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A TOTAL SUFICIÊNCIA DE CRISTO - files.3minutos.netfiles.3minutos.net/ebook/A-total-suficiencia-de-Cristo-C-H... · Advogado. Ele morreu na cruz por nós: Ele vive para nós assentado

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A TOTAL SUFICIÊNCIADE CRISTOC. H. Mackintosh

Traduzido de “The All-sufficiency ofChrist”

* * * * *

Primeira ParteA obra de Cristo como oúnico lugar de descanso

para a consciênciaA partir do momento em que a alma élevada a sentir a realidade de suacondição diante de Deus – aprofundidade de sua ruína, culpa e

miséria – sua completa e irremediávelruína, não poderá haver descanso atéque o Espírito Santo revele ao coraçãoum Cristo pleno e todo-suficiente. É estaa única solução possível, e o remédioperfeito de Deus, para nossa completaruína.Trata-se de uma verdade muito simples,mas da maior importância; e podemosdizer, com toda a segurança, que quantomais completa e profundamente o leitoraprender isso para si mesmo, melhorserá. O verdadeiro segredo da paz estáem se descer até o fundo de um euirremediavelmente culpado, arruinado esem esperanças, e aí encontrar um Cristotodo-suficiente como a provisão deDeus para nossa mais profunda

necessidade. Isto é verdadeiramentedescanso – um descanso que nunca podeser perturbado. Pode haver tristeza,pressão, conflito; pode existir umexercício de alma, e o fardo de se terque passar por múltiplas tentações, porsubidas e descidas e por toda sorte dedificuldade e tribulação; mas sentimo-nos persuadidos de que quando umaalma é verdadeiramente levada peloEspírito de Deus a enxergar o fim do seupróprio eu, e a descansar em um Cristopleno, ela encontra uma paz que nuncapoderá ser interrompida.O estado de incerteza em que vivemmuitos dos queridos do povo de Deus éo resultado de não terem recebido emseus corações um Cristo pleno, como a

provisão exata do próprio Deus paraeles. Não há dúvida de que esteresultado triste e doloroso pode sergerado com a ajuda de diversas causas,como uma mentalidade legalista, umaconsciência mórbida, um coração que seocupa consigo mesmo, um ensinoerrôneo, um anseio secreto pelas coisasdeste mundo, alguma reserva no coraçãoem se aceitar as reivindicações de Deus,de Cristo e da eternidade. Mas qualquerque possa ser a causa que estejaproduzindo isso, cremos que, na maioriados casos, se descobrirá que a falta deuma paz bem alicerçada, um problematão comum entre o povo do Senhor, é oresultado de não se enxergar, de não secrer, naquilo que Deus fez o Seu Cristo

ser para eles e por eles, e isso para todoo sempre.Assim, o que propomos neste artigo émostrar ao leitor ansioso, buscando naspreciosas páginas da Palavra de Deus,que em Cristo se encontra entesouradopara ele tudo o que possa vir anecessitar, seja para atender àsnecessidades de sua própriaconsciência, aos ardentes desejos de seucoração, ou às exigências de seucaminho. Buscaremos provar, pela graçade Deus, que a obra de Cristo é o únicolugar de repouso verdadeiro para aconsciência; que Sua Pessoa é o únicoobjeto para o coração; e que SuaPalavra é o único guia verdadeiro parao caminho.

E para começar, vamos nos deter umpouco na obra de Cristo como o únicolugar de descanso para a consciência.Ao considerarmos este importanteassunto, há duas coisas que exigemnossa atenção: primeiro, o que Cristofez por nós; segundo, o que Ele estáfazendo para nós. Na primeira, temos aexpiação; na última, a intercessão comoAdvogado. Ele morreu na cruz por nós:Ele vive para nós assentado no trono.Por Sua preciosa morte expiatória Elesupriu plenamente tudo o que diziarespeito à nossa condição comopecadores. Ele carregou nossospecados, e os levou para todo o sempre.Ele levou a culpa por todos os nossospecados – os pecados de todos os que

creem no Seu nome. Jeová lançou sobreEle todas as nossas iniquidades (Isaías53). “Porque também Cristo padeceuuma vez pelos pecados, o Justo pelosinjustos, para levar-nos a Deus” (1Pedro 3.18).Esta é uma verdade imensa, e de totalimportância para a alma ansiosa – umaverdade que se assenta no próprioalicerce de toda a posição cristã. Éimpossível que qualquer almadespertada, que qualquer consciênciaespiritualmente esclarecida, possadesfrutar da paz divinamenteestabelecida até que esta tão preciosaverdade seja recebida em simplicidadede fé. Devo saber, com base naautoridade divina, que todos os meus

pecados foram tirados da vista de Deuspara sempre; que Ele próprio Se desfezdeles de um modo que viesse asatisfazer todas as exigências do Seutrono e todos os atributos da Suanatureza; que Ele glorificou a Si própriopor lançar fora os meus pecados, e istonuma maneira muito mais tremenda emaravilhosa do que se tivesse memandado para um inferno eterno porcausa deles.Sim, foi Ele mesmo Quem o fez. É esta aessência e o cerne – o âmago de toda aquestão. Deus colocou os nossospecados sobre Jesus, e Ele nos diz istoem Sua santa Palavra, a fim depodermos saber disso com base naautoridade divina – uma autoridade que

não pode mentir. Deus planejou assim;Deus fez assim; e assim Deus o diz.Tudo vem de Deus, do princípio ao fim,e nós tão somente temos que descansarnisso como uma criança. Como sei queJesus levou meus pecados em seupróprio corpo sobre o madeiro? Pelamesma autoridade que me diz que eutinha pecados para serem levados. Deus,em Seu maravilhoso e inigualável amor,me assegura, a mim, um pobre e culpadopecador, merecedor do inferno, que Elepróprio cuidou da questão toda dosmeus pecados, e Se livrou deles de ummodo tal que veio a trazer uma ricacolheita de glória para o Seu eternoNome, por todo o universo, na presençade toda a inteligência criada.

É nisto que a fé viva deve tranquilizar aconsciência. Se Deus satisfez a Sipróprio com a solução para os meuspecados, devo ficar igualmentesatisfeito. Sei que sou um pecador –pode até ser que seja o principal dospecadores. Sei que meus pecados sãoem maior número do que os cabelos daminha cabeça; que são negros como ameia-noite – negros como o próprioinferno. Sei que qualquer um dessespecados, o menos importante deles,merece as chamas eternas do inferno.Sei – porque a Palavra de Deus me diz –que uma simples partícula de pecadonão pode jamais entrar em Sua santapresença; e que, por conseguinte, nãohavia para mim outro destino senão a

eterna separação de Deus. Tudo isso eusei, com base na clara e inquestionávelautoridade daquela Palavra que estápara sempre firmada no céu.Mas, oh, o profundo mistério da cruz! –o glorioso mistério do amor redentor!Vejo o próprio Deus levando todos osmeus pecados – pecados da pior espécie– todos os meus pecados, do modo comoEle os viu e avaliou. Eu O vejocolocando-os todos sobre a cabeça demeu bendito Substituto, e tratando comEle ali por causa dos pecados. Vejotodas as ondas e vagas da justa ira deDeus – Sua ira contra os meus pecados –Sua ira que deveria ter queimado a mim,alma e corpo, no inferno, por toda umaterrível eternidade; eu as vejo rolando

sobre o Homem que ficou em meu lugar,que me representou diante de Deus, quesuportou tudo o que eu merecia, comQuem um Deus santo tratou como setivesse tratado comigo. Vejo aimparcialidade de um Juiz, a santidade,verdade e justiça tratando com meuspecados, e livrando-se deleseternamente. Não deixando escaparnenhum deles por tratar! Semconivência, sem paliativos, semdistinção, sem indiferença. Coisas comoestas não poderiam mesmo se fazerpresentes já que o próprio Deus tomou ocaso em Suas mãos. Sua glória estavaem jogo; Sua imaculada santidade, Suaeterna majestade, as sublimesreivindicações de Seu governo.

Tudo isso tinha que ser satisfeito numamedida tal que O glorificasse diante deanjos, homens e demônios. Ele podia terme mandado para o inferno – comjustiça; podia justamente me mandarpara o inferno – por causa dos meuspecados. Eu não merecia nada mais doque isto. Todo o meu ser moral, desde omais profundo, merecia isto – e deveriarecebê-lo. Não tenho uma palavrasequer a dizer como desculpa para umsimples pensamento pecaminoso, issopara não falar de uma vida manchadapelo pecado, do princípio ao fim – sim,uma vida de rebelião e de arrogante edeliberado pecado.Outros podem argumentar comoquiserem acerca da injustiça de uma

eternidade de punição para uma vida depecado – a completa falta de proporçãoque há entre alguns anos de práticas máse infindáveis eras de tormento no lagode fogo. Podem argumentar, mas creioplenamente, e confesso sem reservas,que por um simples pecado contra umSer tal como é o Deus que vejo na cruz,eu mais que merecia a punição eterna noprofundo, escuro e sombrio abismo doinferno.Não estou escrevendo como um teólogo;se fosse um, seria realmente uma tarefabem simples adornar isto com umainegável lista de evidências dasEscrituras a fim de provar a soleneverdade da punição eterna. Mas não;estou escrevendo como alguém que foi

divinamente instruído do verdadeirodeserto que é o pecado, e este desertoeu, calma, deliberada e solenementedeclaro, é, e só pode ser nada menos doque a eterna exclusão da presença deDeus e do Cordeiro – tormento eterno nolago que arde com fogo e enxofre.Porém – e eternas aleluias sejam aoDeus de toda a graça! – ao invés de nosmandar para o inferno por causa denossos pecados, Ele enviou o Seu Filhopara ser a propiciação por essesmesmos pecados. E no desdobramentodo maravilhoso plano da redenção,vemos um Deus santo tratando com aquestão dos nossos pecados, eexecutando juízo sobre eles na Pessoade Seu tão amado, eterno e co-igual

Filho, a fim de que o pleno manancial doSeu amor pudesse fluir em nossoscorações. “Nisto está o amor, não emque nós tenhamos amado a Deus, masem que Ele nos amou a nós, e enviouSeu Filho para propiciação pelosnossos pecados” (1 João 4.10).Portanto, isto deve trazer paz àconsciência, se tão somente for recebidocom simplicidade de fé. Como épossível que uma pessoa creia que Deussatisfez a Si mesmo quanto aos pecadosdela, e ao mesmo tempo ela própria nãoter paz? Se Deus nos diz: “Nunca maisMe lembrarei dos seus pecados”(Jeremias 31.34), o que maispoderíamos desejar como fundamento depaz para nossa consciência? Se Deus me

assegura que todos os meus pecadosestão invisíveis como que em densonevoeiro – que foram lançados para trásde Si – tendo saído para sempre dediante de Seus olhos, por que é que eunão teria paz? Se Ele me mostra oHomem que carregou meus pecadossobre a cruz, agora coroado à destra daMajestade nas alturas, porventura minhaalma não deveria entrar no perfeitodescanso no que diz respeito à questãode meus pecados? Com toda a certeza.Pois, permita-me perguntar, como foique Cristo chegou ao lugar que Eleagora ocupa no trono de Deus? Será quefoi como Deus sobre tudo, bendito parasempre? Não; Ele sempre o foi – sempreesteve no seio do Pai – sempre foi o

objeto do prazer eterno e inefável doPai. Será que foi como um Homemperfeito, santo e sem mancha alguma –alguém cuja natureza seriaabsolutamente pura, perfeitamente livrede pecado? Não; pois nesse caráter, enessa posição, Ele poderia ter, aqualquer momento, da manjedoura àcruz, exigido um lugar à destra de Deus.Como foi então? Eterno louvor seja aoDeus de toda a graça! Foi como Aqueleque, por Sua morte, cumpriu a gloriosaobra da redenção – Aquele que foicarregado com todo o peso dos nossospecados – Aquele que satisfezperfeitamente todas as justasreivindicações daquele trono no qualEle agora Se assenta.

Este é um ponto de cardeal importânciapara o leitor angustiado se agarrar. Enão falhará em emancipar o coração etranquilizar a consciência. Não épossível que tenhamos, por fé, o Homemque foi pregado no madeiro, e está agoracoroado no trono, e não tenhamos pazcom Deus. Após o Senhor Jesus Cristoter tomado sobre Si os nossos pecados,e o juízo que a eles era devido, Ele nãopoderia estar onde agora está se um sódaqueles pecados tivesse ficado porexpiar. Ver Aquele que carregou ospecados coroado de glória é ver nossospecados tirados para sempre de dianteda divina presença. Onde estão nossospecados? Estão todos apagados. Comosabemos disso? Aquele que os levou

sobre Si atravessou os céus e chegou aomais alto pináculo de glória. A justiçaeterna coroou Sua bendita cabeça comum diadema de glória, como oConsumador de nossa redenção – oCarregador de nossos pecados;provando assim, acima de qualquerdúvida, ou acima de qualquerpossibilidade de se questionar, quenossos pecados foram todos tirados davista de Deus para sempre. Um Cristocoroado e uma consciência limpa estão,na bendita dispensação da graça,inseparavelmente ligados. Tremendofato! Bem podemos cantar, com todas asnossas forças remidas, os louvores doamor redentor.Mas vejamos como esta verdade tão

consoladora nos é apresentada nasSagradas Escrituras. Em Romanos 3lemos: “Mas agora se manifestou sema lei a justiça de Deus, tendo otestemunho da lei e dos profetas; isto é,a justiça de Deus pela fé em JesusCristo para todos e sobre todos os quecreem; porque não há diferença.Porque todos pecaram e destituídosestão da glória de Deus; sendojustificados gratuitamente pela Suagraça, pela redenção que há em CristoJesus, ao qual Deus propôs parapropiciação pela fé no Seu sangue,para demonstrar a Sua justiça pelaremissão dos pecados dantescometidos, sob a paciência de Deus;para demonstração da Sua justiça

neste tempo presente, para que Ele sejaJusto e justificador daquele que tem féem Jesus” (Romanos 3.21-26).Outra vez, no capítulo 4, falando da féde Abraão lhe sendo imputada comojustiça, o apóstolo acrescenta, “Ora, nãosó por causa dele está escrito, que lhefosse tomado em conta, mas também pornós, a quem será tomado em conta, osque cremos naquele que dentre osmortos ressuscitou a Jesus nossoSenhor; O qual por nossos pecados foientregue, e ressuscitou para nossajustificação” (Romanos 4.23-25).Temos Deus aqui apresentado à nossaalma como Aquele que ressuscitou deentre os mortos ao Carregador de nossospecados. E por que o fez? Porque

Aquele que foi entregue por causa dasnossas ofensas O havia glorificadoperfeitamente no que dizia respeitoàquelas ofensas, e as havia levado parasempre. Deus não apenas enviou o SeuFilho Unigênito ao mundo, mas moeu-Opor causa das nossas iniquidades, eressuscitou-O de entre os mortos, a fimde que pudéssemos saber e crer quenossas iniquidades foram todas tratadasde uma maneira que glorificou a Deus,infinita e eternamente. Ao Seu nome sejadada eterna e universal honra!Mas temos um testemunho ainda maisextenso desta grande verdadefundamental. Em Hebreus 1 lemospalavras que mexem com nossa alma,como estas: “Havendo Deus

antigamente falado muitas vezes, e demuitas maneiras, aos pais, pelosprofetas, a nós falou-nos nestes últimosdias pelo Filho, a Quem constituiuherdeiro de tudo, por Quem fez tambémo mundo. O qual, sendo o resplendorda Sua glória, e a expressa imagem daSua Pessoa, e sustentando todas ascoisas pela palavra do Seu poder,havendo feito por Si mesmo apurificação dos nossos pecados,assentou-Se à destra da Majestade nasalturas” (Hebreus 1.1-3). Nosso SenhorJesus Cristo – bendito seja o Seu nome!– não tomaria o Seu lugar no trono deDeus até que tivesse, pela oferta de Simesmo na cruz, purificado nossospecados. Portanto, um Cristo ressurreto

à destra de Deus é uma prova gloriosa einquestionável de que nossos pecadostodos já se foram, pois Ele não poderiaestar onde agora está, se restasse um sódaqueles pecados. Deus ressuscitou deentre os mortos, Aquele mesmíssimoHomem sobre o qual Ele mesmo haviaposto todo o peso dos nossos pecados.Portanto, tudo está resolvido – divina eeternamente resolvido. É tão impossívelque um só pecado possa ser achado nomais fraco crente em Jesus, quanto nopróprio Jesus. Isto é algo extraordináriode se afirmar, mas trata-se da sólidaverdade de Deus, estabelecida emdiversos lugares das SagradasEscrituras, e a alma que crê nisto devepossuir uma paz que o mundo não pode

dar e nem tirar.* * * * *

Segunda ParteA completa libertação do

atual poder do pecadoAté aqui temos nos ocupado com aqueleaspecto da obra de Cristo que trata daquestão do perdão dos pecados, ecremos sinceramente que o leitor deveestar já bem esclarecido e firmado nesteimportante ponto. Certamente é seu felizprivilégio estar assim, se tão somentereceber o que Deus afirma em SuaPalavra. “Porque também Cristopadeceu uma vez pelos pecados, oJusto pelos injustos, para levar-nos a

Deus” (1 Pedro 3.18).Se, portanto, Cristo sofreu por nossospecados, acaso não deveríamosconhecer a profunda bênção que éestarmos eternamente libertos do fardodesses pecados? Poderia, porventura,estar de acordo com a vontade e com ocoração de Deus que alguém por quemCristo sofreu devesse continuar emperpétua escravidão, preso e ligado coma corrente de seus pecados, e clamando,semana após semana, mês após mês, eano após ano, que o fardo de seuspecados é intolerável?Se uma condição assim for verdadeira eapropriada para o cristão, então o quefoi que Cristo fez por nós? Seriapossível que Cristo tivesse levado

nossos pecados e ainda estivéssemosatados e presos pelas correntes deles?Será verdade que Ele tenha carregado opesado fardo de nossos pecados e aindaassim tenhamos ficado agora esmagadossob esse mesmo peso intolerável?Alguém poderia querer nos persuadir deque não é possível sabermos que nossospecados estão perdoados – que devemosseguir até o fim de nossa vida em umestado de completa incerteza sobre esteassunto de importância tão vital. Se forassim, o que dizer do preciosoevangelho da graça de Deus – das boasnovas de salvação? Do ponto de vista deum ensino tão miserável, que significadoteriam aquelas ardorosas palavras dobendito apóstolo Paulo na sinagoga de

Antioquia? – “Seja-vos, pois, notório,homens irmãos, que por Este se vosanuncia a remissão dos pecados. E detudo o que, pela lei de Moisés, nãopudestes ser justificados, por Ele éjustificado todo aquele que crê” (Atos13.38,39).Se estivéssemos fundamentados na leide Moisés, em nossa observância dosmandamentos, em nosso cumprimento dodever, em nosso sentimento em comodeveríamos agir, em nossa avaliação deCristo e em nosso amor por Deus, oraciocínio lógico seria que certamenteestaríamos em dúvidas e obscuraincerteza, visto que não poderíamos ternenhuma base possível de certeza. Se anós coubesse fazer algo, ainda que fosse

o movimento de uma pálpebra, então,verdadeiramente, seria uma enormepresunção de nossa parte pensar em tercerteza.Mas se, por outro lado, escutamos a vozdo Deus vivo, que não pode mentir,proclamando em nossos ouvidos as boasnovas de que por intermédio de Seuamado Filho, que morreu na cruz, foisepultado, ressuscitou de entre osmortos, e está assentado na glória – quepor meio dele somente – por meio dele,sem qualquer coisa vinda de nós – pormeio da única oferta de Si mesmo deuma vez para sempre, é pregada acompleta e eterna remissão dos pecados,como uma realidade presente, para serdesfrutada agora por cada alma que

simplesmente crê no precioso registrode Deus, como poderia ser possívelpara quem quer que fosse continuar emdúvida e incerteza? A obra de Cristo foiconsumada? Ele disse que sim. O quefoi que Ele fez? Ele levou os nossospecados. Terão eles sido, então,levados, ou estarão ainda sobre nós? –quais deles?Leitor, diga-me quais deles! Onde estãoos seus pecados? Estão eles invisíveiscomo em denso nevoeiro, ou estãoainda, como um grande peso de culpa,em todo o seu poder condenador,colocados sobre a sua consciência? Seeles não foram levados pela morteexpiatória de Cristo, jamais serãolevados; se Ele não os levou sobre a

cruz, você terá que levá-los nasatormentadoras chamas do inferno, parasempre, e sempre, e sempre. Sim; fiqueciente disto, pois não há outro modo dese livrar dessa grande e solene questão.Se Cristo não resolveu o assunto nacruz, você deve resolvê-lo no inferno.Assim deve ser, se a Palavra de Deusfor verdade.Mas, glória seja dada a Deus, otestemunho que Ele dá nos assegura queCristo já sofreu pelos pecados, o Justopelo injusto, para levar-nos a Deus; nãomeramente levar-nos para o céu quandomorrermos, mas levar-nos a Deusagora. E como é que Ele nos leva aDeus agora? Acaso é estando nós presose ligados com a corrente de nossos

pecados? Com um intolerável peso deculpa sobre nossa alma? Não, de modoalgum. Ele nos leva para Deus semmancha ou mácula ou qualquer acusaçãoque seja. Ele nos leva a Deus em toda aSua própria aceitabilidade. Acaso háqualquer culpa sobre Ele? Não. Havia,bendito seja o Seu nome, quando Elepermaneceu em nosso lugar, mas ela jáse foi – para sempre – lançada como umpeso de chumbo nas insondáveis águasdo divino esquecimento. Ele foicarregado com nossos pecados sobre acruz. Deus colocou sobre Ele todas asnossas iniquidades, e tratou com Ele alipor causa delas. A questão toda denossos pecados, conforme a estimativaque Deus tinha disso, foi abordada em

sua totalidade e de modo definitivo, poisfoi divinamente abordada, resolvidaentre Deus e Cristo, em meio àshorrendas trevas do Calvário. Sim, tudofoi resolvido ali, de uma vez parasempre.Como sabemos disso? Pela autoridadedo único Deus verdadeiro. Sua Palavranos assegura que temos redenção porintermédio do sangue de Cristo, aremissão dos pecados, em conformidadecom as riquezas da Sua graça. Ele nosdeclara, em notas da mais doce, rica eprofunda misericórdia, que de nossospecados e iniquidades nunca mais Selembrará. Será que isto não é suficiente?Será que devíamos continuar clamandoque estamos presos e ligados com a

corrente de nossos pecados? Será quedevíamos manchar assim a obra perfeitade Cristo? Será que devíamos tornaropaco o brilho da graça divina, e tomarcomo mentira o testemunho do EspíritoSanto nas Escrituras da Verdade? Longede nós tal pensamento! De modonenhum. Ao invés disso, saudemos comações de graças o bendito benefício quetão graciosamente nos foi outorgadopelo amor divino, através do preciososangue de Cristo.O gozo do coração de Deus está emperdoar nossos pecados. Sim, Deusagrada-Se em perdoar a iniquidade e atransgressão. É algo gratificante paraEle, e que O glorifica, derramar dentrodo coração quebrantado e contrito o

precioso bálsamo de Sua misericórdia eSeu amor perdoador. Ele não poupouSeu próprio Filho, mas O entregou, e Omoeu no madeiro maldito, a fim depoder deixar fluir, em perfeita justiça, orico manancial de graça que brota doSeu imenso e bondoso coração, emdireção ao pobre, culpado, arruinadopecador, esmagado sob o peso de suaconsciência.Mas se o leitor ainda assim se sentissedisposto a inquirir acerca de como podeobter a certeza de que essa benditaremissão dos pecados – deste fruto daobra expiatória de Cristo – aplica-se aele, que escute estas magnificentespalavras que saíram dos lábios doSalvador ressuscitado quando

comissionava os primeiros arautos deSua graça: “E disse-lhes: Assim estáescrito, e assim convinha que o Cristopadecesse, e ao terceiro diaressuscitasse dentre os mortos, e emSeu nome se pregasse oarrependimento e a remissão dospecados, em todas as nações,começando por Jerusalém” (Lucas24.46,47).Temos aqui a grande e gloriosacomissão – sua base, sua autoridade, suaesfera. Cristo sofreu. É esta a basemeritória da remissão dos pecados. Semderramamento de sangue não háremissão de pecados; mas peloderramamento de sangue, e peloderramamento de sangue somente, há

remissão de pecados – uma remissão tãoplena e completa quanto o preciososangue de Cristo é capaz de efetuar.Mas onde está a autoridade? “Estáescrito.” Bendita e indisputávelautoridade! Nada jamais a poderáabalar. Sei, com base na autoridadesólida da Palavra de Deus, que meuspecados foram todos perdoados, todostirados de vista, todos levados parasempre, todos lançados para trás deDeus, de modo que nunca, em hipótesealguma, poderão levantar-se outra vezcontra mim.Finalmente, quanto ao que diz respeito àesfera. É para “todas as nações”. Isto,sem dúvida, inclui também a mim. Não

há nenhum tipo de exceção, condição ouqualificação. As benditas boas novasdeveriam ser levadas, sobre as asas doamor, a todas as nações – a todo omundo – a toda criatura sob o céu. Comopoderia eu excluir a mim mesmo de umacomissão de tão amplo alcance? Seráque por algum momento duvidaria deque os raios do sol que Deus criousejam para mim? Certamente que não. Epor que iria eu questionar o preciosofato de que a remissão dos pecados épara mim? Nem por um instante sequer.É para mim tão certo como se eu fosse oúnico pecador sob a abóbada celeste deDeus. A universalidade disso impedequalquer dúvida quanto a ser ou nãodesignada para mim.

E certamente, se precisamos ainda demais encorajamento, encontraremos nofato de que os benditos embaixadoresdeviam começar a partir de Jerusalém –o lugar mais culpado sobre a face daTerra. Deviam oferecer a primeiraoferta de perdão aos próprios homicidasdo Filho de Deus. E é isto o que oapóstolo Pedro faz naquelas palavras detão maravilhosa e transcendente graça:“Primeiro O enviou a vós, para quenisso vos abençoasse, no apartar, acada um de vós, das vossas maldades”(Atos 3.26).Não é possível conceber algo mais ricoou abundante ou magnificente do queisto. A graça que poderia alcançar oshomicidas do Filho de Deus pode

alcançar qualquer um: o sangue quepoderia limpar a culpa de um crimeassim pode limpar o mais vil pecadorfora dos limites do inferno.Será que você pode ainda hesitar quantoao perdão de seus pecados? Cristosofreu pelos pecados. Deus prega aremissão dos pecados. Ele garante istoem Sua própria Palavra. “A Este dãotestemunho todos os profetas, de quetodos os que nele creem receberão operdão dos pecados pelo Seu nome”(Atos 10.43). O que mais você poderiater? Como é que pode continuarduvidando; como é que pode continuaresperando? E o que está esperando?Você já tem a obra consumada de Cristoe a fiel Palavra de Deus. Isto, com toda

certeza, deveria satisfazer seu coração etranquilizar sua consciência. Permita-nos, então, insistir para que aceite aplena e eterna remissão de todos os seuspecados. Receba em seu coração asdoces novas de divino amor emisericórdia, e siga seu caminhojubiloso. Escute a voz de um Salvadorressurreto, falando do trono daMajestade nas alturas, e assegurando avocê que seus pecados estão todosperdoados. Deixe que astranquilizadoras palavras, saídas daprópria boca de Deus, penetrem, comseu emancipador poder, em seu espíritoatribulado: “Nunca mais Me lembrareidos seus pecados” (Jeremias 31.34). SeDeus me fala assim, se Ele me assegura

que não Se lembrará mais de meuspecados, não deveria eu estar plena eeternamente satisfeito? Por que deveriaseguir adiante duvidando equestionando, quando Deus já falou? Oque mais pode dar certeza, se não aPalavra de Deus que é viva e permanecepara sempre? Ela é a única base decerteza; e nenhum poder na Terra ou noinferno – humano ou diabólico – podejamais abalá-la. A obra consumada deCristo e a fiel Palavra de Deus são abase e a autoridade do pleno perdão depecados.Mas, bendito para sempre seja o Deusde toda a graça, não é apenas a remissãode pecados que nos é anunciada atravésda morte expiatória de Cristo. Só isto já

seria um benefício e uma bênção damais elevada ordem; e, como já vimos,desfrutamos disso em conformidade coma amplitude do coração de Deus, e emconformidade com o valor e a eficáciada morte de Cristo, na estima que Deustem dela. Mas além da plena e perfeitaremissão de pecados, temos tambémcompleta libertação do presente poderdo pecado. Este é um grande assuntopara todo verdadeiro amante desantidade. Em conformidade com agloriosa dispensação da graça, a mesmaobra que assegura a completa remissãodos pecados rompeu para sempre opoder do pecado. Não se trata apenas deterem sido apagados os pecados davida, mas o pecado da natureza está

condenado. O crente tem o privilégio deconsiderar-se como morto para opecado. Ele pode cantar, com umcoração grato,Por mim, oh, Senhor, aqui já morreste,E eu bem o sei, que em Ti morri assim;

Bem vivo estás, a morte venceste,Agora Senhor Tu vives sempre em mim.

A face do Pai, de graça a irradiar,Já brilha pra mim, a me iluminar.

Esta é a aspiração apropriada a umcristão. “Já estou crucificado comCristo; e vivo, não mais eu, mas Cristovive em mim” (Gálatas 2.20). Isto écristianismo. O velho “eu” crucificado,e Cristo vivendo em mim. O cristão é

uma nova criação. As coisas velhas jápassaram. A morte de Cristo encerroupara sempre a história do velho “eu”; e,portanto, embora o pecado habite aindano crente, seu poder está rompido eeliminado para sempre. Não somente aculpa que ele levava está cancelada,mas seu terrível domínio foi totalmentedestruído.É esta a gloriosa doutrina dos capítulos6 ao 8 de Romanos. O estudante atentodesta tão magnificente epístola iráobservar que a partir do capítulo 3.21,até o capítulo 5.11 temos a obra deCristo aplicada à questão dos pecados;e do capítulo 5.12 até o final do capítulo8 temos outro aspecto da obra de Cristo,ou seja, sua aplicação à questão do

pecado – “nosso homem velho” – “ocorpo do pecado” – “pecado nacarne”. Não há, nas Escrituras, algocomo perdão de pecado. Deuscondenou o pecado; Deus não operdoou – uma distinção que éimensamente importante. Deusdemonstrou Sua eterna aversão aopecado na cruz de Cristo. Ele expressoue executou Seu juízo sobre o pecado, eagora o crente pode se enxergar comoligado e identificado com Aquele quemorreu na cruz e que está ressurretodentre os mortos. Ele saiu da esfera dodomínio do pecado e entrou naquelaesfera nova e bendita onde a graça reinapela justiça.“Mas graças a Deus”, diz o apóstolo,

“que, tendo sido servos do pecado(antes, mas não mais agora),obedecestes de coração à forma dedoutrina a que fostes entregues. E,libertados do pecado, (não meramentetendo os pecados perdoados), fostesfeitos servos da justiça. Falo comohomem, pela fraqueza da vossa carne;pois que, assim como apresentastes osvossos membros para servirem àimundícia, e à maldade para maldade,assim apresentai agora os vossosmembros para servirem à justiça parasantificação. Porque, quando éreisservos do pecado, estáveis livres dajustiça. E que fruto tínheis então dascoisas de que agora vos envergonhais?Porque o fim delas é a morte. Mas

agora, libertados do pecado, e feitosservos de Deus, tendes o vosso frutopara santificação, e por fim a vidaeterna” (Romanos 6.17-22).Aqui está o precioso segredo de umavida santa. Estamos mortos para opecado; vivos para Deus. O reino dopecado terminou. O que é que o pecadotem a ver com um homem morto? Nada.Bem, então, o crente morreu com Cristo;está sepultado com Cristo; estáressuscitado com Cristo, para andar emnovidade de vida. Ele vive sob oprecioso reino da graça, e tem seu frutopara santidade. O homem que faz uso daabundante graça divina como desculpapara viver em pecado nega o própriofundamento do cristianismo. “Nós, que

estamos mortos para o pecado, comoviveremos ainda nele?” (Romanos 6.2).Impossível. Seria uma negação de toda aposição cristã. Imaginar o cristão comoalguém que deve seguir, dia após dia,semana após semana, mês após mês, eano após ano, pecando e arrependendo-se, pecando e arrependendo-se, édegradar o cristianismo e falsificar aposição cristã como um todo. Dizer queum cristão deve seguir pecando porqueele tem a carne em si é ignorar a mortede Cristo em um de seus grandesaspectos, e reputar como mentira todo oensino dos apóstolos em Romanoscapítulos 6 a 8.Graças a Deus, não existe razão por queo crente deva cometer pecado. “Meus

filhinhos, estas coisas vos escrevo,para que não pequeis” (1 João 2.1).Não deveríamos nos justificar nemmesmo no mais simples pensamentopecaminoso. Trata-se de nosso doceprivilégio andar na luz, como Deus estána luz; e com toda a certeza, quandoestamos andando na luz, não estamoscometendo pecado. Oh! Saímos da luz ecometemos pecado; mas a ideia normal,verdadeira e divina de um cristão é a dealguém andando na luz, e não cometendopecado. Um pensamento pecaminoso éestranho ao verdadeiro caráter docristianismo. Temos pecado em nós, edevemos continuar tendo enquantoestivermos no corpo; mas se andamos noEspírito, o pecado em nossa natureza

não irá se manifestar na vida. Dizer quenão precisamos pecar é a afirmação deum privilégio cristão; dizer que nãopodemos pecar é um engano e ilusão.

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Terceira ParteO presente ofício de Cristo

por nósDaquilo com que já nos ocupamos,aprendemos que o grande resultado daobra de Cristo no passado é o de nosconceder uma posição divinamenteperfeita diante de Deus. “Porque comuma só oblação aperfeiçoou parasempre os que são santificados”(Hebreus 10.14). Ele nos introduziu na

Divina Presença, em toda a Sua perfeitaaceitabilidade, na credibilidade evirtude do Seu nome, Sua Pessoa e Suaobra; de modo que, como declara oapóstolo João, “qual Ele é, somos nóstambém neste mundo” (1 João 4.17).Tal é a firme posição da mais débilovelha de todo o rebanho de Cristo,comprado com Seu sangue. E nempoderia ser diferente. Ou é isso, ou éeterna perdição. Não há espaço nempara um fio de cabelo, entre estaposição de absoluta perfeição diante deDeus, e uma condição de culpa e ruína.Ou estamos em nossos pecados, ou emum Cristo ressurreto. Não há meiotermo. Ou estamos cobertos de culpa oucompletos em Cristo. Mas o crente é

declarado, pela autoridade que tem avoz do Espírito Santo nas Escrituras,como alguém que está completo emCristo – perfeito, quanto à suaconsciência – aperfeiçoadoperpetuamente – limpo de todamancha – agradável no Amado – feitojustiça de Deus em Cristo.Tudo isso por intermédio do sacrifícioda cruz. Aquela preciosa morteexpiatória de Cristo forma o fundamentosólido e irrefutável da posição cristã.“Mas Este, havendo oferecido parasempre um único sacrifício pelospecados, está assentado à destra deDeus” (Hebreus 10.12). Um Cristoassentado é a gloriosa prova e a perfeita

definição do lugar do crente na presençade Deus. Nosso Senhor Jesus Cristo,havendo glorificado a Deus acerca denossos pecados, e tendo suportado Seujuízo contra tudo aquilo que a nossacondição como pecadores exigia,havendo oferecido um único sacrifíciopelos pecados, assentou-Se para sempreem um lugar que não é só de perdão,aceitação e paz, mas de total libertaçãodo domínio do pecado – um lugar devitória assegurada sobre tudo o quepossivelmente poderia ser contra nós,seja o pecado que habita em nós, o medode Satanás, a lei ou este presente mundomau.Esta é, repetimos, a posiçãoabsolutamente firme que o crente ocupa,

se é que nos sujeitamos a aprender dasSagradas Escrituras. E rogamosinsistentemente para que o leitor cristãonão se satisfaça com nada menos do queisto. Não continue a aceitar os confusoscredos da cristandade, com seusserviços litúrgicos, os quais apenaslevam as almas de volta às trevas, àdistância de Deus e ao jugo do judaísmo– esse sistema no qual Deus encontroufalta, e que aboliu para sempre por nãoestar em conformidade com Sua santavontade, ou por não satisfazer Seubondoso coração que concede aoadorador perfeita paz, perfeitaliberdade, perfeita proximidadeConsigo, para todo o sempre.Nós solenemente nos dirigimos a todo o

povo do Senhor, espalhado pelos váriossegmentos da Igreja professa, para queconsiderem onde se encontram, e paraque analisem até onde estãocompreendendo e desfrutando daverdadeira posição cristã, conforme nosé apresentada nas diversas passagensdas Escrituras que já citamos, as quaispodem ser ainda facilmentemultiplicadas uma centena de vezes.Comparem, fiel e diligentemente, oensino da cristandade com a Palavra deDeus, e vejam o quanto se distanciam.Fazendo assim, descobrirão de quemodo o cristianismo professo de nossosdias forma um contraste com osensinamentos vivos do NovoTestamento; e uma das consequências é

que as almas são privadas dos preciososprivilégios que a elas pertencem comocristãs, e são mantidas naquela distânciamoral que caracterizou a economiamosaica.Tudo isso é por demais deplorável.Entristece o Espírito Santo, fere ocoração de Cristo, desonra a graça deDeus, e contradiz as mais clarasafirmações das Sagradas Escrituras.Estamos por demais persuadidos de quea condição de milhares de almaspreciosas neste exato momento ésuficiente para fazer sangrar o coração;e tudo isso se deve, em grande parte, aosensinos da cristandade com seus credose fórmulas. Onde é que você iráencontrar, em meio às fileiras comuns à

profissão cristã, uma pessoa desfrutandode uma consciência perfeitamentepurificada; uma consciência de paz comDeus, produzida pelo Espírito deadoção? Acaso não é verdade que aspessoas são ensinadas pública esistematicamente, que se trata de umaatitude presunçosa alguém dizer queseus pecados estão todos perdoados –que está selado com o Espírito Santo –que não pode mais se perder, pois estáverdadeiramente unido a Cristo peloEspírito que nele habita? Porventura nãosão todos estes privilégios cristãospraticamente negados e ignorados nacristandade? E acaso as pessoas nãoestão sendo ensinadas que é perigososer muito confiante – que é moralmente

mais seguro viver em dúvida e temor –que o máximo que podemos quereralmejar é irmos para o céu após amorte? Onde é que as almas estão sendoensinadas das gloriosas verdadesligadas à nova criação? Onde estão elasarraigadas e fundamentadas noconhecimento de sua posição em umaCabeça ressuscitada e glorificada noscéus? Onde estão elas sendointroduzidas no gozo daquelas coisasque são graciosamente dadas por Deusao Seu povo amado?Oh, lamentamos ao pensar na únicaresposta verdadeira que pode ser dada atais indagações. O rebanho de Cristoestá espalhado pelas tenebrosasmontanhas e desolados atracadouros. As

almas do povo de Deus sãoabandonadas na enevoada distância quecaracterizava o sistema judaico.Desconhecem o significado do véurasgado, da proximidade de Deus, daconsciente aceitação que desfrutam noAmado. A própria mesa do Senhorencontra-se encoberta com as negras efrias névoas da superstição, e cercadapelas repulsivas barreiras de umlegalismo negro e deprimente. Aredenção efetuada, a completa remissãode pecados, a perfeita justificaçãodiante de Deus, a aceitação em umCristo ressuscitado, o Espírito deadoção, a bendita e brilhante esperançada vinda do Noivo – todas estasrealidades gloriosas – estes patentes

privilégios da Igreja de Deus são, naprática, postos de lado pela máquinareligiosa da cristandade e pelo seuensino.Alguns, talvez, poderão pensar quepintamos um quadro muito obscuro.Podemos apenas dizer – e o dizemoscom toda a sinceridade – que quiseraDeus fosse só isso! Tememos que estequadro esteja ainda longe da realidade –sim, a realidade é muito mais horrendado que a pintamos. Estamos profunda edolorosamente espantados com o fato deque a condição, não apenas da Igrejaprofessa, mas de milhares deverdadeiras ovelhas do rebanho deCristo, é tal que se a enxergássemos domodo como Deus a enxerga, isso partiria

nosso coração.Todavia, devemos continuar com nossoassunto e, fazendo assim, apresentar omelhor remédio que já poderia ter sidoreceitado para a deplorável condição detantos dentre o povo do Senhor.Falamos da preciosa obra que nossoSenhor Jesus Cristo consumou por nós,levando nossos pecados, e condenandoo pecado, nos assegurando a perfeitaremissão dos primeiros e a totallibertação do último, como poderdominador que era. O cristão é aqueleque não está apenas perdoado, masliberto. Cristo morreu pelo cristão, eeste morreu em Cristo. Portanto,encontra-se livre, como alguém que

ressuscitou de entre os mortos e estávivo para Deus, por Jesus Cristo nossoSenhor. O cristão é agora uma novacriatura. Passou da morte para a vida. Amorte e o juízo ficaram para trás e nada,além da glória, é o que se encontradiante dele. Ele possui agora umaposição imaculada e um futuro semnuvens.Ora, se tudo isso é verdade para cadafilho de Deus – e as Escrituras garantemisso – o que mais desejamos? Nada,quanto ao que somos, nada quanto àposição que ocupamos, nem quanto àesperança que temos. Em tudo issopossuímos a mais perfeita e absolutaperfeição; todavia, nosso estado não éperfeito, nosso andar não é perfeito.

Continuamos no corpo, cercados deinúmeras fraquezas, expostos a inúmerastentações, aptos a tropeçar, a cair e anos desviar. Por nós mesmos, somosincapazes de ter um único pensamentobom, ou de nos mantermos por ummomento sequer na bendita posiçãoonde a graça nos colocou. É verdadeque temos vida eterna, e que estamosligados à Cabeça viva no céu, peloEspírito Santo que foi enviado à Terra,de modo que estamos eternamenteseguros. Nada poderá jamais tocar nossavida, ainda mais se considerarmos queela está “escondida com Cristo emDeus” (Colossenses 3.3).Mas enquanto nada pode tocar nossavida, ou interferir em nossa posição,

ainda assim, considerando que nossacondição é imperfeita e que nosso andaré imperfeito, nossa comunhão ésuscetível de ser interrompida, e é poresta razão que necessitamos do atualofício de Cristo por nós.Jesus vive à destra de Deus por nós. Suaativa intervenção a nosso favor nuncacessa por um momento sequer. Eleatravessou os céus, em virtude daexpiação consumada, e ali exercecontinuamente Sua perfeita intercessãopor nós diante de Deus. Ele está alicomo nossa justiça permanente, a fim denos manter sempre na divina integridadeda posição e do relacionamento ao qualSua morte expiatória nos introduziu. Porisso lemos em Romanos 5.10: “Porque

se nós, sendo inimigos, fomosreconciliados com Deus pela morte deSeu Filho, muito mais, tendo sido járeconciliados, seremos salvos pela Suavida”. Assim também, lemos emHebreus 4.14-16: “Visto que temos umgrande sumo sacerdote, Jesus, Filho deDeus, que penetrou nos céus,retenhamos firmemente a nossaconfissão. Porque não temos um sumosacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, umque, como nós, em tudo foi tentado,mas sem pecado. Cheguemos, pois, comconfiança ao trono da graça, para quepossamos alcançar misericórdia eachar graça, a fim de sermos ajudadosem tempo oportuno”. E, mais uma vez,

no capítulo 7.24,25: “Mas Este, porquepermanece eternamente, tem umsacerdócio perpétuo. Portanto, podetambém salvar perfeitamente os quepor Ele se chegam a Deus, vivendosempre para interceder por eles”. E nocapítulo 9.24: “Porque Cristo nãoentrou num santuário feito por mãos,figura do verdadeiro, porém no mesmocéu, para agora comparecer por nósperante a face de Deus”.Temos também, na primeira Epístola deJoão, o mesmo assunto apresentado sobum aspecto um pouco diferente: “Meusfilhinhos, estas coisas vos escrevo,para que não pequeis; e, se alguémpecar, temos um Advogado para com oPai, Jesus Cristo, o justo. E Ele é a

propiciação pelos nossos pecados, enão somente pelos nossos, mas tambémpelos de todo o mundo” (1 João 2.1,2).Quão precioso é tudo isso para o cristãosincero, que está sempre consciente –perfeita e dolorosamente consciente – desua fraqueza, necessidade, debilidade efracasso! Como é possível – podemosindagar justamente – que alguém quetenha seus olhos sobre estas passagensque acabamos de citar, sem mencionarsua consciência própria – o senso deimperfeição de sua própria condição edo seu andar possa colocar em dúvida anecessidade do cristão de umininterrupto ministério de Cristo em seufavor? Não é espantoso que algum leitorda epístola aos Hebreus, algum

observador da condição e do andar docrente mais fiel, pudesse ser achadonegando a aplicação do sacerdócio eintercessão de Cristo pelos cristãoshoje?Em favor de quem – permita-nosperguntar – está Cristo vivendo eatuando agora à destra de Deus? Seráque é em favor do mundo? Certamenteque não; pois Ele diz, em João 17.9,“Não rogo pelo mundo, mas poraqueles que Me deste, porque sãoTeus”. E quem são esses? Será que setrata do remanescente judeu? Não; esseremanescente ainda está para entrar emcena. Quem são eles, então? Crentes –filhos de Deus – cristãos, que estãoagora passando por este mundo

pecaminoso, sujeitos a falharem e aserem enganados a cada passo docaminho. São estes o objeto doministério sacerdotal de Cristo. Elemorreu para os tornar limpos: Ele vivepara mantê-los limpos. Por Sua morteEle expiou a nossa culpa, e por Sua vidaEle nos limpa por meio da ação daPalavra pelo poder do Espírito Santo.“Este é Aquele que veio por água esangue, isto é, Jesus Cristo; não só porágua, mas por água e por sangue” (1João 5.6). Temos expiação e somoslimpos por meio de um Salvadorcrucificado. A dupla fonte emanou dolado ferido de Cristo, morto por nós.Todo louvor seja dado ao Seu nome!Temos tudo, em virtude da preciosa

morte de Cristo. O problema é nossaculpa? Ela foi cancelada pelo sangue daexpiação. O problema está em nossasfaltas diárias? Temos um Advogadopara com o Pai – um grande SumoSacerdote para com Deus. “Se alguémpecar” (1 João 2.1). Ele não diz ‘sealguém se arrepender’. Não há dúvidade que há, e deve haver arrependimentoe juízo-próprio; mas como é que sãoproduzidos? Aqui está: “Temos umAdvogado para com o Pai”. É a Suasempre prevalecente intercessão queconsegue, para aquele que peca, a graçado arrependimento, juízo-próprio econfissão.É algo de extrema importância para oleitor cristão ter bem claro em seu

entendimento o que se refere a estaverdade cardeal da intercessãoadvocatícia ou sacerdócio de Cristo.Costumamos erroneamente pensar quequando falhamos em nosso trabalho,precisamos fazer algo de nós mesmospara resolver a questão entre nossa almae Deus. Nós nos esquecemos até doporquê de estarmos conscientes de nossafalha – antes de nossa consciência setornar realmente ciente do fato, nossobendito Advogado esteve diante do Paipara tratar disso; e é à Sua intercessãoque devemos a graça de nossoarrependimento, confissão e restauração.“Se alguém pecar, temos...” – o que? Osangue ao qual devemos recorrer? Não;repare cuidadosamente o que o Espírito

Santo declara. “Temos um Advogadopara com o Pai, Jesus Cristo, o justo”.E por que Ele diz “o justo”? Por quenão dizer, o bondoso, o misericordioso,ou o que se compadece de nós?Porventura Ele não é tudo isso?Certamente; mas nenhum dessesatributos caberia aqui, ainda mais porestar, o bendito apóstolo, colocandodiante de nós a consoladora verdade deque em todos os nossos erros, pecados efalhas, temos um representante “justo”diante do Deus justo, o Pai santo, demodo que nossas questões nuncaterminem em fracasso. Ele vive semprepara fazer intercessão por nós, e porqueEle vive sempre, “pode também salvarperfeitamente” – salvar até o fim – “os

que por Ele se chegam a Deus”.Que firme consolo existe aqui para opovo de Deus! E quão necessário paranossas almas é estarmos fundamentadosno conhecimento e compreensão disso!Há alguns que possuem umacompreensão imperfeita da verdadeiraposição de um cristão, por nãoenxergarem o que Cristo fez por eles nopassado; outros, pelo contrário, têm umavisão tão unilateral da condição docristão que não enxergam nossanecessidade daquilo que Cristo estáagora fazendo por nós. Ambos devemser corrigidos. Os primeiros ignoram aextensão e o valor da expiação; osúltimos ignoram o lugar e a aplicaçãoque tem a intercessão advocatícia. A

imperfeição de nossa posição é tal, queo apóstolo disse: “Porque, qual Ele é,somos nós também neste mundo” (1João 4.17). Se isso fosse tudo,certamente não teríamos necessidade desacerdócio ou de intercessãoadvocatícia; todavia a nossa condição étal, que o apóstolo precisa dizer: “Sealguém pecar”. Isto prova o quãocontinuamente necessitamos doAdvogado. E, bendito seja Deus, nós Otemos continuamente; nós O temosvivendo sempre por nós. Ele vive eserve nas alturas. Ele é nossa justiçasubstitutiva diante de nosso Deus. Elevive para nos manter sempre justos nocéu, e para nos tornar justos quandoandamos errado na Terra. Ele é o

vínculo divino e indissolúvel entrenossas almas e Deus.

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Quarta ParteCristo como um Objeto para

o coraçãoHavendo procurado descortinar, nos trêscapítulos anteriores, as grandesverdades fundamentais ligadas à obra deCristo por nós – Sua obra no passado esua obra no presente – Sua expiação eSua intercessão, devemos agoraprocurar, pela graciosa ajuda doEspírito de Deus, apresentar ao leitoralgo daquilo que as Escrituras nosensinam quanto ao segundo ramo de

nosso assunto, a saber, Cristo como umobjeto para o coração.Trata-se de algo maravilhosamentebendito poder dizer: “EncontreiAlguém que satisfaz perfeitamentemeu coração – encontrei a Cristo”. Éisto o que nos coloca verdadeiramenteacima do mundo. Nos tornacompletamente independentes dosrecursos, aos quais o coraçãoinconverso sempre se apega. Nosconcede um descanso permanente. Nosdá uma calma e quietude de espírito queo mundo não pode compreender. Opobre amante do mundo pode pensar quea vida do verdadeiro cristão é muitoparada, insípida, chegando até mesmo aser uma ocupação idiota. Talvez ele

fique espantado de ver como alguémpode seguir adiante sem aquilo que elechama de diversão, distração e prazer;sem teatros, sem festas ou jogos de bola,sem concertos, sem baralho ou bilhar,sem caçadas ou corridas, sem clube oubate-papo, sem campeonatos decríquete.Privar o inconverso dessas coisas seriaquase o mesmo que levá-lo aodesespero ou à loucura; mas o cristãonão deseja tais coisas – ele não aspraticaria. Elas seriam até mesmo umaborrecimento para ele. Falamos aqui,evidentemente, do verdadeiro cristão, dealguém que não é meramente cristão denome, mas de verdade. Oh, há muitosque professam ser cristãos, e até ocupam

uma posição elevada em sua profissãocristã, e que, todavia, encontram-semisturados em todas as buscas vãs efrívolas dos homens deste mundo.Pessoas assim podem ser encontradas àmesa de comunhão no dia do Senhor, eno teatro ou em um concerto na segunda-feira; podem ser vistas tomando parteem algum dos ramos da obra cristã nodomingo, e durante a semana podem serencontradas no salão de bilhar, nohipódromo ou em algum outro cenáriode vaidade e futilidade.É mais do que evidente que uma talpessoa não sabe nada de Cristo comoum objeto para o coração. Pode-se atéquestionar como é que alguém com umaúnica centelha de vida divina na alma

possa achar prazer nos desprezíveisanseios de um mundo ímpio. O cristãosincero e verdadeiro desvia-seinstintivamente; e isso não meramentepor causa do erro ou do mal que hánessas coisas – apesar dele certamentesentir que são coisas erradas e más –mas porque ele não tem nenhum gostopor elas, e porque encontrou algoinfinitamente superior, algo que satisfezperfeitamente todos os desejos da novanatureza. Poderíamos imaginar um anjodo céu tendo prazer em um jogo de bola,em um teatro ou em uma corrida? Osimples pensamento disso já ésobremaneira ridículo. Lugares assimsão totalmente estranhos a um sercelestial.

E o que é um cristão? É um homemcelestial; um participante da naturezadivina. Ele está morto para o mundo –morto para o pecado – vivo para Deus.Não tem nem mesmo uma única ligaçãocom o mundo: pertence ao céu. Assimcomo Cristo, seu Senhor, ele nãopertence mais ao mundo. Poderia Cristotomar parte nos divertimentos,brincadeiras e festejos deste mundo? Aprópria ideia disso seria uma blasfêmia.Bem, então, o que dizer do cristão? Seráque é para ele ser encontrado em lugaresonde o seu Senhor não estaria? Pode eletomar parte em coisas que ele sabe emseu coração serem contrárias a Cristo?Pode ele ir a lugares, frequentarambientes e se envolver em

circunstâncias onde, ele tem que admitir,seu Salvador e Senhor não podem tomarparte? Pode ele ter comunhão com ummundo que odeia Aquele a Quem eleprofessa dever todas as coisas?Talvez a alguns de nossos leitores possaparecer que estamos falando de umterreno muito elevado. A estesperguntaremos: Que terreno devemostomar? Certamente, terreno cristão, sesomos cristãos. Bem, então, se devemosassumir uma posição cristã, comopodemos saber o que é uma posiçãocristã? Evidentemente buscando noNovo Testamento. E o que é que eleensina? Acaso ele dá qualquerautorização para que o cristão semisture, em qualquer forma ou medida,

com os divertimentos e os vãos anseiosdeste presente século mau? Escutemoscom atenção as importantes palavras denosso bendito Senhor em João 17.Escutemos de Seus próprios lábios averdade quanto à nossa porção, nossaposição, e nosso caminho aqui nestemundo. Ao se dirigir ao Pai, Ele diz:“Dei-lhes a Tua palavra, e o mundo osodiou, porque não são do mundo,assim como Eu não sou do mundo.Não peço que os tires do mundo, masque os livres do mal. Não são domundo, como Eu do mundo não sou.Santifica-os na verdade; a Tua Palavraé a verdade. Assim como Tu Meenviaste ao mundo, também Eu osenviei ao mundo” (João 17.14-18).

Será possível conceber uma medidamais próxima de identificação do que aque nos é apresentada nestas palavras?Por duas vezes, nesta breve passagem,nosso Senhor declara que não somos domundo, assim como Ele não é. O que éque nosso bendito Senhor tinha a vercom o mundo? Nada. O mundo Orejeitou completamente e o expulsou. Omundo pregou-O numa vergonhosa cruz,entre dois malfeitores. O mundocontinua tão atual e plenamente sob aacusação de tudo isso como se o ato dacrucificação tivesse ocorrido ontem,bem no centro de sua civilização e como consentimento unânime de todos. Nãoexiste nem mesmo um único vínculomoral entre Cristo e o mundo. Sim, o

mundo está manchado com Seuassassinato, e nada terá a dizer a Deuspor seu crime.Quão solene é isto! Que assunto sériopara ser considerado pelos cristãos!Estamos passando por um mundo quecrucificou a nosso Senhor e Mestre, eEle declara que não somos deste mundo,assim como Ele não é. Daí vem que setivermos alguma comunhão com omundo estaremos sendo falsos para comCristo. O que pensaríamos de umaesposa que se sentasse, e risse, econtasse anedotas com um grupo dehomens que tivesse assassinado seumarido? E é exatamente o que oscristãos professos estão fazendo quandose misturam com o presente mundo mau,

e se fazem parte e porção dele.Talvez alguém pergunte: O que devemosfazer? Devemos sair do mundo? Demodo nenhum. Nosso Senhor dizexpressamente: “Não peço que os tiresdo mundo, mas que os livres do mal”(João 17.15). No mundo, mas não domundo, é o verdadeiro princípio para ocristão. Para nos valermos de umafigura, o cristão no mundo é como ummergulhador equipado com umescafandro. Ele está imerso em umelemento que o destruiria, se nãoestivesse protegido de sua ação, emantido por uma contínua comunicaçãocom o cenário que está acima dele.E o que deve o cristão fazer com omundo? Qual é a sua missão aqui? Esta:

“Assim como Tu me enviaste ao mundo,também Eu os enviei ao mundo”.“Assim como o Pai Me enviou, tambémEu vos envio a vós” (João 17.18;20.21).Tal é a missão do cristão. Ele não devese trancar entre as paredes de ummosteiro ou convento. O cristianismonão consiste em se fazer membro de umairmandade, como monges ou freiras.Nada disso. Somos chamados paraestarmos ocupados nas diversasresponsabilidades da vida, e paraagirmos nas esferas que nos sãodivinamente designadas, para a glória deDeus. Não é uma questão do queestamos fazendo, mas de como estamosfazendo. Tudo depende do objeto que

governa nossos corações. Se for Cristoo que comanda e cativa o coração, tudoestará bem; se não for Ele, nada estarábem. Duas pessoas podem se sentar àmesma mesa para comer; uma come parasatisfazer seu apetite, a outra come paraa glória de Deus – come simplesmentepara conservar seu corpo em formacomo vaso de Deus, como templo doEspírito Santo, instrumento para oserviço de Cristo.Assim deve ser em todas as coisas.Trata-se de nosso doce privilégiocolocarmos o Senhor sempre diante denós. Ele é nosso modelo. Assim comoEle foi enviado ao mundo, nós o somostambém. O que foi que Ele veio fazer?Glorificar a Deus. Como foi que Ele

viveu? Pelo Pai. “Assim como o Pai,que vive, Me enviou, e Eu vivo peloPai, assim quem de Mim se alimenta,também viverá por Mim” (João 6.57).Isso torna tudo muito simples. Cristo é opadrão e o gabarito para tudo. Já não setrata meramente de uma questão de certoe errado de acordo com as regrashumanas; é simplesmente uma questãodo que é digno de Cristo. Será que Elefaria isso ou aquilo? Será que Ele iriaali ou acolá? Ele deixou-nos “oexemplo, para que sigais as Suaspisadas” (1 Pedro 2.21). E com toda acerteza, nunca deveríamos ir aonde nãopudéssemos enxergar suas benditaspegadas. Se vamos de um lado para ooutro unicamente para satisfazer a nós

mesmos, não estamos seguindo Suaspisadas, e não podemos esperardesfrutar de sua bendita presença.Aqui está o verdadeiro segredo doassunto todo. A grande questão é sóesta: É Cristo o meu objeto? Para queestou vivendo? Será que posso dizer que“a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, O qual meamou, e Se entregou a Si mesmo pormim” (Gálatas 2.20)? Nada menos doque isto é o que cabe a um cristão.Trata-se de algo demasiadamentemiserável estar contente apenas em sersalvo, e então seguir adiante de braçosdados com o mundo, vivendo para asatisfação própria e em busca de seuspróprios interesses – aceitar a salvação

como o fruto da paixão e tribulação deCristo, e depois viver longe dele. O queiríamos pensar de uma criança que só seimporta com as coisas boas que seu pailhe dá, e que nunca procura a companhiade seu pai – sim, que prefere até acompanhia de estranhos? Certamenteseria alguém digno de desprezo; masquão mais desprezível é o cristão quedeve todo o seu presente e todo o seufuturo eterno à obra de Cristo e, aindaassim, se contenta em viver a uma friadistância de Sua bendita Pessoa, sem sepreocupar nem um pouco com apromoção da Sua causa – com apromoção da Sua glória!

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Quinta ParteA Palavra de Cristo como

guia todo-suficiente para onosso andar

Se o leitor foi, por graça, capacitado ase apossar do que nos foi apresentadonestes capítulos, terá à disposição oremédio perfeito para todaintranquilidade de consciência e paratoda inquietude de coração. A obra deCristo, quando tão somente apropriadapor uma fé simples, deverá, por benditanecessidade, atender a intranquilidadede consciência; e a Pessoa de Cristo,quando tão somente contemplada comum olho simples, irá atender

perfeitamente toda inquietude decoração. Se, por conseguinte, não nosencontramos desfrutando de paz deconsciência, só pode ser por nãoestarmos descansando na obraconsumada de Cristo; e se o coração nãoestiver à vontade, é prova de que nãoestamos satisfeitos com o próprioCristo.E mesmo assim, quão poucos, mesmodentre o amado povo do Senhor,conhecem a paz de consciência e aquietude de coração. Quão raro éencontrar uma pessoa desfrutando daverdadeira paz de consciência e detranquilidade de coração! Os cristãos,de um modo geral, não se encontramnem um pouquinho mais adiantados da

condição dos santos do AntigoTestamento. Eles não conhecem abênção de uma redenção consumada;não estão desfrutando de umaconsciência limpa; não podem seaproximar com verdadeiro coração, eminteira certeza de fé, com os coraçõespurificados da má consciência, e ocorpo lavado com água limpa; nãocompreendem a grande verdade que éserem habitados pelo Espírito Santo,que os capacita a clamar “Aba, Pai”.Encontram-se, no que diz respeito à suaexperiência, sob a lei; na realidade,nunca entraram na profundidade dabênção que é estar sob o reinado dagraça. Eles têm vida. É impossívelduvidar disso. Eles amam as coisas

divinas; suas preferências, seus hábitos,suas aspirações – sim, até mesmo seusexercícios, conflitos, ansiedades,dúvidas e temores, tudo isso demonstraa existência de vida divina. Eles seencontram, de um certo modo, separadosdo mundo, mas sua separação é maisnegativa que positiva. É mais por verema completa vaidade do mundo, e suainabilidade em satisfazer seus corações,do que por terem encontrado em Cristoum objetivo. Perderam o gosto pelascoisas do mundo, mas não encontraramseu lugar e porção no Filho de Deusonde Ele agora está à destra de Deus. Ascoisas do mundo não podem satisfazê-los, e não se encontram desfrutando daposição, objetivo e esperança celestiais

que lhes são próprias; portanto, seencontram em uma condição totalmenteanômala; não têm certeza, nem descanso,nem constância de propósitos; não sãofelizes; não conhecem qual o verdadeiroponto de apoio; não são nem uma coisanem outra.Será que é assim com o leitor?Esperamos sinceramente que não.Cremos que o leitor seja um daquelesque, por graça infinita, conhecem “o quenos é dado gratuitamente por Deus” (1Coríntios 2.12); que sabem haverpassado da morte para a vida – que têmvida eterna; que desfrutam do preciosotestemunho do Espírito; que entendemsua associação com uma Cabeçaressurreta e glorificada nos céus, a

Quem estão ligados pelo Espírito Santo,que neles habita; que encontraram seuobjetivo na Pessoa daquele Ser benditocuja obra consumada é a base divina eeterna de sua salvação e paz; e que estãosinceramente ansiando pelo benditomomento quando Jesus virá para recebê-los para Si mesmo, para que onde Eleestiver, eles possam estar também, parade lá nunca mais saírem, eternamente.Isto é cristianismo. Nada mais mereceeste nome. É algo que permanece emevidente e notável contraste com areligiosidade espúria de nossos dias, aqual não é nem puro judaísmo, nem purocristianismo, mas uma péssima mistura,composta de alguns elementos de cada,cujo povo inconverso pode adotar e

seguir, pois concede liberdade àsconcupiscências da carne e lhes permitedesfrutar dos prazeres e vaidades domundo, em busca de contentamento paraseus corações. O arqui-inimigo deCristo e das almas foi bem sucedido aoproduzir um horrível sistema dereligião, meio judaico, meio cristão,combinando, da maneira maishabilidosa, o mundo e a carne, com umcerto montante de passagens dasEscrituras, utilizadas de modo a destruirsua força moral e impedir sua corretaaplicação. As almas ficam, assim,emaranhadas e sem esperança. Por umlado os inconversos são enganados coma ideia de que são cristãos realmentemuito bons, e que estão seguindo direto

para o céu; e, por outro lado, o queridopovo do Senhor é roubado de seu lugar eprivilégios que lhe são próprios, earrastados para baixo pela escura edepressiva influência da atmosferareligiosa que o cercam e quase osufocam.Não está, cremos, ao alcance da línguahumana expressar as aterrorizantesconsequências dessa mistura do povo deDeus com o povo do mundo em umsistema comum de religiosidade ecrença teológica. Seu efeito sobre osque pertencem ao povo de Deus é o decegar seus olhos para as glórias moraisdo cristianismo, como são apresentadasnas páginas do Novo Testamento; e istoa um ponto tal que se alguém tentar

desvendar essas glórias aos seus olhos,será reputado como um entusiastavisionário ou um perigoso herege. Oefeito de tudo isso, sobre os quepertencem ao mundo, é o de enganá-lostotalmente quanto à sua verdadeiracondição, caráter e destino. Ambas asclasses de pessoas recitam as mesmasfórmulas, compartilham do mesmocredo, fazem as mesmas orações, sãomembros da mesma comunidade, tomamparte do mesmo sacramento, estão, emsuma, eclesiasticamente, teologicamente,religiosamente unidas.Talvez se diga em resposta a tudo isso,que nosso Senhor, em Seu maravilhososermão de Mateus 13, ensina de mododistinto que o trigo e o joio devem ser

deixados a crescer juntos. Sim; masonde? Na Igreja? Não; mas “nocampo”; e Ele nos diz que “o campo é omundo”. Confundir estas coisas éfalsificar a posição cristã como um todo,e se livrar de toda a piedosa disciplinaque deve ser exercida na assembleia. Écolocar o ensino de nosso Senhor emMateus 13 em oposição ao ensino doEspírito Santo em 1 Coríntios 5.Todavia, não vamos nos deter maisneste assunto. Ele é importante e extensodemais para ser tratado em um artigo tãobreve quanto este. Talvez venhamos adiscuti-lo melhor em alguma outraocasião. Estamos completamenteconvencidos de que ele exige aconsideração séria do leitor cristão,

apoiado, como está de modo tãomanifesto, na glória de Cristo, nosverdadeiros interesses do Seu povo, noprogresso do evangelho, na integridadedo testemunho e serviço cristãos, demodo que seria praticamente impossívelsuperestimar a sua importância. Masdevemos deixá-lo por enquanto, edirecionar este artigo para seuencerramento com uma breve referênciaao terceiro e último ramo de nossoassunto, a saber, a Palavra de Cristocomo o guia todo-suficiente para nossocaminho.Se a obra de Cristo é suficiente para aconsciência, se Sua bendita Pessoa ésuficiente para o coração, então, comtoda a certeza, a Sua preciosa Palavra é

suficiente para o caminho. Podemosadmitir, com toda a confiança possível,que possuímos no divino volume dasSagradas Escrituras tudo o quepoderíamos precisar, não apenas paraatender as necessidades de nossa sendaindividual, mas também para as variadasnecessidades da Igreja de Deus, nosmínimos detalhes de sua história nestemundo.Estamos bem cientes de que ao fazermosuma tal afirmação nos expomos a muitazombaria e oposição, vindas de mais deuma direção. Seremos confrontados, porum lado, com os que defendem atradição e, por outro, por aqueles quelutam pela supremacia do raciocínio evontade humana; mas isto nos deixa

verdadeiramente muito poucopreocupados. Consideramos astradições dos homens, sejam eles pais,irmãos ou doutores, quandoapresentadas como sendo de algumaautoridade, como uma partícula depoeira na balança; e no que se refere aoraciocínio humano, só pode sercomparado ao morcego, ao sol do meio-dia, cego pela luz, e se lançando contraobstáculos que não pode ver.É do mais profundo gozo para o coraçãodo cristão poder se desvencilhar dasconflitantes tradições e doutrinas doshomens e entrar na tranquila luz dasSagradas Escrituras; e quando diantedos impudentes raciocínios do ímpio, doracionalista, do cético, sujeitar todo o

seu ser moral à autoridade e poder dasSagradas Escrituras. Ele reconhece, comgratidão, na Palavra de Deus o únicopadrão perfeito para doutrina, moral, etudo mais. “Toda a Escritura édivinamente inspirada, e proveitosapara ensinar, para redarguir, paracorrigir, para instruir em justiça; paraque o homem de Deus seja perfeito, eperfeitamente instruído para toda aboa obra” (2 Timóteo 3.16,17).De que mais podemos precisar? Denada. Se as Escrituras podem tornar ummenino “sábio para a salvação”, e seelas podem tornar um homem “perfeitoe perfeitamente instruído para toda aboa obra”, o que é que queremos com atradição ou com o raciocínio humano?

Se Deus escreveu um volume para nós,se Ele condescendeu em nos dar umarevelação do Seu pensamento, quanto atudo o que devemos conhecer, pensar,sentir, crer e fazer, iríamos nós nosvoltar para um pobre mortal nossosemelhante – seja ele ritualista ouracionalista – para nos ajudar? Longe denós um tal pensamento! Seria o mesmoque nos voltarmos ao nosso semelhantea fim de acrescentarmos algo à obraconsumada de Cristo; a fim de fazê-lasuficiente para a nossa própriaconsciência, ou suprir o necessário paracobrir alguma deficiência queencontrássemos na Pessoa de Cristo,visando fazer dele um objeto que fossesuficiente para nosso coração. Seria

como nos entregarmos à tradição ou aoraciocínio humano para suprir algumadeficiência que encontrássemos narevelação divina.Todo louvor e graças sejam ao nossoDeus por não ser este o caso. Ele nosdeu, em Seu amado Filho, tudo o quenecessitamos para a consciência, para ocoração, para o caminho aqui – para otempo, com todos os seus cenários emconstante mutação – para a eternidade,com suas eras incontáveis.Podemos dizer:

Tu, Oh, Cristo, és tudo de queprecisamos;

Mais que tudo em Ti encontramos.

Não há, e nem poderia existir, qualquerfalta no Cristo de Deus. Sua expiação eSua intercessão devem satisfazer todosos anseios da consciência maisprofundamente exercitada. As glóriasmorais – a poderosa atração de Suadivina Pessoa – devem satisfazer asmais intensas aspirações e desejos docoração. E sua inigualável revelação –esse volume sem preço – contém entresuas capas tudo o que possamosnecessitar, do princípio ao fim de nossacarreira cristã.Leitor cristão: acaso essas coisas nãosão assim? Acaso você não reconhece averdade que há nelas, do mais íntimo doseu ser moral renovado? Se assim for,será que você está descansando, em

tranquilo repouso, na obra de Cristo?Está se deleitando em Sua Pessoa? Estáse sujeitando, em todas as coisas, àautoridade da Sua Palavra? Deus queiraque assim possa ser com você, e comtodos os que professam o Seu nome!Possa haver um testemunho cada vezmais pleno, mais claro e mais decididopara a total suficiência de Cristo, atéaquele dia.

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