8
Outubro de 2016 . ANO XVI Nº 152 Idosos representarão um terço da população brasileira em menos de 40 anos. Soluções para aposentadoria, mobilidade e saúde se impõem como temas inadiáveis. Págs. 4 e 5 A terceira etapa do caminho Políticos e especialistas divergem sobre medidas da União para limitar gastos públicos Pág. 3 Ajuste fiscal em pauta Lei estadual em vigor desde abril restringe locais para queima com foco na proteção ambiental Pág. 7 Fogos de artifício Mais de meio século depois, obra do mais conhecido pedagogo pernambucano segue atual Pág. 6 Revisitando Paulo Freire Esporte adaptado para pessoas com deficiência conquista medalhas e espaço Pág. 8 Paralímpicos RINALDO MARQUES

A terceira etapa do caminho - alepe.pe.gov.br mobilidade e saúde se impõem como temas inadiáveis. Págs. 4 e 5 A terceira etapa do caminho Políticos e especialistas divergem sobre

Embed Size (px)

Citation preview

Outubro de 2016 . ANO XVI – Nº 152

Idosos representarão um

terço da população brasileira

em menos de 40 anos.

Soluções para aposentadoria,

mobilidade e saúde

se impõem como temas

inadiáveis.Págs. 4 e 5

A terceiraetapa docaminho

Políticos e especialistas divergem sobre

medidas da União para limitar gastos públicos

Pág. 3

Ajuste fiscal em pauta

Lei estadual em vigor desde abril restringe locais

para queima com foco na proteção ambiental

Pág. 7

Fogos de artifício

Mais de meio século depois, obra do maisconhecido pedagogo pernambucano segue atual

Pág. 6

Revisitando Paulo Freire

Esporte adaptado para pessoas com deficiênciaconquista medalhas e espaço

Pág. 8

Paralímpicos

RINALDO MARQUES

EXPEDIENTE: MESA DIRETORA: Presidente, Deputado Guilherme Uchoa; 1º Vice-Presidente, Deputado Augusto César; 2º Vice-Presidente, Deputado Pastor Cleiton Collins; 1º Secretário, Deputado Diogo Moraes; 2º Secretário, Deputado Vinícius

Labanca; 3º Secretário, Deputado Romário Dias; 4º Secretário, Deputado Eriberto Medeiros. Superintendente de Comunicação Social: Margot Dourado. Chefe do Departamento de Imprensa: Helena Alencar. Editores: Helena Alencar e Luciano

Galvão Filho. Revisão: Cláudia Lucena, Fellipe Marques e Margot Dourado. Repórteres: André Zahar, Edson Alves Júnior, Gabriela Bezerra, Ivanna de Castro, Katarina Nápoles (estagiária), Luciano Galvão Filho e Malu Coutinho (estagiária).

Gerente de Fotografia: Roberto Soares. Edição de Fotografia: Breno Laprovitera. Fotógrafos: Henrique Genecy (estagiário), Jarbas Araújo, João Bita e Rinaldo Marques. Tratamento de Imagem: Giovanni Costa. Design: Brenda Barros.

Diagramação e Editoração Eletrônica: Alécio Nicolak Júnior. Endereço: Palácio Joaquim Nabuco, Rua da Aurora, nº 631 – Recife-PE. Fone: 3183-2368. PABX: 3183.2211. E-mail: [email protected]

O Jornal Tribuna Parlamentar é uma publicação de responsabilidade da Superintendência de Comunicação Social da Assembleia Legislativa - Departamento de Imprensa.

02 Outubro de 2016

“Achei a visita

bastante

interessante.

A estrutura da

Casa e as

estátuas

chamaram

muito minha

atenção, já

que, no futuro,

quero me

tornar

arquiteto.”

Gilson José Aluno do 2º ano da Escola deReferência em Ensino MédioProfessor Ernesto Silva, emOlinda, que participou deuma Aula de Cidadania nodia 14 de setembro

“Vim por

sugestão de

um professor,

para fazer

uma resenha

crítica.

Chamou

minha

atenção o fato

de que muita

gente que não

é deputado

acompanha.”

Nilma Ferreira Estudante universitária deDireito, que esteve na Alepeno dia 20 de setembro paraacompanhar a ReuniãoOrdinária da Comissão deJustiça

“A Assembleia

presta uma

homenagem mais

do que merecida.

Nossos médicos e

voluntários

recebem com

carinho e

dedicação

pessoas vindas de

todo o Estado

para tratar da

visão.”

Maria José dos Santos Ex-paciente e há sete anosvoluntária na FundaçãoAltino Ventura. Assistiu,em 21 de setembro, asolenidade em homenagemaos 30 anos da entidade

Primavera no Museu Palácio Joaquim Nabuco

Estudantes,pesquisadores e servidoresda Alepe participaram, nodia 28 de setembro, dasatividades da 10ªPrimavera dos Museus.Reconhecido em 2010como instituição musealpelo Instituto Brasileiro deMuseus (Ibram), o PalácioJoaquim Nabuco sedioupalestras com o temaMuseus, memórias eeconomia da cultura.

Durante o encontro, adiretora do Museu daCidade do Recife, BetâniaAraújo, ressaltou asdificuldades que esses espaços enfrentam para preservar seus acervos e patrimônios arquitetônicos.“Não acredito em economia da cultura sem um trabalho de educação. Ninguém guarda o que nãoconhece”, pontuou.

O coordenador do MBA em Economia Criativa da Faculdade de Ciências Humanas, Thiago Cunha,debateu arranjos implantados em Pernambuco, como o Porto Digital, Cais do Sertão e Paço do Frevo.“Inovação, diversidade cultural, inclusão social e sustentabilidade são os pilares da economiacriativa. E os museus são espaços de estudo, preservação e memória que nos conectam ao que nosfortalece cultural e socialmente”, resumiu.

As atividades incluíram uma visita guiada ao Palácio, com informações sobre a história do PoderLegislativo e o acervo museal e arquitetônico. Também houve apresentação do Coral Vozes dePernambuco, formado por servidores da Alepe. “O evento é extremamente importante para gerar osentimento de pertencimento da população ao Parlamento pernambucano”, acredita asuperintendente de Preservação do Patrimônio Histórico do Legislativo, Cynthia Barreto.

Aquarius será exibido entre os dias 9 e 11 de outubrono Festival de Cinema de Nova York, competiçãoque não incluía um representante brasileiro há 14anos. O filme entrará em cartaz nos EstadosUnidos, no dia 14 deste mês. No Brasil, segue emexibição em algumas salas. Confira o trailer:

Cinema made in PE

Em setembro, Pernambuco chegounovamente aos cinemas de todo o País,gerando filas e contabilizando umpúblico de 100 mil pessoas na semanade estreia. A onda de Aquariusarrebatou corações nostálgicos de umaBoa Viagem dos anos 1980 e arrastoupelo caminho admiradores de mulheresque transbordam fibra, autenticidade eobstinação, como a personagem Clara,de Sônia Braga. Menos que isso não sepoderia esperar de uma obra dirigidapor Kleber Mendonça Filho, que jácolecionava elogios internacionais peloSom ao Redor (2012). Eleito melhor filme nos festivais deAmsterdam, Sidney e Transatlantyk (Polônia), além de receber osprêmios do Júri e de Melhor Atriz para Sônia Braga, em Lima (Peru),e ser indicado para a Palma de Ouro em Cannes, Aquarius éobrigatório - seja por amor à sétima arte, seja para admirar umRecife de marcos arquitetônicos, antropológicos e melódicos queconvencem cada nativo de que o mundo começa mesmo aqui.

JOÃO BITA

Conter o endividamento e retomar ocrescimento econômico. São esses osobjetivos do ajuste nas contas que o

Governo Federal se esforça para levar à frenteno Congresso Nacional. Revigorar a economiado País é uma meta contra a qual ninguém seopõe. Já os meios para atingir esse fim sãomotivo de profundas divergências entreespecialistas, segmentos produtivos e tambémentre aqueles a quem cabe decidir sobre o tema:os políticos.

O pacote de medidas subscrito pela Uniãocontém desde mudanças na Previdência Social(saiba mais sobre o tema na pág. 5) até projetosde privatização. Neste momento, no entanto,o debate converge para a Proposta de Emendaà Constituição (PEC) nº 241/2016, que congelaa maior parte dos gastos públicos durante ospróximos 20 anos.

Segundo o texto, até 2037 todas as despesasprimárias – que envolvem salários de servi-dores, aposentadorias, recursos de programassociais, compra de materiais de consumo eexecução de obras públicas – deverão se limitarao total pago em 2016, corrigido anualmentepela inflação.

Para o economista da Universidade Federalde Pernambuco (UFPE) Marcelo Alves da Silva,o modelo forçará os gestores a aplicar osrecursos com mais eficiência. “Pela primeiravez se discutirão prioridades do orçamento, eisso é um passo importante para melhorar aqualidade do gasto”, projeta. “Estamosacostumados a exigir do Governo sem avaliaros custos. A imposição de limites coloca paraa sociedade as restrições que a gestão enfrenta.”

Já a assessora técnica do DepartamentoIntersindical de Estatística e Estudos Socio-econômicos (Dieese) Jackeline Natal acredita quea mudança pode resultar na redução da ofertade serviços à população. “Ao longo dos 20 anosem que o congelamento estiver em vigor, oenvelhecimento da população pode exigir maisgastos em saúde e em previdência, mas oorçamento vai estar engessado”, exemplifica.

Diferentes equipes econômicas, desde oinício do segundo mandato da ex-presidenteDilma Rousseff (PT), em 2015, têm defendidocortes nas obrigações da administração federal.O diagnóstico não mudou com os assessoresnomeados pela gestão Michel Temer (PMDB),mas, devido ao apoio construído no parlamentopelo novo presidente da República, as condiçõespara a aprovação do ajuste podem estar maisfavoráveis.

Membro da base do Governo no Con-gresso, o senador Fernando Bezerra Coelho(PSB-PE) acredita na proposta como medidapara “retomar a sustentabilidade” das contaspúblicas. “Precisamos encontrar caminhospara a superação de uma das mais gravescrises da história”, aponta, defendendo quese preservem as despesas com investimentosem infraestrutura, “para melhorar a pro-dutividade”.

A preocupação do senador em manter oinvestimento público – gastos com obras eaquisições de equipamentos – é a mesma ma-nifestada em estudos da Consultoria da Câmarados Deputados sobre a PEC. De acordo comtécnicos do Legislativo federal, esse tipo dedespesa será o primeiro atingido pela limitaçãoproposta, por não ter quantitativos mínimosde aplicação, como as áreas de saúde e educação.Esses últimos setores podem ver planos deexpansão ameaçados, apontam também osconsultores, apesar de não sofrerem comameaças de retração nos recursos disponíveis.

O ex-deputado federal Paulo Rubem San-tiago compartilha do receio. O político, quejá foi dirigente sindical na educação básicae superior, acredita que o controle da expan-são do gasto público por um período tão lon-go pode impedir a universalização do acessoao ensino. “O Estado deveria direcionar aaplicação de recursos visando à construçãodo bem comum. Esse ajuste não tem qualquercompromisso com o bem-estar da popula-ção”, critica.ESTADOS

As administrações estaduais também estãona mira dos cortes propostos. No Projeto de LeiComplementar (PLP) nº 257/2016, aprovadona Câmara e em tramitação no Senado, oGoverno Federal oferece mais prazo para queentes federados em dívida com a União honremcom suas obrigações. Em contrapartida, osEstados se comprometeriam, por dois anos, aconter o crescimento das despesas primáriascorrentes – as quais englobam o pagamentode pessoal, a compra de material de consumo,os serviços terceirizados e os custos com água,luz e telefone, por exemplo.

Apesar de ter uma dívida pequena coma União, Pernambuco deve aderir à rene-gociação. A Secretaria Estadual da Fazendaestima que isso geraria, neste ano, umaeconomia de R$ 190 milhões, montanteconsiderado “importante, mas não subs-tancial”. “Melhor solução seria a com-pensação das perdas no Fundo de Par-ticipação dos Estados, cujos repasses devemsofrer retração de R$ 500 milhões em relaçãoao previsto”, informou o órgão em nota.

Para o deputado estadual Joel da Harpa(PTN), os cortes resultantes da proposiçãopodem piorar as condições de trabalho emáreas como a segurança pública, o que afetariaa qualidade do serviço prestado. “No cenárioatual, que já é ruim, admitir um pacote demedidas que sacrifique profissionais seria o‘tiro de misericórdia’ em várias categorias”,alerta.

Nesse contexto, Assembleias Legislativas eTribunais de Contas dos Estados tambémpodem ver seus recursos escassearem. Asdespesas dos Legislativos estaduais estariam,a partir de 2017, limitadas ao que foi efeti-vamente gasto em 2016, conforme pretende aPEC 254/2016, aprovada no Senado e emtramitação na Câmara. O limite vigoraria portempo indeterminado, atualizado anualmentepela inflação.

Primeiro-secretário da AssembleiaLegislativa de Pernambuco e membro dadiretoria da União Nacional dos LegislativosEstaduais (Unale), o deputado Diogo Moraes(PSB) considera a medida “equivocada, pornão debater amplamente seus impactos ecomprometer as atividades das casas le-gislativas”.

Para o presidente da Associação dosMembros dos Tribunais de Contas do Brasil(Atricon), Valdecir Pascoal, o teto propostona PEC não está amparado por estudos queapontem para a necessidade de conge-lamentos nesse órgãos. “É uma afronta aocontrole externo da administração pública,justamente num momento em que asociedade exige uma fiscalização cada vezmais efetiva da aplicação dos recursos”,assevera.

03Outubro de 2016

AJUSTE FISCAL

Luciano Galvão Filho

Remédio amargoGoverno Federal tenta definir limite para gastos públicos

04 Outubro de 2016

TERCEIRA IDADE

Em pouco mais de três décadas,período considerado curto sobuma perspectiva demográfica,

um em cada três brasileiros terá maisde 60 anos de idade. A projeção é doInstituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE) e demonstra comoos idosos - hoje 12,5% da população- vêm assumindo, de forma aceleradae irreversível, um papel de prota-gonismo no País.

De acordo com Ana AméliaCamarano, pesquisadora do Institutode Pesquisa Econômica Aplicada(Ipea), as mudanças na estrutura dapirâmide etária brasileira (ver gráfico)são resultado da combinação deexplosão demográfica e melhoria dascondições de vida. “A alta taxa defecundidade dos anos 1950 e 1960 –a média era de 6,2 filhos por mulher–, aliada à redução da mortalidadeinfantil, deu origem a uma geraçãode crianças que se beneficiou, nasdécadas subsequentes, de maioracesso a serviços de saúde, tecnologiamédica avançada, água encanada,esgoto e saneamento. O resultadoserá um crescimento elevado dapopulação idosa nos próximos 30anos”, analisa.

Além do número cada vez maisrepresentativo de indivíduos quechegam à terceira idade, a pesqui-sadora chama a atenção para a he-terogeneidade do grupo, uma vezque a legislação brasileira consideraidoso qualquer indivíduo com idadeigual ou superior a 60 anos. “São

pessoas que experimentaram, aolongo da vida, trajetórias diferen-ciadas, fortemente marcadas pelasdesigualdades sociais, regionais eraciais em curso no País, e que vãoafetar sua velhice”, avalia Ana Amé-lia, alertando que “as políticas sociaispodem, dessa forma, reforçar essasdesigualdades ou atenuá-las, bemcomo mitos, estereótipos e precon-ceitos.”

Para a promotora de Justiça ecoordenadora da Caravana da PessoaIdosa do Ministério Público dePernambuco (MPPE), Yélena Araújo,as omissões do Poder Públicotambém devem ser observadas, umavez que representam agressões aosdireitos dessa parcela da população.“Quando o Estado deixa de ofereceros serviços essenciais garantidospor lei a esse público ou não regu-lamenta questões previstas noEstatuto do Idoso (Lei Federal nº10.741/2003), dificultando a aplica-ção da norma, o que observamossão atos de violência institucional”,interpreta.

Como exemplo, ela cita a de-terminação de que “o Poder Públicocriará oportunidades de acesso doidoso à educação, adequando currí-culos, metodologias e materialdidático aos programas educacionaisa ele destinados”, contida no artigo21 do Estatuto. Para Yélena, essa nãoé a prática. “A escola é vista, tradicio-nalmente, como espaço de criançase jovens. Infelizmente, o País nãoinveste na educação pública para osidosos, e esse é o principal instru-mento de fortalecimento da cons-ciência cidadã.”

Com relação às políticas públicasde saúde, outra área sensível para apopulação idosa, o médico e presi-dente da seção pernambucana daSociedade Brasileira de Geriatria eGerontologia, Sérgio Fernandes, pro-põe que os governos pensem natemática de forma mais abrangente,não limitando as ações ao tratamentode enfermidades. “Saúde não é ape-nas a ausência de doenças, e sim obem-estar do indivíduo. Há quatropilares que sustentam a saúde doidoso: exercícios físicos regulares,atividade intelectual, alimentaçãosaudável e convívio social”, enumera.

O especialista lembra que ostratamentos de saúde de pessoasidosas são mais caros e, portanto,investir em ações que garantam aqualidade de vida da terceira idade éa política pública mais acertada. “Osestudos médicos evidenciam que aatividade social ajuda na prevençãode transtornos de humor e nas ocor-rências de quadros demenciais, comoo Alzheimer”, aponta Fernandes.“Por isso, para um envelhecimentobem-sucedido, precisamos pensarem ações que facilitem a mobilidadedas pessoas às áreas de convivênciasocial.”PLANEJAMENTO URBANO

A aposentada Lourdes Pereira daSilva, de 70 anos, moradora do Recife,costuma ir três vezes por semana aoParque 13 de Maio, no bairro da BoaVista, para caminhar pela manhã.Solteira e sem filhos, ela mora comtrês primos, todos idosos, e tentalevar uma vida ativa. No entanto,Lourdes diz encontrar algumasdificuldades. “Venho ao parque a pé,porque moro próximo. Não vou alocais distantes da minha casa, poistenho medo de andar sozinha e sofrerum acidente. Também não costumoandar de ônibus, porque posso meenganar e descer na parada errada”,conta.

Professora de Arquitetura eUrbanismo da Universidade Federalde Pernambuco (UFPE), Terezinhada Silva explica que o temor deLourdes se justifica, uma vez que há

uma série de “armadilhas na áreaurbana” que dificultam o caminhardos idosos. A especialista cita comoexemplos calçadas com pavimentaçãoirregular, árvores com raízes ex-postas, bocas de lobo sem grades,fiações elétricas e telefônicas baixas,rampas de garagem íngremes,ocupações das vias públicas pelocomércio informal e falta de sina-lizações nas ruas e no transportepúblico.

“Observamos que há farta le-gislação garantindo acessibilidade,e que os projetos produzidos pelasprefeituras, especialmente as demunicípios maiores, estão se tor-nando cada vez mais adequados ur-banisticamente. No entanto, o quepredomina nas cidades são as inter-venções informais, que acabam nãosendo fiscalizadas”, alerta Terezi-nha. “O ponto de partida, quandopensamos na mobilidade dos idosos,são as calçadas e hoje, no Recife,cada pessoa constrói a sua da ma-neira que melhor lhe convier, geral-mente dando preferência ao carro.”

Para mudar essa realidade, a es-pecialista defende o engajamento doscidadãos de todas as gerações. “Pen-sar no bem-estar do idoso não de-ve ser uma política restrita aos es-pecialistas das universidades ou aos

técnicos do Poder Público. A so-ciedade como um todo precisa estarsensível ao tema para exigir a ga-rantia dessa e de outras prerrogativasda terceira idade”, sugere.

A posição é compartilhada pelopresidente do Conselho Estadual dosDireitos da Pessoa Idosa (Cedi), AmaroBezerra. Ele recomenda o fim dosilêncio e o trabalho integrado dasinstituições para efetivar as prerrogati-

Em processo de envelhecimento populacionalacelerado, o Brasil carece de políticas públicas direcionadas aos idosos

Como será o amanhã

Ivanna de Castro

Mobilidade é obstáculo para Lourdes

A Alepe aprovou, em junho deste ano, a Lei n° 15.830/2016, quereserva 10% das moradias construídas por programas habitacionaisdo Estado às pessoas acima de 60 anos. A norma também estabelecea implantação de equipamentos comunitários acessíveis, bem comoa eliminação de barreiras arquitetônicas nesses empreendimentos.“O objetivo é assegurar a qualidade de vida e as condições de convíviosocial dessa população, conforme determina o Estatuto do Idoso”,explicou o autor da proposta, deputado Bispo Ossesio Silva (PRB).

Lei reserva moradias a idosos

ROBERTO SOARES

Garantir qualidade de vida é caminho apontado por estudiosos. Na foto, alun

05Outubro de 2016

Além de melhorar políticaspúblicas voltadas para a terceira idade,outro desafio se apresenta de modoemergencial para o Brasil: tornarsustentável uma Previdência Socialque atenda a pelo menos um terço dapopulação nas próximas décadas. “Operfil demográfico atual é de doiscontribuintes por beneficiário. Em2060, poderemos ter mais apo-sentados do que pessoas em idadeprodutiva, o que levaria o gasto comprevidência a 17% de toda a riquezagerada no País”, calcula o coorde-nador de Previdência do Ipea, RogérioNagamine. “Se juntarmos a pre-vidência dos servidores públicos, ogasto com aposentados chegará a20% do Produto Interno Bruto (PIB),daqui a 45 anos. É preciso reformaro sistema para evitar o crescimentoexplosivo”, argumenta.

Dados da Pesquisa Nacional porAmostra de Domicílio (Pnad) de 2014,realizada pelo IBGE, indicam que,entre os 10% mais pobres da po-pulação, apenas 12% contribuem paraa Previdência. O percentual chega a83% entre os 10% mais ricos. “Ostrabalhadores mais pobres, que, emgeral, passam muito tempo nomercado informal, não conseguemchegar aos 35 anos de contribuição.Aposentam-se por idade aos 65 anos,enquanto os mais ricos o fazem aos

54 anos, ainda com plena capacidadede trabalhar”, aponta Nagamine.

Economista do DepartamentoIntersindical de Estatística e EstudosSocioeconômicos (Dieese), FredericoMelo contesta o raciocínio. Ele apontaque continuar trabalhando após aaposentadoria é a realidade de muitosdos que adquirem o benefício portempo de contribuição. “O valor daaposentadoria é baixo, de R$ 1,5 milem média”.

É o caso do taxista Erinaldo Leite,aposentado pelo Instituto Nacionaldo Seguro Social (INSS), que segue ematividade aos 69 anos. “Só no táxi eutrabalhei durante 20 anos, mas nãoconsegui fazer a contribuição comoautônomo durante esse tempo. Oresultado é que me aposentei háapenas dois anos”, relata. Ele diz que

a renda da aposentadoria, em tornode R$ 1,4 mil, não é suficiente. “Pagaras contas é difícil, mesmo com o táxi.Só com o dinheiro do INSS, seriaimpossível.”

O sistema de previdência é umcontrato social entre gerações: aquelesque trabalham hoje sustentam os queestão aposentados. Em 2010, haviacerca de seis pessoas entre 15 e 59anos para cada cada idoso no Brasil.Em 2050, essa proporção cairá emum terço e as pessoas com mais de60 anos constituirão um grupo dequase 70 milhões, segundo projeçõesdo Ipea (ver gráfico).

A solução da Reforma Previden-ciária, entretanto, não é ponto pa-cífico. Entidades sindicais, repre-sentadas pelo Dieese, questionam ospressupostos econômicos apresen-

tados pelos defensores das mudançasna idade mínima da aposentadoria eno tempo de contribuição. “O enve-lhecimento da população não é ummotivo inexorável para dificultar asaposentadorias. É preciso consideraras características e a dinâmica domercado de trabalho”, defende Fre-derico Melo.

Para o especialista, formalizarrelações de emprego, incluir mulherese diminuir o desemprego são ca-minhos para aumentar o número decontribuintes. Melo também asseguraque o tema deve ser pensado dentrodas perspectivas da Seguridade Social,que inclui, ainda, saúde e assistênciasocial. “A Constituição de 1988estabeleceu outras fontes de recursospara a seguridade, a exemplo dascontribuições sobre faturamento elucros das empresas, importações eloterias”, pontua.

Na opinião de Nagamine, osefeitos de uma maior formalizaçãosão positivos, mas não resolvem oproblema futuro. “Se incluirmos maiscontribuintes, teremos também maisbeneficiários”, pondera. Em defesada reforma, o diretor de Previdênciado Ipea argumenta que resolver ocusto da previdência pela receita podecausar efeitos danosos para o cres-cimento econômico. “Usar recursosde toda a sociedade, que poderiam irpara saúde e assistência social, parapagar aposentadorias seria um re-trocesso, já que faria os mais pobrespagarem mais.”

Futuro da Previdência preocupa especialistasEdson Alves Jr.

vas legais garantidas a essa parcelada população. “As ações estaduaisestão mais voltadas a nós desde aaprovação da Política Estadual doIdoso, em 2001. No entanto, ainda éum desafio diário enfrentar as ruase o transporte público”, conclui.

ROBERTO SOARES

Benefício do INSS é insuficiente para pagar as contas, diz Erinaldo

JARBAS ARAÚJO

nos de dança do Sesc Santo Amaro

Neste ano, a Organização dasNações Unidas para a Edu-cação, a Ciência e a Cultura

(Unesco) celebra o 50º aniversáriodo Dia Internacional da Alfabe-tização. Um dos nossos conterrâ-neos mais estudados mundo afora,com livros traduzidos em mais de40 idiomas, o educador PauloReglus Neves Freire é referênciano assunto, apesar de pouco co-nhecido no próprio Estado dePernambuco. Patrono da EducaçãoBrasileira (Lei Federal nº 12.612/2012), também carece de popu-laridade fora do circuito especia-lizado do País.

De acordo com o Censo 2010,quase 91% da população brasileiracom 10 anos ou mais de idade éalfabetizada, restando 18 milhõesque não sabem ler e escrever. Osúltimos dados da Organização dasNações Unidas (ONU), divulgadosem setembro, revelam que 15% dapopulação mundial é analfabeta.

“O analfabetismo adulto com-promete a educação em geral e odesenvolvimento nacional emparticular. Como Paulo Freire dizia,o problema não será eliminado sema participação da sociedade”, ana-lisa Ângela Antunes. Ela é diretorado Instituto Paulo Freire (IPF), or-ganização sediada em São Pauloque tem a missão de dar continui-dade e reinventar o legado frei-reano.

Responsável por método ino-vador de alfabetização, Freireteria completado 95 anos emsetembro e permanece emble-mático entre muitos professores.Na Alepe, o nome dele homena-geia pessoas que se destacam naárea da educação, figurando comoum dos méritos da Medalha Leãodo Norte, concedida anualmente.

As ideias do educador começa-ram a ser difundidas em 1959, coma publicação do seu primeiro livro,Educação e Atualidade Brasileira.“Numa época do ensino burocrá-tico, formal, impositivo, reprodu-tivista, Paulo Freire se contrapôs,propondo uma pedagogia liberta-dora, que leva em conta as neces-sidades e problemas da comuni-

dade, as diferenças étnico-cultu-rais, sociais e de gênero e os dife-rentes contextos”, declara Ângela.

Ao enxergar a educação comoum ato político, o pedagogo desen-volveu um método que visa àemancipação humana, contribuin-do para a transformação de alunose professores. “Para ele, o ato edu-cativo pode superar a prática dedominação”, explica a professorae pesquisadora Marília GabrielaMenezes, da Cátedra Paulo Freireda Universidade Federal de Per-nambuco (UFPE).

Escrito durante exílio no Chile,o livro Pedagogia do Oprimido (1968)sintetiza a ideia de educaçãocomprometida com o empodera-mento do sujeito. Proibida duranteo período de ditadura militar, aobra só foi publicada no Brasil em1974 e é hoje uma das mais citadasem trabalhos acadêmicos de todoo mundo.

Foco dos estudos de PauloFreire, a preocupação com a educa-ção de adultos resultou em umaexperiência considerada revolucio-nária em 1963. No município deAngicos, a 170 quilômetros de

Natal, no Rio Grande do Norte, 300pessoas foram alfabetizadas em 40horas a partir do método freireano.

“Ele teve a coragem de pôr emprática um trabalho que identifica-va a alfabetização como um pro-cesso de conscientização. Aoaprender a leitura e a escrita, oeducando refletia sobre a sua pró-pria condição de vida e era estimu-lado e pensar possibilidades de al-terar a realidade opressora em queestava inserido”, destaca Ângela.

Acerca do impacto de PauloFreire no sistema educacionalbrasileiro naquela época, a dire-tora do IPF avalia que o pensa-mento dele “desmistificou ossonhos do pedagogismo dos anos1960, que, pelo menos na AméricaLatina, sustentava a tese de quea escola tudo podia. De outro lado,conseguiu superar o pessimismodos anos 1970, nos quais a escolaera meramente reprodutora dostatus quo”.

“Paulo Freire reconheceu que aeducação tem limites, que não échave para a transformação social.Mas, sem ela, não é possível queessa transformação ocorra, porque

se faz necessária uma compreensãocrítica da realidade”, complementaa professora Marília Gabriela.

Por outro lado, o empenho deleem contribuir para uma educaçãolibertadora é enxergado por algunscomo manipulação ideológica, aexemplo das críticas recentes feitaspelo movimento Escola Sem Par-tido. Em Pedagogia da Autonomia(1996), última obra publicada emvida, o educador, de algumamaneira, já se antecipava à questão:

“Posso não aceitar a con-cepção pedagógica deste oudaquele autor, e devo, inclusive,expor aos alunos as razões porque me oponho a ela, mas o quenão posso, na minha crítica, émentir. É dizer inverdades emtorno deles. O preparo científicodo professor ou da professoradeve coincidir com sua retidãoética. É uma lástima qualquerdescompasso entre aquela eesta. Formação científica, cor-reção ética, respeito aos outros,coerência, capacidade de vivere de aprender com o diferente,não permitir que o nosso mal-estar pessoal ou a nossa antipa-

tia com relação ao outro nos fa-çam acusá-lo do que não fez sãoobrigações a cujo cumprimentodevemos humilde, mas perse-verantemente, nos dedicar.”“O que Paulo Freire propõe é

uma posição crítica, em que umavisão deve ser contraposta comoutras visões. Não a educação ban-cária, que tanto criticou”, defendea professora da pós-graduação emSociologia da UFPE Silke Weber,que tem desenvolvido trabalhos naárea educacional.

Na avaliação da docente, o Es-cola Sem Partido já contém, em si,uma “visão ideológica da educa-ção”. “A história da humanidade,por exemplo, é muito complexa etem que ser examinada por váriosângulos e no momento devido paraque as pessoas possam organizaro seu pensamento de forma a se si-tuarem criticamente no mundo”,argumenta.LEGADO

A contribuição da obra de PauloFreire para a educação reverberainternacionalmente: 28 universida-des de 11 países concederam títulode Doutor Honoris Causa ao pro-fessor pernambucano. Além desses,outros 19 países dispõem de ins-titutos ou cátedras que carregam onome dele.

Em 2 de maio de 1997, PauloFreire morreu, aos 75 anos. A obradele, porém, não foi esquecida. So-bre a atualidade do pensamentofreireano, Ângela destaca que “nasociedade do conhecimento de hoje,isso é muito mais verdadeiro, jáque o ‘espaço escolar’ é muitomaior do que a escola”. “Hoje sepensa, pesquisa e trabalha em rede.Paulo Freire insistia na conectivi-dade, na gestão coletiva do conhe-cimento a ser socializado de formaascendente”, argumenta.

A diretora do instituto que pro-paga as ideias do pedagogo pormeio de representantes distribuí-dos em 90 países também frisa acontribuição do pensador para ou-tras áreas. “O reconhecimento dePaulo Freire fora do campo da pe-dagogia demonstra que o seu pen-samento é, também, transversal etransdisciplinar. Desde seus pri-meiros escritos, ele considerou aescola muito mais do que as quatroparedes da sala de aula.”

06 Outubro de 2016

O que dizem especialistas sobre um dos mais notáveis pensadores pernambucanos

Gabriela Bezerra

Basta de Paulo Freire?EDUCAÇÃO

Paulo Freire dá nome a institutos e cátedras em 19 países. Obra do pedagogo inspira pesquisas em diferentes áreas

BRENO LAPROVITERA/ARQUIVO PESSOAL

07Outubro de 2016

Na virada do ano e em outrasdatas festivas, é comum veros céus tomados por luzes

e cores. Contudo, a queima de fogosde artifício e outros explosivosperto de arrecifes, rios, riachos,córregos, barragens e açudes, se-jam eles naturais ou artificiais, re-presenta um perigo para o meioambiente e pode causar danos aosecossistemas aquáticos.

Diante disso, desde abril desteano, shows pirotécnicos nesseslocais passaram a sofrer restriçõesem Pernambuco. A regulamentaçãoestá prevista na Lei nº 15.736/2016,proposta pelo deputado EveraldoCabral (PP), a qual determina queas explosões sejam realizadasapenas em balsas ou plataformas.A medida ainda é extensiva a man-guezais e zoológicos: a queima defogos deverá respeitar uma distân-cia de, no mínimo, dois quilô-metros desses locais.

Na justificativa do projeto, oparlamentar revela preocupaçãocom o meio ambiente. “A utilizaçãodessas áreas é um crime ambientalde desgastes irrecuperáveis. Apósa ocorrência, o local demora deze-

nas de anos para se recompor, semesquecer os milhares de peixes eorganismos marinhos que sãomortos”, destaca Cabral.

Proprietário de uma loja es-pecializada em fogos de artifício,Anderson Lacerda se mostrouinsatisfeito com a norma. “Essa leijá existe em nível nacional e, tantono Recife como em vários Estados,as queimas de fogos são realizadasem locais regulamentados”, lembrao empresário. No Brasil, a fiscaliza-ção da fabricação e venda de fogosde artifício é de responsabilidade doExército, com base no Regulamentopara Fiscalização de Produtos Con-trolados (R-105).

A nova legislação estadualtambém determina que todo o lixoou resíduo gerado pela combustãode rojões e assemelhados deveráser recolhido no prazo máximo de12 horas pelo promotor do eventoou por uma empresa contratada. Otexto ainda estabelece que o acio-namento dos artefatos não podeoferecer riscos aos profissionaisresponsáveis pelo manuseio.

Bióloga da Universidade FederalRural de Pernambuco (UFRPE),Clélia Rocha avalia a proposta po-sitivamente. “Essa lei trouxe me-didas importantes para minimi-zar os danos ambientais. A queima

e o manejo dos resíduos deixadospela utilização de fogos de artifíciospodem causar problemas princi-palmente para ecossistemas aquá-ticos”, avalia.

A nova regra prevê puniçõespara aqueles que a descumprirem.Os infratores estão sujeitos asanções como advertência, sus-pensão temporária de atividade,

cassação da licença e multa, entreR$ 10 mil e R$ 100 mil. A puniçãovaria conforme o tamanho da em-presa promotora e eventuais rein-cidências.

Malu Coutinho

Legislação protege arrecifes de fogos de artifícioDeterminação proposta pelo deputado Everaldo Cabral também se aplica a locais próximos a zoológicos e manguezais

A despeito da beleza, shows pirotécnicos podem ser ameaça a ecossistemas mais sensíveis

RINALDO MARQUES/ARQUIVO ALEPE

As primeiras escolas técnicas surgiram no Brasil no início do século 20. Entretanto, já em 17 de agostode 1848, a Assembleia Legislativa Provincial de Pernambuco determinava, por meio da Lei nº 222, a criaçãode uma escola desse tipo no Liceu da cidade do Recife para a instrução de pessoas que se dedicavam àsprofissões e artes industriais.

Com matrículas gratuitas, os cursos tinham duração de três anos. Faziam parte do currículo disciplinascomo Aritmética, Álgebra Elementar, Arquitetura Civil, Construção de Máquinas, Tecnologia e Desenho.O aluno aprovado com aproveitamento nos exames de Arte Industrial e Língua Francesa receberia o títulode mestre e perito, podendo ser admitido como oficial em repartições públicas.

Também chama a atenção que, já nessa época, Pernambuco promovia intercâmbios estudantis: a cadaano, entre os alunos que mostrassem maior aptidão e aproveitamento, seria selecionado um para estudarna Europa durante três anos. Era o chamado “aluno em comissão”, o qual recebia até 300 francos pormês e tinha as despesas de ida e volta pagas pelo Estado.

Escolas técnicas e intercâmbio estudantil em Pernambuco desde o século 19

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Superintendência de Preservação do Patrimônio Histórico do Legislativo. Lei nº 222, de 17 de agosto

1848. Acervo do Arquivo Geral da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco.

O documento supracitado pode ser consultado no Arquivo Geral da Alepe, custodiado pela

Superintendência de Preservação do Patrimônio Histórico do Legislativo.

“Eu faço esportes, como han-debol e futebol, desde os 12 anos.Mas foi no atletismo que apren-

di a superar as minhas dificuldades.Ganhei bastante estímulo para bus-car o que queria e acabei ficando maisapaixonada pelo que faço hoje.” Odepoimento é de Ana Claudia da Sil-va, uma das representantes de Per-nambuco nos Jogos Paralímpicos 2016.

A jovem de 28 anos conheceu oparatletismo em 2014 e já é a melhorcolocada do Brasil, além de ser a ter-ceira no ranking mundial, nas moda-lidades de salto em distância e dos 100metros rasos. No Mundial Paralím-pico de Atletismo de 2015, que acon-teceu em Doha, no Catar, levou amedalha de bronze nos 100 metrosrasos. No Rio de Janeiro, obteve a 5ªposição no salto e ficou em 4º nos 100metros rasos.

Para chegar aos pódios internacio-nais, Ana Claudia contou com umaequipe dedicada à formação esportivade pessoas com deficiência. Há doisanos, ela integra o Projeto ParatletaUFPE, sob responsabilidade do Núcleode Educação Física e Desporto daUniversidade Federal de Pernambuco.Iniciado em 2002, o programa nãoexige dos interessados vínculo coma instituição de ensino. São oferecidastrês modalidades: atletismo, nataçãoe bocha paralímpica.

Para o coordenador do ParatletaUFPE, Luiz Araújo, a prática esportiva

resgata a socialização das pessoascom deficiência. “Muitos ficam presosem casa, achando que não são capazesde fazer nada e, com o esporte, de-senvolvem-se e veem que são capazesde qualquer coisa”, aponta.

O esporte adaptado para pessoascom deficiência surgiu no começo doséculo XX e ganhou força depois daSegunda Guerra Mundial, devido àquantidade de pessoas que regressa-ram dos conflitos mutiladas e vítimasde traumas. Inicialmente, a intençãoera criar uma alternativa de trata-mento para lesões na medula.

Em 1944, o neurocirurgião alemãoLudwig Guttmann inaugurou um cen-tro de traumas medulares dentro doHospital de Stoke Mandeville e se tor-nou um dos pioneiros no uso do es-

porte para reabilitação das pessoascom deficiência. Por isso, Guttmanné considerado o “Pai das Paralimpía-das”, evento cuja primeira edição ocor-reu no ano de 1960, em Roma, na Itália.

Sandro Varelo, 34 anos, tambémé aluno do Paratleta UFPE. Antes,trabalhava montando estruturasmetálicas, até ser baleado na colunaem um assalto e ficar paraplégico.Teve dificuldades de aceitar a novacondição, até que conheceu o parades-porto. “Adaptei-me ao paratletismoe, graças a Deus, hoje vivo dele”.Sandro já participou de competiçõesinternacionais e agora almeja umavaga no Campeonato Mundial de 2017,em Londres, nas modalidades delançamento de disco, de dardo earremesso de peso.

O atleta comenta a falta investi-mento no esporte adaptado. “A rea-bilitação ainda é muito precária emPernambuco. Para o Estado, bastaestar na cadeira de rodas e con-seguir se transportar para a cama.Não sabem que a maior dificuldadeda gente é andar, se locomover,ganhar controle do tronco. Tudoisso eu consegui com o paratle-tismo”, revela Varelo.EDUCAÇÃO FÍSICA

O Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística (IBGE) contabilizou, em2015, 12,8 milhões de brasileiros comdeficiência. Entre a população per-nambucana, em 2010, seriam 17% -percentual que corresponde, atual-mente, a aproximadamente 1,6milhão de pessoas.

Uma das primeiras barreiras queo segmento precisa enfrentar parater acesso ao esporte começa naescola, com a integração do alunonas atividades esportivas. Com foconessa questão, tramita na Alepe oProjeto de Lei nº 132/2015, o qualprevê a obrigatoriedade de asinstituições de ensino em Pernam-buco oferecerem aulas de EducaçãoFísica adaptadas.

O autor da proposta, deputadoJoel da Harpa (PTN), defende umamaior inclusão dos jovens comdeficiência. “No momento da edu-cação física, essas crianças ficam,muitas vezes, sem ter a oportunidadede fazer uma atividade. O País jádiscute, há um bom tempo, a aces-sibilidade para pessoas com de-ficiência. Então é importante que oEstado saia na frente nessa ques-tão”, avalia. O parlamentar acres-centa que é importante preparar osprofessores de Educação Física eorientar as escolas públicas e privadaspara tratar do assunto.

Presidente do Conselho Técnico euma das fundadoras da AssociaçãoDesportiva para Deficientes (ADD),Eliane Miada afirma que, para o seg-mento, a prática de esportes traz be-nefícios adicionais aos convencional-mente esperados. “As atividadespodem proporcionar melhorias nosaspectos físicos e na coordenaçãomotora. A pessoa com deficiênciaquer sempre mais, então passa asuperar seus próprios limites e a fazerparte da sociedade de forma aindamais ativa”, explica.

O Brasil conquistou a oitava po-sição nos Jogos Paralímpicos Rio 2016– os maiores já realizados até hoje –,com 72 medalhas e a participação de278 atletas.

Pernambuco esteve no pódio cincovezes, entre elas, com o ouro do pivô dofutebol de 5, Raimundo Nonato. As outrasquatro medalhas pertencem ao nadadorPhelipe Rodrigues: prata nos 50m livre,bronze nos 100m livre, outra prata norevezamento 4x100m livre e mais umbronze no revezamento 4x100m medley.O destaque das piscinas conversou com oTribuna PParlamentar sobre a carreira eas conquistas no Rio.

Tribuna Parlamentar - Como a natação passoua fazer parte da sua vida?Phelipe Rodrigues - No momento em que eu co-mecei a fazer fisioterapia, a natação surgiu comométodo alternativo porque trabalha toda a coor-denação motora. Quando era criança, em Olinda,participei de competições que não eram para pes-soas com deficiência. Aos 13 anos, mudei-me paraJoão Pessoa, e a escola em que eu estudava me da-va total apoio na prática esportiva. Em 2008, recebiuma indicação para participar da Paralimpíada dePequim. Tinha 17 anos. Voltei com duas medalhasde prata.

TP - Quais as principais lições que aprendeu como esporte?PR - Que é importante aproveitar cada opor-tunidade. Também dedicação a um objetivo,

rotina e vontade de estar se superando todosos dias.

TP - Ainda enxerga barreiras para o esporteadaptado? Quais?PR - A barreira principal é dentro de casa, coma família superprotegendo a criança. E a escola éa base da educação do futuro adulto. Acredito quese houvesse incentivo da família e da escola juntas,teríamos uma sociedade com mais consciência.

TP - Após sete medalhas paralímpicas (Phelipetambém ganhou uma prata em Londres 2012),quais são suas próximas metas?PR - Pretendo seguir carreira até quando aguen-tar, é algo que eu amo. A natação está no meusangue. Quatro anos passam rápido. Quero seguiro fluxo e continuar fazendo o que gosto.

08 Outubro de 2016

Jogos Paralímpicos dão visibilidade a práticas esportivas para pessoas com deficiência

Katarina Nápoles

Vitrine para o esporte adaptadoPARALIMPÍADA

Sandro mira vaga no mundial de 2017. Atleta sente falta de investimentos no paradesporto

RINALDO MARQUES

Phelipe levou duas pratas e dois bronzes

FOTO: WASHINGTONALVES-MPIX-CPB