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1 www.anipla.com A revista para quem pensa a agricultura. Edição nº7 dezembro 2017 S Fito_Entrevista: Eduardo Oliveira e Sousa Presidente da CAP Fito_Tema: Aproximar o consumidor da agricultura Sem a PAC os europeus teriam dificuldade em manter o nível de vida atual»

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Fito_Entrevista:

Eduardo Oliveira e SousaPresidente da CAP

Fito_Tema: Aproximar o consumidor da agricultura

Sem a PAC os europeus teriam dificuldade em manter o nível de vida atual»

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Ficha técnica

Propriedade: ANIPLA- Associação Nacional da Indústria para a Protecção das PlantasRua General Ferreira Martins Nº 10 – 6ºA 1495-137 Algés . PortugalTel.: +351 214 139 213 . e-mail: [email protected]

Diretor: António Lopes Dias

Coordenação Editorial: Mónica Onofre e Nélia Silva

Projeto Gráfico e Paginação: Musse Ecodesign

Estatuto EditorialColaboraram nesta edição: Comissão de Agricultura Sustentável; Comissão Técnica de Homologação; Comissão Não Agrícola.A FitoSíntese é uma publicação que visa divulgar a atividade da ANIPLA, as suas opiniões e posicionamento face a questões relevantes do sector fitofarmacêutico e da Agricultura em geral. A FitoSíntese pretende ainda dar a voz a entidades e/ou personalidades que tal como a ANIPLA Pensam a Agricultura como um sector de futuro.

A reprodução total ou parcial dos conteúdos publicados é expressamente proibida sem a autorização escrita da ANIPLA.

www.anipla.com

nº7

Fito_Notícias

Fito_EntrevistaEduardo Oliveira e Sousa

Presidente da CAP

Fito_TemaAproximar

o consumidor da agricultura

In_AniplaAutorização de produtos

fitofarmacêuticos na Europa

Efluentes de produtos fitofarmacêuticos

Fito_Global«É preciso que o consumidor não dê a alimentação por ga-rantida», Francisco Sarmento,

FAO

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Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Agenda 2030) – erradicar a fome, reduzir as desigualdades, aumentar o nível médio de vida das populações, etc - geram um consenso alargado na Sociedade. Aos agricultores e a todos os stakehol-ders do setor primário, a montante e a jusante dos agricultores, cabe a vital missão de garantir a Se-gurança Alimentar, ou seja, garantir a produção de alimentos em quantidade suficiente para alimen-tar a crescente população mundial, mas também cabe a obrigação de atingir esta meta preservando os ecossistemas do planeta Terra. Ou seja, produ-zir mais alimentos, sem gastar mais recursos na-turais.

A campanha Considere os Factos propõe uma refle-xão pública entre o sector agrícola e toda a socieda-de civil, ou seja, todos nós enquanto consumidores, com o propósito de responder às preocupações e mal-entendidos sobre o papel da ciência na produ-ção agrícola e debater o assunto de forma transpa-rente. A campanha baseia-se em factos, resultado de um estudo e de uma análise profunda ao im-pacto económico e social em Portugal da retirada da tecnologia necessária para a protecção fitossa-nitária de culturas chave do nosso país, como são a Pera Rocha, o Tomate, o Milho, o Azeite e o Vinho. Realizado em colaboração com organizações de produtores, os resultados fizeram soar um alerta de preocupação para os produtores, consumidores e para a economia nacional: - Queremos continuar a ter produtos nacionais seguros, de qualidade, a um custo aceitável. E você?

A discussão sobre o tema Sustentabilidade, um termo que é usado de forma transversal a todo momento e por todos os setores, não gera consen-so e pode inclusive estar a impedir que se alcance maior progresso no cumprimento da Agenda 2030.Alguns grupos defendem a Sustentabilidade Eco-nómica, ou seja, será que a atividade produtiva gera o lucro necessário para garantir a continui-dade do investimento? Outros pugnam pela Sus-tentabilidade Ambiental, ou seja, estará a ativida-de produtiva a conseguir minimizar o impacto nos recursos escassos, contribuir para incrementar a

Editorial

biodiversidade ou reduzir o uso da água e da terra? Depois há ainda a Sustentabilidade Social, será que a Sociedade a deseja realmente? A forma como os trabalhadores são tratados ao longo da cadeia pro-dutiva é aceite pelos consumidores?

Na realidade a Sustentabilidade deve abarcar estes três pilares: Económico, Social e Ambiental.

Políticas erradas podem comprometer o progresso

Os dogmas e as posições inflexíveis não ajudam a avançar em matéria de Sustentabilidade. Todos os sistemas de produção de alimentos – convencio-nal, biológico, com ou sem recurso a organismos geneticamente modificados – podem contribuir para atingir a Segurança Alimentar Sustentável. Riscar do mapa tecnologias inovadoras, sem uma base científica sólida como argumento, pode ter consequências negativas. O caso dos neonicotinói-des é um bom exemplo de como políticas erradas podem contribuir para travar o progresso. Os orga-nofosforados foram substituídos pelos piretróides, que por sua vez foram substituídos pelos neoni-cotinóides, cujo modo de ação e nível toxicidade é muito inferior ao das famílias químicas suas ante-cessoras. Caso os agricultores europeus tenham que voltar a aplicar piretróides para controlar as pragas que afetam as suas culturas, na ausência dos neonicotinóides, podem os consumidores ter a certeza de que o impacto para o ambiente e para as abelhas é muito maior. Além do planeta Terra, os agricultores europeus são os grandes lesados des-tas políticas erradas, pois perdem competitividade perante agricultores de outras regiões do Globo. Sejamos flexíveis e abertos ao diálogo, para que em conjunto possamos perceber o contributo de cada tipo Agricultura para a Segurança Alimentar Sustentável. Com medidas específicas e metas quantificadas, mas nunca de costas voltadas.

Felisbela Campos TorresPresidente da ANIPLA

Segurança Alimentar Sustentável

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1Fito_Factos

a Smart Farm, quinta modelo da ANIPLA para divulgação de Boas Práticas Agrícolas, celebrou um ano a 18 de novembro de 2017.

440pessoas visitaram a Smart Farm no seu 1º ano de atividade (agricultores, estudantes, investigadores, técnicos agrícolas)

3300o glifosato já foi analisado em 3300 estudos diferentes que atestam a sua segurança.

Conferência da ONU sobre as Alterações Climáticas (COP23) reconhece o papel vital da Agricultura na mitigação das alterações climáticas. Solo, água e pecuária são áreas de atuação prioritária. COP23

ano

estudos

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440

Explorações Agrícolas em 2016 Resultados do Inquérito à Estrutura das Explorações Agrícolas (IEEA 2016)

259.00014

Dimensão média das explorações agrícolas em 2016 (IEEA 2016)

hectares

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8 meses a considerar os factos!Em Abril de 2017, a Anipla decidiu que era tempo de sair da caixa e participar de forma ativa e construtiva na informação dos con-sumidores portugueses sobre a realidade da atividade agrícola.

Não sendo um processo fácil, pois efetiva-mente a população urbana está muito longe do que significa a prática de uma agricultura sustentável e produtiva, e vive um pouco de mitos e ideias pré-concebidas, assentes em grandes doses de emoção, é fundamental assegurar uma comunicação baseada em informação científica e factos devidamente comprovados, para evitar alimentar mitos.

Fito_Notícias

Há 8 meses que a Anipla percorre o país real e digital com informação importan-te sobre a prática da agricultura moder-na, revelando os imensos progressos que têm sido alcançados nesta atividade, que desempenha um papel fundamental na nossa vida, e que parece carecer de maior compreensão, aceitação e valorização pela população urbana.

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Fito_Notícias

Num sector dotado de elevado profissionalismo e rigor, como é a agricultura atual, são utiliza-dos vários fatores de produção, entre os quais se encontram os produtos fitofarmacêuticos, hoje resultado de uma constante evolução técnica e científica e, por isso, mais seguros do que nunca, e mais eficazes na sua função de proteção das culturas. A par com esta evolução, os agriculto-res, sujeitos a formação específica que os torna aptos a utilizar estes produtos, são profissionais cada vez mais capazes, tecnologicamente e tec-nicamente evoluídos.

Nesta Campanha inédita, para além da utilização primordial dos canais digitais para divulgação da informação como é o caso do Blogue, do Facebook , do website da campanha e do youtube, a Anipla tem utilizado vários meios importantes para co-municar, entre os quais destacamos:

Ações de RuaO contacto direto com o a população, através das várias ações de rua realizadas no centro e norte do pais. Com a cara pintada em representação dos frutos que ilustram a campanha, a equipa da Anipla desafiou as pessoas que passavam a pensar sobre o sector agrícola e as dificuldades que se antecipam, num momento em que são to-

madas medidas públicas no sentido de retirar do mercado alguns fitofarmacêuticos importantes para a proteção das culturas.

A quem passava na rua, era ainda entregue um folheto informativo e parte de uma peça de fruta que estava cortada nas quantidades equivalentes à perda a que a respetiva cultura estará sujeita sem os produtos fitofarmacêuticos.

Santarém

Lisboa

Porto

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Rádio

Utilizámos um importante canal de comunica-ção, a rádio, que pode ser ouvida em variadíssi-mos locais, e que durante 8 semanas emitiu spo-ts informativos com factos sobre a agricultura e os desafios que enfrenta.Pode ouvir os spots aqui.

Integrámos o programa de rádio - “Terra a Ter-ra”. Tomando como referência o dia 16 de Ou-tubro, Dia Mundial da Alimentação, o programa “Terra a Terra” da TSF aproveitou esta data e reuniu alguns dos intervenientes de dentro e fora do sector, para uma conversa em que se debate-ram temas como a segurança dos consumidores, a moderna agricultura e o ambiente.

Participaram nesta conversa, Alexandra Bento - Bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Ana Pau-la Carvalho - Subdiretora Geral da DGAV, António Lopes Dias - Diretor Executivo da Anipla, João Branco - Presidente da Quercus e José Pereira Palha, produtor e Presidente da ANPOC. Parti-lharam a sua perspetiva sobre um sector que tem sido desafiado a uma maior e mais eficien-te produção, ao mesmo tempo que aumenta o escrutínio público aos agricultores, amplificado pelo afastamento acentuado entre a população urbana e a realidade do sector agrícola.

Vídeo com Testemunho de agricultor português

O produtor agrícola português, José Palha, que é também Presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cereais, Oleaginosas e Protagino-sas (ANPOC), apresentou a sua exploração agríco-la, demonstrou a aplicação que faz da tecnologia e técnicas de eficiência agrícola, e transmitiu a sua opinião sobre o tema dos mitos em torno da produ-ção agrícola moderna.

Felizmente existe espaço para todos expressar-mos a nossa opinião. Defendendo que as nos-sas escolhas devem ser opções esclarecidas, a Anipla vai manter a sua Campanha de informa-ção, iniciada em abril deste ano para poder con-tinuar a revelar factos, afastar medos e desfa-zer mal-entendidos. É fundamental serenar os consumidores sobre a segurança nos alimentos de origem agrícola que se consomem na Euro-pa, e que é comprovada pela Autoridade Euro-peia para a Segurança Alimentar (EFSA).

Vamos continuar na rua, a dar voz a um setor que é fundamental para a nossa sobrevivência: a Agricultura!

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Novos folhetos AniplaA constante preocupação em disponibilizar informação que promova as boas práticas em todas as áreas relacionadas com os produtos fitofarmacêuticos na atividade agrícola, levou a Anipla a produzir mais dois folhetos que se encontram disponíveis para utilização em ações de formação, sensibilização e em eventos do setor.

Boas práticas no tratamento de efluentesA gestão eficaz dos efluentes de produtos fi-tofarmacêuticos, enquadrada pela Diretiva 2009/128/CE, previne a contaminação das fon-tes de água durante os processos de prepara-ção da calda, lavagem do pulverizador e lava-gem das embalagens vazias.Ver folheto

Boas práticas na utilização de sementes tratadasO tratamento de sementes é uma tecnologia de aplicação de produtos fitofarmacêuticos que de-sempenha um papel importante na agricultu-ra moderna. O uso das sementes tratadas deve ser gerido para maximizar os benefícios do tra-tamento das sementes e reduzir a exposição do operador e do ambiente. Ver folheto

Culturas GM e Políticas na EU

Dia 29 de Novembro foi apresentado na Facul-dade de Ciências da Universidade de Lisboa o Guia “Culturas GM e Políticas na UE”. Organiza-do pelo CIB - Centro de Informação e Biotecno-logia. O evento teve como oradores Pedro Narro Sanchez, Gestor de relações públicas para a área de Biotecnologia Verde da Europabio, José Diogo Albuquerque, Director executivo do Agro-portal e Pedro Fevereiro, Presidente do CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.Este é um guia útil para qualquer pessoa que queira compreender o potencial das culturas geneticamente modificadas a agricultura, a ali-mentação, o ambiente, a economia e a socieda-de da União Europeia.Descarregue AQUI o Guia.

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A Anipla participou no encontro “Proteção das Plantas 2017”, realizado na Escola Superior Agrária de Santarém nos dias 26 e 27 de outubro.

Integrada Sessão 4 - Inovação e tecnologia na Proteção das Plantas, António Lopes Dias, Diretor Executi-vo da Anipla, apresentou uma comunicação intitulada - Proteção fitossanitária, competitividade e susten-tabilidade, onde falou sobre o papel da Indústria fitofarmacêutica perante a necessidade de alimentar a população mundial e corresponder às atuais exigências dos consumidores sem perder a competitividade para o agricultor, preservando o ambiente e os recursos naturais.A Anipla apresentou ainda, neste evento, um painel com informação da EFSA sobre o nível elevado de segurança dos produtos agrícolas que circulam na União Europeia.

Congresso Proteção das Plantas

Painel de debate no encontro “Proteção das plantas 2017”

IV Congresso Nacional de Fruticultura e HorticulturaIntegrado na Tecfresh’17 – Feira Tecnológica para Frutas e Hortícolas, o Congresso, orga-nizado pela CAP - Confederação dos Agricul-tores Portugueses, realizou-se no dia 16 de novembro no CNEMA, em SantarémA convite da CAP, o Diretor Executivo da Ani-pla, António Lopes Dias, foi convidado para moderar o 2º Painel sobre Ambiente e a Pro-dução de Alimentos.

Painel apresentado pela ANIPLA

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Anipla recebeu TOPPS em Lisboa

No passado dia 21 de novembro, ocorreu em Lis-boa o encontro europeu do projeto TOPPS Water Protection. Portugal, onde o projeto é desenvol-vido pela Anipla e tem como parceiros a Confagri e a CAP, foi um local de partilha de ideias, expe-riências e novos desenvolvimentos sobre as boas práticas agrícolas para a proteção da água. Os países presentes, Espanha, França, Itália, Holan-da, Bélgica, Eslováquia, Polónia, Roménia, Alema-nha, Grécia e Hungria, apresentaram os sucessos alcançados na implementação deste projeto à es-cala europeia.

Foi com agrado que se verificou que o objetivo de atingir agricultores e técnicos com responsabili-dade na aplicação de produtos fitofarmacêuticos tem sido alcançado ao nível europeu. Para tal, os diversos países realizam ações de formação e sensibilização teóricas e práticas sobre as boas práticas para a proteção da água, participam em conferências, seminários e feiras de agricultura e divulgam informação através da imprensa espe-cializada e científica.

Desta forma, as boas práticas para a proteção da água têm vindo a ganhar visibilidade e reconheci-mento por entidades formadoras, universidades, organismos oficiais e, em especial, pelos agricul-tores que, em última análise, são quem transfor-ma estas boas práticas em realidade.

Estas boas práticas assentam na redução da de-riva de pulverização, no controlo do escorrimento superficial e em todas as ações que se podem realizar para prevenir contaminações durante o manuseamento dos produtos fitofarmacêuticos nas instalações agrícolas.

Mas ainda há um caminho a percorrer. Mais uma vez em consonância, os diversos países estão a desenvolver ferramentas on-line que facilitem o diagnóstico das fontes de poluição potenciais e, simplificando deste modo a implementação das boas práticas preconizadas.As formações presenciais continuarão a decor-rer, pois não há nada como ver as boas práticas a funcionar para que sejam posteriormente ado-tadas.

Em Portugal, a Anipla e os seus parceiros CAP e Confagri, darão continuidade ao projeto já com novos dias de formação no inicio de 2018 e com atividades de divulgação um pouco por todo o país, através de apresentações em locais re-levantes, da distribuição do material didático TOPPS e das demonstrações na Smart Farm.

Painel apresentado pela ANIPLA

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Fito_EntrevistaEduardo Oliveira e SousaPresidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP)

Sem a PAC os europeus teriam dificuldade em manter o nível de vida atual

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Na sua perspetiva, qual a importância que a agricultu-ra tem no contexto europeu?

A Agricultura sempre foi uma atividade basilar desde que o Homem se sedentarizou. Na Europa, as convulsões sociais e políticas ao longo da His-tória, e em concreto a seguir à II Grande Guerra Mundial, levaram os europeus a viver períodos de grande carência. Da devastação provocada por este conflito surgiu a necessidade de apoiar as pessoas a fazer Agricultura de forma mais profissional, ten-do sido neste contexto que nasceu a Política Agrí-cola Comum (PAC). Com a ajuda da PAC a Europa passou a ser auto-suficiente e a população, passou a dispor de alimentos a um preço compatível com o reduzido poder de compra que caracterizava a Sociedade europeia nesse período. É este o motivo do grande sucesso da PAC. Indiretamente, através dos agricultores, os consumidores europeus foram recebendo apoios da UE que lhes permitiam com-prar alimentos a preço mais acessível, libertando parte do orçamento familiar para outras atividades (comprar casa, carro, férias, etc). Por outro lado, existem na Europa cerca de 22 milhões de pessoas que dependem directa ou indirectamente da agri-cultura, como actividade económica, com enorme impacto na gestão e ocupação do território, com-bate à desertificação, abandono, etc. São dados da UE e respeitam aos 28 Estados-Membros. Não menos importante ainda é a função da Agricultura na manutenção do equilíbrio ambiental, mantendo o meio rural vivo e habitado, induzindo um vasto conjunto de externalidades secundárias positivas que beneficiam a Sociedade no seu todo, como a fixação de carbono, gestão da água, ordenamento do território, entre outras.

A PAC continua a ser tão necessária hoje em dia como foi na década de 50?

Não é comparável. A PAC de hoje não visa socorrer uma população que está a passar fome, mas sim contribuir para que a alimentação tenha um preço equilibrado no orçamento das famílias, e assegu-rar um certo equilíbrio nas relações internacionais, diminuindo a dependência das importações. Na ausência da PAC, os europeus, em particular nos países menos ricos (na Europa, felizmente, não há países pobres) teriam mais dificuldade em manter o elevado nível de vida atual, pois algum aumento dos preços dos alimentos surgiria, diminuindo a parte disponível do orçamento das famílias. Além

disso, muitos agricultores abandonariam a ativi-dade, com tudo o que de negativo isso implicaria, pois ao deixarem os campos e dirigindo-se às me-trópoles, iriam concorrer por espaço e por oportu-nidades de vida no meio urbano, dificultando ainda mais o já congestionado modo de vida das gran-des cidades. A PAC tem todo o cabimento hoje, tal como há 60 anos.

A população urbana está ciente da importância da agricultura?

Creio que o tema Agricultura é abordado muito ligeiramente. A CAP vem desenvolvendo alguns projetos com as escolas, desde o 1º ciclo ao en-sino secundário e até ao superior, para aumentar o conhecimento das crianças e dos jovens sobre a Agricultura. Há muito a fazer para aproximar o mundo urbano do mundo rural. Infelizmente esse “fosso” tem tendência em se agravar, e aqui uma consciencialização e envolvência interessada da comunicação social pode ter uma enorme influên-cia e impacto nos resultados.

Quais os maiores mitos existentes, por parte do con-sumidor, sobre a agricultura moderna?

Há muitos mitos, por exemplo que a agricultu-ra gasta a água e polui o ar, inclusive através do metano libertado pelos dejetos e respiração das vacas. Ou que os alimentos estão todos contami-nados com pesticidas e que apenas a Agricultura Biológica é segura. Ora a água não se gasta, e a agricultura apenas está inserida no seu circuito, e o balanço do carbono, se incluirmos as florestas e as modernas técnicas agrícolas, é positivo, sendo a agricultura a “encaixar” e fixar muito do CO2 pro-duzido em ambiente urbano. Os pesticidas hoje são muito mais avançados e menos agressivos, e as re-gras ambientais impõem limites muito aquém do que se praticava há poucos anos atrás, salvaguar-dando a qualidade dos alimentos e a segurança das pessoas. Depois há mitos sobre o que faz bem e o que faz mal à saúde. Épocas houve em que o azeite era indicado como uma gordura má e o óleo era bom, e afinal é o contrário. Também há o mito de que comer carne ou beber leite é prejudicial à saúde, quando cientificamente o que está provado é exactamente o oposto, e o que é de facto saudável é termos uma alimentação variada, de que a “Dieta Mediterrânica” é expoente máximo, reconhecida e classificada como Património da Humanidade. São

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mitos que resultam de informação insuficiente, ou demagogicamente de-turpada, e que, num país pequeno como Portugal, podem levar facilmente a perturbações do mercado agroalimentar. É preciso que a comunicação social acompanhe o conhecimento, e essa é a parte difícil, porque a So-ciedade é muito vulnerável a notícias demagogas, muito aproveitadas com propósitos comerciais, o que é lamentável, diria mesmo, indigno.

Que medidas devem ser tomadas pelo setor agrícola para aproximar o consu-midor da agricultura moderna?

O setor agrícola hoje comunica melhor do que no passado, mas ainda as-sim muitas vezes não encontra recetividade à mensagem na opinião pú-blica. Ou a mensagem não está a ser bem trabalhada, ou, por razões que desconheço, a outra parte não quer receber a parte positiva da mensa-gem. Não basta haver um esforço de informar, é preciso haver vontade de querer ser informado. Os agricultores fazem Agricultura porque ela é vital para a sobrevivência do Mundo. Há que persistir na comunicação, ser objetivo e incutir mais conhecimento nas respostas.

Quais são, na sua visão, os desafios do setor agrícola nas próximas décadas?

Há vários fatores a ponderar. O desenvolvimento demográfico e a subida do poder de compra dos povos a Oriente incentivam um enorme fluxo dos produtos agrícolas do Ocidente para aquelas regiões. Nós que estamos a meio caminho, temos de perceber se isso é bom ou mau para a Europa, pois pode voltar a ser necessário aumentar a produção para dependermos menos dos produtos que são produzidos na América. Por outro lado, os fluxos migratórios de África e do Médio Oriente para Europa, que têm por

O setor agrícola hoje comunica melhor do que no passado, mas ainda assim muitas vezes não encontra recetividade à mensagem na opinião pública.

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detrás guerras, estão também associadas a uma explosão demográfica em África que se vai trans-formar num enorme desafio para a Europa nos próximos anos. É um enigma para os europeus no futuro próximo. Por outro lado, estamos a sofrer já as consequências das alterações climáticas, e por tudo isso a Agricultura e o seu relacionamento com a Sociedade tem pela frente um futuro recheado de incertezas, que podem trazer alterações de diver-sa ordem que não sei vislumbrar neste momento. No entanto, as tendências são a intensificação das trocas comerciais, a fixação de algumas culturas agrícolas mais adaptadas à nossa situação geo-gráfica, e grandes desafios no acesso à água para regadio no Sul da Europa. São alterações exóge-nas que dificultam o traçar de um cenário objetivo a médio e longo prazo.

O regadio é crucial para a competitividade da agricul-tura portuguesa. A UE deve fazer mais para apoiá-lo?

Há nitidamente uma Europa do Norte, que não tem problemas de quantidade de água, e uma Europa do Sul, que tem claramente um problema de falta de água. Se até agora esta questão era minimizada pela construção de algumas barragens, as altera-ções climáticas estão a dificultar a resolução do pro-blema da irregularidade da ocorrência de chuvas, e também da diminuição da média da pluviometria. Chove menos e de forma mais concentrada, pelo que a importância de haver local e capacidade para a armazenar se veio intensificar e de forma urgente. Só assim criaremos mais reservas da água. Ora, o regadio é a forma de manter uma atividade agrícola empresarial no Sul da Europa, a não ser assim teria

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que ser equacionada uma nova forma de ocupação do território, financiada por recursos vindos de fora da agricultura. Tenho dúvidas que a Sociedade esteja preparada para encetar esse tipo de discussão. Não vejo que os contribuintes europeus queiram pagar aos agricultores para manterem as terras no mundo rural em bom estado sem uma contrapartida. Nem os agricultores o aceitariam. Há que continuar a es-tudar as soluções para fomentar a agricultura de regadio com resultados económicos que permitam às pessoas viver desta atividade, e isso significa in-vestir em mais reservatórios estratégicos de água, com fins múltiplos, como bem demonstra o caso de Alqueva.

O orçamento da PAC é suficiente para dar o apoio ne-cessário ao regadio no Sul da Europa?

É necessário reforçar o investimento no regadio e na criação de mais reservas de água. O Alqueva é o exemplo mais paradigmático e está a demonstrar o resultado positivo que trouxe ao país. É um modelo que teremos que seguir noutras regiões, obviamen-te com outras dimensões, e modernizando infraes-truturas que já existem, como seja o complexo do Cachão em Trás-os-Montes. Até o Oeste começa a ter necessidade de olhar para o regadio de forma diferente, pois precisa de infraestruturas de abaste-cimento de água para rega que assegurem a susten-tabilidade das culturas agrícolas que ali se fazem de forma muito profissional, e com compromissos co-merciais assumidos perante clientes portugueses e estrangeiros. E o mesmo se passa na bacia do Tejo, onde o acesso à água e a sua gestão está pouco es-truturada. O Vale do Tejo, que é a maior zona de re-gadio do país, não tem nenhuma obra de rega asso-ciada, os agricultores dependem da água que corre, e por isso estão sujeitos à disponibilidade do caudal do rio, que é condicionado pelo uso da água para produção de energia elétrica a montante. O acesso à água é um problema complicado, há quase um ano que não chove…

A retirada de substâncias ativas de produtos fitofarma-cêuticos em Portugal e na UE preocupa a CAP?

Hoje em dia não é possível fazer agricultura sem ter algum tipo de controlo sobre as pragas e doenças, porque de outro modo o agricultor arrisca-se a per-der grande parte das culturas e pode mesmo ficar arruinado. A reavaliação de substâncias ativas de produtos fitofarmacêuticos e a sua substituição por outras mais evoluídas resulta da permanente evolu-ção com base na ciência e no conhecimento. É um caminho natural e é bom que assim seja. Muitas ve-zes o que acontece é que a falta de objetividade com que algumas notícias são veiculadas transformam os produtos em grandes alvos a abater, e de um momento para o outro quer-se proibir determinado produto sem que haja uma alternativa ou um substi-tuto. Por exemplo, o gramoxone só saiu do mercado quando surgiu o glifosato como alternativa. Já para o glifosato não parece haver, por enquanto, um subs-tituto com a mesma eficácia. Não podemos pensar que é possível continuar a alimentar o mundo sem o uso de produtos químicos, isso é certo.

A eventual retirada do glifosato do mercado europeu, que impacto teria na agricultura nacional?

Dou-lhe o exemplo das medidas agro-ambientais, um agricultor que tenha aderido à sementeira direta ou à mobilização mínima não consegue fazer a se-menteira se não puder aplicar o glifosato para con-trolar as infestantes que ficaram da cultura anterior. O glifosato é um herbicida com toxicidade residual e que atua de forma muito abrangente nas infestantes que se pretenda controlar. Ao invés de usar dois ou três produtos, apenas com o glifosato resolve-se o problema. É essa característica que faz deste pro-duto um fenómeno de sucesso. Ironizando, os agri-cultores não estão apaixonados pelo glifosato, no dia em que surja um substituto com o mesmo alcance, e com o mesmo nível de competitividade económica, nesse dia o glifosato pode ser banido. Até lá, e não havendo suficiente prova científica que o justifique, e não há, pelo contrário, a sua proibição será apenas uma cedência à demagogia.

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Fito_temaAproximar o consumidor da Agricultura

Aproximar o consumidor urbano da Agricultura é um dos maiores desafios da atualidade e só através de comunicação transparente, positiva e coordenada será possível desfazer mitos e sensibilizar a Sociedade para o papel vital do setor primário. A FitoSintese ouviu a opinião de várias entidades sobre este tema.

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O consumidor urbano não está ciente dos desafios da Agricultura e a razão é óbvia: atualmente mais de metade da população mundial vive em cidades e na União Europeia esta percentagem é ainda mais ele-vada - 75% dos europeus reside em zonas urbanas.As cidades estão fortemente dependentes do mundo rural para satisfazer as suas necessidades em recur-sos energéticos, em água e em alimentos, no entan-to, em geral, o consumidor urbano não tem noção do esforço necessário e dos métodos usados para pro-duzir alimentos. «Isto acontece porque felizmente nunca faltaram alimentos nos países ditos “civiliza-dos”, acho que é de extrema importância mostrar à Sociedade a importância deste setor», José Pereira Palha, agricultor e presidente da ANPOC, põe o dedo na ferida.

Do desconhecimento e da desinformação surgem mitos: «Infelizmente a noção que o público em ge-ral tem da agricultura moderna, é o abuso siste-mático dos fatores de produção, que levam a uma incerteza relativamente à segurança alimentar e ao sabor e à qualidade dos produtos agrícolas», re-conhece Maria do Carmo Martins, secretária-geral do COTHN, acrescentando «desconhecem o quanto a agricultura moderna se aproxima de uma ativida-de tecnologicamente evoluída, que a utilização dos fatores de produção é realizada ao pormenor, por exemplo a aplicação de produtos fitofarmacêuticos obedece a estimativas de risco e a níveis económicos de ataque que definem como e quando intervir, para evitar desequilíbrios».

É de todo o interesse para o setor agrícola desfazer os mitos e explicar à Sociedade que «nós agriculto-res e as nossas organizações somos os principais preocupados na preservação da biodiversidade e dos recursos naturais, porque estas são as nossas fer-ramentas de trabalho», avança José Pereira Palha. Entre essas ferramentas estão os produtos fitofar-macêuticos, sobre os quais existem muitos mitos, que urge desmistificar: «a correta utilização dos fi-tofármacos não afeta nem o ambiente, nem a quali-dade dos alimentos e sem estes produtos não con-seguimos proteger as nossas culturas e as perdas de produção seriam enormes», explica o presidente da ANPOC.

É preciso comunicar com verdade e assumir a reali-dade dos factos: a Agricultura é uma atividade eco-nómica, que presta um serviço vital à Sociedade e

que por isso deve ser «adequadamente remunerada – pelo mercado e/ou por apoios públicos – de modo a garantir um nível de vida digno aos agricultores e às suas famílias», comenta Aldina Fernandes, Secretá-ria-Geral Adjunta da CONFAGRI.Além das conhecidas projeções da FAO-Organiza-ção das ONU para a Agricultura e Alimentação – a produção agrícola deverá aumentar 60% para suprir as necessidades dos 9 mil milhões de pessoas que deverão habitar o planeta em 2050 –, o desempenho do setor agrícola é determinante para garantir a Se-gurança Alimentar. Ou seja, só com uma agricultura intensiva e sustentável poderemos produzir uma va-riedade de alimentos que supram as necessidades nutricionais dos seres humanos, com fornecimento regular e a preços acessíveis às populações.Por tudo isto é necessária maior informação, maior sensibilização e um debate mais alargado sobre os desafios do setor agrícola, que envolva os consumi-dores.

«A campanha “Considere os Factos” promovida pela ANIPLA constitui um bom exemplo, tanto na forma como no seu conteúdo, de comunicação e sensibili-zação do consumidor», reconhece Aldina Fernandes.A ANIPLA deu um passo importante com esta cam-panha, mas muito mais há a fazer para aproximar o mundo rural do consumidor urbano. «É urgente haver uma comunicação mais eficiente com os con-sumidores, saber das suas preocupações e desejos, desmontar mitos, e, pela positiva, mostrar a impor-tância do setor, porque toda a gente precisa de um agricultor todos os dias da sua vida!», recorda José Pereira Palha.

Comunicar de forma coordenada e sistemática é essencial para fazer chegar a mensagem. «É assim que os outros setores fazem e é isso que temos que fazer. Comunicar o quanto a agricultura é verde por inerência e o quanto os nossos produtos são de ele-vada qualidade e seguros», remata Maria do Carmo Martins. Existem aliás provas disso mesmo, como recorda Marta Manoel da Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do Solo (APOSOLO):«É preciso que os consumidores saibam que os ali-mentos na Europa são seguros. O relatório da EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar) confirma que 97% dos alimentos da União Europeia não apresentam resíduos de fitofarmacêuticos. Es-tes dados indicam que a indústria e os agricultores têm cumprido a legislação comunitária».

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Fito_Tema

«A campanha “Considere os Factos” promovida pela ANIPLA constitui um bom exemplo, de comunicação e sensibilização do consumidor», Aldina Fernandes, CONFAGRI - Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas de Portugal

«Nós agricultores somos os principais preocupados na preservação da biodiversidade e dos recursos naturais», José Pereira Palha, ANPOC- Associação Nacional dos Produtores de Cereais

«É preciso que os consumidores saibam que os alimentos na Europa são seguros», Marta Manoel, APOSOLO - Associação Portuguesa de Mobilização e Conservação do Solo

«É urgente comunicar o quanto a agricultura é verde por inerência», Maria do Carmo, COTHN - Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional

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In_AniplaEfluentes de produtos fitofarmacêuticos

Comissão de Agricultura Sustentável

Os efluentes fitossanitários nem sempre são in-cluídos no planeamento que deve ser feito ante-riormente à utilização de produtos fitofarmacêu-ticos. Contudo, a sua gestão está definida nos termos da lei n.º 26/2013.

Existem várias formas de gerir estes volumes que são substanciados, essencialmente, por exceden-tes de calda e águas resultantes da lavagem in-

terna e externa dos pulverizadores. Estes efluen-tes podem ser geridos em campo ou recorrendo a sistemas dedicados instalados nas explorações agrícolas.

Quando o agricultor procede à lavagem externa e interna do pulverizador no campo deve variar o local onde o faz, por forma a evitar contaminação desse local. Dizem as boas práticas que os efluen-

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In_Anipla

tes da lavagem interna devem ser pulverizados em zona de coberto vegetal não destinado a con-sumo humano e animal, e que não tenha sido alvo de tratamento fitossanitário.

Caso o agricultor opte por uma solução que seja mais controlada do ponto de vista ambiental e do ponto de vista da produtividade da exploração, existem sistemas de tratamento de efluentes fi-tossanitários que estão perfeitamente desenvolvi-dos e já vão sendo utilizados um pouco por toda a europa, resultando da maior consciencialização em relação à contaminação da água por parte dos agricultores e responsáveis das explorações agrí-colas.

Os sistemas existentes, alguns funcionam por desidratação natural, em que a água evapora por ação do sol e do vento. Nestes sistemas, o resul-tado final é um resíduo seco depositado ou contido num plástico, que deve ser encaminhado para um operador de gestão de resíduos licenciado para a gestão de resíduos perigosos.

Existem igualmente sistemas de degradação bió-tica, que promovem a degradação dos efluentes por ação microbiológica sob determinadas condi-ções de luz, humidade e arejamento. Nestes siste-mas, o resultado final é um resíduo que pode ser eliminado por incorporação no solo.Para o caso de ocorrerem derrames e de existi-rem outros resíduos perigosos estes devem ser encaminhados para operadores licenciados para a gestão e valorização de resíduos perigosos. Contudo, neste aspeto como em tantos outros a prevenção é a chave. O operador tem ao seu dis-por diversas estratégias para reduzir a produção de efluentes e, por conseguinte, prevenir o gasto

de tempo e energia na sua gestão. Algumas des-tas medidas estão patentes no novo folheto da Anipla relativo à gestão de efluentes de produtos fitofarmacêuticos, onde se indicam medidas para prevenir a produção de efluentes, entre as quais estão:

• Selecionar um pulverizador com menor volume total residual, no ato da sua aquisição;

• Calcular o volume de calda a utilizar da forma mais exata possível;

• Dosear de forma exata a água a colocar na pre-paração da calda;

• Efetuar a tripla lavagem das embalagens vazias e a incorporar a água de lavagem na preparação da calda;

• Lavar o exterior do pulverizador com água sob pressão para minimizar o volume da água de lavagem;

• Lavar internamente o pulverizador, diluindo três vezes o volume técnico do pulverizador com o objetivo de atingir a diluição final de 1/100 no fi-nal do processo, deste modo poupa-se 50% da água comparando com uma diluição única.

Estas são algumas das boas práticas que a Anipla aconselha quando se trata da correta gestão dos efluentes fitossanitários produzidos numa explo-ração agrícola. Estas medidas, são adaptáveis a todas as escalas de agricultura, sendo que cada agricultor deve optar pela solução mais adequada e que salvaguarde sempre a sua saúde, a saúde de quem o rodeia e do ambiente.

Uso seguro de fitofarmacêuticos em áreas não agrícolas

Comissão Não Agrícola

O reconhecimento da necessidade da Anipla dis-por de um fórum de discussão e construção de propostas de interesse comum, relativas à utiliza-ção de produtos fora do habitual âmbito agrícola, culminou na criação de uma nova comissão de trabalho Não-Agrícola.Assim, o mais recente grupo de trabalho da Anipla visa salvaguardar a utilização segura de produtos

fitofarmacêuticos fora do âmbito agrícola, como por exemplo, florestas, áreas urbanas, industriais e espaços de lazer e, ainda, nos vários aspetos li-gados aos produtos chamados não profissionais e que, nesse sentido, não se enquadram na Lei nº 26/2013, bem como produtos Biocidas, registados na Direção Geral de Saúde(DGS) e na Direção Ge-ral de Alimentação e Veterinária (DGAV).

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Autorização de produtos fitofarmacêuticos na Europa

Comissão Técnica de Homologação

O processo de avaliação de uma substância ativa na UE requer mais de 100 estudos específicos (to-xicologia, resíduos, ambiente, eficácia, entre ou-tros) e demora em média cerca de três anos, des-de que o dossier de aprovação é submetido pela indústria ao Estado-Membro Relator, passando depois pela avaliação da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA), até à votação final pela Comissão Europeia. Uma decisão positiva de aprovação exige maioria qualificada de 55% no Comité SCoPAFF, onde estão representados os 28 Estados-membros. Considerando este já longo processo, existem ainda assim enormes atrasos na aprovação e revisão de substâncias ativas, sen-do regra na generalidade dos Estados-membros o incumprimento dos prazos estabelecidos por lei. «Estes atrasos são um revês para a competitivi-dade da agricultura europeia, porque muitas ve-zes as ferramentas já disponíveis noutras regiões do Globo chegam à Europa com atraso», explicou Paulo Lourenço da Comissão Técnica de Homolo-gação da ANIPLA, num seminário organizado na Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universida-de Nova de Lisboa, no Monte da Caparica.

A autorização de venda de um produto fitofarma-cêutico está sujeita a um processo distinto do da autorização da substância ativa, enquanto esta é decidida a nível europeu, os produtos comerciais (substâncias ativas formuladas) são avaliados e autorizados por zonas: Norte, Centro e Sul da UE. Neste caso é o Estado-Membro Relator que deci-de da autorização de registo, cabendo aos restan-tes Estados-membros decidir se aceitam ou não a avaliação efetuada, podendo autorizar ou recusar o registo do produto no seu território. Cada Esta-do-membro só pode autorizar produtos regista-dos na Zona a que pertence, à exceção de produ-tos para culturas protegidas e para tratamento de sementes. As regras decorrem do Regulamento nº 1107/2009, que veio trazer alguns critérios penalizadores no processo de autorização, face à Diretiva anterior (91/411), nomeadamente, o critério de “cut off” (substâncias ativas eliminadas à partida por ca-racterísticas intrínsecas) e a figura de “candidata a substituição” (substâncias ativas cujo uso é mais restrito e que são sujeitas a revisão por avaliação comparativa com outras s.a., após sete anos no mercado, a avaliação é realizada no Estado-Mem-bro onde estão autorizadas).

A autorização de produtos fitofarmacêuticos na União Europeia é um processo cada vez mais longo e exigente, que padece de atrasos no cumprimento dos prazos legais por parte dos Estados-membros. A ANIPLA reuniu-se com técnicos de associações agrícolas, a 5 de dezembro, no Monte da Caparica, para informar e sensibilizar para a necessidade de uma ação conjunta de lobby em prol da maior celeridade na revisão e aprovação de produtos para proteção das culturas.

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In_Anipla

Tempo e taxas de registo

O que também mudou nos últimos 20 anos foi o custo de aprovação de uma substância ativa, que passou de um valor médio de 127 milhões de euros, em 1995, para 237 milhões de euros, em 2008, com a maior fatia dos custos a ser absorvida pelas fases de desenvolvimento e registo. O tempo de registo previsto pela legislação comunitária varia entre 12 e 16 meses (autorização de venda) ou 9 a 16 meses (aprovação de subs-tância ativa), no entanto, é comum o atraso das autoridades respon-sáveis pela homologação na generalidade dos países da UE, seja por carência de meios humanos, ou outras razões. Portugal não é exceção, e apesar da sólida competência técnica e pragmatismo da equipa da Di-reção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), verificam-se atrasos que penalizam os agricultores. «A DGAV está envidar esforços para que o tempo de registo possa ser reduzido. Estará para breve a contratação de peritos externos que vão auxiliar os técnicos da DGAV em algumas partes dos dossiers de avaliação. No entanto, apenas atuarão relativa-mente a novos produtos submetidos e não em processos já entregues para avaliação», explicou Paula Rebelo, da Comissão Técnica de Homo-logação da ANIPLA. O trabalho destes técnicos será custeado, nomea-damente, através das taxas pagas pela indústria e outras entidades que requerem a homologação dos produtos fitofarmacêuticos.

Desafios futuros

Neste quadro regulamentar e perante a emergência de novas pragas e doenças, algumas sem forma de controlo devido a problemas de resis-tências ou por falta de eficácia de alguns produtos fitofarmacêuticos, a indústria e os agricultores enfrentam desafios importantes que exigem uma união de esforços para fazer valer a sua posição nas instâncias políticas nacionais e europeias. «É cada vez mais importante ter a co-laboração e apoio dos técnicos e representantes dos agricultores para salvaguardarmos as soluções de proteção das culturas atuais e para que a indústria possa concentrar esforços no desenvolvimento de so-luções de nova geração», apelou Catarina Reis da Comissão Técnica de Homologação da ANIPLA.É neste contexto que a ANIPLA organizará em 2018 um conjunto de jor-nadas sobre autorização de produtos fitofarmacêuticos que se pretende venham a ter a participação da DGAV, de técnicos e agricultores, para que em conjunto sejam discutidos os problemas do setor e encontra-das soluções que continuem a garantir a competitividade da agricultura nacional. «É necessário que todos no setor conheçamos o processo (de registo) para que em momentos chave nos possamos apoiar mutua-mente», afirmou Felisbela Campos Torres, presidente da ANIPLA, no encerramento deste seminário.

O que saiu e o que entrou

Nos últimos dois anos foram aprovadas apenas 4 novas subs-tâncias ativas na UE – espinetorame, fluxapiroxade, halauxi-feno-metilo e Bacillus firmus –, nenhuma das quais em 2017. Nos últimos 18 meses, nenhuma nova substância ativa foi submetida a aprovação na UE.Paralelamente, foram canceladas sete substâncias ativas (isoproturão, ioxinil, amitrol, linurão, triassulfurão, iprodiona, ciflutrina).

Felisbela Campos Torres, presidente da ANIPLA

Paulo Lourenço, Comissão Técnica de Homologaçãoda ANIPLA

Paula Rebelo, Comissão Técnica de Homologaçãoda ANIPLA

Catarina Reis, Comissão Técnica de Homologaçãoda ANIPLA

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Fito_Global«É preciso que o consumidor não dê a alimentação por garantida»

Francisco Sarmento, chefe do escritório de informação da FAO-Organização da ONU para a Agricultura e Alimentação em Portugal e junto da CPLP, alerta que podem ocorrer quebras muito importantes na produção alimentar mundial se a saúde das plantas não for encarada de forma responsável e com inovação.

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Quais as linhas prioritárias de atuação do escritório da FAO em Portugal?

A nossa principal missão é a sensibilização da opinião pública para os objetivos estratégicos da FAO e o apoio na implementação da Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP-Co-munidade dos Países de Língua Portuguesa, as-sinada pelos chefes de Estado dos 9 países mem-bros em 2012.

Em que consiste a Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP?

Esta Estratégia surgiu no contexto da grave cri-se dos preços dos alimentos em 2008-2009 e na sequência da reforma do Comité Mundial de Se-gurança Alimentar da ONU, que visa estabelecer uma plataforma alargada de governo do sistema alimentar global, com vista a eliminar o flagelo da fome. A Estratégia é uma parceria entre a FAO e a CPLP com 3 eixos de ação: construção de uma governança adequada para o sistema alimentar dos países da CPLP; proteção social de grupos vulneráveis à insegurança alimentar (quem tem fome não pode esperar) e fortalecimento da agri-cultura familiar. A FAO considera que a fome e a má nutrição se resolvem com políticas públicas adequadas.

O que foi conseguido de concreto com essa Estratégia?

Criou-se um Conselho Regional de Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP, que já reuniu 3 ou 4 vezes. O grande objetivo deste órgão multila-teral (no qual participam governos, parlamentos, sociedade civil, empresas, ensino e investigação) é promover a coordenação e o alinhamento das políticas públicas de segurança alimentar e nu-tricional. Os países acordaram a implementação de pro-gramas de alimentação, saúde e nutrição escolar, num processo de aprendizagem mútua (2º eixo) e a CPLP foi a primeira região do mundo a elabo-rar um manual para a ação do fortalecimento da agricultura familiar, com o consenso de todos os Governos (3º eixo). Esta foi uma das grandes vitó-rias da Estratégia.

A nível nacional, 7 dos 9 países da CPLP criaram Conselhos Nacionais de Segurança Alimentar e Nutricional, que coordenam e monitorizam as políticas públicas relacionadas com agricultura, alimentação e nutrição, aconselhando os Chefes de Estado nas suas decisões. Portugal e a Guiné Equatorial estão em vias de constituir os seus Conselhos, todos os outros países já o fizeram.

Qual o papel de Portugal no fortalecimento da agri-cultura familiar da CPLP?

Portugal posiciona-se como país cooperante dos restantes membros da CPLP, com recursos e meios técnicos e humanos, mas também tem os seus problemas para resolver em matéria de agricultura familiar. No entanto, é preciso que se diga que Portugal iniciou um processo de alguma desconexão face aos sistemas alimen-tares dos restantes países da CPLP, que ainda não conseguiu inverter. Portugal tem um imenso know-how em matéria de agricultura e alimen-tação que deve ser aproveitado para cooperar com estes países, embora com um novo modelo face à sua posição de membro da União Euro-peia.

A FAO apoia a criação de um acordo de comércio para produtos da agricultura familiar nos países da CPLP. Qual é a importância deste acordo?

Os Governos dos países da CPLP concordaram em fazer uma proposta de acordo de comércio para produtos oriundos da agricultura familiar, que têm uma qualidade distinta e, por isso, me-rece ser notabilizada no mercado através de um sistema de certificação de qualidade conjunto. Se os países da CPLP tiverem uma estratégia de fomentar o intercâmbio e as trocas comerciais deste tipo de produtos, estaremos a abrir mer-cados para os agricultores familiares fora do seu país de origem. Há uma complementaridade que deve ser aproveitada. É a primeira vez que se faz um estudo sobre o impacto dos benefícios das trocas comerciais intra-CPLP para pequenos agricultores desses países.

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Esse acordo significa que deixarão de existir taxas e barreiras alfandegárias entre países da CPLP?

Não obrigatoriamente. O objetivo último do acordo é fortalecer os agricultores familiares, e se em determinado país as taxas fizerem sen-tido para proteger os agricultores, há que não ter medo de as criar/manter. Historicamente os países que têm uma agricultura familiar forte passaram várias décadas a proteger o seu mer-cado. Noutras situações, a eliminação das taxas e barreiras pode ser benéfica.

Considera que a população (maioritariamente urba-na) está ciente dos desafios da agricultura?

Tenho dúvidas, porque o grau de industrializa-ção dos alimentos e os locais onde se compram (maioritariamente supermercados) distancia os consumidores da base produtiva. No entanto, as gerações mais jovens mostram maior preocu-pação com o que comem, pode ser uma tentati-va de aproximação.

Que medidas devem ser tomadas pelo setor agrí-cola para aproximar o consumidor da agricultura?

A educação e a sensibilização dos consumido-res nos locais de venda é importante, tal como a inclusão das preocupações da agricultura nos currículos escolares do ensino básico e secun-dário. O trabalho conjunto entre os ministérios da Agricultura e da Educação, com a participa-ção dos agricultores, é o que pode gerar maior aproximação entre consumidor e agricultura. Os Conselhos Nacionais de Segurança Alimen-tar e Nutricional nos países da CPLP podem ser fóruns relevantes para concertar ações conjun-tas.

A FAO está próxima das organizações de agriculto-res portuguesas?

Partilhamos o mesmo interesse coletivo. Esta-mos em diálogo com a CAP, a AJAP, a CNA e de futuro temos como prioridade dialogar com o setor agrícola cooperativo. O escritório da FAO em Portugal é um ponto de divulgação de infor-mação sobre as orientações da FAO a nível glo-bal e pode ser útil à atividade dessas entidades.

O Governo da Finlândia propôs à FAO, em Julho passado, que 2020 seja declarado Ano Internacional da Fitossanidade pela ONU. Qual é a importância da fitossanidade na prossecução dos Objetivos de De-senvolvimento Sustentável (Agenda 2030)?

A fitossanidade (saúde das plantas) tem uma repercussão imensa no sistema alimentar. A disseminação de pragas e doenças é agravada pela globalização e se estas não forem devida-mente controladas podem pôr em causa o apro-visionamento regular de alimentos numa série de geografias. É um problema grave e muito preocupante devido às resistências crescentes das pragas e doenças a determinados produtos fitossanitários, que deixaram de ser eficazes, tal como acontece com os medicamentos para a saúde humana. Há um mundo imenso de desafios na sanidade vegetal e se não forem abordados de forma séria e responsável, numa perspetiva multiator, podemos ter quebras mui-to importantes na produção alimentar mundial. É preciso que o consumidor não dê a alimenta-ção por garantida.

Como conciliar a necessidade de produzir mais ali-mentos com políticas cada vez mais restritivas ao uso de produtos fitofarmacêuticos?

Inovação é a resposta. Deve haver uma forte de-terminação da indústria em inovar, mas é neces-sário um ambiente institucional e regulamentar que favoreça a Inovação. A atitude responsável por parte dos Governos e dos organismos in-ternacionais consiste em remover obstáculos à construção da Inovação. Devemos olhar para os problemas da fitossanidade e o seu impacto na produção de alimentos e construir coletivamen-te um caminho merecedor do envolvimento ativo e do compromisso de todas as partes. Conciliar os circuitos de produção e fornecimento regular de alimentos à população mundial com ques-tões de sustentabilidade ambiental, saúde e equidade alimentar só é possível com Inovação: técnica, institucional e de políticas públicas. E isso só se consegue com um pacto, onde a in-dústria é uma parte fundamental.

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Fito_Global

Fito_Agenda

9 > 11 mar.FRUTITEC/HORTITEC/EXPOJARDIMExpoSalão BatalhaSaber mais

7 > 8 abr. 24H Agricultura SyngentaEscola Superior Agrária de Ponte de LimaSaber mais

7 fev.9º Colóquio Nacional do MilhoHotel Axis VermarPóvoa do VarzimSaber mais

23 > 24 fev.LusofloraCNEMASantarémSaber mais

27 abr. > 1 mai.OvibejaBejaSaber mais

20 > 24 fev.FIMA - Feira Internacional de Maquinaria AgrícolaSaragoça, EspanhaSaber mais

7 > 9 fev.Fruit LogisticaBerlim, AlemanhaSaber mais

2 > 10 jun.Feira Nacional de AgriculturaCNEMASantarémSaber mais

5 > 7 set.AgroglobalValada do RibatejoSaber mais

1 > 3 fev.V Congresso Ibérico de ApiculturaUniversidade de CoimbraSaber mais

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Associação Nacional da Indústria para a Protecção das Plantas

anipla.com

Tudo começa com uma semente.

Season's Greetings!Boas Festas!

All begins with a seed.