120
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ANTONIO MARCOS GUERRA A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO EM DECORRÊNCIA DE DANOS AMBIENTAIS Tijucas 2008

A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

  • Upload
    donhi

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

ANTONIO MARCOS GUERRA

A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE DIRE ITO

PRIVADO EM DECORRÊNCIA DE DANOS AMBIENTAIS

Tijucas

2008

Page 2: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

ANTONIO MARCOS GUERRA

A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE DIRE ITO

PRIVADO EM DECORRÊNCIA DE DANOS AMBIENTAIS

Monografia apresentada como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharel em Direito, pela

Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências

Sociais e Jurídicas, campus de Tijucas.

Orientador: [Prof. Esp. Everaldo Medeiros Dias]

Tijucas

2008

Page 3: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

ANTONIO MARCOS GUERRA

A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE DIRE ITO

PRIVADO EM DECORRÊNCIA DE DANOS AMBIENTAIS

Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e

aprovada pelo Curso de Direito do Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, Campus de Tijucas.

Direito Privado e Direitos Especiais

Tijucas, 18 de novembro de 2008.

[Prof. Esp. Everaldo Medeiros Dias]

Orientador

Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas

Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

Page 4: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

As Pessoas que sempre estiveram presentes em minha vida tanto nos

momentos bons como nos ruins.

Aos meus pais, que em mim depositaram confiança e juntamente

comigo acreditaram em um sonho que agora se realiza.

À memória dos meus avós maternos, que sempre torceram por mim.

Page 5: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

A Deus, fonte suprema de todo saber.

À minha família, pela confiança que depositaram em mim.

Aqueles que acreditaram que esse sonho fosse possível.

Ao Professor Orientador, Everaldo Medeiros Dias, que contribuiu para a realização e

orientação deste trabalho.

Aos que colaboraram com suas críticas e sugestões para a realização deste trabalho.

Aos colegas de classe, pelos momentos que passamos juntos e pelas experiências trocadas.

A todos que, direita ou indiretamente, contribuíram para a realização desta pesquisa.

Page 6: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a

nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e

benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não

necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois

sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e

tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no

que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos

brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha

palavra é como as estrelas, elas não empalidecem. Como pode-se

comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós

não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode

então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso

tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha

reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas

escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas

tradições e na crença do meu povo.

Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de

viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um

estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A

terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai

embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a

terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os

direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si

os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem

vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um

selvagem que nada compreende.

Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar

onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o

zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada

entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que

espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do

corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio

Page 7: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio

cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de

pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres

vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que

o homem branco se importe com o ar que respira. Como um

moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.

Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco

deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem

e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões

apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os

abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo

como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um

bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a

nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os

animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque

tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens.

Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.

Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos

guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota

passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos

adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde

passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas

horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes

tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos

bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo

que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.

De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia

descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser

dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas

não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao

homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar

dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco

também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças.

Page 8: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite,

sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e

domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas

federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios

que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias?

Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o

fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.

Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se

soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas

noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam

ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens.

Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem

ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos

na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez

possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o

último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da

sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu

povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as

amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe.

Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-

a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando

dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu

coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a

todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra

é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso

destino comum1.

Alvin Toffler

1 Esta carta foi escrita em 1855, pelo chefe Cacique Seatle, da Tribo Duwamisk, ao presidente dos EUA, Franklin Pierre, quando este propôs comprar grande parte das terras de sua tribo, oferecendo em contrapartida, a concessão de uma outra "reserva". O texto da resposta do cacique da tribo Duwamish tem sido considerado, através dos tempos, como um dos mais belos e profundos pronunciamentos já feitos a respeito da defesa do meio ambiente.

Page 9: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca

do mesmo.

Tijucas, 18 de novembro de 2008.

Antonio Marcos Guerra

Graduando

Page 10: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

RESUMO

O presente trabalho monográfico tem como objetivo central o estudo dos danos ambientais causados pelas pessoas jurídicas de direito privado. Buscou-se saber no decorrer da pesquisa, se ao cometer danos ao Meio Ambiente a Pessoa Jurídica de Direito Privado seria passível de ser Responsabilizada Civilmente como acontece com a pessoa física. Outro item elencado durante a pesquisa foi como se daria a Responsabilização deste ente, se seria passível de ser alcançado em seu próprio patrimônio, ou se seria responsabilizado através de seus representantes legais, onde, notou-se a dificuldade de se encontrar um meio eficaz de responsabilização para este ente. Em conformidade com a regra geral existente no ordenamento jurídico, viu-se a necessidade de se saber se a responsabilidade seria subjetiva ou se seria adotada outra forma de responsabilidade em se tratando de Danos Ambientais, visto que, conforme se depreende de estudos doutrinários, no Brasil o legislador adotou a teoria do risco integral para apurar a Responsabilidade Civil Por Danos Causados ao Meio Ambiente restando saber se há a possibilidade de repassar esta responsabilidade às pessoas jurídicas. Notou-se ainda conforme o trabalho foi se desenvolvendo que é real a imediata necessidade de se criar meios mais eficazes à combater o imenso crescimento desordenado dos danos ambientais causados pelas pessoas jurídicas, em especial as de direito privado. Restou comprovado que a doutrina e a jurisprudência caminham para que isso aconteça, visto o aumento de decisões e estudos neste sentido, porém o aumento do efetivo fiscalizador juntamente com órgãos judiciais específicos para o combate aos danos ambientais, reduziria em suma a degradação da natureza feita pelo homem. De todos os estudos que foram feitos para a realização do trabalho notou-se que, além de punir o ente causador do dano, existem outros meios que buscam reduzir a degradação ambiental, concluindo-se que o mecanismo mais eficaz para isso se bem aplicado seria o ensino, como forma de conscientizar a população de suas obrigações inerentes à natureza e de seu poder fiscalizador dado ser o Meio Ambiente um bem de todos devendo por todos se preservado.

Palavras-chave:

Responsabilidade Civil Pessoa Jurídica Danos Ambientais

Page 11: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

ABSTRACT

This study is designed Monograph central objective the study of environmental damage caused by legal persons of private law. The aim was to learn during the search, whether to commit damage to the environment to private law entity would be able to be civilly liable as the person. Another item listed in the survey was as if this would Accountability environment, it would be able to be reached on their own property, or whether it would be liable through their legal representatives, where, it was noted the difficulty of finding an effective means of accountability for the environment. Another item listed in the survey was as if this would Accountability environment, it would be able to be reached on their own property, or whether it would be liable through their legal representatives, where, it was noted the difficulty of finding an effective means of accountability for the environment. In accordance with the existing rule in the legal system, saw the necessity of whether the responsibility would be subjective or whether it would be adopted another form of liability in the case of environmental damage because, as reflected in doctrinal studies, in Brazil, the legislature adopted the theory of risk to determine the full Civil Liability for Damage Caused to the Environment remains whether there is the possibility to pass this responsibility to legal persons. It was noted even as the work was to develop what is the real immediate need to create the most effective means to combat the immense disorderly growth of environmental damage caused by legal persons, in particular the private law. Left proved that the doctrine and jurisprudence go for that to happen, given the increase in decisions and studies in this direction, but the increase in the effective supervisory along with specific courts to fight environmental damage, ultimately reduce the degradation of nature by man. Of all the studies that have been made to carry out the work it was noted that in addition to punishing the environment causing the damage, there are other ways that seek to reduce environmental degradation, concluding that the most effective mechanism for this is well implemented would be the teaching as a form of the population aware of its obligations and the nature of its supervisory power be given the Environment of all goods must be preserved by all.

World-key

Civil Lliability legal person environmental damage

Page 12: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CDC: Código de Defesa do Consumidor

CRFB: Constituição da República Federativa do Brasil

IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente

LACP: Lei de Ação Civil Pública

OCDE: Organisation de Coopération et de Développernent Êconomiques

PNMA: Programa Nacional do Meio Ambiente

PPP: Princípio do Poluidor Pagador

SISAMA: Sistema Nacional do Meio Ambiente

STF: Supremo Tribunal Federal

STJ: Superior Tribunal de Justiça

Page 13: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS

[Dano ambiental]

Uma alteração indesejável ao conjunto de elementos chamados meio ambiente, como, por exemplo, a poluição atmosférica; seria assim a lesão ao direito fundamental que todos têm de gozar e aproveitar do meio ambiente apropriado2.

[Meio Ambiente]

Conjunto dos meios naturais ou artificializados da ecosfera, onde o homem se instalou e que explora e administra, bem como o conjunto dos meios não submetidos à ação antrópica, e que são considerados necessários à sua sobrevivência3.

[Pessoa Jurídica]

Unidade de pessoas naturais ou de patrimônios, que visa a consecução de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações4.

[Poluição]

A degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos5.

[Poluidor]

A pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental6.

2 LEITE José Rubens Morato. Dano Ambiental. do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 98 3 LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental. do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 74 4 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil. 1º v. 24, ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 229 5 (Art. 3º, III, a, b, c, d, e, Lei, 6.938/81) 6 (Art. 3º, IV, Lei 6.938/81)

Page 14: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

[Proteção]

Livrar de algum mal; manter livre de corrupção, perigo ou dano; conservar7.

[Responsabilidade Civil]

Aplicação de medidas que obriguem, alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda (responsabilidade subjetiva)8.

7 MACHADO, Paulo Afonso. Direito ambiental brasileiro. 14ª ed. rev. atual. e ampliada. São Paulo. Malheiros Editores, 2006, p. 351 8 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Responsabilidade civil. 17. ed. v. 7 São Paulo: Saraiva, 2003, p. 36

Page 15: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................................... 9

ABSTRACT ............................................................................................................................ 10

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................... 11

LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS.. .......................... 12

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16

2 A RESPONSABILIDADE CIVIL...................................................................................... 19

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS ACERCA DA RESPONSABILIDADE CIVIL....................19

2.1.1 Surgimento da Responsabilidade Civil ...........................................................................21

2.2 A EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL NO BRASIL .................................25

2.3 NOÇÕES CONCEITUAIS A CERCA DA RESPONSABILIDADE CIVIL ...................27

2.4 SUBJETIVIDADE E OBJETIVIDADE NA RESPONSABILIDADE CIVIL .................31

2.4.1 Teoria da responsabilidade subjetiva...............................................................................31

2.4.2 Teoria da responsabilidade objetiva ................................................................................32

2.4.3 Teoria da responsabilidade civil e o novo código civil ...................................................36

2.5 HIPÓTESES QUE EXCLUEM A RESPONSABILIDADE CIVIL..................................36

2.5.1 Da culpa exclusiva da vítima...........................................................................................37

2.5.2 Fato de terceiro ................................................................................................................39

2.5.3 Caso fortuito e a força maior ...........................................................................................41

2.5.4 Cláusula de não indenizar................................................................................................42

3 PESSOA JURÍDICA ........................................................................................................... 44

3.1 SURGIMENTO DA PESSOA JURÍDICA ........................................................................44

3.2 CONCEITO E DENOMINAÇÃO DOUTRINÁRIA ........................................................48

3.3 REQUISITOS NECESSÁRIOS A CONSTITUIÇÃO DA PESSOA JURÍDICA.............51

3.4 NATUREZA JURÍDICA ...................................................................................................54

3.4.1 Teoria da ficção legal ......................................................................................................55

3.4.2 Teoria da ficção doutrinária.............................................................................................57

3.5 DA CAPACIDADE E REPRESENTAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA ...........................58

3.6 CLASSIFICAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA...................................................................61

3.6.1 Pessoas jurídicas de direito privado ................................................................................62

3.6.1.1 Associações...................................................................................................................62

Page 16: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

3.6.1.2 Sociedades ....................................................................................................................64

3.6.1.3 Fundações.....................................................................................................................67

3.7 EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA..............................................................................68

4 O DANO AMBIENTAL E A PESSOA JURÍDICA......................................................... 74

4.1 MEIO AMBIENTE CONCEITUAÇÃO............................................................................74

4.2 CONSTATAÇÃO DOS DANOS AMBIENTAIS.............................................................76

4.3 DO DANO AMBIENTAL .................................................................................................78

4.3.1 O dano ambiental e seu conceito .....................................................................................78

4.3.2 Responsabilidade civil por danos ambientais..................................................................80

4.3.3 Da reparação do dano ambiental .....................................................................................84

4.3.3.1 A Responsabilidade Civil da Pessoa Jurídica Por Danos Ambientais ........................88

4.3.3.2 Formas de reparação do dano pela pessoa jurídica....................................................89

a) O status quo ante..................................................................................................................90

b) A indenização em dinheiro...................................................................................................92

4.3.4 Prevenção do dano ambiental ..........................................................................................95

4.3.5 Poluidor – Pagador ........................................................................................................101

4.3.6 Dano moral ....................................................................................................................104

4.3.6.1 Dano moral ambiental da pessoa jurídica .................................................................107

4.3.7 O ensino como forma de prevenção do dano ambiental................................................112

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 115

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 116

Page 17: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objeto o estudo da responsabilização civil da pessoa

jurídica, quando esta comete danos ao meio ambiente.

A importância do estudo deste tema reside no iminente dever de conscientizar a

população, do dever de preservar e prevenir prováveis danos ao meio ambiente, agindo de

forma fiscalizadora como forma de evitar a degradação ambiental que advêm das atividades

empresariais que possam vir a causar danos ao meio ambiente.

Ressalte-se que, além de ser requisito imprescindível à conclusão do curso de Direito

na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, o presente relatório monográfico também

procura colaborar para o conhecimento de um tema que, apesar de não poder ser tratado como

novidade no campo jurídico, na dimensão social-prática ainda pode ser tratado como elemento

novo e repleto de nuances a serem destacadas pelos intérpretes jurídicos.

A escolha do tema é fruto do interesse pessoal do pesquisador em realizar um estudo

mais aprofundado sobre a questão da Responsabilidade Civil da Pessoa Jurídica de Direito

Privado em Decorrência de Danos Ambientais. Assim como para instigar novas contribuições

para estes direitos na compreensão dos fenômenos jurídicos-políticos, especialmente no

âmbito de atuação do Direito Ambiental.

Em vista do parâmetro delineado, constitui-se como objetivo geral deste trabalho a

verificação de como será responsabilizada a Pessoa Jurídica de direito privado quando vir a

causar danos ao meio ambiente.

O objetivo institucional da presente Monografia é a obtenção do Título de Bacharel

em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas,

Campus de Tijucas.

Como objetivo específico, pretende-se verificar a Responsabilização, na esfera civil,

da Pessoa Jurídica de Direito Privado, por Danos Ambientais praticados por seus agentes e

sua efetivação.

Page 18: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

17

Não é o propósito deste trabalho esgotar o estudo do tema proposto. Por certo não se

estabelecerá um ponto final em referida discussão. Pretende-se, tão-somente, aclarar o

pensamento existente sobre o tema, circunscrevendo-o ao alcance do Direito Ambiental,

viabilizando uma compreensão a cerca da responsabilização da pessoa jurídica por danos

ambientais.

Para o desenvolvimento da presente pesquisa foram formulados os seguintes

questionamentos:

a) É possível responsabilizar civilmente a pessoa jurídica de direito privado quando

comete danos ambientais?

b) Qual será a responsabilidade civil quando a pessoa jurídica causar danos ao meio

ambiente?

Já as hipóteses consideradas foram as seguintes:

a) Existindo responsabilidade civil da pessoa jurídica de direito privado por danos

causados ao meio ambiente, resta saber como este agente será responsabilizado, se através de

seus representantes ou diretamente incidindo essa responsabilização em seu patrimônio.

b) A política social visando maior proteção à sociedade daqueles que tem elevado

poder aquisitivo, deve cada vez mais se preocupar em tutelar o consumidor, dando uma maior

abrangência fiscalizadora ao Meio Ambiente, justamente para evitar que às Pessoas Jurídicas

de Direito Privado que causem Dano ao Meio Ambiente fiquem sem a devida punição.

c) Na concepção do direito ambiental, a responsabilidade civil por danos causados ao

meio ambiente, contempla dois pólos; o da responsabilidade civil subjetiva, devendo haver

culpa para que haja punição, e a responsabilidade civil objetiva, triunfando o risco assumido.

O relatório final da pesquisa foi estruturado em três capítulos, podendo-se, inclusive,

delineá-los como três molduras distintas, mas conexas: a primeira, atinente a

Responsabilidade Civil; a segunda, a Pessoa Jurídica; e, por derradeiro, Os danos Causados

pela Pessoa Jurídica ao Meio Ambiente.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que, na fase de investigação foi utilizado

o método indutivo, e, o relatório dos resultados expresso na presente monografia é composto

na base lógica dedutiva, já que se parte de uma formulação geral do problema, buscando-se

Page 19: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

18

posições científicas que os sustentem ou neguem, para que, ao final, seja apontada a

prevalência, ou não, das hipóteses elencadas.

Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as técnicas do referente, da categoria,

do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica.

É conveniente ressaltar, enfim, que, seguindo as diretrizes metodológicas do Curso de

Direito da Universidade do Vale do Itajaí, as categorias fundamentais, são grifadas, sempre,

com a letra inicial maiúscula e seus conceitos operacionais apresentados em Lista de

Categorias e seus Conceitos Operacionais, ao início do trabalho.

Ressalte-se que a estrutura metodológica e as técnicas aplicadas neste relatório estão

em conformidade com as propostas apresentadas no Caderno de Ensino: formação

continuada. Ano 2, número 4, assim como nas obras de Cezar Luiz Pasold, Prática da

pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito e Valdir Francisco

Colzani, Guia para redação do trabalho científico.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais

são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos

estudos e das reflexões sobre a possibilidade de se responsabilizar civilmente a pessoa jurídica

por danos causados ao meio ambiente.

Com este itinerário, espera-se alcançar o intuito que ensejou a preferência por este

estudo: a necessidade de se criarem métodos eficazes de responsabilização civil da pessoa

jurídica por danos ambientais.

Page 20: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

2 A RESPONSABILIDADE CIVIL

Neste capitulo serão abordados assuntos acerca da Responsabilidade Civil,

objetivando esclarecer aspectos, de como o ente será ou não responsabilizado num dado

momento caso constate-se a causa geradora desta Responsabilidade.

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS ACERCA DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Para a compreensão do assunto abordado neste capitulo, faz-se necessário iniciar o

conteúdo por seu aspecto buscando o entendimento acerca de Responsabilidade Civil e como

se deu seu desenvolvimento até os tempos atuais.

Sobre evolução da Responsabilidade Civil, Arnoldo Wald, apud Maria Helena Diniz,

assim preceitua.

A Responsabilidade Civil apresenta uma evolução pluridimensional, pois sua expansão se deu quanto à sua história, aos seus fundamentos, à sua extensão ou área de incidência (número de pessoas responsáveis e fatos que ensejam a responsabilidade) e à sua profundidade ou densidade (exatidão de reparação)9.

Nos tempos mais remotos, inexistiam relações sociais no sentido de solucionar os

conflitos de forma amistosa, tempos estes em que preponderava a força física dos homens que

se usavam da vingança como meio de fazer com que homens reparassem danos causados à

outros homens. Naqueles tempos originários não existiam distinções entre Responsabilidade

Civil e responsabilidade penal. Neste sentido, assevera Roberto Senise Lisboa:

Desde os tempos remotos preponderou a idéia de delito, como origem da responsabilidade, ou seja, o dever jurídico de reparação do dano. Originalmente, não havia nenhuma distinção sistemática entre a responsabilidade civil e a responsabilidade penal. Inicialmente, prevalecia a

9 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Responsabilidade civil. 17. ed. v. 7 São Paulo: Saraiva, 2003, p. 09

Page 21: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

20

vingança privada, coletiva ou não, pelo exercício da auto-tutela. Os conflitos entre os clãs eram comuns e tão somente a partir do momento em que se concebeu um poder central a regular às diferentes relações sociais é que se vislumbrou a mediação e a supressão da anarquia na solução do conflito10.

Conforme preceitos de Washington de Barros Monteiro, “trata-se, aliás, de questões

das mais antigas. Desde tempos remotos, deparam-se traços reveladores de sua prolongada e

laboriosa construção jurídica”11.

Assim, vislumbra-se que, no intuito de fazer com que se reparasse um dano, acabava-

se por acometer-se de outro, sem que existisse qualquer noção jurídica de culpa leve ou lata,

isto por que naquele tempo eram os delitos equiparados prevalecendo a chamada lei de talião,

onde limitava-se a represália daquele que havia sido vitimado, contra seu agressor à

proporções iguais, ou como ensina Roberto Senise Lisboa, “muitas vezes a represália ocorria

de forma injusta e desmedida”.

Neste sentido também estão os ensinamentos de Washington de Barros Monteiro,

esclarecendo que, “primitivamente, numa fase mais rudimentar da cultura humana, a

reparação do dano resumia-se na retribuição do mal pelo mal, de que era típico exemplo a

pena de talião, olho por olho, dente por dente; quem com ferro fere, com ferro será ferido”12.

Assentando o entendimento de Lisboa, onde afirma que nos primórdios preponderava

a vingança como meio de solução de danos, está também o entendimento de Carlos Roberto

Gonçalves, tomando por base o Direito Romano assim descreve:

Nos primórdios da humanidade, entretanto, não se cogitava do fator culpa. O dano provocava a reação imediata, instintiva e brutal do ofendido. Não havia regras nem limitações. Não imperava, ainda, o direito. Dominava, então, a vingança privada13.

10 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. obrigações e responsabilidade civil. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 421 11 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações 2ª parte. 35. ed. ver. E atual. por Carlos Alberto Dabus Maluf e Regina Beatriz Tavares da Silva. São Paulo: Saraiva, 2007. v.a, p. 501 12 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações 2ª parte, p. 501 13 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , volume IV. responsabilidade civil. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 6

Page 22: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

21

Por outro lado, completando a frase, e admitindo ser naquele tempo perfeitamente

compreensível aquele tipo de atitude, esta o pensamento de Alvino Lima apud Carlos Roberto

Gonçalves “forma primitiva, selvagem talvez, mas humana, da reação espontânea e natural

contra o mal sofrido; solução comum a todos os povos nas suas origens, para a reparação do

mal pelo mal”14.

Desta forma, Rodolph Dareste ensina que todos os povos europeus da antiguidade

passaram por esse modelo de direito e de justiça, a partir da retribuição privada contra o autor

do prejuízo.

2.1.1 Surgimento da Responsabilidade Civil

Após ter sido superada essa fase de solução de conflitos ou danos, onde prevalecia a

vingança privada, segundo Gonçalves, “num estágio mais avançado, quando já existe uma

soberana autoridade, o legislador veda à vitima fazer justiça pela próprias mãos” sobrevindo a

composição ou auto-composição. Onde, a vítima podia requerer do autor do dano reparação

econômica, e esta que era voluntária até certo tempo passa a ser obrigatória e também

tarifada.

Para André Besson apud Carlos Roberto Gonçalves, no Direito Romano, a

Responsabilidade Civil se assenta, segundo a teoria clássica, em três pressupostos: um dano, a

culpa do autor e a relação de causalidade entre o fato culposo e o mesmo dano15.

Esta é a época do Código de Ur-Nammu16, do Código de Manu17 e da Lei das XII

Tábuas18. Conforme ensina Wilson Melo da Silva apud por Carlos Roberto Gonçalves:

14 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , volume IV. responsabilidade civil, p. 6 15 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , volume IV. responsabilidade civil, p. 6

16 Ur-Nammu foi o fundador da terceira dinastia de Ur 2112-2095 a.C. "pai de Amurru". Por volta de 2100 a.C., expulsou os gútios e reunificou a região da Mesopotâmia que estava sob o controle dos acadianos. Foi um rei enérgico, que construiu os famosos zigurates e promoveu a compilação das leis do direito sumeriano. O Código de Ur-Nammu (cerca de 2040 a.C.), surgido na Suméria, descreve costumes antigos transformados em leis e a enfatização de penas pecuniárias para delitos diversos ao invés de penas talianas. Considerado um dos mais antigos de que se tem notícias, no que diz respeito a lei, foi encontrado nas ruinas de templos da epoca do rei Ur-Nammu, na resgião da Mesopotâmia (onde fica o Iraque atualmente). "O Código de Ur-Nammu (...) foi descoberto somente em 1952, pelo assiriólogo e professor da Universidade da Pensilvânia, Samuel Noah Kromer. Nesse Código elaborado no mais remoto dos tempos da civilização humana é possível identificar em seu conteúdo dispositivos diversos que adotavam o princípio da reparabilidade

Page 23: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

22

É quando, então, o ofensor paga um tanto por membro roto, por morte de um homem livre ou de um escravo, surgindo, em conseqüência, as mais esdrúxulas tarifações, antecedentes históricos das nossas tábuas de indenizações preestabelecidas por acidentes do trabalho19.

Apesar de vir se gerando outras formas de solução de danos, foi necessário fazer uma

diferenciação entre a “pena” e a “reparação”, tais diferenciações segundo Gonçalves “só

começaram a ser esboçadas ao tempo dos romanos, com a distinção entre os delitos públicos

(ofensas mais graves, de caráter perturbador da ordem) e os delitos privados. Nos delitos

públicos, a pena econômica imposta ao réu deveria ser recolhida aos cofres públicos, e, nos

delitos privados, a pena em dinheiro cabia à vitima20.

Segundo Roberto Senise Lisboa, no Direito Romano antigo, os delitos básicos que

acarretavam a responsabilização do agente eram: furto (furtum), o dano (noxia) e a injúria

(iniuria) 21.

A institucionalização do procedimento da auto composição já existente, e que se

desenvolveu gradativamente, se deu com a Lei das XII Tábuas, em 450 a.C. esta, objetivou

também, à substituir a idéia generalizada de castigo, introduzindo as chamadas “penas de

restrição”.

Conforme preceitua Roberto Senise Lisboa, “as sanções previstas na lei das XII

Tábuas eram ordinariamente fixadas no dobro (duplum), porém podiam chegar ao triplo

(triplum) ou ao quádruplo (quadruplum)” 22.

dos atualmente chamados danos morais" (SILVA, Américo Luís Martins da. O dano moral e a sua reparação civil . São Paulo: RT, 1999, p. 65) 17 Manu, progênie de Brahma, pode ser considerado como o mais antigo legislador do mundo; a data de promulgação de seu código não é certa, alguns estudiosos calculam que seja aproximadamente entre os anos 1300 e 800 a.C. Redigido em forma poética e imaginosa, as regras no Código de Manu são expostas em versos. Cada regra consta de dois versos cuja metrificação, segundo os indianos, teria sido inventada por um santo eremita chamado Valmiki, em torno do ano 1500 a.C. 18 Segundo a tradição, a Lex Duodecimum Tabularum foi promulgada no ano 452 a. C. e, surgiu como um dos objetivos dos plebeus que era o de acabar com a incerteza do direito por meio da elaboração de um código, o que viria refrear o arbítrio dos magistrados patrícios contra a plebe. Foi, portanto, a Lei da XII Tábuas, além de uma fonte de conhecimento, a criadora extraordinariamente fecunda do direito romano posterior, durante cerca de mil anos. (OLIVEIRA, Adriane Stoll de. A codificação do Direito. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.aspid=3549. Acesso em: 17 out. 2008). 19 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , volume IV. responsabilidade civil, p. 7 20 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , volume IV. responsabilidade civil, p. 7 21 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. obrigações e responsabilidade civil, p. 422

Page 24: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

23

Diante disso, houve um momento em que a autoridade pública, reservou para si o

direito de punir o autor do delito, desta forma notou-se que a pena privada teria caráter de

punição, onde foram surgindo distinções entre o que atualmente se conhece por aspectos civis

e penais de responsabilidade.

Roberto Senise Lisboa cita outras informações que passaram a ser admitidas para os

fins de responsabilização civil, além dos delitos (delictum). Foram denominadas de quase

delitos (quase delicta), a saber, dentre outras:

A) a responsabilidade do morador pela queda de objeto do edifício (postitum et suspensum); B) a responsabilidade pelo derramamento de coisa em via pública (effusum et deiectum), incidente contra o morador (habitator); C) a responsabilidade do capitão do navio pelo furto de bens por ele transportados, cometido por seu preposto (eceptum nautarum); D) a responsabilidade do dono de estábulo pelo furto de bem ali deixado pelo seu cliente, praticado por um preposto (stabularum); E) a responsabilidade do dono da hospedaria pelo furto de bem deixado pelo hóspede, praticado por seu preposto (cauponum); F) a responsabilidade do juiz por sentença proferida de má-fé (si iudex litem suam facit)23.

Já a necessidade de existência da culpa para a viabilização do dano causado, foi fixada

na fase Republicana, pelo Direito Romano com o estabelecimento da Lex Aquilia de damnum,

de 286 a.C.

Neste sentido importante citar Aguiar Dias, apud Carlos Roberto Gonçalves, que

acevera:

É na Lei Aquília que se esboça, afinal, um principio geral regulador da reparação do dano. Embora se reconheça que não continha ainda “uma regra de conjunto, nos moldes do direito moderno”, era, sem nenhuma dúvida, o germe da jurisprudência clássica com relação à injuria, e “fonte direta da moderna concepção da culpa aquíliana, que tomou da Lei Aquília o seu nome característico”24.

Seguindo o entendimento de Gonçalves, Washington de Barros Monteiro leciona que:

22 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. obrigações e responsabilidade civil, p. 423 23 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. obrigações e responsabilidade civil, p. 424 24 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , volume IV. responsabilidade civil, p. 7

Page 25: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

24

Foi a Lei Aquília que introduziu os primeiros alicerces da reparação civil em bases mais lógicas e racionais. Com ela a vindita, impregnada do sentimento de represália, cedeu o passo à pena pecuniária, cujo pagamento constitui, de fato, reparação do dano causado, e cuja idéia é precursora da moderna indenização por perdas e danos25.

Com o passar dos tempos, o direito Francês foi pouco a pouco aperfeiçoando as idéias

dos Romanos, onde por aqueles foi estabelecido nitidamente um principio geral da

Responsabilidade Civil, por derradeiro foi abandonado o critério de enumerar os casos de

composição obrigatória.

De maneira que, aos poucos foi se estabelecendo princípios que foram introduzidos

em outros povos, exercendo nestes certa influência. Carlos Roberto Gonçalves cita alguns

destes princípios:

Direito à reparação sempre que houvesse culpa, ainda que leve, separando-se a responsabilidade civil (perante a vitima) da responsabilidade penal (perante o Estado); a existência de uma culpa contratual (a das pessoas que descumprem as obrigações) e que não se liga nem a crime nem a delito, mas se origina da negligência ou da imprudência26.

Segundo afirma Carlos Roberto Gonçalves, após este período transitivo foram

inseridas no Código de Napoleão27, “a noção da culpa in abstracto28 e a distinção entre culpa

delitual e culpa contratual, as quais serviram de inspiração à redação dos artigos 1.38229 e

1.38330 do citado Código Napoleônico.

25 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações 2ª parte, p. 501 26 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , volume IV. responsabilidade civil, p. 8 27 O Código Napoleônico (originalmente chamado de Code Civil des Français, ou código civil dos franceses) foi o código civil francês outorgado por Napoleão I e que entrou em vigor em 21 de março de 1804. (G. Levasseur, Napoléon et l'élaboration des codes répressifs (Mélanges en homme à Jean Imbert, PUF, 1989 p.371) 28 Atendendo-se a que somente a pessoa dotada de atenção e diligência excepcional poderia evitar a violação, é a culpa levíssima ou muito leve chamada de culpa em abstrato (in abstracto). SILVA, De Plácido. Vocabulário jurídico. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 233 29 Art. 1382. Tout fait quelconque de l’homme, qui cause à autrui um dommage, oblige celui par la faute duquel il est arrivé, à le réparer. (Qualquer fato oriundo daquele que provoca um dano a outrem obriga aquele que foi a causa do que ocorreu a reparar este dano). Código Napoleônico. 30 Art. 1383. Chacun est responsible du dommage qu’il a causé non seulement par son fait, mais encore par sa négligence ou par son imprudence. (Cada um é responsável pelo dano que provocou não somente por sua culpa, mas ainda por sua negligencia ou por sua imprudência). Código Napoleônico

Page 26: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

25

Por tais elementos dispostos nos artigos 1.382 e 1.383 do Código de Napoleão, é que

outros Países, se inspiraram para redigirem suas Legislações ou mesmo, foram adotadas pela

grande maioria.

Segundo se noticia pouco se sabe sobre o direito português em seus primórdios. O que

mais se comenta é sobre as invasões pelas primitivas legislações de Portugal, conforme

ensinamentos de Carlos Roberto Gonçalves:

Pouca noticia se tem do primitivo direito português. A mais antiga responsabiliza a invasão dos visigodos pela primitiva legislação soberana de Portugal, com acentuado cunho germânico, temperado pela influência do cristianismo. Nessa época, não se fazia diferença entre responsabilidade civil e responsabilidade criminal31.

E ainda segundo ensinamentos de Carlos Roberto Gonçalves, após a invasão árabe, a

reparação pecuniária passou a ser aplicada paralelamente às penas corporais.

Nesta breve introdução, procurou-se destacar alguns aspectos acerca da necessidade e

surgimento da Responsabilidade Civil.

Passando ao próximo item, o objetivo é aproximar o tema ao atual ordenamento ou

seja a representatividade da Responsabilidade Civil no Direito Brasileiro.

2.2 A EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL NO BRASIL

Após breve relato histórico acerca do surgimento da Responsabilidade Civil, partindo

dos primórdios da humanidade, importante discorrer em algumas linhas acerca da

Responsabilidade Civil no Direito Brasileiro, ensejando uma compreensão mais acentuada no

que diz respeito ao conteúdo em estudo, já que em suma, será tratado da responsabilização

civil da pessoa jurídica quanto aos danos causados ao meio ambiente, na óptica do Direito

Positivo Brasileiro.

O Código Criminal de 1830, atendendo às determinações da Constituição do Império,

transformou-se em um código civil e criminal fundado nas sólidas bases da justiça e da

equidade, prevendo a reparação natural, quando possível, ou a indenização; a integridade da

31 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , volume IV. responsabilidade civil, p. 8

Page 27: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

26

reparação, até onde possível; a previsão dos juros reparatórios; a solidariedade, a

transmissibilidade do dever de reparar e do crédito de indenização aos herdeiros etc32.

Em uma primeira fase, antes de ter sido adotado o principio da independência da

jurisdição civil e criminal, a reparação era condicionada à condenação criminal.

Segundo Carlos Roberto Gonçalves, o Código Civil de 1916 filiou-se a teoria

subjetiva, e exige prova de culpa ou dolo do causador do dano para que seja obrigado a

repará-lo. Em alguns poucos casos, porém, presumia a culpa do lesante (arts. 1.527, 1.528,

1.529, dentre outros)33.

A imensa proporção tomada pelo desenvolvimento industrial, e conseqüentemente a

multiplicação dos danos, sugerem novas teorias, as quais serviram para dar maior proteção as

pessoas vitimadas.

A chamada teoria do risco ganhou terreno nos últimos tempos, cobrindo muitas

hipóteses em que o apelo às concepções tradicionais, se revela insuficiente para a proteção da

vítima, mesmo sem substituir a teoria da culpa34.

Para Carlos Roberto Gonçalves, na teoria do risco se subsume a idéia do exercício de

atividade perigosa como fundamento da responsabilidade civil. O exercício de atividade que

possa oferecer algum perigo representa um risco, que o agente assume, de ser obrigado a

ressarcir os danos que venham resultar a terceiros dessa atividade.

No mesmo trilhar de entendimento Roberto Senise Lisboa ao lecionar sobre o tema

ensina que:

A doutrina e a jurisprudência, do final do século XIX, a partir dos estudos de Salleiles e de Josserand, passaram a reconhecer a responsabilidade do administrador da atividade, independentemente da existência de sua culpa ou dolo, pelo risco que ela oferecia às pessoas35.

32 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , volume IV. responsabilidade civil, p. 9 33 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , volume IV. responsabilidade civil, p. 9 34 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , volume IV. responsabilidade civil, p. 9 35 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Obrigações e responsabilidade civil, p. 426

Page 28: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

27

O reconhecimento da responsabilidade objetiva corrobora a tese segundo a qual o

elemento nuclear da responsabilidade é o dano, e não a culpa do autor do ilícito, que somente

despontou a partir da lei aquíliana36.

2.3 NOÇÕES CONCEITUAIS A CERCA DA RESPONSABILIDADE CIVIL

O conceito de Responsabilidade Civil se faz necessário, pois é compreendendo-a como

um todo, que se terá um entendimento mais cristalino da sua importância como forma de

proteção ao bem tutelado objeto deste trabalho, chamado Meio Ambiente.

O vocábulo responsabilidade é oriundo do verbo latino respondere, designando o fato

de ter alguém se constituído garantidor de algo. Tal termo contém, portanto, a raiz latina

spondeo, fórmula pela qual se vinculava, no direito romano, o devedor nos contratos verbais.

Deveras, na era romana a stipulatio requeria o pronunciamento das palavras dare mihi

spondes? Spondeo, para estabelecer uma obrigação a quem assim respondia. A

responsabilidade serviria, portanto para traduzir a posição daquele que não executou o seu

dever37.

Neste mesmo sentido segundo Roberto Senise Lisboa o “vocábulo responsabilidade

indica o dever jurídico de responsabilidade por certo evento futuro e seus efeitos (haftung)”.

No mesmo trilhar de entendimento situa-se o entendimento de Carlos Roberto

Gonçalves onde, a palavra “responsabilidade” origina-se do latim respondere, que encerra a

idéia de segurança ou garantia da restituição ou compensação do bem sacrificado. Teria,

assim, o significado de recomposição, de obrigação de restituir ou ressarcir38.

Apesar de haverem muitas obras que fazem referência acerca do conceito de

Responsabilidade Civil, importante mencionar as palavras de Maria Helena Diniz ao afirmar

36 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Obrigações e responsabilidade civil, p. 426 37 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. responsabilidade civil, p. 35 38 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , volume IV. responsabilidade civil, p. 9

Page 29: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

28

em uma de suas obras que, muitas são as dificuldades que a doutrina tem enfrentado para

conceituar a responsabilidade civil39.

No entanto, contrapondo-se às suas afirmações, mesmo enfatizando sobre a existência

de tais dificuldades, com base em considerações acerca de outros autores, Maria Helena

Diniz, ensina que:

Poder-se-á definir a responsabilidade civil como a aplicação de medidas que obriguem, alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda (responsabilidade subjetiva)40.

Segundo Álvaro Villaça Azevedo, apud Maria Helena Diniz, definição esta que

guarda, em sua estrutura, a idéia da culpa quando se cogita da existência de ilícito e a do risco,

ou seja, da responsabilidade sem culpa41.

Para Roberto Senise Lisboa, a responsabilidade (respondere) é o dever jurídico de

recomposição do dano sofrido, imposto ao seu causador direto ou indireto. Sendo a

responsabilidade constituinte de uma relação obrigacional cujo objetivo é o ressarcimento.

Assim, o termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação, na qual alguma

pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as conseqüências de um ato, fato, ou negócio

danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indenizar.

Desse modo, o estudo da responsabilidade civil abrange todo o conjunto de princípios e

normas que regem a obrigação de indenizar42.

Nestes termos toda vez que um dever jurídico que já existia for violado, e tal violação

resultar em algum dano à outrem se caracterizará a responsabilidade, a qual obriga o autor do

dano à repará-lo na forma em que a Legislação especificar.

39 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. responsabilidade civil, p. 35 40 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. responsabilidade civil, p. 36 41 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. responsabilidade civil, p. 36 42 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . responsabilidade civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 1

Page 30: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

29

Assim, como forma de caracterização do dano e conseqüentemente do dever de

indenizar, Silvio de Salvo Venosa, descreve que a definição de ato ilícito é fornecida pelo art.

186 do Código Civil de 2002.

Código Civil Art. 186 Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Neste dispositivo pode-se visualizar que a conseqüente causa do dano, terá origem em

uma ação ou omissão sendo qualquer delas de forma voluntária, ou por ter o agente

negligenciado algum fato ou ainda por ter sido imprudente em alguma situação que a ele se

impôs.

Já no Artigo 187 subseqüente aquele, pode-se visualizar que o ato ilícito também pode

ser praticado por aquele que, mesmo sendo titular de um direito, ao exercer esse direito,

comete excessos, que ultrapassem os limites que são impostos justamente pelos fins

econômicos e sociais a que se destina referido direito, baseando-se na boa-fé e nos bons

costumes.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Mais adiante no artigo 927 do mesmo diploma legal no capítulo que cuida da

Responsabilidade Civil, a responsabilidade e o dever de reparar um dano, esta convencionada

à ter o agente causado dano a terceiros, mediante o acometimento de um ato ilícito, com o

seguinte preceito:

Artigo 927 – Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único – Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificado em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para os direitos de outrem”.

Nos artigos acima especificados, verificam-se os pressupostos da Responsabilidade

Civil, quais sejam: ação ou omissão; culpa ou dolo do agente; dano e relação de causalidade.

Dispõe ainda no artigo acima identificado, que, a responsabilidade do agente, poderá

decorrer de ato do próprio do agente, como por exemplo, a calúnia e a injuria; também poderá

Page 31: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

30

decorrer de ato de terceiros pelos quais o agente esteja responsável, como por exemplo, seus

filhos, ou aqueles tutelados, os curatelados entre outros. Por conseguinte poderá também o

agente ser responsabilizado por danos que sejam causados por coisas ou ainda por animais

que pertençam a ele, como por exemplo, será o agente responsabilizado caso seu cachorro se

solte e venha a morder alguém.

Seguindo em seus ensinamentos, Silvio de Salvo Venosa leciona que:

Vê-se, portanto, que foi acrescentada a possibilidade de indenização pelo dano exclusivamente moral, como forma apontada pela Constituição de 1988, algo de há muito reclamado pela sociedade e pela doutrina e sistematicamente repelido até então pelos tribunais43.

Assim, a explicação no tocante à Responsabilidade Civil, pode dar-se por meio de seu

resultado ou mesmo conseqüência, que faz geral a posterior reparação do dano.

Como preceitua o Washington de Barros Monteiro, foi assim que a teoria da

responsabilidade evoluiu de um conceito em que se exigia a existência de culpa para a noção

de responsabilidade civil sem culpa, fundamentadamente no risco44.

Antes de encerrar o presente dispositivo, importante ainda, citar as palavras de

Washington de Barros Monteiro onde:

Conclui-se que a teoria da responsabilidade civil visa ao restabelecimento da ordem ou equilíbrio pessoal e social, por meio da reparação dos danos morais e materiais oriundos da ação lesiva a interesse alheio, único meio de cumprir-se a própria finalidade do direito, que é viabilizar a vida em sociedade, dentro do conhecimento ditame de neminem laedere45.

Finalizando o tema completa Washington de Barros Monteiro, que, já que não existe e

nem pode existir teoria permanente sobre a responsabilidade civil, por ser um instituto

dinâmico, que se adapta e se transforma conforme evolui a civilização, é preciso conferir-lhe

flexibilidade suficiente para, em qualquer época, independentemente de novas técnicas, de

43 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . responsabilidade civil, p. 3 44 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações, p. 502 45 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações, p. 502

Page 32: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

31

novas atividades, ser assegurada a sua finalidade de restabelecer o equilíbrio afetado pelo

dano46.

2.4 SUBJETIVIDADE E OBJETIVIDADE NA RESPONSABILIDADE CIVIL

Neste item será dado aporte a elucidar os fatores subjetivos e objetivos da

responsabilidade, itens importantes, já que para tanto, fazem uma distinção entre a

comprovação ou não da culpa do agente ao cometer o ato danoso.

Assim, nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves, conforme fundamento que se dê à

responsabilidade, a culpa será ou não considerada elemento da obrigação de reparar o dano47.

2.4.1 Teoria da responsabilidade subjetiva

Conforme leciona Washington de Barros Monteiro, esta é a teoria clássica e

tradicional da culpa, também chamada teoria da responsabilidade subjetiva, que pressupõe

sempre a existência de culpa (lato sensu), abrangendo o dolo (pleno conhecimento do mal e

direta intenção de o praticar) e a culpa (stricto sensu), violação de um dever que o agente

podia conhecer e acatar, mas que descumpre por negligencia, imprudência ou imperícia48.

No mesmo sentido nos ensina Carlos Roberto Gonçalves ao relatar que, em face da

teoria clássica a culpa era fundamento da responsabilidade. Esta teoria, também chamada de

teoria da culpa, ou “subjetiva”, pressupõe a culpa como fundamento da Responsabilidade

Civil. Em não havendo culpa, não há responsabilidade49.

Nota-se até aqui que, quando falamos de responsabilidade subjetiva, atinamos ao

elemento culpa, onde o agende somente será punido se for constatado a sua culpa em

determinado ato que gerou um dano. Ao contrário como já relatado não há se falar em dano

sem ter tido comprovação da culpa do agente.

46 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações, p. 503 47 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 30 48 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações, p. 503 49 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . responsabilidade civil, p. 30

Page 33: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

32

Lisboa ao afirmar o tipo subjetivo, discorre que “é aquele que estabelece a culpa ou o

dolo do agente”. Mais adiante em sua obra, descreve que o tipo subjetivo civil pode ser

expresso ou implícito, caso o legislador não faça qualquer referência à culpa ou ao dolo, pois

o causador do dano responde mesmo que aja com culpa levíssima50.

Entende-se, portanto que, se a lei não estabelecer de forma expressa que é

desnecessário a discussão a respeito da culpa do agente, será imprescindível a demonstração

da culpa ou do dolo do agente causador do dano, sendo assim, a “hipótese será de

responsabilidade civil subjetiva”.

Por conseguinte a vítima acometida do dano, deverá comprovar que o fato danoso,

ocorreu por culpa do agente, não o fazendo a imputabilidade do dano não será possível, e não

há se falar em responsabilidade subjetiva.

Segundo Washington de Barros Monteiro, a teoria subjetiva desce então a várias

distinções sobre a natureza e extensão da culpa: a) culpa lata, leve e levíssima; b) culpa

contratual e extracontratual ou aquíliana; c) culpa in eligendo e culpa in vigilando; d) culpa in

committendo, in omittendo e in custodiendo; e) culpa in concreto e culpa in abstracto51.

Assim, evidenciada a culpa, em qualquer de seus matizes, haverá obrigação de reparar

o dano causado. Dizem os subjetivistas que essa idéia corresponde rigorosamente a um

sentimento de justiça, porque não se deve responsabilizar quem se portou de maneira

irrepreensível, acima de qualquer censura, a salvo de toda increpação52.

Conforme ensina Washington de Barros Monteiro, “essa é a regra da responsabilidade

civil, como se vê, baseada na culpa (dolo e culpa em sentido estrito”.

2.4.2 Teoria da responsabilidade objetiva

Historicamente, a partir da segunda metade do século XIX foi que a questão da

responsabilidade objetiva tomou corpo e apareceu como um sistema autônomo no campo da

Responsabilidade Civil. Apareceram, então, importantes trabalhos na Itália, na Bélgica e em

50 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. obrigações e responsabilidade civil, p. 433 51 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações, p. 503 52 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações, p. 508

Page 34: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

33

outros países. Mas foi na França que a tese da Responsabilidade objetiva encontrou seu mais

propicio campo doutrinário de expansão e de consolidação53.

Na mesma linha de pensamento de Carlos Roberto Gonçalves, pode-se citar também o

jurista Silvio de Salvo Venosa, que, ao discorrer sobre o tema, afirma; a teoria da

responsabilidade objetiva bem demonstra o avanço da Responsabilidade Civil nos séculos

XIX e XX. Foram repensados e reestruturados muitos dogmas, a partir da noção de que havia

responsabilidade com culpa54.

Partindo para uma linha mais conceitual, discorrendo sobre o tema Washington de

Barros Monteiro arremata,

A lei impõe, em certos casos, a reparação do dano sem que haja culpa do lesante. A responsabilidade nestes casos fundamenta-se na teoria objetiva, porque prescinde da perquirição da subjetividade do agente, independentemente de sua culpa, bastando a existência do dano e do nexo de causalidade entre o prejuízo e a ação lesiva55.

Carlos Roberto Gonçalves ensina que, nos casos de responsabilidade objetiva, não se

exige prova de culpa do agente para que seja obrigado a reparar o dano. Em alguns, ela é

presumida pela lei. Em outros, é de todo prescindível56.

Seguindo em seus ensinamentos Gonçalves assevera que, na responsabilidade objetiva

prescinde-se totalmente da prova da culpa. Ela é reconhecida, como mencionado,

independentemente de culpa. Basta, assim, que haja relação de causalidade entre a ação e o

dano57.

Em sintonia com esses ensinamentos, assevera Lisboa que o tipo objetivo é aquele que

descreve a conduta danosa.

Para Maria Helena Diniz, na responsabilidade objetiva, a atividade que gerou o dano é

licita, mas causou perigo a outrem, de modo que aquele que a exerce, por ter a obrigação de

53 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . responsabilidade civil, p. 31 54 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . responsabilidade civil, p. 11 55 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações, p. 509 – 510 56 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . responsabilidade civil, p. 30 57 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . responsabilidade civil, p. 31

Page 35: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

34

velar para que dela não resulte prejuízo, terá o dever ressarcitório, pelo simples implemento

do nexo causal. A vítima deverá pura e simplesmente demonstrar o nexo de causalidade entre

o dano e a ação que o produziu58.

Para Washington de Barros Monteiro, a responsabilidade objetiva foi desenvolvida em

várias teorias. No entanto, a teoria que melhor explica a responsabilidade objetiva é a do risco

criado, pela qual o dever de reparar o dano surge da atividade normalmente exercida pelo

agente que cria risco a direitos ou interesses alheios59.

Ao discorrer em sua obra a respeito do referido assunto, Washington de Barros

Monteiro ainda Afirma que;

(...) como se verifica, na teoria do risco criado a responsabilidade civil é realmente objetiva, por prescindir de qualquer elemento subjetivo, de qualquer fator anímico; basta a ocorrência de dano ligado casualmente a uma atividade geradora de risco, normalmente exercida pelo agente60.

Um dos exemplos mais recentes de responsabilidade civil objetiva no ordenamento

segundo Venosa é a legislação do Consumidor (Lei n. 8078/9061).

Na mesma linha de entendimento, estão também os ensinamentos de Washington de

Barros Monteiro, dispondo que:

A teoria foi adotada nas relações de consumo, em que, independentemente da culpa do fornecedor de produtos ou de serviços, exsurge sua responsabilidade pela reparação integral dos danos materiais e morais acarretados ao consumidor em razão de defeito no produto ou na prestação do serviço e, ainda, de insuficiente ou inadequada informação sobre sua utilização ou fruição e riscos (Código do Consumidor – Lei n. 8078, de 11-9-1991, arts. 12 e 14)62.

Por outro lado, Carlos Roberto Gonçalves, ensina que a tese da responsabilidade

objetiva, está presente em diversas leis:

58 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 53 59 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações, p. 510 60 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações, p. 510 61 Código de Defesa do Consumidor. 62 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações, p. 513

Page 36: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

35

Em diversas leis esparsas, a tese da responsabilidade objetiva foi sancionada: Lei de Acidentes do Trabalho, Código Brasileiro de Aeronáutica, Lei n. 6.453/77 (que estabelece a responsabilidade do operador de instalação nuclear), Decreto legislativo n. 2.681, de 1912 (que regula a responsabilidade civil das estradas de ferro), Lei n. 6.938/81 (que trata dos danos causados ao meio ambiente), Código de Defesa do Consumidor e outras63.

Significando tais ensinamentos que a responsabilidade objetiva não substitui a

subjetiva, mas fica circunscrita aos seus justos limites.

Reitera-se, contudo, que o principio gravitador da responsabilidade extracontratual no

Código Civil ainda é o da responsabilidade subjetiva, ou seja, responsabilidade com culpa,

pois esta também é a regra geral traduzida no Código Civil, art. 927 Caput.

Não parece, como apregoam que o estatuto fará desaparecer a responsabilidade com

culpa em nosso sistema. A Responsabilidade Objetiva, ou responsabilidade sem culpa,

somente pode ser aplicada quando existe lei expressa que a autorize ou no julgamento do caso

concreto, na forma facultada pelo parágrafo único do art. 927. Portanto, na ausência de lei

expressa, a responsabilidade pelo ato ilícito será subjetiva, pois esta é ainda a regra geral no

direito brasileiro64.

Neste diapasão, entende-se que não pode se ter como regra geral a teoria da

Responsabilidade Objetiva, para tanto esta regra deverá ser utilizada somente nos casos

contemplados pela lei ou sob o novo aspecto enfocado pelo atual Código Civil.

Porém, não obstante a isso, seguindo a corrente doutrinária de Silvio de Salvo Venosa,

entende-se que a matéria sobre Responsabilidade Civil, é viva e também dinâmica na

jurisprudência. A cada momento são desenvolvidas novas teses jurídicas em decorrência das

necessidades sociais que se impõe.

Assim, Silvio de Salvo Venosa, ensina que os novos trabalhos doutrinários da nova

geração de juristas Europeus são prova cabal dessa afirmação. A admissão expressa da

indenização por dano moral na Constituição de 1988 é tema que alargou os decisórios, o que

63 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . responsabilidade civil, p. 32 64 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . responsabilidade civil, p. 12

Page 37: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

36

sobrevela a importância da constante consulta à jurisprudência nesse tema, sobretudo do

Superior Tribunal de Justiça, encarregado de uniformizar a aplicação das leis65.

2.4.3 Teoria da responsabilidade civil e o novo código civil

Encerrando o presente dispositivo, resta fazer um breve comentário acerca do sistema

adotado pelo atual Código Civil em vigência.

Conforme preceitua Washington de Barros Monteiro, o novo Código Civil manteve-se

fiel à teoria subjetiva. Em princípio, para que haja responsabilidade, é preciso que haja culpa;

sem prova desta inexiste obrigação de reparar o dano. Em face, pois da lei civil, a reparação

do dano tem como pressuposto a prática de um ato ilícito. Todo ato ilícito gera para o seu

autor a obrigação de ressarcir o prejuízo causado. É de preceito que ninguém deve causar

lesão a outrem66.

Ressalte-se ainda os ensinamentos de Washington de Barros Monteiro acerca do

direito positivo.

No direito positivo, a subsistência da teoria da culpa é uma realidade, com a qual deve coexistir a teoria objetiva, aplicada esta ultima nas hipóteses em que a desigualdade econômica ou social entre o agente e a vitima traz a necessidade de abolir qualquer indagação sobe a subjetividade do lesante. Ressalte-se que não há razão para que um conceito exclua o outro, a culpa e o risco se completam na busca de seu objetivo comum: a reparação do dano67.

2.5 HIPÓTESES QUE EXCLUEM A RESPONSABILIDADE CIVIL

Adiante neste título, serão abordados alguns dos elementos que podem ensejar a

exclusão de responsabilidade pelo agende, a compreensão deste tema é fundamental, pois em

se verificando a existência de algum dos fatores que afastam a responsabilidade não há se

falar em indenização ou reparação de dano.

65 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . responsabilidade civil, p. 12 - 13 66 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações, p. 516 67 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações, p. 516 - 517

Page 38: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

37

Da mesma forma que, no Direito Penal existem as excludentes de ilicitude, também no

Direito Civil, igualmente se verifica a hipótese deste beneficio, muito embora não venham

todos esculpidos no Código Civil de forma objetiva.

Desta forma a doutrina assevera algumas hipóteses que podem fazer com que a

Responsabilidade Civil do agente seja afastada. Assim leciona Silvio de Salvo Venosa:

São excludentes de responsabilidade, que impedem que se concretize o nexo causal, a culpa exclusiva da vitima, o fato de terceiro, o caso fortuito e a força maior e, no campo contratual, a cláusula de não indenizar. São situações que a doutrina costuma denominar rompimento do nexo causal68.

A seguir serão apresentadas algumas destas excludentes da Responsabilidade acima

relacionadas, onde cada uma será distintamente especificada.

2.5.1 Da culpa exclusiva da vítima

Quando a culpa vem a ser de exclusividade da vitima, irá elidir o dever de indenizar

eis que impedirá o nexo de causalidade.

Esta hipótese segundo Silvio de Salvo Venosa, não consta expressamente do Código

Civil de 1916, mas a doutrina e a jurisprudência, em consonância com a legislação

extravagante, consolidaram essa excludente de responsabilidade69.

Diante disso nota-se que o Legislador no Código Civil de 2002, trouxe mencionado

em seu bojo mais precisamente no artigo 945 uma das hipóteses excludentes da

responsabilidade, a culpa concorrente da vítima.

CC Art. 945 – Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

Assim, concorrendo culposamente para o dano a vitima e seu causador, a

responsabilidade e conseqüentemente a indenização são repartidas. Preceitua Silvio de Salvo

68 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . responsabilidade civil, p. 46 69 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . responsabilidade civil, p. 46

Page 39: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

38

Venosa que, ‘como já apontado, podendo as frações de responsabilidade ser desiguais, de

acordo com a intensidade da culpa. Desse modo, a partilha dos prejuízos pode ser desigual’70.

Do contrário se constatar-se que a culpa foi exclusiva da vítima, aquela relação de

causa e efeito que poderia existir entre o dano e seu causador desaparecerá. Em conseqüência

aquele tido como causador do dano será liberado da obrigação reparadora.

Neste sentido, conforme Carlos Roberto Gonçalves, quando o evento danoso acontece

por culpa exclusiva da vitima, desaparecerá a responsabilidade do agente, onde:

Desaparecendo a responsabilidade do agente. Nesse caso, deixa de existir a relação de causa entre o seu ato e o prejuízo experimentado pela vitima. Pode-se afirmar que, no caso de culpa exclusiva da vitima, o causador do dano não passa de mero instrumento do acidente. Não há liame de causalidade entre o seu ato e o prejuízo da vitima71.

Diniz assevera que se houver culpa exclusiva da vitima, caso em que se exclui

qualquer responsabilidade do causador do dano. A vítima deverá arcar com todos os

prejuízos, pois o agente que causou o dano é apenas um instrumento doa acidente, não se

podendo falar em nexo de causalidade entre a sua ação e a lesão72. Como exemplo Maria

Helena Diniz assevera que, se um individuo tentar suicidar-se, tirando-se sob as rodas de um

veiculo, o motorista estará isento de qualquer composição do dano73.

Fabio Ulhoa Coelho, ao discorrer sobre o tema acerca da excludente de

Responsabilidade, por culpa exclusiva da vitima, assim dispõe:

Quando o dano decorre de culpa exclusiva da vitima, também não se estabelece a relação de causalidade entre ele e o ato ou atividade do demandado. Na verdade, neste caso, é a vítima que causou o dano e não há razões para imputar-se a quem quer que seja a responsabilidade pela indenização dos prejuízos74.

70 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . responsabilidade civil, p. 47 71 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. p. 505 72 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. responsabilidade civil, p.102 73 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. responsabilidade civil, p.102 74 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil. 2. ed. rev.. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 393

Page 40: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

39

Exemplificando o tema e relacionando a culpa exclusiva da vitima ao Código de

defesa do Consumidor, Fabio Ulhoa Coelho assim ensina:

Da mesma forma, se as informações prestadas pelo empresário acerca dos riscos oferecido por seus produtos ou serviços são adequadas e suficientes, e o consumidor sofre danos ou serviços são adequadas e suficientes, e o consumidor sofre danos por ignorar as recomendações de segurança, não haverá acidente de consumo por periculosidade. Descaracteriza-se a relação de causalidade entre os danos e a atividade empresarial do fornecedor porque a culpa pelo acidente é exclusiva da vítima (CDC, art. 12, § 3º, III75)76.

Vencido este titulo referente a culpa exclusiva da vitima, entramos na excludente de

Responsabilidade, por culpa de terceiro.

2.5.2 Fato de terceiro

Segundo Maria Helena Diniz, nesta seção, o problema é saber se o fato de terceiro

pode exonerar o causador do dano do dever de indenizar. Temos que entender por terceiro,

nessa premissa, alguém mais além da vítima e do causador do dano.

Corroborando esse ensinamento, Fabio Ulhoa Coelho, ao dispor sobre esta excludente

do dever de indenizar, acevera que, a culpa de terceiro desfaz o liame de causalidade entre a

conduta do devedor (culposa ou não) e os danos cuja indenização se pleiteia.

Seguindo em seus ensinamentos acerca do presente conteúdo, Fabio Ulhoa Coelho

assim dispõe:

Quando a culpa é do terceiro, exclui-se a responsabilidade do demandado cuja conduta ou atividade não causou o dano. Não se exclui, por evidente, a do terceiro responsável, contra quem a vítima deve voltar-se. Note-se que são independentes as situações do primeiro e do segundo demandado. Aquele por ter responsabilidade subjetiva e este, objetiva, ou vice-versa. Cada qual responderá segundo o direito aplicável77.

75 A culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 76 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 393 77 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 393

Page 41: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

40

Como exemplo de fato de terceiro, Fabio Ulhoa Coelho, dispõe que, o exemplo típico

é o do acidente de transito entre três veículos que trafegam no mesmo sentido por via de dupla

mão de direção.

Dando continuidade ao exemplo acima citado, Fabio Ulhoa Coelho assim leciona:

O motorista do veículo A, que vai à frente, pára para convergir à esquerda em manobra não permitida naquele local. Logo atrás, pára também o veículo B. O motorista do veículo C, que vinha por último, porém, não freia e provoca a colisão (Azevedo, 1994:52). O proprietário do veículo não tem direito de pleitear a indenização contra o motorista do veículo B, embora seu carro tenha sido danificado por este. Não há relação de causalidade entre a conduta do motorista do veículo B e os danos em A, porque a culpa do acidente de transito é de terceiro, isto é, do condutor de C. A infração de trânsito cometida por quem dirigia A, embora represente conduta reprovável e culposa, não poderia ter sido, por ela apenas, causa do evento danoso. Por esta razão, o único responsável pela indenização é o condutor de C, que não brecou o veiculo a tempo de evitar o choque (RT, 607/117)78.

Finalizando o tema acerca da culpa de terceiro, Fabio Ulhoa Coelho ensina que, a

exclusão de responsabilidade objetiva por ato de terceiro é, contudo, ainda controvertida. Não

é pacifico que a excludente tem cabimento só quando a conduta culposa do terceiro é externa

à atividade do demandado. Para tanto, Ulhoa acevera que:

Há decisões judiciais, de um lado, isentando empresas de transporte coletivo urbano da obrigação de indenizar quando o acidente de trânsito tenha sido provocado por terceiros (RT, 799/246) e, de outro, imputando-lhes responsabilidade por danos decorrentes de um crime de estupro, porque a vítima começou a ser perseguida pelos estupradores dentro o ônibus (Couto, 2001, julgado 050), ou de ferimento à bala de passageiro que se encontrava na plataforma de embarque (RT, 795/228)79.

Pouca relação com o objetivo final do trabalho se visualizou neste tópico, porém,

necessário se faz especificar cada um dos itens constantes do título principal de forma

unitária, ensejando uma maior compreensão dos temas relacionados.

78 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 390 79 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 393

Page 42: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

41

2.5.3 Caso fortuito e a força maior

Segundo Fonseca apud, Fabio Ulhoa Coelho, caso fortuito e de força maior são

sinônimos, de maneira que, usar-se-á apenas a primeira expressão onde – é todo evento

desencadeador de danos em que não há culpa de ninguém. Caracteriza-se por sua

imprevisibilidade ou inevitabilidade.

Ainda sobre este tópico encontramos nos ensinamentos de Fabio Ulhoa Coelho ao

lecionar que:

Assim, nem todo fortuito é imprevisível, mas sempre será inevitável. a inevitabilidade do dano pode originar-se da impossibilidade de antecipar-se a ocorrência do evento desencadeador ou da de obstar seus efeito.80

No mesmo sentido, encontramos nos ensinamento de Silvio de Salvo Venosa que:

O conceito de ordem objetiva gira sempre em torno da imprevisibilidade ou inevitabilidade, aliado à ausência de culpa. a imprevisibilidade não é elemento especial a destacar: por vezes, o evento é previsível, mas não inevitável os danos, porque impossível resistir aos acontecimentos. Desse modo desaparecido o nexo causal, não há responsabilidade. a idéia é válida tanto na responsabilidade contratual como na aquiliana. Centra-se no fato de que o prejuízo não é causado pelo fato do agente, mas em razão de acontecimentos que escapam a seu poder.81

O fundamento caracterizador destes acontecimentos, pouco será visualizado, em

matéria ambiental, visto que, os Danos Ambientais, geralmente estão relacionados com a

previsível força do homem contra a natureza, não sendo por isso decorrentes de caso fortuito

ou força maior. Por outro lado, difícil será afastar o dever de indenizar ou de reparar os danos

causados ao Meio Ambiente, visto que, em se falando de Danos Ambientais, opera-se a culpa

objetiva, devendo sempre que haja o mínimo de possibilidade do dano ser causado, serem

então redobrados os cuidados para que isso não aconteça. Muito embora, o que se visualiza é

uma total inércia do homem, quando se fala em proteger o Meio Ambiente, pois preocupado

em aumentar seus lucros, esquece-se que o Meio Ambiente, é também um bem Público, ou

seja, todos tem o dever de cuidar e proteger, e da mesma forma todos podem exigir que seja

80 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 393 81 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . responsabilidade civil, p. 42

Page 43: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

42

cuidado e protegido, devendo sempre serem utilizados métodos que sejam menos gravosos e

que causem o mínimo possível de danos contra este bem, que é Juridicamente Tutelado.

2.5.4 Cláusula de não indenizar

Neste caso, onde a característica será sempre uma cláusula incerta, em um

determinado contrato ou acordo, para em havendo determinado dano não seja operada a

obrigação de indenizar, difícil será relacioná-la com o presente trabalho, pois não é dado para

um ou para outro a possibilidade de eximir-se ou de eximir outros, de danos que por ventura

sejam causados ao Meio Ambiente.

De maneira que, em se tratando de Meio Ambiente, não vislumbra-se uma relação

onde poderia haver um contrato eximindo aquele causador de danos, pois neste caso, a relação

não é pessoal, não podendo operar relação contratual entre homem e natureza.

Assim, no que concerne a existência de cláusula de não indenizar, nos ensina Fabio

Ulhoa Coelho que, “o sujeito pondera seus interesses e manifesta a concordância em arcar

sozinho com os danos que eventualmente vier a sofrer na execução do contrato, renunciando

ao direito de pleitear a indenização contra o outro contratante, mesmo que seja da culpa

deste82.

Da mesma foram que não seria possível existir uma cláusula como esta quando falar-

se de Dano Ambiental, cabe aqui fazer menção a esta cláusula, relacionando-a ao amparo que

é dado pelo CDC para com o próprio consumidor, dispondo sobre a nulidade desta cláusula.

Neste sentido estão os ensinamentos de Fabio Ulhoa Coelho, quando ao lecionar sobre

a cláusula de não indenizar acevera que:

Em termos gerais, por força do principio da autonomia da vontade, qualquer dano pode ser excluído por cláusula contratual. O sujeito pondera seus interesses e manifesta a concordância em arcar sozinho com os danos que eventualmente vier a sofrer na execução do contrato, renunciando ao direito

82 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 395

Page 44: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

43

de pleitear indenização contra o outro contratante, mesmo que seja da culpa deste83.

Em contrapartida, em seus ensinamentos Fabio Ulhoa Coelho, relaciona esta mesma

cláusula de não indenizar com o CDC, desta vez fazendo menção sobre sua nulidade em

determinadas situações:

Numa situação, porém, a lei a considera nula: nas relações de consumo em que o consumidor é pessoa física (CDC, art. 51, I). Nesta hipótese, ainda que tenha sido pactuada entre as partes, a obrigação de indenizar por responsabilidade civil existe. Nos contratos civis empresariais, ou mesmo nos de consumo em que o consumidor é pessoa jurídica (associação, fundação, sociedade microempresária destinatária final do produto etc.), é plenamente válida a exclusão ou limitação de responsabilidade por vontade das partes.84

Assim, mesmo que determinada empresa, ou conglomerado de empresas pactuassem

ou arrendassem certo terreno incluindo no contrato de arrendamento, esta cláusula, para que

não recaísse sobre si o dever de indenizar pelos prováveis danos que causarem, de nada teria

valia esta cláusula, visto que o Meio Ambiente é bem Público, não cabendo a quem quer que

seja, vendê-lo, para que seja desmatado, sem que sejam tomadas as devidas medidas

protetivas, dispostas em Lei, adequando-se para o devido reflorestamento, ou outro meio

eficaz a suprir a falta que aquele bem danificado fará, projetando desta forma a o

desenvolvimento sustentável.

O presente capítulo visa um melhor esclarecimento acerca da Responsabilidade Civil,

onde sem a devida clarividência sobre o tema, não se conseguiria chegar ao objetivo final do

trabalho acerca da Responsabilidade Civil que a Pessoa Jurídica tem em conseqüência de

Danos Ambientais. Assim, concluído o presente avançamos ao próximo não menos

importante para nossa pesquisa.

83 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 395 84 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 395

Page 45: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

3 PESSOA JURÍDICA

Neste capítulo, serão expostos alguns aspectos relativos a Pessoa Jurídica, mais

precisamente como forma de enriquecer o conteúdo, abordando aspectos à determinar como

esta instituição é tratada no Brasil.

3.1 SURGIMENTO DA PESSOA JURÍDICA

Segundo pesquisa doutrinaria muitos são os interesses, tarefas e empreendimentos que

os indivíduos buscam desenvolver e realizar, mas que, porém, são difíceis ou impossíveis de

serem alcançados por uma única pessoa ou por apenas grupos reduzidos de pessoas. Isso por

que, tais tarefas como coloca Silvio de Salvo Venosa, “ultrapassam, as forças do próprio

individuo” 85.

Assim, para que esses indivíduos possam alcançar os objetivos almejados, os quais

seriam impossíveis de serem atingidos como já comentado apenas por um único indivíduo ou

reduzido numero deles, é que surge a Pessoa Jurídica.

Neste sentido, para que melhor se entenda a necessidade do surgimento da Pessoa

Jurídica, importante destacar os ensinamentos de Silvio de Salvo Venosa ao ensinar que:

Para a realização desses interesses, atribui-se capacidade a um grupo de pessoas ou a um patrimônio, para que eles, superando a enfermidade da vida humana e transpondo-se acanhados limites das possibilidades da pessoa natural, possam atingir determinados objetivos86.

Seguindo nos ensinamentos de Silvio de Salvo Venosa, pode-se entender que:

(...) assim como se atribui capacidade à chamada pessoa natural – o indivíduo –, atribui-se personalidade a esse grupo de pessoas ou a um

85 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 213 86 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 213

Page 46: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

45

conjunto patrimonial criado em busca de um fim. Assim como se atribui à pessoa humana capacidade jurídica, da mesma forma se atribui capacidade a essas entidades que se distanciam da pessoa individual para formar o conceito de Pessoa Jurídica87.

Na mesma linha de entendimento, pode-se vislumbrar os ensinamento de Arnold Wald

apud Carlos Roberto Gonçalves, ao ensinar que:

A razão de ser, portanto, da pessoa jurídica está na necessidade ou conveniência de os indivíduos unirem esforços e utilizarem recursos coletivos para a realização de objetivos comuns, que transcendem as possibilidades individuais. Essa constatação motivou a organização de pessoas e bens, com o reconhecimento do direito, que atribui personalidade ao grupo, distinta da de cada um de seus membros, passando este a atuar na vida jurídica com personalidade própria88.

Como não podia deixar de ser, a Igreja ente de grande força, como em muitos outros

ramos diretamente ligados a esta Ciência que é o Direito, segundo leciona Fabio Ulhoa

Coelho, foi uma das entidades que deu causa ao Surgimento da Pessoa Jurídica frente as

necessidades que se visualizaram na Idade Média, para que se pudesse melhor organizar a

Igreja89.

Para se entender com mais exatidão a necessidade do surgimento da Pessoa Jurídica

justamente para que se pudesse melhor organizar interesses ligados a Igreja no período da

Idade Média, necessário destacar as palavras de Fabio Ulhoa Coelho, ao ensinar que:

Os alicerces da teoria da pessoa jurídica encontram-se na Idade Média, em noções destinadas a atender às necessidades de organização da Igreja Católica e preservação de seu patrimônio. Naquele tempo, o direito canônico separava a Igreja, como corporação, de seus membros (os cléricos), afirmando que aquela tem existência permanente, que transcende a vida transitória dos padres e bispos. Também por ser a Igreja uma corporação independente de seus integrantes, nem todos podem falar legitimamente por ela, mas dependendo do assunto, apenas os membros de determinada hierarquia, consultando previamente, por vezes, alguns dos seus pares. Outra importante implicação do reconhecimento da Igreja como uma corporação inconfundível com os seus integrantes era pertinente aos bens. A afirmação da vida da Igreja em separado leva à distinção entre o patrimônio dela e o de

87 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 213 88 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. parte geral. v1. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 182 89 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 231

Page 47: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

46

cada membro do clero. Falecendo um padre ou bispo, os bens em sua posse não podiam ser transferidos a sucessores por pertencerem à corporação90.

Assim, pois no decorrer do período, conforme as relações de comércio evoluíam, o

próprio sistema, pela influência das grandes companhias organizadas que serviam para a

exploração e colonização que adentravam rumo ao novo mundo, foi trazendo consigo a

necessidade de inovações, visto que, segundo Fabio Ulhoa Coelho, estas companhias também

eram consideradas entidades autônomas em relação aos fundadores e investidores que nelas

aportavam capital91.

Porém, conforme leciona Fabio Ulhoa Coelho, havia uma diferença significativa entre

a separação patrimonial das empresas da Era Moderna e a noção de corporação do direito

canônico medieval92. Fato este que teria interferido na imediata transposição da noção

corporativa para as sociedades mercantis.

Essa noção de corporação foi que deu causa ao conceito de Pessoa Jurídica, tendo tido

lugar apenas na segunda metade do século XIX, conforme ensina Fabio Ulhoa Coelho:

Enquanto a Igreja era vista como tendo existência transcendental à vida de seus membros, as sociedades comercias geralmente se ligavam aos sócios (Lopes, 2000: 108/110 e 411/418). Em outros termos, a generalização das noções de corporação (do direito canônico) e de separação patrimonial (do direito comercial) de que resultou o conceito de Pessoa Jurídica tem lugar apenas na segunda metade do século XIX, em reflexões desenvolvidas principalmente por doutrinadores alemães93.

Existem divergência de pensamentos acerca da real fixação da existência da Pessoa

Jurídica, conforme leciona Fabio Ulhoa Coelho, discorrendo sobre o tema; até meados do

século XX ainda se encontravam autores afirmando a existência por assim dizer “real” da

Pessoa Jurídica. Para eles, a lei não teria propriamente criado um conceito para melhor tratar

os conflitos de interesses entre os seres humanos, valendo-se da noção de “pessoa”, mas

90 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 231 91 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 232 92 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 232 93 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 232

Page 48: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

47

limitado a reconhecer algo que, a exemplo dos homens e mulheres, teria uma existência

anterior94.

Nesta concepção nota-se que no século XX havia autores que acreditavam existir um

ente Pessoa Jurídica, muito antes, assim como já existiam homens e mulheres, porém só na

entrada deste século é que a lei teria o interesse de reconhecê-la.

Definindo o tema, vislumbra-se que a Pessoa Jurídica tendo ou não existência anterior,

teve sua ascensão justamente no século XX, conforme ensinamentos de Silvio de Salvo

Venosa, onde as atividades da sociedade deixaram de ser desenvolvidas pelas pessoas

naturais, tomando lugar a Pessoa Jurídica destacando-se sua importância:

O século XX podemos dizer, foi o século da pessoa jurídica. Desde então, pouquíssimas atividades da sociedade são desempenhadas pelo homem como pessoa natural. A pessoa jurídica, da mais singela à mais complexa, interfere e imiscui-se na vida de cada um, até mesmo na vida privada. Sentimos um crescimento exacerbado da importância das Pessoas Jurídicas95.

E, finalizando o presente conteúdo dando consistência ao acima descrito Antônio

Chaves apud Silvio de Salvo Venosa, ensina que o século XX foi realmente o marco inicial

das Pessoas Jurídica, ao comentar que; “vivemos o século das pessoas jurídicas, se não são

elas que vivem o nosso século” 96.

Antes de se iniciar o conteúdo que traz o conceito de Pessoa Jurídica, cumpre fazer um

breve relato frente às imperfeições que se geraram ainda no inicio do surgimento de Pessoa

Jurídica, onde já visualizava-se a interferência do homem de maneira negativa, a fim de

desviar os fins a que se destinou a criação da Pessoa Jurídica.

De maneira que, com o surgimento da Pessoa Jurídica, o homem mais uma vez

convencendo que a habitualidade para a pratica de atos contrários a conduta social vem desde

os primórdios da humanidade, viu-se desafiado por algo totalmente novo, o qual ainda não

teria sido desviado à pratica de atos ilegais.

94 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 232 95 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 218 96 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 220

Page 49: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

48

A fim de acompanhar o intenso desenvolvimento que se deu com o surgimento da

Pessoa Jurídica, o Legislador viu-se na necessidade de estar em constante aperfeiçoamento

das disciplinas da ordem das Pessoas Jurídicas. Neste sentido são os ensinamentos de Silvio

de Salvo Venosa:

A legislação não acompanha as mutações constantes e rápidas que ocorrem no âmbito das pessoas jurídicas. Sente-se perfeitamente, dentro de cada ordem de pessoas jurídicas, necessidade permanente de o legislador, a cada momento, estar a disciplinar um novo fenômeno que surge tanto no campo dos atos lícitos como no campo dos atos ilícitos. Sim, porque, se a pessoa jurídica é mola propulsora para a economia, também pode servir de instrumento para atos contrários à Moral e ao Direito. São os chamados crimes de “colarinho branco” praticados por pessoas jurídicas; seus danos são tão grandes ou até maiores que os crimes praticados por assaltantes à mão armada; são transgressões da lei que se mostram de forma incolor, mas que ocasionam, ou podem ocasionar, ruínas financeiras profundas na economia não só da pessoa jurídica como também do próprio Estado, que as têm como que sob seu manto protetor97.

Desta forma, encerrando o tema acerca do surgimento da Pessoa Jurídica, importante

destacar as palavras de Carlos Roberto Gonçalves, ao lecionar que; “a Pessoa Jurídica é,

portanto, proveniente desse fenômeno histórico e social. Consiste num conjunto de pessoas ou

de bens, dotado de personalidade jurídica própria e constituído na forma da lei, para a

consecução de fins comuns” 98.

3.2 CONCEITO E DENOMINAÇÃO DOUTRINÁRIA

Tendo em vista as noções acerca do surgimento da Pessoa Jurídica, importante se faz

neste tópico discorrer sobre o seu conceito frente as correntes doutrinarias atuais. Nesse

sentido leciona Carlos Roberto Gonçalves:

Como já exposto anteriormente, o homem é um ser eminentemente social. Não vive isolado, mas em grupos. A associação é inerente à sua natureza. Nem sempre as necessidades e os interesses do individuo podem ser atendidos sem a participação e cooperação de outras pessoas, em razão das limitações individuais. Desde a unidade tribal dos tempos primitivos até os

97 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 219 98 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , parte geral, p. 182

Page 50: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

49

tempos modernos essa necessidade de se agrupar para atingir uma finalidade, para alcançar um objetivo ou ideal comum, tem sido observada99.

Assim, viu-se a necessidade pelo direito de disciplinar essas unidades coletivas que

foram se aprimorando com o passar dos tempos pela corrente evolução da história. Para que

desta foram fosse possível a participação da vida jurídica como sujeitos de direito, da mesma

foram que o são as pessoas naturais, que para o fim a que se destinam seriam dotadas de

personalidade própria.

Para fins de conceituação a cerca da Pessoa Jurídica, pode-se citar as palavras de

Carlos Roberto Gonçalves ao ensinar que; (...) “pode-se afirmar, pois, que pessoas jurídicas

são entidades a que a lei confere personalidade, capacitando-as a serem sujeitos de direitos e

obrigações” 100.

Maria Helena Diniz, aponta alguns dos desígnios dados à Pessoa Jurídica, em outros

países, assim disposto; (...) pessoas jurídicas, designadas como pessoas morais (no direito

francês), como pessoas coletivas (no direito português), como pessoas civis, místicas,

fictícias, abstratas, intelectuais, de existência ideal, universais, compostas, universidades de

pessoas e de bens101.

A cerca da designação de Pessoa Jurídica, Maria Helena Diniz ainda ensina que;

(...) sem ser perfeita, essa designação indica como vivem e agem essas agremiações, acentuando o ambiente jurídico que possibilita sua existência como sujeitos de direito, tornando-se por estas razões, tradicional102.

Finalizando Maria Helena Diniz conceitua Pessoa Jurídica como sendo:

(...) a unidade de pessoas naturais ou de patrimônios, que visa à consecução de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações103.

99 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , parte geral, p. 181 100 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 182 101 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil. 24. ed. v. 1 São Paulo: Saraiva, 2007, p. 228 102 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 229 103 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 229

Page 51: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

50

De outro lado, para Fabio Ulhoa Coelho, a Pessoa Jurídica é o sujeito de direito

personificado não-humano104.

Como visto, a denominação Pessoa Jurídica foi adotada pelo Código Civil. Desta

forma, tendo em vista tais apontamentos conforme ensinamentos de Maria Helena Diniz,

pode-se vislumbrar que tal denominação foi bem empregada ao comparar-se com outras

denominações que são adotadas pelas demais ordens de direito:

De todas as denominações dadas a esse ente, a de “pessoa jurídica” é a menos imperfeita. P. ex., o termo “pessoa moral” tem pouca força de expressão, por não encontrar sua razão de ordem no conteúdo da moralidade que a anima; o vocábulo “pessoa coletiva” é inaceitável por se impressionar apenas com a aparência externa, incidente no fato de se originar de uma coletividade de pessoas, excluindo de sua abrangência as pessoas constituídas de modo diverso, p. ex., as fundações, criadas mediante uma destinação patrimonial a um dado fim105.

Neste mesmo sentido estão os ensinamentos de Silvio de Salvo Venosa, ao lecionar:

Não é unânime na doutrina a nas várias legislações a denominação pessoa jurídica. Essa é a denominação de nosso Código e também do Código alemão. Na França, usa-se da expressão “pessoas morais”. Na verdade, a denominação por nós utilizada tem a vantagem de realçar o aspecto jurídico, o que nos interessa. “Pessoa Coletiva” é como denomina o Direito português, realçando mais i aspecto externo do instituto; enfatiza as pessoas jurídicas constituídas de indivíduos, mas deixa de fora aquelas pessoas jurídicas constituídas fundamentalmente de patrimônio, que são as fundações106.

Solidificando o entendimento de Maria Helena Diniz, ao afirmar que a denominação

Pessoa Jurídica adotada pelo Código Civil é a menos imperfeita, também está o entendimento

de Silvio de Salvo Venosa ao ensinar que:

Entretanto, pessoa jurídica é a expressão mais aceitável, a denominação menos imperfeita, pois é a mais tradicional na doutrina. Se, de fato, sua criação é obra do Direito, surge da abstração a que o Direito atribui personalidade; se é somente na esfera jurídica que é tomada em

104 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 233 105 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 229 106 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 220

Page 52: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

51

consideração, há que ter a terminologia tradicional como a mais apropriada107.

Encerrando o presente conteúdo onde procurou-se fazer um breve relato acerca do

conceito de Pessoa Jurídica, e sua denominação a luz do direito brasileiro, importante se

entender alguns dos requisitos necessários para que se possa constituir Pessoa Jurídica.

3.3 REQUISITOS NECESSÁRIOS A CONSTITUIÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

Neste titulo será alisado as medidas necessárias para constituir-se pessoa jurídica.

Silvio de Salvo Venosa anota em seus ensinamentos que, no antigo Direito Romano a criação

da Pessoa Jurídica era livre, enquanto que, nos atuais tempos são impostos requisitos que a lei

determina para a constituição da Pessoa Jurídica, a saber:

No antigo Direito Romano, a criação da pessoa jurídica era livre. Modernamente, não basta a simples vontade para sua constituição. A lei impõe certos requisitos a serem obedecidos, mais ou menos complexos, dependendo da modalidade, para que a Pessoa Jurídica possa ser considerada regular e esteja apta a agir com todas as suas prerrogativas na vida jurídica. Regulamentam-se, também, os poderes e direitos dos diretores e de seus membros integrantes. A forma de constituição e de dissolução da pessoa jurídica e o destino de seus bens igualmente devem ser disciplinados108.

Conforme ensina Silvio de Salvo Venosa, existem três requisitos básicos para que se

possa constituir Pessoa Jurídica, a saber: vontade humana criadora, observância das condições

legais para sua formação e finalidade licita.

Contrapondo-se a esse entendimento, Carlos Roberto Gonçalves, em sua obra Direito

Civil Brasileiro Parte Geral, inicialmente aponta os elementos material e formal para a

constituição da Pessoa Jurídica. Posteriormente ensina de forma distinta que são quatro e não

três os requisitos para a constituição da Pessoa Jurídica, assim dispondo:

A formação da pessoa jurídica exige uma pluralidade de pessoas ou de bens e uma finalidade especifica (elementos de ordem material), bem como um ato constitutivo e respectivo registro no órgão competente (elemento formal). Pode-se dizer que são quatro os requisitos para a constituição da

107 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 220 108 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 218

Page 53: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

52

pessoa jurídica: a) vontade humana criadora (intenção de cria uma entidade distinta da de seus membros); b) elaboração do ato constitutivo (estatuto ou contrato social); c) registro do ato constitutivo no órgão competente; d) liceidade de seu objetivo109.

Os requisitos referentes a vontade de se criar e ao fim licito que deve se objetivar a

Pessoa Jurídica, se igualam nos ensinamentos apontados por Maria Helena Diniz e Carlos

Roberto Gonçalves.

Assim, entende-se que, nenhum dos requisitos são irregulares, onde para tornar mais

completo o objeto deste estudo, reunir-se-á todos os requisitos apontados por ambos os

doutrinadores, para descrever cada qual apontando o seu fim especifico.

Quanto a vontade humana, segundo ensina Carlos Roberto Gonçalves, (...)

materializa-se no ato de constituição, que deve ser escrito. São necessárias duas ou mais

pessoas com vontades convergentes, ligadas por uma intenção comum (affectio societatis)110.

Para Silvio de Salvo Venosa, “no que diz respeito à vontade humana criadora, o

animus de constituir corpo social diferente dos membros integrantes é fundamental. Existe

uma pluralidade inicial de membros que, por sua vontade, se transforma numa unidade, na

pessoa jurídica que futuramente passará a existir como ente autônomo. O momento em que

passa a existir o vinculo de unidade caracteriza precisamente o momento da constituição da

pessoa jurídica” 111.

Tratando-se do fim licito á que deve ser destinada a atividade do novo ente, assim

leciona Silvio de Salvo Venosa:

Finalmente, a atividade do novo ente deve dirigir-se para um fim licito. Não se adapta à ordem jurídica a criação de uma pessoa que não tenha finalidade licita. Não pode a ordem jurídica admitir que uma figura criada com seu beneplácito contra ela atente. Se a pessoa jurídica, em sua atividade, desviar-se das finalidades licitas, o ordenamento tem meios para cercear e extinguir sua personalidade112.

109 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 186 110 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 186 111 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 221 112 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 222

Page 54: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

53

Carlos Roberto Gonçalves no que tange à licitude da Pessoa Jurídica, dispõe em seus

ensinamentos acrescentando à alguns dos diferentes tipos de Pessoa Jurídica que podem ser

criadas, assim dispondo:

A liceidade de seu objetivo é indispensável para a formação da pessoa jurídica. Deve ele ser, também, determinado e possível. Nas sociedades em geral, civis ou comerciais, o objetivo é o lucro pelo exercício da atividade. Nas fundações os fins só podem ser religiosos, morais, culturais ou de assistência (CC, art. 62, parágrafo único). E nas associações, de fins não econômicos (art. 53), os objetivos colimados são de natureza cultural, educacional, esportiva, religiosa, filantrópica, recreativa, moral etc. objetivos ilícitos ou nocivos constituem causa de extinção da pessoa jurídica (art. 69)113

Quanto ao ato constitutivo, para Carlos Roberto Gonçalves:

(...) é requisito formal exigido pela lei e se denomina estatuto, em se tratando de associações, que não têm fins lucrativos; contrato social, no caso de sociedades, simples ou empresárias, antigamente denominadas civis e comerciais; e escritura pública ou testamento, em se tratando de fundações (CC, art. 62)114.

Silvio de Salvo Venosa, usando palavras distintas dá o mesmo sentido no que diz

respeito ao ato constitutivo da Pessoa Jurídica, ao lecionar:

Para que essa pessoa jurídica possa gozar de suas prerrogativas na vida civil, cumpre observar o segundo requisito, qual seja, a observância das determinações legais. É a lei que diz a quais requisitos a vontade preexistente deve obedecer, se tal manifestação pode ser efetivada por documento particular ou se será exigido o documento público, por exemplo. É a que estipula que determinadas pessoas jurídicas, para certas finalidades, só podem existir mediante prévia autorização do Estado. É o ordenamento que regula a inscrição no Registro Público, como condição de existência legal da pessoa jurídica. É, pois, por força da lei que aquela vontade se materializa definitivamente num corpo coletivo115.

Por fim, temos os ensinamentos de Carlos Roberto Gonçalves, a cerca do registro do

ato constitutivo, onde, tais ensinamentos, corroboram com os dizeres de Venosa, assim

disposto:

113 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 187 114 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 186 115 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 221

Page 55: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

54

O ato constitutivo deve ser levado a registro para que comece, então, a existência legal da pessoa jurídica de direito privado (CC, art. 45). Antes do registro, não passará de mera “sociedade de fato” ou “sociedade não personificada’, equiparada por alguns ao nascituro, que já foi concebido mas que só adquirirá personalidade se nascer com vida. No caso da pessoa jurídica, se o seu ato constitutivo for registrado116.

Como já mencionado, nem todos os itens relacionados aos requisitos necessários a

constituição da Pessoa Jurídica, estão em consonância nos entendimentos dos doutrinadores

que ora são citados.

Desta forma, vislumbra-se que, para alguns a simples manifestação de vontade de se

constituir Pessoa Jurídica, sem o devido registro no órgão público, não serve para torna - lá

um ente reconhecido pelo Estado, sendo necessário que se faça o devido registro junto ao

órgão regulamentador, para que assim, essa manifestação de constituição tenha

reconhecimento e validade na esfera jurídica.

Sendo o presente conteúdo, um breve relato acerca dos requisitos necessários para que

se possa Constituir a Pessoa Jurídica, passa-se ao próximo item, que versa sobre a natureza

jurídica deste ente.

3.4 NATUREZA JURÍDICA

Segundo afirma Carlos Roberto Gonçalves, “malgrado subsistiam teorias que negavam

a existência da Pessoa Jurídica (teorias negativas), não aceitando possa uma associação

formada por um grupo de indivíduos ter personalidade própria, outras, em maior número

(teorias afirmativistas), procuram explicar esse fenômeno pelo qual um grupo de pessoas

passa a constituir uma unidade orgânica, com individualidade própria reconhecida pelo

Estado e distinta das pessoas que a compõem”.

Na mesma linha de entendimento, Silvio de Salvo Venosa ensina que, é por demais

polêmica a conceituação da natureza da pessoa jurídica, dela tendo-se ocupado juristas de

todas as épocas e de todos os campos do direito117.

116 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 187 117 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 222

Page 56: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

55

Ainda em seus ensinamentos, Silvio de Salvo Venosa aduz que:

(...) com freqüência o problema dessa conceituação vê-se banhado por paixões políticas e religiosas e, de qualquer modo, sobre a matéria formou-se uma literatura vastíssima e complexa, cujas teorias se interpretaram e se mesclam, num emaranhado de posições sociológicas e filosóficas118.

Entende-se, portanto que existem mais de uma teoria que foram elaboradas no intuito

de conceituar a natureza da Pessoa Jurídica.

Assim, contrabalanceando os ensinamentos de alguns doutrinadores, encontrou-se na

doutrina de Maria Helena Diniz, conteúdo sucinto para explicar o tema referente à natureza da

Pessoa Jurídica, pois apesar de confirmar a existência de mais de uma teoria elaboradas no

intento de justificar e esclarecer a sua existência, e a razão de sua capacidade de direito, Diniz,

entende ser possível agrupar as teorias existentes nas doutrinas, em quatro categorias: a) teoria

da ficção legal e da doutrina; b) teoria da equiparação; c) teoria orgânica; d) teoria da

realidade das instituições jurídicas. Fazendo-se à seguir um breve relato acerca de cada uma

delas.

3.4.1 Teoria da ficção legal

A teoria da ficção legal assim dita teoria de Savigny, segundo Maria Helena Diniz, ao

entender que só o homem é capaz de ser sujeito de direito, conclui que a pessoa jurídica é uma

ficção legal, ou seja, uma criação artificial da lei para exercer direitos patrimoniais e facilitar a

função de certas entidades.

Na mesma linha de entendimento, segundo Carlos Roberto Gonçalves, a Pessoa

Jurídica constitui uma criação artificial da lei, um ente fictício, pois somente a pessoa natural

pode ser sujeito da relação jurídica e titular de direitos subjetivos. Desse modo, só entendida

como uma ficção pode essa capacidade ser estendida às Pessoas Jurídicas, para fins

patrimoniais119.

118 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 222 119 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 183

Page 57: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

56

Carlos Roberto Gonçalves ensina ainda que a Pessoa Jurídica, concebida dessa forma,

não passa de simples conceito, destinado a justificar a atribuição de certos direitos a um grupo

de pessoas físicas. Constrói-se, desse modo, uma ficção jurídica, uma abstração que, diversa

da realidade, assim é considerada pelo ordenamento jurídico120.

Tais perspectivas, não condizem com a atual realidade, pois dotada de direitos e

obrigações, a Pessoa Jurídica atualmente, por exemplo, demanda e é demandada perante os

tribunais, arcando conseqüentemente pelos atos que por ela foram praticados, tanto quanto por

danos que repercutam civil ou criminalmente na esfera jurídica. Da mesma forma, aquele que

praticar atos tidos como ilegais contra a Pessoa Jurídica, por ela será processado, e eventual

condenação ira incorporar ao patrimônio desta Pessoa Jurídica e não dos membros que a

compõe.

De maneira que, muito se passou, para que se fossem atribuídas medidas mais

drásticas, para as Pessoas Jurídicas que causarem dano ao patrimônio alheio. Deixando de se

achar que por ser ente criado por pessoas, e não pessoas, poderia se escusar dos rigores da lei.

Talvez, alguns por acharem que nada aconteceria, ou que o delito seria compensado por uma

pequena sanção em foram de multa, acabaram extrapolando na forma de como se utilizam da

Pessoa Jurídica, havendo a necessidade de sanções mais severas para que os atos excessivos

praticados contra o meio ambiente, (cita-se este, pois é objeto deste trabalho), diminuíssem, e

fossem imediatamente compensados tão logo seja constatado irregularidades na sua

utilização.

Assim, a doutrina da ficção legal, é alvo de muitas critica, porém a que mais chama a

atenção segundo os ensinamentos de Silvio de Salvo Venosa, é a que refer-se à personalidade

do próprio Estado por se contradizer a própria teoria, nos seguintes termos:

Uma das mais sérias críticas feitas a essa teoria refer-se à personalidade do próprio Estado, como sujeito de direito, isto é, como sujeito capaz de possuir, adquirir e transferir bens, de estar em juízo etc. Se o próprio Estado é uma pessoa jurídica, é de se perguntar quem o investe de tal capacidade. Respondem os adeptos dessa corrente que, como o Estado é necessidade

120 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 184

Page 58: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

57

primária e fundamental, tem existência natural. Contudo, isso não afasta a contradição da teoria121.

Na mesma esfera de pensamento, noticiando não serem mais aceitas nos atuais tempos as

teorias da ficção, é de citar os ensinamentos Carlos Roberto Gonçalves ao descrever que:

As teorias da ficção não são, hoje, aceitas. A crítica que se lhes faz é a de que não explicam a existência do Estado como pessoa jurídica. Dizer-se que o Estado é uma ficção legal ou doutrinária é o mesmo que dizer que o direito, que dele emana, também o é. Tudo quanto se encontre na esfera jurídica seria, portanto, uma ficção, inclusive a própria teoria da pessoa jurídica122.

Assim, neste pensar o defeito reside como objeta Francesco Ferrara apud Silvio de

Salvo Venosa, de considerar como ficção o que é uma configuração técnica e que, por isso

mesmo, tem realidade jurídica, como qualquer outra figura ou instituto do mundo jurídico123.

3.4.2 Teoria da ficção doutrinária

A teoria da ficção doutrinária caminha lado a lado por assim dizer com a teoria da

ficção legal, sendo aquela uma variação desta, onde autores, segundo Carlos Roberto

Gonçalves, entre eles Vareilles-Sommières, afirmam que a pessoa jurídica não tem existência

real, mas apenas intelectual, ou seja, na inteligência dos juristas, sendo assim uma mera ficção

criada pela doutrina124.

Da mesma forma Maria Helena Diniz, ensina que varia um pouco o entendimento

entre ficção legal e ficção doutrinária, pois afirma que a pessoa jurídica apenas tem existência

na inteligência dos juristas, apresentando-se como mera ficção criada pela doutrina125.

Porém, ao se comparar uma e outra, teoria legal e doutrinária, constata-se que ambas

não possuem sentido a dar razão ao significado atual acerca da natureza da Pessoa Jurídica.

121 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 223 122 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , parte geral, p. 184 123 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 223 124 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 184 125125 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 272

Page 59: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

58

Sendo que tais teorias devem ser tidas como existentes, mas não válidas ou não aceitas, frente

aos novos tempos e ideais que atualmente se vivenciam.

3.5 DA CAPACIDADE E REPRESENTAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

Neste título será abordado, um pouco do aspecto que distingue a pessoa jurídica da

pessoa natural.

Para uma abordagem mais especifica, importante de inicio colher-se os ensinamentos

de Silvio de Salvo Venosa, o qual vem sendo abordado em grande parte do conteúdo desta

pesquisa, e, para tanto sobre a referida diferença entre os entes, – Pessoa Jurídica e Natural –,

nos ensina citando o antigo Código Civil e o Código em Vigência:

Sob o aspecto do exercício dos direitos é que ressaltar a diferença com as pessoas naturais. Não podendo a pessoa jurídica agir senão através do homem, denominador comum de todas as coisas no Direito, esse ente corporificado pela norma deve, em cada caso, manifestar-se pela vontade transmitida por alguém. A tal respeito dizia o art. 17 do Código Civil anterior que “as pessoas jurídicas serão representadas, ativa e passivamente, nos atos judiciais e extrajudiciais, por quem os respectivos estatutos designarem, ou, não o designando, pelos seus diretores”. O atual Código estatui que, “se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões se tomarão por maioria de votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso” (art. 48)126.

Ressalvados esses entendimentos, verifica-se segundo ensinamentos de Maria Helena

Diniz, os quais enveredam no mesmo trilhar de Silvio de Salvo Venosa, que a capacidade da

pessoa jurídica decorre logicamente da personalidade que a ordem jurídica lhe reconhece por

ocasião de seu registro. Essa capacidade estende-se a todos os campos do direito127.

Como já relatado, na mesma seara de entendimento situa-se Silvio de Salvo Venosa,

que ao discorrer sobre o tema acrescenta:

Se, por um lado, a capacidade para a pessoa natural é plena, a capacidade da pessoa jurídica é limitada à finalidade para a qual foi criada, abrangendo

126 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 228 127 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 273

Page 60: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

59

também aqueles atos que direta ou indiretamente servem ao propósito de sua existência e finalidade128.

Como se pode notar, a pessoa jurídica, diferente da pessoa natural, está limitada a um

determinado objetivo pelo qual foi criada. Podendo, no entanto, tal objetivo ou objetivos

serem alongados, onde será feita uma retificação quando possível no próprio estatuto ou

contrato social, ou qualquer que seja o documento legal que serviu para constituir a Pessoa

Jurídica. Este alongamento pode ser feito para se acrescentar ou modificar o ramo de

atividade a que se destina a Pessoa Jurídica, como p.ex. uma oficina de lataria e pintura que

resolve além de concertar veículos passar a revendê-los, deverá parra tanto, acrescentar no

ramo de atividade o comércio de compra e venda de veículos e afins, ou qualquer que seja a

natureza desta operação junto ao órgão competente.

No entanto, como ensina Silvio de Salvo Venosa, em mais uma de suas lições; “a

pessoa jurídica tem sua esfera de atuação ampla, não se limitando sua atividade tão-somente à

esfera patrimonial. Ao ganhar vida, a pessoa jurídica recebe denominação, domicilio e

nacionalidade, todos atributos da personalidade”129.

Diferente não é o pensar de Maria Helena Diniz, ao afirmar que a Pessoa Jurídica

“pode exercer todos os direitos subjetivos, não se limitando à esfera patrimonial. Tem direito

à identificação, sendo dotada de uma denominação, de um domicilio e de uma

nacionalidade”130.

Tais ensinamentos demonstram que apesar de não possuírem capacidade ilimitada e

irrestrita, as Pessoas Jurídicas conseguem atingir no que concerne a sua capacidade de

exercícios, grande parte do que se atinge pelas pessoas naturais.

Entretanto como não podia deixar de ser, o maior diferencial de capacidade entre estes

entes, é justamente o fato como nos ensina Silvio de Salvo Venosa, de a pessoa jurídica sofrer

limitações ditadas por sua própria natureza, não podendo assim se equiparar à pessoa física ou

natural e não podendo inserir-se nos direitos de família e em outros direitos exclusivos da

pessoa natural, como ser humano.

128 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 227 129 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 227 130 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 274

Page 61: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

60

Assim, ainda segundo Silvio de Salvo Venosa, enquanto a capacidade da pessoa

natural pode ser ilimitada e irrestrita, a capacidade da pessoa jurídica é sempre limitada a sua

própria órbita. Doutro lado, ainda segundo os ensinamentos de Venosa, verifica-se que essa

limitação não pode ser tal que nulifique as finalidades para as quais a pessoa foi criada, nem

ser encarada de forma a fixar-se a atividade da pessoa jurídica apenas para sua finalidade.

No que tange a parte representativa da Pessoa Jurídica, colhe-se dos ensinamentos de

Silvio de Salvo Venosa que:

Hoje há tendência de substituir o termo representante da pessoa jurídica, como ainda temos no Código Civil atual pelo vocábulo órgão, levando-se em consideração que a pessoa natural não é mero porta-voz da pessoa jurídica, nem simples intermediária de sua vontade. Na realidade, nem sempre a vontade do diretor ou administrador que se manifesta pela pessoa jurídica coincide com sua própria vontade. Ele é apenas um instrumento ou “órgão” da pessoa jurídica, entende-se, assim, que há duas vontades que não se confundem. O diretor ou presidente pode manifestar a vontade da assembléia geral que não coincide com a sua. A vontade da pessoa jurídica é autônoma, como decorrência de seu próprio conceito131.

Dando maior clarividência ao tema, Maria Helena Diniz, em referência aos atos de

representação da Pessoa Jurídica, assim dispõe:

Moderadamente há uma tendência para substituir o termo “representante”, como ainda se encontra no ordenamento jurídico pátrio, pelo vocábulo “órgão”, entendendo que a pessoa natural não é simples intermediária da vontade da pessoa jurídica, o que dá a entender que há duas vontades, a do mandante e a do mandatário, quando, na verdade, há uma só, que é a da entidade, manifestada, dentro das limitações legais, pelo seu elemento vivo de contato com o mundo jurídico132.

A pessoa jurídica deverá cumprir os atos praticados pelos administradores, exceto se

houver desvio ou excesso dos poderes conferidos a eles. Nesta ultima hipótese, deverão

responder, pessoalmente e com seu patrimônio, pelos atos lesivos causados às pessoas com

quem negociaram.

131 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil. parte geral, p. 229 132 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 274

Page 62: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

61

Neste contexto segundo afirma Maria Helena Diniz, nota-se que a Pessoa Jurídica, tem

capacidade para exercer todos os direitos compatíveis com a natureza especial de sua

personalidade.

3.6 CLASSIFICAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

De maneira que, o objeto deste estudo está focado para as Pessoas Jurídicas de Direito

Privado, cabe ao autor, mencionar quais são as de Direito Público, deixando, no entanto de

conceituá-las, se atendo à exemplificar e conceituar as Pessoas Jurídicas de direito Privado.

Assim, de acordo com o Art. 40 do Código Civil em vigência, a primeira grande

divisão que é feita, refere-se às Pessoas Jurídicas de Direito Público e Pessoas Jurídicas de

Direito Privado. Desta forma assim dispõe:

CC – Art. 40 - As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado133.

Logo em seguida, o artigo 41 e 42 do mesmo dispositivo vigente, referenciando a

cerca das Pessoas Jurídica de Direito Público Interno e Externo, assim dispõe:

CC – Art. 41 - São pessoas jurídicas de direito público interno: I – a União; II – os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III – os Municípios; IV – as autarquias; V – as demais entidades de caráter público criadas por lei. Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código. CC – Art. 42 - São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público134.

Verificando-se quais as Pessoas jurídicas de direito público, passa-se ao estudo acerca

das pessoas jurídicas de direito privado.

133 Código Civil Lei 10.406 de 2002 134 Código Civil Lei 10.406 de 2002

Page 63: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

62

3.6.1 Pessoas jurídicas de direito privado

O dispositivo que trata das Pessoas Jurídicas de Direito Privado que serão alvo do

estudo neste item é o artigo 44 do Código Civil, assim disposto:

CC – Art. 44 - São pessoas jurídicas de direito privado: I – as associações; II – as sociedades; III – as fundações. Parágrafo único. As disposições concernentes às associações aplicam-se, subsidiariamente, às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código135.

Segundo afirma Silvio de Salvo Venosa, as Pessoas Jurídicas de Direito Privado

originam-se da vontade individual, propondo-se à realização de interesses e fins privados, em

beneficio dos próprios instituidores ou de determinada parcela da coletividade.

3.6.1.1 Associações

As associações, segundo Carlos Roberto Gonçalves, são pessoas jurídicas de direito

privado, constituídas de pessoas que reúnem os seus esforços para a realização de fins não

econômicos.

Carlos Roberto Gonçalves afirma que, dando sentido ao seu entendimento verifica-se

o disposto no art. 53 do Código Civil que assim dispõe: “Constituem-se as associações pela

união de pessoas que se organizam para fins não econômicos”. Carlos Roberto Gonçalves

ensina ainda que a definição legal ressalta o seu aspecto eminentemente pessoal (universitas

personarum)136.

No mesmo trilhar de entendimento, encontra-se os dizeres de Maria Helena Diniz, ao

lecionar sobre as associações, ensinando que:

(...) constituem, portanto, uma universitas pesonarum, ou seja, um conjunto de pessoas que colimam fins ou interesses não-econômicos (CC, art. 53), que

135 Código Civil Lei 10.406 de 2002 136 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 200

Page 64: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

63

podem ser alterados, pois seus membros deliberam livremente, já que seus órgãos são dirigentes137.

Seguindo sobre o tema ainda nos ensinamentos de Maria Helena Diniz, encontramos

que, tem-se a associação quando não há fim lucrativo ou intenção de dividir o resultado,

embora tenha patrimônio, formado por contribuição de seus membros para a obtenção de fins

culturais, educacionais, esportivos, religiosos, beneficentes, recreativos, morais, etc138.

Neste mesmo sentido ensinando sobre o tema, assim leciona Carlos Roberto

Gonçalves:

Não há, entre os membros da associação, direitos e obrigações recíprocos, nem intenção de dividir resultados, sendo os objetivos altruísticos, científicos, artísticos, beneficentes, religiosos, educativos, culturais, políticos, esportivos ou recreativos139.

Diante de tais ensinamentos vislumbra-se que as associações, não visam lucros para

sues integrantes, porém podem realizar negócios para manter ou aumentar o seu patrimônio,

sem que percam a categoria de associação, ou seja, tais fatos não a desnatura. Segundo afirma

Francisco Amaral, citado por Carlos Roberto Gonçalves, é comum a existência de entidades

recreativas que mantém serviço de venda de refeições aos associados, de cooperativas que

fornecem gêneros alimentícios e conveniências a seus integrantes, bem como agremiações

esportivas que vendem uniformes, bolas etc. aos seus componentes140.

Destaque especial se deve a Carlos Roberto Gonçalves quando afirma que, “a redação

atual, ao referir-se a “fins não econômicos”, é imprópria, pois toda e qualquer associação pode

exercer ou participar de atividades econômicas. O que deve ser vedado é que essas atividades

tenham finalidade lucrativa”141.

De maneira que, razão assiste a tais ensinamentos, pois a uma incongruência na

redação referente aos dispositivos pertinentes ao tema, onde inicialmente fala em fins não

137 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 239 138 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 239 139 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 200 140 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 201 141 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 201

Page 65: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

64

econômicos, porém, admite que seja aumentado p.ex. seu patrimônio. Restando a pergunta.

Como poderia não haver um fim econômico e poder-se aumentar o patrimônio?

3.6.1.2 Sociedades

No que concerne às sociedades, essas segundo Carlos Roberto Gonçalves e outros

Doutrinadores aqui lançados, podem ser simples ou empresárias. Como afirma Fabio Ulhoa

Coelho, “segundo a forma como organizam a exploração da atividade econômica a que se

dedicam” 142. Referidas expressões vieram substituir a antiga divisão que era em sociedades

civis e comerciais. Sendo adotada essa nova denominação já mencionada, vês que no atual

sistema do Código Civil todas as sociedades são civis.

Para Carlos Roberto Gonçalves, as sociedades simples são constituídas, em geral, por

profissionais que atuam em uma mesma área ou por prestadores de serviços técnicos (clinicas

médicas e dentárias, escritórios de advocacia, instituições de ensino etc.) e têm fim econômico

ou lucrativo. Mesmo que eventualmente venham a praticar atos próprios de empresários, tal

fato não altera a sua situação, pois o que se considera é a atividade principal por elas

exercida143.

Já, para Maria Helena Diniz, a sociedade simples, por sua vez, é a que visa fim

econômico ou lucrativo, que deve ser repartido entre os sócios, sendo alcançado pelo

exercício de certas profissões ou pela prestação de serviços técnicos (CC, arts. 997 a

1.038)144.

Para tanto Maria Helena Diniz cita alguns exemplos a seguir descritos:

(...) p.ex.: uma sociedade imobiliária (Lei 4.728/65, art. 62); uma sociedade de advogados, registrada no Conselho Seccional da OAB e que serve de instrumento de organização administrativa e financeira das relações internas entre sócios (pessoas legalmente habilitadas para o exercício da advocacia), tendo por objetivo disciplinar o expediente e a gestão patrimonial relativos à prestação de serviços advocatícios, não apresentando forma ou características empresariais (Lei n. 8.906/94, arts. 15, §1º, 16, 17, 21 e 34, II;

142 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 238 143 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 206 144 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 258

Page 66: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

65

Provimentos n. 92/2002 e 98/2002 do Conselho Federal da OAB; CC, art. 966, parágrafo único); uma sociedade formada por um grupo de médicos, apoiado por enfermeiros, atendentes, nutricionistas etc., para o exercício de atividade profissional cientifica, tendo por objeto social a prestação de serviços de medicina; uma sociedade que presta serviços de pintura (RT, 39:216); que explora o ramo hospitalar ou escolar; que presta serviços de terraplenagem (RT, 395:205). Uma sociedade cooperativa (CC, arts. 982, parágrafo único, 1.093 a 1.096; STJ, Súmula 262)145.

Maria Helena Diniz ensina ainda que, “tem ela (sociedade simples) certa autonomia

patrimonial e atua em nome próprio, pois sua existência é distinta da dos sócios, de modo que

os débitos destes não são da sociedade e vice-versa” 146.

De outro tanto além das sociedades simples como já mencionado existe também as

sociedades empresarias, essas segundo Maria Helena Diniz, visam lucro, mediante exercício

de atividade mercantil, assumindo as formas de: sociedade em nome coletivo; sociedade em

comandita simples; sociedade em comandita por ações; sociedade limitada; sociedade

anônima ou por ações (CC arts. 1039 a1092, Lei n. 11.101/2005, art. 96, § 1º).

Na mesma linha de entendimento se posiciona Carlos Roberto Gonçalves, o qual

ensina que:

As sociedades empresarias também visam lucro, mas distinguem-se das sociedades simples porque têm por objetivo o exercício de atividade própria de empresário sujeito ao registro previsto no at. 967 do Código Civil. Considera-se empresário, diz o art. 966, “quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”147.

Seguindo nos ensinamentos de Carlos Roberto Gonçalves, visualiza-se ainda que:

Equipara-se à sociedade empresaria a sociedade que tenha por fim exercer atividade própria de empresário rural, que seja constituída de acordo com um dos tipos de saciedade empresária e que tenha requerido sua inscrição no Registro de sua sede (CC, art. 984)148.

145 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 258 146 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 259 147 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 206 148 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 207

Page 67: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

66

Ato continuo Fabio Ulhoa Coelho leciona a respeito da quantidade de integrantes que

integram essas instituições, ensinando que:

Quando a referencia é à quantidade de membros ou integrantes das pessoas jurídicas, designem-se estas como unipessoais (um só membro) ou pluripessoais (dois ou mais membros). Assim, a sociedade empresária deve necessariamente ser coletiva, em sua origem (exceto o caso especialíssimo da subsidiária integral, que pode ser constituída por um sócio apenas, desde que seja esse uma sociedade brasileira). Quer dizer, sua constituição pressupõe pelo menos dois sócios. Em decorrência, tende a ser uma pessoa jurídica pluripessoal149.

Porém, Fabio Ulhoa Coelho, citando dispositivo de lei dispõe sobre a admissibilidade

temporária de unipessoalidade ensinando que, (...) “a lei, contudo, admite a unipessoalidade

temporária da sociedade empresária quando, por qualquer motivo, a totalidade das quotas ou

ações representativas de seu capital social se tornam da propriedade de uma só pessoa (CC,

art. 1.033, IV; LSA, art. 206, I, d)” 150.

Desta forma, após tecer estes relatos acerca destas instituições (sociedade simples, e

sociedade empresaria) mister se faz, fazer uma breve diferenciação entre uma e outra para

melhor distingui-las. Assim, nos ensinamentos de Maria Helena Diniz verifica-se que:

(...) basta considerar a natureza das operações habituais: se estas tiverem por objeto o exercício de atividades econômicas organizadas para a produção ou circulação de bens ou de serviços, próprias de empresário sujeito a registro (CC, arts. 982 e 967), a sociedade será empresária. E a ela se equipara a sociedade que tem por fim exercer atividade própria de empresário rural, que seja constituída de acordo com um dos tipos de sociedade empresária e que tenha requerido sua inscrição no Registro das Empresas de sua sede (CC arts. 968 e 984). Será simples a que não exercer tais atividades, mesmo que adote quaisquer das formas empresárias, como permite o art. 983 do Código Civil, exceto se for anônima ou por ações, que, por força de lei, será sempre empresária (CC, arts. 983 e 982, parágrafo único; RT, 434:122)151.

No que tange ao conteúdo referente as Associação e Sociedades, Carlos Roberto

Gonçalves, esclarece que elas “têm um tratamento diverso, inclusive pela natureza jurídica

dos respectivos institutos”, sendo que:

149 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 239 150 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 239 151 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 259

Page 68: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

67

A Associação é ato de união de pessoas... Não há entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. Ao passo que a sociedade é contrato, cuja natureza parece hoje bem assentada na doutrina de Ascarelli: um contrato plurilateral, dadas as relações dos sócios, reciprocamente, entre si, dos sócios com a sociedade, da sociedade com terceiros e dos sócios com terceiros. É nesta qualificação de contrato plurilateral que o projeto define a sociedade...152

Desta feita, encerrando o presente dispositivo, verifica-se pelos ensinamentos de Silvio

de Salvo Venosa que “(...) geralmente, embora isso não seja regra, as sociedades têm fins

econômicos; as associações não as têm. Essa é a posição assumida pelo atual Código. São

constituídas de agrupamentos de indivíduos que se associam em torno de objetivo comum e,

de conformidade com a lei, integram um ente autônomo e capaz” 153.

3.6.1.3 Fundações

Conforme leciona Silvio de Salvo Venosa:

As fundações sempre de natureza civil, são outro tipo de pessoa jurídica. São constituídas por um patrimônio destinado a determinado fim. O instituidor, que atribui o patrimônio, será uma pessoa natural ou jurídica; ele faz nascer essa pessoa mediante a dotação de determinada quantidade de bens, à qual a lei atribui personalidade. Seus fins serão sempre altruísticos, geralmente dedicados à educação, à pesquisas cientifica ou a finalidades filantrópicas154.

Para Carlos Roberto Gonçalves, que segue esse mesmo entendimento, as Fundações

“constituem um acervo de bens, que recebe personalidade jurídica para a realização de fins

determinados, de interesse público, de modo permanente e estável” 155.

Também em referência as fundações, temos os ensinamentos de Maria Helena Diniz:

A fundação deve almejar a consecução de fins nobres, para proporcionar a adaptação à vida social, a obtenção da cultura, do desenvolvimento intelectual e o respeito de valores espirituais, artísticos, materiais ou

152 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 206 153 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 231 154 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 232 155 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 207

Page 69: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

68

científicos. Não pode haver abuso, desvirtuando-se os fins fundacionais para atender a interesses particulares do instituidor, por exemplo156.

Sobre a proteção dada ao meio ambiente pelas fundações, através de alguns projetos

protetivos, assim leciona Maria Helena Diniz:

É, portanto, um acervo de bens livres de ônus ou encargos e legalmente disponíveis, que recebe da lei a capacidade jurídica para realizar as finalidades pretendidas pelo seu instituidor, em atenção aos seus estatutos, desde que religiosas, morais, culturais ou assistenciais (CC, art. 62, parágrafo único). Não tem fins econômicos, nem fúteis. Logo, “a constituição de fundação para fins científicos, educacionais ou de promoção do meio ambiente está compreendida no Código Civil, art. 62, parágrafo único” (enunciado n.8 do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal), por ser meramente enunciativa e por indicar a exclusão de fins lucrativos. E, além disso, cultura em sentido ampla pode abranger a educação (Lei n.9.394/96), inclusive a ambiental, a pesquisa científica, a preservação do patrimônio cultural, a valorização e a difusão de manifestações culturais, o desenvolvimento intelectual etc. “O art. 62, parágrafo único, deve ser interpretado de modo a excluir apenas as fundações de fins lucrativos” (Enunciado n.9 do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal)157.

Fabio Ulhoa Coelho ao lecionar sobre a instituição da fundação dispõe que, “a

fundação costuma ser instituída por uma só pessoa, mas há fundações criadas por dois ou

mais instituidores”.

3.7 EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

As pessoas jurídicas, a exemplo das pessoas naturais, também podem deixar de existir,

diferente é claro na forma e tempo, pois enquanto à a certeza de morte da pessoa natural, não

se tem a certeza de extinção da Pessoa Jurídica, o que se tem é a possibilidade de poder esta a

qualquer momento ser extinta de acordo com o ato de dissolução, muito embora o ato de

extinção não seja tão simples como parece. Numa forma mais esclarecedora sobre o tema,

têm-se os ensinamentos de Silvio de Salvo Venosa, o qual leciona que:

156 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 238 157 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 237

Page 70: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

69

Ao contrário do que ocorre com a pessoa natural, o desaparecimento da pessoa jurídica não pode, por necessidade material, dar-se instantaneamente, qualquer que seja sua forma de extinção. Havendo patrimônio e débitos, a pessoa jurídica entrará em fase de liquidação, subsistindo tão-só para a realização do ativo e para o pagamento dos débitos, vindo a terminar completamente quando o patrimônio atingir seu destino158.

No mesmo trilhar de pensamento, se coloca Maria Helena Diniz, ensinando que:

Percebe-se que a extinção da pessoa jurídica não se opera de modo instantâneo. Qualquer que seja o seu fator extintivo (convencional, legal, judicial ou natural), tem-se o fim da entidade; porem se houver bens de seu patrimônio e dividas a resgatar, ela continuará em fase de liquidação (CC, arts. 1.036 a 1.038), durante a qual subsiste para a realização do ativo e pagamento de débitos, cessando, de uma vez, quando se der ao acervo econômico o destino próprio (CC, art. 51)159.

No que concerne ao seu remanescente, Maria Helena Diniz dispõe que, “Com o

término de uma sociedade o remanescente de seu patrimônio social deverá ser partilhado entre

os sócios ou seus herdeiros”.

Segundo Carlos Roberto Gonçalves, o ato de dissolução pode assumir quatro tipos

distintos, conforme natureza e origem, quais sejam Convencional, legal, administrativa e

judicial.

Gonçalves explica que a extinção na forma convencional se dá, “por deliberação de

seus membros, conforme quorum previsto nos estatutos ou na lei. A vontade humana criadora,

hábil a gerar uma entidade com personalidade distinta da de seus membros, é também capaz

de extingui-la”. Para tanto, cita como dispositivo legalizador, o art. 1.033 do Código Civil,

mencionando que:

A sociedade se dissolve quando ocorrer a “deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado” (inciso III). Na de prazo determinado, quando houver “consenso unânime dos sócios” (inciso II). Neste ultimo caso, se a minoria desejar que ela continue, impossível será a sua dissolução por via amigável. Por outro lado, a maioria não conseguirá dissolve-la, a não ser recorrendo às vias judiciais, quando haja causa de

158 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 270 159 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 291

Page 71: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

70

anulação de sua constituição, tenha-se exaurido o fim social ou se verifique a sua inexequibilidade (CC, art. 1.03,4, I e II)160.

Em continuidade ainda no que concerne à extinção na forma convencional, Carlos

Roberto Gonçalves, afirma que também neste tipo pode-se enquadrar a:

(...) dissolução da pessoa jurídica pelo “vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado” (CC, art. 1.033, I: por abstenção ou omissão em iniciar o processo de dissolução, o prazo de existência da sociedade será automaticamente prorrogado por tempo indeterminado); pela “falta de pluralidade de sócios”, se a sociedade simples não for “reconstituída no prazo de cento e oitenta dias” (art. 1.033, IV); pela morte de sócio, “se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade” (art. 1.028, II); por “outras causas de dissolução” previstas no “contrato” (art. 1.035), como, por exemplo, o implemento de condição resolutiva (arts. 127 e 128)161.

Silvio de Salvo Venosa segue o pensamento de Carlos Roberto Gonçalves quanto à

dissolução de forma convencional, e ensina que “(...) é a deliberada pelos sócios. Da mesma

forma que a vontade pode criar o ente, pode decidir por extingui-lo. Qualquer associação ou

sociedade pode ser extinta por essa forma, ficando fora do principio as fundações que

possuem conotação diversa”.

Já Maria Helena Diniz, ao lecionar sobre a dissolução da pessoa jurídica, não a

enquadra em nenhuma forma, apenas menciona em sua obra o dispositivo elencado no Código

Civil, que dispõe sobre a dissolução da pessoa jurídica, ensinando que; “por deliberação dos

sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado (CC, art. 1.033, III)” 162.

No que tange à segunda forma de dissolução da pessoa jurídica a Legal, Carlos

Roberto Gonçalves, ensina que esta se dá, - em razão de motivo determinante na lei (arts.

1.028, II, 1.033 e 1.034), como, verbi gratia, a decretação da falência (Dec. – Lei n.7.661, de

21-6-1945), a morte dos sócios (CC, art. 1.028) ou desaparecimento do capital, nas sociedades

160 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 233 161 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 234 162 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p.291

Page 72: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

71

de fins lucrativos. As associações, que não os têm, não se extinguem pelo desaparecimento do

capital, que não é requisito de sua existência163.

Silvio de Salvo Venosa, se posiciona no mesmo trilhar de pensamento de Carlos

Roberto Gonçalves, explicando que a dissolução legal ocorre em razão de motivo

determinado em lei.

Maria Helena Diniz, ao lecionar sobre este dispositivo de dissolução, ensina que se

dissolve a sociedade jurídica:

Por determinação legal, quando se der qualquer uma das causas extintivas previstas normativamente (CC, art. 1.033). Também por: implemento da condição ou termo a que foi subordinada a sua duração (CC, arts. 127, 128 e 135), ou por outras causas previstas no contrato (CC, art. 1.035) como, p. ex.: extinção do capital social ou seu desfalque que impossibilite a continuação da sociedade, com exceção das associações. Pela Lei n. 11.101/2005, art. 123, extinguem-se pela falência ou insolvência, hipótese inaplicável às associações, cujo quadro é indeterminado. Além disso, o Decreto-lei n. 9.085/46 dispõe sobre a dissolução de sociedades permiciosas e a Lei n. 7.170/83, que revogou, em seu art. 35, a Lei n. 6.620/78, passando a dispor sobre os crimes contra a segurança nacional e a ordem política e social, reprime certos tipos de pessoa jurídica com finalidade combativa e a constituição de associação nociva à segurança do Estado e da coletividade, à ordem pública, à moral e aos bons costumes (Lei n. 7.170/83, arts. 16 e 25)164.

A terceira hipótese de extinção ou dissolução elencada por Carlos Roberto Gonçalves

é a administrativa, a qual reza que:

Quando as pessoas jurídicas dependem de autorização do Poder Público e esta é cassada (CC, art. 1.033), seja por infração a disposição de ordem publica ou pratica de atos contrários aos fins declarados no seu estatuto (art. 1.125), seja por se tornar ilícita, impossível ou inútil a sua finalidade (art. 69, primeira parte). Pode, nesses casos, haver provocação de qualquer do povo ou do Ministério Publico, juntamente com o procedimento para a dissolução da sociedade, por força do disposto no art. 1.128 do atual diploma processual)165.

163 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 234 164 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 289 165 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 235

Page 73: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

72

Silvo de Salvo Venosa, leciona sobre a dissolução administrativa, citando o art. 21, III

do antigo Código Civil já revogado, dispondo que:

A dissolução administrativa ocorre na hipótese do art. 21,III, atingindo as pessoas jurídicas que necessitam de aprovação ou autorização governamental. Podem ter a autorização cassada, quando incorrerem em atos opostos a seus fins ou nocivos ao bem público. Não deve, porém, proceder a Administração discricionariamente, sujeitando-se, se assim proceder, à responsabilidade por indenização166.

De outro lado, na mesma linha de entendimento de Venosa e Gonçalves, se posiciona

Maria Helena Diniz, lecionando sobre dissolução administrativa da seguinte maneira:

Por ato governamental (CC, arts 1.125 e 1.033,V) que lhes casse a autorização de funcionamento, por motivos de desobediência à ordem pública, por serem inconvenientes ao interesse geral, dada a sua incompatibilidade com o bem-estar social, pela sua ilicitude, pela impossibilidade ou inutilidade de sua finalidade (CC, art. 69, 1ª parte) e pela pratica de atos contrários a seus fins ou nocivos ao bem público (Lei n. 7.170/83)167.

Finalmente, Carlos Roberto Gonçalves, ao lecionar sobre a quarta e última hipótese

por ele elencada, a forma Judicial, assim dispõe:

Quando se configura algum dos casos de dissolução previstos em lei ou no estatuto, especialmente quando a entidade se desvia dos fins para que se constituiu, mas continua a existir, obrigando um dos sócios a ingressar em juízo. Dispõe o art. 1.035 do Código Civil que a sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a requerimento de qualquer dos sócios, quando: “I – anulada a sua constituição; II – exaurido o fim social, ou verificada a sua inexequibilidade”. O rol é meramente exemplificativo, pois pode ser dissolvida por sentença, se necessário, em qualquer das hipóteses previstas nos arts. 69, primeira parte, 1.028, II, 1.033 e 1.035168.

Silvio de Salvo venosa, discorre brevemente sobre a dissolução judicial, ensinando

que esta, é “(...) derivada de processo, sempre que qualquer interessado promovê-la em juízo”.

Maria Helena Diniz, ao dispor sobre a dissolução judicial, ensina que:

166 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . parte geral, p. 269 167 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 290 168 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral, p. 235

Page 74: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

73

(...) Pela dissolução judicial: a requerimento de qualquer dos sócios quando: anula a sua constituição ou exaurido o fim social, ou verificada a sua inexequibilidade (CC, art. 1.034, I e II). Ou ainda: a) no caso de figurar qualquer causa de extinção prevista em norma jurídica ou nos estatutos e, apesar disso, a sociedade decreta seu fim; b) quando a sentença concluir pela impossibilidade da sobrevivência da pessoa jurídica, estabelecendo seu término em razão de suas atividades nocivas, ilícitas ou imorais, mediante denuncia popular ou do órgão do Ministério Público. O art. 5º, XIX, da Constituição de 1988 prescreve que as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se no primeiro caso transito em julgado169.

Vencido este dispositivo, acerca da extinção da pessoa jurídica, finaliza-se o presente

capítulo, valendo-se das palavras de Silvio de Salvo Venosa, para demonstrar que o homem,

além de ser escravo do homem, em busca de mais e mais riquezas, descarta-se através dos

tempos pelas suas próprias criações.

Contemplando este entendimento Silvio de salvo Venosa nos ensina:

Notamos que os criadores já não conseguem controlar suas criaturas. As pessoas jurídicas constituídas pelo homem agigantam-se de tal foram que se tornam impessoais, insensíveis e fazem dos seres humanos homens que certo dia as instituíram meras peças componentes de uma engrenagem que a qualquer momento pode ser substituída, como se substitui, pura e simplesmente, um mecanismo obsoleto por um novo. Hoje, na pessoa jurídica, a pessoa natural despersonaliza-se, torna-se um objeto, um joguete de interesses. Os poderosos controladores da pessoa jurídica do presente podem, sem nenhuma hesitação, tornar-se o mecanismo obsoleto do amanhã. Tais reflexos não devem ser esquecidos pelo legislador, porque repercutem decididamente na questão social ou econômica com relação direta com o desemprego e a produção170.

De maneira que, esse descontrole em relação às Pessoas Jurídicas, aliado à infinita

ganância e o desejo do homem de cada vez mais aumentar suas riquezas, corroboram em

suma para a causa aos inúmeros Danos Ambientais que são diariamente noticiados, e

verificados em nossas reservas ambientais.

169 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil, p. 290 170 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . Parte geral, p. 219

Page 75: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

4 O DANO AMBIENTAL E A PESSOA JURÍDICA

Muito se tem falado a respeito das inúmeras atrocidades que o homem vem fazendo

contra o Meio Ambiente. Porém apesar dos grandes esforços de uma pequena parcela da

população que ainda acredita na recuperação deste meio que vem sendo constantemente

destruído pela desmatação, queimadas, intoxicações e outros meios de degradação ambiental,

pouco se observa a cerca de resultados positivos neste sentido, pois as pessoas acostumadas

com a impunidade, pouco ou nada temem pelas causas e conseqüências desta devastação

Ambiental. Preferindo arriscar arcando com a pequena sanção que podem vir a sofrer, do que

parar com as devastações.

No presente capítulo verificar-se-á a forma de aplicar a sanção quando a Pessoa

Jurídica causa danos ao Meio Ambiente, e qual principio norteador utilizado como forma de

prevenção, antes que os danos ocorram.

4.1 MEIO AMBIENTE CONCEITUAÇÃO

Segundo Sandro D’Amato Nogueira, a Lei 6.938/91, que estabeleceu a Política

Nacional do Meio Ambiente, tratou de definir o conceito de meio ambiente no seu art. 3º, I:

“Para fins previstos nesta Lei, entende-se por meio ambiente, o conjunto e condições. leis,

influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, obriga e rege a

vida em todas as suas firmas” 171.

Para José Rubens Morato Leite, “o meio ambiente é conceito que deriva do homem, e

a ele está relacionado; entretanto, interdependente da natureza como duas partes de uma

mesma fruta ou dois do mesmo feixe” 172.

171 NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Direito Ambiental. coleção estudos direcionados. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 7 172 LEITE José Rubens Morato. Dano Ambiental. do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 73

Page 76: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

75

Salienta ainda José Rubens Morato Leite que, “qualquer que seja o conceito que se

adotar, o meio ambiente engloba, sem dúvida, o homem e a natureza, como todos os seus

elementos. Desta forma, se ocorrer uma danosidade ao meio ambiente, esta se estende à

coletividade humana, considerando tratar-se de um bem difuso interdependente” 173.

Como tema conceitual, José Rubens Morato Leite, adota a posição de Jollivet e Pavé,

que o define “como o conjunto dos meio naturais ou artificializados da ecosfera, onde o

homem se instalou e que explora e administra bem como o conjunto dos meios não

submetidos à ação antrópica, e que são considerados necessários à sua sobrevivência” 174.

Por fim, importante colher os ensinamentos de José Rubens Morato Leite, acerca do

que se deve ter como preocupação central concernente ao meio ambiente, ao destacar que

“articulada uma noção genérica de meio ambiente, cabe agora, frisar algumas preocupações

centrais e alguns valores que devem guiar a conduta antropocêntrica em relação ao meio

ambiente” 175.

Para tanto, José Rubens Morato Leite destaca referidas preocupações socorrendo-se

dos seguintes ensinamentos de Roberto Armando Ramos Aguiar:

1. o ser humano pertence a um todo maior, que é complexo, articulado e interdependente; 2. a natureza é finita e pode ser degradada pela utilização perdulária dde seus recursos naturais; 3. o se humano não domina a natureza, mas tem de buscar caminhos para uma convivência pacifica, entre ela e sua produção, sob pena de extermínio da espécie humana; 4. a luta pela convivência harmônica com o meio ambiente não é somente responsabilidade de alguns grupos “preservacionistas”, mas missão política, ética e jurídica de todos os cidadãos que tenham consciência da destruição que o ser humano está realizando, em nome da produtividade e do progresso176.

173 LEITE José Rubens Morato. Dano Ambiental. Do individual ao coletivo extrapatrimonial, p .74 174 LEITE José Rubens Morato. Dano Ambiental. Do individual ao coletivo extrapatrimonial, p .74 175 LEITE José Rubens Morato. Dano Ambiental. Do individual ao coletivo extrapatrimonial, p .75 176 AGUIAR, Roberto Armando Ramos. Direito do meio ambiente e participação popular. Brasília: ministério do Meio ambiente e da Amazônia Legal/IBAMA, 1994, p. 21

Page 77: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

76

4.2 CONSTATAÇÃO DOS DANOS AMBIENTAIS

O dano ecológico sempre existiu nunca, porém, a necessidade de se preservar e de

recuperar foi tão grande visto as inúmeras desordens temporais que constantemente se tem

observado devido ao efeito devastador gerado pelo “ímpeto predatório das nações civilizadas

que, em nome do desenvolvimento, devastam florestas, exaurem o solo, exterminam a fauna,

poluem as águas e o ar” 177.

Em tempos mais remotos os danos Ambientais que se constatavam e deveras geravam

discuções normalmente eram aqueles atribuídos a vizinhos, vigorando à época a noção de que

os recursos naturais seriam ilimitados. Neste plano como mencionado no item 2.3 do capítulo

acerca da Responsabilidade Civil, é no artigo 187 do Código Civil que se enquadra o dano

ecológico. Neste sentido pode-se citar as palavras de Cunha Barreto, apud, Rui Stoco, ao

lecionar que:

No plano da reparação civil o dano ecológico se enquadra no art. 187 do CC, constituindo autêntico abuso do direito, conforme lição lapidar de Cunha Barreto, “por ser o problema da vizinhança ligado por sua origem, às obrigações decorrentes do direito de propriedade, mas submetido também às regras da responsabilidade civil, com o sentimento de abuso no exercício de um direito” (o Problema da responsabilidade nas Relações de Vizinhança, RF 82/31)178.

Assim conforme ensinamentos de Fabio Ulhoa Coelho, verifica-se que; “até meados

do século passado, os impactos trazidos pelas atividades econômicas ao meio ambiente eram

considerados ônus da sociedade. Suportá-las era necessário para que se pudéssemos ter acesso

aos produtos industrializados, a transportes mais rápidos, à comodidade da vida urbana” 179.

Porém, devido ao crescente desenvolvimento que se seguiu através dos tempos,

notoriamente o homem viu-se obrigado a aplicar meios por demais predatórios contra o Meio

Ambiente, nos lugares onde antes era verde com águas límpidas e cristalinas, foram

177 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7ª edição revista e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 879 178 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência, p. 879 179 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 381

Page 78: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

77

construídas cidades feito plantações e pastos, não se dando conta de que o homem é que tem

necessidades ilimitadas, porém, “os recursos da natureza são limitados”.

Neste norte aos poucos se foi notando que a necessidade de se proteger a terra era uma

questão de sobrevivência para o mundo todo, percebendo-se a partir de meados do século

passado, “a urgência na adoção de medidas de sustentabilidade do meio ambiente.” De

maneira que, aos poucos a legislação foi dando moldes à elidir a pratica danosa contra o Meio

Ambiente.

Além da elaboração de algumas Leis ordinárias esparsas ao longo dos anos, no Brasil,

foi na Constituição da República Federativa do Brasil, que se verificou grande importância

histórica no que concerne a tutela Ambiental.

Neste sentido, encontra-se em breve introdução doutrinária, trazida pelos

ensinamentos de Rui Stolco que:

O final do século passado, ou seja, a década entre 1980 e 1990, apresenta importância histórica e emblemática em razão do advento da Constituição Federal de 1988. Nessa Carta de Princípios consagrou-se e tornou-se definitiva a opção pela preservação do meio ambiente e assegurou-se a sobrevivência no milênio que se iniciou em 2001. Ali se previu, com minudência, a preservação do meio ambiente a sua proteção sustentada e criteriosa e fez-se opção pela preservação equilibrada e responsável do meio em que vivemos. (...)180

Referida passagem doutrinaria refere-se ao artigo 225 da Constituição da República

Federativa do Brasil, assim descrito:

CRFB - Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações181.

Ainda na mesma seara de entendimento encontram-se os ensinamentos de Silvio de

Salvo Venosa ao lecionar que; “a constituição de 1988 deu um grande passo nesse campo ao

180 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência, p. 876 181 Constituição da Republica Federativa do Brasil. Art. 225

Page 79: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

78

dedicar o Capítulo VI do Título VIII ao meio ambiente, estabelecendo no caput do art. 225 os

princípios fundamentais” 182.

Desta forma havendo num primeiro momento a necessidade de que os danos sejam

constatados, ou seja, o dano deve antes ocorrer para que possa ser de alguma forma ser

reparado, e, devido à grandeza dos danos praticados pelas Pessoas Jurídicas, por se tratar

geralmente de grandes aglomerados que necessitam de grandes espaços para sua produção,

não fica difícil a constatação desses danos, difícil, pois, é a aplicação da lei todas as vezes que

esses danos são verificados, isso ocorre por conseqüência, segundo informações

governamentais, “do pequeno efetivo de órgãos fiscalizadores”.

4.3 DO DANO AMBIENTAL

O dano ambiental apresenta características diferentes do dano tradicional,

principalmente porque é considerado bem de uso comum do povo, incorpóreo, imaterial,

autônomo e insuscetível de apropriação exclusiva. Trata-se, aqui, de direitos difusos, em que

o indivíduo tem o direito de usufruir o bem ambiental e também tem o dever de preservá-lo

para as presentes e futuras gerações.

4.3.1 O dano ambiental e seu conceito

Não se pode, com toda certeza, avançar no presente capitulo sem que se faça uma

breve incursão pelo conceito jurídico de dano que é o pressuposto indispensável para a

construção de uma teoria jurídica da responsabilidade ambiental. Este é o tema da próxima

etapa a se alcançar.

Numa breve passagem, destacam-se os ensinamentos de Sandro D’Amato Nogueira ao

conceituar o dano ambiental afirmando que:

“é um prejuízo causado por um agente ao meio ambiente, ou seja, a modificação ou alteração danosa a um bem ambiental, que muitas vezes

182 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . Responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 144

Page 80: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

79

pelos seus resultados, o bem ambiental não poderá voltar ao status quo, ou seja, como antes era o bem, pois o danos poderá ser irreversível” 183.

Por seu turno, José Rubens Morato Leite, conceitua o dano ambiental como sendo:

(...), em primeira acepção, uma alteração indesejável ao conjunto de elementos chamados de meio-ambiente, como, por exemplo, a poluição atmosférica; seria assim a lesão ao direito fundamental que todos têm de gozar e aproveitar do meio-ambiente apropriado. Contudo, e m segunda conceituação, dano ambiental engloba os efeitos que esta modificação gera na saúde das pessoas e em seus interesses184.

Segundo Édis Milaré “dano ambiental é a lesão aos recursos ambientais, com

conseqüente degradação - alteração adversa ou in pejus - do equilíbrio ecológico e da

qualidade de vida”.

Por sua vez, Luis Paulo Sirvinskas conceitua Dano Ambiental dispondo que; “é toda

agressão contra o meio ambiente causada por atividade econômica potencialmente poluidora,

por ato comissivo praticado por qualquer pessoa ou por omissão voluntária decorrente de

negligencia” 185.

Finalizando o tema acerca do conceito de dano ambiental, vale citar novamente os

ensinamentos de José Rubens Morato Leite ao lecionar que:

Da análise empreendida da lei brasileira, pode-se concluir que o dano ambiental deve ser compreendido como toda a lesão intolerável causada por qualquer ação humana (culposa ou não) ao meio-ambiente, diretamente, como macrobem do interesse da coletividade, em uma concepção totalizante, e indiretamente, a terceiros, tendo em vista interesses próprios e individualizáveis e que refletem no macrobem186.

Assim, muitos são os conceitos que podem ser encontrados acerca do dano ambiental,

porém percebe-se que a melhor conclusão para o tema seja que não há um conceito fixo para

dano ambiental.

183 NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Direito Ambiental. coleção estudos direcionados, p. 17 184 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 98 185 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de direito ambiental. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 152 186 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 108

Page 81: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

80

De maneira que, Édis Milaré salienta que o conceito de dano ambiental, assim como o

de meio ambiente, é aberto, ou seja, sujeito a ser complementado causuisticamente, de acordo

com cada realidade concreta que se apresente ao intérprete. O conceito de dano ambiental

deve atingir as lesões de caráter patrimonial e extrapatrimonial, como também devem

abranger não apenas o meio ambiente natural, com também o artificial, cultural e o meio

ambiente do trabalho187.

De acordo com o que se noticia doutrinariamente, existem dois tipos de dano, o

patrimonial e o moral, assim também o é o dano ambiental. O dano ambiental patrimonial

exige a reparação ou indenização do bem ambiental lesado, que pertence a toda a

coletividade. Já o dano moral ambiental está relacionado a todo prejuízo não-econômico

causado ao indivíduo ou sociedade, em virtude de lesão ao meio-ambiente, sendo este último

mais difícil de ser indenizado justamente por ser mais difícil também de ser feita sua

constatação não se chegando nunca ao que realmente se espera que deva ser indenizado

àquele que sofreu com o dano moral ao que é constatado.

4.3.2 Responsabilidade civil por danos ambientais

A responsabilidade civil, alvo destes apontamentos, guarda origem antológica no texto

de 1981 que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, a esfera penal, além de impor

radical alteração ao sistema vigente determinando a punição da Pessoa Jurídica, vê na Lei n.

9.605/98, a concretização de referida ordem constitucional e sistematiza os denominados

crimes ambientais.188

Incluem-se dentre as atividades e condutas nocivas ao meio ambiente que podem

acarretar responsabilidade civil, as que causarem poluição de qualquer forma, degradando sua

qualidade, de molde a ocasionar danos à saúde, à segurança e ao bem estar humano, bem

como se afetarem em elevados níveis a fauna e a flora, culminando com a morte de animais e

destruição mensurável desta última. Referidas condutas encontram-se elencadas nos arts. 54 a

60 do pergaminho legal.

187 Milaré, Edis. Direito do Ambiente. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 412 188 HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Responsabilidade civil . Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 374

Page 82: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

81

Sabe-se que é inegável a constante intenção de tutelar preventivamente o Meio

Ambiente, como meio de impedir que os danos venham a ocorrer. Porém, apesar das inúmeras

medidas sócio educativas neste sentido difícil se torna a tutela antecipatória no intuito de se

evitar futuros danos ao Meio Ambiente provenientes de alguma atividade desenvolvida por

Pessoas Jurídicas, restando, pois, que se repare o dano tão logo seja ele percebido. Assim

nesta seara de entendimento, segundo ensinamentos de Giselda Maria Fernandes Novaes

Hironaka:

(...) quando percebemos um dano ao meio ambiente sua reparação deve, o mais breve possível, ser efetivada, e, para tanto, ao lado de vários instrumentos como a ação popular e o mandado de segurança coletivo, destacamos a Lei da Ação Civil Pública e o Código de Defesa do Consumidor.189

De maneira que, tão logo seja verificado o dano causado ao Meio Ambiente, a

reparação é medida que deve se impor, pois, segundo Giselda Fernandes, “ a normatização

vigente tece a trama que visa envolver de forma protetiva o bem juridicamente protegido, qual

seja, o direito de viver de forma digna num Meio Ambiente ecologicamente equilibrado”.

Acerca da verificação dos danos Ambientais, segundo ensinamentos de Silvio de

Salvo Venosa, em principio, deve ser considerada abusiva qualquer conduta que extravase os

limites do razoável e ocasione danos ao Ambiente e desequilíbrio ecológico190.

Assim sendo, posterior a constatação e verificação dos Danos Ambientais, surge o

dever de reparar ou de indenizar os danos que foram causados, seja direta ou indiretamente,

visto que referindo-se à Danos Ambientais cometidos no âmbito de Pessoas Jurídicas, tal qual

o é para o causador individual, a culpa e o dever de indenizar são objetivos, tendo o poluidor

ou causador do dano em suma, assumido o risco no momento em que coloca em prática

atividade que poderá vir a causar dano ao Meio Ambiente.

Neste sentido, destaca-se a lição de Jose Rubens Morato Leite, ao lecionar que:

Nesta fórmula da responsabilidade objetiva, todo aquele que desenvolve atividade lícita, que possa gerar perigo a outrem, deverá responder pelo

189 HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Responsabilidade civil , p. 374 190 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . Responsabilidade civil, p. 145

Page 83: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

82

risco, não havendo necessidade de a vítima provar culpa do agente. Verifica-se que o agente responde pela indenização em virtude de haver realizado uma atividade apta para produzir risco. O lesado só terá que provar nexo de causalidade entre a ação e o fato danoso, para exigir seu direito reparatório. O pressuposto da culpa, causador do dano, é apenas o risco causado pelo agente em sua atividade191.

Da mesma forma, José Joaquim Gomes Canotilho ao tratar sobre o tema ressalta que

“se trata de uma justiça distributiva, “isto é, um sujeito que desenvolve uma atividade

perigosa para a sociedade e dela tira benefícios, então é justo que ele suporte os danos que

causar, mesmo sem culpa” 192.

No Brasil, e em muitos outros países, foi adotada, na área ambiental, a teoria da

responsabilização objetiva, pelo risco e pela reparação integral. Entende-se, por riscos criados,

os produzidos por atividades e bens dos agentes que multiplicam, aumentam ou potencializam

um dano ambiental. O risco criado tem lugar quando uma pessoa faz uso de mecanismos,

instrumentos ou de meios que aumentam o perigo de dano. Nestas hipóteses, as pessoas que

causaram dano respondem pela lesão praticada, devido à criação de risco ou perigo, e não pela

culpa193.

Sobre a objetivação da responsabilidade civil por danos ambientais, destaca-se o texto

do art. 14 § 1º da Lei 6.938 de 1981:

Art. 14 – Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: § 1º - Sem obstar e aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

191 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 130 192 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra: Almeida, 1998, p. 143 193 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 132

Page 84: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

83

Contraponde-se aos ensinamentos doutrinários, que admitem o dever de indenizar

mesmo sem culpa, onde assume-se o risco pela atividade danosa, encontra-se a importante

lição da professora, Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka:

Assim é que hoje temos a responsabilidade decorrente da culpa como a regra do nosso ordenamento jurídico. Somente poderemos falar em responsabilidade quando aquele que deveria fazer algo, ou deixar de fazer alguma coisa, agiu de forma diversa ao que determina a norma e, como conseqüência, gerou um dano passível de indenização: todavia, deveremos identificar na conduta do transgressor a culpa, em qualquer de suas modalidades, mas sempre a culpa! É o que se denomina na doutrina de responsabilidade aquiliana subjetiva ou delitual.194

Nota-se, porém existir divergência nas próprias lições desta doutrinadora, pois,

enquanto que em um dado momento admite a culpa subjetiva em outro admite a culpa

objetiva, admitindo que a reparação do dano é possível mesmo não existindo culpa,

engajando-se na chamada teoria do risco, neste sentido também os ensinamentos de Giselda

Maria Fernandes Novaes Hironaka:

... neste contexto, a culpa fica afastada da conduta do indenizador, ou seja, não importa ter o agente responsável pela reparação do dano sofrido por outrem agido ou não com culpa: ainda que sua atividade seja absolutamente lícita, legítima, correta, legal e moralmente irrepreensível, deverá indenizar ao que percebera prejuízos.195

Apesar de alguns doutrinadores admitirem que o dano só dever ser reparado quando

existir a culpa subjetiva, a grande maioria segue o entendimento de que deve-se reparar os

danos, mesmo não havendo culpa, tendo o agente causador do dano, assumido o risco por

desenvolver atividades lesivas.

No item que se segue, será verificado como deve ser feita a reparação do dano e quais

formas de reparação são admitidas no ordenamento jurídico brasileiro.

194 HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Responsabilidade civil , p. 376 195 HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Responsabilidade civil , p. 376

Page 85: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

84

4.3.3 Da reparação do dano ambiental

De maneira que, não havendo mecanismos separadores da forma de se reparar os

danos quando estes são causados por pessoas físicas ou jurídicas, não será feita maior

distinção neste sentido eis que, tanto as pessoas físicas quanto as Pessoa Jurídicas ao

cometerem danos ao Meio Ambiente, tem o dever de indenizar e reparar esse dano, sendo

que, o que distingue a forma de indenização é a profundidade dos danos e o poder econômico

que se verifica entre o individual e a Empresa Jurídica. Onde esta com certeza terá maiores

obrigações visto que normalmente os danos tem maior abrangência e acabam atingindo

quando ocorrem elevado número de pessoas e grandes áreas ambientais, enquanto que o

individuo que causa Danos Ambientais, não provoca grandes estragos que tenham maior

abrangência, muito embora nem por isso se eximam do dever de reparar e indenizar os danos

ocorridos.

O princípio da reparação do dano ambiental é adotado pelo Brasil e também pela

maioria dos demais Estados. No ordenamento jurídico brasileiro, o dever de reparar os danos

causados ao meio ambiente está expresso nos artigos 225, parágrafo 3º da Constituição

Federal e no artigo, 4º, inciso VII, da Lei 6.938/81.

No Brasil, o legislador adotou a teoria do risco integral para apurar a Responsabilidade

Civil Por Danos Causados ao Meio Ambiente, não se admitindo segundo Sandro D’Amato

Nogueira, “nenhuma causa excludente de Responsabilidade Civil, nem mesmo o caso fortuito

ou de força maior” 196.

Concernente aos mecanismos utilizados para combater o dano ecológico, conforme

preceitua Rui Stoco, “um dos instrumentos processuais mais modernos para o combate ao

dano ecológico e às agressões ao Meio Ambiente é a ação civil pública, criada e disciplinada

pela Lei 7.347, de 24.07.85”.

No mesmo sentido se pode citar os ensinamentos de José Joaquim Gomes Canotilho e

José Rubens Morato Leite, ao lecionarem que “atualmente, a ação civil pública é o mais

196 NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Direito Ambiental. Coleção Estudos Direcionados, p. 17

Page 86: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

85

importante meio processual de defesa ambiental, tendo sido também agasalhada pelo texto

constitucional” 197.

Lembrando que, ao mencionar o texto constitucional, os autores referem-se ao art.

129, III da Carta Magna assim disposto:

CRFB - Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (...) III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;198

De acordo com ensinamentos contidos na obra de Álvaro Luiz Valery Mirra, acerca da

Ação Civil Pública, encontramos que:

A ação civil pública ambiental visa à tutela de um direito humano fundamental – o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado – e à proteção de um bem de uso comum do povo – o meio ambiente – que, como visto, são indisponíveis e não têm natureza patrimonial, ainda que a lesão a eles causada seja passível de valoração econômica para fins de reparação. Por via de conseqüência, não se submete tal ação civil à disciplina da prescrição.199

Apesar dos ensinamentos acerca do objeto da ação civil pública, o autor não age

acertadamente no momento que alega não se submeter esta ação à disciplina da prescrição,

isto porque, conforme ensinamentos de Rui Stoco, “a regra é a prescrição, que significa e

traduz segurança jurídica, posto que o tempo deve ter o poder de tudo resolver e tudo apagar

de modo que a imprescritibilidade é exceção e, como tal, não pode ser presumida”.

De maneira que, mesmo sabendo-se que o Dano Ambiental, dificilmente será reparado

ou restaurado naturalmente ao longo do tempo, não se pode cogitar em imprescritibilidade

nesta ação pelo simples fato de não estar descrito na Lei que instituiu a Ação Civil Pública,

dispositivo acerca da prescrição.

197 CANOTILHO, José Joaquim Gomes e LEITE, José Rubens Morato. Direito constitucional ambiental brasileiro. São Paulo. Saraiva, 2007, p. 316 198 Constituição da República, art. 129, III. 199 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. 2. ed. São Paulo:Juarez de Oliveira, 2004, p. 245

Page 87: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

86

Neste sentido, importante trazer à baila os ensinamentos de Rui Stoco, ao lecionar que:

O só fato de a Lei 7.347/85 (Ação Civil Pública) ter silenciado acerca da prescrição não é fundamento para entender que possa ser aviventada a qualquer tempo. Não se deslembre que a prescrição é a perda da ação atribuída a um direito. Prescreve a pretensão. E a prescrição está disciplinada, como regramento para todas as hipóteses, no Código Civil, exceto a disciplina estabelecida com relação à Fazenda Pública, no código do Consumidor e em leis extravagantes especificas e Tratados ou Convenções Internacionais.200

Aliado a este dispositivo de proteção, que evidentemente não se destina apenas a

coibir as agressões ao Meio Ambiente, está também a Lei 8.078, de 11.09.90201, a qual

segundo ensinamentos de Rui Stoco:

... estabelece que a defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo (art. 81), nos casos de interesses ou direitos difusos, ou seja, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; interesses ou direitos coletivos e individuais homogêneos.202

Por outro lado, ainda em referência a Lei de Ação Civil Pública, justificando sua

aplicação juntamente com o Código de Defesa do Consumidor, segundo ensinamentos de Rui

Stoco, referida Lei assim dispõe:

“Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III, da Lei 8.078, de 11.09.90, que instituiu o Código de Defesas do Consumidor” (art. 21)203

Nesta esteira em se verificando a ocorrência de Danos Ambientais, os Legitimados

para propor a ação civil pública, segundo Rui Stoco são: a) Ministério Público; b) Defensoria

Pública; c) União; d) Estados; e) Distrito Federal; f) Municípios; g) Autarquias; h) Empresas

públicas; i) Fundações; j) Sociedades de economia mista e l) Associações (art. 5º da Lei

7.347, de 24.07.85, com redação da Lei 11.448, de 25.01.2007.

200 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência, p. 887 201 Institui o Código de Defesa do Consumidor 202 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência, p. 885 203 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência, p. 885

Page 88: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

87

Referida lei 7.347/85, tem como cerne identificar e apurar a responsabilidade por

danos causados ao Meio Ambiente, bem como ao consumidor, a bens e direitos de valor

artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, com a condenação do responsável em

dinheiro ou ao cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer (art. 3º).

Rui Stoco ensina que, para dar efetiva concreção ao preceito impositivo constante do

art. 3º da Lei 7.347/85, no que pertine ao meio ambiente, a Lei 6.938, de 31.08.81, que dispõe

sobre a PNAMA, estabelece no art. 14, § 1º: “Sem obstar a aplicação das penalidades

previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a

indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua

atividade. o Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de

responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente” 204.

Acerca da eficácia da Ação Civil Pública importante destacar os ensinamentos de

Paulo Affonso Leme Machado, ao asseverar que:

A ação civil pública, pode realmente trazer a melhoria e a restauração dos bens e interesses defendidos, dependendo, contudo, sua eficácia, além da sensibilidade dos juízes e do dinamismo dos promotores e das associações, do espectro das ações propostas. Se a ação ficar como uma operação “apaga incêndios” muito pouco se terá feito, pois não terá peso para mudar a política industrial e agrícola, nem influenciará o planejamento nacional. Ao contrário, se as ações forem propostas de modo amplo e coordenado, poderemos encontrar uma das mais notáveis afirmações de presença social do Poder judiciário205.

Nesse interregno no intuito de aplicar a penalidade quando verificado o Dano

Ambiental, a que se identificar qual é a culpa do transgressor, para ai sim aplicar a medida

repressiva, reparatória, indenizatória ou ambas se for o caso.

Assim, acerca da responsabilidade civil por danos ao meio ambiente, mesmo sendo

recente a visualização da existente e real necessidade de se prevenir e preservar, já observa-se

nos Tribunais, julgados neste sentido determinando o dever de indenizar, colhendo-se então

dos julgados do Superior Tribunal de Justiça a seguinte decisão:

204 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência, p. 886 205 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 14ª ed. rev. atual. e ampliada. São Paulo. Malheiros Editores, 2006, p. 366

Page 89: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

88

Indenização. Responsabilidade civil. Ato ilícito. Dano causado por desmatamento de mata natural atlântica em propriedade particular. Comprovação efetiva do dano ecológico. Art. 186, II, da CF. Verba a ser fixada na fase de liquidação, por arbitramento. Sentença confirmada. Recurso não provido – “A obrigação de recompor em parte área desmatada não exclui a obrigação de indenizar os irreversíveis danos ambientais. Agredindo-a, embora em seu próprio domínio rural, o réu fica sujeito à intervenção do Estado para a devida recomposição do dano que causou” (TJSC – 3º C. – AP. – Rel. Mattos Faria – j. 07.12.93 – JTJ – LEX 153/123).

4.3.3.1 A Responsabilidade Civil da Pessoa Jurídica Por Danos Ambientais

Já concernente à Responsabilidade Civil da Pessoa Jurídica por Danos Ambientais,

muito embora pouco se comenta acerca da possibilidade da punição que possa vir a sofrer, no

Brasil isso já provou-se possível, visto decisões do STJ posicionando-se a favor da

Responsabilidade da Pessoa Jurídica por Dano Ambiental.

A possibilidade de se Responsabilizar a Pessoa Jurídica que causa danos ao meio

ambiente, ou de seus agentes, encontra amparo também na Constituição da República

Federativa do Brasil, em seu art. 37 § 6º, abaixo transcrito:

CRFB Art. 37 – A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Assim, atendendo aos reclamos da sociedade, o STJ já se posicionou a favor da

Responsabilidade da Pessoa Jurídica por dano ambiental:

PROCESSO CIVIL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DANO AMBIENTAL.É parte legítima para figurar no pólo passivo da ação civil pública, solidariamente, o responsável direto pela violação às normas de preservação do meio-ambiente, bem assim a pessoa jurídica que aprova o projeto danoso. Na realização de obras e loteamentos, é o município responsável solidário pelos danos ambientais que possam advir do empreendimento, juntamente com o dono do imóvel. Se o imóvel causador do dano é adquirido por terceira pessoa, esta ingressa na solidariedade, como responsável. Recurso especial improvido. Recurso Especial nº 295.797 - SP (2000⁄0140274-9)

Por outro lado, admite-se ainda a desconstituição da Personalidade Jurídica quando

são verificados danos ao meio ambiente, possibilitando a abrangência da punição também aos

Page 90: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

89

sócios administradores da Pessoa Jurídica, em exercício quando da constatação dos danos

ambientais. Neste sentido Julgado do STJ:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. POLUIÇÃO AMBIENTAL. EMPRESAS MINERADORAS. CARVÃO MINERAL. ESTADO DE SANTA CATARINA. REPARAÇÃO. RESPONSABILIDADE DO ESTADO POR OMISSÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. 4. Havendo mais de um causador de um mesmo dano ambiental, todos respondem solidariamente pela reparação, na forma do art. 942 do Código Civil. De outro lado, se diversos forem os causadores da degradação ocorrida em diferentes locais, ainda que contíguos, não há como atribuir-se a responsabilidade solidária adotando-se apenas o critério geográfico, por falta de nexo causal entre o dano ocorrido em um determinado lugar por atividade poluidora realizada em outro local. 5. A desconsideração da pessoa jurídica consiste na possibilidade de se ignorar a personalidade jurídica autônoma da entidade moral para chamar à responsabilidade seus sócios ou administradores, quando utilizam-na com objetivos fraudulentos ou diversos daqueles para os quais foi constituída. Portanto, (i) na falta do elemento "abuso de direito"; (ii) não se constituindo a personalização social obstáculo ao cumprimento da obrigação de reparação ambiental; e (iii) nem comprovando-se que os sócios ou administradores têm maior poder de solvência que as sociedades, a aplicação da disregard doctrine não tem lugar e pode constituir, na última hipótese, obstáculo ao cumprimento da obrigação. 6. Segundo o que dispõe o art. 3º, IV, c⁄c o art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938⁄81, os sócios⁄administradores respondem pelo cumprimento da obrigação de reparação ambiental na qualidade de responsáveis em nome próprio. A responsabilidade será solidária com os entes administrados, na modalidade subsidiária.

Visualizando-se então a possibilidade de se punir além do particular, também a Pessoa

Jurídica quando são constatados danos ao Meio Ambiente, a de se saber como serão

indenizados esses danos.

4.3.3.2 Formas de reparação do dano pela pessoa jurídica

Aquele que causar prejuízo a outrem é obrigado a reparar o dano. A reparação indica

uma idéia de ressarcimento ou compensação do dano sofrido; é assim, um dos efeitos da

responsabilidade civil206.

206 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 215

Page 91: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

90

Como já mencionado no item 4.3.3 da reparação do dano, conforme estabelece o

artigo 4º, VII, da Lei 6.938/81, um dos objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente será

imputar ao poluidor e predador, a obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos por ele

causados. Ambas alternativas buscam impor um custo ao poluidor e cumprir dois objetivos de

grande importância, quais sejam: dar uma resposta econômica aos danos sofridos pela vítima

e reprimir atitudes semelhantes do poluidor ou de terceiros. assim dispõe o art. 4º, VII, da Lei

6.938/81:

Art. 4º da Lei de PNMA: “A Política Nacional do Meio Ambiente visará: VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”.

Ensejando o dever de indenizar consta a presença de dois tipos típicos de reparação,

por quanto, segundo Rui Stoco, como não se conhece, há duas maneiras fundamentais de

reparação do dano ambiental: a) o retorno ao status quo ante b) a indenização em dinheiro.

No mesmo sentido Edis Milaré leciona que “A reparação ambiental, como qualquer

outro tipo de reparação, funciona através das normas de responsabilidade civil, que por sua

vez, pressupõe prejuízo a terceiro, ensejando pedido de reparação do dano, consistente na

recomposição do bem ambiental ao estado em que se encontrava antes de ser atingido ou

numa importância em dinheiro (indenização)207.

Da mesma forma Rui Stoco ao citar Édis Milaré ensina que “a modalidade ideal é a

primeira, que deve ser tentada, mesmo que mais onerosa" (Direito do Ambiente... cit., 1. ed.,

p.336)208.

a) O status quo ante

A melhor forma de reparação, isto é, a ideal, é sempre a recuperação ou recomposição

do bem ambiental, ao lado da cessação das atividades nocivas. com o intuito de se impor a

cessação de lesão ambiental ao degradador, postula-se executar uma prestação positiva209.

207 Milaré, Edis. Direito do Ambiente. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 420 208 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência, p. 884

Page 92: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

91

Convém pontuar, que as formas de reparação do dano ambiental obedecem a uma

ordem hierárquica. Primeiramente, busca-se a recuperação do bem lesado; posteriormente, de

forma subsidiária, a indenização pecuniária, nos casos em que a represtinação não é possível.

Portanto, a principal opção da responsabilidade civil ambiental não é a justa compensação

monetária da vítima, mas a prevenção do dano ecológico e a reintegração dos bens ambientais

lesados.

Neste sentido, importante citar a precisa lição de José de Aguiar Dias:

Não obstante o seu caráter subsidiário, a indenização em dinheiro é a mais freqüente, dadas às dificuldades postas, na prática, à reparação natural pelas circunstâncias e, notadamente, em face do dano, pela impossibilidade de restabelecer, a rigor, a situação anterior ao evento danoso210.

Por oportuno, cumpre ainda destacar que uma vez consolidado o Dano ao Meio

Ambiente, a possibilidade de sua reparação, do ponto de vista ecológico, é remota.

Ademais, novamente é de salientar que não basta apenas que o dano seja reparado,

visto que, tão importante quanto à recuperação do meio ambiente agredido é a cessação da

atividade poluidora e a reversão da área degradada.

Assim, conforme preceitua José de Souza Cunhal Sendim, “a reintegração,

recomposição ou recuperação do bem ambiental lesado abrange à restauração do status quo

ante211 e também à reabilitação dos recursos naturais afetados” 212.

Neste sentido também os ensinamentos de Edis Milaré ao lecionar que; “quando já

resta consumado o dano ambiental, aprioristicamente deve-se tentar a realização da reparação

específica do bem ambiental, reconstituindo ou recuperando o meio ambiente agredido,

cessando-se a atividade lesiva e revertendo-se a degradação ambiental213.

209 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial, p. 218 210 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 8.ed. v.2. Rio de Janeiro: Forense, 1987, p.724 211 No estado em que se encontrava anteriormente 212 SENDIM, José de Souza Cunhal. Responsabilidade civil por danos ecológicos: da reparação do dano através da restauração natural. Coimbra: Coimbra Editora, 1998, p. 185 213 Milaré, Edis. Direito do Ambiente, p. 425

Page 93: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

92

De maneira que, quando é interposta uma ação de responsabilidade civil contra uma

empresa poluidora, o pedido mediato deve ser no sentido de reparar o dano causado ao meio

ambiente de modo específico, podendo citar-se como exemplo, o reflorestamento da área

desmatada, a promoção de programas educacionais na seara ambiental, entre outros.

Nesta senda, visualiza-se que a primeira tentativa de recuperação do meio ambiente,

deve ser no sentido de recompor o bem ambiental prejudicado, restabelecendo o estado das

coisas.

Somente após exaurirem-se todas as hipóteses neste sentido, não logrando-se êxito,

abrir-se-á a hipótese de reparar via indenização em dinheiro, uma vez que a simples

condenação em quantum pecuniário, por mais vultuosa que seja, não tem o condão de

reavivar o prejuízo causado em virtude da cessação de fruição de um meio ambiente sadio e

ecologicamente equilibrado.

Assim, parece imperioso que se busque, primeiramente, todos os meios possíveis para

restauração do bem ambiental, como forma de ressarcimento ao meio ambiente coletivo. O

fato se encontra de acordo com os ditames da legislação brasileira214.

Como afirma José Rubens Morato Leite, “não sendo possível a reparação natural,

como instrumento subsidiário de reparação, deve-se cogitar da utilização da indenização

pecuniária, visando à compensação ecológica215.

b) A indenização em dinheiro

A legislação ambiental brasileira determina no artigo 13 da Lei n. 7.347/85 que:

“Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo

gerido por um Conselho Federal ou por conselhos Estaduais que participarão necessariamente

o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à

reconstituição dos bens lesados”.

214 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 218 215 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 219

Page 94: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

93

Rui Stoco ensina que além da reparação do dano, também existe a indenização através

da sanção pecuniária, e assim dispõe:

Mas a legislação de regência, além das sanções de natureza penal e administrativa, também estabelece sanção pecuniária ao agente causador do dano, sem prejuízo do dever de restaurar o que pode ser reconstituído (obrigação de fazer) ou de indenizar o valor correspondente (obrigação de dar), uma ou outra, evidentemente, e não ambas cumulativamente. A multa será destinada a um fundo especial e tem por objetivo reparar o prejuízo sofrido por terceiros que posteriormente comprovem efetivamente esse dano individual.216

Neste sentido é do escólio de José Rubens Morato Leite, os seguintes ensinamentos:

Pelo sistema reparatório do dano ambiental, via ação civil pública, os valores pecuniários arrecadados em função da lesão ao meio ambiente, ficam depositados em fundo denominado fundo para reconstituição dos bens lesados, e que são destinados, em última análise, à compensação ecológica. Assim, a idéia que paira neste fundo reparatório do dano é sempre buscar a reintegração do bem ambiental, pois o valores arrecadados em indenização, via de regra, servem para a execução de obras de reintegração do bem ambiental, objetivando sub substituir este bem por outro equivalente. Mencione-se, no entanto, que a indenização pecuniária só não irá para o fundo, quando se tratar de lesão conectada com o meio ambiente, mas relacionada com os interesses individuais próprios do lesado217.

O fundo acima referenciado para o qual a multa será direcionada, foi criado na

intenção de se evitar que os valores que são indenizados a título de Dano Causado ao Meio

Ambiente, não se percam ou caiam em mãos erradas que possam vir a fazer dele mau uso.

Neste sentido encontra-se na precisa lição de Rui Stoco que:

Visando evitar que o valor da multa fixado na sentença caísse em mãos espúrias ou se perdesse nos órgãos públicos, o legislador criou um “fundo”, a ser gerido por um Conselho Federal ou Conselhos Estaduais. Tais valores destinam-se à reconstituição dos bens lesados, segundo a dicção do art. 13 da LACP.218

Ainda concernente ao ‘Fundo de Defesa dos Direitos Difusos’, Rui Stoco ensina que

através da condenação em dinheiro, busca-se “... proporcionar efetiva indenização a qualquer

216 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: Doutrina e jurisprudência, p. 884 217 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 220 218 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: Doutrina e jurisprudência, p. 886

Page 95: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

94

das pessoas lesionadas que venham a ser identificadas e indenizar pelo dano ao meio

ambiente em si” 219.

Aparentemente, entende-se que a justiça irá de alguma forma buscar alcançar todos

aqueles que são prejudicados e sofrem quando o Meio Ambiente é danificado, porém a

realidade é outra, pois somente será indenizado àquele que efetivamente buscar socorro

através do judiciário o que muitas vezes acaba não acontecendo devido a pouca divulgação e

quase nenhuma instrução à população acerca deste mecanismo indenizatório e também pela

falta de ensino do dever de se preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações

o que deveria em suma priorizar-se ainda nas escolas.

Em sede de indenização, Paulo Sérgio de Moura Franco apud por Simone de Almeida

Bastos Guimarães ensina que “a indenização deverá ser a mais ampla possível que puder ser

provada, aí se incluindo os lucros cessantes. Entretanto, não pode constituir motivo para

enriquecimento ilícito ou sem causa, à custa do empreendedor. O melhor parâmetro para a

indenização será o equivalente à diminuição do patrimônio que o prejudicado venha a sofrer.

No entanto, muitas vezes a fixação do quantum indenizatório é complexa, devendo revestir-se

de cautela e recorrer a estimativas” 220.

Ora, com a presente rede de corrupção e desvio de dinheiro público que diariamente

vislumbra-se televisionada na mídia, seria muita ingenuidade se acreditar que todos os valores

que são indenizados quando da constatação de danos ao meio ambiente, são fielmente

empregados para o fim a que se destinam.

Lembra Rui Stoco ao citar Marcelo abelha Rodrigues que “os fundos guardam uma

identidade comum: servem a uma finalidade especifica o qual ficam atrelados. Mais que isso,

os fundos podem ser fundos com finalidades provisórias (e por isso preventivas) e

compensatórias” (Ação Civil Pública e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Forense Universitária,

2003, p. 312) 221.

219 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: Doutrina e jurisprudência, p. 886 220 GUIMARÃES, Simone de Almeida Bastos. O dano ambiental. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 58, ago. 2002. Disponível em: Acesso em: 04 out. 2008. 221 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência, p. 886

Page 96: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

95

A maneira com que vem sendo empregado o dinheiro que é depositado nas contas do

‘Fundo de Defesa dos Direitos Difusos’, já está sendo alvo de criticas entre os doutrinadores,

para tanto, Rui Stoco leciona que; “lamentavelmente, os fundos têm sido mal-administrados e

não vêm cumprindo o seu papel adequadamente, tangenciando os objetivos pensados pelo

legislador e explicitados na lei de regência e instrumentos periféricos de regulamentação”222.

Por fim, cumpre salientar que nada impede que se cumulem as duas formas de

reparação nas vezes em que o dano for parcialmente reparável. Nas hipóteses em que, o dano

patrimonial, coexistir com o extrapatrimonial, as duas formas de reparação devem se somar,

pois além da restauração do ambiente degradado deve haver a compensação em dinheiro pela

sensação de dor suportada pelos lesados

Verifica-se, pois, que nem todo dano ecológico pode ser reparado, porque (regra geral)

esses são irreparáveis e infungíveis. É justamente em razão deste fato, que se prioriza a

prevenção dos danos ambientais, porque se há possibilidade de ser quantificado os custos do

dano ecológico, dificilmente se conseguirá restituí-lo ao estado primitivo.

Assim, além das medidas de reparação do dano acima elencadas, existe outra que

certamente é a mais importante e deveria ser mais utilizada, a medida preventiva, onde se

previne o dano antes que ele venha a ocorrer.

4.3.4 Prevenção do dano ambiental

O princípio da prevenção como o próprio nome diz, tem como escopo evitar danos ao

meio ambiente antes que estes venham efetivamente a ocorrer, sendo a razão da existência do

Direito Ambiental, pois sua degradação, como regra, é irreparável.

Acerca da necessidade de se prevenir a ocorrência de possíveis danos ao Meio

Ambiente, Toshio Mukai dispõe em seus ensinamentos que:

No Brasil, a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, através do seu art. 2º, dispõe que a Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivos a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental, atendidos, dentre outros princípios, os seguintes:

222 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência, p. 886

Page 97: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

96

I – ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; (...) IV – proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; (...) IX – proteção de áreas ameaçadas de degradação223;

Ato continuo enfatiza Toshio Mukai que, “eis ai contemplado, no Direito positivo

brasileiro, o principio da prevenção” 224.

Desta forma é de se esperar que o Direito Ambiental deve atuar incisivamente na

esfera preventiva, ou seja na hipótese de evitar o mero risco de ocorrência do dano. Por esse

motivo é que os legitimados à ação civil pública não necessitam esperar a consumação do

dano ambiental para propô-la e, pela mesma razão, os órgãos integrantes do Sistema Nacional

do Meio Ambiente - SISNAMA podem aplicar medidas preventivas (art. 72 da Lei nº 9.605,

de 1998) e sanções administrativas mesmo quando não haja efetiva lesão ao meio ambiente.

O principio da prevenção, segundo acevera Marcelo Abelha Rodrigues. “constitui um

dos mais importantes axiomas do Direito Ambiental, a sua importância está diretamente

relacionada ao fato de que, se ocorrido o dano ambiental, a sua reconstituição é praticamente

impossível” 225.

Sendo este principio dos mais importantes mecanismos que devem ser utilizados para

que não ocorram danos ao meio ambiente. Visto que o dano após ocorrer fica praticamente

impossibilitado de voltar a uma situação anteriormente criada pela própria natureza.

Neste sentido, importante a lição de Ramón Marin Mateo citado por Celso Antonio

Pacheco Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues, em seus ensinamentos:

Diante da impotência do sistema em face da impossibilidade lógico-juridica de fazer voltar a uma situação igual a que teria sido criada pela própria natureza, adota-se, com inteligência e absoluta necessidade, o principio da prevenção do dano ao meio ambiente como verdadeira chave mestra, pilar e

223 MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. 5 ed. rev. e atual.. Rio de Janeiro: Universitária, 2005, p. 38 224 MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado, p. 38 225 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Elementos de direito ambiental: parte geral. 2 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2005. p. 203

Page 98: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

97

sustentáculo da disciplina ambiental, dado o objetivo fundamentalmente preventivo do Direito Ambiental226.

Para Paulo Affonso Leme Machado, “o dever jurídico de evitar a consumação de

danos ao meio ambiente vem sendo salientado em convenções, declarações e sentenças de

tribunais internacionais, como na maioria das legislações internacionais” 227.

Na vanguarda compartilhatória jurídica melhor sorte tem o posicionamento da CF ao

expressamente adotar o princípio da prevenção como fundamento do Direito Ambiental. Isso

porque diz o art. 225, caput, que cabe ao Poder Público e á coletividade o dever de proteger e

preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

Nesta senda, encontram-se, no sistema normativo brasileiro, alguns instrumentos de

tutela ambiental, seja para pesquisa, seja para ação de prevenir, no âmbito administrativo,

como o licenciamento ambiental e respectivo estudo prévio de impacto ambiental,

zoneamento administrativo, tombamento e as sanções administrativas. Especialmente nesta

hipótese de sanções administrativas, o Direito Ambiental, ramo do Direito Público, permite ao

Estado impor multas ao poluidor que inibem futuras agressões ao meio ambiente.

Conforme ensinamentos de José Rubens Morato Leite, em matéria de dano ambiental,

o principio da atuação precaucional ou preventiva deve ser instituído em todos os flancos da

atuação do estado, quer no âmbito administrativo, legislativo, quer no seu aspecto

jurisdicional228.

Enfatiza ainda o jurista que, o legislador brasileiro foi sensível neste aspecto e dotou o

sistema da ação civil pública com vários instrumentos liminares, provimentos cautelares e

antecipatórios, evitando que a morosidade do processo transforme-se em um obstáculo à sua

efetividade. Além do que, facultou ao juiz, com a utilização destes mecanismos, em

consonância com o principio de direito ambiental da precaução e prevenção229.

226 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de direito ambiental e legislação aplicável. 2ª ed. rev. e ampl.. São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 140 227 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro, p. 80 228 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 257 229 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 258

Page 99: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

98

Nesta linha de entendimento, tem os tribunais entendido que é necessário entes

qualquer medida que possa vira a causar danos ambientais, que se faça um estudo prévio dos

impactos danosos. Medidas cautelares antecipatórias tem sido deferidas no sentido de

suspender atividades danosas ao meio ambiente, para que se tomem maiores cautelas por

parte dos empreendedores que buscam explorar o meio ambiente, e também para que seja

redobrada a fiscalização por parte do poder público, em atenção aos princípios da prevenção e

precaução.

Neste sentido, traz-se a baila julgado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, que

manteve a decisão agravada e negou seguimento ao recurso de agravo de instrumento onde

requereu-se liberação para prosseguir com o corte de vegetação, pelo qual havia sido

determinado sua abstenção sobre pena de multa, em liminar concedida pelo juízo

monocromático de São Francisco do Sul:

EMENTA. AÇÃO CAUTELAR EM MATÉRIA AMBIENTAL - LIMINA R CONCEDIDA - AGRAVO DE INSTRUMENTO - LICENÇA E AUTORIZAÇÃO DE CORTE EXPEDIDOS EM DESACORDO COM O RELATÓRIO DE VISTORIA. O art. 225 da CRFB prevê que o Poder Público, com o fito de garantir um meio ambiente equilibrado, pode exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente ensejadora de significativa lesão ao meio ambiente, estudo prévio de impacto. No caso em tela, a licença e autorização de corte obtidos pela agravante se encontram em frontal oposição ao relatório de impacto ambiental efetuado in loco, uma vez que naquele documento consta expressamente a proibitiva de supressão de árvores, florestas ou qualquer forma de vegetação de Mata Atlântica, bem como de conjunto de plantas em estágio de regeneração médio ou elevado, vedações estas, contidas na Lei n. 4774/65, Decreto n. 750/93 e resolução CONAMA n. 237/97. Destarte, não pode a recorrente pretender, escorada em licença e autorização que não levaram em conta a realidade, continuar a explorar e suprimir a vegetação da área, pelo menos até a realização de um estudo de impacto ambiental. AMBIENTAL - PROTEÇÃO ANTECIPADA - CONTROLE DO RISCO DE DANO - APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA PRECAUÇÃO E PREVENÇÃO. Frente ao atual conceito de proteção ambiental trazido pela CRFB, percebe-se a importância atribuída à antecipação no que tange ao controle do risco de dano, notadamente com a aplicação dos princípios. O princípio da prevenção tem seu âmbito gravitacional dirigido às hipóteses em que se pode vislumbrar um perigo concreto, ou melhor, onde o risco de dano é mais palpável. O princípio da precaução, por sua vez, atua no caso de perigo abstrato, hipóteses em que não se pode ter noção exata das conseqüências advindas do comportamento do agente Por este viés, é preferível o adiamento temporário das atividades eventualmente agressivas ao meio ambiente, a arcar com os prejuízos em um futuro próximo, ou ainda,

Page 100: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

99

pleitear reparação dos danos, a qual, nesta seara, torna-se normalmente complicada e, muitas vezes, ineficiente230.

Conforme ressalva Celso Antonio Pacheco Fiorillo, em seus ensinamentos:

Não se quer com isso inviabilizar a atividade econômica, mas tão-somente excluir do mercado o poluidor que ainda não constatou que os recursos ambientais são escassos, que não pertencem a uma ou algumas pessoas e que sua utilização encontra-se limitada na utilização do próximo, porquanto o bem ambiental é um bem de uso comum do povo231.

No intuito de evitar futuros e possíveis danos ao Meio Ambiente, torna-se necessário

existir permanente sistema de informação e séria pesquisa para resolver os problemas

ambientais ainda na sua origem, mesmo antes de serem provocados.

Nesse sentido, Paulo Affonso Leme Machado organiza em cinco itens a aplicação do

princípio da prevenção:

1º) identificação e inventário das espécies animais e vegetais de um território, quanto à conservação da natureza e identificação das fontes contaminantes das águas do mar, quanto ao controle da poluição; 2º) identificação e inventário dos ecossistemas, com a elaboração de um mapa ecológico; 3º) planejamentos ambiental e econômico integrados; 4º) ordenamento territorial ambiental para a valorização das áreas de acordo com a sua aptidão; e 5º) Estudo de Impacto Ambiental232.

Pelo principio da prevenção, entende-se que deveria configurar um complexo sistema

de conhecimento e constante vigilância da Biota, ponderando a constante atualização de

informações que permitissem a implementação e modernização das políticas ambientais.

Hely Lopes Meirelles apud Rui Stoco, acevera que “melhor será, sempre, a ação

preventiva, visto que há lesões irreparáveis in specie, como a derrubada ilegal de uma floresta

nativa ou a destruição de um bem histórico, valioso pela sua origem e autenticidade” 233.

230 TJSC. Agravo de instrumento nº. 04.002441-0, de São Francisco do Sul, Des. Rel: Volnei Carlin, Data da Decisão 27/05/2004. 231 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 40 232 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Estudos de Direito Ambiental. São Paulo: Malheiros Editores, 1994, p. 36 233 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: Doutrina e jurisprudência, p. 883

Page 101: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

100

De outra sorte, além do principio da prevenção também elencado em nosso

ordenamento jurídico como cerne de proteção a evitar a ocorrência dos danos está o principio

da precaução, o qual se tem noticias confundir-se com aquele. Porém, é de salientar que tais

princípios não se confundem visto que, enquanto o Princípio da Precaução se preocupa com

os possíveis riscos, o Principio da Prevenção se debruça aos impactos ambientais já

conhecidos, ao longo do tempo.

Assim, o princípio da precaução veio sem dúvida reforçar o princípio da prevenção.

A respeito do principio da precaução assim leciona Cristiane Derani:

O princípio da precaução está ligado aos conceitos de afastamento de perigo e segurança das gerações futuras, como também de sustentabilidade ambiental das atividades humanas. Este princípio é a tradução da busca da proteção da existência humana, seja pela proteção de seu ambiente como pelo asseguramento da integridade da vida humana. A partir desta premissa, deve-se também considerar não só o risco iminente de uma determinada atividade como também os riscos futuros decorrentes de empreendimentos humanos, os quais nossa compreensão e o atual estágio de desenvolvimento da ciência jamais conseguem captar em toda densidade (...) 234.

Em termos práticos, o princípio da precaução significa a rejeição da orientação política

e da visão empresarial que durante muito tempo prevaleceram, segundo as quais atividades e

substâncias potencialmente degradadoras somente deveriam ser proibidas quando houvesse

prova científica absoluta de que, de fato, representariam perigo ou apresentariam nocividade

para o homem ou para o meio ambiente235.

Desta forma, em havendo certeza da ocorrência do dano ambiental, Paulo Affonso

Leme Machado esclarece que:

Este deve ser prevenido, como preconiza o princípio da prevenção. Em caso de dúvida ou incerteza, também se deve agir prevenindo. Essa é a grande inovação do princípio da precaução. A dúvida científica, expressa com argumentos razoáveis, não dispensa a prevenção236.

234 DERANI, Cristiane. Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 167 235 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. Direito Ambiental Internacional . Rio de Janeiro: Thex Ed, 1995, p. 54 236 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Estudos de Direito Ambiental, p. 55

Page 102: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

101

Vislumbra-se assim que a partir da consagração do princípio da precaução, é de se

saber, não pode mais haver dúvidas de que o Direito Ambiental no Brasil é o direito da

prudência, é o direito da vigilância no que se refere à degradação da qualidade ambiental e

não o direito da tolerância com as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Esse o

enfoque que deve prevalecer em toda atividade de aplicação do Direito nessa área, inclusive

na esfera judicial.

“A precaução” – adverte Paulo Affonso Leme Machado – “age no presente para não se

ter que chorar e lastimar no futuro. A precaução não só deve estar presente para impedir o

prejuízo ambiental, mesmo incerto, que possa resultar das ações ou omissões humanas, como

deve atuar para a prevenção oportuna desse prejuízo. Evita-se o dano ambiental, através da

prevenção no tempo certo” 237.

Outro importante fator enraizado no principio da precaução é o da inversão do ônus da

prova, onde, além dessa inversão nas ações ambientais, estabelece também uma verdadeira

regra de julgamento a ser seguida pelos juízes.

Finalizando o conteúdo a cerca da prevenção e precaução no que concerne ao meio

ambiente, é de se saber que, além destes princípios basilares do direito ambiental que, como já

explicado não se confundem, faz-se oportuno trazer a lume outro importante principio que

serve de ancora para a proteção ambiental, o principio do Poluidor - Pagador.

Neste passo, de bom alvitre comentar acerca do principio do Poluidor – Pagador.

4.3.5 Poluidor – Pagador

Através deste principio entende-se que aquele que causar dano ao meio ambiente

efetivamente deverá indenizar. Não podendo, no entanto confundir-se e pensar que poderá se

causar dano caso se indenize. Este princípio não significa que quem paga pode poluir, mas

traz em si outro significado, quem polui deve arcar com as despesas que seu ato produzir. Há,

porém os que digam que este principio se traduz no principio do usuário-pagador, visto que,

aquele principio do poluidor pagador, a contrario sensu, expressa um idéia falsa, pois parece

ensejar que questões como poluição e proteção do meio ambiente resolvem-se com um

237 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro, p 57

Page 103: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

102

simples pagamento, equacionando economicamente o Meio Ambiente, levando o

desinformado segundo Antônio Herman V. Benjamin à pensar que – “pago, logo posso

poluir”.

Neste sentido salienta Rodrigues Ramos citado por Celso Antonio Pacheco Fiorillo e

Marcelo Abelha Rodrigues:

os perigos interpretativos da referida da referida expressão, que se nos afigura como um dos principais princípios norteadores do Direito Ambiental. Já tendo sido interpretado como “pagar para poder poluir, “poluir mediante pagamento”, “pagar para evitar a contaminação”, “quem contamina paga e o dano não repara”, o referido principio não deve possuir vários e diferentes prismas de interpretação238.

Diante das premissas existentes em torno do principio do Poluidor – Pagador,

importante avolumar os presentes ensinamentos com o que dispõem, José Joaquim Gomes

Canotilho e José Rubens Morato Leite o lecionarem que:

O PPP é o principio que, com maior rapidez e eficácia ecológica, com maior economia e maior equidade social, consegue realizar os objectivos da política de proteção do ambiente. Os fins que o PPP visa realizar são a precaução, a prevenção e a equidade na redistribuição dos custos das medidas públicas239.

Novamente neste momento é de se enfatizar que a reparação não pode minimizar a

prevenção do dano. Sendo importante a ressalva de que a conduta mais acertada seria prevenir

o dano, mas se não for possível, pelo menos que seja garantida a reparação, não esquecendo,

porém que em determinadas situações o dano chega a atingir tamanhas proporções, que até

mesmo para se aferir o tamanho dos estragos torna-se difícil.

No que concerne aos valores que são pagos em atenção ao PPP, José Joaquim Gomes

Canotilho e José Rubens Morato Leite lecionam enfatizando que:

Quanto ao montante dos pagamentos e impor aos poluidores, ele deve ser proporcional aos custos de precaução e prevenção e não proporcional aos

238 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de direito ambiental e legislação aplicável, p. 140 239 CANOTILHO, José Joaquim Gomes e LEITE, José Rubens Morato. Direito constitucional ambiental brasileiro, p. 48

Page 104: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

103

danos causados. Voltamos a lembrar que o PPP não é um principio de responsabilidade, que actue a posteriori, impondo ao poluidor pagamentos para ressarcir as vítimas de danos passados. O PPP é um principio que actua, sobretudo a título de precaução e de prevenção, que actua, portanto, antes e independentemente da existência de vítimas240.

Toshio Mukai, ao lecionar sobre o tema, aduz em seus ensinamentos que:

...uma das conseqüências mais salientes daquele principio é a responsabilidade civil objetiva do poluidor constante do art. 41 da Lei de Bases do Ambiente: existe obrigação de indenizar, independentemente de culpa, sempre que o agente tenha causado danos significativos ao ambiente, em virtude de uma ação especialmente perigosa, muito embora com respeito do normativo aplicável (art. 41 nº 1)241.

Enfatiza Toshio Mukai que “a conseqüência desse principio também está presente no

Direito positivo brasileiro, ou seja, a responsabilidade objetiva:

Art. 14, § 3º da Lei nº 6.938/81: sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade242.

Finalizando o tema, somos pelos ensinamentos de José Joaquim Gomes Canotilho e

José Rubens Morato Leite ao lecionarem que:

Defendemos, portanto, que não devem ser os contribuintes a custear, através dos impostos que pagam, as medidas tomadas pelos poderes públicos para a proteção do ambiente, sejam elas medidas legislativas, administrativas ou materiais. Pelo contrário, deverão ser criados fundos gerais ou especiais, alimentados pelos poluidores, dos quais sairão as verbas necessárias à realização das despesas públicas de proteção do ambiente. Esta opção aparece denominada, na doutrina, como política de “equilíbrio do orçamento ambiental”, ou política de reciclagem de fundos” e consiste na angariação coactiva de fundos entre os poluidores, destinados ao financiamento da política de proteção do ambiente. esta política vem assegurar precisamente, como começámos por afirmar, a equidade na redistribuição dos custos

240 CANOTILHO, José Joaquim Gomes e LEITE, José Rubens Morato. Direito constitucional ambiental brasileiro. p. 48 241 MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado, p. 38 242 MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado, p. 39

Page 105: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

104

sociais da poluição e, sobretudo, uma protecção eficaz e econômica do ambiente243.

Estes são, em suma os principais fins e o conteúdo essencial do principio do

poluidor-pagador, principio fulcral, em nossa opinião, de qualquer política de ambiente

moderna, tanto ao nível nacional como supranacional, como é o caso da Política Comunitária

do Ambiente244.

4.3.6 Dano moral

Deve-se notar que a distinção entre dano patrimonial e dano moral só diz respeito aos

efeitos, não à origem do dano. Neste aspecto o dano é único e indivisível245.

Dando maior clarividência ao tema acerca do dano moral ambiental, importante lição

de José Joaquim Gomes Canotilho e José Rubens Morato Leite:

A nosso ver o que deve ficar bem claro, desde já, até porque é motivo de enorme celeuma na doutrina, é que existem os danos à moral e o dano com efeitos morais. No primeiro caso, trata-se de direito da personalidade, ou seja, um bem juridicamente protegido. no segundo caso, tratam-se de efeitos resultante de um dano. O primeiro pode ser a exteriorização, por exemplo, da honra agredida. Já o segundo é mero efeito, no exato sentido que quer significar o caráter extrapatrimonial do dano causado246.

Em atenção à possibilidade de a pessoa jurídica sofrer dano moral, é a lição de José

Rubens Morato Leite, a lecionar sobre o assunto:

Por outro lado, discute-se muito na doutrina e na jurisprudência brasileira atuais a aceitação do dano extrapatrimonial à pessoa jurídica. De fato, pretende-se com esses elementos demonstrar a desvinculação do dano extrapatrimonial ao monopólio do interesse individual. Lembre-se de que no passado recente o dano extrapatrimonial estava vinculado aos direitos

243 CANOTILHO, José Joaquim Gomes e LEITE, José Rubens Morato. Direito constitucional ambiental brasileiro, p. 49 244 CANOTILHO, José Joaquim Gomes e LEITE, José Rubens Morato. Direito constitucional ambiental brasileiro, p. 49 245 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de direito ambiental e legislação aplicável, p. 137 246 CANOTILHO, José Joaquim Gomes e LEITE, José Rubens Morato. Direito constitucional ambiental brasileiro, p. 137

Page 106: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

105

individuais da pessoa física e ligados estritamente à significação de dor, em sentido estrito247.

Diante destes ensinamentos, evidenciando a presente adaptação do dano

extrapatrimonial, importante análise á de se fazer na questão acerca da possibilidade das

pessoas jurídicas serem passiveis de sofrer ofensa de ordem moral.

Com efeito, segundo ensinamentos doutrinários, os argumentos contrários são

resumidamente os seguintes:

1. o elemento dor só é possível incidir nas pessoas físicas, e a lesão à pessoa jurídica seria de cunho patrimonial e não moral248;

2. as pessoas jurídicas são entes de ficção do direito e não sofrerão detrimentos anímicos249.

De outra forma, segundo ensinamentos de Beatriz Venturine citada por José Rubens

Morato Leite, existe:

Uma segunda doutrina relativamente ao dano extrapatrimonial da pessoa jurídica, que diz ser possível a pessoa jurídica demandar dano extrapatrimonial, mas em razão dos indivíduos integrantes da sociedade ou dirigentes. Outrossim, argumenta a autora, a pessoa jurídica representa um querer macumunado de seus sócios, que expressa sua vontade através destes e, assim, pode sofrer dano extrapatrimonial. Ademais, assevera a autora, o dano extrapatrimonial que ofende o ente jurídico imaterial não pode ser outro que o dano que experimentam os integrantes da sociedade nesta qualificação250.

Tais ensinamentos acima elencados trazem em seu bojo a possibilidade de se ter o

dano moral para os representantes da pessoa jurídica, não atingindo, porém o ente jurídico em

si.

De maneira que, para efeitos de dano moral de foram a abranger a pessoa jurídica, é

necessário se equiparar a pessoa física à pessoa jurídica, para tanto, José Rubens Morato

Leite, ensina que “a equiparação é um processo simples e efetivo de realizar a disciplina

247 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 292 248 SILVA, Wilson Melo. O dano moral e sua reparação. 3ª ed.. São Paulo: Saraiva, 1983, p. 650 249 LEÃO, Antonio Carlos Amaral. Considerações em torno do dano moral e a pessoa jurídica. v. 689. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992, p. 7 250 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 292

Page 107: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

106

jurídica da nova entidade, assegurando-lhes meios jurídicos que vão dar-lhes a possibilidade

de realizar aqueles interesses humanos, quereres individuais, quereres grupais, que são seu

escopo” 251.

De outro tanto, existe ainda uma terceira tese, a qual segundo José Rubens Morato

Leite é abraçada por um número significante de autores, que aceita, de forma irrestrita, a lesão

da pessoa jurídica por dano extrapatrimonial. Os autores que subscrevem esta tese são

conforme afirma José Rubens Morato Leite, entre outros: Santos, França, Bittar, Cahali, Lenz,

Severo, Amarante e Miranda252.

Necessário se faz a análise dos ensinamentos de alguns desses autores, acerca do

alcance do dano moral pela pessoa jurídica.

Assim, nos dizeres de Aparecida I. Amarante, “a ofensa à honra desse ente atingirá um

valor social e não sentimental, independente de acatar prejuízos patrimoniais” 253.

Nesta linha de entendimentos, também os ensinamentos de Francisco Cavalcanti

Pontes de Miranda:

Também é indenizável o dano não patrimonial às pessoas jurídicas; desde que, com o dinheiro, se possa restabelecer o estado anterior que o dano não patrimonial desfez, há indenizabilidade do dano não patrimonial; se houve calúnia ou difamação da pessoa jurídica e o efeito não patrimonial pode ser pós-eliminado ou diminuído por alguns atos que custam dinheiro, há indenizabilidade254.

Por seu turno, Carlos Alberto Bittar em seus ensinamentos citado por José Rubens

Morato Leite:

Identifica algumas subespécies de valores extrapatrimoniais que podem atingir as pessoas jurídicas: De Fato, dotadas também de personalidade, respeitam-se para as pessoas jurídicas os direitos desse nível, correspondentes a atributos que lhe são conferidos: assim, por exemplo, os

251 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 293 252 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 293 253 AMARANTE, Aparecida I. Responsabilidade civil por dano e honra. Belo Horizonte: Del Rey, 1991, p. 222 254 MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de direito privado. 2. ed. Rio de Janeiro: Borsoi, 1958, p. 32

Page 108: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

107

direitos à identificação, através do nome, e outros sinais distintos; ao segredo; a criação intelectuais e outros. Um exemplo desta espécie é a falsa noticia que prejudica a imagem da empresa perante o consumidor, causando danos que não são apenas patrimoniais, mas relativos a valores imateriais assemelhados no que diz respeito à reputação da sociedade255.

Amealhado a essa linha de entendimento, encontra-se os danos morais ambientais,

abrangendo a pessoa jurídica.

4.3.6.1 Dano moral ambiental da pessoa jurídica

No que tange aos danos morais causados pelos danos ambientais, importante destacar

que eles não têm tido a devida e necessária apreciação tanto pela doutrina quanto pela

jurisprudência. Ressalte-se que provavelmente isso ocorra devido ao fato de a legislação

ambiental ser relativamente nova e pouco conhecida e também pouco aplicada, sendo que o

número de ações nesta área ainda é bastante pequeno.

Por outro lado, existem autores que não admitem o dano moral na esfera ambiental,

entendendo se tratar o dano moral de um ataque a bens personalíssimos, desta forma não se

coadunando com o dano ambiental. No entanto, não se olvide que o dano moral existe e

independe de se tratar de matéria ambiental ou não, bastando para tanto que tenham sido

atingidos valores personalíssimos do ser humano, aplicando-se tanto para o dano que tenha

caráter individual quanto para os de caráter coletivos, abrangendo duas modalidades de dano

ambiental quanto à pessoa.

Sendo assim, em matéria ambiental o que se protege é justamente a saúde e a

qualidade de vida, bens que obviamente fazem parte da esfera do dano moral. De maneira que

os desequilíbrios no ecossistema se refletem diretamente sobre as condições de vida da

sociedade, sendo a vida humana valor supremo. Nesta senda, admite-se ser o aspecto moral

mais relevante do que o aspecto material quando tratar-se de danos ao meio ambiente.

Assim, segundo José Rubens Morato Leite, “no que diz respeito ao dano

extrapatrimonial ambiental, bem como a outros interesses difusos ou coletivos, a

fundamentação legal foi estabelecida pelo art. 1º da Lei 7.347, de 1985 – Lei da ação Civil

255 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 294

Page 109: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

108

Pública -, com nova redação dada pela Lei 8.884, de 1994: “Regem-se pelas disposições desta

Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e

patrimoniais causados: I – ao meio ambiente; (...) IV – a qualquer outro interesse difuso ou

coletivo; (...)”256. Trata-se da consagração, em nosso ordenamento jurídico, da reparação de

toda e qualquer espécie de dano coletivo, no que toca à sua extensão257.

Desta forma, o dano ambiental extrapatrimonial não tem mais como elemento

indispensável a dor em seu sentido moral de mágoa, pesar, aflição, sofrido pela pessoa física.

A dor, na qual se formulou a teoria do dano moral individual, conforme esboçado

anteriormente acabou abrindo espaço a outros valores que afetam negativamente a

coletividade, como é o caso da lesão imaterial ambiental258.

Seguindo essa linha de entendimento, José de Souza Cunhal Sendim, leciona que “a

dor, referida ao dano extrapatrimonial ambiental, é predominantemente objetiva, pois se

preocupa proteger o bem ambiental em si (interesse objetivo) e não o interesse particular

subjetivo259.

Da mesma forma, Yussef Said Cahali e Aparecida I. Amarante, apud por José Rubens

Morato Leite:

(...) entendem que, para a configuração do dano extrapatrimonial da pessoa jurídica, há necessidade de um pressuposto reconhecido na atualidade, que os valores extrapatrimoniais ou morais não se encontrem confinados nos limites da dor, do sofrimento, da angustia, considerando tratar-se de elementos próprios do ser humano pessoa física. Amarante argumenta que a ofensa à honra desse ente atingirá um valor social e não sentimental, independente de acarretar prejuízos patrimoniais260.

Como exemplo, e dando maior fundamento às posições anteriores, Carlos Alberto

Bittar:

256 BRASIL, Lei 8.884, de 11 de junho de 1994. Código de Processo Civil. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 1999 (Legislação Brasileira) 257 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 286 258 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 299 259 SENDIM, José de Souza Cunhal. Responsabilidade civil ambiental por danos ecológicos: da reparação do dano através da restauração natural. Coimbra: Coimbra Editora, 1998, p. 164 260 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 294

Page 110: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

109

Identifica algumas subespécies de valores extrapatrimoniais que podem atingir as pessoas jurídicas: “De Fato, dotadas também de personalidade, respeitam-se para as pessoas jurídicas os direitos desse nível, correspondentes a atributos que lhe são conferidos: assim, por exemplo, os direitos à identificação, através do nome, e outros sinais distintivos; ao segredo; a criações intelectuais e outros”. Um exemplo desta espécie é a falsa noticia que prejudica a imagem da empresa perante o consumidor, causando danos que não são apenas patrimoniais, mas relativos a valores imateriais assemelhados no que diz respeito à reputação da sociedade261.

Neste Diapasão, segundo José Rubens Morato Leite, da interpretação da legislação

sobre responsabilidade civil por dano ambiental surge a caracterização do:

... dano extrapatrimonial ambiental sem culpa, em que o agente estará sujeito a reparar a lesão por risco de sua atividade e não pelo critério subjetivo ou da culpa. Ademais, conforme já reportado, o valor pecuniário desta indenização será recolhido ao fundo para recuperação dos bens lesados de caráter coletivo. A lei não especifica, mas é inquestionável a possibilidade de cumulação do dano patrimonial e extrapatrimonial262.

Muito embora como já referido anteriormente, a matéria relativa ao dano moral

ambiental ainda esteja ganhando força sendo recente sua ascensão. No Brasil, a noção de dano

moral ambiental foi objeto de brilhante consagração, em acórdão modelar, constante da

Apelação Cível n° 2001.001.14586 (TJRJ, Rela Desemb. Maria Raimunda T. de Azevedo,

06.03.02), a qual vale à pena transcrever-lhe a ementa:

Poluição Ambiental. Ação civil Pública formulada pelo Município do Rio de Janeiro. Poluição consistente em supressão da vegetação do imóvel sem a devida autorização municipal. Cortes de árvores e início de construção não licenciada, ensejando multas e interdição do local. Dano à coletividade com a destruição do ecossistema, trazendo conseqüências nocivas ao meio ambiente, com infringência às leis ambientais, Lei Federal 4.771/65, Decreto Federal 750/93, artigo 2o, Decreto Federal 99.274/90, artigo 34 e inciso XI, e a Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro, artigo 477. Condenação à reparação de danos materiais consistentes no plantio de 2.800 árvores, e ao desfazimento das obras. Reforma da sentença para inclusão do dano moral perpetrado à coletividade. Quantificação do dano moral ambiental razoável e proporcional ao prejuízo coletivo. A impossibilidade de reposição do ambiente ao estado anterior justifica a condenação em dano moral pela degradação ambiental prejudicial à coletividade. Provimento do recurso.

261 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação civil por danos morais. São Paulo: Revista do Tribunais, 1992, p. 146 262 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial, p. 286

Page 111: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

110

Destacam-se alguns julgamentos, para demonstrar a tendência do Superior Tribunal de

Justiça e dos Tribunais de 2° grau sobre o assunto:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AO MEIO AMBIENTE DANO MATERIAL E MORAL. ART. 1o DA LEI 7.347/85. 1. O art. 1o da Lei 7.347/85 dispõe: 'Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: I - ao meio ambiente; II - ao consumidor; III - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo; V - por infração da ordem econômica.' 3. O advento do novel ordenamento constitucional - no que concerne à proteção ao dano moral - possibilitou ultrapassar a barreira do indivíduo para abranger o dano extrapatrimonial à pessoa jurídica e coletividade. 4. No que pertine à possibilidade de reparação por dano moral interesses difusos como sói ser o meio ambiente amparam-na o art.1o da Lei da Ação Civil Pública e o art. 60, VI, do CDC. 7. O dano moral ambiental caracterizar-se quando, além dessa repercussão física no patrimônio ambiental, sucede ofensa ao sentimento difuso ou coletivo, v.g., o dano causado a uma paisagem causa impacto no sentimento da comunidade de determinada região, quer como v.g. a supressão de certas árvores na zona urbana ou localizadas na mata próxima ao perímetro urbano. 8. Consectariamente, o reconhecimento do dano moral ambiental não está umbilicalmente ligado à repercussão física no meio ambiente, mas, ao revés, relacionado à transgressão do sentimento coletivo, consubstanciado no sofrimento da comunidade, ou do grupo social, diante de determinada lesão ambiental. 9. Destarte, não se pode olvidar que o meio ambiente pertence a todos, porquanto a carta Magna de 1988 universalizou este direito, erigindo-o como um bem de uso comum do povo. Desta sorte, em se tratando de proteção ao meio ambiente, podem coexistir o dano patrimonial e o dano moral, interpretação que prestigia a real exegese da Constituição em favor de um ambiente sadio e equilibrado. 10. Sob o enfoque infraconstitucional, a Lei n° 8.884/94 introduziu alteração na LACP, segundo a qual restou expresso que a ação civil pública objetiva a responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados a quaisquer dos valores transindividuais de que cuida a lei. 11. Outrossim, a partir da Constituição de 1988, há duas esferas de reparação: a patrimonial e a moral, gerando a possibilidade de o cidadão responder pelo dano patrimonial causado e também, cumulativamente, pelo dano moral, um independente do outro. 12. Recurso especial provido para condenar os recorridos ao pagamento de dano moral, decorrente da ilicitude perpetrada contra o meio ambiente, nos termos em que fixado na sentença (fls. 381-382).'

O Tribunal de Justiça de São Paulo, na decisão a seguir mostrada, por sua ementa,

decidiu:

Page 112: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

111

“Indenização. Responsabilidade civil. Dano moral. Intoxicação por resíduos industriais de hexaclorobenzeno (HCB), depositados em área'; próxima de habitação coletiva. Substância química capaz de provocar doenças malignas. Necessidade de freqüente acompanhamento médico da vítima até eventual eliminação orgânica. Ofensa ao direito subjetivo segurança pessoal. Verba devida. Ação de indenização julgada, em parte, procedente. Provimento parcial ao recurso para esse fim - 'Configura dano moral reparável, a título de violação do direito à segurança pessoal, a condição orgânica de quem, intoxicado por resíduos industriais de hexaclorobenzeno (HBQ, fica exposto aos riscos de ser acometido por doença maligna” (TJSP - 2aC. Dir. Privado - Apelação 170.660-4 - Rel. Cezar Peluzo - j. 20.03.2002, citado por STOGO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 6.ed. p.858).

O Tribunal de Justiça no Paraná, apreciando agravo referente ao Processo n°

132526800, relatado pelo Desemb. Wanderlei Resende, julgamento de 19.03.2002, entendeu

que:

Ação Civil Pública por Imoralidade Administrativa e Danos Materiais e Morais Causados ao Meio Ambiente — Juízo A Quo Deferiu Pedido Liminar — Paralisação de Obras em Estrada Rural - Suspensão da Licença de Instalação -Possibilidade — Área Integrante da Mata Atlântica — Licença Concedida pelo LAP Sem Anuência do IBAMA - Vício Insanável - Licença Nula - Aplicação do Princípio da Prevalência do Meio Ambiente — Efeito Suspensivo Revogado — Decisão Mantida - Agravo Não Provido. Presentes os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, é cabível a imposição de medida liminar em ação civil pública, por força do art. 12 da Lei 7.347/85. No direito ambiental, o poder geral de cautela do juiz deve ser norteado pelo princípio da prevalência do meio ambiente (vida), podendo impor ao poder público a cessação da atividade danosa, justamente por ser seu dever defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (art. 225, caput, da CF).

Assim sendo, é de se reconhecer que existe um movimento doutrinário voltado

preponderantemente, para a defesa da responsabilidade civil por danos morais ambientais, de

outro tanto, a Jurisprudência dos Tribunais de 2º Grau, está dividida, revelando-se dúbios os

posicionamentos que se adotam.

Muito embora tem-se buscado efetivamente antes de constado o dano a sua prevenção.

A melhor forma para prevenir e preservar o objeto do Direito Ambiental é antes de tudo, a

tomada de uma consciência ecológica, fruto, pois, de um dos flancos de atuação do Direito

Ambiental: a educação ambiental. É, pois, a consciência ecológica que propiciará o sucesso

no combate preventivo do dano ambiental.

Page 113: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

112

4.3.7 O ensino como forma de prevenção do dano ambiental

A questão do ensino, no que tange à preservação e educação ambiental, foi um dos

temas que teve enfoque na ECO 92263 onde foi assinado o agenda 21264, e também na

Conferência de Estocolmo265 principio 19:

É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao setor da população menos privilegiado, para fundamentar as bases de uma opinião pública bem informada, e de uma conduta dos indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre a proteção e melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente essencial que os meios de comunicação de massas evitem contribuir para a deterioração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de caráter educativo sobre a necessidade de protegê-lo e melhorá-lo, a fim de que o homem possa desenvolver-se em todos os aspectos266.

O dever de educar e a conscientização no âmbito público para se preservar, também

encontram guarida na Constituição da República, além do que, vislumbra-se nos

ensinamentos de Celso Antonio Pacheco Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues que, “o

principio da educação ambiental é corolário do principio da participação na tutela do meio

ambiente (do qual deriva o principio da solidariedade). Assim, como o principio da

informação, este principio também, restou expressamente previsto na CRFB, quando, no art.

225 § 1º, VI, mencionou a necessidade da educação ambiental como forma de trazer a

263 Realizada entre 13 e 14 de junho de 1992, na cidade do Rio de Janeiro, a segunda Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (que ficou conhecida como Eco-92), foi de grande importância para a consolidação do conceito de desenvolvimento sustentável e para a conscientização dos problemas relacionados ao meio ambiente. 264 Considerada como o resultado mais importante da Eco-92, a Agenda 21, documento assinado por 179 países naquela ocasião, é um texto chave com as estratégias que devem ser adotadas para a sustentabilidade. Já adotada em diversas cidades por todo o mundo, inclusive através de parcerias e de intercâmbio de informações entre municipalidades, esse compromisso se desenrola no âmbito da cooperação e do compromisso de governos locais. Leva em conta, principalmente, as especificidades e as características particulares de cada localidade, de cada cidade, para planejar o que deve ser desenvolvimento sustentável em cada uma delas. 265 Em Estocolmo - Suécia, no período de 5 a 16 de junho de 1972 ocorreu a reunião de 113 países para participarem da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, conhecida como Conferência de Estocolmo. Foi Presidida pelo canadense Maurice Strong. 266 Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, 1972. Principio 19.

Page 114: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

113

consciência ecológica ao povo, titular do direito ao meio ambiente, e, assim, permitir a

efetivação do principio da participação na salvaguarda desse direito267.

O Artigo 225 § 1º, inciso VI, da CRFB, trás em sua redação o seguinte texto:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente

O principio da educação se bem empregado, poderá perfeitamente servir como meio

redutor de custos ambientais, assim o é, devido a atuação populacional como guardião do

meio ambiente. Nesta esteira, deverá dar-se ênfase à necessidade de se prevenir os danos

antes que eles ocorram, fixando uma idéia de consciência ecológica buscando sempre a

utilização de tecnologias limpas incentivando-se através da educação, o principio da

solidariedade, fazendo-se perceber que o meio ambiente é “único, indivisível e de titulares

indetermináveis”, efetivando-se ainda a participação de todos na corrida contra o

desmatamento.

Vê-se, pois que o direito ambiental está diretamente ligado a todos os momentos e

necessidades dos seres humanos, muito embora não se de o valor merecido à natureza, se o

homem não começar a se conscientizar de que os recursos naturais como inicialmente dito são

finitos e as suas necessidades são infinitas, desenvolvendo técnicas possibilitando o

desenvolvimento sustentável, em um futuro não muito distante com certeza ainda esta geração

sofrerá as conseqüências de se usar sem preservar.

Finalizando o presente trabalho, nota-se que na Responsabilidade Civil da Pessoa

Jurídica por Danos Causados ao Meio Ambiente, se encontra outro aspecto negativo, visto

que, enquanto o sujeito causador do dano for pessoa física, este por conseqüência arcará com

os prejuízos de forma individualizada se outro não o tiver colaborado para a causa dos danos

ou tiver assumido o risco em produzi-los. Enquanto que, se o sujeito causador do dano for

267 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de direito ambiental e legislação aplicável, p. 147

Page 115: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

114

pessoa jurídica, este ao arcar com as despesas de diminuição, eliminação ou neutralização dos

danos causados, pode repassar ao seu produto, o encargo que pagou, transferindo estes custos

ao consumidor final do produto, prejudicando a concorrência no mercado e o sistema

econômico. Porém, devido à complexidade do tema, este poderá vir a ser alvo de outro

trabalho monográfico, atendo-nos a alertar o fato.

Page 116: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final do presente trabalho monográfico verifica-se confirmada a hipótese no que

concerne a existência de responsabilidade civil da pessoa jurídica por danos causados ao meio

ambiente, onde, apesar de existirem doutrinadores contrários a essa possibilidade, a

jurisprudência, conforme se demonstrou no decorrer da pesquisa, tem se mostrado favorável,

julgando existir responsabilidade também à pessoa jurídica que causa danos ambientais,

existindo apenas uma pequena lacuna no que tange a existência de responsabilidade civil da

pessoa jurídica por danos morais ambientais, os quais apesar de serem alvo de uma maior

discussão doutrinária, também restaram confirmados pela jurisprudência dominante.

Tendo sido confirmada a responsabilidade civil deste ente ao causar danos ao meio

ambiente, restou saber como seria atribuída essa responsabilização. Assim, as formas de

responsabilização foram elencas no decorrer da pesquisa, encontrando-se no corpo do

trabalho os meios de mais utilizados e de maior alcance para que a pessoa jurídica seja

responsabilizada de maneira eficaz.

Por fim, a hipótese que admitia a possibilidade de atribuir responsabilidade subjetiva a

Pessoa Jurídica de Direito Privado por danos ambientais restou refutada, pois nossa legislação

adota a teoria do risco integral, sendo que o agente assume o risco desde o momento que

passa a desenvolver atividade lucrativa que possa a vir causar danos ambientais, o que por

sinal se assim não o fosse, o ímpeto predatório do homem em busca de riquezas seria ainda

maior e o meio ambiente, seria degradado em ritmo mais acelerado do que este que

atualmente se verifica.

Page 117: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, Roberto Armando Ramos. Direito do meio ambiente e participação popular.

Brasília: ministério do Meio ambiente e da Amazônia Legal/IBAMA, 1994.

AMARANTE, Aparecida I. Responsabilidade civil por dano e honra. Belo Horizonte: Del

Rey, 1991.

BITTAR, Carlos Alberto. Reparação civil por danos morais. São Paulo: Revista do

Tribunais, 1992.

BRASIL, Lei 8.884, de 11 de junho de 1994. Código de Processo Civil. 29. ed. São Paulo:

Saraiva, 1999 (Legislação Brasileira)

CANOTILHO, José Joaquim Gomes e LEITE, José Rubens Morato. Direito constitucional

ambiental brasileiro. São Paulo. Saraiva, 2007.

Código Civil Lei 10.406 de 2002

Código de Defesa do Consumidor.

COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil. 2. ed. rev.. São Paulo: Saraiva, 2005.

Constituição da Republica Federativa do Brasil.

Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, 1972.

DERANI, Cristiane. Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997.

DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 8.ed. v.2. Rio de Janeiro: Forense, 1987.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. responsabilidade civil. 17. ed. v. 7

São Paulo: Saraiva, 2003.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. teoria geral do direito civil. 24. ed.

v. 1 São Paulo: Saraiva, 2007.

Page 118: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

117

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de direito

ambiental e legislação aplicável. 2ª ed. rev. e ampl.. São Paulo: Max Limonad, 1999.

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 6. ed. São

Paulo: Saraiva, 2005.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro , volume IV. responsabilidade civil.

2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro . parte geral. v1. São Paulo: Saraiva,

2003.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo:

Saraiva, 2002.

GUIMARÃES, Simone de Almeida Bastos. O dano ambiental. Jus Navigandi, Teresina, ano

6, n. 58, ago. 2002. Disponível em: Acesso em: 04 out. 2008.

HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Responsabilidade civil . Belo Horizonte: Del

Rey, 2002.

LEÃO, Antonio Carlos Amaral. Considerações em torno do dano moral e a pessoa

jurídica . v. 689. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992.

LEITE José Rubens Morato. Dano Ambiental. do individual ao coletivo extrapatrimonial.

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. obrigações e responsabilidade civil. 3. ed.

rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Estudos de Direito Ambiental. São Paulo: Malheiros

Editores, 1994.

MACHADO, Paulo Afonso. Direito ambiental brasileiro. 14ª ed. rev. atual. e ampliada. São

Paulo. Malheiros Editores, 2006.

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 2. ed. São Paulo: revista dos Tribunais, 2001.

Page 119: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

118

MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de direito privado. 2. ed. Rio de

Janeiro: Borsoi, 1958.

MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente.

2. ed. São Paulo:Juarez de Oliveira, 2004.

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. direito das obrigações 2ª parte.

35. ed. ver. E atual. por Carlos Alberto Dabus Maluf e Regina Beatriz Tavares da Silva. São

Paulo: Saraiva, 2007.

MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. 5 ed. rev. e atual.. Rio de Janeiro:

Universitária, 2005.

NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Direito Ambiental. coleção estudos direcionados. São Paulo:

Saraiva, 2007.

RODRIGUES, Marcelo Abelha. Elementos de direito ambiental: parte geral. 2 ed. rev.,

atual. e ampl. São Paulo: RT, 2005.

SENDIM, José de Souza Cunhal. Responsabilidade civil ambiental por danos ecológicos:

da reparação do dano através da restauração natural. Coimbra: Coimbra Editora, 1998.

SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. Direito Ambiental Internacional . Rio de Janeiro:

Thex Ed, 1995.

SILVA, Wilson Melo. O dano moral e sua reparação. 3ª ed.. São Paulo: Saraiva, 1983.

SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de direito ambiental. 5. ed. rev. e atual. São Paulo:

Saraiva, 2007.

STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7ª edição revista

e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

TJSC. Agravo de instrumento nº. 04.002441-0, de São Francisco do Sul, Des. Rel: Volnei

Carlin, Data da Decisão 27/05/2004.

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . responsabilidade civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

Page 120: A RESPONSABILIDADE CIVIL DA PESSOA JURÍDICA DE …siaibib01.univali.br/pdf/Antonio Marcos Guerra.pdf · que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos ... 1 Esta

119

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil . Responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas,

2003.