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Nº 16 Dezembro de 2003 Av. Brasil 4036/515, Manguinhos Rio de Janeiro, RJ 21040-361 www.ensp.fiocruz.br/publi/radis SÚMULA DA IMPRENSA Para brasileiro, Aids não mata TOQUES DA REDAÇÃO O mais discutido nas plenárias da 12 a CNS A saúde que queremos e o SUS que temos Propostas da Fiocruz para a Conferência O desafio do financiamento A democracia como estratégia do SUS

A saúde que queremos e o SUS que temos atégia do SUS ... · Janeiro, o lançamento oficial do livro ´Amigão da Saúde’, uma parceria en-tre Organização Pan-Americana da Saúde

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N º 1 6 � Dezemb r o d e 2 0 0 3

Av. Brasil 4036/515, ManguinhosRio de Janeiro, RJ � 21040-361

www.ensp.fiocruz.br/publi/radis

SÚMULA DA IMPRENSAPara brasileiro, Aids não mata

TOQUES DA REDAÇÃOO mais discutido nas plenáriasda 12a CNS

A saúde que queremos e

o SUS q

ue temos

Propostas da Fiocruz para a Conferência

O desafio do financiamentoA democracia como estratégia do SUS

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Criação coletiva

De uns tempos para cá, observa-seuma tendência de se produzir ma-

teriais educativos a partir de criaçãocoletiva. Mas a sua materializaçãoexige algum nível de “tecnologia”.Nesse sentido, uma interessante pro-posta foi desenvolvida por pesquisa-doras do Instituto de Saúde Coletiva,da Universidade Federal da Bahia.

A missão era desenvolver materi-al comunicativo para servir de supor-te às práticas de organização da aten-ção à gestante de alto risco em oitomaternidades baianas. E este deveriaser elaborado com a participação dosagentes de saúde.

“O processo desenvolvido, alémde produzir material comunicacional,propiciou também um processo decapacitação e socialização com os pro-fissionais que, ao criarem as peças,

vivenciaram uma aprendizagem rela-cionada à experiência cotidiana quepode contribuir para seu desenvolvi-mento intelectual e afetivo”, escrevemas pesquisadoras em artigo intituladoTecnologia de produção coletiva demateriais de comunicação em saúde.

Mas como foram obtidos estesresultados? O trabalho se desdobrouem três fases distintas. Na primeirafase, denominada “Conhecimento einteração”, pesquisas são realizadaspara aproximação ao tema e aos espa-ços institucionais onde as atividadessão realizadas. Todo o material reuni-do nesta fase é devolvido aos gestorese profissionais de saúde dos serviçospesquisados na forma de apresenta-ções tipo seminário, textos para dis-cussão ou através de quaisquer ou-tros recursos comunicacionais.

A segunda fase é aquela de “Ofi-cinas de criação”, que são desenvolvi-das através de movimentos de concen-tração (trabalhos de grupo) e dedispersão (plenárias seguidas de siste-matizações). Nelas são levantadas as ex-pectativas dos participantes e sistema-tizados conceitos de Informação,Comunicação e Educação. Depois sãodiscutidos os problemas e soluçõesenvolvidos com estes três conceitosnaquela experiência específica. Apósesta etapa, são promovidos exercíciosde “aquecimento” com o grupo, taiscomo a criação de frases para o mate-rial de uma campanha. Os participan-tes depois definem que instrumentosde comunicação melhor se adequamàs finalidades desejadas e partem paraa criação dos mesmos. Ao final, o gru-po é convidado a planejar ações e ouso do material produzido/sugerido.

A terceira fase é aquela de“Finalização”, onde os materiais pro-duzidos pelos profissionais de saúdesofrem um tratamento artístico e téc-nico, com pessoal especializado, como cuidado de se preservar a criaçãooriginal e coletiva.

Os resultados da pesquisa sãodevolvidos através da realização deseminários nos municípios que parti-cipam do programa.

O projeto gerou o jornalGestando saúde; o texto de uma peçateatral intitulada Riscando pro alto,uma fotonovela com o mesmo título;um cartaz; um guia do facilitador; umfolder e um álbum seriado.

As pesquisadoras responsáveispela iniciativa, Neusa Barbosa, TetêMarques, Nadja Miranda e Maria LigiaRangel destacam vantagens para osatores envolvidos no processo: “Ao tra-balho de recepção e de intervençãoos agentes de saúde acrescem o deautoria de seus meios de trabalho, ten-do em conta seu contexto. Além disso,um vínculo de pertencimento é cria-do, valor fundamental para o processode sua implantação na rede.”

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Nº 16 — Dezembro de 2003

editorial

Comunicação em Saúde 2� Criação coletiva

Editorial 3� Hora da democracia

Cartas 4

Destaque 4� “Amigão da Saúde”

Súmula da Imprensa 5

Toques da Redação 7

12ª CNS: Saúde 8� A Saúde que queremos...

Depoimento: Roseni Pinheiro 10� “A democracia é a estratégia maisapropriada para a consolidação dosprincípios do SUS”

12ª CNS: SUS 11� ...e o SUS que temos

� Gerenciar melhor recursosescassos: o desafio do governo

Fiocruz na 12ª CNS 14� Fiocruz divulga suas contribuiçõespara os eixos temáticos da 12ª CNS

� Diretrizes e Propostas

Serviços 18

Pós-Tudo 19� Nós que amávamos tanto a revolução...

Capa: Aristides Dutra

O pequeno jornaleiro tem freqüentadonossa revista desde o número 9, em maio,quando veio anunciar, em alto e bom tom,a convocação da 12ª CNS. A esculturaMonumento ao pequeno jornaleiro é deautoria do caricaturista Fritz.

Olongo caminho que leva milhares dedelegados e observadores à 12a

Conferência Nacional de Saúde, emBrasília, foi aberto pela insatisfação decidadãos com um sistema de saúde queainda não é eficaz, não tem a qualidadeque desejam, não atende a todos de for-ma equânime e a cada um de forma inte-gral e humana. Junte a isso o desconten-tamento de profissionais de saúde comsuas condições de trabalho e remunera-ção. Adicione a discordância de sanita-ristas e militantes da saúde com as polí-ticas públicas governamentais dosúltimos anos e com a subordinação daspolíticas sociais às políticas macro-eco-nômicas liberais. Acrescente as evidênci-as do descumprimento da legislação e des-vio de verbas do SUS por governantes devários pontos do país e conclua pelaconstatação de que sustentamos a cultu-ra secular da desigualdade social que per-passa as práticas e ações de saúde.

Mas esse trajeto foi pavimentadotambém por movimentos coletivos orga-nizados em defesa do direito à saúde epor dirigentes com vontade política decolocar em prática a Constituição, as leise normas que conformam o Sistema Únicode Saúde. Lideranças comunitárias e decategorias profissionais da saúde abri-ram o caminho da participação qualifica-da em conselhos de saúde. Equipes pro-fissionais resistiram a desmandos degovernantes e levaram adiante trabalhospioneiros. Apoiados por dirigentes com-prometidos, muitos formularam eimplementaram experiências inovadorase bem-sucedidas de gestão ou atenção àsaúde em todo o país.

O roteiro desta Conferência tem suaorigem na primeira tentativa dedescentralização da Saúde, na 3a Confe-rência, em 1963; na síntese do ideário daReforma Sanitária, na 8a, em 1986; no rui-doso enfrentamento com o governo Collor,na 9a, em 1992; e na persistência pelamanutenção dos princípios e divisão deatribuições dentro do SUS que marcarama 10a e 11a, em 1996 e 2000.

Com a eleição do atual governo, ossonhos e a determinação de Sérgio Aroucavoltaram a apontar o caminho inspiradonos ideais da Reforma Sanitária. A deter-minação do ministro Humberto Costa deacatar suas resoluções como políticas degoverno deu novo sentido à 12a Confe-rência. A reunião de todas as tribos dasaúde neste histórico encontro de dezem-bro foi preparada, passo a passo, nas ani-madas plenárias locais e setoriais, nos aca-lorados debates dos grupos de trabalho e

plenárias em cada conferência municipale estadual.

Em oito edições, desde maio, a Re-vista RADIS procurou contribuir com apreparação desta Conferência. Recu-peramos as seis décadas de história dasconferências. Cobrimos a I Conferên-cia Nacional de Medicamentos e Assis-tência Farmacêutica e os congressos daAbrasco e da Rede Unida, como eventospreparatórios da 12a. Abordamos emprofundidade cada um dos dez eixostemáticos (entre eles, felizmente, o dacomunicação e informação) e estimula-mos e apresentamos o debate entre asdiferentes visões acerca das questõese temas em discussão na 12a Conferên-cia. Informamos sobre os debates nasconferências estaduais e sobre os pre-parativos e regulamentos para chegar àplenária final. Além disso, o ProgramaRADIS participou das teleconferências or-ganizadas pelo Canal Saúde e editou e pro-duziu as três edições do Jornal da 12,distribuído pelo Ministério da Saúde.

Neste número da RADIS, fazemos oexercício da inversão metodológica dotema da Conferência, antepondo a defi-nição da “saúde que queremos” à análisedo “SUS que temos”, condicionando à pri-meira formulação as diretrizes de mudan-ça a serem estabelecidas. Destacamosainda o depoimento da professora RosenyPinheiro (IMS/Uerj), que evoca o debatesobre integralidade e democracia (comparticipação política), como essencialpara o avanço do SUS. Em quatro páginasespeciais, apresentamos as contribuiçõesda Fiocruz à discussão dos dez eixostemáticos, num documento que enfatizaa garantia e ampliação do direito à saú-de, a intersetorialidade, a eqüidade, aintegralidade e o aprofundamento da ques-tão democrática.

A construção do caminho que levatodos para a plenária final da 12a Confe-rência esteve repleta de obstáculos econtradições, relutância e determina-ção pessoal e coletiva em acreditar maisuma vez. Mas também há muita expecta-tiva, muita esperança, vontade de rea-lizar através da participação direta oque a democracia representativa amor-tece e adia: agir como sujeito políticopleno e voltar para casa sentindo-se le-gitimado como agente das transforma-ções necessárias, da implementação daspolíticas deliberadas democrática e co-letivamente.

Rogério Lannes RochaCOORDENADOR DO RADIS

Hora da democracia

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expediente

USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radispode ser livremente utilizado e reproduzido em qual-quer meio de comunicação impresso, radiofônico,televisivo e eletrônico, desde que acompanhado doscréditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon-

sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aosveículos que reproduzirem ou citarem conteúdo denossas publicações que enviem para o Radis um exem-plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-rências da reprodução ou a URL da Web.

cARTAS destaque

RADIS é uma publicação da FundaçãoOswaldo Cruz, editada pelo ProgramaRadis (Reunião, Análise e Difusão de In-formação sobre Saúde), da Escola Nacio-nal de Saúde Pública (Ensp).

Periodicidade: MensalTiragem: 42 mil exemplaresAssinatura: Grátis

Presidente da Fiocruz: Paulo BussDiretor da Ensp: Jorge Bermudez

PROGRAMA RADISCoordenador e editor interino:

Rogério Lannes Rocha

Subeditor: Cláudio CordovilSubeditor de Arte: Aristides DutraAssistente de Arte: Hélio NogueiraRedação: Katia MachadoEstudos e Projetos: Justa Helena Franco

(gerência de projetos), JorgeRicardo Pereira e Laïs Tavares

Secretaria de Administração eInfraestrutura: Onésimo Gouvêa,Márcia Pena, Cícero Carneiro eOsvaldo José (informática)

EndereçoAv. Brasil, 4036, sala 515 — ManguinhosRio de Janeiro / RJ — CEP: 21040-361Telefone: (21) 3882-9118Fax: (21) 3882-9119

E-Mail: [email protected]: www.ensp.fiocruz.br/publi/radisImpressão e FotolitoEdiouro Gráfica e Editora SA

No dia 29 de outubro, foi realizadona sede da TV Globo, no Rio de

Janeiro, o lançamento oficial do livro´Amigão da Saúde’, uma parceria en-tre Organização Pan-Americana daSaúde (Opas/OMS), Ministério da Saú-de, Conselho Nacional de Secretári-os Municipais de Saúde (Conasems),Fiocruz, Movimento de Reintegraçãodas Pessoas Atingidas pela Hanseníase(Morhan) e Projeto Amigos da Escolada TV Globo.

A publicação, destinada a profes-sores, pais e demais pessoas e entida-des que realizam ações voluntárias nasescolas brasileiras, destaca experiên-cias de voluntários, os Amigos da Es-cola, de todo o país e orientações edicas para outras escolas do país.

No livro, organizado em 13 capítu-los, o leitor poderá conferir sugestõesde abordagens e atividades que podemser desenvolvidas com crianças e ado-lescentes sobre os seguintes temas:água; alimentação; sexo; drogas; meioambiente; acidentes; hanseníase; den-gue, vacinas; e paz. Além desses, a pu-blicação apresenta outros subtemascomo saneamento básico, condiçõesde trabalho, moradia, lazer, rejeição àcultura da violência e relações bemconstruídas com os outros.

Tomando como base metodologiasde ações bem-sucedidas na área de Pro-moção da Saúde, ‘Amigão da Saúde’ visatrabalhar a noção de Saúde como qua-lidade de vida individual e comunitáriae como construção permanente demelhores condições de bem-estar eda cidadania. O livro, cuja tiragem ini-cial foi de 50.000 exemplares, será des-tinado às 27.400 escolas públicas ca-dastradas no projeto ‘Amigos daEscola’, aos programas das instituiçõesparceiras da publicação e a cinco milbibliotecas públicas do país.

O lançamento do livro contoucom a presença de coordenadoresnacionais e regionais do Projeto ‘Ami-gos da Escola’, do presidente doConasems, Luiz Odorico, do presiden-te do Instituto Ciência Hoje, RenatoLessa, do coordenador nacional doMohan, Artur Custódio de Souza, dorepresentante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS) noBrasil, Jacobo Finkelman e do Secre-tário em Vigilância Sanitária do Minis-tério da Saúde, Jarbas Barbosa.

ENTREVISTA COM GILSON CARVALHO

Gostaria de parabenizar a revistapela excelente entrevista com o

Dr. Gilson Carvalho. Trata-se de refle-xões memoráveis, oportunas e um ex-celente recado a todos gestores (meincluo, obviamente) das três esferasde governo, notadamente da esferafederal. É também um convite aos ve-ículos de comunicação que sempredefenderam o SUS e estão “de farolbaixo”. Está mais que na hora de to-dos nós nos sacudirmos e trabalharmais na defesa intransigente da vida.

Wilmar Inácio MotaSecretário Municipal de Saúde deParauapebas / PA e Secretário Extra-Ordinário para a Amazônia doCONASEMS

PARABENIZANDO A REVISTA

Écom muito prazer que envio estamensagem com o objetivo de

parabenizá-los pela brilhante forma deestar divulgando experiências, atua-lidades, ou seja, informações neces-sárias para o nosso aprendizado.

Ronaldo RadaelliVila Velha — ES

UMA APOSENTADA NA ATIVA

Écom imensa alegria e agradecimen-to que lhes traço estas linhas. Pa-

rabenizo a Fundação Oswaldo Cruzpelas edições da Radis, que muito têmcontribuído para nosso conhecimen-tos em Saúde e por ter conhecimen-to das inovações tecnocientíficas namedicina. Hoje sou aposentada. Po-rém, gostaria de continuar receben-do as revistas. Parabéns mais uma vez.

Onilce Moreira CruzCampina Grande - PB

“Amigão da Saúde”

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SÚMULA DA IMPRENSA

PROJETO DE B IOSSEGURANÇA CHEGA

AO CONGRESSO

O tão aguardado Projeto de Leide Biossegurança do Governo

Federal foi finalmente encaminhadoao Congresso para votação em regi-me de urgência no final do mês deoutubro. Ele deve ser votado na Câ-mara dos Deputados no prazo de até45 dias corridos. O relator do proje-to será o líder do Governo na Casa,Aldo Rebelo (PC do B-SP).

Pela proposta do governo, o Con-selho Nacional de Biossegurança(CNBS) continua existindo, mas tem suacomposição ampliada. Passaria a con-tar com 26 membros (contra os atuais18), sendo que oito deles represen-tantes de ministérios, oito represen-tantes da sociedade civil e oito espe-cialistas de instituições de pesquisa.

Outra novidade é que, pela pro-posta, a Comissão Técnica Nacional deBiossegurança (CTNBio) tem seus po-deres diminuídos. Só seus pareceresnegativos teriam caráter “vinculante”.Isso significa que, na hipótese de aComissão avaliar que determinado pro-duto transgênico não é seguro, o pro-cesso de liberação se encerra aí e oproduto nem será analisado pelos ou-tros órgãos do governo.

Os pareceres positivos teriam va-lor apenas consultivo, seguindo poste-riormente para os ministérios corres-pondentes, para a tomada de decisão.Cada um desses ministérios poderáconduzir avaliações mais aprofundadassobre a segurança do novo produto nassuas respectivas áreas de competên-cia e, a partir dos resultados obtidos,decidirá se o registra ou não.

Na queda-de-braço entre o Minis-tro da Agricultura, Roberto Rodrigues,e a Ministra do Meio Ambiente, MarinaSilva, sobre os alimentos transgênicos,Marina levou a melhor neste caso.Rodrigues queria que, pelo projeto delei, as decisões da CTNBio fossem defi-nitivas.

Alguns cientistas criticaram oteor do projeto de lei. O SecretárioExecutivo do Meio Ambiente, CláudioLangone, rebateu as críticas, afirman-do que a questão dos transgênicosnão é meramente técnica. Langoneafirmou que os cientistas tentam si-mular neutralidade na discussão daquestão. “Não é isso o que ocorre.Muitos têm opinião sobre o assunto,

favoráveis ou não. Além disso, muitosrecebem financiamento para suaspesquisas de empresas que têm inte-resse no assunto”.

IDOSOS DÃO AULA DE CIDADANIA AO

MINISTRO DA PREVIDÊNCIA

D iz o ditado que “de boas in-tenções o inferno anda cheio”.

Com o pretexto de uma medida lou-vável – reduzir fraudes na Previdên-cia, o Ministro da Previdência Soci-al, Ricardo Berzoini, submeteu idososcom mais de 90 anos e que recebemhá mais de 30 anos seus benefícios auma verdadeira penitência: compa-recer a um posto do INSS para pro-varem que estavam vivos após blo-queio de seus pagamentos. A reaçãofoi imediata e definiu os contornosdo assunto mais quente da primeirasemana de novembro.

Empoderados pelo recente lan-çamento do Estatuto do Idoso, osnonagenários em filas por todo o Bra-sil colocaram a boca no trombone. OMinistério Público de vários estadosprometeu agir. Parlamentares ameaça-ram entrar na Justiça. A oposição pe-diu a demissão de Berzoini. Em umaentrevista ao programa Bom dia, Bra-sil o ministro disse que não tinha mo-tivos para pedir desculpas aos aposen-tados. O que já era brasa, pegou fogo.A declaração infeliz foi tratada comouma crise de governo pelo Planalto.O Chefe da Casa Civil telefonou paraBerzoini e exigiu suas desculpas públi-cas, que vieram na forma de uma notaoficial do imprevidente ministro.

O saldo da trapalhada foi positi-vo. Os idosos com mais de 90 anos nãoprecisam mais correr aos postos doINSS para se recadastrar. Não há maisprazo para o fim do recadastramento.A garantia foi dada pelo ministro nodia 11/11 em reunião com represen-tantes de entidades que trabalham

com idosos. E mais: aqueles com difi-culdade de locomoção podem pedirpor telefone a visita de um funcioná-rio da Previdência na sua própria casa.De tudo isso, fica a lição de que nãohá idade para lutar pela cidadania.

COMBATE A AIDS NA ÁFRICA GANHA

REFORÇO DE FAR-MANGUINHOS

Em viagem pela África, no início domês de novembro, o presidente

Lula assinou diversos acordos de co-operação em saúde, especialmentepara combate a Aids. O ponto alto desua visita àquele continente foi a as-sinatura de um protocolo de inten-ções com o governo de Moçambiquepara a construção de um laboratóriode produção de medicamentos paraa Aids, que conta com 1,8 milhão deinfectados naquele país.

O projeto, orçado em 23 milhõesde dólares, terá tecnologia de produ-ção dos retrovirais e de construçãodo laboratório fornecida pelo labora-tório Far-Manguinhos, da Fiocruz. Ain-da não estão asseguradas as fontes definanciamento para o programa.

VAC INA CONTRA A A IDS FALHA EM

TESTE COM HUMANOS

A empresa californiana Vaxgen co-municou no dia 12/11 que fa-

lharam os testes de sua vacinaAidsVax, realizados na Tailândia comcerca de 2.500 pessoas, após trêsanos de acompanhamento.

O teste foi realizado em 17 cen-tros clínicos da Tailândia e revelou queos voluntários que receberam pelomenos uma dose da vacina não semostraram menos propensos a contrairo vírus HIV. Além disso, a vacina tam-bém não foi eficaz na promoção dodeclínio da progressão da doença.

Os resultados do teste tailandêspodem desmotivar novas pesquisascom vacinas que incluam a proteínagp120 em sua fórmula.

ONU ADIA DECISÃO SOBRE CLONAGEMHUMANA

Ficou para até 2005 a posição daONU sobre uma possível proibição

da clonagem humana. Por apenas umvoto, o Comitê Jurídico da Assembléia

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Geral aceitou uma moção encaminha-da pelo Irã em nome de 57 países daConferência Islâmica.

A questão estava pendente desde2001, quando França e Alemanha pedi-ram a elaboração de um tratado banin-do a clonagem humana, postura quaseunânime no cenário internacional.

A decisão representa uma der-rota para os Estados Unidos, que ten-tava rejeitar qualquer acordo sobreo assunto que não proibisse tambéma clonagem terapêutica.

Para a diplomata espanhola AnaMaria Menendez foi um erro proporum adiamento da decisão. “Não éapropriado enviar à comunidade in-ternacional a mensagem de que nãonos mostramos capazes de refletirsobre isso”.

BRASIL AMPLIA PRODUÇÃO DE VACINAS:PARTE I

O Brasil começa a produzir a vaci-na tríplice viral, destinada à pre-

venção de caxumba, rubéola e sa-rampo, economizando cerca de US$15 milhões nos próximos cinco anos.A vacina, que é ainda a única im-portada pelo governo brasileiro das12 oferecidas pelo Programa Naci-onal de Vacinação, será produzidaa partir do ano que vem graças aum acordo de transferência detecnologia entre o Instituto Bio-Manguinhos, da Fiocruz, e o labo-ratório Glaxo Smith Kline. O acor-do prevê a produção de 20 milhõesde doses do imunizante no próxi-mo ano e pretende alcançar a mar-ca de 110 milhões de doses ao lon-go de cinco anos. A produção datríplice viral será realizada no Cen-tro de Produção de Antígenos Viraisde Bio-Manguinhos, que será inau-gurado até dezembro deste ano.

Além da tríplice, Bio-Manguinhos/Fiocruz começará a produzir uma va-

cina inédita, denominada por ‘PentaBrasil’. Essa é uma associação da va-cina tetravalente — contra difteria,tétano, coqueluche e HIB, que im-pede a infecção por bactéria causa-dora da pneumonia e de um tipo demeningite — com a vacina contra ahepatite B. Com a nova vacina, a pro-dução do imunizante contra a hepa-tite B, que hoje é parcialmente pro-duzido pelo Instituto Butantã, em SãoPaulo, deverá crescer no país, redu-zindo a importação.

BRASIL AMPLIA PRODUÇÃO DE VACINAS:PARTE II

Depois da tríplice viral, será a vezde ampliar a produção da vaci-

na BCG contra a tuberculose, quetambém faz parte do Programa Naci-onal de Vacinação, distribuída gra-tuitamente nos postos da rede pú-blica de saúde do país. Devido a umconvênio entre a Fundação Ataulphode Paiva, responsável hoje por 100%da produção do imunizante, e o Mi-nistério da Ciência e Tecnologia(MCT), será retomada a construçãode um laboratório capaz de produ-zir, pelo menos, 60 milhões de dosesda vacina. O laboratório, instalado emDuque de Caxias, Rio de Janeiro, co-meçou a ser construído em 1990 eteve cerca de 80% de sua estruturaconcluída, mas as obras foram inter-rompidas há três anos devido à faltade recursos financeiros.

Com o acordo, por meio do qualR$ 500 mil serão financiados pelo Mi-nistério da Saúde e os outros R$ 2,3milhões necessários pela Financiadorade Estudos e Projetos do MCT(Finep/MCT), o país passará a contar com afabricação de 15 milhões de doses deBCG por ano, assegurando maior auto-suficiência. Com a ampliação da pro-dução, o país será ainda capaz deexportar o imunizante para países daÁfrica, da Ásia e da América Latina,onde a doença tem recrudescido.

OMS FAZ LEVANTAMENTO DE REMÉDI-OS ADULTERADOS

Cerca de 25% dos remédios con-sumidos nos países em desenvol-

vimento são falsificados ou encontram-se abaixo dos padrões de qualidadeestabelecidos, segundo informaçõesdivulgadas pela Organização Mundialde Saúde (12/11). Freqüentementeestes medicamentos são usados paratratar doenças graves, como malária,Aids e tuberculose.

Mas o problema não afeta somen-te países pobres. Nos Estados Unidos,um dos medicamentos mais pirateadosé o Viagra, que pode ser facilmentecomprado pela Internet.

A FDA (agência que controla dro-gas e alimentos nos EUA) estima queos remédios pirateados representam10% do mercado global, com vendasatuais de US$ 32 bilhões.

BRASILEIRO NÃO ACREDITA QUE AIDS MATE

Surpreendente! Pesquisa encomen-dada pela rede pública britânica

de telecomunicações BBC constatouque 61% dos brasileiros entrevistadosnão acreditam que a Aids possa ma-tar. O Brasil se revelou o campeão deignorância no campo, entre os 15países pesquisados. No México, 31%duvidavam da gravidade da doença,enquanto que esta cifra era de 2%nos Estados Unidos. Em 2001, 8.400brasileiros morreram de Aids.

O estudo também revelou que66% dos brasileiros entrevistados acre-ditam que o governo não esteja fa-zendo o suficiente na prevenção ecombate da Aids.

Entre cinco alternativas apresen-tadas de fatos preocupantes, 47% dosbrasileiros apontaram a criminalidadee impunidade como maior preocupa-ção. Na Tanzânia, 66% dos habitantesentrevistados disseram que a Aids eraa maior questão da atualidade

A pesquisa foi conduzida por te-lefone e entrevistou 1.007 participan-tes em cidades como São Paulo, BeloHorizonte, Porto Alegre e Rio de Ja-neiro entre os dias 10 e 24 de agostodeste ano.

TRANSPLANTE DE FACE É REALIDADEPRÓXIMA

Duas equipes de médicos estãodesenvolvendo técnicas para o

transplante de rosto de uma pessoamorta para outra pessoa viva. Mas, an-tes de resolver os problemas técnicos,discussões éticas precisam ser travadas.

Gordon Tobin, chefe do setor decirurgia plástica e reconstrutiva daUniversidade de Louisvile, disse quetem estudado transplantes faciais poruma década.

Mas o grupo liderado por JohnBarker, da Universidade de Louisiana,deverá ser o primeiro a realizar otransplante. Pela técnica, retira-se osmúsculos e a pele da face de um do-ador morto e faz-se o transplante emoutra pessoa.

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RADIS 16 � DEZ/2003

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SÚMULA DA IMPRENSA é produzida a par-tir da leitura crítica dos principais jor-nais diários e revistas semanais do país.

TENDÊNCIAS DA 12ª CNS — Um estu-do preliminar sobre o andamento dasconferências estaduais e municipaisdas capitais, preparatórias da 12ª Con-ferência Nacional de Saúde (CNS),que acontece em Brasília, entre osdias 7 e 11 de dezembro, revela ostemas que polarizam os debates re-gionais. Estas informações permitemantever os contornos que a 12ª CNSpoderá assumir.

Dados preliminares foram coletadosem 18 conferências municipais dascapitais, realizadas até a 1ª quinzenade outubro de 2003. Eles revelam queos três eixos temáticos propostospara a 12ª CNS mais debatidos (emmesas-redondas, grupos de discussãoe plenária final) foram a “GestãoParticipativa”; a “Organização da Aten-ção à Saúde” e “As Três Esferas deGoverno e a Construção do SUS”.

Os eixos temáticos mais debati-dos em grupos de discussão foram:“A Intersetorialidade das Ações deSaúde”, “O Trabalho na Saúde”, “AOrganização da Atenção à Saúde” e“Gestão Participativa”.

Já os eixos mais discutidos emmesas-redondas do que em grupos dediscussão (denotando maior preocu-pação dos organizadores do que dosparticipantes) foram “Direito à Saú-de”, “Financiamento à Saúde” e “AsTrês Esferas de Governo e a Constru-ção do SUS”.

Uma maior convergência de in-teresses entre gestores e partici-pantes das conferências se deu nadiscussão dos temas: “A Organiza-ção da Atenção à Saúde” e “GestãoParticipativa”.

Os eixos temáticos mais debati-dos na plenária final foram “A Organi-zação na Atenção à Saúde”, “GestãoParticipativa” e “Trabalho na Saúde”.

Neste estudo preliminar, não fo-ram computadas as conferências de RioBranco, Cuiabá, Belém e Porto Velho,posteriores à apuração dos dados.

A pesquisa foi realizada pela Secre-taria de Gestão Participativa do Minis-tério da Saúde, com o apoio da Organi-zação Pan-Americana da Saúde (OPAS).

EC-29 PRECISA SER CUMPRIDA — Nodia 5 de novembro, nosso repórterexclusivo desta coluna, Fontes Fide-dignas, acompanhou mais uma mani-festação do setor Saúde na luta pelaaplicação da Emenda Constitucional29 (EC-29), que garante recursos mí-nimos para ações e serviços no âmbi-to do SUS. Um ato público, organiza-do pelo Conselho Nacional de Saúde(CNS) e pela Frente Parlamentar deSaúde, foi realizado no Plenário daCâmara Federal em favor da manu-tenção dos recursos previstos paraa Saúde no ano de 2004. Recente-mente, o veto presidencial a um ar-tigo da lei de Diretrizes Orçamentá-rias abriu caminho para que ogoverno completasse as verbas daSaúde com verbas do Fundo de Po-breza, ao invés de ampliar os investi-mentos na área. Contra essa medi-da, o procurador-geral da República,Cláudio Fonteles, recomendou queo presidente Luiz Inácio Lula da Silvaenviasse ao Congresso emenda cor-rigindo a proposta antes que ela fos-se votada na Comissão Mista de Or-çamento. A reclamação também foifeita por Rafael Guerra, presidenteda Frente Parlamentar, de forma quegovernos federal, estaduais e muni-cipais possam aumentar seus investi-mentos na Saúde, conforme estabe-lece a EC-29.

O procedimento só é tecnica-mente possível agora por conta doavanço nas drogas que evitam a re-jeição de órgãos e tecidos. As ques-tões atualmente se resumem, segun-do os especialistas, a discussões deordem moral, ética e psicológica.

Médicos britânicos já foram pro-curados por 10 pacientes para a ci-rurgia. No entanto, eles terão de es-perar o relatório que o Colégio Realde Cirurgiões divulga sobre o assuntono dia 19 de novembro.

FOI CONSTRUÍDO O PRIMEIRO LABORA-TÓRIO NB3 NO BRASIL

Pesquisadores brasileiros passam acontar com mais uma importante

ferramenta para o estudo de vírus ebactérias letais à saúde humana. Foiconstruído, no Instituto de CiênciasBiomédicas da Universidade de São Pau-lo (USP), o primeiro laboratório comnível de biossegurança 3 (NB3). Comuma área de 50 metros quadrados ecom paredes de até meio metro deespessura, essa nova unidade de pes-quisa assegura proteção contra fugade microorganismos infecciosos, dimi-nuindo bastante o risco de contamina-ção tanto dos pesquisadores quantoda população. Para tanto, conta aindacom equipamentos sofisticados paramanipulação de vírus e bactérias, comofreezers, estufa e centrífugas.

O laboratório, que leva o nomedo virologista alemão naturalizado bra-sileiro Klaus Eberhard, que ajudou aconter a paralisia infantil no Brasil, éparte do projeto ‘A Rede de Genéti-ca de Vírus (na sigla em inglês, VG-DN). O projeto foi criado no final doano de 2000 e conta com um financia-mento de cerca de R$ 12 milhões daFundação de Amparo à Pesquisa doEstado de São Paulo (Fapesp). Comoparte também dessa iniciativa, serãoconstruídos outros três laboratórios:um na USP de Ribeirão Preto; outrona Universidade Estadual Paulista(Unesp); e um outro em local a serdefinido. A rede de laboratórios NB3tem o objetivo de estudar vírus já iden-tificados no país, como os arbovírusque transmitem a dengue e a febreamarela, assim como pesquisar vírusque podem chegar ao Brasil, como éo caso da Sars, e outros tantos des-conhecidos.

A minha felicida-de com relação à12ª CNS é que osetor Saúde trazà tona a discussãosobre SeguridadeSocial, um dostemas mais importantes nestecenário, mas que nunca recebeua devida importância. Essa foi umaidéia abandonada, principalmen-te pela Previdência Social, e queganha espaço em um evento quereunirá várias representações dasociedade.

Maris Horsth, Departamento deAdministração e Planejamento emSaúde da Ensp/Fiocruz

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RADIS 16 � DEZ/2003

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A Saúde que queremos...

Eduardo Jorge, coordenador Geral da12ª Conferência, ditar diretrizes para ogoverno “de baixo para cima”. Resolve-mos inverter o slogan nestas páginas daRadis, para ver como ficaria “a Saúdeque queremos... e o SUS que temos”.

Entre as propostas para “a Saú-de que queremos”, Nelson Rodrigues,coordenador da 9ª CNS e ex-secretá-rio executivo do Conselho Nacionalde Saúde, mais conhecido como‘Nelsão’, destaca a necessidade demudança na sua organização, noque se refere à Atenção Básica e àAtenção de Média e Alta Complexi-dade. “A atenção básica, que todosnós defendemos nesses 12 anos deSUS, dentro e fora do Brasil, deveser estruturante, para induzir areestruturação daquela de média ealta complexidade”, explicou ‘Nelsão’,em sua participação no debate “De-safios para a 12ª CNS”, promovido pelaFiocruz, em setembro de 2003.

Nesse contexto, o SUS precisade ações capazes de dar conta daatenção integral à saúde para toda apopulação. Segundo ‘Nelsão’, “é pre-ciso que a atenção integral sejaresolutiva, que tenha um leque am-plo de ações de promoção, de pro-teção aos riscos e de recuperaçãoda saúde, e que seja capaz de lidaraté mesmo com emergências de mai-or complexidade e casos agudos debaixa complexidade”. Ele acredita quea Atenção Básica deva ser a porta deentrada do SUS.

Para que essa modalidade do sis-tema consiga dar conta de 80% a 85%dos problemas da população, é preci-so repensar a questão do financiamen-to. Hoje, os recursos continuam es-cassos e o pouco que se tem, emmuitos casos, é empregado erradamen-te. “Existe um projeto de chegarmos,gradativamente, a direcionar até 30%do financiamento de todo o setor desaúde para a Atenção Básica. Isso nãoprecisa acontecer no ano que vem, mastemos que ter um projeto estratégicoque possa vir a ser o que queremos,nem que seja daqui a 10, 15 ou 20 anos.

12ª Conferência nacional de Saúde

Katia Machado

Em entrevista à revista Radis,em outubro de 2002, nosso sa-nitarista Sérgio Arouca nosalertava sobre o que hoje é

essencial para a eficácia do SistemaÚnico de Saúde (SUS). Segundo ele,a luta do setor Saúde deveria ser a

de retomar os princípios básicos daReforma Sanitária, que não se resu-miam à criação do SUS, mas que liga-vam o conceito saúde/doença a tra-balho, saneamento, lazer e cultura(ver box na página 9).

Assim, lembrar do que nos falavaArouca é de extrema importância paraas discussões que irão permear a 12ªConferência Nacional de Saúde (CNS),com o tema ‘Saúde: um direito de to-dos e dever do Estado. A saúde que te-mos, o SUS que queremos’. O evento,que poderá se converter em um marcona história da Saúde Pública do país,tem como proposta discutir com a so-ciedade os problemas estruturais e his-tóricos do SUS. Ou, nas palavras de

Nós temos que reafirmar oconceito da Reforma Sanitária,para retomar políticas dentrodo sistema sem burocratizá-lo.

Ségio Arouca

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Movimento da Reforma Sanitária: propostas e ideais

O Sistema de Saúde brasileiro,como afirmam todos os que

dele fazem parte, é fruto dos ideaise lutas do Movimento da Reforma Sa-nitária, que surge nos anos 70. Estemovimento contou com importantespersonagens, como o saudoso sani-tarista Sergio Arouca, e NelsonRodrigues, o ‘Nelsão’, coordenadorda 9ª Conferência Nacional de Saú-de e ex-presidente do ConselhoNacional de Saúde. O movimento,que passou pelas experiências demedicina comunitária, pelos movi-mentos populares e avançou nomovimento municipalista, denuncia-va a real situação sanitária da popu-lação e defendia a ampliação doacesso a todos os brasileiros.

Em uma entrevista concedidaà revista Radis, em outubro de2002, Arouca nos explicou o querepresentou esse movimento paraa Saúde do país, que tinha porobjetivo conquistar a democracia,para então começar a mudar o sis-tema de Saúde.

— O Movimento da Reforma Sa-nitária criou uma alternativa, quese abria para uma análise de esquer-da marxista da saúde, na qual serediscutia o conceito de saúde/do-ença e o processo de trabalho, emvez de se tratar apenas da relaçãomédico/paciente. Discute-se a de-terminação social da doença e seintroduz a noção de estrutura dosistema. Começamos a fazer proje-

tos de saúde comunitária, como clí-nica de família e pesquisas comunitá-rias, e fizemos treinamento do pes-soal que fazia política em todo Brasil.

Ainda que tenha começado nomeio universitário, o Movimento daReforma Sanitária Brasileira contoutambém com a participação de téc-nicos, especialistas e pensadores.“Eles eram minoritários, mas eram por-tadores de mensagens, estudos epropostas de transformação do se-tor saúde numa visão de grande sis-tema”, informou ‘Nelsão’, ao parti-cipar do debate ‘Desafios para a 12ªCNS’, promovido pela Fiocruz. Comoexplicou Arouca, o movimento iniciou-se com o sentido de derrubar a di-tadura para depois melhorar a saú-de. “Nós queríamos conquistar ademocracia para então começar amudar o sistema de saúde, porquetínhamos muito claro que ditadura esaúde são incompatíveis”, disse.

A causa avançou no final da déca-da de 70, por meio do movimentomunicipalista, articulado em vários en-contros. Em 1977 e 1978, acontecemencontros dos setores de Saúde dosmunicípios de Campinas (SP) e Teresina(PI). Em 1979, é a vez de Niterói (RJ),seguida por Belo Horizonte (MG), em1981, e por São José dos Campos (SP),em 1982. Os encontros representaramimportantes espaços de denúncia dacrise que a Saúde enfrentava, devido aum modelo de assistência médica ba-seado na privatização, na compra de

serviços, na exclusão das unidadespúblicas do sistema de prestação deserviços e no centralismo decisório.Esse movimento se posicionou con-tra um regime que beneficiava ape-nas os trabalhadores contratadospelo regime da Consolidação da Leisdo Trabalho (CLT), ou seja, àquelesque contribuíam com a PrevidênciaSocial. O marco dessas reivindicaçõesfoi o encontro municipalista de Mon-tes Claros, em 1985, que resultou nacarta intitulada ‘Muda Saúde’.

O movimento se fortaleceucom a 8ª Conferência Nacional deSaúde, em 1986, cujo objetivo prin-cipal foi o de fornecer subsídios paraa reformulação do Sistema Nacio-nal de Saúde e gerar elementos quepermitissem uma ampla discussãosobre Saúde na Constituição.

O resultado da luta por umnovo sistema de saúde com carac-terísticas democráticas, propostopelo Movimento da Reforma Sanitá-ria, foi a inclusão de um novo pre-ceito na Constituição de 1988. Ali aSaúde foi incluída como um direitode todo brasileiro, e o papel doEstado em sua garantia foi defini-do. Em 1990, foi criado o SUS, pormeio da Lei Orgânica 8080, definin-do como diretrizes e princípios auniversalidade, a eqüidade e aintegralidade, a descentralização,com ênfase na municipalização, aregionalização e a participação po-pular (controle social).

Até quando vamos direcionar para aAtenção Básica pouco mais de 7% doorçamento?”, indagou ‘Nelsão’.

Se a proposta é proporcionar umaatenção integral à Saúde, torna-se es-sencial mudar a forma como a Atençãode Média e de Alta Complexidade es-tão sendo vistas. Os serviços de médiacomplexidade (que incluem os ambu-latórios especializados e as pequenasinternações e emergências) e os de alta(que dizem respeito às grandesinternações e tratamentos especiais)na prática acabam sendo a porta deentrada do SUS, o que o transformaem “um grande ralo de desperdício deresultados de patologia clínica e de di-agnósticos, de consultas especializadase de retornos de encaminhamentos”,de acordo com ‘Nelsão’.

FINANCIAMENTO

Para o coordenador da 9ª CNS,a forma de repasses financeiros re-presenta um dos maiores entraves

para avanço do SUS. “Em vez de in-duzirem a construção de baixo paracima do modelo, por meio daregionalização, os recursos financei-ros acabaram sendo, ao longo des-tes 12 anos, cada vez mais vincula-dos numa mesma esfera programática,de prioridades padronizadas no Bra-sil inteiro em nível federal”, expli-cou. Para ele, a remuneração reali-zada pela tabela de procedimentopor produção descaracteriza o mo-delo ideal de SUS.

Na opinião de Gilson Carvalho,médico e sanitarista que vem dis-cutindo essa questão há muitosanos, algumas medidas deveriam sertomadas imediatamente. Entreelas, a necessidade de cumprimen-to da Emenda Constitucional 29(EC-29) que vem estabelecer oquanto os governos federal, esta-duais e municipais devem aumen-tar seus investimentos na Saúde,retirando destas as despesas com

inativos, dívida e serviços de saú-de de funcionários.

Gilson Carvalho também sugerea realização de estudos sobre os re-cursos devidos à saúde e não utiliza-dos ou mal utilizados. Para este ve-terano, todos os recursos no âmbitodo Fundo de Saúde devem ser admi-nistrados pelo Ministério da Saúde.No que se refere à forma de trans-ferência de recursos a estados e mu-nicípios, Gilson acredita que Estadosdeveriam ficar com 30% do dinheiroe municípios com 70%, com base naLei Complementar 8.142 (que tratada criação das conferências de saú-de e dos conselhos e sobre o finan-ciamento, incluindo a transferênciaintergovernamental de recursos fi-nanceiros).

Para Gilson, o repasse de recursosdeveria ser feito pelos critérios legais.Não se deveria fazer uso da expressão“fundo a fundo” para repassar recursospor critérios convencionais.

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“depoimento: roseni pinheiro

Observações colhidas por Kátia Machado

Roseni Pinheiro é professora dodepartamento de Planejamentoe Administração em Saúde doInstituto de Medicina Social da

Universidade do Estado do Rio de Janeiro(IMS/Uerj) e coordenadora do Lappis —Laboratório de Pesquisas de Práticas deIntegralidade em Saúde, que conta como apoio de Uerj/CNPq/Faperj/Ministé-rio da Saúde.

INTEGRALIDADEOs princípios do SUS por si sós não

ganham concretude, torna-se necessá-rio praticá-los. Não podemos dizer que auniversalidade foi conquistada só porqueo usuário deixou de apresentar acarteirinha do Inamps para obter atendi-mento. Deve-se deixar evidente que nãohá como falar, simplesmente, do campoinstitucional, mas deve-se, sobretudo,falar do campo das práticas, das experi-ências vividas e construídas cotidiana-mente a partir de um pacto social esta-belecido. Pode-se dizer que aintegralidade, um dos princípios essenci-ais para o SUS, se analisado segundo oideário da Reforma Sanitária, foi implan-tada no campo jurídico-institucional. Ex-tinguiu-se o Inamps, e as ações de cunhocurativo e individual do Ministério da Pre-vidência passaram a integrar o escopodas ações do Ministério da Saúde. Masnão podemos falar de integralidade ape-nas no que concerne às instituições, masdas ações por elas praticadas. É precisofalar também sobre a integralidade nocampo das práticas de saúde.

A integralidade, quer dizer, as prá-ticas integrais de saúde, se configuramem ações concretas nas relações das pes-soas, transformando-as cotidianamente.Se não podemos dizer que a integralidadese fez de fato, como uma política de Esta-do, é possível falar da existência de ex-periências inovadoras de gestão da aten-ção, nas quais o acolhimento e o vínculoentre profissionais e usuários do sistemasão estabelecidos. Mas isso não basta,porque sabe-se que uma das várias fun-ções de uma política de governo na saúdeé criar mecanismos de responsabilizaçãotambém dos gestores, em cada esfera degoverno. Em alguns municípios, podemosconstatar experiências que defendem aidéia de clínica ampliada, a questão dademocratização da informação e comu-

nicação, com a implantação deouvidorias, permitindo a socialização dapolítica de saúde. O problema é que nosfalta um vocabulário, uma ‘gramática ci-vil’ na saúde para compreender essasexperiências de integralidade.

Eu gostaria que daqui a alguns anosa integralidade fosse de fato um princípionão apenas do SUS, mas um valor ético afundamentar a relação entre Sociedade eEstado, possibilitando liberdade ao usuá-rio de decidir sobre qual saúde deseja terpara si. E cada um de nós, profissional,gestor e, no nosso caso, pesquisadores,deveríamos privilegiar nossa vocaçãohumana de entender o conhecimentocomo construção coletiva, sem pré-con-ceitos, e tendo cada vez mais a curiosi-dade de conhecer as pessoas, o que elassentem, como sofrem e como vivem. Opapel do Estado deve ser dizer também oquanto isso é possível. A integralidade temque ser uma bandeira de luta que a cadadia se renova. Podemos tomar a políticade Aids como um exemplo de que aintegralidade é possível, porque ali temosa união entre saberes, conhecimentos epráticas, contando com a participaçãoda sociedade civil organizada na cons-trução de respostas para um problemaespecífico de saúde.

DEMOCRACIAEntendo que a democracia é a es-

tratégia política mais apropriada para aconsolidação dos princípios do SUS. Nãopodemos esquecer, no entanto, que nósestamos em um Estado que tem uma cul-tura política patrimonialista e autoritá-ria, historicamente herdada. O exercí-cio democrático é recente em nosso país,como prática participativa. No entanto,não temos mecanismos eficazes de socia-lização da política de saúde. A democra-cia precisa ser exercitada nas escolas,hospitais, nos próprios órgãos do Execu-tivo. Democracia não é só representa-ção, é participação social. Fala-se de po-líticas de governo, quando se deveria falarde política de Estado. O SUS é uma políti-ca de Estado. No entanto, a convivênciade princípios universais com democracianão é uma equação de fácil resolução. Estáem jogo a disputa entre interesses eco-nômicos, corporativistas e individuaiscontra interesses coletivos e sociais.

As experiências que apostaram emum estilo de governo participativo, e emuma política socializante, conseguiramreverter quadros de saúde desfavoráveis

de suas populações, criando estratégiasde integralidade no cuidado e na atençãoà saúde. Existem algumas experiências degestões municipais com esse perfil, comoa de Vitória da Conquista, Aracaju e Caxiasdo Sul, que deixam clara a importância dademocratização das relações sociais e desaúde para garantia dos princípios do SUS.

PARTICIPAÇÃO POLÍTICAA idéia de participação política no

âmbito da saúde foi reduzida a espaçosinstitucionalizados dos Conselhos, o quemais uma vez reforça a idéia de democra-cia representativa como se esta fosse aúnica forma legítima de democratizaçãodas relações entre Sociedade e Estado,quando deveria abrir espaços para a de-mocracia direta, ou seja, participativa.E o que seria participar politicamente? Évocê ser constituinte e não apenas afir-mar o constituído. Cidadania requer ne-cessariamente a convivência entre de-mocracia representativa e participativa.Nesse sentido, é importante criarmosespaços públicos de encontro entre ospoderes públicos, em particular oLegislativo e o Judiciário, bem como apro-ximar o Ministério Público.

Depois da 8ª Conferência Nacionalde Saúde (CNS) não se fala mais em parti-cipação política, só se fala em controlesocial. Controle social tem muito a vercom ação de Estado e com os espaçosinstitucionalizados no âmbito do Estado,com a idéia de que cabe ao Estado resol-ver tudo. Para mudar isso, temos que en-tender que sociedade civil é Estado e vice-versa, no sentido gramsciano dos termos.Quando você opera com essas categori-as como opostas entre si, parece-nos quea sociedade fica isenta de responsabili-dades em relação às ações do Estado. Épreciso enfatizar fortemente a necessi-dade de mecanismos de participação compoder de decisão, para a socialização dapolítica de saúde mediante forte inves-timento em comunicação e informaçãosobre o SUS. Só podemos tomar partidode alguma coisa se tivermos consciênciados fatos. Não podemos exigir que apopulação defenda o SUS, se não o co-nhece como o defendemos e por que odefendemos. Tenho a impressão que fi-camos o tempo todo em torno de umdebate restrito aos intelectuais da Saú-de, que não é dividido com a sociedade.Digo ‘dividir’ no sentido de comparti-lhar, integrar e interagir saberes e prá-ticas para uma Grande Saúde.

“A democracia é a estratégia mais apropriadapara a consolidação dos princípios do SUS”

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...e o SUS que temos

12ª Conferência nacional de Saúde

Katia Machado

Aefetiva implantação dos prin-cípios norteadores do SUS —universalidade, integralidade,eqüidade e descentraliza-

ção — com ênfase na municipali-zação, na regionalização e na parti-cipação popular (controle social) —vem sendo pauta de muitos debatese representa um dos maiores desafi-os para gestores e profissionais deSaúde. O que de fato foi implantado?Qual é o SUS que temos hoje?

Na opinião do coordenador da 9ªConferência Nacional de Saúde, Nel-son Rodrigues dos Santos, conhecidocomo ‘Nelsão’, somente a universali-dade, a municipalização e o controlesocial se realizaram de fato. Aomunicipalizar o sistema, ou seja, ao darmaior autonomia aos municípios nagestão dos serviços de saúde, foi pos-sível universalizar o SUS, ampliando a

participação da sociedade no mesmo.“Por meio da municipalização, houvea inserção de segmentos enormes dapopulação no SUS”, ressaltou Nelsão.

Para ele, a integralidade, a eqüi-dade e a regionalização permanece-ram “invisíveis” ou, como afirmou emsua participação no debate ‘Desafiosda Doze’, promovido em setembro pelaFiocruz, “adquiriram uma visibilidadepontual por conta do esforço de al-gumas secretarias municipais”. Estesseriam princípios complexos e que nãoforam devidamente compreendidos.

Para o secretário de saúde deGoiânia, Otaliba Libâneo, a integra-lidade e a eqüidade talvez sejam osmais complexos princípios do SUS, poisimplicam em mexer no sistema comoum todo, ou seja, na Atenção Básica,na Atenção de Média e Alta Complexi-dade. Este foi seu recado, ao falarsobre ‘Atenção Integral à Saúde’ noXIX Conasems. Isso significa refletirsobre a integração dos serviços de

saúde, a resolutividade, os vínculosentre população atendida e trabalha-dores de saúde, a humanização dosserviços e ações em saúde, os meca-nismos de participação e controle so-cial e a intersetorialidade.

Um dos fatores, segundo ‘Nelsão’,responsáveis pela não-implantação daintegralidade e da eqüidade foi o finan-ciamento inadequado aos propósitos do

As ilustrações de nossas matériascentrais sobre a 12a CNS são de

Leonardo da Vinci.Na página 8, o desenho As pro-

porções do homem representa a bus-ca da forma física ideal. A saúde quequeremos tem como ideal sujeitos im-perfeitos, mas em equilíbrio.

Nesta página, o estudo para aAdoração dos Magos revela as eta-pas intermediárias de uma obrainacabada. Assim como ela, o SUS éuma estrutura complexa e em per-manente construção.

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SUS. Por isso que, hoje, reorganizar eimplantar uma política de financiamen-to efetiva torna-se prioridade para acontinuidade do sistema, inserindonessa discussão o cumprimento daEmenda Constitucional 29 (EC-29). “Atéhoje continuamos a trabalhar com cer-ca de US$ 185 anuais por habitante,quando os países mais desenvolvidose com melhores sistemas, como aEspanha, o norte da Itália, a Inglater-ra, a Escandinávia toda e o Canadá che-gam a gastar de US$ 1.500 a US$ 2.500dólares. Além disso, 45% dos US$ 185anuais por habitante de que dispomosé de origem pública. Enquanto que,nos países citados, esse percentual éde mais de 70%”, comparou.

Compreende-se por universalida-de o dever que tem o Estado de aten-der as necessidades de saúde de todocidadão brasileiro. A integralidade vemsendo entendida como a articulaçãoentre as várias áreas de conhecimentoe a busca pelas reais necessidadesde saúde da população, voltadas paraa promoção, prevenção da Saúde ecura da doença. A eqüidade é a ta-refa que tem o Estado de reconhe-cer que todos têm direito à Saúde,respeitando a diversidade entre asregiões do país.

Um outro princípio também malimplantado foi o da regionalização. Naopinião de ‘Nelsão’, a regionalização foiposta em prática sob muita pressão.“Para fazer valer esse princípio, o Con-selho Nacional de Saúde (CNS) apro-vou a publicação da Norma Operacionalde Assistência à Saúde (Noas), em ja-neiro de 2001, cujos fundamentos sãoo de integrar os sistemas municipais desaúde, sob a coordenação e mediaçãodo gestor estadual. No entanto, a Nor-ma passou a ser desfigurada devido àpublicação de cerca de oito portariasnormativas federais por dia útil”, expli-cou. A regionalização vem sendo com-

preendida como a forma de os estadoscoordenarem e mediarem as ações dossistemas municipais de saúde.

De acordo com a publicação doConselho Nacional de Saúde (CNS), ‘OCNS e a construção do SUS’, a neces-sidade de implantar a regionalizaçãose deve ao fato de que “esse princí-pio viabiliza a integralidade da aten-ção, ordenando as referências e or-ganizando o acesso a todos os níveisde complexidade”. Além disso, ele“aumenta a eficácia global no uso dosrecursos do sistema, ajustando a ca-pacidade instalada de produção, e asdemandas. Permitir a melhor identifi-cação das necessidades de investi-mento, ensejando a preparação depolíticas e planos mais integrados edinamizar a descentralização são ou-tras boas justificativas para se implan-tar a regionalização”.

Atualmente, como nos falou‘Nelsão’, a regionalização poderáfuncionar de fato junto com amunicipalização. Para ele, esse prin-cípio deve ser encarado “como umeixo estratégico, que vai possibilitara construção de novo modelo, no quala integralidade, a eqüidade e a uni-versalidade serão trabalhadas emcada região do país”.

DESCENTRALIZAR OU

DESCONCENTRAR?

Para Gilson Carvalho, a diretrizda descentralização, que orienta osprincípios da municipalização, daregionalização e da participação so-cial, acabou sendo confundida peladesconcentração das ações, carac-terizada por uma política pela qual oMinistério da Saúde fica com os re-cursos, determina o que deve ser fei-to, condiciona o repasse às suas de-terminações centrais e iguais paratodo o país e, como escreve em seuartigo, “só financia o que quer e damaneira que quer”.

Descentralizar competências eações entre as três esferas de gover-no, na opinião de Gilson, significatransferir o poder de fazer e o meiode fazer e não apenas ditar, de cima

para baixo, o que fazer. “Poder fazeré a possibilidade de decidir o quefazer de forma adequada a cada mu-nicípio. Já o meio para fazer são osrecursos financeiros corresponden-tes e que são arrecadados pelo Mi-nistério da Saúde, mas que são pro-priedade das três esferas degoverno”, ressaltou. Para ‘Nelsão’, talprincípio deve ser visto como eixo es-tratégico de construção do sistema,dando maior autonomia aos gestoresde saúde. “A partir dele”, explicou,“devemos pensar em ações que ve-nham manter equilibradas as relaçõesentre as três esferas de governo”.

Apesar de dar maior autonomia aosgestores municipais, a descentralizaçãoleva a crer que cada um pode agir comoachar melhor. Portanto, segundoGastão, para que tal princípio nãofragmente o SUS, é necessário am-pliar os fóruns de discussões, comoas Comissões Intergestores Tripartite(CIT) e Bipartite (CIB), considerandoque a autonomia de cada unidadedo país está condicionada à Consti-tuição brasileira, à lei que regulamen-ta o SUS — Lei Orgânica 8080 —, aoConselho Nacional de Saúde e aoscontratos estabelecidos.

A proposta da descentralizaçãovisa a fortalecer o comando únicodo município, inserindo-o em umarede hierarquizada e regionalizadade Atenção à Saúde por meio depactuações entre os três níveis degoverno (federal, estadual e muni-cipal). Como explicou o secretárioexecutivo do Ministério da Saúde,Gastão Wagner, no último CongressoNacional de Secretários Municipais deSaúde (XIX Conasems), ocorrido emabril de 2003, a descentralização foientendida como apenas uma formade organizar o sistema e uma ma-neira de garantir a universalidade.Nesse sentido, podemos entendera universalização, a integralidade eeqüidade como princípios éticos oudoutrinários, e a descentralização,a regionalização e a participação po-pular como princípios organizacionaisdo sistema.

Minha expecta-tiva é que os de-legados tenhama sensibilidadede aprovar pro-postas que supe-rem as iniqüida-des a inda ex i s tentes , quehumanizem o atendimento no SUSe que consolidem a participaçãopopular, fazendo avançar a Re-forma Sanitária no País.

Ary Carvalho de Miranda, Vice-Presidente de Serviços de Re-ferência e Ambiente da Fiocruze Coordenador da participa-ção da Fiocruz na 12ª CNS.

O RADIS ADVERTE:

Viajar faz bem para a mente,amplia os horizontes e podeser determinante para o fu-turo da saúde no país.

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Cláudio Cordovil

Com pouco dinheiro, a única ma-neira de fazê-lo render é empregá-

lo melhor. Os recursos públicospara o financiamento do SUS sãoescassos. Segundo dados oficiais,em 2002, o Ministério da Saúde apli-cou aproximadamente 24,7 bilhõesde reais em sua área de atuação.No mesmo ano, as secretarias es-taduais e do Distrito Federal entra-ram com 10,3 bilhões de reais. Jáas secretarias municipais contribu-íram com 11,6 bilhões de reais. So-mando tudo, naquele ano o SUS re-cebeu 46,6 bilhões de reais. Parase avaliar a tímida contribuição doEstado no atendimento às deman-das de saúde da população, bastadizer que os gastos privados comconsultas, internações, exames delaboratório, compra de medicamen-tos, planos e seguros de saúde fo-ram estimados em 57 bilhões dereais no mesmo período.

Uma outra maneira de avaliara escassez de recursos públicospara a Saúde é verificar quanto oBrasil gasta ao ano por pessoa: 200dólares. Cifra bastante inferior aoque se gasta nos países desenvol-vidos, num montante que vai de1.300 dólares a 2.500 dólares porpessoa/ano.

Como se utilizam os escassos re-cursos disponíveis para atender a saú-de da população? Sabendo-se que alógica dos gastos em saúde em todomundo é de custos crescentes — comgastos com tecnologia, especializaçãoe fragmentação das especialidades—, como garantir verbas no futuro?Para isso, o governo tem algumas

Gerenciar melhor recursos escassos:o desafio do governo

propostas. “Uma das estratégiasfundamentais para reorganização domodelo do SUS é o desenvolvimentonacional da atenção básica, centradano Programa Saúde da Família (PSF)”,afirmou o Secretário Executivo doMinistério da Saúde, Gastão Wagner,em teleconferência recente para apromoção da 12ª Conferência Naci-onal de Saúde. O governo quer quea porta de entrada do cidadão no Sis-tema Único de Saúde seja a atençãobásica “e não as emergências, o es-pecialista e o hospital, que encare-cem a assistência, sem benefícios àpopulação”. Ao longo de quatro anos,o governo pretende que 70% das fa-mílias brasileiras estejam inscritas no

PSF. “Com atenção básica, resolve-mos 80% dos problemas de saúde”,garante Gastão Wagner.

No SUS que temos, as regiõesSul, Sudeste e Centro-Oeste já têmuma boa capacidade instalada como modelo de atenção convencionalà saúde. No SUS que queremos, omodelo de atenção básica precisacrescer nestas regiões que concen-tram 70% da população brasileira,segundo Gastão Wagner.

Para o Secretário Executivo doMinistério da Saúde, a reorganizaçãodo modelo de saúde depende de umaverdadeira reforma cultural. “A pers-pectiva médica tradicional, aindaque tenha elementos muito impor-tantes, é insuficiente. Temos quereformular as práticas de promoçãoe prevenção e mudar a forma comofazemos clínica. A ação terapêuticanão pode estar centrada apenas nacirurgia e no medicamento. A edu-cação em saúde, o estilo de vida, aalimentação, a sexualidade, todossão elementos fundamentais que têmque ser incorporados ao cotidianodas praticas dos médicos, dentistas,enfermeiros, psicólogos, fisiotera-peutas, do conjunto de profissio-nais de saúde.

Aatenção básica engloba oconjunto de ações de aten-

ção dirigidas às pessoas e ao am-biente que cubram as necessi-dades de promoção da saúde emcada contexto social, a preven-ção de enfermidades, lesões eriscos prevalentes e o atendi-mento básico e efetivo dos en-fermos (solução de enfermida-des e lesões comuns e primeiroatendimento das mais comple-xas). A atenção básica deve es-tar facilmente acessível à todaa população e ajustada às con-dições epidemiológicas locais.No Brasil, dada a diversidade dosMunicípios, é ainda inviável dis-por de uma atenção básica com-pleta, de resolutividade deseja-da, em todos eles.(Fonte: Ministério da Saúde. OCNS e a construção do SUS.Brasília, 2003)

OMinistério da Saúde criou,em 1994, o Programa Saúde

da Família (PSF). A estratégia doPSF prioriza as ações de preven-ção, promoção e recuperaçãoda saúde das pessoas, de formaintegral e contínua. O atendi-mento é prestado na unidadebásica de saúde ou no domicí-lio, pelos profissionais (médicos,enfermeiros, auxiliares de enfer-magem e agentes comunitáriosde saúde) que compõem as equi-pes de Saúde da Família. Assim,esses profissionais e a popula-ção acompanhada criam víncu-los de co-responsabilidade, oque facilita a identificação e oatendimento aos problemas desaúde da comunidade. Diantedos ótimos resultados já alcan-çados, o Ministério da Saúdeestá estimulando a ampliação donúmero de equipes de Saúde daFamília no Brasil.(Fonte: site do Ministério daSaúde, www.saude.gov.br)

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OConselho Deliberativo da Fun-dação Oswaldo Cruz (CD-Fiocruz), com o objetivode contribuir com as dis-

cussões nos grupos e plenárias da 12a

Conferência Nacional de Saúde Sér-gio Arouca, encaminhou à organiza-ção da Conferência, para que fossesubmetido à apreciação dos delega-dos um documento com suas tesespara os dez eixos temáticos da Con-ferência, que tem como referênciao documento oficial divulgado peloMinistério da Saúde.

As propostas e diretrizes apresen-tadas, que devem ser consideradascomo emendas aditivas ao documentodo Ministério, foram elaboradas a par-tir de discussões em grupos de traba-lho compostos por profissionais dasáreas de ensino, pesquisa, assistência,produção, controle de qualidade, ges-tão, informação e comunicação, con-solidadas durante uma Plenária nos dias22 e 23 de outubro e aprovadas pelosdirigentes que integram o CD-Fiocruz.

CONSIDERAÇÕES GERAISNos 15 anos de vigência, o Sistema

Único de Saúde consagrou-se como amais bem-sucedida política setorial bra-sileira. Seu desenho institucional demo-crático e participativo, seu caráteruniversalista e socialmente redistributivo,e sua qualificação técnica para a ofertade atenção integral à saúde constitu-em um marco de inclusão social e po-lítica na sociedade brasileira.

A persistência, entretanto, deum contexto macroeconômico gera-dor de desigualdade social “susten-tada” (desemprego, injustiça fiscal,ineficiência previdenciária) penalizaas camadas inferiores, mantendo am-plos contingentes populacionais sobforte risco social e sanitário, situa-ção agravada pelas seculares desigual-dades regionais.

A realização da XII CNS SérgioArouca apresenta-se, então, como aoportunidade não só de formular umaagenda de aperfeiçoamento do SUS,mas também de apontar para uma agen-

da de requalificação dapolítica de saúde, reto-mando a bandeira dareforma sanitária emsua dimensão de refor-ma social, necessária àconstrução da saúde eda vida com qualidade.

Isso certamente im-põe a superação da idéiado setor saúde comoconsumidor voraz de re-cursos, em competiçãocom áreas “produtivas”ou mesmo com áreas“assistenciais”, e a suavalorização como com-ponente essencial dodesenvolvimento huma-no, como parte da ca-deia produtiva num mo-delo de desenvolvimentointegrado e sustentá-vel, entendido como objetivo e mo-tor do desenvolvimento econômico.

A busca da EQUIDADE torna-seaqui um ponto focal de alta priorida-de. Meta constitucional inalcançávelcom os meios disponíveis no âmbitoestrito dos serviços de saúde, aequidade depende da mobilização devontades e recursos que extrapolamos limites setoriais. Assumir as desi-gualdades sociais como o principalentrave à saúde e à vida com quali-dade para todos, e estas como im-perativo ético e exigência de umaeconomia sustentável, aponta paraa urgência de uma ampla coalizãopela EQUIDADE que, devendo envol-ver governos e sociedade, pode edeve ser suscitada pelo setor saú-de, considerado na amplitude e nalegitimidade em que se apresenta eexpressa nesta XII CNS.

Caminhar do “SUS que temos paraa Saúde que queremos”, importa en-tão no aprofundamento da reforma sa-nitária e na sua atualização, nas diver-sas dimensões em que foi formulada:

Como reforma social, restau-rando o conceito de seguridadesocial como símbolo e e estratégia

do princípio de solidariedade indis-pensável para o estabelecimento depolíticas de financiamento e pres-tação que, progressivas, possam en-frentar a desigualdade. Também arti-culando em espaços supra-setoriaispolíticas integradas transetorial-mente, no plano programático,operacional e orçamentário, dirigidasa populações e regiões concretas,visando o seu desenvolvimento hu-mano e integral.

Como reforma de Estado, aprofun-dando a experiência de participaçãonos organismos de controle socialdo SUS, na direção de consolidarprocessos de gestão participativa,cada vez mais inclusivos da cidada-nia no desafio constante de formu-lar e implementar políticas universaispara a qualidade de vida.

Como reforma cultural, intensi-ficando o esforço de qualificação ehumanização do cuidado a indivíduose coletividades, ampliando suaresolutividade dos serviços, num pro-cesso constante de empoderamentode profissionais e usuários, na pers-pectiva da construção constante dacidadania engajada e solidária.

Fiocruz divulga suas contribuiçõespara os eixos temáticos da 12ª CNS

fiocruz na 12ª Cns

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12A CONFERÊNCIA NACIONALDE SAÚDE SERGIO AROUCA

Relação de diretrizes e propos-tas por eixo temático, apresentadaspela Fiocruz, em adição ao documentooficial do Ministério da Saúde

— EIXO TEMÁTICO I —DIREITO À SAÚDE

Além das diretrizes propostaspelo documento do Ministério da Saú-de para a Conferência, principalmen-te no que se refere à necessidadede integração com o Sistema deSeguridade Social e o fortalecimentodo papel regulador do Ministério nasrelações com o setor privado, desta-camos a necessidade de:� Assegurar à população, através depolíticas públicas intersetoriais, opor-tunidades iguais de acesso a serviçospúblicos como educação, atenção asaúde e moradia.� Legitimação pela sociedade, gover-no e partidos políticos dos princípiose diretrizes do SUS e efetivação dalegislação vigente.

— EIXO TEMÁTICO II —A SEGURIDADE SOCIAL

E A SAÚDE� Restabelecer o pacto da SeguridadeSocial com vistas a fortalecer as trêsáreas — saúde, previdência e assis-tência — afirmando o papel daSeguridade na política de proteçãosocial brasileira.� Restabelecer o pacto de solidarie-dade na repartição dos recursos demodo a garantir os princípios consti-tucionais de universalidade, justiçasocial, eqüidade na forma de partici-pação do custeio e democracia nagestão administrativa.� Constituir uma instância federalcom a representação das três áreasque tenha por objetivo o planejamen-to de ações integradas para a políti-ca de Seguridade — uma ComissãoInterministerial de Planejamento daSeguridade Social.� Recompor o Conselho Nacional deSeguridade Social no contexto de umnovo pacto de Seguridade Social, es-tabelecendo a participação dos diver-sos segmentos sociais e com a funçãode acompanhamento da política.� Garantir um canal de comunicaçãopermanente entre os Conselhos deSaúde (nacional, estadual e municipal)e o Conselho Nacional de Seguridade

Social, possibilitando a conformação deuma agenda mais abrangente sobre aárea social nos conselhos de saúde.� Revisar a Lei Orgânica da SeguridadeSocial e outros instrumentos legais einstitucionais que fundamentaram apolítica de Seguridade até a presentedata, propondo a sua substituição ouemenda quando necessário.

— EIXO TEMÁTICO III —A INTERSETORIALIDADEDAS AÇÕES DE SAÚDE

� Estabelecer uma instância no apare-lho estatal, acima das agências setoriais(ministérios, secretarias), encarrega-da de produzir e conduzir as iniciati-vas transversais orientadas à produçãode saúde e bem-estar, dialogando comos diversos segmentos da sociedade edo Estado.� A intersetorialidade deve ser contem-plada em programas dirigidos a popu-lações concretas, com objetivos, ges-tão e orçamentos próprios, submetidosa procedimentos de avaliação quepermitam dimensionar seus impactossobre a saúde e a qualidade de vida.

— EIXO TEMÁTICO IV —AS TRES ESFERAS DE GOVERNO

E A CONSTRUÇÃO DO SUS� Desenvolver estratégias intergover-namentais de financiamento (setoriais eextra-setoriais), de alocação de recur-sos (integração de recursos de investi-mento e de custeio), de provisão deserviços (hierarquizada e regionalizada),capazes de reduzir as desigualdades exis-tentes entre municípios, estados e re-giões, no acesso da população às açõese serviços e na capacidade do SUS res-ponder às diferentes necessidades so-ciais de saúde locais.� Desenvolver estratégias intergover-namentais de recuperação de condi-ções dignas de trabalho para todos osprofissionais de saúde, capazes de ga-rantir a eficiência e eficácia da ges-tão pública setorial.� Desenvolver estratégias intergover-namentais de combate a qualquer tipode discriminação/diferenciação precon-ceituosa no atendimento à população.� Desenvolver estratégias intergover-namentais de mapeamento das distin-tas realidades sanitárias no territórionacional e de incentivo à experimen-tação de soluções institucionais locaiscriativas, orientadas à resolução de pro-blemas específicos de cada localidade.

� Desenvolver estratégias intergover-namentais de novas formas de comuni-cação e interação gerencial entre asadministrações públicas (intra eintergovernamentais), visando à amplia-ção necessária do campo de interven-ções públicas setoriais e extra-setoriais,de ação direta e indireta sobre a saúde,capazes de produzir sinergias com impac-to significativo sobre as condições de saú-de do ambiente e da coletividade.� Desenvolver estratégias intergover-namentais de novas formas de comuni-cação e interação gerencial entre uni-dades de atendimento básico, de médiae alta complexidade, capazes de orga-nizar uma oferta de serviços compatívelcom as necessidades locais e regionais.

— EIXO TEMÁTICO V —A ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO

À SAÚDE� Priorizar as ações de melhor custo-utilidade e maior impacto, do pontode vista da sociedade, nos processosde incorporação e difusão detecnologias/procedimentos de saúde(público e suplementar).� Elaborar, sob a coordenação do Mi-nistério da Saúde, diretrizes clínicasbaseadas em evidências científicas debenefício e de custo-utilidade, doponto de vista da sociedade, comosubsídio fundamental às atividades deplanejamento e gestão da promoção,prevenção e recuperação da saúde emtodos os níveis de complexidade (pú-blico e suplementar).� Desenvolver mecanismos adequadosà avaliação custo/efetividade de pro-gramas, produtos, tecnologias e servi-ços de saúde.� Implantar a atenção básica comouma estratégia para a organização darede de serviços de saúde, tendocomo referencial o Programa de Saú-de da Família.� Consolidar a estratégia de organiza-ção da atenção básica de forma in-tegrada com as demais políticas (médiae alta complexidade) e áreas (vigilânciaepidemiológica e sanitária), em todos osníveis de gestão do SUS, para oenfrentamento resolutivo dos problemasde saúde da população brasileira.� Avaliar as ações do setor saúde (pú-blico e suplementar), através de ins-trumentos e padrões que focalizem oobjetivo das políticas do setor (produ-ção da saúde, de forma ampliada, efici-ente e equânime), particularmente a

DIRETRIZES E PROPOSTAS

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condição de saúde alcançada vis a visa esperada. A “parceria congênita”entre o SUS e os hospitais universitári-os (HUs) está prevista no artigo 45 daLei Orgânica da Saúde (LOS). Mas, ques-tões como a falta articulação entre osgestores do sistema e a crise financei-ra dos HUs têm inviabilizado essaintegração. Além da atenção per se osHUs poderiam assumir um papel cen-tral na política de avaliação tecnológicaem saúde. Como diretriz geral, pro-põe-se, um movimento de integraçãoregional e sistêmica dos HUs no SUScom uma ampliação progressiva daresponsabilização desses hospitais pelacobertura da alta e média complexida-de da atenção. Para tanto, se fará ne-cessário um considerável incrementodos recursos destinados aos seus in-vestimentos e custeio, que deverão serprovenientes dos fundos municipais eestaduais de saúde, do Fator de In-centivo ao Desenvolvimento do Ensinoe Pesquisa em Saúde — FIDEPS, alémdos advindos do aumento da produ-ção de serviços. Como contrapartida,por meio de um processo de induçãopactuada da política, a oferta dessesserviços deverá estar orientada pelasnecessidades de saúde da população.

— EIXO TEMÁTICO VI —GESTÃO PARTICIPATIVA

� Que o Conselho Nacional de Secre-tários Estaduais de Saúde (CONASS), oConselho Nacional de Secretários Mu-nicipais de Saúde (CONASEMS) e o Con-selho de Secretários de Saúde de cadaestado (COSEMS) celebrem um pactocívico e ético destinado a transformaras relações autoritárias entre gestorese conselheiros, em relações de respei-to pelo outro, de aceitação da dife-rença e de atitudes voltada para a de-fesa do bem comum e que o Ministroda Saúde e o Conselho Nacional de Saú-de o reconheçam e assumam o com-promisso de zelar pela efetivação dopacto cívico e ético na saúde.� Garantir, através de instrumentos legais,o caráter deliberativo dos Conselhos deSaúde, assim como a representatividadee legitimidade dos conselheiros, con-dição essencial para a efetividade docontrole social do SUS.� Que os trabalhadores da saúde, semdistinção do cargo, se transformem emagentes da promoção de valores éti-cos, participativos e democráticos emtodos os níveis da gestão do SUS.� Que a política nacional de Ouvidoriado SUS, abrangendo as três esferas degoverno, estabeleça mecanismos quegarantam a pronta resolução dos pro-blemas identificados, além de gerar in-formações para apoio e qualificaçãoda gestão em saúde.

— EIXO TEMÁTICO VII —TRABALHO NA SAÚDE

� Fortalecer políticas de valorização doserviço público e de desprecarizaçãodo trabalho. Implantar mesas de nego-ciação — formadas por órgãos gover-namentais, Conass, Conasems, repre-sentações sindicais de trabalhadores— para discussão de assuntos relacio-nados à desprecarização do trabalho,à ampliação dos postos de trabalho eà regulamentação das profissões.� O Poder Público deve viabilizar rela-ções de trabalho que garantam direi-tos trabalhistas e previdenciários aotrabalhador. Isto significa minimizar aterceirização, eliminando paulatina-mente a mediação de empresas, ONGse cooperativas, substituindo esses vín-culos por formas de contratação emacordo com a CLT.� O Ministério da Saúde e os Gestoresdo SUS devem recuperar a legalidadedo tipo de vínculo na administraçãopública, fortalecer o cumprimento dosDireitos nas relações trabalhistas efortalecer políticas e mecanismos delegitimidade social, direito à saúde egeração de emprego.� Fortalecer e criar instâncias de gestãodo trabalho e da educação na saúde emníveis federal, estadual e municipal.� Garantir verba destinada à formaçãodos trabalhadores da saúde.� A educação profissional em saúde deveser parte significativa de um projetonacional, baseado num conceito demo-crático de nação e de qualificação pro-fissional na saúde, com garantia da edu-cação básica a todo trabalhador.� Fortalecer a idéia de educação po-litécnica — que tem o trabalho hu-mano como princípio educativo eque é um projeto educacional quealia a formação técnica e científicacom a formação ética, política e cul-tural — ainda no ensino médio, me-diante a necessidade de formar tra-balhadores no campo da Saúde.Reivindicar laboratórios e ambientesbem qualificados nas instituições deensino que formem profissionais daSaúde — em nível técnico e na edu-cação superior.� Nortear a qualificação/formação pro-fissional dos trabalhadores da saúdesegundo os princípios da reforma sani-tária, da humanização da atenção à saú-de e tendo o SUS como estratégia dereordenação setorial e institucional.� Fortalecer as Escolas Técnicas deSaúde do SUS, garantindo verbas paraa construção de escolas (principalmen-te na Região Norte); assegurando au-tonomia política, financeira e jurídico-administrativa; implementando eampliando capacidade de realização depesquisas e de formação e qualifica-

ção de docentes, gestores e profissi-onais de apoio administrativo nas áre-as de Saúde e Educação.� Apoiar a Educação Permanente paraa geração de informações sobre ne-cessidades e demandas para as estru-turas permanentes de educação —Escolas Técnicas do SUS e Escolas deSaúde Pública.� Apoiar os Pólos de Educação Perma-nente no campo da gestão da formaçãoem saúde, estabelecendo espaços de-mocráticos de interlocução entre asinstituições de ensino e o serviço.� Reorientar a formação em saúde, emparticular a do profissional médico, va-lorizando a perspectiva integral dos pa-cientes nas práticas de cuidado à saú-de, em especial no atendimento clínico.� Garantir, em articulação com o Mi-nistério da Educação, a qualidade doensino de graduação dos profissionaisde saúde, especialmente nas institui-ções privadas, assegurando em todosos cursos a formação em saúde públi-ca e a valorização da integralidade daatenção.� Fomentar a criação de espaços-tem-pos nos serviços de saúde para ativi-dades técnicas continuadas de desen-volvimento de recursos humanos.� Estimular a participação dos trabalha-dores de saúde nas instâncias de ges-tão colegiada dos serviços de saúde.

— EIXO TEMÁTICO VIII —CIÊNCIA E TECNOLOGIA

E A SAÚDE� Construção pactuada de uma agen-da nacional de prioridades de pesqui-sa em saúde e de ações intersetoriaispara o desenvolvimento tecnológicoque atendam às necessidades do SUS,com alocação de recursos para suaimplementação, garantindo sua gestãotransparente e democrática, atravésde colegiados que contem com repre-sentantes da comunidade científica.� Realizar audiências públicas com osgestores de saúde, a comunidade ci-entífica e as agências de financiamen-to para discussões da viabilidade epossibilidades técnicas da execuçãoda agenda definida.� Estabelecer mecanismos de coorde-nação entre os atores institucionaisde modo a evitar o divórcio da Políticade Saúde, da Política de C&T (Produ-ção & Desenvolvimento), da Política deEducação e da Política Industrial.� Fomentar a pesquisa em saúde, atra-vés de instância vinculada ao MS paraarticulação vertical e horizontal, tendocomo eixo uma agenda de prioridades.� Induzir a formação de redes de pes-quisa com base em uma agenda deprioridades, bem como de novos gru-pos de pesquisa em áreas que neces-

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10sitam de maior apoio em função dosinteresses do SUS.� Estabelecer com o MCT e o MEC arevisão de modelos de avaliação de pes-quisadores e de atividades de pesqui-sa, ampliando, possivelmente, os indi-cadores de relevância e impacto, econsiderando-se tanto os parâmetrosinternacionais, que não podem ser des-prezados, quanto às especificidades darealidade brasileira.� Estabelecer sistemas de reconheci-mento baseados em modelos de avali-ação da relevância e impacto das pes-quisas de interesse do SUS.� Estabelecer mecanismos para asse-gurar investimentos em centros dedesenvolvimento tecnológico voltados,sobretudo, para a obtenção de pro-dutos capazes de serem efetivamentetransferidos para o SUS, estimulandoa pesquisa regional.� Fomentar a produção de insumosestratégicos para a saúde, com a mo-dernização e ampliação da capacida-de produtiva pública de insumos parao SUS — garantindo maior flexibilidadegerencial e operativa — e induzindoprocessos de inovação, capazes dearticular a base de pesquisa com o sis-tema produtivo industrial.� Desenvolver mecanismos adequadosà regulação da produção e do merca-do de bens e serviços de saúde.

— EIXO TEMÁTICO IX —FINANCIAMENTO DO SUS

� Em função da ainda insuficiente dis-ponibilidade de recursos para a aten-ção à saúde da população, propõe-seque sejam entendidas como despesasem “ações e serviços públicos de saú-de” aquelas despesas destinadas aações e serviços públicos de saúde deacesso universal, igualitário e gratuitoe que, ao mesmo tempo, sejam açõese serviços de responsabilidade espe-cífica do setor saúde.� Ampliar o quantitativo de recursosdo setor saúde sem prejuízo de provi-dências urgentes no sentido de au-mentar a efetividade e a eficiência dosetor e de outras ações de saúde.� Elaborar critérios e utilizar a avaliaçãotecnológica, com base no ponto de vis-ta da sociedade, para a introdução efinanciamento (Tabela SUS, Rol ANS) detecnologias/procedimentos no sentidode atingir os objetivos do setor e desubsidiar o encaminhamento de ques-tões advindas do Poder Judiciário.� Revisar profundamente a forma dealocação e repasse de recursos, es-pecialmente, a PPI (pagamento porprocedimentos e internação), e a for-ma de remuneração de serviços, emum processo articulado com a revisãodo modelo vigente de produção de

serviços, conforme as diretrizes do EixoV, no sentido de propiciar e valorizar aprodução de benefícios de saúde, deforma eficiente e equânime, e de nãoprojetar para o futuro as distorçõesatuais da oferta de serviços.

— EIXO TEMÁTICO X —INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO� Constituir um fórum amplo com aparticipação de governo, instituiçõesde pesquisa, sociedades científicas econtrole social para a definição deestratégias de longo prazo, para supe-rar os problemas relacionados aos sis-temas de informação em saúde e àarticulação intersetorial de sistemas.� Melhorar a cobertura e a qualidadedos dados das estatísticas vitais, do pron-tuário do paciente e dos sistemas deinformações da assistência à saúde e denotificação compulsória de agravos.� Estabelecer novas estratégias e pro-cessos de coleta e análise de dados debase populacional e territorial com vis-tas à obtenção de informações estra-tégicas complementares sobre o setor.� Produzir dados e elaborar sistemasde informação em saúde, focalizandoa geração de informações e aoperacionalização de instrumentos epadrões para a produção eficiente eequânime de saúde, sem prejuízo dasinformações necessárias ao pagamen-to de serviços.� Disponibilizar acesso aos dados es-tatísticos, gerenciais, orçamentáriose financeiros do SUS, em todas as suasesferas, para os gestores e popula-ção em geral.� Criar instrumentos para ampliação doacesso e disseminação da informaçãocientífica e tecnológica em saúde na-cional e internacional.� Fortalecer e articular as bibliotecasespecializadas em saúde como fórumcooperativo.� Fomentar estudos para aimplementação do uso de software li-vre nas instituições públicas de saú-de, nos casos em que couber e semprejuízo da qualidade, precedido daconstituição de grupos locais de tra-balho para avaliar as questões técni-cas e tecnológicas envolvidas.� Prover conectividade à internet nasescolas, secretarias estaduais e muni-cipais e conselhos de saúde, garantin-do tarifação privilegiada, como estra-tégia de inclusão digital.� A Política de Informação deverá in-cluir um forte componente de pesquisae desenvolvimento de soluções, con-templando tanto a área de Informa-ção como a de Informática, caminhopelo qual será possível constituir econsolidar a capacitação conceitual,metodológica, tecnológica e gerencial

requerida para o desempenho de umefetivo papel estratégico.� Fortalecer as atividades de ensino ecapacitação dos profissionais de Infor-mação em Saúde, em todos os níveis.� Promover a colaboração entre institui-ções brasileiras dedicadas à educação eà divulgação cientificas em saúde.� Articular a Rede Pública Nacionalde Comunicação e Saúde. A 12ª deveapontar uma instância responsávelpelo mapeamento e convocação deseus componentes — nas esferas mu-nicipal, estadual e nacional —, parapactuação da agenda e compromis-sos comuns.� Descentralizar ações e verbas decomunicação em saúde, com contro-le social e com definição clara das atri-buições das três esferas de governos,pactuadas nas instâncias apropriadasdo SUS, identificando e garantindo desuas fontes de financiamento, assimcomo ocorre nas demais áreas da saú-de em cada esfera de governo.� Definir uma instância responsável pelaformulação e acompanhamento dapolítica de comunicação em saúde,coordenada pelo Ministério da Saúde,com participação e representação dediferentes segmentos do governo e dasociedade civil organizada.� Criar um fórum intersetorial sobre apolítica de comunicação em saúde.� Assegurar maior articulação da ins-tância de formulação e acompanha-mento da política de comunicação,coordenada pelo Ministério da Saú-de, com o Conselho Nacional de Co-municação Social/Congresso Nacio-nal, assim como a utilização dosrecursos da futura TV digital brasi-leira como estratégia de inclusãosocial na saúde.

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SERVIÇOS

EVENTOS

I I EN CO N T R O DE E T N O B I O L O G I A E

ETNOECOLOGIA DA REGIÃO NORTE

O encontro, que traz o temaEtnoconhecimento da Amazônia:

Saberes, Diversidade e Vida tem o ob-jetivo de trocar experiências e forta-lecer o diálogo entre os diversos sabe-res, como também promover aintegração de pesquisadores e comu-nidades diretamente envolvidas com oetnoconhecimento. O evento servirápara: promover e divulgar os estudosem etnoconhecimento na região nor-te entre pesquisadores, extensionistas,estudantes, comunitários, agênciasfinanciadoras e trabalhadores naetnobiologia e etnoecologia; formularpropostas que servirão de termo dereferência para futuras incursões emEtnobiologia e Etnoecologia na Ama-zônia; e fortalecer a atuação e divul-gação da SBEE na Região Norte. Resu-mos e trabalhos poderão ser enviadosaté o dia 10 de dezembro. Cada parti-cipante poderá apresentar, no máxi-mo, dois trabalhos como autor princi-pal, por inscrição. O encontro érealizado pela Sociedade Brasileira deEtnobiologia e Etnoecologia (SBEE),junto com o Núcleo de Estudos Ru-rais e Urbanos Amazônicos (NERUA) eo Instituto Nacional de Pesquisas daAmazônia (INPA).Data: 15 a 17 de dezembroLocal: Chapéu de Palha do Lago Ama-zônico / Bosque da Ciência / INPA —AmazonasMais informações: [email protected] [email protected]

I ENCONTRO SOBRE PERCEPÇÃO E CONSER-VAÇÃO AMBIENTAL

Oencontro, promovido pela Enge-nharia e Consultoria Ambiental

(ALEPH), discutirá o tema “A Inter-disciplinaridade no Estudo da Paisa-gem”. O objetivo do evento é o dereunir pesquisadores, professores eoutros profissionais que desenvolvemtrabalhos sobre a questão, de forma apropiciar o intercâmbio e difusão dosdiferentes estudos e abordagensinterdisciplinares. O prazo de inscri-ção e de envio de resumos para pu-blicação nos anais do encontro se en-cerrou no dia 14 de novembro.

Data: 28 e 30 de abril de 2004Local: Rio Claro / SPMais informações pelo site:www.olam.com.br/servicos/percepcao.htm

PUBLICAÇÕES

LANÇAMENTOS — EDITORA FIOCRUZ

É Veneno ou é Remédio?Agrotóxicos, saúde eambiente, organizado porFrederico Peres e JosinoCosta Moreira, é um livroque fala sobre a real ne-cessidade do uso de agrotóxicos. Sabe-se que, por ano, o comércio de pro-dutos que fazem uso da substânciamobiliza 20 bilhões de dólares em todomundo e produz em torno de 3 milmortes por intoxicação aguda. Essapublicação revela como o uso intensi-vo e extensivo dos agrotóxicos é capazde afetar não apenas a saúde do tra-balhador diretamente envolvido, comotambém de toda a população exposta.

A M i ragem da Pós -modernidade: democra-cia e políticas sociais nocontexto da globalização,organizado por SilviaGerschman e Maria LuciaWerneck Vianna, é resultado do se-minário Globalização, Democratiza-ção e Reforma do Estado, promovi-do pela Escola Nacional de SaúdePública Sergio Arouca (Ensp), em ju-lho de 1995. O livro, que incorporao pensamento de vários autores, ofe-rece uma nova dimensão às relaçõesentre democracia e questão sociale entre políticas de ajuste e refor-mas governamentais, discutindo acer-ca das possibilidades e alcances doEstado em gerar o bem-estar da so-ciedade e dos indivíduos no mundoglobalizado. Os artigos têm comopontos comuns – e espinha dorsal –o empenho em resgatar a dimensãopolítica do processo, relativizar ainexorabilidade dos atuais diagnósti-cos ‘técnicos’ do momento atual erediscutir a democracia no capita-lismo contemporâneo. Na primeiraparte, o leitor poderá conferir tex-tos sobre globalização, democraciae questão social. Na segunda, sobreajuste e reforma do Estado. E, na ter-ceira parte, textos sobre o estadode bem-estar no contexto atual.

O Clássico e o Novo: ten-dências, objetos e abor-dagens em ciências soci-ais e saúde, organizadopor Paulete Goldenberg,Regina Maria GiffoniMarsiglia e Maria Helena de AndréaGomes, é um livro que aborda o atualpanorama histórico-social de produ-ção das ciências sociais no campoda Saúde. Esta publicação, resulta-do de trabalhos apresentados du-rante o 2º Congresso Brasileiro deCiências Sociais em Saúde, realiza-do pela Abrasco em dezembro de1999, aborda temas, como a culturae a subjetividade, as questões éti-cas da atualidade e a qualidade devida no mundo contemporâneo. In-dicado aos profissionais de saúdecoletiva, pois introduz diferentes einstigantes propostas de reflexãopara a saúde na atualidade.

PREMIAÇÃO

PRÊM I O DE INCENT I VO EM C I Ê N C I A E

TECNOLOGIA PARA O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

Artigos publicados no Cadernos deSaúde Pública, da Escola Nacional

de Saúde Pública Sérgio Arouca, daFiocruz, são premiados no concursoPrêmio de Incentivo em Ciência eTecnologia para o Sistema Único deSaúde (SUS), promovido pela Secre-taria de Ciência e Tecnologia eInsumos Estratégicos, do Ministérioda Saúde. Esse concurso tem o ob-jetivo de aproximar a produção cien-tífico-tecnológica do país às necessi-dades do SUS.

O primeiro lugar foi dado ao arti-go “Mortes perinatais evitáveis em BeloHorizonte, Minas Gerais, Brasil”, dasautoras Sônia Lansky, Elisabeth Françae Maria do Carmo Leal. Além deste, fo-ram dadas menções honrosas aos arti-gos “Mudanças significativas no processode descentralização do sistema de saú-de no Brasil”, “Estimação da mortalida-de infantil no Brasil: o que dizem as in-formações sobre óbitos e nascimentosdo Ministério da Saúde?” e “Políticasde atenção primária e reformas sanitá-rias: discutindo a avaliação a partir daanálise do Programa Saúde da Famíliaem Florianópolis, Brasil”.

Os artigos premiados estão pu-blicados no volume 18 de Cadernosde Saúde Pública.

Page 19: A saúde que queremos e o SUS que temos atégia do SUS ... · Janeiro, o lançamento oficial do livro ´Amigão da Saúde’, uma parceria en-tre Organização Pan-Americana da Saúde

RADIS 16 � DEZ/2003

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Nós que amávamos tanto a revolução...

PÓS-TUDO

Cláudio Cordovil

... A fizemos.—Isto mesmo. Fizemos a revolução!—Onde?—No Brasil! E tem mais... Foi no auge dapraga neoliberal.—Custo a crer.—É a pura verdade. E fizemos assim, comoquem não quer quase nada...

Se não, como definir este movi-mento que atingiu seu auge na décadade 90 e que relegou à lata de lixo dahistória a imagem de loucos vagando nuspor pavilhões psiquiátricos em meio aexcrementos?

No imaginário visual da minha juven-tude, as fotos do Juqueri, em São Paulo,reproduzidas fartamente nos jornais, ávi-dos por fabricar emoções, representa-vam o resumo da verdadeira crueldadehumana. Aquela desferida contra vítimasinocentes de uma racionalidade doen-te. Naquela época, esta era a epítomeda crueldade. Fernandinho Beira-Mar ain-da soltava pipa.

De fato, se a violência infligida con-tra terceiros muitas vezes nos faz pedira condenação brutal de nossos seme-lhantes, com um altivo senso de justiça,a que atribuir o tratamento desumano aque historicamente sempre submetemosestes “prisioneiros forçados da sensibi-lidade”, na feliz expressão de Artaud?

Essas reflexões me vêm à mentecom a proximidade da realização da 12a

Conferência Nacional de Saúde, momen-to de afiar utopias, de tecer alvoradas,de colocar a toupeira da História paratrabalhar, como queria Hegel.

Mas alguns combatentes da SaúdePública, velhos de guerra, amantes dobom combate, demonstram um certocansaço. Fadiga por tantas outras con-ferências em que muito se falou e pou-co se conquistou. Assim foi com a 9a,com a 10a, com a 11a. E agora? Será quevale a pena acreditar? Acho que vale.Até porque a frase preferida do nossoatual presidente não é “a globalizaçãoé inexorável”. Só isso já faz Lula mere-cer de nós um voto de confiança.

Vale! Vale sim! Imaginem vocês quequando chego à redação do Jornal doBrasil para trabalhar, em 1993, o jornalainda lança mão das tais fotografias quan-do o assunto é doença mental. Em 1998,

ninguém mais se atrevia a pegá-las noarquivo para ilustrar a loucura. Isso por-que no meio do caminho houve uma re-volução cultural, que começou a sergestada ali, de forma sistemática, na re-dação do Jornal do Brasil. Resolvemosolhar aquele flagelo humano de uma ou-tra perspectiva. Publicamos inúmerasmatérias sobre o tema. Começávamos anos perguntar sobre aquele que sofria.Fomos entrevistá-lo. Em alguns casos, pe-díamos seu nome. Era delicado, mas al-guns deles, mais impetuosos, faziam ques-tão de se identificar para os jornais.

Entrevistamos aqueles que por elesverdadeiramente se compadeciam. Nãoos psiquiatras do establishment, natu-ralmente. Estes vieram ao diretor deredação se queixar de nossa cobertu-ra. Que nos mandou prosseguir. Assimfoi se criando uma mudança culturalna sociedade, a partir da linha editori-al de um jornal, que pouco depois erareplicada por outros veículos da mídia.Passou a ser de mau gosto explorar ima-gens de arquivo de pavilhões fétidos.O fenômeno cultural começava a to-mar forma e a pavimentar os quilôme-tros finais de uma sonhada reforma psi-

quiátrica, cuja pedra fundamental fôrainaugurada na década de 70, com suasadoráveis utopias realistas.

A força inercial desta mudança cul-tural ativamente construída pela militânciaera tanta que não se precisava de lei fe-deral para caucionar o sonho. Nada queportarias do Ministério da Saúde, leisestaduais ou municipais e a ajuda decompanheiros em postos-chaves da ad-ministração pública não resolvesse. A LeiPaulo Delgado, que redireciona o modeloassistencial em saúde mental, levou 12 anospara ser aprovada. Nesse ínterim, serviude holofote a iluminar o caminho de ab-negados ativistas, entre os quais orgulho-samente me incluo. Com lei ou sem lei, areforma psiquiátrica tinha data marcadapara acontecer. Já era inevitável.

Tudo isso para dizer que acreditoque a democracia muitas vezes funcio-na por insondáveis mecanismos, que con-trariam a nossa vã ciência política. MaoTse Tung não fez uma reforma políticaou econômica. Fez uma Revolução Cul-tural. Sabia das coisas. Sabia que a es-trutura jurídica de um país é a coisamais difícil de mudar. Leva tempo.

E confesso a vocês: se alguém per-guntasse ao mais otimista ativista em saú-de mental se ele esperava que um gover-no neoliberal fosse embarcar nessa ondae abreviar a longa caminhada até a apro-vação da Lei Paulo Delgado (PT-MG) ouvi-ria uma sonora gargalhada. No entanto,foi o que se passou. Era a toupeira daHistória a cavar seus insondáveis caminhos.

Trilhas sobre as quais o governoLula pode hoje caminhar com desenvol-tura. Ao lado dos Programas de Saúdeda Família e de Agentes Comunitários deSaúde, o Programa de Saúde Mental é omais consistente no país em termos deSaúde Pública. No início da década de90, havia três Centros de AtençãoPsicossocial, modalidade de tratamentoem regime aberto. Hoje são cerca de470. Numa lógica em que 80% dos leitoscontratados pelo SUS são privados, 95%dos CAPS são públicos. É a Saúde Men-tal revelando que o setor privado deveser complementar, como prega a Lei.

Resumindo. Vale sonhar. Podeacreditar.

Cláudio Cordovil é subeditor da revistaRadis e um dos idealizadores do Insti-tuto Franco Basaglia www.ifb.org.br

A louca monomaníaca da inveja, obrado pintor romântico francês ThéodoreGéricault exposta no Museu de BelasArtes de Lyon. Ao redor de 1820,Géricault produziu, a pedido do Dr.Georget, uma série de dez retratos deloucos (dos quais só restam cinco). Essesquadros são uma das p r ime i ra stentativas de representação visual maiscientífica da loucura, que na época sevalia da frenologia e da fisiognomiacomo forma de diagnóstico. A luta, hoje,é para que essas imagens façam partedo passado.