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OUTROS LIVROS DE NOSSA EDIÇÃO CAMARGO,Ricardo A. L. (Dr: em Direito pela UFMG) Agências de Regulação no Ordenamento Jurídico-Econômico Bra si le iro Direito Econômico - Aplicação e Eficácia CRESCI SOBRINHO, Elício de (Advogado) D ev er d e V e rac id ad e d as P ar tes n o Pr oces so C iv il Dever de E sc la re ci me nt o e Com pl em enta çã o no Processo Civil Litisconsórcio, Doutrina e Jurisprudência .. DE GIORGI, R. (Prof. da Universo de Lecce - Itália) D ir ei to , D emo cr ac ia e Risco - Vínculos com o futuro DESTEFENNI, Marcos (Promotor de Justiça) Natureza Constitucional da Tutela de Urgência FACHIN, Luiz Edson (Prof. da Universo Federal do PR) A Função Social da Posse e a Propriedade Contemporânea (Uma Perspectiva da Usucapião Imobiliária Rural) FARIA, Werter R. (Prof. da Universo Federal do RS) Constituição Econômica, Liberdade de Iniciativa e Concorrência FIORANELLI, Ademar (Registrador de Imóveis em SP) Direito Regístral Imobiliário GOMES, Ana Cláudia N. (Advogada) O Poder de Rejeição de Leis Inconstitucionais pela Autoridade Administrativa no Direito Português e no Direito Brasileiro LEÃO, Renato Zerbini R. (Prof. da UnB) Os Direitos Econômicos, Soc ia is e Cul tura is ria América Latina e o Protocolo de San Salvador LIMA, André (org.) O Direito para o Brasil Socioambiental MAURER, Hartmut (Prof. da Universo de Konstanz - Alemanha) Elementos de Direito Administrativo Alemão OSÓRIO, Letícia Marques (Org.) Estatuto da Cidade eReforma Urbana SAULE, Nelson (Prof. daPUC-SP) Novas Perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. Ordenamento Constitucional da Política Urbana. Aplicação e Eficácia do Plano Diretor. SCOTT, Paulo H. Rocha (Prof. daULBRA, Mestre emDireito) Direito Constitucional Econômico: Estado e Normalização da Economia TRINDADE, A. A. Cançado (Prof. Titular da Univers de Brasília) Direitos Humanos e Meio-Ambiente/Paralelo dos Sistemas de Proteção InternaF:íonal ~ çÃO - AO - SAO da pena 7~214 , 1() 2() ditor 9 •••

A Ressocialização Uma Disfunção da Pena de Prisão

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OUTROS LIVROS DE NOSSA EDIÇÃO

CAMARGO,Ricardo A. L. (Dr: em Direito pela UFMG)Agências de Regulação no Ordenamento Jurídico-Econômico BrasileiroDireito Econômico - Aplicação e Eficácia

CRESCI SOBRINHO, Elício de (Advogado)Dever deVerac idade das Partes no Processo CivilDever de Esclarecimento e Complementação no Processo CivilLitisconsórcio, Doutrina e Jurisprudência ..

DE GIORGI, R. (Prof. da Universo de Lecce - Itália)Direi to, Democrac ia e Risco - Vínculos com o futuro

DESTEFENNI, Marcos (Promotor de Justiça)Natureza Constitucional da Tutela de Urgência

FACHIN, Luiz Edson (Prof. da Universo Federal do PR)A Função Social da Posse e a Propriedade Contemporânea(Uma Perspectiva da Usucapião Imobiliária Rural)

FARIA, Werter R. (Prof. da Universo Federal do RS)Constituição Econômica, Liberdade de Iniciativa e Concorrência

FIORANELLI, Ademar (Registrador de Imóveis em SP)Direito Regístral Imobiliário

GOMES, Ana Cláudia N. (Advogada)O Poder de Rejeição de Leis Inconstitucionais pela AutoridadeAdministrativa no Direito Português e no Direito Brasileiro

LEÃO, Renato Zerbini R. (Prof. da UnB)Os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais riaAmérica Latina e o Protocolo de San Salvador

LIMA, André (org.)O Direito para o Brasil Socioambiental

MAURER, Hartmut (Prof. da Universo de Konstanz - Alemanha)Elementos de Direito Administrativo Alemão

OSÓRIO, Letícia Marques (Org.)Estatuto da Cidade eReforma Urbana

SAULE, Nelson (Prof. da PUC-SP)Novas Perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro.Ordenamento Constitucional da Política Urbana.Aplicação e Eficácia do Plano Diretor.

SCOTT, Paulo H. Rocha (Prof. da ULBRA, Mestre em Direito)Direito Constitucional Econômico: Estado e Normalização da Economia

TRINDADE, A. A. Cançado (Prof. Titular da Univers de Brasília)Direitos Humanos e Meio-Ambiente/Paralelo dosSistemas de Proteção InternaF:íonal

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 15

CAPÍTULO I - PENA DE PRISÃO 17

1.1 Funções declaradas e funções reais da pena 171.2 A cifra negra da criminalização 201.3 A seletividade da pena 24

CAPÍTULO II - O CÁRCERE E A RESSOCIALIZAÇÃO.......... 292.1 Ressocialização ou socialização.......................................... 292.2 Ressocialização mínima ou máxima.................................... 362.3 O cárcere como reprodutor da ordem capitalista 39

CAPÍTULO III - MALES DO CÁRCERE.... 433.1 Desaculturação, aculturação ou prisionização 433.2 Estigmas do sistema............................................................. 50

3.3 Estigmas do cárcere 52CONCLUSÃO 57

BIBLIOGRAFIA 61

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INTRODUÇÃO

A realidade carcerária, na atualidade, tem demonstrado que apena privativa de liberdade não vem cumprindo as suas funçõesprecípuas de ressocializar o criminalizado e o de evitar a reinci-dência criminosa.

Ao contrário, a prisão, em si mesma, tem-se demonstrado cri-minógena, além de haver-se transformado em fábrica de reinci-

dência.

Em vez de ressocializar o criminalizado, o cárcere degenera-o,

dessocializa-o e ernbrutece-o, reconduzindo-o a uma carreira dedesvio.

O discurso oficial ressocializador encontra-se desacreditado e,como consectário, deslegitimado.

A realidade é que, hoje, se reconhece que o cárcere é incapaz de

ressocializar o apenado, conseguindo, só e somente, impingir-lhe um

sofrimento inútil, a título de castigo.

Será, portanto, que a pena prisional tem obtido o sucesso,

anunciado, pomposamente, pela nova defesa social, no que pertine

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aos seus objetivos de ressocialização e de combate à reincidência

criminosa?

Como ocorre o fenômeno da "cifra negra" e o processo de sele-

tividade da pena?Outra questão posta: ressocialização ou socialização. Pode-se

falar em ressocialização do apenado, sem, antes, se preocupar com

a educação da própria sociedade, criminógena, na estrutura capi-talista?É possível cogitar-se de ressocialização, máxima ou míni-

ma, sem violação dos direitos fundamentais do indivíduo? Ocárcere deve ser analisado, como instituição autônoma, ou nocontexto sistêmico capitalista, como mero reprodutor das rela-

ções de produção? Como ocorrem a desaculturação, a prisionização

e os estigmas carcerários? De que forma estes fenômenos do cár-cere impedem a reabilitação do preso e fomentam sua reinci-

dência?No primeiro capítulo, procura-se demonstrar a falácia do

discurso oficial, sobre as funções declaradas da pena, bem co-mo são trazidas ao debate as suas reais funções, ou funções ocul-tas. Também se analisa a incidência do fenômeno da "cifra ne-

gra" e da seletividade da pena, no processo da criminalização

de condutas.

No segundo capítulo, são tratados os temas da ressocialização ou

socialização, os níveis, mínimos e máximos, da ressocialização e ocárcere, enquanto reprodutor ideológico da ordem burguesa.

No terceiro e último capítulo, objetiva-se demonstrar os

principais males do cárcere, pondo-se, em relevo, a ocorrência dos

fenômenos da desaculturação, aculturação ou prisionização, bemassim a dupla carga estigmatizante - sistêmica e da prisão -, a que

vive submetido o apenado.

Finalmente, convém enfatizar-se que os temas foram formu-

lados, à luz do novo paradigma da reação social, refutando-se oparadigma da criminologia etiológica. Tanto assim que, no trans-

curso da monografia, deparar-se-á, aqui e ali, com a utilização de

14

UIllU nova dicção terminológica, tais como: criminalizado, em vez

dú "criminoso"; criminalização, em vez de "criminalidade", Rele-

Vt .H;C , apenas, que foi utilizada a velha nomenclatura de crimi-uulidade e outros vocábulos do paradigma tradicional, só e somen-lu, por fidelidade aos autores citados, mesmo em paráfrases.

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CAPÍTULO I

PENA DE PRISÃO

1.1 FUNÇÕES DECLARADAS E FUNÇÕES REAIS DA PENA

o moderno saber penal e a Criminologia Crítica, ao tempo em[ue têm procurado "um novo discurso legitimante da pena e mais

ompativel com a democracia real'"; têm, também, procurado desnu-dar o discurso, palavroso e bombástico, da criminologia tradicional.

Discurso falacioso, que o novo paradigma da reação social temdesmistificado, ao questionar as funções declaradas e as funções reais dapena de prisão. Como se sabe, o discurso oficial da prisão é no sentido decontrolar a criminalidade e de promover a reeducação do apenado.

Incontroverso, no entanto, é que a pena de prisão vive uma criseaguda de legitimidade, nos dias atuais, por não vir cumprindo,

egundo Andrade, a sua "função instrumental de efetivo controle (e

redução) da criminalidade e de defesa social".z

ISANGUINÉ, Odone. Função Simból ica da Pena. Fascículos de Ciências Penais,

Porto Alegre, n. 3, jul./ago./set. 1992. p.125.2 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A Ilusão de Segurança Jurídica: do controleda violência à violência do con trole penal, p. 291.

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Ao contrário de seus fins declarados, a pena prisional tem

cumprido, antes de tudo, funções simbólicas e ideológicas do sistema,

diferentes de seus objetivos instrumentais.

É certo que a prisão, como método de controle social, "fracas-

sou", de referência aos seus obje tivos declarados .

Tanto assim que, em vez de "reduzir a criminalidade ressociali-

zando o condenado produz efeitos contrários a tal ressocialização,

isto é, a consolidação de verdadeiras carreiras criminosas cunhadas

pelo conceito de "desvio secundário".3

Verdade apodítica é que a prisão possui efeitos criminogênicos,

como agência nutriz do processo de criminalização secundária e de

reincidência criminosa. Exatamente, porque a sua função real, ao

contrário do que anuncia, é de "sementeira" de criminalização e de

reiteração criminal.

Vale enfatizar-se que o aparente fracasso das funções declaradas

da pena, historicamente, corre, parelhas, com o êxito de suas funções

reais. Difícil de cortar, assim, esses discursos simbióticos, à medidaque um não sobrevive sem o outro, mas se explicam, mutuamente.

Enfim, só na aparência, tais funções são antagônicas.Tanto assim que, explicitando a correlação entre as funções

declaradas e as encobertas da pena, diz Andrade, em citação remissiva

de Foucault:

"O fracasso das funções declaradas da pena abriga, portanto, ahis tória de um sucesso correlato: o das funções reais da prisão que,opostas às declaradas, explicam sua sobrevivência e permitemcompreender o insucesso que acompanha todas as tentativas reformistasde fazer do sistema carcerário um sistema de reinserção social"."

Hipoteticamente, se se desse a palavra ao sistema punitivo e se lhe

desse voz, para explicar essa aparente contradição, entre os objetivos

declarados e latentes da pena, por certo, ele d iria , i rônico e c ínico:Meu fracasso é a medida de meu sucesso. Declaro que meu objetivo

é reduzi r a cr irninal idade e evita r a reincidência, através da ressocializa-

çã o do condenado. Mas o que quero, realmente, é reproduzir a delin-

qüência e a própria reincidência. Esse é meu objetivo real e oculto.

3 Ob. cit., mesma página.4 ANDRADE, ob. c it., p. 291.

18

Assim sendo, o "fracasso" da prisão é só aparente, para que o

sistema carcerário continue funcionando. Basta se leia Foucault:

"O pretenso fracasso não far ia então parte do funcionamento da. - ?,,5pnsao ....

"Se tal é a s ituação, a pri são, ao aparentemente "fracassar", nãoerra seu objetivo ... ,,6

"O atestado de que a prisão fracassa em reduzir os crimes deve

talvez ser substituído pela hipótese de que a prisão conseguiu muitobem produzir a delinqüência ...

O sucesso é tal que, depois de um século e meio de "fracassos", a

prisão continua a existir, produzindo os mesmos efeitos e que se têm

maiores escrúpulos em derrubá-Ia". 7

Dir-se-ia, então, que o ''fracasso'' da prisão tem sido o seu aves-

SO , a saber, a história de seu sucesso.O desafio da Criminologia crítica, portanto, consiste na descons-

t rução do discurso oficial do sistema repressivo, que soa falso e insin-

ero.Por sinal, explicitando os objetivos ideológicos e objetivos reais

do sistema carcerário, assevera Cirino dos Santos:"Entretanto, o projeto técnico-disciplinar do aparelho carcerário,

estruturado conforme objetivos da correção, do trabalho, da modu-lação da pena, e tc. (sob cont role dos "engenheiros da conduta"), mar-cará sua existência na sociedade capitalista por duas característicasconstantes:

a) por sua eficácia invertida, reproduzindo a criminalidade pelareincidência, fabricando e favorecendo a organização da delinqüência, nemcorrigindo o del inqüente, nem reduzindo a criminalidade; b) pelo isomor-fismo reformista, observado na reposição do mesmo projeto, na sucessão defracasso, reforma, fracasso, etc. É a insistência na manutenção desse pro-jeto, com essas característ icas negativas verificadas e comprováveis ao

longo da história, que fundamenta (também FoucauIt) a distinção esclarece-dora (já realizada por Pasukanis) entre objetivos ideológicos e objetivos

reais do sistema carcerário: os objetivos ideológicos afirmam a repressão ea redução da criminalidade, como modo de ocultar a seleção da incrimi-

5 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão, p. 239.6 Ob. cit., p. 243.7 Ob. cit., p. 244.

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nação e a organização e repressão da delinqüência como 'tática de sub-missão ao poder', que constituem os objetivos reais do sistema."s

Urge que se lhe descerre a cortina, simbólica e ideológica, queencobre suas funções reais e perversas. Principalmente, porque:

"Os objetivos reais do sistema carcerário aparecem em uma duplareprodução: reprodução da criminalidade (recortando formas de crimi-nalidade das classes dominadas e excluindo a criminalidade das classes

dominantes) e reprodução das relações sociais (a repressão da crimina-lidade das classes dominadas funciona "como tática de submissão aopoder" das classes dorninantesj.?"

Discorrendo, também, sobre as funções não declaradas da penaprivativa de liberdade, pontua Maria Lúcia Karam:

"A distância social entre os apenados e aqueles que, aparente-mente, obedecem às leis e decisiva para a formação da imagem do cri-minoso, bem como para a interiorização e efetivo cumprimento destepapel de criminoso, sendo esta uma das funções - talvez a mais im-portante - não declaradas da pena privativa de liberdade". 10

Numa palavra, dir-se-á que os sistemas punitivos, por serem

insinceros e falaciosos, proclamam cumprir funções instrumentais,quando, em verdade, realizam funções simbólicas.

1.2 A CIFRA NEGRA DA CRIMINALIZAÇÃO

A elaboração conceitual da Criminologia tradicional, sobre o fenô-meno da delinqüência, repousava nos registros estatísticos oficiais.

No marco desse pensamento criminológico, a "criminalidade" era,apenas, a legal, inscrita nas estatísticas das agências do controle penal.

Contudo, há algumas décadas, os criminólogos se viram, diante

de um fenômeno, que, sem o viés, estritamente, crítico do sistema, foicognominado de "cifra negra", "cifra obscura" ou "zona obscura"

(dark number) da criminal idade. Deve-se entender por "cifra negra" a

8 SANTOS, Juarez Cirino dos. As Raizes do Crime: Um Estudo sobre as Estruturas easInstituições da Violência, p. 157-158.

9 SANTOS, Juarez Cirino dos. A Criminologia Radical, p. 56-57.10 KARAM, Maria Lúcia.De Crimes, Penas e Fantasias, p. 184.

20

diferença existente, entre condutas criminalizáveis efetivamentepl'nt icadas e a criminalidade, constante dos registros estatísticos. I I

3m verdade, inúmeros fatos que, apesar de se subsumirem, tipi-cumcnte, na moldura da lei penal, não aparecem nas estatísticas ofi-duis, uma vez que o sistema subestima-os ou ignora-os.

Tal fenômeno, por isso mesmo, pareceu anormal aos criminólogos,dl~HpcJ'tando-lhes,então, a atenção, ao ponto de buscarem, mediante pes-

qulsns, levantar a extensão dos fatos, legalmente, puníveis, mas menos-prezad os pelo sistema. Tanto é verdade que Hulsman acentua:

"Se um grande número de vítimas não denuncia os fatos puníveisà polícia, esta também não transmite todos os fatos que lhe são comu-nicados ao Parquet, o qual, por sua vez, longe de mover processos emrelação a t040s os fatos que lhe são submetidos, arquiva a maior parte.Isto quer dizer que o sistema penal, longe de funcionar na totalidade doscasos em que teria competência para agir, funciona em um ritmoextremamente reduzido. Tal constatação suscita duas observações. Comuma ponta de humor, pode-se desde logo dizer que as pesquisas sobre a"cifra negra" se voltam cont ra o sis tema: pode haver algo mais absurdodo que uma máquina que se deva programar com vistas a um mau

rendimento, para evitar que ela deixe de funcionar?,,12

No mesmo sentido, evidenciando a dimensão científica das esta-t Isticas criminais, estribilha Andrade que:

"Reapropriadas doravante como informat ivas dos resultados dacriminalização, as estatísticas criminais possibilitaram também a conclusãode que a cifra negra varia em razão da classe de estatística (policial, judicialou penitenciária): Nem todo delito cometido é perseguido; nem todo delitoperseguido é registrado; nem todo delito regist rado é averiguado pelapolícia; nem todo delito averiguado é denunciado; nem toda denúncia érecebida; nem todo recebimento termina em condenação.

Os delitos não perseguidos, que não atingindo o limiar conhecido

pela polícia (po is não se realizam nas ruas por onde ela passa) , nemchegam a nascer como fato estatístico, constituem a propriamentechamada criminalidade oculta, latente ou não-oficial.v'?

11 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A Ilusão de Segurança Jurídica: do controleda violência à violência do controle penal, p. 261-262.

12 HULSMAN,Louk, CELLIS, J. B. de. Penas Perdidas, p. 65.1 3 ANDRADE, ob. cit., p. 262 - 263.

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Sendo assim, diante da chamada criminalidade oculta, que viceja,latentemente, no âmbito do sistema oficial, há de se reconhecer que acriminalidade real é muito maior que a registrada, oficialmente.

Não bastasse isso, sobreleve-se que a via peregrina do crime, deinstância a instância (Polícia-Ministério Público-Justiça-Administra-ção penitenciária), isto é, o processo de criminalização é, em todas assuas fases, criador de cifras negras e, por isso, redutor dos contin-

d .. lid d 14gentes e cnmma 1 a e.Esses caminhos peregrinos do crime, através das instâncias for-

mais do sistema, produzem o chamado "efeito-de-funil" ou a "mortali-dade de casos criminais", operada ao longo do corredor da delinqüên-cia, isto é, no interior do sistema penal". 15

Adite-se, ainda, que as pesquisas sobre "as cifras obscuras" per-mitiriam a desconstrução do discurso falacioso da Criminologia positi-va, segundo o qual a "criminalidade" é o atributo de uma minoria deindivíduos socialmente perigosos que, seja devido a anomalias físicas(biopsicológicas) ou fatores ambientais e sociais, possuem uma maiortendência a delinqüir. 16

Além disso, as estatísticas criminais, pertinentes à "cifra oculta"e aos crimes do colarinho branco, revelam que a criminalização de-pende, essencialmente, do status social, a que pertence o desviante.

E mais, segundo Baratta,

" .. . sendo baseadas sobre a criminalidade identi ficada e perseguida, asestatísticas criminais, nas quais a criminal idade de colarinho branco érepresentada de modo enormemente inferior à sua calculável "cifra

negra", distorceram até agora as teorias da criminalidade, sugerindo umquadro falso da dis tr ibuição da criminalidade nos grupos soc iai s. Daíderiva uma definição corrente da criminalidade como um fenômenoconcentrado, principalmente, nos estratos inferiores, e pouco represen-tada nos estratos superiores e, portanto, ligada a fatores pessoais e

sociais correlacionados com a pobreza ..." 17

14 ANDRADE, ob. cit., p. 263.15 ANDRADE, ob. cit., mesma página.16ANDRADE, ob. cit., mesma página.17 BARATI A, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: Introdu-ção à Sociologia do Direito Penal,p. 102.

22

Outro dado revelado pelas pesquisas, sobre a "cifra negra", dizBaratta:

"As pesquisas sobre a c ifra negra da criminalidade, ligadas a umaanálise crítica do método e do valor das estatísticas criminais para oconhecimento objet ivo do desvio em uma dada sociedade, não se refe-rem, contudo, somente ao fenômeno da criminalidade do colarinhobranco, porém, mais em geral, à real freqüência e à distribuição do

comportamento desviante penalmente perseguível, em uma dada socie-dade. Essas pesquisas levaram a uma outra fundamental correção doconceito corrente de criminalidade: a criminalidade não é um compor-tamento de uma rest rit a minoria, como quer uma difundida concepção(e a ideologia da defesa social a ela vinculada), mas, ao contrário, ocomportamento de largos est ratos ou mesmo da maioria dos membrosde nossa sociedade,"!"

Vale explicitar-se que, a partir do momento em que os novos-ri rn in ó logos direcionaram as luzes de seu saber, iluminando essa, atén tão, "zona obscura" da criminalização, muitos conceitos do sabertrudicional ficaram desacreditados. Tanto assim que pontua Hulsman:

"De uma forma mais profunda, pode-se dizer que é a idéiamesma, é a própria noção ontológica de crime que fica abalada. Se umaenorme quantidade de fatos teoricamente passíveis de serem enqua-drados na lei penal não são vistos ou não são avaliados como tal pelassupostas vítimas ou pelos agentes do sis tema pessoalmente a ler tadospor denúncias concretas, isto significa que os fatos chamados pela lei decrimes (ou delitos) não são vividos como se tivessem um natureza aparte, como se fossem separáveis de outros acontecimentos. Pesquisassobre vitimização mostram isso claramente.

Como achar normal um sis tema que só intervém na vida social demaneira marginal, estatisticamente tão desprezível? Todos os princípiosou valores sobre os quais tal s is tema se apoia (a igualdade de cidadãos,

a segurança, o direi to à just iça, etc... ) são radicalmente deturpados , namedida em que só se aplicam àquele número ínfimo de situações quesão. os casos registrados. O enfoque t radiciona l se most ra, de a lgumaforma, às avessas. A cifra negra deixa de ser anomalia para se constituirna prova tangível do absurdo de um sistema por natureza estranho à

1 8 BARATTA,ob. cit., p . 103.

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vida das pessoas. Os dados das ciências sociais conduzem a uma con-testação fundamental do sistema existente.,,19

1.3 A SELETIVIDADE DA PENA

Analisando-se mais uma função da pena de prisão, sob um enfo-

que sistêmico, - já que o sistema punitivo não constitui uma realidadeautônoma - conclui-se que ela serve para solidificar o processo sele-tivo da criminalização.

É inquestionável que o sistema punitivo, visto pelo marco da Cri-minologia crí tica, é estruturado de modo a não ter a operacionalidadeprometida.

Até porque a realização da criminalização programada "provoca-

ria um resultado que ninguém deseja, é irrecusável que o sistema

penal se estrutura de forma que a legalidade processual não opere,

I· d I "dd,,2oamp tan o a se ettvi a e .

Por sinal, Zaffaroni, também, realça a dissonância existente, entre odiscurso jurídico penal punitivo e sua real capacidade de criminalização

programada. Para ele, a voz do discurso jurídico-oficial é tão absurda,como a acumulação de material bélico nuclear, com todo o seu potencialdestrutivo, apto a destruir, várias vezes, a vida do planeta. Mas, diferen-temente, ocorre com o material bélico acumulado, porque, apesar de seupoderio destruidor, há um discurso, justificador da acumulação - anularqualquer possibilidade programadora de seu uso. Tal não ocorre, todavia,com o sistema penal, já que este só pode ser visto como um autênticoembuste: pretende utilizar de um poder que não possui, ocultando overdadeiro poder que exerce. Mesmo porque, se o sistema penal, efetiva-mente, realizasse a criminalização programada, provocaria uma catástrofesocial. 21Noutropasso, o autor figura a seguinte hipótese:

"se todos os furtos, todos os adultérios, todos os abortos, todas asdefraudações, todas as falsidades, todos os subornos, todas as lesões, todas

\9 HULSMAN, Louk, CELLIS , J . B. de. PenasPerdidas, p. 65-66.20 AZEVÊDO, Jackson C. de. Reforma e "Contra'í-Reforma Penal no Brasil:Umailusão .. .que sobrevive, p. 45.

2\ ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das Penas Perdidas. A perda de leg it imi-dade do s is tema penal, p. 26-27.

24

as ameaças, etc. fossem concretamente criminalizados, praticamente nãohaveria habitante que não fosse, por diversas vezes, criminalizado".22

aí, O engodo do sistema, ao vender a todos a ilusão de seguran-'1\ jurídica. Como visto, está programado o sistema punitivo para nãonpcrur concretamente.

E , assim, é a sua montagem estrutural: não operar a legalidadeprocessual. Em contraposição, fazer exercer seu poder, altamente,elotivo e arbitrário, direcionado para as camadas sociais, economica-

uicnrc mais débeis.onvém acentuar, ainda, que, segundo Baratta, a criminalidade não

mais uma qualidade ontológica de determinados comportamentos e dedl'lurminados indivíduos, mas se revela, principalmente, como um status

ttrlbufdo a determinados indivíduos, mediante uma dupla seleção: emprlruciro lugar, a seleção dos bens protegidos, penalmente, e dos compor-tumcntos ofensivos destes bens, descritos nos tipos penais; em segundoIIIHllr,a seleção dos indivíduos estigmatizados, entre todos os indivíduos,que realizam infrações a normas penalmente sancionadas.r'

E prossegue Baratta, delineando a criminal idade como um 'bem

ucgutivo', distribuído, desigualmente, conforme a hierarquia dos inte-IO IiI iCS, fixada no sistema sócio-econômico e conforme a desigualdadenciul entre os indivíduos.

Assim sendo, não há dúvida de que, à luz dos postulados de Ba-muu, o direito penal não protege todos e, apenas, os bens essenciais,nos quais estão igualmente interessados todos os cidadãos, e, quando1 1 \ 1 1 1 0 as ofensas aos bens essenciais, o faz com intensidade desigual edu modo fragmentário; A lei penal não é igual para todos, o status decrlrninoso é distribuído de modo desigual entre os indivíduos; O grauofctlvo de tutela e a distribuição do status de criminoso é indepen-dente da danosidade social das ações e da gravidade das infrações àh-i, no sentido de que estas não constituem a variável principal daicucão criminalizante e da sua intensidade.i"

11Ob. cit., p. 26.

'I3ARA TIA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal:Intro-du ção à Sociologia do Direito Penal, p . 161.

· 1 "'I). cit., p. 161-162.

25

 

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Sob o novo paradigma crítico da Criminologia, tem-se, primeira-mente, que o direito penal seleciona os bens protegidos e os compor-tamentos lesivos, de forma fragmentária, privilegiando os interessesdas eli tes e imunizando-as do processo criminalizador. A criminali-zação, destarte, opera, de modo desigual e seletivo, por parte do sis-tema penal. Em contrapartida, o processo criminalizante direciona to-da a sua tirania, principalmente, para as formas de desvio, típicas das

classes subalternas. Lógica, tão mais perversa e injusta, se se consi-derar que, segundo Andrade, os pobres não têm uma maior tendênciaa delinqüir, mas sim a serem criminalizados. De modo que à minoriacriminal da Criminologia positivista opõem-se a equação minoriacriminal x minoria pobre regularmente criminalizada.P

No que se refere à seletividade pela natureza do delito, sustentaBaratta, que isso ocorre:

" ...com a escolha dos tipos de comportamentos descritos na lei, e com adiversa intensidade da ameaça penal, que freqüentemente está emrelação inversa com a danosidade socia l dos comportamentos, mas coma própria formulação técnica dos tipos legais. Quando se dirigem acomportamentos típicos dos indivíduos pertencentes às classes subalter-nas , e que contradizem às relações de produção e de dis tr ibuição capi-tali stas , e les formam uma rede muito f ina, enquanto a rede é freqüente-mente muito larga quando os tipos legais têm por objeto a criminalidadeeconômica, e outras formas de criminalidade típ icas dos indivíduospertencentes às classes no poder.,,26

Basta se recorde dos delitos econômicos, ecológicos, ações dacriminalidade organizada, que, embora representem graves desvios eserem de maior potencial ofensivo, são subestimadas e, praticamente,a conduta dos seus agentes não é criminalizada, na maioria das vezes.Notadamente, por serem estes pertencentes às elites do sistema. Aocontrário, outros delitos, como os perpetrados contra o patrimônio,

embora de maior visibil idade, são mais punidos, severamente, porque

25 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A Ilusão de Segurança Jurídica: do controleda violência à violência do controle penal, p. 265.

26BARATTA, Alessandro. Criminologia Críticae Crítica do Direito Penal: Intro-dução à Sociologia doDireito Penal,p. 165.

26

lem, como autor, indivíduos pertencentes aos estratos sociais maisdébeis e marginalizados.

Na tri lha do raciocínio de Baratta, é de se dizer que os meca-nismos da criminalização secundária acentuam, mais e mais, o caráterletivo do direito penal. No pertinente à seleção dos indivíduos, o

purudigma mais eficaz, para a sistematização dos dados da observa-, n o , é o que assume, como variável independente, a posição ocupada

pelos indivíduos na escala social.Na linha, pois, dos postulados de Baratta, as maiores chances de

t'l' selecionado, para fazer parte da "população criminosa", aparecem,du fu to , concentradas, nos níveis mais baixos da escala social (subpro-ktnriado e grupos marginais). Salientando-se, ainda, que a posiçãoprecária, no mercado de trabalho (desocupação, subocupação, falta dequnlificação profissional) e defeitos de socialização familiar e escolar,I JI IC são características dos indivíduos, pertencentes aos níveis maishnlxos, é que levam o indivíduo a ser etiquetado com o status de cri-uilnoso. Ao contrário do entendimento da criminologia positivista e dehnu parte da criminologia liberal contemporânea, as quais tinham tais1'II10l'eSomo indicativos da criminalização.

Noutro passo, Baratta traça um paralelo de como o cárcere e arplicaçã o seletiva das sanções penais, por serem superestruturas,rcprodutoras do sistema, contribuem para a manutenção da escala ver-tlcnl da sociedade. De tal forma que, incidindo, negativamente, sobre-tudo, no status social dos indivíduos, pertencentes aos estratos sociaisIIIl1isbaixos, esse processo seletivo impede sua ascensão social.

Enfim, veja-se, ainda, que a Criminologia crít ica promove, tam-116m,a desconstrução do mito igualitário do direito penal, reputado odireito igual por excelência. Dir-se-ia que, ao contrário do que declara,\) direito penal é tão mais desigual que os demais ramos do direitoburguês, podendo ser mesmo considerado desigual por excelência.V

Analisando-se, criticamente, o mito da suposta igualdade, ver-se-I sem desenganos, que o direito penal c1assista anuncia promessas,

"vãs e platônicas", porque jamais cumpridas na realidade. Tanto assimque a igualdade formal, abstratamente, considerada, se contrapõe à

'UARATTA, ob. cit., p. 162-166.

27

 

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desigualdade substancial, nas posições ocupadas pelos indivíduosreais, na relação social de produção.

Desigualdade real , que a pena de prisão só faz reforçar. Por sinal,o direito penal já foi considerado por Novoa Monreal como o direitodos pobres, não porque os tutele e proteja, mas sim porque sobre eles,exclusivamente, faz recair sua força e seu vigor.i"

Éde se indagar, pois, qual a chance, diante dos tribunais

burgueses, que teria alguém, selecionado nos estratos inferiores dasociedade? A resposta terá que ser óbvia, como diria Dooley: "o

pobre tem nos tribunais a mesma chance que tem fora deles: ele tem

uma esplêndida chance de homem pobre".29

Como se sabe, os excluídos da sociedade capitalista é que lotamas prisões, uma vez que constituem a clientela preferencial do sistema.

28MONREAL, Eduardo Novoa. El Derecho como obstáculo ai cambio social. Mé-xico, siglo XXI Editores, 1975, p. 25, apud FRAGOSO, Heleno. Direi to Penal e

Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 28.29 Apud FRAGOSO, Heleno, ob. cit., p.29.

28

CAPÍTULO 11

O CÁRCERE E A RESSOCIALIZAÇÃO

.l RESSOCIALIZAÇÃO ou SOCIALIZAÇÃO

o pensamento ressocializador, matriz ideológica da teoria daprevenção especial positiva, não é tão novo assim. Deita suas verten-fus históricas nos autores iluministas.i"

A ressocialização, como se sabe, foi encampada pela nova defesaocial, ideologicamente, com o fito de fundamentação e de legit ima-

,110 da pena privativa de liberdade. No curso do tempo, todavia, foramcumprovados sua falácia e fracasso.

Evidencie-se que, ao longo da história, o cárcere, além de sempren- pr oduzir os valores das classes dominantes, jamais cumpriu as suasIl'nis funções - a de reeducação e de reinserção social do apenado.

Daí, porque a pena de prisão, mais que nunca, vem sendo ques-

t lonada, quanto à possibilidade de recuperação do condenado, median-t u seu processo de reeducação, por isso mesmo, também, vem sendoduslegitimada. Dir-se-ia que, depois da euforia inicial da defesa social,vive-se uma profunda desilusão.

1 1I RAMIREZ, Juan Bustos. A Pena e suas Teorias. In: Fascículos de Ciências Penais,

v. 5, n. 03,jul./ago.lset. 1992, p . 99.

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.:"

A pena de encarceramento, em absoluto, não representa para odelinqüente qualquer oportunidade de reintegração, na sociedade,tratando-se, apenas, de um sofrimento inútil , que lhe é infligido, comocastigo, pelo delito cometido.

De outro ângulo, assevere-se que as concepções da Criminologiacrít ica, mediante seu novo paradigma, têm demonstrado a deslegiti-mação das funções reeducativas da pena de prisão, pomposamente,

declaradas pelo neodefensismo social.Na atualidade, não se ignora que a prisão, em vez de regenerar e

ressocializar o delinqüente, degenera-o e dessocializa-o, além de per-vertê-Io, corrompê-lo e embrutecê-Io. A prisão é, por si mesma, crimi-nógena, além de fábrica de reincidência. Já foi cognominada, por issomesmo, de escola primária, secundária e universitária do crime. En-fim, a prisão é uma verdadeira sementeira da criminalização.

Portanto, o ideário ressocializador não tem passado de uma merautopia salvacionista, apesar de encontrar-se consagrado, expressa-mente, nos textos legais de muitos ordenamentos jurídicos.

No entanto, os postulados da ressocialização do criminalizado,através do cárcere, vêm sofrendo crít icas severas, notadamente, pelos

corifeus da Criminologia crítica.De nada adiantam as reformas dos sistemas penais, visando à

conjuração dos fatores negativos da prisão, sobre a vida do conde-nado, uma vez que seus efeitos devastadores contrariam qualquer idéiade reinserção social.

Sob outro aspecto, o tema da ressocialização do condenado pro-voca um novo enfoque analít ico: deve-se falar de ressocialização oude educação? Como cogitar-se de ressocialização do indivíduo crimi-nalizado, sem se referir, antes, ao processo socializador e educativo,numa estrutura classista?

Assim posto, impende, de logo, estabelecer uma mudança significa-

tiva, quanto ao conceito de socialização ou ressocialização, pois que não setrata de mera nuance filológica na defrnição do processo de tratamento."A partir desse novo enfoqueconceitual, proposto por Baratta, a

instituição prisional deve ser analisada, em conjunto com as demaisinstituições, privadas e públicas, porque, segundo o autor:

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! !

31 BARATIA,Alessandro.MarginalidadeSociale Justiça.Revista de Direito Penal,n. 21/22, jan./jun. 1976. p. 6.

30

"A prisão é uma parte deum continuum que inclui família, escola,assistência social, a organização cultural do tempo livre, preparaçãoprofissional, universidade e educação adulta. O tratamento na penitenci-ári a e a assistência pós-penitenciária previstos pelas novas leis, são umsetor altamente especializado deste continuum, tendente a recuperar osatrasos em socialização que indivíduos marginais têm sofrido, domesmo modo como as escolas especiais ajudam a recuperar terrenoaquelas crianças que provam serinaptas para as escolas normais.,,32

Veja-se, então, que a prisão faz parte integrativa de todas as demaisustituiçõ es sociais, responsáveis pelas condutas desviantes. Assim sendo,lu z desse novo paradigma, não se há de analisar a instituição peniten-

t i~1a, sem se levar, em linha de conta, também, a política educacional dauclcdade. Até porque o direito penal ficaria impensável, dissociado dostlt11llllisprocessos de socialização e de educação.

egundo a formulação do paradigma da reação social , o cárcere,(111llO própria escola, representa um enclave, no sistema do controle!lelul informal. Ambos, na estrutura capitalista, exercem funções deIt'çilo e de marginalização, impedientes da ascensão social das

t 11IIlUdasubalternas e periféricas. Diria Azevêdo:

••...é fácil demonstrá-lo,que a população carcerária provém, na maiorparte, de zonas socialmentemarginalizadas,caracterizadaspor problemasJ á na socialização primária da idade pré-escolar. Revelam os censospenitenciáriosde 1993e1994 que 95 % (noventae cinco por cento) dospresos em todo o Brasilsão "absolutamente pobres"; 76% (setenta e seispor cento) eram "analfabetos" ou "semi-analfabetos", em 1993, e 87%oitenta e setepor cento)nãotinhamo 10graucompleto,em 1994".33

Da mesma forma que a escola discrimina e exclui, tal acontece,t u m h é m , com a pena de prisão. Entre o sistema escolar e o sistema111"11111ão existem, apenas, analogias, como se possa imaginar, à pri-1 1 1 1 " 1 1 1 I vista. Ambos são discriminatórios, havendo uma conexão bási-Ili, ontrc os dois sistemas, formando um mecanismo de reprodução das11'11\(;('\1;6ociais e de marginalização. É que o sistema penal e sistema"IUIIIIII', diria Baratta:

" 1 1 1 1 1 1 . mesma página."\'/,IWf!I)O, JacksonC. de. Reforma e "Cotura'í-Reforma Penal no Brasil: Uma

IIiINn U •.. qu e sobrevive,p.48.

31

 

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"... têm a mesma função na reprodução das relações sociais e na manu-tenção da estrutura vertical da sociedade, como eles criam, em particular,protetores efetivos contra a integração das seções mais baixas e margina-lizadas da classe trabalhadora e, mesmo, criam processos marginalizantes.Nós encontramos no sistema penal, substancialmente, os mesmos mecanis-mos de discriminação contra indivíduos provenientes dos setores sociaismais baixos, como encontramos no sistema escolar." 34

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Como consectário, mais que lógico, se o cárcere e os demaisaparelhos ideológicos do sistema de con trole social são seletivos e margi -

nalizadores, toma-se inviável, na ordem capitalista, a ressocialização do

detento. Até porque, como visto, até aqui, se essas agências do controle

social são reprodutoras da estrutura sócio-econômica, não há dúvida de

que o problema do encarcerado nem chega a ser de ressocial ização ou de

reeducação, mas, primeiramente, de socialização ou de educação. Tanto

mais que a ordem burguesa, além de cri rninógena, lança suas [mas redes

criminalizantes, preferencialmente, sobre os estratos mais débeis da

sociedade, privados do acesso a uma educação de qualidade. Numapalavra, não se reeduca quem, sequer , se educou.

Eis, no particular, a voz do sempre citado Baratta:

"O elemento realístico deriva do reconhecimento de que, em mui-tos casos, o problema concernente ao detento não é de ressocializaçãoou de reeducação, mas, ao contrário, de socialização ou educação. Nofundo do atual movimento pela reforma penitenciária existe, portanto, aafirmação realística de que a população da prisão provém, amplamente,das áreas marginais da sociedade que já são caracterizadas pelasdesvantagens em sua socialização primária na idade pré-escolar.':"

Analisando-se, sob outra perspectiva, a impossibilidade de se

promover a ressocialização do detento, no ambiente carcerário, é de

serem evidenciadas as cerimônias de degradação, aí, ocorridas. Ouça-se Jackson C. de Azevêdo:

"As prisões con tinuam a ser o momento culminante do mecanis-mo de marginal ização que produz a população criminal e a administrade modo a adaptá-Ia a funções próprias que a qualificam, produzindo

34 BARATTA, ob. cit., p. 11.

35 BARATTA, Alessandro. Marginalidade Social e Justiça. Revista de Direito Penal,n. 21/22,jan./jun. 1976, p. 5-6.

32

efeitos contrários à reeducação e reinserção do condenado, e favoráveisà sua integração na população criminal. O cárcere contraria todo idealeducativo moderno de estimular a individualidade e o auto-respeito,alimentado pelo respeito ao educador. Os rituais de degradação no co-meço da detenção, despojando o encarcerado dos símbolos exterioresda própria autonomia (vestimentas e objetos pessoais) constituem ooposto. A educação fortalece o sentimento de liberdade e espontanei-dade do indivíduo; a vida carcerária, como universo disciplinar, tem o

caráter repressivo e padrcnizador't"

Com efeito, não se deve olvidar o cerimonial de degradação, a que

O submetidos os prisioneiros, desde o primeiro momento da execução

plmal. Em verdadeiro ritual niilista, violador do último oásis da intimi-

Ilude do ser humano, o preso vê-se, desde o começo de sua internação,

despojado dos símbolos externos de sua personalidade, de seus pertences

1 \ objetos pessoais, inclusive, da própria roupa. Eis, aí, a contradição de

11 m discurso que pretende incutir, no encarcerado, o sentimento da digni-

Ilude, da liberdade e da própria espontaneidade. Não se pode, diante de

1 1 1 1 \ tratamento assim, falar-se de auto-respeito e de preservação da pró-

plia individualidade. Além disso, estudos empíricos têm realçado, ainda,

11 11 efeitos perversos da rea lidade prisional, sob seus aspectos psicoló-"It'os, sociológicos e organizacionais. Tanto assim que os crirninólogos

1 1 1 1 1 1 1 11 de uma subcultura, internalizada pelos detidos, na comunidade da

I" iN 1 1 0 , antitética a todo ideal de reinserção social.

Malgrado a introdução de modernas técnicas psicoterapêuticas e

I'tlllcativas, na estrutura organizacional da prisão, não se tem colhido

ruudnnça substancial, em sua natureza e funcionamento.

Segundo Baratta:

"Exames clínicos realizados, usando testes clássicos de persona-lkludc, têm mostrado os efeitos negativos do encarceramento na psique doenndcnado, e a correlação entre este efeito e a duração do encar-

-o rum cnt o" ."

Ali6s, ninguém melhor que Baratta t ratou do tema, ac ima del ineado,

1 11 1 rk-monstrar como o interno adapta-se aos valores da comunidade

l'IIIII'lrtlill, em contraposição aos valores da comunidade extramuros.

~A·I.ItVt\I)(),ob, cit., p.50.liIIA UA 'I"I'A , nh .clt., p..18 .

C NN 'l'H O U N IV ER SIT A RIO C U RIT IB A

UNICURIT InA33

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Tanto assim que a educação do detento ocorre, através da aceitação dasnormas formais da instituição e através das informais, criadas pelaadministração. Via de regra, dir-se-ia que a adaptação àquelas normastende, sobretudo, a interiorizar modelos exteriores de comportamento queservem para o funcionamento ordeiro da vida da instituição. Tudo issopõe, em relevo, o objetivo real da instituição, enquanto a verdadeirafunção educativa é amplamente excluída do processo de interiorização de

normas. Demais disso, há uma relação, entre os representantes dos órgãosinstitucionais, que se transforma em atitude característ ica do preso, aotempo em que é fundada, em hostilidade, em desconfiança e em umaoportunística e não-consensual submissão.

Na tri lha, ainda, das formulações de Baratta, ver-se-á que há umarelação antípoda, entre excludente (sociedade) e excluído (o detento).De modo que todas as técnicas pedagógicas da reinserção do detentoentram em conflito com a verdadeira natureza desta relação de ex-clusão. Não se pode excluir e incluir ao mesmo tempo. Além disso, omundo prisional retrata, em suas característ icas negativas, a própriasociedade. É que, conforme o pensamento de Baratta, as relações so-ciais, travadas, na subcultura carcerária, representam mera ampliação,

em uma forma menos mistificada e 'menos pura', das característicastípicas da sociedade capitalista. Elas são relações sociais baseadas,essencialmente, no egoísmo e na violência ilegal, muitas vezes, l imi-tadas funcionalmente pelo poder legal. Dentro destas relações, os indi-víduos, socialmente mais fracos, são compelidos a papéis submissos eexplorados. Em arremate feliz, Baratta diz que, antes de querer modi-ficar o excluído, no caso, o detento, deve-se pretender a mudança dasociedade que o exclui. Sempre demonstrando a impossibilidade de seressocializar o preso, para a vida livre, através do cárcere, concluiBaratta, apontando as contradições, entre a ideologia ressocializadorae a realidade da punição, em decorrência das razões estruturais da

sociedade capitalista. É incisivo, ao afirmar que o projeto ressocia-lizador só será possível, se, antes, se efetivar um projeto de reeduca-ção da sociedade, que é preliminar à reeducação do prisioneiro."

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38 BARA TTA, Alessandro. Marginal idade Socia l e Jus ti ça. Revista de Direito Penal,n. 21/22, jan./jun. 1976, p. 20 - 25.

34

Nu perspectiva da Criminologia crítica, portanto, é de se asse-VI'!'III'que não há a mínima possibilidade de se obter a ressocialização.lu delinqüente, numa sociedade burguesa. Há argumentos que esteiamt n l convcncimento que podem, assim, ser extraídos, embora sem trans-I IkN o literal, da pena elegante de Cezar Roberto Bitencourt:39

1 1 ) O cárcere surgiu como uma necessidade do sistema capitalista,1 11 1 ) dizer, como um instrumento eficaz, para o controle e a manu-

11 IIl;nO cio sistema. Existe um liame histórico, muito íntimo, entre oI111i'III'O a fábrica. Assim sendo, a prisão, na ordem burguesa, temI Ivldo como instrumento para reproduzir a desigualdade e não para

,,111111' li reeducação do criminalizado. Assim visto, o real escopo doIIjjtlllllo prisional é condicionado à sua gênese histórica de instru-

1 11 1 1 11 1 0 ussegurador da desigualdade de classe e da marginalidade.h) O cárcere, como subsistema penal, reproduz a manutenção da

1!lClltlllIlllvertical da sociedade, impedindo a integração das classesuhnltcrnas, submetendo-as a um processo de marginalização social. A11l1~NI, como visto, é tão discriminatória dos estratos inferiores quantoII14 11 '1 1 0 11 1 1 1 escolar.

sistema carcerário, como a escola, desintegra as camadas

ulncrrivcis, sob o ponto de vista social, marginalizando-as. É certoIjllll, entre o apenado e a sociedade, ergue-se um muro, impediente deIjlllllqll<.;relação de solidariedade, entre ambos. Além disso, a divisão,I I 11 I o "bons" e "maus", decorrente do processo de criminalização, é11 1 11 1 1 das funções simbólicas da pena e, como tal, frustradora doIllpO rcssocializador, Diante de tais circunstâncias, consti tui-se, em

uuuncnto maior da utopia humana, o discurso ressocializador, ban-dllllll da nova defesa social. Trata-se de vã pretensão a reintegração dotllllllllo ao meio social, quando se sabe que a pena de prisão mantém111 1 I 1 re lação excludente com a própria sociedade. Mesmo porque o

1 \ ' 11 1 1 1 capitalista precisa da manutenção de zonas de marginalização,

I 11 1 runformidade com o que acontece com o próprio fenômeno daIih u l u n l i z a ç ã o , Portanto, pode-se asseverar, sem receio de equívocos,Ijlll\ 1 1 lógica perversa do capital é dissonante com o ideário da1illllHll'lulização.Em suma, à luz do novo paradigma da Criminologia

\1 1 III'I'I!NCOURT, Cezar Roberto. O Objet ivo Ressoc ia li zado r na Visão da Crimi -1 1 11 1 01 \1 1 1Crítica. Revista dos Tribunais, n. 662, dezembro de 1990, p. 250 - 251.

3 5

 

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crítica, as reformas do sistema prisional não surtirão efeitos, sem quese modifique a estrutura da ordem burguesa.

2.2 RESSOCIALIZAÇÃO MÍNIMA OU MÁXIMA

"I :, .

. '

Outros aspectos controvertidos surgem, no marco da Crimino-

logia crítica, a propósito da idéia de ressocialização do criminalizado,dentro do próprio modelo do Estado burguês, que merecem seremenfocados. De logo, surge a dificuldade em saber o grau e a inten-sidade da ressocialização, isto é, se através de um programa mínimoou de um programa máximo.

Segundo a formulação de Anabela, na hipótese de se estabelecer umprograma mínimo ressocializador, o tratamento dirigido à adaptação doindivíduo seria, unicamente, aos comandos jurídico-criminais. Estar-se-ia,diante de uma inocuização do indivíduo, mediante um programa mínimode tratamento, com um sentido mais de aprendizagem social das normasdo grupo. Como conseqüência, a ressocialização, nessa perspectiva, seria,tão somente, de aderência externa ao sistema. Ocorreria como se fora

uma adaptação, meramente, ritual. Destarte, nem se poderia cogitar deuma verdadeira regeneração, perfeita e total do criminalizado. Exata-mente porque, salienta a autora, a regeneração total só se obteria, atravésda adesão interior autônoma, por parte do indivíduo, aos valores da or-dem jurídico-social. O segundo enfoque - e, aí , já surgem críticas severas- seria a alternativa de um programa máximo de ressocialização, no qualse ressaltasse a função pedagógica da pena. Em tal hipótese de resso-cialização total, por evidente, já haveria a necessidade da concordânciaplena, diria Anabela, entre o comportamento externo do indivíduo e a suaatitude interna. 40

Ora, sabe-se que, para a obtenção de uma ressocialização, no

nível da adesão plena aos valores morais e das crenças da sociedade,toma-se necessário que se promova uma verdadeira lavagem cerebraldo indivíduo. Dessa forma, em franco desdém à sua dignidade e emcontradição aos princípios do Estado democrático. Uma ressocializa-

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40 RODRIGUES, Anabela Miranda. A Posição Jurídica do Recluso na Execução daPena Privativa de Liberdade, p. 105.

36

11 , incidente sobre o plano moral, correria o risco de ser conduzida à11 1 1 I 1 /1 tem erá ria manipulação da consciência individual. Sem se olvidarqllll lulcceria legitimidade ao Estado e à sociedade, na imposição de11 I 111'01iiferentes ao ser humano - o que implicaria violação ostensiva

1 1 11 /1 fundamentos de uma sociedade democrática e pluralista. Diantet li lM duus formulações, acima, duas vertentes analíticas são suscitadas.prlmcira é que, para a ressocialização, há um simples respeito do

ru llvt duo ao comando normativo penal, sendo bastante, para isso, umIIIIII:I'Uma mínimo de tratamento, conforme a estrutura funcional dohlma penal." Estar-se-ia, diante de um princípio de intervenção mí-

11 1 11 1 1 1 do direito penal, posto em prática, nos encerros estritos de umalH'kuade democrática e, como tal, de absoluto respeito pela digni-d,ull' humana. Ressocialização, nessa hipótese, que se traduziria nod\'1I1de, apenas, evitar o cometimento de crimes. Na segunda vertente

t i . 1 1m programa máximo de tratamento, esta ir ia de encontro com a\ , 10 (1 utura de uma sociedade que - por mais homogênea que seja -com-plll til ria, em seu interior, valores normativos diversos e contraditórios.Ill\r, o questionamento da falta de legitimidade de um programa resso-\ lnllzudor, nessa extensão, capaz de impor um sistema de valores,m bltru riam ente , ao criminalizado.

Muíioz Conde, em sua obra, intitulada A Ressocialização do De-11qücn te. Análise Crítica de um Mito, citada por Cezar Robertollltoncourt, tangencia essas questões, à maravilha.

Assim, recolhendo-se, no livro de Cezar Roberto Bitencourt,(t'1\1~llciada Pena de Prisão, a maioria das lições, a seguir, dir-se-á até'1 1 1 \ \ ponto é legítimo exigir-se a ressocialização do delinqüente, que11 1 I 1 1 1 1 mais é do que produto dessa mesma sociedade. Por isso -•unclui Mufioz Conde - é correta a afirmação de que é a sociedade eIInllo delinqüente que deveria submeter-se a ressocialização. A resso-clllli;l,lIção- prossegue Mufíoz Conde - presume a existência de um

IlIlll'l!IiSOinterativo e comunicativo entre indivíduo e sociedade, aIIIIIISnormas deve adaptar-se o indivíduo. A própria natureza humana

H C este intercâmbio, uma relação dialética, a convivência social.MIIN, nem mesmo as normas sociais podem determinar unilateral-11 1 1 '11 1 1 .\ o processo ressocializador. Desenganadamente, na conformi-

\I 1 < 1 )l)RIGUES, ob. cit., p. 109.

37

 

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dade dos ensinamentos de Francisco Mufíoz Conde, citado por CezarRoberto Bitencourt, não se há de excogitar de ressocialização do de-linqüente, sem questionar, ao mesmo tempo, o conjunto normativo aque se pretende incorporá-Io, e ... sem questionar as estruturas da or-dem social vigente, inclusive, aquelas mais diretamente relacionadas

d I· . d 42com o e ito pranca o.

Assim sendo, acompanhando-se o raciocínio, acima, perguntar-se-a: quais seriam as normas, das tantas existentes, que a ressocía-lização do delinqüente deve referir-se? Sim, porque se sabe que todoser humano possui uma escala de valores muito pessoal _ diria atépersonaIíssima -, enfim, uma forma muito particular de construir o seupatrimônio cultural. Pois bem, nessa conjuntura, é fácil imaginar que,no seio de uma sociedade democrática e pluralista, essa diversidade deinteresses, assim como a multiplicidade de ordenamentos vigentes,mantêm, entre si, uma relação mais conflitiva que pacífica. Fracassa,assim, ostensivamente, o pressuposto fundamental da idéia ressociali-zadora: a identidade entre criadores e destinatários das normasf

Como se vê, não é possível a ressocialização moral do indivíduo,sem grave lesão às suas liberdades. Então, noutra perspectiva, haveria

de perguntar-se: será possível ressocializar para a legalidade? Maisuma vez, a resposta à indagação cabe a Mufíoz Conde:

"A norma penal contém uma série de expectativas de condutalegalmente determinadas, cuja frust ração possibilit a, sob certas condi-ções, a aplicação de uma pena. O fim da execução desta pena seria, porconseguinte, restabelecer no delinqüente o respeito por essas normasbásicas, fazendo-o corresponder, no futuro, às expectativas nelas conti-das, evitando, assim, a prática de novos delitos, em outros termos, areincidência".44

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Saliente-se, entretanto, que, mesmo em se admitindo a idéia deressocialização social, como objetivo de adaptação exterior do crimi-

42 Francisco Mufioz Conde, La resocialización dei delincuente. Análisis y crítica de

um mito. CP,C., 7 Madrid, 1979, apud BITENCOURT, Cezar Roberto. Falênciada Pena de Prisão, p. 128.

43 BITENCOURT, ob. cit., mesma página.

44MUNOZ CONDE, Francisco. La resocialización ...• apud Cezar Bitencourt, ob. cit.,p.130.

38

jl idll/ ulo L lO S comandos jurídico-penais, ainda assim, haverá fortes1 I1 t 1 1 " f 1 I) H a ela. Um dos obstáculos a se lhe antepor seria a dificuldadedi IIIlllcá-la, efetivamente, em prática. Lembram, outrossim, alguns1 1 I 1 t 1 1 1 l 1l l' exemplo dos criminosos de guerra nazistas, que não necessi-1 ,1 1 ' 1 1 1 1 1 S U l ' ressocializados, visto que, muitos deles, viviam integradosI'I! ruuuente na sociedade."

I I , os crimes políticos, cujos autores, ao que se supõe, não podem

IIInnsiderados inadaptados ao meio social, a fim de sofrerem trata-11 1 I nlo rcssocializador? E o criminoso por negligência e o passional,1 I mhrudos por Anabela, que nem chegam a pôr em causa os valores1'llIlllgidos, mas que foram violados, apenas, por negligência, sem a1 l 1 1 1 l1 1l 1 t l intenção de voltar a ofendê-Ios?46

Finalmente, objete-se, ainda, com o direito de ser diferente, inte-II I l I l I l u dos direitos fundamentais do indivíduo. De novo, devolve-se a1 ' I I1 1 1 V I 'U a Mufíoz Conde, quando este afirma que o direito de não ser

tnttudo é parte integrante do direito de ser diferente que em toda

«u-Icdade pluralista e democrática deve existir. 47

o CÁRCERE COMO REPRODUTORDAORDEM CAPITALISTA

saber criminológico tradicional não explica a pena, dentro de1 1 1 1 1 1 1 perspectiva histórico-evolutiva, Ao contrário, procura explicá-Ia,dll forma estática, como se fora uma instituição eterna e imutável.

ontudo, o moderno saber criminológico, sob o viés da Crimino-I! 'lIill crítica, rompendo com esse velho paradigma, reconstitui o mar-111 histórico da pena, através dos diferentes sistemas de produção.

D ir -se -á, portanto, que, à luz do novo paradigma da reação so-UlIII, cada sistema produtivo possui seu modelo punitivo específico.

1 1 ( '( '", n l " Bitencourt, ob. cit., p. 130.IIIIH )()RIGUES, Anabela Miranda. A Pos ição Ju rídic a do Rec luso na Execução da

1'( \1\ [\ Privativa de Liberdade, p. 115.I 1 MlJ!\JOZ CONDE, Francisco. La resocializacián ..., apud Cezar Bitencourt, ob. cit.,

1 1 , 1 3 1 .

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Vista e analisada, sob tal pontuação crítica, a pena de prisão podeser considerada como superestrutura punitiva, vinculada, sempre, adeterminada estrutura econômico-social.

Aliás, Rusche e Kirchheimer, nos anos mais distantes do passa-do, já afirmaram: "Todo sistema de produção tende a descobrir

punições que correspondem às suas relações de produção=Í"

Posteriormente, Cirino dos Santos, revisitando o pensamento destes

autores, reafirma a influência das relações sociais, como condicionantesda explicação do crime e de seu controle, demonstrando a vinculaçãodireta, entre o mercado de trabalho e o sistema de justiça criminal _inclusive, da relação existente daquele com a própria pena privativa deliberdade - regulada de acordo com as necessidades do mercado.Y

Esclareça-se, outrossim, que o marco teórico marxista, desen-volvido pelos criminólogos radicais, sinaliza na direção do nexo exis-tente, entre "as transformações estruturais produzidas pelo desenvol-

vimento capitalista, com a industrialização e as mudanças tecnolô-

gicas, e asformas institucionalizadas de controle social adotadas peloaparelho penitenciário, ,,50

Tanto assim que, inspirado no trabalho de Rusche, Pavarini desen-volveria pesquisa, demonstrando que, em tempos de excesso de oferta detrabalho, a prisão teria uma função 'destrutiva', com finalidade terrorista,enquanto que, em tempos de escassez de força de trabalho, a prisão teriauma função 'produtiva', com finalidade reeducativa.

Mesmo nos Estados Unidos, em meados do século 19, a evoluçãohistórica da penitenciária ocorreu, sob o influxo do mercado de trabalho.° cárcere de Filadélfia refletia o modelo punitivo das relações

produtivas do capitalismo nascente. Ainda que o trabalho penitenciárionão fosse, alí, necessariamente, produtivo, propunha a submissão do crimi-noso, fundado no isolamento celular e na prática de orações. ° trabalha-dor, nesse modelo, dedicava-se à produção artesanal e manufatureíra."

48 RUSCHE, Georg, KIRCHHEIMER, Otto. Punição e Est rutura Soc ial, p. 18.49 SANTOS, Juarez Cirino dos. As Raizes do Crime: Um estudo sobre as estruturas eas insti tuições da violência, p. 151.

50 SANTOS, Juarez Cirino dos, ob . c it., p. 159.

51 Apud CASTRO, Lola Anyar de. Criminologia da Reação Social, p. 191-192.

40

Vale salientar-se que, ao entrar em crise o modelo filadelfiano,1'111 decorrência da escassez da força de trabalho e da proibição dauiportação de escravos, surgiu a necessidade de um novo modelo det)grcgação, que tornasse o trabalho produtivo. Daí, a origem do siste-

11 1 1 1 curcerário auburniano.Tal modelo prisional baseava-se "no confinamento solitário no-

turno, o trabalho em comum durante o dia, mas sob regime de silên-

, / r I tlbsoluto".52A originalidade de tal modelo é realçada por CIRINO, ao salien-

1 1 11 que, nele, havia uma "estruturação do trabalho como fábrica, com

1 ',I! 'Ia s modalidades ou sistemas de emprego da força de trabalhoá • d fi d 'I ' " ,,53vurrer iria, aparecen o a tgura o captta ista ou empresarto ...

Assim sendo, dir-se-á que, mesmo no atual modelo neoliberal ,I II JO capitalismo globalizado e financeiro é por demais monopolista eIunccntrador, "a prisão continua sendo o núcleo fundamental do

cuutrole social. .."

Tanto que "a eficácia dos novos mecanismos de controle social ,

/unto livramento condicional da pena, os regimes de semi-liberdade (pri-

wla albergue), etc., depende, diretamente, da possibil idade de sua con-

1 '1 '/',\'(7 0 em privação da liberdade (e, portanto, da existência da prisão)"

Por sinal, tais substitutivos penais, em verdade, só fazem reforçarII instituto prisional, legitimando-o, ainda que como última razão,upllcada para "os casos mais duros",54

Vale enfatizar-se que, mesmo com o advento da nova ordem da"tnodernidade" capitalista, o cárcere continua reproduzindo-a e rede-tlnlndo, também, seu próprio modelo.

Nesta nova fase do capitalismo "modernizado", a penitenciáriaunn mais deverá ser vista, como uma empresa produtiva, mas como"[áhrica de homens (e não de mercadorias), com o objetivo de trans-

[nunar o criminoso em proletário (sujeito obediente, habilitado ao

truhalho na sociedade industrial, pela aprendizagem forçada da disci-/ 1 / 1 /1 0 dafábrica)".55

.-.jANTOS,Juarez Cirino dos, ob. cit., p. 160,

\ Oh, cit., p. 160-161.

I()h, cit., p . 154.SANTOS, Juarez Cirino dos, ob. cit., p. 162.

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Resumindo-se, em um só lance, dir-se-á que o cárcere, analisadosob o viés "materialista ou político-econômico"s6, como aparelhocoercitivo, por excelência, será sempre garantidor e reconfirmador dasrelações sociais da ordem capitalista. Principalmente, refletindo ereconfirmando as suas desigualdades de classe e seu cortejo de abje-ções e horrores.

Até parece haver uma sina de maldição, perseguindo a prisão, aolongo de sua história: reproduzir e reconfirmar as desigualdades declasse, na sociedade.

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56A expressão é de Alessandro Baratta, (Criminologia Crítica e Crítica do DireitoPenal: Introdução à Sociologia do Direito Penal, p. 191),

42

CAPÍTULO nrMALES DO CÁRCERE

I I'I~SACULTURAÇÃO, ACULTURAÇÃO()U PRISIONIZAÇÃO

bserve-se, outrossim, a natureza do processo de socialização,I que vive submetido o prisioneiro. Trata-se de um processo

1 1 1 1 \1 11 ivo dos mais nefastos que f1agela o indivíduo aprisionado. Éuruntraditável que a adaptação ao mundo prisionaI eqüivale àdl'MlldllJ)taçãoà vida em liberdade, uma vez que o apenado adapta-se,)11 verdade, é a uma subcultura carcerária. "O bom preso", com1 ) 1 , ,1 1 0 , não passa de um adaptado aos costumes e aos hábitos daf'llIllIl'tIpenitenciária, cujos valores vão sendo por ele internalizados,1 11 fllIssnr do tempo.

() fenômeno da "prisionização já foi por demais explicado porIIIlIlIlId Clemmer, expressão, cujo batismo lhe pertence, segundo~IIHlllt'l Pedra Pimentel. Trata-se, em síntese breve, da assimilaçãoIIolllllltinnda cultura carcerária, por parte do detento. A propósito desseI, 1I(\III~no.ManoeI Pedro Pimentel, esclarece:

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"Ingressando no meio carcerár io o sentenciado se adapta, paula-tinamente , aos padrões da prisão. Seu aprendizado, nesse mundo novo epeculiar, é estimulado pela necessidade de se manter vivo e, se possível,ser acei to no grupo. Portanto, longe de esta r sendo ressocializado para avida livre está, na verdade, sendo socializado para viver na prisão. Éclaro que o preso aprende rapidamente as regras disciplinares na prisão,pois está interessado em não sofrer punições. Assim um observadordesprevenido pode supor que um preso de bom comportamento é um

homem regenerado, quando o que se dá é algo inteiramente diverso:trata-se, apenas, de um homem prtsonizadorF'.•. I:1 . : 1 ; ', . '

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No ambiente do cárcere, desenvolve um processo inverso ao daeducação ou socialização do preso. Tal processo, esclarece Baratta,pode ser observado, sob dois aspectos: o da "desaculturação" e o daaculturação ou prisionização. Saliente-se que a "desaculturação"

refere-se à desadaptação, por parte do detento, das condições básicaspara a vida em liberdade. Ela é ocasionada pelo ambiente carcerário,mediante diminuição da força de vontade, perda do senso de auto-responsabilidade, sob o ponto de vista econômico e social, enfim,através da diminuição do senso da realidade do mundo externo e a

formação de uma imagem ilusória deste, o distanciamento pro-gressivo dos valores e dos modelos de comportamento próprios dasociedade externa. Já o processo de "aculturação" compreende ainternalização dos estereótipos da sociedade carcerária, dos modelosde comportamento, dos valores característicos da subculturaprisional. Estes aspectos da subcultura carcerária, cuja interiorizaçãoé inversamente proprocional às chances de reinserção na sociedadelivre, têm sido examinados, sob o aspecto das relações sociais e depoder, das normas, dos valores, das atitudes que presidem estasrelações, como também sob o ponto de vista das relações entre osdetidos e o staf] da instituição penal. 58

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57 PIMENTEL, Manoel Pedro. O Crimee a Penana Atualidade, p. 158.

58 BARA TTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: Intro-dução à Sociologia do Direito Penal, p. 184 _ 185.

44

l'ortanto, como conseqüência da desaculturação e da aculturação,11111111e irrealizável qualquer tentativa de reinserção do condenado, na

r l u livre. Ao contrário, a "prisionalização" termina promovendo, às1,111.,11I, a educação para ser criminoso e a educação para ser bom

/" ,1,1'11, Diz Baratta que o primeiro processo é influenciado, particular-111I1I1ll,elo fato de que a hierarquia e a organização informal da1I1I111IIIidadearcerária são dominadas por uma restrita minoria deI

rluilnosos com forte orientação anti-social. De modo que, em face do1'11111\1'do prestígio de que goza essa minoria, esta assume uma1111. ' n Oparadigmática para os demais presos. Além disso, essa minoriaIilmlnosa, diante de seu poder, obriga até mesmo as autoridadesíllll'~\I'úrias em se transformarem em mediadoras do próprio poder1IIIIIIHltivode fato.

Enquanto que, ainda segundo a ótica de Baratta, a educação1'111'11er bom preso ocorre, em parte, também no âmbito da comu-ulr lndc dos detidos. Há certo grau de ordem, da qual os chefes dos"llfldos se fazem garantes, frente à direção do presídio, em troca de[u lv llég ios. Mais adiante, afirma Baratta, que a educação ocorre,IIdlllnais, mediante a aceitação das normas formais da instituição ed/lN informais, postas em ação pelo stajj. Dir-se-á, pois, que o deten-li Irend e a adaptar-se a estas normas, interiorizando modelos exterio-Ili"de comportamento, que servem ao ordenado desenvolvimento da1(\da instituição. 59De tudo quanto asseverado, conclui-se que não se obterá êxito

iIu cu c ion al , no sistema penitenciário, enquanto persist irem os fenô-

monos da desaculturacão e da prisionização. Mais grave ainda é que1 1 pr ls ic uização termina acometendo todo o universo penitenciário.1 '1 I 1 ' t , l C C até ocorrer um verdadeiro fenômeno de osmose coletiva,nnqucle ambiente, mediante o qual as suas nefastas influências1 11 nluun contagiando, desde o preso, até o diretor do presídio. Todos,

IIdistintamente, acabam contaminados pela linguagem característicadll~ presos, pelo jargão e gírias próprias. Fala-se até na existência das" " , 1 ' tia massa. Esclareça-se que a massa é uma expressão, cunhadaIH~lllspresidiários, com a qual costumam definir a vida e o modo de

VIII., em sua sociedade peculiar. Nela, todos os delinqüentes assu-

IIIIARATTA, Alessandro, ob . c it., p. 185.

45

 

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mem condutas, opostas à sociedade convencional. Veja-se comofuncionam as leis da massa, segundo José Ricardo Ramalho:

"Assim como a direção da cadeia tem suas regras de funcio-namento e as impõe com rigor aos presos, estes também dispõem de umconjunto próprio de regras que tem vigência entre eles e são aplicáveispor uns presos sobre os outros, somente. As regras da cadeia, assimcomo as leis dajustiça de um país, têm autoridades reconhecidas comotais às quais é atribuído o poder deaplicá-Ias, poder que paira acima daspartes envolvidas. Na massa cada um é 'juiz de sua própria causa', e aninguém é atribuído o poder de arbitrar as questões de outros. Os presosreferem-se a tais regras como as leis da massa. São elas que regulam aordem na vida do crime.,,60

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Em outro giro verbal, a propósito do fracasso do discurso oficial,ressocializador, Zaffaroni, em libelo candente, promove a sua des-construção, através dos postulados críticos, a seguir, expostos, emparáfrases: As cadeias são comparadas a máquinas de deteriorar. Éindiscutível que os maus-tratos, a tortura, os vexames e as ameaças,usuais na prática dos órgãos policiais, tornam-se altamente deterio-rantes. Tal deterioração se dá por conta da 'instituição total' que

conhecemos com o nome de 'prisão' (pertencente à categoria denomi-nada por Foucault de ' insti tuições de seqüestro ') . Além disso, salientaZaffaroni que a prisão ou cadeia é uma instituição que se comportacomo uma verdadeira máquina deteriorante. Tanto que o preso ou oprisioneiro é levado a condições de vida que nada têm a ver com as deum adulto: é privado de tudo o que o adulto faz, ou deve fazer, usual-mente, em condições e com limitações, que o adulto não conhece (fu-mar, beber, ver televisão, comunicar-se por telefone, receber ou enviarcorrespondência, manter relações sexuais, etc.)

Por outro lado, prossegue o autor, o preso é ferido, na sua auto-estima, de todas as formas imagináveis, pela perda de privacidade, de

seu próprio espaço, submissões a revistas degradantes, etc. A tudoisso, somem-se as condições deficientes de quase todas as prisões:superpopulação, alimentação paupérrima, falta de higiene e assistênciasanitária, etc., sem contar as discriminações, em relação à capacidadede pagar por alojamentos e comodidades.

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60 RAMALHO,JoséRicardo.M u nd o d o C rim e: a OrdempeloAvesso,p.41.

46

li,li' tudo isso, é de se evidenciar que o fenômeno, denominado1lllIUtllllzução,sem dúvida, é deteriorante e submerge o recluso, numalelllllll'll de cadeia ', distinta da vida do adulto, em liberdade. Bem é de

IJI, pois, que essa 'imersão cultural ' não pode ser interpretada como1 1 1 Í 1 I 1 (ontativa de reeducação, ou algo parecido, ou, sequer, pode serquuxhnada do postulado da 'ideologia do tratamento'. Em descons-

1 1 1 1 ~n t) final do marco ressocializador, diz Zaffaroni que a 'ideologiatllI untumento' efetiva-se, contrariamente, ao discurso oficial, insince-1II" llNCtUTIoteador.61

- I'~de se realçar, a derradeiro, o paradoxo da execução penal,1 1 1 1 1 1 1 1 1 5 1 1 I, já posta, em cheque, no livro de Oliveira:

"O desejado sentido ressocializador da pena, na verdade, configu-I'U apenas um fantástico discurso retórico para manter o sistema, o que,1 1 / 1 realidade, traduz um evidente malogro, um desperdício de tempopurao preso e um gasto inútilpara o Estado, que retira da sociedade umndivíduo por apresentar comportamento desviante e o transforma numlrrcc upe rável , pois a reincidência atinge o alarmante índice de mais deNt.llcntapor cento no país. Daí dizer-se, que a prisão fabrica o rein-.idcnte. O preso primário de hoje será o reincidente de amanhã, fechan-

do-se o círculo irreversível da prisão, que tem como conseqüência o.usto do delinqüente em si e da delinqüência que produz.A prisãoé ummalem simesma.Estabelecimentofechado,de regime

totalitár io, prisonaliza a mentalidadede todos os seus ocupantes: presos,guardas, carcereiros, funcionários, psicólogos, psiquiatras, assistentesociaise diretores- mantendo-ossobconstantetensãoe desconfiança ,,62

I~m verdade, na instituição penitenciária, o preso não passa,[uuulruseando-se Oliveira, de uma figura anônima, uniformizada,1 1 1 1 I 1 1 cruda, despojada de seus bens, afastada de sua família. Passa aItlllI!I!)1' por apelidos. Seu nome, parte integrante de sua persona-Itllu!!!), nada mais significa. Torna-se servil , atemorizado pela falta111

Ht'gurança que impera no interior das prisões: é freqüentemente11 vl studo, admoestado e castigado, incorpora a gíria que domina °nu h lcme. Dir-se-ia, sem exageros, que o recluso aprende nova

I /,i\FJli\RONI,EugenioRaúl.EmbuscadasPenasPerdidas.A perdade legitimi-1 1 1 11 1 1 100 sistemapenal,p. 135- 13611 1 ,IVI3IRA,OdeteMariade.Prisão: umparadoxosocial,p.233.

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maneira de viver e de ser, adquirindo perversões sexuais, inter-nalizando ati tudes de submissão e de dissimulação. Linhas adiante,prossegue Oliveira, as seqüelas são tão profundas que o impedem deadaptar-se à sociedade que, preconceituosamente discriminatória,dificulta-lhe os meios de sobreviver social, moral e financeiramente,tornando-o um homem marcado. Viverá para sempre sob o estigmada marginalização.

Diante de relato tão pungente, conclui-se, na trilha do pensa-mento de Oliveira, que o decantado processo de recuperação resultaapenas na absurda teorização discursiva do sistema, pois, na prática,nada alcança, além da formação de estereótipos e do fomento dareincidência, de forma profissional e aperfeiçoada, em conseqüênciado clima negativo, anti-natural, corrupto e desumano, predominante,nas prisões, sob agressivas e assustadoras formas. Nestas já cognomi-nadas "sucursais do inferno", os presos são despersonalizados, aotempo em que é gerada uma criminalidade violentamente assustadora,que desaponta, vulnera e enfrenta, com sucesso, qualquer aparelhopolicial e judicial."

Discorrendo-se a respeito da falácia do discurso da regeneração,

bandeira ideológica da defesa social, vale transcrever-se certo episó-dio, narrado por Augusto Thompson, em A Questão Penitenciária:

"Numa solenidade festiva, na Penitenciár ia Lemos de Brito, pre-sentes várias figuras da alta administração do Estado, servia, comogarção, um interno que era exibido como o exemplo mais convincenteda capacidade regeneradora da prisão. Condenado a mais de cem anos,pela soma das penas recebidas em inúmeros delitos violentos, ostentavaa estrela amarela, símbolo do excelente comportamento carcerário. Res-peitando rigorosamente as normas disciplinares, colaborava eficazmen-te com a administração, na tarefa de manter em paz a rotina da casa. Eraeu, na época, o Superintendente do Sistema Penal. Conversava com o

Promotor Silveira Lobo, quando o mencionado rapaz nos serviu de be-bida, aproveitando para trocar algumas palavras comigo. Após afastar-se, comentei com meu interlocutor:

- É, parece que está mesmo recuperado.

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63 OLIVEIRA, Odete Maria de, ob. cit., p. 234.

48

Silveira Lobo demorou-se um pouco, seguindo com a vista o in-terno, objeto do comentário. Depois, soltou vagarosamente:

- É ... Está muito diferente do menino que conheci , logo que caiunus mãos da Justiça. Engordou, exibe formas algo arredondadas; osolhos estão meio baços e, em gera l, f itam o chão; curva-se com bastantenvüídade, diante das pessoas; a voz mostra um certo acento feminino;move-se com lentidão, cuidadosamente, quase diria com receio; formal-mente respeitoso, parece preocupado em, por qualquer distração, deixar

de cumprir algum comando regulamentar; na pequena conversa queteve com você, sugeriu uma intriga envolvendo um guarda e um com-panheiro. É ... daquele jovem, atrevido, enérgico, topetudo, independen-

te, altivo, não restou nada.E terminou, com triste ironia: - Foi uma bela regeneração ...,,64

;cja permitida, enfim, a propósito do bombástico discurso resso-Ilnllzndor,já que a arte imita a vida, até mesmo, a evocação literária daIHIHonagemPapillon, extraída das páginas do romance do genial escritorllonr! Charriêre. Na verdade, Papillon foi o inverso de um "bom preso",1 1 1 1 1 1 I1 5, se adaptando às regras prisionais, a ponto de o autor do meneio-

11 1 1 ( 1 0 livro haver colocado, em seus lábios, a lapidar frase: "O caminho da

,,"tlridão não deixou marcas degradantes em mim. Sobretudo, porque, na

iv a l tdade, creio, nunca me adaptei a ele".65

interno "ressocializado", da ideologia da defesa social, faz lem-1 1 1 1 11 ' O cibemântropo, em confli to com o ântropo, ambos descritos porI "'11r ' Lefebvre, citado por Dalmo de Abreu Dallari. O cibernântropo é o

"adepto submisso da técnica , 'é um homem instalado, instituído, institu-cionalizado, funcionalizado, estruturado'. A rigor não é mais um ho-mem, não havendo mesmo razão para que os defensores do cibemân-trepo se preocupem com o humanismo. O ântropo, contrariamente,'uceita os conflitos, carrega-os consigo, assume-os. Não hesita emuguça r as contradições, em pronunciá-Ias, em criá-Ias sem as dissimularsob as f lores da retórica'. Nessa batalha, conclui Lefebvre, vencerá o

ntropo, por sua própria natureza.,,66

II'IIOMPSON, Augusto. A Questão Penitenciária, p. 14-5.t 'IIARRIERE, Henri. Papillon: O Homem que Fugiu do Inf emo, p. 490.I IIJlI2BVRE, Henri. Posição: contra os tecnocratas. São Paulo, Ed. Documentos,1%9, apud DALLARI, Dalmo de Abreu. O Futuro do Estado, p. 73.

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Ocorre que, na batalha da "ressocialização", vencerá o cibernân-tropo, o preso, submisso pela técnica do presídio, instalado, instituído,funcionalizado, estruturado. Prisionizado, enfim, não havendo mesmorazão, para que os seus defensores falem de seu humanismo e de suaadaptação social.

3.2 ESTIGMAS DO SISTEMA

Afirme-se que, em consonância com os postulados da Crimino-logia cr ítica, a aná lise dos estigmas, sobre o criminalizado, deve serfeita dentro de uma conceituação, mais alargada, uma vez que ofenômeno não ocorre, apenas, após a condenação formal. Antesmesmo desta, o sistema, como um todo, aciona todo o seu arsenalestigmatizante, sobre o criminalizado, principalmente, porque este éoriginário, na maioria dos casos, dos estratos subalternos da socie-dade.

A propósito da es tigmatização, provocada pelo sistema penal e

pelos ve ículos de comunicação de massa, antes de uma condenaçãoformal, basta se ouça Zaffaroni:

"A carga est igmát ica produzida por qualquer conta to do sis temapenal , princ ipalmente com pessoas carentes, faz com que alguns CÍrcu-los a lheios ao sis tema penal aos quais se proíbe a coal izão com estigma-tizados, sob pena de considerá-Ios contaminados, comportem-se comocontinuação do sis tema penal. Cabe registrar que a carga es tigmát icanão é provocada pela condenação formal, mas pelo simples conta to como sis tema penal. Os meios de comunicação de massa contribuem paraisso em alta medida, ao difundirem fotograf ias e adiantarem-se às sen-tenças com qualificações como "vagabundos", "chacais", etc.,,67

Aliás, não se pode mesmo desprezar, na atualidade, o papel est ig-matizante dos meios de comunicação de massa - a mídia, impressa,fa lada e televisiva. Sobretudo, o preponderante papel da televisão.Terr ível invento que, viajando pelo imaginár io coletivo , de formaautoritária, fa la e não ouve, condicionando condutas e introjetando,

67ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das Penas Perdidas. A perda de legitimi-dade do sistema penal, p. 134.

50

, )LOHlos,modos de ser e de agir. Bem é de ver , por tanto, oIlh.:cl"lvll da mídia, na estigmatização de quantos são alcançados

iillllhlllldo sistema punitivo.III/dlll, vale salientar-se, profere sentenças definitivas e inape-'l'11I11I.see uma instância, sem controle e sem freios, no processo

'''IIIII/,llIllü,sobretudo, contra os setores inferiores da sociedade.li, IIlIlwndo-se o viés explicativo de Zaffaroni, vale transcrevê-Io:

"I iAlC fenômeno não é privativo do sistema penal, mas neleIII"UII,H~características particulares: uma pessoa começa a ser tratadaI 111110 se fosse', embora não haja manifestado nenhum comportamento

' 11 1 11

Implique uma infração. Ao generalizar-se o tratamento de acordo111 111 O 'como se fosse' e sustentar-se no tempo quase sem exceção, aI'nNNlllIassa a se comportar de acordo com o papel atribuído, ou seja,

'111 1110 SC fosse', e com isso acaba 'sendo' ., ,68

rllnntc, Za ffaroni põe, em relevo, o processo de estigmatização,

li' il'llIlIIUdopela prisão, bem como dos registros de reincidência, na vida1 11 1 dllllnnlizado. Melhor, portanto, será ouvi-Io, na íntegra:

"É necessário advert ir que no sis tema penal não se t ra ta s imples-

1 111 . \ 1 1 1 1. : de um acordo externo, mas também de sério 'tratamento' inte-

1'1'lIdom um complexo processo de deterioração, cuja parte mais im-pllllU

nlcé feita pela prisão ou cadeia e perfeitamente legalizado através

di\ I'~gistros de re incidênc ia , da possibi lidade de impedir ou dif icul ta rqlllllqucr exercício de trabalho honesto por parte das agências do sis-1t~I\I[Ipenal que se ocupam de propagar o status do crimina lizado, depdvlIl' de liberdade period icamente a pes soa, convertendo-a em um'''IIHpeito profissional', de tomar os antecedentes como provas de culpa,

ncluslve por parte dos juizes, etc."."

l'i'lo exposto, não há a mínima dúvida da intervenção das agên-I "'" ltk'ol6gicas do sis tema, como reprodutoras de papéis estigmati-

111111111,obre a pessoa do criminalizado.A inda sob o marco do paradigma da reação social, Baratta sa -

1i.1I11I1 fun ção do cárcere, na produção de indivíduos desiguais. Pon-1\I,"Idll, além , insiste Baratta, que o cárcere produz um setor quali fi-IllIhl, dl.l marginalizados, recrutando-os, essencialmente, nas zonas

Iloldl'III,esmapágina.1 1 1 1 1 1 1 ' 1 1 \ , p. 134 -135.

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mais depauperadas da sociedade, sobre o qual incidirá a intervençãoestigmatizante do sistema punitivo do Estado ...70

De acordo com a formulação de Baratta, há o cuidado crescente,por parte da sociedade punitiva, em que o estigma da pena continuevergastando o ex-presidiário, indelevelmente, como se fora um novo"panopticon" foucaultiano. Ouça-se, no particular, o autor:

"O cuidado crescente que a sociedade punitiva dispensa ao encar-

cerado depois do fim da detenção, continuando a seguir sua existênciade mil modos visíveis e invisíveis, poderia ser interpretado como avontade de perpetuar, com a assistência, aquele estigma que a penatornou indelével no indivíduo. A hipótese de Foucault, da ampliação douniverso carcerário à assistência antes e depois da detenção, de modoque este universo esteja constantemente sob o foco de uma sempre maiscientífica observação, que se torna, por seu turno, um instrumento decontrole e de observação de toda a sociedade, parece, na realidade,muito próxima da linha de desenvolvimento que o sistema penal tomouna sociedade contemporânea. Este novo "panopticon" tem sempre me-nos necessidade do sinal visível (os muros) da separação para asse-gurar- se o perfeito controle e a perfeita gestão desta zona particular demarginalização, que é a população criminosa.?"

É inelutável que .os estigmas do sistema continuam criminalizandocondutas. Por sem dúvida, esse processo de criminalização, mais e mais,perpetua-se. O egresso cumpriu a pena, mas o sistema não acredita queele esteja recuperado. Tanto que, sequer, o emprega. Ao contrário,volta-lhe as costas, batendo-lhe as portas, na face.

3.3 ESTIGMAS DO CÁRCERE

Analisar-se-á, a seguir, a carga estigmatizante, que recai, sobre o

egresso do cárcere, de forma indelével. O ex-presidiário é sempre umhomem marcado. Quitada a sua pena, mesmo assim, a sociedade não

70 Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: Introdução à Sociologia do Direi-to Penal, p . 167.

71bidem, p. 187.

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h 'llI 1'1l1't(uc nele confiar. Rondar- lhe-á os passos, na amplitude do pa-11111'11111, invisível, foucaultiano.

propósito, o ex-condenado já foi comparado ao escravo/galé,' 1 \ 1 1 1"111..a marcha, o jeito da grilheta. Vale, portanto, reproduzir-se oqllll dlNNCPorto Carrero, mediante citação remissiva de Roberto Lyra:

"O galé traz na marcha ojeito da grilheta. É sempre o criminoso.Os Conselhos Penitenciários conseguem-lhe o emprego: à menor falta

leve - surge o argumento fatal: saiu da cadeia! Os amigos passam delargo, a filha é sempre a filha do criminoso; a esposa, sejá não mor-rcu de miséria ou não se prosti tuiu, está desacostumada dos seusiarinhos, cede-lhe a custo o governo da família, ou espera dele maisdo que ele, combalido, amputado na iniciativa, poderia dar. E osoutros? Surge um crime semelhante ao seu, vigiam-lhe a casa, inqui-rem-lhe dos hábitos, dos passos, das relações de amizade. Adaptado,sim, está ele: mas adaptado ao cárcere; e não será de admirar que façapor lá tornar".72

aliente-se, ainda, uma outra modalidade de pena que o ex-pri-nnciro tem de enfrentar. Maior que a perda temporária da liberdade,

. I l r lu Frederico Abrahão de Oliveira, é a pena acessória social, aliada à

ulldão, a que é relegado pela própria família. E prossegue o autor,dl1.cndo que, condenado, o homem é abandonado pelos seus filhos(qlw dele têm certa mágoa, eis que os expôs ao triste papel de filhosd(\ criminoso). A mulher, por algum tempo, ainda mantém o vínculoll(~ que, cansada dos maus tratos nas portarias do presídio, vaiuxluzindo até o nada as visitas ao marido prisioneiro. Diz mais o autoruu e o fundamento da pena, aquela utopia da reeducação, não tem aIIIllllor possibil idade - hoje - de ser comprovada.

Noutro passo, continua o autor, demonstrando a perpetuidade doIIIHlgma,sobre o apenado, tanto que, além de perder a liberdade paraIl/Igor seu crime, - será - e é - condenado a uma degradação que o

1111'6om que jamais seja recuperado.

I·PORTO-CARRERO, Júl io P ires. Adaptado ao cárcere, apud LYRA, Roberto. No-1 1 0 Direito Penal, v. 1, p. 111.

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Fala, ainda, do preconceito contra o homem que foi preso, contrao seu filho, contra sua mulher, pelo desrespeito com tudo o querepresenta o apenado ou ex-apenado, pelo desamor para com todas aspessoas que têm algum vínculo com ele.

É difícil saber o que é pior: estar cumprindo pena ou ter algumaespécie de vínculo com um apenado ou ex-apenado. Estar preso ou serum ex-preso. Na opinião do autor, a pena acessória social é pior do que

a pena privativa de liberdade, porque ultrapassa a pessoa do indivíduo,atinge seu mundo afetivo, talvez o pouco que ainda lhe resta.

Na ótica do autor, portanto, nenhuma chance tem o ex-senten-ciado. Se escapa da prisão, ileso, isto é, quando sai, após haver cum-prido a pena, não terá como ir adiante. Lá fora, em liberdade, será ex-plorado por todos, pela polícia, por ex-cúmplices, por traficantes. To-da essa perseguição da sociedade ao ex-apenado pode ser explicadapelo conceito de estigma, assunto já tratado por Erving Goffman, con-forme assevera Frederico Abrahão de Oliveira. 73

Reportando-se à origem do termo estigma e ao desenvolvimentoda sua aplicação, Frederico Abrahão de Oliveira, citando, novamente,Erving Goffman, informa que:

"Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos vi-suais , cr ia ram o termo estigma para se ref ir irem a sinais corporais comos quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mausobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram fe itos comcortes ou fogo no corpo e avisavam que o fiador era um escravo, umcriminoso ou traidor - uma pessoa marcada, r itual mente poluída, quedevia ser evitada, especialmente em lugares públicos. Mais tarde, naEra Cristã, dois níveis de metáfora foram acrescentados ao termo: oprimeiro deles refer ia -se a s inai s corporai s de graça divina que toma-vam a forma de flores em erupção sobre a pele; o segundo, uma alusãomédica a essa alusão religiosa, referia-se a sinais corporais de distúrbiofísico. Atualmente, o termo é amplamente usado de maneira um tantosemelhante ao sentido literal original, porém é mais aplicado à própriadesgraça do que à sua evidência corporal. Além disso, houve alteraçõesnos t ipos de desgraças que causam preocupação. Os estudiosos, entre-

'11 ':, " 1 : ,1

, ,

I' · , , ,

73 GOFFMAN, Erwing. Est igma. Notas sobre a manipulação da ident idade deterio-

rada. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982, apud OLIVEIRA, Frederico Abrahão de.Vítimas e Criminosos, p. 44 - 48.

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lillilll, lli10 fizeram muito esforço para descrever as precondições estru-IIIII\I~ do estigma, ou mesmo para fornecer uma definição do próprioI IlfIl'OItO. Parece necessário, portanto, tentar inicialmente resumir algu-1 1 11 1 /4 "l'irmativas e definições muito gerais.,,74

('11 1110 visto, por ser vítima dos preconceitos da sociedade, ao1 11 111 lh o u conduta, sempre e sempre, com uma pena acessória social,

ip enudo não poderá, jamais, ser reintegrado ao mundo sócio-vi-

11 I 1 1 1 1 .

1~1Il suma, dir-se-á que, na estrutura capitalista, o cárcere conti-,1 11 1 11 11 I'Nligmatizante, sobre o ex-recluso. É um mal, sem remédio, peloilll IItIN,enquanto vigorar a ordem social burguesa. As etiquetas sociais

1 , 1 Iuud cnaç ão impedirão sua reintegração social, de tal modo que otll!tont o continuará, reincidentemente, a trilhar a senda da crimi-

tll: I\"

'" 'tI"II1, p. 47.

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CONCLUSÃO

Diante dos seguidos fracassos da prisão, os novos operadoresuifdicos, a partir do marco da Criminologia crítica, vêm desconstruin-

dll O discurso da pena, ideologicamente, uti lizado pela nova defesaocial.

Na perspect iva do marco teórico da Criminologia crí tica , forammulisa das, primeiramente , as funções declaradas e as funções reais dapena. Como visto, o discurso da defesa social é falacioso e insincero,quando jura funções da pena, jamais, cumpridas . O discurso oficial daprisão é no sentido de controlar a "criminalidade" e de promover areeducação do apenado.

Incontroverso, no entanto, é que a pena de prisão vive uma criseuruda de legitimidade, nos dias atuais.

Ao contrário de seus fins declarados, a pena prisional temiumprido, antes de tudo, funções simbólicas e ideológicas do sistema,

diferentes de seus objetivos instrumentais.Verdade apodítica é que a prisão possui efeitos criminogênicos,

orno agência nutriz do processo de criminalização secundária e dereincidência criminosa. Exatamente, porque a sua função real, aoontrár io do que anuncia, é de "sementeira" de criminalização e dereiteração criminal.

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Com efeito, não se pode falar em escopo ressocializador e emcombate da criminalização, sem uma mudança radical , nas estruturassócio-econômicas, da ordem capitalista.

Exatamente';"porque a prisão reproduz e reconfmna a estrutura bur-guesa, com as suas desigualdades sociais e o seu cortejo de horrores.

Além disso, a pena de prisão criminaliza, a mancheias, condutas dascategorias inferiores da sociedade, em contrapartida, subestimando eignorando condutas típicas dos segmentos superiores, muitas vezes,muito mais graves. É o fenômeno da "cifra negra" ou "cifra obscura".

Sendo assim, diante da chamada "criminalidade" oculta, que viceja,latentemente, no âmbito do sistema oficial, há de se reconhecer que a"criminalidade" real é muito maior que a registrada, oficialmente.

Diante das pesquisas, sobre "as cifras obscuras", permite-se adesconstrução do discurso falacioso da Criminologia positiva,segundo o qual a "criminalidade" é o atributo de uma minoria deindivíduos. Ao contrário, as estatísticas criminais revelam que odesvio faz parte da maioria dos seres humanos e não, apenas, dosreputados socialmente perigosos.

Vê-se, noutra perspectiva, que a pena incide, seletivamente,

sobre os estratos, mais débeis, da sociedade, marginalizando-os.Sob o novo paradigma crítico da Criminologia, tem-se que o direito

penal seleciona os bens protegidos e os comportamentos lesivos, deforma fragmentária, privilegiando os interesses das elites e imunizando-asdo processo criminalizador. A criminalização, destarte, opera, de mododesigual e seletivo, por parte do sistema penal. Em contrapartida, oprocesso criminalizante direciona toda a sua tirania, principalmente, paraas formas de desvio, típicas das classes subalternas.

Ainda sob o marco do paradigma da reação social, acentue-seque o pensamento ressocializador, encampado pela nova defesa social ,ideologicamente, com o escopo de fundamentação e de legitimação da

pena privativa de liberdade, hoje, fracassou. Não se pode falar deressocialização, desconectada do próprio conceito de socialização, oude educação. Sobretudo, porque não se ressocializa quem, sequer,chegou a educar-se. Enfim, não se deve cogitar, na perspectiva daCriminologia crítica, de ressocialização, notadamente, numa sociedadeburguesa, desigualitária, sem se efetivar um projeto de reeducação daprópria sociedade. Noutra formulação, foram pontuados, outrossim, os

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/',1111111e ressocialização, mínima e máxima, de referência ao crimina-1 \ '.lIdo. É inafastável que a ressocialização máxima implica violação1I"limsiva dos direitos fundamentais do criminalizado, ao impor-lhe11111istema de valores, à sua revelia.

Além disso, objeta-se, noutro passo, que o processo da ressociali-1 I , 'n o máxima representa ofensa ao direito de ser diferente, integrante

di 1 / 1 direitos fundamentais do indivíduo.Veja-se, de outro ângulo, que o cárcere, sob o viés da Crimino-

I ! '!lia crítica, reproduz a ordem capitalista e as suas relações depllldução.

orno visto, o saber criminológico tradicional enfocava a pena,ociada de sua perspectiva histórico-evolutiva. À luz do paradigma

Irlmrnológico moderno, a prisão passou a ser considerada, comonporestrutura punitiva, vinculada, sempre, a determinada estrutura"( '( rnôm ico-social .

Observe-se, outrossim, a natureza do processo de socialização, aque vive submetido o prisioneiro. Trata-se de um processo negativodl)/lmais nefastos, que fIagela o indivíduo aprisionado. É incontraditá-vIII que a adaptação ao mundo prisional equivale à desadaptação à

vida, em liberdade, uma vez que o apenado adapta-se, em verdade, é aIIIIHl subcultura carcerária. "O bom preso", com efeito, não passa de11111daptado aos costumes e aos hábitos da cultura penitenciária,I II,IOS valores vão sendo por ele internalizados, ao passar do tempo.

Em face, pois, da desaculturação e da prisionização, é um des-pnutério cogitar-se de ressocialização do encarcerado.

Enfatize-se, em outra formulação, a carga estigmatizante, que1Il('lli,sobre o egresso do cárcere, de forma indelével. O ex-presidiárioI ' sempre um homem marcado. Quitada a sua pena, mesmo assim, aucicdade não tem porque nele confiar. Rondar-lhe-á os passos, nanmplitude do panóptico invisível foucaultiano.

Portanto, por ser vít ima dos preconceitos da sociedade, ao tatuar-lho a conduta, com uma pena acessória social, o ex-apenado não podeuícsmo ser reintegrado ao mundo sócio-vivencial.

Em suma, dir-se-á que, na estrutura capitalista, o cárcere conti-u u u r ã mantendo sua função estigmatizante. É um mal, sem remédio,pl~lomenos, enquanto vigorar a ordem social burguesa. As etiquetasnclais da condenação impedirão a reintegração social do ex-detento.

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)

Este continuará, reincidentemente, a percorrer a senda da crimina-lização.

Uma política prisional, alternativa, haverá de romper com oparadigma tradicional, marco da prevenção especial positiva. Não sehaverá de excogitar de políticas penalógicas, substitutivas do cárcere,de feição, nitidamente, reformista e humanitária. Uma autênticapolítica carcerária deverá ter o cariz de profundas reformas sócio-institucionais - o que poderá ser alcançado, somente, no marco dodesenvolvimento da igualdade democrática. É urgente a transformaçãoradical e a superação das relações sociais de produção, gestadas pelomodelo capitalista. Caso contrár io, a prisão continuará exis tindo, co-mo um teatro de tragédias, silenciosas, apesar de anunciadas, cujosatores serão sempre recrutados, preferencial e seletivamente, nascamadas desfavorecidas da sociedade.

O pecado original da prisão é a própria prisão. O cárcere destróiqualquer pedagogia de tratamento.

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6 0

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