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A REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª … · ... BRASÍLIA/DF - COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENT O ... CAPA: Patrícia Melin - Assessoria de ... Decisão proferida no

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A REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3 REGIO indexada nosseguintes rgos, publicaes e Bibliotecas:

- ACADEMIA NACIONAL DE DIREITO DO TRABALHO - BRASLIA/DF- ASSEMBLIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS - BELO HORIZONTE/MG- BIBLIOTECA DA ORGANIZAO INTERNACIONAL DO TRABALHO - BRASLIA/DF- ESCOLA DA MAGISTRATURA DA JUSTIA - TRIBUNAL DE JUSTIA - BELO HORIZONTE/MG- BIBLIOTECA NACIONAL - RIO DE JANEIRO/RJ- CMARA FEDERAL - BRASLIA/DF- COORDENAO DE APERFEIOAMENTO DE PESSOAL DE NVEL SUPERIOR - CAPES- FACULDADE DE DIREITO DA PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA - PUC - BELO HORIZONTE/MG- FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO - SO PAULO/SP- FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG - BELO HORIZONTE/MG- FUNDAO DE DESENVOLVIMENTO DE PESQUISA DA UFMG - PR-REITORIA - BELO HORIZONTE/MG- INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAO EM CINCIA E TECNOLOGIA - IBICT - MCT - BRASLIA/DF- MINISTRIO DA JUSTIA - BRASLIA/DF- MINISTRIO DO TRABALHO - BRASLIA/DF- ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - BRASLIA/DF- ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - Seo de Minas Gerais - BELO HORIZONTE/MG- PRESIDNCIA DA REPBLICA - Secretaria - BRASLIA/DF- PROCURADORIA DA REPBLICA EM MINAS GERAIS - BELO HORIZONTE/MG- PROCURADORIA GERAL DA JUSTIA DO TRABALHO - BRASLIA/DF- PROCURADORIA GERAL DA REPBLICA - BRASLIA/DF- PROCURADORIA GERAL DE JUSTIA - BELO HORIZONTE/MG- PROCURADORIA GERAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS - BELO HORIZONTE/MG- PROCURADORIA REGIONAL DA JUSTIA DO TRABALHO - BELO HORIZONTE/MG- SENADO FEDERAL - BRASLIA/DF- SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA - BRASLIA/DF- SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR - BRASLIA/DF- SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - BRASLIA/DF- TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO (23 Regies)- TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO - TCU - BRASLIA/DF- TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS - BELO HORIZONTE/MG- TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS - BELO HORIZONTE/MG- TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL - BRASLIA/DF- TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO - BRASLIA/DF

EXTERIOR

- FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA - PORTUGAL- FACULTAD DE DERECHO DE LA UNIVERSIDAD DE LA REPBLICA URUGUAYA - MONTEVIDEO- LIBRARY OF CONGRESS OF THE USA - WASHINGTON, DC- MINISTRIO DA JUSTIA - Centro de Estudos Judicirios - LISBOA/PORTUGAL- SINDICATO DOS MAGISTRADOS JUDICIAIS DE PORTUGAL - LISBOA/PORTUGAL- UNIVERSIDADE DE COIMBRA - PORTUGAL- THE UNIVERSITY OF TEXAS AT AUSTIN - AUSTIN, TEXAS- ULRICH S INTERNATIONAL PERIODICALS DIRECTORY, NEW PROVIDENCE, N.J./USA

(Indicador Internacional de Publicaes Seriadas)

PODER JUDICIRIOJUSTIA DO TRABALHO

REVISTA DOTRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO

3 REGIO

Repositrio autorizado da Jurisprudncia doTRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA

3 REGIO.Os acrdos, sentenas de 1 Instncia e

artigos doutrinrios selecionados para estaRevista correspondem, na ntegra,

s cpias dos originais.

BELO HORIZONTE SEMESTRALISSN 0076-8855

Rev. Trib. Reg. Trab. 3 Reg., Belo Horizonte, v.48, n.78, p.1-692, jul./dez.2008

CONSELHO EDITORIALDesembargador PAULO ROBERTO SIFUENTES COSTA - Presidente do TRT

Desembargador LUIZ OTVIO LINHARES RENAULT - Diretor da Escola JudicialJuza ADRIANA GOULART DE SENA - Coordenadora da Revista

Desembargador EMERSON JOS ALVES LAGE - Coordenador da RevistaJuza MARIA CRISTINA DINIZ CAIXETA - Coordenadora da Revista

Juiz ANTNIO GOMES DE VASCONCELOSJuza FLVIA CRISTINA ROSSI DUTRA

Desembargador JOS ROBERTO FREIRE PIMENTADesembargador MRCIO TLIO VIANA

Juza MARTHA HALFELD FURTADO DE MENDONA SCHMIDTMinistro MAURICIO GODINHO DELGADO

DEPARTAMENTO DA REVISTA:Ronaldo da Silva - Assessor da Escola Judicial

Bacharis:Cludia Mrcia Chein Vidigal

Isabela Mrcia de Alcntara FabianoJsus Antnio de Vasconcelos

Maria Regina Alves FonsecaEditorao de texto - Normalizao e diagramao:

Patrcia Crtes Arajo

CAPA: Patrcia Melin - Assessoria de Comunicao Social

REDAO: Rua Goitacases 1475 - 15 andarCEP 30190-052 - Belo Horizonte - MG - BrasilTelefone: (31) 3330-7658e-mail: [email protected]

[email protected]

EDIO: Rettec Artes Grficase-mail: [email protected]: (11) 2063-7000

Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3 Regio,Belo Horizonte, MG - BrasilAno 1 n. 1 1965-2009

SemestralISSN 0076-8855

1. Direito do Trabalho - Brasil 2. Processo trabalhista -Brasil 3. Jurisprudncia trabalhista - Brasil

CDU 347.998:331(81)(05)34:331(81)(094.9)(05)

O contedo dos artigos doutrinrios publicados nesta Revista, as afirmaes e osconceitos emitidos so de nica e exclusiva responsabilidade de seus autores.Nenhuma parte desta obra poder ser reproduzida, sejam quais forem os meios

empregados, sem a permisso, por escrito, do Tribunal. permitida a citao total ou parcial da matria nela constante, desde que mencionada a fonte.

Impresso no Brasil

Esta Revista impressa encontra-se disponvel em formato eletrnico no sitewww.trt3.jus.br/escola/revista/apresentacao.htm

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SUMRIO

APRESENTAO ..................................................................................................... 7

1. COMPOSIO DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DATERCEIRA REGIO EM JUNHO DE 2009 .......................................................... 9

2. DEPOIMENTO DOS MINISTROS CARLOS MRIO DA SILVA VELLOSOE MANOEL MENDES DE FREITAS NO LANAMENTO DA REVISTA N. 76 ...... 19

3. DOUTRINAS

- A DISCRIMINAO DO TRABALHADOR IDOSO - RESPONSABILIDADESOCIAL DAS EMPRESAS E DO ESTADOMaria Lcia Cardoso de Magalhes .............................................................31

- A JUDICIALIDADE DOS DIREITOS SOCIAISAdriana Campos de Souza Freire Pimenta ..................................................45

- A POLTICA EUROPEIA DE EMPREGO E A IDEIA DEFLEXISSEGURANA: UM NOVO PARADIGMA PARA AMODERNIZAO DO DIREITO DO TRABALHO?Rodrigo Garcia Schwarz ................................................................................65

- A PRESCRIO TRABALHISTA: ASPECTOS PECULIARES EPOLMICOSJos Carlos Lima da Motta ............................................................................85

- A PROTEO JURDICA DO TRABALHADOR ESTRANGEIRO COMOEXERCCIO DE ALTERIDADEPedro Augusto Gravat Nicoli ...................................................................... 113

- ASPECTOS CURIOSOS DA PROVA TESTEMUNHAL: SOBREVERDADES, MENTIRAS E ENGANOSMrcio Tlio Viana ....................................................................................... 123

- A SUPERSUBORDINAO - INVERTENDO A LGICA DO JOGOJorge Luiz Souto Maior ............................................................................... 157

- CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: TEMPO DE SOCIALIZAR PREJUZOSE GANHOSIsabela Mrcia de Alcntara Fabiano e Luiz Otvio Linhares Renault ..... 195

- DA COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO EM RELAO REPRESENTAO COMERCIAL AUTNOMAZaida Jos dos Santos ............................................................................... 219

Rev. Trib. Reg. Trab. 3 Reg., Belo Horizonte, v.48, n.78, p.5-6, jul./dez.2008

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- DISCRIMINAO NO MERCADO DE TRABALHO: CONSCINCIA EAES DE RESISTNCIARodrigo Goldschmidt .................................................................................. 231

- JURISTAS E JORNALISTAS: IMPRESSES E JULGAMENTOSMnica Sette Lopes .................................................................................... 253

4. DECISO PRECURSORA .............................................................................. 273

Deciso proferida no Processo n. 1873/81 da 12 Junta de Conciliaoe Julgamento de Belo HorizonteJuza Presidente: Alice Monteiro de BarrosComentrio: Desembargador Federal do Tribunal Regional do Trabalhoda 3 Regio aposentado Messias Pereira Donato

5. JURISPRUDNCIA

ACRDOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3 REGIO ... 279

EMENTRIO DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3 REGIO .. 415

6. DECISES DE 1 INSTNCIA ........................................................................ 571

7. ORIENTAES JURISPRUDENCIAIS DAS 1 E 2 SEESESPECIALIZADAS DE DISSDIOS INDIVIDUAIS E SMULAS DOTRT DA 3 REGIO .................................................................................... 657

8. NDICE DE DECISES DE 1 INSTNCIA ...................................................... 669

9. NDICE DE JURISPRUDNCIA

ACRDOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3 REGIO ... 673

EMENTRIO DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3 REGIO .. 675

Rev. Trib. Reg. Trab. 3 Reg., Belo Horizonte, v.48, n.78, p.5-6, jul./dez.2008

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3 Reg., Belo Horizonte, v.48, n.78, p.7-7, jul./dez.2008

APRESENTAO

A Escola Judicial tem a honra de apresentar-lhes o nmero 78 da Revistado Tribunal Regional do Trabalho da 3 Regio. Repositrio oficial dajurisprudncia trabalhista mineira, a Revista do TRT-3 Regio cone, ao mesmotempo, de atualizao doutrinria e jurisprudencial e de manifestao dapreservao da memria evolutiva da Justia do Trabalho em Minas Gerais.

A srie de artigos doutrinrios digna das melhores revistas do gnerono mundo. A brilhante deciso precursora, prpria de sua digna prolatora, regeos bem pincelados comentrios do magistrado, doutrinador e professoraposentado.

De outro lado, o ementrio de jurisprudncia, os acrdos e as sentenasaqui publicados merecem leitura atenta, porque confirmam a vocao da 3Regio para a concretizao dos princpios do Direito e do Processo do Trabalho,sem prejuzo para a celeridade ou para as garantias processuais.

Alm disso, a Revista ainda traz as Smulas do TRT-3 Regio e asOrientaes Jurisprudenciais da 1 e da 2 Sees Especializadas em DissdiosIndividuais do TRT-MG. Acompanha tambm esta publicao o lcido depoimentodos Ministros Carlos Mrio da Silva Velloso e Manoel Mendes de Freitas, porocasio do lanamento da Revista n. 76.

Por essas e outras razes, a Revista do TRT-3 Regio j recebeu conceitoA em nvel de circulao local pela CAPES e est atualmente estudando apossibilidade de expanso de seu conselho editorial para acolher tambmrenomados juristas estrangeiros.

Boa leitura!

De Juiz de Fora para Belo Horizonte, junho de 2009.

MARTHA HALFELD FURTADO DE MENDONA SCHMIDTJuza Titular da 3 Vara do Trabalho de Juiz de ForaConselheira da Escola Judicial do TRT-3 Regio

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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHODA TERCEIRA REGIO

BINIO: 2008/2009

PAULO ROBERTO SIFUENTES COSTADesembargador Presidente

CAIO LUIZ DE ALMEIDA VIEIRA DE MELLODesembargador Vice-Presidente JudicialMARIA LCIA CARDOSO DE MAGALHES

Desembargadora Vice-Presidente AdministrativoEDUARDO AUGUSTO LOBATODesembargador Corregedor

PRIMEIRA TURMADesembargadora Maria Laura Franco Lima de Faria - Presidente da TurmaDesembargador Manuel Cndido RodriguesDesembargador Marcus Moura Ferreira

SEGUNDA TURMADesembargador Sebastio Geraldo de Oliveira - Presidente da TurmaDesembargador Luiz Ronan Neves KouryDesembargador Jales Valado Cardoso

TERCEIRA TURMADesembargador Csar Pereira da Silva Machado Jnior - Presidente da TurmaDesembargador Bolvar Vigas PeixotoDesembargador Irapuan de Oliveira Teixeira Lyra

QUARTA TURMADesembargador Jlio Bernardo do Carmo - Presidente da TurmaDesembargador Antnio lvares da SilvaDesembargador Luiz Otvio Linhares Renault

QUINTA TURMADesembargadora Lucilde DAjuda Lyra de Almeida - Presidente da TurmaDesembargador Jos Murilo de MoraisDesembargador Jos Roberto Freire Pimenta

SEXTA TURMADesembargador Anemar Pereira Amaral - Presidente da TurmaDesembargador Jorge Berg de MendonaDesembargador Emerson Jos Alves Lage

STIMA TURMADesembargador Paulo Roberto de Castro - Presidente da TurmaDesembargadora Alice Monteiro de BarrosDesembargadora Maria Perptua Capanema Ferreira de Melo

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3 Reg., Belo Horizonte, v.48, n.78, p.9-18, jul./dez.2008

OITAVA TURMADesembargador Mrcio Ribeiro do Valle - Presidente da TurmaDesembargadora Denise Alves HortaDesembargadora Cleube de Freitas Pereira

NONA TURMADesembargadora Emlia Facchini - Presidente da TurmaDesembargador Antnio Fernando GuimaresDesembargador Ricardo Antnio Mohallem

DCIMA TURMADesembargador Caio Luiz de Almeida Vieira de Mello - Presidente da TurmaDesembargadora Deoclecia Amorelli DiasDesembargador Mrcio Flvio Salem Vidigal

TURMA RECURSAL DE JUIZ DE FORADesembargador Jos Miguel de Campos - Presidente da TurmaDesembargador Heriberto de CastroDesembargador Marcelo Lamego Pertence

RGO ESPECIALDesembargador Paulo Roberto Sifuentes Costa (Presidente)Desembargador Caio Luiz de Almeida Vieira de Mello (Vice-Presidente Judicial)Desembargadora Maria Lcia Cardoso de Magalhes (Vice-Presidente Administrativo)Desembargador Eduardo Augusto Lobato (Corregedor)Desembargador Antnio lvares da SilvaDesembargadora Alice Monteiro de BarrosDesembargador Mrcio Ribeiro do ValleDesembargadora Deoclecia Amorelli DiasDesembargadora Maria Laura Franco Lima de FariaDesembargador Manuel Cndido RodriguesDesembargador Luiz Otvio Linhares RenaultDesembargadora Emlia FacchiniDesembargadora Cleube de Freitas PereiraDesembargadora Lucilde DAjuda Lyra de AlmeidaDesembargador Jos Roberto Freire PimentaDesembargador Anemar Pereira Amaral

SEO ESPECIALIZADA DE DISSDIOS COLETIVOS (SDC)Desembargador Paulo Roberto Sifuentes Costa (Presidente)Desembargador Caio Luiz de Almeida Vieira de MelloDesembargador Antnio lvares da SilvaDesembargadora Alice Monteiro de BarrosDesembargador Mrcio Ribeiro do ValleDesembargadora Deoclecia Amorelli DiasDesembargador Manuel Cndido RodriguesDesembargador Luiz Otvio Linhares Renault

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Desembargadora Emlia FacchiniDesembargador Antnio Fernando GuimaresDesembargador Marcus Moura FerreiraDesembargador Sebastio Geraldo de Oliveira

1 SEO ESPECIALIZADA DE DISSDIOS INDIVIDUAIS (1 SDI)Desembargador Paulo Roberto Sifuentes Costa (Presidente)Desembargadora Maria Laura Franco Lima de FariaDesembargador Jos Murilo de MoraisDesembargador Ricardo Antnio MohallemDesembargadora Maria Perptua Capanema Ferreira de MeloDesembargador Paulo Roberto de CastroDesembargador Anemar Pereira AmaralDesembargador Jorge Berg de MendonaDesembargador Irapuan de Oliveira Teixeira LyraDesembargador Mrcio Flvio Salem VidigalDesembargador Jales Valado CardosoDesembargador Marcelo Lamego Pertence

2 SEO ESPECIALIZADA DE DISSDIOS INDIVIDUAIS (2 SDI)Desembargador Paulo Roberto Sifuentes Costa (Presidente)Desembargador Jos Miguel de CamposDesembargador Jlio Bernardo do CarmoDesembargadora Cleube de Freitas PereiraDesembargador Bolvar Vigas PeixotoDesembargador Heriberto de CastroDesembargadora Denise Alves HortaDesembargador Luiz Ronan Neves KouryDesembargadora Lucilde DAjuda Lyra de AlmeidaDesembargador Jos Roberto Freire PimentaDesembargador Csar Pereira da Silva Machado JniorDesembargador Emerson Jos Alves Lage

Diretor-Geral: Lus Paulo Garcia FaleiroDiretor-Geral Judicirio: Eliel Negromonte FilhoSecretrio-Geral da Presidncia: Guilherme Augusto de Arajo

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VARAS DO TRABALHOTRT/ 3 REGIOMINAS GERAIS

CAPITAL

01 Vara de Belo Horizonte Joo Alberto de Almeida02 Vara de Belo Horizonte Gisele de Cssia Vieira Dias Macedo03 Vara de Belo Horizonte Charles Etienne Cury04 Vara de Belo Horizonte Milton Vasques Thibau de Almeida05 Vara de Belo Horizonte Antnio Gomes de Vasconcelos06 Vara de Belo Horizonte Fernando Csar da Fonseca07 Vara de Belo Horizonte Maria Cristina Diniz Caixeta08 Vara de Belo Horizonte Eduardo Aurlio Pereira Ferri09 Vara de Belo Horizonte Denise Amncio de Oliveira10 Vara de Belo Horizonte Marlia Dalva Rodrigues Milagres11 Vara de Belo Horizonte Cleber Lcio de Almeida12 Vara de Belo Horizonte Mnica Sette Lopes13 Vara de Belo Horizonte Olvia Figueiredo Pinto Coelho14 Vara de Belo Horizonte Danilo Siqueira de Castro Faria15 Vara de Belo Horizonte Ana Maria Amorim Rebouas16 Vara de Belo Horizonte Marcelo Furtado Vidal17 Vara de Belo Horizonte Hlder Vasconcelos Guimares18 Vara de Belo Horizonte Vanda de Ftima Quinto Jacob19 Vara de Belo Horizonte Maristela ris da Silva Malheiros20 Vara de Belo Horizonte Tasa Maria Macena de Lima21 Vara de Belo Horizonte Jos Eduardo de Resende Chaves Jnior22 Vara de Belo Horizonte Jess Cludio Franco de Alencar23 Vara de Belo Horizonte Fernando Antnio Vigas Peixoto24 Vara de Belo Horizonte Ricardo Marcelo Silva25 Vara de Belo Horizonte Rodrigo Ribeiro Bueno26 Vara de Belo Horizonte Maria Ceclia Alves Pinto27 Vara de Belo Horizonte Carlos Roberto Barbosa28 Vara de Belo Horizonte Vicente de Paula Maciel Jnior29 Vara de Belo Horizonte Joo Bosco de Barcelos Coura30 Vara de Belo Horizonte Maria Stela lvares da Silva Campos31 Vara de Belo Horizonte Paulo Maurcio Ribeiro Pires32 Vara de Belo Horizonte Sabrina de Faria Fres Leo33 Vara de Belo Horizonte Jaqueline Monteiro de Lima34 Vara de Belo Horizonte Jos Marlon de Freitas35 Vara de Belo Horizonte Adriana Goulart de Sena36 Vara de Belo Horizonte Wilmia da Costa Benevides37 Vara de Belo Horizonte Rogrio Valle Ferreira38 Vara de Belo Horizonte Marcos Penido de Oliveira39 Vara de Belo Horizonte Fernando Luiz Gonalves Rios Neto40 Vara de Belo Horizonte Joo Bosco Pinto Lara

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INTERIOR

Vara de Aimors Leonardo Passos Ferreira

Vara de Alfenas Frederico Leopoldo Pereira

Vara de Almenara

Vara de Araua Andr Figueiredo Dutra

Vara de Araguari Zaida Jos dos Santos

Vara de Arax Edmar Souza Salgado

1 Vara de Barbacena Mrcio Toledo Gonalves

2 Vara de Barbacena Vnia Maria Arruda

Posto Avanado de Venda Nova

Posto Avanado do Barreiro

1 Vara de Betim Mauro Csar Silva

2 Vara de Betim Rita de Cssia de Castro Oliveira

3 Vara de Betim Denzia Vieira Braga

4 Vara de Betim Vitor Salino de Moura Ea

5 Vara de Betim Maurlio Brasil

Vara de Bom Despacho Valmir Incio Vieira

Vara de Caratinga Carlos Humberto Pinto Viana

Vara de Cataguases Luiz Antnio de Paula Iennaco

Vara de Caxambu Marco Antnio Ribeiro Muniz Rodrigues

1 Vara de Congonhas Jos Quintella de Carvalho

2 Vara de Congonhas Antnio Neves de Freitas

Vara de Conselheiro Lafaiete Rosngela Pereira Bhering

1 Vara de Contagem Ana Maria Esp Cavalcanti

2 Vara de Contagem Ktia Fleury Costa Carvalho

3 Vara de Contagem Marcelo Moura Ferreira

4 Vara de Contagem Alexandre Wagner de Morais Albuquerque

5 Vara de Contagem Manoel Barbosa da Silva

1 Vara de Coronel Fabriciano Jnatas Rodrigues de Freitas

2 Vara de Coronel Fabriciano Edson Ferreira de Souza Jnior

3 Vara de Coronel Fabriciano Maritza Eliane Isidoro

4 Vara de Coronel Fabriciano Adriana Campos de Souza Freire Pimenta

Vara de Curvelo Vanda Lcia Horta Moreira

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Vara de Diamantina

1 Vara de Divinpolis Sueli Teixeira

2 Vara de Divinpolis Simone Miranda Parreiras

Vara de Formiga Graa Maria Borges de Freitas

1 Vara de Governador Valadares Luciana Nascimento dos Santos

2 Vara de Governador Valadares Hudson Teixeira Pinto

3 Vara de Governador Valadares Flvia Cristina Rossi Dutra

Vara de Guanhes

Vara de Guaxup Jairo Vianna Ramos

Vara de Itabira Paulo Gustavo de Amarante Meron

Vara de Itajub Gigli Cattabriga Jnior

Vara de Itana Orlando Tadeu de Alcntara

Vara de Ituiutaba

Posto Avanado de Iturama

Vara de Januria Anselmo Jos Alves

1 Vara de Joo Monlevade Mrcio Jos Zebende

2 Vara de Joo Monlevade Newton Gomes Godinho

1 Vara de Juiz de Fora Jos Nilton Ferreira Pandelot

2 Vara de Juiz de Fora Vander Zambeli Vale

3 Vara de Juiz de Fora Martha Halfeld Furtado de Mendona Schmidt

4 Vara de Juiz de Fora Lverson Bastos Dutra

5 Vara de Juiz de Fora Maria Raquel Ferraz Zagari Valentim

Vara de Lavras Fernando Sollero Caiaffa

Vara de Manhuau Jacqueline Prado Casagrande

Vara de Matozinhos Lus Felipe Lopes Boson

Vara de Monte Azul Maria Raimunda de Moraes

1 Vara de Montes Claros Cristina Adelaide Custdio

2 Vara de Montes Claros Gasto Fabiano Piazza Jnior

3 Vara de Montes Claros Joo Lcio da Silva

Vara de Muria Marcelo Paes Menezes

Vara de Nanuque Paula Borlido Haddad

Vara de Nova Lima Lucas Vanucci Lins

Vara de Ouro Preto Luciana Alves Viotti

Vara de Par de Minas Weber Leite de Magalhes Pinto Filho

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Vara de Paracatu Luiz Cludio dos Santos Viana

1 Vara de Passos Paulo Eduardo Queiroz Gonalves

2 Vara de Passos Marco Tlio Machado Santos

Vara de Patos de Minas Luiz Carlos Arajo

Vara de Patrocnio Srgio Alexandre Resende Nunes

Vara de Pedro Leopoldo Paulo Chaves Corra Filho

Vara de Pirapora Maria de Lourdes Sales Calvelhe

1 Vara de Poos de Caldas Delane Marcolino Ferreira

2 Vara de Poos de Caldas Renato de Sousa Resende

Vara de Ponte Nova ngela Castilho Rogdo Ribeiro

1 Vara de Pouso Alegre rica Martins Jdice

2 Vara de Pouso Alegre Rita de Cssia Barquette Nascimento

Vara de Ribeiro das Neves Cristiana Maria Valadares Fenelon

Vara de Sabar Rosemary de Oliveira Pires

Vara de Santa Luzia Antnio Carlos Rodrigues Filho

Vara de Santa Rita do Sapuca Camilla Guimares Pereira Zeidler

Vara de So Joo Del Rei Betzaida da Matta Machado Bersan

Vara de So Sebastio do Paraso Clarice Santos Castro

1 Vara de Sete Lagoas Clber Jos de Freitas

2 Vara de Sete Lagoas Glucio Eduardo Soares Xavier

Vara de Tefilo Otoni

Vara de Trs Coraes Leonardo Toledo de Resende

Vara de Ub David Rocha Koch Torres

1 Vara de Uberaba Maria Tereza da Costa Machado Leo

2 Vara de Uberaba Marcos Csar Leo

3 Vara de Uberaba Flvio Vilson da Silva Barbosa

1 Vara de Uberlndia Snia Maria Rezende Vergara

2 Vara de Uberlndia Marco Antnio de Oliveira

3 Vara de Uberlndia Erdman Ferreira da Cunha

4 Vara de Uberlndia Marcelo Segato Morais

5 Vara de Uberlndia Hitler Eustsio Machado Oliveira

Vara de Una Flnio Antnio Campos Vieira

1 Vara de Varginha Oswaldo Tadeu Barbosa Guedes

2 Vara de Varginha Laudenicy Moreira de Abreu

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JUZES DO TRABALHO SUBSTITUTOS

Adriana Farnesi e SilvaAdriano Antnio BorgesAgnaldo Amado FilhoAlessandra Duarte Antunes dos Santos FreitasAlexandre Chibante MartinsAna Carolina Marinelli MartinsAna Carolina Simes SilveiraAna Paula Costa GuerzoniAndr Luiz Gonalves CoimbraAndra Marinho Moreira TeixeiraAndra Rodrigues de MoraisAndria Possebo Nogueirangela Cristina de vila Aguiar AmaralAnna Carolina Marques GontijoAnna Karenina Mendes GesAnselmo Bosco dos SantosBruno Alves RodriguesCcio Oliveira ManoelCamilo de Lelis SilvaCarlos Adriano Dani LebourgCarlos Jos Souza CostaCarolina Lobato Ges de ArajoClia das Graas CamposCelismar Colho de FigueiredoCelso Alves MagalhesChristianne Jorge de OliveiraCludia Eunice RodriguesCludia Rocha WelterlinCludio Antnio Freitas Delli ZottiCludio Roberto Carneiro CastroCleyonara Campos Vieira VilelaCristiana Soares CamposCristiane Souza de Castro ToledoCristiano Daniel MuzziCyntia Cordeiro SantosDaniel Cordeiro GazolaDaniel Gomide SouzaDaniela Torres ConceioEdinia Carla Poganski BrochEduardo do Nascimento

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3 Reg., Belo Horizonte, v.48, n.78, p.9-18, jul./dez.2008

Eliane Magalhes de Oliveirarica Aparecida Pires Bessazio Martins Cabral JniorFabiana Alves MarraFabiano de Abreu PfeilstickerFbio Augusto BrandaFelipe Clmaco HeineckFernanda Itri PelligriniFernando Rotondo RochaFlvia Cristina Souza dos SantosGeorge Falco Coelho PaivaGeraldo Hlio LealGeraldo Magela MeloGilmara Delourdes Peixoto de MeloHenoc PivaHenrique Alves VilelaJane Dias do AmaralJsser Gonalves PachecoJoo Rodrigues FilhoJos Barbosa Neto Fonseca SuettJos Ricardo DilyJuliana Campos Ferro LageJlio Csar Cangussu SoutoJlio Corra de Melo NetoJune Bayo Gomes GuerraJnia Mrcia Marra TurraKarla SantuchiKeyla de Oliveira ToledoLarissa Lenia Bezerra de AndradeLuciana de Carvalho RodriguesLuciana Esprito Santo SilveiraLuciana Muniz VanoniLuciane Cristina MuraroLus Augusto FortunaLuiz Olympio Brando VidalMarcel Lopes MachadoMarcela de Miranda JordoMarcelo Oliveira da SilvaMarcelo RibeiroMrcio Roberto Tostes FrancoMarco Antnio Silveira

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3 Reg., Belo Horizonte, v.48, n.78, p.9-18, jul./dez.2008

Marco Aurlio Ferreira Clmaco dos SantosMarco Aurlio Marsiglia TrevisoMarcos Vincius BarrosoMaria Irene Silva de Castro CoelhoMarina Caixeta BragaMelnia Medeiros dos Santos VieiraNatlia Queiroz Cabral RodriguesNelson Henrique Rezende PereiraNeurisvan Alves LacerdaNey Fraga FilhoOrdensio Csar dos SantosOsmar PedrosoPatrcia Tostes PoliPaulo Emlio Vilhena da SilvaRassa Rodrigues Gomide MfiaRaquel Fernandes LageRaquel Fernandes MartinsRenata Batista Pinto CoelhoRenata BonfiglioRenata Lopes ValeRoberto Benavente CordeiroRonaldo Antnio Messeder FilhoRosa Dias GodrimRosngela Alves da Silva PaivaSandra Maria Generoso Thomaz LeideckerSara Lcia Davi SousaSheila Marfa ValrioShirley da Costa PinheiroSilene Cunha de OliveiraSlvia Maria Mata Machado BaccariniSimey RodriguesSolange Barbosa de Castro CouraTnia Mara Guimares PenaTarcsio Corra de BritoThas Macedo Martins SarapuThasa Santana SouzaThatyana Cristina de Rezende EstevesVincius Mendes Campos de CarvalhoVivianne Clia Ferreira Ramos CorraWalder de Brito BarbosaWanessa Mendes de Arajo

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3 Reg., Belo Horizonte, v.48, n.78, p.19-27, jul./dez.2008

REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3 REGIO:UM POUCO DE SUA HISTRIA

Carlos Mrio da Silva Velloso*

Em 1964, servidor efetivo do Tribunal Regional do Trabalho da 3 Regio,no qual ingressara mediante concurso pblico, fui designado para exercer asfunes de Diretor do Servio Judicirio. Ocupava uma pequena sala no 4 andardo prdio da Rua Curitiba, 835, um edifcio modesto, onde se situavam as Juntasde Conciliao e Julgamento, em nmero de cinco, se bem me lembro, e oTribunal. O prdio abrigava, ainda, nos ltimos andares, a Federao dasIndstrias de Minas. Na mesma sala, que recebia o sol da tarde e que no tinhaar condicionado - ar condicionado, naquela poca, era considerado artigo deluxo - trabalhava, como secretrio, o ento estudante universitrio Roberto Arajo,servidor pblico competente, srio, dos melhores que conheci. Ao Diretor doServio Judicirio competia supervisionar a Seo Judiciria, que era o cartriodo Tribunal, chefiada por D. Ormi; a Seo de Acrdos, que tinha como chefe D.Adelaide, onde eram datilografados e conferidos todos os acrdos; a Seo deDistribuio, chefiada por D. Placidina; a Seo de Reclamaes, que criamos, afim de dar assistncia aos reclamantes que no tinham advogado, chefiada peloBacharel Francisco Ferreira Alves Jnior, homem bravo, por isso mesmoapelidado de Chico Bronca; e a Biblioteca. D. Ormi, D. Adelaide, D. Placidina e oDr. Francisco eram servidores pblicos no velho estilo, competentes,responsveis, dedicados ao Tribunal. Deles guardo boas lembranas. As funesde Diretor Judicirio eram exercidas, cumulativamente, com as de AssessorJurdico do Presidente, o saudoso Juiz Herbert de Magalhes Drummond.Devamos, ento, elaborar o juzo de admissibilidade dos recursos ordinrios ede revista e os despachos do Presidente nos agravos de petio interpostos dedecises dos Juzes Presidentes das Juntas, nas execues de sentenas. Cabiaao Presidente, ademais, relatar os dissdios coletivos. Tnhamos bastante trabalhonessa rea. O servio, portanto, era muito, o que foi amenizado com a nomeaodo ento advogado Manoel Mendes de Freitas, que, depois, aprovado em concursopblico de provas e ttulos, foi nomeado Juiz do Trabalho. Promovido ao Tribunal,ascendeu ao cargo de Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, cargo no qualse aposentou. Ele foi trabalhar na nossa calorenta salinha. Passou, ento, a nosauxiliar - e que grande auxlio prestava, o Dr. Manoel Mendes, culto advogado -dividindo conosco a tarefa de supervisionar o Servio Judicirio, elaborar minutasde despachos nos recursos ordinrios e de revista e nos agravos de petio,alm dos acrdos dos dissdios coletivos.

* Ministro aposentado, ex-Presidente do STF e do TSE. Professor Emrito da PUC/MG e daUniversidade de Braslia - UnB, em cujas Faculdades de Direito foi professor titular deDireito Constitucional e Teoria Geral do Direito Pblico. Professor de Direito ConstitucionalTributrio no Instituto Brasiliense de Direito Pblico - IDP. Advogado. Foi Oficial Judiciriodo TRT/3 Regio (1960-1967) e, nessa qualidade, Diretor do Servio Judicirio (1964-1967).

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Criamos, junto Biblioteca, o Fichrio de Jurisprudncia, que ficava acargo do Roberto Arajo. O Fichrio continha ementas de acrdos do Tribunal,do Tribunal Superior do Trabalho e dos demais Regionais e legislao trabalhista.Esse Fichrio, muito frequentado pelos juzes e advogados, foi o embrio darevista. Numa tarde, em que o atualizvamos, entre pilhas de processos, sugeriao Manoel e ao Roberto: que tal se crissemos a revista do Tribunal? Os acrdosdo TRT eram bons e se perdiam no arquivo. E juzes e advogados reclamavamda dificuldade para encontrar esses acrdos e em localizar a jurisprudncia doTRT da 3. Regio. Manoel Mendes e o Roberto Arajo concordaram, de pronto,animados com a ideia. Integrava o quadro de servidores a jornalista ReginaMargarida Pinto Coelho, excelente servidora, que veio a falecer precocemente.Procurei-a e expus-lhe a ideia, que ela acolheu com entusiasmo. No havia,entretanto, um nquel sequer de que pudssemos dispor. Vivamos temposheroicos, em que os Tribunais no tinham autonomia financeira. Dependamosdo oramento do Poder Executivo e, na execuo deste, da boa vontade daDelegacia do Tesouro Nacional, em Minas. A Regina, que trabalhara comopublicitria, antes do seu ingresso no TRT, disps-se a tentar conseguir de bancose empresas estatais, em troca de publicidade na revista, a verba necessria.Alm disso, fiscalizaria os trabalhos grficos. Elaboramos o projeto e osubmetemos, primeiro, considerao de D. Maria de Lourdes Versiani Veloso,Diretora-Geral da Secretaria, a quem convidamos a ocupar a Diretoria-Administrativa da Revista. Com a aquiescncia da Diretora-Geral, levamos oprojeto apreciao do Presidente, o Dr. Herbert de Magalhes Drummond, que,aps a exposio que lhe fizemos, foi claro: Vocs sabem bem o que pretendem,sabem das dificuldades que tero pela frente? ramos moos, com a marca doidealismo, pelo que no nos faltava coragem para enfrentar os desafios. Osenhor pode ficar tranquilo. J avaliamos as dificuldades, vamos arranjar osrecursos necessrios e s dependemos de sua aprovao, respondemos. OPresidente, diante disso, deu a palavra final: Mos obra, quero que a nossarevista seja a melhor do Brasil.

A Regina Pinto Coelho foi em busca dos recursos. O Banco do Estado deMinas Gerais - BEMGE - e a CEMIG, se no me engano, foram os primeiros aparticipar. Pedi artigos de doutrina a juzes, procuradores e advogados e, no finalde semana, em casa, entrando pela madrugada, redigi a revista. O primeironmero saiu em forma de caderno, um grande caderno. Alm da jurisprudncia,continha artigos. Colaboraram, no primeiro nmero, com primorosos artigos dedoutrina, os juzes e professores Messias Pereira Donato, Paulo Emlio Ribeirode Vilhena e Osris Rocha e o Procurador do Trabalho Luiz Carlos da CunhaAvelar, que veio a integrar o Tribunal pelo quinto constitucional. A revista erasemestral. O primeiro nmero compreendia o semestre janeiro a julho de 1965.No intervalo de uma das sesses, levamos, eufricos, a revista, que acabara desair da grfica, ao Presidente e aos demais Juzes do Tribunal. Os Juzes Herbertde Magalhes Drummond, Newton Lamounier, Cndido Gomes de Freitas, AbnerFaria, Luiz Philippe Vieira de Mello, Fbio Arajo Motta e Jos Carlos Guimares,todos j falecidos e de saudosa memria, aclamaram, com alegria, a revista, oque nos fez felizes. Lembro-me de ter-me dito o Juiz Luiz Philippe Vieira de Mello,posteriormente alado ao cargo de Ministro do TST, no qual se aposentou: A

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revista est boa, mas cuidem de fazer uma revista que fique de p na estante.Na verdade, no havia como deixar de reconhecer que o volumoso caderno noconseguia ficar de p. Garanti-lhe, ento, que o prximo nmero teria a forma delivro, que, acrescentei, haveria de honrar o Tribunal.

A partir da, a revista ganhou novos bons colaboradores: Srgio deMagalhes Drummond, Maria Beatriz de Magalhes Drummond, Paulo MrcioAleixo ngelo, Otvio Jos Maldonado, J. Magalhes Drummond Neto e Ari PimentaPortilho. Paulo Mrcio Aleixo ngelo magistrado da Justia mineira. E OtvioJos Maldonado juiz do TRT de Gois.

E foi assim que surgiu, com a aprovao dos juzes, dos advogados e dosmembros do Ministrio Pblico, a Revista do TRT da 3 Regio, que tem histria,completando, neste ano de 2008, quarenta e trs anos de profcua existncia.Registre-se que ela nada custou e persistiu por algum tempo nada custando aoscofres pblicos.

Fiquei testa da Revista do TRT da 3 Regio at o ms de abril de 1967,quando fui empossado no cargo de Juiz Federal. Sa, levando da Casa e doscolegas gratas recordaes. com saudade que me lembro daqueles bonstempos, em que ramos jovens e pensvamos que poderamos salvar o mundo.A revista foi em frente, sob a criteriosa direo do Dr. Manoel Mendes de Freitas.O Tribunal compreendeu a sua importncia, na divulgao de sua jurisprudnciae da doutrina trabalhista. Ela se tornou rgo oficial da Justia do Trabalho da 3Regio, passando a ser dirigida por ilustres juzes. Hoje, a sua direo exercida,com proficincia e lustre, pelo eminente Juiz Luiz Otvio Linhares Renault, notvelmagistrado, garantia de que a Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3Regio continuar a sua luminosa trajetria entre as melhores revistas jurdicasdo Brasil, para gudio de todos quantos lidam com o Direito do Trabalho.

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DEPOIMENTO DO MINISTRO MANOEL MENDES DE FREITAS* NO LANAMENTODA REVISTA N. 76**

Belo Horizonte, 26 de setembro de 2008.

Excelentssima Senhora Desembargadora Maria Lcia Cardoso deMagalhes, Excelentssimo Senhor Desembargador Luiz Otvio Linhares Renault,Excelentssimo Senhor Desembargador Antnio lvares da Silva, ExcelentssimaSenhora Juza Adriana Goulart de Sena. E presto tambm uma homenagem aoseminentes redatores da Revista. Excelentssimos senhores juzes presentes,senhoras e senhores advogados, carssimos funcionrios, senhoras e senhores.

Foi extremamente honroso para mim este convite que me foi feito peloeminente Desembargador e prezado amigo Luiz Otvio Linhares Renault. Euconfesso que estou de certa forma constrangido. Eu pensava que o orador destanoite seria o eminente Ministro Carlos Velloso. Ele certamente, com o brilho dasua inteligncia, iria proporcionar a todos os senhores momentos de grandeesclarecimento e de profundidade nas matrias tratadas. Sua excelncia, porm,no pde vir. Coube-me ento falar nesta solenidade, no em nome dele, porqueele mandou um pronunciamento. No posso, porm, falar sobre a Revista semfalar de Carlos Mrio Velloso.

Vou comear, ento, com algumas reminiscncias. Mas eu queria, antesde tudo, agradecer ao eminente Desembargador Luiz Otvio Renault pelaspalavras que ele acaba de proferir e que tanto me tocaram e me deixaramnaturalmente emocionado. Tenho por ele, tambm, uma imensa admirao, eessa circunstncia, sem dvida, torna ainda mais emocionante receber delepalavras to calorosas como as que me foram dirigidas neste momento.

Agradeo, emocionado, a grande gentileza da homenagem dessasreminiscncias. mais uma noite inesquecvel para mim que tanto admiro estaTerceira Regio. Passo, em seguida, a dar um pequeno depoimento a propsitodo que ocorreu naquele meu tempo. Quando saiu a Revista n 1 do Tribunal, aJustia do Trabalho, o Tribunal do Trabalho, o mundo era diferente. O mundogirava na velocidade de um riquix. Tudo era lento. Havia muito mais campopara os filsofos, para os poetas e no Tribunal tambm no era diferente. Vou darum exemplo. A primeira assessoria jurdica no Brasil foi criada no Tribunal da 3Regio pelo ento Ministro Carlos Mrio Velloso. Cabia a ela colaborar para aelaborao dos despachos de admissibilidade de recursos e ela se tornou amais famosa Assessoria do Brasil em matria de recurso de revista. Quandoestava no TST, sentia uma alegria imensa quando ouvia elogios aos despachosproferidos pela Presidncia do TRT-3 Regio. Eram despachos primorosos. Aprimeira assessoria, como dito, foi criada pelo Ministro Carlos Mrio Velloso.Veio em seguida a ideia da Revista. Mas antes vou voltar um pouco no tempo.

* Ministro aposentado do TST.** Transcrio: Ana Maria Matta Machado Diniz - Centro de Memria da Justia do Trabalho

de Minas Gerais, em 05 de maio de 2009.

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Eu sempre gostei muito de Processo Civil e de Direito Civil - parece que oprofessor influencia muito. Fui aluno do grande professor Caio Mrio da SilvaPereira e me afeioei ao Direito Civil; tinha, tambm, profunda admirao peloProcesso Civil e pelo meu professor de Processo Civil. Ele parecia gostar muitode inventrio. Eu me lembro de que certa vez ele ficou uma semana no quadroreproduzindo todo o desenrolar de um processo de inventrio, da petio inicialao despacho final do juiz mandando arquivar os autos. Foi uma aula maravilhosapara todos ns e por incrvel coincidncia, quando comecei a advogar, quasesem nenhum cliente, apareceram dois pequenos inventrios de pessoasmodestas e eu achei admirvel aquela coincidncia porque eu tinha recebidolies muito boas a propsito. Mas por incrvel que parea, aprendi muito aindacom um servidor do cartrio do 5 ofcio que era especialista em inventrio e meensinou muito a respeito. Pois bem, o inventrio teve uma importncia fantsticaem minha vida. Acho que no estaria aqui sem o inventrio e vou explicar por que.

Eu no acredito que eu tenha ficado famoso por causa de dois inventriospequenos; sei muito bem que no foi isso. Fui convidado, porm, para fazer oinventrio da senhora me do Presidente do Tribunal do Trabalho, Dr. HerbertMagalhes Drummond e da senhora esposa do Vice-Presidente Dr. NewtonLamounier. Encarreguei-me dos dois inventrios e consegui conclu-los. Noeram to fceis quanto os inventrios que tinha feito, os dois primeiros, masconsegui conclu-los. Senti-me extremamente honrado e no cobrei honorrios.Alis, honra e honorrios tm, etimologicamente, muito a ver. Tempos depois, fuiconvidado para um cargo no Tribunal do Trabalho. Era casado, tinha uma rendamuito pequena na advocacia, estava no comeo dela, uma advocacia incipiente.Aceitei imediatamente. Os vencimentos no eram elevados naquela poca; euera contador judicial. O cargo era uma prola para quem gosta de DireitoAdministrativo, cargo isolado de provimento efetivo. Como naquela poca noera obrigatrio o concurso, o titular j era efetivo, independentemente de no terfeito concurso. Hoje j no existe mais, sabemos todos. Logo, contudo, que eucomecei a estudar Direito do Trabalho e tentar aprender a fazer clculo, CarlosMrio Velloso me chamou para a Diretoria Judiciria. E foi providencial para mimessa ida para a Diretoria Judiciria, porque eu me aproximei de uma pessoa daqual depois me tornei amigo e que foi um dos meus melhores amigos. Eleachava que eu era tmido e eu notava que, discretamente, ele me empurrava paracertas coisas. Por exemplo, ele sabia que eu no gostava de falar em pblico ecerta vez me disse: - Voc vai lecionar Direito Administrativo para os Capites daPolcia Militar Curso de Aperfeioamento de Oficiais. Eu sou professor de DireitoConstitucional, disse-me ele, o professor de Direito Administrativo saiu e voc o assessor administrativo do Tribunal, voc conhece Direito Administrativo e vocvai lecionar. Eu respondi: Deus te oua, principalmente na parte em que voc dizque eu conheo Direito Administrativo. um admirvel otimismo de sua parte.Passei a estudar Direito Administrativo, do qual eu j gostava, e fui lecionar naPolcia Militar, o que me ajudou muito, porque realmente eu tinha uma timidezterrvel. Foi timo para que eu tivesse um pouco mais de coragem para enfrentaro pblico, falar em pblico.

Saltando um pouco, mas apenas para dizer da bondade de Carlos Velloso,e da amizade dele, uma noite ele estava pleiteando o lugar de juiz federal. Ele me

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telefonou do Ministrio da Justia e me disse: - Manoel , se voc quiser ser juizfederal substituto, no Amap, s voc me dizer e ser nomeado agora. H umavaga aqui que no foi suprida. Eu te indiquei, seu nome j foi aceito... Eu disse:Diz o tempo que eu tenho para pensar, porque Amap... afinal de contas... Ele: -Infelizmente a deciso tem que ser agora. Eu no pude aceitar. Fiqueiextremamente honrado, mas no pude aceitar. Mas eu quis contar mais para queos eminentes amigos que aqui esto conhecessem os laos que nos uniamnaquela poca. Quando ele me convidou para elaborarmos a primeira Revistado Tribunal, eu imediatamente aceitei o convite. Carlos Mrio Velloso tinha umaviso fantstica, quase se podia dizer dele o que se diz de Nietzsche - que umhomem que nasceu pstumo. Ele estava sempre com os olhos voltados para ofuturo e dizia no, no possvel um Tribunal com o prestgio do Tribunal da 3Regio no ter uma Revista. Imediatamente comeamos a trabalhar. Tivemosuma magnfica acolhida.

Os trs primeiros professores da Faculdade de Direito aos quais nosdirigimos prontamente concordaram em escrever artigos para a Revista. Pelaordem alfabtica, Messias Pereira Donato, Osris Rocha e Paulo Emlio Ribeirode Vilhena. Contamos tambm com um artigo do Dr. Lus Carlos da CunhaAvellar, que era Procurador e foi Procurador Regional, tendo, depois, vindo integraro Tribunal do Trabalho. conhecido de todos. Foi para ns uma alegria imensapoder contar nessa primeira Revista com artigos de to renomados professores,conhecidos por seus dotes de inteligncia e cultura. Partimos em seguida paraa seleo de acrdos. Por incrvel que parea, encontramos uma grandequantidade de acrdos que, a nosso juzo, eram muito bons. Eu, relendo aprimeira Revista - e eu a reli logo que a recebi -, notei o que tambm foi observadopelo brilhante Desembargador Renault: que alguns estariam muito bem aindahoje, pela sua atualidade, no obstante decorridos tantos anos.

As dificuldades daquela poca eram um pouco diferentes. Em primeirolugar, no havia, assim, um entusiasmo pela criao da Revista. Era um desfastiosem maldade; no havia oposio, mas no havia entusiasmo. Se no fosse acoragem e o denodo de Carlos Velloso e a autoridade que ele tinha, talvezhouvesse maior demora no nascimento dessa Revista.

Ele se imps - ele se impunha sempre e antes de chegar a autorizaopara a elaborao, ns j estvamos trabalhando na Revista, pensando emtornar irreversvel a deciso. J comeamos a Revista antes de autorizada paraque se tornasse irreversvel a sua realizao. Havia naquela poca um climadiferente. Tudo era diferente e de acordo com a poca. Os acrdos eram batidos,eram datilografados em seis vias, com cinco folhas de papel carbono, o que hoje inacreditvel. Imagine-se o trabalho da ento seo de traslado e acrdos.Era como se fosse um trabalho quase artesanal a realizao de um acrdo. Erabatido e depois levado para o gabinete. No havia praticamente gabinete naquelapoca; como assinalado, era tudo bem diferente. Alis, o nico elemento que eraigual ao de hoje - esse crnico no Poder Judicirio - era a escassez de verbas.Havia, como sempre, dificuldade de verbas para tudo e, naturalmente, para queconsegussemos a elaborao da primeira Revista. No foi fcil conseguirmosum patrocinador. quela poca, o Banco do Brasil e a Caixa Econmica no sepropunham a essa ajuda. No foi fcil, mas conseguimos, vencemos os

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obstculos e a Revista finalmente saiu. E depois que saiu a nmero 1, que saiucomo nmero 1 e 2, tornou-se mais fcil. Sempre o primeiro passo, como disseo astronauta, sempre o mais difcil. Posteriormente houve um caso curioso,apenas para dizer das dificuldades da poca. O Carlos Velloso j tinha sado. Euera assessor administrativo tambm, os juzes substitutos queixavam-se de queno recebiam dirias. Foi-me pedido. Eu fiz um parecer, uma proposio, que foilevada ao Tribunal. Naquela poca ele atuava sempre em composio plenriae um juiz chegou a dizer que ele ento iria ser juiz substituto, porque ele estariaganhando mais que como juiz do Tribunal. Foi uma notcia terrvel para ns, quejulgvamos muito importante a criao das dirias. Eu tive ento uma ideia. Eupedi a um juiz que era favorvel que elaborasse uma emenda propondo a criaodas dirias num valor nfimo, praticamente simblico, quase mais ou menos dezreais por dia, ao cmbio de hoje. E com essa frmula ns conseguimos quefossem aprovadas as dirias. A segunda parte era a atualizao do valor delas.Ento vencemos mais este obstculo. E eu no me lembro, mas a 3 Regiotambm ficou frente, nesse ponto, da maioria das regies. Lembro-me,finalmente, de outra matria em que tambm a 3 Regio se distinguiu: havia nassecretarias das Juntas um cofre. Ali eram depositadas as importncias emdinheiro recebidas dos executados. Em pouco tempo, comearam a surgirproblemas e, um dia, um advogado muito rigoroso foi receber a importncia quefora depositada em favor de seu cliente, que era o exequente, e no havia nocofre a importncia necessria. No vou entrar em detalhes porque o momentono adequado. Mas da me veio a ideia de propor a criao de um posto daCaixa Econmica Federal no prdio do Tribunal para receber as condenaes,de modo tal que ningum mais pudesse manusear dinheiro do trabalhador quefosse recebido em cumprimento a uma deciso em execuo. E por incrvel queparea, houve relutncia da Caixa em aceitar a nossa proposta. Eu, que nunca fuibanqueiro, disse ao representante da Caixa, ao representante regional: Eu achoque ser uma das melhores agncias, se assim se pode dizer; seria um meroposto da Caixa, mas certamente ficariam grandes importncias em depsitoaguardando o destinatrio, quase sempre integrante da denominada mo-de-obra rotativa.

So algumas reminiscncias e curiosidades da minha poca. Eu nogostaria de deixar de realar, porm, a importncia de Carlos Mrio Velloso paraa criao da Revista, para a criao da Assessoria que at hoje desponta comouma das melhores da regio. E quanto Revista, eu me orgulho mais ainda depertencer 3 Regio - porque eu ainda, sentimentalmente, no consigo medesligar - quando eu vejo, por exemplo, este nmero 76 da Revista, que simplesmente primoroso. Artigos de grandes juristas do Brasil, acrdos da 3Regio que so famosssimos, acrdos, sentenas, como no poderia deixarde ser, dos nossos eminentes juzes de primeiro grau. A propsito, eu estou comVossa Excelncia, eminente Desembargador Renault, os eminentes juzes deprimeiro grau devem sempre merecer ateno especial, pois so eles queenfrentam o embate maior, mais cansativo da Justia. Eu li uma vez o livro dememrias do Marechal Montgomery. As tropas inglesas estavam destroadaspelas tropas alems comandadas pelo Marechal Homell. Ele foi destacado paratentar soerguer o 8 exrcito ingls e, ento, quando voltou, fez um relatrio e

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disse: - Os senhores, principalmente os senhores generais, esqueceram dohomem que deve merecer a nossa maior ateno, que o soldado que est naluta, na frente da batalha. Esse o que merece, o que deve merecer a nossamaior ateno. E os senhores se esqueceram totalmente dele. E ento, quandovi Vossa Excelncia dirigindo-se, em especial, aos juzes de primeiro grau echamando a ateno para a importncia deles, eu tive uma alegria muito grande,pois sempre foi o que se passou em mim quando eu tive a honra de ser Presidentedo Tribunal: dar o maior prestgio e apoio ao juiz de primeiro grau, porque ele quem enfrenta o 1 combate, o mais difcil, o mais penoso.

Bom, j cansei muito a todos, devo terminar.Quero agradecer mais uma vez as honrosas palavras que me foram

dirigidas pelo eminente Desembargador Luiz Otvio Renault e quero dizer que,quando li o nmero 76 da Revista, eu me lembrei dos dias em que Carlos MrioVelloso e eu passamos trabalhando, das noites tambm, das dificuldades quepassamos para compor a Revista nmero 1. E eu pensei comigo quando vi estaltima Revista, quando vi esta maravilhosa apresentao, da lavra fertilssima doeminente Desembargador Luiz Otvio Renault, num portugus castio, com umlado potico que me encantou e, rara essa unio, em linguagem escorreita, oque traduz dom raro. Sua Excelncia tem o dom da beleza e da poesia. Ento,quando eu vi esta Revista n. 76, com todos os artigos que nela se encontram,com todos os acrdos valiosos que a ilustram, com todas as belas sentenasque nela esto e com a belssima apresentao que nela vem em primeiro lugar,eu disse para mim mesmo: Valeu! Valeu todo o esforo, tudo aquilo que foiexigido do Ministro Carlos Velloso, em primeiro lugar, e de todos os quecolaboraram para a realizao da Revista nmero 1.

Parabns, eminente Desembargador Luiz Otvio Renault, parabns a todosque contriburam para esta Revista n. 76, parabns ao Tribunal Regional doTrabalho da 3 Regio, que mais uma vez desponta como um dos melhores edos mais completos Tribunais Regionais do Brasil. Eu sou testemunha disso edarei sempre este testemunho com justo orgulho.

Muito obrigado a todos.

DOUTRINAS

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A DISCRIMINAO DO TRABALHADOR IDOSO - RESPONSABILIDADE SOCIALDAS EMPRESAS E DO ESTADO

Maria Lcia Cardoso de Magalhes*

O envelhecimento um direito personalssimoe a sua proteo um direito social...(Estatuto do Idoso, art. 8)

SUMRIO

1 INTRODUO2 URGNCIA PARA A QUESTO DO IDOSO3 A DISCRIMINAO DO TRABALHADOR IDOSO4 A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS5 A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO ESTADO6 A INSERO DOS IDOSOS NO MERCADO DE TRABALHO7 CONCLUSO

1 INTRODUO

A vida, com suas fases de infncia, juventude, madureza, uma experinciaconstante. Cada fase tem seu encanto, sua doura, suas descobertas. Sbio aquele que desfruta de cada uma das fases em plenitude, extraindo dela o melhor.Somente assim, na soma das experincias e oportunidades, ao final dos seus anos,guardar a jovialidade de um homem sbio. Se voc idoso, guarde a esperana denunca ficar velho. (Autor desconhecido)

Uma famosa entrevistadora comentou, em uma palestra sobre A Eficciada Comunicao, que uma das pessoas que mais a encantou, ao serentrevistada, foi uma senhora de 106 anos, pauprrima, que vive no Vale doJequitinhonha e que, ao ser indagada sobre o que ainda esperava da vida,vivamente lhe respondeu: Da vida eu rapo tudo!

No mundo da globalizao e de seu subproduto, o neoliberalismo, a tica,os valores morais, a cultura, o pensamento, o trabalho, a criatura humana e tudoo mais subordinam-se s exigncias da economia, sujeitam-se ao deus-mercado, sistema em que o ser mais vulnervel, por sua fragilidade fsica,psicolgica e social, o idoso.

Objeto de discriminao no trabalho e na sociedade, virtualmente indefeso,ele massacrado pela crueldade e implacabilidade do modelo neoliberalista,que avalia o merecimento das pessoas por seu grau de rentabilidade econmica,marginaliza e descarta tudo o que incapaz de produzir lucro pecunirio.

* Desembargadora Federal do Trabalho. Vice-Presidente Administrativo do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3 Regio - MG.

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O idoso precisa de tutela especial, jurdica, econmica e social, paraatenuar e contrabalanar sua posio de inferioridade e desigualdade frente tamanha adversidade.

O avano tecnolgico, o progresso cientfico e a globalizao, que deveriamser utilizados para poupar o trabalho humano, harmonizar e humanizar o mundo,emprestar conforto, acabar com o desemprego e a fome, melhorar o padro devida de todos, esto, na verdade, paradoxalmente, produzindo concentrao derenda, desigualdades, conflitos, desemprego, pobreza, enfim, reduzindo tudo etodos a cifras, a meros valores econmicos, em evidente prejuzo, principalmente,aos idosos.

O Estatuto do Idoso, Lei n. 10.741, de 1 de outubro de 2003, pretendeassegurar ampla proteo aos nossos idosos, garantindo-lhes condio de vidadigna e o exerccio pleno da cidadania, com prioridade no atendimento junto aosrgos pblicos e privados prestadores de servios populao. Contudo, sempresas e sociedade em geral incumbe tambm dar maior efetividade aosdireitos dos idosos e, por outro lado, os prprios idosos devem serconscientizados da necessidade de cobrar dos entes pblicos, dos empresriose da comunidade seus direitos, pois s assim se faro ouvir, procurando gozarao mximo das prerrogativas e privilgios que lhes so assegurados por lei,pois, do tempo que ainda lhes resta, eles devem desfrutar e extrair o melhor, elesdevem se permitir o direito de dizer: Da vida eu rapo tudo!

2 URGNCIA PARA A QUESTO DO IDOSO

O Estatuto do Idoso j representa um avano, uma tentativa vlida deemprestar dignidade e atenuar as limitaes sociais e econmicas, impostasaos homens e mulheres velhos, agravadas pelas prticas neoliberalistas. Mas,por si s, a iniciativa no passar de mais uma norma sem efetividade, meramentedecorativa, incapaz de fazer frente arraigada cultura preconceituosa em relaoaos longevos, se a sociedade no se mobilizar e conscientizar para a realizaodesse objetivo.1

Dizia-se, at pouco tempo, que os jovens seriam o futuro do Brasil.Atualmente, tal afirmao j no pode ser feita. O Brasil deixou de ser jovem.Hoje, 15 milhes de pessoas tm mais de 60 anos de idade. E, em 2025, o Brasilter 34 milhes de pessoas acima de 60 anos, o que representar a sexta maiorpopulao idosa do planeta.

Mas esse segmento da populao no apenas cresceu emnmero.Tambm assumiu postura mais ativa e participativa na sociedade.Aumenta o nmero de idosos que voltam a trabalhar. Um movimento chamadode efeito bumerangue: o idoso se aposenta e depois retorna ao mercado detrabalho.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), referentesao ano 2000, registram quase 25 mil brasileiros com idade acima dos 100 anos.2

1 BOMFIM, Benedito Calheiros. Estatuto do idoso. Revista Jurdica Consulex, Ano VII, n.162, 15 de outubro/2003.

2 BRASIL ter 32 milhes de idosos em 2005. Fonte: Agncia JB - 26.03.2004.

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Num pas como o Brasil, cuja populao est envelhecendo de maneiraartificial, ou seja, o processo no decorreu de polticas pblicas voltadas para aqualidade de vida da populao, mas de intervenes tecnolgicas mdicas3,tem-se urgncia em repensar o tratamento reservado s pessoas com maisidade, de modo a lhes garantir o direito alimentao, sade, segurana, moradia, educao e, sobretudo, o direito ao trabalho, visto ser esse direito,sem dvida, uma via na realizao dos demais direitos sociais.

Todavia, em nosso pas, quando se relaciona idoso e mercado de trabalhotem-se um retrato tpico da excluso social e da discriminao. Esse quadroencontra-se agravado, ainda mais, com a evoluo tecnolgica e com aglobalizao da economia que tm acarretado para os trabalhadores, de ummodo geral, excluso no processo produtivo e o desemprego.

O neoliberalismo, por sua vez, tem privilegiado a lgica exclusiva do mercadoem detrimento do homem. A tecnologia atualmente se volta inteiramente para olucro enquanto a vida do homem desvalorizada e a dignidade humana esquecida.4

Contudo, como bem afirma a gerontloga Cristina Fogaa,

se o nmero de idosos tende a aumentar, e se os idosos podem continuar seudesenvolvimento, espera-se maior presso e maior reivindicao sobre a qualidadede sua auto-expresso e do seu desenvolvimento. importante deixar claro queno basta que cada vez mais se formem tcnicos, especialistas, polticos e pessoasinteressadas em trabalhar JUNTO com o idoso se O PRPRIO IDOSO no participar,no atuar, pois somente ELE, atravs de sua participao e seu envolvimento,poder contribuir para que essa mudana ocorra.

A gerontloga ainda afirma que

muitas vezes criticamos, mas nada fazemos para que a mudana acontea. Entendoque no cabe s ao Estado dar as solues nas questes relativas ao envelhecimentoe velhice. Acredito que, se trabalharmos a mudana de pensamento dentro decada lar, daqui a alguns anos, conseguiremos mudar as vises e situaes aps avivncia da fase adulta. A partir da mudana de pensamento, tenho certeza que avelhice comear a ser vista de forma diferente, ter outra conotao.5

H urgncia na busca de solues que tragam melhorias para a questodo idoso em nosso pas, e, para tanto, h que se contar com a participao nos do Estado e da sociedade como tambm do setor empresarial j que essa uma questo que afeta a todos ns, pois o envelhecimento um processocontnuo na vida de qualquer ser humano ou animal.

3 RAMOS, Paulo Roberto Barbosa. A velhice na constituio. Revista de DireitoConstitucional e Internacional: caderno de direito constitucional e cincia poltica. SoPaulo, n. 8, p. 201, jan./mar.2000.

4 ARRUDA, Ktia Magalhes. Direito constitucional do trabalho: sua eficcia e o impactodo modelo liberal. So Paulo: LTr, 1998, p. 84.

5 FOGAA, Cristina. O envelhecer sob um novo olhar. Adicionado em 21.08.03 ao siteArtigo doutrinrio. Direito do idoso.

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O reconhecimento dos direitos dos cidados quando envelhecem umfato recente, como bem observa Flvio da Silva Fernandes, em sua obra Aspessoas idosas na legislao brasileira. Advogado, gerontlogo e socilogo, Flvioda Silva Fernandes afirma, com inteira propriedade, que a urgncia desses direitos consequncia de trs fatores primordiais: as transformaes sociais, aexpanso demogrfica e a considerao de que a sade dos indivduos afetadano curso dos anos.

Informa-nos ainda que

os direitos devem representar uma compensao pelas perdas e limitaes por quepassam as pessoas ao envelhecer, em particular nos aspectos fsicos e psicolgicos.Representam uma etapa que ao mesmo tempo sociocultural e econmica. Emmomento em que pondervel grupo se torna menos produtivo e reclama atenes ecuidados que a famlia, sozinha, nem sempre tem capacidade e/ou condies deproporcionar.

Afirma tambm que

na realidade de muitos pases, como se conheceu na Assembleia Mundial sobre oEnvelhecimento, promovida pela ONU (Viena, outubro de 1982), muitas das atenesque cabiam tradicionalmente famlia, diante da evoluo social (trabalho da mulherfora do lar, p. ex.), hoje exigem a colaborao de servios comunitrios (pblicos eprivados). Quer dizer, apoio para que a velhice do homem, e principalmente damulher - maioria na populao e vivendo mais tempo -, seja mais suave e menostraumtica.6

Embora a presena governamental tivesse comeado com grande atraso,em face dos problemas gerados pela expanso demogrfica dessa populao,a Constituio Federal s de passagem reconheceu o novo problema ao disporsobre a prestao da Assistncia Social (art. 203, I) e preceituar que ela tem porobjetivos: I - a proteo famlia, maternidade, infncia, adolescncia e velhice;.

Explicitando e complementando esse salutar princpio, a Constituio,depois de afirmar que os filhos maiores tm o dever de ajudar a amparar ospais na velhice, carncia ou enfermidade (art. 229), acrescenta:

A famlia, a sociedade e o Estado tm o dever de amparar as pessoas idosas,assegurando sua participao na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito vida. (art. 230)

Esses direitos e obrigaes de assistncia social e proteo dos idosos,de dignificao humana, de solidariedade familiar e comportamento daspessoas, por serem programticos, meramente tericos, ficaram at hoje,virtualmente, na letra fria da Constituio.

6 FERNANDES, Flvio da Silva. As pessoas idosas na legislao brasileira. Direito eGerontologia. So Paulo: LTr, 1997.

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Somente em 04 de janeiro de 1994 surgiu a Lei n. 8.842 que implanta aPoltica Nacional do Idoso. Tal lei surgiu devido a presses da sociedade civil eda Associao Nacional de Gerontologia - ANG, pesquisando e atualizando dadossobre a questo dos idosos no final da ltima dcada.

A Lei n. 8.842/94 revestiu-se de muita modernidade, poca, eprops medidas exequveis, dizendo logo que: A poltica nacional do idosotem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condiespara promover sua autonomia, integrao e part ic ipao efet iva nasociedade.

Foi a primeira lei, no gnero, que se editou no pas, com sensvel esforodas entidades gerontolgicas, associaes que mobilizaram os grupos maisvelhos e as Universidades da Terceira Idade, para divulg-la, esclarec-la efaz-la mais conhecida.

A poltica nacional do idoso e o Conselho Nacional do Idoso foramestabelecidos pelo Decreto n. 1.948, de 03 de julho de 1996, o qual traou osdireitos dos homens e mulheres com mais de 60 anos.

Finalmente, o Estatuto do Idoso, Lei n. 10.741, foi publicado, no dia 1 deoutubro de 2003. A nova lei define e regulamenta direitos das pessoas commais de 60 anos e fixa obrigaes das entidades de atendimento a essa faixaetria.

A questo do idoso no assunto novo, como bem acentua Flvio da SilvaFernandes, portanto urge que se torne bem divulgada, bem conhecida e postaem prtica a Lei n. 10.741, o Estatuto do Idoso, sob pena de se transformar emletra morta.

Os direitos dos idosos, negligenciados h tempos, esto diante de umapossibilidade de comearem a ser entendidos, primeiro e, progressivamente,atendidos. Tm eles direito informao de que h leis que os beneficiam,garantindo-lhes educao, sade, possibilidades de trabalho e lazer, seguranae habitao, perspectivas de continuarem vivendo no seu grupo familiar e naprpria comunidade, participando das propostas e decises em torno do seupresente e do seu futuro.

Urge utilizar boa parte do contedo da lei que estabelece uma poltica emfavor dos idosos em todo o pas para garantir-lhes a cidadania.

A Recomendao n. 14 do CNJ, de 12.11.2007, alm de recomendar aosTribunais a adoo de medidas para dar prioridade aos processos eprocedimentos em que figure como parte interveniente pessoa com idadesuperior a 60 anos, em qualquer instncia, tambm determinou que os Tribunaispromovam seminrios, criem grupos de estudo ou medidas afins, inclusive coma participao das Escolas da Magistratura, a fim de se apontarem soluespara o efetivo cumprimento do Estatuto do Idoso, notadamente quanto celeridadedos processos.

3 A DISCRIMINAO DO TRABALHADOR IDOSO

Antes da consolidao da sociedade capitalista, a velhice no era temade relevncia, sobre ela no incidia nenhum valor. A partir do sculo XIX oenvelhecimento passou a ser sinnimo de degenerao e decadncia, quando

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s etapas etrias do homem foram atribudos valores diferenciados de acordocom a sua utilidade para a produo e reproduo da riqueza.7

Vive-se numa sociedade em que cada vez mais os interesses econmicosso sobrepostos aos interesses dos indivduos, onde as empresas, cada vezmais vidas pelos lucros, acautelam-se contra pessoas de idade.8

Observa-se que os direitos dos trabalhadores idosos no discriminao,ao tratamento igualitrio, proteo do Estado, defesa da sua dignidade nocarecem de norma, mas da aplicao e da efetividade dessas normas, haja vistaque as Leis at agora no foram capazes de barrar o tratamento desigual a essaparte da populao.

Acredita-se que uma via para se assegurar o direito a uma velhice digna proporcionar ao idoso a oportunidade de trabalho e a manuteno do empregodaqueles que ainda se encontram trabalhando.9

A realidade tem mostrado que, quando as empresas reestruturam seusquadros funcionais, os primeiros da lista a serem mandados embora so ostrabalhadores de faixa etria mais elevada.

Assim se d com os planos de demisso voluntria de muitas empresasque escolhem os maiores de 45 anos para integrarem suas listas.

Por outro lado, na seleo dos candidatos ao emprego um dos quesitosbsicos para a escolha a idade. Os candidatos mais velhos so preteridos emrelao aos mais jovens.

No raro se tm notcias de empregados que, estando prestes a completaro tempo necessrio para aposentadoria, so demitidos, numa demonstrao decompleto desprezo experincia, de negao do reconhecimento e darecompensa a anos de dedicao e fidelidade empresa. E, mais que isso, taisatos representam a materializao de uma das mais cruis discriminaes quepode sofrer o ser humano: o preconceito por viver mais.

Ao se negar ao trabalhador, que atingiu uma certa idade, o direito de seradmitido ou de continuar trabalhando, nega-se o reconhecimento dos princpiosfundamentais eleitos pela Constituio que so: a dignidade da pessoa humana(art. 1, inciso III) e os valores sociais do trabalho (art. 1, inciso IV).

O trabalho faz o ser humano se sentir mais til e numa sociedade utilitaristaesse sentimento muito importante para que cada um reconhea sua finalidadecomo ser humano. Com os idosos no diferente.

Ao se retirar ou se negar o trabalho ao idoso, estar-se- retirando todauma realidade construda e mais alguns sonhos ainda no realizados. Perdido oemprego, mudam-se as rotinas, perdem-se os vnculos sociais e, s vezes, oidoso perde at o seu prprio referencial como ser social. Viver passa a ser umfardo, um dia-a-dia sem perspectivas nem estmulos. Sucessivamente vem oostracismo, a angstia, a depresso e essa srie de mal-estar psicolgico acabapor refletir no fsico do indivduo.

7 RAMOS, Paulo Roberto Barbosa. O direito velhice: anlise de sua proteo constitucional(Tese de doutorado - PUC So Paulo 2001), p. 23.

8 BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994, p. 256.9 LINDOSO, Mnica Bezerra de Arajo. A discriminao do idoso no acesso e manuteno

do emprego. Rev. TRT - 16 Reg. - So Lus, v. 11, n. 1, p. 127/8, jan./dez.2001.

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Acredita-se que a discriminao nas relaes de trabalho em razo daidade um problema a ser discutido e combatido agora. No se pode deixar paraquando a velhice se fizer realidade e trouxer consigo o silncio, o medo, adebilidade fsica e emocional. Empregar esforos no caminho da eliminaodas prticas discriminatrias nas relaes de trabalho consagrar o interessetransindividual trabalhista prprio da isonomia.10

O que se pode fazer para manter ou reinserir o idoso na vida profissional?

H muitas propostas que permitem que os idosos continuem a participarda vida ativa e profissional.

Algumas empresas poderiam se utilizar do trabalho a tempo parcial quepossibilitaria, ao mesmo tempo, a renovao do quadro funcional da empresa,com a insero dos jovens no mercado de trabalho, compartilhando daexperincia dos idosos.

Outras empresas poderiam promover uma formao profissionalcontinuada, com cursos de atualizao contnua, reciclando os trabalhadores epermitindo a reviso de funes.

Uma outra sada seria a implantao do Programa de Preparao para aAposentadoria - PPA, modelo surgido nos Estados Unidos, na dcada de 50,iniciando-se com informaes sobre o sistema de aposentadorias e pensesque posteriormente se ampliou, passando a abranger assistncia mdica,psicolgica e social.11

No Brasil, essa iniciativa ocorreu na dcada de 70, a partir do SESC, noEstado de So Paulo, a qual era composta de dois mdulos de atividades terico-prticas, onde, no primeiro, discutiam-se as questes de envelhecimento e, nosegundo, apresentavam-se os recursos socioculturais e de servios comunidade, para os quais os aposentados pudessem se voltar.

O referido Programa j foi implantado em universidades e em rgospblicos com comprovada eficcia.

Esse Programa j experimentado e bem sucedido deve ser imposto sempresas privadas, pois seus trabalhadores tambm sofrem todos os reflexosque acarretam a aposentadoria, tais como: ansiedade, depresso, temores edemais distrbios e dificuldades de adaptao a um novo contexto social.

Outra proposta capaz de propiciar a manuteno ou a (re)insero doidoso no mercado de trabalho seria a reduo da contribuio previdenciriapatronal sobre o rendimento pago aos empregados idosos, a qual poderia servirde estmulo contratao de pessoas nessa faixa etria, j que a diminuiodos encargos trabalhistas uma das maiores demandas da classe empresarial.

H tambm algumas aes que esto sendo implementadas na UnioEuropeia buscando a garantia do emprego das pessoas de mais idade e a

10 SILVA NETO, Manoel Jorge e. Proteo constitucional dos interesses trabalhistas: difusos,coletivos e individuais homogneos. So Paulo: LTr, 2001. p. 170.

11 SANTOS, Silvana Sidney Costa. Programa de preparao para a aposentadoria - PPA:compromisso da empresa com o funcionrio. Disponvel em http://www.uol.com.br/cultvox/novos_artigos/aposentadoria.pdf.

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(re)insero dos empregados com mais de quarenta e cinco anos. Dentro daspropostas apresentadas aos pases esto os sistemas de prestaes sociaisque fomentam ativamente a capacidade dos trabalhadores parados,principalmente aqueles com maiores dificuldades de arranjar emprego.12

Urge, portanto, que as empresas e no s o Governo e a sociedade seempenhem na busca de programas viveis de incluso dos idosos no setorprodutivo.

4 A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, foram promulgados documentosimportantes sobre a proteo dos direitos humanos. Esses documentosrepresentam uma retomada dos ideais da Revoluo Francesa, liberdade,igualdade e fraternidade (solidariedade).

Em 1948 foi promulgada a Declarao Universal dos Direitos Humanos,aprovada pela Assembleia Geral das Naes Unidas em 10.12.1948 e, em 1966,foram promulgados dois pactos, aprovados pela Assembleia Geral das NaesUnidas em 16.12.1966, que procuram concretizar os princpios desta Declarao:o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polticos, que visa assegurar asliberdades pblicas, e o Pacto Internacional sobre Direitos Econmicos e Sociais,em relao igualdade e solidariedade entre as pessoas.

Como bem pontua Eduardo Tomacevicius Filho, em seu artigo A funosocial da empresa,

desde a dcada de 1960, vrias empresas passaram a ter uma postura ativa nacomunidade, voltando-se para a rea social, ou, ento, abstendo-se de realizaratividades nocivas comunidade em que est sediada.

Assim, a responsabilidade social das empresas consiste na integraovoluntria de preocupaes sociais e ambientais por parte das empresas emsuas operaes e na sua interao com a comunidade.

Do ponto de vista da administrao, a responsabilidade das empresasseria uma nova forma de gesto das mesmas.

De acordo com a Comisso das Comunidades Europeias sobre apromoo de um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas(2001, p. 4), esse conceito significa que as empresas decidem voluntariamentecontribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo.

Dessa forma, as empresas passam a ser vistas como agentes sociais,que no devem s ser centros de produo, mas tambm responsveis pelobem-estar da sociedade e contribuir com o desenvolvimento social do pas.

Quando uma empresa contribui para o aumento do bem-estar, tanto noseu mbito interno quanto no seu mbito externo, diz-se que uma empresacidad.

12 PETRONI, Emma. O grupo PPE e a valorizao da terceira idade no sculo XXI. Janeiro/1999. Disponvel em http://epp-ed.europart.eu.int/Activities/pinfo/info39_pt.asp.

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A responsabilidade social das empresas costuma ser dividida em doistipos: responsabilidade social interna, que consiste na preocupao com ascondies de trabalho, qualidade de emprego, remuneraes, higiene e sadede seus funcionrios; e responsabilidade social externa, que consiste napreocupao da empresa com a comunidade em que est inserida, bem comoseus clientes, fornecedores e entidades pblicas.13

Com toda a certeza, um dos dispositivos mais importantes do Estatuto doIdoso o previsto no art. 3, com a seguinte redao:

obrigao da famlia, da comunidade, da sociedade e do Poder Pblico assegurarao idoso, com absoluta prioridade, a efetivao do direito vida, sade, alimentao, educao, cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, cidadania, liberdade, dignidade, ao respeito e convivncia familiar e comunitria. (artigo 3)

H muitos direitos sociais que tm que ser propiciados pelo Poder Pblicocomo o art. 34, que assegura aos idosos, a partir dos 65 anos, e que no possuammeios para prover sua subsistncia, nem de t-la provida por sua famlia, obenefcio mensal de um salrio mnimo nos termos da Lei Orgnica da AssistnciaSocial (LOAS), uma vez que esse benefcio representar a soluo imediata paraas dificuldades financeiras enfrentadas pelos idosos.

Contudo, h outros que dependem da atuao das empresas como o art.23 que assegura a participao dos idosos em atividades culturais e de lazermediante descontos de no mnimo 50% nos ingressos para eventos artsticos,culturais e esportivos.14

Responsabilidade social e envelhecimento - o que as empresas tm aver com isso?

H muitos benefcios sociais aos idosos que s podem serimplementados com a efetiva atuao das empresas.

Muitas medidas j esto sendo implementadas, a maior parte delas comvisvel sucesso e aceitao. So providncias teis capazes de tornar maisagradvel a existncia e lentamente sedimentar o merecido respeito, tais como:passagem nos veculos urbanos, ingresso gratuito nos estdios, descontos nosteatros e cinemas, preferncia nas filas de bancos, assentos nos veculoscoletivos, remisso ou deduo em clubes, prioridade nos aeroportos,atendimento urgente nos hospitais, entre outras.

A responsabilidade social uma forma de conduzir os negcios da empresade tal maneira que a torne parceira e corresponsvel pelo desenvolvimento social.A empresa socialmente responsvel aquela que possui a capacidade de ouviros interesses de diferentes partes (acionistas, funcionrios, prestadores de servio,fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir

13 TOMACEVISIUS FILHO, Eduardo. A funo social da empresa. In Doutrina JurdicaBrasileira. Editora Plenum.

14 BERALDO, Leonardo de Faria. Sobre o estatuto do idoso. Revista Del Rey Jurdica.

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incorpor-los no planejamento de suas atividades, buscando atender s demandasde todos e no apenas dos acionistas ou proprietrios.

O Instituto Ethos preparou um site com perguntas e respostas sobre aresponsabilidade social e como a empresa pode encontrar respostas s dvidasmais frequentes sobre esse assunto:

A Responsabilidade Social um processo que nunca se esgota pois sempre h algoa se fazer. um processo educativo que evolui com o tempo e a prtica demonstraque um programa de Responsabilidade Social s traz resultados positivos para asociedade, e para a empresa, se for realizado de forma autntica. A empresaprecisa ter a cultura da responsabilidade social incorporada ao seu pensamento.Desenvolver programas sociais apenas para divulgar a empresa, ou como formacompensatria, no traz resultados positivos sustentveis ao longo do tempo. Porm,para aquelas empresas que incorporarem os princpios e os aplicarem corretamente,alguns resultados podem ser sentidos, como a valorizao da imagem institucionale demarcam maior lealdade do consumidor, maior capacidade de recrutar e mantertalentos, flexibilidade e capacidade de adaptao e longevidade.A empresa pode desenvolver projetos de Responsabilidade Social em diversasreas, com diversos pblicos e de diferentes maneiras. Com cada um dos parceirosa empresa pode desenvolver atividades criativas. Entre as opes esto:incorporao dos conceitos de Responsabilidade Social na misso da empresa,divulgao deste conceito entre os funcionrios e prestadores de servio,estabelecimento de princpios ambientalistas, como uso de materiais reciclados e apromoo da diversidade no local de trabalho.15

5 A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO ESTADO

Segundo a Constituio da Repblica, no artigo 3, IV, fica definido que objetivo fundamental de nosso pas a promoo do bem de todos, sempreconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas dediscriminao. Na CF a proibio de diferena de salrio por motivo de idadeest delineada no art. 7, XXX.

Contudo, tarefa rdua definir a condio de idoso.Norma mais especfica o Estatuto do Idoso, aplicvel s pessoas com

idade igual ou superior a 60 anos, onde seu artigo 3 determina, dentre os direitos,o direito ao trabalho. Norma especfica de proteo ao idoso no Direito do Trabalhopraticamente no existe, ao menos em relao ao direito material. A nica menoque existe na CLT o art. 134, 2, onde est disposto que aos maiores de 50anos as frias sero concedidas em um nico perodo. Tem-se o inciso XV do art.20 da Lei n. 8.036/90, que permite o levantamento do FGTS depositado, quandoa pessoa completa 70 anos.

No mbito judicial, a Lei n. 10.173/2001 alterou o CPC para dar maiorproteo aos idosos. Pela norma legal citada, se a parte ou interveniente possuiridade igual ou superior a sessenta e cinco anos, o feito ter prioridade natramitao sobre os demais.

15 Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.

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Considerando que a Lei n. 10.741/2003 instituiu o Estatuto do Idoso,regulando os direitos assegurados s pessoas com idade igual ou superior a 60(sessenta) anos, inferior, portanto, idade fixada na Lei n. 10.173/01, econsiderando a Recomendao n. 14/2007 do Conselho Nacional de Justia, aJustia do Trabalho da 3 Regio j passou a dar prioridade ao processamento, tramitao e aos demais procedimentos judiciais quando figurar como parteou interveniente do processo pessoa com a idade igual ou superior a 60(sessenta) anos e, para tanto, editou o Ato Regulamentar GP/DJ n. 03/2008, de17 de outubro de 2008.

O benefcio abrange todos os processos de jurisdio contenciosa evoluntria, mesmo na fase de execuo.

A funo do processo brasileiro a de servir como instrumento para garantiraos cidados o direito vida, liberdade, segurana, igualdade, dignidadehumana. Tudo isso compreendido como valores mais elevados de uma sociedadehumana fundada na harmonia social. Assim, a misso do processo revelar-secomo garantidor de uma prestao jurisdicional justa, eficaz e pacificadora,lanando mo para esse fim de todos os princpios que possam decorrer daordem constitucional.

Inserto entre os direitos e garantias fundamentais, o devido processolegal, prescrito no inciso LIV do art. 5 da CRFB/88, constitui-se princpiofundamental do processo, sendo o alicerce sobre o qual todos os outros sesustentam. Uma das repercusses desse direito fundamental o princpio daceleridade processual, reconhecido, primeiramente, no art. 6 da ConvenoEuropeia para Salvaguarda dos Direitos do Homem e das LiberdadesFundamentais, subscrita em Roma, em 04 de novembro de 1950, in verbis:

Artigo 6 - 1. Qualquer pessoa tem direito a que a sua causa seja examinadaequitativa e publicamente, num prazo razovel por um tribunal independente e imparcial,estabelecido pela lei, o qual decidir, quer sobre a determinao dos seus direitos eobrigaes de carter civil, quer sobre o fundamento de qualquer acusao emmatria penal dirigida contra ela. [...] (grifo nosso).

Os estudiosos proclamam que a justia ideal aquela de boa qualidade,econmica e clere. Assim, no h como deixar de reconhecer que ainstrumentalidade do processo tem na efetividade seu aspecto mais significativo.

No Estado de Minas Gerais, os idosos j tm motivos para comemorar,pois, no dia 05 de novembro de 2007, foi promulgada a Lei n. 17.113 queacrescentou o art. 10-A Lei n. 14.699, de 06.08.2003, dispondo que osprecatrios de natureza alimentar em atraso cujos credores originrios tenhamidade igual ou superior a 65 anos tenham prioridade e preferncia para pagamentopelo Poder Executivo, observada a disponibilidade de caixa do Tesouro Estadual.H um grande nmero de idosos que ser beneficiado por essa medida. Aprioridade para idosos j existia em diversas circunstncias, inclusive natramitao de processos, e, apesar de no estar expressamente prevista noartigo 100 da Constituio da Repblica, que trata especificamente de precatrios,deve ser estendida a esse assunto, pois a pessoa idosa tem uma questo que o tempo de vida: ela no pode esperar o pagamento por muitos anos.

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6 A INSERO DOS IDOSOS NO MERCADO DE TRABALHO

H alguns projetos de lei que beneficiam diretamente os idosos nomercado de trabalho, como os apresentados pela senadora Lcia Vnia (PSDB-GO): o PLS 314/2007 que pretende alterar a Lei n. 9.029, de 1995, para vedar afixao de limite etrio mximo e outras prticas discriminatrias na admissoou permanncia da relao jurdica de trabalho do idoso.

J o PLS 315/2007 visa alterar a Consolidao das Leis do Trabalho(CLT) para dispor sobre a proteo do trabalho do idoso. De acordo com o projeto dever do Estado proporcionar ao idoso a liberdade de poder exercer todo tipode atividade profissional, em igualdade de condies com os demaistrabalhadores. Entretanto, essa igualdade s ser possvel se forem atendidas,por parte do empregador, determinadas condies que respeitem suas condiesfsicas, intelectuais e psquicas. A senadora destaca que as diferenas na relaolaboral da pessoa idosa somente devem ser invocadas se servirem como formade proteo, jamais como discriminao.

De acordo com a parlamentar, o objetivo dessa lei o cumprimento doEstatuto do Idoso. O documento, criado em 1994, estabeleceu normas para osdireitos sociais dos idosos, garantindo autonomia, integrao e participaoefetiva, como instrumento de cidadania.

Por fim, o PLS 393/2007 institui o Programa Melhor Idade (PMI). Destinadoa promover a insero de idosos no mercado de trabalho e a preparar ostrabalhadores para a aposentadoria, com antecedncia mnima de um ano, pormeio de estmulo a novos projetos sociais e de esclarecimento sobre direitos ecidadania. As empresas que participarem do PMI tero benefcios fiscais e reduode encargos sociais.

Afirma a parlamentar que como o projeto oferece vrias vantagens aoempresrio, o objetivo que o profissional idoso, que, geralmente, o primeiroa ser cortado da folha de pessoal, por ser considerado o menos apto requalificao e adequao a novos padres produtivos, tenha maiores chancesde permanecer por mais tempo em sua atividade profissional. Lcia Vnia esperaque isso possa trazer uma cultura de maior aceitao do idoso no mercado detrabalho e maior valorizao da sua capacidade laboral que, no mundo de hoje,tende a se estender cada vez mais. O grande desafio trazido pelo envelhecimentoda populao o de garantir ao idoso a sua integrao na comunidade, acreditaa congressista.

Segundo a senadora, essas aes trazem benefcios aos idosos etambm s empresas. No caso, estas podem contar com pessoas que tmgrande experincia e que acabam se tornando referncia para os iniciantes. Seevitarmos as aposentadorias precoces, estamos valorizando os idosos equalificando o mercado com pessoas que ainda tm muito a contribuir.16

16 TURCATO, Sandra. Idosos levam qualificao ao mercado. Revista ANAMATRA, 1Semestre de 2008, p. 45.

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7 CONCLUSO

Seja qual for a tica em que se discuta ou se escreva acerca doenvelhecimento e da velhice, preciso entender que devem ser respeitados osdireitos intangveis, ou seja, situaes que dizem respeito a quatro pontosespeciais: tratamento equitativo; direito igualdade; direito autonomia e direito dignidade.

Os eventos gerontolgicos internacionais tm proporcionado umaobservao incontestvel: os pases em desenvolvimento esto envelhecendo,mas o aumento demogrfico - embora reconhecido, no tem asseguradomelhoria na qualidade de vida aos seus idosos.

Melhoria que se deve refletir no apoio, assistncia e formas de atenesconcretas sade, alimentao, economia, moradia, segurana, modernizaodas instituies, processos educacionais diferenciados para que se reintegremao universo laboral e social, etc.

Meios existem para que no s o Governo mas tambm as empresasimprimam maior efetividade s normas constitucionais e em especial ao Estatutodo Idoso para assegurar-lhes o direito participao e reintegrao no setorprodutivo e na vida social do pas. Faz-se necessria, entretanto, uma aoconjunta do Governo, das empresas e da sociedade em geral.

Enfim, h uma gama de projetos e programas sociais que podem e devemser implementados visando dar um conforto maior aos cidados de terceiraidade.

No Brasil, somos todos pioneiros na rea da proteo ao idoso.Precisamos desenvolver a conscincia de que a sociedade est envelhecendoe, com maior expectativa de vida, preciso no apenas sobreviver velhice, masviv-la plenamente.17

O novo desafio que se descortina na sociedade democrtica o deaprimorar a prtica social, no sentido de evitar que as aes humanasantidiscriminatrias se reproduzam e, em sede trabalhista, que as aespraticadas sob o manto diretivo patronal sejam limitadas, trazendo para o mundolaboral os atores empregados e empregadores como partcipes de um processocorporativo de transformao social e evoluo humana. Onde se pratica averdadeira justia social, no h espao para o temor e prticas discriminatrias.18

Assim, a responsabilidade social das empresas consiste na integraovoluntria de preocupaes sociais ambientais nas suas operaes e na suainterao com a comunidade, ao invs de ficar esperando que o Estado tometodas as providncias, pois, como j disse renomado compositor, Quem sabefaz a hora, no espera acontecer...

17 BRAGA, Prola Melissa Viana. Os cuidados com os idosos na cultura norte-americana.Adicionado em 10.06.2003 ao site Direito do idoso.

18 CAIXETA, Maria Cristina Diniz. Combate discriminao. Revista Mens Legis, Ano 2008,p. 44-45.

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3 Reg., Belo Horizonte, v.48, n.78, p.45-63, jul./dez.2008

A JUDICIALIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS

Adriana Campos de Souza Freire Pimenta*

1 INTRODUO

A construo deste estudo passa pela anlise dos direitos fundamentaissociais1, sua interpretao, eficcia e efetividade.

Buscaremos enfrentar como, na prtica, podem ser solucionadas as lidesdaqueles que se valem do Poder Judicirio a fim de verem atendidas suaspretenses baseadas nos j citados direitos fundamentais sociais.

Trataremos do aumento das lides relativas a pedidos dessa natureza ecomo deve se posicionar o magistrado diante das mesmas, tendo em vista quea jurisdio , sabidamente, indeclinvel2, mas nem sempre possui o julgadortodos os dados tcnicos que seriam necessrios para a soluo de taiscontrovrsias, mormente quando o ente pblico - geralmente o Poder Executivo -defende-se fazendo uso da hoje tratada por reserva do possvel3, alegando faltade recursos da Administrao para atender necessidade pleiteada em juzo.

No pretendemos trazer concluses prontas, indiscutveis, at porqueestamos diante de um texto acadmico, portanto amplamente propiciador dodebate.

2 DIREITOS FUNDAMENTAIS - DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Para tratarmos do nosso tema central - a judicialidade dos direitosfundamentais sociais - necessrias, em primeiro lugar, algumas consideraessobre os direitos fundamentais sociais, o tratamento dado aos mesmos pelaConstituio Federal de 1988, sua eficcia, sua efetividade e sua interpretao.

Paulo Bonavides4, ponderando acerca dos direitos fundamentais, levanta,inicialmente, a questo de serem sinnimas ou no as expresses direitos

* Juza do Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 3 Regio, Titular da 1 Vara doTrabalho de Passos/MG, graduada em Direito pela UFMG, Especializanda em Direito eProcesso do Trabalho pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Mestranda em DireitoPoltico e Econmico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

1 Art. 6. So direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, a moradia, o lazer, asegurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aosdesamparados, na forma desta Constituio