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1 NOTA IMPORTANTE. FAVOR TOMAR CONHECIMENTO COM A ATENÇÃO DEVIDA: A REVOLUÇÃO DOS ASTROS viagem astronômica da Terra até os limites do sistema no qual vivemos (De novis revolutionibus orbium cœlestium) terceira edição revista e ampliada Paulo Marques 2009

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NOTA IMPORTANTE. FAVOR TOMAR CONHECIMENTO COM A ATENÇÃO DEVIDA:

A REVOLUÇÃO DOS ASTROS viagem astronômica da Terra até os limites do sistema no qual vivemos

(De novis revolutionibus orbium cœlestium)

terceira edição revista e ampliada

Paulo Marques

2009

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Você está recebendo esta obra e já na sua terceira edição revista e ampliada, sob a forma

de arquivo eletrônico em “pdf”, de maneira totalmente graciosa. Poderá ser impresso,

lido ou consultado de modo também gracioso, bastando para isto baixar o download

disponível na home-page: http://pauloqmarques.googlepages.com . Por isto poderá ser

utilizado livremente e sem qualquer ônus aos que dela fizerem uso. Solicita-se, contudo,

a citação do crédito correspondente à obra e ao autor, bem como através do envio do

artigo por ela gerado ou dele extraído. As comunicações com o Autor poderão se

processar via e-mail, pelo seguinte endereço eletrônico: [email protected] . VETADO

O USO COMERCIAL DESTA OBRA SOB FORMA PARCIAL OU INTEGRAL.

No entanto, o autor reserva-se a si próprio o direito de, a qualquer momento, editá-lo

sob forma impressa. Eventual transgressão será passível da aplicação das penalidades

previstas na Lei número 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Para que estejam assegurados

os direitos do Autor, informa-se que o arquivo eletrônico a ele referente (e já na 3ª

edição revista e ampliada) foi disponibilizado em setembro de 2009. Apropriação

indébita e indevida posterior a esta data caracteriza pirataria e usurpação de propriedade

intelectual, o que se configura crime penado por Lei*. O Autor desta obra lembra que

todos os eventuais pedidos de sua utilização serão autorizados, desde que solicitados de

maneira formal. Ou seja, através de solicitação ou ofício nominalmente a ele dirigido e

sempre através do mail acima citado.

capa: têmpera sobre tela “O nascimento de Vênus”, Sandro Botticelli (1446-1510), pintado provavelmente em 1485. Original mantido na Galleria degli Uffizi, Florença, Itália. _____________________________________________________________________ Catalogação realizada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação da FFLCH/USP:

* Solicita-se a todos os leitores que obtenham conhecimento da Lei de Direito Autoral, que se encontra integralmente reproduzida na p. 104 desta obra (ANEXO1).

M357r Marques, Paulo, 1945 -

A revolução dos astros: viagem astronômica da Terra até os limites do sistema no qual vivemos (De novis revolutionibus orbium cœlestium) [recurso eletrônico] / Paulo Marques ; [apresentação e revisão Miguel Glugoski ; prefácio Shozo Motoyama ; revisão técnica Mário De Biasi ; edição eletrônica Hermi Felinto de Brito]. -- [São Paulo] : P. Marques, 3ª edição revista e ampliada, setembro de 2009.

110 p. : ilustrado ; Dados eletrônicos (1 arquivo com aproximadamente 1,3 MB).

Requisitos do sistema: Adobe Acrobat Reader.

Modo de acesso: World Wide Web: <http://pauloqmarques.googlepages.com>.

1. Astronomia 2. Astronomia de posição 3. Meteorologia 4.Mitologia grego-romana (Astronomia) 5. Ciências da terra II. Título.

21. CDD 525

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“A Astronomia, tanto pela dignidade do seu objetivo quanto pela perfeição de suas

teorias, é o mais belo monumento do espírito humano e o título mais nobre de sua

inteligência”.

LAPLACE

“Caeli enarrant gloriam Dei et opus manus eius adnuntiat firmamentum”

Psalm 19:1*

“Se a luz de mil sóis

Brilhasse de uma só vez no céu

Seria equivalente ao esplendor do Todo Poderoso “.

OPPENHEIMER**

Este livro é dedicado à memória de Hernando da Silva Marques, meu pai.

∗ “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” – Salmo 19, verso 1 (conforme tradução do original grego para a versão da Vulgata Latina feita por São Jerônimo, considerado o primeiro tradutor da Bíblia). ** Passagem do interessantíssimo livro sagrado do hinduísmo, Bhagavad-Gita (capítulo 11, verso 12), relembrada e mencionada oralmente pelo físico norte-americano Julius Robert Oppenheimer (gestor civil do Projeto Manhatthan) ao assistir à explosão da primeira bomba atômica em 16 de julho de 1945, na região desértica de Alamogordo, no Estado norte-americano do Novo México. Trecho extraído de: Dias. Jr. José Augusto & Roubicek, Rafael. O brilho de mil sóis: história da bomba atômica. São Paulo, Ática, 1994. p. 5.

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Agradecimentos

Vida é sorte perigosa passada na obrigação

toda noite é rio-abaixo todo dia é escuridão".

Guimarães Rosa, Grande sertão veredas

Registro meus sinceros e mais profundos agradecimentos aos mestres, colegas, amigos,

familiares e as pessoas às quais admiro e que, direta ou indiretamente, inspiraram ou

incentivaram a concretização deste livro. Igualmente, aos que com as suas significativas

presenças marcaram a trajetória da minha existência: Sofia, Ana Luísa, Ana Carolina e

Ana Paula Marques, todas pertencentes – ao menos até o presente momento, felizmente!

– ao populoso harém das minhas descendentes; Paula, Ciça e Lucy Gomes; Alberto

Luiz da Rocha Barros (in memoriam), Décio Leal de Zagottis (in memoriam), Rev. Dr.

Samuel Martins Barbosa (in memoriam), Christina Motta, Shozo Motoyama, José

Goldemberg, Luís Carlos Menezes, Nelson Papavero, José Jeremias de Oliveira Filho,

Júlio Roberto Katinsky, Ivan Rocha Neto, Wilson do Nascimento Barbosa, Luiz

Eduardo Simões de Souza, Edson Emanoel Simões, Renato Teixeira Vargas e ao Prof.

Francisco César Polcino Milies. E muito particularmente ao estimado colega e

destacado professor da USP, Dr. Mário De Biasi, pela acurada e competente leitura

crítica dos originais. Desejo, de igual maneira, render minha homenagem ao Jornalista

Miguel Glugoski por sua meticulosa e talentosa revisão ortográfica e estilística dos

originais, bem como ao Prof. Dr. Hermi Felinto de Brito pela inestimável ajuda na

elaboração da edição eletrônica desta publicação. Entretanto, todas as imprecisões

eventualmente existentes são de minha integral responsabilidade. Sou especialmente

grato à pessoa do já falecido empresário Victor Civita, dono da Editora Abril, que, por

puro mecenato e generosidade, em 1973 depositou irrestrita confiança num inexperiente

jornalista e, mais ainda, a um cientista sem a menor expressão no mundo acadêmico ou

científico. Ousado jovem que, em abril de 1973, como o único profissional de imprensa

latino-americano, encontrava-se presente à missão que partia da Europa para a África

rumo à cobertura jornalística do eclipse total do Sol ocorrido no dia 30 de junho daquele

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mesmo ano e observável em sua maior duração de tempo do interior da remota e exótica

República Islâmica da Mauritânia, em meio a inóspito e hostil ambiente saariano

habitado por rudes, mas extremamente carinhosos nômades da tribo dos tuaregues.

Nota da 3ª edição revista e ampliada:

Nesta terceira edição, devidamente revista e ampliada, optou-se pelo acréscimo de itens

relevantes e insuficientemente pouco explorados nas edições anteriores. Assim, nela

foram adicionados aspectos complementares referentes às reações nucleares, uma das

quais ocorre no interior do Sol e que se encontram devidamente explicitadas no

ANEXO3. Optou-se, igualmente, por explicações mais detalhadas sobre a existência e a

natureza da dorsal meso-atlântica. Neste sentido, nela incluem-se imagens obtidas em

seus menores e nos maiores afastamentos existentes afloramento existente no Parque

Nacional de Þingvellir [pronuncia-se Thingvellir], na Islândia, em fotos tiradas pelo

Autor em viagem àquele longínquo país e obtidas no dia 10 de maio de 2009 e, que,

nesta presente edição situam-se ao final do capítulo que trata dos terremotos, maremotos

e tsunamis. De igual maneira procedeu-se ao acréscimo da fórmula com a qual se

calcula a sensação térmica e que se encontra inserida ao final do capítulo que trata do

poder dos furacões e dos elementos de meteorologia. Por último, ao final do capítulo

que aborda o efeito estufa, foram acrescidos dados referentes aos mecanismos físicos e

químicos que regulam a dinâmica do aquecimento global ao qual toda a humanidade

encontra-se sujeita.

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SUMÁRIO

Apresentação

Prefácio

Introdução

Sol, o astro responsável pela vida na Terra

Mercúrio, o beija-flor do sistema solar

Vênus, o mais belo dos nossos vizinhos

Terra, um globo solto no espaço

- O tamanho do nosso planeta

- Nos terremotos, maremotos e tsunamis, as violentas agitações da Terra

- O terrível poder de destruição dos furacões / Elementos de Meteorologia

- No efeito estufa, o preço do progresso

Lua, a nossa acompanhante há quatro bilhões de anos

- A corrida espacial e a conquista da Lua

Marte, o misterioso planeta vermelho

- Robôs confirmam existência de água em Marte

Asteróides, os grãos de poeira do sistema solar

Júpiter, o gigante do sistema solar

Saturno, o belo planeta dos anéis

Urano, o deus grego do céu

Netuno, o planeta “descoberto” pela Matemática

Plutão, o “ex-último” planeta do sistema solar

Cometas, os elegantes habitantes do sistema solar

Estrelas: os milhões de sóis do universo

Na Via-Láctea, o nosso Sol perdido dentre 100 bilhões de outros sóis

Do céu à Terra: a presença da Astronomia no nosso cotidiano

- Natal, uma festa ligada à Astronomia

- A curiosa história do calendário ocidental

Posfácio: em agosto de 2006 surge a novíssima Astronomia

Sobre o autor

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Apresentação

Quem sempre viveu no eclipse das redações e de astronomia só se lembra por dois

episódios — a visão maravilhosa por três noites seguidas de um cometa, na infância

paranaense, e um sonho de seis luas-cheias simultâneas dispostas em linha na abóbada

do céu — nada pode acrescentar ao livro de Paulo Marques, um homem de cultura

verdadeiramente universal. Deus me livre de parecer pedante ou de considerá-lo assim,

mas o Paulo me lembra o filósofo italiano Pico della Mirandola (1463-1494), que

desafiava os acadêmicos da época para debates de omnibus rebus et quibusdam aliis

(sobre todas as coisas e mais algumas). Na verdade, Paulo não desafia ninguém para

debate nenhum; eu é que desafio o leitor a parar a leitura do seu livro no meio do

caminho, pois ali erudição e simplicidade andam juntas, abraçadas num estilo que

sintetiza as duas coisas que Paulo é: cientista e jornalista. O cientista eu conheci quando

defendeu tese de doutorado na USP; o jornalista, bem antes, na Redação do Estadão*,

quando na Editoria Política escrevíamos sobre constelações bem menos brilhantes que a

Via Láctea.

Resisti quanto pude ao convite do amigo para, como leitor, dar um palpite sobre “A

revolução dos astros”. Não resisti por má vontade, mas por entender que todo

apresentador deve ser mais conhecido que o apresentado, ou pelo menos tanto. E não é

o caso. Pelo contrário, como no Círculo Vicioso** de Machado de Assis, sou o pirilampo

que admira a brilhante auréola do Sol, sem, no entanto, esperar que o astro maior incline

a rútila capela e exclame: “Por que não nasci eu um simples vaga-lume?”.

Estou convencido de que o seu livro deve ser colocado em salas de aula e recomendado

a alunos do ensino médio como leitura complementar de estudos de ciências.

Constelações, estrelas, planetas, cometas, asteróides, meteoros, tudo vem bem explicado

e permeado de números, cálculos, citações e lindas histórias da mitologia greco-romana.

Afinal, só mesmo recorrendo aos deuses, senão aos poetas, para entender tanto mistério

no universo do qual somos um quase nada.

Miguel Glugoski

Jornalista

* Aqui, o ilustre colega Miguel Glugoski refere-se ao tradicional jornal paulistano de circulação diária “O Estado de São Paulo”, fundado em 1891 pela aristocrática família Mesquita, no qual ambos fomos jornalistas na segunda metade dos anos 80. O autor como repórter. Miguel como sub-editor de Política. ** O poema “Círculo Vicioso” encontra-se integralmente reproduzido na p. 105 (ANEXO2).

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Prefácio

A humanidade lançou-se no século XX a uma nova aventura rumo ao futuro. Estamos

falando da aventura cósmica e da conquista do espaço sideral iniciada não se sabe nem

quando, nem por quem. Algumas pessoas poderiam estranhar tal afirmação. Afinal, a

Era Espacial não começou com o lançamento do Sputnik I dos míticos campos de

Tyuratam**, no dia 4 de outubro de 1957? Ou então, em 20 de julho de 1969, quando o

homem pisou pela primeira vez o solo da Lua na bem sucedida missão do Apolo XI?

Estes são, sem dúvida, marcos visíveis da caminhada cósmica e cuja importância não se

quer diminuir. Entretanto, afirmar peremptoriamente que tudo começou naquelas datas

ou no seu entorno é desconhecer a história ou o seu significado. Sendo um processo, a

história não se restringe à sucessão de alguns acontecimentos isolados. Assim, não seria

descabido pensar que tudo teve o seu início em um longínquo passado e nas priscas eras

pré-históricas, quando o homem das cavernas olhou maravilhado o céu cravejado de

miríades de estrelas. Sim, porque aos poucos aquela sensação de encantamento foi se

transformando em curiosidade mais consistente e em conhecimento científico. É

verdade que para isso foram necessários milênios e milênios... Uma eternidade de

tempo.

Hoje, o que conhecemos do Universo é extraordinário. Temos uma visão

completamente diferente daquela dos nossos antepassados. Antes se imaginava o espaço

cósmico como um lugar de quietude e de calmaria. Puro engano! O panorama

desenhado pelos modernos instrumentos de detecção e de observação – telescópios dos

mais variados tipos, satélites artificiais e foguetes munidos de instrumentos e aparelhos

eletrônicos de última geração etc... – reporta a uma configuração dinâmica e viva,

porém estranha. Começa pelo fato de ele estar em expansão. Ou seja, os objetos siderais ** Neste ponto o Prof. Dr. Shozo Motoyama, que assina este prefácio, refere-se ao cosmódromo ou base espacial de lançamento de foguetes de Baikonur, localizado em Tyuratam, na atual República do Cazaquistão. Sua construção foi iniciada em 1º de abril de 1955, ocasião em que o Cazaquistão integrava uma das 15 repúblicas constituintes da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). A independência do Cazaquistão foi proclamada em dezembro de 1991, mas, ainda hoje e por força de acordos comerciais e diplomáticos, os foguetes russos continuam sendo lançados daquela base, que ocupa uma área total de 10.625 quilômetros quadrados. (Nota do Autor).

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– galáxias, estrelas, planetas, dentre outros – estarem se afastando uns dos outros com

velocidades espantosas. Mais que isto, como em um processo “biológico” os astros,

quaisquer que sejam, nascem, vivem e morrem. E viajando de um lado para outro,

nascidos não se sabe onde, os raios cósmicos com as suas minúsculas partículas de altas

energias desafiam a argúcia dos sábios, provocando fenômenos misteriosos muito além

do alcance do raciocínio vulgar. Como se não bastasse, o enigma dos buracos negros,

das lentes gravitacionais e dos quasares*** parece indicar a existência de um mundo

mais intrigante ainda, colocando em xeque as leis conhecidas da ciência. A descrição

acima não passa de uma pequena amostra da riqueza indescritível dos acontecimentos

que se antepõem à aventura humana no Cosmos neste iniciar do século XXI. Desse

ângulo, é desejável que o cidadão do mundo conheça cada vez mais os fenômenos

astronômicos para se situar no seu tempo.

Todavia, para a maioria das pessoas, como entender ocorrências celestes se elas

implicam conhecimento de complexas teorias como as da Relatividade e da Física

Nuclear? Ou então, do manejo de sofisticados instrumentais matemáticos da estatística

ou da geometria não-euclidiana? Felizmente, para solucionar esse dilema existem os

bons livros de divulgação de Astronomia. Por intermédio de obras desse tipo, o leigo

pode adquirir boa cultura em assuntos astronômicos. Neste sentido e em boa hora o

professor Paulo Marques resolveu envidar esforços para escrever o presente livro.

Acadêmico de qualidades indiscutíveis, mas, acima de tudo jornalista especializado em

temas científicos por vocação, o professor Marques escreve um belo livro de divulgação

sobre um tema que sempre o apaixonou desde a sua infância: a Astronomia. E o faz com

maestria e competência. Com leveza, mas sem perder o rigor, ele prende a atenção do

leitor mesmo quando o assunto poderia descambar para o insosso. Para isso, ele

entremeia o conhecimento astronômico propriamente dito com o da história da ciência,

conferindo um toque humano na análise dos fenômenos da natureza. Pena que neste

livro ele se limite a discorrer preponderantemente sobre o sistema solar, deixando de

lado outros temas palpitantes relativos ao Universo em expansão. Contudo, isto não tira

o mérito da obra. Ela é o portal da entrada para a compreensão do palpitante mundo *** Quasar é um “objeto celeste com aspecto de estrela, e a uma enorme distância da Terra, que emite ondas de rádio de grande intensidade e uma energia cem trilhões de vezes maior que a do Sol.” (Minidicionário Caldas Aulete. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2004. página 662). O termo foi criado pelo astrofísico norte-americano de origem chinesa Hong-Yee Chiu, do Instituto Goddard de Ciências Espaciais da NASA, e deriva do inglês através da aglutinação das primeiras letras da expressão quasi-stellar astronomical radiosource (em português, “fonte de radioastronomia quase estelar”). (Nota do Autor).

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astronômico. Com certeza, outros trabalhos de teor semelhante do professor Paulo

Marques virão para enriquecer a bibliografia sobre o assunto. Esperemos para ver.

Shozo Motoyama

Professor-Titular da USP

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Introdução

“Sem juramento, pode crer que desejaria que este

livro, como filho do entendimento, fosse o mais formoso, o mais galhardo

e o mais discreto que se poderia imaginar. Mas não pude contrariar

a ordem da natureza, na qual cada coisa encontra o seu semelhante.”

Cervantes, Quixote (Prólogo)

“Se as coisas são inatingíveis... ora!

Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos se não fora

A mágica presença das estrelas!”

Mário Quintana, Espelho Mágico (Das utopias)

Viver com a cabeça “no mundo da Lua” ou, quando de pé, com a parte mais elevada do

corpo humano “no universo dos astros” não representa, necessariamente, posição

contrária ou caminho excludente e mutuamente irreconciliável. A redação e a edição

deste livro decorrem de um antigo sonho e projeto de vida iniciado por volta de 1957,

quando contava apenas 12 anos de idade. Apenas coincidentemente, com o ano em que

a humanidade entrava na chamada Era Espacial. Isto porque no dia 4 de outubro de

1957 recebíamos na Terra os sinais sonoros do nosso primeiro satélite artificial: o

Sputnik I, lançado pelos soviéticos. Àquela época residia em São Paulo (SP), uma

cidade razoavelmente pequena – contávamos com algo ao redor de 1,5 milhão a 2

milhões de habitantes, contra os 12 milhões deste atual ano de 2006 –, e da qual ainda

era possível vislumbrar os astros no firmamento quando a fina garoa ou as nuvens não

impediam a visão do céu estrelado.

Dentro deste panorama e dessa realidade lembro-me do encantamento que me causava

observar o quadro celeste noturno, habitado por miríades de coloridos pontos

luminosos. Cada objeto ou corpo celeste, a começar pela Lua, representava um mistério

a ser decifrado. Nascia aí a minha paixão intensa e irrestrita pela Astronomia, num

processo que me acompanha (e sempre de forma cada vez mais intensa) há quase 50

anos. Curioso, contudo, que ainda hoje consigo lembrar-me com cristalina nitidez das

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perguntas que fazia a mim mesmo e cujas respostas encontrava nos poucos livros sobre

o assunto publicados em língua portuguesa. Um deles era um livro didático de

Geografia, de autoria do Prof. Aroldo de Azevedo, bastante empregado no então curso

ginasial. As informações nele contidas eram diminutas já que as explicações sobre o

sistema solar constituíam apenas um dos inúmeros capítulos do livro. Para ter acesso a

informações mais alentadas e consubstanciadas tornava-se necessário ler livros escritos

em outros idiomas. Como naquela época o ensino de línguas (latim, francês e inglês

fora, obviamente, o português) era obrigatório, estudar em outros idiomas não constituiu

tarefa intransponível. Mesmo a despeito de apresentar uma vocação natural para o

estudo da Matemática e do Desenho Geométrico no decorrer do curso ginasial e das

mesmas disciplinas, acrescidas da Física, da Química e da Filosofia, no curso científico.

Por volta daquele mesmo ano de 1957 tive acesso a dois livros estrangeiros que

abordavam a Astronomia e assuntos correlatos. O primeiro deles, de nome

“Cosmografia” e de autoria do Prof. Charola era apresentado em espanhol já que se

tratava de edição impressa na Argentina. O segundo e o que mais me impressionou foi

“Astronomie Populaire”, escrito por famoso astrônomo francês do século XIX de nome

Camile Flammarion. Uma obra realmente fantástica que primava pelo rigor dos

conceitos, mesmo se tratando de uma obra de divulgação científica voltada ao público

juvenil da França. Algo bastante parecido com o que fizera no Brasil e em outros temas,

décadas depois, o genial escritor de literatura infanto-juvenil Monteiro Lobato,

sobretudo em suas inesquecíveis obras “Tesouro da Juventude” e “O poço do visconde”

ou, ainda, “O escândalo do petróleo e ferro”, apenas para citar algumas delas.

No início dos anos 60, já então com pouco mais de 15 anos de idade, tive uma primeira

idéia de escrever um livro que levasse aos jovens tão curiosos e interessados como eu

informações didáticas e claras sobre a nobre Astronomia. O objetivo era promover a

divulgação dos princípios básicos ou dos elementos de Astronomia até como resposta à

provocante pergunta de Flammarion, que dizia: “Não é estranho que quase todos os

habitantes do nosso planeta tenham vivido até aqui sem saber onde estão, nem suspeitar

da existência das maravilhas do Universo?”. A idéia, porém, não vingou quer pela

imaturidade intelectual própria da idade, quer pelo assoberbamento nos estudos

decorrente do preparo para os acirrados e concorridíssimos exames vestibulares daquela

época. Vencida a maratona do vestibular, não só os desafios do estudo como as intensas

participações na política estudantil impediram-me de levar adiante a idéia de escrever o

tão sonhado e pretendido livro. Terminava a fase áurea da fantástica década dos anos

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60, da qual sinto enorme saudade. Este último um sentimento vinculado à tristeza pelo

esfacelamento de um sistema de ensino público em todos os níveis, que privilegiava o

conhecimento e a cultura de forma ampla, profunda e consistente. Praticávamos uma

ciência de bom nível para um país em desenvolvimento e a oferta de cultura processava-

se de forma bastante razoável. Estávamos sob a influência de um modelo europeu

(notadamente francês) na educação formal, substituído ao apagar das luzes da década de

60 por um estúpido e vazio modelo norte-americano implantado pela deletéria e nefasta

Reforma MEC-USAID, caudatária da subserviência dos militares donos do poder no

Brasil ante os espúrios interesses do sempre prepotente, pedante e presunçoso governo

dos EUA.

Ao ingressar nos anos 70, seguiram-se outras tribulações: vida no Exterior decorrente de

exílio político numa rota iniciada pelo Chile, dirigido pelo grande estadista e notável

presidente Salvador Allende. Depois, na volta ao Brasil, assoberbamento pelo excesso

de atividades profissionais motivado pelo acúmulo da atuação concomitante no

magistério superior e no jornalismo profissional.

Até o presente momento não houve, em minha vida, reversão significativa do excesso

de atividades, o que aparentemente me impediria de levar adiante a obstinada idéia de

escrever o livro tão pretendido e desejado. Salvo, contudo, em duas ou três raríssimas

exceções sempre na condição de repórter da Folha de São Paulo quando recebi os

honrosos convites da estimada colega jornalista Cecília Zioni (à época Editora da

“Folhinha”, publicação dominical destinada à leitura do público infantil-juvenil) para

escrever textos sobre a Ciência para crianças e adolescentes. Profundo admirador da

obra de divulgação científica de Lobato concordei em explicar (ou em outras palavras,

trocar em miúdos e sempre nos termos mais simples possíveis sem, contudo, mutilar

conceitos científicos) a Astronomia para um público tão jovem quanto a que por ela

prematuramente me apaixonei. Tanto quanto me lembro, naquele intento acabei

redigindo dois artigos de leitura (creio eu e até por que o meu porta-fólio não é tão

organizado ou completo como gostaria) extremamente palatável para a criançada.

Recordo-me de dois deles: “A Terra é um globo solto no espaço”, Folhinha, 1º abr.

1984, página 4, e de “Vega é um dos sóis deste Universo” (contestando a possibilidade

de vida, tal como conhecemos o homem, fora da Terra), editado na Folhinha, edição de

16 out. 1983, página 5. Porém, somente em abril de 2003 um fato absolutamente inédito

mudou o rumo do até então utópico desejo. Em viagem por Minas Gerais para a

cobertura jornalística da inauguração de parte da chamada Estrada Real – que, quando

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totalmente refeita unirá a cidade de Diamantina (MG) ao porto de Parati (RJ), passando

pelas mais importantes cidades históricas dos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio

de Janeiro –, acabei me encontrando unicamente por obra do acaso com o jornalista

Carmo Chagas, a quem havia sido apresentado 30 anos antes. Conheci-o em fins de

abril de 1973, às vésperas de embarcar para a África Ocidental onde viajava como

enviado-especial da então excelente e respeitadíssima Revista Veja (pertencente ao

grupo da Editora Abril), publicação na qual Chagas era um dos editores. A missão para

a qual fui incumbido foi a de fazer a cobertura jornalística do eclipse total do Sol a

ocorrer no dia 30 de junho daquele mesmo ano e cuja maior duração (excepcionais 7

minutos e 4 segundos)1 se daria num oásis da República Islâmica da Mauritânia –

remoto país africano situado entre o sul de Marrocos e o norte do Senegal, totalmente

imerso no Deserto do Saara. O trabalho profissional requeria espírito de aventura, boa

forma física e muita, mas muita dose de coragem. As dificuldades não eram poucas,

nem pequenas. Em primeiro lugar era imperativo embarcar bem antes da data do evento,

pois, como país fechado a qualquer forma de turismo e sem embaixada no Brasil, a

autorização da minha entrada como jornalista teria de ser “negociada” pela Embaixada

do Brasil no Senegal. E nisso contei com a extrema colaboração e o forte empenho

pessoal do então embaixador brasileiro, o conhecido poeta pernambucano João Cabral

de Melo Neto. Uma segunda dificuldade que se colocava era a de ter de chegar a

Nouackchott, capital da Mauritânia, com antecedência mínima de 25 dias de vez que era

preciso me aclimatar à rudeza do deserto saariano e no qual as temperaturas médias

diárias eram de 48 graus Celsius. Isto para poder enfrentar as agruras de uma viagem em

pleno deserto até chegar ao melhor local de observação indicado pela União

Astronômica Internacional e que se situava no oásis de Akjoujt, distante 250

quilômetros a nordeste da capital mauritana. A despeito das dificuldades mencionadas,

é preciso reconhecer que aquele foi o mais belo espetáculo da natureza que presenciei

em toda a minha existência. Contudo pela inexistência de sistema de comunicação

(representados unicamente por telex ou telefone, que eram os únicos equipamentos

existentes àquela época) e pelo fato de os vôos Mauritânia-Senegal terem apenas

freqüência semanal, acabei desembarcando no Brasil no dia 10 de julho. Entreguei

pessoalmente ao Carmo Chagas o texto da reportagem e as fotos que ilustrariam a

1 Acontecimento astronômico que só voltará a ocorrer, com igual duração de tempo, no ano 2117.

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matéria que, de fato, foi editada ocupando integralmente a página 71 da Revista Veja de

número 254, com capa datada de 18 de julho de 1973.

Dessa forma, Carmo Chagas conhecia o meu trabalho há 30 anos e em abril de 2003

quando nos reencontramos ele estava acompanhado do engenheiro e jornalista Roberto

Muylaert de quem eu também fora contemporâneo quando ambos trabalhávamos em

duas revistas pertencentes ao grupo Abril-Tec, que cuidava de revistas técnicas.

Muylaert escrevia para a Revista Transporte Moderno e eu para Química & Derivados.

Na ocasião do reencontro, Chagas informou que era o Editor-Associado da Revista “Na

Poltrona” (revista de bordo ofertada aos passageiros do Grupo Viação Itapemirim)2 e

que o Muylaert era o Publisher e Editor daquela mesma publicação. Carmo ofertou-me

um exemplar da revista e por havê-la considerado de excelente nível, quer pela forma

(apresentação gráfica) como pelo conteúdo, acabei sugerindo a criação da seção

“ciência” comprometendo-me a sempre que solicitado produzir textos, de início, sobre

Astronomia. Acordamos mutuamente que, por razões profissionais e para preservar a

minha identidade, escreveria os artigos sob o heterônimo Ruy Porto. A proposta foi

aceita e o primeiro artigo (abordando o Sol e que é o primeiro tema apresentado neste

atual livro) foi editado na Revista “Na Poltrona” de julho de 2003. De lá até março de

2006 foram publicados os 23 artigos que, devidamente revisados e reescritos,

constituem o conteúdo da presente obra.

Dever de reconhecimento e justiça, não fosse a oportunidade de escrever até

homeopaticamente cada capítulo do livro ao longo destes quase três anos teria sido

absolutamente impossível escrevê-lo de uma única vez. Por esta razão, sou

imensamente grato à oportunidade generosamente ofertada pelos meus bons amigos e

brilhantes jornalistas Roberto Muylaert e Carmo Chagas. Dentro da redação da revista,

acrescento os nomes de Maria da Penha de Moraes, a atual e competentíssima Editora-

Executiva de “Na Poltrona” e, também, de Angélica de Oliveira sempre muito dedicada

na escolha das fotos e das charges com as quais foram ilustrados os artigos de minha

autoria veiculados na revista.

Desejo, de igual maneira, expressar a minha mais sincera e sensibilizada gratidão a

quatro valorosos colegas da USP. Ao colega Jornalista Miguel Glugoski, com quem tive

o privilégio de trabalhar na redação do jornal O Estado de São Paulo, pelos idos do final

2 Publicação mensal com tiragem de 300.000 exemplares e média de 6 leitores por revista, perfazendo uma audiência de 1,8 milhão de leitores/mês. (fonte: Revista Na Poltrona, ano 8, nº 75, setembro 2005, página 60).

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da década de 1980, pelo brilhante, conciso e impecável texto integrante da apresentação

deste livro. Ao destacado Professor Doutor Shozo Motoyama, que me brindou e me

honrou ao, igualmente, aceitar a árdua tarefa de brilhantemente prefaciar a presente

obra. Mais que superior hierárquico extremamente compreensivo e detentor de uma

paciência que faria inveja ao profeta Jó, o Prof. Motoyama reúne dentre inúmeras outras

virtudes a de também ser apaixonado pela Astronomia e pela Astrofísica. E foi ele quem

paciente e bondosamente orientou a Tese de Doutorado defendida em 22 de novembro

de 1990 pelo autor deste livro. Ex-Professor-Visitante das consagradas universidades

japonesas de Waseda e de Tóquio, além de decano em História e Filosofia da Ciência da

USP, o Dr. Motoyama é antes de tudo um dedicado e reconhecido pesquisador, bem

como um escritor de raro brilho. E disso o autor pode falar com pleno conhecimento de

causa já que foram produzidos, em regime de gratificante co-autoria, quatro capítulos

distribuídos em dois diferentes livros, acrescidos da edição de um livro produzido em

conjunto e lançado no dia 8 de dezembro de 2005 em Brasília (DF). Desejo, igualmente

render meus tributos de gratidão ao excepcional colega de docência na USP, o Prof.

Hermi Felinto de Brito pelo enorme auxílio em haver transformado esta presente

publicação numa obra eletrônica e de acesso gratuito pelas páginas da Internet. Por fim,

registrar um carinho muito especial – ainda que isto possa se transformar numa

repetição ad nauseam – ao talentosíssimo Prof. Mário De Biasi que, como amigo e

colega de décadas anuiu em passar um verdadeiro “pente fino” no texto já em sua quase

final fase de edição.

Evoco, contudo, a dificuldade encontrada na realização, demora, preparo e edição desta

presente obra, mencionando o velho adágio latino lamentavelmente de autoria

desconhecida: “per aspera ad astra” (pelo áspero [caminho] até os astros). Tribulações

estas acrescidas de fatos absolutamente relevantes e revolucionários havidos em agosto

do corrente ano de 2006. Os originais desta obra já em sua versão final encontravam-se

prontos em abril de 2006. No dia 24 de agosto, contudo, a votação em plenário da

XXVIª Assembléia Geral da União Astronômica Internacional, reunida em Praga, na

República Tcheca, promoveu alterações na nomenclatura e classificação de alguns

astros das quais possivelmente a de maior impacto tenha sido a retirada de Plutão como

o nono e último planeta do sistema solar. Este inusitado e até inesperado acontecimento

obrigou o autor desta obra a redigir um capítulo complementar – que é o Posfácio,

apresentado ao encerramento do livro –, de maneira a mantê-lo devidamente atualizado

pelo menos até o final do ano de 2006. Importante ressaltar que por se tratar de

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reclassificação de nomenclatura, os parâmetros físicos de Plutão apresentados no

capítulo a ele referente permanecem válidos e inalterados. Este, portanto, é o motivo

pelo qual no capítulo que lhe é dedicado figurar a palavra ex-último planeta grafada

entre aspas. Por esta razão, houve uma opção deliberada em preservá-lo na redação

original, reservando ao posfácio as alterações de nomenclatura e de reclassificação dos

astros do sistema solar já em sua nova configuração.

Oportuno igualmente realçar e ressaltar que este livro é composto de 23 capítulos,

acrescido do posfácio acima mencionado, ordenados do centro do nosso sistema (o Sol)

para o seu exterior (sistema estelar e galático). Destes capítulos, os últimos dois tratam

da presença marcante da Astronomia no dia-a-dia das nossas vidas e atividades

cotidianas. A estruturação da obra foi concebida para que a leitura seja seqüencial ou

consultada capítulo a capítulo que encerram, em e por si próprios, as informações mais

relevantes sobre os temas tratados. Assim, é imperioso registrar a existência de

inevitáveis e eventuais possíveis repetições e redundâncias. Todas elas foram

intencionais e visam, sobretudo, transformar este livro numa obra de consulta

localizada, tal como se fosse um manual. Além, obviamente, de tencionar ser um livro

de leitura fácil e agradável, quer quando lido na seqüência natural através dos quais os

capítulos foram redigidos, ordenados e apresentados, ou quando consultado de maneira

aleatória.

Vale, por fim, mencionar os motivos pelos quais o autor sente-se compelido a ofertar

esta obra de forma graciosa e de acesso livre (e, portanto, sem qualquer ônus) aos

leitores, no seguinte endereço eletrônico: http://[email protected] . De

início, como autor de dois livros solo e de outros cinco em regime de co-autoria, jamais

recebi como pagamento e a título de direitos autorais verba que me permitisse, por

exemplo, o pagamento de algumas poucas refeições em restaurantes de certo nível.

Outras editoras mais desrespeitosas ainda “pagavam” os direitos autorais sob a forma da

entrega de uma pequena cota de exemplares das obras produzidas. Desta forma e apesar

de pressões coercitivas exercidas por amigos e por pessoas que realmente me amam e

me respeitam, resolvi disponibilizar a presente obra sob a forma de download gratuito,

em “pdf”. Espero com esta atitude não apenas render tributo aos tantos que

generosamente colocam seus sites e endereços eletrônicos na telinha dos computadores,

como também ressarcir uma sociedade de contribuintes anônimos que

compulsoriamente bancaram a obtenção do meu título de Doutor pela USP, com custo

estimado em cerca de US$ 25.000 dólares equivalentes. A todos, pois, minha gratidão e

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retribuição. Peço apenas que, se possível, os leitores se manifestem para que se possa

aprimorar o conteúdo e a clareza da obra. Solicita-se que as mensagens encerrando

críticas e sugestões sejam encaminhadas ao seguinte endereço eletrônico:

[email protected] . A todos antecipo os meus sinceros agradecimentos.

Considero oportuno esclarecer que até antes de agosto de 2006, o título original desta

obra era “A CAMINHO DOS ASTROS: viagem astronômica da Terra até os limites do

Universo em que vivemos”. Após aquela data achei por bem alterá-lo para “A

REVOLUÇÃO DOS ASTROS (De novis revolutionibus orbium cœlestium): viagem

astronômica até os limites do sistema no qual vivemos”. No subtítulo, ao tomar por

empréstimo a expressão latina “de revolutionibus orbium cœlestium” (das revoluções

das esferas celestes) desejei, também, render a minha homenagem e admiração, sob a

forma de paráfrase parcial, a Nicolau Copérnico, genial matemático e astrônomo

polonês que, em 1543, lançou a primeira edição do livro deste mesmo nome. Houve,

contudo, o acréscimo da expressão latina “novis”, que significa literalmente “novas” em

língua portuguesa. Assim, ao grafar “De novis revolutionibus orbium cœlestium”,

desejei atualizá-la para “das novas revoluções das esferas celestes”. Devo mencionar,

por fim, que esta atual versão da obra representa a terceira edição do livro, já

devidamente revista e ampliada.

Paulo Marques

out. 2006 (1ª edição) mai. 2007 (2ª edição revista)

set. 2009 (3ª edição revista e ampliada)

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Sol, o astro responsável pela vida na Terra

“casa na qual entra a luz do Sol

não entra médico” – ditado popular italiano

“... Foram desencadeadas as forças

das quais o Sol obtém toda sua energia ...” - Truman3

O Sol, nossa fonte natural de luz e calor, é o astro mais importante para os seres

terrestres. Exatamente por nos suprir da luz que permite trabalhos diários e fornecer o

calor que nos afasta dos rigores do inverno sideral. Por permitir que existam as quatro

estações do ano – todas vitais para a alteração do metabolismo que regula a existência

do reino animal e vegetal – e possibilitar a evaporação das águas dos rios, lagos e

oceanos. Matéria-prima para a precipitação da chuva que sacia a sede dos viventes,

viabiliza a produção agrícola e preenche os reservatórios das hidrelétricas, geradoras da

energia elétrica empregada no nosso cotidiano. Quer para atividades industriais e

domésticas, para o lazer e entretenimento ou para o atendimento das necessidades

sociais de infra-estrutura das nações.

Convivendo, contudo, com os efeitos tão benéficos aos homens, plantas e animais, a

presença da irradiação solar causa, igualmente, infortúnios. Como o da destruição da

camada de ozônio, que se reflete no efeito estufa (aumento gradual e irreversível da

elevação da temperatura terrestre) ou na escalada do número de cânceres de pele e na

incidência de cataratas, enfermidade que afeta a visão dos homens e dos animais.

Sobretudo se expostos à luz solar direta, no período compreendido entre as 9 e 10 horas

e as 15 e 16 horas do dia, conforme estejamos nos meses do horário de verão. Ademais,

nas épocas de intensa atividade solar – o que ocorre em períodos cíclicos de 3 Discurso do presidente dos EUA Harry Truman em 6 de agosto de 1945 por ocasião do anúncio da destruição de Hiroshima (Japão) devido ao lançamento da primeira bomba atômica mundial sobre região habitada. A explosão se deu às 8h15min. Instantaneamente morreram entre um mínimo de 70.000 e um máximo de 250.000 pessoas (para maiores detalhes consultar: Marques, Paulo. Sofismas nucleares: o jogo das trapaças na política nuclear do País. São Paulo, Hucitec, 1992. páginas 8 e 9).

Fonte www.noaanews.noaa.gov/stories2005/s2372.htm

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aproximadamente 11 anos –, registram-se acontecimentos tão nefastos como a

destruição de equipamentos nas grandes centrais de distribuição elétrica ou, então,

perturbações no sistema de comunicações. Incluindo as que se estabelecem entre as

bases de lançamento de naves e satélites e os equipamentos astronáuticos que gravitam

no espaço sideral.

Mas, o que é, enfim, o Sol? Um astro tão jovem quanto a Terra, com seus 4,5 bilhões de

anos. Trata-se, portanto, de um corpo celeste em evolução. Na verdade, uma enorme

esfera de gás incandescente, que continuará brilhando por bilhões de anos. Apesar de

parecer grande e brilhante por sua proximidade ao nosso planeta, é uma estrela bastante

comum e encontrada às centenas de milhares na Via-Láctea, que é a galáxia

(grupamento de mais de 182 bilhões de estrelas) em que vivemos. O que a diferencia

das outras estrelas é que o Sol está, em média, a 149 milhões de quilômetros de

distância da Terra, enquanto a outra que nos é mais próxima (a alfa Centauro, também

chamada Toliman ou Próxima Centauri, situada nas imediações da nossa conhecida

constelação Cruzeiro do Sul) encontra-se por volta de 40 trilhões de quilômetros

distante da Terra. Em termos mais simples ainda, enquanto a luz solar leva

aproximadamente 8 minutos e 20 segundos para chegar a um observador situado na

superfície terrestre, a luz que emerge de Toliman leva 4,3 anos para atingir a Terra.

Como os astrônomos chegaram a estes valores? Embora trabalhosos, os cálculos são

simples. A ciência comprova que a luz percorre 300.000 quilômetros por segundo.

Basta, então, sabermos quantos segundos estão contidos em 8 minutos e 20 segundos,

multiplicando o produto obtido pela velocidade da luz. Assim, 500 seg x 300.000 km/s

= 150 milhões de quilômetros. Raciocínio análogo pode ser aplicado a Próxima

Centauri. Sabendo-se que um ano encerra 31,6 milhões de segundos (60 x 60 x 24 x

365), multiplique-o por 4,3 e novamente pela velocidade da luz. Teremos os 40 trilhões

mencionados.

É importante salientar que, dependendo da estação do ano, a Terra encontra-se mais

próxima ou mais afastada do Sol. Quando mais próxima (o que em Astronomia

denomina-se periélio), dista 146,5 milhões de quilômetros do Sol. Quando mais

afastada (afélio), situa-se a 151,5 milhões de quilômetros. Portanto, 150 milhões de

quilômetros representam a distância média Terra-Sol. É um valor tão importante, que os

astrônomos o batizaram de “unidade astronômica”. Serve para medir a distância entre os

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oito planetas do sistema solar**** (pela ordem: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter,

Saturno, Netuno, Urano), tanto do Sol quanto deles próprios. Por ser minúscula em

termos astronômicos, é uma grandeza inadequada para expressar a distância da Terra às

demais estrelas. Em geral o que se usa, neste caso, é o ano-luz, que é o tempo

empregado para que um raio de luz percorra seu caminho em um ano (31,6 milhões de

segundos x 300.000 km/s = 9,4 trilhões de quilômetros).

O Sol é composto por 91,2% de hidrogênio; 8,7% do gás hélio; 0,078% de oxigênio e

0,043% de carbono. Conta com um núcleo, onde a temperatura é da ordem de 10

milhões de graus Celsius devido à ocorrência de reações nucleares (para maiores

detalhes sobre os tipos de reações nucleares existentes, favor consultar o ANEXO3

à página 108). Distante 700 mil quilômetros do centro do núcleo, situa-se a fotosfera

(do grego photos, que significa luz) onde as temperaturas são da ordem de seis mil

graus Celsius. Esta camada, por sua vez, encontra-se envolvida pela cromosfera

(também do grego cromos, ou cor), que é circundada por uma coroa ampla e luminosa,

imperceptível ao olho humano. Contudo, é facilmente observável no transcorrer dos

eclipses totais do Sol, transformando-os num dos mais belos espetáculos da natureza

como, aliás, já registrava quatro séculos antes do nascimento de Cristo o genial

astrônomo grego Aristarco.

**** até a redação da antepenúltima versão desta obra (final do 1º semestre de 2006), encontravam-se classificados nove planetas. Contudo, em agosto deste mesmo ano de 2006, a UAI (União Astronômica Internacional) reunida em plenário na cidade de Praga reclassificou a nomenclatura, baixando de nove para oito o número de planetas “clássicos” do sistema solar. Isso se deveu à exclusão de Plutão, como se poderá verificar no posfácio desta obra.

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Mercúrio, o beija-flor do sistema solar

"És tu que, amado igualmente pelos deuses do

Olimpo e pelos deuses do Inferno, reúnes com a tua varinha de ouro as sombras leves e conduzes as

almas piedosas à venturosa morada que lhes está reservada." – Horácio

Pequeno, leve e ágil, exatamente como se comporta um colibri, ou beija-flor, em seu

gracioso vôo. Assim é Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol. É o primeiro e

penúltimo planeta interno do sistema solar, denominação conferida aos astros que giram

em órbitas situadas entre o Sol e a Terra. O segundo e último planeta interno é Vênus,

que na mitologia grega recebia o nome de Hermes. Em latim foi traduzido por

Mercúrio, divindade masculina associada à função de ser o mensageiro entre os deuses.

Para isto necessitava, obviamente, ser ágil na sua locomoção. Por esta razão foi

simbolizado como um deus dotado de asas nos pés e no capacete que portava à cabeça.

Daí ser escolhido como o símbolo do comércio e da comunicação. Como mostra, aliás,

sua utilização generalizada nos logotipos de associações da classe comercial e de

empresas de transporte de carga dispersas pelo mundo ocidental.

O nome Mercúrio foi dado pelos antigos gregos em virtude do movimento rápido que o

planeta executa em sua revolução ao redor do Sol, ou ano, que dura 88 dias. Por

aparecer no céu ou firmamento sempre perto do Sol, quando visível pode ser observado

em duas ocasiões distintas. Pela manhã, pouco antes do nascer do Sol ou à tarde, logo

depois do pôr-do-sol. Por esta particularidade, os gregos imaginavam tratar-se de dois

planetas diferentes aos quais denominaram Apolo (o mais belo dos deuses na mitologia

greco-romana, quando o aparecimento se dava pela manhã) e Hermes (no começo da

noite). Cerca de 500 anos antes do nascimento de Cristo, contudo, o pensador grego

Heráclito já acreditava tratar-se de um mesmo planeta que girava em torno do Sol.

Sua órbita é a mais alongada dos planetas do sistema solar. Tanto que, quando mais

próximo do Sol (periélio), Mercúrio situa-se à distância de 46 milhões de quilômetros. E

no afélio (maior afastamento do Sol), encontra-se a 70 milhões de quilômetros de

Fonte : antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/ap011124.html

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distância do Astro-rei (nome também pelo qual o Sol é conhecido). Por ser de difícil

observação através dos telescópios instalados nos observatórios terrestres, até o final do

século XIX os astrônomos não conseguiam explicar satisfatoriamente por que sua órbita

era tão alongada. Pensou-se, inclusive, na possibilidade da existência de um outro

planeta (Vulcano), próximo de Mercúrio, que interferia em sua translação ao redor do

Sol.

A questão só foi resolvida com o surgimento da Teoria da Relatividade, proposta no

início do século XX por Albert Einstein. O conhecimento mais detalhado a respeito do

planeta ocorreu nos anos 1974 e 1975, quando Mercúrio foi “visitado” pela sonda norte-

americana Mariner 10 que, em três ocasiões distintas conseguiu mapear 45% da sua

superfície. Embora mostre para um observador situado na Terra as fases minguante e

crescente, tal como a Lua, sua observação é dificultada pelo fato de nunca se afastar

mais de 28° de arco de altura da linha do horizonte, considerando-se a localidade física

que marca a região onde o Sol nasce ou se põe. Na prática isso significa que se

considerarmos um segmento imaginário que se desloque da linha do horizonte até o

ponto imediatamente acima da nossa cabeça (o que em Astronomia denomina-se

zênite), Mercúrio nunca ultrapassará uma terça parte do ângulo formado por estes dois

pontos referenciais. E o cotidiano mostra-nos que quando próximos do horizonte, astros

como o Sol e a Lua aparecem distorcidos, com coloração alterada e aumentados pela

ação do oxigênio das baixas camadas atmosféricas, que passa a funcionar como lente de

aumento.

Por esta razão, os registros realizados pela Mariner 10 foram fundamentais para o

conhecimento mais detalhado do ágil planeta. Se um explorador andasse pela superfície

de Mercúrio, veria um mundo semelhante ao que encontraria no solo lunar. Possui

grande quantidade de crateras, montes e vales originados por intenso bombardeamento

de meteoros e de planetóides, ou asteróides, corpos sólidos rochosos provenientes, em

sua grande maioria, da órbita situada entre os planetas Marte e Júpiter e que

representam fragmentos de um planeta desintegrado há bilhões de anos. O mesmo

eventual explorador notaria que o Sol seria visto com tamanho aparente duas vezes e

meia maior do que o observado da Terra.

Mercúrio possui atmosfera inexpressiva (composta de traços dos gases hélio e oxigênio

e do elemento químico sódio), em virtude do intenso calor que recebe do Sol. Gira três

vezes em torno de si mesmo enquanto dá duas voltas ao redor do Sol, o que corresponde

a um período de rotação de 58 dias terrestres. É o planeta que apresenta a maior

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diferença de temperatura entre um ponto da região iluminada (que pode chegar a 430°

C) e outro que esteja na face escura do astro (cerca de – 180° C). Seu diâmetro é de

4.878 quilômetros, valor 2,6 vezes inferior ao da Terra. O planeta, que não possui

satélites naturais, é composto por um núcleo de ferro parcialmente fundido – que lhe

confere forte campo magnético – envolto por uma camada de silicatos (compostos

químicos semelhantes à areia encontrada na crosta terrestre) com cerca de 600

quilômetros de espessura.

Para melhor conhecimento de Mercúrio, os europeus e os norte-americanos

programaram o lançamento futuro de duas sondas. A dos EUA já está sendo preparada

pela NASA e foi batizada de Messenger (mensageiro, em inglês). Terá como objetivos

levantar, com detalhes, sua estrutura física (núcleo, crosta, a rarefeita atmosfera e o

magnetismo do planeta). A européia, a ser construída pela Agência Espacial Européia

(ESA), receberá o nome BepeColombo, em homenagem ao cientista italiano Giuseppe

Colombo (1920-1984), um dos pioneiros da pesquisa espacial. Visa,

preponderantemente e dentre outras tarefas, coletar dados sobre a formação química

daquele que é o menor e o mais rápido planeta do sistema solar.

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Vênus, o mais belo dos nossos vizinhos

“a bela estrela que ao amor incita”

Alighieri, Divina Comédia (Purgatório)

Consagrado por equivoco pelos nomes populares de estrela-d’alva, estrela-guia, estrela

do pastor ou ainda estrela Vésper, o planeta Vênus aparece para nós na Terra como o

terceiro corpo celeste mais brilhante do firmamento. Perde em brilho aparente apenas

para o Sol e para a Lua. A impropriedade no uso da expressão estrela decorre do fato de

só elas possuírem luz própria. Os planetas, ao contrário, não têm luz própria. Refletem a

luz que lhe é enviada por uma estrela. Caso típico é o representado pelos nove planetas

do sistema solar e seus respectivos satélites, todos refletores da luz emitida pelo Sol.

Este, aliás, é o motivo principal da diferença de brilho exibido por estrelas e planetas.

Enquanto as estrelas cintilam (piscam), os planetas e satélites exibem luminosidade

opaca. Tal como a Lua, por exemplo. É possível, contudo, nos referirmos a qualquer

corpo celeste, empregando a expressão astro, nome genérico conferido a todo objeto

sideral, quer se trate de planeta, satélite, cometa ou estrela.

A associação inadequada do nome estrela ao planeta Vênus é compreensível, se

considerarmos as especificidades de comportamento do belo astro. Por nunca se afastar

do disco solar – tal como acontece com Mercúrio –, sempre que visível aparece ao

anoitecer ou ao amanhecer. Pelo fato de jamais se distanciar demasiadamente da linha

do horizonte, sua imagem é distorcida pelas baixas camadas atmosféricas, conferindo-

lhe o brilho e cintilação típica das estrelas. Vale observar que seu brilho é tão intenso

que no campo ou em regiões afastadas dos grandes centros urbanos, onde a

luminosidade é intensa, é capaz de iluminar caminhos e projetar sombras, facilitando o

trabalho dos pastores na tarefa de reunir seus rebanhos. Daí o porquê do nome “estrela

do pastor”. Quando afastado do Sol (cerca de 45° de arco acima do horizonte), pode ser

visto até mesmo durante o dia.

Fonte www.unet.univie.ac.at/~a9503672/astro/pics.htm

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Há milhares de anos o planeta Vênus é considerado como o mais belo planeta do

sistema solar. Prova disso é que os antigos gregos o associavam a Afrodite, deusa

mitológica do amor, da beleza e do prazer. Em língua latina gerou Vênus, com a mesma

característica de encantamento atribuída pela civilização grega. Prova disso é que uma

das mais belas esculturas da história da humanidade é a conhecidíssima Vênus de Milo,

assim chamada por haver sido encontrada na ilha grega de Milos, no Mar Egeu.

Imponente obra talhada em mármore, com 2,02 metros de altura, é de autoria

desconhecida, mas esculpida dois séculos antes do nascimento de Cristo. O original é

mantido no Museu do Louvre, em Paris, na França.

Outra obra-prima da civilização ocidental é o quadro de Sandro Botticelli (1446-1510)

intitulado “O nascimento de Vênus”, pintado provavelmente em 1485. Ainda hoje

integra o acervo da Galeria degli Uffizi, em Florença, na Itália. Gigantesco mural com

2,78 m de comprimento por 1,72 m de altura, com forte luminosidade e insuperável

beleza, mostra Vênus emergindo do mar e sendo transportada para a praia numa concha,

impulsionada pelo deus do vento (Eolos). Ao pisar na areia é recebida por uma ninfa

(divindade grega protetora dos rios, bosques, florestas e campos) que a recobre com um

manto de cor púrpura*. Este quadro, aliás, ilustra a capa deste presente livro de

astronomia, já que é uma sugestiva alegoria da beleza e da cor platinada com a qual

podemos observar Vênus, sempre que visível no firmamento.

É o segundo e último planeta interior do sistema solar. Ou seja, gravita em órbita

situada entre o Sol e a Terra. Por este motivo apresenta fases como a Lua e Mercúrio (o

primeiro planeta interior). Mais curioso ainda é que a existência das fases foi observada

pela primeira vez em 1609, quando Galileu Galilei (1564-1642) apontou seu telescópio

de espelhos em direção ao céu. A descoberta contribuiu decisivamente para a aceitação

do modelo heliocêntrico – Sol como centro do sistema solar, ao redor do qual giram os

planetas e satélites naturais – postulado originalmente pelo monge polonês Nicolau

Copérnico, que viveu entre 1473 e 1543.

Até 1960 era tido como planeta irmão da Terra. Para isto contribuíam numerosos

motivos. É o mais próximo do nosso, seu tamanho equivale a 95% do globo terrestre,

sua massa é apenas 18% inferior à da Terra e é dotado de atmosfera. A primeira sonda * De acordo com o biólogo Prof. Dr. Luís Fábio Silveira (Departamento de Zoologia, USP), a figura central do quadro e que representa Vênus teve como modelo “Simonetta Vespucci, sobrinha do Américo Vespúcio [navegador que viveu de 1454 a 1512 e que se supõe ter passado em 1499 pela costa norte da América do Sul], uma das mulheres mais bonitas do Renascimento. Todo mundo (dizem que até mesmo Botticelli!) queria namorar a moça que, morreu novinha e de tuberculose”. Depoimento oral prestado em 22 de outubro de 2006.

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que se aproximou do planeta vizinho foi a nave norte-americana Mariner 2, em 1962.

De lá para cá foram executadas mais de 20 missões, incluindo o envio da sonda

soviética Venera 7 (década de 70), o primeiro artefato construído pelo homem a pousar

na superfície de outro planeta. As diferenças, então, tornaram-se claras. A atmosfera de

Vênus é constituída por 96% de gás carbônico, nitrogênio e vapor de ácido sulfúrico.

Dentre os 4% restantes, figuram traços de dióxido de enxofre, monóxido de carbono,

ácido clorídrico e fluorídrico, além de vestígios de vapor d’água. A pressão em sua

superfície é 90 vezes superior à da Terra e equivale àquela existente numa profundidade

de 900 metros dos oceanos terrestres. É, portanto, insuportável e letal para o homem.

Ademais, em decorrência da atmosfera rica em dióxido de carbono, registra-se forte

efeito estufa (concentração de calor) e a temperatura na face iluminada da superfície

venusiana chega a atingir 482° C, suficiente para fundir metais. Dentre os quais figuram

o estanho e o chumbo.

Sua órbita ao redor do Sol é quase circular, tanto que em seu afastamento máximo

(afélio) dista 109 milhões de quilômetros do Sol. E, no mínimo (periélio), 107,4 milhões

de quilômetros. A rotação de Vênus é extremamente lenta e corresponde a 243 dias

terrestres. É maior ainda que seu período de revolução ao redor do Sol, ou ano

venusiano, que equivale a 225 dias terrestres. Ao contrário dos demais corpos celestes,

que se deslocam de leste para oeste – é o que em Astronomia é chamado de movimento

diurno da esfera celeste –, Vênus gira, em torno do Sol, de oeste para leste, originando o

que em Astronomia denomina-se movimento retrógrado. Isso equivale a dizer que, para

um observador situado em Vênus, o Sol nasceria à oeste e teria seu ocaso a leste

daquele curioso planeta que, com seu extremo brilho e beleza, é milenarmente

considerado como “a jóia do firmamento”.

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Terra, um globo solto no espaço

“Nenhum homem é uma ilha isolada; Cada

homem é uma partícula do continente, uma parte da

Terra; Se um torrão é arrastado para o mar, a

Europa fica diminuída, como se fosse um

promontório, como se fosse o solar de teus amigos

ou o teu próprio; A morte de qualquer homem me

diminui, porque sou parte do gênero humano; E por

isso, não me perguntes por quem os sinos dobram;

Eles dobram por ti.”

John Donne, Devotions, XVII

Há milhares de anos os homens imaginavam o mundo em que vivemos como uma

extensão plana e sem limites. Depois, como um disco gigantesco flutuando num mar

sem fim. Mais tarde, surgiram outras idéias. Algumas até extravagantes. Como a de que

a Terra ocupava a parte plana de uma calota invertida e apoiada em sua parte côncava

sobre quatro elefantes enormes. E estes, por seu lado, sustentados por uma tartaruga de

tamanho descomunal.

Passou-se muito tempo até que por volta de 500 anos antes do nascimento de Cristo, o

sábio grego Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.) atreveu-se a dizer que “a Terra era

um globo solto no espaço”. Pensamento avançadíssimo para a época. Mais original

ainda foi a posição defendida séculos depois por outro pensador também grego,

Aristarco de Samos (320-250 a.C.). Ao observar os eclipses totais do Sol concluiu que,

além de um globo solto no espaço, “a Terra girava ao redor do Sol”.

Nascia a teoria heliocêntrica (que, em grego, significa o Sol [hélio] como centro do

movimento dos astros). O heliocentrismo – adotado até os dias de hoje – só seria

consagrado e consolidado séculos depois. Sobretudo através do trabalho do monge

polonês Nicolau Copérnico (1473-1543). Daí ser conhecido, também, como modelo

copernicano.

Fonte: : www.lunaroutpost.com/gallery/earth/pages/eart...

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Durante os 18 séculos de distanciamento entre as propostas de Aristarco e de

Copérnico, apareceram outras teorias. A mais importante foi a postulada por Ptolomeu

da Alexandria (100-178 d.C.), para quem a Terra era o centro de um sistema mais

complexo, ao redor da qual gravitavam, em órbitas circulares, a Lua, Mercúrio, Vênus,

o Sol, Marte, Júpiter e Saturno. Havia, por fim, a esfera das estrelas fixas (ou seja, todas

situadas à mesma distância da Terra). A proposta ficou conhecida como sistema

geocêntrico (expressão igualmente grega e que significa a Terra [geo] como centro de

gravitação) ou modelo ptolomaico.

Dos primórdios da era Cristã até o fim do século XVIII, houve ampla predominância do

geocentrismo. Principalmente em virtude de o modelo ptolomaico convergir com os

dogmas defendidos pela Igreja Católica. A própria Bíblia em inúmeras passagens

defende fortemente o geocentrismo. Isto é facilmente verificável se considerarmos,

dentre outros, os versos 12 e 13 do capítulo 10 do Livro de Josué. A pedido do profeta,

que guerreava com os amorreus, Deus fez com que o Sol e a Lua permanecessem

imóveis no firmamento por quase um dia inteiro, garantindo vitória sobre seus inimigos.

Para defender os textos bíblicos, a Igreja instituiu em 1231 o Tribunal da Inquisição ou

do Santo Ofício, com severas punições aos que se opunham às idéias contidas nas

Escrituras. Uma das primeiras vítimas foi o monge e filósofo italiano, Giordano Bruno

(1548-1600), queimado vivo em praça pública.

Outro processo rumoroso envolveu a figura do genial italiano Galileu Galilei (1564-

1642), que, em 1609, ao olhar pela primeira vez num telescópio construído por ele

mesmo, constatou a existência de inúmeras estrelas não-visíveis a olho nu e anunciou a

descoberta de quatro satélites de Júpiter. Isto lhe permitiu confirmar a hipótese

copernicana de que a Terra e a Lua giravam ao redor do Sol, a exemplo do que, de fato,

acontecia com o movimento de Júpiter e seus quatro satélites (Io, Ganimedes, Calisto e

Europa, todos facilmente visíveis com o auxílio de um pequeno telescópio). Em junho

de 1633, ante o Tribunal do Santo Ofício, para escapar da morte abjurou suas idéias.

Permaneceu vivo, mas foi mantido sob prisão domiciliar até o final de sua vida. A

adesão quase total dos cientistas ao heliocentrismo ocorreu em 1686, quando o físico

britânico Isaac Newton (1642-1727) enunciou a Lei da gravitação universal.

A Terra é um elipsóide de revolução. Figura geométrica sólida, que pode ser entendida

como uma esfera levemente achatada em duas faces diametralmente opostas. Com certo

exagero e para fins didáticos pode ser comparada à forma da bola empregada no futebol

norte-americano. O raio equatorial terrestre equivale a 6.378,4 quilômetros e o polar a

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6.356,9 quilômetros. Com base nestes valores é fácil calcularmos os valores das

circunferências equatorial e polar. Para isto lembremo-nos da fórmula geral de cálculo

da circunferência: 2πR, onde π = 3,14159 e R é o raio. No caso do equador, teremos: 2

x 3,14159 x 6.378,4 km = 40.076,63 km. Para a circunferência que passa pelos pólos,

teremos: 2 x 3,14159 x 6.356,9 km = 39.941,54 km. Observe-se que, quer consideremos

os valores dos dois raios ou das duas circunferências (polar ou equatorial), o valor do

achatamento permanecerá constante e será 0,0034% menor nos pólos, em relação ao

Equador.

A massa do nosso planeta é de 5,9 sextilhões de toneladas e sua velocidade de rotação é

de 29,76 quilômetros por segundo. A Terra é constituída de camadas. Tal como um

abacate, que se constitui de caroço, da parte comestível e da casca. O caroço, ou núcleo

da Terra é uma esfera com 3,4 mil quilômetros de raio, composta de níquel e ferro

fundidos. Por isto, é chamado nife (aglutinação das primeiras sílabas dos elementos

químicos níquel [Ni] e ferro [Fe]). Envolvendo o núcleo, há uma segunda camada – no

nosso exemplo representado pela polpa da fruta – constituída de sílica e magnésio, que

recebe a denominação sima. Sobre esta última – que equivale à casca do abacate – é que

repousa a crosta terrestre, onde predominam a sílica e o alumínio (sial).

Imediatamente acima desta última camada rochosa, encontram-se os mares, continentes

e a própria atmosfera. A palavra atmosfera significa “esfera de átomos” e é graças a ela

que podemos viver. Representa o ar que respiramos, sem o qual a vida das plantas, dos

animais e do próprio homem não existiria. A atmosfera é uma mistura de gases, dentre

os quais predominam o nitrogênio (80%) e o oxigênio (20%).

Embora a Terra registre 14 diferentes movimentos, os dois mais importantes são a

rotação e a translação. A rotação – revolução completa em torno do eixo imaginário que

passa pelos pólos Norte e Sul – é de 23 horas, 56 minutos e 4 segundos. E a translação –

volta completa ao redor do Sol – é de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45 segundos.

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O tamanho do nosso planeta

“...proponho que estabeleçamos agora e aqui o compromisso de conceber e fabricar uma arca da memória, capaz de sobreviver ao dilúvio atômico. (...) para que a nova humanidade saiba que aqui [na Terra] existiu a vida

e que nela prevaleceu o sofrimento e predominou a injustiça, mas que também conhecemos o amor e até fomos capazes de imaginarmos a felicidade...”

García Márquez, O cataclismo de Dâmocles4

Há 4,5 bilhões de anos (idade estimada do planeta em que vivemos e quando sequer

existia o homem, que a ciência supõe haver surgido há apenas 100 milhões de anos), a

Terra perfaz uma volta inteira ao redor do seu próprio eixo. É o chamado dia ou período

de rotação terrestre. A exemplo de quase todos os demais planetas do sistema solar (pela

ordem: Mercúrio, Marte, Júpiter, Saturno, Netuno, Urano e Plutão), nosso planeta –

situado entre Vênus e Marte – gira tal como se fosse um pião em torno de seu próprio

eixo e sempre no sentido de oeste para leste. Em outras palavras, no sentido horário, da

mesma forma como se movimentam os ponteiros dos relógios que usamos em nossos

pulsos ou em nossas casas. É oportuno informar que a Terra gira ao redor do Sol numa

velocidade média de 107.244 quilômetros por hora. Em outros termos, 120 vezes

superior à velocidade desenvolvida, por exemplo, por um Boeing-747, com seus 900

km/h. O único planeta do sistema solar que rotaciona em sentido inverso – ou seja, de

leste para oeste e, portanto, no sentido anti-horário – é Vênus.

Assim, a cada volta completa alternam-se dia e noite, que é quando amanhece e

anoitece. Falamos, então, do “nascer” ou do “por” do Sol. Ainda que consagradas no

linguajar do dia-a-dia, ambas as expressões são totalmente incorretas. Na verdade, o que

ocorre é que a cada dia a Terra se move e “mostra” seu lado – seja oriental (hemisfério

leste) ou ocidental (oeste) – para o Sol. E é por esta razão que podemos falar do

movimento aparente do Sol, que é quando o nosso Astro-rei (ou centro do sistema solar)

aparece (ou, como costumamos dizer, nasce) ou desaparece (se põe).

4 Trecho do discurso proferido pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez (prêmio Nobel de Literatura de 1982) no dia 7 de agosto de 1986 em Ixtapa, México, ao encerramento da segunda reunião de cúpula do Grupo dos Seis (o G-6, composto pelos presidentes do México, da Argentina, da Tanzânia e dos primeiros-ministros da Grécia, da Índia e da Suécia).

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Mas, se formos mais atentos ainda, observaremos que, de acordo com a época ou

estação do ano, o Sol nasce e se põe ora mais à esquerda ora mais à direita de um ponto

fixo que adotarmos como referencial. Este pode ser um edifício (casa ou prédio de

apartamentos) e até mesmo uma árvore que tenhamos na nossa linha do horizonte, esteja

ela a leste ou a oeste. Esta variação na posição do Sol acontece em virtude da existência

das quatro estações do ano. No outono e na primavera, que é quando em seu caminho

aparente o Sol cruza a linha do Equador, acontecem os equinócios. Palavra que em latim

significa dia com igual duração da noite. No verão e no inverno, ao contrário, quando os

dias ou as noites têm maior duração, ocorrem os solstícios. Expressão igualmente latina

e que significa literalmente “Sol parado” para indicar dias e noites com diferentes

durações de tempo. Todos nós que vivemos no hemisfério sul da Terra sabemos que no

inverno (junho a setembro) as noites são mais frias e longas. Daí as festas juninas. E, no

verão (dezembro a março), as noites mais curtas, o que origina a implantação, em

grande parte do Brasil (sobretudo no Sul e no Sudeste), do chamado “horário de verão”.

Por estarem próximos da linha do Equador, o Norte e o Nordeste não estão sujeitos a

esta prática que, realmente, é poupadora do fornecimento da energia elétrica ao sistema

dela consumidor (fábricas, comércio e residências etc...).

E a razão pela qual o Sol aparece e desaparece ora mais ao norte e em outros momentos

mais ao sul é bastante simples. Se considerarmos uma reta imaginária que passe pelo

centro dos pólos terrestres (norte e sul), temos o que em Astronomia é chamado de

“eixo da Terra”. Pois bem, este eixo imaginário está inclinado em relação a uma linha

vertical (e aqui podemos pensar na linha do fio de prumo empregado pelos pedreiros)

num ângulo de 23 graus e 30 segundos de arco. Por esta razão, em seu caminho aparente

o Sol cruza o Equador (no outono e na primavera) e se desloca no hemisfério norte até o

chamado Trópico de Câncer (quando ocorre o verão no hemisfério norte e o inverno no

sul). De igual maneira desloca-se num máximo de 23 graus e 30 segundos para o

hemisfério sul. É, então, quando cruza o Trópico do Capricórnio, determinando o verão

para o hemisfério sul e o inverno para o norte. Não será demais mencionar que dentre

inúmeras outras cidades do mundo, o Trópico do Capricórnio passa pelo Estado de São

Paulo nas proximidades de sua capital.

Sabedores da existência dos três principais parâmetros de latitude da Terra (Equador e

os trópicos de Câncer e de Capricórnio) os antigos gregos tiveram condições de

determinar a dimensão do nosso planeta. O primeiro a calcular o tamanho da Terra foi o

geômetra grego Eratóstenes de Cirene, que viveu entre 276 e 196 a.C. Ao observar que

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a luz solar chegava ao fundo de um poço profundo localizado em Siena (atual Assuan,

Egito) no solstício de verão para o hemisfério Norte – ou seja, de 20 a 22 de junho –,

mediu o ângulo com o qual observava o disco solar, em Alexandria (Egito). Verificou

que a inclinação da mirada (visão) do Sol correspondia a 1/50 avos do círculo. Ou seja,

7,2º de arco. Valor este que corresponde à qüinquagésima parte de um arco completo de

360º. Como a distância entre Alexandria e Siena já havia sido determinada e valia cerca

de 920 km, bastou multiplicar este valor por 50 para obter os 46.000 km da

circunferência que passa pelos pólos Norte e Sul. Feito extraordinário já que medidas

atuais e de altíssima precisão fixam em 40.000 km a circunferência polar. O erro

cometido foi, portanto, 13% superior ao valor real.

Três séculos depois Cláudio Ptolomeu (90-168), adotando o mesmo método e tomando

como pontos de referência Alexandria e a Ilha de Rodes (Mar Egeu, na Grécia),

recalculou o valor da circunferência polar, fixando-a em 28.400 km. Assim, cometeu

erro 40% inferior ao valor verdadeiro. O impacto disso refletiu-se na elaboração de

mapas geográficos e cartas de navegação com distâncias menores que as reais. Este

valor foi adotado no mundo Ocidental até o século XV, quando tiveram início as

grandes navegações. É por isto que ao chegar às Américas, Colombo denominou de

“índios” os nativos encontrados no continente americano. O mesmo equívoco foi

cometido no século XVI pelos ingleses que ao chegarem às atuais Antilhas, no Caribe,

as batizaram de West Indies (Índias Ocidentais).

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Nos terremotos, maremotos e tsunamis, as violentas agitações da Terra

“Quando chega o dia da casa cair - que, com ou sem terremotos, é um dia de chegada

infalível, - o dono pode estar de dentro, ou de fora. É melhor de fora” Guimarães Rosa,

Grande sertão veredas

Para que se possa entender o mecanismo causador da tragédia que matou milhares de

pessoas na Ásia e na África no último dia 26 de dezembro de 2005, vitimadas por

aterrorizadoras ondas marítimas gigantescas, é preciso conhecer um pouco da estrutura

física da Terra, formada há 4,5 bilhões de anos. Descrição detalhada da constituição da

Terra já foi apresentada neste mesmo livro no penúltimo capítulo que a este antecede.

Assim, mais detalhes são apresentados em a “Terra, um globo solto no espaço”, cuja

leitura (ou releitura) é aqui indicada e altamente recomendável para que se possa

entender o que em seguida será abordado.

Assim, como foi visto no capítulo acima indicado, a crosta terrestre é constituída de

placas, tal como os gomos de uma bola de futebol com costura hexagonal (modelo

convencional empregado nos atuais jogos de copas e campeonatos) que ora se afastam,

ora se aproximam. Numa comparação muito simples, mas verdadeira e real, nosso

planeta poderia ser comparado ao coração humano que pulsa, ora comprimindo-se e

bombeando sangue para todo o nosso corpo, ora se expandindo e recebendo o sangue

antes bombeado para oxigenar-se através da respiração efetuada pelos pulmões.

Algo, enfim, que se expande e se contraí. A diferença é que enquanto o coração humano

sadio pulsa, em média de 60 a 80 vezes por minuto, a Terra leva milhares de anos para

pulsar. No começo da formação do nosso planeta – e, portanto, há 4,5 milhões de anos –

, os continentes encontravam-se próximos uns aos outros. Decorridos 65 milhões de

anos (quando os homens ainda não existiam), os cincos continentes já ocupavam a

posição bastante aproximada à que hoje se encontram. Provas de já estiveram juntos e

se deslocaram com o passar dos séculos são demonstradas pela coincidência entre o

perfil da costa ocidental (oeste) da África e o oriental (leste) da América do Sul. Ou,

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ainda, pelo Golfo de Áden, no qual hoje o Mar Vermelho separa a Arábia Saudita do

continente africano.

Dentre as diversas placas existentes debaixo dos continentes e oceanos, há as que

suportam a costa oeste, ou ocidental, das Américas. Como todos os países da costa

ocidental das Américas, o Chile está localizado na região conhecida como “cinturão de

fogo do Pacífico”. Faixa que vai do sul chileno até o Alasca e daí se prolonga até o

Japão.

Naquela zona, as áreas costeiras apoiam-se sobre solo com espessura variável entre 70 e

100 km. Que, por sua vez, flutua sobre placas rochosas existentes em camadas interiores

da Terra, toda em contínuo movimento. Quando as placas se rompem ou se encontram

formam-se ondas elásticas de choque que se propagam pela terra ou mar, originando

terremotos e maremotos. Terremotos ocorrem no mundo todo. Mesmo no Brasil onde

somos protegidos por um escudo de rochas cristalinas com cerca de 500 a 600 km de

espessura que absorve as ondas de choque, fazendo com que não as sintamos.

Há duas formas de classificar terremotos. A primeira expressa a magnitude ou energia

liberada. É indicada através da escala Richter, que a idealizou nos anos 30. Inicia-se em

zero (ausência de movimento) e não apresenta final. O terremoto da maior magnitude

conhecida ocorreu em 22/05/1960 na cidade chilena de Chillán. Alcançou grau 9,5,

valor que equivale à liberação da energia produzida durante 28,2 anos de operação

contínua da usina de Itaipu em sua potência plena (12 bilhões de watts). Morreram 5,7

mil pessoas, três mil ficaram feridas e 2 milhões desabrigadas.

A segunda é a escala Mercalli (1931), ou de intensidade, que descreve os efeitos

causados. É composta de 12 graus. O primeiro imperceptível ao homem, só é registrado

por sismógrafos. O 12º implica destruição total do terreno, dando lugar à nova

topografia.

Dia 26 de dezembro de 2005 marcou a história recente como a fatídica data em que 12

países banhados pelo Índico foram vitimados por violentos tsunamis. Na África foram

atingidos a Somália, Quênia e Tanzânia. Na Ásia, a Indonésia, Sri Lanka, Índia,

Tailândia, Maldivas, Malásia, Mianmar, Bangladesh e Seychelles. Até meados de

janeiro haviam sido contabilizadas mais de 200 mil mortes e mais de cinco milhões de

desabrigados.

O tsunami, também chamado onda sísmica marítima, ou de maré, é uma ondulação

oceânica catastrófica causada, em geral, por terremoto submarino e que ocorre a menos

de 50 km abaixo do fundo do mar, com magnitude superior a 6,5 na escala Richter.

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Deslizamentos de terra, quedas de meteoritos ou erupções vulcânicas também podem

causar tsunamis. Após o terremoto, ou outro impulso, a corrente de ondas é propagada

por grandes distâncias na superfície do oceano, em círculos que se tornam cada vez

mais amplos. Tal como as ondas produzidas por uma pedra jogada numa piscina. Em

águas profundas, as ondas viajam com velocidade de 800 km/h e altura de 0,5 metro.

Ao atingirem a costa, a velocidade cai para 48 km/h, mas a altura aumenta

consideravelmente. Atingem até 10 metros (equivalente à altura de um edifício de três

andares). Em dezembro, o abalo liberou energia equivalente a 37 mil bombas de

Hiroshima (1945). Lançou nas praias atingidas duas vezes mais energia do que todas as

bombas usadas na Segunda Guerra Mundial (1939-45).

É baixo o risco da incidência, no Atlântico, de fenômeno semelhante ao ocorrido em

dezembro. Isto porque o solo do Atlântico é mais antigo e estável que o do Índico,

reduzindo as chances que ocorram tsunamis arrasadores. A região banhada pelo Índico é

repleta de placas tectônicas, que se aproximam e estão em constante fricção. Na

tragédia, o tsunami resultou da penetração da placa indiana por debaixo da placa de

Bornéu. Placas tectônicas são como imensas peças de um quebra-cabeça que “flutuam”

sobre o magma incandescente do interior do planeta.

É preciso lembrar, contudo, que o Oceano Atlântico é percorrido de Norte a Sul por

uma cadeia submarina de montanhas (a chamada dorsal meso-atlântica), formada por

uma série de montanhas vulcânicas. Estas lançam lava sem cessar para os dois lados da

cadeia há mais de 100 milhões de anos, preenchendo as lacunas formadas pelo

fenômeno do afastamento dos continentes. Estende-se por cerca de 11.300 km e na sua

maior parte encontra-se submersa, mas ergue-se até à superfície, entre outros locais, na

Islândia (fotos 1 e 2 abaixo), na Ilha de Ascensão e nos Açores, onde se situa um dos

seus pontos mais elevados, a Ponta do Pico na Ilha do Pico, com 2.351 metros de

altitude. As ilhas são as seguintes, listadas de norte para sul, com os respectivos pontos

mais elevados:

No hemisfério norte: 1) Jan Mayen (Beerenberg, 2277 m), no Oceano Ártico; 2)

Islândia (Hvannadalshnúkur em Vatnajökull, 2109,6 m); 3) Açores (Ponta do Pico ou

Pico Alto, na Ilha do Pico, 2351 m); 4) Bermuda (Town Hill, na ilha principal, 76 m).

Bermuda foi formada na dorsal, mas atualmente encontra-se bastante a oeste da sua

formação original; 5) Penedos de São Pedro e São Paulo (Penedo Sudoeste, 22,5 m).

Vale ressaltar que o arquipélago de São Pedro e São Paulo é um conjunto de pequenas

ilhas rochosas que se situa na parte central do Oceano Atlântico equatorial, distando 627

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quilômetros do arquipélago de Fernando de Noronha e 986 quilômetros de Natal (RN).

Foi declarado como parte do território brasileiro e apesar de ser mais próximo do Estado

do Rio Grande do Norte, pertence ao Estado de Pernambuco. Lamentavelmente, na

noite de 31 de maio para 1 de junho de 2009, um acidente aéreo com o vôo Air France

447, que saiu do Rio de Janeiro rumo a Paris, ocorreu nas proximidades do arquipélago,

causando a morte das 228 pessoas que estavam a bordo da aeronave.

No hemisfério Sul temos: 1) Ascensão (The Peak, Montanha Green, 859 m); 2) Ilha de

Tristão da Cunha (Queen Mary's Peak, 2062 m); 3) Ilha de Gough (Edinburgh Peak,

909 m) e, por fim, 4) Bouvet (Olavtoppen, 780 m).

Nas ilustrações abaixo, o afloramento da dorsal meso-atlântica em território islandês,

onde as placas americana e euroasiática se deslocam hoje à taxa média de 5 milímetros

por ano.

Foto 1: do lado esquerdo da foto vê-se a placa americana e, do lado direito, a placa euroasiática. Ambas mostram um de seus menores afastamentos no afloramento existente no Parque Nacional de Þingvellir [pronuncia-seThingvellir], Islândia. (foto do Autor, tomada no dia 10 de maio de 2009).

Foto 2: do lado esquerdo observa-se a placa americana e, igualmente, do lado direito a placa euroasiática. Elas mostram um dos seus grandes afastamentos no afloramento existente no Parque Nacional de Þingvellir, Islândia. (foto do Autor, obtida em 10 de maio de 2009).

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O terrível poder de destruição dos furacões / Elementos de Meteorologia

“Com a sutileza de um furacão

você vai tomando conta do meu coração...”

Rita Lee, Vítima

Encerrou-se ao final de novembro de 2005 a temporada dos furacões que assolaram

países do hemisfério Norte, sobretudo os Estados Unidos da América recentemente

atingido pelo devastador furacão Katrina. No início de setembro último o Katrina

atingiu a Louisiana e o Mississipi com ventos de 224 quilômetros por hora e até o início

de outubro haviam sido contabilizados oficialmente 1.099 mortos. Havia também a

estimativa de haver até um milhão de desabrigados. Dados preliminares indicam que os

prejuízos ascenderam a dezenas de bilhões de dólares.

Mas, enfim o que são furacões? Para que possamos entendê-los é necessário apelarmos

para a meteorologia, que é a ciência que investiga os fenômenos atmosféricos e cujas

observações possibilitam a previsão do tempo. A palavra deriva do grego e significa o

estudo do que se eleva no ar. Assim, é preciso saber como os meteorologistas

classificam os ventos e a velocidade com os quais se deslocam por sobre a superfície

terrestre:

Vento: termo genérico que identifica o ar em movimento, independente da velocidade.

Brisa: é um vento de pouca intensidade e em geral inferior à velocidade de 50 km/h5.

Monção: começa no início de junho no sul da Índia. São ventos periódicos, típicos do

sul e do sudeste da Ásia que, no verão sopram do mar para o continente. A monção

geralmente termina em setembro, caracterizando-se por forte chuva associada a ventos.

5 É preciso mencionar a existência de duas diferentes modalidades de brisa: a marítima e a terrestre, as quais num mesmo momento podem apresentar velocidades diferenciadas. Isso se deve ao fato de a superfície sólida da Terra aquecer-se mais fácil e rapidamente que a superfície líquida dos oceanos. Com isso há aquecimento desigual das camadas de ar existentes sobre os continentes e os mares, gerando comportamentos diferentes na velocidade de deslocamento e na circulação das camadas atmosféricas. A brisa marítima é sempre mais intensa que a terrestre. O limite de 50 km/h implica, de fato, velocidade elevada, mas este valor foi fixado como máximo em virtude da padronização decorrente de convenção adotada internacionalmente.

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Ciclone: nome genérico para ventos circulares, como tufão, furacão e tornado.

Caracteriza-se por uma tempestade violenta que ocorre em regiões tropicais ou

subtropicais, produzida por grandes massas de ar em alta velocidade de rotação.

Evidencia-se quando ventos superam os 50 km/h. Furacão: vento circular forte, com

velocidade igual ou superior a 119 km/h. Os furacões são os ciclones que surgem no

mar do Caribe (oceano Atlântico) ou nos Estados Unidos. Giram no sentido horário (no

hemisfério sul) ou anti-horário (no hemisfério norte) e medem de 450 km a 600 km de

diâmetro. É oportuno informar que o sentido horário é o que se processa segundo a

movimentação dos ponteiros dos relógios analógicos. Ou seja, (os não digitais, nos

quais a hora é indicada por números). Tufão: nome que se dá aos ciclones formados no

sul da Ásia e na parte ocidental do oceano Índico, entre julho e outubro. É o mesmo que

furacão, só que na região equatorial do Oceano Pacífico. Os tufões surgem no mar da

China e atingem o leste asiático. Tornado: é o mais forte dos fenômenos

meteorológicos, menor e mais intenso que os demais tipos de ciclone. Com alto poder

de destruição, seus ventos atingem até 490 km/h. O tornado ocorre geralmente em zonas

temperadas do hemisfério norte. Vendaval: vento forte com grande poder de destruição,

que chega a atingir até 150 km/h. Ocorre geralmente de madrugada e a sua duração

pode ser de até cinco horas.

Os furacões, por sua vez, são classificados em cinco categorias dentro da escala

chamada Saffir-Simpson, que considera a pressão atmosférica do centro do fenômeno, a

velocidade dos ventos e as tempestades por ele provocadas. O furacão de categoria um

pode causar vários danos em casas, principalmente àquelas que contam com uma infra-

estrutura precária. Os ventos também podem chegar a derrubar árvores e áreas baixas

podem sofrer inundações. Nesta categoria, um furacão chega a ter ventos com

velocidade entre 119 km/h e 153 km/h.

O de categoria dois causa danos de médio porte e seus ventos podem alcançar um

mínimo de 154 km/h e um máximo de 177 km/h. Em geral, furacões desta categoria

conseguem arrancar telhados das casas, portas, e estourar janelas. Árvores podem ser

arrancadas e as embarcações pequenas que estiverem ancoradas em áreas na rota do

furacão também sofrem danos. Na categoria três podem causar grandes danos e mortes

em regiões densamente habitadas. Seus ventos podem oscilar entre 178 km/h e 209

km/h. O fenômeno provoca grandes tempestades, que podem aumentar em intensidade

de acordo com a velocidade do furacão. Quanto mais lentamente ele se mover, maior

será a quantidade de chuva que o fenômeno pode precipitar. Nestes casos, o Centro

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Nacional de Furacões de Miami (EUA) já recomenda a retirada de todas as pessoas dos

locais por onde o furacão passará. Um furacão de categoria quatro causa grandes danos

em áreas habitadas. Casas e até mesmo prédios podem ser derrubados pelos ventos que

variam de 210 km/h a 249 km/h. Grandes tempestades provocam alagamentos em

enormes áreas. Rotas de saída das áreas atingidas que estejam localizadas em áreas

muito baixas e sujeitas a enchentes devem ser fechadas cinco horas antes da chegada do

furacão e há a necessidade da retirada, em grande escala, das pessoas que moram nas

regiões por onde o furacão pode passar. Os de categoria cinco apresentam ventos

superiores a 249 km/h. É um fenômeno considerado "raro" pelos meteorologistas, mas

que pode destruir tudo que estiver no seu caminho. Áreas costeiras podem ser invadidas

em até 10 km pelo mar. É obrigatória a retirada de todas as pessoas que morem perto da

costa.

A seguir, os acidentes climáticos mais violentos ocorridos nos EUA no decorrer dos

últimos 60 anos: 1935 – um furacão sem nome, da categoria cinco, desde então

conhecido como o Furacão do Dia do Trabalho (primeiro de maio de 1935) foi a

tempestade mais violenta ocorrida nos EUA. Matou 408 pessoas nas ilhas Key, da

Flórida; 1969 – O furacão Camile, o segundo mais intenso da história norte-americana,

matou 256 no Mississipi, na Virgínia e na Louisiania. Por fim, em 1992, Andrew, um

furacão da categoria cinco, abateu-se sobre a Flórida e a Louisiania, deixando 29 mortos

e mais de 25 bilhões de dólares em prejuízos financeiros. Foi o terceiro furacão mais

intenso da história dos EUA e o que provocou os maiores danos materiais. Vejamos o

que ainda nos reserva de surpresa o violentíssimo Katrina.

Elementos de Meteorologia*:

A mídia impressa e televisiva, bem como inúmeras páginas da Internet têm vinculado

nos últimos tempos notícias alarmantes e preocupantes à respeito das mudanças

climáticas decorrentes do chamado aquecimento global. Sem dúvida contamos hoje com

enormes interferências no clima causadas pela ação das atividades humanas. Sem que * O Autor agradece, nesta parte que se refere à Meteorologia, à contribuição do Prof. Oscar Olímpio de Araújo Filho, Doutor em Tecnologia Nuclear - área de Materiais (USP, 2006), piloto privado e instrutor de cursos de Meteorologia do Aeroclube de Recife (PE). Os dados descritivos e ilustrativos (devidamente reescritos, quer quanto à forma como ao conteúdo), contudo, foram originalmente obtidos através do seguinte endereço-eletrônico: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Tipos_de_nuvens.jpg (acesso em 22 de abril de 2007) e nos demais endereços mencionados nas fotos das nuvens. Agradece, também, ao Doutorando Lucas Carvalho Veloso Rodrigues, do Instituto de Química da USP, pelo enorme auxílio na diagramação eletrônica das fotos deste trecho do livro.

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entremos no mérito do julgamento da questão que, aqui não cabe, consideramos de

fundamental importância fornecer informações básicas e elementares à respeito da

Meteorologia, complexa ciência que estuda os fenômenos que regem e interferem no

nosso cotidiano.

Assim, de acordo com o Atlas Internacional de Nuvens da OMM (Organização

Meteorológica Mundial, com sede em Genebra, na Suiça) existem três estágios ou

grupos de alturas de nuvens:

• Altas - base acima de 6 km de altitude - constituídas de vapor d’água e gelo nos

seus níveis mais elevados.

• Médias - base entre 2 a 4 km de altura nos pólos, entre 2 a 7 km em altitudes

médias, e entre 2 a 8 km no Equador - podendo ser nuvens líquidas ou mistas.

• Baixas - base até 2 km de altitude - constituídas de nuvens que acarretam

maiores restrições à visibilidade.

Então, das mais altas para as mais baixas, temos:

Tipos de Nuvens

• Cirrus (grafado internacionalmente pela sigla “Ci”): aspecto delicado, sedoso

ou fibroso, cor branca brilhante. Lembram a forma de cauda de cavalo (ou

vírgulas) e são popularmente chamadas de "rabos-de-galo". Ficam a 8 mil

metros de altitude, numa temperatura a 0º C. Por isso são constituídas de

microscópicos cristais de gelo. Como antecedem a chegada de frentes frias são

também conhecidas como as “sentinelas avançadas das frentes”.

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• Cirrocumulus (Cc): delgadas, compostas de elementos extremamente pequenos

e em forma de grãos e rugas. Servem para indicar a base de corrente de jato e

turbulência nos níveis mais elevados da atmosfera.

• Cirrostratus (Cs): em forma de um véu quase transparente, fino e

esbranquiçado, que não oculta o Sol ou a Lua, e por isso dão origem ao

fenômeno de halo (fotometeoro). Localizam-se logo abaixo dos Cirrus e também

são formados por cristais de gelo.

• Altostratus (As): camadas cinzentas ou azuladas, muitas vezes associadas a

altocumulus. São compostas de gotículas superesfriadas e cristais de gelo. Não

formam halo, pois “encobrem” o Sol. Dão origem à precipitação leve e contínua.

• Altocumulus (Ac): lençol ou camada de nuvens brancas ou cinzentas,

normalmente constituídas de blocos que, em geral, se apresentam com sombras

próprias. Constituem o chamado "céu encarneirado". Na maioria das vezes

indicam atmosferas

instáveis.

• Stratus (St): muito

baixas, em camadas

uniformes e suaves,

cor cinza. Coladas à

superfície é o

nevoeiro. Apresenta

topo uniforme (ar

estável) e produz

chuvisco (garoa). Vale informar que da altura superior a 19 metros acima do

solo é nuvem e abaixo deste valor é nevoeiro. Quando se apresentam

fraccionadas são chamadas fractostratus (Fs).

• Stratocumulus (Sc): lençol contínuo ou descontínuo, de cor cinza ou

esbranquiçada, tendo sempre partes escuras. Quando em vôo, há turbulência

dentro da nuvem. Indica atmosfera preponderantemente estável.

• Nimbostratus (Ns): aspecto amorfo, base difusa e baixa, muito espessa, escura

ou cinzenta. Produz precipitação contínua e mais ou menos intensa por longos

períodos de tempo. O aspecto é o de um lençol acinzentado e contínuo que

ocupa todo o céu.

Cirro

Alto

Strato

Nimbo

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• Cumulus (Cu): nuvem densa com contornos bem definidos, que se assemelham a

um pé de couve-flor. Máxima freqüência sobre a terra de dia e sobre a água de

noite. Podem ser orográficas ou térmicas (convectivas). Apresentam precipitação

em forma de pancadas, correntes convectivas e turbulência característica de

atmosfera instável. Só constituem restrição à visibilidade durante as precipitações.

Quando se apresentam fraccionadas são chamadas fractocumulus (Fc). As muito

desenvolvidas são chamadas de cumulus congestus que, em geral, indicam bom

tempo.

• Cumulonimbus (Cb): nuvem de trovoada; base entre 700 e 1.500 m, com topos

chegando a 24 e 35 km de altura, sendo a média entre 9 e 12 km. São formadas por

gotas d'água, cristais de gelo, gotas superesfriadas, flocos de neve e granizo.

Caracterizadas pela "bigorna": o topo apresenta expansão horizontal devido aos

ventos superiores, lembrando a forma de uma bigorna de ferreiro e é formado por

cristais de gelo, sendo nuvens do tipo cirrostratus (Cs). São nuvens que, quando se

precipitam sob forma de chuva ou granizo causam enormes transtornos ao meio

ambiente. Vale mencionar que a turbulência gerada no seu interior é tão violenta

que os aviões (incluindo os de grande parte) não a enfrentam. Sempre que os

radares das aeronaves detectam o Cb, o avião é desviado temporariamente da rota

até que a formação seja contornada e o aparelho possa retornar ao seu caminho

aéreo original e já dentro de uma situação de melhor estabilidade atmosférica e,

conseqüentemente, de maior conforto na navegação da aeronave. Há uma variante

do Cb, denominada “towering cumulus”- sigla TCU (expressão em língua inglesa,

que pode ser traduzida em português para “cumulus em forma de torre”) e que não

desenvolve a atividade característica do Cb, que é a trovoada*. A TCU é uma

nuvem de aspecto extremamente bonito. A seguir, uma galeria de fotos contendo as

ilustrações mais características dos principais tipos de nuvens até aqui mencionados

* Para que determinemos a distância com as quais as descargas elétricas (raios) estão se precipitando distantes de nós basta cronometrarmos o tempo que decorre entre o clarão do raio e o seu estampido, multiplicando este valor pela velocidade do som. É preciso lembrar que a velocidade do som varia com a temperatura do ar. Para que a calculemos, é preciso usar a fórmula: vsom = 20,05 x √ temperatura (em Kelvin). Lembremos, contudo, que na escala Kelvin, 0° C equivale a 273 K. Assim, a zero grau Celsius, o som se propaga à velocidade de 331 m/s. A título de exemplo, se considerarmos a velocidade de propagação do som a 25°C (298 K), teremos: 20,05 x √ 298, que é 17,26. Portanto, 20,05 x 17,26 = 346,1 m/s. Dessa forma, se a temperatura do ar for de 25°C (298 K) e a diferença de tempo entre o clarão do raio e seu respectivo estampido for de 10 segundos, a descarga elétrica foi lançada a 3,46 km do observador.

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http://www.floridagardener.com/misc/cirrostratus_sm.jpg

04. Altostratus (As) http://www.victoriaweather.ca/resources/Clouds/altostratus

.jpeg 03. Cirrostratus (Cs)

http://www.cd.geografia.vel.pl/101.jpg

05. Altocumulus (Ac) http://www.uvi.edu/SandM/Physics/SCI3xxWeb/Water/Scool/stra

tus.html 06. Stratus (St)

http://photosmeteo.ifrance.com/photosmeteo2.html 07. Fractostratus (Fs)

http://www.meteonet.org/html/stratocumulus.html

08. Stratocumulus (Sc)

http://www.meteonet.org/assets/images/cirrus_1.jpg 01. Cirrus (Ci)

http://aposf02.cityu.edu.hk/~ksliu/obs/cloud 02. Cirrocumulus (Cc)

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Sensação térmica

É a percepção subjetiva de frio ou calor, que sempre corresponde à temperatura real do

ambiente no qual nos encontramos. Em outras palavras é a temperatura que sentimos e

que é provocada pelo efeito combinado entre a velocidade do vento e a temperatura do

http://www.weatherzone.com.au/misc/glossary.jsp

09. Nimbostratus (Ns) http://mmem.spschools.org/grade5science/weather/cumulus.html

10. Cumulus (Cu)

http://fi.wikipedia.org/wiki/Cumulus_fractus 11. Fractocumulus (Fc)

www.drustvo-viharnik.si/oblaki.htm

12. Cumuluscongestus (Cu congestus)

http://www.notre-planete.info/geographie/

13. Cumulonimbus (Cb)

http://www.stormeffects.com/2002_monsoon_images.htm

14. Towering cumulus (TCU)

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ar indicada pelos termômetros ou sensores de temperatura. Vale ressaltar que as

temperaturas exibidas pelos mostradores digitais existentes nas vias públicas urbanas

são sempre inexatas. Isto porque, de maneira geral, os sensores estão localizados

próximos ao asfalto que, por ser um corpo negro, conserva a radiação térmica absorvida

pelo solo. Para calcular a sensação térmica, indicada por ST, empregamos a equação

mencionada abaixo:

ST = 33 + (10 x √ V + 10,45 - V) x (T - 33) / 22, onde:

ST = sensação térmica em graus Celsius V = velocidade do vento em metros por segundo T = temperatura em graus Celsius

Para exemplificar, empregaremos os dados climáticos para as 14 horas e 16 minutos do

dia 19 de julho de 2009, referentes à cidade de São Paulo (SP) e indicados pelo

excelente e confiável site http://pt.allmetsat.com/. Naquele dia, hora e local, a indicação

era de 15º C de temperatura do ar e de vento com velocidade de 4 m/s. Aplicando-se os

dados à fórmula acima expressa e consideradas todas as passagens matemáticas, temos:

ST = 33 + (10 x √ 4 + 10,45 - 4) x (15 - 33) / 22

ST = 33 + (10 x 2 + 10,45 - 4) x ( - 18) / 22

ST = 33 + (20 + 6,45) x ( - 0,81)

ST = 33 + (26,45) x ( - 0,81)

ST = 33 + ( - 21,42)

ST = 11,58º C, que era a temperatura efetivamente sentida pelas pessoas e pelos

animais, quando estes se encontravam no exterior de suas residências naquele exato

momento.

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No efeito estufa, o preço do progresso

“Os americanos são viciados em petróleo”

George W. Bush6

“O país concentra 300 milhões de cidadãos consumindo jatos de luxo

e utilitários esportivos que bebem gasolina como se fosse Coca-Cola”

Paul Ehrlich7

As pessoas que vivem nas cidades, nos centros industrializados ou nas regiões de

grandes desmatamentos têm percebido mudanças climáticas que se pronunciaram de

maneira particular nas últimas décadas. Isto ocorre em nível mundial, embora com

maior intensidade e velocidade nos chamados países em desenvolvimento. Assim

chamados por terem apresentado seus processos de industrialização e de concentração

urbana, com atraso em relação às nações desenvolvidas. Ao contrário destas últimas –

também conhecidos como países emergentes –, as nações desenvolvidas iniciaram suas

industrializações no fim do século XVIII, com o surgimento da primeira máquina a

vapor (James Watt, Inglaterra, 1769). Naquela época iniciou-se a Revolução Industrial,

que se intensificou depois de 1804 quando começou a circular a primeira locomotiva a

vapor, idealizada pelo também inglês Richard Trevithick. Outro evento de importância

na mudança global do clima foi a invenção do automóvel a gasolina pelo alemão Karl

Benz (1885) e anos depois, em 1892, do motor a diesel pelo alemão Rudolph Diesel.

As combustões, ou queima, do carvão, gasolina e diesel que alicerçaram a

industrialização – sobretudo para a geração de energia e o acionamento das indústrias –

e os transportes ferroviários, marítimos e rodoviários, despejavam na atmosfera das

cidades industriais européias toneladas de poluentes, provocando a poluição

atmosférica. Esta última causada pelo lançamento de partículas de carvão, dióxido de

carbono (que é, também, o gás que expiramos em nossa respiração) e do monóxido de

6 Discurso do presidente dos EUA, em janeiro de 2006, no qual afirmou que o país precisa deixar de comprar combustível de regiões politicamente instáveis. 7 Demógrafo norte-americano em depoimento concedido à Revista Veja, edição 1942, ano 39, número 5, 8 de fevereiro de 2006, páginas 14 e 15.

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carbono, gás mortal quando inspirado em ambientes fechados e sem a devida circulação

do ar. E esta é a razão pela qual não devemos ligar motores de veículos em garagens

fechadas, nem tampouco operar aquecedores a gás sem a devida abertura de janelas que

permitam circulação de ar para dissipação do gás letal.

As emissões destes poluentes concentram-se em determinadas regiões da atmosfera,

formando uma capa ou camada que impede a liberação do calor recebido pela Terra pela

energia proveniente do Sol. Esta camada, tão visível nas grandes cidades, funciona

como um isolante térmico do globo terrestre. Assim, o calor fica retido nas camadas

mais baixas da atmosfera, trazendo graves problemas ao nosso planeta. Por analogia a

um mesmo mecanismo que ocorre nas estufas de aquecimento de alimentos, os

cientistas resolveram dar ao fenômeno meteorológico o nome de “efeito estufa”. É

preciso termos cautela e nos lembrar que o efeito estufa sempre se fez presente na Terra

e a ele devemos a manutenção da vida sobre a superfície terrestre. É graças a ele que a

temperatura média do planeta se mantém na faixa dos 15 graus Celsius. Sem o efeito

estufa, a temperatura média da Terra seria de 18 graus Celsius negativos. Em outras

palavras é benéfico ao planeta, pois é responsável por um aumento de 33 graus na

temperatura o que cria condições para a existência da vida.

Desta maneira, quando se alerta para os riscos relacionados ao efeito estufa o que está

em foco é a sua possível intensificação causada pela ação do homem e a conseqüência

disso como danos irreversíveis à natureza. Pesquisas recentes indicam que o século XX

foi o mais quente dos últimos 500 anos e os cientistas que se dedicam ao assunto

afirmam que, num futuro próximo, o aumento da temperatura provocado pelo efeito

estufa poderá ocasionar o derretimento das calotas polares, elevando o nível dos

oceanos. Como conseqüência, cidades litorâneas poderão desaparecer da superfície do

planeta. Os cientistas prevêem, também, que o aumento da temperatura da Terra poderá

desembocar na destruição de inúmeros ecossistemas, com a extinção de espécies

vegetais e animais. Como resultado do derretimento de geleiras e do alagamento de

ilhas e regiões litorâneas, os tufões, furacões, maremotos e enchentes poderão acontecer

com maior intensidade. As alterações no clima poderão influenciar negativamente as

produções agrícolas de vários países, reduzindo a quantidade de alimentos disponíveis

no planeta. Ademais, a elevação da temperatura nos mares implica desvio de correntes

marítimas, ocasionando a extinção de animais marinhos e a diminuição na quantidade

de peixes.

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Para agravar este panorama as autoridades governamentais da maioria dos países em

desenvolvimento – como é o caso do Brasil e demais nações situadas

preponderantemente na faixa tropical da Terra – ainda não desencadearam ações e

políticas eficazes no sentido da preservação do meio-ambiente e da manutenção de seus

ecossistemas. Cite-se, para isso, o desmatamento indiscriminado praticado em diversas

regiões do País, onde a cada dia são abatidas milhares e milhares de árvores. Isto sem

contar com a prática das queimadas como forma de expandir as fronteiras agrícolas.

Neste caso, os danos são duplicados de vez que as queimadas aquecem o ar e lançam

poluentes à atmosfera. Por outro lado, a derrubada das árvores faz com que a natureza

fique privada da presença dos vegetais, que são os responsáveis por retirar o dióxido de

carbono do ar e substituí-lo por oxigênio. E este é o motivo pelo qual sempre preferimos

morar próximo dos lugares arborizados, pois estes funcionam como os pulmões da

natureza.

Preocupados com estes problemas, organismos internacionais, organizações não-

governamentais e autoridades de diversos países já estão tomando medidas para reduzir

a poluição e a emissão de gases. O Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, prevê a

redução de poluentes para os próximos anos. Porém, países como os Estados Unidos

têm dificultado o avanço destes acordos, alegando que a redução na emissão de gases

poderia dificultar o avanço das indústrias daquele país.

Aquecimento Global: a origem e o preço que poderemos pagar pela sua existência

A dependência de combustíveis, sobretudo os de origem fóssil (notadamente o petróleo

e o carvão mineral), tem se mostrado cada vez maior, sobretudo depois do início da

Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII e expandindo-

se pelo mundo todo após o século XIX. Em sua essência, tal revolução consistia em

utilizar o carvão mineral como matéria-prima acionadora de força motriz, em

substituição à manual e executada nos teares texteis, sempre através da máquina a vapor

aperfeiçoada em 1765 por James Watt, que introduziu um condensador de vapor de

água que aumentou consideravelmente a eficiência do motor a vapor. Com isto e com a

queima do carvão, iniciou-se o processo de emissão na atmosfera de quantidades

crescentes de partículas sólidas e de gás carbônico, decorrente de todos os processos de

combustão dos motores à explosão interna (gasolina, álcool e diesel). Tal como ocorre

nos canos de escape dos veículos automotores que, além de partículas de carbono e de

vapor de água lançam, também, o dióxido de carbono (CO2). Mas, quem é, afinal, este

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grande algoz e vilão no processo do aquecimento global, com o seu respectivo

rebatimento no chamado efeito estufa? Na verdade, produz-se dióxido de carbono até

mesmo quando respiramos. O processo respiratório dos seres vivos consiste em inspirar

gás oxigênio (O2) e expirar o dióxido de carbono, ou o CO2. As células se encarregam

de absorver o oxigênio e promover uma reação com moléculas orgânicas para obtenção

da energia. De fato, neste processo obtém-se energia. Mas um dos produtos resultantes

desta reação é o dióxido de carbono. Não se quer dizer, com isto, que a culpa pelo

agravamento do efeito estufa resida na respiração humana ou na de outros mamíferos,

sejam eles de pequeno ou de grande portes. Estamos apenas pontuando que a produção

de CO2 é um processo natural e até fundamental para a vida. É importante ressaltar que

se retirássemos todo o gás carbônico da atmosfera, a temperatura média de nosso

planeta baixaria para aproximadamente - 20 graus Celsius o que, evidentemente, não

daria suporte à vida. Contudo, a grande produção de CO2 provém da produção de

energia, obtida principalmente pela queima de combustíveis orgânicos, como o carvão

mineral, a lenha e o petróleo. E que, da mesma forma que as nossas reações

intracelulares, resultam em energia e liberam CO2 e vapor de água. Lembrando que as

moléculas orgânicas são formadas basicamente pelo carbono e hidrogênio, a reação

pode ser genericamente assim ser representada: CnHm + O2 = CO2 + H2O + energia.

Porém, desta reação genérica, extraímos uma regra fundamental de todas as reações

orgânicas: a queima total de hidrocarbonetos resulta em energia, acrescida de vapor de

água e dióxido de carbono. Percebe-se claramente que a redução da emissão de CO2 na

atmosfera passa, inevitavelmente, pela mudança na nossa matriz energética. Ou, em

outras palavras pela queima de combustíveis. Daí a preocupação com as fontes de

energia que em sua combustão não liberem aquele gás. Falamos, portanto, do emprego

de energias limpas e renováveis, como a eólica, biomassa, energia das marés e solar,

dentre outras. Percebe-se, também, que não conseguiríamos mudar esta matriz

energética e cessar a emissão do gás num simples passe de mágica, já que tal alteração

afetaria (e em muito) o nosso estilo de vida. A despeito disto, a solução

obrigatoriamente deve se focar em reduzirmos ao máximo as emissões de gás

carbônico. Por outro lado, ainda que o ser humano parasse de emitir gás carbônico nos

dias de hoje, a atual atmosfera demoraria longo tempo para voltar ao normal. O tempo

de permanência do gás carbônico na atmosfera é de aproximadamente 150 anos. Dessa

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maneira, o importante é minimizar o tanto quanto possível o problema, diminuindo ao

máximo as emissões gasosas.

Há de se entender que a Terra funciona com um equilíbrio termodinâmico. Qualquer

desequilíbrio neste sistema afeta diretamente o clima. Não apenas pelo aumento ou

diminuição da temperatura média do planeta, como pelos movimentos atmosféricos e

oceânicos. Com efeito, o quadro de emissão de gás carbônico poderia estar bastante pior

do que se encontra na atualidade. Quando se analisa a quantidade de CO2 lançada na

atmosfera nas últimas décadas, os cientistas indicam que a concentração atual é menor

do que a esperada. Isto porque o dióxido de carbono que deveria estar na atmosfera e

não está presente, certamente foi parar em algum lugar. As melhores teorias mostram

que os oceanos absorveram grande parte do gás já emitido. Efetivamente e de acordo

com teorias científicas secularmente comprovadas, quando se aumenta a quantidade de

um gás em uma mistura gasosa (como é o caso da nossa atmosfera), aumenta-se sua

pressão parcial, o que faz com que a absorção por um líquido em contato com esta

mistura aumente. O problema em questão é, portanto, o desequilíbrio causado pelo

excesso de CO2 nos oceanos.

Neste ponto é absolutamente oportuno lembrar que o gás carbônico em contacto com a

água do mar e dos cursos dos rios forma o ácido carbônico. Assim: CO2 + H2O =

H2CO3. Da mesma maneira, o ácido carbônico se ioniza, liberando íons H+, o que

aumenta a acidez do meio aqüoso e, ao mesmo tempo, forma sais de carbonato e de

bicarbonato o que satura as soluções líqüidas. De concreto isto pode, de fato, causar

problemas para a flora e fauna marinhas, que passam a contar com a existência de

fatores através das quais não foram criadas (ao menos tal como surgiram) através dos

processos convencionais da natureza. Acrescente-se a isto tudo, a elevação da

temperatura média da Terra, num processo que desemboca no degelo das calotas polares

autrais (Sul) e boreal (Norte) do planeta, com o conseqüente aumento no nível e na

temperatura das águas.

Assim, para enfrentar todas as vicissitudes e desafios suscitados pelo capitalismo, hoje

marcado pela inexorável globalização dos mercados mundiais, é necessária a mais

ampla mobilização social, sempre no sentido de se exigir das autoridades e empresas

que diminuam a emissão de gases como o dióxido de carbono. Caso estas providências

não sejam tomadas de imediato, certamente pagaremos um preço extremamente elevado

pelo descaso ou pela omissão das nossas atitudes.

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Lua, a nossa acompanhante há quatro bilhões de anos

“Depressa, bela Hipólita, aproxima-se a hora de

nossas núpcias. Quatro dias felizes nos trarão

uma outra lua...” Shakespeare, Sonho de uma

noite de verão

Ao contrário do que ocorre em todo o sistema solar, a Terra é o único planeta que tem

como satélite natural a Lua, com diâmetro pouco superior a um quarto do terrestre. Os

demais planetas dotados de satélites (Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão),

contam com corpos de dimensões reduzidas que gravitam ao redor de suas órbitas.

Embora existam hoje inúmeros satélites artificiais lançados pelo homem desde o início

da Era Espacial – inaugurada em 4 de outubro de 1957, quando os soviéticos colocaram

em órbita o Sputnik 1 –, temos a Lua como nossa acompanhante há quatro bilhões de

anos.

Cantada em prosa e verso há milhares de anos, ocupa posição de destaque na

imaginação dos povos. Na fase de Lua cheia – que se repete a cada 29 dias, 7 horas e 43

minutos –, suas manchas e luminescências observadas a olho nu sugerem figuras que

são associadas ao nosso universo cultural. Há até os que atribuam semelhança com

imagens religiosas. No entanto, quando observada através de um telescópio mostra uma

profusão de crateras, vales, picos altíssimos, fendas cujo fundo não é atingido pelos

raios do Sol e planícies que se estendem monotonamente por milhares de quilômetros.

As manchas maiores constituem tais planícies, conhecidas desde tempos remotos pelos

nomes de “oceanos” e de “mares”, embora não haja ali uma única gota d’água sequer.

Na verdade são depressões com dezenas de quilômetros de profundidade, recobertas por

lava endurecida (de natureza próxima às rochas encontradas no fundo do Oceano

Pacífico). A maior delas, facilmente visível da Terra, recebe o nome de Oceanus

Fonte: azelhasdomar.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_05.html

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Procellarum (Oceano das Tormentas ou das Tempestades). Ao contrário dos “mares” e

“oceanos” que recebem nomes latinos, as montanhas lunares foram batizadas com os

nomes das terrestres, como Apeninos, Cáucaso e Atlas, dentre outras.

Dista, em média, 384.000 quilômetros da Terra. Em sua maior aproximação (o que em

Astronomia denomina-se periélio), situa-se a 356.334 km do nosso planeta. A distância

máxima da Terra (afélio) é de 406.610 km. De formato esférico, apresenta raio de 1.735

km, o que equivale a 0,27 vez o valor do terrestre. Sua massa é de 7,35 qüinqüilhões de

toneladas, ou seja, 0,012 vez inferior à da Terra. Além da translação em torno da Terra,

apresenta um segundo movimento denominado libração, que pode ser entendido como

um leve movimento de oscilação observável ao longo do equador lunar. Em virtude

disso, desloca-se, alternadamente, oito graus de arco ora para leste, ora para oeste. Por

isto mantém um lado sempre oculto a um observador situado na Terra. Esta face só foi

conhecida em 27 de outubro de 1959, quando a sonda soviética Lunik III obteve

fotografias a altura de 60 a 70 mil quilômetros da superfície da Lua. Pela primazia, a

maioria dos acidentes lunares lá existentes foi batizada com nomes de cientistas e

personalidades soviéticas.

Desde 1750 os cientistas procuram explicar a origem da Lua. Os primeiros trabalhos

foram elaborados por Buffon (1750), Kant (1755) e Laplace (1796), numa lista que se

prolonga até a atualidade. Hoje coexistem três teorias, das quais a mais abrangente é a

“teoria da colisão cósmica”, propondo que há quatro bilhões de anos a Terra foi atingida

por um planeta denominado Orpheus. Quando se chocaram, grande quantidade de

fragmentos foi lançada ao espaço. O material se aglutinou em virtude de forças

gravitacionais, formando lentamente o que hoje é a Lua. A segunda conhecida como

“teoria da fissão”, sugere que na formação do sistema solar a Terra girava tão rápido

que, por ação de força centrífuga, uma parte próxima do Equador tornou-se alongada e

foi lançada ao espaço, originando a Lua. Seus adeptos defendem que a cicatriz deixada

na Terra é o fundo do Oceano Pacífico. A terceira teoria, denominada “solidificação das

nuvens” postula que tanto a Lua quanto a Terra se formaram no mesmo período, a partir

de nuvens de poeira cósmica, posteriormente aglutinada em decorrência de forças

gravitacionais.

Diferentemente da Terra, a Lua possui apenas traços de atmosfera. Por esta razão,

inexiste o efeito-estufa que regularia a temperatura na superfície lunar. Em virtude

disso, as temperaturas oscilam, num mesmo ponto, entre – 150° C e + 100°C, segundo

estejam recebendo ou não a incidência direta de luz solar. Vale observar que a face da

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Lua voltada a Terra não recebe incidência solar na Lua Nova (quando a Lua encontra-se

entre o Sol e a Terra e torna-se, portanto, não-visível) e recebe a quantidade máxima de

luz solar na Lua Cheia (quando a Terra está colocada entre o Sol e a Lua). Nas fases

complementares (quartos crescente e minguante), recebe insolação intermediária.

Tal como a Terra, a Lua é composta de três camadas. A crosta lunar possui 60 km de

espessura e é constituída de poeira fina, blocos rochosos e materiais triturados em

decorrência do impacto de meteoritos (corpos rochosos abundantes entre as órbitas de

Marte e de Júpiter). Abaixo dela encontra-se a litosfera, com 1.500 km de espessura. A

astenosfera, nome dado ao núcleo lunar, apresenta 500 km de diâmetro e sua

temperatura é de – 130° C.

Como a aceleração da gravidade na Lua é seis vezes inferior à da Terra, a atração dos

corpos é menor. Por isto, ao invés de o homem caminhar, nas filmagens eles se

locomovem aos saltos. Se um homem com 70 quilogramas de massa (quantidade de

matéria) fosse à Lua, lá teria a sensação de pesar apenas de 10 a 12 kg, mantida a

mesma massa.

Embora não exerça influência direta sobre o homem, é co-responsável pela ocorrência

das marés líquida e sólida, ambas causadas pela ação gravitacional conjunta Lua-Sol. A

variação das marés líquidas é maior nas regiões equatoriais, decrescendo na medida em

que nos dirigimos aos pólos. Assim, quando em São Luís (MA), a oscilação registrar 6

metros entre a baixa-mar (maré baixa) e a preamar (maré alta), no Porto de Rio Grande

(RS) a variação será de 1 metro. Raciocínio análogo pode ser aplicado ao caso das

marés sólidas. Menos perceptível aos nossos órgãos do sentido, a maré sólida traduz-se

na existência de maior desagregação das partículas do solo. Em termos mais simples

ainda, durante a fase da Lua Nova – ocasião em que o nosso satélite natural encontra-se

mais próximo da Terra – ocorre maior força de atração e, com isso, o solo (seja ele

terroso ou arenoso) apresenta-se menos compactado o que permite maior poder de

aprofundamento das raízes dos bens agrícolas plantados. E é isso o que, no interior,

justifica a escolha da Lua Nova como a melhor época para a semeadura de vegetais. É

preciso esclarecer, contudo, que todas as demais crenças populares (como corte de

cabelo ou realização de negócios) a respeito dos efeitos e influências da Lua, ou de

qualquer outro astro, sobre o homem carece de qualquer fundamentação científica

representando, portanto, atos de pura crendice e superstição.

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A corrida espacial e a conquista da Lua

“É um pequeno passo para o homem, mas um salto gigante para a humanidade”

Armstrong, 21/07/1969, a propósito da conquista da Lua

O ingresso da humanidade na Era Espacial se deu a 4 de outubro de 1957, quando uma

pequena esfera de 58 centímetros de diâmetro, 83 quilogramas de peso e dois pares de

antenas, viajando a 28.800 km/h emitiu os primeiros sinais sonoros provenientes do

espaço. Tais “bips” provinham do artefato soviético Sputnik I (palavra que no idioma

russo significa “pequeno companheiro”), que se constituiu no primeiro satélite artificial

da Terra. Estava demonstrada a superioridade da tecnologia espacial soviética em

relação à norte-americana. Menos de um mês depois os EUA sofrem nova derrota: a 3

de novembro do mesmo ano é lançado o Sputnik II. Satélite muito mais pesado que o

primeiro, com 560 kg e, ainda, um agravante: levava a bordo o primeiro ser vivo

lançado no espaço, a cadela esquimó da raça Laika, de nome Kudryavka (“crespinha”,

também em russo). A partir daí, o desenvolvimento dos lançamentos se acelerou e já em

fins de 1958 os lançamentos passam a visar a Lua, apesar de as primeiras tentativas

terem fracassado.

Em janeiro de 1959, os soviéticos lançam o Lunik I que passa a 7.500 km do nosso

satélite natural (ou seja, a Lua), mergulhando no espaço infinito e tornando-se o

primeiro artefato construído pelo homem a entrar no campo gravitacional exercido pelo

centro do nosso sistema: o Sol. Foi por isto rebatizado com o nome de Metcha (sonho).

A 12 de setembro do mesmo ano, o Lunik II é a primeira sonda a se chocar com a Lua,

espatifando-se em decorrência do impacto.

Ainda em 1959, no dia em que o lançamento do Sputnik I completava dois anos, o

Lunik III obtém as primeiras fotos do lado oculto da Lua (como a Lua não apresenta

movimento de rotação em relação ao seu próprio eixo, nosso satélite natural sempre

mostra uma mesma face para um observador situado aqui na Terra). Oportuno

mencionar que somente em 28 de julho de 1964 a sonda lunar norte-americana de nome

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Ranger VII repete a mesma façanha. Um período de fracassos e muitos impactos, com a

obtenção de milhares de fotos tiradas por outros Luniks e Rangers, em queda livre em

direção ao solo lunar, antecederam dois outros grandes êxitos soviéticos: a 3 de

fevereiro de 1966, o Lunik IX pousa suavemente na Lua (o Surveyor I, dos EUA, só

pousaria a 30 de maio) e a 31 de março do mesmo ano, o Lunik X, se torna o primeiro

satélite da Lua (o Lunar Orbiter I, dos EUA, repete o feito a 14 de agosto do mesmo

ano).

Em setembro de 1968, os soviéticos fazem a primeira viagem ida-e-volta à Lua com a

sonda Zond V, "tripulada" por moscas e sementes. Em outubro, na Zond VI, os

"tripulantes" são tartarugas. A par destes sucessos com naves automáticas, em busca da

Lua, outros feitos eram realizados. Ainda na vanguarda da corrida espacial, a 12 de abril

de 1961, o soviético Yuri Gagarin (1934-1968), a bordo da Vostok I (Oriente), torna-se

o primeiro homem no espaço, que do espaço declara estupefato: “a Terra é azul!”.

O primeiro vôo tripulado dos EUA só acontece 10 meses depois, quando a 20 de

fevereiro de 1962, é lançada a nave Mercury VI, levando a bordo, John Glenn Jr.

Também coube aos soviéticos a primazia de enviar a primeira mulher ao espaço:

Valentina Tereshkova a bordo da Vostok VI em 16 de junho de 1963. Primazia esta

mantida por quase 20 anos, uma vez que, somente a 19 de agosto de 1982 sobe a

segunda mulher ao espaço. Novamente, uma soviética: Svetlana Savitskaya, a bordo da

Soyuz T-VII (União). Completados 20 anos e 2 dias do lançamento da primeira mulher

ao espaço, finalmente sobe a primeira estadunidense, Sally Ride, a bordo a segunda

missão Challenger (18 de junho de 1983).

Os vôos orbitais tripulados se sucedem, cada vez mais longos e com maior número de

tripulantes na mesma nave. Os soviéticos, outra vez, são os primeiros a enviar uma

equipe ao espaço em 12 de outubro de 1964, ao lançar a Voskhod I (Aurora) com três

tripulantes. E, também, fazem o primeiro passeio no espaço, realizado por Aleksei

Leonov que subiu a bordo da Voskhod II em 18 de março de 1965, ficando entre 10 e

15 minutos fora da nave. Edward White é o primeiro astronauta dos EUA a realizar a

mesma proeza, a bordo da Gemini IV, em junho de 1965. Manobras em órbita, vôos

conjuntos com manobras de aproximação e até acoplamento com naves não tripuladas

foram as experiências seguintes do Projeto Gemini, que chega ao fim em 1966.

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Enquanto os soviéticos realizam em janeiro de 1969 a mais complexa manobra espacial

até então realizada com o engate de duas naves tripuladas, a Soyuz IV e a Soyuz V,

efetuando a troca de cosmonautas os estadunidenses ensaiam a descida na Lua.

Finalmente, em 16 de julho de 1969 é lançada a Apollo XI, tripulada por Neil

Armstrong, Edwin Aldrin Jr. e Michael Collins, sob os olhares atentos e apreensivos de

todo o mundo (cerca de 1 milhão de pessoas assistiram o lançamento do local, enquanto

mais de 1 bilhão acompanhava, pela televisão, a subida do Saturno V que levava, no

alto dos seus 110 metros, a nave Apollo XI).

A 19 de julho já estão em órbita lunar, preparando-se para o pouso. A tensão cercava a

missão, comprovada pela sisudez dos três homens que estavam enfrentando o

desconhecido, além de saberem da presença da nave soviética Lunik XV, que partira

dois dias antes, na tentativa de colher automaticamente amostras do solo lunar.

Finalmente, a 20 de julho de 1969, Armstrong e Aldrin deixam o Módulo de Comando

Columbia e passam para o Módulo Lunar Águia, iniciando a descida rumo ao solo

lunar. Foram os dezenove minutos mais longos da história da conquista da Lua em uma

descida lenta, mas decidida até o pouso no Mar da Tranqüilidade. Às 23:56 horas

(horário de Brasília), Armstrong deixa a marca de seu pé impressa na superfície

poeirenta da Lua. Vinte minutos depois Aldrin se junta a ele. Após 2 horas e 10 minutos

instalando instrumentos, a bandeira dos EUA, e de colherem cerca de 27 kg de rocha

lunar retornam ao Módulo Lunar, para, na tarde de 21 de julho, retornarem a encontrar,

em órbita, a nave que os transportara. Estava consumada a conquista da Lua pelo

homem.

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Marte, o misterioso planeta vermelho

“... Que eu canto o peito ilustre lusitano,

A quem Netuno e Marte obedeceram;

Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se levanta.”

Camões, Os Lusíadas, canto I, 3

No decorrer do ano de 2003, a vedete do firmamento foi o planeta Marte. E não faltaram

bons motivos para isso. Sobretudo se considerarmos que às 6 horas e 51 minutos (hora

de Brasília) do dia 27 de agosto daquele ano, Marte distava 55,76 milhões de

quilômetros da Terra. Marca extraordinária já que tal aproximação não ocorria desde o

ano 57.617 antes do nascimento de Cristo, quando a Terra ainda era habitada pelos

nossos ancestrais – os neandertais –, que viviam em cavernas e tentavam transformar

pedras lascadas em armas e ferramentas. Mais notável ainda é sabermos que a próxima

grande aproximação de Marte ao nosso planeta só acontecerá no ano 2287. É oportuno

lembrar que nos últimos 130 anos, as distâncias mínimas Marte-Terra oscilaram entre

56,35 milhões de quilômetros (agosto de 1877) e 58,81 milhões de km (setembro de

1988).

Estas aproximações são tão importantes para a Astronomia, que recebem o nome de

oposição. Acontecem pelo fato de o ano marciano ter a duração equivalente a 687 dias

terrestres. Por esta razão, em seus movimentos de translação (volta completa ao redor

do Sol), a cada dois anos, o Sol, a Terra e Marte (e sempre nesta ordem), praticamente

se alinham ao longo de uma mesma reta. Ocorre a então chamada oposição de Marte.

Tema de inúmeros livros e filmes de ficção, Marte sempre aguçou a curiosidade do

homem. Na antiga Grécia recebia o nome Ares, o temido deus da guerra. Filho de Zeus

(o mais poderoso deus grego) e de Hera (deusa do casamento e do parto), foi amante de

Afrodite (Vênus, a deusa da beleza) com quem teve um filho: Eros (deus do amor).

Possuidor de temperamento agressivo foi o primeiro deus a ser julgado por um tribunal.

O motivo foi haver assassinado sanguinariamente um dos filhos de Poseidon (deus do

Fonte: lasendadeluz.blogspot.com/2006/06/marte.html

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mar e que, para os romanos, recebia o nome de Netuno). Daí sua associação à cor

vermelha do planeta. Em seu carro de combate, Ares era sempre puxado por dois

corcéis ou cavalos selvagens: Fobos (terror) e Deimos (derrota). Entre os romanos

recebia o nome de Marte e era considerado o maior de todos os deuses. Pai de Rômulo e

Remo era cultuado como ancestral dos cidadãos de Roma, que davam grande valor às

suas virtudes (força e bravura).

Quarto planeta do sistema solar, sempre que visível fulgura com luz avermelhada. Nas

épocas de maior aproximação da Terra, chega a brilhar tanto quanto Vênus. Tem 6.700

quilômetros de diâmetro e seu traço mais característico são as calotas polares. Possui

atmosfera, mas esta é rarefeita e composta de dióxido de carbono (95%), nitrogênio

(2,7%), argônio (1,6%), oxigênio (0,2%), e traços de água e de monóxido de carbono. O

período de rotação (ou dia) é de aproximadamente 24horas e 37 minutos. Dista, em

média, 228 milhões de quilômetros do Sol.

Exibe regiões brilhantes de cor alaranjada e outras escuras, cujas tonalidades variam de

acordo com as estações marcianas. Acredita-se que as zonas escuras sejam formadas por

rochas similares ao duríssimo basalto terrestre (conhecida popularmente como pedra-

ferro). Possui dois satélites, Fobos e Deimos, ambos descobertos por Asaph Hall em

1877.

A temperatura em Marte é 20º C inferior à registrada na superfície terrestre. Na zona

equatorial pode chegar a um máximo de 20º C, ao passo que nos pólos oscila entre - 80º

C e -100º C. Apresenta as mesmas quatro estações da Terra, com a diferença de que

enquanto as terrestres alternam-se a cada três meses, as de Marte duram cerca de seis

meses.

A superfície marciana pode ser dividida em duas zonas separadas por um círculo

equatorial com inclinação de 30 graus de arco (na Terra, a inclinação é de 23 graus e 30

minutos o que determina o Trópico de Câncer no hemisfério terrestre Norte e o do

Capricórnio ao Sul). O hemisfério sul marciano é composto por maior número de

crateras, decorrente de bombardeio intenso de meteoritos (corpos celestes de natureza

rochosa e oriundos, em geral, da região compreendida entre as órbitas de Marte e Júpiter

e que ao impactarem com a superfície dos planetas causam fendas, fraturas e crateras).

A parte norte do planeta vermelho é constituída por rochas mais recentes, a julgar pela

presença de material vulcânico. Vale, para isso, mencionar o próprio exemplo da Terra.

Aqui, temos formações antigas (e, portanto, mais estáveis) nas zonas de montanhas

baixas e arredondadas, em oposição às zonas de montanhas altas, muitas com vulcões

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em atividade. É o caso, por exemplo, da costa leste da América do Sul (Guianas, Brasil

e Uruguai) e os da costa oeste das Américas, sacudidas por erupções vulcânicas e

terremotos, como comprovam recentes atividades geológicas ao longo da Cordilheira

dos Andes (Chile, Peru, Colômbia, México, além da costa leste dos Estados Unidos da

América).

O conhecimento detalhado de Marte se deve a seis missões realizadas por naves

espaciais norte-americanas entre 1964 e 1976. O primeiro satélite artificial de Marte

(Mariner 9, lançado em 1971) estudou o planeta durante quase um ano e proporcionou a

primeira visão global daquele planeta. Em 1976, duas sondas Viking pousaram com

êxito e realizaram as primeiras pesquisas diretas da atmosfera e da superfície do planeta.

São incontáveis as fantasias envolvendo a possibilidade da presença de algum tipo de

vida em Marte. Em 1877, o astrônomo italiano Schiaparelli aproveitando uma oposição

favorável de Marte, disse haver observado na superfície do planeta um sistema de

ranhuras às quais denominou "canales". O que, em italiano, não significa

necessariamente canais construídos por seres inteligentes. Contudo, ao ser vertido para

o inglês figurou como “channels” e não como “canals”, como seria mais adequado.

Mas, o que prevaleu foi a interpretação sensacionalista. Desde aquele ano, fanáticos e

místicos de todas as colorações tentam comprovar mirabolantes teses. De concreto sabe-

se, hoje, da existência de água no misterioso planeta vermelho. Sob forma líquida no

subsolo, e como gelo em sua superfície. Ambas de maneira tão inexpressiva que

poderíamos pensar apenas o passado como um planeta mantenedor de formas

rudimentares de vida, como fungos e bactérias. Nunca, porém, na existência de seres

com alto grau de organização como é o homem.

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Robôs confirmam existência de água em Marte

“Fosse a hora que haver ou a que havia (...) Foi a alma a Ciência e corpo a Ousadia

Da mão que desvendou”.

Fernando Pessoa, Mar Português - 2ª parte

Tal como se previa o passeio do Opportunity (Oportunidade) e do Spirit (Espírito) sobre

a superfície marciana indicaram a presença de substâncias também abundantes na Terra.

Sobretudo de água em seus estados sólido e líqüido e de minerais ricos em ferro. Mais

uma evidência de que tanto a Terra quanto Marte foram formados em épocas próximas e

que remontam a cerca de 4,5 bilhões de anos. Informação que deve ser interpretada de

maneira cautelosa, já que a presença de água não é indicador seguro da possibilidade de

existência de vida. Na verdade, a presença de água é condição necessária, mas não

suficiente para garantir a existência e manutenção de seres vivos. Ou, em outras

palavras, poderíamos dizer que onde há vida há água. Contudo, nem tudo que tem água

encerra a possibilidade de vida.

Para que haja vida, seja ela representada por seres vivos vegetais ou animais, é preciso

existir outros ingredientes vitais. Dentre os quais poderíamos citar a presença de

atmosfera abundante em oxigênio (que não é o caso de Marte) e a existência das quatro

estações do ano, que regulam o metabolismo (mecanismos químicos necessários ao

organismo para a formação, desenvolvimento e renovação das estruturas celulares), vital

às plantas e animais, incluído aqui o próprio homem. É bem verdade que Marte

apresenta as quatro estações do ano, que duram quase o dobro das terrestres pelo

simples fato de a translação (ou ano) em Marte ter duração de 687 dias (ou seja, um ano

e 327 dias terrestres). O principal obstáculo à existência de uma vida altamente

complexa e organizada como a existente na Terra é que Marte encerra apenas 0,2% de

oxigênio em sua atmosfera, em oposição aos 21% existentes no nosso planeta. Vale

informar que o elemento químico mais abundante na atmosfera terrestre é o nitrogênio,

que participa com 78% do ar que respiramos. Já em Marte, o composto químico mais

abundante (95%) é o dióxido de carbono, ou gás carbônico. Que existe em quantidade

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reduzidíssima no ar terrestre e é o agente causador do conhecido efeito estufa (elevação

da temperatura da Terra). Acrescente-se, por outro lado, existirem na Terra as chamadas

bactérias anaeróbicas, que são aquelas que vivem na ausência de ar.

Mas, ainda assim, estamos falando de organismos vivos rudimentares, com

pouquíssimas células e baixo grau de organização. Diferente das plantas, animais e do

próprio homem, em diferentes níveis, todos com elevado grau de organização e dotados

de milhares de células. Assim, na melhor das hipóteses, Marte poderá ter tido, ou

manter, formas muito simples de vida. Num futuro próximo serão lançadas novas

missões espaciais com o propósito de recolher e trazer de volta a Terra as rochas da

superfície marciana. Só depois disso é que será possível afirmar com todo o rigor

científico se e quais formas de vida rudimentar estiveram eventualmente presentes em

Marte.

A atual missão envolve trabalhos feitos à distância (Marte encontra-se, hoje, a cerca de

56 milhões de quilômetros de distância da Terra) pelos robôs com os quais são

equipados os jipes Opportunity e Spirit. Ambos foram lançados da nave espacial

colocada em órbita ao redor de Marte. Após a abertura do compartimento que os

abrigava na cápsula espacial, os dois veículos foram lançados sobre a superfície de

Marte, com queda amortecida mediante a utilização de pára-quedas similares aos usados

em aviação. O jipe Opportunity pousou em uma pequena cratera existente na região

conhecida como Meridiani Planum, na zona equatorial de Marte. Pouco depois pousava

também na região equatorial, mas do lado oposto do planeta o jipe Spirit, na cratera

Gusev. A localização em duas localidades opostas – tal como se localizam o Brasil e o

Japão, por exemplo – foi intencional e visa estudar o planeta durante o dia e a noite.

Assim, enquanto um dos jipes se encontra em região iluminada pelo Sol, o outro se

encontra na noite marciana (o dia em Marte é de 24 horas, 37 minutos e 23 segundos). É

curioso mencionar que o pouso do Opportunity se deu a 24 quilômetros do ponto

previsto, em virtude de no momento da queda o vento estar mais forte que o previsto

pelos técnicos, engenheiros e cientistas do Jet Propulsion Laboratory (ou Laboratório de

Propulsão a Jato, sediado em Pasadena, Califórnia, nos EUA), que controlam o

deslocamento dos jipes. Os veículos contam com três pares de rodas, com suspensão

independente em cada um deles para suportar as irregularidades nos terrenos por onde

passam. A energia para seus deslocamentos é garantida por placas de captação da

energia solar. Embarcado nos jipes encontram-se instrumentos de análise química e

máquinas fotográficas com alto grau de resolução que combinam fotos coloridas,

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mostrando a textura e a forma das rochas antes de efetuadas as análises para mostrar

seus componentes. Todas as operações são controladas por computadores de bordo, que

executam as instruções enviadas da Terra por sistema de transmissão de dados similar

ao empregado nas ligações entre telefones celulares.

Identificados fotograficamente os locais de análise de amostras de rochas, braços

mecânicos dotados de brocas perfuram a superfície de Marte e procedem às análise para

a identificação de seus componentes. A rocha é, então, triturada e evaporada a altas

temperaturas. Os componentes entram em estado de vapor ou gás, que é analisado por

um espectrômetro. Aparelho este que decompõe a luz, mostrando quais são os

componentes do material analisado. E é assim que podem ser conhecidos, aqui da Terra,

os componentes químicos de estrelas e corpos celestes, como as estrelas, por exemplo.

O princípio de funcionamento baseia-se na aplicação de leis científicas que conferem à

cada composto evaporado uma cor, que é só dele. Assim, como as impressões digitais

que diferenciam pessoa a pessoa. Em princípio, ao ser queimado à alta temperatura,

cada elemento químico gera uma cor peculiar e exclusiva dele. Exemplos da vida

cotidiana mostram isto. É o caso, por exemplo, de um líquido que ao derramar de uma

panela colocada sobre os fogões domésticos e ao encontrar a chama azulada do fogão,

“queima” com luz amarelada. Isto indica a presença do sódio, um dos elementos mais

abundantes na natureza, e que ao evaporar produz luz amarelada. O tom amarelo do

sódio, analisado por aparelhos científicos, apresenta uma tonalidade de amarelo que é

exclusiva do sódio (o mesmo proveniente do sal oriundo do mar e que é o cloreto de

sódio ou sal de cozinha). E este foi o princípio empregado pelos espectrômetros

existentes no Opportunity e no Spirit. Ambos indicaram a presença da hematita e da

jarosita. A hematita é um óxido de ferro que só se forma na presença de água. É

abundante na Terra e constitui um dos principais minérios de ferro, a partir do qual as

usinas siderúrgicas o convertem em ferro e o aço. Outro composto químico identificado

pelo mesmo aparelho de análise instalado sobre o Oppotunity foi a jardosita, constituído

de sulfato de potássio e ferro. E é assim chamado por haver sido encontrado pela

primeira vez, na Terra, nas minas existentes na localidade de Jaroso, em Almeria, no sul

da Espanha. Trata-se, igualmente, de composto químico que para ser formado

pressupõe a existência de água.

Nos dois casos – o das formações de hematita e de jardosita –, torna-se evidente a

existência de água em algum momento da formação ou da vida de Marte. Mas isto tudo

constitui hipóteses a serem confirmadas num futuro próximo, quando as próximas naves

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de exploração da superfície marciana trouxerem à Terra materiais coletados na

superfície do ainda misterioso planeta vermelho.

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Asteróides, os grãos de poeira do sistema solar

“Se é fato que toda a massa do sistema solar (somando a de Saturno e Marte e Terra e

Vênus e Urano e Mercúrio e Plutão, mais os satélites, mais os asteróides, mais) equivale

apenas a 2% da massa total do Sol e que o Sol não é mais que um mínimo ponto de luz na

estonteante tessitura de gás ...” Ferreira Gullar (Por ele mesmo)

Pequenos demais para serem considerados planetas, os milhares de corpos sólidos

existentes na órbita situada entre as de Marte e Júpiter recebem os nomes de asteróides

ou planetóides. Palavras que expressam pequenos astros ou pequenos planetas,

respectivamente. Por suas reduzidas dimensões, quando comparados ao tamanho de

outros planetas constituem verdadeiros grãos de poeira do sistema solar. Suas

existências foram constatadas através de cálculos matemáticos efetuados pelos

astrônomos alemães Titius (1772) e Bode (1778). Pelas leis da Mecânica Celeste,

ambos constataram que faltava um planeta entre Marte e Júpiter, na zona situada à

distância aproximada de 405 milhões de quilômetros do nosso astro-Rei: o Sol.

A comprovação de suas existências só viria em 1801, quando o astrônomo italiano

Giuseppe Piazzi (1746-1826) identificou o asteróide Ceres com raio de 466 km à

distância aproximada de 414 milhões de quilômetros do Sol. De lá para cá, foram

catalogados mais de 3.600 asteróides maiores. Estima-se haver outros 500 mil com

diâmetro superior a 1,6 km. Se todos os asteróides fossem reunidos num único bloco,

este objeto teria menos de 1.500 quilômetros de diâmetro, valor inferior à metade do

diâmetro do satélite natural da Terra: a Lua.

A origem dos asteróides é desconhecida. É possível tratar-se de um planeta outrora

situado entre Marte e Júpiter, que teria explodido e projetado seus fragmentos ao

espaço. Bem como materiais rochosos que, desde a formação do sistema solar, não

tenham se aglutinado a ponto de constituir um corpo sólido de maior dimensão. Embora

concentrados preponderantemente no cinturão situado entre Marte e Júpiter, já foram

Fonte: www-sop.inria.fr/.../color_hg/index.html

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identificados planetóides além da órbita de Saturno (sexto planeta do sistema solar). Há

cientistas que defendem a idéia de que Plutão – o nono e último planeta – represente o

lançamento e manutenção em órbita de um asteróide posicionado além da órbita de

Netuno (oitavo planeta). A evidência maior é a de que em julho de 2000 foi localizado

um asteróide próximo a Plutão, com 600 km de diâmetro. O que equivale a um quarto

do tamanho do último planeta do sistema solar.

Alguns asteróides têm órbitas tão alongadas que passam próximos a Terra. No passado,

muitos colidiram com o nosso planeta. No local do impacto foram deixadas marcas

permanentes, das quais a mais bem preservada é a Cratera Barringer, próximo a

Winslow, no deserto norte-americano do Arizona. Outro impacto ocorreu em 1908,

quando foram destruídas centenas de quilômetros quadrados da floresta de Tunguska,

na Sibéria (atual Rússia). No Brasil, em agosto de 1930, ocorreu fenômeno da mesma

natureza e que atingiu região desabitada do município de Curuçá, no Amazonas.

Inúmeros cientistas defendem a idéia de que a colisão de asteróides com a Terra teria

sido responsável pela extinção dos dinossauros no fim do Período Cretáceo. Em outras

palavras há 144 milhões de anos, quando sequer havia surgido o homem. É oportuno

mencionar que o aparecimento do homem primitivo em nosso planeta ocorreu há 6

milhões de anos.

O conhecimento da natureza dos asteróides provém do exame das rochas e fragmentos

que caem sobre a superfície terrestre. Os asteróides que estão em rota de colisão com a

Terra são chamados de meteoróides. Quando atingem nossa atmosfera, por força do

atrito e na maioria das vezes, entram em combustão deixando um rastro de luz. Neste

momento passam a receber a denominação astronômica de meteoro. O que na

linguagem popular é conhecido como “estrela cadente”. Caso o meteoro não queime

completamente, o sólido que restar atingirá o globo terrestre e será chamado de

meteorito. Dentre os maiores e mais importantes meteoritos figura o de Bendegó, rico

em ferro e níquel, encontrado em 1784 próximo à cidade de Monte Santo (nas cercanias

do riacho de Bendegó, de onde se originou seu nome), no sertão da Bahia. Embora não

saibamos quando foi projetado, pesa 5,36 toneladas e integra o acervo do Museu

Nacional do Rio de Janeiro, para onde foi levado em 1888 a pedido de D. Pedro II.

Dos meteoritos examinados, 92,8% são compostos de pedras silícicas (ou seja, da

mesma natureza das rochas terrestres que, quando pulverizadas, transformam-se em

areia); 5,7% compostos de ferro e níquel, e apenas 1,5% de uma mistura dos três

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materiais. Os meteoritos de pedra são mais difíceis de serem identificados por serem

parecidos com as rochas terrestres.

Por constituir matéria existente desde o início da formação do sistema solar, há interesse

da ciência em estudar a composição dos asteróides. Até os anos 1990 as informações

obtidas baseavam-se na observação terrestre daqueles corpos. Em outubro de 1991, o

asteróide Gaspra foi “visitado” pela sonda Galileo e tornou-se o primeiro planetóide a

contar com fotos de alta resolução. Já em agosto de 1993, a mesma sonda Galileo

aproximou-se do asteróide Ida, revelando tratar-se de corpo rochoso rico em metais. A

27 de junho de 1997 a sonda Near aproximou-se do asteróide Mathilde e na continuação

de sua viagem “visitou” o asteróide Eros em janeiro de 1999.

A seguir, uma tabela com os dados mais relevantes em relação aos 14 asteróides mais

importantes:

Nome Raio

(km)

Distância média do Sol

(milhões de km)

Descobridor Ano do descobrimento

Ceres 466 413,9 G. Piazzi 1801

Davida 168 475,4 R. Dugan 1903

Eros 113 218,0 Witt e Charlois 1893

Eunomia 136 395,5 De Gasparis 1851

Europa 156 463,3 Goldschmidt 1858

Gaspra 170 330,0 Neujmin 1916

Hygiea 215 470,3 De Gasparis 1849

Ida 133 428,0 J. Palisa 29 set. 1884

Interamnia 167 458,1 V. Cerulli 1910

Mathilde 112 396,0 J. Palisa 1885

Pallas 261 414,5 H. Olbers 1802

Psyche 132 437,1 De Gasparis 1852

Sylvia 136 521,5 N. Pogson 1866

Vesta 262 353,4 H. Olbers 1807

Fonte: MARQUES, P. “Elementos de Astronomia”. In: Ciência, Técnica e Tecnologia.

São Paulo: FFLCH/USP, 2003. (apostila de curso de pós-graduação).

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Júpiter, o gigante do sistema solar

“Afinal de contas – diz Júpiter a Jeová – você

não inventou o raio?”. Paul Valéry, Miscelânea

Cercado por dezenas de luas ou satélites naturais Júpiter é o quinto planeta a contar do

Sol, do qual dista, em média, 778,3 milhões de quilômetros. É o maior astro do sistema

solar e responde por 70% do peso de todos os demais planetas do sistema solar

reunidos, incluindo seus respectivos satélites. Com 140.800 quilômetros de diâmetro, no

equador, é 11 vezes maior do que a Terra (diâmetro equatorial de 12.760 km). Não

bastasse isso é 318 vezes mais pesado que o planeta no qual habitamos. Por tal

gigantismo na antiga civilização grega era associado a Zeus, o poderoso deus dos deuses

e pai supremo das demais divindades cultuadas na Grécia. Zeus era reverenciado no

festival anual de atletismo, precursor dos atuais jogos olímpicos mundiais.

Poderoso, governava o céu e a terra desde seu palácio edificado no elevado Monte

Olimpo. Detentor de poderes incríveis, Zeus controlava as forças da natureza. Quando

enfurecido – relata-nos a mitologia – lançava aterrorizantes raios, trovões e relâmpagos,

que até podiam incendiar a Terra. Na mitologia romana recebeu o nome de Júpiter, o

também todo-poderoso deus dos céus. Era dotado dos atributos conferidos a Zeus pelos

gregos. Inclusive o de presidir os jogos realizados no Coliseu, parte importante dos

hábitos da civilização romana.

O planeta é composto por um núcleo onde predominam os gases hidrogênio (90%) e

hélio (10%). Por estarem comprimidos à altíssima pressão, apresentam-se sob forma de

uma sopa grossa. O núcleo encontra-se envolto em extensa camada de gases metano e

amônea, além de traços de vapor d’água. Mas, como a temperatura é da ordem de 120°

C negativos, encontram-se congelados e daí apresentarem-se como cristais. Graças à

Fonte www.geocities.com/capecanaveral/7754/jupiter.htm

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força de atração decorrente do seu grandioso peso conseguiu conservar a atmosfera

primitiva. A existência dos gases congelados impede a observação direta do núcleo ou

superfície do planeta.

No núcleo, contudo, a pressão é tão elevada – 30 vezes superior à registrada na Terra –

que os átomos de hidrogênio são divididos. Gerando, com isto, intenso campo

magnético e emissão de forte radiação nuclear, como a que ocorre no Sol e demais

estrelas.

Ao girar rapidamente em torno do seu eixo – no equador, a rotação ou dia jupiteriano

completa-se em 9 horas e 50 minutos –, está submetido à severa força centrífuga que

alonga a região equatorial e achata as zonas polares. A translação ou ano jupiteriano

equivale a 4.332,71 dias terrestres, o que equivale a 12 anos de 360 dias. Por estar

sujeita a giro de alta rotação, formam-se fortes tempestades que dispersam os gases

metano e amônea cristalizados de onde se originam faixas ou bandas equatoriais com

tons que variam do vermelho ao castanho. Como característica peculiar exibe a presença

de grande mancha vermelha na faixa equatorial com tamanho três vezes superior ao da

Terra, que decorre da formação de complexa tempestade movendo-se de leste para o

oeste.

Até o momento foram identificados 61 satélites naturais gravitando ao redor de Júpiter,

quatro dos quais - Calisto, Europa, Ganimedes e Io - foram observados por Galileu

Galilei em 1610. Todos facilmente observáveis através de uma luneta. Mas há, também,

a existência de um anel envolvendo o planeta. Mas este é tão tênue, que sequer é visto

da Terra. Foi descoberto em 1979, quando Júpiter foi “visitado” pela sonda norte-

americana Voyager1. Ao contrário dos três espessos anéis de Saturno, o de Júpiter

assemelha-se a um halo ou manto vaporoso, composto por partículas de poeira com

diâmetro de décimos de milionésimo de milímetro. Em outras palavras, algo do

tamanho das partículas da fumaça de cigarro.

A maioria das luas ou satélites de Júpiter é relativamente pequena em relação ao

tamanho do planeta e acredita-se que tenham sido atraídas por força da atração

gravitacional do planeta. Os astrônomos crêem, contudo, que as quatro maiores (Io,

Europa, Ganimedes e Calisto) foram formadas durante o “nascimento” do planeta. A

importância científica das quatro luas – conhecidas como satélites galileianos – é

extraordinária.

Primeiro, pela enorme regularidade de seus movimentos ao redor de Júpiter. Segundo,

por haver propiciado ao astrônomo sueco Olaus Roemer (1644-1710) a determinação

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exata do valor da velocidade da luz, que é de 300.000 quilômetros por segundo. Valor

este empregado por Albert Einstein na elaboração da monumental Teoria da

Relatividade (início do século XX). É oportuno mencionar que antes do surgimento do

cronômetro – meados do século XVIII, através do trabalho do físico britânico John

Harrison – a observação da órbita destes satélites possibilitou seu emprego como

“relógio celeste” de alta precisão.

É oportuno salientar que em dezembro de 1995 a Nasa lançou a sonda Galileu com o

propósito de estudar a atmosfera jupiteriana. Em seu interior, a sonda carregava seis

instrumentos científicos de análise, que sobreviveram por cerca de uma hora à enorme

pressão atmosférica e ao frio do planeta. Tais instrumentos destinavam-se a coletar

dados a respeito da atmosfera de Júpiter. A missão foi exitosa e, de fato, foram

confirmadas as presenças de gases congelados de metano, amônea e vapor d’água. Ao

final da análise química da atmosfera daquele planeta, a espaçonave foi colocada em

órbita ao longo de vários anos ao redor de Júpiter para observar detalhadamente cada

uma das quatro maiores luas. Em outras palavras, as luas galileianas já mencionadas.

Os satélites galileianos encontram-se mais distantes de Júpiter do que a Terra da Lua

(esta última situada a 384.000 km de distância do nosso planeta, e é dotada de raio de

1.735 km). Na tabela abaixo, as características de 4 dos mais importantes dentre os 61

satélites conhecidos de Júpiter.

Nome Raio (km) Distância de Júpiter (km)

Io 1.815 421.600

Europa 1.569 670.000

Ganimedes 2.631 1.070.000

Calisto 2.400 1.883.000

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Saturno, o belo planeta dos anéis

“... Debaixo deste grande Firmamento,

Vês o céu de Saturno, Deus antigo.”

Camões, Os Lusíadas, canto X, 89

Conhecido e popularizado pelos anéis que gravitam ao seu redor, Saturno é o quinto

planeta mais distante do Sol. Para os antigos gregos era conhecido como Cronos, o deus

do tempo, que lutara contra Zeus, o gigante e poderoso deus dos deuses. Ao ser

incorporado à mitologia romana, assumiu a denominação de Saturno. De temperamento

mais pacífico que seu correspondente grego, Saturno também combatera Júpiter (Zeus

para os gregos). Porém, ao invés de ir para o outro mundo depois da batalha, Saturno foi

para a Itália onde governou em paz. Ensinou técnicas de cultivo agrícola, construção e

engenharia. Por este motivo, os romanos o consideravam deus da agricultura. Após

morrer, transformou-se em um planeta.

A associação entre o deus do tempo para os gregos e o da agricultura para os romanos é

compreensível se considerarmos que naquela época as safras agrícolas, sobretudo as de

grãos, ocorriam uma vez ao ano em períodos perfeitamente determinados e previamente

conhecidos. Ao contrário da atualidade onde, por força de manipulações e

melhoramentos genéticos, muitas vezes torna-se possível obter duas ou mais safras de

uma mesma cultura de anterior colheita anual.

Até 1610, com o surgimento do telescópio idealizado pelo sábio italiano Galileu Galilei

(1564-1642), Saturno era o último planeta conhecido e visível a olho nu. Isto porque os

três últimos planetas do sistema solar (pela ordem: Urano, Netuno e Plutão) só podem

ser observados com o auxílio de instrumentos ópticos. É curioso notar que nos

primeiros relatos da observação de Saturno através do telescópio, o próprio Galileu

mencionou haver visto um par de objetos de cada lado do planeta, que desenhou sob a

Fonte: www.acienciasgalilei.com/astrofisica/saturno.htm

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forma de “asa” de xícara de chá. E isso é plenamente justificável se levarmos em conta

que o instrumento de observação empregado era um rudimentar telescópio de espelho,

que distorcia a imagem dos objetos celestes. Logo depois os telescópios seriam

aperfeiçoados, tanto que em 1659 o astrônomo holandês Christiaan Huygens anunciou

tratar-se de um anel circundando o planeta. Mas, já em 1675 o astrônomo Jean

Dominique Cassini – nascido na Itália, mas radicado na França – descobriu tratar-se de

um sistema de anéis, com existência de intervalo vazio entre eles. Em homenagem à sua

inédita e importante descoberta, uma das separações entre os anéis acabou recebendo a

denominação de “divisão de Cassini”.

Quando observado através de telescópio Saturno mostra a presença de um sistema de

anéis, três dos quais são vistos com grande nitidez (cada um deles com 70 mil

quilômetros de largura e um quilômetro de espessura, em média). As “visitas” das

sondas norte-americanas Pioneer 11, em 1979; Voyager 1, em 1980, e a Voyager 2, em

1981, mostraram a existência de milhares de anéis, separados por divisões. Durante

muito tempo pensou-se que os anéis fossem de natureza gasosa. Depois, sólidos. As

sondas, contudo, mostraram tratar-se de concentração de milhares de partículas

finamente pulverizadas e que vistas à distância nos dão impressão de constituir um

bloco sólido. A origem dos anéis ainda é desconhecida, mas os astrônomos trabalham

com a hipótese de terem se originado do choque e pulverização de uma ou mais luas que

gravitavam ao redor do planeta e acabaram impactando com o gigantesco astro. Esta

possibilidade é reforçada pelo fato de Saturno contar hoje com 31 satélites naturais

(luas) conhecidos. Mas, é possível que este número seja maior, o que depende de

confirmação futura. Notadamente dentro de um futuro próximo, quando a espaçonave

Cassini/Huygens – lançada em outubro de 1997, em missão conjunta da Nasa com a

Agência Espacial Européia – chegar a Saturno. Efetivamente, a chegada se deu em 1º de

julho de 2004 para uma permanência de quatro anos no campo de gravitação do planeta.

Saturno percorre uma volta completa ao redor do Sol em 29,5 anos (considerando-se a

duração do ano terrestre, que é de aproximadamente 365 dias), do qual está situado a

uma distância média de 1, 4 bilhão de quilômetros. Sua rotação (ou dia) é de 10 horas e

14 minutos. É 95 vezes mais pesado que a Terra. Sua composição e estrutura são

bastante parecidas com as de Júpiter. Em outras palavras, um núcleo composto dos

gases hidrogênio (97%) e hélio (3%) altamente comprimidos. Envolvendo-o há uma

camada dos gases metano, amônea e traços de água, que se apresentam cristalizados em

decorrência da temperatura de 178º C negativos existente na camada exterior da

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atmosfera do planeta. Por girar muito rapidamente em torno de seu próprio eixo os

ventos que se formam na atmosfera superior atingem, no equador, a vertiginosa

velocidade de 1.500 quilômetros por hora. Ou seja, quase oito vezes superior aos que se

formam durante os devastadores furacões terrestres, quando são registrados ventos de

200 a 250 km/h. A associação entre os ventos rápidos e o forte calor do núcleo faz com

que haja turbulências atmosféricas. Estas promovem a mistura dos gases cristalizados,

originando as faixas castanhas, amarelas e douradas observáveis na sua superfície

externa.

A maior das 31 luas conhecidas de Saturno é Titan, único satélite natural dos planetas

do sistema solar que possui atmosfera. Foi descoberto por Huygens em 1655. Dista 1,2

milhão de quilômetros do planeta, valor este três vezes superior à distância que separa a

Terra da Lua (384.000 km). Com seus 2.575 quilômetros de raio é pouco maior que

Mercúrio (o planeta mais próximo do Sol e que conta com raio de 2.439 km). O grande

interesse científico em conhecer Titan – e esta, aliás, é uma das principais missões da

sonda Cassini/Huygens – é revelar detalhes sobre a formação dos astros do sistema

solar. Em particular a da Terra. Isto porque tal como a atmosfera terrestre, a de Titan

também é rica em gás nitrogênio. E é preciso não nos esquecer que a atmosfera que

mantém a vida aqui na Terra é uma mistura complexa de nitrogênio (78%), oxigênio

(21%) e o complemento de 1% representado por ozônio, dióxido de carbono (também

denominado gás carbônico) e traços dos chamados gases nobres ou raros (hélio, neônio,

argônio, criptônio, xenônio e radônio).

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Urano, o deus grego do céu

“... Esferas de vários tamanhos Foram

uma a uma se formando Surgiram 9 planetas Em torno do Sol circulando.

Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter Saturno, Urano, Netuno e Plutão Sendo

a Terra o terceiro Onde surgiu a criação. Cada planeta tem seu tempo De rotação e translação E numa dança cósmica Vão

prosseguindo em expansão...” Márcia M. Martins, O Tempo do Universo

A ciência praticada no Ocidente classifica como Era Moderna o período das descobertas

e invenções iniciado em 1638 e que se estende até a atualidade. Isto porque naquele ano,

o sábio italiano Galileu Galilei (1564-1642) lançou o primeiro livro verdadeiramente

científico da história da humanidade. Seu título: As duas novas ciências. Nele

apresentava fortes argumentos em prol da esfericidade da Terra e, ainda, do Sol como

centro de gravitação dos planetas e suas respectivas luas, ou satélites naturais. Além

disso, (e até para justificar o nome da obra), propunha a criação de dois novos ramos do

conhecimento humano: a cinemática (parte da Física que estuda o movimento dos

corpos) e a resistência de materiais, o pai e a base de todas as áreas da Engenharia. Sua

obra foi realmente revolucionária, pois, para ele o conhecimento das leis da natureza

deveria estar baseado na realização de experiências. Em oposição à ciência praticada

desde os antigos gregos, em geral toda ela fundamentada em suposições e na simples

observação e descrição do mundo que nos cerca. Ressalte-se, contudo, que mesmo na

Grécia antiga houve uma linha de notáveis cientistas que realizaram experiências, cujos

resultados são válidos até os dias de hoje. Dentre eles, poderíamos mencionar o

extraordinário Aristóteles, bem como os geômetras e astrônomos gregos que viveram

séculos antes do nascimento de Cristo. Cientista notável Galileu empregou, em 1609,

pela primeira para a observação do céu um telescópio por ele mesmo construído.

Através do qual observou a Lua e Júpiter com seus quatro satélites, todos facilmente

Fonte: www.acienciasgalilei.com/astrofisica/urano.htm

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visíveis mediante uso de instrumento óptico. Nascia, com isso, a chamada Ciência

Moderna.

Como primeiro fruto da nova forma científica de pensar (e de ver o mundo) surge, na

Astronomia, a descoberta do primeiro planeta dos tempos modernos. Urano, o primeiro

planeta não-visível a olho nu daqui da Terra. Até 13 de março de 1781 – quando foi

descoberto –, era desconhecido pelos povos da Antiguidade, que só conseguiam ver os

primeiros cinco planetas do sistema solar (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno).

Sua descoberta envolveu uma história curiosa e que vale aqui ser relatada. Quando o

astrônomo inglês William Herschel examinava uma região celeste situada entre as

constelações de Touro e de Gêmeos, observou a presença de um corpo até então

desconhecido. A princípio pensou tratar-se de um cometa ou, então, de um agrupamento

de estrelas conhecido como nebulosa. Depois verificou tratar-se de planeta ainda

desconhecido do sistema solar, ao qual denominou de Georgium Sidus (Estrela Jorge),

em homenagem ao seu protetor, o Rei Jorge III da Inglaterra, que reinou de 1760 a

1820. O nome original sofreu algumas alterações até que por volta das primeiras

décadas do século XIX foi consagrado como Urano, seguindo a milenar tradição de

conferir nomes mitológicos aos planetas. Na mitologia grega Urano representava o deus

do céu ou firmamento. De tamanho descomunal, teve inúmeros filhos e filhas. Dentre

eles, três gigantes de um olho só, chamados de “raio”, “relâmpago” e “trovão”.

Acrescidos de três ogros (entes fantásticos usados para causar medo às crianças e que,

no folclore brasileiro, equivaleria à figura do bicho-papão), cada qual com 100 mãos e

50 cabeças.

É o sétimo planeta em distância a partir do Sol, do qual dista 2,9 milhões de

quilômetros, em média. Com diâmetro equatorial de 55.800 quilômetros (Terra =

12.756 km), Urano leva 84 anos terrestres para completar uma volta completa ao redor

do Sol. Seu período de rotação (dia) é de 10 horas e 49 minutos. É classificado na

Astronomia como um planeta “gigante gasoso”, por não apresentar uma superfície

sólida. A atmosfera é composta dos gases hidrogênio e hélio, com pequena quantidade

de gás metano e traços de água e amônea. Cerca de 80% do peso do planeta é conferido

por um núcleo pastoso, semelhante a uma geléia cujos ingredientes são água, metano e

amônea. Apresenta, ainda, bela coloração azul-esverdeada decorrente do gás metano

existente na alta atmosfera do planeta. Vale informar que, por uma característica físico-

química, o metano absorve a luz vermelha recebida do Sol e reflete apenas a luz de tom

azulado. A temperatura média no exterior de Urano é da ordem de 215º C negativos.

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O planeta é rodeado por onze anéis, compostos de rochas e grãos de poeira. Todos eles

são bastante estreitos e por isto é difícil observá-los. Nove destas camadas de anéis têm

menos de 10 km de largura, ao contrário dos anéis de Saturno, cujas larguras chegam

atingir milhares de quilômetros. Até o momento já foram identificados 15 satélites

(luas) gravitando ao redor de Urano. Ao contrário do que ocorre com os nomes dos

demais planetas e satélites, pelo fato de Urano haver sido descoberto por cientista

inglês, os nomes das luas receberam nomes de personagens da obra de William

Shakespeare, o mais famoso dramaturgo britânico. São elas: Cordélia, Ofélia, Blanca,

Cresida, Desdemona, Julieta (a mesma do Romeu), Pórcia, Rosalinda, Belinda, Puck,

Miranda, Ariel, Umbriel, Titânia e Oberon. A literatura astronômica mais recente (início

de 2004) registra a possível existência de mais 12 luas ainda não-catálogadas, mas

detectadas através das observações realizadas pelo telescópio espacial Hubble, cujas

imagens ainda se encontram em fase de processamento e análise.

Destes, os cinco maiores satélites naturais são Miranda (descoberto por Gerard Kuiper

em 1948), Ariel e Umbriel (William Lassel, 1851) e Titânia e Oberon (William

Herschel, 1787). As luas observadas pela sonda Voyager em 1986 sugerem, à primeira

vista, tratar-se de corpos que se apresentam sob forma de água gelada (50%) e a outra

metade constituída de rocha. Não existem ainda dados confiáveis com relação às suas

dimensões, mas os astrônomos creêm que os diâmetros dos satélites de Urano oscilem

entre poucas dezenas e algumas centenas de quilômetros.

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Netuno, o planeta “descoberto” pela Matemática

“... O verde é poesia... O azul é poesia... A cascata é poesia... Você é a

grande poesia que Netuno escolheu para ser maior que todos os deuses da

Antigüidade...” Mário Fonseca (poema-homenagem a Loty Oswald)

A descoberta de Netuno – oitavo planeta mais distante do Sol, precedido por Mercúrio,

Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno e Urano – constitui um dos episódios mais

notáveis da ciência ocidental de todos os tempos. Isto porque sua descoberta não se deu

através da observação astronômica do céu, mas mediante a realização de cálculos

matemáticos. Uma história fantástica iniciada nas primeiras décadas do século XIX e

que vale a pena aqui ser contada. Naquela época, sem que um cientista tivesse

conhecimento do trabalho do outro, os astrônomos britânicos John Adams (1819-1892)

e o francês Urbain Le Verrier (1811-1877) descobriram que o movimento de translação

ou revolução do planeta Urano, em redor do Sol, sofria perturbações em virtude da

existência de um corpo muito pesado que lhe era próximo, mas ainda desconhecido pelo

homem. Ambos calcularam matematicamente a possível região do céu onde deveria ser

procurado este corpo. Os cálculos de Adams foram encaminhados ao astrônomo-chefe

do Observatório de Greenwich (Inglaterra), que os engavetou sem examiná-los. Le

Verrier, por sua vez, anunciou o resultado de seus estudos ao astrônomo alemão Johann

Gale (1812-1910) que estudou a região celeste indicada pelo colega francês e viu pela

primeira vez o novo planeta do sistema solar na noite de 23 de setembro de 1846.

Ao seguir a tradição de dar nomes de personagens da mitologia greco-romana, o novo

astro foi batizado de Netuno. Denominação originária do deus grego do mar, Posêidon.

Uma divindade poderosa e que com seu gigantesco garfo de três dentes (ou tridente)

espetava as nuvens, causando assustadoras tempestades. Ou então, perfurava a Terra

provocando violentos terremotos. Com seu tridente era capaz de afundar ilhas inteiras

Fonte: www.todooceu.com/.../generalidades netuno.html

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ou erguer terras do fundo do mar. Na mitologia romana seu equivalente era Netuno, de

caráter mais pacífico. Era considerado deus do mar, mas também dos rios e das fontes.

Está tão afastado do Sol – de onde dista aproximadamente 4,5 bilhões de quilômetros –

que gira muito lentamente. Seu período de revolução (ano) é de 164 anos e 243 dias

terrestres. Desta maneira, desde que foi visto pela primeira vez até os dias de hoje não

conseguiu sequer completar uma volta inteira ao redor do sol. Obviamente que para um

observador situado aqui na Terra (da qual dista cerca de 4,3 bilhões de km). Em outras

palavras, Urano está 29 vezes mais longe da Terra, que o nosso planeta do Sol (a

distância Terra-Sol é de 150 milhões de quilômetros).

Seu movimento de rotação (ou dia) é bastante rápido, tanto que completa uma volta ao

redor de seu próprio eixo em apenas 15 horas e 48 minutos. Por girar velozmente a sua

região equatorial está sujeita a ocorrência de ventos de até 1.200 quilômetros por hora, o

que corresponde a valor seis vezes superior aos registrados nos mais arrasadores

furacões terrestres. Apresenta diâmetro equatorial de 50.000 quilômetros sendo, por

isto, quatro vezes maior que a Terra, com seus 12.756 de diâmetro (também no

equador).

Invisível a olho nu, quando visto ao telescópio apresenta-se como um disco azul-

esverdeado, com faixas paralelas que se estendem do equador aos pólos norte e sul. Esta

coloração decorre do fato de a atmosfera de Netuno ser composta de hidrogênio (85%),

hélio (13%) e metano (2%). E o metano, de seu lado, por absorver a luz vermelha e só

liberar a cor azulada. Talvez uma pergunta interessante que surja agora diga respeito a

como são originadas as cores dos objetos? Na verdade, o Sol emite luz que encerra ao

mesmo tempo sete tonalidades conjuntas: vermelho, amarelo, alaranjado, verde, azul,

anil e violeta. Todas, aliás, podem ser vistas durante a formação do arco-íris, ocasião em

que as gotículas de água da chuva funcionam como prismas que decompõem a luz do

Sol nas cores já mencionadas. Dizer que um objeto é azul, por exemplo, significa

afirmar que ele recebe as sete cores, retém seis delas e só libera a de cor azul. Se o

objeto receber as sete e liberar todas, o perceberemos como corpo de cor branca. Se

receber as sete e não liberar nenhuma, será um objeto negro. Daí o porquê as roupas

brancas serem usadas no verão e as de cores escuras nos dias frios. Por refletir toda a

radiação que recebe, o tecido branco transmite a sensação de frescor. Enquanto por

absorver todas as radiações e não refletir nenhuma, o tecido negro retém o calor emitido

pela radiação luminosa solar.

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Explicada a importante e fascinante questão da formação das cores, voltemos a Netuno.

O planeta tem vários anéis de larguras variáveis e cujas existências foram confirmadas

através das observações realizadas pela sonda Voyager, que dele se aproximou em

1989.

Já foram identificadas 13 luas ou satélites naturais de Netuno, seis das quais descobertas

no início dos anos 90 pela sonda espacial Voyager 2. A maior de todas é Tritão que, por

sua temperatura média de 240 graus Celsius negativos, é um dos objetos mais frios de

todo o sistema solar. Mais ainda que o próprio Netuno, com temperatura de 214º C

negativos. Vale, ainda, informar que Tritão – descoberto em 1846 – está se

aproximando lentamente de Netuno e os astrônomos trabalham com a hipótese de que

num prazo variável entre 10 e 100 milhões de anos, esta lua deverá se chocar com o

planeta e seus fragmentos formarem mais um anel. A terceira maior lua é Nereida,

descoberta em 1949. A segunda em tamanho é Proteus, descoberta pela Voyager 2 e não

identificada anteriormente pelo fato de ser extremamente escura e gravitar em órbita

próxima a Netuno. O que impossibilitou sua identificação por telescópios instalados

aqui na Terra. As demais outras 10 luas são relativamente pequenas. Também geladas e

escuras, mas que ainda não receberam seus nomes de batismo.

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Plutão, o “ex-último” planeta do sistema solar

“... É Plutão, deus das riquezas, o meu pai.

Sim, Plutão (sem que o levem a mal Hesíodo, Homero e o próprio Júpiter), pai dos deuses e

dos homens; Plutão, que, no presente como no passado, a um simples gesto, cria, destrói,

governa todas as coisas sagradas e profanas...”. Erasmo de Rotterdam, Elogio da

Loucura

Descoberto há apenas 74 anos Plutão, até agosto de 2006 era considerado o nono e

último planeta do sistema solar. Com seu rebaixamento passou a integrar o rol dos

“planetas-anões” (ver Posfácio). Os que o antecedem – pela ordem e sempre contando a

partir do Sol, ou Astro-Rei, que é o centro do nosso sistema – são Mercúrio, Vênus,

Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Seu movimento de translação (ou ano) é

tão lento que Plutão leva 250 anos para dar uma volta completa ao redor do Sol. Isto em

grande parte pela enorme distância que o separa do Astro-Rei e que é de

aproximadamente 5,9 bilhões de quilômetros. Valor este tão extraordinariamente

gigantesco que excede o limite da compreensão humana.

Nada impede, contudo, que num exercício de raciocínio e dedução lógica possamos

estabelecer idéias comparativas com fatos que nos são familiares. Antes, porém, é

preciso recordar que a Astronomia estabeleceu com enorme exatidão a distância média

Terra-Sol, que é de 150 milhões de quilômetros. Mas, como a Terra está entre o Sol e

Plutão, é preciso que subtraiamos estes 150 milhões de km (Terra-Sol) dos 5,9 bilhões

de quilômetros que distanciam o Sol de Plutão. Encontraremos a diferença de 5,75

bilhões de quilômetros. A pergunta que se coloca, então, é como poderemos percorrer

esta distância através dos meios de locomoção que conhecemos hoje?

Para isto consideremos duas formas de viagem. Numa primeira possibilidade

imaginemos estarmos num vôo direto Terra-Plutão, a bordo de um avião Boeing 777-

200 (uma das mais modernas aeronaves comerciais existentes na atualidade) e que

Fonte: www.apolo11.com/spacenews.php?posic=dat_20051...

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desenvolve velocidade média de 900 quilômetros por hora. A questão resume-se em

sabermos quantas horas precisaríamos para percorrer os 5,75 bilhões de km já

mencionados. Pois bem: sabendo-se que a Terra leva 24 horas para executar uma volta

completa ao redor de seu próprio eixo (duração do dia) e 365 dias para completar uma

volta completa ao redor do Sol (o ano), temos que um ano encerra 8.760 horas (24 horas

X 365 dias). Logo, em um ano de viagem (sem parar) o Boeing percorreria 7,88 milhões

de km. Então, para sabermos quantos anos de viagem seriam necessários para percorrer

a distância Terra-Plutão, basta dividir 5,75 bilhões por 7,88 milhões, o que nos fornece

o valor aproximado de 730 anos.

Numa segunda situação imaginemos o que aconteceria se a mesma viagem fosse feita

por via terrestre através de um veículo que trafegasse à velocidade de 80 quilômetros

por hora, como, aliás, convém ao bom senso e ao limite de uma viagem que transcorra

de maneira segura. Suponha ainda haver uma estrada reta e sem buracos (o que não é o

caso de 75% das rodovias brasileiras) que unisse a Terra a Plutão. Se o veículo desloca-

se 80 km/h, nas 8.760 horas do ano percorreria um total de 700.800 km. Dividindo-se os

mesmos 5,75 bilhões por 700.800, chegaremos ao valor de 8.204 anos.

Por estar extraordinariamente distante da Terra, nenhuma espaçonave conseguiu

aproximar-se de Plutão. Mas a Nasa estuda a possibilidade de lançar a missão “Novos

Horizontes”, com o objetivo de estudá-lo mais de perto. O lançamento do foguete para

este fim seria em 2006 com chegada prevista para 2015.

Outra dificuldade no estudo de Plutão é seu tamanho reduzido. De formato esférico

(como todos os demais planetas do sistema solar e a maioria dos corpos celestes),

apresenta diâmetro de 2.302 km, o que indica ter tamanho aproximado de dois terços do

satélite natural da Terra, a Lua (esta última com diâmetro de 3.470 km). É um planeta

frio já que em sua superfície as temperaturas oscilam entre 223 e 233 graus Celsius

negativos. Sua atmosfera é constituída dos gases metano e nitrogênio, ambos

congelados. O período de rotação (ou dia) de Plutão é de 153 horas, ou pouco superior a

seis dias terrestres.

Plutão foi descoberto em 13 de março de 1930 pelo astrônomo norte-americano Clyde

Tombaugh. Seu único satélite (ou lua), denominado Caronte, foi descoberto em 1978

pelo astrônomo também norte-americano J. Christy. Pouco se conhece de Caronte,

exceto o fato de apresentar diâmetro de 1.186 km, ou seja, pouco maior que a metade de

Plutão.

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Tal como a Lua gira ao redor da Terra, Charonte gravita em torno de Plutão. No final

dos anos 80, Plutão e Charonte passaram diversas vezes um na frente do outro e as

observações permitiram a elaboração de mapas aproximados dos dois corpos celestes,

quando foi descoberto que Plutão tem calotas polares (tal como Marte), bem como

grandes manchas escuras próximas de seu equador.

O nome do planeta provém da mitologia romana na qual Plutão era o deus dos mortos.

O equivalente latino ao deus grego Hades. Segundo a mitologia greco-romana, Plutão

ajudou seus dois irmãos, Júpiter e Netuno, a derrotar seu pai, Saturno. A única lua

recebeu o nome de Caronte, o barqueiro que transportava os mortos ao reino

subterrâneo de Hades, já associado ao inferno.

No início deste ano de 2004 surgiram especulações acerca da eventual descoberta de um

suposto décimo planeta que até teria recebido o nome Sedna, em homenagem à mãe dos

animais marinhos cultivada pela mitologia dos esquimós como a protetora e senhora de

todas as criaturas dos mares. É oportuno salientar que tais informações são, no mínimo,

apressadas quando não infundadas. Afinal caracterizar novos corpos como planetas é

uma longa jornada de trabalhos e que requer muitas décadas de pesquisas e de estudos.

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Cometas, os elegantes habitantes do sistema solar

“..., e a 12 dias do dito mês [maio], seguindo o nosso caminho, apareceu um cometa para as partes da Arábia, com uma cauda muito comprida, o

qual apareceu de contínuo 8 ou mesmo 10 noites.”. Piloto anônimo8

A idéia que todos nós temos dos cometas é a de que são corpos celestes que se

assemelham a estrelas dotadas de longas e belas caudas, que se estendem pelo céu afora.

Nada mais equivocado, já que são astros pertencentes ao sistema solar e, portanto, nada

têm a ver com estrelas. Até porque, depois do Sol, a estrela mais próxima da Terra e que

é a de maior brilho da constelação do Centauro (localizada ao lado da do Cruzeiro do

Sul), denominada Toliman, dista 41 quadrilhões de quilômetros do planeta no qual

vivemos. Distância tão extraordinariamente grande que se tivéssemos de escrevê-la,

precisaríamos colocar 15 zeros à direita do numeral 41 para só depois acrescentar a

unidade km.

Na realidade, a palavra cometa deriva do latim coma, que significa cabeleira. Assim,

poderíamos traduzir cometa por cabeleirazinha. Mas isto igualmente não corresponde à

realidade, já que os cometas são constituídos de três partes principais: núcleo, cabeleira

e cauda. O conjunto composto pelo núcleo e cabeleira recebe o nome particular de

“cabeça” e pode se estender por distâncias variáveis entre 16 mil e 2 milhões de

quilômetros. Já as caudas, sempre que existentes (e aqui vale lembrar que nem todos os

8 O texto do piloto anônimo, de 1501, foi originalmente escrito em português por um integrante da frota cabralina, que “preferiu o anonimato pelo pagamento recebido para narrar a atribulada viagem da armada de 1500. O historiador norte-americano William Brooks Greenlee pesquisou a identidade do autor e chegou à conclusão, após eliminar todos os possíveis alfabetizados que retornaram com Cabral da Índia, que o seu autor era o escrivão da nau capitânia, João de Sá” (citação extraída de: Papavero, N. e Teixeira, D. M. Os primeiros documentos sobre a história natural do Brasil: 1500-1511. Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi, 2002. páginas 58 e 61).

Fonte: www.margencero.com/magazine/cometa.htm

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cometas exibem cauda) podem se prolongar por até 300 milhões de quilômetros. Ou, em

outras palavras, duas vezes a distância média Terra-Sol, que é de 150 milhões de

quilômetros.

São constituídos fisicamente por uma mistura de gelo e poeira, tal como se fosse uma

gigantesca bola suja. À medida que este corpo celeste se aproxima do Sol, parte do gelo

derrete formando-se uma grande nuvem de vapor e poeira ao seu redor (e que é a

chamada cauda), sempre apontando na direção oposta à do Sol. Esta nuvem é tão fina e

vaporosa que é até possível observar estrelas situadas atrás dela. Pouco se conhece à

respeito da origem e da formação dos cometas. Uma teoria bastante aceita defende que

os cometas são astros originários de colisões entre asteróides (corpos rochosos

existentes entre as órbitas de Marte e Júpiter que originaram partículas de poeira

cósmica que se aglutinaram em meio a enormes blocos de gelo). Estudos mais recentes,

contudo, dão conta que cerca de 150 mil vezes a distância Terra-Sol (ou o equivalente a

22 trilhões de km) há um “berçário” de cometas – de onde, aliás, todos se originam –

formado há 4,5 bilhões de anos que foi quando teve início a criação do sistema solar. As

partículas cósmicas que não conseguiram se agrupar em blocos maiores para constituir

os planetas, satélites e asteróides, permaneceram sob a forma do fino pó que constitui

atualmente o núcleo dos cometas. São, portanto, corpos primitivos e antigos, que

poderiam até mesmo serem classificados como verdadeiros fósseis celestes.

O primeiro astrônomo a descobrir que o mesmo cometa poderia voltar a passar perto do

Sol foi o físico inglês Edmond Halley. Para isso comparou a forma dos cometas

surgidos em 1531 e em 1607 e concluiu tratar-se de um mesmo astro. Mais arrojado

ainda, afirmou que ele apareceria novamente em 1683. Naquela época muitos

duvidaram, mas o tempo se encarregaria de mostrar que Halley tinha razão. De fato, o

cometa voltou na época prevista embora com atraso de alguns meses. Halley havia

morrido pouco antes e conta-se que seus amigos se reuniram ao redor da tumba do

cientista para lhe prestar homenagens póstumas. Assim, em reconhecimento à perfeição

dos cálculos por ele efetuados à sua época, o cometa recebeu o nome de Halley. Como

previra, o astro apareceria aproximadamente a cada 76 anos, o que acabou se

confirmando em fins de 1759 e se repetindo início de 1835, durante o ano de 1910 e em

1986.

Com respeito à aproximação de Halley 1986, nos meses que antecederam o surgimento

do astro os veículos de comunicação de massa o anunciaram como “o cometa do

século”, mesmo considerando que sua aparição seria desfavorável em relação à anterior

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(1910). De fato, houve grande decepção já que o cometa não se mostrou visível a olho

nu. Para observá-lo foi necessário o emprego de lunetas e telescópios. Em grande parte

porque em 19 de maio de 1910, na aproximação máxima da Terra, distava 23 milhões

de quilômetros. Em oposição aos 63 milhões de quilômetros registrada no dia 11 de

abril de 1986.

Neste século voltará a aparecer em 2063. É oportuno mencionar que, até hoje, é tradição

atribuir a cada novo cometa o nome de seu descobridor. Ou de seus descobridores, ainda

que estes tenham trabalhado distantes um do outro.

A seguir, a relação dos cometas mais importantes, com seus respectivos períodos, ou

seja, o tempo necessário para que se tornem novamente visíveis para um observador

situado aqui na Terra:

Cometa Período (em anos) Herschel-Rigollet 156 Halley 76 Pons-Brooks 71 Westphal 61 Tuttle 13 Galle 10 Wolf 8 Whipple 7 Biela (*) 6 Forbes 6 Temple 5 Tuttle-Giacobini 5 Grigg-Skjellerup 4 Encke 3

(*) em 1846, o astro aproximou-se demasiadamente de Júpiter e pela força gravitacional deste último gigantesco planeta, o corpo celeste separou-se em dois cometas-gêmeos. Fonte: MARQUES, P. A tecnologia no cotidiano. São Paulo, Diagrama&Texto, 1986, página 17.

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As estrelas são os milhões de sóis do Universo

“Na verdade, é uma luz muito fraca a que

nos chega do céu estrelado. Contudo, o que

seria do pensamento humano se não

pudéssemos perceber essas estrelas” – Jean

Perrin

“Diferente das estrelas Terra, terra ... Por

mais distante o navegante Quem jamais te

esqueceria”. Caetano Veloso, Terra

Há milhares de anos a contemplação do céu estrelado provoca em todos os que o

observam sensações que se estendem do encantamento à curiosidade por conhecer a

natureza dos incontáveis cintilantes pontos de luz, que são as estrelas. A olho nu

podemos observar cerca de sete mil estrelas, todas com diferentes brilhos e cores. Se

utilizarmos um simples binóculo, observaremos outras estrelas que não conseguíamos

ver com a vista desarmada. Este número cresce mais ainda, quando usamos lunetas ou

telescópios. Se olharmos com cuidado a conhecidíssima constelação do Cruzeiro do Sul

veremos que do seu lado esquerdo existem duas estrelas brilhantes e alinhadas,

apontando em sua direção. Mais atentos ainda podemos observar que mesmo as cinco

estrelas que compõem a constelação do Cruzeiro apresentam brilhos diferentes. Dentre

elas, a de menor brilho é a “Intrometida”, assim chamada por quebrar a simetria da cruz

formada pelas outras quatro que lhe antecedem em brilho. Assim, são classificadas de

acordo com seu brilho e conhecidas como estrelas de primeira magnitude, de segunda,

de terceira, até a vigésima-sétima magnitude. Vale aqui informar que o limite

perceptível para o olho humano é a sexta magnitude. A partir daí, outras estrelas só

podem ser observadas mediante o uso de instrumentos ópticos, como os já

mencionados.

Dentro de uma mesma constelação é tradição na Astronomia indicar as estrelas que as

formam por letras do alfabeto grego, sempre da mais brilhante (indicada por alfa) até a

de menor brilho. Além disso, as estrelas mais brilhantes do firmamento também são

indicadas por nomes próprios, em geral de origem grega ou árabe. Isto porque estas

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duas últimas civilizações se notabilizaram por seus trabalhos e estudos no fascinante

campo da Astronomia. Por esta razão, as duas estrelas que apontam para o Cruzeiro do

Sul são a alfa – denominada Toliman – e a beta Centauro (Haddar). Já a mais brilhante

do Cruzeiro, a alfa Crucis, recebe o nome de Magalhães, em homenagem ao grande

navegador Fernão de Magalhães que saiu do Atlântico Sul e chegou ao Pacífico Sul,

atravessando o estreito que também leva seu nome e se localiza na extremidade sul da

Argentina.

A preocupação dos homens com relação ao conhecimento e identificação das estrelas

remonta a séculos antes do nascimento de Cristo. O primeiro sábio a estudá-las foi

Hiparco de Nicéia, astrônomo e matemático grego do século II a.C., que viveu na

Alexandria (Egito) e trabalhou grande parte da sua vida na ilha grega de Rodes (entre

161 e 126 a. C). Extremamente competente e meticuloso, elaborou um catálogo

registrando a posição de aproximadamente mil estrelas. Destas, fez uma seleção das 20

mais brilhantes que constituem as estrelas de primeira grandeza do firmamento.

Determinou com enorme precisão a latitude (afastamento, em graus de arco, do Equador

para os pólos Norte ou Sul) de cada uma dessas 20 estrelas, que foram empregadas na

orientação das navegações marítimas por séculos a fio. E foram elas que possibilitaram

as grandes navegações feitas sobretudo pelos portugueses nos séculos XIV e XV. Sua

utilização foi descontinuada com o ingresso da humanidade na era espacial (final dos

anos 50 e início da década de 60 do último século) e o desenvolvimento dos satélites

artificiais. Atualmente, as navegações aérea e naval baseiam-se no emprego do chamado

GPS ou satélite de posicionamento que, a cada momento, pode fornecer a posição de

um veículo que se move sobre a Terra ou próximo dela. E isso inclui aviões, navios e

automóveis ou caminhões.

Desde a época dos gregos (portanto, séculos antes do nascimento de Cristo) até o início

do Renascimento europeu (século XVI), os homens consideravam que as estrelas eram

pontos de luz situados a uma mesma distância da Terra e localizados no que chamavam

de “a esfera das estrelas”. Segundo a concepção vigente durante todos aqueles séculos

até o ano de 1600 predominava a idéia segundo a qual ao redor de uma Terra imóvel

gravitavam em esferas: a Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e, por fim,

as estrelas fixas. Durante séculos os homens imaginavam que além desta última

habitavam Deus, os santos e os anjos. Daí (e por tradição) até hoje dizermos que,

quando alguém morre, a pessoa viaja (ou vai) para o “além”. Mas, naquele mesmo ano

de 1600, o genial italiano Giordano Bruno ousou afirmar que as estrelas eram outros

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sóis tal como o nosso. Ademais, que estariam distantes da Terra. Ousada afirmação que,

à época, contrariava o que defendia a Igreja Católica. Considerado hereje pelo tribunal

da Santa Inquisição, foi condenado à morte “para ser punido com toda a clemência e

sem efusão (derramamento) de sangue”. O que significou, em termos simples, ser

queimado vivo.

Bruno, contudo, tinha razão. Sabe-se hoje que as estrelas, tal como o nosso Sol, são

enormes concentrações de gás, aglutinados sob forma aproximadamente esférica. Pelo

fato de os gases (sobretudo o hidrogênio) estarem fortemente comprimidos, ocorrem

reações nucleares (tal como as que acontecem nas usinas nucleares de Angra dos Reis 1

e 2) o que gera calor da ordem de milhões de graus Celsius. Algo parecido com a

explosão de uma bomba nuclear de hidrogênio onde átomos se juntam para formar um

elemento químico mais pesado, o gás hélio. Neste processo há liberação de gigantesca

quantidade de energia térmica, ou seja, calor. Energia esta que provinda do nosso Sol,

além do calor nos fornece luz e mantém a vida animal e vegetal aqui na Terra, o planeta

em que vivemos.

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Na Via-Láctea, o nosso Sol perdido dentre 100 bilhões de outros sóis

“... Pisando o cristalino Céu formoso, Vêm pela Via-Láctea juntamente,

Convocados da parte do Tonante, Pelo neto gentil do velho Atlante.” Camões,

Os Lusíadas, canto I, 20

Nas noites de Lua Nova (época em que não podemos observar a Lua pelo fato de ela

estar situada entre a Terra e o Sol e, por isto, não receber a luz solar que ilumina os

astros) e, ademais, estarmos afastados de regiões com grande luminosidade (como, por

exemplo, as grandes cidades), podemos observar pouco acima, ou ao Norte, da

constelação do Cruzeiro do Sul uma mancha esbranquiçada. Apresenta aspecto parecido

à brancura de um leite derramado ao chão ou sobre o fogão. Daí o nome: via-láctea,

substantivo composto e derivado do latim “láctea”, que literalmente significa leite.

Desta maneira, uma conceituação bastante rigorosa para via-láctea seria via, estrada,

rota ou, ainda, caminho do leite. Esta associação ao branco do leite remonta séculos

antes do nascimento de Cristo, quando na mitologia dos gregos e dos romanos, a

mancha que hoje observamos estar associada ao leite derramado por Hera – a deusa

grega do casamento e do parto –, ou Juno que é sua correspondente na mitologia

romana. Conta-nos a lenda que séculos antes do nascimento de Cristo, os gregos

acreditavam que a mancha leitosa que corta o céu era o caminho que Hera (ou Juno)

percorria todos os dias, para amamentar seus inúmeros filhos com Zeus, a divindade

maior dentre os deuses gregos. Gotas de leite caiam todos os dias dos seios de Hera e,

pouco a pouco, foram formando a franja luminosa de cor esbranquiçada que, por

tradição secular, ainda hoje recebe a denominação de via-láctea.

Como não havia ainda conhecimento científico preciso naquela época, os povos antigos

valiam-se da fantasia para melhor compreender o universo e a natureza. Mas, mesmo

entre os gregos existiam opiniões divergentes. Para muitos, a via-láctea representava o

Fonte: antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/ap050104.html

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rastro do caminho percorrido pelo Sol e que deixava detrás de si a poeira esbranquiçada.

Por esta razão, ainda hoje a via-láctea é conhecida popularmente pelos nomes de

caminho de São Tiago, estrada de Santiago, estrada de São Tiago, carreira de São Tiago

e até mesmo por carreiro de São Tiago. São denominações ainda comumente

empregadas no interior do Brasil. Sobretudo no Nordeste do País, onde também recebe

o nome de Estrada de São Tiago de Compostela. Herança de uma velha tradição católica

portuguesa dando conta de que este é o caminho que todas as almas atravessam para

subir ao reino dos céus.

Na tentativa de entender os mistérios do firmamento, surgiram muitas outras teorias

elaboradas pelos próprios gregos. Teofrasto, por exemplo, que viveu no século IV antes

de Cristo acreditava que aquela fixa reluzente representava os pontos nos quais estavam

soldadas as duas metades da esfera celeste, ou seja, o hemisfério celeste norte (também

chamado boreal) e o sul (austral). Mais arrojado ainda, 400 anos antes do nascimento de

Cristo o genial sábio também grego Demócrito afirmava que a via-láctea era a

aglomeração de uma infinidade de estrelas. E isto só foi confirmado por volta do ano de

1610 quando o astrônomo italiano Galileu Galilei (1564 – 1642) apontou para o céu a

luneta que ele próprio havia construído.

Na verdade, a via-láctea é um agrupamento de mais de cem milhões de estrelas (que se

assemelham ao nosso Sol), acrescido de poeira interestelar e gás. Apenas não

conseguimos distingui-los pelo fato de estarem muito, mas muito longe mesmo da

Terra. É, enfim, o local onde reside o nosso sistema solar junto com milhares de outros

sistemas estelares. A Via-láctea é uma galáxia (conjunto de milhares ou bilhares de

estrelas) em forma espiral-lenticular (ou seja, parecida a um descomunal grão de

lentilha) dentro da qual encontramos o nosso sistema solar e, sobretudo, o nosso

planeta: a Terra. Em razão de os corpos celestes estarem distantes uns dos outros, os

cientistas não empregam o quilômetro como unidade de medida de comprimento.

Utilizam o ano-luz, que toma como referência a velocidade da luz. A luz viaja a uma

velocidade aproximada de 300.000 quilômetros por segundo. Assim sendo, é possível

determinar que a luz percorre 9,33 trilhões de quilômetros em um ano (resultado da

operação de multiplicação entre os 31,104 milhões de segundos do ano e a velocidade

da luz). Dizer, então, que um astro está a 5 anos luz da Terra equivale a dizer que para

que a luz dele proveniente chegue ao nosso planeta será necessário transcorrer o período

de tempo de 5 anos. E na via-láctea há estrelas distantes 27.000 anos-luz da Terra. Daí

as vermos como uma faixa de luz fraca e trêmula. É como se estivéssemos olhando o

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horizonte da galáxia na qual vivemos. Existem outras galáxias no universo, mas com a

nossa tecnologia ainda rudimentar se torna impossível, ao menos no momento, as

visitarmos. O conhecimento que temos delas limita-se às observações astronômicas

efetuadas da Terra e dos telescópios lançados pelo homem no espaço sideral. A exemplo

dos demais astros ou conjunto de corpos celestes, a nossa galáxia, que é a via-láctea,

também apresenta movimento de rotação em torno de seu próprio eixo e a sua revolução

completa se processa a cada 200 milhões de anos.

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Do céu à Terra: a presença da Astronomia no nosso cotidiano

Além da Terra, além do Céu, no trampolim do sem-fim das estrelas,

no rastro dos astros, na magnólia das nebulosas.

Além, muito além do sistema solar, até onde alcançam o pensamento e o coração,

vamos! vamos conjugar

o verbo fundamental essencial, o verbo transcendente, acima das gramáticas

e do medo e da moeda e da política, o verbo sempreamar,

o verbo pluriamar, razão de ser e de viver.

Carlos Drummond de Andrade, Amar se aprende amando

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Natal, uma festa vinculada à Astronomia

Um homem, — era aquela noite amiga,

Noite cristã, berço do Nazareno, — Ao relembrar os dias de pequeno, E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno As sensações da sua idade antiga,

Naquela mesma velha noite amiga, Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto... A folha branca Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,

A pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso, Só lhe saiu este pequeno verso:

"Mudaria o Natal ou mudei eu?"

Machado de Assis, Soneto de Natal

Às 2 horas e 22 minutos do dia 22 de dezembro de 2006, pela hora de Brasília, iniciou-

se o verão no hemisfério Sul e o inverno no Norte. Naquele exato momento, em seu

caminho aparente pelo firmamento, o Sol estará em seu afastamento máximo ao sul da

linha do Equador. Na ocasião cruzará o Trópico de Capricórnio – linha imaginária

situada a 23 graus e 30 minutos de latitude equatorial sul – que, dentre outras inúmeras

cidades do Brasil e do mundo, passa pelo Estado de São Paulo poucos quilômetros ao

Norte do limite da divisa da capital paulistana com municípios vizinhos9. Ocorre, então,

o que em Astronomia denomina-se solstício (do Latim solstitiu, que significa “sol

estático, ou parado”) de verão para o hemisfério Sul e o de inverno para o Norte. É uma

9 Encontramos marcos ou placas indicadoras da linha de passagem do trópico nas principais rodovias paulistas. Dentre outros poderíamos mencionar os marcos referenciais existentes na Rodovia Ayrton Senna (também conhecida como “Rodovia dos Trabalhadores”), no município de Itaquaquecetuba; na Via Anhangüera, altura do município de Caieiras e, ainda, na Rodovia Rio-Santos, no município de Ubatuba.

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data variável, mas acontece anualmente sempre nos dias 21 ou 22 de dezembro.

Portanto, de três a quatro dias antes do Natal.

Observe-se que usamos a expressão “caminho aparente do Sol”. Seu emprego foi

intencional, já que não é o Sol que gira ao redor da Terra, mas nosso planeta que

revoluciona em torno do Sol. Assim, embora consagradas milenarmente, as expressões

“nascer” ou “por” do Sol são inadequadas. O emprego é compreensível se

considerarmos que estes termos surgiram séculos antes do nascimento de Cristo, quando

a conformação e a natureza do Universo ainda não eram conhecidas. Ao gravitar ao

redor do Sol no movimento de translação – em um ano ou cerca de 365 dias –, a Terra

gira em torno de seu próprio eixo, realizando volta completa em aproximadamente 24

horas.

Por outro lado, como o eixo da Terra (linha imaginária que passa pelo centro dos pólos

Norte e Sul), apresenta inclinação de 23 graus e 30 minutos de arco em relação ao

caminho do Sol, este ora iluminará mais o hemisfério Sul (também chamado austral) e

ora o Norte (boreal). Há épocas, porém, que iluminará igualmente o austral e o boreal.

Esta última situação ocorre no outono e na primavera, cujos inícios são determinados

quando o Sol cruza a linha do Equador. Ocorre o chamado equinócio (do Latim

aequinoctiu, com o significado de “duração do dia igual ao da noite”). A única data

fixa em Astronomia para o início das estações do ano é 20 de março, quando começa o

outono no Sul e a primavera no Norte. A outra passagem do Sol pelo Equador acontece

em 22 ou 23 de setembro, com o surgimento da primavera (Sul) e do outono (Norte).

Por fim, 21 ou 22 de junho marcam o início do inverno para o hemisfério Sul e o verão

para o Norte. É oportuno mencionar que o emprego da expressão solstício deve-se ao

fato de o Sol não apresentar deslocamento aparente em seu nascente e poente. Ao

contrário dos solstícios, quando os deslocamentos são perceptíveis. Assim, se tomarmos

um ponto de referência para o nascente e outro para o poente, veremos que no decorrer

do ano o Sol nasce ou morre ora mais ao norte, ora mais ao sul dos marcos de

referência.

A adoção do Natal em data próxima ao solstício de inverno no hemisfério boreal foi

uma opção da Igreja Católica para dar sentido cristão à festa pagã de comemoração da

entrada do inverno, celebrada desde a época de esplendor das civilizações da Babilônia

e da Suméria, na Mesopotâmia (atual Iraque). A discrepância nas datas decorre das duas

reformas feitas no calendário cristão ao longo dos últimos 20 séculos. A primeira foi

promovida pelo imperador Júlio César (46 a.C.), alterando o calendário romano

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composto de 10 meses para o atual, com 12 meses. A segunda, efetuada em 1582 pelo

papa Gregório XIII, teve motivação astronômica. Pelo fato de o movimento da Terra ao

redor do Sol completar-se em 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45 segundos, Gregório

XIII resolveu agrupar o resíduo acumulado em 4 anos, acrescendo-o num único dia (29

de fevereiro) nos chamados anos bissextos. Desde então o Natal passou a coincidir com

o 359º dia, nos anos comuns, e com o 360º nos anos bissextos.

O próprio ano do nascimento de Jesus – de existência histórica irrefutável e cujo

natalício marca o ano zero do calendário cristão – registra discordâncias à luz de

evidências bíblicas e astronômicas. Do ponto de vista histórico, temos a passagem de

Mateus (primeiro livro do Novo Testamento) que, em seu capítulo 6, verso 1, registra:

“Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do Rei Herodes, vieram uns

magos do Oriente a Jerusalém”. Curioso observar que Herodes, representante do

Império Romano no Oriente, nasceu no ano 73 a.C. e morreu em 4 a.C. Com isto

podemos deduzir que Cristo nasceu, no mínimo, quatro anos antes da data que lhe é

atribuída.

Ao mesmo tempo, todos os Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) referem-se ao

aparecimento de uma estrela no Oriente, que teria servido para que os Reis Magos

localizassem o sítio onde Cristo nascera. Modelagens astronômicas atuais exibindo o

firmamento da época para aquela localidade mostram que em 7 a.C. ocorreu a

conjunção (aproximação de corpos celestes) de Júpiter e Saturno, com extremo brilho e

grande poder de fulguração. Tal conjunção teria ocorrido na constelação de peixes, o

que justifica a adoção deste último animal como símbolo da igreja e dos primitivos

cristãos*.

Por outro lado, um cometa suficientemente luminoso (como o de Halley, que apareceu

com grande luminosidade no início de 1910 e voltou a aproximar-se da Terra em fins de

1985, mas, desta vez só pode ser observado através de telescópios) justificaria a

descrição apresentada pelos quatro evangelistas. Importante mencionar que a

denominação cometa Halley data de 1758, em homenagem ao seu maior estudioso: o

físico britânico Edmond Halley, que datou de 240 a.C. seu primeiro aparecimento no

céu. De concreto, Flavius Josephus, historiador contemporâneo de Cristo, relatou o

aparecimento do cometa no ano 66 d.C. Como o astro aparece invariavelmente a cada

76 anos, Cristo teria nascido no ano 10 a.C. Por todas as evidências apresentadas fica

* maiores detalhes sobre a simbologia associada ao peixe poderá ser encontrada no ANEXO4.

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claro que, na verdade e por força das reformas juliana e gregoriana, Cristo não teria

nascido há 2.006 anos. Mas, num período compreendido entre 2.011 e 2.017 anos

passados.

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A curiosa história do calendário ocidental

Quando numa tarde furtiva do calendário, Teu abraço ansioso me alcançar,

E eu, guerreiro vencido e sem itinerário, Em teu coração me refugiar...”

Milton Moreira Coutinho, Presente

O atual calendário dos meses e dos dias da semana usados no Ocidente originou-se do

modelo empregado pelos romanos, desde ao menos três séculos antes do nascimento de

Cristo. No princípio era constituído de dez meses, número posteriormente ampliado

para os doze meses do ano, tal como os indicamos na atualidade.

O primeiro mês do calendário adotado em Roma recebia o nome de Martius, em

homenagem ao deus Marte, o senhor da vegetação e da guerra, que deu origem a março

na língua portuguesa. O segundo mês dos romanos era Aprilis, termo originário do

verbo latino “aprire”, que significa abrir, já que naquele mês as flores desabrocham em

todo o hemisfério Norte. Marca invariavelmente o início da Primavera para o hemisfério

Norte e o do Outono para os habitantes do hemisfério Sul.

O terceiro mês denominava-se Maius, pois coincidia com a época em que os romanos

reverenciavam Maia, a deusa da floração – divindade da maior importância para eles, já

que representava a filha de seus deuses mais reverenciados: Atlas e Pleionéia –, sempre

com o objetivo de obter boas colheitas em suas safras agrícolas. Na língua portuguesa,

Maius transformou-se em maio. Já o quarto mês do ano para os mesmos romanos era

Junius, expressão que em Latim também significa jovem. Isto porque era naquele mês

em que os romanos promoviam a chamada festa da juventude.

Os outros seis meses do ano receberam nomes de acordo com suas ordens de colocação

no calendário. Assim, Quintílis era o quinto, Sextílis (sexto), September (sétimo),

October (oitavo), November (nono) e, finalmente, December, o décimo. Torna-se fácil

imaginar que os nomes dos quatro últimos deram origem, em português, a setembro,

outubro, novembro e dezembro.

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Mais tarde, dois outros meses foram incorporados ao calendário original. Referimo-nos

a Januarius, que recebeu este nome em homenagem a Janus, o deus das portas da

passagem, simbolizado na mitologia romana por uma entidade dotada de duas faces

opostas – na verdade, ele olhava tanto para o ano que havia se encerrado como para o

que estava começando –, representando uma das mais antigas divindades cultuadas em

Roma. O outro era Februarius, que assim se chamava porque era naquele mês em que

se comemoravam as februas, ou seja, a festa dedicada a comemorar os mortos. Deram

origem, em português, a janeiro e fevereiro, respectivamente. Contudo, no caso

específico de fevereiro, é preciso mencionar que alguns etimólogos associam-no à alta

incidência da febre que acometia as pessoas em decorrência da insalubridade própria do

inverno europeu.

Séculos depois, os nomes Quintílis e Sextilis foram transformados em Julius e

Augustus, em homenagem aos dois mais destacados imperadores romanos: Júlio César

e Augusto. Daí terem gerado os nomes dos meses de julho e de agosto.

Os dias da semana, por sua vez, foram originalmente atribuídos em honra aos nomes

dos dias do Sol, da Lua e dos cinco planetas conhecidos à época (todos eles visíveis a

olho nu) e que eram: Marte, Mercúrio, Júpiter, Saturno e Vênus. Para anular e atenuar o

paganismo das comemorações populares, a Igreja Católica promoveu alterações nos

nomes originalmente adotados. É o caso do Dia do Sol, que passou a ser denominado de

Dominica, o que significa Dia do Senhor. De igual maneira, o dia consagrado a Saturno

teve sua denominação modificada para Sabbatum, que expressa o Dia do Descanso

Santificado. Domínica originou o domingo e Sabbatum, o sábado. Interessantíssimo

observar que alguns serviços públicos federais – como o do magistério superior nas

universidades federais, por exemplo – concedem aos seus servidores, a cada sete anos, o

que se tornou conhecido como descanso sabático, onde os docentes estão liberados de

ministrar suas aulas nos cursos de graduação (formação de médicos, engenheiros,

advogados etc...).

Os demais dias da semana passaram a ser nomeados segundo sua ordem, seguido da

palavra feria, o que em Latim significa festa. Desta forma, passaram a ser conhecidos

como secunda feria, tertia feria, quarta feria, quinta feria e sexta feria. É de todo

oportuno mencionar que o substantivo latino feria indica a festa de repouso em honra

aos deuses. Daí, dias de descanso, feriados, férias ou festas. De forma solerte e para

descaracterizar o sentido pagão do termo, a Igreja fomentou a deterioração desta

expressão latina, que chegou até nós, de fala portuguesa, como feira. Daí sua evolução

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para as denominações atuais de segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira e,

por fim, sexta-feira.

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Posfácio: em agosto de 2006 surge a novíssima Astronomia

“Não há nada mais difícil de manejar, mais

perigoso de conduzir ou mais incerto de suceder

do que levar adiante a introdução de uma ordem de coisas,

pois a inovação tem por seus inimigos

todos os que se deram bem

nas condições antigas, e

por defensores frágeis todos aqueles que

talvez possam se dar bem nas novas”

Maquiavel, O Príncipe (1532)

No último dia 24 de agosto de 2006 em meio a acirradas discussões e inenarráveis

controvérsias o plenário da XXVIª Assembléia Geral da União Astronômica

Internacional (sediada em Praga, capital da República Tcheca), evento que contou com

a presença de mais de 2.500 astrônomos de 75 diferentes países, aprovou nova

reclassificação dos astros do sistema solar. Em sua essência a decisão reduziu de nove

para oito o número de planetas até aquela data integrantes do Sistema Solar. A nova

classificação estabelecida, no entanto, estabeleceu três novos grupos de planetas. A

primeira é a dos planetas que poderíamos chamar de “clássicos”, representado por:

Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Netuno, Saturno e Urano, de acordo com seus

afastamentos do Sol. A segunda engloba os asteróides que, como foi visto em capítulos

anteriores, gravitam num cinturão situado entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Foi

introduzido de forma inovadora um terceiro grupo que se encontra representado por

Plutão e pelo novo objeto 2003 UB-313, identificado pela primeira vez em 21 de

outubro de 2003 e cuja confirmação da existência só se deu em 5 de janeiro de 2005.

Sobre este novo corpo celeste inexistem informações mais detalhadas até o momento.

Ainda é desconhecida a composição química da superfície do astro recém-descoberto,

razão pela qual os telescópios o observam apenas mediante o emprego de radiação

infravermelha que somente registra a temperatura da superfície do novo objeto. De

concreto sabe-se apenas que o astro em sua maior aproximação do Sol – o chamado

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periélio – dista 5,665 bilhões de quilômetros do astro-rei. E que em seu maior

afastamento – afélio – situa-se a 14,634 bilhões de km do Sol. Conhece-se ainda o seu

período de revolução, ou translação, que é de 203.500 dias terrestres o que equivale a

557 anos também terrestres. Ainda a ser confirmado seu período de rotação,

preliminarmente estimado em 8 horas. Análises empregando radiação infravermelha

indicam que em sua superfície o novo astro apresenta temperaturas que oscilam entre –

284 e – 232º Celsius.

A controvérsia envolvendo a classificação de Plutão como planeta é objeto de polêmica

há algumas décadas, sobretudo em virtude da sua dimensão física e das características

da órbita que descreve ao redor do Sol. Em função do desenvolvimento dos métodos de

observação – que hoje dispõe de potentes telescópios lançados ao espaço como é o caso

do Hubble, por exemplo – e da elevação da potência de resolução das objetivas ópticas

(sejam lentes ou espelhos) foram feitas inúmeras correções na medição do diâmetro de

Plutão, que hoje se sabe ser bastante próximo de 2.300 quilômetros. Valor obviamente

irrisório em relação ao diâmetro da Terra (12.756,8, quando medido no eixo que cruza a

linha do Equador), mas também em relação à nossa própria Lua, com diâmetro de 3.470

km. Dados preliminares indicam que o 2003 UB-313 deverá apresentar diâmetro da

ordem de 3.000 quilômetros. Mas isto deverá ser confirmado no futuro de vez que este

novo objeto celeste de descoberta recentíssima encontra-se mais afastado do Sol que

Plutão, o “ex-último” nono planeta do Sistema Solar. No dia 13 de setembro a União

Astronômica Internacional batizou oficialmente o planeta-anão 2003 UB-313, que

passou a se chamar Éris. Aliás, o nome é mais do que apropriado. Afinal, Éris na

mitologia grega representa a deusa da discórdia e a descoberta do corpo celeste 2003

UB-313 ajudou a precipitar o debate que culminou com o rebaixamento de Plutão como

planeta “clássico” do sistema solar. Éris foi a causadora indireta da Guerra de Tróia

(cerca do ano 1.100 a. C.)

A rica e apaixonante mitologia grega relata que para o casamento de Peleu e Tétis todos

os deuses foram convidados, menos Éris. Ofendida, a deusa compareceu invisível e

deixou à mesa do banquete uma maçã de ouro com a inscrição “À mais bela”. Durante a

cerimônia das núpcias, três das deusas presentes: Hera (protetora do parto e, sobretudo,

da mulher em todos os aspectos de sua vida), Atena (deusa da sabedoria) e Afrodite (da

beleza) disputaram o título de mais bela e a maçã. Zeus (o deus dos deuses) não quis ser

o juiz para não descontentar duas das deusas. Ordenou, então, ao príncipe troiano Páris

que fizesse o julgamento e resolvesse a disputa. Para ganhar o título de “mais bela”,

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Atena ofereceu a Páris sabedoria e poder nas batalhas. Hera ofereceu riqueza e poder e

Afrodite, o amor da mais bela mulher do mundo. Páris deu a maçã à Afrodite, ganhando

assim a sua proteção. Mas, com isso Páris acabou atraindo para si próprio e para Tróia o

ódio das duas outras deusas.

A mulher mais bela do mundo era Helena, filha de Zeus e Leda, que era casada com

Tíndaro, o rei de Esparta. A bela Helena possuía diversos pretendentes, mas seu pai

adotivo Tíndaro hesitava em tomar uma decisão na escolha de Helena exatamente por

temer enfurecer qualquer um dos que desejavam se casar com Helena. Por fim um dos

pretendentes, Odisseu (cujo nome latino era Ulisses), rei de Ítaca, resolveu a questão

propondo que todos jurassem proteger Helena e o marido que ela escolhesse, qualquer

que fosse a escolha dela. Helena casou-se então com Menelau, que depois se tornou o

rei de Esparta.

Quando o príncipe Paris foi a Esparta em missão diplomática, apaixonou-se por Helena

e ambos fugiram para Tróia o que enfureceu Menelau. Este apelou aos antigos

pretendentes de Helena, lembrando-lhes a promessa feita e a palavra empenhada.

Agamenon, um dos antigos pretendentes, assumiu o comando de uma frota de mil

embarcações e atravessou o Mar Egeu para atacar Tróia. As naus gregas desembarcaram

numa praia próxima a Tróia e iniciaram um cerco que duraria 10 anos e custaria a vida

de inúmeras pessoas, incluindo os heróis Heitor e Aquiles. A guerra de Tróia só

terminou mediante a utilização de criativo estratagema: os gregos construíram um

cavalo de madeira e deixaram-no diante dos muros de Tróia. O cavalo, contudo, que era

oco escondia no seu interior 50 guerreiros. Os troianos levaram o cavalo para a cidade

pensando tratar-se de uma oferenda de paz. À noite, os soldados saíram do cavalo e

abriram os portões da cidade. O exército grego entrou e derrotou os troianos. E é esta é

a razão pela qual empregamos as expressões: “presente de grego” e, também, “é

impossível agradar a gregos e troianos”.

.

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Sobre o autor

“... quem não quer trabalhar também não há de comer.”

Paulo Apóstolo em sua segunda epístola aos tessalonicenses (2 Ts 3: 10)*

Doutor em Ciências, USP, 1990. Pós-Doutorado em Política Internacional e Comparada

(área de tecnologia nuclear), USP, 1992. Professor-Visitante da Área de Política

Científica e Tecnológica do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São

Paulo (IEA-USP), biênio 93/94. Professor de Pós-Graduação da USP, desde 1993.

Pesquisador-Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq), triênio 92/94. De 1968 a 1969 foi professor da rede pública

estadual paulista nas disciplinas de Matemática e Física para os cursos ginasial e

científico. De 1982 a 1985 foi professor de graduação em jornalismo especializado na

Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Em 1985 foi orientador do curso de

pós-graduação em jornalismo científico, promovido pela Capes (Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), do MEC (Ministério de Educação e

Cultura) e executado pela Aciesp (Academia de Ciências do Estado de São Paulo).

Desde fins de 1990 é pesquisador do Centro de História da Ciência, vinculado à Reitoria

da Universidade de São Paulo. Autor de A tecnologia no cotidiano (São Paulo,

Diagrama & Texto, 1986) e de Sofismas nucleares: o jogo das trapaças na política

nuclear do País (São Paulo, Hucitec, 1992), dos quais este último é a Tese de

Doutoramento transformada em livro. Tradutor de Marshall, J. P. O professor e sua

filosofia (São Paulo, Summus, 1977; livro – original em inglês) e de Pomerantz, L.

Argentina, uma frustração anunciada (tese de Livre-Docência apresentada à Unesp,

Campus de Assis, 1993 – original em espanhol). Finalista do IX Congresso Jovens

Cientistas Paulistas de 1974 (promovido pelo IBECC-UNESCO). Autor dos verbetes

em língua portuguesa (do Brasil) pertinentes à "Engenharia nuclear" (usina nuclear de

Angra dos Reis I; energia; geografia da energia e energia nuclear no Brasil), editados

pela Grande Enciclopédia Larousse Cultural em 1988 (1ª edição); 1995 (1ª reimpressão)

* A Bíblia de Jerusalém, 7ª reimpressão. São Paulo, Paulus, julho de 1995, p. 2225.

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e 1998 (2ª reimpressão). Em regime de co-autoria com o Prof. Shozo Motoyama

publicou 4 capítulos em dois diferentes livros (dois em: Motoyama, S. (org.).

Tecnologia e industrialização no Brasil. São Paulo, EDUNESP; CEETEPS, 1984 e

outros dois em: Vargas, M. (org.). História da técnica e da tecnologia no Brasil. São

Paulo, EDUNESP; CEETEPS, 1994). Igualmente em regime de co-autoria com Shozo

Motoyama e Maria Angélica Rodrigues Quemel publicou o livro “Uma associação

para a tecnologia brasileira: Abipti 25 anos”. Brasília, Paralelo 15; Abipti

(Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica), 2005. 283 páginas.

Em 1983 foi convidado pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo para atuar,

por notório saber, como consultor ad hoc da CEI da Paulipetro. É membro do Conselho

Consultivo e Editorial, como referee (expressão que em inglês significa árbitro ou juiz)

ou jornalista-responsável dos seguintes periódicos e publicações científicas: Revista

Uniandrade, área de Ciências Exatas e Tecnológicas, editada semestralmente pelo

Centro Universitário Campos de Andrade, Curitiba, PR; Revista do Departamento de

Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP; KHRONOS –

Revista de História da Ciência, editada pelo Centro Interunidade de História da Ciência

da USP; Jornal eletrônico “Alquimista”, editado mensalmente pelo Instituto de Química

da USP e da Revista de Economia Política e História Econômica, da FFLCH/USP. É,

também, o Editor do Jornal da História da Ciência, editado eletrônica e trimestralmente

pelo CHC/USP. Proferiu 24 palestras e conferências em eventos nacionais e

internacionais. Publicou 117 artigos científicos e participou de 30 bancas de concursos

acadêmicos, computados os exames de qualificação e as defesas de Teses e

Dissertações. Seus trabalhos acadêmicos e de produção intelectual receberam 44

citações em livros e periódicos científicos nacionais e internacionais. Em 1974 foi

finalista do IX Congresso Jovens Cientistas Paulistas, em concurso público promovido

pelo IBECC-UNESCO. É, também, Professor de Pós-Graduação e Orientador do curso

de especialização (modalidade lato sensu) em Jornalismo Científico à distância,

promovido em parceria entre a Univap (Universidade do Vale do Paraíba – sediada em

São José dos Campos, SP) e a ABCJ (Associação Brasileira de Jornalismo Científico),

com o apoio da UNESCO.

No âmbito da iniciativa privada trabalhou, do início da década de 1970 até 1987, como

jornalista profissional para a Revista Veja, O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil e

Folha de São Paulo, empresas nas quais foi desde repórter especializado em Energia e

em Ciência e Tecnologia, além de correspondente (nos Estados Unidos da América,

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Europa Ocidental e Oriental, África Equatorial, Oriente, Ásia Central e Sudeste

Asiático), até sub-editor de Economia do Jornal do Brasil em sua sede no Rio de Janeiro

(1980). De 1988 até meados de 1990 foi Assessor de Imprensa do Diretor da Escola

Politécnica e depois Ministro da Ciência e Tecnologia durante a administração José

Sarney, Prof. Dr. Décio Leal de Zagottis. Aliás, ao mencionar a extraordinária figura do

Prof. Décio desejo confessar minha profunda admiração por ele, tanto como figura

humana de excepcionais qualidades, quanto como cientista e professor, de quem fui

aluno na Escola Politécnica pelos idos do final dos anos 80. Desejo, com isto, justificar

a inclusão do nome dele no rol dos agradecimentos, lamentando profundamente sua

prematura morte aos 56 anos de idade, havida em 1996, e de quem, por sinal, sinto

enorme e irreparável saudade.

Sit finis operis, non finis qværendi 10

10 “Conclui-se a obra, mas não se encerra a busca [pesquisa]” – variante da alocução latina “Sit finis libri, non finis qværendi”, empregada originalmente pelo famoso monge trapista Thomas Merton em sua monumental obra: A montanha dos sete patamares. Trad. José Geraldo Vieira, 7ª ed. São Paulo; Rio de Janeiro, Mérito, 1959. p. 462.

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ANEXO 1

A Lei de Direito Autoral (Lei nº 9.610 de 19/2/98)

no Título VII, Capítulo II diz:

– Das Sanções Civis: Art. 102: “O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utilizada, poderá requerer a apreensão dos exemplares reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo da indenização cabível.”; Art. 103: “Quem editar obra literária, artística ou científica, sem autorização do titular, perderá para este os exemplares que se apreenderem e pagar-lhe-á o preço dos que tiver vendido. Parágrafo único: Não se conhecendo o número de exemplares que constituem a edição fraudulenta, pagará o transgressor o valor de três mil exemplares, além dos apreendidos.”; Art. 104: “Quem vender, expuser à venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em depósito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto ou indireto, para si ou para outrem, será solidariamente responsável com o contrafator, nos termos dos artigos precedentes, respondendo como contrafatores o importador e o distribuidor em caso de reprodução no Exterior.”

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ANEXO 2 CÍRCULO VICIOSO Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:

- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,

que arde no eterno azul, como uma eterna vela!

Mas a estrela fitando a lua, com ciúme:

- Pudesse eu copiar o transparente lume,

que, da grega coluna à gótica janela,

contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!

Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

- Misera! tivesse eu aquela enorme, aquela

claridade imortal, que toda a luz resume!

Mas o sol, inclinando a rútila capela:

- Pesa-me esta brilhante auréola de nume ...

Enfara-me esta azul e desmedida umbela...

Porque não nasci eu um simples vaga-lume?

Machado de Assis (1839 – 1908)

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ANEXO 3

REAÇÕES NUCLEARES

As reações nucleares convencionais existentes na atualidade englobam duas diferentes

modalidades de manifestação: as de fissão e as de fusão. A reação de fissão implica

divisão do núcleo de um elemento químico pesado em duas partes aproximadamente

iguais (que são núcleos de elementos mais leves), acompanhada da liberação de uma

quantidade de energia relativamente grande e, geralmente, de um ou mais nêutrons. Em

sua forma clássica o urânio 235 ao ser bombardeado por nêutrons gera como

subprodutos de fissão o bário 142 e o criptônio 91, acrescidos da liberação de outros

três nêutrons e geração de energia sob a forma de calor. E isto pode ser representado

pela seguinte equação: 235U + n → 142Ba + 91Kr + 3 n [1,9 x 107 kcal/g 235U]

Os três nêutrons liberados colidem com outros átomos de urânio 235, que acabam por

sustentar a chamada reação em cadeia. Ou seja, uma reação que estimula a sua própria

repetição. Observe-se, contudo, que neste processo ocorre a geração de calor. E este

pode ser usado de duas diferentes maneiras: (a) uso bélico militar na construção de

bombas atômicas como, por exemplo, o artefato nuclear lançado no dia 6 de agosto de

1945 pelo exército norte-americano sobre a populosa cidade japonesa se Hiroxima.

Naquele ato foram destruídos 13 quilômetros quadrados, que resultaram na morte

imediata de uma população estimada entre 70 mil e 250 mil pessoas. Contudo, por

efeito da radiação residual, morreram até 31 de dezembro daquele mesmo ano, mais 80

mil pessoas; (b) utilização civil, que implica aproveitamento do calor gerado seja ele no

acionamento das turbinas geradoras de eletricidade (como é, por exemplo, o caso das

centrais nucleares de potência instaladas no município litorâneo carioca de Angra) ou na

movimentação do sistema propulsor de navios e submarinos. Ainda dentro dos usos

civis, ou pacíficos, é utilizado nos chamados reatores atômicos de pesquisa na produção

de radioisótopos para aplicação em medicina.

Já as reações de fusão se dão quando, por intermédio do emprego de temperaturas

altíssimas, dois átomos leves se fundem para formar o núcleo de um átomo mais

pesado. Neste processo há, também, a liberação de enorme quantidade de energia. Na

bomba de hidrogênio, a alta temperatura para iniciar a reação de fusão é produzida por

uma reação de fissão. Desta forma podemos dizer, então, que a bomba atômica é a

espoleta da bomba de hidrogênio. A fusão nuclear está baseada na reação que ocorre no

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Sol onde núcleos menores se unem formando elementos mais pesados. Ela libera muito

mais energia do que a fissão nuclear. No caso do Sol, dois isótopos de hidrogênio se

fundem para formar o hélio e gerando, ao mesmo tempo, nêutrons e liberando enorme

quantidade de energia. Podemos representar esta equação através da seguinte fórmula: 2H + 3H → 4He + n [2,02 x 108 kcal/g 2H ]

A liberação desta modalidade de energia foi aproveitada para a fabricação de bombas de

hidrogênio, que são milhares de vezes mais destrutivas do que a bomba que explodiu

sobre Hiroshima. O primeiro artefato desta natureza foi detonado pela primeira vez em

1953 pela então União Soviética. Quanto ao emprego desta energia para a produção de

energia elétrica faz-se necessária ainda muita pesquisa, pois a fusão necessita de

temperaturas elevadíssimas e da ordem de milhões de graus Celsius para ser iniciada e

daí tornar-se difícil controlá-la. Atualmente, pesquisadores de diversos países (Estados

Unidos, China, Índia, Rússia, Coréia do Sul e União Européia) estão concentrando seus

esforços no desenvolvimento do ITER (Reator Termonuclear Experimental

Internacional) a ser construído em Cadarache, no sudeste da França. Estas pesquisas são

muito importantes já que a fusão usa um combustível abundante na Terra (o hidrogênio

presente na água) não produzindo rejeitos radioativos, ou o terrível e nefasto lixo

atômico decorrente das reações de fissão, cuja radiatividade só decai decorridos nada

menos que 240 séculos.

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ANEXO 4

Se os cristãos fizeram do peixe um dos seus símbolos, é porque ele era também o

símbolo do próprio Cristo. Em grego, a palavra iktus (que se grafa da seguinte forma:

ίχθυων), é o anagrama [palavra ou fase formada pela aglutinação das letras de outra

palavra ou frase] do substantivo próprio Cristo. Assim, cada uma das suas cinco letras

era vista como a inicial de palavras que traduzem a expressão “Jesus Cristo, Filho de

Deus, Salvador”. Onde i originava-se de Iesus (ou seja, Jesus); k de Kristos (Cristo); t

de Theu (Deus); u de Uios (Filho) e s de Soter (Salvador).

É, igualmente, provável que a associação do cristianismo ao peixe também estivesse

vinculada a dois importantes eventos envolvendo a figura de Cristo e apresentados no

Novo Testamento. O primeiro deles refere-se ao milagre da multiplicação dos pães e

dos peixes. A partir de ‘cinco pães e dois peixes’, “elevou ele [Cristo] os olhos ao céu,

abençoou, partiu os pães e deu-os aos discípulos para que lhes distribuíssem. E repartiu

também os dois peixes entre todos. Todos comeram e ficaram saciados. E ainda

recolheram doze cestos cheios de pedaço de pão e de peixes. E os que comeram (...)

eram cinco mil homens”. Esta é a passagem relatada pelo apóstolo Marcos no capítulo

6, versos 41 a 44 do seu Evangelho*. O apóstolo João, por sua vez e também no seu

Evangelho, ao mencionar o aparecimento de Cristo ressurrecto à margem do lago de

Tiberíades, registra no capítulo 21, versos 13 e 14, que “Jesus aproxima-se [dos

apóstolos], toma o pão e o distribui entre eles; e faz o mesmo com o peixe. Foi esta a

terceira vez que Jesus se manifestou aos discípulos, depois de ressuscitado dos

mortos”**.

* A Bíblia de Jerusalém, 7ª reimpressão. São Paulo, Paulus, julho de 1995, p. 1907. ** idem, p. 2040.