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A SOBRAFISA- Completa

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE FISIOTERAPEUTAS ACUPUNTURISTAS ANO 3, VOLUME 3

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A SOBRAFISAEdição Julho | Agosto | Setembro 2012

EditorJoão Eduardo de Araujo – USP – Ribeirão Preto

Conselho GestorCarlos Ruas Filho – ABA – Campo Grande

Célia Rodrigues Cunha – FIRVAL- São José dos CamposFernanda Lopes Buiatti de Araujo – IPES - Ribeirão Preto

Jean Luís de Souza – IPGU – UberlândiaMario Bernardo-Filho – UERJ- Rio de Janeiro

Conselho EditorialÂngelo Piva Biagini – CEUCLAR- Batatais

Diego Marmorato Marino – UFSCAR – São CarlosEduardo Batista Vasconcelos - IPGU - Uberlândia

Fernanda Lopes Buiatti de Araujo - IPES - Ribeirão PretoJean Luís de Souza – IPGU – Uberlândia

Josie Resende Torres da Silva – USP – Ribeirão PretoKamilla Marrara Marmorato – UNICEP – São Carlos

Guilherme Bertolino – USP – Ribeirão PretoMarcelo Lourenço da Silva – USP – Ribeirão Preto

*

A SOBRAFISA ISSB 1679-3331 é a revista oficial da SOBRAFISA – So-ciedade Brasileira de Fisioterapeutas Acupunturistas, publicada trimes-tralmente com o objetivo de disseminar informações cientificas, culturais e políticas para o aprimoramento e desenvolvimento da Acupuntura Fi-sioterapêutica, visando melhorar a qualidade de vida de todos aqueles que necessitam do profissional fisioterapeuta. Os conceitos emitidos nesta revista são de exclusiva responsabilidade de seus autores, assim como seu conteúdo publicitário, de inteira responsabilidade das empre-sas anunciantes. Os textos submetidos a publicação devem ser enviados à redação da revista, aos cuidados da SOBRAFISA/SP – Instituto Paulista

de Estudos Sistêmicos – IPES.Redação e Administração: Praça Boaventura Ferreira da Rosa 384 – Jd.

Sumaré CEP 14025-450, Ribeirão Preto SP

Capa e diagramação: criação de Insert Marketing Editorial - modificado e diagramado por Gabriela Frossard, assistente Elaine Souza.

A SOBRAFISAVOLUME 3 / NÚMERO3 3

SUMÁRIO

SOBRAFISA: enquanto isso no Parlamento... e também no TRF1 5

TÉCNICA EM DESTAQUE 8

SOBRAFISA REGIONAIS 9

SEÇÃO CIENTÍFICAA ACUPUNTURA COMO TRATAMENTO ALIADO A MEDICINA OCIDENTAL: UMA SUPERAÇÃO AO MEDO DE DIRI-GIR 11

Nunes, F.S.* e Fernandes, M.P.2

A ACUPUNTURA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE DO TRABALHADOR: UM ESTUDO DESCRITIVO 23Girão, Á. C.1*

EFEITO DA ACUPUNTURA NA MELHORA DA FLEXIBILIDADE DOS MEMBROS INFERIORES 28Pretti, C.A. 1*; Hara, C.M. 2; Silva, M.L. 3.

MEIOS ALTERNATIVOS DE TRATAMENTO USADOS POR DOCENTES DE ENFERMAGEM PARA ALÍVIO DO ESTRES-SE NO SEU COTIDIANO PROFISSIONAL 32Corral-Mulato, S.1*; Bueno, S. M. V.2; Silva, J. R. T.3

A ACUPUNTURA AURICULAR NO TRATAMENTO DA DOR EM OMBROS DE UM PACIENTE COM SÍNDROME DO IMPACTO SUBACROMIAL 39Bonagamba, G.H.1*; Bueno, A.R.2; Ito, E.I.3

ACUPUNTURA SISTÊMICA E AURICULAR COMO MÉTODO DE TRATAMENTO PARA ABANDONO DO TABAGIS-MO 46Tahara, N. 1*; Marino, D.M 2.; Marrara, K.T.3

ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO BRUXISMO APÓS ACUPUNTURA 54Silva, M.L.1*; Bueno, A.R.2; Novaes, F.A.3

AURICULOTERAPIA NO CONTROLE DA GLICEMIA NO DIABETES TIPO II – RELATO DE CASO 59Guiselini de, A.C.A.1*; de Corral-Mulato, S.2

O USO DA ELETROACUPUNTURA NA ANALGESIA PROFUNDA EM PROCEDIMENTO ODONTOLÓGICO 63Suliano, L. C. 1*; Quimelli, M. 2; Silva Da, R.V.C.

EFEITOS DA ACUPUNTURA SISTÊMICA PARA TRATAMENTO DE MULHERES COM FIBROMIALGIA 69Pires, E. D.1*; Bastos, J. L. N.2; Driusso, P.3; Marino, D.M.4.

A SOBRAFISA VOLUME 3 / NÚMERO34

Nos últimos meses, muito se tem falado sobre a legalidade de se praticar a acupuntura no Brasil. O certo é

que a acupuntura vem sendo utilizada por fisioterapeutas desde 1985, como recurso complementar e pos-

teriormente como especialidade. Começo pela fisioterapia porque foi a resolução COFITTO 60 que abriu

as portas da Área da Saúde para esta técnica milenar, resolutiva, completamente adaptada aos padrões

de atendimentos no Brasil e muito segura. A segurança é um dos princípios mais importantes, quando

falamos da aplicabilidade de uma técnica ou recurso terapêutico. Em relação á acupuntura realizada

por fisioterapeutas, são 27 anos de prática sem um único dolo social comprovado. Essas considerações

inicias também podem ser aplicadas para todos os outros conselhos profissionais da área da saúde que

regulamentaram a acupuntura para seus profissionais. Quando os conselhos da saúde editaram resoluções

sobre a prática da acupuntura, muito mais do que “expandir” o campo de atuação de seus profissionais,

foi criado uma normatização dos princípios e condutas que deveriam ser seguidos para a utilização dessa

ferramenta. Foram estabelecido os critérios para a formação e obtenção de título, que resguarda dessa

maneira, a segurança da população. Essa medida foi necessária, uma vez que no Brasil é garantido o livre

exercício de profissão não regulamentada.

Além dos conselhos, no Brasil a Sociedade Brasileira de Fisioterapeutas Acupunturistas –SOBRAFISA,

estabeleceu um currículo mínimo para os cursos de formação em acupuntura que recebem fisioterapeutas

em suas salas de aula. Por ser a associação de fisioterapeutas acupunturistas mais antiga, e com maior

representatividade no cenário nacional, vem realizando seus congressos Brasileiros a cada dois anos de

maneira equilibrada onde a prática clínica e a ciência sempre

estiveram unidas.

Essa nova edição da Revista A SOBRAFISA é fruto do trab-

alho de nossa associação de classe profissional. Apresentamos

11 trabalhos científicos de alunos que cursaram sua especial-

ização/formação na filosofia SOBRAFISA. O temor pela com-

petência profissional e a proteção ao paciente, como vem sendo

alardeado pelo grupo corporativo que reclama a exclusividade

da acupuntura, não faz sentido e deve cair por terra quando ob-

servamos a ciência que é produzida por profissionais da saúde

que no Brasil utilizam a acupuntura.

Boa leitura a todos.

ED

ITO

RIA

L

CIÊNCIA EM ACUPUNTURA E A SEGURANÇA DO PACIENTE

Prof. Dr. João Eduardo De Araujo Editor Chefe da Revista A SOBRAFISA

A SOBRAFISAVOLUME 3 / NÚMERO3 5

DIRETO DO SENADO

Temos visto nas últimas décadas um crescente cres-cimento das Práticas Inte-

grativas e Complementares, en-tre estas práticas se encontram a Acupuntura/MTC, Fitoterapia, Homeopatia entre outras, que são práticas milenares executadas na China e outros países do oriente há milhares de anos.No Brasil a Acupuntura/MTC, foi difundida através de imigrantes chineses, japoneses e coreanos, que aqui chegaram trazendo no bojo de suas bagagens essas práticas.O Conselho Federal de Fisiotera-pia e Terapia Ocupacional –COF-FITO- foi o primeiro organismo de Estado a se preocupar com qual-quer tipo de dolo social em relação à prática clínica da acupuntura. Desde 1985 normatizou o exercí-cio da mesma pelo profissional fi-sioterapeuta, através de resolução, seguido depois por outros Consel-hos como Enfermagem, Psicologia, Farmácia, Medicina e Terapia Ocu-pacional, entre outros.Existem hoje vários Projetos de Lei no Congresso Nacional (tanto na Câmara como no Senado) com o objetivo de regulamentar a Acu-puntura, pois a Constituição Fed-eral, em seu artigo 5 inciso XIII, ga-rante o livre exercício de profissão

“não regulamentada”, como é no caso a Acupuntura, até que a mes-ma possa ser regulamentada pelo Congresso, que tem competência exclusiva para a regulamentação.A SOBRAFISA, Sociedade Brasilei-ra de Fisioterapeutas Acupunturis-tas, entende a necessidade dessa regulamentação, mas ao mesmo tempo também defende que o ex-ercício da Acupuntura no Brasil possa ser regulamentado de forma multiprofissional.Não é de competência de Organ-ismos de Classe como Conselhos, Ordens e ou Sociedades, regula-mentarem esse exercício, pois esta regulamentação compete ao Es-tado (Congresso Nacional) assim determina a Lei, o que estes organ-ismos profissionais podem fazer é normatizar, única e exclusivamente a prática da Acupuntura para seus respectivos profissionais.Sendo por tanto descabível, a ten-tativa do monopólio do exercício por essa ou aquela categoria pro-fissional, mas descabível ainda é divulgar esta posição a popula-ção promovendo um verdadeiro desserviço social.Tornou-se mais fatídico e claro com a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, (PNPICS) que desde 2006, através da Portaria 971 do Ministério da Saúde, institucionalizou no SUS- Sistema Único de Saúde (SUS) o acesso à população as PICs no ser-viço público, de forma multipro-fissional, seu crescimento mesmo que tímido, mas isto em momento algum concede o direito ao exercí-cio ser monopolizado por esta ou aquela categoria profissional da saúde.A institucionalização pelo Ministé-

rio da Saúde das Práticas Integra-tivas e Complementares de Saúde nos termos da Portaria Ministerial 971/2006, o reconhecimento de sua relevância social pela Organização Mundial de Saúde (OMS); a neces-sidade de fundamentá-las etica-mente ao perfundilas socialmente sob o m a n e j o de profis-s i o n a i s de saúde r e g u -l a m e n -t a d o s ; s e n d o a Acupuntura e outras práticas e ações já elencadas no ato admin-istrativo do Ministério da Saúde, estão incluídas no CBO/2002, re-visado no ano de 2008, publicado em 2009; o qual a SOBRAFISA participou ativamente sendo por mim representada.A acupuntura já se encontra pre-vista na reserva legal de diversas profissões de saúde, voltadas e consolidadas aos cuidados preven-tivos, diagnósticos e terapêuticos, indicados para a superação dos distúrbios incidentes na saúde do indivíduo e ou intercorrentes em órgãos e/ou sistemas funcionais do corpo humano.Todos os profissionais de saúde são importantes na promoção, na edu-cação, na restauração e na preser-vação da saúde e aptos a utilizarem as práticas Integrativas e comple-mentares em seus atos profission-ais.Em 2010, a Unesco declarou a Acu-puntura um Patrimônio Intangível da Humanidade com intuito de preservar sua metodologia, práti-ca, recursos e exercício.

SOBRAFISA: enquanto isso no Parlamento... e também no TRF1Acupuntura: Especialidade Multiprofissional Restabelecendo a verdade sobre os fatos

DIRETO

DO

SENA

DO

A SOBRAFISA VOLUME 3 / NÚMERO36

A SOBRAFISA tem uma posição de que a Acupuntura multiprofis-sional é o melhor caminho para perfusão da mesma nos diversos tecidos sociais levando a Acupun-tura, a baixo custo, a toda a popula-ção brasileira de forma equânime.“As bases da avaliação, diagnose e prescrição terapêutica da Acu-puntura não se confundem em qualquer espécie com as bases de diagnose, tratamento da saúde nos moldes ocidentais, quando se fala em diagnose em acupuntura/MTC há que se definir que essa diagnose esta sob as bases de um sistema específico que tem suas origens na fi-losofia chinesa e hoje estudada e pesquisada cientifi-camente pela saúde nos moldes atuais” (Menezes Galartt, 2002).A Acupuntura tem bases preventivas, e é claro, também curativa. Hoje uti-lizada em nosso sistema de saúde, tem suas aplicações nas desordens e disfunções mus-culoesqueléticas, urogenitais, vas-culares, digestivas, neurológicas, porém vistas sobre os aspectos da dualidade do universo em con-stante mutação, sobre a óptica do desequilíbrio da perda da homeo-stase do yin/yang (polaridades/dualidades) das energias celestes como: frio, calor, vento, umidade, secura, que quando nosso organis-mo não se encontra preparado so-fre as intempéries das ações desses elementos da natureza, afetados ainda por disfunções psíquicas, so-bre seu sistema biológico e assim adoece.A SOBRAFISA acredita como a OMS (Organização Mundial de Saúde), que o melhor caminho é a união nos modelos ocidentais e ori-

entais para perfundir a promoção, prevenção, tratamento e a verda-deira saúde par os diversos tecidos sociais de forma multiprofissional. “Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) apontam, que em 2010, mais de 15 mil Fisioterapeutas atuaram em sessões de acupuntura, com aplicação de ventosas e moxas, e mais de seis mil procedimentos de eletroacupuntura, sendo a classe profissional que mais realiza esse tipo de procedimento, segundo dados dom próprio Ministério da Saúde.Tais números refletem o cenário de

inserção profissional dos Fisiotera-peutas, que vêm tendo uma atuação mais ampla no tratamento, preven-ção e promoção da saúde. No final de 2010, foi publicada a Resolução n° 380 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacio-nal COFFITO, a qual também a SOBRAFISA trabalhou de forma efetiva em sua construção, regula-menta o uso das Práticas Integra-tivas e Complementares de Saúde pelos Fisioterapeutas.No Congresso mais particular-mente no Senado Federal, tramita o famigerado Projeto do Ato Médi-co, que tem como atual relator na Comissão de Educação o Senador Cássio Cunha Lima. Mantivemos audiência com o mesmo, com apoio da ABRAFIQ na pessoa

do Dr. Joel Eufrázio, e deixamos claro e documentalmente as rei-vindicações as quais precisam ser realizadas no PL. Agradecemos a receptividade do Senador a nossos argumentos, quanto a diagnóstico, indicação terapêutica e punção, que precisam ser revistas urgente-mente no atual texto do Projeto, não que isso possa intervir no ex-ercício da Acupuntura, pois como descrito acima à regulamentação do mesmo demanda tramitação de Projetos de Lei do Parlamento Brasileiro e posterior sanção presi-dencial.

Quanto à regula-mentação da Acu-puntura temos dois PLs no Congresso, um de autoria do Senador Eduardo Suplcy, no senado e outro na Câmara, que se encontram em fases ainda muito atrasadas de análise.

Reafirmo: “O exer-cício da Acupuntura no Brasil, assim como

nos demais países que seguem as diretrizes da Organização Mun-dial da Saúde, é multiprofissional” no Brasil é de livre exercício pro-fissional, por força do Artigo 5o, Inciso XIII em combinação com o Artigo 22, Inciso XVI, ambos da Constituição Federal.A SOBRAFISA NACIONAL, apreensiva com a divulgação de informações falaciosas, oriundas de algumas Associações Médicas coorporativas de Acupuntura, es-clarece a população brasileira que a técnica da Acupuntura, em nada se alterou em função do recém-publicado Acórdão do TRF1, onde o mesmo em hipótese alguma afir-ma que a pratica da técnica está restringida a médico, informação no mínimo leviana, inconsistente e

Audiência Pública na Comissão de Educação do Senado, para orientar o parecer do PL do Ato Médico solicitada pelo Senador Cassio Cunha Lima

A SOBRAFISAVOLUME 3 / NÚMERO3 7

desleal para com os demais profis-sionais da saúde.O que as ações junto a Justiça, in-clusive junto ao TRF1, nas diver-sas ações propostas pelo CFM a mais de dez anos, é a nulidade de atos administrativos que discipli-nam as normas técnica aplicáveis a cada Conselho Profissional que aceitam a Acupuntura como espe-cialidade, ou seja, anulação de res-oluções de conselhos profission-ais que estabelecem a acupuntura como especialidade, e nada mais, até porque não compete aos mes-mos fazê-los.Os diversos Acórdãos, jamais ti-veram o escopo de restringir a prática que é livre da Acupun-tura e constitucionalmente ga-rantida. Pelo contrário ressalvam tal condição. Se assim pensar-mos, também deve cair por terra à própria Resolução do CFM que doutrina a Acupuntura para o pro-fissional médico, uma vez que não cabe aos Conselhos Profissionais estenderem o seu campo de atua-ção profissional, também não cabe ao CFM, tal prerrogativa, uma vez que ele também é Conselho Profis-sional, que inclusive tentam buscar o direito de baixar resoluções para os profissionais médicos no PL do Ato Médico ainda em tramitação no Senado Federal.Ademais, é importante ressaltar que tais ações, ainda não sofreram o “trânsito em julgado”, porquan-to são passíveis de modificação a qualquer tempo, diversos recursos jurídicos cabíveis, além de outras medidas, também juridicamente cabíveis, foram, e ainda estão sendo, tomadas para garantir a re-versão daqueles Acórdãos.A população brasileira não deve ser deixar iludir pelas bravatas de um pequeno grupo profissional que historicamente pretende o monopólio da Acupuntura, para fins absolutamente comerciais, sendo ilegítimo e imoral movi-

Dr. Jean Luis de Souza.Fisioterapeuta/Crefito 4-11805/F. Mestre em Magistério Superior,

Especialista em Acupuntura, Secretário do Conselho Gestor da Sobrafisa, Presidente da Sec-

cional SOBRAFISA Minas Gerais, Membro da Comissão de Práticas

Integrativas e Complementares do Conselho Nacional de Saúde

(CIPC-SUS).

mento de monopólio econômico da Acupuntura.Monopolizar a Acupuntura sig-nifica elitizar, restringir acesso, privilegiar a indústria química. É Descompasso do Brasil com o mundo, razões pelas quais a SO-BRAFISA tem se posicionado in-stantaneamente e constantemente contra os fatos e as medidas de re-strição impostas equivocadamente a pratica da Acupuntura pelo Fi-sioterapeuta e em apoio a outras profissões de saúde.A turbação da Acupuntura não se transformará em esbulho para a Classe dos Fisioterapeutas, não en-quanto houver a SOBRAFISA.Fisioterapeutas Brasileiros, espaço não se pede. Conquista-se e após a conquista há de preservar. Politi-camente somos muitos, jamais se submetam ao jugo dos opressores. Vamos à luta.

Dra. Célia Cunha, Senador Sérgio Guerra, Dr. Jean Luis de Souza e Senador Álvaro Dias.

A SOBRAFISA VOLUME 3 / NÚMERO38

TÉCNICA EM DESTAQUE

Ao longo dos anos, a técnica de dry needling, ou agul-hamento a seco, tornou-se

popular na prática clínica. A de-nominação de agulhamento “Seco” é em oposição a agulhamento “molhado” e é definido pelos Drs. Janet G. Travell e David G. Simons como “punturar o tecido mole, sem injeção de qualquer substân-cia líquida para tratar uma patolo-gia humana” em seu texto clássico, Myofascial Pain and Dysfunction: The Trigger Point Manual. Fi-sioterapeutas e outros profissionais de saúde acupunturistas em muitos países empregam o dry needling no tratamento de pacientes com dor miofascial e em pontos de ga-tilho. As vantagens do dry needling são cada vez mais documentadas e in-cluem uma redução imediata da dor no local de aplicação, restau-ração da amplitude de movimento e ativação muscular, normalização imediata do ambiente químico do ponto gatilho miofascial ativo e pode reduzir a sensibilização peri-férica e central.A descrição de dor miofascial tende a ser relativamente simples e nem sempre oferece um embasa-mento teórico para direcionar o tratamento clínico. Historicamente muitos pesquisadores e médicos consideraram um ciclo vicioso. A hipótese conhecida como o ciclo dor-espasmo-dor, que postula que a dor muscular poderia causar es-pasmo do músculo, e, por sua vez poderia causar mais dor levando a mais espasmo. O conceito baseia-se no pressuposto de que a dor excita fibras de neurônios alfa-mo-tores e possivelmente até mesmo neurônios gama. Há, no entanto,

evidências experimentais em hu-manos de que tanto as fibras alfa e neurônios gama motores são inibi-dos por entrada nociceptiva a par-tir dos mesmos músculos.A compreensão dos mecanismos fisiológicos básicos da acupuntura Dry Needling é de importância fundamental ao praticante. Estes mecanismos envolvem o processo real de estimulação das agulhas e como tal estímulo traz benefícios terapêuticos.De forma simplificada, o agulha-mento é tanto uma perturbação física suave do tecido quanto uma indução traumática em tecidos moles. O movimento físico e a ma-nipulação das agulhas em tecidos profundos aumenta a tensão das fibras musculares e tecido conjun-tivo e cria o efeito de transdução de sinal mecânico, que leva à auto-cura.A pequena lesão traumática e o in-flamação induzida pela perfuração permanecem no tecido quando o agulha é removida. O diâmetro de uma fibra muscular esquelética é de 50 µm e o diâmetro médio das agulhas utilizados na prática clíni-ca é de cerca de 250 µm.Portanto, se uma agulha é inserida em um músculo, perpendicular-mente às fibras e em uma profund-idade de 1 cm, poderá romper, pelo menos, 1.000 fibras musculares. Se a agulha é inserida mais profun-damente no músculo, acrescida de manipulação, dezenas de milhares de fibras musculares, bem como algumas terminações capilares e nervos, podem ser rompidos ou fe-ridos por ela.O cérebro identifica a lesão traumática na do tecido mole e di-rige sistemas biológicos, incluindo

o sistema cardiovascular, o sistema imunológico e endócrino, para substituir o tecido danificado pelo mesmo tipo de tecido muscular em poucos dias.Neste sentido, a auto cura inicia-se na inserção da agulha. Além disso, para este efeito de cura local, a lesão induz efeitos sistêmicos para restaurar a homeostase através de reflexos e processos em diferentes níveis do sistema nervoso central.Dessa forma, vários pacientes ex-perimentam alívio da dor através do uso da acupuntura dry needling que pode durar dias ou até mesmo nunca mais retornarem, depen-dendo do padrão da patologia. Isso faz da técnica uma excelente ferramenta para o tratamento de patologias agudas e crônicas, que envolvem pontos gatilhos e dor muscular.

Marcelo Lourenço da SilvaFisioterapeuta, Acupunturista, Doutor em Farmacologia - FMRP-USP.

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Acupuntura Dry Needling

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SOBRAFISA REGIONAIS

SOBRAFISA – MINAS GERAISA SOBRAFISA SECCIONAL- Minas Gerais, em parceria com o IPGU- Instituto de Pós Graduação, estará realizando durante os dias 17, 18 e 19 de maio de 2013 a V JOUNI- Jornada de Saúde, com destaque para o tema:“O Portal do Cerrado se abre para as Práticas Integrativas e Complementares e a Integração Multiprofissional em Saúde”.O evento contará com participação de conferencistas nacionais e de renome internacional, apresentação de trabalhos (posteres e exposição oral), premiação para os melhores trabalhos.Na sexta feria antes da abertura oficial do evento acontecerá a décima edição do Projeto “12 horas de Acu-puntura Solidária e Práticas Corporais Orientais na Avenida Rondon Pacheco”, assistência em Acupuntura, Massagem, Auriculoterapia, Práticas Corporais à população de Uberlândia, atletas, população que faz camin-hada nas pistas e ciclitas da Av. Rodom Pacheco.Na V JOUNI acontecerá apresentação de trabalhos de conclusão de Cursos dos Alunos do Curso de Especial-ização em Acupuntura do IPGU, que possui selo de qualidade SOBRAFISAPara informações: [email protected] ou através do site: www.ipgu.com.brVenha para Portal do Cerrado em 2013! Venha para a V JOUNI.

REGIO

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A SOBRAFISA VOLUME 3 / NÚMERO310

A SOBRAFISAVOLUME 3 / NÚMERO3 11

ARTIGO DE REVISÃO

A ACUPUNTURA COMO TRATAMENTO ALIADO A MEDICINA OCIDENTAL: UMA SUPERAÇÃO AO MEDO DE DIRIGIR

Nunes, F.S.* e Fernandes, M.P.2

1-Psicóloga, aluna do curso de Especialização Lato Sensu em Acupuntura IPES/ FCV

2-Psicóloga, aluna do curso de Especialização Lato Sensu em Acupuntura IPES/ FCV

RESUMO: Introdução: Atualmente, é muito comum nos depararmos com pessoas que sofrem com o medo de dirigir. Possuem sua Carteira Nacional de Habilitação e a usam apenas como um documento, mesmo com todo o treinamento necessário, não se sentem preparadas para enfrentar seus medos. São muitas as pos-síveis causas para tal medo, incluindo acidentes prévios de carro, a personalidade de cada um e pessoas que já tem medos e/ou transtornos psicológicos. Muitas são as condições emocionais relacionadas a este medo como raiva, estresse, ansiedade, agressividade, angústia, entre outros. Objetivo: Este trabalho tem como finalidade abordar e compreender o significado de tais condições, tanto para a Medicina Ocidental como para a Medicina Tradicional Chinesa, enfatizando a Acupuntura como um tratamento aliado e complementar à psicoterapia e uso de psicofármacos na superação do medo, garantido assim bem estar, qualidade de vida, a integração entre corpo e mente, equilíbrio físico, emocional e psíquico às pessoas que possuem este medo. Resultados: Vários estudos tem demonstrado que a acupuntura apresenta uma melhora tanto nos problemas emocionais quanto mentais, sendo esta técnica recomendada em conjunto com outros tratamentos. A Medicina Tradicional Chinesa busca compreender e tratar as doenças a partir de uma visão integradora entre o corpo e a mente.

PALAVRAS-CHAVE: Acupuntura, medo de dirigir, psicoterapia, psicofármacos.

ABSTRACT: Currently, it is very common to come across people who suffer from the fear of driv-ing. Have your driver’s license and use it just like a document, even with all the training you need, do not feel prepared to face your fears. There are many possible causes for such fear, including previous car accidents, the personality of each and people who already have fears and / or psychological disorders. There are many emotional conditions related to this fear as anger, stress, anxiety, aggression, anxiety, among others. This work aims to address and understand the meaning of such conditions for both Western Medicine and Traditional Chinese Medicine for emphasizing acupuncture as a treatment allied and complementary to psychotherapy and psychotropic use in overcoming fear, thereby ensuring welfare , quality of life, the integration of body and mind, physical balance, emotional and psychic persons who have this fear. Several studies have shown that acupuncture has an improvement in both emotional and mental problems, this technique is recommended in conjunction with other treatments. Traditional Chinese medicine seeks to understand and treat diseases from an integrated view between body and mind.

KEYWORDS: Acupuncture., fear of driving, psychotherapy, pharmacotherapy.

*Autor para correspondência: Rua Piauí, 1071 / apto 301. Bairro Sidil. Divinópolis-MG. CEP: 35.500-034. Email: [email protected]

A SOBRAFISA VOLUME 3 / NÚMERO312

INTRODUÇÃO Nos dias atuais, não é difícil encontrar um motorista habilitado que não dirige seu veículo, que usa a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) apenas como documento de identidade ou CPF. O medo de dirigir está entre as fobias mais comuns. Os sintomas mais frequentes desse pânico são mãos frias e úmi-das, coração batendo mais forte, respiração acelerada, sobressalto, angústia, suor excessivo, pernas bambas e mãos trêmulas, que são reações semelhantes à de qualquer situação de extremo estresse ou medo inten-so. Trata-se, em muitos casos, de pessoas que já tiraram carteira de habilitação, fizeram todo o trein-amento necessário, mas ainda se sentem desprepara-das para enfrentar seus medos. Muitas vezes não acre-ditam na sua capacidade de dirigir. Mesmo que outras pessoas as aprovem, elas continuam achando-se inca-pazes. O medo intenso também pode ser consequên-cia de um trauma, após um acidente ou situação de perigo extremo. Segundo o Centro de Psicologia Especializa-do em Medos (CPEM), de Curitiba, as pessoas com medo de dirigir podem ter o medo do desconhecido, da falta de habilidade de guiar um carro, ou podem possuir umafobia simples, específica. Este medo tam-bém pode estar associado a um quadro de ansiedade social. Este artigo tem como objetivo apresentar, em-bazado em revisões bibliográficas, como o medo de dirigir está cada vez mais presente em nosso cotidi-ano, enfatizandoo tratamento com Acupunturaaliado aalguns tipos de tratamentos como a psicoterapia e o uso de psicofármacos. De acordo com Hoffmann:

O ser humano passou a colocar-se dentro do carro, consideran-do-o, como espaço de privacidade, dando-se o direito de ser e agir conforme é e age na sua própria casa e ao agir dentro do carro com seus valores pessoais transportados do ambiente intra-residencial para o espaço público, contribui para os conflitos no trânsito por estar à vontade e sentir-se em casa, pode apresentar atitudes inadequadas. (HOFFMANN, 2003, p. 72)

A maneira como a pessoa dirige está relacio-nada ao modo de encarar sua vida pessoal e social. Quando o indivíduo é muito perfeccionista e orga-nizado, pode desenvolver sintomas que podem des-encadear uma incapacidade de aprendizado, pois ele cobra muito dos outros e de si mesmo. A pessoa pode se esforçar ao máximo, mas nunca é o bastante. Algo que para muitos é uma situação fácil, para esta pes-soa, se torna algo extremamente difícil. Para algumas pessoas, o medo pode ser a

perda de controle do veículo, para outras o que pode causar elevada ansiedade é passar sob viadutos ou tú-neis. O medo de dirigir engloba diversos estímulos, pois dirigir é uma atividade múltipla que envolve di-versos comportamentos. Outra característica do medo de dirigir é que a pessoa fica exposta à observação e/ou à crítica. A pessoa é responsável pela condução do objeto que lhe causa medo. Segundo Corassa (2006), existem dois grupos de pessoas com medo de dirigir: Grupo menor: é constituído por pessoas que já pas-saram por uma experiência com acidente, em relação a si mesmas, a um familiar ou a um amigo; Grupo maior: é constituído por pessoas que simples-mente sentem um grau elevadíssimo de ansiedade só de pensar em sair com o carro. São preocupadas com o grupo social e com sua segurança, possuem uma imagem distorcida de si mesmas, de seu potencial. Para essas pessoas que têm medo, o carro é como se tivesse "vida própria" e fosse sair sem controle, cau-sando danos pelos quais elas seriam responsáveis. As possíveis causas para tal medo interagem na con-strução dessa ansiedade dirigida ao carro e mascaram uma auto exigência exagerada e uma elevada preocu-pação com o outro. O medo de começar a dirigir é maior que o medo de dirigir. A pessoa começa a pensar em dirigir e até decidir, essa dificuldade pode atingir dimensões insuperáveis. Atualmente, já existem alguns pro-gramas e alguns tratamentos para quem deseja vencer seu medo de dirigir. Os programas mais conhecidos atualmente são o programa “Superar Limites” para o medo de dirigir,tratamento da Clínica Cecília Bellina, CPEM, entre outros. Os tratamentos mais utilizados-são o uso de psicofármacos, orientados e prescritos por médicos psiquiátras e assistidos por psicólogos, psicoterapias e a acupuntura. Atualmente, as pessoas têm buscado a integ-ração entre corpo e mente para proporcioná-las uma melhor qualidade de vida. Preocupam-se com uma saúde integral e harmônica. Porém, mesmo com in-úmeros avanços da Medicina, a falta de saúde física e mental ainda é um problema. Vários estudos têm demonstrado que a acu-puntura apresenta uma melhora tanto nos problemas emocionais quanto mentais, sendo esta técnica re-comendada em conjunto com outros tratamentos. A Medicina Tradicional Chinesa busca compreender e tratar as doenças a partir de uma visão integradora en-tre o corpo e a mente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) re-conhece o uso da acupuntura para vários tipos de pa-tologias, como, por exemplo, enxaquecas, depressão,

A SOBRAFISAVOLUME 3 / NÚMERO3 13

problemas gastrointestinais, alergias, dores diversas entre outras. Nesse sentido, o tratamento do medo de dirigir que pode incluir o uso de psicofármacos e te-rapias pode ser associado ao tratamento com acupun-tura, podendo se tornar mais eficaz.

CONCEITO DE ACUPUNTURA

A acupuntura é um método terapêutico antigo criado na China, que vem sendo utilizado há aproxim-adamente 5000 no oriente. É uma das técnicas da Me-dicina Tradicional Chinesa (MTC) que trata desequilí-brios energéticos, funcionais e orgânicos. Derivada dos radicais Acus (agulha) e punctura (puncionar), a acupuntura visa à prevenção e cura de enfermidades pela inserção de agulhas através da pele em pontos específicos chamados acupontos com a finalidade de promover circulação e desbloqueio da energia.

A Filosofia Tradicional Chinesa constitui um vasto campo de conhecimento de origem e de concepção filosófica que abrange vários setores ligados à saúde e a doença. Suas concep-ções são voltadas muito mais ao estudo dos fatores causadores da doença, pela sua maneira de adoecer, em como se manifestam e, principalmente, aos estudos das formas de prevenção, na qual reside toda a essência da Filosofia Chinesa. (ANDRADE; ES-PÍNDOLA; ALVES, 2004).

Baseia-se em conceitos Taoístas e energéti-cos, que enfocam o indivíduo como um todo e como parte integrante do universo, sendo o indivíduo con-stituído por um conjunto de energias provenientes do céu e da terra, que fluem por todo do corpo, devendo estar em constante equilíbrio. Temos a manifestação de patologias quando isto não acontece. O tratamento procura reestabelecer o fluxo da energia vital pelo or-ganismo, através de estímulos que criem condições internas para que ele retorne ao seu equilíbrio e alivie suas desordens. Isto pode ser feito através de vários recursos, tais como a puntura com agulhas, a moxa-bustão, a dietética, ventosas, magnetos entre outros. Atualmente, a prática existe no mundo inteiro sua procura é crescente, em virtude, principalmente, da simplicidade da técnica, da sua eficácia, rapidez e busca do equilíbrio bio-psíquico dos pacientes. Os fatores apontados pela Medicina Tradicional Chinesa como causadores das patologias (clima, emoções, dieta etc.) se aplicam a qualquer sociedade, bem como os sentimentos de fúria, tristeza, dor e preocupação, são básicos em qualquer ser humano. A Acupuntura e a Medicina Tradicional Chinesa estão difundidas por todo o planeta, trazendo muitos benefícios para milhões de pessoas e tendo seu uso homologado pela Organização Mundial de Saúde, órgão da ONU de âmbito mundial.

TEORIAS BÁSICAS DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

O Taoísmo

O taoísmo é a base filosófica da acupuntura. É uma tradição ancestral na qual o espiritual, o cultural, a religião, a filosofia e a ciência não se separam. Tao é a realidade e a energia primordial do universo, o fundamento do ser e do não ser. A filosofia Taoísta é uma das mais antigas e conhecidas escolas de filosofia chinesa, seus conceitos fazem parte da vida de milhões de pessoas através do FengShui, Acupuntura, Tai Chi Chuan e outras artes taoístas. A Acupuntura tem seu funcionamento regido por certas leis universais descobertas há milênios por sábios taoístas. O Taoísmo é uma filosofia nativa da China baseada na busca pela harmonia com o Univer-so e a natureza, afirmando que os seres humanos são unos com a Criação e que tudo está em permanente mudança, em constante evolução. O retorno ao estado natural do ser humano é o objetivo do Taoísmo e, por extensão, da Acupuntura. De acordo com o taoísmo, tudo no universo é composto pelos elementos opostos do yin e yang. O lado positivo é o yang, e o negativo, o yin. Os chine-ses conceberam o universo como sendo ativado por dois princípios básicos, que seriam qualidades opos-tas, porém complementares. Tudo o que vemos só ex-iste em virtude da constante influência mútua dessas duas forças. O yin e o yang estariam contidos no Tao, que seria o princípio básico de todo o universo, “o começo e o fim, o princípio sem princípio, o que não pode ser expresso e o que tudo abarca”. Ainda de acordo com a filosofia taoísta, o ser humano é um todo que não pode ser dividido, uma dualidade, como corpo e alma separados. As mani-festações físicas e psíquicas são tratadas pelo taoísmo com igual importância, como se fosse uma só enti-dade. A base filosófica da acupuntura segue este con-ceito, sendo esta a razão de sua eficácia, pois facilita essa harmonia, levando a pessoa a uma melhor com-preensão de si mesmo – a base busca do autoconheci-mento. Como afirma Faubert e Crepon (1990, p.95):

Segundo a tradição chinesa, o ser humano constitui uma só enti-dade energética, e não é suscetível de ser dividido. O psiquismo não pode, portanto, em caso algum, ser dissociado do físico: ambos representam manifestações diferentes da mesma energia, eles seguem as mesmas leis e estão em interdependência com-pleta, como as duas faces da mesma folha de papel. No caso de

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perturbações, seja do psiquismo ou do organismo, não se pode-ria, em absoluto, tratar de um sem referência ao outro...

Segundo o taoísmo, o corpo humano possui 360 pontos distribuídos em linhas. A acupuntura es-timularia esses pontos, com base nos princípios taoís-tas, para aliviar sintomas e dores. O taoísmo está pre-sente ainda hoje na vida cultural e política da China, através de manifestações populares como o chi-kung, arte de autoterapia; o wu-wei, prática da inação; a ioga, as artes marciais wu-shu ou kung fu e a acupun-tura.

Teoria do Yin Yang

A teoria do Yin e Yang é uma das bases do Taoismo. A representação gráfica mais comum do Tao é o de-senho do Tai Chi, traduzido como “existência” ou “existência completa”.

Figura1: Símbolo Tai Ji, também conhecido como o símbolo

Yin-Yang. Fonte: Elaborada pelas autoras

De acordo com Jeremy Ross (1994, p.5):

O conceito de yin e yang é a base da Medicina Chinesa. A tendência ocidental é de ver os opostos como absolutos; o significado das palavras preto e branco dão esta impressão. Este fato deriva da tendência de ver o mundo feito de partículas e do desejo de ser tão preciso quanto possível. Por isso, a situação é: a ou b, enquanto o pensamento chinês vê o mesmo fenômeno como dois extremos de algo contínuo. Isso traz uma conotação de que os termos são relativos: não preto e branco, mas sim, mais preto e mais branco, assim como a polaridade nunca é estática, ela está em contínua mudança, o mais preto ficando branco e vice-versa.

O conceito Yin-Yang sintetiza as duas partes contraditórias e complementares dos fenômenos da natureza que se relacionam mutuamente, há a presença da polaridade e de um polo contido no outro. No ponto máximo do yin, há a semente do yang e no ponto máximo do yang, há a semente do yin. A relação entre Yin e Yang é a de se opor ainda que se complementando, dentro da parte Yin e da parte Yang esta incluída a sua parte oposta, ou seja, dentro

da natureza Yang, esta o Yin. Eles podem ser usados para descrever as mudanças e variações em todas as coisas ou propriedades, pois dão uma ideia clara de movimento e transformação. Segundo Campiglia (2009, p.8):

Yin e Yang são polaridades do Universo, que é o conjunto de tudo que existe. A origem da palavra universo está em um, unir, tornando um. Todavia, o Universo dividiu-se em dois e depois em milhões e bilhões de partes, originando a diversidade. A primeira divisão: Yin e Yang, segundo a tradição chinesa, encerra os princípios opostos e complementares do Universo.

“O Yang é a base imaterial que sustenta a formação do yin e este é a base material para que o yang seja produzido”. NEI CHING. Ainda de acordo com Campiglia (2009, p.9):

Porém, não se deve concluir que o feminino seja sempre a sombra, o inconsciente ou a morte e quer p masculino, por sua vez, seja sempre a luz, o consciente, a vida. Cada par de opostos vale para si mesmo: vida-morte, masculino-feminino e, não entre si como masculino-vida. Isso quer dizer que a polaridade de um símbolo não pode ser superposta à de outro símbolo. Sem polaridade não há diferenciação. Como saber que é claro se não existe escuro? O conflito gerado pelos opostos é fonte de vida e diversidade.

Existem quatro características básicas de inter-relação entre o yin e o yang: oposição, interdependência, consumo e transformação. Na oposição, o yin e o yang são opostos, mas nada é completamente yin ou yang. Na interdependência, um não pode existir sem o outro, assim como a sombra existir não existe sem a luz. Um precisa do outro para existir e desenvolver. No consumo, o excesso de yang consome o yin e vice-versa, como o exemplo do fogo (yang), que quanto mais aumenta, mais a lenha (yin) é consumida. Na transformação, o yin se transforma em yang e vice-versa. Como no exemplo: após a tempestade, vem a calmaria. O corpo, assim como todo fenômeno natural, é um todo organizado, composto de duas partes ligadas, o Yin e o Yang. A saúde seria o resultado de uma relação harmoniosa de um movimento contínuo destes dois princípios e se a troca não for equivalente, não estiver equilibrada, a atividade vital do ser humano é comprometida. O aparecimento da doença, então, é visto como um desequilíbrio energético, a fraqueza do Yin, acarretará a preponderância do Yang e vice-versa. Acontece também a mudança de um aspecto para o aspecto oposto, o Yin pode se transformar no Yang e vice-versa. O excesso ou a fraqueza do Yin ou do Yang são a causa essencial da provocação e do desenvolvimento da doença. Regularizar o Yin e o Yang, restaurar o equilíbrio relativo existente entre

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eles, são os princípios do tratamento. Na posição anatômica na MTC, a posição dos membros superiores é erguida com as mãos acima da cabeça com as palmas viradas para frente, no qual o superior é Yang, o inferior é Yin. Cabeça, tronco e braços são Yang em relação aos pés, pernas e abdômen. O posterior e lateral é Yang, o anterior e medial é Yin. O interior é Yin o exterior é Yang. Os órgãos, vísceras, ossos e sistema nervoso central são Yin em relação aos músculos pele e meridianos.

Figura2: Pontos e meridianos de Acupuntura.Fonte: Elaborada pelas autoras

Quadro 1: Os Cinco Elementos e suas correspondências.Fonte: Elaborado pelas autoras

Teoria dos Cinco Elementos

A Teoria dos Cinco Elementos, ou Cinco Fases, juntamente com a teoria do Yin e Yang, integram a base da Medicina Tradicional Chinesa. Foi desenvolvida através de observação e obtenção de padrões dentro da natureza, e a sua extensão ao organismo humano. A filosofia chinesa classifica todos os fenômenos conforme sua natureza, função e forma e os liga a um dos Cinco Elementos: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. Todas as criações materiais e energéticas são derivadas destes elementos. Os cinco elementos aparecem como formações derivadas da ação recíproca do Yin e do Yang. Dão origem, posteriormente, a tudo o que existe sobre a terra, ou, como dizem os chineses, “aos dez mil seres”. O Yin – Yang se manifesta, cria e atua por intermédio dos cinco elementos. (SUSSMANN, 1975, p. 95). São à base da concepção do Universo e de todos os seus componentes, logo, todas as estruturas, sistemas fisiológicos, órgãos, vísceras ou estruturas psíquicas, na sua concepção, estão relacionadas a um dos elementos. Perceberam cinco órgãos energéticos fundamentais, cada qual constituindo com seu meridiano um centro sutil de energia: fígado, coração, baço, pulmão e rins. Viram que esses órgãos atuam em parceria com cinco outros, suas respectivas vísceras acopladas: vesícula biliar, intestino delgado, estômago, intestino grosso e bexiga. Cada um é

mais sensível a um tipo de clima, sabor, sentimentos, emoções, dor, cor, manifestações específicas de excesso, de insuficiência e tratamento específico. De acordo com Faubert e Crepon (1990, p.96-99):

Cada uma das entidades viscerais se acha em relação com um órgão e, portanto com um elemento, e apresenta características e manifestações psíquicas que lhe são específicas; por esse motivo, possuem correspondentes fisiológicos,sendo que o equilíbrio do psiquismo em geral provém do equilíbrio mútuo das entidades.

O nome em chinês da representação dos Cinco Movimentos é Wu Xing. Wu significa em chinês o número cinco (5) e Xing quer dizer movimentação, ação, andar, etc. “O ideograma Xing mostra pés que se alternam; direita e esquerda, evocando a alternância do Yin e do Yang.”

(CAMPIGLIA, 2004, p. 12).

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Ciclos de Geração e Dominância

Os chineses afirmam que a movimentação constante e mudança de um elemento em outro, formam e mantém o universo.

“A teoria dos cinco elementos afirma que a madeira, o fogo, a terra, o metal e a água são os materiais básicos que constituem o mundo material. Existe uma interdependência e um controle recíproco entre eles que determina seu estado de constante movimento e mudança.” (MAIKE, 1995, p.40).

O ciclo de geração representa nutrição, promoção do crescimento. Ao elemento gerador, denominamos de “elemento mãe”, e ao elemento gerado denominamos de “elemento filho”. De acordo com Campiglia (2009, p.13): O ciclo de geração representa o ciclo do tempo, da vida, da formação de novos elementos. A Água gera a madeira, a Madeira gera o Fogo, o Fogo gera a Terra, a Terra gera o Metal, que, finalmente, gera a Água. De modo simbólico, a água irriga a planta (madeira) que brota e cresce, a madeira alimenta o fogo, o fogo queima a madeira e deposita as cinzas, alimentando a terra, que gera em seu interior diversos metais e a água brota da pedra e das fontes minerais.

Figura 3: Ciclo de Geração.Fonte: Elaborada pelas autoras

Esse constante movimento de geração levaria o universo a um desequilíbrio. Para frear esse processo, temos a lei da dominância, que segundo Campiglia (2009, p.13):

O ciclo de dominância é um ciclo de controle, de limite, que impede, em última análise, o crescimento descontrolado de qualquer um dos elementos. Sua figura vista na disposição dos Cinco Elementos é a de uma estrela de cinco pontas ou um pentagrama. Nesse ciclo, a Água controla o Fogo, o Fogo controla o Metal, o Metal controla a Madeira, a Madeira controla a Terra e a Terra controla a Água. Simbolicamente, tem-se: a água apaga o fogo, o fogo forja o metal, o metal corta a madeira (ou árvore), a madeira tira da terra seus nutrientes para crescer e, portanto, “controla” a terra que, finalmente, absorve a água. Desse modo, há um equilíbrio entre os elementos, de forma que nenhum se sobressaia ou se torne excessivo.

Figura 4: Ciclo de Dominância. Fonte: Elaborada pelas autoras

Em certos casos, o ciclo de dominância pode se transformar em contra dominância, se sua direção for invertida. É um ciclo patológico, que gera doenças e desorganização internas.

Figura 5: Ciclo de Contra dominação.Fonte: Elaborada pelas autoras.

As relações de geração e dominância funcionam como um mecanismo de autorregulação do homem, pois asseguram o equilíbrio entre os elementos e a normalidade de seus processos, no caso do corpo humano, de seu funcionamento fisiológico saudável. Como a lei que os Cinco Elementos seguem demonstra interdependência entre eles, o desequilíbrio em uma das fases ou na relação entre alguma delas irá repercutir no sistema inteiro.

Figura 6: Ciclo de Geração e Dominância.

Fonte: Elaborada pelas autoras

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As relações entre os Cinco Elementos vão exemplificar todos os mecanismos fisiológicos e patológicos dentro do corpo. Os Cinco Elementos formam um modelo de como os Órgãos, Vísceras, tecidos, odores, sabores, cores se relacionam entre si na fisiologia e patologia na Medicina Tradicional Chinesa. As aplicações dos Cinco Elementos englobam praticamente toda a Medicina Tradicional Chinesa, como a Patologia, Diagnóstico e Tratamento. Para Maciocia (1996):

Cada Elemento pode sair do equilíbrio de quatro maneiras [...]: a) Está em excesso e superage sobre outro ao longo da sequência do Excesso de Trabalho. b) É deficiente, sendo lesionado por ouro Elemento ao longo da sequência da Lesão. c) Está em excesso e consome excessivamente do seu Elemento-Mãe d) É deficiente e falha para nutrir seu Filho. (1996:38). ada Elemento pode sair do equilíbrio de quatro maneiras [...]: a) Está em excesso e superage sobre outro ao longo da sequência do Excesso de Trabalho. b) É deficiente, sendo lesionado por ouro Elemento ao longo da sequência da Lesão. c) Está em excesso e consome excessivamente do seu Elemento-Mãe d) É deficiente e falha para nutrir seu Filho. (1996:38).

Os Cinco Elementos são a correspondência mais usada para explicar a maneira como os órgãos se inter-relacionam. A real importância dessas relações no diagnóstico e tratamento pela Medicina Tradicional Chinesa pode ser exemplificada com a seguinte passagem de Unschuld (2003, p. 112):

Devido à doutrina dos Cinco Elementos explicarem o efeito de certos agentes ambientais, como sabores, gostos e também fatores climáticos, em processos fisiológicos e patológicos, é também empregado para prover uma racionalização para o uso terapêutico desses agentes. Na base das interações entre as várias unidades do organismo, a doutrina dos Cinco Elementos é ainda usada para se descobrir o processo de transmissão da doença no organismo e para diagnosticar sua atual localização.

Teoria dos Zang Fu

Zang Fu é um termo que denomina os órgãos e vísceras na concepção da MTC. Mesmo tendo uma denominação igual aos órgãos e vísceras da anatomia ocidental, não equivalem à sua concepção, pois enquanto esta aborda apenas o lado anatômico-material de cada órgão, a Medicina Chinesa faz uma análise completa destes, atribuindo aos órgãos funções energéticas, psíquicas e espirituais. Eles formam um sistema interligado que integram tanto as funções fisiológicas do organismo, suas partes, sentidos e atividade cerebral, quanto às emoções e a relação com o ambiente externo. Desta forma, a Teoria dos Zang Fu representa bem a visão chinesa do corpo como um todo integrado, uma vez que cada elemento está relacionado a

diferentes órgãos, que por sua vez estão relacionados com determinadas funções corporais, emoções, atividades mentais, tecidos corporais, órgãos do sentido, cores, sabores, influências climáticas, etc. Os Zang Fu relacionam-se também à produção, transformação, armazenamento e distribuição das Substâncias Vitais, (Qi), Sangue (Xue), Essência (Jing) e Líquidos Corpóreos (Jin Ye). A teoria de Zang Fu corresponde aos sistemas de órgãos (Zang) e vísceras (Fu) dentro da Medicina Tradicional Chinesa (MTC). São doze sistemas (seis Yin e seis Yang), agrupados em pares acoplados através dos Canais e Colaterais ou Meridianos de Energia. Os Zang possuem características mais Yin, são mais sólidos e internos, correspondem à estrutura, ao passo que os Fu possuem aspectos mais Yang sendo mais ocos e externos, e correspondem à função, formando uma relação de interdependência. Os órgãos Yin (Fígado, Coração, Baço, Pulmões e Rins) são chamados de Zang, e possuem como característica comum o fato de armazenarem substâncias puras e preciosas ao corpo: Qi, Sangue, Essência vital (Jing) e Fluidos corpóreos. Já os órgãos Yang (Estômago, Intestino Delgado, Intestino Grosso, Vesícula Biliar e Triplo Aquecedor) são chamados de Fu, e lidam com substâncias consideradas impuras (comida, fluidos impuros, urina, fezes, etc.), possuindo como função a transformação dos alimentos e bebidas, de forma a extrair deles a essência pura que será armazenada pelos órgãos Zang. De acordo com a teoria, existem também as chamadas “Vísceras Curiosas”, que são estruturas que não se enquadram em nenhuma das características mencionadas, como os vasos sanguíneos, o útero, os ossos, a medula óssea, a medula espinhal e o cérebro. É fundamental considerar que as referências a órgãos não se limitam apenas a seu aspecto físico/material, mas também a seu aspecto energético/metabólico. Os Zang Fu devem ser considerados como centros de sistemas energéticos distintos um dos outros, mas com íntima inter-relação entre eles. Esses sistemas vão ser comparados com a Teoria dos Cinco Elementos, onde Fogo é Coração (Xin), Terra é Baço (Pi), Metal é Pulmão (Fei), Água é Rim (Shen) e Madeira é Fígado (Gan).

Elemento Água

O elemento água representa na Medicina Tradicional Chinesa o órgão Rim e a víscera bexiga.

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O símbolo da água representa, na medicina tradicional chinesa, o órgão rim e a víscera bexiga. Por isso, todos os padrões de adoecimento relacionados à água, são referidos como desarmonias do rim ou da bexiga. Associam-se ainda, ao elemento água os ouvidos, o cérebro, a medula, os ossos, os dentes, a região lombar, o aparelho reprodutor e a energia Jing (a essência). (CAMPIGLIA, 2009).

A água é o início, o alicerce dos outros elementos, por isso à importância conferida ao rim como alicerce do Yin-Yang de todos os órgãos. O rim estoca a essência (Jing), mas também armazena o fogo na porta da vida (Ming men) é, portanto, a fonte da água e do fogo, além de serem denominados de o Yin e o Yang originais. A partir de tal ponto de vista, a água pode ser considerada o alicerce de todos os outros elementos. (MACIOCIA, 2007). Os Rins, na MTC, são a raiz da vida, controlam a reprodução, a herança genética, e são a base do Yin e do Yang do organismo. Os Rins dividem-se em Rim Yin (dá substrato material para o funcionamento do corpo) e Rim Yang (dá a energia que irá circular, fornecendo vida e força ao substrato material).

Os Rins controlam as fertilidades masculina e feminina pela formação do sêmem e dos óvulos. Portanto, contêm a informação ancestral, ou seja, a herança genética e, por meio dela, fazem a ligação histórica do homem, unindo passado, presente e futuro. (CAMPIGLIA, 2009)

O rim é considerado como o centro energético do corpo, pois nele está a bateria que dá vida e move o indivíduo. Na MTC, o cérebro é conhecido como o mar da medula. A função mental da memória está conectada aos Rins. Com o envelhecimento pode ocorrer a diminuição da memória, da rapidez de raciocínio e resposta, dos reflexos, do equilíbrio e da capacidade de adaptação. O aspecto psíquico do rim está associado ao Zhi (Força de Vontade). De acordo com Campiglia(2009): “Zhi é uma força interna que move a pessoa para realizar novos empreendimentos, no plano pessoal e social. Demonstra a capacidade de adaptação do ser humano, sua possibilidade de mudança e de busca de novas fronteiras”. A Bexiga recebe os líquidos do corpo que serão excretados e sua função também depende dos Rins. A emoção do elemento água é o medo. Segundo Campiglia(2009):

Doenças ligadas aos rins incluem, além das doenças renais, impotência, esterilidade masculina e feminina, polaciúria, oligúria, incontinência urinária, dentes e ossos fracos, dores lombares e nos joelhos, corpos e membros frios, zumbido, alteração da acuidade auditiva, astenia, falta de vontade e de

ânimo, perturbações de memória, fobias.

Elemento Madeira

O elemento madeira representa na MTC o órgão fígado e a víscera vesícula biliar.

As principais funções do fígado são a de controlar os sentimentos, regular a digestão, regular a Via das Águas e conter o sangue nos vasos. O fígado é responsável pelo fluxo livre de Qi. O Fígado tem duas vertentes de movimento: a atividade, o movimento expansivo representado pelo Fígado Yang, e o movimento de espera e recolhimento representado pelo Fígado Yin. Portanto, o equilíbrio nasce da alternância entre o movimento e o recolhimento. Ou seja, a Madeira imprime o ritmo biológico e psicológico de cada um. (CAMPIGLIA, 2009).

Para se garantir a saúde e o movimento vital, deve-se assegurar o livre fluxo do Qi, pois ele permite o relaxamento, a expansão e a descarga de energia. Havendo o acúmulo de Qi sem possibilidade de descarga, a energia implode e volta-se para dentro contra a própria pessoa. O Fígado é o responsável pelo armazenamento do Sangue. Durante o sono, nos momentos de descanso, a circulação é lenta e o Sangue é armazenado. Durante atividades físicas rigorosas, o Fígado libera o Sangue. Quando o fígado está em equilíbrio, o fluxo menstrual é regular, sem coágulos e sem hemorragias consideráveis. O Fígado abriga o Hun (Alma ou Alma Etérea), que é um mediador entre a realidade interna e a externa, entre o céu e a terra. É responsável pelo relacionamento do indivíduo com o mundo e por sua capacidade de projetar seus pensamentos para o exterior. Planejar, traçar metas e objetivos na vida, são conferidos ao Hun. Quando este está solto, desprendido do corpo, faz com que o indivíduo se sinta perdido ou sem rumo. Porém, quando está enraizado, faz com que o indivíduo tenha boa capacidade de planejamento e com que consiga dar sentido à sua vida. A Vesícula Biliar é considerada como uma víscera extraordinária por ter uma função importante no plano mental (é responsável por escolhas e tomadas de decisões) e por não receber alimentos ou líquidos, diferentemente das outras vísceras (bexiga, intestinos e estômago). A vesícula biliar acumula e excreta a bile. Na MTC, a força de vontade (Zhi) vem do elemento Água (Rins), mas quem usa a força de vontade de modo a concluir a ação é a Vesícula Biliar, pois ela é responsável pelas escolhas, pela coragem e pelo impulso.

“A emoção principal da madeira é a raiva, apesar de o fígado

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ser responsável pelo controle e expressão de todas as emoções. A raiva é uma emoção que se move para fora, que possibilita demarcar território e avançar em direção a um objetivo. Quando a raiva se volta para dentro e não é expressa ou quando ela é excessiva e descontrolada, torna-se um fator de adoecimento.” (CAMPIGLIA, 2009).

Elemento Fogo

O elemento Fogo representa na MTC os órgãos Coração e Pericárdio e as vísceras Intestino Delgado e Triplo Aquecedor. As funções do coração são comandar os vasos, o sangue, a circulação sanguínea, os outros órgãos, vísceras e o suor. Segundo Ross(1994), o sangue é a principal base material das atividades mentais do corpo humano; por esta razão, o Coração também é responsável pelo controle das atividades mentais. A consciência, o espírito, o raciocínio, a memória e o sono são todos dominados por ele. É considerado o imperador e contém o Shen, que é considerado como consciência ou espírito vital. De acordo com Ross(1994): “O shen é um termo genérico de todas as atividades vitais do corpo humano, incluindo o ânimo, o pensamento, além das atividades intelectuais. Portanto o shen em equilíbrio, representa a boa saúde, a felicidade e a vida se coordenam e se unificam com o conturbado meio externo”. O Intestino Delgado recebe os resíduos provenientes do estômago. Sua função é de separar o puro do impuro. Ele contribui no discernimento, na discriminação e avaliação de valores. O Pericárdio também é conhecido como “Mestre do Coração” ou “Circulação-Sexo” e suas funções são auxiliares as do coração. O pericárdio é o “ministro” que envolve o coração e tem a função de protegê-lo. É necessário no tratamento de distúrbios ansiosos, insônia e depressão. O Triplo Aquecedor é considerado mais como um centro de energia do que uma víscera propriamente dita. É formado por três regiões, ou fontes de aquecimento do organismo: o aquecedor superior (no tórax), o aquecedor médio (no abdome) e o aquecedor inferior (na região pélvica). Eles ajudam os órgãos correspondentes às regiões em que se localizam. Por ser uma via de passagem e distribuição do qi, o triplo aquecedor é responsável pela ativação de todas as funções fisiológicas. A emoção do elemento fogo é a alegria. De acordo com Campiglia (2009):

As patologias ligadas ao Fogo levam a palpitações, transpiração espontânea, insônia, alteração da consciência e da compreensão, labilidade emocional, alterações da fala, ansiedade, má circulação sanguínea, isquemias, insuficiência coronariana.

Elemento Terra

O órgão que representa a Terra na MTC é o Baço e o Pâncreas, a víscera o Estômago. A terra tem o papel de amparar, absorver, suportar, acomodar e transformar.

O elemento Terra permeia todos os outros elementos na Medicina Tradicional Chinesa (MTC): é na terra que está a semente da árvore (Madeira), que germina, irrigada pela água; o Fogo queima a Madeira, que vira cinzas e volta à Terra; o Metal acumula-se no interior da Terra. (CAMPIGLIA, 2009)

As funções do Baço Pâncreas são a de regular a transformação e o transporte de alimentos e bebidas, retenção de sangue nos vasos, é responsável pela sustentação dos órgãos nos seus devidos lugares, pelo tônus muscular e estado nutricional. Controla o pensamento e o raciocínio e é a moradia do Yi (ideação e intenção).

A Terra é a morada das ideias e, como tal, abrange o ato de se concentrar, memorizar, raciocinar, estudar. Yi significa ideação e intenção. Para um bom raciocínio é necessário que o Baço esteja funcionando corretamente, digerindo bem sem gerar energia turva. Por outro lado, o excesso de pensamentos e a ruminação mental podem turvar a energia do Baço. (CAMPIGLIA, 2009).

O estômago digere e decompõe os alimentos, separando a energia límpida (que será aproveitada pelo corpo) da turva (que será eliminada pelo intestino e pela bexiga). A emoção do elemento Terra é a preocupação. As patologias deste elemento são alterações digestivas, distúrbios de nutrição, bulimia, obesidade, anorexia, prolapsos e ptoses de órgãos, edemas, hemorragias, astenia, alteração do paladar entre outras.

Elemento Metal

O órgão que representa o metal é o Pulmão e a víscera Intestino Grosso. Está ligado aos instintos e reflexos. O Pulmão é considerado o mestre das energias, pois controla a difusão, a direção, a descida e a eliminação de energia, a respiração, e regula a circulação da Via das Águas. Está ligado aos instintos e aos reflexos. O Pulmão é o “ministro”; acumula e depois difunde, organizando a distribuição de Qi. (CAMPIGLIA, 2009)

O Pulmão é considerado como fonte de energia, pois insere no organismo o oxigênio, que é essencial à vida e ao funcionamento das células. A respiração representa a vida e a morte, a possibilidade de entrar o novo e sair o velho, o desapego, a impermanência. Seu aspecto psíquico é o Po, responsável pela reação de luta ou fuga, essencial na preservação das espécies.

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O Intestino Grosso é uma via de passagem por onde circulam os produtos da digestão e onde ocorre a reabsorção dos líquidos corporais. A emoção do elemento Metal é a tristeza. As patologias deste elemento são doenças respiratórias, pneumonia, asma, enfisema, tuberculose, astenia, voz fraca, sinusite, rinite, depressão, doenças de pele e estase dos líquidos corporais, que formam edemas e derrames.

O MEDO DE DIRIGIR PARA A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

Como foi dito anteriormente, as pessoas que tem medo de dirigir são pessoas perfeccionistas, que não gostam de ser criticadas, organizadas, detalhistas, preocupam-se com os outros, etc. As sensações que estas pessoas experenciam quando tentam dirigir são tremedeiras nas pernas, transpiração excessiva, dormem mal a noite, taquicardia, ansiedade, medo. Na visão da MTC, as pessoas que possuem medo de dirigir podem apresentar desarmonias no elemento Água, Coração e Baço-Pâncreas. A emoção do elemento Água é o medo que é necessário como proteção em situações ameaçadoras, pois ajuda na identificação dos perigos e na adaptação ao ambiente e às situações externas. Porém, em excesso, na situação de pânico, ele impede a ação, paralisando e tirando a vontade de agir. Ele altera os Rins podendo também afetar o coração e o Shen, causando fobias, baixa autoestima, entre outras.

A fobia pode ser importante e limitante, como é o caso da fobia social, ou então apenas um traço de comportamento, como a dificuldade de relacionamentos estáveis e de entrega, o medo de situações em que a pessoa não tem controle e fique em constante estado de alerta. O medo, emoção ligada ao Rim, é fator de proteção. Pode, contudo, tornar-se um fator que confina a vida do indivíduo a uma existência limitada... na medicina chinesa um tratamento que proporcione o aumento da energia do Rim. (CAMPIGLIA, 2009).

A maioria das doenças psíquicas envolve o Fogo, por haver o comprometimento do Shen, ou da consciência. A morada do Shen é o Coração. Os quadros ansiosos estão ligados a este elemento.

Na Medicina Chinesa, os distúrbios somatoformes estão relacionados ao elemento Fogo, ocorrendo uma alteração da cognição e da percepção corporal (por meio do Shen), com sintomas de muita ansiedade e, por vezes, uma descrição dos problemas de forma dramática, emocional e exagerada, por parte dos pacientes, o que é típico quando existe predomínio das características do Fogo. Os distúrbios ansiosos, como a síndrome do pânico e o distúrbio de ansiedade generalizada, têm etiologias mistas, nas quais se distinguem o medo, fruto da falta de raiz

proporcionada pelos Rins, e a ansiedade, resposta do Coração. (CAMPIGLIA, 2009).

A emoção do elemento Terra é a preocupação. Os pensamentos fixos levam a obsessão, às regras rígidas e à perda da flexibilidade Quando o Baço é afetado, ocorre uma ruminação constante dos pensamentos.

A emoção do elemento Terra é a preocupação, o cuidado. Em excesso, eles podem estagnar o fluxo de energia de todo o corpo e desviar o foco de si mesmo e do próprio corpo para dar atenção à opinião dos outros... A insegurança e o receio ocorrem, muitas vezes, pelo excesso de atividade mental da Terra. (CAMPIGLIA, 2009).

Através do diagnóstico, no qual o terapeuta irá questionar vários aspectos da vida pessoal, a expressão das emoções, a alimentação, relação com os climas, hábitos, verificar pulsação, observação e aspectos da língua, a cor e os aspectos da pele, entre outras, avaliar excessos e insuficiências de yin e yang, analisar as causas responsáveis pelo desequilíbrio, o acupunturista irá definir o melhor tratamento e as escolhas dos pontos de acupuntura. Através da seleção dos acupontos (pontos de acupuntura), irá sedar os excessos e tonificar as insuficiências, de forma a promover o equilíbrio das funções desarmônicas. Isto pode ser feito através de agulhas, moxas, magnetos, eletroacupuntura, entre outros. Segundo a MTC, as desarmonias ou desequilíbrios podem ser verificados através de sinais físicos ou psíquicos, já que ambos pertencem à mesma unidade. Cordeiro (1994) explica que:

O pensamento chinês não separa o corpo da mente (...) considera o indivíduo como um todo, de maneira global, e, por isso, as características psíquicas de cada um orientam o terapeuta para o diagnóstico concomitante do estado físico e psíquico do paciente. Em conseqüência, a ação da acupuntura, no corpo físico, repercute inevitavelmente no estado psíquico.

A Acupuntura associada a outros tratamentos, como a psicoterapia e/ou uso de psicofármacos pode ser um importante aliado na ajuda àquelas pessoas com medo de dirigir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do conteúdo exposto, pôde-se ter uma breve noção sobre a importância do tratamento com Acupuntura aliada à Medicina Ocidental em pessoas que possuem o medo de dirigir. Um dos acontecimentos que mais tem crescido ultimamente no sistema trânsito é o medo de dirigir. São muitas as causas para o medo de

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dirigir. O homem, sob o ponto de vista psicológico, é extremamente complexo, suas reações dependem de sua personalidade, de seu intelecto, sua cultura e sua visão de mundo. Por isso, tem que estar em equilíbrio físico, psíquico e emocional. No entanto, o ser humano não pode ser analisado separadamente. Tem que se levar em conta sua história, personalidade, interesses e necessidades. Algumas atitudes inadequadas por parte de alguns condutores prejudicam o bom desempenho do trânsito, colocando em risco sua vida e de outras pessoas. Ao se propor um tratamento psicoterápico e/ou psiquiátrico às pessoas que procuram a superação do medo de dirigir, tenta-se estudar o comportamento humano presente no trânsito, onde psicólogo e médico psiquiatra analisam, avaliam e propõem mudanças necessárias ao bem estar de todos. Do ponto de vista da MTC, as pessoas que tem medo de dirigir apresentam desequilíbrios, ou seja, desarmonias energéticas que as levam a apresentar sintomatologias relacionadas ao estresse, medo, ansiedade, etc. Desarmonias estas que podem muitas vezes estar ligadas aos elementos Água, Fogo e Terra. Aliado a isto, o terapeuta acupunturista, através de questionários, inspeções adequadas sobre o paciente e chegando a um diagnóstico, poderá analisar de forma mais precisa e definir qual o melhor tratamento a ser realizado, a escolha de métodos utilizados e pontos. Desta forma então, consegue-se reestabelecer o equilíbrio das funções desarmônicas, objetivando, assim como na Medicina Ocidental, o bem estar, o reequilíbrio físico, psíquico e emocional.

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ARTIGO ORIGINAL

A ACUPUNTURA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE DO TRABALHADOR: UM ESTUDO DESCRITIVO

Girão, Á. C.1*

1-Mestre em Enfermagem, Universidade Federal do Ceará, Enfermeiro e acupunturista do Serviço

Integrado de Saúde do Fórum Clóvis Beviláqua, Fortaleza, Ceará.

RESUMO: Introdução: A acupuntura constitui importante recurso terapêutico multiprofissional para o tratamento de desordens agudas e crônicas, inclusive as relacionadas ao trabalho. Nesta perspectiva, a acu-puntura influencia positivamente a qualidade de vida dos indivíduos, pois contribui para o desenvolvimento da motivação e criatividade, proporcionando relações interpessoais harmoniosas, maior rendimento no trabalho e aumento na produtividade. Objetivo: Este estudo descreve os resultados da acupuntura no rol de atividades do serviço de saúde de uma unidade do Poder Judiciário do Ceará. Metodologia: Estudo descritivo e explica-tivo de natureza quantitativa com dados coletados dos prontuários dos servidores (N= 95) que se submeteram a sessões de acupuntura em 2010. A análise dos dados foi realizada com o Microsoft Office Excel 2007, extraindo-se as frequências absolutas e relativas das categorias estudadas. Resultados: Realizaram-se 693 atendimentos, com um tratamento consistindo de dez sessões, uma por semana, no período médio de dois me-ses, com duração de 40 minutos cada. Os problemas de saúde tratados foram os musculoesqueléticos (54%), seguidos das enxaquecas (19%) e estresse (8%). As queixas estão em 38% relacionadas direta ou indireta-mente às formas inadequadas de trabalho. Os resultados de alguns ciclos de tratamento são bastante eficazes e impedem o afastamento do servidor do ambiente de trabalho. Conclusão: A acupuntura se destaca como recurso apropriado para a promoção da saúde no ambiente de trabalho, retratando uma tecnologia de saúde eficaz e de baixo custo, com incentivo à interdisciplinaridade e de fácil inserção em serviços de diferentes complexidades, além de contemplar em seus pressupostos teórico-metodológicos a multidimensionalidade do processo saúde-doença.

PALAVRAS-CHAVE: Acupuntura, promoção da saúde, saúde do trabalhador. ABSTRACT: Acupuncture is an important therapeutic resource for multidisciplinary treatment of acute and chronic disorders, including those related to work. In this perspective, acupuncture positively influ-ences the quality of life of individuals, it contributes to the development of motivation and creativity, provid-ing harmonious interpersonal relationships, greater work performance and increased productivity. This study describes the results of acupuncture in the list of activities of the health service in a unit of the judicial branch of Ceará. A descriptive and explanatory quantitative data collected with the charts of servers (N = 95) who underwent acupuncture sessions in 2010. Data analysis was performed with Microsoft Office Excel 2007, extracting the absolute and relative frequencies of the categories studied. There were 693 attendances, with a treatment consisting of ten sessions, one per week, the average period of two months, lasting 40 minutes each. The health problems treated were musculoskeletal (54%), headache (19%) and stress (8%). Complaints are 38% directly or indirectly related to inappropriate forms of work. The results of some treatment cycles are quite effective and prevent medical licenses. Acupuncture stands as appropriate resource for health promotion in the workplace, portraying a healthcare technology and cost effective, with encouraging interdisciplinary and easy insertion in services of different complexity, and contemplate on their theoretical-methodological the multidimensionality of the disease process.

KEY-WORDS: Acupuncture, health promotion, health worker.

*Autor para correspondência: Rua Efésio, 453, apto. 1303-A, Luciano Cavalcante, CEP 60811-180, Fortaleza, Ceará. E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

O modelo de promoção da saúde preconizado pela Organização Mundial da Saúde – OMS, definido como o processo de capacitação do indivíduo e/ou co-munidade para coatuar na melhoria da qualidade de vida, reformula as práticas de atenção à saúde ao in-centivar a autorresponsabilidade individual e coletiva no processo saúde-doença e à participação comuni-tária mais explícita na formulação de políticas públi-cas de saúde (OMS, 1986). As Práticas Integrativas e Complementares de Saúde - PICS acolhem os pressupostos desse mod-elo no sentido de estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde através de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integralidade do ser humano, inclu-indo uma visão ampliada do processo saúde-doença e a promoção do cuidado humano, especialmente do autocuidado (LUZ, 2005). Para tanto, a elaboração da Política Nacional de Práticas Integrativas e Com-plementares - PNPIC, através da portaria nº 971 de 03/06/2006 do Ministério da Saúde, embasa teórica, política e juridicamente as PICS que são crescentes em demanda nos serviços públicos de saúde (quais sejam: a acupuntura, a fitoterapia, a homeopatia, o ter-malismo social/crenoterapia, a medicina antroposó-fica, a meditação, os exercícios corporais); delimita objetivos baseados nos critérios da OMS e aponta di-retrizes para uma maior estruturação e fortalecimento das referidas intervenções no SUS (BRASIL, 2006). Adotando essa perspectiva na dimensão da saúde no trabalho, a participação das PICS neste es-paço influencia positivamente a qualidade de vida dos indivíduos, uma vez que o intercâmbio dos níveis psicossociais, culturais, econômicos e ambientais é indissociável na gênese de estratégias que promo-vam a saúde como um recurso humano para o desen-volvimento de potencialidades em qualquer esfera de atuação (OMS, 1986).As PICS são utilizadas como fator motivador e de estimulação da criatividade e qualidade de vida em empresas e instituições públi-cas e privadas que buscam melhoria nas relações in-terpessoais, maior rendimento no trabalho, aumento na produtividade com intervenções de baixo custo de implantação (HOROWITZ, 2010; SANTOS; WAG-NER, 2010). O presente estudo descreve os resultados al-cançados no ano de 2010 na inserção da acupuntura como recurso terapêutico multiprofissional no rol de atividades do serviço integrado de saúde de uma uni-dade do Poder Judiciário do Ceará.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo e explicativo de natureza quantitativa, uma vez que busca identifi-car problemas de saúde, descrever uma intervenção e analisar sua influência na qualidade da dinâmica organizacional (SEVERINO, 2007). Os dados foram coletados a partir dos prontuários dos servidores que se submeteram a sessões de acupuntura no ano de 2010 no serviço integrado de saúde desta instituição. Os critérios de inclusão são servidores e de-pendentes, terceirizados e militares que procuram o serviço espontaneamente para promoção da saúde, reabilitação ou tratamento de agravos à saúde vincu-lados ou não à ocupação que exerce. Os critérios de exclusão estão condicionados tratamento com dispensa ao final, observando-se os critérios de alta por desistência, por falta injustificada, por melhora de transtorno crônico ou por melhora de transtorno agudo. A acupuntura estimula pontos anatômicos que provocam a liberação, no sistema nervoso central, de neurotransmissores e outras substâncias responsáveis pelas respostas de promoção de analgesia, restauração de funções orgânicas e modulação imunitária (BRA-SIL, 2006). Os procedimentos são desenvolvidos em 10 sessões, uma por semana, com duração média de 40 minutos. A análise dos dados foi realizada com o aplicativo Microsoft Office Excel 2007, extraindo-se as frequências absolutas das categorias estudadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seção de acupuntura do Serviço Integrado de Saúde - SIS do Poder Judiciário do Estado do Ceará realizou 693 atendimentos no ano de 2010, ben-eficiando 95 trabalhadores entre diversas categorias, distribuídos em 401 atendimentos no Fórum Clóvis Beviláqua - FCB e 292 no Tribunal de Justiça – TJ , conforme gráfico abaixo.

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Figura 1 - Percentual de atendimentos com acupuntura no TJ e Fórum. SIS, Dez, 2010

O tratamento foi individualizado, consistindo de 10 (dez) sessões, uma por semana, com duração em média de dois meses para cada servidor. Essa terapêutica é ofertada em dois dias da semana na sede do Tribunal de Justiça do Ceará e em três para o fórum da comarca de Fortaleza, em horários convenientes ao servidor e sem prejuízo ao desempenho das funções laborais. As sessões foram aplicadas com uma duração máxima de 40 minutos cada, totalizando 10 sessões, sempre de acordo com a conveniência das participantes. O tempo da sessão foi estimado com base em pesquisas e na prática clínica local, indicando um formato de 10 sessões (WHITE; FILSHIE , 2001, MACPHERSON et al.,2002, PRADY et al., 2008). As figuras 2 e 3 mostram as categorias funcio-nais que mais buscam o serviço de acupuntura, que na maioria são servidores (64,3%), seguidas de ter-ceirizados, comissionados, dependentes e militares, justificando a necessidade e a manutenção de uma prática terapêutica onde os principais beneficiados resolvem ou amenizam seus problemas de saúde no próprio ambiente de trabalho.

Figura 2 – Categorias funcionais atendidas com acupuntura

no FCB em números absolutos (N=53). SIS, Dez, 2010

Figura 3 – Categorias funcionais atendidas com acupuntura no TJ, em números absolutos (N=42). SIS, Dez, 2010

A Figura 4 enumera os principais problemas de saúde, relacionados ao ambiente de trabalho, tratados com acupuntura. Destacam-se as dores musculoesqueléticas como ombralgia (12%), epicondilite (7%), cervicobraquialgia (8%), lombossacralgia (7%), lombociatialgia (4%), tendinite (7%), dorsalgia (3%), gonalgia (2%), tornozelo (1%), perfazendo mais de 54% de todos os procedimentos, incluindo-se os de urgência. As enxaquecas constituem 19% dos procedimentos, principalmente em mulheres, contribuindo para a elevação de condutas de urgência, seguidas das queixas de estresse (8%), com sintomatologias físicas e psicológicas variadas como cansaço, indisposição mental, dores generalizadas, problemas de memória e concentração. Os problemas de saúde apontados corroboram os achados em prontuários anteriores, nos quais os servidores apresentaram desordens vinculadas ao estresse, enxaquecas e dores musculoesqueléticas. Verifica-se relação direta ou indireta às condições de trabalho, isto é, podem ser provocadas ou prejudicadas pelo desempenho das atividades laborais.

São queixas relacionadas ao ambiente de trabalho, familiar e pessoal que repercutem negativamente no desempenho profissional e na qualidade dos serviços jurisdicionais, aumentando as requisições de afastamento e licenças médicas.

Figura 4 – Queixas principais para tratamento com acupuntura. SIS, Dez, 2010

A SOBRAFISA VOLUME 3 / NÚMERO326

A Figura 5 relaciona as queixas com a ocupação dos servidores.

Figura 5 – Relação das sintomatologias com a ocupação no

FCB e TJ. SIS, Dez, 2010

No FCB, 49% dos problemas de saúde tratados pela acupuntura são referidos direta ou indiretamente ao exercício da ocupação, enquanto no TJ, 23%. As formas de trabalho inadequadas como digitação excessiva, esforço em músculos e articulações já enfraquecidos, postura inapropriada em atividades repetitivas (digitação em audiências, busca de processos em local de difícil acesso, sobrepeso na movimentação de processos empilhados), bem como a sobrecarga de trabalho e a pressão por resultados em alguns serviços, são fatores que contribuem ao agravamento ou início dos sintomas levados ao ambulatório. Especificamente sobre as desordens musculoesqueléticas, a oferta da acupuntura possibilita uma alternativa terapêutica à convencional com um olhar na multifatorialidade da enfermidade. Neves e Nunes (2006) apontam a necessidade de intervenções em saúde do trabalho com propostas integrativas, dando a abertura ao servidor compreender as diversas etiologias que desencadeiam este adoecimento em particular. Na maioria dos casos, os resultados de um ou vários ciclos de tratamento com acupuntura são bastante eficazes, e impedem o afastamento do servidor do ambiente de trabalho. Além disso, os benefícios prestados aos servidores representam a melhora e até o controle de desordens crônicas, o restabelecimento da homeostase do organismo e a promoção de bem estar físico e mental no trabalho. A repercussão organizacional se estabelece em situações intra e interpessoais mais harmoniosas, com eficaz resolução de conflitos, na elevação do desempenho e da produtividade individual e coletiva, refletindo numa melhor prestação dos serviços ofertados.

CONCLUSÃO

A inclusão das PICS que desenvolvam a motivação, a criatividade, o aprimoramento da

capacidade física e mental do trabalhador, de forma coletiva ou individualizada, preconizadas na PNPIC, tornam o ambiente de trabalho promotor de saúde física e mental, incentivando uma maior qualidade nos serviços prestados. A acupuntura se configura como recurso apropriado para a promoção da saúde no ambiente de trabalho retratando uma tecnologia de saúde eficaz e de baixo custo, com incentivo à interdisciplinaridade e de fácil inserção em serviços de diferentes complexidades, além de contemplar em seus pressupostos teórico-metodológicos a multidimensionalidade do processo saúde-doença.

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A SOBRAFISA VOLUME 3 / NÚMERO328

ARTIGO ORIGINAL

EFEITO DA ACUPUNTURA NA MELHORA DA FLEXIBILIDADE DOS MEMBROS INFERIORES

Pretti, C.A. 1*; Hara, C.M. 2; Silva, M.L. 3.

1-Fisioterapeuta, aluna do curso de Especialização Latu Senso em Acupuntura IPES/FCV.

2-Fisioterapeuta, aluna do curso de Especialização Latu Senso em Acupuntura IPES/FCV.

3-Fisioterapeuta Acupunturista, Doutor em Farmacologia pela FMRP-USP.

RESUMO: Introdução: Os exercícios de flexibilidade muscular estão entre os mais comumente uti-lizados na reabilitação e na prática esportiva. Normalmente os seus objetivos incluem reduzir os riscos de lesões, minimizar a dor muscular tardia e melhorar o desempenho muscular geral. A flexibilidade muscular, por sua vez, tem sido definida como a habilidade de um músculo alongar-se, permitindo que uma articulação se mova através da sua amplitude de movimento (ADM). Contrariamente, a perda da flexibilidade muscular é revelada pela redução da capacidade de um músculo deformar-se, resultando numa redução da ADM. Particu-larmente na área da reabilitação, a flexibilidade dos músculos isquiotibiais é importante no equilíbrio postural, manutenção completa da ADM do joelho e quadril, prevenção de lesões e otimização da função músculo esquelética. Objetivo: O propósito deste estudo foi analisar os efeitos imediatos da acupuntura na melhora da flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Metodologia: Participaram deste estudo 12 jogadoras de vôlei amador entre 16 e 28 anos. Foi realizada a goniometria de flexão de quadril para avaliar o encurtamento de isquiotibiais antes e após a aplicação dos pontos de acupuntura VB 34, E 44, E36 e F3, que foram estimulados por 20 minutos. Na semana seguinte as mesmas jogadoras participaram do grupo controle, foram submetidas ao mesmo teste e permaneceram em repouso durante 20 minutos. Resultados: Os resultados mostraram uma média de 14% de melhora imediata na flexibilidade muscular. Conclusão: A acupuntura se mostrou eficaz na melhora da flexibilidade dos músculos isquiotibiais.

PALAVRAS-CHAVE: Acupuntura, amplitude de movimento, flexibilidade, isquiotibiais.

ABSTRACT: Introduction: Muscle flexibility exercises are among the most commonly used in reha-bilitation and sports. Usually their goals include reducing the risk of injury, minimize delayed onset muscle soreness and improve overall muscle performance. Muscle flexibility, in turn, has been defined as the ability of a muscle stretch, allowing joint moves through its range of motion (ROM). Conversely, loss of muscle flexibility is shown by the decreased ability to deform in a muscle, resulting in a reduction of the ADM. Par-ticularly in the area of rehabilitation, the flexibility of the hamstring muscles is important in postural balance, maintaining full knee ROM and hip, injury prevention and optimizing skeletal muscle function. Objective: The purpose of this study was to analyze the immediate effects of acupuncture in improving the flexibility of the hamstring muscles. Methodology: The study included 12 amateur volleyball players between 16 and 28 years. Was performed goniometry hip flexion, to evaluate the shortening of hamstrings before and after appli-cation of acupuncture points VB 34, E 44, E36, F3, which were stimulated for 20 minutes. The following week the same players involved in the control group underwent the same test and remained at rest for 20 minutes. Results: The results showed an average of 14% immediate improvement in muscle flexibility. Conclusion: Acupuncture is effective in improving the flexibility of the hamstring muscles.

KEYWORDS: Acupuncture, range of motion, flexibility, hamstrings.

*Autor para correspondência: Avenida Arthur Verry, 86 – Nova Jaboticabal – Jaboticabal/SP – CEP: 14887-018. Email: [email protected].

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INTRODUÇÃO

Os exercícios de flexibilidade muscular estão en-tre os mais comumente utilizados na reabilitação e na prática esportiva. Seus objetivos incluem reduzir os riscos de lesões, minimizar a dor muscular tardia e melhorar o desempenho muscular geral (HERBERT e GABRIEL, 2002). A capacidade da unidade músculo-tendínea de alongar-se, enquanto um segmento corporal ou ar-ticulação, movendo-se através da amplitude de movi-mento livre de dor e restrições, é entendida como flexibilidade. O encurtamento refere-se à redução do comprimento de uma unidade músculo-tendínea que permanece saudável, resultando em limitação na mo-bilidade articular. Um músculo encurtado pode ser quase completamente alongado, exceto nos limites extremos de sua amplitude, o que comumente ocorre em músculos biarticulares (KISNER e COLBY, 1998). As principais técnicas de desenvolvimento da flexibilidade são o alongamento ativo, o alongamento passivo e a facilitação neuromuscular proprioceptiva, podendo associar às mesmas a contrações excêntri-cas, concêntricas ou isométricas durante a estimu-lação dos músculos agonistas e antagonistas (BAG-RICHEVSKY, 2002). A musculatura posterior da coxa, conhecida como isquiotibiais, é composta pelos músculos bíceps fem-oral, semimembranoso e semitendinoso, a ação mus-cular desse grupo é complexa, em decorrência do fato de serem estruturas biarticulares atuando na extensão do quadril e na flexão do joelho (HALL,1999). Como há uma interdependência das ações desempenhadas por esse grupo muscular, a efetividade dos isquiotibi-ais como extensores do quadril está relacionada ao posicionamento da articulação do joelho. Com essa articulação estendida, esses músculos são alongados otimamente para agir no quadril. A flexão da coxa ocorre livremente com os joelhos flexionados, sendo limitada pelos isquiotibiais quando ocorre a extensão do joelho (HAMILL e KNUTZEN, 1999). A retração nos isquiotibiais pode resultar em prob-lemas posturais significativos e produzir inclinação posterior contínua da pelve que irá afetar a marcha, ocasionando dores musculares ou articulares nos membros inferiores com seu conseqüente desalin-hamento (HAMILL e KNUTZEN, 1999). A acupuntura é o recurso da Medicina Tradicional Chinesa mais conhecida no Ocidente. É uma técnica onde é feita a introdução, circulação, mobilização de agulhas, promovendo o equilíbrio do organismo, o fortalecimento dos órgãos e das vísceras do corpo. A

acupuntura trabalha nos canais de energia do corpo favorecendo a prevenção e interrupção de um proces-so de adoecimento (DIAS e SOUZA, 2003). A acupuntura altera a circulação do sangue e a energia dos canais dos órgãos e vísceras, levando o corpo a uma harmonia de matéria e de energia. Es-ses efeitos agem sobre o sistema nervoso autônomo e central, assim como o sangue, difundindo o QI, os hormônios, provocando reações de analgesia, aumen-to ou diminuição das funções orgânicas (SILVA, AN-DRADE e VIEIRA, 2004). Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos imediatos da acupuntura na melhora da flexibilidade dos membros inferiores através da avaliação dos isquiotibiais.

CASUÍSTICA E MÉTODOS

Participaram deste estudo 12 jogadoras de vôlei amador entre 16 e 28 anos. Foi realizada a goniometria de flexão de quadril, utilizando como fonte bibliográ-fica o livro Músculos Provas e Funções (KENDALL; MCCREARY; PROVANCE, 1995) para avaliar o en-curtamento de isquiotibiais antes e após a aplicação dos pontos de acupuntura VB 34, E 44, E36 e F3, que foram estimulados manualmente a cada 5 minutos, por um período de 20 minutos. Na semana seguinte as mesmas jogadoras participaram do grupo controle, foram submetidas ao mesmo teste e permaneceram em repouso durante 20 minutos, e em seguida foi re-alizada nova goniometria. As agulhas 0,25x30 utiliza-das para estimulação foram da marca DONGBANG. A comparação das médias para ambos os grupos foi realizada pelo teste t de Student, considerando um nível de significância de p<0,05.

RESULTADOS

Os resultados encontrados mostraram uma mel-hora significativa imediata (p<0,05) na flexibilidade muscular do grupo acupuntura e uma diminuição no grupo repouso, conforme ilustrado na figura 1.

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Figura 1 - Comparações do antes e depois da acupuntura e gru-po controle. Resultados destacados nos gráficos significativos.

DISCUSSÃO

Os resultados encontrados mostraram que a acu-puntura proporcionou uma melhora imediata da flexi-bilidade de membros inferiores, estes pontos foram selecionados devido a seus efeitos analgésicos em membros inferiores e também relaxante muscular. BUSARELLO et al. (2011), estudaram a aplicação de alongamento estático, e de crioterapia seguida de alongamento estático, na eficácia do alongamento dos músculos isquiotibias. Os resultados indicaram que houve um aumento no comprimento do músculo, mas nenhuma diferença significativa foi observada entre os grupos. Em outro estudo, BRASILEIRO, FARIA e QUEIROZ (2007), utilizando 40 voluntários divi-didos em quatro grupos 1) grupo controle; 2) grupo alongamento (técnica sustentar-relaxar) para os mús-culos isquiotibiais, por duas semanas consecutivas; 3) grupo alongamento precedido da aplicação de criote-rapia (25 minutos) na região posterior da coxa e 4) grupo alongamento precedido de aquecimento com diatermia por ondas curtas (25 minutos), observaram que os efeitos agudos para melhora da flexibilidade foram maiores no grupo submetido ao resfriamento, quando comparado aos grupos somente alongado ou aquecido. Os efeitos crônicos não foram influencia-dos pelo aquecimento nem pelo resfriamento.

WILHELMS et al. (2010) verificaram em seu estudo com aplicação do Isostretching um aumento da flexibilidade da cadeia pos-terior, imediatamente após a intervenção, e mantendo-se o resultado após duas semanas da intervenção, apesar de so-frer perdas, essas não atingiam o nível das avaliações iniciais pré-tratamento. Ao utilizar o TENS, MACIEL e CÂMARA (2008), avaliaram o efeito da associa-ção alongamento e TENS nos músculos isquiotibiais de mul-heres saudáveissobre ganho de flexibilidade, com 30 mulheres distribuídas em três grupos (n=10): con-trole e grupos de alongamento

(Al e Al+TENS), e concluíram que o uso da TENS associada ao alongamento não promove maior ganho de flexibilidade muscular, em relação ao alongamento isolado. Apesar da existência de vários estudos sobre a temática, com várias possibilidades de melhora da flexibilidade, a acupuntura se mostrou como mais uma ferramenta, para manutenção da integridade ar-ticular, muscular e de todas as estruturas afetadas pelo encurtamento muscular.

CONCLUSÃO

A acupuntura se mostrou eficaz na melhora imediata da flexibilidade dos membros inferiores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGRICHEVSKY, M. O desenvolvimento da flexi-bilidade: uma análise teórica de mecanismos neurais intervenientes. Revista Brasileira de Ciências do Es-porte, v. 24, n. 1, p. 199-210, 2002.

BUSARELLO, FO; SOUZA, FT; DE PAULA, GF; VIEIRA, L; NAKAYAMA GK; BERTOLINI, GRF. Ganho de extensibilidade dos músculos isquiotibiais comparando o alongamento estático associado ou não à crioterapia. Fisioter. mov. (Impr.), vol.24, no.2, Cu-ritiba, Apr./June, 2011.

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HAMILL, J, KNUTZEN, K. Anatomia funcional dos membros inferiores. In: Bases biomecânicas do movi-mento humano. Ed. Manole; p.205-244, São Paulo, 1999.

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KISNER, C; COLBY, LA. Alongamento. In: Exer-cícios terapêuticos – fundamentos e técnicas. Ed. Manole, p. 141-179, São Paulo, 1998. MACIEL, ACC; CÂMARA, SMA. Influência da es-timulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) asso-ciada ao alongamento muscular no ganho de flexibili-dade. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 12, n. 5, p. 373-8, Set./Out, São Carlos, 2008.

SILVA, AMR; ANDRADE, KF; VIEIRA, SL. Acu-puntura em Fisioterapia Dermato Funcional na Face. Sobrafisa, vol. 1, no.2, p. 1-3, 2004.

WILHELMS, F; MOREIRA, NB; BARBOSA, PM; VASCONCELLOS, PRO; NAKAYAMA, GK; BER-TOLINI, GR. Análise da flexibilidade dos músculos da cadeia posterior mediante a aplicação de um pro-tocolo específico de Isostretching. Arq. Ciênc. Saúde UNIPAR, Umuarama, v. 14, n. 1, p. 63-71, Jan./Abr, 2010.

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ARTIGO ORIGINAL

MEIOS ALTERNATIVOS DE TRATAMENTO USADOS POR DOCENTES DEENFERMAGEM PARA ALÍVIO DO ESTRESSE NO SEU COTIDIANO

PROFISSIONAL

Corral-Mulato, S.1*; Bueno, S. M. V.2; Silva, J. R. T.3

1-Fisioterapeuta, acupunturista, doutora em Ciências pela EERP-USP

2-Profa. Titular do D-epto. de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo (EERP-USP).

3-Fisioterapeuta, acupunturista, doutora em Farmacologia pela FMRP-USP.

RESUMO: Objetivo: Verificar com docente de enfermagem de uma universidade pública quais ações estão realizando no sentido de aliviar o seu cansaço e estresse cotidiano. Metodologia: pesquisa qualitativa, utilizando questionário misto, entregue aos docentes após aprovação do comitê de ética. Análise das respostas por categorização. Resultados: Responderam à pesquisa 13 docentes, maioria mulheres, com diversas for-mações, casadas, católicas, com filhos. Para aliviar o cansaço e o estresse, os participantes praticam o lazer, o auto-cuidado, o relacionamento pessoal e organizam melhor o tempo. Buscam terapias psíquicas e físicas de acordo com a necessidade, além de terapias alternativas como massagem, acupuntura, reiki, relaxamento, meditação, florais e oração. Dedicam o tempo livre à leitura, esporte, lazer, televisão, trabalho doméstico dentre outros. Conclusão: Os docentes estão aprendendo a organizar o seu tempo, levando em consideração a importância de praticar atividades prazerosas e investir em terapias tradicionais ou alternativas para a ma-nutenção da sua saúde física e mental.

PALAVRAS-CHAVE: Docentes de enfermagem, terapias complementares. atividades de lazer, saúde mental.

ABSTRACT: Objective: Check with faculty nursing at a public university which actions are doing to alleviate their fatigue and stress daily. Methodology: Qualitative research using mixed questionnaire, given to teachers after approval of the ethics committee. Analysis of responses by categorization. Results: 13 teachers responded to the survey, most women with diverse backgrounds, married, Catholic, with children. To relieve fatigue and stress, participants practice leisure, self-care, personal relationships and organize the best time. Seek psychic and physical therapy as needed, and alternative therapies such as massage, acupuncture, reiki, relaxation, meditation, prayer and floral. They dedicate their free time to reading, sport, leisure, television, housework among others. Conclusion: Teachers are learning how to organize your time, taking into account the importance of practicing pleasurable activities and invest in traditional or alternative therapies to maintain their physical and mental health.

KEYWORDS: Faculty nursing, complementary therapies, leisure activities, mental health.

*Autor para correspondência: Rua Engenheiro Celso Antônio Perticarrari, 265, Ilha Murano - Jardim Nova Aliança Sul CEP: 14027-175, Ribeirão Preto – São Paulo E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

Atualmente, as pessoas são identificadas por suas profissões (FREUDENBERGER; RICHEL-SON, 1991). Neste sentido, o trabalho profissional é tão significativo na vida das pessoas, que é consid-erado como um fator que pode interferir em outros aspectos da vida do indivíduo, de tal modo, que as relações laborais influenciam no comportamento, nas expectativas, nos projetos para o futuro, na linguagem e até mesmo, no afeto dos indivíduos (CODO, 1993). Os tempos mudaram e o trabalho escolar/acadêmico também. O ensino não é mais como tem-pos atrás. A escola pós-moderna passou por profun-das transformações. O professor, como consequência, também se viu impulsionado a efetuar mudanças pas-sando a ser um coordenador, um facilitador do pro-cesso de ensino-aprendizagem (CARLOTTO, 2003). Transformações que pressupõem um enorme desafio pessoal e coletivo em relação aos educado-res que se propõem a responder às novas expectativas do paradigma da educação progressista, crítico-social (BUENO; MOKWA, 2007). No entanto, é difícil atingir um equilíbrio en-tre as exigências do trabalho e as necessidades psico-fisiológicas do trabalhador, conflito que pode levar o indivíduo ao sofrimento, refletindo na sua saúde física e mental, bastando diminuir a pressão organizacional para que toda manifestação do sofrimento desapareça (DEJOURS, 2000). Atualmente, o estresse é um dos fatores re-sponsáveis por alterações do estado de saúde e de bem-estar do indivíduo que pode levar à doença e à morte, tendo sido provada a possibilidade de se pre-venir a morbidade e impedir a mortalidade ocasion-ada por ele (PAFARO; MARTINO, 2004). O estresse é o resultado de uma inte-ração entre a pessoa e o mundo em que ela vive, de suas experiências passadas e suas expectativas para o futuro, podendo originar tanto de fontes internas, quanto externas (LIPP et al., 1990; FRANÇA; RO-DRIGUES, 2005). As estratégias de enfrentamento têm o objetivo de mudar ou adaptar o comportamento do indivíduo às situações vivenciadas de modo a reduzir a ansiedade e restaurar a homeostase com menor dano possível à sua qualidade de vida (FARAH, 2001).Em estudo de Matos (2000), as atividades para alívio do estresse mais utilizadas pelos docentes, foram: atividades recreativas e físico-esportivas, fuga-evi-tação, atividades de relaxamento, apoio social, ativi-dades de enfrentamento, atividades espirituais, apoio familiar, expressar os sentimentos, evitar interferên-

cia no trabalho ou não utilizam estratégias. Nesse sentido, a capacidade de trabal-ho está intimamente ligada à saúde do trabalhador, de modo que essa é diretamente afetada pelas condições de trabalho a ele oferecidas. Por conseguinte, a rela-ção saúde-trabalho não envolve somente os trabalha-dores diretamente engajados no processo de trabalho, mas também suas famílias e a própria instituição onde trabalham (SILVA, 1999). Tendo em vista esses pressupostos, o objetivo deste estudo é verificar com docente de en-fermagem de uma universidade pública quais ações estão realizando no sentido de aliviar o seu cansaço e estresse cotidiano.

METODOLOGIA

Este estudo foi realizado por meio de uma pesquisa de abordagem qualitativa, baseando-se em referenciais teóricos de Freire (2005), Bueno (2009) e Thiollent (2009), desenvolvida em uma universidade pública do interior paulista. Os participantes foram 13 docentes de diversas formações de um curso de grad-uação em Enfermagem de uma universidade pública situada no interior do estado de São Paulo, identifica-dos nos resultados como (P). Como técnica de coleta de dados, foi utilizado um questionário informativo (com questões – aber-tas e fechadas), identificando dados pessoais (sexo, idade, estado civil, religião e filhos), de formação e o levantamento da visão dos docentes de enfermagem sobre o tema central, com as questões do integrantes do Quadro 1:

Quadro 1 1) Como cuidador da sua própria saúde, o que faz ou já fez para aliviar o seu cansaço e seu estresse?2) Você já procurou ou pensa procurar um terapeuta para ajudá-lo (a)? O que?3) Você já procurou ou pensa procurar meios alterna-tivos para ajudá-lo (a)? Quais e por quê?4) Durante o seu tempo livre a que atividades você se dedica? Favor marcar com um X: ( ) Prática desportiva; ( ) Trabalhos domésticos; ( ) Trabalho doméstico como lazer; ( ) Uso de computa-dor; ( ) Leitura; ( ) Atividades artesanais; ( ) TV e vídeos; ( ) Atividades gerais de lazer/recreação; ( ) Outros.

projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (Proces-

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so no. 0834/2007), segundo as normas da Resolução n.º 196/96. A coleta de dados foi realizada durante o mês de novembro de 2007, por meio de correspondência entregue na caixa de correspondência de cada pro-fessor, (local onde são deixadas as correspondências endereçadas aos professores) na unidade pesquisada. Para tanto, foi deixado em um envelope fechado, o questionário com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que foi assinado, autorizando a participação. O questionário já respondido e o TCLE assinado foram recolhidos pelo pesquisador em tem-po pré-determinado no mesmo local de entrega. Para a análise de dados, foi utilizado o levan-tamento do universo temático, segundo referencial de Freire (2005) adaptado por Bueno (2009), visando à descrição e interpretação da situação dos partici-pantes da pesquisa, identificando suas necessidades, conhecimentos prévios e habilidades. A organização desta análise seguiu as seguintes fases: - Levantamento dos temas geradores;- Organização do material da coleta de dados;- Seleção e codificação de palavras e frases registra-das/emitidas;- Síntese de palavras e frases selecionadas;- Ordem dos temas geradores.

RESULTADOS

Quando perguntado sobre quais recursos uti-lizam para o alivio do cansaço e do estresse cotidi-ano, as respostas puderam ser enquadradas em quatro categorias: 1) Prática do lazer como recurso para o alívio do cansaço/estresse; 2) Auto-cuidado como re-curso; 3) Relacionamento interpessoal como recurso; 4) Melhor organização do tempo como recurso.Na categoria 1, Prática do lazer para alívio do cansa-ço/estresse, classificamos as seguintes respostas: “Ler, passear, viajar, cinema, ver tv...” (P1); “...cinema, leitura...” (P4); “...vídeos, músicas...” (P8); “Ouço música e passeio a pé...” (P9); “Procuro fazer atividades de lazer, viajar, ler livros...” (P10); “...músicas, hipismo...” (P11); “...estar em contato com a natureza sempre que posso...” (P12); “Pinto telas...” (P13). Na categoria 2, Auto-cuidado como recurso, foram classificadas as seguintes respostas: “Terapia pessoal, exercícios físicos, yoga...” (P2); “Exercícios diários (5X semana)...” (P4);

“Caminhar meia hora por dia, dormir cedo, ouvir música suave enquanto trabalho...” (P6); “Atividade física...” (P7); “Esportes, ciclismo, natação, biodança, tai-chi-chuan, caminhadas...” (P8); “Caminhadas...” (P11); “Basicamente procuro meditar...” (P12); “...pratico caminhada... faço massagem relax-ante com fisioterapeuta...” (P13). Na categoria 3, Relacionamento interpessoal como recursos foram classificadas as respostas: “Participar de atividades comunitárias volun-tárias...” (P1); “Aproveito o final de semana para descansar com minha família...” (P3); “...conviver diariamente com os filhos...” (P4, P6); “...convivência com amigos...” (P11). Na categoria 4, Recursos relativos à melhor organização do tempo, foram respondidos: “Regulo os altos e baixos. Quando estou acel-erada eu ponho esta energia em atividades úteis. Meu rendimento aumenta...” (P5); “...descanso no final de semana... não trabalho nos finais de semana...” (P13).Embora a maioria dos respondentes referirem já ter buscado auxílio de um terapeuta, alguns respond-eram que nunca procuraram este tipo de ajuda. Nesta questão, obtivemos as seguintes categorias: 1) Rela-tivo à necessidade da busca de terapias; 2) Relativo à busca por terapia Psíquica; 3) Relativo à busca por terapia física.Relativo a categoria 1, Necessidade da busca de tera-pias, obtivemos as seguintes respostas: “Tem momentos necessários, para recuperar as forças, o sentido religioso também tem seu papel relevante, visando à crença a algo superior...” (P1) “Não tenho essa necessidade no momento...” (P4) “Há 30 anos atrás quando iniciei meu trabalho na enfermagem psiquiátrica...” (P5) ”Coloco prioridades na vida; meu filho neces-sitou de terapeuta, que é caro, portanto direciono o gasto para ele. Acredito que tenho condições de me ajudar sem terapeuta...” (P6) “...para enfrentamento do futuro e do envelhe-cimento.” (P9) Na categoria 2, Relativas à procura de terapia psíquica, as respostas foram: “Terapia pessoal, yoga...” (P2) “Psicólogo...” (P9) “Faço terapia com psicólogo há 2 anos.” (P12)Relativo a categoria 3, Busca de terapia física, as res-

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postas obtidas foram: “Yoga.” (P2) “Fisioterapeuta (físico).” (P13) No entanto, relativo à procura de tratamentos alternativos, a grande maioria dos sujeitos referiu já ter buscado auxílio para alívio das tensões cotidianas. As categorias identificadas nesta questão foram: 1) Tratamento alternativo com atividade física e mas-sagem; 2) Tratamento alternativo com terapia ener-gética e florais; 3) Outras respostas como tratamento alternativo.Relativo à categoria 1, Tratamento alternativo com atividade física e massagem, quase metade dos re-spondentes citaram alguma procura nesse sentido: “Yoga” (P2); “Caminhada, natação” (P5) “Prefiro modalidades não-tradicionais, como biodança e tai-chi-chuan” (P8) “Realizar controle de saúde e atividade física” (P9) “Atividades físicas” (10) “Terapias corporais como shiatsu... tai-chi-chuan” (P12) “Massagem” (P13) Alguns respondentes citaram a busca de trata-mento alternativo utilizando a terapia energética e flo-rais, o que foi enquadrado na categoria 2: “Acupuntura... reiki, relaxamento, mentaliza-ção, visualização” (P1) “Acupuntura para me deixar mais disposta” (P3) “...ter contato com a natureza; descansar a mente” (P6) “...técnicas da medicina tradicional chinesa” (P12) “Florais” (P1, P2)Na categoria 3, relativo a outras respostas como trata-mento alternativo, obteve-se: “...oração, música...” (P1) “...jogos de baralho...” (P5) “Rezar, pois acredito que a oração nos faz refletir outra realidade e centra o foco da atenção em outro ser, além de mim” (P6)Apenas um dos respondentes citou não sentir neces-sidade de buscar esse tipo de tratamento: “Não tenho essa necessidade no momento...” (P4) Na questão sobre atividades as quais o do-cente se dedica no seu tempo livre, todos os docentes responderam dedicar-se a leitura em seu tempo livre. A maioria referiu dedicar-se ao esporte, bem como ao lazer/recreação, a assistir televisão/vídeo e ao trabal-ho doméstico em seu tempo livre. Quase metade deles

afirmou fazer uso de computador. No entanto apenas uma minoria citou a realização de artesanato e trab-alho doméstico como lazer. Entre eles também houve a citação de passeio no shopping, dança, caminhadas, relaxamento, meditação e oração no tempo livre.

DISCUSSÃO

Benevides-Pereira (2004) cita como atividades para prevenção da síndrome de estresse crônico (Burnout) a utilização do tempo livre para atividades prazerosas e agradáveis, bem como o de-senvolvimento de talentos pessoais, de habilidades que sempre quis aprender ou desenvolver, como pin-tura, música, dança de salão ou outra que venha a trazer satisfação pessoal. Em pesquisa realizada por Zampier e Stefano (2004), com empresas, no sentido de melhora do ambiente de trabalho e diminuição do estresse de seus colaboradores estão: o incentivo ao lazer, cam-panhas informativas e preventivas de saúde, investi-mento em treinamento e saúde, além de apoio à edu-cação. Pereira (2006), em estudo compara-tivo entre docentes de uma universidade particular e pública, constatou que esses dedicam menor tempo ao lazer, corroborando com os dados de maior índice de estresse nos docentes da rede pública. Para ele, o lazer é imprescindível para a vida do homem mod-erno, pois, com ele, o indivíduo descansa e recupera sua energia, restaurando tanto suas capacidades físi-cas, quanto mentais. Segundo estudo de Mendes (2002), os docentes que quase sempre dedicam os finais de semana ao lazer, ao convívio familiar e social e que praticam esporte ou atividade física, são menos pro-pensos a exaustão emocional e à Síndrome de Burn-out. Bauk (1985) propõe alguns elemen-tos para o manejo do estresse, como: tentar manter o nível de satisfação, desfrutando os momentos posi-tivos da vida; evitar nova fonte de estresse; criar e manter sentimento de esperança; enfim, organizar o pensamento de modo a identificar e buscar a causa do problema, analisar e estabelecer alternativas para a solução e não ignorá-lo. Com relação às estratégias defensivas, estão: a busca de suporte social, a demonstração dos sentimentos, a manutenção da auto-estima elevada, o zelo pelas condições de saúde e a busca de técnicas de relaxamento, tanto da mente, quanto do corpo, for-mando o grupo de estratégias positivas e as negativas, que são o uso de tabaco, álcool e outras substâncias

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psicoativas, podendo chegar até o suicídio. No entan-to, todas essas estratégias, são consideradas fugas do problema real, pois as verdadeiras razões para o so-frimento mental, que são características do ambiente laboral, não foram resolvidas (AYRES et al., 1998; AYRES; BRITO; FEITOSA, 1999). Para Farah (2001), o relaxamento uma vez aprendido, pode ser automatizado e ativado, sem-pre que for necessário, podendo ser muito útil, para alunos, para docentes e na própria profissão do enfer-meiro. Como pudemos observar, alguns dos docentes pesquisados utilizam este recurso, juntamente com a prática de atividades físicas, que possuem um efeito de relaxamento tanto do corpo, quanto da mente.A prática de yoga é também um excelente recurso no combate ao estresse, pois além dos efeitos do re-laxamento e meditação, consegue por meio do trein-amento no comando do corpo, o comando da mente (BAUK, 1985). Em estudo realizado por Matos (2000), as estratégias mais utilizadas pelos professores para alívio do estresse incluem tanto ações ligadas direta-mente ao problema ou não, no entanto, uma das es-tratégias mais utilizadas, segundo ele, foi a busca de conselho e apoio social. A melhor organização do tempo foi referida por alguns profissionais como recurso para alivio do cansaço e estresse. Para Benevides-Pereira (2004), uma das for-mas de prevenção dos problemas causados pela Sín-drome de Burnout (estresse crônico) é a organização do tempo, de modo a distribuir as atividades diárias compatível com a realidade, levando em considera-ção não só as atividades relativas ao trabalho, mas também as dedicadas aos cuidados pessoais e lazer.Embora a maioria dos respondentes referirem já ter buscado auxílio de um terapeuta, alguns responderam que nunca procuraram este tipo de ajuda. Garcia e Benevides-Pereira (2003), levanta-ram que mais de 30% dos docentes de nível superior pesquisados, afirmam haver se submetido à psicotera-pia ou ainda estar em tratamento e apresentavam sin-tomatologia da Síndrome de Burnout mais presente do que os outros sujeitos. Nesse sentido, além da psicoterapia ser usada como um ótimo auxiliar no enfrentamento do Burnout pro-fissional, é também um meio de crescimento e apren-dizagem (BENEVIDES-PEREIRA, 2001). Jacques e Codo (2002) propuseram como tratamento do estresse a mudança no estilo de vida, organizar o tempo livre, ressignificar a própria vida, identificar e eliminar as fontes de estresse, além de, se sentir necessidade, buscar o auxilio do psicólogo,

bem como o uso de medicações, conforme o indica-do. Farah (2001) atenta para a importância do conhecimento das reações do próprio corpo e mente e a razão dessas reações, para que o indivíduo tenha a opção de realizar ações conscientes e buscar camin-hos para uma vida melhor. Alguns docentes citaram como terapias a re-alização de atividades físicas. Dennis (1983) já res-saltava como fatores fundamentais para a condição de boa saúde física e mental, os hábitos pessoais e estilo de vida, além da prática de exercícios físicos regula-res, queproporcionam sensação de bem estar, reduzindo com isso, a tensão, conseqüentemente, promovendo o con-trole do estresse. Lipp et al. (1990) propõem um trata-mento comportamental para o estresse baseado em dieta adequada, exercícios de relaxamento, exercícios físicos e tratamento comportamental. Para Bauk (1985), as diversas técnicas de re-laxamento, possibilitam que o indivíduo consiga atin-gir um completo estado de repouso, predominando o sistema nervoso parassimpático ao simpático e, con-sequentemente, reduzindo o estresse, além da descon-tração da musculatura. Em estudo realizado por Lautert (1997) com enfermeiras, foi identificado que mais da metade de-las costumavam ler jornais, revistas ou livros, além de assistir televisão, no tempo livre e pouco mais que 20% praticavam atividade física. Além disso, em tor-no de 80% realizavam atividades domésticas. Apesar desses dados, ela constatou que a Síndrome de Burn-out deve estar mais relacionada ao trabalho profis-sional e não tanto com as atividades extra-laborais. Deste modo a síndrome é específica da atividade lab-oral, no caso, da enfermagem. Constatou ainda que a realização de atividades físicas não foi relacionada à Síndrome de Burnout, apesar de alguns estudos con-siderarem esta atividade com o alívio de tensões. Todavia, Bauk (1985) afirma que a práti-ca de exercício físico, combinada a outros hábitos saudáveis representa grande proteção contra os males do estresse, principalmente os exercícios aeróbicos que proporcionam relaxamento, redução da ansiedade e depressão, aumentam a resistência geral, melho-rando inclusive a aparência com a perda de peso em excesso, de modo a aumentar a auto-estima. Para ele, a prática de meditação, é um ótimo recurso anti-es-tresse, pois reduz pressão arterial, batimentos cardía-cos e freqüência respiratória, além de outros efeitos fisiológicos. Dentre as medidas para prevenção e/ou

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redução do estresse na vida e no trabalho estão: práti-cas regulares de exercícios físicos, bom relaciona-mento entre colegas e chefias, planejamento e orga-nização pessoal, familiar e profissional, redução de conflitos pessoais no trabalho, políticas de reconheci-mento e recompensas aos subordinados e comunica-ção adequada (CHIAVENATO, 1999).

CONCLUSÃO

Apesar de a universidade consumir grande parte do tempo do docente, inclusive o que deveria ser livre para o descanso e prática do lazer com con-fecção e correção de provas e portfólios, reuniões, au-las de graduação nos três períodos letivos, confecção e análise de artigos para revistas especializadas e de projetos para subvenção, dentre outras atividades, eles ainda encontram tempo, mesmo sendo pouco para desenvolver atividades para alivio do cansaço e do estresse cotidiano. Dentre elas, as principais são a prática do lazer e do auto-cuidado, a manutenção do relacionamento interpessoal e tentam organizar mel-hor o tempo para que todas essas atividades caibam em sua semana atribulada. Referem em vários momentos a necessidade pela busca de terapias, sejam elas psíquicas ou físicas para melhor lidarem com os problemas diários e man-ter estável a saúde física e mental. Buscam também pelas terapias alternativas para alívio do cansaço e do estresse no sentido de melhorar a qualidade de vida, principalmente com a prática de atividades físicas, massagens corporais, terapias energéticas como acupuntura, reiki, relaxa-mento, mentalização e contato com a natureza e fa-zem o uso de florais e oração. Dedicam o tempo livre principalmente à lei-tura, mas também ao esporte, ao lazer e recreação, à televisão e aos trabalhos domésticos. Sem deixar de passear pelo shopping, dançar, relaxar, caminhar, meditar e orar. Neste sentido, os docentes estão aprendendo a organizar o seu tempo, levando em consideração a importância que o lazer e a prática de atividades praz-erosas no tempo livre tem em sua saúde física e men-tal. Percebendo quando há a necessidade da busca por terapias sejam elas convencionais ou alternativas e o impacto das mesmas na sua qualidade de vida.

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RELATO DE CASO

A ACUPUNTURA AURICULAR NO TRATAMENTO DA DOR EM OMBROS DE UM PACIENTE COM SÍNDROME DO IMPACTO SUBACROMIAL

Bonagamba, G.H.1*; Bueno, A.R.2; Ito, E.I.3

1-Fisioterapeuta, aluno do curso de Especialização Lato Sensu em Acupuntura IPES/FCV.

2-Terapeuta ocupacional, aluna do Curso de Especialização Lato Sensu em Acupuntura – IPES/FCV.

3-Fisioterapeuta, bacharel em Fisioterapia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – FMRP/USP. Docente do curso de acu-

puntura do Instituto Paulista de Estudos Sistêmicos – IPES. RESUMO: Introdução: A auriculoterapia é uma especialidade milenar que compõe a Medicina Tradicional Chinesa tendo como objetivo prevenir e tratar as doenças através do equilíbrio de energias por meio de estimulação de pontos específicos do pavilhão auditivo. Objetivo: Verificar eficácia de tratamento por Acupuntura Auricular (AA) na dor e limitação funcional na síndrome do impacto. Métodos: Paciente do sexo feminino com quadro de dor em ombros e diagnóstico de síndrome do impacto bilateral. Foram aplicados questionários de incapacidade e dor, SPADI e DASH, antes, após quatro semanas e após oito semanas do trata-mento. A AA foi realizada semanal por oito semanas com semente de mostarda, sobre os pontos shen-men, baço, pâncreas, fígado, adrenal, vértebras cervicais, ombro partes moles, ombro articulação, relaxante muscu-lar e vesícula biliar. Resultados: A pontuação inicial do questionário DASH foi de 59,1%, após quatro semanas foi de 44,1% e após o tratamento foi de 44,1%. A pontuação inicial total do SPADI foi 72,3%, 66,2% na escala de incapacidade e 82% na escala de dor. A pontuação após quatro semanas foi de 38,4% total, 37,5% para in-capacidade e 40% para dor e após oito semanas foi de 67,9%, 55%, 88%, respectivamente. Conclusão: Após quatro semanas de tratamento com AA, a paciente melhorou a incapacidade e a dor, no entanto essa melhora não se manteve após oito semanas de tratamento. A acupuntura auricular se mostrou um recurso favorável para tratamento de dor nos ombros a curto prazo, mas a melhora obtida com esse recurso não foi mantida após oito semanas. PALAVRAS-CHAVE: acupuntura auricular, fisioterapia, síndrome do impacto, tratamento, medicina chinesa.

ABSTRACT: Introduction: Traditional Chinese Medicine is composed by many types of treatment, among them the auriculotherapy, which has the objective to treat diseases beyond the stimulation of acupoints in the ear. Objective: To verify the efficacy of the auriculotherapy treatment for pain and functional impair-ment in a pacient with shoulder impingement. Methods: A woman with both painful shoulders and diagnosed with shoulder impingement of both shoulders. The SPADI and DASH questionnaires were applied before the treatment, after 4 weeks of treatment and after 8 weeks. The acupuncture was performed with mustard seeds, weekly, for 8 weeks, directly in the ear on these acupoints: shen-men, spleen, pancreas, liver, adrenal gland, cervical vertebrae, shoulder soft tissue, shoulder joint, muscle relaxant and gall bladder. Results: The DASH score before treatment was 59,1%. After 4 weeks was 44,1% and after 8 weeks 44,1%. SPADI total score, incapacity scale and pain scale before treatment were 72,3%, 66,2% and 82%, respectively. After 4 weeks it were 38,4%, 37,5% and 40%. After 8 weeks it were 67,9%, 55% and 88%. Conclusion: After 4 weeks of treat-ment the pacient had significantly improvements on the functional impairment and pain, but this improvement were not seen in the end of the treatment, after 8 weeks. Auriculotherapy showed a favorable resource for shoulder pain in short-term, but the improvement obtained by this treatment was not presented after 8 weeks of treatment. KEYWORDS: auriculotherapy, physical therapy, shoulder impingement, teratment, Chinese medi-cine.

*Autor para correspondência: Rua Manoel Duarte Ortigoso, 448 – Jardim Antartica – Ribeirão Preto – SP. CEP: 14051-010. E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO A dor no ombro é uma das disfunções orto-pédicas mais incapacitantes na atualidade (VAS, 2008; GUERRA, 2003). A real prevalência da dor no ombro ainda é incerta, podendo variar de 4-34% nas sociedades industrializadas (BERGENUDD, 1989; VECCHIO, 1995). Essa disfunção pode ser originada por diversas condições, dentre elas as lesões estrutur-ais e anatômicas do complexo articular do ombro até as dores irradiadas da coluna cervical e torácica. As disfunções dos tecidos moles, como ten-dinites e tendinoses do manguito rotador e do tendão da cabeça longa do bíceps, bursites e capsulite, são as causas mais frequentes de dor no ombro (GUER-RA, 2003). Em relação às desordens do ombro, cerca de 70% consistem das lesões do manguito rotador, 11% lesões ligamentares e musculares, 3% artrite gl-enoumeral e 5% são dores irradiadas da coluna cervi-cal (CHARD, 1991). As lesões do manguito rotador são causadas principalmente pelo excesso de sobrecarga articular, instabilidade das articulações glenoumeral e acromio-clavicular, desequilíbrio entre os músculos antagoni-stas e sinergistas, diminuição do espaço subacromial devido à alteração anatômica do arco coracoacromial e às alterações degenerativas dos tendões do man-guito rotador, relacionadas principalmente aos hábi-tos de vida, atividades ocupacionais, tabagismo, e à idade, dentre outros fatores (CUNNINGHAM, 1984; GUERRA, 2003). As principais queixas dos pacientes que apre-sentam desordens do ombro são relacionadas princi-palmente à dor e a restrição de mobilidade. A dor no ombro acontece principalmente durante o repouso ou no período noturno e as limitações de movimento po-dem atingir poucos graus de abdução até limitações globais da amplitude articular, que frequentemente são associadas a atrofia e perda de força muscular (GUERRA, 2003). O indivíduo que apresenta esta patologia, portanto, pode apresentar limitações sev-eras em relação à capacidade funcional e qualidade de vida. O tratamento da síndrome do impacto subacro-mial pode ser cirúrgico ou não-cirúrgico. Atualmente, os principais métodos não-cirúrgicos utilizados para aliviar os sintomas decorrentes dessa patologia con-sistem na injeção de esteroides no local de dor, fi-sioterapia e administração de anti-inflamatórios não-esteroidais (AINH) via oral (VAS, 2008). A utilização dos AINH parece ser mais efe-tiva do que a medicação placebo no tratamento da dor no ombro a curto prazo, auxilia no aumento do

movimento de abdução nas tendinites do manguito rotador, mas o consenso é de que o efeito analgésico ainda pode ser considerado inconclusivo, não haven-do diferença entre os AINH existentes no mercado na redução dos sintomas (TROJIAN, 2005). A injeção local dos corticoesteróides parece ser mais efetiva do que os AINH no aumento da am-plitude de movimento de abdução do ombro nas ten-dinites de manguito rotador, mas os resultados da lit-eratura também ainda são considerados inconclusivos em relação a diminuição significativa da dor prove-niente da síndrome do impacto subacromial (TRO-JIAN, 2005). Em relação à fisioterapia, a utilização da la-serterapia, ultrassom terapêutico, termoterapia com aplicação de calor profundo e superficial, eletrotera-pia e a mobilização articular apresentam poucas evi-dências na diminuição da dor no ombro (TROJIAN, 2005; MICHENER, 2004). Outro recurso terapêutico que tem sido im-plementado no tratamento das disfunções dolorosas do ombro é a acupuntura (TROJIAN, 2005; MI-CHENER, 2004; JOHANSSON, 2011; VAS, 2005; LEWITH, 1984; KLEINHENZ, 1999; GILBERT-SON, 2003; GREEN, 2005; WANG, 2012). A acu-puntura é utilizada na China para tratar este tipo de patologia há mais de 3000 anos. Atualmente, essa técnica milenar vem sendo utilizada no ocidente para auxiliar no tratamento de diversas condições médi-cas, especialmente em patologias de caráter crônico, cuja utilização de técnicas convencionais apresen-tam efetividade limitada (JOHANSSON, 2011; VAS, 2005). A acupuntura, em relação ao uso de AINH ou opióides, demonstrou ser menos nociva no que se remete aos efeitos adversos ou colaterais (VAS, 2005; LEWITH, 1984). Atualmente alguns estudos contro-lados e randomizados apresentaram evidências que suportam a utilização da acupuntura no tratamento das patologias dos tecidos moles dos ombros (VAS; 2008; VAZ, 2005; KLEINHENZ, 1999). Um estudo concluiu que a acupuntura para o tratamento da dor no ombro apresentou melhora significativa da dor, redução na quantidade dos anal-gésicos administrados, aumentou a mobilidade dos ombros e a satisfação dos pacientes em relação ao tratamento (GILBERTSON, 2003). Johansson e co-laboradores (2005) compararam o efeito do ultrassom terapêutico associado e programa de exercícios do-miciliares com o a acupuntura associada ao mesmo programa de exercícios domiciliares para tratamento da dor no ombro. Os mesmos demonstraram que o grupo de indivíduos submetidos ao programa de acu-puntura associada a exercícios domiciliares apresen-

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tou melhora significativa comparado ao ultrassom terapêutico em relação aos níveis de dor e capacidade funcional. No entanto, uma revisão sistemática mostrou que a acupuntura não apresentou eficácia no trata-mento a longo prazo da dor na síndrome do impacto subacromial, desta forma, os autores não apresenta-ram evidências que suportem a utilização desta téc-nica para redução a longo prazo da dor proveniente da síndrome do impacto (MICHENER, 2004) . Outra revisão sistemática mostrou que a acupuntura, quan-do utilizada para tratar a dor no ombro, apresentou poucas evidências que suportem ou refutem o uso da técnica. Dentre os artigos citados na revisão, alguns demonstraram redução da sintomatologia a curto-pra-zo e resultados positivos relacionados à dor e à fun-ção. De acordo com os mesmos autores, é necessário maior número de ensaios clínicos randomizados para verificação da efetividade dessa terapêutica (GREEN, 2005). A acupuntura pode ser praticada por diferen-tes técnicas, entre as quais as mais comuns são a es-timulação manual com agulhas sistêmicas, a utiliza-ção de corrente elétrica associada com a aplicação da agulha no acuponto, denominada como eletroacupun-tura (JOHANSSON, 2011) e a acupuntura auricular ou auriculoterapia. A auriculoterapia pode ser considerada como uma forma alternativa do tratamento pela acupuntura que as baseia na hipótese de que há uma representa-ção do corpo humano no pavilhão auricular externo (WANG, 2012). O tratamento por esta técnica se ba-seia na estimulação de pontos na superfície da orelha, tanto no epitélio como na cartilagem auricular, para tratamento das disfunções energéticas dos órgãos e vísceras do corpo. De acordo com alguns autores, a auriculoterapia pode ser considerada como uma tera-pia de acupuntura em um microssistema, embora o mapeamento somatotópico da orelha não seja basea-do em nenhuma evidência científica (WANG, 2012). Duas revisões sistemáticas foram realizadas com o propósito de investigar a eficácia da acupun-tura auricular no tratamento da dor (USICHENKO, 2008; ASHER, 2010). Os autores dos estudos identi-ficaram que a acupuntura auricular apresenta resulta-dos favoráveis à sua utilização no manejo da dor em diversas patologias, especialmente na dor do período pós-operatório de diversas alterações músculo-es-queléticas (USICHENKO, 2008; ASHER, 2010). En-tretanto, ainda são poucas as evidências que supor-tam a utilização da técnica no alívio da dor e não há evidência atual na literatura a respeito do uso da acu-puntura auricular no tratamento da dor proveniente da

síndrome do impacto subacromial. Não existe, portanto, consenso a respeito da utilização da acupuntura, seja ela por meio do agulha-mento manual, eletroacupuntura ou auriculoterapia, na diminuição da dor no ombro. Desta forma, o obje-tivo do estudo foi verificar se a auriculoterapia é efe-tiva no tratamento a curto prazo da dor e melhora da limitação funcional em um indivíduo do sexo femi-nino com síndrome do impacto subacromial bilateral.

METODOLOGIA

Uma mulher de 54 anos de idade, tabagista, cuja ocupação era bancária, procurou atendimento de fisioterapia com relato de dor crônica ântero-lateral em ombros há aproximadamente 03 anos, submetida a tratamento medicamentoso com administração de AINH, analgésicos e relaxantes musculares sem alte-ração significativa do quadro. A paciente queixava-se principalmente de dor nos ombros ao repouso e no período noturno, com piora significativa da inten-sidade da dor durante o arco de movimento de 60° a 140° e com relato de perda da capacidade funcio-nal em atividades que exigiam a elevação de ombro acima de 90°, como estender roupas no varal. A paci-ente relatou que o início da dor não teve relação com episódio traumático e negava disfunção articular de ombros ou da coluna cervical prévia. Os exames de imagem de ressonância mag-nética e ultrassonografia da paciente apresentaram quadro compatível com tendinopatia crônica de infra-espinhal, supra-espinhal, porção longa do tendão do bíceps braquial e artrite acromioclavicular nos dois ombros. Desta forma, foi obtido o diagnóstico médico de síndrome do impacto subacromial (SIS) bilateral. Perante a assinatura de um termo de consenti-mento livre e esclarecido, foi realizada avaliação física e energética. A amplitude de movimento dos ombros foi registrada na avaliação inicial e após 8 semanas do início da intervenção. Já os questionários Shoulder Pain and Disability Index (SPADI) e o Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand (DASH), específicos para avaliação da dor e perda da capacidade funcional em patologias do membro superior (DASH) e espe-cialmente no ombro (SPADI), foram aplicados no dia da avaliação inicial, quatro semanas após o início do tratamento e oito semanas após o início tratamento pela acupuntura. Ao exame físico constatou-se a perda da am-plitude dos movimentos de flexão, rotação lateral de e abdução de ambos os ombros, ausência de sinais de compressão radicular cervical ou torácica e aus-ência de sinais de insuficiência vascular. Os testes

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clínicos de Neer, Yocum, Jobe, Hawkings-Kennedy, e Patte foram considerados positivos bilateralmente. A força muscular do manguito rotador se apresentava diminuída bilateralmente e notava-se o encurtamento muscular do quadrante superior, flacidez muscular periescapular, encurtamento de cápsula glenoumeral posterior e quadro postural de hipercifose torácica. A avaliação energética baseada nos princípios da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), formulada sobre a Lei dos Cinco Elementos, consistia em uma anamnese específica, aferição do pulso chinês, obser-vação da face, da língua e do pavilhão auditivo. Nes-ta avaliação foi constatada a alteração da relação de dominância entre os meridianos ordinários do fígado (Jueyin do pé) e do baço-pâncreas (Taiyin do pé), car-acterizada como uma síndrome de depleção energé-tica de origem interna. Baseado principalmente nos achados da aval-iação energética, o tratamento consistiu na aplicação da acupuntura auricular com semente de mostarda, pois a paciente apresentava medo da aplicação das agulhas auriculares. As sementes foram afixadas so-bre a pele previamente higienizada com álcool 70% com micropore, sobre os pontos auriculares shen-men, baço, pâncreas, fígado, adrenal, vértebras cer-vicais, ombro (partes moles), ombro (articulação), ponto relaxante muscular e vesícula biliar, utilizando como referência as pranchas auriculares das escolas chinesa e francesa de acupuntura. A aplicação foi feita semanalmente, intercalando a aplicação entre pavilhão auricular direito e esquerdo a cada sessão, durante um período total de oito semanas, sendo as-sim, um total de oito sessões de acupuntura, quatro na orelha direita e quatro na orelha esquerda. A paciente foi orientada a estimular cada acuponto três vezes por dia durante um minuto.

RESULTADOS

Na avaliação inicial foram encontradas as se-guintes amplitudes de movimento articular do ombro, conforme indicado na tabela 1: 160° flexão bilateral, 70° rotação lateral à esquerda e 60° direita, 170° de abdução esquerda e 166° direita, sendo que aos de-mais movimentos apresentaram-se dentro da normali-dade.

Tabela 1 - Amplitude de movimento de ombros antes do trata-mento pela acupuntura auricular.

Na avaliação após oito semanas de tratamento as amplitudes de movimento encontradas, conforme descrito na tabela 2, foram as seguintes: 164° flexão bilateral, 80° rotação lateral esquerda e 78° direita, 180° de abdução esquerda e 170° direita, os demais movimentos de ombro se mantiveram dentro dos va-lores de normalidade.

Tabela 2 - Amplitude de movimento de ombros ao final do tratamento de oito semanas pela acupuntura auricular.

A tabela 3 mostra a pontuação dos question-ários DASH e SPADI no início do tratamento, após 4 semanas, e 8 semanas após o início da intervenção. A comparação entre os dados da avaliação inicial e final pode ser observada nas figuras 1, 2 e 3.

Tabela 3 - pontuação dos questionários DASH e SPADI antes do início do tratamento, 4 semanas após e 8 semanas após o

início do tratamento pela acupuntura auricular.

Figura 1 - Amplitude de movimento articular do ombro esquerdo inicial e após 8 semanas do tratamento pela acupun-

tura auricular.

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Figura 2 - Amplitude de movimento articular do ombro direito inicial e após oito semanas do tratamento pela acupuntura

auricular.

Figura 3 - Pontuação dos questionários DASH e SPADI na

avaliação inicial, após quatro semanas de tratamento e após oito semanas de tratamento com acupuntura auricular.

DISCUSSÃO O presente estudo se propôs a avaliar o re-sultado a curto-prazo da aplicação da acupuntura au-ricular na dor e na incapacidade funcional em uma paciente com quadro de síndrome do impacto bilat-eral. Os resultados encontrados sugerem a melhora da capacidade funcional e da dor por meio da aplicação da acupuntura auricular a curto prazo (quatro sema-nas) observada pelo aumento da pontuação dos ques-tionários. Essa melhora ocorreu principalmente após 4 semanas de intervenção, sendo que após oito se-manas de intervenção houve piora da dor e limitação funcional sem, no entanto, regressão total ao quadro encontrado na avaliação inicial. Um viés do estudo, que é provavelmente o motivo pelo qual houve o aumento da dor e da inca-pacidade funcional da paciente ao final das 8 semanas de tratamento, segundo o próprio relato da paciente, foi adotar a posição de decúbito lateral direito asso-ciada a elevação sustentada do ombro direito a 90° abaixo do travesseiro ao dormir na noite anterior à reaplicação do questionário e que normalmente a pa-ciente não adota. Isso pode ter provocado o aumen-to da irritabilidade do ombro no dia da avaliação e levado à alteração das respostas da paciente nos ques-

tionários, visto que a escala de dor do questionário SPADI apresentou a pior pontuação após 8 semanas de tratamento e até então de acordo com o próprio relato da paciente durante o período de tratamento a dor se mantinha abaixo do nível encontrado no dia da avaliação inicial. Alguns estudos na literatura se propuseram a avaliar o efeito da acupuntura no ombro doloroso (TROJIAN, 2005; MICHENER, 2004; JOHANS-SON, 2011; VAS, 2005; LEWITH, 1984; KLEIN-HENZ, 1999; GILBERTSON, 2003; GREEN, 2005). Berry e colaboradores (1980) compararam o efeito da acupuntura com terapia placebo, ultrassom terapêu-tico, injeção de esteróides e administração de AINH em pacientes com lesões do manguito rotador. Os resultados encontrados neste estudo não revelaram diferenças entre os grupos em relação a dor, função e amplitude de movimento após 4 semanas de trata-mento (BERRY, 1980), desta forma, de acordo com essa evidência, a acupuntura não se mostrou um re-curso mais favorável do que a terapia convencional no tratamento da dor no ombro proveniente das lesões do manguito rotador a curto prazo. Já Kleinherz et al. (1999) compararam os efeitos da acupuntura e a terapia sham no tratamen-to da síndrome do impacto e evidenciaram maiores benefícios a curto prazo para o grupo submetido à acupuntura em relação à intensidade da dor, função e mobilidade articular. No entanto, após um follow-up de 4 meses, foi observado que os resultados entre os grupos foram equivalentes, sem benefício adicional do grupo tratado pela acupuntura. Da mesma forma, Michener et al. (2004) após extensa revisão bibliográ-fica da literatura, constataram que a acupuntura pode ser considerada um recurso benéfico para tratamento da síndrome do impacto principalmente a curto pra-zo, mas o benefício adquirido não se mantém a longo prazo (MICHENER, 2004). Essas evidências se cor-relacionam com os achados neste estudo, em que a auriculoterapia se mostrou um recurso benéfico para melhora da capacidade funcional e diminuição da dor no ombro a curto prazo mas o benefício não se man-teve após 8 semanas do início do tratamento. Em contrapartida, um estudo multicêntrico comparou a eficácia da acupuntura sistêmica as-sociada a programa de exercícios domiciliares com a aplicação da eletroestimulação simulada em asso-ciação com o programa de exercícios no tratamento do ombro doloroso (VAS, 2008). Os resultados deste estudo mostram que a acupuntura foi mais eficaz do que a eletroestimulação em relação a funcionalidade e redução dos níveis de dor a curto prazo e persis-tiu após 6 e 12 meses do término da intervenção. Os

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mesmos autores relataram que o grupo submetido a intervenção com acupuntura apresentou diminuição do consumo de analgésicos e anti-inflamatórios, per-sistindo até 12 meses após o término do tratamento. Os autores recomendam a utilização da técnica para como adjuvante no tratamento das disfunções sub-acromiais (VAS, 2008). Baseado nos estudos supracitados, pode-se observar que a acupuntura aplicada manualmente nos acupontos ou sob a forma de eletroacupuntura apresentou resultados satisfatórios no tratamento de disfunções dolorosas do ombro, principalmente nas condições crônicas e também no período pós-oper-atório de acromioplastias (GILBERTSON, 2003). Entretanto, alguns estudos mostraram que o efeito da acupuntura é positivo a curto prazo, mas perde-se a longo prazo, se tornando tão eficaz quanto as terapias convencionais de analgesia, tais como terapia medi-camentosa, eletroterapia ou até estimulações sham (MICHENER, 2004; BERRY, 1980; KLEINHENZ, 1999). Somente um dos estudos citados sugere que a acupuntura foi eficaz na redução da dor e da limita-ção funcional a curto prazo e o benefício obtida pela terapêutica manteve-se após 12 meses do término da intervenção (VAS, 2008). Em relação a auriculoterapia, Asher et al. (2010) fizeram uma revisão sistemática a respeito dos efeitos da acupuntura auricular no alívio da dor. Este estudo apresentou evidências moderadas de que a acupuntura auricular foi mais efetiva do que a acu-puntura sham na redução da dor pós-operatória em indivíduos submetidos a cirurgias hepáticas, artrosco-pias, cirurgias abdominais e dentárias, dentre outros. No mesmo estudo, a estimulação pela auriculotera-pia apresentou baixa evidência em relação ao alívio da dor aguda em casos de fratura de quadril, cólica biliar e queimaduras. Para o alívio da dor crônica, como cervicalgia, dor lombar, condições neoplásicas, disfunção temporomandibular e dor no membro in-ferior, a auriculoterapia se mostrou mais efetiva do que a intervenção controle nos estudos citados nesta revisão sistemática, no entanto, as evidências foram consideradas de baixa qualidade. Desta forma, os au-tores deste estudo concluíram que a auriculoterapia foi eficaz na redução de diferentes tipos de dor, es-pecialmente da dor no período pós-operatório e sug-erem que esta técnica pode beneficiar pacientes que apresentam poucos resultados com as terapias medi-camentosas convencionais, como no caso da paciente na qual foi aplicada a auriculoterapia no presente es-tudo (ASHER, 2010). Outra revisão sistemática analisou a eficácia a auriculoterapia no tratamento da dor no período pós-

operatório de diversos procedimentos, como artrosco-pias de joelho, artroplastias de quadril, laparoscopia, cirurgia dentária e queimadura (USICHENKO, 2008). Este estudo mostrou que a auriculoterapia é uma téc-nica promissora, pois auxiliou na diminuição dos níveis de dor a na dminuição do uso de medicamen-tos analgésicos ou ainti-inflamatórios. No entanto, a qualidade limitada dos estudos analisados (nenhum obteve a pontuação máxima no Jadad score) e a falta de maior número de estudos randomizados e cegos limitam a recomendação da aplicabilidade da técnica (USICHENKO, 2008). Desta forma, conforme observado anterior-mente na literatura, a auriculoterapia é um recurso promissor no tratamento de diversas condições do-lorosas, sejam elas crônicas ou agudas, incluindo o ombro doloroso e mais precisamente a síndrome do impacto subacromial. Assim como foi observado nos resultados apresentados neste estudo, o efeito da acu-puntura auricular foi benéfico na redução dos sinto-mas e na melhora da capacidade funcional de uma paciente com síndrome do impacto subacromial prin-cipalmente após quatro semanas do início da inter-venção. No entanto, o efeito da estimulação não foi mantido após oito semanas de tratamento. Embora este estudo tenha analisado os resultados da auricu-loterapia em apenas um paciente e os dados encontra-dos após extensa revisão bibliográfica não suportam ou refutam o uso da acupuntura auricular nesta pa-tologia, consideramos esses achados de melhora da dor e da capacidade funcional animadores para futura implementação no tratamento da síndrome do impac-to, principalmente se considerarmos que a piora da pontuação dos questionários aplicados possa ter sido decorrente de um episódio isolado de dor momentos antes da reavaliação final e se considerarmos as evi-dências atuais a respeito do uso da acupuntura auricu-lar no tratamento de dor crônica (ASHER, 2010).

CONCLUSÃO

Ao compararmos o presente estudo com out-ros artigos da literatura, podemos concluir que de cer-ta forma, a acupuntura como técnica aplicada no intu-ito de diminuir a dor crônica nos ombros é mais eficaz a curto prazo do que a médio e longo prazo, assim como demonstrado nos nossos resultados. Além disso podemos concluir que a acupuntura, especialmente a acupuntura auricular ou auriculoterapia, apresenta re-sultados promissores no alívio da dor aguda, crônica e principalmente no período pós-operatório a curto prazo, assim como os resultados do nosso estudo sugerem sua aplicabilidade para indivíduos com dor crônica decorrente da síndrome do impacto subacro-

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mial. No entanto, com o passar do tempo, a acupun-tura tende a apresentar efeito similar à outras modali-dades terapêuticas convencionais. De modo geral, a auriculoterapia na paciente melhorou a incapacidade e a dor após quatro semanas de tratamento, no entanto essa melhora não se man-teve após oito semanas de tratamento. Concluímos que a acupuntura auricular se mostrou um recurso fa-vorável para tratamento de dor nos ombros apenas a curto prazo. Futuros estudos randomizados e contro-lados são necessários para corroborar ou contra-indi-car o uso da auriculoterapia para tratamento da dor a curto e longo prazo em indivíduos com síndrome do impacto subacromial.

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RELATO DE CASO

ACUPUNTURA SISTÊMICA E AURICULAR COMO MÉTODO DE TRATAMENTO PARA ABANDONO DO TABAGISMO

Tahara, N. 1*; Marino, D.M 2.; Marrara, K.T.3

1-Fisioterapeuta, aluna do curso de Especialização Lato Sensu em Acupuntura IPES/FCV.

2-Fisioterapeuta, Doutorando em Fisioterapia pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Docente do Instituto Paulista de

Estudos Sistêmicos - IPES.

3-Fisioterapeuta, Doutora em Fisioterapia pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Docente do Instituto Paulista de

Estudos Sistêmicos - IPES.

RESUMO: Introdução: O tabagismo é considerado um problema de saúde pública e a principal causa de morte evitável mundialmente, atingindo cerca de 5 milhões de mortes anuais, expondo os indivíduos a diversas substâncias tóxicas, entre elas a nicotina. Sendo assim, várias são as estratégias de combate ao fumo e uma delas é a acupuntura. Objetivo: Avaliar a eficácia de um protocolo de acupuntura sistêmica e auricu-loterapia no tratamento de indivíduos que desejam parar de fumar, quanto ao grau de dependência à nicotina e se o indivíduo é dependente físicamente e/ou psicologicamente do cigarro. Metodologia: Foram avaliados 11 indivíduos de ambos os gêneros com idade entre 18 a 65 anos, fumantes há mais de cinco anos. Após coleta de dados pessoais, os mesmos foram avaliados por meio da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), bem como quanto ao grau de dependência à nicotina pela Escala de Fargeström e da dependência física e/ou psicológica do cigarro através do teste elaborado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA). Os indivíduos receberam tratamento pela acupuntura sistêmica e auricular por 10 sessões, uma vez por semana durante 20 minutos. Resultados: Sete indivíduos finalizaram o tratamento e não se observou resultado positivo em relação à cessa-ção do fumo, no entanto houve diminuição no grau de dependência a nicotina (85,7%), na dependência física (28,6%) e psicológica (57,1%). Conclusão: Não foi obtido sucesso na combinação de acupuntura sistêmica e auricular na cessação de fumo, porém esse protocolo minimizou os sintomas que levam o individuo ao con-sumo excessivo de cigarros. PALAVRAS-CHAVE: Tabagismo, grau de dependência a nicotina, acupuntura.

ABSTRACT: Smoking is considered a public health problem and the leading cause of preventable death worldwide, affecting about 5 million deaths each year, exposing individuals to various toxic substances, including nicotine. Thus, there are several strategies to combat smoking and one of them is acupuncture. Ob-jective: To evaluate the effectiveness of a protocol of acupuncture and auriculotherapy in the systemic treat-ment of individuals who wish to stop smoking, the degree of nicotine dependence and whether the individual is dependent physically and / or psychologically cigarette. Methods: We evaluated 11 subjects of both genders aged 18 to 65 years, smoking for over five years. After collecting personal data, they were evaluated by means of Traditional Chinese Medicine (TCM), as well as to the degree of nicotine dependence by Scale Fargeström and physical dependence and / or psychological cigarettes through the test developed by the National Institute Cancer (INCA). Subjects received treatment by acupuncture systemic and headset for 10 sessions once a week for 20 minutes. Results: Seven patients completed the treatment and there was no positive result regarding smoking cessation, however there was a decrease in the degree of dependence on nicotine (85.7%) in physical dependence (28.6%) and psychological (57 , 1%). Conclusion: There was succeeded in combining acupunc-ture and auricular systemic in smoking cessation, but this protocol minimized the symptoms that cause the individual to excessive consumption of cigarettes. KEYWORDS: Smoking, nicotine dependence score, acupuncture.

*Autor para correspondência: Rua Quintino Bocaiuva, 1090- Boa Vista – São Carlos/SP CEP: 13574-003. E-mail : [email protected]

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INTRODUÇÃO

O tabagismo é considerado um problema de saúde pública que gera dependência química e é a principal causa de morte evitável no mundo inteiro. É também considerado uma doença epidêmica que atinge 1,2 bilhão de pessoas mundialmente, alcan-çando uma margem de 5 milhões de mortes anuaís (OMS, 2008). No Brasil ocorrem cerca de 200 mil mortes anuais (MOURA, 2005) e, estima-se que em 2030 esse número possa aumentar para 8 milhões de mortes anuais caso as tendências atuais de consumo ao tabaco no mundo todo sejam mantidas (MATHERS, 2006). O tabagismo expõe os indivíduos a diver-sas substâncias tóxicas, entre elas a nicotina (OMS, 2008), que é o mais importante componente ativo do tabaco e é a responsável pela dependência química. Trata-se de uma amina terciária volátil e ao ser in-alado dependendo da quantidade e da frequência de seu consumo pode estimular, deprimir ou perturbar o Sistema Nervoso Central (SNC) e todo o organismo (HENNINGFIELD; KEENAN, 1997), e desta forma desencadear o aparecimento de cerca de 50 doenças diferentes, entre elas doenças cardiovasculares, cânc-er, doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC), entre outras (OMS, 2008). Além disso, o consumo da nicotina induz a tolerância (necessidade progressiva de doses maio-res) e a dependência (desejo de consumi-la) devido a ação da mesma nas vias dopaminérgicas do siste-ma mesolímbico, diminuindo a atividade do tálamo (MARQUES et al., 2001) e liberando dopamina no nucleus accumbens, localizado no mesencéfalo, pro-porcionando ao fumante uma sensação de prazer e “ recompensa” (KHURANA et al., 2003; DANI, 2003). Por outro lado, o indivíduo fumante que di-minui o consumo de cigarros ou deseja parar de fumar, desencadeia uma série de sintomas de abstinência, en-tre elas a ansiedade, irritabilidade, distúrbios do sono (insônia e sonolência diurna), aumento do apetite e conseqüente aumento de peso, alterações cognitivas (diminuição da concentração e atenção) e “craving” (fissura pelo cigarro). A síndrome da abstinência é mediada pela noradrenalina e os sintomas iniciam-se 8 horas após fumar o último cigarro (MARQUES et al.,2001). Algumas pesquisas apontam que mais de 70% dos fumantes desejam parar de fumar, mas menos de 10% conseguem alcançar esse objetivo, devido à ab-stinência da nicotina e o “craving” pelo cigarro e aca-bam apresentando recaídas que costumam ocorrer en-

tre dois dias a três meses de abstinência (KHURANA et al., 2003; JAIN, 2003.As estratégias de combate ao fumo inclui desde intervenções farmacológicas, tera-pia cognitivo-comportamental, terapia de reposição da nicotina (TRN) e outras terapias como a acupun-tura. A palavra Acupuntura vem do latim “acus”, que significa “agulha”, e “pungere”, que significa “picar” ou “inserir”. É uma prática terapêutica chine-sa que trata disfunções ou promove analgesia através da inserção de agulhas em pontos específicos do cor-po, localizados em canais energéticos, conhecidos como “meridianos” (REICHMANN, 2008). Além de pontos específicos no corpo, a acu-puntura também pode ser utilizada em microssistemas do corpo humano, como orelha externa ou pavilhão auricular conhecida como auriculoterapia, acupuntura auricular ou ainda auriculopuntura. Essa técnica per-mite tratar disfunções e promover analgesia por meio de estímulos em pontos reflexos localizados na orelha ou no pavilhão auricular (REICHMANN, 2008). Wen (1997) realizou um dos primeiros estudos realizados na atuação da acupuntura no tratamento de dependência de substancias psicoativas, utilizando a eletroacupuntura como auxiliar na desintoxicação de pacientes dependentes de heroína, que relataram alívio dos sintomas de abstinência em 80% dos casos. A maioria das pesquisas relacionadas a esse tipo de tratamento muitas vezes se esbarram na falta de padronização, uma vez que os conceitos da Me-dicina Tradicional Chinesa (MTC) permitem a asso-ciação de componentes individuais, permitindo assim a elaboração de diferentes protocolos (SALVADOR, 1992). Linde et al. (2001) preconizaram que a acu-puntura é um dos métodos mais controversos para o abandono do fumo. Porém, algumas pesquisas enfa-tizam que o uso da acupuntura como coadjuvante no tratamento de abuso de substâncias psicoativas tem sido potencialmente eficaz, embora também aponte a necessidade de realizar outros estudos com maior rig-or metodológico (HSU; DIEHL, 1998; KUBIENA, 1996). Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar a eficácia de um protocolo de acupuntura sistêmica e da auriculoterapia no tratamento de indi-víduos que desejam parar de fumar, avaliar o grau de dependência à nicotina e se o indivíduo é dependente fisicamente e/ou psicologicamente do cigarro.

MATERIAS E MÉTODOS

Participaram deste estudo 11 indivíduos de ambos os

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gêneros, com idade entre 18 a 65 anos, fumantes há mais de cinco e que desejavam parar de fumar. Os in-divíduos foram informados sobre as características da mesma, participando voluntariamente, sendo que ass-inaram um Termo de Consentimento Livre e Esclare-cido, consentindo a obtenção dos dados para pesquisa e publicação, mantendo o sigilo de suas identidades, conforme determina a resolução 196/96 do CNS. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Instituto Paulista de Estudos Sistêmicos (IPES).Os indivíduos deste estudo foram avaliados quanto a: 1) Coleta de dados pessoais, anamnese, hábitos e avaliação física segundo a MTC, exame da língua, do pavilhão auricular e pulsologia por meio de ficha de avaliação elaborada pelo autor, constituindo a avalia-ção física e subjetiva. O pavilhão auricular foi avali-ado por meio da inspeção visual e palpação, enquanto que o exame da língua somente por inspeção visual. 2) Dependência a nicotina por meio da Escala de Fargeström (Fargeström test for nicotine dependence) que é uma escala que avalia a dependência à nicotina validada no Brasil por Carmo e Pueyo (2002). Esta escala consiste em um questionário com seis pergun-tas de escolhas simples, oscilando entre duas a quatro alternativas. Para cada alternativa, existe uma pontua-ção e a soma das mesmas permite a avaliação do grau de dependência à nicotina: 0-2 pontos = dependência muito baixa; 3-4 pontos = dependência baixa; 5 pon-tos = dependência média; 6-7 pontos = dependência elevada e 8-10 pontos = dependência muito elevada (FARGESTRÖM; SCHNEIDER , 1989; FARG-ESTRÖM, 1978).3) Dependência física, psicológica e/ou associação de comportamentos por meio do teste do INCA re-tirado do Manual Deixando de fumar sem mistérios: Entender por que se fuma e como isso afeta a saúde. Este é um teste elaborado pelo INCA juntamente com o Ministério da Saúde, contendo nove questões com duas alternativas de resposta “sim” ou “não”. O teste avalia se o indivíduo é dependente fisicamente ou psicologicamente do cigarro ou se faz associação de comportamentos. Se o individuo responder sim para duas ou três das questões de 1 a 3 ele é dependente fisicamente do cigarro, para as questões 4 a 6, ele faz associação de comportamentos e para as questões 7 a 9, ele é psicologicamente dependente do cigarro (BRASIL, 2004). Após a avaliação física e subjetiva, os indi-víduos foram submetidos ao tratamento que consistiu na inserção de agulhas em partes específicas do corpo e aplicação de sementes de mostarda e/ou agulhas au-riculares semipermanentes no pavilhão auricular. Os pontos sistêmicos utilizados foram: Coração (C3 e

C7), Pulmão (P9), Circulação e Sexualidade (CS7), Estômago (E38, E40), Intestino Grosso (IG4), Ve-sícula Biliar (VB34) e Vaso Concepção (VC17); e após a quinta sessão foram acrescentados os pontos Vaso Governador (VG20) e extra meridiano (Ext.5). Os pontos auriculares utilizados foram: Shen men, simpático, Rim, Vicio, fome, sede, Estômago, Boca, Traquéia, Pulmão, pontos de ansiedade, neurastenia e ponto de relaxamento muscular. Os atendimentos foram realizados a domicilio. Foram realizadas 10 sessões de acupuntura, com frequência de uma vez por semana. A acupun-tura sistêmica teve duração de 20 minutos, sendo as agulhas estimuladas manualmente a cada cinco minu-tos. As sementes de mostarda e/ou agulhas auricula-res foram aplicadas no pavilhão auricular ao final de cada sessão, como tratamento semi-permanente da acupuntura e os indivíduos permaneceram com as mesmas durante no mínimo três dias ou no máximo sete dias, sendo os mesmos aconselhados a estimular os pontos auriculares. A aplicação das agulhas e se-mentes auriculares foi inserida alternando a orelha em cada semana, tendo uma pausa de uma semana após quatro semanas consecutivas. Os resultados do presente estudo foram apre-sentados por meio de tabelas e figuras.

RESULTADOS

Dos 11 indivíduos avaliados, sete finalizaram o tratamento, pois três abandonaram o tratamento por relatarem não perceber nenhuma diferença e um abandonou por problemas de saúde. Dos sete indivíduos que finalizaram o trata-mento, cinco (71,4%) eram do sexo feminino e dois (28,6%) do sexo masculino. A idade mínima foi de 22 anos e máxima de 56 anos, apresentando uma média de 44,7 anos. Em relação ao estado civil, 71,4% eram casados e 28,6% solteiros. Quanto ao grau de escolaridade, 57,2% tinham ensino médio, 28,4% ensino fundamental e 14,3% ensino superior (tabela 1). Com relação ao início do consumo de cigarro, a faixa etária em que os indivíduos iniciaram o consu-mo ocorreu entre 12 a 20 anos, apresentando média de 15,5 anos, sendo que 71,4% iniciaram o consumo em idade ≤15 anos. A porcentagem de influência tabágica através de amigos foi maior (42,8%) que a familiar, embora todos relatassem conviver com fumantes em casa, o que de certa forma pode ter despertado a cu-riosidade em experimentar o cigarro (Tabela 2).

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Tabela 1 - Caracterização da Amostra de acordo com as carac-terísticas sociodemográficas

A tabela 2 ainda demonstra a relação ao tempo em que os mesmos faziam uso do tabaco, sendo que 14,3% consumiam há mais de cinco anos, 28,6% en-tre 20 a 30 anos, 28,6% entre 30 a 40 anos e 14,3% há mais de 40 anos.

Tabela 2 - Caracterização da amostra de acordo com as características tabágicas

Para comparar o consumo diário de cigarros pré e pós-tratamento, foi analisada a questão 4 da es-cala de Fargeström onde foi possível observar uma diminuição no consumo de cigarros em todos os in-divíduos. Antes do tratamento 57,1% consumiam de 11 a 20 cigarros/dia e 42,9% consumiam de 21 a 30 cigarros/dia. Após o tratamento 42,9% consumiam

≤10 cigarros/dia e 57,1% de 11 a 20 cigarros/dia (Ta-bela 3).

Tabela 3 - Consumo diário de cigarro antes e após tratamento O grau de dependência à nicotina analisado pela escala de Fargeström pré e pós-tratamento pode ser observado na figura 1 e tabela 4. Por meio da analise gráfica da figura 1 e da tabela 4 pode-se obser-var que um indivíduo (14,3%) que apresentou no pré tratamento um grau muito elevado de dependência (9) após o tratamento passou para um grau elevado (7); dos quatro indivíduos (57,1 %) que apresen-taram grau elevado (6 e 7) no pré tratamento, três (42,9%) passaram para grau baixo (4) com o trata-mento e um (14,3%) permaneceu com o mesmo grau (7), um individuo (14,3%) que apresentava grau mé-dio (5) passou para um grau baixo (3) e um indivíduo (14,3%) com grau baixo (4) passou para grau muito baixo (1). Dessa forma foi possível perceber que seis (85,7%) dos indivíduos apresentaram diminuição no grau de dependência a nicotina após o tratamento.

Figura 1 - Resultado da dependência à nicotina pela Escala de Fargeström pré e pós tratamento

Por meio da Figura 2 pode se observar os re-sultados encontrados neste estudo quanto ao teste do INCA, demonstrando que no pré tratamento 100% dos indivíduos apresentavam dependência física e após o mesmo 28,6% deixaram de ser dependen-tes. Para os resultados da avaliação de associação de comportamentos não houve nenhuma diferença. Para a dependência Psicológica antes do tratamento 42,9% mostraram-se dependentes e após 57,1% deixaram de ser dependentes.

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Tabela 4 - Caracterização do grau de dependência à nicotina

pela Escala de Fargeström pré e pós tratamento

Figura 2 - Resultado do Teste do INCA pré e pós tratamento

DISCUSSÃO

A convivência em ambientes seja familiar ou social que haja fumantes, podem influenciar o indi-víduo na pré-puberdade na experimentação ao taba-gismo. Peixoto et al. (2008) relatam que na pré-pu-berdade a busca pela identidade e espaço no mundo adulto levam os adolescentes a experimentação do cigarro e as estratégias de marketing incentivam o ato de fumar como uma forma de amadurecimento e autoimagem (PEIXOTO, et al., 2008), corroborando as informações observadas no presente estudo, em que 71,4% iniciaram o consumo antes dos 15 anos de idade. O cigarro causa dependência física e psicológi-ca e muitas vezes o indivíduo acaba realizando asso-

ciação de comportamentos. A dependência física é caracterizada pela necessidade fisi-ológica da nicotina (ROSEMBERG, 2002) que por sua vez é caracterizada pela compul-são, tolerância e síndrome de abstinência. Já a dependência psicológica caracteriza-se pela necessidade de “acender o cigarro” para aliviar tensões, ansiedade, preocupa-ções, estresse, medo, etc., como se fosse uma fuga para superar todos essas situações (MEIRELES, 2009) e, a junção destas duas dependências muitas vezes leva o indivíduo

ao condicionamento que se caracteriza pela associa-ção de comportamentos de sua vida diária, ou seja, o

indivíduo sempre associa o ato de tomar café, dirigir, falar ao tele-fone ao ato de acender um cigarro, e essas situações muitas vezes faz com que o indivíduo nem perceba que acendeu um cigarro e assim fumar se torna um ato automáti-co (BRASIL, 2005; MEIRELES; GONÇALVES, 2006). Muitos indivíduos podem até diminuir a dependência física, mas ainda se mantém psicologica-mente dependentes do cigarro. O hábito de ter os cigarros en-tre os dedos ou levá-lo a boca, o cheiro, o paladar e a fumaça do cigarro são associados a uma sen-sação de prazer e com isso o fu-mante passa a ter uma relação de companheirismo e amizade com o cigarro e a possibilidade de de-

ixar de fumar o deixa com uma sensação de perda e tristeza, como se tivesse se separando de algo muito especial na vida dele que o acompanhou durante mui-tos anos (FARGESTRÖM, 2006). Alguns indivíduos do presente estudo relata-ram que durante o tratamento sentiam falta de segurar o cigarro entre os dedos quando se esforçavam para tentar ficar mais tempo sem fumar e que o vício de acender o cigarro era involuntário e muitas vezes o cigarro queimava no cinzeiro sem ao menos ele ter tocado no cigarro. A literatura aponta vários protocolos de dife-rentes técnicas de utilização da acupuntura como mé-todo de tratamento para quem deseja parar de fumar. A laser acupuntura é uma técnica bastante utilizada para vários tipos de problemas inclusive para a cessa-ção do tabagismo como demonstrou Tan, Sin e Huang (1987) que utilizaram laser em pontos de acupuntura

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auriculares em 418 homens fumantes obtendo um re-sultado relativamente mais eficaz para a cessação do fumo em comparação com a acupuntura em pontos do Nariz (meridiano de vesícula biliar) e do pulso (Tim Mee). Também verificaram que a utilização do laser com uma intensidade de 3mw durante um minuto sur-tiram os melhores resultados terapêuticos. Waite e Clought (1998) adotaram o método de eletroacupuntura auricular em 78 fumantes, onde 40 indivíduos receberam tratamento ativo e 38 rece-beram tratamento placebo em uma única sessão. No grupo de tratamento ativo os indivíduos receberam uma agulha no ponto Pulmão do pavilhão auricular em cada orelha e logo após a inserção da agulha, as mesmas foram eletroestimuladas por 20 minutos em uma frequência de 4Hz, corrente intermitente, bifási-ca. O grupo placebo recebeu o mesmo procedimento, mas as agulhas foram inseridas no lado medial de cada patela. Após o término do tratamento foi inserido na orelha dos indivíduos do grupo ativo e na patela do grupo placebo, sementes de mostarda para serem es-timuladas e os dois grupos foram acompanhados du-rante seis meses. Os resultados apontaram que cinco dos indivíduos (12,5%) do grupo de tratamento ativo foram considerados bioquimicamente não fumantes em menos de 6 meses comparando com nenhum re-sultado (0%) do grupo placebo. Em outro estudo Kang et al.(1998) utilizaram acupuntura auricular como método de tratamento de cessação do fumo em 238 estudantes de ensino superior do gênero masculino de duas faculdades dividindo-os em grupo de estudo formado por 179 estudantes que receberam tratamento de ponto metal com adesivo em pontos da orelha que eram efetivos na cessação do fumo e o grupo controle formado por 79 estudantes de outra faculdade receberam tratamen-to com pontos irrelevantes para a cessação do fumo, durante 4 semanas. Os resultados encontrados por es-ses autores demonstraram que somente um indivíduo do grupo de estudo abandonou o cigarro (0,6%), o grau de dependência a nicotina avaliado pela Escala de Fargeström entre os dois grupos não foi estatisti-camente significativo e também não houve diferença significativa na quantidade de consumo de cigarros em ambos os grupos. Da mesma forma Wu et al. (2007) realizaram um estudo prospectivo, randomizado e controlado, utilizando a acupuntura auricular em 118 indivíduos fumantes dividindo-os em grupo de tratamento (n=59) que receberam tratamento pela acupuntura auricular nos pontos Shen men, pontos de Boca, simpático e Pulmão e grupo controle (n=59) que receberam a “falsa” acupuntura com pontos não relacionados na

cessação de fumo (joelho, ombro, cotovelo e pontos olho), durante oito semanas e, demonstraram que ao final do tratamento, 28 indivíduos de ambos os gru-pos (16 do grupo tratamento e 12 do grupo controle) deixaram de fumar, o consumo de cigarros diários di-minuiu significativamente em ambos os grupos (48% no grupo de tratamento e 43% no grupo controle). Neste estudo, foram utilizados o método de acupuntura sistêmica e acupuntura auricular e, em-bora não tenha sido eficaz para cessar o fumo em ne-nhum dos indivíduos que participaram do mesmo, foi possível obsevar diminuição na quantidade de cigar-ros consumidos (42,9% ≤10 cigarros e 57,1% 11-20 cigarros) e diminuição na dependência tanto física (28,6%) quanto psicológica (57,1%). Houve também uma diminuição no grau de dependência a nicotina (85,7%). Além disso, alguns dos indivíduos desse es-tudo relataram sentir gosto ruim ao fumar o primeiro cigarro após a primeira sessão. Outros relataram mel-hora do sono, diminuição da ansiedade e do nervos-ismo. Houve também redução na urgência e no desejo de fumar e alguns relataram que até se esqueciam do cigarro por um longo período e que muitas vezes só fumavam por hábito, corroborando aos resultados apresentados por Kang et al.(1998). Os resultados do presente estudo podem ter sofrido a influência de algumas limitações, dentre elas a aderência dos indivíduos ao tratamento, que pode levar ao insucesso do mesmo, bem como um curto período de tratamento.

CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos no pre-sente estudo foi possível observar que não houve eficácia na combinação da acupuntura sistêmica e au-ricular na cessação do fumo, porém cabe ressaltar que este protocolo minimizou os sintomas que levam os indivíduos a fumar grande quantidade de cigarros.No entanto, outros estudos deverão ser realizados, ampliando o número de sujeitos, buscando uma car-acterização semelhante entre eles e comparando as diversas modalidades de acupuntura no tratamento de cessação de fumo.

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RELATO DE CASO

ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO BRUXISMO APÓS ACUPUNTURA

Silva, M.L.1*; Bueno, A.R.2; Novaes, F.A.3

1-Fisioterapeuta acupunturista, Doutor em Farmacologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP

2-Terapeuta ocupacional, aluna do Curso de Especialização Lato Sensu em Acupuntura – IPES/FCV.

3-Fisioterapeuta, aluna do Curso de Especialização Lato Sensu em Acupuntura – IPES/FCV.

RESUMO: Introdução: O Bruxismo é uma das desordens funcionais dentárias mais prevalentes, complexas e destrutivas que existem. A acupuntura é um dos métodos de tratamento que visa o alívio da dor baseado na inserção de agulhas em pontos específicos, apresentando efeito potente e confirmado no tratamento da dor musculoesquelética. Objetivo: O presente estudo teve como objetivo verificar os benefícios da acu-puntura e auriculopuntura no bruxismo. Trata-se de um estudo de caso de uma paciente com 19 anos de idade, sexo feminino, acometida pelo bruxismo há sete anos e que possui cefaleias frequentes, ansiedade e estalido da articulação temporomandibular, além de desgaste dentário. Casuística e Métodos: O tratamento foi real-izado por dois meses, sendo realizadas duas sessões por semana com duração de uma hora na Clínica Escola do Ceuclar. Utilizou-se um questionário, o Short Form 36 (SF-36), para avaliar a qualidade de vida da paciente antes e após o tratamento. Resultados: Os resultados obtidos foram benéficos para Capacidade Funcional, Vitalidade, Limitação por Aspectos Sociais, Limitação por Aspectos Emocionais e Saúde Mental. Dessa forma o tratamento com acupuntura mostrou-se eficiente na qualidade de vida para portadores de bruxismo.

PALAVRAS-CHAVE: Acupuntura, auriculoterapia, bruxismo, qualidade de vida, eletroacupuntu-ra.

ABSTRACT: The bruxism is the most common functional disorder in temporomandibular joint. It’s a several and complexe dysfunction and one method of treatment is the acupuncture, that involves the pain relieve and is based on the insertion of needles in specific points and got a very strong effect in the muscu-loskeletal pain disorders. The aims of this study were to determine if the results of acupuncture treatment of temporomandibular dysfunction by the Short Form – 36 Outcome. A 19 year old female with a main complaint of severe temporomandibular dysfunction and a secondary bruxism, headache, anxiety and tooth lesions re-ceived acupuncture treatments totaling 4 treatments over a two month period. Her standard medical treatment remained unchanged. The most descriptors for anxiety have demonstrate a better score after the treatment, but pain levels were no significantly reduced following the acupuncture treatment series. Further studies are warranted to further explore these observations of a possible effect of acupuncture on temporomandibular dysfunction.

KEYWORDS: Acupuncture, bruxism, temporomandibular dysfunction, relief of pain.

*Autor para correspondência: Avenida Caramuru, 2100, Ap.434, Republica Ribeirão Preto, CEP: 14030-000. Email: [email protected]

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INTRODUÇÃO

O bruxismo é uma das desordens funcionais dentarias mais prevalentes, complexas e destrutivas que existem. Tem sido considerado um distúrbio fi-siopatológico de ocorrência comum, podendo ser ob-servado em todas faixas etárias, e com prevalência semelhantes em ambos os sexos (OLIVEIRA, 2002). Para a detecção do bruxismo existem basica-mente dois critérios: primeiro, a utilização de eletro-miografia no laboratório do sono, e segundo, ques-tionários anamnéticos. Ambos os métodos são sujeitos a falhas de sensibilidade e sensitividade (IKEDA1 et. al., 1996 apud OLIVEIRA, 2002). Vários tratamentos têm sido sugeridos para pacientes com distúrbios temporomandibulares (DTM). Dentre esses tratamentos se encontram o uso de TENS, aplicação de microcorrentes e acupuntura. A acupuntura pode ser utilizada de forma comple-mentar ou alternativa no tratamento de DTM, no en-tanto, a literatura a respeito do método de utilização da acupuntura no tratamento dessas desordens ainda é limitada (ROSTED; BUNDGAARD; PEDERSEN, 2006). O uso da acupuntura não é simplesmente para o alívio de sintomas, pois auxilia na regulação do or-ganismo e promove mecanismos homeostáticos. Esta técnica é uma das formas mais antigas de terapia e tem suas raízes na antiga filosofia chinesa. É baseada em um número de conceitos, um dos quais presume que qualquer manifestação de doença é considerado um desequilíbrio entre as forças do Yin ou do Yang no corpo. Sendo assim, acredita-se que todas as des-ordens são refletidas em pontos específicos, ou na superfície da pele ou exatamente abaixo. A energia vital (Qi) circula por todo o corpo ao longo dos tão chamados meridianos, os quais têm as características ou do Yin ou do Yang. (HOPWOOD; LOVESEY; MOKONE, 2001). Durante as últimas décadas a acupuntura se tornou cada vez mais popular e parcialmente aceita em muitos países ocidentais, principalmente como uma técnica de controle da dor. Vários fatores con-tribuíram para essa popularidade, tais como muitos relatos de alívio da dor aguda e crônica depois da acupuntura, a compreensão de alguns mecanismos de ação e o interesse nas culturas do extremo oriente. Além disso, o tratamento possui poucos efeitos co-laterais desde que tomados certos cuidados e é rela-tivamente barato, principalmente quando comparado com tratamentos medicamentosos prolongados. O fato mais importante para a sua aceitação parcial na 1 IKEDA, T. et. al. Criteria for the detection of sleep-associated bruxism in human. J. orofac. pain, v.10, n.3, p.270-82, 1996.

área científica foi o acúmulo de resultados na aplica-ção dos métodos experimentais na avaliação de seus efeitos (HOPWOOD; LOVESEY; MOKONE, 2001). A manipulação de agulha ou outro mecanismo de estimulação cutâneo ou subcutâneo artificial pro-voca as reações endógenas que comumente aparecem em situações fisiológicas normais. O uso da acupuntura como um método de alívio da dor está baseado em um grande número de ensaios clínicos e não há dúvida que tem um efeito potente e confirmado no tratamento da dor musculoesquelética, pois libera opióides endógenos que parecem ser essenciais na indução de alterações funcionais de diferentes sistemas de órgãos. As en-dorfinas produzem efeitos ao ligarem os receptores a opióides. Destinou-se um interesse particular à beta-endorfina. Essa substância tem uma grande afinidade com o receptor beta e é importante no controle da dor (MA, 2006). A acupuntura auricular é uma técnica que usa o pavilhão auricular para efetuar tratamento de saúde, aproveitando o reflexo que a aurícula exerce sobre o sistema nervoso central. A localização e nomencla-tura dos pontos foram introduzidos de acordo com a intensificação dos estudos e observando a relação au-rícula-orgãos, aurícula-funções orgânicas e aurícula posições anatômicas do corpo. Esta técnica é destina-da ao tratamento das enfermidades físicas e mentais através de estímulos de pontos situados no pavilhão auricular, onde tais pontos refletem aos órgãos fun-ções do corpo correspondentes (SOUZA, 2001). O uso da eletroestimulação do ponto de acupuntura uti-lizando um eletroestimulador foi feito pela primeira vez na china em 1930. Sua principal vantagem é a de substituir a manipulação manual das agulhas. A quan-tidade de estímulo é medida e regulada ajustando-se a corrente, a amplitude e a frequência do aparelho. Por ser o estímulo maior e mais contínuo que o manual, é muito utilizado para se obter uma analgesia com fins cirúrgicos. Existem diversos estímulos: os fortes, que causam sensações fortes e contração muscular acen-tuada; estímulos médios, que causam contração mus-cular sem incomodar e aliviam a dor; e estímulos fra-cos, que causam leves tremores musculares sem dor (SOBRAL et al., 2001). Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi ver-ificar os benefícios da acupuntura e auriculopuntura em um paciente com diagnóstico de bruxismo utili-zando um questionário de Qualidade de Vida.

CASUÍSTICA E MÉTODOS

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Voluntário

Realizou-se um estudo com acupuntura sistêmica, auriculopuntura e eletroacupuntura em um voluntário de 19 anos, sexo feminino, acometida por bruxismo há sete anos e que possui cefaléias constan-tes, ansiedade, estalidos da articulação temporoman-dibular e desgaste dentário. O tratamento foi aplicado por dois meses, duas vezes semanais, com duração de uma hora a sessão.

Avaliação

Foi aplicado antes e após o tratamento o ques-tionário de qualidade de vida Short Form 36 (SF-36), que é composto por 36 itens avaliando a capacidade funcional (CF), limitação por aspectos físicos (LAF), dor, estado geral de saúde (EGS), vitalidade (V), aspectos sociais (AS), limitação por aspectos emo-cionais (LAE) e saúde mental (SM), sendo 100% a melhor qualidade de vida e 0% a pior. Este question-ário foi criado nos Estados Unidos, sendo traduzido e validado no Brasil por Ciconelli em 1997 (COSTA, 2000).

Acupuntura e Eletroacupuntura

Foi feita uma avaliação, onde os pontos se-lecionados baseados na literatura foram: VB2 (local-izado ao abrir a boca, na fossa anterior e inferior do trago da orelha), VB3 (na frente do ouvido, na borda superior do arco zigomático), E7 (na depressão baixa da borda do arco zigomático, no lado anterior do pro-cesso condilóide e mandibular) (WEN, 2007 ROSS, 2002). Nestes pontos foi utilizado a eletroacupuntura com WQ IOD1 (Figura 1), corrente denso dispersa, 20/80Hz por 30 minutos. Os outros pontos seleciona-dos foram: E6 (ângulo mandibular, no ponto inicial do músculo masseter), VG20 (na linha centro verti-cal da cabeça, 7 polegadas acima da borda posterior do cabelo, 5 polegadas atrás da margem anterior do cabelo), Yintang (no meio da linha entre as sobrancel-has), B2 (na depressão medial do início da sobrancel-ha), C7 (no lado ulnar do punho, no lado radial do tendão do músculo flexor carpal ulnar, atrás do osso pisiforme) (WEN, 2007).

Figura 1 – Aparelho de Eletroacupuntura WQ (Fonte: http://spanish.alibaba.com/product-gs/wq-iod1-multiple-electroacu-

puncture-apparatus-mea--403265910.html).

Auriculopuntura

Após a acupuntura sistêmica foi realizado também a acupuntura auricular nos seguintes pontos: cadeia da ansiedade (lóbulo), rim (concha superior, próximo a junção desta com a raiz inferior do anti-hélice, na mesma linha do ponto shen men), occipital (ponto situado a 2 mm do ponto alergia, a 1mm do limite do anti trago com a antihélice), coração (ponto situado no centro da concha inferior, numa mesma linha que liga o vértice do antítrago com o shen men), subcórtex (situado na curva ascendente em direção ao ápice do anti trago, na borda superior da concha, ao lado do ponto do ovário), shen men (ponto situado na vértice do ângulo formado pela raiz inferior e a raiz superior do antihélice) (SOUZA, 2001). As inserções das agulhas foram aleatórias, sendo realizada com agulha de aço inoxidável 0,25 x 30 mm e a auriculopuntura foi feita uma vez por se-mana com agulha de 1mm, permanecendo a paciente uma semana com as agulhas.

RESULTADOS

Os valores verificados, de acordo com os oito domínios do questionário SF-36, antes do tratamento foram: capacidade funcional (90%), limitação por as-pectos físicos (100%), estado geral de saúde (82%), seguidos de vitalidade (50%), dor (51%), aspectos sociais (50%) e saúde mental (52%).No entanto, após o tratamento, observou-se uma mel-hora na qualidade de vida nos domínios: capacidade

A SOBRAFISAVOLUME 3 / NÚMERO3 57

funcional (95%), vitalidade (70%), aspectos sociais (75%), limitação por aspectos emocionais (33%), saúde mental (76%). A qualidade se manteve a mes-ma nos domínios: limite por aspectos físicos (100%), dor (51%), estado geral de saúde (82%), conforme apresentados na Figura 2.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

CF

V

AS

LAE

SM

LAF

DOR

EGS AntesDepois

SF-36

Des

crit

ores

Figura 2 - Escores apresentados antes e depois do tratamento de acordo com SF-36.

EGS – Estado Geral de Saúde; LAF – Limitação por aspectos Físicos; SM – Saúde Mental; LAE – Limitação por aspectos

Emocionais; AS – Aspectos Sociais; V – Vitalidade; CF – Ca-pacidade Funcional;

DISCUSSÃO

Analisando os resultados obtidos, observou-se relevante melhora em relação à saúde mental, limi-tação por aspectos emocionais, aspectos sociais e vi-talidade. A utilização da acupuntura em associação à acupuntura auricular aumentou o índice destes descri-tores possivelmente pela atuação psicoemocional. A paciente relatou ao fim do tratamento não se sentir es-gotada energeticamente e com melhora no vigor para atividades de vida diária, melhora na convivência so-cial sem a limitação funcional, melhorou a dinâmica no trabalho e em atividades que antes não fazia por limitações provocadas pelo DTM e relatou melhora no nervosismo, aumento da autoestima, aumento da alegria com as atividades de vida diária. Salgado (2007) verificou a diferença da acu-puntura e magnetoterapia em disfunção temporo-mandibular e concluiu que os dois métodos propor-cionam equilíbrio bioenergético. Portanto, os dois grupos evidenciaram bom desempenho em curto es-paço de tempo, independente do maior ou menor grau de cronicidade, nos sintomas de DTM e no bem estar geral do organismo. Ao contrário do demonstrado anteriormente por Rosted, Bundgaard e Pedersen (2006), não houve diferença na dor da paciente. Algumas hipóteses para essa falta de efeito analgésico podem ser descritas

como a quantidade pequena de sessões semanais, o tempo curto de aplicação de eletroacupuntura, as frequências utilizadas no aparelho de eletroacupun-tura podem ter sido impróprias para o tipo de dor que a paciente apresentava e a escolha dos pontos. Além disso, a utilização de eletroacupun-tura em humanos ainda é pouco descrita em termos científicos. Estudos controlados e cegos demonstram a efetividade da acupuntura em casos de dores agu-das e crônicas. No entanto, alguns pesquisadores têm demonstrado que a eletroacupuntura pode não produzir efeitos em alguns pacientes deficientes em produção de encefalinas, com menos receptores opi-oidérgicos ou mesmo uma quantidade diminuída de CCK circulante (WANG; KAIN; WHITE, 2008). Dessa forma, sugere-se que futuros trabal-hos acerca da acupuntura para alívio dos sintomas de bruxismo se utilizem de uma quantidade maior de pacientes, aumento no número de sessões semanais, para no mínimo três a quatro por semana, aumento do tempo de aplicação de eletroacupuntura e ainda es-colha da frequência de eletroacupuntura determinada pelas características da dor da paciente. Ainda, outros questionários mais incisivos para a qualidade da dor como McGill, Visual Ana-logue Scale (VAS), Inventário Breve de Dor (IBD) e Inventário Multidimensional de Dor, podem ser aplicados e certamente detectarão melhoras sutis ou acentuadas na característica da dor dos pacientes, tempo de dor, quantidade de medicamento analgésico ingerido e tempo de alívio da dor (WANG, KAIN; WHITE, 2008).

CONCLUSÃO

Baseado nos resultados obtidos é possível sugerir que a acupuntura melhora a qualidade de vida em alguns aspectos para o paciente portador de brux-ismo. Entretanto sugere-se que outros estudos sejam realizados com uma amostra e tempo de duração maior para confirmar a eficácia do tratamento.

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WEN, T.S. Acupuntura clássica chinesa. 13 ed São Paulo: Pensamento-cultrix, 2007.

A SOBRAFISAVOLUME 3 / NÚMERO3 59

RELATO DE CASO

AURICULOTERAPIA NO CONTROLE DA GLICEMIANO DIABETES TIPO II – RELATO DE CASO

Guiselini de, A.C.A.1*; de Corral-Mulato, S.2

1-Fisioterapeuta, Aluna do Curso de Especialização Lato Sensu em Acupuntura IPES/FCV,.

2 -Fisioterapeuta, Especialista em Acupuntura, Doutora em Ciências pela EERP-USP, Docente do curso de acupuntura do Instituto

Paulista de Estudos Sistêmicos (IPES).

RESUMO: Diabetes Mellitus configura-se hoje como epidemia mundial, traduzindo grande desafio para os sistemas de saúde pelo mundo. Definida como doença crônica resultante de defeitos de se-creção e/ou ação da insulina envolvendo processos específicos. Segundo a OMS, a acupuntura em diabéticos produz grandes benefícios, proporcionando redução de até 20% nos níveis de glicose no sangue. Tendo isto em vista, o objetivo deste estudo foi relatar os efeitos da Auriculoterapia no controle da glicemia na Diabe-tes Tipo II, utilizando protocolo pré-estabelecido. CASUÍSTICA E MÉTODO: Paciente mulher, 50 anos, portadora de Diabetes Mellitus Tipo II há 3 anos, queixa de boca seca e sede excessiva. Foram realizados 10 atendimentos, nos 1˚, 3˚, 5˚, 7˚ 9˚e 10˚ atendimentos, foram verificados os níveis glicêmicos antes e após cada sessão, realizada 3 horas após á ultima refeição, além da glicemia de jejum verificada diariamente durante tratamento. Foi realizada avaliação no início e término das 10 semanas e protocolo de tratamento pré-estabe-lecido utilizando Shen Men, Rim, Baço, Pâncreas, Endócrino, Vesícula Biliar, Regulação Metabólica e Função Metabólica (Prancha Francesa). Os pontos foram estimulados com agulhas de ponto Ting por 30 minutos, ao término colocado sementes de mostarda. Resultados: As médias glicemicas no inicio e final das sessões foram 103,80±7,02 e 100,60±5,71 respectivamente. A média da 1ª semana foi 117,71±4,88 e da 10ª 99,57±0,78. Conclusão: Houve discreta redução das médias dos níveis glicêmicos antes e após as sessões e diminuição progressiva na glicemia de jejum. Talvez mudanças no protocolo, ou tempo de terapia sejam necessárias para ocorrer redução significativa nos níveis de glicemia.

PALAVRAS-CHAVE: Acupuntura, diabetes, auriculoterapia.

ABSTRACT: Diabetes Mellitus is configured as global epidemic, representing great challenge to health systems worldwide. Defined as a chronic disease resulting from defects in secretion and / or insulin action involving specific processes. According to WHO, acupuncture produces great benefits for diabetics, providing up to 20% reduction in blood glucose levels. The objective of this study was to report the effects of Auriculotherapy on glycemic control in Type II Diabetes, using pre-established protocol. Woman, 50 years old, with Type II Diabetes Mellitus, complaints of dry mouth and excessive thirst. Were made 10 attendances in 1 ˚, 3 ˚, 5 ˚, 7 ˚,9 ˚,10 ˚ attendances, blood glucose levels were checked before and after each session, per-formed 3 hours after the last meal, and fasting glucose levels checked daily. Evaluation was performed at the beginning and end and a treatment protocol using Shen Men, Kidney, Spleen, Pancreas, Endocrine, Gall Blad-der, Regulation and Metabolic Metabolic Function (Plate French). The points were stimulated with needle point Ting for 30 minutes, at the end placed mustard seeds. The mean glucose at the beginning and end of the sessions were 103.80 ± 7.02 and 100.60 ± 5.71 respectively. The average of first week was 117.71 ± 4.88 and the last 99.57 ± 0.78. Conclusion: There was a slight reduction of mean blood glucose levels before and after the sessions and progressive decrease in fasting glucose. Perhaps changes in protocol or therapy time are necessary to occur significant reduction in blood glucose levels.

KEYWORDS: Acupuncture, diabetes, auriculotherapy.

*Autor para correspondência: Rua: Orlando Silva, 93 CEP: 14021-019 - City Ribeirão, Ribeirão Preto – SP Brasil. E-mail: [email protected].

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INTRODUÇÃO

O Diabetes Mellitus configura-se hoje uma epidemia mundial, traduzindo em grande desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo. Pode ser defin-ida como uma doença crônica resultante de defeitos de secreção e/ou ação da insulina envolvendo proces-sos patogênicos específicos, por exemplo, destruição das células beta do pâncreas (produtoras de insulina), resistência à ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outras. (OMS, 2003; CHOY, 2009; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). De acordo com os indicadores da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1985, a doença atingia aproximadamente 30 milhões de pessoas. O número aumentou para 135 milhões em 1995 e para 177 mil-hões em 2000, e estima se que em 2025 a prevalên-cia do diabetes deva alcançar 333 milhões de pessoas (GEMEO; IGNATTI, 2008). A alta incidência e os danos em outros órgãos e sistemas que a doença pro-voca, vem sendo objeto para o desenvolvimento de terapias alternativas que proporcionem ao portador desta patologia uma melhor qualidade de vida. Den-tre as alternativas de tratamento dos diabetes, está a acupuntura e a auriculoterapia. A Acupuntura é um importante procedimen-to da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) que há milênios demonstra finalidade preventiva e terapêu-tica, visando o tratamento de diferentes doenças através da aplicação de estímulos pela inserção de agulhas em pontos específicos do corpo (CHIQUIT-TI, 2004; FREIRE, 2004). Ela vem sendo apontada como excelente forma para se controlar os níveis de glicemia, como também auxiliar no combate de fa-tores que podem contribuir para o aumento da gli-cose, como: estresse, ansiedade, obesidade, hiperten-são, tabagismo. De acordo com estudos publicados pela própria OMS, o uso da acupuntura em diabéticos produz grandes benefícios para o paciente, proporcio-nando uma redução de até 20% nos níveis de glicose no sangue. A auriculoterapia constitui um dos micros-sistemas da Acupuntura,apresentando ampla aplica-ção e fácil manutenção, onde utiliza-se de estimu-lação no ponto reflexo no pavilhão auricular para a prevenção, tratamento e cura das disfunções do or-ganismo, desencadeando poucos efeitos colaterais (THOMAZI; NEVES, 2011;WEN, 1985). O pavilhão auricular é um dos microssistemas mais estudados; uma vez estimulado levará infor-mações através do sistema nervoso central e através dos meridianos visando à harmonização dos órgãos e vísceras e das enfermidades físicas e mentais, pro-

movendo tratamento da saúde (FREIRE, 2004; GAR-CIA, 1999).Por outro lado, poucos são os dados na literatura que comprovem a eficácia da Auriculotera-pia no controle da glicemia no portador de Diabetes, por esta razão se faz necessário mais estudos sobre o tema, justificando a realização do estudo. Tendo em vista estes pressupostos o objetivo deste estudo foi relatar os efeitos da Auriculoterapia no controle dos níveis glicêmicos de uma paciente com diagnóstico de Diabetes Mellitus Tipo II, utili-zando um protocolo pré-estabelecido.

CASUÍSTICA E MÉTODO

Participou deste estudo uma paciente do gêne-ro feminino, 50 anos, com diagnóstico de Diabetes Mellitus tipo II há mais ou menos 3 anos; onde com 2 anos e 6 meses após o diagnóstico precisou trocar o medicamento que tomava, Glifagi XR pelo Ong-lyza, pois desenvolveu alergia a Metilformina e desde então não conseguia controlar seus níveis glicêmicos. A mesma foi esclarecida sobre o estudo, assinando um termo de consentimento livre e esclarecido aceit-ando participar do mesmo. Inicialmente foi realizada uma avaliação para determinar quais eram os pontos a serem tratados. Além do controle dos níveis glicêmicos, a paciente havia buscado tratamento para controlar a sede exces-siva e a boca seca. O tratamento consistiu em 10 atendimentos domiciliares, realizados uma vez por semana, todas no mesmo horário, no período de abril a julho de 2011. Os pontos selecionados foram embasados nos pontos propostos por Garcia (1999), Carballo (2007), Van Nghi (1980): Shen Men, Rim, Sistema Ner-voso Simpático, Baço, Pâncreas, Endócrino, Sede, Função Metabólica (Prancha Francesa) e Regulação Metabólica, sendo ilustrado na figura 1. Cada ponto tem uma função específica no tratamento, em relação especificamente a Diabetes suas funções podem ser assim definidas (CHIQUITTI, 2004; WEN, 1958). O ponto Shen Men, localizado no vértice do ângulo formado pela raiz inferior e a Raiz Superior da Antihélice tem de efeito acalmar o espírito. O Rim, situado na Concha Cimba, próximo à junção desta com a raiz inferior do Antihélice, na mesma linha do ponto Shen Men, tem como função melhorar a filtração do sangue e estimular o aumento da ação das glândulas endócrinas. O Sistema nervoso simpático, situado no meio da raiz inferior abaixo da membrana da Hélice, tem como ação equilibrar as funções do sistema nervoso simpático e parassimpático.

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Figura 1- Figura com a localização dos pontos au-riculares utilizados.

O Baço, na metade inferior da região do fígado da orelha esquerda (só na esquerda); já o Pâncreas,e a Vesícula Biliar, na parte inferior lateral da parte infe-rior da concha, sendo que na orelha esquerda reflete o pâncreas e na direita a vesícula biliar tem como fun-ção acelerar a função das células pancreáticas, regu-lando assim a produção de insulina. Os pontos da Função Metabólica e Regula-ção Metabólica, localizados no Lóbulo, ao final da Antihélice,têm por função regular o metabolismo ce-lular. Na 1ª, 3ª, 5ª, 7ª, 9ª e 10ª sessões, foram veri-ficados os níveis de glicemia, antes e após cada aten-dimento, que sempre era realizado três horas após a última refeição; além da glicemia em jejum, verifica-da pela paciente, durante todo o período de tratamen-to. Esses valores eram coletados por meio do monitor glicêmico Sure Step Plus, e anotados em uma tabela. A sessão tinha duração de 50 minutos e iniciava com a verificação da glicemia, após era realizada higieni-zação do pavilhão auricular com álcool etílico 70% e em seguida era inserida agulha de ponto Ting da marca Lizhou nos pontos já mencionados durante 30 minutos. Após a retirada das agulhas, eram colocadas sementes de mostarda nos pontos escolhidos no outro pavilhão auricular.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados foram coletados e ao final das 10 sessões de tratamento, foram analisados e divididos em duas partes, primeiro os níveis glicêmicos do inicio e do final de cada sessão onde foi obtida uma

média glicêmica de 103,8 ± 7,02 e de 100,6 ±5,71 respectivamente (Tabela 1).

Tabela 1¬ - Média dos níveis glicêmicos do inicio e final das sessões

Em relação aos níveis glicêmicos colhidos em jejum, durante as 10 semanas de tratamento, ob-servou-se em cada semana uma média glicêmica de 117,71±4,52, 115,71±3,41; 11,28±5,69; 112,28±3,76; 108,71±5,77; 107,57±4,98, 108,42±3,49; 105,42±5,41; 102,42±4,50; 99,57±0,78, respectiva-mente. Índice que apresentou declínio ao longo do tratamento, como mostra a figura 2.

Figura 2 - Gráfico representativo dos níveis glicêmicos em jejum e ao longo das semanas de tratamento

Tanto na glicemia em jejum quanto na verificada durante a sessões foi observado uma redução de mais de 20%, confirmando o que a OMS publicou em 1998, em relação à Acupuntura onde afirma que a mesma pode reduzir em até 20% os níveis glicêmicos (OMS, 1998; Choy, 2009). Outro estudo sobre o efeito da auriculoterapia no controle da Diabetes realizado por Thomazi e Neves (2011), também mostrou uma redução de mais de 20% dos níveis de glicemia após o tratamento de auriculoterapia. Diferentemente do nosso estudo, onde foram propostos nove pontos para o tratamento da Diabetes, o estudo realizado por Thomazi e Neves (2011), utilizou um único ponto para o mesmo fim

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e mostrou efeito igualmente positivo na redução da glicemia, demonstrando como a auriculoterapia pode ser benéfica para o tratamento da Diabetes. Em nosso trabalho, os pontos selecionados foram baseados nos pontos propostos por Relichmann (2008) e por Garcia (1999), que enfatizam a importância de se utilizar o ponto do Pâncreas, ponto este, específico para tratamento e diagnóstico da Diabetes, uma vez que acelera a função das células pancreáticas regulando, portanto a produção de insulina; e o ponto Endócrino, responsável por regular a produção hormonal do organismo. Os pontos indicados para o tratamento da Diabetes pela auriculoterapia variam de acordo com a literatura e também em relação à sintomatologia apresentada pelo paciente.

CONCLUSÃO

Neste estudo pudemos observar uma diminuição das médias dos níveis glicêmicos colhidos antes e após a realização das sessões de auriculoterapia. Ainda, observou-se uma diminuição progressiva na glicemia de jejum nas semanas que seguiram o tratamento, mesmo que pequena. Talvez, mudanças no protocolo ou no tempo de terapia, sejam necessárias para ocorrer redução significativa nos níveis de glicemia encontrados neste estudo.

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RELATO DE CASO

O USO DA ELETROACUPUNTURA NA ANALGESIA PROFUNDA EM PROCEDIMENTO ODONTOLÓGICO

Suliano, L. C. 1*; Quimelli, M. 2; Silva Da, R.V.C.

1-Cirurgiã-Dentista, Mestranda em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Federal do Paraná - UFPR, Departa-mento de Pediatria, Professora do Instituto Brasileiro de Therapias e Ensino - IBRATE

2-Fisioterapeuta; Mestre em Acupuntura pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Professor do Instituto Brasilei-ro de Therapias e Ensino - IBRATE

3-Médica; Professora do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Paraná – UFPR; UTI Neonatal – Hospital de

Clinicas. RESUMO: Introdução: A Acupuntura teve reconhecimento pela Organização Mundial de Saúde em 1979. Como especialidade odontológica o reconhecimento deu-se em 2008. É crescente o interesse na odonto-lo-gia pelo uso desse método considerando tratar-se de mecanismo de resposta fisiológica com capacidade de aliviar ou eliminar a dor em determinados procedimentos, uma vez que os estímulos da agulha através da pele proporcionam estímulos ascendentes no sistema nervoso periférico (SNP) e no sistema nervoso central (SNC), provocando uma resposta analgésica (com a liberação de opióides endógenos). Por meio da via delta - δ (via da acupuntura) estímulos mecânicos são emitidos ao SNP e ao SNC, apresentando como re-sultado um bom nível de sedação, embora não tão eficiente para procedimentos odontológicos invasivos. O uso associado da corrente elétrica aumenta a eficiência pelo fato de utilizar a via (A-ß) ao nível de sistema nervoso periférico, obtendo uma resposta efetiva com a liberação do ácido y-aminobutírico (GABA). Ob-jetivo: Sustentar o emprego da Eletroacupuntura (EA) para analgesia odontológica bem como o desconfor-to no pós-operatório. Método: Voluntária, 24 anos, realizado teste de vitalidade nos caninos, classificando a intensidade dolorosa pela escala visual analógica (EVA). Utilizadas agulhas descartáveis no lado direito, acuponto Wai Guan (TA5) e He Gu (IG4) homolateral ligadas ao aparelho para a condução da corrente. Após teste de vitalidade negativo iniciou-se o procedimento odontológico. Concluída a restauração foram removidas as agulhas. Conclusão: A EA é uma aliada na analgesia dos pacientes odontológicos podendo reduzir ou mesmo eliminar o uso de fármacos. PALAVRAS-CHAVE: Acupuntura, eletroacupuntura, analgesia profunda, dor, procedimento odon-tológico. ABSTRACT: Introduction: Acupuncture was recognized by the World Health Organization in 1979. As dental specialty recognition came in 2008. An increasing interest in dentistry by using this method con-sidering that this is physiological response mechanism with ability to alleviate or eliminate pain in certain procedures, as the stimuli of the needle through the skin stimuli provide upward peripheral nervous system (PNS) and central nervous system (CNS), causing an analgesic response (with the release of endogenous opioids). Through via delta - δ (via acupuncture) mechanical stimuli are sent to the CNS and PNS, presenting results in a good level of sedation, although not as effective for invasive dental procedures. The combined use of electric current increases efficiency because it uses the route (A-beta) at the level of the peripheral nervous system, obtaining an effective response to the release of y-aminobutyric acid (GABA). Objective: Sustain the use of electroacupuncture (EA) analgesia for dental as well as postoperative discomfort. Method: Volunteer, 24 years, performed test of vitality in canines, classifying pain intensity by visual analog scale (VAS). Used disposable needles on the right acupoint Wai Guan (TA5) and He Gu (IG4) homolateral connected to the de-vice for current conduction. After negative testing vitality began the dental procedure. Complete restoration needles were removed. Conclusion: EA is an ally of analgesia in dental patients can reduce or even eliminate the use of drugs. KEYWORDS: Acupuncture, electroacupuncture, profound analgesia, pain, dental procedure.

*Autor para correspondência: Marechal Deodoro, 235 cj.1508. Centro, Curitiba –PR. CEP: 80020-907. E- mail: [email protected]

A SOBRAFISA VOLUME 3 / NÚMERO364

INTRODUÇÃO

A acupuntura foi reconhecida no âmbito da saúde pública pela Organização Mundial da Saúde em 1979 e seu emprego no Sistema Único de Saúde – SUS – foi autorizado pelo Ministério da Saúde (Bra-sil, 2006). Técnica milenar de origem chinesa, a acupun-tura consiste na inserção de agulhas em locais especi-ficamente definidos para fins terapêuticos (Salazar e Reyes, 2004; Vale, 2006; Silvério-Lopes, 2007; Silva, Prado Neto et al., 2010). O foco de atenção tem sido o papel dos opióides endógenos neste mecanismo de ação, rela-cionado aos estímulos da agulha através da pele em pontos previamente mapeados, proporcionando es-tímulos as-cendentes no SNC, provocando uma re-sposta analgésica descendente com a liberação de opióides endóge-nos pelo SNP (endorfinas, dinorfinas e encefalinas) bloqueando os neurotransmissores da dor (Quimelli, 2005). Na acupuntura a analgesia está diretamente relacionada com as formas pelas quais as vias da dor são bloqueadas, e por meio da transmissão da infor-mação nocioceptiva pode ser alterada em diferentes lo-cais do sistema nervoso. Sabe-se que a via delta - δ (via da acupuntu-ra) conduz estímulos mecânicos ao sistema nervoso pe-riférico e central e apresenta um nível de sedação como resultado (Filshie J; White A). acupuntura tem um papel bem descrito na an-algesia e pode ser agregada a uma corrente elétrica, que nada mais é que uma passagem de uma corrente elétrica através dos tecidos do corpo por meio de agu-lhas. A analgesia profunda com eletroacupuntura (EA) capaz de aliviar ou eliminar a dor do paciente em determinado procedimento pode e deve ser mais explorada e mais pesquisada por todas as áreas de saúde. (Silvério-Lopes – 2007) A EA de baixa frequência libera a β-endorfina no pedúnculo cerebral e no hipotálamo e metencefa-lina e dinorfinas na medula espinhal; a EA de alta frequência, por sua vez, libera dinorfinas e serotoni-nas no SNP (Filshie e White, 2002). De todos os benefícios da EA, a potencializa-ção dos efeitos analgésicos é, sem dúvida, o mais im-portante, sendo por esse motivo o mais estudado. O princípio da compreensão que justifica a vantagem de se associar estímulos elétricos à agulha de acupuntura está na premissa de que a eletricidade ao estimular o eletrodo desencadeia um estímulo mais forte (Silvé-rio-Lopes, 2007). Com o uso associado da corrente elétrica a

transmissão do impulso nervoso se dá pela via A-beta (ß), através do receptor tátil que envia impulsos para coluna dorsal e também, por meio de um interneurô-nio, que inibe as células da Substância Gelatinosa (SG), estimulando uma resposta mais eficiente no SNP por meio do ácido y-aminobutírico (GABA), com uma analgesia mais profunda. No tocante à dor, esta se revela como uma resposta protetora do organismo a estímulos nocivos que resultam em efeitos indesejáveis quando não con-trolada. Em geral, a analgesia é promovida mediante a utilização de vários tipos de fármacos que, no en-tanto, podem causar efeitos adversos de acordo com a es-pécie e a condição física do paciente (Taffarel, MO e Freitas, PMC, 2009; Okeson 2006; Guyton, 2002). O uso de anestésicos locais com vasoconstri-tor é amplamente utilizado para obter analgesia em pro-cedimentos odontológicos. Eles são fármacos que bloqueiam de forma reversível a geração e a condução do impulso ao longo da fibra nervosa, inibindo a sen-sibilidade e até mesmo a atividade motora. Os efeitos indesejáveis acontecem principalmente em razão da passagem dos anestésicos locais para a circulação sis-têmica, podendo ocorrer efeitos sobre o SNC, como agitação, tremores, confusão e até depressão respira-tó-ria, assim como efeitos cardiovasculares, resultan-do em queda da pressão arterial e reações de hipersen-sibi-lidade, podendo levar a um choque anafilático. O medo e a ansiedade de procedimentos odontológicos são bastante conhecidos e descritos na literatura e sua principal causa é o histórico de experiências traumáti-cas (Dp, Gp et al., 2007). No trabalho de Enkling N; Marwinski G; Johren P, a experiência dolorosa durante o tratamen-to odontológico foi dada por 67% como a principal razão de medo de ir ao consultório odontológico, se-guido pelo medo de agulhas (35%). Há também muitos casos de atendimento de pacientes que necessitam de extrações dentárias e tra-zem recomendação médica de que o tratamento in-dicado seja realizado sob anestesia local sem o uso de vasopressores, particularmente adrenalina e nor-adrenalina. Tal situação clínica acarreta um impasse para o profissional da odontologia, pois o não atendimen-to à recomendação médica implica na assunção de riscos presumíveis que as soluções anestésicas com vaso-constritores possam eventualmente impor aos portadores de doenças isquêmicas do coração; por outro lado, não utilizar esse tipo de anestésico poderá redundar num procedimento com hemorragias mais abundantes e a analgesia menos profunda e menos duradoura. (Conrado, Andrade et al., 2007)

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Ainda que os anestésicos sejam geralmente bem tolerados, a real incidência de reações alérgicas de anestésicos locais não é bem conhecida. (Baluga, 2003) Outros métodos podem ser usados de forma alternativa no alívio da dor e, dentre eles, a acupun-tura vem demonstrando ser eficiente em casos como a analgesia de partos (Knobel, 2002) ou no tratamento de doenças osteo-mio-articulares (Quimelli, 2005), como indicam inúmeros estudos de ensaios clínicos (Gamboa, K.B. et al, 2011; Onetta, 2005; Salazar e Reyes, 2004; Vale, 2006). Posteriormente, associou-se o uso da corrente elétrica à aplicação da acupun-tura, propiciando outras vias de liberação de opióides endógenos, ampliando os efeitos anti-álgicos (Onetta, 2005; Salazar e Reyes, 2004; Vale, 2006). Este trabalho objetiva sustentar os benefícios e resultados alcançados pela acupuntura em analgesia profunda (anestesia) na área odontológica (Suliano, 2011; Carpio et al 2007), e demonstrar como a acu-pun-tura vem se desenvolvendo como método alter-nativo complementar no alívio da dor para diversas patologi-as, tais como: enxaquecas, dores muscula-res, cólicas menstruais, lombalgias, desconfortos no período ges-tacional e, alguns casos, em sedação em partos (cesáreas), entre outras (Salazar e Reyes, 2004; Cunha, 2010). Por meio deste relato de caso busca-se desper-tar linhas de pesquisas abrangendo um N sustentável. Analgesia profunda com EA na odontologia pode ser uma opção na redução parcial ou total do uso de fár-macos convencionais, porém, mais pesquisas e es-tudos nesta área devem ser desenvolvidos. (Suliano, 2011) É um método não-farmacológico e vem se tor-nando uma opção para pacientes para os quais os fár-macos convencionais são contra-indicados (Suliano, 2011; Carpio et al, 2007). A técnica representa método de tratamento mais natural, menos agressivo e com menor interfer-ên-cia nos processos fisiológicos (Yamamura, 1995), e tem demonstrado ser eficiente para tratamento de dores em geral, ganhando espaço e aceitação no meio científico (Quimelli, 2005).

OBJETIVOS

Avaliar a eficácia da analgesia por meio do uso da EA em pacientes que necessitam de procedi-men-tos odontológicos verificando se o tempo de an-algesia é suficiente. Analisar o desconforto da dor no pós-operatório 24, 48 e 72 horas após aplicação da EA.

METODOLOGIA Participou deste estudo uma voluntária do sexo feminino, 24 anos de idade, sem medicação analgé-sica e antiinflamatória por uma semana. Foi acomodada no consultório odontológico sendo realizado o teste de vitalidade com diclorodi-fluo-rometano (-20) nos caninos superiores e inferi-ores, classificando a intensidade dolorosa pela EAV. Solici-tou-se expressar uma nota para dor ou descon-forto sentido, sendo 0 (zero) para sem dor e 10 (dez) para a pior dor que se pode sentir. Inicialmente a resposta foi em 3 segundos e a voluntária classificou intensidade 5 para a dor, consi-derado normal para um dente hígido.

Fotografia 1.Teste Diclorodifluorometano (-20)Fonte: O autor

Foi posicionada com o braço apoiado para re-alizar a antissepsia com álcool a 70% no local do agu-lhamento. Realizou-se aplicação da agulha descartável em aço inoxidável 0,25mm (diâmetro) x 40mm (com-primento) unitária no lado direito, acuponto Wai Guan (TA5) homolateral. Obtido o estímulo de peso na mão e braço (indicativo da eficácia da técnica), foi acrescentada agulha no acuponto He Gu (IG4). Estas agulhas foram associadas a um cabo para a facilitação da corrente elétrica de 100 Hz, com forma contínua e polarizada, sendo o polo preto (ânodo) usado no pon-to IG4 e o pólo vermelho (cátodo) no TA5. O apare-lho utilizado é da marca OmniPax da NKL versão 2.0 e o ajuste da intensidade será de acordo com a tole-rância ao estímulo. Realizou-se novamente teste de vitalidade e estímulo doloroso (teste de estímulo tátil) avaliando a percepção de dor pela EAV, e o limiar permaneceu inalterado no lado controle (esquerdo), contudo, no lado com EA não houve resposta álgica.

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Fotografia 2.Eletroacupuntura IG4 (He Gu)

e TA5(Wai Guan) Fonte: O autor

Fotografia 3.Teste Tátil

Fonte: O autor

Passados 5 minutos deu-se início ao procedimento odontológico de restauração no primeiro molar inferior direito, profilaxia com jato de bicarbonato e remoção de tártaro com ultrassom sendo que todos os procedimentos foram realizados sem a necessidade de fármacos. A voluntária não acusou dor durante o procedimento de restauração, sendo possível comparar a sen-sibilidade entre os hemi-arcos direito e esquerdo nos demais procedimentos. Concluída a restauração foi desligado o aparelho, desconectados os eletrodos e removidas as agu-lhas e depois de 5 minutos os elementos dentários, língua e gengiva responderam normalmente ao teste de vitalidade. A paciente foi monitorada em três momentos após o procedimento (24, 48 e 72 horas) para con-trole da dor no pós-operatório, mas em nenhum momento relatou dor ou incômodo, comuns em atos odon-tológicos invasivos como a restauração.

RESULTADO

Observou-se que existe a necessidade de após introduzir a agulha no ponto Wai Guan (TA5) e a-guardar o relato de sensação de peso na mão e no braço e somente após este estímulo é que deve ser acres-centada a agulha no acuponto He Gu (IG4). Ao ligar a corrente elétrica a voluntária relatou que a sensação se intensificou e percebeu a diminui-ção da sensibilidade em região de gengiva e língua no lado em que fora aplicada a agulha. O procedimento odontológico só foi realizado após o re-teste de vitalidade ter dado negativo, sem nenhuma resposta álgica, sendo todo o procedimento realizado com a voluntária com agulhas e com a ele-troacupuntura sem utilizar nenhum tipo de fármaco. Passados 10 minutos do desligamento do apa-relho de eletroacupuntura e da remoção das agulhas a voluntária relatou inexistir qualquer sensação de amortecimento o que é uma vantagem em relação à técni-ca convencional, pois esta é uma reclamação de todos os pacientes que se submetem a tratamentos odonto-lógicos com anestesia.

DISCUSSÃO

Por muitos anos tem-se comentado os benefí-cios do tratamento com acupuntura, seu efeito analgé-sico é uma realidade nos tratamentos com sintomato-logia dolorosa. É do conhecimento dos autores a existência de técnicas que provocam a analgesia odontológica por meio da acupuntura, porém, a busca consiste em uti-lizar o menor número de pontos com o melhor efeito analgésico e efeito antiinflamatório duradouro e que gerem todos esses benefícios com a menor toxicidade quando comparada à analgesia convencional. O principal fator é poder dar uma opção de an-algesia para pacientes alérgicos que correm risco de choque anafilático ao passar por procedimentos odon-tológicos ou mesmo potencializar o efeito analgésico em pacientes com diabetes, problemas cardíacos ou outras complicações sistêmicas em que o anestésico com vasopressores é contra-indicado, e com isso o efeito anestésico é rapidamente dispersado. A inexistência de dor pós-operatória está sen-do considerada uma vantagem muito evidente, uma vez que não houve relato de dor ou incômodo pela voluntária, situação comum num ato odontológico invasivo como no caso de uma restauração. A volun-tária foi monitorada acerca da ocorrência de dor pelo procedi-mento odontológico quanto pela EA em três momentos: 24, 48 e 72 horas após o procedimento.

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Este fato harmoniza-se com os resultados encontra-dos no trabalho de Correa, J e Mateo, J. (1997), em que foram realizadas 30 extrações com analgesia por acupuntura e nenhum voluntário apresentou dor ou inflamação local nas 24, 48 e 72 horas que se se-guiram ao procedimento. É importante salientar que depois do agulha-mento foi realizado o teste de vitalidade e a voluntária não teve resposta álgica no lado em que foram coloca-das as agulhas, fato de extrema importância na odon-tologia, pois significa que a analgesia ocorreu tanto na maxila quanto na mandíbula, sendo que nos méto-dos tradicionais seriam necessários dois procedimentos de anestesia: uma superior e outra inferior. Na literatura não se encontrou nada falando sobre a sensação de amortecimento pós-anestesia, tal-vez por não ser fato considerado de grande rele-vância. A voluntária relatou que após 5 minutos da remoção da agulha do acuponto a sensação desapare-ceu dos tecidos bucais e a vitalidade dentária voltou ao normal, ou seja, houve resposta positiva ao teste de vitalidade, inexistindo qualquer sensação de amortec-imento, reclamação corriqueira de todos os pacientes que se submetem a tratamentos odontológicos.

CONCLUSÃO

A eletroacupuntura foi considerada uma ali-ada na analgesia de pacientes odontológicos e pode re-duzir ou mesmo eliminar o uso de fármacos, apre-sentando-se como alternativa a milhares de pacientes a-lérgicos. Segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), cerca de 12% da população tem alergia a algum tipo de medicamento e, portanto, apresenta limitações com o uso de certos fármacos por causa das complicações sistêmicas. Os principais medicamentos envolvidos nas reações alérgicas são: antibióticos, sulfas, antiinfla-ma-tórios, anti-convulsivantes, anestésicos, anti-hip-ertensivos, hormônios e soros. Deve-se destacar que o efeito anestésico per-maneceu constante em todo procedimento, sendo su-fi-ciente para o término do tratamento odontológico e a ausência da dor pós-operatória foi considerada mais uma vantagem desta analgesia, eliminando o uso de analgésicos e antiinflamatórios que muitas vezes tem que ser administrados. A analgesia profunda com eletroacupuntura é uma realidade na prática da acupuntura e sua aplicabi-lidade deve ser mais explorada em todas as áreas de saúde, assim como para exames ou tratamentos que gerem dor ou desconforto ao paciente.

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A SOBRAFISAVOLUME 3 / NÚMERO3 69

SÉRIE DE CASO

EFEITOS DA ACUPUNTURA SISTÊMICA PARA TRATAMENTO DE MULHERES COM FIBROMIALGIA

Pires, E. D.1*; Bastos, J. L. N.2; Driusso, P.3; Marino, D.M.4.

1-Fisioterapeuta, aluna do curso de Especialização Lato Sensu em Acupuntura – IPES/FCV.

2-Fisioterapeuta, aluna do curso de Especialização Lato Sensu em Acupuntura – IPES/FCV, Mestre em Bioengenharia, Doutoran-

da na Escola de Engenharia de São Carlos - EESC/USP, Universidade de São Paulo.

3-Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).

4-Fisioterapeuta, Docente do curso de acupuntura do IPES, Doutorando em Fisioterapia pela Universidade Federal de São Carlos

– UFSCar.

RESUMO: Introdução: A fibromialgia é uma síndrome, ainda de origem desconhecida, caracter-izada por dor crônica e difusa. Uma alternativa de tratamento é a acupuntura sistêmica. Objetivos: Verificar a eficácia da aplicação de acupuntura sistêmica em pacientes com fibromialgia. Métodos: Cinco mulheres com diagnóstico prévio de fibromialgia foram avaliadas por meio de uma anamnese, dos questionários FIQ (Fi-bromyalgia Impact Questionnaire), BDI (Beck Depression Inventory), BAI (Beck Anxiety Inventory), HAQ (Heath Assessment Questionnaire), EVA (Escala Visual Analógica), e aplicação do algômetro de pressão. Estas avaliações foram realizadas antes e após o período de tratamento. Este foi de 8 sessões, uma vez por semana com aplicação de acupuntura sistêmica. Os pontos utilizados foram Yin Tang, IG4 (Intestino grosso), F3 (Fígado), BP6 (Baço-Pâncreas), CS6 (Circulação Sexualidade), VB34 (Vesícula Biliar). Resultados: Os resultados dos testes aplicados indicam uma melhora nos sintomas avaliados, sendo que apenas o HAQ não obteve diferença antes e após tratamento. Conclusão: O presente estudo mostrou uma melhora do quadro de depressão, ansiedade, dor, e conseqüente melhora da qualidade de vida após o tratamento com acupuntura sistêmica em mulheres fibromiálgicas. PALAVRAS-CHAVE: Fibromialgia, acupuntura, dor.

ABSTRACT: Background: Fibromyalgia is a rheumatic syndrome, still unknown, characterized by chronic, diffused musculoskeletal pain. An alternative treatment is the acupuncture. Objective: Investigate whether systemic acupuncture could be effective for the management of fibromyalgia syndrome. Methods: Five female subjects with previous diagnosis of fibromyalgia were submitted to an initial assessment involv-ing pressure algometer measurements for pain tolerance, and visual analogue scale, and questionnaires (FIQ, BDI, BAI, HAQ), followed by the treatment. Over eight weeks period, once a week, acupuncture treatment was performed at Yin Tang, IG4 (HeGu), F3 (TaiChong), BP6 (SanYinJiao), CS6 (NeiGuan), VB34 (Yan-gLingQuan). At the end of the treatment, the subjects were submitted to a reassessment. Results: The results indicate an improvement in symptoms assessed, and only HAQ got no difference before and after treatment. Conclusion: This study showed an improvement in the context of depression, anxiety, and pain, and thereby improve quality of life after treatment with acupuncture. KEYWORDS: Acupuncture, fibromyalgia, pain.

*Autor para correspondência: Rua Aquidaban, 975, Centro, São Carlos, São Paulo. CEP: 13560-120E-mail: [email protected]

A SOBRAFISA VOLUME 3 / NÚMERO370

INTRODUÇÃO A fibromialgia é uma síndrome reumática com prevalência em mulheres brancas de 30 a 50 anos, caracterizada por dor crônica e difusa, que ainda não tem origem estabelecida. Além da manifestação mús-culo-esquelética pode-se observar outros sintomas, dentre eles distúrbios do sono, depressão, fadiga, parestesias, cefaléias, edema das extremidades, sín-drome do cólon irritável e ansiedade, e conseqüente-mente redução da qualidade de vida. De acordo com o Colégio Americano de Reumatologia (American Colege of Reumathology – ACR) a dor é encontrada em sítios anatômicos específicos que são chamados de tender points, os quais são usados para avaliação e diagnóstico da doença. Os tender points são local-izados em regiões de transição músculo-tendíneas, bursa, coxim gorduroso, ou no músculo. Por não ex-istirem exames de imagem capazes de diagnosticar a doença o mapeamento dos tender points é usado para este fim, sendo aplicada uma pressão padrão de 4 kg/cm2 nestes pontos (PROVENZA et.al., 2004; BRES-SAN et.al, 2008). São preestabelecidos 18 pontos dolorosos a palpação por todo corpo e sendo encontrado dor em 11 desses pontos por mais de três meses é um indica-tivo da presença da fibromialgia. Outras ferramentas utilizadas para avaliação da fibromialgia são os ques-tionários referentes a qualidade de vida, entre out-ros (IGNACHEWSKI et.al., 2004; SANTOS et.al., 2006). Algumas hipóteses são levantadas para expli-cação da etiopatogenia da fibromialgia e dentre elas estão uma possível alteração do eixo hipotálamo-pituitaria-adrenal, diminuição da concentração de serotonina, e deficiência na circulação periférica de oxigênio. Também são observadas algumas variáveis que interferem na doença como alterações climáticas e emocionais (IGNACHEWSKI et.al., 2004; BRES-SAN et.al, 2008). No entanto devido ao fato dessa doença ainda não ser muito bem explicada ainda não existe um tratamento para cura, mas sim tratamentos para melhorar a qualidade de vida dando um suporte para os pacientes conseguirem realizar suas ativi-dades diárias com menor sofrimento. Os tratamentos incluem uso de medicamen-tos antidepressivos, analgésicos, fisioterapia, apoio psicológico, acupuntura, entre outros. A acupuntura é umas das técnicas baseadas no conhecimento da Medicina Tradicional Chinesa (AUTEROCHE et.al., 1992; SZABO et.al., 2001; TAKIGUCHI et.al., 2008). Segundo a teoria da acupuntura todas as es-

truturas do nosso corpo estão em equilíbrio pela atu-ação de energias Yin (negativas) e Yang (positivas), sendo que se estas estiverem em harmonia estamos saudáveis, e se ocorrer o oposto surge a doença. Este tipo de terapia pode ser usado tanto para problemas físicos quanto para problemas psíquicos. A ener-gia percorre o corpo através de canais específicos, chamados de meridianos e é nestes que a maioria dos pontos de acupuntura se situam (MANN, 1994; YA-MAMURA, 2001; WEN, 2006; SILVA FILHO, et.al., 2007). A atuação da acupuntura não acontece estrita-mente no local acometido, ela atua no corpo todo, já que este é comandado pelo sistema nervoso central, sendo assim estimula os mecanismos de compensa-ção e equilíbrio do corpo. Estímulos são dados a su-perfície da pele que são captadas pelo sistema nervoso autônomo caminhando até o cérebro e este envia sua resposta ao órgão acometido (MANN, 1994; YAMA-MURA, 2001; WEN, 2006). Estudos recentes mostram que a aplicação da acupuntura determina respostas cerebrais para lib-eração de substancias antiálgicas como serotonina e noradrenalina, efeitos sobre o sistema imunológico, vascular, e sobre a regeneração tecidual que poderiam auxiliar na melhora dos sintomas de mulheres fibro-mialgicas.

OBJETIVO

Verificar a eficácia de um protocolo de acu-puntura sistêmica no tratamento da Síndrome da fi-bromialgia, quanto a dor, depressão, ansiedade e qualidade de vida.

METODOLOGIA

O estudo foi realizado na Universidade Fed-eral de São Carlos, no departamento de Fisioterapia na área de Saúde da Mulher, aprovado pelo Comitê de Ética do Instituto Paulista de Estudos Sistêmicos, sendo que as participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Foram selecionadas seis mulheres entre 20 e 80 anos, com diagnóstico prévio de fibromialgia da cidade de São Carlos. Como critério de exclusão foram considerados a aversão a agulhas, existência de problemas de coagulação, estar em período gestacio-nal, ser etilista, apresentar déficit cognitivo, fraturas, e três faltas consecutivas nos dias de tratamento deste estudo. Com isso houve perda amostral de uma paci-ente, totalizando cinco mulheres participantes do es-tudo.

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Avaliação

As avaliações foram realizadas em dois mo-mentos, primeiramente uma semana antes do início do tratamento e a última avaliação foi realizada uma semana após o término total do tratamento. Consistiu na realização de uma anamnese geral das pacientes, aplicação de questionários fun-cionais, aplicação do algômetro de pressão, e da Es-cala Visual Analógica (EVA). O mesmo examinador realizou as avaliações antes e após o tratamento, e as fichas utilizadas foram separadas de forma que as pa-cientes ao realizarem a avaliação final ainda não tin-ham conhecimento do resultado da avaliação inicial. Os questionários utilizados foram o Beck De-pression Inventory (BDI), Beck Anxiety Inventory (BAI), Heath Assessment Questionnaire (HAQ), e Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ), validados para o português (MARTINEZ et.al., 1998). A anamnese constava de informações sobre a saúde geral do paciente como antecedentes pessoais, hábitos de vida, medicamentos em uso, e outras doen-ças associadas. Nesta estava incluída a Escala Visual Analógica que foi avaliada por meio de um desenho de uma régua com uma escala de 0 a 10, com uma imagem de um rosto feliz na escala 0 (sem dor nen-huma) e um desenho de um rosto triste na escala 10 (pior dor possível). O BDI avalia o quadro de depressão do paci-ente através de 21 questões de múltipla escolha com alternativas de 0 a 3, o escore máximo é 63 signifi-cando alto grau de depressão e o escore mínimo é 0 significando nenhuma depressão (MARTINEZ et.al., 1998). O BAI também é composto de 21 questões de múltipla escolha com alternativas de 0 a 3, com escore máximo de 63 indicando ansiedade grave, e escore mínimo de 0 indicando nenhuma ansiedade (PEREIRA et.al., 2009). Outro questionário utilizado foi o HAQ que avalia a capacidade do paciente nas atividades de ve-stir-se, levantar-se, comer, caminhar, higiene, e out-ras. O escore das questões varia de 0 a 3, sendo 0 ausência de incapacidade, e 3 incapacidade máxima (MARTINEZ et.al., 1998; MARTINEZ et.al.,2009). Com relação ao FIQ a primeira etapa consta de 10 subitens relacionados a capacidade motora, e nestes o paciente deve pontuar de 0 (sempre capaz de realizar) a 3 (nunca capaz de realizar). Os dois próxi-mos itens são relacionados a quantos dias na ultima semana o paciente se sentiu bem e quantos dias faltou ao trabalho. Os sete últimos itens são medidos numa escala de 0 (melhor possível) a 10 (pior possível). O

escore total varia de 0 (melhor pontuação) a 100 (pior pontuação) (MARTINEZ et.al., 1998; MARQUES et.al., 2006). O algômetro de pressão (figura 1) utilizado foi o da marca Pain, Diagnosis and Treatment (New York, NY), analógico, com ponteiras anatômicas ad-equadas ao procedimento, registrando-se o valor em quilograma-força (Kgf) da pressão suportada pelo indivíduo antes e após o período de tratamento. Os pontos avaliados (figura 2) foram os seguintes: ponto médio das fibras do trapézio superior, segunda articu-lação costocondral (lateral e superior a articulação), epicôndilo lateral (2 cm distal ao epicôndilo), occipi-tal (inserção dos músculos occipitais), inserção do músculo supraespinal.

Figura 1 - Algômetro de pressão

Figura 2 - Tender points

Tratamento

Após a primeira avaliação o tratamento foi realizado por oito semanas consecutivas, com aplica-ção de acupuntura em pontos sistêmicos. Os pontos utilizados foram selecionados de acordo com suas in-dicações (AUTEROCHE et.al., 1992; YAMAMURA, 2001; WEN, 2006) e foi montado o seguinte proto-colo de tratamento: Yin Tang- Ex-CP3, IG4 – He Gu, CS6 – Nei Guan, F3 – Tai Chong, BP6 – San Yin Jiao, VB34 – Yang Ling Quan, sendo que a aplicação foi realizada uma vez por semana totalizando oito ses-sões. Foram utilizadas agulhas 0,25x30 mm da marca Dong Bang estéreis e descartáveis. Todas as

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pacientes permaneceram em decúbito dorsal com as agulhas por 20 minutos.

Análise estatística

Os dados quantitativos obtidos foram com-parados, tabelados e apresentados em média e desvio padrão. Para análise estatística utilizou-se o software Origin v.8 (OriginLab Corporation).

RESULTADOS

O grupo de participantes foi composto so-mente por mulheres brancas com idades entre 34 e 71 anos, com média de 52,4, e desvio padrão de 11, 99 anos, com diferentes graus de instrução. Três delas com ensino superior completo, sendo duas professo-ras e uma psicóloga, uma das pacientes tem ensino fundamental incompleto e outra ensino médio com-pleto. A Tabela 1 demonstra os resultados referentes ao limiar de dor na aplicação do algômetro de pressão antes e após o tratamento, observando-se que houve melhora em todos os pontos avaliados, com um au-mento da tolerância a dor em até 50% e um aumento mínimo de 34%, sendo em média uma melhora de 41%.

Tabela 1 – Limiar de dor na aplicação do algômetro de pressão

Na figura 3 podemos observar que em relação ao EVA houve uma pequena melhora no quadro de dor. Houve uma diminuição de 1,4 pontos na média da escala de dor, sendo que a média antes do trata-mento foi de 7,4 pontos, e depois foi de 6 pontos. O desvio padrão antes do tratamento foi de 1,74 e após o tratamento foi de 0,89.

Figura 3 – Escala Visual Analógica

A figura 4 ilustra os resultados referentes a aplicação dos questionários funcionais, sendo que apenas no HAQ não houve diferença , porém nos out-ros questionários é possível observar uma melhora nos quadros de ansiedade, depressão e impacto da fi-bromialgia.

Figura 4 – Resultados dos questionários funcionais

DISCUSSÃO

Com o objetivo de mostrar a eficácia de um protocolo de acupuntura sistêmica nos sintomas da Síndrome da fibromialgia, este estudo mostrou resultados favoráveis a atuação deste procedimento. Martinez et. al.(2009) em seu trabalho sobre a correlação entre os pontos dolorosos e os outros sintomas associados a fibromialgia, observaram que apesar da padronização do diagnóstico da doença ser feito pela presença de pontos dolorosos estes estão associados diretamente a qualidade de vida, mas sem correlação com os outros sintomas como fadiga, qualidade do sono, ansiedade e outros. Porém como a aplicação da acupuntura sistêmica gera efeitos tanto no âmbito da dor como em alterações psíquicas e emocionais este estudo observou a relevância da acupuntura não apenas na dor. Ainda não há um consenso sobre a aplicação da acupuntura na fibromialgia como mostra Heymann

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et. al. (2010). Mayhew et. al. (2007) realizaram uma revisão bibliográfica encontrando cinco artigos relacionados, em que três deles os resultados foram positivos e utilizaram a eletro-acupuntura. Takiguchi et. al. (2008) realizaram um estudo com a aplicação de acupuntura em dois grupos de mulheres, um grupo recebeu aplicação em tender points e outro grupo recebeu aplicação em pontos de acupuntura selecionados individualmente através da pulsologia. Ambos os grupos obtiveram melhora em relação a dor, sono, e qualidade de vida, porém foi observado uma melhora acentuada no grupo que recebeu acupuntura nos tender points. Este estudo teve como resposta uma melhora no limiar da dor, depressão e ansiedade, sendo mais um fator positivo para a hipótese da liberação de serotonina, e outras substancias antiinflamatórias e analgésicas pela acupuntura. Este neurotransmissor esta relacionado diretamente com os sintomas avaliados. Além da liberação deste neurotransmissor a acupuntura tem uma atuação através de mecanismos neurais da comporta medular, envolvendo medula espinal, mesencéfalo e hipófise. Esta melhora dos sintomas resultaram em um menor impacto da fibromialgia na vida das pacientes que foi avaliado pelo FIQ (HAN , 2004). Foi possível observar também que apesar do resultado da aplicação do algômetro ter demonstrado uma considerável melhora no quadro de dor, a aplicação do EVA, sendo uma avaliação subjetiva, não foi compatível com esse resultado. Os resultados do EVA apesar de terem mostrado uma melhora da dor, não demonstrou a equivalência com a melhora da dor mostrada pelo algômetro, e é possível que isto tenha ocorrido devido a uma dificuldade das pacientes em quantificar a dor. Isto mostra a importância do uso do algômetro em estudos com avaliação da dor para que haja um resultado mais fiel ao quadro álgico dos pacientes. Apesar dos resultados favoráveis ainda são necessários mais estudos sobre o tema, com analise de uma amostra com maior numero de pacientes, e um grupo controle.

CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos no presente estudo pode-se observar que o protocolo estipulado na acupuntura sistêmica foi eficaz na melhora do quadro da Síndrome da fibromialgia em relação aos sintomas de dor, depressão e ansiedade.

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