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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A ROTULAGEM DOS TRANSGÊNICOS E O DIREITO DO CONSUMIDOR: UMA ABORDAGEM EM FACE DA LEI DE BIOSSEGURANÇA BRASILEIRA - LEI Nº 11.105 ELAINE PATRÍCIA BITTENCOURT WERNER Itajaí (SC), junho de 2008

A ROTULAGEM DOS TRANSGÊNICOS E O DIREITO DO …siaibib01.univali.br/pdf/Elaine Patricia Bittencourt Werner.pdf · eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção,

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA UNIVALI CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS E JURDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A ROTULAGEM DOS TRANSGNICOS E O DIREITO DO CONSUMIDOR: UMA ABORDAGEM EM FACE DA LEI DE BIOSSEGURANA BRASILEIRA - LEI N 11.105

ELAINE PATRCIA BITTENCOURT WERNER

Itaja (SC), junho de 2008

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA UNIVALI CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS E JURDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A ROTULAGEM DOS TRANSGNICOS E O DIREITO DO CONSUMIDOR: UMA ABORDAGEM EM FACE DA LEI DE BIOSSEGURANA BRASILEIRA LEI N 11.105

ELAINE PATRCIA BITTENCOURT WERNER

Monografia submetida Universidade do Vale do Itaja UNIVALI, como

requisito parcial obteno do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Professora MSc Maria da Graa Mello Ferracioli

Itaja (SC), junho de 2008

AGRADECIMENTO

Primeiramente a Deus, o que seria de mim sem

Sua infinita misericrdia.

Aos meus pais, por terem me concebido,

exemplos de garra e de vitria.

Minhas irms Daniele e Franciene, bnos do

Senhor.

Ao meu marido, Guilherme, amor da minha vida.

minha filha linda, Las Maria, alegria e razo do

meu viver, grandioso tesouro!

As professoras MSc. do EMA: Adriana Cesrio

Pereira Sandrini, Patrcia Elias Vieira, Queila

Jaqueline Nunes Martins, por toda a pacincia e

ateno e principalmente por todo conhecimento

e aprendizado que tive com vocs.

Ao professor Josemar Sidney Soares, que alm

de me transmitir os seus conhecimentos, me deu

tambm o apoio de amigo nas horas mais difceis

desta jornada.

professora e orientadora MSc Maria da Graa

Mello Ferracioli, por seu apoio durante toda a

graduao e inspirao no amadurecimento dos

meus conhecimentos, que me levaram a

concluso desta monografia.

Aos amigos, em especial, Gisele Tomczyk, Marlon

Besbati e Larissa Noschang, pelo incentivo e

apoio constantes. Valeu por tudo!

Sem todos vocs minha vida acadmica no teria

sido to marcante!

DEDICATRIA

PAIS, IRMS E ESPOSO: Sei o quanto foi difcil

conviver com tantas ausncias, caras feias,

esperas, sufocos, cansaos, decepes. Creio no

quanto foi importante compartilhar com vocs

minhas conquistas, deslumbramentos, alegrias,

excitaes e expectativas por meus projetos, meu

crescer. Vocs foram companheiros e amigos,

esteio na exausto, nimo nas incertezas e

impulso nas ansiedades. vocs, EMANOEL,

MARIA APARECIDA, DANIELE, FRANCIENE E

GUILHERME, uma parcela dos mritos desta

conquista.

FILHA: Agradeo Deus, por sua existncia,

grande bno do Senhor. Reconheo que muitas

foram s vezes que seus olhos me buscaram e eu

estava ausente. Muitas vezes voc quis me

abraar, beijar e no pde. No entanto sei, do

fundo do meu corao, que sem voc no tera

chegado at aqui e o quanto era doloroso deix-la

a cada despedida. Voc me incentivou a

caminhar, a ter foras para continuar; foi o alvio

para o meu cansao com olhar carinhoso e porto

seguro para meus medos. Perdoe-me pela

ausncia e jamais se esquea do meu amor

infinito por voc. voc, LAS MARIA,

especialmente, dedico esta minha vitria.

TERMO DE ISENO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideolgico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itaja, a coordenao do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itaja (SC), _____ de ________________ de 2008.

Elaine Patrcia Bittencourt Werner Graduando

PGINA DE APROVAO

A presente monografia de concluso do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itaja UNIVALI, elaborada pela graduanda, Elaine Patrcia Bittencourt Werner

sob o ttulo A Rotulagem dos transgnicos e o direito do consumidor: Uma

abordagem em face a Lei de Biossegurana n11.105/2005, foi submetida em

______ de _____________ de 2008 banca examinadora composta pelos

seguintes professores: Prof Maria da Graa Mello Ferracioli (Orientadora e

Presidente da Banca) e ___________________________ (membro) e aprovada

com a nota ______ (_____________________)

Itaja (SC), ______ de _________________ de 2008.

Professora MSc Maria da Graa Mello Ferracioli Orientador e Presidente da Banca

Antnio Augusto Lapa Coordenao da Monografia

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADN/DNA cido desoxirribonuclico / Desoxyribonucleic Acid

ARN cido ribonuclico

CC/1916 Cdigo Civil Brasileiro de 1916

CEJURPS Centro de Cincias Sociais e Jurdicas

CNBS Conselho Nacional de Biossegurana

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

CRFB/88 Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988

CTNBIO Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana

ECO 92 Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento

EIA Estudo de Impacto Ambiental

ISO International Organization for Standardization

OGM Organismo Geneticamente Modificado

ONU Organizao das Naes Unidas

PNMA Poltica Nacional do Meio Ambiente

RIMA Relatrio de Impacto Ambiental

STF Superior Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justia

TRF Tribunal Regional Federal

UNIVALI Universidade do Vale do Itaja

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratgicas

compreenso do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Biodireito

Biodireito um termo que pode ser entendido, tambm, no sentido de abranger

todo o conjunto de regras jurdicas j positivadas e voltadas a impor - ou proibir -

uma conduta mdico-cientfica e que sujeitem seus infratores s sanes por elas

previstas. 1

Biotecnologia

(...) consiste na aplicao em grande escala dos avanos cientficos e

tecnolgicos resultantes de pesquisas em cincias biolgicas.2

Biotica:

Analisa-se (...) biotica como uma ramificao da tica, preocupada

particularmente com o respeito aos valores morais, na medida em que questiona

o respeito dignidade humana, em meio ao progresso das cincias.3

Biossegurana:

Biossegurana o conjunto de aes voltadas para a preveno, minimizao ou

eliminao de riscos inerentes s atividades de pesquisa, produo, ensino,

desenvolvimento tecnolgico e prestao de servios, visando sade do

homem, dos animais, a preservao do meio ambiente e a qualidade dos

resultados4

Consumidor:

1 CHIARINI JNIOR, Enas Castilho. Noes introdutrias de biodireito. Disponvel em

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5664 acesso em 18/12/2005 2 GUERRANTE, Rafaela Di Sabato. Transgnicos: uma viso estratgica. Rio de Janeiro:

Interciencia, 2003. p.01. 3 SAUWEN, Regina Fiza e HRYNIEWICZ, Severo. O direito in vitro. Da biotica ao biodireito.

Rio de janeiro: Editora Lmen Jris, 1997. p.224. 4 Disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Biosseguran%C3%A7a, acesso em 22/05/2008.

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5664http://pt.wikipedia.org/wiki/Biosseguran%C3%A7a

Consumidor toda pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza produto ou

servio como destinatrio final. 5

Direito

complexo de princpios e normas comprometidas com os valores sociais, que o

Estado torna incondicionais e coercitivos para regular a convivncia social.6

Engenharia Gentica

atividade de produo e manipulao de molculas de ADN/ARN recombinante;7

tica

Cincia normativa que se concretiza atravs dos valores e das virtudes,

esperadas e consolidadas na existncia de cada indivduo.8

Meio ambiente:

(...) o conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica,

qumica e biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas 9

Princpios

[...] os princpios, at por definio, constituem a raiz de onde deriva a validez

intrnseca do contedo das normas jurdicas. Quando o legislador se apresta a

normatizar a realidade social, o faz, sempre, consciente ou inconscientemente, a

partir de algum princpio. Portanto, os princpios so as idias bsicas que servem

5 BRASIL. Lei 8.078/90. Art.2. Dirio Oficial da Repblica Federativa do Brasil, Braslia, DF,

11 set. 1990. Disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm. Acesso em 12 de jan. 2008.

6 MELO, Osvaldo Ferreira de. Dicionrio de poltica jurdica. Florianpolis: OAB, 2000. p.30. 7 BRASIL. Lei 11.105/2005. Art.3, IV. Dirio Oficial da Repblica Federativa do Brasil,

Braslia, DF, 24 mar. 2005. Disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htm. Acesso em 19 de abr. 2005.

8 SUZUKI, Jorge Brunetti. OGM. Aspectos polmicos e a nova lei de biossegurana. Disponvel em http:jus2uol.com.br/doutrina/imprimir.asp?id=8148. Acesso em 20 de mai. 2008

9 Lei 6.938/81, art.3, I. Dirio Oficial da Repblica Federativa do Brasil, Braslia, DF, 30 mar.1982. Disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6981.htm. Acesso em 10 de jan. 2008.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6981.htm

de fundamento ao direito positivo. Da a importncia de seu conhecimento para a

interpretao do direito e elemento integrador das lacunas legais.10

Rotulagem

O Ministrio do Meio Ambiente afirma que a rotulagem consiste basicamente na

atribuio de um selo ou rtulo a um produto, ou servio, para informar as

respeito dos seus aspectos ambientais11

Transgnicos:

Organismo cujo material gentico ADN/ARN tenha sido modificado por

qualquer tcnica de engenharia gentica.12

10 ESPNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de Princpios Constitucionais. Revista dos Tribunais,

So Paulo, 1999, p.12. 11 Rotulagem Ambiental: documento base para o Programa Brasileiro de Rotulagem Ambiental. p.14.

12 BRASIL. Lei.11.105/2005. Art.3, V. Dirio Oficial da Republica Federativa do Brasil, Braslia, DF, 24 de mar. 2005. Disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htm. Acesso em 26 de dez. 2007.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htm

SUMRIO

RESUMO .......................................................................................... XII

INTRODUO .................................................................................... 1

CAPTULO 1 ....................................................................................... 3

EVOLUO CIENTFICA E BIOTECNOLOGIA: O DESENVOLVIMENTO DOS TRANSGNICOS .................................. 3 1.1 BIOTECNOLOGIA - SUA EVOLUO E POSSIBILIDADES ......................... 3 1.2 TRANSGNICOS ............................................................................................. 7 1.2.1 ORIGEM E EVOLUO DOS TRANSGNICOS ........................................................ 9 1.2.2 CONTROVRSIAS QUANTO AOS BENEFCIOS E MALEFCIOS DOS TRANSGNICOS 11 1.2.2.1 Corrente favorvel aos transgnicos ................................................... 11 1.2.2.2 Corrente contrria produo de transgnicos .................................. 14

CAPTULO 2 ..................................................................................... 20

OS TRANSGNICOS E O DIREITO DOS CONSUMIDORES NO BRASIL ...................................................................................... 20 2.1 CONSUMIDOR ASPECTOS GERAIS ........................................................ 20 2.2 A EVOLUO HISTRICA DA PROTEO DOS CONSUMIDORES NO BRASIL ................................................................................................................ 23 2.3 OS PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS COMO FUNDAMENTO PARA A PROTEO DO DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL E O DIREITO INFORMAO ..................................................................................................... 25 2.4 O DIREITO INFORMAO EM FACE AO CDIGO DE PROTEO E DEFESA DO CONSUMIDOR. .............................................................................. 31

CAPTULO 3 ..................................................................................... 39

A ROTULAGEM DOS PRODUTOS TRANSGNICOS COMO INSTRUMENTO DE PROTEO AO DIREITO DO CONSUMIDOR E A LEI DE BIOSSEGURANA NO BRASIL - LEI 11.105/05 ............................................................. 39 3.1 INTRODUO ............................................................................................... 39 3.2 HISTRICO DA LEI DE BIOSSEGURANA N. 11.105/2005 ..................... 42 3.3 A LEI DE BIOSSEGURANA E A ROTULAGEM DOS PRODUTOS TRANSGNICOS................................................................................................. 48 3.3.1 ROTULAGEM .................................................................................................. 48 3.3.2 BREVES ANTECEDENTES HISTRICOS DA ROTULAGEM ..................................... 49 3.3.2.1 O programa ABNT .................................................................................. 53

3.3.3 O DECRETO N 4.680/03 - ROTULAGEM DOS OGMS ....................................... 54 3.3.4 A ROTULAGEM NA LEI DE BIOSSEGURANA (LEI N 11.105/05) ........................ 57

CONSIDERAES FINAIS .............................................................. 61

REFERNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 64

ANEXOS ........................................................................................... 69

RESUMO

A revoluo industrial, ocorrida nos sculos XVIII e XIX,

serviu de apoio para que se iniciasse uma grande corrida bio-tecnocientfica,

principalmente no campo da engenharia gentica, envolvendo, entre outras reas

a medicina, a agricultura, a alimentao e a sade do ser humano. Dentre as

possibilidades da Engenharia Gentica destacam-se os transgnicos, organismos

geneticamente modificados, que so organismos que tm sua estrutura gentica

alterada, utilizando-se o genes de outros organismos para dar queles novas

caractersticas.Inmeras polmicas acompanharam o desenvolvimento dos

produtos geneticamente modificados no Brasil, entretanto, uma discusso mais

acirrada quanto as suas possibilidades, benefcios ou problemas s ocorreram a

partir de 1995, quando da edio da primeira legislao sobre Biossegurana, a

Lei 8.974, e da liberao do plantio em teste da soja geneticamente modificada,

em 1996. Como os transgnicos so produzidos visando sua comercializao e

consumo pelo homem fundamental que esta atividade se desenvolva tendo em

mente os interesses do consumidor, de forma que, s respostas em face das

discusses quanto aos riscos futuros do uso dos transgnicos, estivessem claras,

baseando-se na premissa de que o consumidor deve saber exatamente o que

est consumindo, passou-se ento, a exigir dos agentes pblicos que o princpio

da informao, garantido juridicamente todo cidado brasileiro, fosse

efetivamente cumprido. Surge, pois, a rotulagem como instrumento competente

para informar ao consumidor de forma clara e precisa qual a qualidade do produto

que est adquirindo e das caractersticas especficas do mesmo. Para tanto,

vrias foram as normatizaes criadas, desde a promulgao da Constituio da

Repblica Federativa do Brasil de 198813 que elevou o direito do consumidor a

princpio constitucional, com especial destaque para a atual lei de Biossegurana,

Lei 11.105 de 24 de maro de 2005.

13 A partir deste momento, a Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, ser

mencionada pela sigla CRFB/88.

INTRODUO

A presente Monografia tem como objeto A Rotulagem dos

transgnicos e o direito do consumidor: uma abordagem em face a Lei de

Biossegurana n 11.105/2005.

O seu objetivo analisar o tratamento jurdico da rotulagem

dos transgnicos e o direito do Consumidor face s determinaes da atual Lei de

Biossegurana.

Para tanto, principiase, no Captulo 1, tratando da

revoluo sem precedentes ocorrida na rea da biotecnologia, o que possibilitou a

criao de diversas tcnicas que intervm no desenvolvimento natural dos

organismos vivos, e dentre estas, a engenharia gentica, que tornou possvel a

criao dos organismos transgnicos, os quais esto envoltos numa vasta gama

de discusses, envolvendo todas as reas da sociedade.

No Captulo 2, tratando da proteo constitucionalmente e

ordinariamente assegurada aos consumidores em relao aos produtos que

possuem organismos transgnicos, visto que produzidos para comercializao e

consumo humano. Discorrer-se- acerca do direito informao plena,

pressuposto basilar para se bem exercer o consumo, que deve ser consciente e

refletido.

No Captulo 3, tratando do caminho percorrido por nosso

Legislador, com a promulgao de sucessivas leis, decretos e medidas

provisrias, buscando a regulamentao dos organismos geneticamente

modificados, at a edio da atual Lei de Biossegurana, Lei 11.105/2005, que

regula a rotulagem dos produtos transgnicos, instrumento de poltica pblica

indispensvel para resguardar o direito bsico informao da sociedade acerca

da comercializao de produtos que possam causar danos populao e ao meio

ambiente.

2

O presente Relatrio de Pesquisa se encerra com as

Consideraes Finais, nas quais so apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulao continuidade dos estudos e das reflexes

sobre A rotulagem dos transgnicos e o direito do consumidor, com analise da Lei

de Biossegurana.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipteses:

O Direito do Consumidor um direito fundamental garantido

constitucionalmente no Brasil;

O sistema normativo infra-constitucional brasileiro garante a todos

os cidados o direito informao determinado pela Constituio da

Repblica Federativa do Brasil de 1988;

A Rotulagem regulamentada pela atual Lei de Biossegurana - Lei

11.105/2005 um instrumento jurdico que se apresenta como garantia

ao direito informao e proteo do consumidor previsto

constitucionalmente no Brasil.

Quanto Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigao foi utilizado o Mtodo Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados

o Mtodo Cartesiano, e, o Relatrio dos Resultados expresso na presente

Monografia composto na base lgica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Tcnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliogrfica.

CAPTULO 1

EVOLUO CIENTFICA E BIOTECNOLOGIA: O DESENVOLVIMENTO DOS TRANSGNICOS

1.1 BIOTECNOLOGIA - SUA EVOLUO E POSSIBILIDADES

Nos ltimos tempos a humanidade vem presenciando uma

revoluo sem precedentes no setor tecnolgico, relacionada, principalmente, a

biotecnologia, com a possibilidade da manipulao dos seres vivos, o homem

inclusive.

Esta realidade gerou uma grande preocupao por parte dos

governos e da sociedade em geral quanto ao uso destas tcnicas, visto que, se

mal utilizadas podero acarretar enormes prejuzos para todos os seres viventes,

inclusive o prprio planeta Terra.

Importante, entretanto, destacar que, estas atividades no

so novidades para o homem, uma vez que, no intuito de viver mais e melhor, h

muito o mesmo vem desenvolvendo prticas das mais diversas, interferindo na

natureza.

O ser humano em sua histria utilizava-se de seus mtodos

cotidianos para sobreviver.

Sauwen e Hryniewicz analisam que:

Sempre no horizonte do conhecimento humano aparece uma

grande novidade, esta costuma provocar as mais diversas

reaes: espanto, alegria, esperana, orgulho ou medo quanto ao

futuro(...)14

14 SAUWEN, Regina Fiza e HRYNIEWICZ, Severo. O direito in vitro. Da biotica ao biodireito. p.156.

4

Neste mesmo sentido, Borm analisa que:

Uma das caractersticas da biotecnologia que tm contribudo

para o receio que muitos manifestam em relao a ela a

velocidade como esta cincia evoluiu nos ltimos anos e como

sua ampliao em benefcio da sociedade atingiu o mercado de

forma to inesperada.15

V-se, portanto, que a biotecnologia cercada de inmeras

discusses, uma vez que, a partir dela, o homem pode torna-se senhor do

universo, visto que, atravs de algumas de suas tcnicas, como por exemplo, a

engenharia gentica, capaz de manipular gens, desenvolver novas formas de

vida, enfim, interferir na natureza, at ento um dom somente permitido a Deus.

Buscando esclarecer o papel e a importncia da

biotecnologia, Hirata, afirma que a mesma nada mais que conjunto de

conhecimentos, tcnicas e mtodos, de base cientfica ou prtica, que permite

utilizao de seres vivos como parte integrante e ativa do processo de produo

industrial de bens e servios.16

Isto na realidade, no seria novidade, uma vez que, h

sculos o homem vem realizando cruzamentos de plantas e animais para tentar

um melhoramento das espcies, seja para favorecer a produo, seja para

aperfeioar a qualidade do produto, seja para torn-los mais apropriados ou

agradveis ao consumo.

O que ocorre que, estas tcnicas, reconhecidas j como

experincias genticas, antes precrias e rudimentares foram se aprimorando ao

longo do tempo, e, atualmente aliadas ao desenvolvimento tecnolgico se

transformaram em um novo ramo da biotecnologia denominado de engenharia

15 BORM, Aluzio. Biotecnologia simplificada. 2 ed. rev e ampl. Minas Gerais: Viosa, 2004,

p.18. 16 HIRATA, Mario Hiroyuki. Manual de biossegurana. So Paulo: Manole, 2002, p. 474

5

gentica.17

Desta forma, pode-se dizer que, a engenharia gentica vem

causando grandes debates em toda a sociedade, uma vez, aquilo que

inicialmente se reconhecia como algo natural, passou a sofrer a interferncia da

tecnologia, sem limites de possibilidades.

Importante ressaltar que todo este movimento se

desenvolveu a partir da revoluo industrial, ocorrida nos sculos XVIII e XIX, e

que serviu de apoio para que se iniciasse uma grande corrida bio-tecnocientfica,

principalmente nos campos da medicina, agricultura, alimentao e sade do ser

humano.

A interferncia, portanto, do homem nas mais variadas reas

do conhecimento, particularmente no que diz respeito a manipulao da vida,

requer um cuidado especial da sociedade, uma vez que, das experincias

realizadas, e das prticas desenvolvidas, inmeras conseqncias podem surgir,

mormente no que diz respeito aos limites dessas prticas, buscando-se respostas

para o at quanto se pode e se deve ir.

Analisando esta questo Fiorillo afirma que:

Percebe-se que a questo engenharia gentica extrapola as reas

especficas da medicina e da tica, por atingir tambm reas do

direito, da poltica, das cincias humanas e da religio. A dinmica

do progresso, da tecnocincia, atropelou a reflexo tica, as

instituies do saber e as instncias legisladoras. 18

Isto ocorre porque, quando se fala em biotecnologia, como j

dito, se fala de um universo de possibilidades geradas pelos avanos

biotecnolgicos, destacando-se entre outros, a reproduo humana assistida, o

transplante de rgos, a clonagem de seres vivos, o homem inclusive, os

17 Engenharia gentica [...] a que trata dos processos e tcnicas de manipulao do cdigo

gentico., in FERREIRA, Maria de Ftima Oliveira. Engenharia gentica o stimo dia da criao. So Paulo: Moderna, 1995. p. 66.

18 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco e DIAFRIA, Adriana. Biodiversidade e patrimnio gentico no Direito Ambiental Brasileiro. So Paulo: Ed. Max Limonad, 1999, p. 88.

6

organismos geneticamente modificados, conhecidos como transgnicos,

experincias com clulas-tronco, todas elas envolvendo a vida, a sade, o meio

ambiente, bens de valores inestimveis e extremamente caros a todos os

indivduos.

Esclarecendo esta questo, Ferreira afirma que a

biotecnologia abrange inmeras possibilidades, sendo que uma delas, de extrema

importncia, a que trata dos processos e tcnicas de manipulao do cdigo

gentico, chamada de engenharia gentica. Sob o seu ponto de vista: S recebe

a qualificao de engenharia gentica aquela biotecnologia que trabalha

diretamente com o DNA, em ltima instncia com o gene, o cdigo gentico.19

Buscando tornar mais claro o que seja engenharia gentica,

Sgreccia a define como: O conjunto das tcnicas que tendem a transferir para a

estrutura da clula de um ser vivente algumas informaes genticas que de

outro modo no teria tido. 20

No intuito de esclarecer esta questo, o legislador brasileiro,

no art. 3, IV da lei 11.105/2005, definiu a engenharia gentica como sendo

atividade de produo e manipulao de molculas de ADN/ARN recombinante. 21

Portanto, a engenharia gentica seria o conjunto de tcnicas

para manipular genes e transferi-los de um organismo para outro.

As pesquisas no mbito da engenharia gentica apresentam

inmeros objetivos, podendo-se destacar:

- mapear o seqenciamento do genoma das espcies

animais e dos vegetais,

19 FERREIRA, Maria de Ftima Oliveira. Engenharia gentica o stimo dia da criao, p. 66. 20 SGRECCIA, Elio. Manual de biotica I. Fundamentos e tica biomdica. So Paulo: Loyola,

2003, p. 222-223. 21 BRASIL. Lei 11.105/2005. Art.3, IV. Dirio Oficial da Repblica Federativa do Brasil,

Braslia, DF, 24 mar. 2005. Disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htm. Acesso em 19 de abr. 2005.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htm

7

- a criar seres clonados,

- desenvolver a terapia gentica,

- produzir organismos transgnicos,

- identificao dos genes patognicos (de modo a prevenir o

desenvolvimento ou transmisso de certa doena).

Dentre as possibilidades ora apresentadas, uma que tem

merecido especial ateno, em razo principalmente dos seus possveis efeitos

para a sade do homem e para o meio ambiente, so os transgnicos, que

envolto numa discusso poltica, tica e jurdica ponto de acirrada polmica

entre cientistas, produtores, ambientalistas, organismos de defesa do consumidor

e sociedade em geral.

1.2 TRANSGNICOS

Buscando compreender melhor o universo em que esto

inseridos os transgnicos, necessrio se faz inicialmente conhecer antes o

sentido da palavra transgnico, que tem sido motivo de ampla discusso entre os

doutrinadores.

Para Silva transgnicos so organismos que tem estrutura

gentica alterada pela atividade de Engenharia Gentica, que se utiliza de genes

de outros organismos para dar queles novas caractersticas. 22

Ainda neste sentido entende-se que transgnicos so:

Chamamos transgnicos (ou OGM organismos geneticamente

modificados) aqueles organismos que adquiriram, pelo uso de

tcnicas modernas de Engenharia Gentica, caractersticas de um

outro organismo, algumas vezes bastante distante do ponto de

vista evolutivo. Assim, o organismo transgnico apresenta

modificaes impossveis de serem obtidas com tcnicas de

22 SILVA, Plcido e. Vocabulrio Jurdico. 20 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.327.

8

cruzamento tradicionais, como uma planta com gene de vaga-

lume ou uma bactria produtora de insulina humana.23

Corroborando com essa idia Amaral tem-se que:

A palavra transgnico indica transformao, via tecnologia

gentica, em seres vivos; da porque soa to radicalmente

apocalptica. A palavra formada por prefixao: trans (alterao,

manipulao) + gnico (de gene, carga gentica); logo a

modificao gentica de um ser biolgico (animal ou vegetal). 24

So, os transgnicos, portanto, organismos geneticamente

modificados, e como tal so tratados pela comunidade cientfica.

Para se compreender de forma mais efetiva esta afirmao,

importante so os esclarecimentos feitos pela nova Lei de Biossegurana

Brasileira, Lei n 11.105, promulgada em 24/03/2005, que conceitua os

transgnicos, ou organismos geneticamente modificados como:

Art. 3 Para os efeitos desta Lei, considera-se:

I organismo: toda entidade biolgica capaz de reproduzir ou

transferir material gentico, inclusive vrus e outras classes que

venham a ser conhecidas;

II cido desoxirribonuclico - ADN, cido ribonuclico - ARN:

material gentico que contm informaes determinantes dos

caracteres hereditrios transmissveis descendncia;

III molculas de ADN/ARN recombinante: as molculas

manipuladas fora das clulas vivas mediante a modificao de

segmentos de ADN/ARN natural ou sinttico e que possam

multiplicar-se em uma clula viva, ou ainda as molculas de

ADN/ARN resultantes dessa multiplicao; consideram-se

tambm os segmentos de ADN/ARN sintticos equivalentes aos

de ADN/ARN natural;

23 GARCIA, Lenise A. Martins. Plantas e alimentos transgnicos. Disponvel em http://edutec.

net/Tecnologia%20e%20Educacao/Apoio/edtransg.htm. Acesso em 20 de mai. 2008. 24 AMARAL, Luiz Otvio O. Os transgnicos e o consumidor brasileiro. Disponvel em

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto. Acesso em 12 de mai. 2008.

9

IV engenharia gentica: atividade de produo e manipulao

de molculas de ADN/ARN recombinante;

[...]

V organismo geneticamente modificado - OGM: organismo cujo

material gentico ADN/ARN tenha sido modificado por qualquer

tcnica de engenharia gentica.

Tem-se, assim, a partir da letra da lei, uma formulao legal

do que so os organismos geneticamente modificados, conhecidos como

transgnicos, o que permitiu, em muito, uma delimitao, das discusses tericas

quanto ao conceito dos mesmos.

1.2.1 Origem e Evoluo dos Transgnicos

A histria dos transgnicos acompanha de certa forma a

histria da agricultura, pois, existem noticias de que, j h mais de 15 mil anos,

tentava-se o melhoramento da agricultura. Exemplo disso que em 1800 a.C o

homem utilizou, pela primeira vez, um microorganismo para a criao de inditos

alimentos.

Entretanto, dados mais relevantes se do a partir de 1953,

quando os pesquisadores James Watson e Francis Crick descobriram parte da

estrutura de DNA e concluram que este possua uma dupla fita. Vinte anos mais

tarde, em 1973, aps muito analisar tal descoberta, Stanley Cohen e Herbert

Boyer deduziram que poderiam alterar parte do DNA ou at mesmo transferi-lo de

um ser para outro e assim o fizeram, transferindo informaes genticas de um

sapo para uma bactria.25

Para Borm as pesquisas ligadas ao avano da Engenharia

Gentica tem sido de grande importncia, pois:

A transformao gnica tem gerado diversos resultados de

impacto para a sociedade, como a produo de novos

25 VIEIRA, Pedro A. Meio ambiente, desenvolvimento e cidadania: desafios para as Cincias Sociais. So Paulo; Cortez/ UFSC, 1995,p.32.

10

medicamentos e de alimentos com melhor qualidade nutricional.

Um dos maiores sucessos comerciais da engenharia gentica foi

a sntese de insulina humana por bactrias em 1982. 26

Da descoberta nos Estados Unidos da Amrica da insulina

em 1982, e sua comercializao logo no ano seguinte, tornando possvel o

controle da diabete humana, pode-se observar a velocidade com que os

experimentos decorrentes das possibilidades biotecnolgicas foram sendo

apresentados sociedade, sendo que, ao analisar todo processo de

desenvolvimento dos transgnicos, bem como, as possibilidades da criao de

novos organismos, Vieira afirma que esta nova tcnica significa um avano

significativo para a cincia, uma vez que, pelos mtodos tradicionais as

dificuldades para se gerar novos organismos eram extremamente difceis, quando

no impossveis.27

Isto porque, Essas combinaes no seriam possveis

atravs do emprego dos mtodos clssicos de transmisso hereditria ou seleo

gentica espontnea. Alm disso, o perodo para o desenvolvimento e novas

variedades de espcies torna-se neste momento drasticamente diminudo.28

Quanto ao desenvolvimento dos organismos geneticamente

modificados no Brasil, Barboza e Barreto, afirmam que no pas a pesquisa dos

transgnicos se deu mais tarde, uma vez que, s se [...] comeou a discutir o

assunto em 1995, quando editou sua primeira legislao sobre Biossegurana, a

lei 8.974/95, tendo liberado o plantio em teste somente em 1996.29

Acompanharam o desenvolvimento dos transgnicos

inmeras discusses, uma vez que, como j visto, as inovaes decorrentes dos

26 BORM, Aluzio. Biotecnologia simplificada. p.18. 27 VIEIRA, Pedro A. Meio ambiente, desenvolvimento e cidadania: desafios para as

Cincias Sociais, 1995, p.58. 28 VIEIRA, Pedro A. Meio ambiente, desenvolvimento e cidadania: desafios para as Cincias

Sociais, 1995, p.58. 29 BARBOZA, Helosa Helena Barboza; BARRETO, Vicente de Paulo (organizadores);

colaboradores: Bruno Lewicki... [et al.] Temas de Biotica e biodireito. Rio de Janeiro: Renovar,2001, p.320.

11

avanos tecnolgicos, geralmente vem acompanhadas de incertezas, dvidas,

medos e desconfianas.

No caso dos OGM isto no foi diferente, principalmente em

decorrncia da falta de dados cientficos que pudessem esclarecer

definitivamente quanto aos efeitos destes produtos, tanto para a sade humana,

quanto para o meio ambiente.

1.2.2 Controvrsias quanto aos Benefcios e Malefcios dos Transgnicos

Diante das incertezas com relao aos riscos futuros do uso

dos transgnicos e de respostas mais claras sobre se estes realmente iro causar

ou no problemas para a sade humana, para o meio ambiente, com a diminuio

da biodiversidade do Planeta, discusses ferrenhas tm sido travadas em

diversos segmentos da sociedade, como as entidades religiosas, cientficas,

ambientalistas, juristas, filosficas, doutrinrias e at mesmo polticas.

A partir do posicionamento de todos estes segmentos,

observa-se a existncias de duas correntes antagnicas: uma favorvel aos

transgnicos e outra contrria a qualquer atividade relacionada aos mesmos.

Tem-se, pois, os que se posicionam a favor e outros contra a produo, a

manipulao, a comercializao, o uso e at mesmo qualquer tipo de experincia

que esteja relacionadas com os OGMs.

1.2.2.1 Corrente favorvel aos transgnicos

A corrente favorvel aos transgnicos, apega-se,

principalmente, na necessidade da produo de alimentos para dar conta da fome

no planeta, ao aumento da produtividade e a diminuio dos custos da produo.

Visto que a alimentao uma grande preocupao da humanidade, alguns

engenheiros genticos afirmam que h a necessidade de manipular os alimentos

para que estes dem bons resultados at mesmo em locais que atualmente so

considerados imprprios para o plantio, assegurando que:

ONU respalda o uso de transgnicos para o combate a fome [...] o

aumento da produtividade um dos maiores benefcios j

12

constatados dos transgnicos. Cultivos modificados

geneticamente para serem resistentes a herbicidas e pragas j

esto sendo plantados em diversos pases. 30

Ainda neste sentido Cornette discorre:

A Monsanto, maior agroindstria multinacional operando no Brasil,

lanou uma extensa campanha para convencer os consumidores

sobre os benefcios dos OGM e sobre os riscos em no permitir

uma nova tecnologia, alertando para o fato de que o banimento

puro e simples dos OGM poderia condenar largos segmentos da

populao fome.31

Afirmam, ainda, que seria possvel at mesmo fazer cultivos

bem sucedidos em terrenos ridos e manguezais (que concentram grande

quantidade de salinidade), o que resultaria em quantidade suficiente para

abastecer toda a populao do planeta. 32

Finardi tem o entendimento de que o problema no s a

quantidade de alimentos, mas tambm a qualidade, o qual poderia ter uma

melhora significativa com o uso da manipulao gentica, destacando que:

Poderemos desenvolver produtos com mais nutrientes e, no longo

prazo, a possibilidade de, inclusive, reduzir a quantidade de

substancias indesejveis nos alimentos, como as txicas, de baixa

digestibilidade e outras que podem levar a reaes adversas e

alrgicas. 33

Alimentos com grande valor nutritivo poderiam ser criados a

partir da Engenharia Gentica, realizando melhora significativa dos alimentos,

utilizando menos agrotxicos, e produzindo de forma sinttica, protenas apenas

encontradas na natureza:

30 Disponvel em http://www.portaldoenvelhecimento.net/acervo/artieop/Biotecnologia/

biotec_4.htm. Acesso em 12 de mar. 2008. 31 CORNETTE, Patrcia de Lucena. Ser que o verde deixar a bandeira? Breve anlise do

Projeto de Lei 2401/2003. Disponvel em http://www.jus2.uol.com.br/ doutrina/texto. Acesso em 20/05/2008.

32 GUERRANTE, Rafaela di Sabato. Transgnicos: uma viso estratgica. p.42. 33 Disponvel em http://www.cib.org.br/entrevista acesso em 20 de dez. 2005.

http://www.portaldoenvelhecimento.net/acervo/artieop/Biotecnologia/%20biotec_4.htmhttp://www.portaldoenvelhecimento.net/acervo/artieop/Biotecnologia/%20biotec_4.htmhttp://www.jus2.uol.com.br/%20doutrina/textohttp://www.cib.org.br/entrevista

13

Cientistas da Universidade de Bristol, Gr-Bretanha,

desenvolveram planta transgnica capaz de produzir os leos

mega 3 e 6, considerados benficos ao corao e normalmente

encontrados apenas em peixes de guas mais frias, como o

salmo e o atum. Para os pesquisadores, o estudo pode levar a

uma nova gerao de alimentos especialmente criados para

reduzir o risco de doenas cardacas, entre outros problemas de

sade. O estudo, publicado na 'Nature Biotechnology', lembra

ainda que, com a reduo dos estoques naturais de peixes, a

produo desses leos em outros organismos pode ser essencial

para a alimentao humana.34

Produtos teraputicos, tambm, poderiam ser desenvolvidos

com o uso de plantas transgnicas, o que viria resultar em melhores condies

para o tratamento das doenas humanas. Pode-se citar, como exemplo, a

introduo de altas concentraes de vitamina A nos alimentos para que

diminusse a quantidade de pessoas que todos os anos so vtimas da cegueira

parcial ou total.

Dentro deste pensamento, Fiorillo diz que:

Uma das principais idias da aplicao da Engenharia Gentica

foi a de se conseguir produtos de interesse mdico, ou seja,

essencialmente o sucesso da biotecnologia no setor farmacutico

prende-se ao fato de que ela tende a propiciar a produo de uma

ampla variedade de novos medicamentos para determinadas

doenas que no eram combatidas com sucesso pela indstria

farmacutica tradicional. 35

Assim, diante desses exemplos, pode-se dizer que os

transgnicos so vistos como uma possibilidade para a melhora da agricultura,

meio ambiente e at mesmo para a vida e sade da humanidade.

34 Disponvel em http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=18588. Acesso em 23 de maio

de 2008. 35 FIORILLO,Celso Antonio Pacheco e Marcelo Abelha Rodrigues. Manual de Direito Ambiental e Legislao aplicvel. p.27.

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=18588

14

Existem correntes que alegam, inclusive, que haver

reduo de custos para a produo, com melhor qualidade alimentar, com custo

diminudo.

Conforme afirma Guerrante:

A reduo dos custos da produo de culturas geneticamente

modificadas decorre de soma de vrios fatores como diminuio

da quantidade de defensivo aplicada, reduo dos gastos com

combustveis para o maquinrio empregado na pulverizao de

agroqumicos, reduo do volume de lixo industrial gerado, entre

outros. 36

Percebe-se, pois, que a defesa da produo dos

transgnicos sustenta-se, em grande monta, na possibilidade de acabar com a

fome no mundo, proporcionando a melhorar da qualidade e da quantidade da

produo dos alimentos.

1.2.2.2 Corrente contrria produo de transgnicos

Hodiernamente diversas correntes mostram-se contrrias

aos transgnicos, tentando comprovar cientificamente que as alegaes feitas

pelos que defendem os OGM que tudo seria uma falcia e que os mesmos podem

causar inmeros danos, no s a sade humana, como tambm ao Meio

Ambiente. Uma dessas correntes, afirma inclusive, que em muitos locais do Brasil

o produto transgnico tem valor mais elevado que o produto convencional, como

o caso da soja transgnica:

Este aumento baseado na estimativa da cobrana de royalties

efetuada no Rio Grande do Sul. Os custos com sementes

passariam de R$ 115,70/ha para R$ 143,90/ha para a soja

transgnica, como resultado do pagamento da taxa tecnolgica s

empresas detentoras da tecnologia. Cabe observar que

36 GUERRANTE, Rafaela Di Sabato. Transgnicos: uma viso estratgica. p.29.

15

atualmente os produtores j pagam royalties para as empresas de

pesquisa referente proteo de cultivares.37

Ainda neste mesmo entendimento, Capra aduz:

Tecnologias como essas aumentam a dependncia dos

agricultores em relao a produtos patenteados e protegidos por

direitos de propriedade intelectual, que lanam na ilegalidade as

antiqssimas prticas agrcolas de reproduzir, armazenar e trocar

sementes. Alm disso, as empresas de biotecnologia cobram

taxas de tecnologia sobre o preo das sementes, ou seno

foram os agricultores a pagar preos abusivos por pacotes de

sementes e herbicidas. Atravs de uma srie de grandes fuses, e

em virtude do controle rigoroso possibilitado pela tecnologia

gentica, o que est acontecendo agora uma concentrao

nunca antes vista da propriedade e do controle sobre a produo

de alimentos.(...) O objetivo desses gigantes empresariais criar

um nico sistema agrcola mundial no qual eles possam controlar

todos os estgios da produo de alimentos e manipular tanto os

estoques quanto os preos da comida. 38

H entendimento de que o problema no a quantidade de

alimentos, que diariamente so produzidos, nem mesmo a quantidade ou

qualidade, mas a forma como esto distribudos, conforme se depreende:

No Dia Mundial da Alimentao, comemorado em 16 de outubro, o

debate sobre as solues para o problema da fome fica mais

acirrado. Muitas empresas de transgenia, como a Monsanto e a

Novartis afirmam que os alimentos geneticamente modificados

tm potencial para aumentar a produtividade de alimentos no

mundo e com isso erradicar a fome no planeta. No entanto, depois

de dez anos do cultivo de transgnicos no mundo, a experincia

mostra que o que est acontecendo exatamente o contrrio. As

produes transgnicas perdem produtividade depois de alguns

37 Disponvel em http://www.faep.com.br/boletim/bi834/pag3bi834.htm. Acesso em 25 de out.

2005. 38 CAPRA, Fritjof apud RODRIGUES, Maria Rafaela Junqueira Bruno. Biodireito: alimentos transgnicos. So Paulo: Lemos e Cruz, 2002. p. 124/125

http://www.faep.com.br/boletim/bi834/pag3bi834.htm

16

anos e no combatem as principais causas da fome no mundo: a

m distribuio de renda e alimentos.39

Percebe-se que os discursos dos defensores dos

transgnicos apelam para a existncia de um problema que na verdade irreal,

pois, estudos demonstram que o problema da fome no mundo no est ligado a

produo de alimentos, uma vez que, pesquisas recentes demonstram que a

verdadeira razo para a fome a desigualdade social, que no possibilita a

distribuio adequada dos mesmos.

O problema da fome no a falta de tecnologia apropriada para

produo de alimento, e sim a distribuio de renda e de alimento

entre a populao mundial (...). Por isso, no preciso ser

ambientalista para acreditar que os transgnicos no vo acabar

com a fome do mundo.40

Tambm em posicionamento contrrio aos transgnicos, a

Revista Globo Rural publicou que: (...) a fome uma decorrncia da m

distribuio de renda, podendo ser agravada por clima e solo adversos, atraso

cientfico, cultural e dependncia econmica (...) 41

Assim que, apesar da exposio de todos os possveis

ganhos para a sociedade com a produo dos transgnicos, existem inmeros

cientistas, ambientalistas e segmentos outros da sociedade, que se posicionam

rigorosamente contra a utilizao de transgnicos, levando em conta,

principalmente, os supostos riscos que estes podem representar para o futuro da

humanidade e do planeta.

O Site Blog Controvrsias publicou dez razes para no

consumir produtos transgnicos, entre eles, citou que os organismos

geneticamente modificados interferem no Meio Ambiente:

(...) Seus efeitos sobre o meio ambiente e sobre culturas agrcolas

no-transgnicas so alarmantes. Em fevereiro de 2008, o jornal

39 Disponvel em http://www.greenpeace.org.br/transgenicos. Acesso em 28 de jan. 2008. 40 Disponvel em http://www.greenpeace.org.br/. Acesso em 13 de abr. 2008. 41 Disponvel em http://globorural.globo.com. Acesso em 05 de abr. 2008.

http://www.greenpeace.org.br/transgenicoshttp://www.greenpeace.org.br/http://globorural.globo.com/

17

espanhol El Pas aponta que o milho transgnico est

contaminando e acabando com os cultivos de milho ecolgico na

Espanha. A contaminao acontece pela polinizao disseminada

pelos ventos e o grande perigo que se corre d-se em causa da

extino de variedades no transgnicas e da dependncia dos

produtores agrcolas das multinacionais do transgnico na mesma

medida em que essa homogeneizao ocorre, dado que as

variedades transgnicas no se reproduzem bem na segunda

gerao e a produtividade sofre um impacto direto.42

Corroborando com a referida publicao, Guerrante afirma

que estudos com plantas geneticamente modificadas, apresentam um grande

risco na proliferao de insetos na agricultura, tantos os insetos malficos, quanto

os que so extremamente benficos na agricultura.43

Portanto, para estes, a preocupao com o Meio Ambiente

no deve ser esquecida, esclarecendo primeiro que o maior problema no a

produo e sim a m distribuio, e que as modificaes genticas podem ter

conseqncias inesperadas.

Para Barboza e Barretto, no caso do Brasil, inmeras so as

dificuldades que se tem para esclarecer a populao sobre o que so os

transgnicos e quais as suas reais vantagem ou desvantagens da produo dos

mesmos. Para ambos, Devido desinformao que cerca o tema, o provvel

insucesso dessas culturas no pas deve-se principalmente aos riscos que as

cercam, amplamente divulgados pela imprensa mundial. 44

Mostra disso que no Brasil, institutos, inclusive o de

Defesa do Consumidor IDEC, apontam riscos para a sade humana, sendo que

para o IDEC45 os principais seriam:

42 Disponvel em http://blog.controversia.com.br/2008/03/31/trangenicos-todas-as-razoes-para-

nao-consumir/. Acesso em 11 de abr. 2008. 43 GUERRANTE, Rafaela di Sabato, Transgnicos: uma viso estratgica.p.33. 44 BARBOZA, Helosa Helena e BARRETTO,Vicente de Paulo. Temas de Biotica e biodireito,

p.230. 45 Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Disponvel em www.idec.org.br. Acesso em 17

de fev. 2003.

http://blog.controversia.com.br/2008/03/31/trangenicos-todas-as-razoes-para-nao-consumir/http://blog.controversia.com.br/2008/03/31/trangenicos-todas-as-razoes-para-nao-consumir/

18

- aumento de alergias;

- desenvolvimento de resistncia bacteriana (usadas nos

antibiticos);

- aumento de resduos de agrotxicos nos alimentos;

- potencializao dos efeitos de substancias agrotxicas.

No sentido de confirmar esses riscos, esto as inmeras

notificaes de pessoas que tiveram fortes reaes alrgicas aps consumirem

feijo que tinham genes da castanha. Tambm, tm-se relatos de pessoas que

chegaram a bito no Japo, aps consumirem um aminocido produzido com

uma bactria geneticamente modificada.

Seguindo este seguimento contrrio aos transgnicos, alm

dos riscos diretos para a sade humana, h, tambm, os riscos para o Meio

Ambiente, onde poder ocasionar a falta de polinizao, visto que determinadas

espcies de pssaros podem j no reconhecer como alimento uma planta

transgnica. E ainda (...) outro risco seria o da formao de sementes suicidas ou

estreis, que prejudicariam uma prtica milenar dos nossos agricultores de

selecionar de uma safra para outra as melhores sementes para replantio.46

Neste sentido, tendo como objeto de discusso o Brasil, os

cientistas e ambientalistas, afirmam que a agricultura brasileira, at o presente

momento, est em vantagem, pois, um dos maiores produtores de soja e faz

90% das suas exportaes para a Europa, cujos pases tem se manifestado

totalmente contra transgnicos.

Observa-se, portanto, que as vantagens e as desvantagens

da produo, comercializao e consumo dos transgnicos, necessitam de um

aprofundamento, no sentido de se buscar um consenso entre as partes.

46 BARBOZA, Helosa Helena e BARRETTO,Vicente de Paulo. Temas de Biotica e biodireito,

p.157.

19

Na viso de Finardi dizer que [...] a biotecnologia ser a

salvao da humanidade exagero, mas dizer que os OGM so horrorosos, que

s causam problemas, tambm no faz sentido. preciso avaliar com muita

cautela todas as faces do problema, uma vez que, inegvel que o avano da

biotecnologia pode representar benefcios indispensveis para a sociedade, cada

vez maiores e melhores. Faz parte do processo de evoluo da humanidade e,

necessrio se faz avaliar com cautela os possveis riscos, no s para a sade

humana, mas tambm, para o planeta, uma vez que ele a morada nica de

todos os seres vivos. 47

O grande problema, no tem sido o uso e disponibilizao

de produtos transgnicos no mercado, mas sim a falta de uma informao

essencialmente clara e adequada aos indivduos. Esclarecendo quais os riscos e

os cuidados que necessitam ser tomados para evitar possveis leses aos

consumidores.

47 Disponvel em: http://www.cib.org.br/entrevista. Acesso em 20 de dez. 2005.

http://www.cib.org.br/entrevista

CAPTULO 2

OS TRANSGNICOS E O DIREITO DOS CONSUMIDORES NO BRASIL

2.1 CONSUMIDOR ASPECTOS GERAIS

Como os transgnicos so produzidos visando sua

comercializao e consumo pelo homem fundamental que esta atividade se

desenvolva respeitando os interesses do consumidor.

Para tratar do Direito do Consumidor, necessrio se faz que

se tenha claro o que um consumidor, de forma que se possa, a partir da discutir

o universo em que este tema est inserido e suas implicaes no que diz respeito

aos transgnicos.

Ao se tratar das relaes do consumo, imagina-se,

prefacialmente, que a proteo ao consumidor, ocorre apenas nas relaes entre

no-profissionais que contratam ou se relacionam com um profissional,

comerciante, industrial ou profissional liberal. o que se costuma pensar.

No entanto tal pensamento refere-se a noo subjetiva de

consumidor, que segundo Benjamin, excluiria do mbito de proteo das normas

de defesa do consumidor todos os contratos concludos entre dois profissionais,

pois estes estariam agindo como o fim de lucro. 48

Observado o conceito de consumidor estatudo no art. 2,

caput da Lei 8.078/90, qual seja o Cdigo de Defesa do Consumidor49, constata-

se que o legislador brasileiro adotou uma definio mais objetiva.

Pela legislao em vigor, considerado consumidor:

48 BENJAMIN, Antnio Hermann. O conceito de Consumidor. RT 628/68 (cit. Benjamin/Conceito).

49 Cdigo de Defesa do Consumidor a partir deste momento ser mencionado pela sigla CDC.

21

Art. 2 Consumidor toda pessoa fsica ou jurdica que adquire ou

utiliza produto ou servio como destinatrio final. 50

Diante do conceito ora apresentado, necessrio interpretar

a expresso destinatrio final, atravs da doutrina brasileira, uma vez que o

CDC no a definiu.

Segundo MARQUES, destinatrio final :

[...] o consumidor final, o que retira o bem do mercado ao adquirir ou simplesmente utiliz-lo (Endverbraucher), aquele que coloca um fim na cadeia de produo e no aquele que utiliza o bem para continuar a produzir ou na cadeia de servio [...]Parece-me que destinatrio final aquele destinatrio ftico e econmico do bem ou servio, seja ele pessoa jurdica ou fsica. O destinatrio final o consumidor final, o que retira o bem do mercado ao adquiri-lo ou simplesmente utiliz-lo (destinatrio final ftico), aquele que coloca um fim na cadeia de produo (destinatrio final econmico), e no aquele que utiliza o bem para continuar a produzir, pois ele no o consumidor final, ele est transformando o bem, utilizando o bem, incluindo o servio contratado no seu, para oferec-lo por sua vez ao cliente, seu consumidor, utilizando-o no seu servio de construo, nos seus clculos do preo, como insumo da sua produo.51

Buscando, ainda, esclarecer o conceito de consumidor,

Acquaviva apresenta que este : Toda pessoa fsica ou jurdica que adquiri ou

utiliza produto ou servio como destinatrio final [...] de modo que o mediador do

50 BRASIL. Lei 8.078/90. Dirio Oficial da Repblica Federativa do Brasil, Braslia, DF, 11 de

set. 1990. Disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm. Acesso em 13 de fev. 2008.

51 MARQUES, Cludia Lima. Comentrios ao Cdigo de Defesa do Consumidor / Claudia Lima Marques, Antnio Hermann V. Benjamin, Bruno Miragem. 2 ed. rev., atual. e ampl. So Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2006. p. 83.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm

22

negcio (intermedirio), entre o comerciante que vende e quem adquire, no faz

parte do conceito legal.52

O CDC apresenta, ainda, o conceito de consumidores

equiparados.

Dispe o pargrafo nico do art. 2 da Lei 8.078/90 que:

Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que

indeterminveis, que haja intervindo nas relaes de consumo.53

Preocupou-se o legislador em proteger, estendendo os

efeitos protetivos do CDC queles que no so consumidores stricto sensu, que

podem ser prejudicados ou atingidos pelas atividades dos fornecedores no

mercado.

Assim, apesar de no se caracterizar como consumidor stricto

sensu, a criana, filha do adquirente, que ingere produto

defeituoso e vem a adoecer por fato do produto, consumidor-

equiparado e se beneficia de todas as normas protetivas do CDC

aplicveis ao caso. A importncia do pargrafo nico do art. 2 o

seu carter de norma genrica, interpretadora, aplicvel a todos

os captulos e sees do Cdigo.54

Diante do discorrido, observa-se que o conceito de

consumidor representa a evoluo do pensamento jurdico para uma teoria

contratual que entende o contrato em termos de sua funo social55, ou seja, que

procura, nas relaes do consumo em geral, sanar o desequilbrio entre

consumidores-leigos e fornecedores-experts.

52 ACQUAVIVA, Marcos Cludio. Dicionrio Acadmico de Direito. So Paulo. Editora Jurdica

Brasileira,1999, p.217. 53 BRASIL. Lei 8.078/90. Disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm,

acesso em 10 de abr. 2008. 54 MARQUES, Cludia Lima. Comentrios ao Cdigo de Defesa do Consumidor / Claudia

Lima Marques, Antnio Hermann V. Benjamin, Bruno Miragem. p. 87. 55 MARQUES, Cludia Lima. Comentrios ao Cdigo de Defesa do Consumidor / Claudia

Lima Marques, Antnio Hermann V. Benjamin, Bruno Miragem. p. 85.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm

23

No caso dos contratos, o problema o desequilbrio flagrante de

foras dos contratantes. Uma das partes vulnervel (art. 4, I),

o plo mais fraco da relao, pois no pode discutir o contedo do

contrato ou a informao recebida; mesmo que saiba que

determinada clusula abusiva, s tem uma opo, pegar ou

largar, isto , aceitar o contrato nas condies que lhe oferece o

fornecedor ou no aceitar e procurar outro fornecedor.56

De todo exposto, constata-se que o CDC traduz os anseios

da sociedade em geral, tutelando os direitos dos consumidores, lhes protegendo e

conscientizando. Consumidor consciente um consumidor exigente.

2.2 A EVOLUO HISTRICA DA PROTEO DOS CONSUMIDORES NO

BRASIL

No Brasil, o interesse pelos direitos dos consumidores no

surgiu apenas a partir da promulgao da CRFB/88, mas, decorrncia de todo

uma construo histrica que foi, paulatinamente, conquistando espao entre

outros ramos do direito.

No momento em que o Brasil se tornou independente de

Portugal, continuou a usar leis daquele pas, apenas abrasileirando as mesmas

para que estivessem mais de acordo com as necessidades daqui, sendo que,

neste perodo j se vislumbrava a existncia de um direito do consumidor,

discretamente inserido.

Isto se observa com a leitura do livro V das Ordenaes

Filipinas, que foi o primeiro Cdigo Penal Brasileiro, onde j constavam algumas

pequenas preocupaes relacionadas aos direitos dos consumidores, como se

pode analisar: Ordenamos que nenhum ourives lavre ouro em obra sua, nem

alheia, de menos quilates que se lavra na moeda (...) e primeiro que as vendao,

as mostraro aos Juizes de seu Officio, para verem a qualidade dellas (...)57

56 MARQUES, Cludia Lima. Comentrios ao Cdigo de Defesa do Consumidor / Claudia

Lima Marques, Antnio Hermann V. Benjamin, Bruno Miragem. p. 85. 57 Disponvel em http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/l5p1205.htm, acesso em 18 de

mar. 2008.

http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/l5p1205.htm

24

E desta forma permaneceu, at 1830, quando este foi

substitudo pelo Cdigo Criminal do Imprio. O Cdigo que entrava em vigor

manteve a idia originria do antigo Cdigo, sendo que, somente com a

promulgao do Cdigo Filipino que se obteve real interesse com a proteo dos

consumidores. 58

Somente a partir de 1850, com o Cdigo Comercial e,

posteriormente, em 1916, com o Cdigo Civil Brasileiro, que foi sistematizado,

de forma mais presente a proteo aos consumidores propriamente ditos.

Ainda para se compreender melhor a evoluo da proteo

ao consumidor no Brasil, importante destacar a Lei de n 1521, de 26 de

dezembro de 1951, que tratava dos crimes contra a economia popular. Isto

porque, na viso de Nascimento: o que se quer demonstrar que o legislador

estava consciente do problema embora, inicia-se a proteo de forma dbil e,

com o tempo, alcana uma tutela mais abrangente.59

Mais tarde, em 26 de setembro de 1962, ocorre outro

importante passo para a proteo dos consumidores brasileiros com a entrada em

vigor da Lei Delegada de n4, que viria a dispor sobre a interveno no domnio

econmico para assegurar a livre distribuio de produtos necessrios ao

consumo do povo.60

Marco fundamental na efetiva defesa do consumidor

brasileiro ocorreu, entretanto, somente com a promulgao, em 05 de outubro de

1988 da Constituio da Repblica Federativa do Brasil, que inseriu em seu artigo

5, inciso XXXII, como uma garantia constitucional, o direito do consumidor,

delimitando a obrigatoriedade do Estado garantir, efetivamente o referido direito.

Importante destacar que esta proteo, se encontra presentes em outros

momentos da CRFB, quais sejam: art.170, inciso V e no art.48 da ADCT.

58 NASCIMENTO, Tupinamb M.C. do. Comentrios ao Cdigo do Consumidor. Rio de

Janeiro. Aide Ed., 1991.p.10. 59 NASCIMENTO, Tupinamb M.C. do. Comentrios ao Cdigo do Consumidor.p.12. 60 BRASIL. Lei Delegada 4 /1962 . Dirio Oficial da Repblica Federativa do Brasil, Braslia,

DF, 26 de set. 1962. Disponvel em http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/leis/LDL/Ldl04.htm. Acesso em 18 de dez. 2007.

25

Segundo Filomeno,

(...) a sensibilizao dos constituintes de 1987/88, foi obtida por

unanimidade na oportunidade do encerramento do VII Encontro

Nacional das (...) Entidades de Defesa do Consumidor, desta feita

realizado em Braslia, por razes bvias, no calor das discusses

da Assemblia Nacional Constituinte, e que acabou sendo

devidamente protocolada e registrada sob n 2.875, em 8-5-87,

trazendo sugestes de redao, inclusive aos ento artigos 36 e

74 da Comisso Afonso Arinos, com especial destaque para a

contemplao dos direitos fundamentais do consumidor (ao

prprio consumo, segurana, escolha, informao, a ser

ouvido, indenizao, educao para o consumo e a um meio

ambiental saudvel).61

Ficava assim, assegurado constitucionalmente o direito do

consumidor, que passou a ser normatizado especialmente a partir de 1990, com a

promulgao, em 11 de setembro de 1990, da Lei n8078, que criou o CDC. Com

a entrada da Lei em vigor, os direitos relacionados relao de consumo se

tornaram evidentes, pois que, neste Cdigo, a redao bem clara e consistente

quanto s regras a serem seguidas para, efetivamente, resguardar o direito do

consumidor brasileiro, diferentemente de todas as outras leis mencionadas

anteriormente.

2.3 OS PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS COMO FUNDAMENTO PARA A

PROTEO DO DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL E O DIREITO

INFORMAO

Diante das controvrsias que envolvem a produo e

consumo em relao aos transgnicos (OGMs), para se entender a relao dos

mesmos com o direito do consumidor, necessrio observar-se a CRFB/88, que,

seguindo tendncia mundial, assegurou alguns princpios constitucionais voltado

para a defesa dos consumidores.

61 FILOMENO, Jos Geraldo Brito. Manual de Direitos do Consumidor. So Paulo: Atlas,

1991. p.21-22.

26

Assim, entre outros direitos fundamentais, tais como, o

direito vida, liberdade, segurana, sade, educao, ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, a CRFB/88 como j visto, garantiu ao seu cidado,

os seus direitos como consumidor, passando este a ser elevado condio de

princpio constitucional, e conseqentemente, a fazer parte do sistema normativo

brasileiro.

Conforme afirma Marques:

A Constituio Federal de 1988, ao regular os direitos e garantias

fundamentais do Brasil, estabelece em seu art. 5, XXXII, a

obrigatoriedade da promoo pelo Estado (Legislativo, Executivo

e Judicirio) da defesa do consumidor. Igualmente, consciente da

funo limitadora desta garantia perante o regime liberal-

capitalista da economia, estabeleceu o legislador constitucional a

defesa do consumidor como um dos princpios da ordem

econmica do brasileira, a limitar a livre iniciativa e seu reflexo

jurdico, a autonomia de vontade (art. 170,V).62

Preocupou-se o Legislador Constituinte, a fim de garantir a

dignidade da pessoa humana em todos os seus aspectos, em inserir na CRFB/88,

dispositivos que assegurassem a efetividade deste princpio nas relaes do

consumo, o inciso XXXII, do art. 5, dando status de fundamental, impondo ao

Estado, na forma da lei, a defesa do consumidor.

O referido artigo traz que:

Art.5. Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes

no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade,

segurana e propriedade, nos termos seguintes:

[...]

XXXII o Estado promover na forma da lei a defesa do

consumidor;

62 MARQUES, Cludia Lima. Comentrios ao Cdigo de Defesa do Consumidor / Claudia

Lima Marques, Antnio Hermann V. Benjamin, Bruno Miragem. p. 147.

27

Determinando a edio de um Cdigo de Defesa do

Consumidor e demonstrando a preocupao em garantir os valores humanitrios

nas relaes do consumo, no art.48 da ADCT salienta que:

O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da

promulgao da Constituio, elaborar cdigo de defesa do

consumidor.

Decorrncia lgica do exposto que o Cdigo de Defesa do

Consumidor nasceu com o intuito de dar efetividade, no plano ordinrio, ao

princpio da dignidade da pessoa humana.

Segundo ensina Modesto, Os direitos fundamentais so, em

menor ou maior grau, concretizaes do princpio da dignidade humana, por isso,

devem ser, assumidos pelo constituinte. o primeiro passo para a efetivao dos

direitos fundamentais na realidade social, ainda distante do programa

constitucional.63

Retira-se, portanto, que a defesa do consumidor, por parte

do Estado, um princpio constitucional programtico, visto que a sua

hipossuficincia e vulnerabilidade, levaram, inclusive, ao legislador constituinte

criar uma poltica pblica de defesa das relaes de consumo.

o que dispe o art. 170, V, da Constituio da Repblica

Federativa do Brasil:

Art. 170. A ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho

humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar todos

existncia digna, conforme os ditames da justia social,

observados os seguintes princpios:

[...]

V - defesa do consumidor;

63 MODESTO, Paloma Santana. A eficcia dos direitos fundamentais nas relaes privadas.

Revista do Curso de Direito das Faculdades Jorge Amado, v. 2, n. 1. Salvador: Faculdade Jorge Amado, 2006. p. 399.

28

Segundo Grau, o princpio constitucional da defesa do

consumidor possui dupla funo:

(...) instrumento para realizao do fim de assegurar todos

existncia digna e o objetivo particular a ser alcanado. No ltimo

sentido, assume a funo de diretriz, dotada de carter

constitucional conformador, justificando a reivindicao pela

realizao de polticas pblicas.64

Decorrncia imediata deste princpio que passa a ser

dever do Estado, e, portanto dos seus rgos e agentes, a defesa e proteo dos

direitos do consumidor, incumbindo a todos averiguar se a aplicao das regras

de proteo e conservao dos direitos dos mesmos, esto efetivamente sendo

cumpridos.

A partir deste princpio, tem-se a primeira razo pelo qual, na

relao transgnicos versus cidado aparecem os direitos do consumidor. Como

cidado, o indivduo tem a proteo do Estado nas suas relaes de consumo, e,

portanto, o direito de saber exatamente o que est consumindo.

Portanto, os direitos assegurados constitucionalmente ao

cidado vo alm, pois, a CRFB/88 garante em seu art.5, inciso XXXIII, o direito

a informao, estabelecendo:

Art.5. Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes

no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade,

segurana e propriedade, os termos seguintes:

[...]

XXXIII todos tm direito a receber dos rgos pblicos

informaes de seu interesse particular, ou de interesse coletivo

ou geral, que sero prestadas no prazo da lei, sob pena de

responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja

imprescindvel segurana da sociedade e do Estado.

64 GRAU, Eros Roberto. A ordem econmica na Constituio de 1988. 2. ed. So Paulo:

Editora Revista dos Tribunais. 1191. p. 252-253.

29

Aparece, a, de forma clara, a segunda razo da relao

transgnicos versus cidado, pois, como tal, o indivduo na condio de

consumidor tem o direito de ter acesso a todas as informaes que sejam do seu

particular interesse, em especial de saber exatamente o que est consumindo, se

aquele produto ou no prejudicial a sua sade, se representa riscos para si ou

para o meio ambiente. Para tanto, necessrio que ele tenha todas as

informaes a respeito do produto, de forma que assim possa ter o direito de

fazer a sua escolha, ou seja, se vai ou no consumi-lo.

Discutindo esta questo, Amaral afirma que S um

consumidor completamente informado pode bem exercer a liberdade volitiva

pressuposto do ato jurdico de consumo (o consumo consciente e refletido).65

Ao expressar livre e conscientemente a sua vontade, o que

s possvel ser feito a partir do momento em que tenha plena condio de

discernimento, o que ocorre com o conhecimento efetivo da situao em que est

inserido, o cidado estar tendo assegurado outro princpio fundamental, o da

dignidade da pessoa humana, basilar dos sistemas jurdicos contemporneos.

Nesse sentido manifesta-se a jurisprudncia:

Danos morais e tutela da dignidade da pessoa humana-

consumidor

Incorporao imobiliria Compra e venda - Dano moral

Inadimplncia contratual pela vendedora, em situao de culpa

grave, prxima do dolo Infrao com repercusso nociva no

patrimnio social e familiar dos compradores lesados, que torno

indevida a verba inteligncia dos artigos 5, V e X, da CF, e 159

e 1.092, pargrafo nico , do CC (1916), Ementa oficial: O dano

justo, objeto de ressarcimento pela inadimplncia de contrato de

incorporao imobiliria (Lei. 4.591/1964), compreende, no

moderno conceito de direito civil, a leso de personalidade (arts.

159 e 1.092, pargrafo nico, do CC (1916) e 5, V e X, da CF)

em situao de culpa grave, prxima do dolo, praticada por

vendedora que aproveita a euforia do lanamento do prdio para

65 AMARAL, Luiz Otvio de Oliveira. Histria e fundamentos do direito do consumidor.

Revista dos Tribunais. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1989, n 648, p.62.

30

fraudar os consumidores de boa-f. Repercusso nociva da

infrao contratual no patrimnio social e familiar dos

compradores lesados que autoriza a tutela da dignidade humana

ou a indenizao por dano moral.66 (grifo nosso)

Ao encontro desta idia e neste mesmo sentido a redao

do Art.4, caput, do CDC que assim expressa:

Art. 4. A Poltica Nacional das Relaes de Consumo tem por

objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o

respeito sua dignidade, sade e segurana, a proteo de seus

interesses econmicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem

como a transparncia e harmonia das relaes de consumo,

atendidos os seguintes princpios. 67

Criou-se, com a instituio do CDC, um sistema de

princpios garantidores dos direitos dos consumidores, objetivando a salvaguarda

da parte vulnervel nas relaes de consumo em face da imponente fora do

poder econmico.

O CDC instituiu no Brasil o princpio da proteo da confiana do

consumidor. Este princpio abrange dois aspectos: 1) a proteo

da confiana no vnculo contratual, que dar origem s normas

cogentes do CDC, que procuram assegurar o equilbrio do

contrato de consumo, isto , o equilbrio das obrigaes e deveres

de cada parte, atravs da proibio do uso de clusulas abusivas

e de uma interpretao sempre pr-consumidor; 2) a proteo da

confiana na prestao contratual, que dar origem s normas

cogentes do CDC, que procuram garantir ao consumidor a

adequao do produto ou servio adquirido, assim como evitar

riscos e prejuzos oriundos destes produtos e servios.68

Instituiu-se, ainda, o princpio da garantia de adequao (art.

4, caput), segundo o qual direito do consumidor a plena adequao dos

produtos e servios ao binmio da segurana/qualidade. um dos fins deste

66 TJSP 3 Cm. Ap 085.852-4/4 rel. Des. nio Santarelli Zuliani j. 10.08.1999 RT

770/236. 67 Redao dada pela Lei n 9.008, de 21.3.1995. 68 MARQUES, Cludia Lima. Comentrios ao Cdigo de Defesa do Consumidor / Claudia

Lima Marques, Antnio Hermann V. Benjamin, Bruno Miragem. p. 143.

31

microssistema de proteo, sendo dever dos fornecedores e do Estado enquanto

fiscal.69

Diante deste sistema protetivo criado, todo tipo de prtica

que possa vir a afetar a dignidade da pessoa humana, dever ser evitada e

coibida pelo do ordenamento jurdico, uma vez que, como princpios que so, as

normas da CRFB/88 esto em primeiro lugar.

Reforando este entendimento Nascimento afirma que:

Qualquer lei ordinria que pense em revogar a Lei n 8.078/90,

excluindo a proteo do consumidor do mundo jurdico, lei ineficaz, visto ser ofensiva

norma constitucional supra. (...) O que possvel sua alterao normativa, em busca de

uma mais efetiva realizao do pretendido. 70

Levando-se em considerao que o CDC a lei que tem por

objetivo tornar realidade este princpio, ela o fundamento jurdico para a

normatizao das relaes de consumo no Brasil, e, como tal deve ser

respeitada.

2.4 O DIREITO INFORMAO EM FACE AO CDIGO DE PROTEO E

DEFESA DO CONSUMIDOR.

Como visto, de salutar importncia para que o consumidor

possa exercer efetivamente os seus direitos enquanto tal, que tenha ele pleno

conhecimento sobre o que est consumindo. Com este objetivo e buscando

garantir que o cidado tenha acesso a todo o tipo de informaes que se fizer

necessria que a CRFB/88 garantiu o direito informao, direito este

abraado pelo CDC, que, em seu artigo 6, determina:

Art. 6 So direitos bsicos do consumidor:

[...]

69 AMARAL, Luiz Otavio O. Os transgnicos e o consumidor brasileiro. Disponvel em

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2413. Acesso em 12 de maio. 2008. 70 NASCIMENTO, Tupinamb M.C. do. Comentrios ao Cdigo do Consumidor. p.15.

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2413

32

III - a informao adequada e clara sobre os diferentes produtos e

servios, com especificao correta de quantidade,

caractersticas, composio, qualidade e preo, bem como, sobre

os riscos que apresentem;

[...]

este inciso III, do artigo 6, do CDC que ser o grande

fundamento legal para a garantia do direito informao no que diz respeito

produo e consumo dos produtos transgnicos.

A esse respeito, Marques ensina:

Da mesma forma, se direito do consumidor ser informado (art.

6, III), este deve ser cumprido pelo fornecedor e no fraudador

(art. 1 do CDC). Assim, a clusula ou prtica que considere o

silncio do consumidor como aceitao (a exemplo do art. 111 do

CC/2002), mesmo com falha da informao, no pode prevalecer

(arts. 24, 25), acarretando a nulidade da clusula no sistema do

CDC (art. 51, I) e at no sistema geral do Cdigo Civil (art. 424 do

CC/2002).71

Os consumidores, parte hipossuficiente na cadeia

econmica, tem este direito bsico informao, respondendo o Estado,

enquanto agente regulador e fiscal, e o fornecedor, no exerccio de seus deveres

(boa-f/transparncia) de fornecedor (empresa ou no). Trata-se o princpio da

ampla informao, amplamente assegurado no microssistema de defesa do

consumidor.

Amaral, analisando as disposies jurdicas, informa que:

V) Princpio da ampla informao (arts. 4; 6, III; 8; 9; 10; 12;

13; 18; 19; 20; 30; 31; 35; 36; 37; 38; 56; 60; 63; 64; 66; 67 e 72):

pela presena deste princpio expressamente em muitos

dispositivos do CDC pode-se avaliar a sua relevncia. Est

diretamente ligado educao do consumidor, divulgao,

publicidade (afins) e ao conexo princpio da veracidade (que baniu

o dolus bnus, ou menos mau). O princpio da ampla informao

71 MARQUES, Cludia Lima. Comentrios ao Cdigo de Defesa do Consumidor / Claudia

Lima Marques, Antnio Hermann V. Benjamin, Bruno Miragem. p. 178.

33

assume a relevncia transcendental da afirmao da liberdade do

ato de consumo, sendo assim, importante aspecto do moderno

conceito de cidadania (participao consciente na formulao de

polticas/decises governamentais e mesmo no simples ato de

consumir). princpio cuja responsabilidade do Estado e dos

fornecedores.72

Seguindo este mesmo entendimento, retira-se das

concluses aprovadas no V Congresso Brasileiro de Direito do

Consumidor/Brasilcon:

(...) O princpio da informao adequada nos contratos relacionais

de consumo envolve o dever de informar no apenas no momento

da celebrao contratual, mas durante todo o perodo da

performance ou execuo contratual (aprovada por unanimidade).

8. O CDC (arts. 6, incisos III e V; 20, pargrafo 2; 31; 36; 37; 46

e 66) constitui fundamento legal claro e suficiente para obrigar

informao adequada ao consumidor nos contratos relacionais de

consumo (aprovada por unanimidade). 9. dever do fornecedor

nos contratos relacionais de consumo manter o consumidor

adequada e permanentemente informado sobre todos os aspectos

da relao contratual, especialmente aqueles relacionados ao

risco, qualidade do produto ou servio ou qualquer outra

circunstncia relevante para a sua deciso de consumo, durante

todo o perodo em que perdurar a relao contratual (aprovada

por unanimidade).73 (grifo nosso)

Observe-se que, nesse sentido tem decidido a

jurisprudncia:

Recurso especial Processual civil Instituio Bancria

Exibio de documentos Custo de localizao e reproduo dos

documentos nus do pagamento. O dever de informao e, por

conseguinte, o de exibir a documentao que a contenha

obrigao decorrente de lei, de integrao contratual compulsria.

No pode ser objeto de recusa nem de condicionantes, face ao

princpio da boa-f objetiva. Se pode o cliente a qualquer tempo

72 AMARAL, Luiz Otavio O. Os transgnicos e o consumidor brasileiro. Disponvel em

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2413. Acesso em 12 de mai. 2008. 73 MARQUES, Cludia Lima. Comentrios ao Cdigo de Defesa do Consumidor / Claudia

Lima Marques, Antnio Hermann V. Benjamin, Bruno Miragem. p. 179.

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2413

34

requerer da instituio financeira prestao de contas, pode

postular a exibio dos extratos de suas contas correntes, bem

como as contas grficas dos emprstimos efetuados, sem ter que

adiantar para tanto os custos dessa operao.74

Isto porque, em virtude da lei, quando adquiri um produto, o

consumidor tem o direito a ter todas as informaes sobre o produto que est

adquirindo. Se os transgnicos possuem alteraes genticas em sua

composio que em muitos casos no visvel aos consumidores, esta

informao tem que estar presente em algum momento, razo pelo qual a

rotulagem passa a ser considerado instrumento fundamental para a garantia

deste direito.

A informao um bem jurdico imaterial suscetvel de

apropriao, classificada na seara obrigacional como obrigao

jurdica de cunho pessoal, tendo, em tese, como partes

integrantes desta relao jurdica (credor e devedor) determinados

ou determinveis. No microssistema consumerista, tambm se

aplica para a informao tal conceito, mas com algumas

particularidades, tendo em vista que o consumidor nem sempre

determinado ou determinvel, v.g. informao do fabricante a

respeito do seu produto perigoso (arts. 8, 9, 10 e 30 do CDC),

porquanto o consumidor que vai ler a rotulagem na gndola do

supermercado pode estar em qualquer lugar do Brasil, logo

indeterminado e indeterminvel. 75

Tal dever de informar decorrncia lgica do princpio

bsico da boa-f objetiva, regra primordial de convivncia, de onde decorre que

os contratantes devem adotar comportamento fulcrado na lealdade, correo,

probidade, no respeito mtuo, resguardando-se, ainda, a condio vulnervel

dada ao consumidor em nossa legislao ptria.

Princpio da boa-f nas relaes de consumo (art. 4, III,

perpassando vrios dispositivos do CDC): antigussimo princpio

geral de Direito, mas agora positivado. A transparncia e a

74 STJ 3 T. REsp 330.261/SC rel. Min. Nancy Andrighi j. 06.12.2001. 75 MURASSAWA, Marcos Tadao Mendes. Transgnicos e o direito de informao do consumidor. Disponvel em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6235. Acesso em 18 de mai. 2008.

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6235

35

harmonia nas relaes de consumo, enquanto meta da Poltica

Nacional do setor (art. 4, CDC) ser resultante desta regra geral

de comportamento entre os homens, verdadeira essncia do

regime do CDC.76

Lobo, em artigo cientfico assevera que:

O dever de informar tem raiz no tradicional princpio da boa-f

objetiva, significante da representao que um comportamento

provoca no outro, de conduta matrizada na lealdade, na correo,

na probidade, na confiana, na ausncia de inteno lesiva ou

prejudicial. A boa-f objetiva regra de conduta dos indivduos

nas relaes jurdicas obrigacionais. [...] O princpio da boa-f

objetiva foi refuncionalizada no direito do consumidor, otimizando-

se sua dimenso de clusula geral, de modo a servir de parmetro

de validade dos contratos de consumo, principalmente nas

condies gerais dos contratos.77

Ainda, segundo prescreve o inciso III do art. 6 do CDC,

quanto ao dever de informar, retira-se que tal dever precisa ser adequado,

suficiente e veraz.

A adequao diz com os meios de informao utilizados e com o

respectivo contedo. Os meios devem ser compatveis com o

produto ou o servio determinados e o consumidor destinatrio

tpico. Os signos empregados (imagens, palavras, sons) devem

ser claros e precisos, estimulantes do conhecimento e da

compreenso. No caso de produtos, a informao deve referir

composio, aos riscos, periculosidade [...] A suficincia

relaciona-se com a completude e integralidade da informao. [...]

Insuficiente , tambm, a informao que reduz, de modo

proposital, as conseqncias danosas pelo uso do produto, em

virtude do estgio ainda incerto do conhecimento cientfico ou

tecnolgico [...] A veracidade o terceiro dos mais importantes

requisitos do dever de informar. Considera-se veraz a informao

correspondente s reais caractersticas do produto e do servio,

alm dos dados corretos acerca de composio, contedo, preo,

prazos, garantias e riscos. A publicidade no verdadeira, ou

76 AMARAL, Luiz Otavio O. Os transgnicos e o consumidor brasileiro. Disponvel em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2413. Acesso em 12 de maio de 2008.

77 LBO, Paulo Luiz Netto. A informao como direito fundamental do consumidor. Disponvel em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2216. Acesso em 10 de maio de 2008.

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2413http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2216

36

parcialmente verdadeira, considerada enganosa e o direito do

consumidor destina especial ateno a suas conseqncias.78

Neste sentido, ensina Soares:

A informao adequada, muito mais que apenas divulgar a frmula dos produtos, se refere proteo do consumidor quanto ao seu direito opo pelo produto no transgnico. Pois muito mais que saber se este ou aquele produto Transgnicos, o consumidor tem o direito de ter acesso s pesquisas e seus resultados, para poder escolher de fato o produto saudvel para seu consumo. 79

Nessa senda, impe-se a obrigao ao fornecedor de

produtos e servios potencialmente nocivos ou perigos sade ou segurana, o

dever de informar, de forma adequada, suficiente e clara (veraz), acerca das

caractersticas nocivas ou perigosas, sem prejuzos de demais medidas cabveis.

o que dispe o art. 9 do CDC:

O fornecedor de produtos e servios potencialmente nocivos ou

perigos sade ou segurana dever informar, de maneira

ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou

periculosidade, sem prejuzo da adoo de outras medidas

cabveis em cada caso concreto. 80

O que se objetiva, assegurando o direito informao,

proteger o consumidor, parte vulnervel da relao de consumo, de tcnicas cada

dia mais avanadas de fornecimento de produtos e servios existentes no

mercado, dando a ele conhecimento prvio de todas s informaes relevantes

sobre os bens e servios oferecidos de forma clara, correta, ostensiva, precisa e

em lngua p