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A Territorialidade das Cidades Informais Estudo relacional na Serrinha

A territorialidade das Cidades Informais: estudo relacional na Serrinha

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As favelas são elementos marcantes na paisagem das cidades latino-americanas e, em especial, do Brasil. Surgiram como resposta a uma segregação sócio-espacial oriunda de um rápido crescimento urbano pouco planejado. Possuem forma de ocupação particular, diversa e complexa, e hoje são consideradas áreas em processo de qualificação. Muito estereotipadas, acabam orientando políticas públicas equivoca-das, que desconsideram a identidade desses espaços e que se baseiam em modelos idealizados de cidade, estabelecendo uma fronteira urbana entre duas atuais realidades: a cidade formal e a informal. Esta pesquisa foi desenvolvida por bolsis-tas do grupo PET Arquitetura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Por meio de um estudo de caso no bairro Serrinha, localizado na mesma cidade, se objetivou o entendimento dessa ocupação em sua pluralidade contextual e sua respectiva conexão com a cidade formal. Em meio à complexidade do tema abordado, aplicou-se uma abordagem multimétodos para

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A Territorialidade das Cidades Informais Estudo relacional na Serrinha

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Roselane NeckelREITORA

Débora Peres MenezesPRÓ-REITORA DE PESQUISA E EXTENSÃO

Edison da RosaDIRETOR DO CENTRO TECNOLÓGICO

Fernando WestphalCHEFE DE DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

Milton Luz da ConceiçãoCOORDENAÇÃO DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

Grupo PET - Arquitetura e Urbanismo

Adriana Marques Rossetto, Dr. Eng.ORIENTADORA

Adriana de Lima SampaioLarissa Miranda HeinischLucas Gustavo Anghinoni

Mariana Morais Luiz BOLSISTAS

Arquitetura e UrbanismoUFSC

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINADepartamento de Arquitetura e Urbanismo

Grupo PET/ARQ/SESu

A Territorialidade das Cidades Informais Estudo relacional na Serrinha

COORDENAÇÃO E ORIENTAÇÃOAdriana Marques Rossetto, Dr. Eng.

TEXTOS, MAPAS E IMAGENSAdriana de Lima SampaioLarissa Miranda HeinischLucas Gustavo Anghinoni

Mariana Morais Luiz

EDIÇÃO, REVISÃO, DIAGRAMAÇÃO E ARTE FINALLarissa Miranda Heinisch

Mariana Morais Luiz

ILUSTRAÇÕESLucas Gustavo Anghinoni

Editora: UFSC/ReitoriaFlorianópolis, outubro de 2013

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SUMÁRIO

Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária

da

Universidade Federal de Santa Catarina

T327 A territorialidade das cidades informais : estudo relacional na Serrinha /

Adriana de Lima Sampaio ... [et al.] – Florianópolis : UFSC/Reitoria, 2013. 81 p. : il., mapas Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-7426-137-9

1. Comunidade urbana. 2. Favelas. 3. Territorialidade humana. 4.

Florianópolis. 5. Serrinha. I. Sampaio, Adriana de Lima.

CDU: 711.4

SAMPAIO, Adriana de Lima; HEINISCH, Larissa Miranda; ANGHINONI, Lucas Gustavo; LUIZ, Mariana Morais; ROSSETO, Adriana Marques. A Territorialidade das cidades informais: Estudo relacional na Serrinha. Florianópo-lis: PET/ARQ/UFSC, 2013. 81p.

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO ....................................................................................................................................... 9

1.1. Justificativa ................................................................................................................................................................ 11

1.2. ObJetivOs ...................................................................................................................................................................... 12

1.3. MetOdOlOgia e estRutuRa dO tRabalHO ..................................................................................... 12

2. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................................................15

2.1. bReve PanORaMa das cidades latinO aMeRicanas ...............................................................17

2.2. cidades bRasileiRas e a segRegaçãO uRbana ............................................................................19

2.3. a PeculiaRidade das cidades infORMais .......................................................................................... 21

3. FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................................................ 25

3.1. visita exPlORatóRia ............................................................................................................................................ 27

3.2. entRevistas ................................................................................................................................................................... 27

3.3. análise e elabORaçãO de MaPas ........................................................................................................... 28

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4. A SERRINHA .............................................................................................................................................. 31

4.1. dinâMica de aPROPRiaçãO esPacial ................................................................................................. 36

4.2. cenáRiO físicO MORfOlógicO ........................................................................................................... 39

4.3. aRticulaçãO sóciO uRbana ................................................................................................................... 44

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................... 49

6. REFERêNCIAS ........................................................................................................................................... 53

7. APêNDICES ............................................................................................................................................... 57

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1. APRESENTAÇÃO

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1. aPResentaçãO 11

1. APRESENTAÇÃO

As favelas são elementos marcantes na paisagem das cidades latino-americanas e, em especial, do Brasil. Surgiram como resposta a uma segregação sócio-espacial oriunda de um rápido crescimento urbano pouco planejado. Possuem forma de ocupação particular, diversa e complexa, e hoje são consideradas áreas em processo de qualificação. Muito estereotipadas, acabam orientando políticas públicas equivoca-das, que desconsideram a identidade desses es-paços e que se baseiam em modelos idealizados de cidade, estabelecendo uma fronteira urbana entre duas atuais realidades: a cidade formal e a informal.

Esta pesquisa foi desenvolvida por bolsis-tas do grupo PET Arquitetura da Universidade Fe-deral de Santa Catarina (UFSC). Por meio de um estudo de caso no bairro Serrinha, localizado na mesma cidade, se objetivou o entendimento des-sa ocupação em sua pluralidade contextual e sua respectiva conexão com a cidade formal.

Em meio à complexidade do tema abor-dado, aplicou-se uma abordagem multimétodos para que, além de se compreender a esfera es-paço-territorial deste local, pudesse-se obter o entendimento da relação que os moradores têm com os lugares e com a cidade como um todo.

A partir desse estudo foi possível com-preender parte do cenário que envolve a questão das favelas, bem como entender a sua esponta-neidade, sua dinâmica peculiar e suas relações

ou limites físicos e imaginários com a cidade “for-mal”.

1.1. Justificativa

A relevância de estudos nessa área sus-tenta-se no fato de que a atual configuração urba-na brasileira está distante de oferecer condições e oportunidades equitativas a seus habitantes. Os modelos de desenvolvimento implementados em nossas cidades estabelecem padrões de concen-tração de renda e poder que geram a segregação urbana, um dos maiores problemas enfrentados pelo Brasil, de acordo com Villaça (2012). Isso, por sua vez, exacerba a fronteira entre as cida-des ditas “formais” e as cidades “informais” - as favelas.

Para o geógrafo Marcelo Lopes de Sou-za (2007), a vida em espaços urbanos é um fato para a maioria dos seres humanos. De acordo com os censos do IBGE, a população brasileira que se concentra em áreas consideradas urba-nas passou de 81,2% em 2000, para 84,4% em 2010 (IBGE, 2000, 2010). Aliado a este cresci-mento e ao fenômeno de segregação sócio-espa-cial, têm-se a expansão das áreas periféricas, a invasão de áreas protegidas ambientalmente e o crescente número de cidadãos vivendo nas cida-des informais, apresentando, com isso, um com-plexo panorama sócio-espacial.

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A TERRITORIALIDADE DAS CIDADES INFORMAIS: UM ESTUDO RELACIONAL NA SERRINHA12

1.2. ObJetivOs

1.2.1. Objetivo geral

O presente estudo tem como objetivo geral compreender como se baseiam as conexões en-tre a cidade formal e informal, a partir da plura-lidade contextual da vida na Serrinha, localizada no Maciço do Morro da Cruz, na cidade de Floria-nópolis, bem como entender a pluralidade contex-tual de vida de seu respectivo espaço informal.

1.2.2. Objetivos específicos

Para alcançar a compreensão a que se pro-põe, os seguintes objetivos específicos foram es-tabelecidos:

01. Entender os contextos que envolvem as cidades informais;

02. Compreender o histórico bem como a situação atual do cenário físico da Serrinha;

03. Entender as peculiaridades do espaço informal da Serrinha;

04. Compreender as conexões entre a cida-de formal e informal na Serrinha.

1.3. MetOdOlOgia e estRutuRa dO tRabalHO

O Estudo estruturou-se a partir de uma abordagem qualitativa. A partir de um caráter ex-ploratório e explicativo e adotou o estudo de caso como estratégia de pesquisa. Este estudo pode ser dividido em três etapas:

Primeira Etapa: A primeira etapa diz respei-to à Fundamentação Teórica, que a partir de uma revisão bibliográfica visou compreender os princi-pais assuntos abrangidos pelo tema apresentado: segregação sócio-espacial e a pluralidade das ci-dades informais.

Segunda Etapa: Objetivou a compreensão do cenário físico da Serrinha. Para isso, aplicou-se uma abordagem multimétodos que contou com visitas exploratórias, entrevistas informais e ela-boração de mapas.

Terceira Etapa: Nessa última etapa realizou-se a análise das peculiaridades da cidade informal Serrinha, baseada nos dados levantados anterior-mente. Essas análises foram dividas em Dinâmica de Apropriação Espacial, Cenário Físico Morfológi-co e Articulação Sócio Urbana, com o objetivo de desenvolver um estudo que além de contemplar o espaço físico pudesse incorporar aspectos rela-cionados às especificidades da apropriação deste lugar.

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1. aPResentaçãO 13

Além deste primeiro capítulo de apresen-tação, o trabalho pode ser compreendimento em seguida pela fundamentação teórica, após pela fundamentação metodolófica e por fim, pela apresentação da Serrinha e das respectivas aná-lises realizadas.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

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2. RefeRencial teóRicO 17

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. bReve PanORaMa das cidades latinO aMeRicanas

A configuração urbana de muitas cidades la-tinas contemporâneas está distante de oferecer condições e oportunidades equitativas a seus ha-bitantes. Desde 1968, quando o sociólogo e filó-sofo francês Henri Lefebvre escreveu seu livro “O Direito à Cidade”, questiona-se a possibilidade de construir uma cidade na qual todo cidadão possa viver dignamente, reconhecer-se como parte dela e onde se possibilite a distribuição equitativa de diferentes tipos de serviços como trabalho, saú-de, educação, moradia, além de questões como a participação social, o acesso à informação, entre outros.

Segundo o relatório “Estado das Cidades da América Latina e Caribe” publicado pela ONU-HA-BITAT em 2012, atualmente quase 80% dos lati-no-americanos vivem em cidades, uma proporção superior a de países mais desenvolvidos.

Em relação a expansão urbana, no relatório se afirma que muitas cidades transbordam os li-mites administrativos de seus municípios e absor-vem outros núcleos urbanos, em um processo de conurbação, que pode ser compreendido pelo o arquiteto e urbanista Flávio Villaça (1997) como aquele processo de fusão de áreas urbanas, mais ou menos contíguas, pertencentes a municipios diferentes. Este fenômeno, de acordo com a ONU-HABITAT, constribui para o surgimento de áreas

urbanas de grandes dimensões territoriais, às vezes formalizadas em uma área metropolitana, composta por múltiplos municípios e com uma in-tensa atividade em todos os âmbitos.

O crescimento demográfico e a urbaniza-ção nos países latino-americanos ocorreram mui-tas vezes de forma acelerada, contribuindo para uma desigualdade que se expressa socialmente e espacialmente. De acordo com o estudo da ONU-HABITAT, a quantidade e a qualidade de habita-ções disponíveis não é suficiente para garantir condições mínimas a todos (ver figura 1) e cerca de 111 milhões de pessoas vivem em habitações precárias, um número superior ao verificado 20 anos atrás.

Figura 1. Habitações precárias em La Paz – Bolívia. Fonte: Relatório Estado das Cidades da América Latina e Caribe (ONU-HABITAT, 2012)

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O relatório indica uma diminuição do ritmo de crescimento demográfico, o que evita proble-mas resultantes de um crescimento rápido e pos-sibilita focar esforços na melhoria do espaço, na infraestrutura e nos serviços. Apesar da desace-leração demográfica, as manchas urbanas conti-nuam expandindo e as cidades crescem cada vez menos compactas, expandindo-se fisicamente a uma taxa que supera o aumento de sua popula-ção, como pode se ver na figura 2, o caso da cida-de do México.

O relatório recomenda que, para impulsio-nar um modelo de cidade com níveis mais eleva-dos de qualidade e sustentabilidade, é necessário implementar outras políticas de planejamento, concepção e regulamentação, evitando uma ex-pansão dispersa da cidade e propiciando o aden-samento com melhor utilização do espaço. Isso evita também uma maior segmentação física e social. Estes aspectos têm estimulado a fragiliza-ção da coesão sócio-espacial da cidade e o surgi-mento e a consolidação de uma dualidade urbana: A cidade formal e informal.

O estudo aponta também que o aluguel e o mercado fundiário estão pouco desenvolvidos e regulamentados apesar de seu papel decisivo na problemática habitacional. Em geral, a posse em bairros informais tem sido percebida como mais segura, embora o processo de integração com o restante da estrutura urbana seja incompleto.

Por fim, vale ressaltar que as cidades latino -americanas e do Caribe apresentam altos níveis de violência e insegurança, um problema com im-

Figura 2. Evolução da mancha urbana no México entre 1807 e 2000. Fonte: Adaptado de ONU-HABITAT, 2012

portantes consequências sociais, econômicas e intimamente interligado com a organização e a disposição das cidades.

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2. RefeRencial teóRicO 19

2.2. cidades bRasileiRas e a segRe-gaçãO uRbana

Em linhas gerais, em relação ao processo de favelização (ver figura 3), pode-se afirmar que o caso do Brasil pode ser semelhante as carac-terísticas dos demais países latino-americanos. Contudo, de acordo com Sugai (2002) o Brasil já se constituiu como o país mais desigual do con-tinente, conforme atestam diversos indicadores socioeconômicos. De acordo com a autora, essa desigualdade social também se expressa territo-rialmente, evidenciando algumas regiões e cida-des do país onde se concentram os investimentos e também a população mais privilegiada.

Para Villaça (2012), a Segregação Urbana é um dos maiores problemas enfrentados nas ci-dades brasileiras. Segundo o autor, a segregação seria um processo pelo qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões. Neste sentido, uma das características mais marcantes seria a se-gregação espacial das classes sociais em áreas distintas da cidade, que envolve a diferenciação entre os bairros, através do perfil da população, das características urbanísticas, da infraestrutu-ra, da conservação dos espaços e equipamentos públicos, entre outros.

Figura 3. O processo de favelização retratado na obra “O Morro” de Di Cavalcanti, 1957.

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Para o geógrafo Marcelo Lopes de Souza (2007), além de gerar impactos ambientais, a segregação alimenta problemas sociais como a intolerância e o preconceito. Neste sentido, de acordo com Villaça (2012), além da segregação ser a mais importante manifestação espacial-ur-bana da desigualdade que impera na sociedade brasileira, ela não seria apenas um reflexo de uma condição social, mas um fator que contribui para tornar as diferenças ainda mais profundas. Além disso, o autor também ressalta a segregação como um mecanismo de dominação e exclusão, que impede ou dificulta o acesso dos segregados a algum serviço, benefício, direito ou vantagem, seja público, ou privado.

Observa-se, no contexto brasileiro, que o processo de crescimento das periferias acom-panhou as fronteiras da expansão urbana, e, pa-radoxalmente, a população desta nova periferia não tinha direito à própria cidade que ajudou a construir. Ao mesmo tempo, como colocado pelo pensador Lefebvre, para quem o espaço urbano não é um lugar passivo de produção ou de con-centração do capital, mas intervém diretamente na reprodução do mesmo, este tipo de ocupação fomentou a permanência destas classes nestes espaços de domínio cada vez mais segregados.

Ao se compreender aspectos decorrentes da segregação, se esclarece o quadro em que as cidades brasileiras se encontram. Reflexo de uma sociedade segregada, e portanto, com gran-des manifestações de desigualdades sociais, as cidades resultam em diferentes configurações

urbanas. Desse modo, pode-se observar de um lado as cidades ditas “formais”, por funcionarem de acordo com as leis estabelecidas em nossa so-ciedade e do outro, as cidades “informais”, objeto de estudo do presente trabalho, que instauram-se como aglomerados irregulares relegados pela ação pública, mas que no entanto, possuem uma peculiar e espontânea dinâmica.

Esse dinamismo particular da favela pode ser identificado através de diversas manifesta-ções, físicas, espaciais, culturais e em especial em sua apropriação do espaço urbano. Por ocu-parem, quase que em sua totalidade, terrenos em áreas frágeis e de relevo inapropriado ao uso e ocupação (morros, mangues, beiras de rios), a criatividade e autonomia das comunidades refle-te-se no modo com que seus moradores adaptam suas construções às intempéries, alterações ou imprevistos do ambiente muito instável a que são relegados pelo processo segregacionista. Isso, de acordo com Jacques (2011), requer uma grande capacidade de adaptação e imaginação construti-va, num processo espaço-temporal fragmentário que demanda um postura de constante criativida-de e resiliência.

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2.3. a PeculiaRidade das cidades in-fORMais

Caracterizada em 1908 pelo poeta Olavo Bilac como “uma cidade à parte”, as favelas brasi-leiras têm, desde o início de sua formação, desen-volvido características particulares em relação aos espaços urbanos que as envolvem.

As cidades informais constituem lugares peculiares no conjunto da cidade que compõem o tecido urbano. Para Jacques (2011), além de fazer parte do nosso patrimônio cultural e artís-tico, elas se constituem por meio de um proces-so arquitetônico e urbanístico vernáculo singular, que não somente difere, ou é o próprio oposto, do dispositivo projetual tradicional da arquitetura e urbanismo eruditos, mas também compõe uma estética própria, que é completamente diferente da estética da cidade dita formal.

Em relação ao tipo de ocupação, confor-me Barbosa (2009), as favelas não seguem os padrões hegemônicos que o Estado e o merca-do definem como sendo o modelo de ocupação e uso do solo nas cidades. Nas cidades informais, a posse de terra determina o poder de apropria-ção. As regras de uso e ocupação são definidas pelo posseiro e pelo seus respectivos recursos. As relações se estabelecem no confronto direto de vizinhança, de liderança, de controle do fluxo de recursos, reproduzindo na micro-escala, as disputas existentes na arena urbana. Para Bar-bosa (2009) esses modelos de ocupação são vin-culados a determinadas classes e grupos sociais

que consagram o que é um ambiente saudável, agradável e adequado às funções que uma cidade deve exercer no âmbito do modelo civilizatório em curso.

Já em relação ao tecido urbano, Jacques (2011) afirma que este é definido nas favelas como sendo maleável e flexível, no qual é o per-curso que determina os caminhos. Ao contrário da planificação urbana tradicional que determi-na o traçado, para a autora, na favela as ruas e os espaços públicos são determinados exclusi-vamente pelo uso. Uma diferença fundamental entre a favela e a cidade planejada diz respeito a relação entre espaços públicos e privados: na favela esses espaços também estão inextricavel-mente ligados. Durante o dia as ruelas se tornam a continuação das casas, espaços semi-privados, enquanto a maioria das casas, com suas portas abertas se tornam também espaços semi-públi-cos. A ideia da favela como uma grande casa co-letiva é frequente entre os moradores. As ruelas e becos são quase sempre extremamente estrei-tos e intrincados, o que provoca uma grande pro-ximidade física e diversos tipos de interações.

Para o arquiteto presidente do IAB/PE Ro-berto Ghione (2013), enquanto na cidade “formal” seria evidente a predominância de critérios como exclusão e reserva, na cidade informal prevale-cem atitudes de comunidade, solidariedade, parti-cipação, autoajuda e descontração. Para o autor, a materialização das arquiteturas e dos espaços identificam os dois modos de vivência social: edifí-cios fechados e defensivos no primeiro, e constru-

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A TERRITORIALIDADE DAS CIDADES INFORMAIS: UM ESTUDO RELACIONAL NA SERRINHA22

ções abertas ao espaço público, descontraídas e participativas no segundo.

Em “Learning From Favelas” a autora Paola Jacques (2006), afirma que as favelas também são diferentes entre si, pois apesar de ocuparem áreas usualmente desvalorizadas das grandes ci-dades, podem ser diferenciadas: favelas de mor-ro, favelas em áreas alagadiças, favelas no vale de rios, favelas planas na periferia, ou ainda, conjun-tos habitacionais “favelizados”. No entanto, mes-mo diferentes formalmente, estas possuem uma cultura construtiva própria: o processo favela.

Em relação a este processo, Jacques (2004) afirma que a favela é um espaço em constante movimento, pois seus moradores são os verdadeiros responsáveis por sua construção (mesmo quando indiretamente). Ao contrário, o morador da cidade formal, muito raramente se sente envolvido na construção do seu espaço e, em particular, dos espaços públicos de sua cida-de. A participação comunitária ocorre de forma muito mais representativa nas favelas e áreas fa-velizadas em geral do que na cidade formal. Para a autora, as favelas transbordam os terrenos que ocupam e podem ser compreendidas com a con-ceituação de espaço-movimento: O movimento do percurso, a experiência de percorrê-lo, o mo-vimento do próprio espaço em transformação. Esse espaço-movimento estaria diretamente vin-culado a seus atores, que são tanto aqueles que percorrem esses espaços quanto aqueles que os constroem e os transformam continuamente. Nas favelas, esses dois atores podem estar reuni-

dos em um só: o morador, que também é o cons-trutor do seu próprio espaço.

Sendo assim, acredita-se na importância de se compreender a cidade informal em toda sua pluralidade, reconhecendo a especificidade de cada território e seus respectivos atores e considerando-os como cidadãos que devem ter seus direitos sociais garantidos para que possam exercer suas dinâmicas vivências públicas de ma-neira adequada, justa e segura.

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2. RefeRencial teóRicO 23

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3. FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS

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3. fundaMentOs MetOdOlógicOs 27

3. FUNDAMENTOS METODOLÓGI-COS

A fim de compreender a complexidade do tema abordado, aplicou-se uma abordagem mul-timétodos que, após a fundamentação teórica, contou com visitas exploratórias, entrevistas e análise com elaboração de mapas. Os principais tópicos do embasamento teórico foram descritos no item anterior e, a seguir, serão apresentados os outros três procedimentos metodológicos utili-zados no estudo de caso da Serrinha.

3.1. visita exPlORatóRia

A visita exploratória tem o objetivo de levan-tar as características do espaço onde se realiza-rá experimentos. Conforme Ornstein (1992), este método propicia a indicação de aspectos positi-vos e negativos da área de estudo.

Neste estudo de caso, foram realizadas visi-tas exploratórias que, além de possibilitarem uma leitura geral em relação à configuração espacial da área, se instauraram como o primeiro contato dos pesquisadores com o objeto de estudo. Além disso, nas visitas realizadas foram feitos levanta-mentos de dados e registros fotográficos com a finalidade de embasar as análises.

3.2. entRevistas

Durante as visitas exploratórias apresenta-das acima, foram aplicadas entrevistas semi-es-truturadas com perguntas abertas e de caráter informal, com moradores de diferentes sexos e idades.

A finalidade da aplicação deste método foi conhecer melhor a dinâmica de vida dos morado-res e frequentadores do bairro da Serrinha e bus-car as possíveis relações de seu cotidiano com a cidade formal. Para isso, foram feitos questiona-mentos acerca de elementos comuns do dia-a-dia de qualquer cidadão como educação, trabalho, saúde, lazer, segurança, mobilidade e compra de itens básicos de sobrevivência (como alimentos e medicamentos).

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A TERRITORIALIDADE DAS CIDADES INFORMAIS: UM ESTUDO RELACIONAL NA SERRINHA28

3.3. análise e elabORaçãO de Ma-Pas

A fim de se obter um diagnóstico comple-mentar da área estudada, realizou-se a análise e a confecção de diferentes mapas e esquemas. Após a aproximação do contexto sócio urbano apresentado pela área de estudo e seus mora-dores, foram elaborados mapas de gabarito, uso dos solo, cheios e vazios baseados nos levanta-mentos de dados realizados.

Por meio da elaboração e coleta destes ma-pas, foram realizadas análises que colaboraram na identificação das diferenças, semelhanças e a articulação entre as cidades formal e informal, conforme se observará a seguir.

A fim de se ter um maior embasamento relacionado a temática aqui abordada e também um panorama mais completo da configuração só-cio espacial em que aquele local se insere e se utilizou nestas análises mapas disponibilizados pela Prefeitura Municipal de Florianópolis e de-mais pesquisas na mesma área. Neste sentido, ressalta-se aqui a importante contribuição de Su-gai (2002), INFOSOLO/UFSC (2005), Lonardoni (2007), e Afonso et al (2009), principalmente no que corresponde a delimitação da área de estudo e suas fronteiras entre formal e informal.

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3. fundaMentOs MetOdOlógicOs 29

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4. A SERRINHA

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4. a seRRinHa 33

4. A SERRINHA

A favela estudada nessa pesquisa - Serrinha - está localizada ao sul do Brasil, na cidade de Floria-nópolis, na região do Maciço do Morro da Cruz (Figura 4).

Por ser uma ilha, a cidade teve sua ocupação de forma linear, ao longo do litoral. Atualmente tem 427.298 habitantes (IBGE, 2011) e em 2008 cerca de 51.600 residiam em favelas (INFOSOLO, 2005).

Conforme dados da Prefeitura Municipal de Florianópolis, o período em que houve maior formação de favelas na cidade deu-se entre os anos 1970 e anos 1990. Nessa mesma época, houve o maior fluxo de migração rural-urbana. Portanto, grande parte da população da cidade informal é constituída

Figura 4. Localização da área de estudo na América Latina. Fonte: Elaboração própria.

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A TERRITORIALIDADE DAS CIDADES INFORMAIS: UM ESTUDO RELACIONAL NA SERRINHA34

por migrantes, composta por população de baixa renda que foi excluída do meio rural e que veio morar nestes espaços.

Em Florianópolis, a população de baixa ren-da instalou-se principalmente em áreas ambien-talmente frágeis e de riscos; como encostas, mangues e dunas e a maior concentração de assentos informais de Florianópolis localiza-se no Maciço Central do Morro da Cruz. Conforme pes-quisa, dos moradores de favelas em Florianópolis, 37% deles residem em favelas nessa porção cen-tral (INFOSOLO/UFSC, 2005).

A Serrinha está situada na encosta leste desse maciço, fazendo divisa entre bairros de im-portância geográfica e econômica, isto é, o Cen-tro da cidade e a Trindade, onde a Universidade Federal de Santa Catarina está implantada, con-forme se observa na figura 5.

Conforme apresentado nos fundamentos metodológicos, a delimitação adotada considerou a subdivisão utilizada pela Prefeitura Municipal e por demais pesquisas realizadas anteriormente na Universidade por INFOSOLO/UFSC (2005), Lonardoni (2007) e Afonso et al (2009). Essa ca-racterização permitiu analisar a Serrinha quanto a sua parte formal e informal, bem como verificar as relações da região com o seu entorno. Os re-sultados dessa análise serão expostos a seguir a partir de três categorias: Dinâmica de Apropria-ção Espacial, Cenário Físico Morfológico e Articu-lação Sócio Urbana.

A Serrinha pode ser compreendida de acor-

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4. a seRRinHa 35

do com duas diferentes partes: Formal e Informal. Conforme a figura 5, a Serrinha Formal localiza-se às margens da Universidade, enquanto a Serrinha Informal ocupa a porção superior do morro.

Figura 5. Contextualização da Serrinha Informal e Formal. Fonte: Elaboração própria.

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A TERRITORIALIDADE DAS CIDADES INFORMAIS: UM ESTUDO RELACIONAL NA SERRINHA36

4.1. dinâMica de aPROPRiaçãO esPacial

Por meio das análises realizadas, é possível se compreender uma dinâmica de ocupação e apro-priação da Serrinha no que tange a parcela considerada informal.

Conforme se verifica na figura 6, em 1938 praticamente inexistiam ocupações na Serrinha informal. A implantação da Universidade Federal de Santa Catarina,na década de 1960, ocasionou significativas transformações urbanas, atraiu investimentos públicos e privados e estimulou a ocupação residencial nos bairros próximos à universidade, o que pode justificar a ocupação iniciada nos anos posteriores.

Segundo Lonardoni (2007), a ocupação infomal se iniciou na década de 80 e se desenvolveu numa área de grande valorização imobiliária. Ao se observar a figura 6, pode-se perceber o avanço des-sa ocupação informal nas cotas mais elevadas do Maciço do Morro da Cruz. Esse processo é descrito por Lüchmann (1985) e pode ser observado na figura 7.

Figura 6. Expansão Ocupação Informal na Serrinha. Fonte: Adaptado Google Earth

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4. a seRRinHa 37

Na figura 7, tem-se a ilustração feita em 1985 por Lüchmann que já demonsta a presença de diferentes tipologias, tecido urbano e ocupações. Conforme a figura, é possivel se notar a presença da ocupação informal na parte mais elevada da encosta. De acordo com o autor, nesta época havia cerca de 50 domicílios na parte informal, sendo que os abrigos com piores condições de moradia correspon-deriam àqueles nas cotas mais elevadas.

Figura 7. Ilustração da ocupação na Serrinha em 1985 por Lüchmann.

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A TERRITORIALIDADE DAS CIDADES INFORMAIS: UM ESTUDO RELACIONAL NA SERRINHA38

O cenário atual, por sua vez, foi apreendido por meio das visitas exploratórias realizadas, onde foi possível verificar que a relação entre a cidade formal e informal é caracterizada por uma dinâmica transição tipológica, de técnica construtiva, de ocu-pação e apropriação espacial.

Conforme se observa na Figura 8 as habita-ções multifamiliares de elevado gabarito, cercadas e isoladas no lote, que caracterizam a cidade for-mal no entorno da área, se modificam para abrigos unifamiliares de no máximo 3 pavimentos, confor-madas por diferentes materiais e tipologias que anunciam a criatividade peculiar desta população. Abrigos mutáveis, instáveis e em constante trans-formação. Para Jacques (2011), as cidades infor-mais possuem uma construção que é cotidiana, continuamente inacabada.

A maior especificidade do espaço urbano das favelas está em seu tecido urbano cheio de sur-presas (JACQUES, 2011). As vias largas e de asfal-to da cidade formal passam, na cidade informal, a ser estreitos caminhos sem uma lógica pré-estabe-lecida, conformam percursos e ruelas que além de possibilitar o acesso de cada morador ao seu res-pectivo abrigo, se tornam a extensão dos ambientes das casas e o espaço de convívio, durante o dia.

Na metodologia aplicada também foi possí-vel compreender a fragilidade dessa vida dinâmica dos moradores da cidade informal, frente a expo-sição às intempéries. Nas entrevistas moradores relataram a dificuldade em se solucionar a exposi-ção às chuvas. Além disso, nas visitas e pesquisas realizadas verificaram-se desmoronamentos, uma

resposta da natureza a essa ocupação irregular e instável.

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Figura 8. Comparação das diferentes tipologias e da ocupação do solo na Serinha Formal e Informal. Fonte: Acervo próprio.

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A TERRITORIALIDADE DAS CIDADES INFORMAIS: UM ESTUDO RELACIONAL NA SERRINHA40

4.2. cenáRiO físicO MORfOlógicO

Nessa categoria buscou-se analisar as se-melhanças ou diferenciações estabelecidas entre cidade formal e informal no que tange à questão de relacionamento com o sítio e paisagem, tratan-do tanto de aspectos morfológicos quanto cone-xões visuais.

A partir de uma análise aérea da área, logo a primeira vista é fácil perceber a delimitação en-tre a parte formal e a informal, devido a diferença de disposição das construções e parcelamento do solo, como pode ser visto no mapa de cheios e vazios (Figura 9). Nota-se que a parte informal apresenta malha bem mais irregular, enquanto a formal possui uma ordenação reticulada, sendo possível inclusive identificar facilmente nos vazios desse mapa a localização do sistema viário na ci-dade planejada. Além disso, é possível perceber a forte densificação ocorrida na favela, em con-traposição às construções mais esparsas e de maior ocupação do solo na parte formal.

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Figura 9. Mapa de cheios e vazios da Serrinha e entorno. Fonte: Elaboração própria

Ainda acerca da disposição das edificações no solo, é importante ressaltar também as diferentes relações estabelecidas com o sítio. No que diz respeito à forma de ocupação do maciço, a análise de mapas mostrou que a parte informal da Serrinha ocupa as áreas de maior altura e declividade mais acentuada, o que confirma o fato exposto na fundamentação teórica de que a cidade não planejada acaba ocupando áreas inadequadas para construção e remanescentes no entorno da malha urbana formal.

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A TERRITORIALIDADE DAS CIDADES INFORMAIS: UM ESTUDO RELACIONAL NA SERRINHA42

A presença do morro na dinâmica local foi percebida também durante as visitas explorató-rias, onde essa característica ambiental influen-ciou na experiência urbanística nesse lugar. A inclinação do percurso exige um esforço físico maior por parte dos pedestres, o que diminui a velocidade da locomoção e pode dificultar a movi-mentação de pessoas, como foi constatado tanto na experiência empírica dos pesquisadores como através dos relatos nas entrevistas.

Por outro lado, um aspecto positivo levan-tado acerca da localização da parte informal foi o potencial visual que isso proporciona ao local. A sua posição em altura elevada permite uma vista privilegiada da cidade, do mar e da natureza cir-cundante, como pode ser verificado na figura 10. Contudo, a valorização desse aspecto não trans-pareceu nas entrevistas realizadas com os mora-dores do lugar.

A respeito das conexões visuais, é importan-te falar também da vista em relação ao outro sen-tido, da cidade formal para a informal. Como pode se perceber na figura 11, a favela da Serrinha é uma ocupação marcante na paisagem da cidade de Florianópolis, sendo um elemento de importan-te presença visual aos frequentadores do bairro Trindade.

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Figura 10. Paisagem da ilha de Florianópolis a partir da parte Informal da Serrinha. Fonte: Acervo próprio.

Figura 11.Vista da relação visual entre Serrinha e campus da UFSC, a partir do bairro Trindade. Fonte: Acervo próprio.

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A TERRITORIALIDADE DAS CIDADES INFORMAIS: UM ESTUDO RELACIONAL NA SERRINHA44

4.3. aRticulaçãO sóciO uRbana

Não é somente por meio de conexões vi-suais que se estabelecem relações entre a Ser-rinha Formal e Informal. Esses vínculos são mais próximos, e chegam a conformar uma espécie de dependência entre essas duas cidades.

Os moradores da cidade informal depen-dem dos equipamentos da cidade formal. A partir do Mapa de Usos apresentado na página a se-guir (Figura 11), se verifica que os equipamentos existentes na Serrinha são minimercados, bares, templos religiosos e a Casa São José (contraturno para crianças). Os equipamentos básicos encon-tram-se apenas na cidade formal. O supermerca-do mais próximos fica a 1 quilômetro do início da Serrinha, no bairro Trindade. Mesma distância do Hospital Universitário, que é a unidade de saúde de mais fácil acesso. Para consultas de rotina, utilizam-se os Postos de Saúde do Pantanal e da Trindade - ambos com cerca de 2Km de distância do início do bairro estudado. A Serrinha também não possui escolas e creches, o que dificulta a mo-bilidade das crianças e dos pais trabalhadores.

Conforme análise do mapa apresentado ao lado, observa-se também um número destacado de edificações residenciais. Desta maneira, é pos-sível supor que o bairro é utilizado como bairro dormitório. Como não há serviços e empregos para a sua população, é possível que os trabalha-dores tenham seus empregos na cidade formal, fazendo um movimento pendular diário, no qual sua população se desloca para outros bairros du-

rante o dia para trabalhar e estudar, e retorna apenas pela noite, para dormir. Além dessa ob-servação a partir do mapa de usos, por meio dos depoimentos dos entrevistados também se con-firmou a dependência por educação e trabalho dos moradores da serrinha informal, em relação a formal. Acredita-se, contudo, que também haja uma dependência da cidade formal, em relação a informal, pois é ali que reside grande parte de sua mão de obra.

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Figura 12. Esquema de usos. Fonte: Elaboração própria

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A TERRITORIALIDADE DAS CIDADES INFORMAIS: UM ESTUDO RELACIONAL NA SERRINHA46

Em relação aos espaços de lazer, conforme visitas exploratórias, pode-se observar que na Serri-nha praticamente inexistem espaços regularmente implementados e geridos pelo poder público. Além disso, serviços básicos como saneamento básico e a coleta de lixo, são realizados de maneira precá-ria. Diante deste cenário, é possivel se verificar que além do baixo invesimento público realizado nesta localidade, quando esse existe, ele se restringe ao sistema viário que muitas vezes não está visando a melhoria da condição de acesso da população ao seu espaço. Conforme se verifica na figura 13, a par-tir de iniciativas governamentais, houve a construção na Serrinha de uma grande via que conecta dois grandes importantes bairros formais - o bairro Trindade e o bairro Centro – e configura uma barreira na Serrinha Informal.

Esta via, Transcaeira, gerou um fluxo intenso de veículos e aumentou a periculosidade do trânsito de pedestres quebrando a dinâmica do bairro. A partir de entrevistas, foi possível perceber que essa rua não foi considerada como um investimento positivo pelos moradores. Além de servir apenas como conexão entre dois lados importantes da cidade formal, a Transcaeira apenas facilitou a passagem de veículos particulares, e em geral da população que não reside na Serrinha. Deste modo, esta obra não qualificou o espaço informal, já que não houve a inclusão de linhas e pontos de transporte coletivo, passeios públicos adequadas ou outros investimentos mais pertinentes e prioritários à população da Serrinha.

Figura 13.Mapa de usos da cidade informal. Fonte: Adaptado de Google Street View.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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5. cOnsideRaçÕes finais 51

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acredita-se que o estudo na Serrinha foi re-levante por ser uma região que apresenta uma pluralidade ocupacional tanto no que rege seu aspecto formal quanto informal. A análise da con-fluência desses dois espaços mostrou o quão im-portante é tanto preservar a identidade dinâmica da cidade informal quanto levar a infraestrutura da cidade formal para qualificar esse modo de vi-ver tão particular.

É inquestionável a relevância de trabalhos que abrangem áreas prioritárias para a sobrevi-vência humana como educação, saúde pública, questões sociais, econômicas, dentre outras. No referente à arquitetura e urbanismo, foi possível se verificar por meio do estudo realizado, as inú-meras complexidades e dificuldades relacionadas à infraestrutura, ao bem estar e à segurança de cidadãos em assentamentos informais. Esta com-plexidade e multiplicidade de fatores e áreas en-volvidas, evidencia a importância de um trabalho interdisciplinar que possa embasar uma proposta prática com demandas urgentes de auxílio, como as da área estudada.

Nesse processo, imagina-se que algumas particularidades da cidade não planejada deve-riam ser consideradas para o embasamento de futuros projetos na área. De modo a conceber es-paços de maior qualidade e identificação por parte de seus moradores, poderia ser tirado partido da criatividade, adaptabilidade e cooperação cons-trutiva da comunidade para conceber um design

que valorize esse dinamismo que corre o risco de ser desconsiderado ao apenas se implementar a mesma atual lógica construtiva da cidade formal.

Outra questão a ser considerada, em es-pecial ao se tratar de favelas com ocupação em morros, são as conexões visuais estabelecidas nos dois sentidos. A favela já é um elemento mar-cante na paisagem e isso em conjunto com a vis-ta que a sua localização permite poderiam ser relacionadas, de forma a criar marcos urbanos que incentivassem a conexão física dos morado-res entre as duas cidades

A questão da mobilidade mostrou-se como um importante potencializador de articulação entre as duas cidades. Porém, é necessário con-siderar que essas ligações tragam consigo qua-lificação para o espaços por onde passam, tor-nando-os locais de permanência e apropriação, e não apenas simples passagem e conexão de áreas urbanas adjacentes.

Por fim, vale ressaltar que as conclusões apresentadas nesse artigo não devem ser gene-ralizadas a todos os assentamentos informais. Acredita-se que ao se trabalhar com viveres tão particulares, é importante se caracterizar cada situação individualmente, respeitando suas res-pectivas peculiaridades, compreendendo suas próprias dinâmicas, e as potencializando.

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6. REFERÊNCIAS

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6. RefeRÊncias 55

6. REFERêNCIASABRAMO, Pedro. Favela e mercado informal: a

nova porta de entrada dos pobres nas cidades brasi-leiras/ Org. Pedro Abramo — Porto Alegre : ANTAC, 2009.

AFONSO, Sônia; VALENTE, Carolina; DALMEDICO, Lucimery; RUDOLPHO, Lucas. Análise de um fragmento de Encosta – Comunidade Serrinha – Florianópolis – SC. Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanis-mo, 2009.

BARBOSA, Jorge Luiz. O que é Favela, afinal? Ob-servatório de Favelas, São Paulo, 2009.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e de Esta-tística. Censo Geral 2011.

INFOSOLO/UFSC – Florianópolis. Relatório parcial de pesquisa (julho de 2004 a maio de 2005) Mercados Informais de Solo Urbano nas cidades brasileiras e aces-so dos pobres ao solo – Área Conurbada de Florianópo-lis – Etapa 1: Diagnósticos. Florianópolis, 2005.

GHIONE, Roberto. Cidade formal e cidade informal. Disponível em: <http://www.caupr.org.br/?p=4907. Acesso em 12/04/2013>.

JACQUES, Paola Berenstein. Estética da ginga. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2011.

LEFEBVRE, Henry. O Direito à Cidade. Tradução Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2001.

LEFEVBRE, Henri. A revolução urbana. Belo Hori-zonte: UFMG, 2008.

LONARDONI, Fernanda Maria. Aluguel, informali-dade e pobreza / o acesso a moradia em Florianópolis. Florianópolis, 2007. 145 f. Dissertação - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Arquitetura e Ur-banismo.

LÜCHMANN, Líga H. H. A educação popular en-quanto prática de saúde: uma proposta de serviço so-cial: Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no departamento de Serviço Social da UFSC, Florianópolis, 1985.

ORNSTEIN, Sheila Walbe, ROMÉRO, Marcelo de Andrade (colaborador). Avaliação pós-ocupação do am-biente construído. São Paulo: Studio Nobel, Edusp, 1992.

Organização das Nações Unidas ONU-HABITAT . Relatório Estado das Cidades da América Latina e Caribe. Em <http://www.onu.org.br/cidades-al-caribe-2012/> Acesso em: 11 julho de 2013

SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do desenvolvimen-to urbano. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

SUGAI, Maria Inês. Segregação silenciosa: inves-timentos públi- cos e distribuição sócio-espacial na área conurbada de Florianópolis. 2002. Tese (Doutorado) – FAU-USP, São Paulo, 2002

VILLAÇA, Flávio. Reflexões sobre as cidades brasi-leiras. São Paulo: Studio Nobel. 2012.

VILLAÇA, Flávio. A delimitação territorial do es-paço urbano. Em <http://www.fau.usp.br/cursos/gra-duacao/arq_urbanismo/disciplinas/aup0276/Tex-to_01_-_Villaca.pdf> Acesso em: 12 agosto de 2013.

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7. APÊNDICES

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7. aPÊndices 59

1 Disciplina chamada “Assentamentos de Baixa Renda, ministrada em 2011 por Lino Peres, no curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSC.

7. APêNDICES

RELATOS DAS PERCEPÇÕES DA SERRINHA, CON-FORME MEMBROS DA EQUIPE.

Mariana¹ – domingo, 29 de abril de 2011, das 10h ao meio dia.

Uma grande subida, olhares desconfiados, o sentimento de estar invadindo algo que não te pertenc-ce e uma vista de Florianópolis de surpreender.

Meu primeiro contato com a Serrinha foi em 2011, antes de realizar esta pesquisa. Visitei esta região com um pequeno grupo da disciplina optativa que realizei¹. Lembro de ser um dia bastante agradável, mas me re-cordo também de me sentir como se tivesse entrando na casa daquelas pessoas e me sentindo incomodada por isso.

Portas abertas, muitos adolescentes na rua, o conversar entre vizinhos em um barzinho, e uma apa-rente vida urbana rotineira estável. O que me chamava a atenção, eram as tipologias fragmentadas e improvi-sadas. O modo como o ser humano, mesmo com lares inacabados, sobrevivia e vivia uma rotina que aparenta-va ser normal. Na verdade, era normal. Mas para mim, que estava tendo um dos primeiros contatos com as-sentamentos informais, aquilo era novidade, ver de per-to os diferentes modos como as pessoas se apropriam de um sítio acidentado e com imensuráveis complexida-des era algo que estava me atraindo muito.

Após passar pela Serrinha, continuamos visi-ta pelos demais assentamentos informais do Maciço do Morro da Cruz, que continuavam a me envolver, a me surpreender e a me motivar para posteriormente, buscar entender um pouco mais dessas frágeis, porém curiosas, realidades urbanas.

Figura 14. Tipologias auto-construídas e espontâneas. Fonte: Acerco Pessoal.

Figura 15. Vista para a Cidade Formal e a paisagem natural de Florianópolis. Fonte: Acervo pessoal.

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1 Um dos integrantes do grupo, residiu na Serrinha Formal2 A favela Vidigal localiza-se no Rio de Janeiro.

Lucas¹ – domingo, 30 de setembro de 2012, das 15:30 às 17:30.

A princípio, queria relatar que nunca tinha subi-do a Serrinha além da altura do meu condomínio. Feito isso, descobri logo na esquina de cima uma infinidade de comércios que eu desconhecia, ali, ao lado da minha casa: um ponto de recarga de celular, xerox, banho e tosa de animais de estimação, instituto de beleza, ofici-na de costura, lavanderia e até uma mercearia.

Ao virar na rua Marcos Aurélio Homem, o que se pode notar em seu início é a permanência de edifícios destinados à comunidade estudantil e de casas que não são tão precárias. Pelo contrário, algumas apresentam nível de classe média. Mais para cima existe uma es-cola e logo depois o selo de mérito 2011 pela urbaniza-ção do maciço do morro da cruz. Os pontos de ônibus nessa rua são ou indicados por placa, ou pelo abrigo de espera.

Existe grande presença de igrejas, tanto evangé-licas, quanto católicas. Também observei essa carac-terística quando visitei o Vidigal². Conforme se alcança um nível mais elevado, as moradias vão tornando-se mais precárias até que adquirem visualmente uma ca-racterística diferente da base do morro.

Presenciei a chegada de um ônibus que servia à linha da Serrinha, e pelo fato de a rua ser muito estreita, os carros que tentavam cruzar em direção oposta ou tinham que parar e esperar a manobra do ônibus, ou cruzar por cima da calçada, se existisse.

O campo visual em cima do morro é amplo, po-dendo-se avistar toda a Universidade, os bairros Santa Mônica, Trindade, Pantanal, a avenida Madre Benvenu-ta, o manguezal do Itacorubi, a baía sul e a baía norte, o aterro da baía sul com a via expressa, a Ressacada, o aeroporto internacional, o centro, o continente, as três pontes e até mesmo um pedacinho do Campeche.

Figura 16.Ônibus passando pela Rua Vinte e Cinco de Novembro. Fonte: Acerco Pessoal

Figura 17.Crianças se apropriando de um terrenbo baldio. Fonte: Acerco Pessoal

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7. aPÊndices 61

1 TITRI: Terminal Integrado da Trindade

Adriana e Larissa – segunda-feira, 22 de ou-tubro de 2012, às 14:00.

Pegamos o ônibus Serrinha no Ponto de ônibus do Supermercado Comper, sentido TITRI¹ – Bairro e descemos no ponto final, que localiza-se na Rua Vinte e Cinco de Novembro.

Descemos o morro a pé e foram feitas as seguin-tes constatações:

Rua 25 de Novembro:Pavimentação: Paralelepípedo.Calçadas: Muito estreitas ou inexistentes. Proble-

ma no fuxo: Não há espaço para passar dois veículos simultaneamente. Rua com bastante declive.

Há dois pontos de ônibus (abrigos): O primeiro serve como ponto final e retorno do ônibus e fica em frente ao “Antunes Bar” (próximo ao reservatório de água da CASAN ). O segunda ponto de ônibus dessa rua fica em frente de uma mercearia.

Rua Marcus Aurélio Homem:Pavimentação: Asfalto.Calçadas: Larguras irregulares. Na descida, as

calçadas do lado direito são mais largas. Há postes no meio das calçadas.

Rua Douglas Seabra Levier:Pavimentação: Asfalto.Calçadas: Larguras razoáveis e há utilização de

piso guia, porém não foi instalado incorretamente.A partir dessa visita, pode-se concluir que o

transporte público não abastece toda a Serrinha Infor-mal, apenas a rua principal. Além disso, observou-se que a infraestrutura urbana é mais carente a medida que subimos o morro: calçadas e ruas mais estreitas, pavimentação mais precária.

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A TERRITORIALIDADE DAS CIDADES INFORMAIS: UM ESTUDO RELACIONAL NA SERRINHA62

1 CASAN: Companhia Catarinense de Água e Saneamento.

Lucas – segunda-feira, 12 de novembro de 2012, das 07:00 às 08:50.

Em um dia ensolarado, com o intuito de registrar o horário de fluxo matinal na Serrinha, fui até o entron-camento da Rua Douglas Seabra Levier com a Rua De-sembargador Vitor Lima, que contorna parte da UFSC. Este é o ponto de principal acesso à Serrinha, por onde passam pedestres, ciclistas, motocicletas, carros, ôni-bus e caminhões.

O primeiro ponto observado foi a passagem de várias Vans, escolares ou de turismo (ressalta-se a proximidade da Creche São Francisco de Assis e do Hotel Slaviero). Em sua maioria, o fluxo característico era contrário à Serrinha, tanto de pedestres quanto de veículos. Raras exceções eram crianças acompanha-das de pais que subiam em direção a Serrinha, mas que provavelmente iriam só até a Creche. Os pedes-tres eram caracteristicamente estudantes (crianças e jovens), trabalhadores, ou pais que acompanhavam filhos.

Nesse horário, o ônibus (de saída às 07:14hrs) chega ao último ponto de parada da Rua Douglas Sea-bra Levier já lotado e com pessoas em pé, às 07:23hrs. Até terminar o percurso, poucas pessoas pegam o ôni-bus, e algumas descem antes de chegar até o Terminal da Trindade. Isso caracteriza a forte utilização da linha para realizar o percurso dos pontos iniciais até o ponto final (percurso Serrinha-TITRI), com pouca expressivi-dade no meio do trajeto. Acredita-se então que boa par-te dos usuários realizem integração com outras linhas do transporte para chegarem a outros pontos da cidade. A chegada atende ao horário previsto (07:31hrs) com alguns minutos de atraso, provavelmente ocasionados pela grande utilização do ônibus no trecho da Serrinha.

O retorno à Serrinha foi caracterizado pelo extre-mo oposto do observado na ida. Confirmando com mui-to mais expressividade do que já se esperava, ninguém embarcou durante todo o trajeto TITRI - Ponto final. Com saída pontual às 08:27, apenas três passageiros entraram no ônibus (contando comigo), que desceram

nos últimos pontos da linha.Os pontos de parada no alto da Serrinha, no en-

tanto, já estavam cheios de pessoas a espera do próxi-mo ônibus para realizar o trajeto Serrinha - TITRI, o que confirma a experiência de ida mesmo que quase uma hora depois. Observou-se a dificuldade do Ônibus em manobrá-lo na Rua 25 de Novembro para fazer o trajeto de retorno ao TITRI e, além disso, o conflito de fluxo nas ruas 2 e Marcos Aurélio Homem.

Por fim, ressalta-se também o fato de as ruas es-tarem vazias e calmas nesse horário (08:45hrs). No en-tanto, descendo a Rua Marcos Aurélio Homem e lendo uma revista, inesperadamente quase tive o braço arran-cado quando a menos de 30cm de distância um carro de passeio passou a mais de 60 km/h descendo a via, exatamente onde existe uma placa evidenciando a área escolar e o fluxo de estudantes.

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7. aPÊndices 63

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A TERRITORIALIDADE DAS CIDADES INFORMAIS: UM ESTUDO RELACIONAL NA SERRINHA64

RESUMO ENVIADO AO EVENTO “4th Global Conference: Space and Place - Oxford, United Kingdom”

PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS CIENTÍFICOS

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7. aPÊndices 65

a) author (s): Adriana de Lima Sampaio¹, Larissa Miranda Heinisch², Mariana Morais Luiz³ and Adriana Marques Rossetto4

b) affiliation: (1) Graduation Student – UFSC; (2) Graduation Student – UFSC; (3) Graduation Student – UFSC; (4) Professor – UFSC c) email address: (1) [email protected]; (2) [email protected]; (3) [email protected]; (4) [email protected] d) title of abstract: Favelas: Reinvention in Brazilian Cities e) body of abstract:

The Favelas are strong elements in the landscapes of Brazilian cities. They have emerged as a response of socio-spatial segregation originated from rapid urban growth and planning mistaken. It holds particular, diverse and complex occupation forms and today these areas are considered to be in qualification process. Very stereotyped, eventually it leads to misguided public policies, which ignores the identity of these spaces and that are based on idealized models of city, establishing a boundary between two current urban realities: the formal and the informal city.

This article originates from a research conducted at the Federal University of Santa Catarina - located in the city of Florianópolis, southern Brazil - that through a case study aimed to understanding the Favela in its contextual plurality and its respective connection with the formal city, as well the comprehension of the different relationship between “space x time” in that said informal city.

The relevance of studies in this area is justified by the fact that the current Brazilian urban configuration is far from offering equitable conditions and opportunities to its inhabitants. The implemented development models in our cities establish standards for the wealth and power concentration that generate urban segregation, one of the biggest problems faced by Brazil, according Villaça (2009), which exacerbates the border between the cities called "formal" and informal cities - the Favelas.

Through the study, it was possible to understand the complex situation created in the encounter of localities that have different configurations and distinct socio-spatial relations with temporality. It is believed however that understanding the spontaneity and the peculiars dynamics of the Favelas serves as a basis for overcome physical and imaginary limits between formal and informal city, and that merge the concepts and relationships between these spaces creates a favourable scenario to reinvention of the city itself.

Reference:

VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, Fapesp, Lincoln Institute, 2009 pela cidade dita formal.

f) up tp 10 keywords: Favelas, slums, dynamic, urbanism, temporality, informal

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A TERRITORIALIDADE DAS CIDADES INFORMAIS: UM ESTUDO RELACIONAL NA SERRINHA66

RESUMO ACEITO NO EVENTO “5th Annual Symposium of Architectural Research: ARCHITECTURE AND RESILIENCE - TAMPERE, FINLAND”

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7. aPÊndices 67

a) author (s): Adriana de Lima Sampaio¹, Larissa Miranda Heinisch², Mariana Morais Luiz³ and Adriana Marques Rossetto4

b) affiliation: (1) Graduation Student – UFSC; (2) Graduation Student – UFSC; (3) Graduation Student – UFSC; (4) Professor – UFSC

c) email address: (1) [email protected]; (2) [email protected]; (3) [email protected]; (4) [email protected]

d) We intend to submit a short paper. e) Keywords: : Favela, slums, dynamic, qualification, adaptation, informalf) Abstract:

Favela: Dynamic space of adaptation and creativity

Cities are in constant change. Facing this Urban Dynamism, there’s a typical occupancy in Brazilian cities that shows daily resilient: the Favelas. Its formation is particular, diverse and complex, and they have emerged as a response of socio-spatial segregation originated from rapid urban growth and planning mistaken. This article aims to present the particular dynamic that favelas have and its relation and differences with the considered as “formal city”, from a case study conducted at Florianópolis by a group of students from Architecture and Urbanism of the Federal University of Santa Catarina. As studied, currently Favelas are considered areas in transition and qualification process, which requires from its residents the capacity of adaptation and creativity, facing adversities that the unstable environment they live shows. Through the study, it was possible to understand the complex situation involving the issue of Favelas, and comprehend its spontaneity, peculiar dynamics and its physical and imaginary boundaries with the cities known as “formal”. Besides serving as basis to the reinvention of the city itself, it is believed that this understanding can assist in the adoption of urban policies more appropriate for the qualification of these spaces.

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ARTIGO ACEITO E APRESENTADO NO EVENTO “5th Annual Symposium of Architectural Research: AR-CHITECTURE AND RESILIENCE - TAMPERE, FINLAND”

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SAMPAIO et al. Favela: dynamic space of adaptation and creativity

ATUT Conference Proceedings, Tampere, Finland, 28-39 August 2013

FAVELA: DYNAMIC SPACE OF ADAPTATION AND CREATIVITY

Adriana de Lima SAMPAIO1, Larissa Miranda HEINISCH2, Mariana Morais LUIZ3, Adriana Marques ROSSETTO4

¹ Student, Architecture and Urbanism, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Florianópolis, Santa Catarina, BRAZIL

+55 48 99189959, [email protected]* 2 Student, Architecture and Urbanism, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Florianópolis, Santa Catarina, BRAZIL +55 48 91169866 ,

[email protected]* 3 Student, Architecture and Urbanism, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Florianópolis, Santa Catarina, BRAZIL +55 48 88319592 ,

[email protected] 4 Ph.D. in Industrial Engineering, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Florianópolis, Santa Catarina, BRAZIL +55 48 99720424,

[email protected]

ABSTRACT

Cities are in constant change. Facing this Urban Dynamism, there’s a typical occupancy in Brazilian cities that shows daily resilient: the Favelas. Its formation is particular, diverse and complex, and they have emerged as a response of socio-spatial segregation originated from rapid urban growth and planning mistaken. This article aims to present the particular dynamic that favelas have and its relation and differences with the considered as “formal city”, from a case study conducted at Florianópolis by a group of students from Architecture and Urbanism of the Federal University of Santa Catarina. As studied, currently Favelas are considered areas in transition and qualification process, which requires from its residents the capacity of adaptation and creativity, facing adversities that the unstable environment they live shows. Through the study, it was possible to understand the complex situation involving the issue of Favelas, and comprehend its spontaneity, peculiar dynamics and its physical and imaginary boundaries with the cities known as “formal”. Besides serving as basis to the reinvention of the city itself, it is believed that this understanding can assist in the adoption of urban policies more appropriate for the qualification of these spaces.

Keywords: Favela, slums, dynamic, qualification, adaptation, informal

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1. CONTEXTUALIZATION The Favelas are strong elements in the landscapes of Latin-American cities, in special of the Brazilian ones. They have emerged as a response of socio-spatial segregation originated from rapid urban growth and planning mistaken. It holds particular, diverse and complex occupation forms and today these areas are considered to be in qualification process. Very stereotyped, eventually it leads to misguided public policies, which ignores the identity of these spaces and that are based on idealized models of city, establishing a boundary between two current urban realities: the formal and the informal city.

This paper originates from a research conducted at the Universidade Federal de Santa Catarina - located in the city of Florianópolis, southern Brazil - that through a case study in the Serrinha Favela aimed to understanding the Favela in its contextual plurality and its respective connection with the formal city.

The relevance of studies in this area is justified by the fact that the current Brazilian urban configuration is far from offering equitable conditions and opportunities to its inhabitants. The implemented development models in our cities establish standards for the wealth and power concentration that generate urban segregation, one of the biggest problems faced by Brazil, according Villaça (2012), which exacerbates the border between the cities called formal and informal cities - the Favelas.

Due to the complexity of this theme, it was applied a multimethod approach to enable the comprehension of the Favela’s space-territorial sphere, besides understanding the relation that its inhabitants have with these places and with the city.

Through this study was possible to comprehend the scenery that involves the Favela matter, and also to understand its spontaneity, peculiar dynamics and its relations or limits with the formal city, as will be present to follow.

2. THEORETICAL METHODOLOGICAL FUNDAMENTALS The urban configuration of many contemporary cities is distant of offer equal terms and opportunities to its inhabitants. Since 1968, when the French sociologist and philosopher Henri Lefebvre wrote his book The right to city, it was questionated the possibility to build a city in which people could live worthily and recognize themselves as part of it, as well enabling the equal distribution of different types of resources: work, health, education, housing, besides symbolic resources such as social participation, access to the information, among others.

As opposition to this right, it is presented the matter of the urban segregation that for the architect and urbanist Flávio Villaça (2012) is one of the biggest problems faced in the Brazilian cities. For the author, the segregation would be a process which different classes or social layers tend to be concentrated more and more in different areas or districts of a metropolis. In this way, one of the more striking characteristics would be the space segregation of the social classes in different city areas, involving the differentiation among this, through the population profile, urban characteristics, infrastructure matters, spaces and public equipment preservation, besides others.

For the geographer Marcelo Lopes de Souza (2007), besides generating environmental impacts, the segregation feeds social problems as the intolerance and the prejudice. In this sense,

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according to Villaça (2012), besides the segregation be the more important space-urban manifestation of the inequality that reigns in the Brazilian society, it would not be only a reflex of a social condition, but a factor that contributes to make the differences even profound.

By comprehending aspects arising from the segregation matter, it is possible to clarify the situation in which the Brazilian cities are. They are a reflex of a segregated society, and therefore, with big manifestations of social inequalities, which results in different urban configurations. Thus, it can be observed in one side the city called formal, because is formed according to the laws established in our society and, on the other side, there are the informal cities, study object of this work, established as irregular agglomerates relegated by the public action, however, owning a peculiar and spontaneous dynamics.

This particular dynamism of the Favela can be identified through several physical, spatial and cultural manifestations, especially according to its appropriation of the urban space. Due to the occupation, in most cases, terrains in fragile areas and so of improper conditions of use and occupation (hills, swamps, rivers boarders), the creativity and communities' cooperation is reflected in the way which the inhabitants adapt their constructions to the unstable conditions that the environment to what they are relegated by the segregationist process presents. That, according to Jacques (2011), requires a great adaptation capacity and constructive imagination, in a fragmentary space-temporal process that demand a constant creativity and resilience posture.

To verify this process, it was applied a multimethod approach that was composed by theoretical basement, exploratory visits, interviews and maps analysis and elaboration. The results of the methodological procedures applied on the Serrinha Favela study will be presented in the following item.

3. SERRINHA: A DYNAMIC SPACE The studied Favela – Serrinha – is located in southern of Brazil in the city of Florianópolis, in the Hill of Morro da Cruz Hill(Figure 1).

Figure 1: Localization of the studied area in America. Source: Authors elaboration.

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For being an island, the city of Florianópolis had its occupation on a lineal form, along the seaside. Nowadays it has 427.298 inhabitants and in 2005 about 51.600 resided in slums (INFOSOLO, 2005).

According to data of Florianópolis City Hall, the period in which slums areas had larger formation in the city was between years 1970 and years 1990. In this same time, there was the biggest flow of rural-urban migration. Therefore, a great part of the population of the informal city is constituted by migrant, composed by low income population that was excluded from the rural zone and then came to live in these spaces.

In Florianópolis, the low income population was installed mostly in areas of fragile environment and presenting risks, like hillsides, swamps and dunes, and the biggest concentration of informal seats of Florianópolis is located in the Morro da Cruz Hill. As research, 37% of the slums inhabitants in Florianópolis 37% reside in this central portion (INFOSOLO/UFSC, 2005).

The Serrinha Favela is situated in the east side of this hill, making boundary among two geographical and economic important districts for the city - Centro and Trindade. Moreover, the region is close to the Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as verified in Figure 2.

Figure 2 – Contextualization of Informal and Formal Serrinha.

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The Serrinha can be comprehended by two different parts: Formal and Informal. As the figure above, the Formal Serrinha is located at the margins of the University, while the Informal Serrinha occupies the superior portion of the hill.

This division allowed analyzing the Serrinha regarding its formal and informal part, as well as verifying the relations of the area with its surroundings. The results of this analysis will be exposed to follow according to three categories: Dynamics of space appropriation, Morphologic physical scenery and Social urban articulation.

3.1 Dynamics of space appropriation By the done analyses, it was possible to comprehend a dynamics of occupation and appropriation of Serrinha regarding its informal part. According to Lonardoni (2007), the informal occupation of the Serrinha initiated in decade of 80 and developed in an area of great valorization of land value. The implantation of the Federal University of Santa Catarina, UFSC, in decade of 1960, caused significant urban transformations and attracted private and public investments, what have stimulated the residential occupation in the near districts to the university, like is possible if verify in the figure of urban expansion presented below

Figure 3 –Formal e Informal occupancy expansion of Serrinha. Source: Adapted from Afonso, 2009.

As verify in figure 3, up to 1977, there was no occupation in the Informal Serrinha. Then, starting from 1994, is possible to verify a big growth in the occupation, so much in the formal part as in the informal, justified by the coming investments cited previously. The map of 2007 shows a great densification and the confirmation of an important population existence in this area.

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The current scenario was apprehended by the performance of exploratory visits, where was possible to verify that the relation between formal and informal parts is characterized by a dynamic transition of buildings typology, constructive techniques, occupation and space appropriation.

Figure 4 – transition of Formal e Informal parts. Source: Google Earth

As observed in Figure 4, the habitations in the formal part are characterized by being for more than one family, with elevated number of floors, isolated in the lot and surrounded by gates. In the informal part they modify to one family's shelters with at most 3 floors, conformed by different materials and typologies that announces the peculiar creativity of this population. Changeable and unstable shelters in constant transformation. For Jacques (2011), the informal cities own a construction that is built in daily basis, continually unfinished.

The biggest specificity of the Favelas space is in its urban fabric full of surprises (Jacques, 2011). The large asphalt streets of the formal city turn, in the informal city, to narrow ways without a pre established logic. These routes and alleys, besides enabling the access of each inhabitant to his or hers respective shelter, become extensions of the house environments and a conviviality space.

3.2 Morphologic physical scenery In this category it was intended to analyze the similarities or differentiations established between formal and informal city in the matter of relation with the site and landscape, dealing so much with morphologic aspects as visual connections.

Starting from an aerial analysis of the area, it is easy to notice the delimitation between formal and informal parts, due to disposition difference of the constructions and of the distinct lots' division, as can be seen in the map of full and voids (Figure 5). Also is noticed that the informal part presents its urban mesh much more irregular, while the formal owns a reticular ordination, being possible to identify easily in the emptiness of this map the road system location in the planned city. Moreover, it is possible to realize the strong densification occurred in the Favela, in opposition to the sparser constructions and of soil larger occupation in the formal part.

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Figure 5: map of full and voids in Serrinha and surroundings. Source: Authors elaboration.

Still concerning the constructions disposition in the soil, also is important to stress the different relations established with the site. About the hill occupation form, the maps' analysis showed that the informal part of the Serrinha occupies the highest portions and more accentuated slope areas, what confirms the fact exposed in the theoretical basement that the not planned city end up occupying inadequate areas for construction and remaining in the spill of the formal urban mesh.

The presence of the hill in the local dynamics also was realized during the exploratory visits, where this environmental characteristic influenced in the urbanistic experience in this place. The route inclination demands a larger physical effort by the pedestrians, what slows down the locomotion and can complicate people's movement, how were verified so much in the researchers' empiric experience as through reports in the interviews.

On the other hand, an aspect verified as positive concerning the location of the informal part was the visual potential that this provides to the location. Its position in elevated height allows one privileged view of the city, of the sea and of the surrounding nature, as can be verified in the Figure 6. However, the value for this aspect did not showed up in the performed interviews with the Serrinha's inhabitants.

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Figure 6: the landscape of the city of Florianópolis from the Serrinha Favela. Source: Authors collection.

Still regarding visual connections, it is important to also to highlight the view in the other way: from the formal city to the informal. As can be verified in the Figure 7, the Serrinha Favela is an outstanding occupation in the city landscape of Florianópolis, being an element of important visual presence to users of the Trindade district.

Figure 7: view of the visual relation with Serrinha from Trindade district. Source: Authors collection.

3.3 Social urban articulation It is not only by means of visual connections that are established relations between formal and informal Serrinha. The links are even close, and they end up conforming a kind of dependence between these two cities.

The inhabitants of the informal city depend on the equipments of the formal city. From the Map of Uses presented below (Figure 8), it is verified that the existing equipments in Serrinha are only small markets, bars, religious temples and an education assistance house. Other basic equipments are located only in the formal city, outside the Serrinha area. The nearest supermarket stay 1

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kilometer away, in the Trindade district. At the same distance there is the Hospital Universitário, the health unit of easier access for the community. For routine consultations, the inhabitants use the two health centers at the surrounding districts of Pantanal and Trindade - both centers with about 2Km of distance from the studied area. Serrinha also does not own schools and nurseries, what complicates children's mobility and the dynamic of working parents.

Figure 8: map of uses from the Serrinha area. Source: Authors elaboration.

From the map presented above, also is observed a great number of residential constructions. Thus, it is possible to suppose that the district is used as "bedroom district ". As there are no enough services and jobs for its population in this area, it is possible that the workers have their jobs in the formal city, doing a daily pendulum movement, in which the population dislocates for other districts during the day to work and to study, and return just at night, to sleep. Besides this observation from the Map of Uses, by the interviewees was also confirmed the dependence for education and inhabitants' work of the informal Serrinha, regarding formal. It believed, however, that there is also a dependence of the formal city regarding the informal part, because is there where resides great part of its workers.

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Besides this articulation, in the case of Serrinha, a government initiative made the construction of a big road that connects two important formal districts - Trindade district and Centro - what end up configuring a barrier in the informal city, like is observed in the Figure 9.

Figure 9: Transcaeira Road breaking the dynamics of Informal Serrinha. Source: Google Earth

From interviews, it was possible to notice that this way was not considered positive by the inhabitants. Besides only serving as a connection among two important sides of the formal city, Transcaeira just facilitated the passage of private vehicles and of a population that does not live in Serrinha. Thus, this construction did not brought qualification for the informal space, since there was no inclusion of new lines and stops for the collective transportation, adequate public rides or other more pertinent and priority investments to the Serrinha population.

4. FINAL CONSIDERATIONS It is believed that the study in Serrinha was important for being an area that presents an occupational plurality so much related to its formal as informal aspects. The analysis of these two spaces confluence showed how important is so much to preserve the dynamic identity of the informal city as much to carry the infrastructure of the formal city to qualify this way of living so particular.

In this process, it is believed that some particularities of the not planned city should be considered as basement for future projects in the area. In a way to conceive spaces of larger quality and identification by its inhabitants, it could be valued the creativity, adaptability and community's constructive cooperation in order to design a place that valorizes that dynamism that has the risk of being eliminated if it is just implement the same current constructive logic of the formal city.

Other point to be considered, especially when treating with Favelas of occupation in hills, is the visual connections established in the two ways. The Favela is already a striking element in the landscape and that, together with the view that its location allows, could be combined in order to create urban landmarks that encouraged inhabitants' physical connections between both cities.

The mobility matter presented itself as an important enhancer of articulation between both cities. However, it is necessary to consider that these connections are able to bring with its construction qualification for the spaces where are passing, turning these areas places of permanence and appropriation, and not just simple passage space and connection of adjacent urban areas.

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Finally, it is important to stress that the presented conclusions in this article are not guidelines to be implemented in general way in all Favelas. It is believed that working with a so particular way of living, it is important to characterize each situation individually, respecting its respective peculiarities, comprehending its own dynamics properties, and giving value to it.

5. REFERENCES AFONSO S, VALENTE C, DALMEDICO L and RUDOLPHO L, 2009 Análise de um fragmento de Encosta – Comunidade Serrinha – Florianópolis – SC. Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo

INFOSOLO/UFSC, 2005 Relatório parcial de pesquisa (julho de 2004 a maio de 2005) Mercados Informais de Solo Urbano nas cidades brasileiras e acesso dos pobres ao solo – Área Conurbada de Florianópolis – Etapa 1: Diagnósticos (Florianópolis)

JACQUES P B, 2011 Estética da ginga (Casa da Palavra, Rio de Janeiro)

LEFEBVRE H, 2001 O Direito à Cidade (Centauro, São Paulo)

LONARDONI F M, 2007. Aluguel, informalidade e pobreza - o acesso a moradia em Florianópolis. Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Arquitetura e Urbanismo (Florianópolis) 145p

SOUZA M L, 2007 ABC do desenvolvimento urbano 3rd edition (Bertrand Brasil, Rio de Janeiro)

VILLAÇA F, 2012 Reflexões sobre as cidades brasileiras (Studio Nobel, São Paulo)

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RESUMO ACEITO E APRESENTADO NO EVENTO “SPACES AND FLOWS: FOURTH INTERNACIONAL CONFERENCE ON URBAN AND EXTRAURBAN STUDIES - UNIVERSITY OF AMSTERDAM, THE NETHER-

LANDS”

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Relationship between the Formal and the Informal City: Case Study in a Brazilian FavelaBy: Larissa Miranda Heinisch, Adriana de Lima Sampaio, Mariana Morais Luiz, Prof. Adriana M. Rossetto

The Favelas are strong elements in the landscapes of brazilian cities. They have emerged as a response of socio-spatial segregation originated from rapid urban growth and planning mistaken, establishing a boundary between two current urban realities: the formal and the informal city. This study originated from a research conducted at the Federal University of Santa Catarina - located in the city of Florianópolis, southern Brazil - that through a case study aimed to understand the Favela in its contextual plurality and its respective connections with the formal city. To conduct this research was used a multimethod approach including interviews, literary analysis, exploration visits and map analysis.Through the study it was possible to highlight morphological differences between the "two cities" and also to point out elements that potentiate or reduce their relations in urban and, consequently, social terms.It is believed that understanding the particular dynamic of the Favela serves as basis to overcome physical and imaginary limits between formal and informal city, and that the articulation between these spaces create a favourable scenario to reflection and reinvention of the city itself.

Keywords: Favela, Informal, Relation, *Urban and Extraurban SpacesStream: Environments Presentation Type: 15 minute Paper Presentation in a Themed Session in English Paper: A paper has not yet been submitted.

Larissa Miranda HeinischStudent, Architecture and Urbanism, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSCFlorianópolis, Santa Catarina, Brazil

Graduation of Architecture and Urbanism in progress at the Universidade Federal de Santa Catarina. Recently has been accepted at the Science without Borders UK program and will be attending the course of Urban Regeneration and Planning at The University of Liverpool. It is also a member of Group PET Arquitetura/UFSC where has developed researches in the areas of open spaces, accessibility and urban design.

Adriana de Lima SampaioStudent, Architecture and Urbanism, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSCFlorianópolis, Santa Catarina, Brazil

Graduation of Architecture and Urbanism in progress at the Universidade Federal de Santa Catarina. From September 2th will attend the course Metropolitan Urban Planning at KTH (Kungliga Tekniska högskolan) - Royal Institute of Technology, as a scholarship from the brazilian program Science Without Borders. Furthermore, participates in the Group PET Arquitetura/UFSC where has developed researches in the fields of architectural heritage and urban design.

Mariana Morais LuizStudent, Architecture and Urbanism, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSCFlorianópolis, Santa Catarina, Brazil

Graduation of Architecture and Urbanism in progress at the Universidade Federal de Santa Catarina. In 2012, studied at Escuela Técnica Superior de Arquitectura, in Universidad de La Coruña, Spain, through an international academic exchange program. Member of Group PET Arquitetura/UFSC where has developed researches in the areas of universal design and environmental psychology, besides projects that consider the relationship between people, physical environment and cities.

Prof. Adriana M. RossettoProfessor, Architecture and Urbanism, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSCFlorianópolis, Santa Catarina, Brazil

Graduated in Architecture and Urbanism at the Federal University of Pelotas (1983), Masters in Civil Engineering from the Federal University of Santa Catarina (1998) and Ph.D. in Industrial Engineering in the area of concentration in Environmental Management, Federal University of Santa Catarina (2003). Currently is adjunct professor at the Federal University of Santa Catarina, in the Department of Architecture and Urbanism, working as a permanent teacher and sub-coordinator of the Master in Urban Planning, History and Architecture of the City. Has experience in Urban and Regional Planning, with emphasis on methods and techniques of Urban and Regional Planning, acting on the following topics: environmental management and sustainability, public policy and urban and regional development, sustainable tourism. Served as a consultant in the Interdisciplinary Committee CAPES and currently collaborates with the Area Committee of Environmental Sciences. Participates in various editorial boards of journals and as a consultant ad hod of development agencies, committees of scientific events and journals in the areas in which it studies.

Ref: F13P0252

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06/08/2013http://cgpublisher.com/conferences/272/proposals/252/index_html