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NOTAS A experiência da formação do caráter de Cristo em nós A EXPERIÊNCIA DA FORMAÇÃO DO CARÁTER DE CRISTO EM NÓS 136

5.a experiencia da formação do caráter de cristo em nós

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A EXPERIÊNCIA DA FORMAÇÃODO CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

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A EXPERIÊNCIA DA FORMAÇÃODO CARÁTER DE CRISTO EM NÓSEsboço do Planejamento do Curso

MetaQue você possa expressar completamente a beleza da

pessoa de Jesus através de você. Que Seu caráter humilde e santo se mostre através da sua vida.Outros Objetivos

Que você descubra que a vida cristã é uma parceria com o Espírito Santo e que para ser transformado em seu caráter Ele espera a sua resposta.

Que você comece a ser sensível à voz de Deus compreendendo quando Ele quer tocar em alguma área sensível.

Que você veja a mão do Senhor operando através de circunstancias, pessoas e pressões e dê a Ele a resposta esperada.

Que se possa reconhecer em você os traços de humildade, quebrantamento e espírito ensinável assim que essas verdades começarem a ser compreendidas e aplicadas na sua vida.

Sugestões Bibliográficas1. O QUEBRANTAMENTO E A LIBERAÇÃO DO ESPÍRITO -

T. S. Watchman Nee2. VIDA QUE NASCE DA MORTE – T. A. Hegre3. O HOMEM ESPIRITUAL VOL. I, II E III - T. S. Watchman

Nee4. VIDA EM PROFUNDIDADE – Paul Billheimer

Recomendações Muito ImportantesDiga ao Senhor em oração que você está aberto

humildemente aos seus tratamentos em sua vida e a partir daí observe os acontecimentos e circunstâncias agindo de modo a entrar no padrão de Jesus. Não se desanime se não consegue responder em tudo. As mãos do Senhor, o oleiro, não desistirão de você, mesmo que falhe. Volte ao altar da consagração e diga a Jesus que está disposto a repetir a cartilha até a Sua imagem ser formada completamente em você. E lembre-se! Esse processo durará a sua vida inteira.

Avaliação Descreva a experiência do cooperar com o Espírito Santo. Defina o que é caráter. Como o caráter de Cristo é formado em sua vida? Como o seu responder pode apressar ou atrasar esse

processo? Pessoas duras experimentam situações mais drásticas?

Por que?

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Como o quebrantamento opera em nós? Qual seu resultado?

A EXPERIÊNCIA DA FORMAÇÃODO CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

O Caráter De Cristo Em Nós É Formado Pela Cruz

O caminho para o caráter de Cristo é o caminho da operação da cruz em nós. Não há outra maneira das marcas do caráter de Cristo serem formadas, a não ser pela cruz. E a cruz é o quebrantamento da vontade e força humana pela ação do Senhor.Deus prepara circunstâncias e situações que tratam com nossas vontades para que possamos ser quebrantados. É através da lei da cruz (Mt. 16:24) que somos formados em nosso caráter.

Esta lei opera em nós, moldando-nos e ensinando-nos a vida do Espírito. Não há como conter o processo dos tratamentos do Senhor para formar o caráter cristão. Como é bom vivermos e nos relacionarmos com pessoas quebrantadas e doces, que foram tratadas por Deus. A cruz é que opera em nós a beleza do Senhor. A cruz é o instrumento de Deus para moldar-nos à semelhança de Cristo. A cruz é que nos capacita para termos o caráter que suporta o poder de Deus. Antes de Jesus subir, Ele desceu (Ef. 4:8-9). Este é o princípio de Deus. Antes de conhecermos o poder e a glória temos que ser tratados pela cruz de Cristo. Quanto mais alto Deus for nos levar, significa que mais tratamentos precisamos ter em nosso caráter. Existe um princípio aqui: As pressões e tentações aumentam à medida que subimos em Deus. Por isto, mais base de caráter uma pessoa precisa ter na guerra contra o mundo espiritual e o pecado. Jesus passou tal pressão que suou gotas de sangue (Heb.12:4). O caráter do obreiro precisa ter sido formado pela cruz. A maturidade emocional e espiritual vêm pelos tratamentos da cruz de Cristo. Os homens de Deus precisam ser homens que vencem os ataques do inimigo em sua mente e emoções, e isto vem pelo quebrantamento. Não podem ser pessoas frágeis que cedem às pressões malignas sobre a carne. O alicerce de uma casa é a parte mais delicada da construção. Da mesma forma, na Igreja, ter líderes fortes, tratados e preparados é a parte mais delicada e mais importante da construção. As pressões não vêm somente pelos ataques do inimigo mas também pelos princípios que envolvem busca de Deus. As vezes, quanto mais buscamos ao Senhor, parece que tanto mais os céus se fecham e se tornam de bronze. É um princípio que precisamos saber: os que buscam ao Senhor, que muitas vezes oram e jejuam, sentem muita resistência e aparentemente nada acontece. Ou às vezes as pressões e problemas aumentam. Este princípio está ligado ao fato de que nos céus algo está sendo gerado e por isto estamos pagando o preço.Sempre, antes da visitação de Deus e dos avivamentos, os homens usados sofrem, choram e gemem, até que a mão do Senhor seja livre para operar. Portanto, como obreiros de Deus

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necessitamos conhecer estes caminhos, e estarmos preparados para enfrentá-los.

Definição De Caráter

O caráter refletirá os traços da natureza pecaminosa (sendo influenciado pelo mundo), ou os traços da natureza divina (sendo influenciado pela Palavra de Deus). Caráter é a soma total de todas as influências positivas ou negativas, aprendidas na vida de uma pessoa. Se manifestará através dos seus valores, motivações, atitudes, sentimentos e ações.

Em Hb. 1:3, o escritor afirma que Cristo é o próprio caráter de Deus. Caráter é como uma marca impressa que distingue a pessoa. O caráter de Deus que foi impresso em Jesus Cristo precisa ser impresso na Igreja para que, desta forma, o mundo creia em Deus. Nossa primeira decisão é crer. Devemos ter uma decisão de seguir a Jesus tornando-nos seus discípulos e, por fim, sermos feitos conforme Sua própria imagem (Rom. 8:29 e I Cor. 15:49); identificados, desta forma como cristãos.

Caráter no grego significa IMAGEM. Heb. 1:3, Afirma que Cristo é o próprio Caráter de Deus, a própria estampa da natureza de Deus, aquele em que Deus estampou ou imprimiu Seu ser.

Caráter é o sinal identificador da natureza de qualquer ser ou coisa (dicionário de Psicologia- Cabral e Nick). É o conjunto de aspectos que caracterizam o Ego. O caráter é formado pela aprendizagem. Todo ser humano a partir do seu nascimento começa a receber influências do meio ambiente onde se encontra. Estas influências são assimiladas e com o tempo passam a fazer parte do caráter. Esse processo de aprendizagem é feito por identificação, imitação, punição, e recompensa. O propósito é que o homem se torne à imagem do seu Filho, o Senhor Jesus Cristo, Deus-homem. Este propósito não mudou. A queda do homem não mudou este plano e propósito de Deus. Desde Adão, passado por Jesus e pela Igreja o plano de Deus será sempre o mesmo - Heb. 2:10 " Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as cousas existem, conduzindo muitos filhos à Glória, aperfeiçoasse por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles." Se a igreja deve atingir esta meta, seus líderes devem mostrar o caminho, devem ir na frente. O caráter e a personalidade do Senhor Jesus Cristo devem ser desenvolvidos nos líderes da Igreja antes de ser formado no Seu povo. O caráter de alguém será conhecido através de três maneiras.

Forma de Pensar

A forma de pensar de uma pessoa é percebida pela maneira como ela constrói a sua escala de valores. O meu caráter é determinado em primeiro lugar pelo aspecto moral, ou seja, aquilo que eu considero correto, errado, permitido, proibido e assim por

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diante. Se eu aprovo aquilo que definitivamente é errado então se pode dizer que o meu caráter é defeituoso, um "Mau Caráter". Quando nos convertemos a primeira coisa que devemos fazer é renovar a nossa mente. Renovar nesse caso significa mudar a minha maneira de perceber as coisas e também a minha escala de valores. A vontade de Deus é que tenhamos o caráter de Cristo, a sua mente (I Cor. 2:16).

Estilo de Vida

O estilo de vida de uma pessoa é determinado pelos seus alvos, hábitos e costumes. Se o meu grande alvo na vida é ganhar dinheiro, eu devo desenvolver um estilo de vida compatível com esse alvo. Devo desenvolver os hábitos e costumes coerentes com o que quero alcançar. Se eu quero ser atleta e não treino há algo errado. Se eu quero me desenvolver nos estudos mas não me aplico a ler em casa também há algo errado. O estilo de vida faz parte do nosso caráter, a prova disso é que normalmente pessoas de uma mesma profissão apresentam características de caráter semelhantes. Não é difícil percebermos isso em empresários, caminhoneiros, programadores, etc.

Conduta

A conduta é o conjunto de comportamentos que aprendemos e que se firmam dentro de nós. Conduta é tudo aquilo que fazemos, falamos, sentimos, esperamos e desejamos. A conduta se manifesta na minha relação com outras pessoas. O meu comportamento diante de outras pessoas manifesta o meu caráter, ou seja, a minha forma de pensar e os motivos que vão dentro do coração.

Estes três elementos compõem o nosso caráter. Evidentemente eles não podem ser observados separadamente. Em tudo aquilo que fazemos manifestamos estes três aspectos simultaneamente.Todos nós ao nos convertermos já possuímos um caráter formado. Esse caráter foi formado por tudo aquilo que recebemos de nosso meio ambiente. Muito daquilo que aprendemos está correto mas existem partes da nossa forma de pensar, do nosso estilo de vida e da nossa conduta que devem ser transformados. Todo o nosso crescimento espiritual é demonstrado pelo nosso caráter. Se com o passar do tempo acumulamos muito conhecimento, mas não demonstramos nenhuma mudança no caráter isso mostra que o conhecimento foi em vão. Deus está profundamente interessado em nossa conduta. Jesus e os Apóstolos gastaram muito espaço para tratar de frutos, de comportamento, de conduta, de coração, como vemos:

Mt. 5:48 – “... portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”.

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II Cor 13:9 –“... porque nos regozijamos quando nós estamos fracos, e vós, fortes, e isto é o que pedimos, o vosso aperfeiçoamento”.

Gl. 4:19 – “Meus filhos, por quem de novo sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós”;

Ef. 1:4 – “Assim como nos escolheu nEle antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele”;

II Tm 3; 17 – “A fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”.

II Pe. 1; 3 –“ Visto como pelo seu Divino poder nos tem sido doadas todas as cousas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para sua própria glória e virtude”.

Em Rom. 8:29 vemos que o propósito eterno de Deus é ter muitos filhos, mas não apenas isso, estes filhos devem ser semelhantes a Jesus. Deus quer filhos que manifestem o caráter de Jesus. Quando o homem caiu o propósito de Deus foi apenas adiado, não foi mudado. A Igreja do Senhor deve atingir esta meta e os seus líderes devem mostrar o caminho, devem ir à frente do rebanho. O caráter de Senhor Jesus deve ser desenvolvido nos líderes da Igreja antes de ser formado no seu povo.

Não são poucos os escândalos que têm surgido entre líderes investidos de autoridade que não receberam aprovação no caráter. Um líder que apresenta deficiências sérias em seu caráter possui assim, um grande obstáculo para a atuação de Deus em sua vida. As deficiências de caráter nas vidas dos membros da igreja se devem, em grande parte, aos próprios líderes. Em certo sentido igreja é o retrato da sua liderança. Líderes relapsos geram um povo relapso. Líderes preguiçosos geram um povo igualmente preguiçoso. Se a liderança é imatura inevitavelmente também o povo o será. Nunca será demais enfatizarmos o caráter do obreiro, pois isto determina o sucesso no ministério. Somente um caráter formado e aprovado pode suportar as pressões da obra e as dificuldades do ministério.

A Diferença Entre Caráter e Dons

Existe uma distorção que tem assolado a Igreja do Senhor durante os séculos: a valorização dos dons em detrimento do caráter. Um dom é uma dádiva de Deus. Deus concede a todos indistintamente. Os dons podem ser: naturais ou espirituais. Os dons naturais são aqueles com os quais nascemos como: inteligência, astúcia, memória, capacidade do tocar, cantar, praticar determinados esportes, etc. Os dons espirituais nos são concedidos pelo Espírito Santo como instrumentos na sua obra: I Cor. 12:7-10. Os dons são muito úteis mas são secundários. Deus coloca em primeiro lugar a vida e o caráter. Todos podem achar que um determinado irmão que possui uma grande inteligência e capacidade extraordinária de memorização deverá se tornar um

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grande pregador. Isto é um tremendo equívoco e não passa de mentalidade mundana. A Igreja de Deus não é edificada com essas coisas. Se tal irmão ainda não passou pelo processo da Cruz não será útil para Deus, apesar do seu dom.

Outra pessoa pode ainda pensar que outro irmão, por ter um dom de cura e discernimento de espíritos, venha a ser uma coluna na casa de Deus. Isto também é um engano. Os dons são úteis mas nunca podem ser a base da obra de edificação da Igreja. Este é o motivo por que existem tantos escândalos: priorizamos mais o dom que o caráter. Os dons, sejam espirituais ou naturais, devem passar pela Cruz antes de serem úteis. O ministério é edificado sobre o caráter e não sobre os dons. Deus não vai enviar ninguém sem antes tratar com o seu caráter. Os dons atraem os homens mas o caráter atrai a Deus.

No livro de Êxodo encontramos um exemplo clássico do equívoco de se priorizar os dons. A palavra do Senhor diz que o povo de Israel estava sendo escravizado por Faraó. Moisés era o homem que Deus havia escolhido para levar a cabo o seu propósito. Moisés havia sido criado no palácio de Faraó e recebeu a melhor instrução da época, era um homem excepcionalmente talentoso. O próprio Moisés tinha algum entendimento desse fato e em certo momento se dispôs ele mesmo a libertar o seu povo da escravidão ( ver Ex. 2:11-15 ). Moisés se achava capaz e perfeitamente habilitado por que possuía a instrução Egípcia. Deus porém coloca Moisés de molho por quarenta anos no deserto de Midiã até que o seu caráter pudesse ser aprovado por Ele. Do ponto de vista natural Moisés já estava pronto aos quarenta anos quando matou o egípcio, mas do ponto de vista de Deus precisou de outros quarenta anos até ao ponto de não mais confiar na sua força ou nos seus talentos. ( Ver Ex. 3:10 ). Quanto mais um homem confiar em si mesmo, nos seus talentos naturais, menos utilidade terá para Deus. O critério de Deus sempre é escolher o que se acha frágil, incapaz e desqualificado. A glória de Deus se torna manifesta quando pessoas a quem não reputávamos qualquer valor se levanta em poder e autoridade. Fica patente que Deus é quem faz e não é um simples uso de talentos especiais. A Formação Do Caráter

" Porque é Deus quem efetua em vós tanto o querer como o realizar..." .

Todos nós desejamos ter um caráter aprovado por Deus. Todos nós queremos agradar a Deus e por isso ficamos apenas esperando saber as normas para começarmos a praticá-las. A vida cristã não é um mero cumprimento de normas e preceitos pois não estamos mais debaixo de domínio da lei. A vida cristã se resume simplesmente em:" Cristo em vós " ou seja, a vida cristã consiste, em poucas palavras, na dependência completa do Espírito Santo que habita em nós. É Ele quem muda o nosso querer e também é Ele quem nos capacita a fazer a sua vontade. Ele é tudo em todos. Jesus é a nossa bondade, a nossa mansidão, a nossa justiça, Ele

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na verdade é tudo o que necessitamos. Tudo o que precisamos já está em nós na pessoa do Espírito Santo. Seria muito fácil começarmos a nos esforçar para cumprir um conjunto de qualidades, não é essa, porém, a nossa proposta. Desejamos que os irmãos tenham revelação do pleno suprimento de Deus para nossas vidas pois na medida em que entendermos isso, as qualidades de caráter naturalmente vão tomando forma. O pleno suprimento de Deus para nós é Cristo Jesus que habita em nós. Seja Ele a nossa vida. Seja Ele tudo em todos.

Não adianta falarmos de caráter e conduta se nós ainda não nos apropriamos do pleno suprimento de Deus para nós: a libertação do velho homem, do poder do pecado, a nossa justificação e regeneração em cristo, a dependência completa do espírito e o andar no espírito. Precisamos nos apropriar destas grandes realidades espirituais, mas não apenas isto, precisamos aprender a perceber a direção de Deus em nosso espírito, fazermos separação entre ALMA - ESPÍRITO, e conhecermos a prática da renúncia diária do EU no princípio da Cruz. Todas essas experiências devem ser compreendidas no espírito. Quando enfatizamos muito as qualidades recomendáveis, corremos o risco de estabelecermos um amontoado de regrinhas que não estão na Bíblia. Tais como: cinco passos para vencer a ira; dez passos para vencer a lascívia. etc. Essas coisas não funcionam e nos desviam do centro da vida cristã. CRISTO É A NOSSA VIDA. A vida do cristão é Cristo. Muitos pensam que podem ser santos se tão somente conseguirem vencer certos tipos de pecados. Outros pensam que sendo humildes e gentis são vitoriosos. Ainda alguns imaginam que orando mais e lendo a Bíblia, tendo cuidado para jejuar e vigiar então alcançarão um caráter Santo. Outros concebem a idéia de que somente matando o Ego terão vitória. Todas estas fórmulas tem a aparência de piedade e sinceridade mas tudo isso é vão. Não podemos viver a vida cristã usando mil e uma fórmulas para os mais variados problemas. Na prática não funciona. O que Deus deseja é que entendamos que Cristo é a nossa vida, o perfeito suprimento de Deus para todas as nossas necessidades. Com este entendimento em vista vamos estudar alguns princípios fundamentais que aumentarão a compreensão de que Cristo é de fato a nossa vida.

A Formação Do Caráter Através Dos Tratamentos De Deus

É a graça de Deus que me capacita a fazer as coisas certas diante de Deus(II Pe.1:1-11). A leitura deste texto nos ajuda na compreensão do processo que Deus usa para desenvolver o caráter de um cristão. Deus, através de Jesus Cristo, nos provê a Sua própria natureza. As promessas Divinas nos foram outorgadas ( ver II Pe.1:4 ), e o poder de Deus é a nossa garantia de que Ele realizará em nós as mudanças necessárias. ( ver II Pe.1:3 ). Somente através de uma atitude diligente podemos alcançar o aperfeiçoamento do nosso caráter, precisamos ter a decisão de

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sermos semelhantes a Cristo, termos em nós a natureza Divina amadurecida ( ver II Pe.1:10 e 11 ). A vida cristã é um processo. Precisamos vencê-la passo a passo, cada degrau corresponde a um novo nível alcançado, nova vitória em determinada área, até alcançarmos o topo da escada. A responsabilidade de Deus é prover a todo crente a própria natureza Divina através do arrependimento do pecado e da fé em Jesus Cristo. A responsabilidade do homem é aplicar e cumprir esta realidade em sua vida.Deus tem dado por direito aos crente, tudo o que é necessário para uma vida santa: AUTORIDADE E PODER. O cristão tem o que precisa para desenvolver um caráter maduro, seguindo o Senhor Jesus.

Descrevendo O Processo

Todos nascemos em iniqüidades e fomos formados em pecado. Todos temos por nascimento uma natureza caída, que nos acompanhará ou não por toda a vida. A natureza caída do homem não está em harmonia com nenhuma das coisas do Senhor. Deus colocou diante do cristão a meta da perfeição. Maturidade espiritual é a meta Bíblica para todos os que estão em Cristo Jesus.

Por vezes a carnalidade do homem não permite que ele desenvolva seu caráter como as Escrituras ordenam. Esta natureza humana é tratada definitivamente pelo Poder da Cruz, mas o Ego é a principal razão pela qual o homem precisa do tratamento de Deus. Cada cristão precisa do tratamento de Deus para motivá-lo a prosseguir em direção à perfeição espiritual.

O Propósito Do Tratamento

O cristão necessita do tratamento de Deus em sua vida por que possui áreas escondidas em sua vida que devem ser reveladas. Deus deseja revelar estas áreas escondidas de pecados em nós, de maneira a nos ajudar a crescer. As Escrituras afirmam que é Deus quem revela tais segredos.

Deus revela os nossos pecados ocultos para que não sejamos destruídos, nem o nosso ministério. Deus revela estas áreas escuras, que estão presentes dentro de nós, para que renunciemos a elas. Para que isto aconteça o cristão precisa da graça de Deus por que, humanamente, a tendência é cobrir suas próprias falhas e fraquezas. O homem deseja sempre defender-se e esconder os motivos do coração.

Deus deu ao cristão o Seu Espírito Santo. É o Espírito quem revela as necessidades espirituais do homem, sondando o coração do cristão para revelar os pecados que devem ser abandonados. A palavra "revelar" significa retirar a tampa, e a palavra "ocultar" significa esconder, cobrir, cobrir a vista, ou encobrir o assunto. Deus tenta retirar a cobertura de cima do homem, enquanto que o homem faz tudo para retê-la.

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Há vários homens nas Escrituras que ilustram o fato de pecados ocultos. O começo de suas vidas contrastou drasticamente com o fim delas. Começaram bem e acabaram tragicamente. Os homens podem começar bem mas, se tiverem pecados ocultos em suas vidas, os quais não confessam, mas os alimentam sem arrependimento, estarão destruindo suas vidas e ministérios. Em II Sm. 1:19, Davi lamentando a morte de Saul e Jônatas, chama três vezes:" Como caíram os valentes! ". Nesta lamentação Davi descreve os "valentes" no inicio da vida ministerial como:

• Formosos ( ver Vs. 19 )• Poderosos ( ver vs. 19 ) • Amados e queridos ( ver Vs. 23 )• Mais ligeiros do que as águias ( ver Vs. 23 )• Mais fortes do que leões ( ver Vs. 23 )

Muitos homens de Deus tem seu bom começo mas em função do pecado secreto, da falta de operação do Senhor em seu caráter, acabaram num fim trágico. Veja alguns exemplos:

Saul I Sm. 10 Espírito independente I Sm.31 Salomão II Cr. 1:7-17 Orgulho, cobiça, I Rs.11, valores

errados, auto-confiança. Sansão Jz. 14:15-15 Luxúria, cedeu às suas Jz.16:20-27

emoções e sentimentos errados.

Todo líder precisa lembrar que o propósito dos tratamentos de Deus é revelar seu coração para que ele não caia. Alguns exemplos Bíblicos de homens que começaram bem e terminaram em tragédias, por não entenderem os propósitos do tratamento de Deus em suas vidas.

Propósito De Deus No Tratamento

Transformar o Crente à Imagem de Jesus Cristo Este processo é relatado em II Cor. 3:18. " E todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito ". A palavra "transformar'' aqui, no Grego, " metamorphos", significa: Mudança completa de um formato em outro. É a raiz da palavra científica usada para descrever o processo de transformação de uma lagarta em borboleta. Este processo leva tempo e gasta energia. A lagarta muda de um formato para um outro completamente diferente.O cristão também precisa passar por uma metamorfose a cada dia. O cristão que segue ao Senhor e responde positivamente tem mais e mais, da sua natureza restaurada e transformada à imagem do Senhor Jesus.

Limpar toda sujeira

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Deus quer nos tornar puros. Ele está constantemente levando seu povo ao fogo através dos seus tratamentos. Em todo o mundo, está havendo muita pressão e calor sobre o povo de Deus. Este calor está ordenado por Deus, para purgar seu povo. A palavra "purgar" significa refinar, tornar puro, mudar pelo calor.

O povo de Deus, como o metal, é preparado para uso. Toda a sujeira e sobras extras são trazidas à superfície para serem lançadas fora. Escória é aquilo que é lançado fora, matéria que dobra, a parte não aproveitável. Deus está nestes dias removendo todo o excesso e escória dos seus líderes. Ele quer o desenvolvimento do caráter em todos os seus líderes ( Is 1:22-25, Ez. 22:18-19, Mt. 3:12, II Tm 2:21 ).

Deus quer limpar as nossas vestes

O pisoeiro era um artesão que limpava todas as fibras de um pano, para que o material pudesse se tornar um lindo traje. Freqüentemente, ele estabelecia seu negócio perto de riachos, e depois de lavá-los várias vezes, os estendia sob pedras achatadas. Depois ele batia os panos crus com um bastão de pisoeiro. Este bastão era enorme e tinha dentes de ferro que serviam para extrair sujeira dos panos. Conforme ele batia nos panos crus, todos os fragmentos e sujeira subiam a superfície e a água os varria. Por este processo, o material era limpo. Após a limpeza, o material estava pronto para o artífice, para transformá-lo em um magnífico traje. Malaquias 3:1-3 diz que Jesus é como "o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros..." e Ele sabe como nos bater sem machucar. Deus tem um bastão que usa para extrair toda a sujeira da vida dos cristãos. Deus não usa seu bastão simplesmente para ostentar o poder, mas usa-o para limpar as vestes dos seus filhos.

Deus quer produzir frutos em nossas vidas

Em João 15 temos a parábola da vinha e dos ramos. O agricultor que poda a vinha deverá, às vezes, usar a tesoura de podar. Os galhos mortos devem ser cortados de maneira a não extrair a seiva necessária dos galhos vivos. Os galhos que não dão frutos são cortados. Mas as varas que dão frutos, são podadas para dar mais frutos. Deus irá podar, purgar, refinar e cortar as varas que dão frutos para produzirem mais frutos. O propósito de Deus é sempre positivo e redentor. Aqueles que desejarem mais frutos serão os mais podados.

O propósito do tratamento de Deus é preparar os vasos para servi-lo

A partir do momento em que o vaso é formado do barro até o momento em que é retirado do forno, ele e submetido a um processo definido de formação. A aplicação das mãos do oleiro sobre o vaso às vezes é dura e firme. A roda do oleiro, o forno, tanto quanto as mãos do oleiro, são todas partes vitais na preparação do

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vaso. O propósito de Deus nessa situação é ter o vaso para sua honra - Jer. 17:1-10; II Tm 2:19-20.

As Escrituras indicam que Judas, o apóstolo caído, e traidor de Jesus Cristo, enforcou-se no campo do oleiro ( Mt. 27:1-10 ). Neste campo foi encontrado um vaso humano, rejeitado, corrompido e mutilado, vaso para desonra, como tantos outros. Faltou algo na preparação de Judas como líder. O propósito do tratamento de Deus, na vida de Judas, tanto quanto na vida de qualquer outro cristão que esteja sendo treinado para liderar, é expor as falhas do vaso rapidamente, para que Ele possa tratar com as falhas e curá-las e deste modo usar o vaso para honra. Deus quer usar os vasos eficazmente para um propósito específico e não destruí-los.

Deus quer trazer crescimento às nossas vidas

Em Is. 54:2 o profeta proclama: " amplia o espaço de tua tenda ". Figuradamente isto pode significar que Deus quer ampliar a capacidade daqueles que estão se preparando para liderar Sua Casa, a fim de que recebam mais do Senhor. II Samuel 22:37 declara que o Senhor pode alargar os passos dos líderes. Is. 60:5 diz que o coração da pessoa pode ser dilatado a fim de que seu "depósito espiritual " também aumente. O propósito do tratamento de Deus é nos alargar de muitas maneiras. Deus deseja expandir o nosso ministério e a nossa função na casa do Senhor, assim como o nosso caráter.

Algumas áreas em nossas vidas onde podemos dizer que Deus quer alargar:

• Nossa Visão - I Cr.4:10• Nossos Passos - I Sm. 22:37 • Nossos Corações - Is. 60:5 • Nossas Fronteiras - Ex.34:24• Nossa Força - I Sm. 2:1 • Nossa Habitação - Ez.41:7, Pv.24:3-4, Is. 54:2• Nosso Ministério - II Co. 6:11 e 13,II Co. 10:15-16

Deus quer através do tratamento em nossas vidas, nos levar a uma busca intensa da sua pessoa

O Senhor trará as pressões e o calor sobre os líderes em períodos específicos, para motivá-lo a buscá-lo. A pressão não é para desviá-los mas, para colocá-los na direção de Deus. Muitas vezes, os tempos difíceis e as circunstâncias duras são mal interpretadas pelo líder em preparação. Todos estes tratamentos são para motivar o homem a se voltar para Deus como a sua única força. Um líder deve aprender a buscar a Deus em tempos difíceis, para que aprenda a ajudar outros a fazer o mesmo. Jesus aprendeu pelo que sofreu. É a experiência que nos capacita a conduzir outros.

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Deus quer mais do seu espírito fluindo em nossas vidas

As Escrituras retratam o vinho como indicativo do Espírito de regozijo (Mt.9:17, At.2:13-16;Ef.5:18). O tempo da colheita era um tempo de alegria para todo o povo. Após o longo período de espera, era finalmente hora da colheita. Neste tempo, toda a família se envolvia na sega.

As mulheres e as crianças colocavam nas cabeças as uvas colhidas.Levavam estas uvas para grandes tonéis de pedras. Onde pisadores aguardavam descalços as uvas a serem esmagadas. Os pisadores então iniciavam o processo de andar por cima das uvas maduras, apertando-as para a extração do suco. Enquanto o pisador fazia isto ele se segurava na viga de madeira que estava ligada ao mastro no centro do tonel. A maior parte do seu peso, descansava nesta viga, de maneira a não pisar com demasiada força sobre as uvas. Se ele pisasse forte demais sobre as uvas, ele esmagaria a semente juntamente com a uva. Se isto acontecesse o vinho se tornaria amargo, prestando somente para dar aos animais.

A aplicação é maravilhosa. Deus é o pisador das uvas que somos nós. Ele deseja que o vinho do Seu Espírito flua das nossas vidas e ministério. Ele nos aperta. Este é um processo duro, doloroso, mas Deus nunca esmagará nossos espíritos ( a semente da uva ) para não nos tornar amargos. Uma vida amarga não é boa para ninguém. Deus não deseja líderes amargos. Ele quer que o vinho novo e fresco do Seu Espírito flua através de nossas vidas.

Através dos tratamentos Deus quer nos dar nova visão

Em II Co. 4:16-18, Paulo enfoca esta realidade. Todas as pressões, aflições e provas que vem sobre nós agora, são para operar algo eterno. Não devemos olhar apenas para o presente, analisando aquele momento. Precisamos encarar o futuro, pensando no fruto eterno que será em nós, e através de nós, na vida de outros. Dons são dados, mas o caráter é desenvolvido. O caráter tem valor eterno, irá conosco para a Eternidade (ver I Co. 13:8 e 13).

Nossa Atitude Diante do Tratamento de Deus

Termos o caráter desenvolvido à semelhança do de Jesus Cristo é muito mais importante do que as aflições que possamos viver nesta vida. Suportando estas aflições no presente teremos o caráter de Jesus Cristo sendo desenvolvido em nós. Nossas atitudes ou reações diante das circunstâncias que Deus usa para tratar conosco definem nossa aceitação do tratamento, ou não. Algumas atitudes que devemos desenvolver quando passamos por provas:

• Oração - ( ver Tg. 5:13 ). • Contrição - ( ver I Pe.4:19 )

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• Reflexão - ( ver Hb. 12:3 )• Louvor - ( ver Sl. 74; 21).• Suportar as Circunstâncias - ( ver Mt. 10:22 e Ico. 10:13)• Gozo - ( Ver Mt. 5:12 e Rm. 5:3 ).• Disposição para Mudança - ( ver II Sm. 12:13 ).

Resistir geralmente quer dizer "se segurar ou ser indiferente durante os tratamentos".Em Jacó vemos uma atitude certa em resposta aos tratamentos de Deus. Através das Escrituras Deus se identifica com três homens. Muitas vezes Deus disse: " Eu sou o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó ". Sendo o Deus de Abraão, nos fala que é um Deus que guarda o concerto. Sendo o Deus de Isaque fala do Deus dos milagres. Mas, quando a Escritura proclama que Ele é o Deus de Jacó, fala de Deus como sendo Deus da mudanças, pois mudou o nome de Jacó, e a sua natureza de suplantador, para Israel.

Diante do tratamento de Deus podemos ter duas atitudes: Podemos ter a atitude de Cristo que se humilhou e cedeu e

foi à cruz ou ainda a atitude da serpente. Esta é arrogante e se defende em tudo e acaba por se rebelar contra Deus. Estas duas atitudes se contradizem. Alguns líderes aprenderam a responder a Deus como Cristo outros como uma serpente. E você? Reage aos tratamentos de Deus como um verme ou como uma serpente?

Nossa Atitude Como Resposta

Devemos aceitar o tratamento de Deus em nossa vida, crendo que " Todas as coisas cooperam para o nosso bem ", visando um fiel proveito: O aperfeiçoamento ( maturidade ) do nosso caráter.

Todos aqueles poderosos homens de Deus iniciaram seus ministérios com o esplendor do sucesso e terminaram derrotados. Possuíam qualidades positivas no início de suas vidas e ministérios. Por exemplo: humildade, sabedoria, fé, conhecimento, unção, coração pronto para Deus. Apesar de todas as qualidades sólidas e fortes que porventura possuamos devemos ter sensibilidade e obediência ao Senhor, inclusive durante os tratamentos em nossas vidas.

Os tratamentos de Deus

O Deserto e As Circunstâncias

Todos os grandes nomes mencionados na Bíblia, foram de homens que antes de realizarem qualquer coisa relacionada ao seu ministério, passaram pelo deserto. Foram colocados à prova, sob forte pressão, pois o alvo de Deus era formar um " CARÁTER " solidificado. Muitos foram levados "Literalmente" ao deserto, outros passaram por provas dificílimas. Alguns fizeram do deserto sua

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própria casa, outros não aceitaram esse tratamento. Não há na Bíblia nenhum homem que teve um Ministério próspero e reconhecido sem ter passado pelo deserto, e todos que tentaram assumir posições, sem a devida formação foram lançados por terra. O alvo de Deus para nossas vidas é que sejamos completamente aprovados em nossas atitudes, nas motivações do nosso coração, que sejamos a expressão de Cristo para as pessoas no seu quebrantamento, amor e brandura. O poder de Deus expressa sempre Sua Grandeza e Glória, por outro lado o caráter de Cristo em nós revela Sua pessoa. Deus não tem como meta apenas revelar Sua Grandeza, Ele quer revelar-se. Mas como homens duros, obstinados, arrogantes e cheios de si podem chegar a essa posição de expressarem Cristo? Através dos tratamentos de Deus. Dentre estes os mais eficientes são o Deserto e as Circunstâncias.

O Que é o Deserto?

O deserto aponta para uma fase em nossas vidas determinada por Deus para nos amadurecer e aprofundar no relacionamento com Ele. É um tempo difícil para a carne e para o Ego, pois normalmente o deserto vem para golpeá-los.

A Bíblia diz que Deus é Pai, que nos ama e zela de nós com grande cuidado. Quando estamos no deserto, normalmente nos entristecemos achando que Deus não nos ama, não nos ouve e que nos rejeitou. Mas é exatamente o contrário! Nunca gostamos do deserto porque somos infantis no conhecimento de Deus. Tal como as crianças, nós gostamos do que é agradável mas detestamos o que nos causa desprazer. Deus não tem compromisso em nos ser agradável. Ele tem a decisão de fazer o que é melhor. Muitas vezes o que fazemos não agrada nossos filhos, mas não nos perturbamos. Sabemos que o que fazemos é o necessário. É o melhor. É com essa ótica que Deus nos envia ao deserto.

Deserto é Tempo de Pressão

Só somos totalmente conhecidos quando colocados sob pressão. E esta pressão vem, primeiro para que se torne conhecido o que realmente somos. Nós achamos que nos conhecemos bem. Que engano! Nesse processo de nos conhecermos, a auto-análise e a introspecção só atrapalham pois as suas cogitações vem da mente com conceitos totalmente deturpados. Fora da luz e revelação do Espírito Santo nenhum conceito sobre nós mesmos é digno de crédito. A auto-análise gera orgulho ou sentimentos de inferioridade, é carnal e altamente nociva. O deserto traz essa pressão a fim de que se manifeste o que somos para as pessoas. Há muitos irmãos que em condições normais gastam imensa energia da alma para manterem firmes suas máscaras de espiritualidade, paciência, brandura, pureza e profundidade no conhecimento de Deus. Estão todo o tempo se policiando a fim de vender uma imagem que não corresponde à sua realidade. Entretanto, quando as pressões do

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deserto vem, tudo desmorona. O que somos, somos. O que fingimos ser, cai às vistas de todos. Toda a nossa carnalidade fica exposta. O deserto nos capacita a suportar pressões. Não é possível Deus confiar nada a nós antes de passarmos pelo deserto. Esta fase em nossas vidas visa transformar pessoas fracas e vacilantes em pessoas fortes e corajosas. Antes de passarmos por esse tempo, quando as pressões do diabo, do sofrimento e do conflito vinham, nossa tendência era jogar tudo para cima, assentarmos sobre uma pedra e chorarmos clamando pela nossa mãe. Não éramos confiáveis. O deserto nos torna rijos, destemidos e calejados para as pressões. De tempos em tempos nossa capacidade de suportar pressões vai aumentando, ao mesmo tempo que aumenta a unção, as responsabilidades e o reconhecimento dos homens.

Sem passarmos pelo deserto tomaríamos para nós toda a glória que pertence a Deus. Não éramos confiáveis. Quando sob a menor pressão, tornávamos incrédulos, murmurávamos, e abandonávamos tudo. Após o deserto as coisas mudam.

Deserto é Lugar de Solidão

Por muitas vezes, quando mais desejei a presença de amigos, pastores e discípulos não as tive. Estava no deserto. Muitas vezes desejei a intimidade de grandes homens de Deus, mas em todas estas ocasiões fui frustrado por Deus. Eu depositava grandes expectativas na vida de alguns notáveis homens de Deus, mas o Senhor nunca permitiu que estas expectativas se cumprissem: Deus queria que dependesse exclusivamente dEle, não do homem. Temos toda essa tendência, sincera, de buscar a Deus através de homens e mulheres que já alcançaram grande intimidade com Ele. Não queremos passar pelo processo do deserto. Desejamos achar nas pessoas o que Deus quer nos dar de sua própria presença. O deserto vem para nos decepcionar com toda expectativa e esperança colocada no homem. Isso não é negativo, é muito bom para nós. Passamos a ter como única alternativa o Senhor. Chega um tempo em que já esperamos tanto do homem sem nada receber que nos desiludimos. Abandonamos aquela idéia infantil do "grande homem de Deus que virá de não sei de onde, vai impor as mãos não sei de que jeito eliminando todos os problemas e transformando a vida num mar de rosas".Na solidão do deserto parece que não há mais ninguém com quem podemos contar. Todas as pessoas se tornam distantes, impessoais e parecem não nos compreender. Isso é obra de Deus. Ele quer se tornar o nosso amigo mais íntimo, nosso companheiro de todas as horas, o ombro amado onde choramos as nossas tristezas. Ele se torna no deserto a única pessoa a quem podemos recorrer. Ao sairmos do deserto perdemos as amizades naturais, os heróis humanos, os parentes mais queridos e ganhamos a Deus. Bendita perda; bendito ganho!

O Deserto é Lugar do Esgotamento da Alma

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No deserto não tem água, não tem vida, não tem descanso. Só calor e exaustão. Nossas energias naturais vão se esgotando pouco a pouco até não haver mais nenhuma força, nenhum ânimo, nenhum entusiasmo. O tempo do deserto é tempo sem sabor, sem cor, sem novidade, sem sentimento. Deus retira todos os estímulos naturais que nos animavam no natural. O alvo de Deus é nos livrar da dependência da nossa vida natural e nos capacitar a depender inteiramente do Seu Espírito. Enquanto temos estímulos de todas as formas, não precisamos depender de Deus. Fazemos tudo no entusiasmo da alma. O alvo de Deus com esse tempo é retirar os estímulos a fim de andarmos nas nossas próprias forças e nos exaurirmos completamente.

Quantos homens e mulheres de Deus passam por períodos de estafa. O que caracteriza esse esgotamento é a exaustão de todas as energias da alma. Às vezes até oramos por tais irmãos para que Deus os restabeleça. Tal oração é contrária à vontade de Deus. Aliás, Deus mesmo vai cooperar para que a estafa, o esgotamento mais completo venha o mais depressa possível. Se andamos baseados em nossa vida natural, não estamos andando por fé e nem no Espírito. Chame como quiser mas a Bíblia diz que isso é andar na carne. Precisamos saber que andar na carne não é só cometer pecados grosseiros e manifestar aqueles frutos horríveis mencionados em Gálatas 5. Andar na carne é não depender de Deus, é depender de sua vida natural, de seu Ego. O deserto pois, vem para nos acabar. Vem para destruir toda auto-confiança.

Moisés antes do deserto desejava uma revelação e em seu afã matou com as mãos um egípcio. Parecia que a promessa de libertação da nação dependia exclusivamente dele. Após os 40 anos no deserto ele disse ao Senhor: "tu deves estar enganado, nem ao menos sei falar." Segundo a Bíblia Moisés se tornou o homem mais manso de toda a terra. Bendito deserto!

No Deserto Deus se Mostra Como Luz.

Podemos experimentar a presença de Deus sobre nós como deleite e como luz. Como é bom adorarmos o Senhor e sentirmos Sua maravilhosa presença. Não há na terra nada tão aprazível. Mas a Bíblia diz que Deus também se manifesta como luz:"Na tua luz vemos a luz"; "Ele é o sol da justiça " e "Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens".No deserto a poderosa presença de Deus se manifesta como uma forte e vigorosa luz que penetra nas regiões mais profundas e interiores de nosso ser. Sob a luz de Deus vamos conhecendo a Ele na Sua glória, por outro lado nos conhecendo em nossa miséria também. Que grande contraste há entre o Deus eterno e o eu finito; entre a Grandeza de Deus e a minha insignificância;entre o Deus Santo e o eu pecador. No Deserto conhecemos a face de Deus, ao mesmo tempo que nos conhecemos. Esse contraste entre a Glória e a miséria é que nos torna verdadeiramente humildes.Ao sairmos do deserto, saímos convencidos de que não há em nós mesmos nada útil para Deus, nada próprio para Deus, nada próprio para o Reino. Sabemos que

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somos totalmente desqualificados e vis. Moisés e Paulo eram tão cultos, tão capazes, tão arrogantes, tão independentes de Deus, tão seguros de si mesmos, tão inteligentes, tão auto-confiantes... Após o deserto o primeiro disse: "não sei falar"e o segundo disse:"não habita em mim bem nenhum; sou o maior pecador". Há muitos irmãos que afirmam conhecer a Deus, nas suas atitudes depõem o contrário. Quão incoerente é afirmarmos conhecer a Deus e sermos ao mesmo tempo orgulhosos, jactanciosos e arrogantes. A verdadeira maturidade não faz propaganda do seu próprio nome, não edifica um monumento a si mesmo e nem se julga competente. Quanto mais conheço a Deus, mais me conheço.

Nossa Maleabilidade Determina a Duração e a Intensidade do Deserto.

Deus espera sempre uma atitude responsiva no deserto. Mas o que é ter uma atitude responsiva? É sermos maleáveis, é não nos endurecermos ante aquilo que Deus vem golpeando. É tão triste ver crentes sendo tratados por Deus e que, ao invés de se humilharem fortalecem as antigas posições. Muitas vezes corremos esse risco de não sermos sensíveis e não percebermos que aquilo de negativo que está acontecendo é Deus desejando nos falar e nos mudar. Sofremos em nossa reputação e nos defendemos, somos criticados e criticamos; somos agredidos e agredimos. Sofremos prejuízo e logo inventamos um modo de passar o prejuízo para outro. Quando injustiçados vamos à desforra. Reivindicamos, exigimos, desprezamos e usamos da nossa força humana para estabelecer nossa própria vontade. Não percebemos que ao impormos estamos fora do padrão do caráter de Cristo e nos endurecemos contra os tratamentos de Deus, pois justamente aquilo que mais nos incomodou era a mão de Deus nos tratando. Aquele chefe no trabalho, aquele líder na Igreja, aquela pessoa que mais nos incomoda, aquele a quem mais é difícil de se submeter, amar e aceitar é justamente quem está mais sendo usado por Deus para nos aperfeiçoar. Ceda! Seja maleável, mude, responda a Deus. A mão bendita do oleiro se revela muitas vezes justamente na situação que você mais detesta. Quanto mais resistirmos em nossa obstinação e dureza mais tempo passamos no deserto. E quanto mais o tempo passa mais duro vai se tornando o deserto. Deus nos envia ao deserto para nos levar à semelhança de Cristo, entretanto algumas pessoas são tão duras, empedernidas e obstinadas que acabam morrendo no deserto. Vida cristã é coisa séria. Que seria morrer no deserto? É viver a vida inteira resistindo a Deus e sendo resistido por Ele. Não se usufrui de sua graça, de sua bênção, do seu descanso e da sua vida. Nada na vida dos tais funciona. Tornam-se pessoas amargas, críticas. Acham tudo muito falho. Estão sempre cheias de auto-piedade, de cobranças aos pais aos amigos e aos líderes na igreja. O mundo todo está errado, o mundo todo é alvo de suas fortes críticas. Ao agirem assim estão aprofundando o sofrimento, tornando as crises mais agudas e aumentando a fase do deserto. Moisés passou 40

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longos anos no deserto para que Deus pudesse usá-lo, para que a face do Senhor pudesse ser vista por ele. Deus não tem prazer no deserto. Ele tem prazer em nossa resposta. Há pessoas que falam do seu deserto como se fosse uma grande vantagem. Quão ignorantes são! Estão dando testemunho de sua grande dureza. Não devemos endurecer-nos, pelo contrário devemos amar a disciplina do Senhor cedendo rapidamente e mudando de coração e de atitudes. Na escola de Deus não se pode pular de cartilha. Se somos reprovados, nalgum tempo depois passaremos pelo mesmo teste. Isso se repetirá até darmos a Deus a resposta de quebrantamento e mudança que Ele espera de nós.

As Circunstâncias de Tratamento

Além do deserto, que poderíamos chamar de fases nas quais passamos uma ou mais vezes, Deus nos cria circunstâncias para nos aperfeiçoar. Essas circunstâncias certamente virão para tratar- nos nas áreas onde somos mais difíceis. Por exemplo: se o nosso coração é extremamente apegado a bens materiais Deus nos dará prejuízo, frustração após frustração. Se somos daquele tipo tímido que pouco liga para as coisas de Deus mas que é grandemente preocupado com a opinião das pessoas a seu respeito e com sua reputação, este irmão vai sofrer vexame após vexame até sua reputação ir para o brejo. Se é do tipo que ama os primeiros lugares, lhe será reservado sempre aquele lugar desprestigiado e ignorado. Se cobra o amor das pessoas, jamais o receberá. Isso se perpetuará até ceder a Deus tendo seu coração completamente nEle, até que se disponha ao invés de cobrar , dar amor, atenção, e respeito negando-se a si mesmo completamente.

O QUEBRANTAMENTO

Qualquer pessoa que serve a Deus descobrirá, mais cedo ou mais tarde, que o grande impedimento para a sua obra não são outras pessoas mas, sim, ela mesma. Descobrirá que sua alma e seu espírito não estão em harmonia, pois os dois tendem para direções opostas. Sentirá também, a incapacidade de sua alma submeter-se ao controle do espírito, tornando-a, assim, incapaz de obedecer aos mandamentos mais sublimes de Deus. Perceberá rapidamente que a maior dificuldade acha-se na sua alma, pois esta o impede de fazer uso do seu espírito.Muitos dos servos de Deus nem sequer conseguem fazer as obras mais elementares. Normalmente, devem ser capacitados pelo exercício do seu espírito a conhecer a Palavra de Deus, a discernir a condição espiritual de outra pessoa, entregar as mensagens de Deus com unção e receber as revelações de Deus. Mesmo assim, devido às distrações da alma parece que seu espírito não funciona apropriadamente. É basicamente porque a alma nunca foi tratada. Por esta razão, o reavivamento, o zelo, o muito implorar e o ativismo não passam de

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um desperdício de tempo. Conforme veremos, há apenas um só tratamento que pode capacitar o homem a ser útil diante de Deus: o quebrantamento.

O Homem Interior e o Homem Exterior

Note como a Bíblia divide o homem em duas partes: " Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus " (Rm 7:22). Nosso homem interior deleita-se na lei de Deus. “... que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior" (Ef. 3:16). E Paulo também nos informa: " Mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia" (2 Co 4:16).

Quando Deus vem habitar em nós mediante o Seu Espírito, a Sua vida e o Seu poder, entra em nosso espírito, é o que chamamos de" homem interior. " Fora deste homem interior há aalma, na qual funciona nossos pensamentos nossas emoções e nossa vontade. O homem periférico é nosso corpo físico. Assim, falaremos do homem interior como sendo o espírito, do homem exterior como sendo a alma, e do homem periférico sendo o corpo, Nunca devemos nos esquecer de que nosso homem interior é o espírito humano onde Deus habita, onde Seu Espírito se combina com nosso espírito. Assim como nós vestimos roupas, assim também nosso homem interior "veste" um homem exterior: o espírito "veste" a alma. E, de modo semelhante, o espírito e a alma "vestem" o corpo. Está bem evidente que o homem geralmente está mais consciente do homem exterior e do periférico, e dificilmente reconhece ou entende seu espírito.

Devemos saber que aquele que pode trabalhar para Deus, é aquele cujo homem interior pode ser liberado. A dificuldade básica de um servo de Deus acha-se no fracasso do homem interior de irromper pelo homem exterior. Logo, devemos reconhecer diante de Deus que a primeira dificuldade que enfrentamos na obra não está nos outros mas, sim em nós mesmos. Nosso espírito parece estar embrulhado num invólucro de modo que não pode facilmente irromper de lá. Se nunca aprendemos como liberar nosso homem interior por meio de irromper pelo homem exterior, não temos capacidade de servir. Nada pode obstacular-nos tanto quanto este homem exterior. Se nossas obras são frutíferas ou não, depende se nosso homem exterior foi quebrantado pelo Senhor de modo que o homem interior possa passar e se manifestar. Este é o problema básico. O Senhor deseja quebrar nosso homem exterior a fim de que o homem interior possa ter uma via de saída. Quando o homem interior for liberado, tanto os descrentes quanto os cristãos serão abençoados.

A Natureza Tem Sua Maneira de Quebrar

O Senhor Jesus conta-nos em João 12:24 "Se o grão de trigo, caindo na terra, morrer, produz muito fruto." A vida está no grão de trigo, mas há uma casca, uma casca muito dura, do lado de

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fora. Enquanto aquela casca não for rachada e aberta, o trigo não pode brotar nem crescer. "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer..." Que morte é essa? É o arrombar da casca mediante a cooperação da temperatura e a umidade no solo. Uma vez que a casca é fendida e aberta, o trigo começa a crescer. Então, a questão aqui não é se há vida dentro, mas, sim, se a casca externa foi rachada.

A Escritura continua, dizendo: "Quem ama sua vida (Grego, alma) perde-a; mas aquele que odeia a sua vida (Grego, alma) neste mundo, preserva-la-á para a vida eterna" (v.25). O Senhor nos mostra aqui que a casca externa é nossa própria vida (a vida da nossa alma), ao passo que a vida interior é a vida eterna que Ele nos deu. Para permitir que a vida interior se manifeste, é imperativo que a vida exterior seja rompida. Se o exterior permanecer intacto, o interior nunca poderá aparecer.

Dirijamos estas palavras para aquele grupo de pessoas que possui a vida do Senhor. Pode ser achada duas condições distintas: uma inclui aqueles em que a vida é confinada, restringida, aprisionada e incapaz de se manifestar; a outra inclui aqueles em que o Senhor forjou um caminho, e a vida deles, portanto, é liberada. A pergunta, pois, não é como obter a vida, mas, sim, como permitir que esta vida apareça. Quando dizemos que temos necessidade de que o Senhor nos quebrante, não é meramente um modo de falar, nem é apenas uma doutrina. É vital que sejamos quebrantados pelo Senhor. Não que a vida do Senhor não possa cobrir a terra, mas, sim, que Sua vida está sendo aprisionada por nós. Não que o Senhor não possa abençoar a igreja, mas, sim, que a vida do Senhor está tão confinada dentro de nós que não se manifesta. Se o homem exterior permanecer intacto, nunca poderemos ser uma bênção para a Sua igreja, e não podemos esperar que a palavra de Deus seja abençoada através de nós!

O Vaso de Alabastro Deve Ser Quebrado

A Bíblia conta acerca do Nardo puro. Deus, deliberadamente usou este termo "puro" na Sua palavra para mostrar que é verdadeiramente espiritual. Mas se o vaso de alabastro não for quebrado, o Nardo puro não fluirá. Por estranho que pareça, muitos ainda estão valorizando demasiadamente o vaso de alabastro, pensando que seu valor excede o do ungüento. Muitos pensam que seu homem exterior é mais precioso do que seu homem interior. Este fica sendo o problema na igreja. Uma pessoa tem em grande estima sua habilidade, pensando que é bem importante; outra valoriza suas próprias emoções, e se estima como uma pessoa muito espiritual; outra têm alta consideração por si mesmas, e sentem que são melhores que outros, que sua eloqüência ultrapassa a das demais, que sua rapidez de ação e exatidão de julgamento são superiores, e assim por diante. Nós, porém, não somos colecionadores de antiguidades; somos aqueles que desejamos cheirar somente a fragrância do ungüento. Sem quebrar

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o exterior, o interior não surgirá. Deste modo, individualmente não temos qualquer fluir, como também a igreja não tem um caminho vivo. Por que, pois, devemos considerar-nos tão preciosos, se nosso interior retém a fragrância, ao invés de liberá-la?

O Espírito Santo não cessou de operar. Um evento após outro, uma coisa após outra vem a nós. Cada operação disciplinar tem um só propósito: quebrar nosso homem exterior a fim de que nosso homem interior possa se manifestar. Aqui porém, está nossa dificuldade: ficamos impacientes por causa de ninharias, murmuramos diante de perdas de pequena monta. O Senhor está preparando um modo de usar-nos, mas, mal Sua mão nos tocou, sentimo-nos infelizes, até ao ponto de contendermos com Deus e de nos tornarmos negativos em nossas atitudes. Desde que fomos salvos, fomos tocados várias vezes e de várias maneiras pelo Senhor, e tudo com o propósito de quebrar nosso homem exterior. Quer tenhamos consciência disto, quer não, o alvo do Senhor é quebrar este homem exterior. Desta maneira, o Tesouro está no vaso de barro, mas se o vaso de barro não for quebrado, quem poderá ver o Tesouro que está dentro? Qual é o objetivo final da operação do Senhor em nossas vidas? É quebrar este vaso de barro, é quebrar nosso vaso de alabastro, é arrombar nossa casca. O Senhor anseia por achar um meio de abençoar o mundo através daqueles que pertencem a Ele. O quebrantamento é o caminho da bênção, o caminho da fragrância, o caminho da frutificação, mas também é um caminho salpicado de sangue. Sim, há sangue de muitas feridas. Quando nos oferecemos ao Senhor para fazer a Sua obra não podemos nos dar ao luxo da morosidade, de nos pouparmos. Devemos deixar que o Senhor rache totalmente nosso homem exterior, de modo que Ele possa achar um caminho para Suas operações. Cada um de nós deve descobrir para si mesmo qual é a mente do Senhor para sua vida. É um fato muitíssimo lamentável, que muitos não sabem qual é a mente ou intenção do Senhor para suas vidas. Precisam de que Ele abra os seus olhos, para ver que tudo quanto entra nas suas vidas pode ter significado. Entender o propósito do Senhor é ver muito claramente que Ele visa um único objetivo: o quebrantamento do homem exterior.

Muitas pessoas, no entanto, antes mesmo que o Senhor erga Sua mão, já estão aflitas. Oh! devemos reconhecer que todas as experiências, problemas e provações que o Senhor nos envia são para nosso bem supremo. Não podemos esperar que o Senhor nos dê coisas melhores, pois estas são as melhores. Se alguém se aproximasse do Senhor, e orasse, dizendo: "Oh Senhor, por favor, deixa-me escolher o melhor." Creio que Ele lhe diria: "Aquilo que Eu te dei é o melhor; tuas provações diárias são para teu máximo proveito." Assim, o motivo por detrás de toda a providência de Deus é quebrantar nosso homem exterior. Uma vez que isto ocorre e o espírito pode fluir, então, começamos a exercitá-lo.

O Tempo do Nosso Quebrantamento

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O Senhor emprega dois meios diferentes para quebrar nosso homem exterior: um é paulatino, o outro é repentino. Para alguns, o Senhor dá um quebrantamento súbito seguido por um paulatino. Com outros, o Senhor dispõe para que tenham provações diárias constantes, até que, um dia, leva a efeito um quebrantamento em grande escala. Se não for o repentino primeiro, e depois o paulatino, então, é o paulatino seguido pelo repentino. Parece que o Senhor normalmente trabalha conosco durante vários anos antes de poder realizar esta obra de quebrantamento.

A cronologia está na mão dEle. Não podemos encurtar o tempo, embora certamente o possamos prolongar. Em algumas vidas, o Senhor pode realizar esta obra depois de uns poucos anos de trato; noutras, é evidente que depois de dez ou vinte anos a obra ainda está incompleta. Isto é muito sério! Nada é mais lastimável do que desperdiçar o tempo de Deus. Quão freqüentemente a igreja é atrapalhada! Podemos pregar com o uso da nossa mente, podemos comover os outros com o uso das nossas emoções; mas se não sabemos usar nosso espírito, o Espírito de Deus não poderá tocar as pessoas através de nós. A perda será grande, se prolongarmos desnecessariamente o tempo. Logo, se nunca antes nos consagramos de modo total e inteligente ao Senhor, façamo-lo agora, dizendo: "Senhor, para o futuro da igreja, para o evangelho, para o Teu caminho, e também para minha própria vida, ofereço-me sem condições, sem reservas, nas Tuas mãos. Senhor, deleito-me em oferecer-me a Ti e estou disposto a deixar-Te fazer toda a Tua vontade através de mim."

O Significado da Cruz

Ouvimos falar freqüentemente acerca da cruz. Talvez estejamos por demais familiarizados com o termo. Mas o que é a cruz afinal das contas? Quando realmente compreendermos a cruz, veremos que significa o quebrantamento do homem exterior. A cruz reduz o homem exterior à morte; racha a casca humana e a abre. A cruz deve quebrar tudo quanto pertence ao nosso homem exterior: nossas opiniões, nossos modos, nossa habilidade, nosso amor-próprio, nosso tudo. Tão logo que nosso homem exterior é destruído, nosso espírito pode sair facilmente para fora. Considere certo irmão, como exemplo. Todos quantos o conhecem reconhecem que tem uma mente aguçada, uma vontade dinâmica, e profundas emoções. Mas, ao invés de ficarem impressionadas por estas características naturais da sua alma, impressionam com a facilidade de tocar em seu espírito. Sempre que as pessoas estão tendo comunhão com ele, encontram um espírito, em espírito limpo. Por que? Porque tudo quanto é da sua alma foi transformado. Esta transformação do homem exterior é uma questão fundamental. Devemos deixar o Senhor forjar um caminho em nossas vidas.

Duas Razões para Não Ser Quebrantado

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Por que é que, depois de muitos anos de trato, algumas pessoas permanecem inalteradas? Alguns indivíduos tem uma vontade forte; alguns tem emoções fortes; e outros tem uma mente forte. O Senhor pode quebrantá-los e há duas razões principais para isto acontecer. A primeira é que muitos que vivem nas trevas não estão vendo a mão de Deus. Enquanto Deus está operando, enquanto está destruindo, não reconhecem que o tratamento vem da parte dele. Estão destituídos de luz, e, somente vêem homens que se opõem a eles. Imaginam que o meio-ambiente é realmente difícil, que as circunstâncias são as culpadas.Não entendem que não é mão humana e nem mão de família nem de irmãos e irmãs na igreja, mas, sim, a de Deus. Assim, continuam nas trevas e no desespero, perdendo oportunidades de serem quebrantados pelo Senhor. A segunda razão, outro grande impedimento à obra de quebrantar o homem exterior é o amor-próprio. Devemos pedir que Deus remova nosso o coração do amor-próprio. A medida em que Ele lida conosco em resposta à nossa oração, devemos adorar e dizer: "Ó Senhor, se isto for da Tua mão, que eu o aceite no meu coração." Lembremo-nos de que a única razão para todo mal entendido, toda a irritação, todo descontentamento, é que secretamente amamos a nós mesmos. Assim, planejamos um modo mediante o qual podemos livrar a nós mesmos. Muitas vezes, os problemas surgem porque procuramos uma via de escape, uma fuga da operação da cruz. Não tente escapar da cruz pois assim só adiará o tempo de Deus na sua vida. Deixe Deus operar até que atinja Seu propósito, que não é outro senão que Sua vida seja vivida através de ti.

As Feridas Virão Inevitavelmente.

Ninguém é mais belo do que alguém que está quebrantado! A teimosia e o amor-próprio cedem lugar à beleza na pessoa que foi quebrantada por Deus. Vemos Jacó no Antigo Testamento, mesmo no ventre da sua mãe, lutava com seu irmão. Era sutil, enganoso, traiçoeiro. Por isso, sua vida estava cheia de tristezas e mágoas. Ainda jovem, fugiu do seu lar. Durante vinte anos foi logrado por Labão. A esposa do amor de seu coração, Raquel, morreu prematuramente. O filho do seu amor, José, foi vendido. Anos mais tarde, Benjamin foi preso no Egito. Deus tratou com ele sucessivamente, e Jacó encontrou infortúnio após infortúnio. Finalmente, depois de muitos tratamentos deste tipo, o homem Jacó foi transformado. Durante seus últimos anos, era bem transparente. Quão nobre foi sua resposta a Faraó! Quão belo foi seu fim, quando adorou a Deus, apoiado no seu bordão! Quão claras eram suas bênçãos pronunciadas sobre seus descendentes! Depois de ler a última página da sua história, queremos curvar a cabeça e adorar a Deus. Aqui temos alguém que está amadurecido, que conhece a Deus. Várias décadas de tratos tiveram como resultado que o homem exterior de Jacó foi quebrantado. Na sua velhice, o quadro é belo.

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Cada um de nós tem boa parte da mesma natureza de Jacó em nós. Nossa única esperança é que o Senhor marque um caminho para fora, quebrando o homem exterior de tal maneira que o homem interior possa surgir e se visto; isto é precioso, e é o caminho daqueles que servem ao Senhor. Somente assim podemos servir; somente assim podemos levar os homens ao Senhor. Tudo o mais está limitado quanto ao seu valor. Somente a pessoa através de quem Deus pode aparecer, é útil.

Depois de nosso homem exterior ter sido ferido, tratado, e levado por várias provas, deixamos o espírito emergir. É triste encontrar alguns irmãos e irmãs cujo ser total permanece intacto, nunca tendo sido tratado e transformado. Que Deus tenha misericórdia de nós, mostrando-nos claramente este caminho, e revelando-nos que é o único caminho. Que ninguém menospreze os tratos do Senhor. Que Ele nos revele verdadeiramente o que significa o quebrantamento do homem exterior. Se o homem exterior permanecesse integral, tudo seria meramente mente, totalmente inútil. Tenhamos esperança de que o Senhor venha a tratar de nós de modo completo.

Como Nós Somos Antes do Quebrantamento

O quebrantamento da alma é a experiência de todos aqueles que servem a Deus. Deve acontecer antes que Ele possa nos usar de modo eficaz. Quando alguém está trabalhando para Deus, duas possibilidades podem surgir. Primeiramente, é possível que, com o homem exterior intacto, o espírito da pessoa seja inerte e incapaz de funcionar. Se for uma pessoa habilidosa, sua mente governa seu trabalho; se for uma pessoa compassiva, as emoções controlam suas ações. Tal trabalho pode parecer bem sucedido, mas não pode trazer as pessoas a Deus. Em segundo lugar, o espírito pode aparecer revestido dos pensamentos ou das emoções da própria pessoa. O resultado é misturado e impuro. Tal obra trará os homens para uma experiência mista e impura. Estas duas condições enfraquecem nosso serviço a Deus.

Se desejamos trabalhar de modo eficaz devemos reconhecer que, basicamente, " é o Espírito que vivifica." Mais cedo ou mais tarde - se não no primeiro dia da nossa salvação, talvez dez anos mais tarde - devemos reconhecer este fato. Muitos têm de ser trazidos ao fim da sua sabedoria e ver o vazio da sua labuta antes de saberem quão inúteis são seus muitos pensamentos, suas variadas emoções. Não importa quantas pessoas você pode atrair com seus pensamentos ou emoções, o resultado vem a ser nada. Finalmente devemos confessar: " É o Espírito que vivifica." Somente o Espírito faz as pessoas viverem. O homem pode ser trazido para a vida somente pelo Espírito. Muitas pessoas que servem ao Senhor chegam a enxergar este fato somente depois de passarem por muita tristeza e muitos fracassos. Finalmente, a palavra do Senhor passa a ter significado para elas: aquilo que vivifica é o Espírito. Quando o espírito é liberado, os pecadores podem nascer de novo e os santos podem ser estabelecidos. Quando a vida é comunicada

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através do canal do espírito, aqueles que a recebem nascem de novo. Quando a vida é fornecida através do espírito para os crentes, resulta em serem estabelecidos. Sem o Espírito, não pode haver novo nascimento, nem estabelecimento.

Uma coisa notável é que Deus não quer fazer distinção entre o Seu Espírito e o nosso espírito. Há muitos lugares na Bíblia onde é impossível determinar se a palavra " espírito" indica nosso espírito humano ou o Espírito de Deus. Os tradutores bíblicos, desde Lutero até os estudiosos da atualidade que labutaram nas versões, não conseguiram resolver se a palavra " espírito”, usada em muitos lugares no Novo Testamento, se refere ao espírito humano ou ao Espírito de Deus.

Da Bíblia inteira, Romanos 8 é muito provavelmente o capítulo em que a palavra " espírito" é empregada mais freqüentemente. Quem pode discernir quantas vezes a palavra "espírito" neste capítulo se refere ao espírito humano e quantas vezes ao Espírito de Deus? Em várias versões existentes, a palavra " pneuma" (espírito) às vezes é escrita com uma letra maiúscula; noutras ocasiões, com uma letra minúscula. É simplesmente impossível distinguir. Quando, na regeneração, recebemos nosso novo espírito, recebemos o Espírito de Deus, também. No momento em que nosso espírito humano é ressuscitado do estado da morte, recebemos o Espírito Santo. Freqüentemente dizemos que o Espírito Santo habita em nosso espírito, mas achamos difícil discernir qual é o Espírito Santo e qual é o nosso próprio espírito. O Espírito Santo e nosso espírito se combinam tanto, que embora cada um seja individual, não são facilmente distinguidos.

Deste modo, a liberação do espírito, é a liberação do espírito humano, bem como a do Espírito Santo, que está no espírito do homem. Visto que o Espírito Santo e o nosso espírito, são unidos em um só (1 Co 6:17), pode ser distinguidos somente no nome, e não no fato. E visto que a liberação de um importa na liberação dos dois, outros podem tocar o Espírito Santo quando tocam o nosso espírito. Graças a Deus porque à medida em que você deixa as pessoas entrarem em contato com o seu espírito, deixa-as terem contato com Deus. O seu espírito trouxe o Espírito Santo aos homens.

Quando o Espírito Santo está operando, precisa ser transportado pelo espírito humano. A eletricidade numa lâmpada elétrica, não viaja como o raio. Deve ser conduzida através de fios elétricos. Se você quiser usar a eletricidade, precisa de um fio elétrico para trazê-la até você. De modo semelhante, o Espírito de Deus faz uso do espírito humano para transmiti-lo, e através dele, Ele é trazido ao homem.

Toda pessoa que recebeu a graça, tem o Espírito Santo habitando no seu espírito. Se pode ser usado pelo Senhor, ou não, depende, não do seu espírito, mas, sim, do seu homem exterior. A dificuldade de muitas pessoas é que seu homem exterior não foi quebrantado. Não há evidência daquele caráter marcado pelo sangue - daquelas chagas ou cicatrizes. Assim, o Espírito de Deus é aprisionado dentro do espírito do homem e não pode irromper e

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sair. Às vezes o nosso homem exterior está ativo, mas o homem interior permanece inativo. O homem exterior se manifesta, enquanto que o homem interior fica para trás.

Alguns Problemas Práticos

Vamos passar tudo isto em revista através de alguns problemas práticos! Tomemos a pregação como um exemplo. Quão freqüentemente podemos estar pregando com sinceridade - dando uma mensagem bem preparada e sólida - mas interiormente nos sentimos frios como gelo. Ansiamos por animar os outros, mas nós mesmos não ficamos comovidos. Há falta de harmonia entre o homem exterior e o interior. O homem exterior está suado com o calor, mas o homem interior está tremendo de frio. Podemos contar aos outros quão grande é o amor do Senhor, mas pessoalmente não somos tocados por ele. Podemos contar aos outros quão trágico é o sofrimento da cruz, mas, ao voltar para nosso quarto, podemos rir. O que podemos fazer a respeito disto? Nossa mente pode labutar, nossas emoções podem ser energizadas, mas o tempo todo, temos a sensação de que o homem interior está meramente observando os acontecimentos. O homem exterior e o interior não estão unidos.

Considere outra situação. O homem interior está sendo devorado pelo zelo. A pessoa quer gritar, mas nada consegue expressar. Depois de falar por muito tempo parece que ainda está andando em círculos. Quanto mais anseia por falar, mas não consegue achar expressão. Quando se encontra com um pecador, seu homem interior tem vontade de chorar, mas ele não consegue derramar uma lágrima. Há um senso de urgência dentro dele, mas quando sobe ao púlpito e procura gritar, vê-se perdido num labirinto de palavras. Uma situação desta é muito penosa. A causa radical é a mesma: a casca externa ainda se apega a ele. O exterior não obedece aos ditames do interior: chorando por dentro, mas por fora, sem se comover; sofrendo por dentro, mas por fora, a mente parece estar em branco. O espírito ainda tem de descobrir um meio de atravessar a casca.

Deste modo, o quebrantamento do homem exterior é a primeira lição para toda pessoa que deseja aprender a servir a Deus. Aquele que é verdadeiramente usado por Deus, é aquele cujo pensamento e emoção externa, não agem independentemente. Se não aprendermos esta lição, a nossa eficácia, será grandemente prejudicada. Que Deus nos traga ao lugar em que o homem exterior é completamente quebrantado.Quando prevalecer esta condição, haverá fim desta atividade exterior com a inércia interior; acabará o chorar interior com a compostura exterior. Seus pensamentos ajudarão o seu espírito ao invés de atrapalhá-lo.

De modo semelhante, nossas emoções também são uma casca muito dura. Muitos que desejam estar felizes não podem expressar felicidade, ou talvez queiram chorar, sem, porém, consegui-lo. Se o Senhor tiver ferido nosso homem exterior através

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da disciplina ou da iluminação do Espírito Santo, poderemos expressar alegria ou tristeza conforme os ditames do interior.

A liberação do espírito nos possibilita permanecer cada vez mais em Deus. Tocamos o espírito da revelação divina. Quando estamos testemunhando ou pregando, transmitimos a palavra de Deus através do nosso espírito. Além disto, podemos, muito espontaneamente, entrar em contato com o espírito dos outros, mediante o nosso espírito. Sempre que alguém fala em nossa presença, podemos "tirar a medida dele" - avaliar que tipo de pessoa é, qual atitude está adotando, que tipo de cristão é, e qual é a sua necessidade. Nosso espírito pode tocar o espírito dele. E o que é maravilhoso, é que outros facilmente entram em contato com o nosso espírito. No caso de alguns, apenas temos um encontro com seus pensamentos, com suas emoções, ou com sua vontade. Depois de conversar com eles durante horas a fio, ainda não encontramos a pessoa real, embora ambos sejamos cristãos. A casca exterior é grossa demais para outras pessoas tocarem o homem interior. Com o quebrantamento do homem exterior, o espírito começa a fluir e sempre está aberto diante de outras pessoas.

Aventurando-se e Recolhendo-se

Uma vez que o homem exterior tenha sido quebrantado, o espírito do homem muito naturalmente, permanece na presença de Deus sem cessar. Dois anos depois de certo irmão ter confiado no Senhor, leu “ A Prática da Presença de Deus" do Irmão Lawrence. Depois de lê-lo, sentiu-se aflito com seu fracasso quanto a permanecer incessantemente na presença de Deus como o Irmão Lawrence. Fez então, uma aliança com horário marcado para orar com alguém. Por que? Bem, a Bíblia diz: "Orai sem cessar," eles mudaram a expressão para " Orai toda hora." Cada vez que ouviam o relógio bater a hora, oravam. Esforçavam-se ao máximo para recolher-se em Deus, porque achavam que não podiam manter-se continuamente na Sua presença. Era como se Ele tivesse ido embora quietamente enquanto trabalhavam, e, assim precisassem rapidamente recolher-se em Deus. Ou se projetasse para fora enquanto estudavam, e agora deviam fazer um rápido retorno para Deus. De outra forma, achar-se-iam ausentes de Deus durante o dia inteiro. Oravam freqüentemente, passando dias inteiros orando no Dia do Senhor e metade do dia aos sábados. Assim continuaram, durante dois ou três anos. Mesmo assim, o problema ainda permanecia: recolhendo-se, desfrutavam da presença de Deus, mas ao saírem para fora, perdiam-na. Naturalmente, este problema não é só deles; tal é a experiência de muitos cristãos. Indica que estamos procurando manter a presença de Deus por meio da nossa memória. O senso da Sua presença flutua de acordo com a nossa memória. Quando nós nos lembramos, há a consciência da Sua presença; senão, não há nenhuma. Isto é pura tolice, pois a presença de Deus está no espírito e não na memória.

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Para solucionar este problema, devemos primeiramente resolver a questão do quebrantamento do homem exterior. Visto que nem nossa emoção nem nosso pensamento tem a mesma natureza que Deus, não podem ser juntados com Ele. O Evangelho segundo João, capítulo 4, mostra-nos a natureza de Deus. Deus é Espírito. Somente nosso espírito é da mesma natureza de Deus; logo, pode ser eternamente unido com Ele. Se procurarmos chegar a obter a presença de Deus por meio de dirigir nosso pensamento, então, quando não estamos nos concentrando, Sua presença parece perdida. Além disto, se procurarmos usar nossa emoção, a mesma coisa acontece, Sua presença parece ter ido embora.Às vezes estamos felizes, e tomamos este fato por termos a presença de Deus. Deste modo, quando a felicidade cessa, a presença foge! Ou podemos supor que Sua presença está conosco enquanto lastimamos e choramos. Infelizmente, não podemos derramar lágrimas durante nossa vida inteira. Logo, nossas lágrimas se secarão, e depois, a presença de Deus desaparece. Tanto nossos pensamentos quanto nossas emoções são energias humanas. Todas as atividades devem chegar ao fim. Se procuramos manter a presença de Deus com a atividade, então, quando a atividade cessa, Sua presença termina. A presença de Deus requer uma natureza igual à dEle. Somente o homem interior é da mesma natureza de Deus. Através dele, exclusivamente, a presença de Deus pode ser manifestada. Quando o homem exterior está em atividades, estas podem perturbar o homem interior, de tocar na presença de Deus.

Deus nos deu o espírito para nos capacitar a corresponder a Ele. O homem exterior, no entanto, sempre está correspondendo às coisas de fora, e daí nos priva da presença de Deus. Não podemos destruir todas as coisas do lado de fora, mas podemos quebrantar o homem exterior. Milhões e bilhões de coisas no mundo, estão totalmente além do nosso controle. Cada vez que alguma coisa acontece, nosso homem exterior corresponderá; todavia não conseguimos desfrutar em paz da presença de Deus. Concluímos, portanto, que experimentar a presença de Deus depende do quebrantamento do nosso homem exterior. Se, pela misericórdia de Deus, nosso homem exterior foi quebrantado, podemos ser caracterizados da seguinte maneira: Ontem, estávamos cheios de curiosidade, mas hoje é impossível ser curioso. Anteriormente, nossas emoções podiam facilmente ser despertadas, ou movendo nosso amor, a mais delicada das emoções, ou provocando nossa ira, a mais grosseira delas. Mas agora, sejam quantas forem as coisas que vierem em cima de nós, nosso homem interior fica imperturbável, a presença de Deus fica imutável, e nossa paz interior permanece sem a mais leve agitação. Torna-se evidente que o quebrantamento do homem exterior é a base para desfrutar da presença de Deus. O Irmão Lawrece estava ocupado em serviços de cozinha. As pessoas pediam, impacientes, as coisas que queriam. Embora houvesse o tinido de pratos e utensílios, seu homem interior não se perturbava. Podia sentir a presença de Deus na agitação de uma cozinha tanto quanto na oração em momentos

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quietos. Por que? Estava impenetrável aos barulhos externos. Aprendera a comungar no seu espírito e desconsiderar a vida da sua alma.

Alguns acham que, para ter a presença de Deus, seu ambiente deve estar livre de perturbações tais como o tinido dos utensílios. Quanto mais longe estão da humanidade, tanto melhor poderão sentir a presença de Deus. Que erro! O problema acha-se, não nos pratos, nem nas outras pessoas, mas, sim, neles mesmos. Deus não vai livrar-nos dos pratos; livrar-nos-á das nossas respostas! Não importa quão barulhento fica lá fora, o lado de dentro não precisa corresponder. Visto que o Senhor quebrantou nosso homem externo, simplesmente reagimos como se não tivéssemos ouvido. Louvado seja Deus, podemos possuir uma audição muito afinada, mas, devido à obra da graça em nossas vidas, não estamos influenciados de modo algum pelas coisas que fazem pressões sobre nosso homem exterior. Podemos ficar diante de Deus em tais ocasiões tanto quanto, quando estivermos orando sozinhos.

Uma vez que o homem exterior é quebrantado, a pessoa já não precisa recolher-se em Deus, pois sempre está na presença Dele. Não é assim no caso daquele cujo homem exterior ainda está intacto. Depois de fazer algum dever, precisa voltar, pois supõe que se movimentou para longe de Deus. Até mesmo ao fazer a obra do Senhor, escapa dAquele a quem serve. Assim, parece que a melhor coisa para ele é não fazer movimento algum. Apesar disto, os que conhecem a Deus não precisam voltar, porque nunca se ausentaram. Desfrutam da presença de Deus quando consagram um dia a oração, e desfrutam da mesma presença em grau muito semelhante quando estão ativamente ocupados nas tarefas da vida diária. Talvez seja nossa experiência comum que, ao nos aproximarmos de Deus, sentimos Sua presença; ao passo que, se estamos ocupados em algum trabalho, sentimos que fizemos uma longa viagem e que devemos voltar. Qual é a resposta? O quebrantamento do homem exterior torna desnecessárias tais voltas. Sentimos a presença de Deus na nossa conversação e tarefas diárias tanto quanto ajoelhados em oração. Cumprir nossas tarefas diárias não nos afasta de Deus; logo, não precisamos voltar.

A Divisão Entre o Homem Exterior e o Interior:

Alma e Espírito

Quando o homem exterior é quebrado, as coisas de fora serão conservadas fora, e o homem interior viverá diante de Deus continuamente. O problema de muitas pessoas é que seu homem exterior e seu homem interior estão juntos, de modo que o que influencia o externo influencia o interno. Através da operação misericordiosa de Deus, o homem exterior e o homem interior devem ser separados. Então, aquilo que afeta o homem exterior não poderá alcançar o interior. Embora o homem exterior esteja

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ocupado numa conservação, o homem interior está tendo comunhão com Deus. O homem exterior talvez ache pesaroso ter que ouvir o tinido dos pratos; o homem interior, no entanto, permanece em Deus. A pessoa pode levar a efeito suas atividades, entrar em contato com o mundo através do homem exterior, mas, mesmo assim, o homem interior permanece sem ser afetado porque vive diante de Deus.

Consideremos um ou dois exemplos. Certo irmão está trabalhando na estrada. Se seu homem exterior e interior já foram divididos, este último não será perturbado pelas coisas externas. Pode labutar no seu homem exterior, enquanto, ao mesmo tempo, está internamente adorando a Deus. Ou considere um pai: seu homem exterior talvez esteja rindo e brincando com seu filhinho. De repente, surge certa necessidade espiritual. Pode imediatamente enfrentar a situação com seu homem interior, pois nunca esteve ausente da presença de Deus. Assim, é importante que reconheçamos que a divisão entre o homem exterior e o homem interior tem um efeito muito decisivo sobre o trabalho e a vida da pessoa. Somente assim é que a pessoa pode labutar sem distração.

Podemos descrever os crentes como sendo pessoas "únicas" ou " duplas." No caso de alguns, seu homem interior e exterior são um só; com outros, os dois foram separados. Enquanto alguém é uma pessoa " única," deve conclamar a totalidade do seu ser para seu trabalho ou para sua oração. Ao trabalhar, deixa Deus para trás. Ao orar mais tarde, deve separar-se do seu serviço. Porque seu homem exterior não foi quebrantado, está forçado a aventurar-se e a recolher-se. A pessoa " dupla," do outro lado, tem a capacidade de trabalhar com seu homem exterior enquanto seu homem interior permanece constantemente diante de Deus. Sempre que a necessidade surge, seu homem interior pode fluir com força e manifestar-se diante de outras pessoas. Desfruta da presença ininterrupta de Deus. Perguntemos a nós mesmos: Sou uma pessoa " única" ou " dupla "? Faz toda a diferença, realmente, se o homem exterior é dividido do interior.

Se, pela misericórdia de Deus, você experimentou esta divisão, você sabe que há um homem dentro de você que mantém a calma. Embora o homem exterior esteja ocupado em coisas externas, estas não penetrarão no homem interior.

Aqui está o segredo maravilhoso! Conhecer a presença de Deus é através da divisão destes dois. O Irmão Lawrence parecia ativamente ocupado com os trabalhos da cozinha, mas dentro dele havia outro homem que ficava diante de Deus e que desfrutava de comunhão com Ele, sem perturbação alguma. Semelhante divisão interior conservará nossas reações livres da contaminação da carne e do sangue.

Concluindo, lembremo-nos de que a capacidade de usar nosso espírito depende da obra dupla de Deus: o quebrantamento do homem exterior e a divisão entre o espírito e a alma, ou seja: a separação do nosso homem interior do exterior. Somente depois de Deus ter realizado estes dois processos em nossa vida é que poderemos exercitar nosso espírito. O homem exterior é

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quebrantado mediante a disciplina do Espírito Santo; é dividido do homem interior pela revelação do Espírito Santo(Hb 4:12).

A Manifestação de Deus e a Restrição de Deus

Houve um tempo em que Deus Se confiou à forma humana na Pessoa de Jesus de Nazaré. Antes do Verbo Se tornar carne, a plenitude de Deus não conhecia limite algum. No entanto, uma vez que a encarnação veio a ser uma realidade, Sua obra e Seu poder eram limitados a esta carne. Este Homem, Cristo Jesus, restringirá a Deus ou O manifestará? A Bíblia nos mostra que, longe de limitar a Deus, Ele manifestou a plenitude de Deus de modo maravilhoso.

Em nossos dias, Deus Se confia à igreja. Seu poder e Sua obra estão na igreja. Assim como nos Evangelhos achamos toda a obra de Deus dada ao Filho, assim hoje Deus confiou à igreja todas as Suas obras, e não agirá à parte dela. Desde o Dia do Pentecoste até ao tempo presente, a obra de Deus tem sido levada à efeito através da igreja. Pense na responsabilidade tremenda da igreja! O ato de Deus em confiar-Se à igreja é como Seu ato anterior de confiar-Se a um só Homem, Cristo - sem reservas, sem restrições. A igreja, porém, pode restringir a obra de Deus ou limitar Sua manifestação.

Jesus de Nazaré é o próprio Deus. Seu ser inteiro, de dentro para fora, é revelar a Deus. Suas emoções refletem as emoções de Deus; Seus pensamentos revelam os pensamentos de Deus. Enquanto estava nesta terra podia dizer: "Não para fazer a minha própria vontade; e, sim, a vontade daquele que me enviou..." O Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai... Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar" (João 6:38; 5:19; 12:49). Aqui vemos um Homem em quem Deus depositou sua confiança.

Ele é o Verbo que Se tornou carne. É Deus que Se tornou homem. É perfeito. Quando veio o dia em que Deus desejou Distribuir Sua vida entre os homens, aquele Homem podia declarar: " Se o grão de trigo, caindo na terra... morrer, produz muito fruto " (João 12:24). Deste modo, Deus escolheu a igreja para ser Seu vaso hoje - o vaso daquilo que Ele fala, para a manifestação do Seu poder e da Sua operação. O ensino básico dos Evangelhos é a presença de Deus em um Homem, ao passo que o das Epístolas é a de Deus na igreja. Quando esta luz raiar sobre nós, ergueremos espontaneamente nossos olhos ao céu, dizendo: " Ó Deus! Quanto nós Te impedimos!" Em Cristo, o Deus onipotente ainda era onipotente sem sofrer qualquer restrição ou estreitamento. O que Deus espera hoje é que este mesmo poder possa permanecer intacto à medida em que Ele reside na igreja. Ele deve ficar tão livre para manifestar-Se na igreja quanto o era em Cristo. Qualquer restrição ou incapacidade na igreja invariavelmente limitará a Deus. Esta é uma coisa muito séria; não a mencionamos levianamente. O impecilho em cada um de nós constitui-se um impecilho para Deus.

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Por que a disciplina do Espírito Santo é tão importante? Porque a divisão entre o espírito e a alma é tão urgente? É porque Deus precisa ter um caminho através de nós. Que ninguém pense que estamos interessados apenas na experiência espiritual. Nosso zelo e dedicação é o caminho de Deus e Sua obra. Deus está livre para operar através das nossas vidas? A não ser que sejamos tratados e quebrantados através da disciplina, restringiremos a Deus. Sem o quebrantamento do homem exterior, a igreja não pode ser um canal para Deus.

O Quebrantamento e a Maneira de Deus Operar

Passemos agora a considerar como o quebrantamento do homem exterior afetará nosso modo de ler a Bíblia, nosso modo de ser ministros da Sua Palavra, e nossa pregação do evangelho. Lendo a Bíblia: É sem dúvida que o que somos, determina o proveito que tiramos da Bíblia. Quão freqüentemente o homem, na sua soberba, depende da sua mente não-renovada e confusa para ler a Bíblia. O fruto é nada senão seu próprio pensamento. Não toca o espírito das Sagradas Escrituras. Se esperamos encontrar o Senhor na Sua Palavra, nossos pensamentos devem primeiramente ser quebrantados por Deus. Talvez tenhamos alto conceito da nossa habilidade, mas para Deus é um grande obstáculo. Nunca poderá levar-nos ao pensamento de Deus.

Há, pelo menos, duas exigências básicas para ler a Bíblia. Primeiramente, nosso pensamento deve entrar no pensamento da Bíblia; e, em segundo lugar, nosso espírito deve entrar no espírito da Bíblia. Você deve pensar como o escritor, seja Paulo, Pedro ou João, estava pensando quando escrevia a Palavra de Deus. Seu pensamento deve começar onde o pensamento dele começa, e desenvolver como o dele se desenvolve. Você deve ter a capacidade de raciocinar como ele raciocina e de exortar como ele exorta. Em outras palavras, seu pensamento deve ser engrenado com o pensamento dele. Isto permitirá ao Espírito que lhe dê o significado exato das Escrituras.

Pense numa pessoa que vem à Bíblia com sua mente já fixa. Lê a Bíblia para obter apoio para suas doutrinas preconcebidas. Que tragédia! Uma pessoa experiente, depois de escutar alguém assim falar durante cinco ou dez minutos, pode discernir se quem fala está usando a Bíblia para suas próprias finalidades, ou se seu pensamento entrou no pensamento da Bíblia. Há uma diferença de âmbitos aqui. Uma pessoa pode levantar-se e dar uma mensagem agradável que parece ser bíblica, mas, na realidade, seu pensamento é contraditório ao pensamento da Bíblia. Ou podemos escutar alguém pregar, cujo pensamento expressa o pensamento da Bíblia e, portanto, é harmonioso e unido com ela. Embora esta condição deva ser anormal nem todos chegam a ela. Para unir nosso pensamento com o pensamento da Bíblia, é necessário que

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nosso homem exterior seja quebrantado. Não pense que nossa leitura bíblica é fraca por causa de falta de instrução. O defeito está muito mais em nós, porque nossos pensamentos não foram subjugados por Deus. Ser quebrantado desta maneira é o cessar das nossas próprias atividades e do nosso pensamento subjetivo, e paulatinamente começar a tocar a mente do Senhor e seguir a tendência do pensamento da Bíblia. Não é antes de ser quebrantado o homem exterior que podemos entrar no pensamento da Palavra de Deus.

Ora, embora isto seja importante, ainda nos falta mencionar o assunto primário. A Bíblia é mais do que palavras, idéias e pensamentos. O aspecto mais destacado da Bíblia é que o Espírito de Deus é liberado através deste Livro. Quando um escritor, seja Pedro, João, Mateus ou Marcos, é inspirado seu espírito é liberado juntamente com o Espírito Santo. O mundo não pode entender que há um espírito na Palavra de Deus, e que aquele espírito pode ser liberado exatamente como é manifestado no ministério profético. Hoje, se você estiver escutando uma mensagem profética, reconhecerá que está presente algo misterioso, além das palavras e dos pensamentos. Você pode sentir isto claramente, e podemos muito bem chamá-lo o espírito na Palavra de Deus.

Não há somente pensamentos na Bíblia; o próprio espírito se manifesta através dela. Assim, é somente quando seu espírito pode sair e tocar o espírito da Bíblia, que você pode entender o que a Bíblia está dizendo. Ilustrando: pensemos num menino mau que deliberadamente quebra a janela de um vizinho. O vizinho sai e lhe faz fortíssimas censuras. Quando a mãe do menino fica sabendo da travessura, ela também o repreende severamente. Mas, de alguma maneira, há uma diferença de espírito entre as duas repreensões. A primeira é mal-humorada, feita com um espírito zangado; a outra expressa o amor, a esperança, e o treinamento. Este é apenas um exemplo simples. O Espírito que inspira a composição das Escrituras é o Espírito eterno, sempre presente na Bíblia. Se nosso homem exterior foi quebrantado, nosso espírito é liberado e pode tocar aquele Espírito que inspira as Escrituras. De outra forma, a Bíblia permanecerá como um livro morto em nossas mãos.

O Ministério da Palavra: Deus deseja que entendamos a Sua Palavra, pois este é o ponto de partida do serviço espiritual. Está igualmente solícito para colocar Sua Palavra como mensagem dinâmica em nosso espírito de modo que possamos usá-la para ministrar à igreja. Em Atos 6:4 lemos: " E, quanto a nós nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra." Ministério significa servir as pessoas com a palavra de Deus.

No ministério, qual é a dificuldade que nos leva a deixar de liberar a palavra dentro de nós? Freqüentemente, alguém pode sentir-se muito preocupado com uma palavra que, deve comunicar aos irmãos. Mesmo assim, enquanto se levanta para falar frase após frase, a preocupação interna permanece tão pesada como sempre. Mesmo depois de passar uma hora, não há senso de alívio, e, finalmente, sai carregando o mesmo fardo de uma mensagem que não foi entregue. Por que? É porque seu homem exterior não

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foi quebrantado. Ao invés de serem úteis, as faculdades da alma tornam-se um obstáculo para o homem interior.

Uma vez, porém, que o homem exterior for quebrantado, a expressão já não é problema. A pessoa seu pensamento com palavras apropriadas para expressar seu sentimento no íntimo. Através da liberação, o fardo interno é aliviado. Esta é a maneira de ministrar a Palavra de Deus à igreja. Repetimos, então: o homem exterior é o maior impecilho ao ministério da Palavra de Deus.

Muitos tem a noção errônea de que são as pessoas habilidosas que melhor podem ser usadas. Como isto é errado! Não importa quão habilidoso você seja, o exterior nunca poderá substituir o homem interior. Somente depois de o homem exterior ter sido quebrantado é que o interior pode achar pensamento adequado e palavras apropriadas. A casca do homem exterior deve ser esmagada por Deus. Quanto mais é despedaçada, tanto mais a vida no espírito é liberada. Enquanto esta casca permanecer intacta, a mensagem que pesa no espírito não pode ser liberada, nem a vida e o poder de Deus podem fluir de você para a Igreja. É principalmente através do Ministério da Palavra de Deus que sua vida e seu poder são fornecidos.Se você não tem seu homem interior liberado, as pessoas podem ouvir sua voz mas não podem tocar a vida, seu espírito, você pode ter uma palavra para dar, mas outras pessoas deixam de recebê-la pois você não tem meios de expressão.

A dificuldade é que a vida que há dentro, deixa de fluir. Há uma Palavra de Deus atuante por dentro, mas não pode ser manifestada por causa do obstáculo do lado de fora. Deus não tem um livre caminho através de você. Pregando o Evangelho: Há um conceito geral, falso, de que as pessoas crêem no evangelho porque, ou foram mentalmente convictas da exatidão doutrinária, ou emocionalmente comovidas pelo seu apelo. Na realidade, os que correspondem ao evangelho por qualquer destas duas razões não permanecem nEle. O intelecto e a emoção precisam ser alcançados, mas estes sozinhos, são insuficientes. A mente pode encontrar-se com a mente, e a emoção pode alcançar a emoção, mas a salvação sonda mais profundamente. O espírito deve tocar o espírito. Somente quando o espírito do pregador floresce e brilha é que os pecadores caem e se rendem a Deus. Este é o espírito apropriado e necessário para a pregação do evangelho.

Certo mineiro grandemente usado por Deus escreveu um livro chamado "Seen and Heard" (" Visto e Ouvido"), em que relata suas experiências ao pregar o evangelho. Fomos profundamente comovidos ao ler este livro. Embora fosse um irmão simples, sem alto grau de cultura nem com dons especiais, ofereceu-se inteiramente ao Senhor e foi poderosamente usado por Ele. Uma coisa o caracterizava: era um homem quebrantado; seu espírito era puro. Quando estava numa reunião, ouvindo um pregador, sentiu uma preocupação tão grande pelas almas que pediu ao pregador permissão para falar. Subiu ao púlpito, mas não vinham as palavras. Seu homem interior ardia tanto com uma paixão pelas almas que

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suas lágrimas jorravam. Finalmente, conseguiu pronunciar apenas umas poucas sentenças pouco compreensíveis. Mesmo assim, o Espírito Santo encheu aquele lugar as pessoas ficaram convictas dos seus pecados e da sua condição de perdidas. Aqui havia um jovem que era quebrantado - tinha poucas palavras, mas quando seu espírito fluía, as pessoas eram poderosamente tocadas. Ao ler sua autobiografia, reconhecemos que ele era alguém cujo espírito fluía, as pessoas eram poderosamente tocadas. Ao ler sua autobiografia, reconhecemos que ele era alguém cujo espírito era totalmente liberto. Era o instrumento para salvar a muitos durante sua vida.

Este é o modo certo de pregar o evangelho. Sempre que você vê alguém que não é salvo, e senti que deve dar-lhe o evangelho, você deve permitir que seu espírito seja liberado. Pregar o evangelho é puramente uma questão de ter o homem exterior quebrantado de modo que o homem interior possa fluir e tocar outros.Quando seu espírito toca o espírito de outra pessoa, o Espírito de Deus vivifica aquele espírito que está em trevas de modo que aquela pessoa é maravilhosamente salva.

É por isso que focalizamos tanta atenção em lidar com o homem exterior. Se nos falta este tratamento, não temos poder para ganhar almas, embora tenhamos todas as doutrinas de cor. A salvação vem quando nosso espírito toca o espírito de outra pessoa. Então, aquela alma não pode deixar de prostrar-se aos pés de Deus. Ó amados, quando nosso espírito é verdadeiramente liberado, as almas certamente serão salvas.

Uma vez que as pessoas são salvas, Deus não quer que elas esperem para lidar com seus pecados, que esperem mais anos para se consagrarem, e que esperem ainda mais tempo para responderem à chamada de realmente seguirem ao Senhor. Tão logo que as pessoas crêem, devem imediatamente voltarem-se dos seus pecados, consagrarem-se totalmente ao Senhor, e romperem o poder das coisas deste mundo. Sua história deve ser como aquelas que são registradas nos Evangelhos e em Atos. Para o evangelho ter seu efeito mais completo no homem, o Senhor precisa ter um caminho nas vidas dos mensageiros do evangelho.

Nestes anos temos ficado totalmente convictos de que o Senhor está trabalhando para a recuperação. O evangelho da graça e o evangelho do reino devem ser juntados. Nos Evangelhos, os dois nunca são separados. Somente em anos posteriores é que parece que aqueles que ouviram o evangelho da graça sabem pouco ou nada do evangelho do reino. Deste modo, os dois foram separados. Mas já é tempo para eles serem unidos, de modo que as pessoas sejam completamente salvas, deixando tudo e se consagrando totalmente ao Senhor.

Curvemos nossa cabeça diante do Senhor e reconheçamos que o evangelho deve ser completamente pregado, e seus mensageiros totalmente tratados. Para o Evangelho entrar nos homens, devemos permitir que Deus seja manifestado em nós. Assim como a pregação eficaz do evangelho requer mais poder, assim também os mensageiros do evangelho devem pagar um

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NOTASA experiência da formação do caráter de Cristo em nós

preço mais alto. Devemos colocar tudo sobre o altar. Oremos assim: "Senhor, coloco meu tudo sobre o altar. Acha um caminho através de mim a fim de que também a igreja ache um caminho em mim. Eu não gostaria de ser aquele que bloqueia a Ti e que bloqueia a Sua igreja.”

O Senhor Jesus nunca restringiu Deus de qualquer maneira. Durante quase dois mil anos Deus tem trabalhado na igreja, visando o dia em que a igreja já não O restringirá. Assim como Cristo manifesta plenamente a Deus, assim também será com a igreja. Passo a passo, Deus está instruindo Seus filhos e tratando com eles; uma vez após outra sentimos Sua mão sobre nós. Assim será até aquele dia em que a igreja fique sendo realmente a plena manifestação de Deus. Hoje, voltemo-nos para o Senhor e confessemos."Senhor, estamos envergonhados. Atrasamos a Tua obra; fomos um impecilho na Tua vida; bloqueamos a propagação do evangelho; e limitamos o Teu poder." Individualmente em nosso coração, dediquemo-nos a Ele novamente, dizendo: " Senhor, ponho meu tudo sobre o altar, a fim de que Tu tenhas um caminho através de mim.”

Se esperamos que a eficácia do evangelho seja plenamente recuperada, a consagração deve ser total. Devemos consagrar-nos a Deus assim como na igreja primitiva. Que Deus tenha uma via de saída através de nós.

A Meiguice No Quebrantamento

O método de Deus quebrantar nosso homem exterior varia de acordo com o alvo. Expliquemos o alvo da seguinte maneira: com alguns, é seu amor-próprio; com outros, é seu orgulho. Há, também, aqueles cuja auto-confiança e habilidade precisam ser destruídas; tais pessoas se acharão numa classificação após outra, derrotadas a cada passo, até que aprendam a dizer: " Não vivemos na sabedoria da carne, mas, sim, na graça de Deus."E, além disto, há aqueles que sempre estão borbulhando com idéias e opiniões. Embora a Bíblia afirma: " Há coisa que seja maravilhosa demais para o Senhor?" Alguns irmãos sustentam que nada é difícil demais para eles! Jactam-se de que podem fazer tudo, mas, estranhamente, fracassam em todos os empreendimentos. As coisas que pareciam tão fáceis desmontam-se nas suas mãos. Perplexos, perguntam " Por que?" É esta a maneira que o Espírito Santo usa para tratar com eles a fim de atingir o alvo necessário. Tais ilustrações mostram como o alvo do Espírito varia com o respectivo indivíduo.

Há, também, uma variação no ritmo dos tratamentos pelo Espírito Santo. Às vezes, os golpes podem suceder-se um após outro sem folga; ou pode haver períodos de calmaria. Mas Deus disciplina todos aqueles a quem ama. Desta maneira, os filhos de Deus têm feridas infligidas pelo Espírito Santo. Embora a aflição possa variar, as conseqüências são as mesmas: o próprio-eu está ferido. Assim Deus toca em nosso amor-próprio, nosso orgulho, nossa habilidade ou nossa subjetividade, seja qual destes se

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constitui em Seu alvo exterior.Pretende com cada tiro contra o alvo enfraquecer-nos ainda mais, até que venha o dia em que somos esmagados e nos tornamos maleáveis nas Suas mãos. Quer o tratamento toque nossa afeição, quer nossos pensamentos, o resultado final é produzir uma vontade quebrantada. Todos nós somos naturalmente obstinados. Esta vontade teimosa é apoiada por nossos pensamentos, nosso amor-próprio, nossa afeição, ou nossa habilidade. Este fato explica as variações nos tratos do Espírito Santo conosco. Finalmente, é nossa vontade que Deus quer atingir, pois é ela que representa nosso próprio-eu. Deste modo, uma característica em comum destaca os que foram iluminados e disciplinados - tornam-se meigos.

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