing Industry. Public Politics. Principal-Agent Theory.

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    Lista de figura

    Figura 1 (2) Distribuio da carga tributria global Ano 206 ....................... 39

    Figura 2 (2) Relao Governo e Empresrios para formao do SetorVincola ................................................................................................................ 46Figura 3 (5) Cadeia Produtiva da Uva e do Vinho. .......................................... 66Figura 4 (5) Cadeia Produtiva do Vinho. ......................................................... 67Figura 5 (6) Desempenho do ICMS em Pernambuco 2005-2006 (mensal). .... 109Figura 6 (6) ndice de crescimento do PIB do Brasil, Nordeste, Pernambuco,Bahia, Cear.. ....................................................................................................... 110Figura 7 (6) Taxa crescimento do PIB de Pernambuco/NE/Brasil 95/03 ........ 111

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    Lista de tabelas

    Tabela 1 (2) Carga Tributria por grupamento de tributos 1980/96 (Em %

    da receita tributria).............................................................................................. 38Tabela 2 (2) - Carga Tributria Brasileira 2001/2005 (em % PIB). 39Tabela 3 (4) Produo Mundial de Vinhos........................................................ 54Tabela 4 (4) Produo de vinhos, sucos e derivados do Rio Grande do Sul,em litros 2003/2005........................................................................................... 57Tabela 5 (4) Participao das importaes de vinhos finos comercializadosno Brasil 2000/2005 em litros. .......................................................................... 57Tabela 6 (4) Exportaes brasileiras, outros vinhos, mostos de uva, ferm.imp. por adio lcool. (NCM 2204.2100 e 2204.2900) 2001/2004. .................. 58Tabela 7 (4) Importaes brasileiras, outros vinhos, mostos de uva, ferm.imp. por adio lcool. (NCM 2204.2100 e 2204.2900) 2001/2004.................... 58

    Tabela 8 (6) Taxa crescimento do PIB de Pernambuco/NE/Brasil 95/03 ......... 111

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    Lista de Quadros

    Quadro 1 (4) Sntese das etapas de evoluo da fruticultura no SMSF............. 62

    Quadro 2 (5) Tributos segundo a base de incidncia......................................... 84Quadro 3 (5) Resumo da tributao incidente na cadeia do vinho brasileiro.... 84Quadro 4 (5) Tributos incidentes em cada elo da cadeia produtiva................... 87Quadro 5 (5) Mark-up utilizados por cada elo da cadeia do vinho noformulao de seu preo de venda. ...................................................................... 88Quadro 6 (5) Porcentagem (%) da tributao incidente sobre o valor de umagarrafa de vinho oferecida ao consumidor final. .................................................. 88Quadro 7 (5) Porcentagem (%) da tributao incidente sobre uma garrafa devinho de mesa, vinho espumante e vinho fino. .................................................... 88Quadro 8(6) Pernambuco taxa de crescimento total e setorial do PIB2001/2003 ............................................................................................................. 111

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    Sumrio

    1 Introduo ...........................................................................................................................14

    1.1 Problema de pesquisa ........................................................................................................161.2 Objetivos............................................................................................................................171.2.1 Objetivo geral ..................................................................................................................171.2.2 Objetivos especficos.......................................................................................................171.3 Justificativa.........................................................................................................................182 Referencial terico ..............................................................................................................202.1 Teoria dos jogos ................................................................................................................202.1.1 Algumas consideraes sobre a teoria dos jogos ............................................................222.1.2 Teoria do Principal-Agente .............................................................................................232.1.2.1 Informao assimtrica.................................................................................................242.1.2.2 Incentivos .....................................................................................................................26

    2.2 Princpios tributrios .........................................................................................................272.2.1 Princpios tericos da tributao.....................................................................................272.2.2 Espcies de tributos ........................................................................................................322.2.3 Tipos de tributos .............................................................................................................342.3 Sistema tributrio brasileiro ...............................................................................................352.3.1 Contexto histrico da tributao no Brasil 1...................................................................352.3.2 Receita tributria brasileira.............................................................................................372.4 Integrao entre o referencial terico e o problema ...........................................................402.4.1 O problema da evaso fiscal ............................................................................................402.4.2 Incentivos fiscais .............................................................................................................432.4.3 Esquema de integrao da fundamentao terica..........................................................453 Metodologia.........................................................................................................................483.1 Tipo de pesquisa .................................................................................................................483.2 Fase preparatria ................................................................................................................503.3 Identificao dos fatores de restrio .................................................................................524Indstria nacional de vinhos...............................................................................................544.1 Importao e exportao.....................................................................................................574.2 O Vale do So Francisco ....................................................................................................594.2.1 Sub-mdio So Francisco ...............................................................................................604.2.2 Desenvolvimento agroindustrial......................................................................................604.2.3 Introduo da indstria vincola no Vale do So Francisco ............................................63

    5 A indstria do Vinho do Sol ...............................................................................................655.1 A Cadeia produtiva do vinho no VSF ................................................................................655.2 Anlise institucional ...........................................................................................................685.2.1 Instituies da indstria do vinho do VSF ......................................................................705.2.1.1 Valexport ......................................................................................................................705.2.1.2 Instituto do Vinho do Vale do So Francisco - VINHOVASF ....................................715.2.1.3 Centro Tecnolgico da Uva e do Vinho .......................................................................725.2.1.4 EMBRAPA...................................................................................................................735.2.1.5 Instituies de ensino....................................................................................................745.2.1.6 Agncias reguladoras....................................................................................................755.2.1.7 Vincolas do Vale do So Francisco.............................................................................78

    5.2.1.7.1 Botticelli ....................................................................................................................785.2.1.7.2 Grupo Garziera ..........................................................................................................795.2.1.7.3 Vitivincola Santa Maria S/A ....................................................................................79

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    5.2.1.7.4 Chateaux Ducos.........................................................................................................805.2.1.7.5 Adega Bianchetti Tedesco Ltda.................................................................................805.2.1.7.6 Bella Fruta do Vale....................................................................................................815.2.1.7.7 Miolo .........................................................................................................................81

    5.3 Questo tributria ...............................................................................................................825.3.1 Apurao dos tributos......................................................................................................835.4 Perfil do consumidor ..........................................................................................................905.4.1 Hbitos dos consumidores...............................................................................................915.4.2 Questes mercadolgicas ................................................................................................925.4.3 Percepo dos agentes do canal de distribuio ..............................................................935.4.4 Consideraes sobre o captulo .......................................................................................956Relao principal agente ..................................................................................................966.1 Resultado esperado do Governo .........................................................................................966.1.1 O Governo no Vale do So Francisco .............................................................................976.1.1.1 Principais realizaes ...................................................................................................98

    6.2 Resultado esperado da empresa........................................................................................1026.3 Consideraes sobre o captulo ........................................................................................1076.3.1 Sonegao fiscal ............................................................................................................1076.3.2 Desempenho pernambucano..........................................................................................1106.3.3 O problema das restries de incentivos .......................................................................1127Consideraes finais ..........................................................................................................1157.1 Concluses........................................................................................................................1157.2 Contribuies da pesquisa ................................................................................................1187.3 Limitaes do estudo ........................................................................................................1197.4 Sugestes para estudo futuros ..........................................................................................119Referncias ............................................................................................................................121

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    1 Introduo

    O desenvolvimento agroindustrial tem sido um dos principais responsveis pelo

    desempenho do Brasil no cenrio econmico mundial, contribuindo assim, para manuteno

    dos ndices superavitrios da balana comercial. Este crescimento tambm tem forte

    importncia social, visto a criao de frentes de trabalhos no campo, dando condies ao

    trabalhador rural de permanecer em sua regio. Sendo que em algumas regies temos um

    xodo rural s avessas com o cidado migrando das grandes metrpoles para cidades do

    interior que despontaram como economias rurais.

    Entre estas regies podemos destacar a regio do sub-mdio So Francisco, localizada

    em pleno semi-rido tropical, centrado no eixo Petrolina/PE e Juazeira/BA onde desde a

    dcada de 70 tm sido implementados projetos pblicos de irrigao que, alinhados a

    pesquisas e desenvolvimento tecnolgico, proporcionaram regio o reconhecimento

    nacional e internacional como plo produtor/exportador de frutas do Brasil, principalmente

    manga e uva.

    A combinao de investimentos de recursos pblicos e privados, juntamente com a

    capacidade de associao dos produtores contribuiu para o crescimento da estrutura

    econmica regional, atravs do aumento de empregos diretos e indiretos (VALEXPORT,

    2000) criando condies para a abertura de 15 cursos regulares de ensino superior, que nos d

    uma pequena amostra dos benefcios sociais e econmicos do desenvolvimento do

    agribusiness.

    Assim uma regio considerada problemtica, devido s recorrentes secas, apresenta

    condies nicas quanto ao clima e ao solo, que aliado ao aproveitamento da gua do Rio So

    Francisco e a tcnicas modernas de produo agrcola permitiram tambm, o desenvolvimentodo setor industrial, a montante e a jusante da cadeia produtiva.

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    Uma indstria que vem se destacando cada vez mais na regio, principalmente pelos

    seus nveis de qualidade e tecnologia, a indstria de vinificao. At o ano de 1995 investia

    apenas em derivados da uva menos nobres, como o vinagre e os vinhos de mesa. Hoje,

    desponta para produo de vinhos finos, considerados produtos de melhor qualidade e de

    maior valor agregado. Conquista reconhecimento nacional e internacional, como prova o

    grande volume de investimento na indstria, inclusive de empresas estrangeiras com know-

    howvincola mundial.

    Nesta dissertao buscou-se abordar o papel das polticas pblicas no desenvolvimento

    deste setor que comea a despontar no cenrio nacional em meio a total descrena de boa

    parte dos especialistas e conhecedores de vinhos. Foi dado enfoque a capacidade local de

    associativismo dos empresrios em aumentar os nveis de negociao com o estado e tambm,

    se estudou a questo tributria, que tem impacto direto no preo do produto, varivel

    relevante na escolha dos consumidores.

    Assim organizamos esta dissertao atravs de sete captulos, elencados a seguir. O

    captulo 1 contempla esta introduo, a problemtica da pesquisa, sua justificativa e os

    objetivos. No captulo 2 abordado o referencial terico que consiste na utilizao de um

    arcabouo terico que possibilita a anlise de nossos dados com base em modelos slidos.

    Constam neste captulo os temas da teoria dos jogos com o problema do principal-agente e o

    sistema tributrio nacional, levantando os motivos da sonegao e da guerra fiscal. Nocaptulo 3 apresenta-se o mtodo utilizado para coleta de dados e das informaes para

    realizao da pesquisa. O captulo 4 aborda a indstria do vinho no mundo e no Brasil, para

    que o leitor possa se inteirar das caractersticas gerais do setor. O captulo 5 responsvel por

    delinear a cadeia produtiva do vinho no Vale do So Francisco, os modos de consumo dos

    consumidores e agentes do canal e analisar o impacto dos tributos sobre os vinhos no mercado

    nacional. No captulo 6 definem-se as variveis relevantes para os jogadores (agente e

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    principal) e quais os esforos feitos pelos mesmos para manter suas funes utilidades

    maximizadas. No captulo 7 so apresentadas as concluses da pesquisa, suas contribuies,

    consideraes e sugestes para novas pesquisas. E por fim, so apresentadas as listas de

    referncias utilizadas na confeco deste estudo.

    1.1 Problema de pesquisa

    O crescimento da Regio do Vale do So Francisco em grande parte decorrente dos

    projetos e das polticas pblicas que funcionam como instrumentos para o desenvolvimento

    da regio, pela criao de infra-estrutura para irrigao, financiamento de projetos e de

    benefcios fiscais aos diversos setores, principalmente aos ligados a fruticultura irrigada.

    Conforme Silva (2001, p.173):

    A falta de autonomia do setor frutcola no plo evidente quando se trata,

    por exemplo, dos custeios de implementao e manuteno de algumasaes de polticas setoriais. O nus da maioria dessas aes sempre ficou sexpensas do Estado [...].

    O Brasil se caracteriza por gerar um alto nvel de receita tributria, chegando a

    arrecadar algo em torno de 30% do PIB na dcada de 90, quase to alta quanto nos pases

    desenvolvidos. Apesar deste alto nvel de tributao o Brasil tem um grave problema quanto

    qualidade dos tributos, que caracteriza-se por ter impostos indiretos de carter cumulativo, e

    que sobretaxa excessivamente bens e servios (GIAMBIAGI; ALM, 2000).

    Diante desta dependncia do Plo do So Francisco quanto s Polticas Pblicas e do

    complexo Sistema Tributrio Brasileiro que se apresentam como importantes fatores no

    desenvolvimento regional, propomos a seguinte questo de pesquisa.

    Como as polticas pblicas do Estado de Pernambuco tm impactado no

    desenvolvimento da indstria vincola do Vale do So Francisco?

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    1.2 Objetivos

    Com base nos aspectos levantados nos itens anteriores o presente estudo procuraatingir os seguintes objetivos:

    1.2.1 Objetivo geral

    Demonstrar que as polticas pblicas realizadas pelo Governo do Estado de

    Pernambuco tm criado condies favorveis para atrao de novos investimentos e

    consolidao do setor vincola no Vale do So Francisco.

    1.2.2 Objetivos especficos

    Identificar os tributos e seus respectivos pesos no preo do vinho produzido no

    Vale do So Francisco e vendido ao consumidor final;

    Identificar os agentes relevantes envolvidos na poltica pblica do Estado, seus

    papis e suas aes no processo de institucionalizao do setor vincola do Vale do So

    Francisco;

    Identificar os investimentos e projetos do setor pblico;

    Identificar as expectativas e projetos dos empresrios do setor;

    Mostrar que o Governo do Estado de Pernambuco observou as restries de

    participao e de compatibilidade de incentivos no problema do principal-agente.

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    1.3 Justificativa

    A Regio do Vale do So Francisco tem despertado profundo interesse como projetotransformador no semi-rido nordestino. A regio se consolida como um osis em pleno

    serto. O desenvolvimento da agricultura irrigada tem proporcionado mudanas em toda a

    estrutura econmica regional. Este desenvolvimento espelhado no nmero de

    estabelecimentos na rea de servios gerados para atender as novas necessidades do mercado.

    So 22 agncias bancrias, 42 concessionrias e revendas de veculos, 45 postos de gasolina,

    28 hotis com aproximadamente 1500 leitos, 15 cursos regulares de ensino superior e 33

    supermercados instalados nas cidades de Petrolina e Juazeiro (VALEXPORT, 2005).

    A Indstria do Vinho tem tido papel relevante neste processo de transformao,

    atraindo diversos investimentos gerados pelos bons resultados dos vinhos da regio. Isto,

    graas ao conjunto das vantagens locais, edafoclimticas e de infra-estrutura alinhadas com

    um processo contnuo de recriar novas vantagens concorrnciais relacionadas ao processo

    produtivo, logstica e ao ambiente institucional (MIRANDA, 2003A).

    Por outro lado a questo fiscal no Brasil um tema recorrente na agenda de debates de

    toda a sociedade. Com a estabilizao e crescimento da economia os nveis de tributao do

    Estado chegaram em 2005 a 37% do PIB (RECEITA FEDERAL, 2007), considerada

    excessivamente alta para pases em desenvolvimento. Altos ndices de tributao podem

    trazer diversos problemas pela falta de equidade ou sobre a competitividade do setor

    (AFONSO et al, 1998).

    Para se analisar o impacto desta carga tributria e dos incentivos governamentais no

    desenvolvimento da indstria vincola do Vale do So Francisco optou-se pela teoria dos

    jogos, pela qual se pode demonstrar como os agentes interagem entre si de forma racional.

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    Agir de forma racional supor que os agentes empregam os meios mais adequados aos

    objetivos que almejam (FIANI, 2004).

    A teoria dos jogos tem sido constantemente aplicada em estudos de administrao,

    economia, direito, cincia poltica e biologia, tendo evoludo nas diversas reas de estudos

    que exijam um processo de interao.

    Do ponto de vista terico a pesquisa justifica-se por identificar as varveis relevantes

    que possibilitem a formalizao de um modelo que possa refletir o setor vincola do Vale do

    So Francisco e possa servir de exemplo para outros estudos de forma a contribuir para o

    arcabouo terico-cientfico.

    Do ponto de vista prtico espera-se contribuir com a formulao de uma poltica de

    desenvolvimento sustentado para o setor vincola, criando ferramentas vlidas que possam

    guiar as decises estratgicas tributrias no setor vitivincola e gerar mais informaes para o

    debate sobre uma Reforma Fiscal.

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    2 Referencial terico

    Este captulo apresenta uma reviso terica que fornea uma sustentao para as

    futuras anlises, basicamente divide-se em trs itens. Primeiro aborda-se a Teoria dos Jogos,

    atravs de um breve histrico, detalhando seu uso e definindo o problema do principal-agente.

    Para isto so exemplificados modelos j estudados e testados por outros pesquisadores que

    guiaram esta dissertao. Depois aborda-se a questo da tributao fiscal, visto o impacto

    desta varivel sobre os diversos setores da economia e sua influncia sobre a receita dos

    estados. Por fim procura-se relacionar o referencial terico com os problemas de pesquisa.

    2.1 Teoria dos jogos

    A teoria dos jogos uma representao formal que permite uma boa anlise de

    situaes em que os agentes interagem entre si de forma racional, como define Fiani (2004, p.

    2), podemos caracterizar como um jogo:

    Situaes que envolvam interaes entre agentes racionais que secomportem estrategicamente podem ser analisadas formalmente como umjogo.

    Assim o status da teoria dos jogos como uma forma de teorizao apia-se numa

    metodologia formal associada a uma propriedade positiva, a capacidade de gerar previses

    (MUNK, 2000).

    Para melhor caracterizao de um jogo importante conhecer todos os elementos que

    o compem, conforme segue (FIANI, 2004):

    Modelo Formal: envolve tcnicas de descrio e anlise, ou seja, o pr-

    estabelecimento de regras para se apresentar e estudar um jogo;

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    Interao: estabelece que as aes de um jogador devem levar sempre em

    considerao os outros jogadores;

    Agentes: qualquer indivduo ou grupo de indivduos com capacidade de deciso

    para afetar os demais;

    Racionalidade: parte do pressuposto que cada agente emprega sempre os meios

    mais adequados para alcanar os melhores objetivos para si;

    Comportamento estratgico: exige raciocnios complexos pois as decises dos

    agentes dependem do que eles acham que os demais faro s suas aes.

    Utilidade: indicador de bem estar de uma pessoa, caracterizado por um ndice

    quantitativo que representa a satisfao que um consumidor obtm com diferentes conjuntos

    de bens e servios, chamados de cestas de bens. A partir de um conjunto de preferncias,

    ser possvel ordenar as cestas de bens por ordem de preferncia atravs de uma funo

    utilidade desde que as preferncias sejam monotnicas (VARIAN, 1999, p.61). Pode-se

    generalizar esta definio de utilidade para qualquer unidade individual, no caso de empresas

    comum definirmos a sua satisfao pelo lucro.

    O uso da teoria dos jogos ajuda a entender teoricamente o processo de deciso dos

    agentes, atravs de modelos abstratos amplos. Isto significa que necessrio se respeitar todas

    as hipteses dessa teoria e identificar as circunstncias especificas de cada caso. Outra

    vantagem que o raciocnio estratgico garante a tomada de decises que nem sempre

    corresponde intuio (FIANI, 2004).

    Esta nfase na escolha estratgica faz uma importante promessa programtica:

    contribuir para o desenvolvimento de uma teoria da ao (MUNK, 2000).

    A essncia da teoria da ao proposta pela teoria dos jogos consiste fundamentalmente

    por trs componentes: a) pelo processo de escolha fundado no modelo de utilidade esperada

    da tomada de deciso; b) pela previso associada anlise do processo de escolha ao conceito

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    de equilbrio; c) pela conceituao das regras do jogo, onde so estabelecidos o conjunto de

    jogadores, as estratgias ou escolhas dos jogadores, a seqncia com que as escolhas so

    feitas e as informaes de que eles dispem (MUNK, 2000).

    2.1.1 Algumas consideraes sobre a teoria dos jogos

    A teoria dos Jogos tornou-se um ramo proeminente nas cincias sociais com os

    trabalhos do matemtico John Von Neumann (1903-1957), mais precisamente em seu livroThe Theory of Games and Economic Behavior publicado em 1944 em co-autoria com o

    economista alemo Oskar Morgenster onde analisavam solues para jogos de soma zero

    (jogos onde o sucesso de um jogador necessariamente significava o insucesso do outro) e

    definia a representao de jogos de maneira extensiva, onde so identificadas as decises de

    cada jogador em diferentes etapas do jogo e tambm discutiu cooperao e coalizo entre

    jogadores (FIANI, 2004).

    A partir de 1950 com os estudos de John F. Nash, John C. Harsanyi e Reinhard Selten,

    a teoria dos jogos desenvolveu-se para mais reas de atuao, antes limitada pelos jogos de

    soma zero, abordando uma noo de equilbrio para modelos de jogos e levantando

    consideraes sobre a assimetria de informaes dos jogadores. Em 1994 os trs estudiosos

    alcanaram o Prmio Nobel em economia que contribuiu para reconhecimento da teoria dos

    jogos como um instrumento essencial no estudo de qualquer processo de interao (FIANI,

    2004).

    No ano de 2005, Thomas C. Schelling e Robert J. Aumann, dividiram o Prmio Nobel

    de Economia por importantes contribuies para a teoria dos jogos, eles desenvolveram novos

    conceitos e ferramentas analticas que diminuram a distncia entre economia e outras

    cincias sociais (ESTEVES, 2005).

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    A partir de 1960, Schelling comeou a aplicar mtodos da teoria dos jogos para

    analisar questes ligadas corrida armamentista na poca da Guerra Fria, o que lhe

    possibilitou definir fatores que poderiam influenciar as decises dos pases envolvidos e que

    seriam teis na definio de estratgias para resoluo de conflitos. O autor tambm trabalhou

    em questes que envolviam cooperao de indivduos em situaes sem conflitos de

    interesses. Em 1978, o autor publicou a obra Micromotives and Macrobehavior onde

    desenvolveu um modelo que explica a emergncia da segregao a partir dos comportamentos

    individuais (ESTEVES, 2005).

    J, Robert Aumann, focando estudos sobre jogos repetidos demonstrou que a

    cooperao pacfica freqentemente uma soluo de equilbrio em jogos desse gnero,

    mesmo quando os agentes tm interesses divergentes. Juntamente com Michael Maschler,

    desenvolveu modelos de teoria dos jogos repetidos com informaes assimtricas, nos quais

    um dos agentes tem mais informaes que os outros, o que se tornou uma referncia para

    questes de cooperao nas cincias sociais (ESTEVES, 2005).

    Outra contribuio de Aumann foi a soluo para modelagem de uma economia de

    competio perfeita, onde demonstrou que modelos com um nmero finito de participantes

    no so adequados a uma economia deste tipo, ento props um modelo com um contnuo de

    participantes, mais prxima da situao real, onde existe um nmero grande mas finito de

    agentes envolvidos (ESTEVES, 2005).

    2.1.2 Teoria do Principal-Agente

    A questo do Principal-Agente existe sempre que h uma relao na qual o bem-estar

    de algum depende daquilo que feito por outra pessoa. Sendo o agente a pessoa atuante e o

    principal a parte afetada pela ao. Existem diversas relaes de agentes disseminadas pela

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    nossa sociedade (PINDYCK; RUBINFELD, 1999), mdico-paciente, agncia reguladora-

    empresa regulada, empresa seguradora-segurado, empregador-empregado.

    Em nosso caso especifico, temos o governo como principal que estipula, atravs de

    leis, um sistema tributrio e um conjunto de incentivos de seu interesse que os empresrios

    teriam por obrigao segui-lo. Entretanto, nem sempre os empresrios esto dispostos a seguir

    a regra, ou a lei.

    A teoria do principal-agente procura analisar os conflitos e custos resultantes de um

    relacionamento onde a diviso do trabalho ocorre entre pessoas ou empresas com interesses

    divergentes, o problema da relao ocorre quando os objetivos do principal so conflitantes

    com os do agente e a ao do agente difcil ou custosa de ser verificada (EISENHART,

    1989).

    Esta dificuldade de verificar a conduta do agente cria uma situao de oportunismo

    por parte do agente que negligncia o cumprimento de suas tarefas tomando decises baseada

    em ambies pessoais ao invs de considerar questes de eficincia econmica, prejudicando

    o objetivo do principal (PINDYCK; RUBINFELD, 1999).

    2.1.2.1 Informao assimtrica

    O principal agravante para o problema do agente e principal est exatamente na

    informao incompleta e a dispendiosa monitorao que influenciam o modo de ao dos

    agentes. Nos jogos de informao assimtrica supe-se que um dos jogadores possui mais

    informaes do que seu oponente.

    O problema da informao assimtrica pode se apresentar, basicamente, em dois

    pontos do relacionamento. No primeiro momento o oportunismo acontece ex ante, ou seja,

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    antes da adeso a uma determinada transao, situao conhecida como seleo adversa. Em

    outro momento oportunismo do agente se verifica durante a execuo de uma transao j

    contratada, situao denominada risco moral.

    A seleo adversa acorre principalmente pela incapacidade do principal verificar

    completamente as caractersticas do agente momentos antes do contrato, pois o agente

    oportunista oculta as informaes sobre suas caractersticas negativas, esta situao tambm

    conhecida como informao oculta (VARIAN, 1999, p.684).

    Uma soluo para o problema da seleo adversa a sinalizao. A forma mais

    comum de sinalizao a utilizao de certificados e as garantias de longo prazo, que apenas

    bons agentes estariam dispostos a fornecer. Outra forma de se verificar a sinalizao atravs

    da projeo de uma situao na qual o agente confrontado; a partir das decises dadas por

    ele, obtm-se uma percepo valiosa sobre as qualidades de sua personalidade ou produto

    (PINDYCK; RUBINFELD, 1999).

    O problema do risco moral, tambm conhecido como ao oculta, se d pelo fato de s

    ele ter acesso a algumas informaes podendo negligenciar o cumprimento dos termos

    acordados e assim agir em interesse prprio para tirar proveito em prejuzo ao principal

    (AZEVEDO, 1997).

    A existncia do risco moral est associada a trs fatores: o agente toma uma deciso

    que afeta sua utilidade e a do principal que por sua vez, observa somente o resultado, um sinalimperfeito da deciso tomada pelo agente; e a deciso que o agente escolheria tomar

    espontaneamente no um timo de Pareto (SALANI, 1997).

    Como ao principal no possvel observar as decises do agente fica difcil fora-lo a

    tomar uma deciso timo de Pareto, resta ao principal duas possibilidades no excludentes:

    manter um constante e eficiente monitoramento dos esforos do agente e/ou influenciar a

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    escolha de uma deciso tomada pelo agente, condicionando sua utilidade nica varivel

    observvel: o resultado (SALANI, 1997).

    O foco da questo estudar os estmulos, sejam incentivos ou punies, que operem

    em sintonia com os interesses do principal.

    2.1.2.2 Incentivos

    Uma das solues do problema de fazer com que o agente aja de forma a maximizar a

    funo utilidade do principal seria atravs de uma poltica de incentivos, ou seja, o principal

    precisa garantir ao agente uma utilidade to grande quanto ele obteria em outro lugar para que

    ele aceite o contrato. Este impasse conhecido como restrio de participao. Podemos

    utilizar o caso de um contrato de trabalho entre empregador e empregado, para melhor

    exemplificar o modelo, como se segue:

    uxcxfs )())(( onde,

    u : funo utilidade do trabalhador

    x: quantidade de esforo do trabalhador

    f (x): valor da quantidade produzida de um bem (produo)

    s(f (x)): valor da quantia paga ao trabalhador pela produo

    c(x): custo do esforo x.

    Para o empregador seria razovel induzir o trabalhador um nvel de esforo x que gere

    o excedente mximo, dada a restrio de que o trabalhador aceite o contrato:

    ))(()(max xfsxfx de modo que uxcxfs )()((

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    Agora para que o empregado escolha x basta satisfazer a restrio, ou seja, igualar a

    funo utilidade, s(f(x)) c(x) = u . Substituindo na funo objetivo temos o problema de

    maximizao sem restrio:

    uxcxfx )()(max

    Que pode ser resolvido escolhendo x* de modo que o produto marginal se iguale ao

    custo marginal

    PM(x*) = CMa(x*), qualquer escolha de x* que no valide esta equao no poder

    maximizar os lucros.

    Esta afirmao traz outro problema, como fazer o trabalhador atingir o ponto x*, o

    sistema de incentivos deve prever que depois que o agente aceite o contrato ele escolha um

    nvel de esforo x* que maximize a funo utilidade do principal, esta nova restrio

    chamada de restrio de compatibilidade de incentivo, como segue:

    s(f(x*)) c(x*) s(f(x)) c(x) para todo x.

    Resumindo o sistema de incentivo deve prever pelo menos estas duas restries

    garantir que o agente aceite entrar no jogo, fornecendo ao agente (trabalhador) uma utilidade

    total de e depois mant-lo sob um esforo necessrio de forma que o produto marginal do

    esforo se iguale ao custo marginal do esforo no nvel do esforo x*.

    2.2 Princpios tributrios

    2.2.1 Princpios tericos da tributao

    A cobrana de impostos na vida do cidado uma certeza que se tem numa sociedade

    moderna. Para se manter mnimas estruturas sociais, polticas e econmicas razovel que

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    parte da riqueza gerada pela populao seja repassada aos cofres pblicos para que a mquina

    pblica possa atingir seus objetivos.

    Se a cobrana dos impostos uma certeza, as formas, os mtodos e os percentuais

    desta cobrana que esto longe de um consenso. Cada pas possui seus mtodos e nveis de

    taxao, de acordo com suas necessidades. comum que pases mais liberais como os

    Estados Unidos, ou os pases em desenvolvimento, tenham taxas mdicas se comparadas aos

    pases escandinavos que possuem cargas superiores a 50% do PIB, sendo grande parte deste

    percentual destinado manuteno do sistema previdencirio (AFONSO et al, 1998).

    Diversos fatores devem ser levados em considerao quando se estuda o sistema

    tributrio de um pas, onde se distingue pelo menos cinco tpicos diferentes (GIAMBIAGI;

    ALM, 2000):

    1) Funcional refere-se ao percentual que o setor privado disponibilizar para os

    salrios em relao aos lucros;

    2) Pessoal refere-se distribuio da renda entre a populao;

    3) Regional refere-se forma de distribuio entre as regies do pas;

    4) O corte Governo versus Setor Privado refere-se ao percentual apropriado pelo

    Governo;

    5) Corte federativo refere-se como o governo deve repartir sua renda entre a unio,

    estados e municpios, o que um complemento da questo regional.Percebe-se a dificuldade de satisfazer a todos os participantes do sistema. O ideal seria

    atingir um timo de Pareto (GIAMBIAGI; ALM, 2000), ou seja, atingir um ponto em que

    houvesse um equilbrio entre os benefcios e os prejuzos, de forma que no houvesse nenhum

    outro ponto atingvel do sistema melhor que o atingido. Outra questo que deve ser analisada

    que o sistema tributrio algo determinante na competitividade de setores produtivos, alm

    de ser uma ferramenta para redistribuio de renda.

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    O conceito de equidade fiscal busca seguir, basicamente, trs princpios como forma

    de garantir um sistema tributrio justo sua renda, gerada graas tanto a proteo do Estado,

    quanto pelos benefcios que o Estado coloca sua disposio. Tambm colocado que os

    mais ricos devem pagar mais impostos que os mais pobres. Assim pode-se dizer que a

    equidade fiscal construda em cima de trs princpios basilares o benefcio, a capacidade e a

    progressividade (CASTRO, 2000).

    O princpio do benefcio baseia-se na cobrana por parte do Estado ao cidado que de

    alguma maneira faz uso de seus servios, presumivelmente cobrados de acordo com os

    benefcios individuais direta e indiretamente recebidos, conforme Castro (2000).

    O princpio do benefcio pode dar margem a diversas interpretaes distintas, a seguir

    (CASTRO, 2000):

    Benefcio Total: Onde o contribuinte deveria pagar o equivalente aos benefcios

    totais recebidos dos gastos pblicos. Analisar os tributos desta forma o mesmo que pensar

    que na iniciativa privada o comerciante venderia seu produto pelo preo de custo, o que uma

    incongruncia. Os benefcios totais do setor pblico so sempre maiores que os custos desses

    servios.

    Benefcios proporcionais: Tem em vista que as contribuies devem ser

    distribudas proporcionalmente ao benefcio total recebido, em suma, o excedente do

    contribuinte deve ser distribudo de forma equivalente entre as demais contribuies.

    Benefcios Marginais: Mais adequada do ponto de vista analtico, baseia-se no fato

    que os impostos devam ser distribudos com base nos benefcios marginais ou incrementos

    recebidos. O contribuinte deve pagar um imposto equivalente a sua avaliao da utilidade

    marginal do servio pblico a ele prestado.

    Operacionalizao do Princpio do Benefcio: Apesar da viabilidade lgica, o

    princpio do benefcio tem sua operacionalizao dificultada, pois a produo pblica no est

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    sujeita a lei do preo. Servios como justia, segurana, despoluio, sade pblica, so bens

    indivisveis, de acesso livre e no existem formas possveis de aferir seu uso pela quantidade

    ou pelo ndice de utilidade desfrutada. Outros fatores devem ser questionados, quanto forma

    de cobrar os impostos. Nveis de renda e necessidade do servio tm de ser levados em

    considerao.

    A questo da operacionalizao dos tributos apenas pelo princpio do benefcio leva a

    um conflito, pois se todos devem pagar pelos benefcios gerados pelo gasto pblico

    independente de sua condio social nunca teramos uma ao redistributiva, tributria e de

    gastos. Da mesma forma, os governos no poderiam utilizar polticas tributrias para a

    estabilizao da economia atravs da gerao de supervits oramentrios (CASTRO, 2000).

    O princpio da capacidade de pagamento leva em considerao a proporo de sua

    capacidade de pagar os tributos, sem levar em considerao a efetiva utilizao dos servios

    prestados pelo Estado.

    Um indicador bastante utilizado para se determinar a base de clculo do imposto a

    renda do contribuinte, devendo antes ser abatido alguns gastos necessrios a unidade familiar,

    pois gastos realizados nestes nveis no atestam capacidade de pagamento. Outro indicador

    importante o grau de riqueza do cidado, visto que, a princpio, quem tivesse um conjunto

    de ativos substancial teria mais capacidade de pagar impostos que os no-proprietrios. Este

    tipo de indicador pode ocasionar diversas distores, como no caso dos idosos, cujos ativosacumulados no representam sua renda atual. Tambm pode-se tributar sobre os gastos de

    consumo, j que o consumo uma funo estvel da renda, onde renda igual a consumo

    mais poupana, sendo a poupana considerada na categoria riqueza. Conclui-se que

    qualquer que seja o imposto ele poder incidir sobre pelo menos um destes indicadores, renda,

    riqueza ou consumo (CASTRO, 2000).

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    O princpio da capacidade de pagamento est bastante relacionado ao de equidade

    fiscal, pois sugere que cada indivduo deve arcar com cargas fiscais que representem igual

    sacrifcio de bem-estar. Sendo esta equidade entendida de duas formas, conforme Castro

    (2000, p. 156):

    A equidade horizontal um dos princpios ortodoxos da tributao exigeque se d igual tratamento para iguais. Os contribuintes com a mesmacapacidade de pagamento devem arcar com o mesmo nus fiscal. (...) Aequidade vertical exige que seja dado desigual tratamento para desiguais.Normalmente isto significa que os cidados com maior renda devam pagarmais impostos que os com menor renda.

    Estes princpios de equidade tm caractersticas distintas, a crena que todos devempagar o mesmo percentual de impostos decorre de um julgamento tico, enquanto os que

    defendem tributar mais os ricos acreditam que a renda sujeita a lei da utilidade marginal

    decrescente e que as utilidades podem ser comparadas, mas que no pode der provada como

    verdadeira (CASTRO,2000).

    Deve ser levado em considerao a forma de financiar os gastos pblicos, analisando

    aspectos como a rentabilidade, pois, a base tributria deve garantir ao Governo os recursos

    compatveis com seus gastos; a elasticidade, pois o nvel de cobrana deve crescer juntamente

    com os gastos do Governo; a economicidade, quanto ao custeio da mquina pblica

    responsvel pela arrecadao dos tributos; e pela simplicidade das regras de tributao, como

    forma de minimizar a rejeio social aos tributos (CASTRO, 2000).

    Segundo Castro (2000) os modernos sistemas fiscais consagram a progressividade na

    tributao que prev que os impostos devam evoluir mais acentuadamente que a renda. Entre

    as principais teorias que procuram justificar este modelo temos a o mnimo sacrifcio

    agregado, esta hiptese sugere que os contribuintes arquem com decrscimos marginais

    iguais na utilidade de sua renda, buscando-se minimizar o sacrifcio combinado (agregado)

    dos contribuintes.

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    2.2.2 Espcies de tributos

    Seguindo a definio do Cdigo Tributrio Nacional (CTN), Lei 5.172/66, art.3,

    Tributo pode ser definido como:

    O tributo toda prestao pecuniria compulsria, em moeda ou cujo valornela se possa exprimir, que no constitua sano por ato ilcito, instituda emlei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada(BRASIL, 1996, p.24).

    Apesar de algumas divergncias quanto s espcies de tributos, a maioria dos

    estudiosos reconhecem as seguintes espcies: impostos, taxas, contribuies de melhorias,

    contribuies parafiscais, contribuies sociais, emprstimos compulsrios (CASTRO, 2000).

    O imposto um tributo cobrado de forma genrica, ou seja, independe de um servio

    ou de atividade especfica do Poder Pblico em relao ao contribuinte.

    O imposto simplesmente exigido, sem contraprestao e sem indicaoprvia sobre sua destinao. A aplicao posterior ser para custeio daadministrao, e para servios em benefcio de toda a comunidade, em geral,como ocorre, por exemplo, com os servios de sade pblica, sem

    destinatrio especfico. (FHRER; FHRER, 1998, p.28).

    Diferentemente dos Impostos, a Taxa uma espcie de tributo que tem uma

    contrapartida especfica por parte do Governo a um beneficirio identificado ou identificvel.

    As taxas podem ser cobradas por servios efetivos ou potenciais, sendo considerado potencial

    o servio posto disposio, mesmo no sendo utilizado, podendo tambm estar relacionado

    ao Poder de Polcia do Estado, que abrange licenciamentos e fiscalizaes em geral

    (FHRER; FHRER, 1998).

    As taxas podem ser cobradas por qualquer Pessoa de direito Pblico de forma comum

    ou cumulativa, desde que prestem as referidas atividades, nas situaes descritas pela

    Constituio Federal e em suas normas gerais (CASTRO, 2000).

    A Contribuio de Melhoria uma espcie de tributo que decorre da valorizao de

    um bem privado em decorrncia de obras pblicas devendo o imposto ser cobrado pela Unio,

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    pelos Estados, pelo distrito Federal ou pelos municpios no mbito de suas atribuies, para

    fazer face ao custo da obra pblica, tendo como limite total a despesa realizada e como limite

    individual o valor valorizado sobre o imvel beneficiado (CTN, art.81). Apesar de sua

    previso a Contribuio de melhoria continua utpica (CASTRO, 2000).

    O Emprstimo Compulsrio uma espcie de tributo prevista pela constituio no art.

    148, que prev que a Unio poder instituir emprstimos compulsrios para atender despesas

    extraordinrias, decorrentes de calamidade pblica, de guerra externa ou sua iminncia e no

    caso de investimento pblico de carter urgente e de relevante interesse nacional (CASTRO,

    2000). O emprstimo compulsrio distingue-se de outros impostos pela promessa de

    restituio, seria uma espcie de contrato, embora ditado ou coativo (FHRER; FHRER,

    1998).

    Contribuies, espcie de tributo que se distingue das demais por no ter os cofres

    pblicos como seu destino final. So contribuies paralelas s do Fisco. No art. 149 da

    constituio as contribuies so previstas como competncia exclusiva da Unio de instituir

    contribuies sociais, de interveno no domnio econmico e de interesse das categorias

    profissionais ou econmicas (CASTRO, 2000). As contribuies devem ter destinao certa,

    prevista pela lei que a instituiu. A Unio a nica competente para instituir contribuies de

    cunho social, excetuando o caso dos Estados, Distrito Federal e Municpios que podem cobrar

    de seus servidores o custeio de sistemas previdencirios e assistncia social prprio(CASTRO, 2000). Segundo Ruy Barbosa Nogueira (apud FHRER; FHRER, 1998), as leis

    referentes s contribuies no comportam uma sistematizao.

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    2.2.3 Tipos de tributos

    Basicamente pode-se distinguir os impostos sob dois aspectos, quanto ao sistema de

    cobrana que divide-se em sistema progressivo, sistema regressivo e sistema neutro ou

    proporcional, e pode-se distingui-lo, tambm, quanto incidncia tributaria, que pode ser

    direta ou indireta, impactando assim na forma como as pessoas e organizaes transferem

    suas cargas tributrias para outros (CASTRO, 2000).

    Diz-se que um sistema tributrio progressivo quando se aplicam maiores percentuais

    de imposto, progressivamente as classes mais altas. De maneira inversa, o sistema regressivo

    taxa mais fortemente as classes mais pobres da populao e o sistema neutro ou proporcional

    caracteriza-se por impor uma nica alquota de imposto independente do nvel de renda dos

    contribuintes (CASTRO, 2000).

    Os impostos podem incidir de vrias formas sobre os contribuintes, quando esta

    incidncia afeta a renda e a riqueza, denomina-se impostos diretos; de outra forma quando os

    impostos incidem sobre as transaes comerciais, denominam-se indiretos. No caso especfico

    dos impostos indiretos aplica-se o fenmeno da transferncia da carga tributria. Este

    processo pode se tornar bastante complexo, dependendo da quantidade de transaes e do

    nmero de impostos que incidem sobre determinada atividade. A transferncia pode se dar

    em duas direes, para frente, quando o imposto empurrado para o consumidor final que

    assume o nus do imposto ou pode ter o movimento para traz, que traduz-se por um menor

    preo aos fatores de produo, ou seja, atingem primeiro os fornecedores e depois os

    empregados e demais fatores por eles contratados (CASTRO, 2000).

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    2.3 Sistema tributrio brasileiro

    O sistema tributrio brasileiro est longe de ser considerado um timo de Pareto,todavia, no tem sido fcil encontrar um caminho capaz de melhorar a situao de algum

    sem piorar a de outros.

    Mesmo com a estabilizao da economia aps o Plano Real que proporcionou um

    considervel aumento da receita pblica, o Estado no tem se mostrado capaz de diminuir as

    carncias sociais do pas e de sua frgil situao fiscal. Da, a necessidade de empreender uma

    reforma tributria nacional que possibilite uma melhor distribuio de renda entre os

    contribuintes e que vislumbre uma harmonizao fiscal requerida pelo contexto internacional

    (AFONSO et al, 1998).

    Para melhor entender-se o complexo sistema tributrio brasileiro preciso rever um

    pouco da histria, para que se possa melhor acompanhar a evoluo deste tema.

    2.3.1 Contexto histrico da tributao no Brasil1

    Pas tipicamente agrcola o Brasil depois da proclamao da Republica, em 1889,

    manteve praticamente o mesmo sistema tributrio vigente na poca do Imprio. Nesta poca,

    o sistema tributrio brasileiro baseava-se principalmente sobre as exportaes e importaes.

    As primeiras mudanas ocorreram com a Constituio de 24/02/1891 que estipulou

    um regime de separao de fontes tributrias, discriminando os impostos de competncia

    exclusiva da Unio e dos Estados. Alm da diviso dos impostos, tanto a Unio como os

    Estados receberam poder para criar outras receitas tributrias. O imposto de importao

    manteve-se como a principal fonte de receita da Unio.

    A Constituio de 1934 trouxe diversas modificaes principalmente na esfera dos

    Estados e Municpios. Os impostos internos sobre produtos passaram a predominar, enquanto

    1 Esta seo foi toda baseada na obra de Giambiagi e Alm, Finanas Pblicas: Teoria e prtica no Brasil.Rio de Janeiro: Campus, 2 ed., 2000.

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    se proibia a tributao de exportaes em transaes interestaduais e limitava-se, a alquota

    deste imposto a um mximo de 10%. No nvel Federal o imposto de importao permaneceu

    como principal fonte de recurso at o fim da dcada de trinta.

    Com a constituio de 1946 os municpios conquistaram mais espao na distribuio

    dos recursos, primeiro com a criao de dois novos impostos, o imposto do selo municipal e o

    imposto de indstrias e profisses. Depois, com a institucionalizao de um sistema de

    transferncia de impostos que atribuiu aos municpios 10% da arrecadao do imposto de

    consumo e em 15% da arrecadao do imposto de renda. Neste perodo cresceu a importncia

    relativa dos impostos internos sobre produtos. Em 1956 foi criado um imposto sobre o

    consumo que chegou a representar, no incio dos anos 60, 40% da receita total da Unio,

    estados e municpios.

    Diante de diversos problemas de dficit fiscal e da necessidade de estruturar o sistema

    tributrio para apoiar e estimular o crescimento econmico foi realizada uma reforma a partir

    do ano de 1960, que foi considerada por Giambiagi e Alm (2000, p.242) como:

    ...um sistema tributrio inovador, do ponto de vista administrativo e tcnico,dotado de potencial para interferir na alocao de recursos da economia eamplamente conectado s metas de poltica econmica traadas em nvelnacional.

    Com a reforma houve uma racionalizao do sistema tributrio com a reduo do

    nmero e reformulao dos tributos e sobretudo, a fundamentao dos fatos geradores e

    conceitos econmicos que evitava a sobreposio de impostos e entraves produo e

    comercializao dos bens.

    Foram criados dois novos impostos, o imposto sobre produtos industrializados (IPI) e

    o imposto sobre circulao de mercadorias (ICM), que posteriormente seria transformado no

    imposto sobre circulao de mercadorias e servios (ICMS). Os novos impostos tm a

    vantagem de no atuarem de forma cumulativa em cascata, ao contrrio dos anteriores que

    oneravam as vendas e consignaes na esfera estadual e o consumo na esfera federal.

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    O ICM foi criado como um imposto de alquota uniforme, de forma a no interferir na

    alocao de recursos e investimentos, favorecendo a desonerao das exportaes e

    dificultando o conflito entre os estados. J o IPI possua alquotas diferenciadas que eram

    estabelecidas sob critrios inversos a essencialidade dos bens, caracterizando o imposto como

    uma ferramenta de poltica econmica e social.

    Mesmo considerado um sistema tributrio inovador para poca a reforma tributria

    pecou quanto falta de equidade e o alto grau de centralizao. Com as novas mudanas a

    carga tributria chegou a alcanar 25% do PIB, mantendo-se neste nvel at a dcada de 80.

    Em 1988, a promulgao da Constituio de 1988 marcou a busca pelo fortalecimento

    da Federao aumentando o grau de autonomia fiscal dos estados e municpios e

    descentralizando os recursos tributrios disponveis. Na prtica, a constituio atribuiu

    competncia a cada estado de fixar as alquotas de seu principal imposto o ICMS e tirou da

    Unio o direito de conceder isenes de impostos estaduais e municipais, alm de impedir a

    Unio de impor condies ao repasse de recursos distribudos s unidades subordinadas.

    Estas modificaes trouxeram para Unio um agravamento de seu desequilbrio fiscal

    e financeiro, o que a fez utilizar de meios menos eficientes de tributao, mas que no

    estavam vinculados partilha com estados e municpios. Apesar do esforo da Unio em

    manter seu nvel de arrecadao, a m qualidade do sistema tributrio criado acabou no

    resolvendo os problemas do dficit fiscal.

    2.3.2 Receita tributria brasileira

    De maneira geral evoluo da carga tributria brasileira tem demonstrado uma leve

    tendncia de crescimento nos ltimos 50 anos, com exceo de dois perodos nos anos de

    1967/69 e 1994/96 em decorrncia da reforma tributaria da dcada de 60 e pela estabilizao

    da moeda promovida pelo Plano Real em 1994.

    Na dcada de 60 as principais modificaes foram:

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    Adotou-se a tributao sobre o valor adicionado tanto para o principalimposto estadual como para o imposto federal sobre produtosindustrializados, reduziu-se drasticamente a tributao cumulativa ereformulou-se o Imposto de Renda (AFONSO et al, 1998, p.4).

    Com a melhor a eficincia do sistema tributrio e a melhoria na qualidade da

    administrao fazendria, o Estado alcanou a marca de arrecadao de 25% do PIB,

    mantendo este patamar at o comeo dos anos 90. Somente com a estabilizao da economia

    em 1994 a carga tributria volta a crescer atingindo aproximadamente 29% do PIB.

    Segue abaixo na Tabela 1(2), a evoluo da carga tributria em que os tributos so

    distribudos entre as principais bases de incidncia e na segunda os tributos so classificados

    em diretos e indiretos.

    Tabela 1 (2) - Carga Tributria por grupamento de tributos 1980/96 (Em % da receita tributria).NATUREZA DA RECEITA 1980 1985 1990 1991 1992 1993 1994 1995a 1996b

    Tributos s/o Comrcio Exterior 2,85 1,66 1,35 1,65 1,59 1,74 1,75 2,58 1,87

    Tributos s/os Bens e Servios 43,55 38,23 49,06 49,96 47,61 47,74 51,83 46,81 45,94

    Cumulativos 10,90 5,70 10,89 12,11 9,97 11,46 17,20 13,11 13,16

    Outros 32,65 32,53 38,17 37,85 37,64 36,28 34,64 33,70 32,78

    Tributos sobre o Patrimnio 1,09 0,71 0,96 2,12 1,43 1,04 1,33 2,70 3,06

    Tributos sobre a Renda 12,28 21,31 19,72 16,54 19,65 18,00 16,12 19,33 17,79

    Tributos sobre a Mo-de-Obra 30,32 29,84 25,38 24,06 25,16 26,90 24,58 24,41 26,58

    Demais 9,91 8,25 3,54 5,67 4,57 4,58 4,39 4,16 4,76

    Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

    Diretos 46,78 54,00 45,40 44,05 45,32 45,98 43,78 45,34 47,10

    Indiretos 53,22 46,00 54,60 55,95 54,68 54,02 56,22 54,66 52,90

    Fontes Primrias: IBGE e FGV (Adaptado de Afonso et all, 1998, p.5).aValores preliminaresbValores estimados

    Quando se agrupam os tributos por bases de incidncia, a carga tributria mostra-se

    desequilibrada sofrendo os bens e servios uma tributao desproporcional em relao

    arrecadao total. Este aumento percebido a partir dos anos 90 principalmente pelo aumento

    da arrecadao de impostos cumulativo. Na dcada de 90 percebe-se ainda o aumento dos

    impostos indiretos. (AFONSO et al, 1998).

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    Pode-se observar dados mais recentes na Tabela 2(2), onde percebe-se que o aumento

    da carga tributria permanece com tendncia de crescimento, principalmente na esfera federal.

    Tabela 2 (2) - Carga Tributria Brasileira 2001/2005 (em % PIB).Ano 2001 2002 2003 2004 2005

    Unio 23,47 24,92 24,24 25,00 26,18Estados 9,02 9,19 9,14 9,36 9,62Municpios 1,53 1,50 1,53 1,52 1,57Total 34,01 35,61 34,92 35,88 37,37Fontes: Adaptado Receita Federal (2006).

    Apesar da grande quantidade de tributos previstos na legislao brasileira, o ICMS, a

    Contribuio para Previdncia Social, o IR, o COFINS, a CPMF, o FGTS, o PIS, o IPI a

    CSLL so os principais impostos de arrecadao, chagando a 85% do total se for analisado o

    ano de 2005, ver Figura 1(2).

    ICMS; 21%

    PIS; 3%

    IR; 18%

    PREVIDNCIA; 15%

    CSLL; 3%

    COFINS; 12%

    IPI; 4%

    OUTROS; 15%

    FGTS; 4%

    CPMF; 4%

    Figura 1 (2) - Distribuio da carga tributria global (Ano 2006).

    Fonte: Adaptada de Receita Federal (2006).

    Um detalhe que o Brasil o nico pas do mundo que tem seu tributo de maior

    renda, o ICMS, sob a responsabilidade dos estados, o que dificulta a harmonizao do

    Sistema Tributrio Nacional, propiciando falhas e "guerras-fiscais", que prejudicam as

    finanas Pblicas.

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    2.4 Integrao entre o referencial terico e o problema

    Esta seo tem o propsito de trazer tona modelos sob o arcabouo da teoria doprincipal-agente que nos dem base para a formulao de um modelo que possa representar de

    forma satisfatria umframeworkde integrao da fundamentao terica.

    A relao entre governo e contribuinte tem sido estudada por diversos autores,

    principalmente sobre o problema da evaso fiscal. A maioria dos estudos foram realizados

    luz da teoria do principal-agente em que o governo (principal) tem por objetivo prover os

    incentivos para que os contribuintes (agentes) no soneguem impostos.

    Outro ponto chave nesta relao, entre governo e contribuinte, a questo da guerra

    fiscal entre os diversos estados da federao brasileira, onde cada estado em busca de

    aumentar a arrecadao de impostos ou mesmo de fomentar a economia local tm buscado

    atravs de polticas fiscais e de infra-estrutura incentivar empresrios a implantar suas

    empresas em seus territrios.

    2.4.1 O problema da evaso fiscal

    Em 1972 Allinghan e Sandmo j estudavam o problema da evaso fiscal. Em seu

    trabalho os autores desenvolveram um modelo em que o contribuinte teria duas estratgias

    bsicas, declarar rendimentos totais ou declarar menos do que os rendimentos totais, ou seja,

    sonegar imposto. Estaria a recompensa do agente diretamente relacionada ao fato do agente

    ser ou no auditado.

    Sandmo aperfeioou o modelo de forma a destacar o valor evadido e no o valor

    reportado (SANDMO, 2005), com a recompensa do sonegador baseado em sua renda final:

    Y = W-t(W-E) = (1-t)W+tE

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    Onde, Y se refere renda do sonegador, t a taxa do imposto, W sua renda bruta e E o

    montante evadido que a varivel de deciso do sonegador. Acrescenta-se ao modelo, a

    possibilidade do sonegador ser descoberto, e ento ter que pagar uma multa ou penalidade

    representada no modelo por . A recompensa do sonegador passa a ser:

    Z = (1-t)W+tE-E = (1-t)W-(-t)E. onde, > 1.

    Segundo o modelo ainda necessrio considerar a probabilidade subjetiva de deteco

    p (probabilidade, atribuda pelo agente de ser auditado), levando em considerao a

    racionalidade do agente ele escolheria um valor de sonegao que maximizaria sua utilidade

    esperada, conforme a relao abaixo:

    V = (1-p)U(Y) + pU(Z)

    Tem-se ento a funo utilidade esperada que leva em considerao a probabilidade de

    ocorrncia de um evento, dado que um dos pressupostos do modelo que o contribuinte

    avesso ao risco, as utilidades acima so cncavas e crescentes. Assim a condio de primeira

    ordem da utilidade esperada em V = (1-p)U(Y) + pU(Z) seria representada por:

    U(Z)/U(Y) = (1-p)t/p(-t).

    Desta forma o modelo contribui para concluses que tanto o aumento de p

    (probabilidade de o agente ser auditado) como o aumento de (multa), diminui o montante

    evadido E.

    Assim a condio para que o comportamento de evaso seja timo que o montanteesperado de evaso, dado pela ponderao entre probabilidade de deteco e multa pela

    evaso, seja menor que o imposto devido.

    p

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    que as empresas acreditam que existe de a sonegao ser efetivamentepunida () (BEZERRA; DIAS; FONTES, 2005, p. 251).

    Sendo que os autores nos trazem novos insightssobre a reputao do governo quanto

    cobrana e efetividade das punies s empresas inadimplentes. O governo deve evitar aes

    como perdo de dvidas, anistias, renegociaes a fundo perdido, pois apesar dos resultados a

    curto prazo com a incluso de contribuintes que estavam sem recolher impostos, no longo

    prazo as empresas passam a perceber o risco num patamar inferior. (Bezerra, Dias e Fonte,

    2005, p. 251).

    Outra questo sobre a funo utilidade das empresas que o modelo de Sandmo se

    limita ao consumo privado do contribuinte (ou lucro, no caso de empresas), no levando em

    considerao o retorno com os bens e servios gerados pelo sistema tributrio (COWELL,

    2003).

    Tambm foi deixado em segundo plano pelo modelo de Sandmo o papel do

    monitoramento do principal, este aspecto foi levantado nos estudos de Reinganum e Wilde

    (1985) que argumentam que o modelo ignora a possibilidade de que o montante reportado ao

    governo poderia servir como parmetro para iniciar aes de auditoria. Assim sugerem que a

    probabilidade de deteco pode ser determinada pelo contribuinte, alm de indiretamente

    destacar a importncia do papel nas regras e da tecnologia de deteco adotada pelo principal.

    Ao modelo pode-se ainda acrescentar os custos do agente em evadir o imposto,

    conforme Cowell (2003), que prope a incluso de uma varivel custo de ocultao que se

    refere as despesas que uma empresa incorreria em manter uma estrutura paralela com o

    objetivo de sonegar impostos. Desta forma, o entendimento dos determinantes deste custo

    fundamental para a compreenso do fenmeno da evaso fiscal, assim como a formulao de

    incentivos que podem ser aplicados pelo governo (COWELL, 2003).

    Esta varivel de ocultao deve ser determinada por pelo menos quatro fatores(COWELL, 2003):

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    1. A natureza do produto: quanto mais visvel for o produto, tanto maior o custo

    de ocultar a tributao incidente;

    2. O tamanho da estrutura organizacional da empresa: quanto mais complexa a

    organizao, tanto maior o custo de ocultao;

    3. Reputao e marca da empresa: quanto mais respeitada a marca, maiores os

    riscos de se expor a empresa a uma atividade ilegal;

    4. O grau de concentrao da indstria ou estrutura de mercado: quanto maior o

    nmero de empresas semelhantes mais reduzidos os custos do governo para

    monitorar eventuais desvios das normas tributrias.

    2.4.2 Incentivos fiscais

    Expresso recorrente em nosso cotidiano a Guerra Fiscal, caracteriza-se

    pelos benefcios fiscais e financeiros que so concedidos pelos governos estaduais e

    municipais como atrativo s empresas interessadas em investir em novas atividades

    econmicas. Estes benefcios tm se caracterizado por uma concorrncia predatria entre os

    estados. A nvel nacional esta concorrncia no apresenta um aumento de investimento e sim

    uma relocalizao dentro do territrio brasileiro. (VALENTIM, 2003).

    Por outro lado, os governos estaduais cumprindo seu papel procuram colocar os

    interesses estaduais acima dos federais na tentativa de alocar mais recursos para sua unidade,

    em nome de uma poltica de investimentos e de gerao de empregos, deixando de lado, uma

    poltica fiscal estvel que propiciasse o saneamento de suas finanas.

    A partir deste luta por investimentos, Gibbons (1992 apud Debaco e Neto, 2000)

    formulou um modelo onde o governo fixa o nvel de impostos com o objetivo de maximizar o

    bem-estar da populao.

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    A funo Yni(i, i, j) expressa a base da arrecadao proveniente de novos

    investimentos, que pode ser entendida como a renda por novos investimentos na economia,

    onde i so as vantagens competitivas apresentadas por cada estado, ti a alquota do imposto

    indireto (ICMS, p.ex.), i= ti-i a alquota efetiva do imposto no estado i e i o valor da

    renncia fiscal.

    No modelo assume-se que a renda decorrente de novos investimentos no pode

    diminuir devido ao aumento nas vantagens competitivas do estado, no pode aumentar como

    resultado de um aumento de impostos no prprio estado e no pode diminuir como resultado

    de um aumento de impostos em outro estado. Formalmente:

    Yni/i0 ; Yni/i0 ; Yni/j0

    Ainda leva-se em considerao que as isenes fiscais so concedidas apenas para os

    impostos indiretos devidos pelos novos investimentos e que as empresas j instaladas

    continuam pagando a alquota anterior, de forma que a riqueza no alterada, pois o modelo

    de curto prazo, assim a arrecadao de impostos sobre a propriedade no afetada. Temos a

    funo objetivo:

    Wi = tiYei+ iYni(i, i, j) + Ti

    Onde:

    Yei: a parte da renda que depende dos investimentos j existentes

    Ti: a arrecadao autnoma do governo, aquela que independe da renda.

    Assim a diminuio em ialtera a rentabilidade dos investimentos realizados naquele

    estado, de forma que o aumento na rentabilidade atrai novos capitais, os quais geram uma

    renda agregada adicional para o estado. necessrio que a funo objetivo seja cncava

    (TIROLE, 1996 apud DEBACO; NETO, 2000), ou seja,

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    2Wi*/i2= 2Yni/i+

    2Yni/i2< 0

    Levando em considerao que existisse apenas um estado disposto a conceder

    incentivos fiscais para obteno de novos investimentos, podemos representar a situao pela

    seguinte forma funcional para gerao de renda nova:

    Yn1= k1[1-c11+c2t2]

    Yn2= k2[2-c11+c2t2]

    Temos que o oferecido pelo estado 2 para que empresas se instalem em seu territrio

    igual a zero e com isto temos 2= T2. Os coeficientes c1e c2refere-se a sensibilidade dos

    investimentos cobrana de impostos por parte dos estados. Entre os colchetes temos a

    rentabilidade do investimento, e podemos cham-la de .

    O problema do estado ento determinar o nvel de renncia tima, determinado o

    imposto efetivo, de modo a maximizar sua riqueza Wi. Assim,

    12211111111 ][1

    TtccKYtWMax e +++=

    A alquota efetiva tima definida como sendo:

    1m = 1+ c2t2/ 2c1 (condio de equilbrio)

    O modelo nos possibilita prever que a renuncia atrai investimentos, tal fato ocorre

    porque outro estado no reage, e perde investimentos que, de outra forma seriam realizados

    em seu territrio. Substituindo a condio de equilbrio na funo objetiva obtm-se o nvel

    mximo de arrecadao que o estado pode obter concedendo incentivos:

    1111

    1

    11

    11 ]2

    [ Ttc

    c

    kYtW el

    m+

    ++=

    2.4.3 Esquema de integrao da fundamentao terica

    Diante da adequao da teoria do principal-agente ao problema da relao conflituosa

    entre o governo e as empresas, esta seo prope um esquema conceitual com o objetivo de

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    integrar os aspectos considerados neste referencial terico relacionando-o ao problema dessa

    dissertao.

    Atravs do esquema montado na figura 2(2) procuramos representar alguns

    pressupostos para o problema enfocado nesta dissertao que so racionalidade dos jogadores

    e assimetria de informao que por sua vez vo influenciar nas estratgias do governo e nas

    estratgias da firma representativa, cujas funes utilidades so interdependentes.

    Figura 2(2) Relao Governo e Empresrios para formao do Setor Vincola.Fonte: Elaborao prpria.

    No referencial terico procuramos delinear o comportamento de uma firma

    representativa que pauta sua reao estimulada pelo lucro, associada a um comportamento

    oportunista em detrimento utilidade do estado. Dado este conflito de interesses cabe ao

    governo (principal) desenhar mecanismos de incentivos que motivem as empresas a adotarem

    as aes desejadas.

    Para isto buscamos no arcabouo acadmico temas que fossem capazes de nos guiar

    em busca de um raciocnio lgico-cientfico. Comeamos por entender como os tributos

    incidem sobre os contribuintes e seu peso para a sociedade com os estudos de Giambiagi e

    Alm (2000) e Afonso et all (1998).

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    Utilizamos o modelo de Allinghan e Sandmo (1972) como forma de demonstrar a

    maximizao da utilidade da firma pelo lucro, levando sempre em considerao o fato da

    evaso fiscal como varivel desta funo. Foram levantados novos insightse novas variveis

    sobre o modelo como o custo de ocultao e a proviso de bens pblicos pelo governo

    (COWELL, 2003).

    E ainda nos preocupamos em demonstrar a funo utilidade do governo, atravs do

    modelo de Gibbons (1992) apresentado nos estudos de Debaco e Neto (2000), sobre captao

    de novos investimentos atravs de incentivos fiscais capazes de aumentar a utilidade do

    governo pelo aumento da arrecadao.

    Este referencial nos possibilitar demonstrar que o Governo contribuiu para o setor de

    vinhos finos do Vale do So Francisco, mostrando que ele observa as restries de

    participao e de compatibilidade de incentivos.

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    3 Metodologia

    Neste captulo apresentam-se os mtodos, processos e tcnicas utilizados na pesquisa

    que pelo seu carter cientfico seguiram um procedimento racional e sistemtico de forma a

    proporcionar respostas aos problemas enunciados.

    3.1 Tipo de pesquisa

    Basicamente, existem duas estratgias distintas para se tratar os problemas de

    pesquisa, a qualitativa e a quantitativa.

    Conforme Godoy (1995),

    (...) a pesquisa qualitativa ocupa um reconhecido lugar entre as vriaspossibilidades de se estudar os fenmenos que envolvem os seres humanos e

    suas intrincadas relaes sociais, estabelecidas em diversos ambientes.

    Na pesquisa qualitativa um fenmeno pode ser melhor compreendido no contexto em

    que ocorre e do qual parte, devendo ser analisado de forma integrada, partindo de questes

    amplas que vo se aclarando no decorrer da investigao (GODOY, 1995).

    Esta pesquisa possui um carter qualitativo visto que nos permite, de forma geral,

    descrever a complexidade de determinado problema e a interao de certas variveis,

    compreender e classificar os processos dinmicos vividos por grupos sociais, contribuir no

    processo de mudana de dado grupo e possibilita, em maior nvel de profundidade, o

    entendimento das particularidades do comportamento dos indivduos (DIEH; TATIM, 2005).

    Quanto ao tipo classifica-se esta pesquisa de acordo com a taxonomia apresentada por

    Vergara (1997), que as considerou sob dois critrios, quanto aos fins e quanto aos meios.

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    Quanto aos fins a pesquisa busca um carter exploratrio, visto que realizado em

    rea de pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Este tipo de pesquisa tem como

    objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema de pesquisa, com vistas a torn-lo

    mais explcito, servindo inclusive como estudo preliminar ou preparatrio para outros tipos de

    pesquisa.

    Conforme Tripodi, Felin e Meyer (1975) os estudos exploratrios tm por objetivo

    oferecer um quadro de referncias para futuras aplicaes e podem ser classificados em trs

    tipos bsicos: estudos que combinam caractersticas de explorao e descrio de um

    fenmeno, estudos que usam artifcios especficos para a coleta de dados na busca de idias e

    estudos que envolvem a manipulao de variveis independentes na demonstrao da

    viabilidade de tcnicas.

    Diante do referencial acima, pode-se classificar a presente pesquisa como exploratria,

    porque tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a

    torn-lo mais explcito, e gerar conhecimento sobre os impactos das polticas pblicas sobre o

    desenvolvimento da indstria vincola do So Francisco.

    Quanto aos meios o estudo basicamente fundamentar-se- na investigao documental,

    que prev a coleta de documentos diversos dos rgos governamentais e dos agentes da

    indstria vincola, e pela pesquisa bibliogrfica caracterizada pelo estudo sistematizado de

    material publicado sobre o assunto, inclusive como forma de dar suporte terico-metodolgico. (VERGARA, 1997).

    Em uma pesquisa exploratria, existem vrias tcnicas que podem ser adotadas. Dada

    a sua natureza, este estudo foi dividido em duas etapas, que se complementam: uma

    denominada fase preparatria, para a obteno de dados e informaes de fontes secundrias e

    de especialistas; e outra, destinada a formulao de modelos de exemplificao a fim de

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    representar as situaes suscitadas no problema de pesquisa relacionadas teoria do principal-

    agente.

    3.2 Fase preparatria

    Primeiro passo para execuo desta dissertao foi definir a estratgia de pesquisa