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 A tradição ferencziana de Donald Winnicott Apontamentos sobre regressão e regressão terapêutica 1  Luís Claudio Figueiredo 2  Resumo No presente trabalho, defende-se o ponto de vista de que é vantajoso estudar e avaliar as contribuições de Winnicott nos diversos contextos históricos e teóricos do movimento psicanalítico em que seu pensamento se insere e no das tradições clínicas de que participa. Em especial, é focalizada a posição de Winnicott na tradição clínica e teórica ferencziana, com uma particular atenção às questões da regressão e da regressão à dependência nos processos vitais e nos processos terapêuticos.  Abstract This paper suggests it is interesting to relate Winnicott's positions to the ferenczian clinical and theoretical tradition. A special emphasis should be placed on regression to dependence as processes ocurring in analysis and enveryday life. 1  Uma primeira apresentação destas idéias ocorreu em setembro de 2002 no Ciclo de Palestras "Winnicott", organizado pelo Centro de Pesquisa em Psicologia e Linguagem (CPPL) em Recife. 2  Psicanalista, professor da PUC-SP e da USP; autor de Palavras Cruzadas entre Freud e Ferenczi  (Escuta, 1999) e Ética e técnica em Psicanálise  (Escuta, 2000), entre outros livros.

A tradição ferencziana de Donald Winnicott, por Luis Clàudio Figueiredo

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Apresentado inicialmente no Ciclo de Palestras "Winnicott", organizado pelo Centro de Pesquisa em Psicologia e Linguagem (CPPL) de Recife em 2002.

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A tradio ferencziana de Donald Winnicott Apontamentos sobre regresso e regresso teraputica Lus Claudio Figueiredo21

Resumo No presente trabalho, defende-se o ponto de vista de que vantajoso estudar e avaliar as contribuies de Winnicott nos diversos contextos histricos e tericos do movimento psicanaltico em que seu pensamento se insere e no das tradies clnicas de que participa. Em especial, focalizada a posio de Winnicott na tradio clnica e terica ferencziana, com uma particular ateno s questes da regresso e da regresso dependncia nos processos vitais e nos processos teraputicos.

Abstract

This paper suggests it is interesting to relate Winnicott's positions to the ferenczian clinical and theoretical tradition. A special emphasis should be placed on regression to dependence as processes ocurring in analysis and enveryday life.

Uma primeira apresentao destas idias ocorreu em setembro de 2002 no Ciclo de Palestras "Winnicott", organizado pelo Centro de Pesquisa em Psicologia e Linguagem (CPPL) em Recife. 2 Psicanalista, professor da PUC-SP e da USP; autor de Palavras Cruzadas entre Freud e Ferenczi (Escuta, 1999) e tica e tcnica em Psicanlise (Escuta, 2000), entre outros livros.

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Introduo: Winnicott e as tradies da psicanlise. Contrariando uma certa tendncia que, para realar as diferenas e a originalidade de um autor, costuma separar e mesmo opor seu pensamento s tradies em que se originou, que ajudou a desenvolver e de que faz parte, tendendo a isol-lo das interlocues contemporneas de que sua obra tambm se nutriu e fecundou, vamos, de forma esquemtica e a exigir maiores desdobramentos, enfatizar a insero de D. W. Winnicott em uma tradio clnica, a ferencziana. O conceito inclui tanto uma certa orientao de pensamento terico (psicopatolgico e metapsicolgico), como um estilo. Neste esforo, estaremos acompanhados de diversos autores nacionais e estrangeiros que se opem a algumas tentativas recentes de secionar o pensamento winnicottiano do conjunto das tradies psicanalticas. A propsito, em uma resenha publicada nesta mesma Revista ("As espirais de Dcio Garfinkel"), Renato Mezan (2002) assinala, como um dos mritos do autor examinado, a sua capacidade de superar tais leituras simplificadoras e enviesadas da obra de D. W. Winnicott, restabelecendo os liames com seus contextos histricos. com uma estratgia desta natureza que nos sentimos identificados. A insistncia nas supostas cises entre o novo paradigma de Winnicott e o que seria o velho paradigma da psicanlise dita clssica no algo inusitado na histria do movimento psicanaltico. Tambm Melanie Klein, Jacques Lacan, Heinz Kohut, Wilfred. R. Bion e alguns outros ainda passam ou j passaram por este tipo de suplcio esquartejamento - infligido por seus seguidores mais entusiasmados. Mas verdade, tambm, que muitas vezes tais autores contriburam para tais leituras. s vezes, no explicitaram claramente suas dvidas, e no por alguma 'desonestidade', mas tambm, talvez, como conseqncia do que o crtico Harold Bloom (1973) chamou de angstia de influncia, o medo de perder a prpria voz perante as velhas autoridades do passado; outras vezes, no explicitaram seus interlocutores privilegiados e companheiros de jornada, talvez movidos pelo que Freud chamava de narcisismo das pequenas diferenas; finalmente, insistiram, de forma excessiva, na extrema novidade da boa nova de que se julgavam os mensageiros. No deixa de ser muito eficaz do ponto de vista retrico afirmar que tudo que se diz, escreve e pensa provem da experincia pessoal do autor, como pessoa e como profissional, e no do que se apreendeu com seus antecessores ou se absorveu de um certo clima intelectual de sua poca. claro que a experincia direta de cada um uma

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fonte insubstituvel de intuies e idias e que pode por si s explicar afinidades e semelhanas. Mas h, talvez, uma certa ingenuidade, um pouco de arrogncia e outro tanto de presuno em boa parte do nossos Mestres, o que no os desqualifica, mas exige alguma cautela para no coloc-los em pedestais isolados e inatingveis, o que os tornaria, a sim, incompreensveis. nossa crena, em contrapartida, que no apenas nada se perde como muito se ganha na compreenso do novo quando ele contraposto ao tradicional no sentido preciso do termo e quando confrontado s linhas paralelas ou divergentes em que um mesmo tronco se arborizou. No se trata de reivindicar precedncias, nem de mascarar e homogeneizar as transformaes por que foram passando certas descobertas e certas intuies seminais. Estamos convencidos, ao contrrio, de que o campo da psicanlise comporta estas disseminaes e esta variedade e que s temos a ganhar na teoria e, principalmente, na prtica clnica com a possibilidade de nos movermos pelas e entre as diferentes linhas de transformao do nosso campo. No caso de Winnicott, uma boa compreenso de seu pensamento exigiria, naturalmente, uma recapitulao de suas leituras e relaes com vrios momentos da obra de Freud (o que j tem sido feito em outros lugares e realizado, inclusive, no texto de Jos Ottoni Outeiral e Elosa Helena R. V. Celeri publicado neste nmero da Revista3) e, mais ainda, de Melanie Klein4. Alis, uma leitura no-preconceituosa dos textos winnicottianos nos conduz facilmente a estas direes. Chama nossa ateno, por exemplo, (entre outras) uma afirmao de 64 que no pode ser atribuda, portanto, a um pensamento ainda imaturo e pouco afirmativo. Nela, Winnicott reafirma sua fidelidade a Freud e tcnica freudiana da standard psychoanalysis dizendo: "Entender-se- que os princpios bsico da anlise so aceitos por mim e o que tento seguir os princpios estabelecidos por Freud, que me parecem fundamentais a todo nosso trabalho" (Winnicott, 1964, p. 77). Da mesma forma, salta aos olhos a ligao com M. Klein, tanto na teoria (em particular, a teoria da posio depressiva que Winnicott, sem dvida, reformou eChamo a particular ateno dos leitores para este trabalho que se contrape a uma certa leitura de Winnicott em um ponto crucial, o da sua ligao com a problemtica edpica e com a funo paterna, o que muitas vezes tem sido mal compreendido tanto por detratores como por adeptos de Winnicott. 4 Ver, entre outros, o recente trabalho de Joseph Aguayo (2002), elucidativo das relaes entre os dois autores e contribuindo para a compreenso de suas afinidades e de suas divergncias.3

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desenvolveu sem renegar sua dvida; cf. Forlenza Netto, 1995; Winnicott, 1962), como na ndole da sua clnica e da sua teorizao (Aguayo, 2002). Refiro-me radicalizao operada por Winnicott no que era uma tendncia claramente freudiana a que Melanie Klein havia dado um extraordinrio impulso e aprofundamento: a nfase terica na importncia do arcaico, do precoce, do primordial e o cuidado tcnico com estes momentos e aspectos da vida mental. Isso inclua, no caso de Klein, as observaes psicanalticas de seus filhos e de seus pacientes muito pequenos e, mais tarde, as observaes sistemticas de seus netos quando ainda eram bebs de poucos meses5. Winnicott, como sabemos, no exerccio da pediatria teve sua ateno desde cedo despertada para estes aspectos muito precoces da constituio da vida mental e relacional e a trajetria freudo-kleiniana o interessou principalmente nesta investigao do precoce. Em algumas passagens, a fidelidade s suas origens freudianas e kleinianas explicitada conjuntamente: Todo o tempo trabalhando com Klein, descobri que no h variao da aplicao estrita dos princpios freudianos relativos tcnica. (Winnicott, 1962, p. 175-6). Em outras, ambas as heranas so assumidas, mas diferenciadas: A importncia para mim era de que, enquanto nada do impacto do complexo de dipo era perdido, o trabalho (com Melanie Klein) agora era feito com base nas angstias relacionadas aos impulsos pr-genitais (p. 175). Aqui, o foco no pr-genital e no predpico assumido como necessrio anlise de casos mais graves e de ecloso mais precoce, sem que a problemtica edipiana fosse por isso desconsiderada. Para contextualizar Winnicott, caberia tambm, para no irmos muito longe entre os contemporneos, um confronto com os pensamentos de Fairbairn, Bion e Kohut. Indo um pouco mais longe, mas ainda assim como uma aproximao e , principalmente, como um confronto pertinente, caberia tratar de Lacan. Nossa inteno no presente trabalho, porm, muito mais modesta: focalizaremos, o que no novidade e j foi realizado por alguns autores (cf. Forlenza Neto, 1998, Mello Filho, 1997 e Pereira e Teixeira, 1995), a insero de Winnicott em uma tradio clnica que emergiu do trabalho de Sndor Ferenczi e que chegou Inglaterra, em certos aspectos, pela via kleiniana e, mais direta e explicitamente ainda, pela via dos Balint.

Esta longas e densas observaes sistemticas nunca foram publicadas, mas esto guardadas no Wellcome Institute (London) e puderam ser examinadas por Aguayo (2002).

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No conjunto, encontramos um impacto na Inglaterra de algumas divergncias, e quase dissidncias, que opuseram ao longo da dcada de 20 e incio da de 30 Freud e Ferenczi como grandes fontes alternativas do estilo clnico da psicanlise. H em Melanie Klein, antiga paciente de Ferenczi, uma disposio de levar a psicanlise a novos rinces o da anlise de crianas, o da anlise de pacientes psicticos e, s vezes, o dos dois simultaneamente e a efetuar alteraes na teoria e nas tcnicas que nos parecem seguir de longe a inspirao do enfant terrible hngaro e de sua postura desassombrada que raiava a heresia6. O que veio a ser chamado por Winnicott de anlise modificada leva ainda mais longe este mpeto renovador na teoria e na tcnica, mas sempre to estreitamente associado s exigncias de uma clnica em processo de ampliao. Longe de ns a crena de que Freud seria conservador em seu projeto terico e em suas experincias clnicas. Poucos homens foram to revolucionrios como ele na histria de nossa cultura. No entanto, nos parece evidente que ele se dispunha a correr menos riscos, era mais prudente, o que j no se pode dizer de Ferenczi e de seus seguidores na letra ou no esprito. Estes no hesitaram em se meter em caminhos muito novos e a enfrentar desafios bastante perturbadores. De fato, uma certa disponibilidade clnica para a encrenca de que Ferenczi foi um grande patrono e, finalmente, uma vtima (talvez, uma vtima fatal) , tambm ser encontrada em Donald Winnicott. Alguns dados recentemente divulgados sobre suas estripulias, ou sua vista grossa sobre as estripulias bem mais srias e comprometedoras do discpulo preferido e porta-voz oficial Masud Kahn, apontam nesta direo (Hopkins, 1998, 2000). Tais estripulias implicavam quase sempre em notveis desvios na manuteno do enquadre. Muitas vezes, tais procedimentos heterodoxos podem ser encarados como experimentos tcnicos radicais, bem na linha inaugurada por Ferenczi na dcada de 20. Outras vezes, como observa Linda Hopkins, desfazia-se a tnue linha que separa uma inovao tcnica (teoricamente sustentada e justificada pela rigorosa considerao do caso) de uma efetiva perda de rigor e de controle na conduo da anlise, com graves conseqncias para o processo7. Mas isso tambm, sem sombra de dvida, faz

Cf. Aguayo, 1997. Basicamente, Linda Hopkins mostra ou sugere que as anlises de Margaret Little, Harry Guntrip e, principalmente, Masud Khan deixaram muito a desejar, com aspectos importantes das respectivas patologias permanecendo intocados. A autora defende a tese de que Winnicott tinha uma dificuldade grande no7

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parte de uma certa tradio ferencziana. Ou seja, para o bem ou para o mal, o estilo clnico de Ferenczi se deixa facilmente entrever na clnica winnicottiana. Da mesma forma, o interesse no pr-genital e pr-edpico (na relao original mebeb) uma das marcas da produo ferencziana da dcada de 20, da qual emergiu, inclusive, a obra dissidente de seu amigo e colaborador Otto Rank (antes do rompimento), sobre o chamado trauma do nascimento. Na prpria Hungria, um discpulo de Ferenczi, Imre Hermann (cf. Brabant-Ger, 1993), deu relao entre o filho e sua me uma prioridade que iremos tambm reencontrar em Melanie Klein, entre os kleinianos, entre os Balint e, mais tarde, em Bowlby (de cuja teoria do apego Hermann foi realmente um precursor) e em Winnicott e seguidores.8 No entanto, e aqui Winnicott se afasta tanto de Freud como, mais ainda de Melanie Klein, verificamos em sua obra uma persistente recusa da segunda teoria das pulses: em particular, uma oposio crena, colocada como especulativa por Freud, mas tomada como fato comprovado por Melanie Klein, em uma pulso de morte. Melanie Klein no apenas d um estatuto de fato ao que seria uma hiptese, como, o que mais insidioso, d a este fato uma interpretao extremamente forte e restritiva. A pulso de morte passa a equivaler pura e simplesmente agressividade, perdendo outras dimenses e determinaes que podem ser encontradas em Alm do Princpio de Prazer (Figueiredo, 1999), como o retorno ao inorgnico e ao zero de tenso. Na verso kleiniana, a pulso de morte corresponde a uma 'destrutividade' inata, a uma agressividade original, inveja congnita compreendida como um dado primrio da condio humana universal. Tudo isso ser, como sabemos, posto de lado por Winnicott. Mas nisso Winnicott no est to isolado como poderia parecer. indispensvel rastrear o questionamento winnicottiano da pulso de morte e, principalmente, da postulada equivalncia entre pulso de morte e agressividade, procurando suas origens na obra de Ferenczi que, no final da dcada de 20 e incio da dcada de 30, at sua morte precoce, caminhara exatamente nesta mesma direo. Na verdade, em Thalassa, sua grande especulao filogentica publicada em 24, mas terminada anos antes, Ferenczi j nosenfrentamento dos aspectos mais agressivos do narcisismo destes clebres pacientes, tais como apareciam na transferncia. 8 Em Ferenczi a problemtica da relao com a me estar fortemente presente em seu pensamento clnico sobre as questes transferenciais e contratransferenciais, abrindo uma linha de desenvolvimento nitidamente contrastante com a nfase de Freud na figura do pai.

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oferecia uma concepo da tendncia regresso em termos de retorno a formas primordiais de vida e no de retorno morte e ao inorgnico (Figueiredo, 1999). Mais tarde, ele falar, por exemplo, em pulso de repouso (Ferenczi, 1932, p. 243) como a mais originria ( qual esto submetidas as de vida e de morte). Mais tarde, ainda, vir a se pronunciar explicitamente contra a idia de uma pulso de morte em um documento no publicado e recentemente descoberto (Dupont, 1998), em que escreve, em ingls: Nothing but life-instincts. Death-instincts, a mistake. Tambm nas notas e fragmentos pstumos de 10.8.30 (1932, p. 239) encontramos: Mas em vez de pulso de morte seria prefervel escolher uma palavra que exprima a completa passividade deste processo. A tudo isso retornaremos mais tarde. Por enquanto, basta-nos assinalar a abertura por Ferenczi de uma trilha terica e metapsicolgica, de fortes repercusses na clnica, que ser a explorada e desenvolvida por Winnicott nas dcadas de 50 e 60 at sua morte, vale dizer, uma trilha de compreenso dos processos regressivos que nem apontam para a morte e o zero de tenso, la Freud, e, muito menos, para uma 'destrutividade' congnita la Klein. Dadas estas e muitas outras ligaes possveis entre Ferenczi e Winnicott, salta aos olhos, por contraste, a tnue ligao explcita e assumida pelo autor ingls com seu antepassado hngaro, que quase no citado em suas obras.Talvez haja atenuantes para este aparente efeito do que Bloom chamaria de angstia de influncia, aquele medo de ser demasiadamente influenciado pelos predecessores, medo que Freud confessava nutrir pelas obras de Schopenhauer, Nietzsche e Arthur Schnitzler. Mas pode no se tratar apenas disso, neste caso. Devemos considerar que o descrdito a que fora submetida a obra ferencziana depois de sua morte, de suas desavenas pblicas com o Mestre e de uma certa publicidade negativa dada s suas experincias teraputicas, resultou, entre outras coisas, na falta de acesso aos seus textos por parte do leitor ingls antes de 1955. A isso acresce, evidente, a falta de legitimidade de Ferenczi nas dcadas de 30, 40 e 50 em todo o movimento psicanaltico. Praticamente apenas os Balint resistiram ao patrulhamento ideolgico e sustentaram o apreo e a ligao com o psicanalista hngaro cuja m fama foi consagrada na biografia de Freud escrita por Jones na dcada de 50. A verso oficial era de uma deteriorao psquica muito grave, algo que invalidaria todo o seu trabalho pioneiro nos ltimos anos de vida, justamente os mais produtivos em termos de um pensamento e de um estilo clnico singulares.

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De qualquer modo, a ausncia de aluses, principalmente se devida a um real desconhecimento da obra nos anos de formao de Winnicott (dcadas de 30 e 40), nos coloca uma questo interessante. Ou bem devemos supor uma transmisso distncia, com a provvel mediao de Balint, ou se trata de uma espcie de afinidade eletiva entre os autores, com a redescoberta de novo por Winnicott, de uma tradio ferencziana relativamente perdida e encoberta. Nestes dois casos, precisaramos abrir mo de qualquer idia mais simplista acerca de uma suposta influncia direta de Ferenczi sobre Winnicott. No entanto, em ambos os casos, ou seja, mesmo que se tratasse apenas de uma redescoberta por conta prpria, o certo que a partir de Winnicott se forma, a posteriori, uma tradio que remonta a Ferenczi. Alis, na formao de uma tradio de pensamento preciso que sempre ocorram movimentos nas duas direes: do passado uma herana entregue, s vezes por vias tortas e vagas, aos que esto por vir. No futuro resgata-se esta herana por razes que freqentemente escapam a qualquer causalidade unidirecional. No entanto, sempre na posterioridade que se forma ou fortalece um vnculo que antes existia apenas em estado potencial. Mas quando se fecham estes circuitos e se forma efetivamente uma tradio de pensamento e estilo no caso um pensamento e um estilo de clnica tanto o futuro (Winnicott) ganha razes, quanto o passado (Ferenczi) ganha projees que fazem com que os dois plos se enriqueam. No se trata de confundi-los, mas de dar a cada um termos de comparao e relevo. De qualquer forma, ainda que escasseiem as menes de Winnicott a Ferenczi capazes de testemunhar alguma determinao do primeiro pelo segundo, podemos encontrar uma meno altamente significativa que, apesar de isolada e pequena, d mostras de uma valorizao do psicanalista maldito muito antes do movimento psicanaltico redescobrir este autor e cerc-lo de admirao e louvores. Trata-se de uma referncia a um dos ltimos textos de Ferenczi (Anlises de crianas com adultos), um texto de 1931, da fase complicada do autor hngaro. Diz Winnicott: Ferenczi contribuiu significativamente ao olhar para o fracasso da anlise de um paciente com desordem de carter no simplesmente como um erro de seleo, mas como uma deficincia da tcnica psicanaltica. A idia aqui implicada era a de que a psicanlise poderia aprender a adaptar sua tcnica desordem de carter ou ao caso borderline sem tornar-se puro manejo e, na verdade, sem perder o nome de psicanlise (Winnicott, 1959-1964, p. 125-

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126). Ou seja, uma nica meno, mas que vai diretamente ao ponto essencial, ao que efetivamente rene os dois plos de uma tradio em processo de desenvolvimento. De forma muito sugestiva, esta citao e louvor ao Ferenczi das inovaes tcnicas a servio da ampliao do campo do analisvel, seguida pelo louvor, nos mesmos termos, a Melanie Klein, ex-analisanda e discpula de Ferenczi. Winnicott, na verdade, rene explicitamente Klein e Ferenczi como as duas fontes de seus prprios esforos de transformao da tcnica para o tratamento de pacientes psicticos, borderline e com desordens de carter. Hoje h uma cultura psicanaltica ferencziana em franca efervescncia, o que, alis, tambm no chega a ser muito bom. O que dissemos no incio de Winnicott, pode-se dizer tambm de Ferenczi: nada menos proveitoso do que uma hagiografia ferencziana que o destaque do movimento psicanaltico mundial e de sua ligao com Freud e os outros pioneiros. Ou que o apresente apenas em sua face messinica e revolucionria, ocultando seus impasses e maus passos. Seria ridculo, tambm, acentuar apenas as divergncias e oposies entre Freud e Ferenczi, na teoria e na clnica, bem como seria tolo negar as diferenas ou desqualificar um de seus plos, seja como doido, seja como reacionrio e covarde. O fato que hoje verificamos um crescente reconhecimento do que seria uma tradio ferencziana na psicanlise, mesmo que ela se faa e construa na direo retrospectiva (Giampieri-Deutsch, 1996). Esta tradio abarca tanto as ligaes explcitas entre Ferenczi e os Balint (na Hungria e na Inglaterra) e entre Ferenczi e Nicolas Abraham e Maria Trok ou Bela Grunberger (na Hungria e na Frana), entre outros, como ligaes no to explicitas entre Ferenczi e este outro clnico genial, ligeiramente amalucado, que foi Harold Searles nos EUA. No caso de Searles, trata-se de um efeito retardado da presena de Ferenczi na regio de Nova York e Washington no final da dcada de 20, de seu impacto sobre H. S. Sullivan e Clara Thompson (que foi uma de suas clebres analisandas retratadas no Dirio Clnico) e da chegada de Frieda Fromm-Reichman ao famoso Chestnut Lodge Hospital, com o vento de arejamento que isto significou para a

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psicanlise americana (Silver, 1996), posto que estes novos ares tenham se mantido em uma posio marginal9. Quanto ligao, mais ou menos subterrnea e ao mesmo tempo cristalina entre Ferenczi e Winnicott (e seu fiel escudeiro Masud Khan), h diversos textos, inclusive os de autores brasileiros j mencionados. Sugiro ao leitor interessado o de Orestes Forlenza Neto, o de Jlio Melo Filho e o de Adriana S. Pereira e Luza M. Teixeira em que se efetuam aproximaes sugestivas, enfocando, inclusive, alguns aspectos que no estaro no cerne do presente trabalho. H tambm diversos trabalhos do psicanalista ingls (do Middle Group) Harold Stewart (1989, 1992) que nos sero especialmente teis pois tratam justamente dos temas sobre os quais nos vamos alongar, o da regresso e o da regresso teraputica. Este so temas que nos parecem estratgicos para a clnica contempornea e, tambm, para a teoria, inclusive em seus aspectos metapsicolgicos. No se far, no que se segue, uma explorao exaustiva dos possveis vnculos entre Winnicott e Ferenczi, concentrando-nos na questo especfica da regresso e alguns temas associados.

A regresso e o trauma no pensamento de Ferenczi e seus brotos winnicottianos. Os leitores de Winnicott encontram, como sabemos, uma grande preocupao com a questo da regresso teraputica (cf. Winnicott, 1954). No entanto, h em Winnicott toda uma teoria sobre o desenvolvimento do self e sobre a questo do trauma que se liga s elaboraes ferenczianas sobre a regresso de forma ainda mais ampla e profunda. No texto que se segue, tentaremos apresentar o pensamento de Ferenczi fazendo aluses a partes em que as origens ferenczianas10 do pensamento de Winnicott podem ser facilmente identificadas. Essa rpidas identificaes iro sendo feitas de passagem, para serem retomadas de modo um pouco mais sistemtico em uma prxima seo. A questo da regresso comparece na obra ferencziana desde um de seus primeiros textos na dcada de 10 (Ferenczi, 1913) sobre o desenvolvimento do sentido da realidade em que ele procura reconstituir passo a passo a trajetria gradual e incompleta que leva o

Na posio central, estava, certamente, o grupo dos emigrados que nos EUA assumiram a herana de Freud criando a Ego Psychology. 10 Colocamos entre aspas, pois, a rigor, no estamos defendendo a tese de uma origem real em Ferenczi, mas de uma pertinncia de Winnicott a uma tradio ferencziana.

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psiquismo nascente (a) desde a unio indiferenciada com o ambiente separao, (b) desde a onipotncia absoluta ao reconhecimento dos limites e (c) desde o princpio de prazer ao de realidade. Uma importante nota de rodap deste trabalho foi incorporada por Freud, tambm como nota de rodap, ao texto de 1920 sobre a pulso de morte e nela se fala claramente da tendncia ao retorno. Tanto no texto de 1913, como em um captulo de Thalassa (1924) e como, ainda, em um trecho do Dirio Clnico de 1932, Ferenczi trata das formas sucessivas e dos fracassos da onipotncia primria infantil at o que seria uma superao da onipotncia, sempre incompleta e no definitiva, sempre sujeita a recadas. No entanto, esta dificuldade de aceitar os prprios limites e a realidade como algo independente e trabalhoso, no significa dizer que na regresso o indivduo de fato retrai-se sobre si mesmo ou apenas retorna a um patamar anterior em seu desenvolvimento pulsional. A regresso j para Ferenczi algo que antecipa a noo de regresso dependncia que encontramos em Winnicott. O retorno de que ele fala em 1913 (uma tendncia inrcia, que mais tarde ser chamada de pulso de repouso) e que mais elaborado em 1924, um retorno a formas de vida e de ligao com o ambiente muito primitivas e radicais. Na verdade, em certas regresses, o indivduo retorna a formas de vida ancestrais e pr-histricas; mais que isso, retorna a formas de vida que fizeram parte do passado de sua espcie e mesmo do passado dos organismos, at os mais elementares e menos diferenciados. Mas a regresso est para Ferenczi estreitamente ligada s experincias traumticas e aqui nos vamos permitir uma certa elaborao da teoria do trauma em Ferenczi relacionando-a diretamente questo da regresso, algo que no autor no foi desenvolvido mas, acreditamos, nele permanece em estado latente. Nesta elaborao, de uma certa forma estaremos relendo Ferenczi a partir de Winnicott e, assim, tentando participar da constituio mesma da tradio que nosso objeto de estudo. Os traumas choques inesperados que geram rupturas no ego (no self, na continuidade do ser) exigem, para a sua liquidao uma renovao de experincias vitalizantes a serem procuradas no plano de um movimento de retorno ao ambiente primrio da a noo de regresso materna ou thalssica uma regresso ao seio do ambiente lquido em que a vida surgiu. H necessidade do abrao lquido para a tarefa da

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"liquidao do trauma" pois a experincia traumtica, se gera imediatamente uma tendncia fragmentao (um surto psictico), produz logo em seguida, como defesa, congelamentos, rigidez psquica, estados de petrificao muito prximos morte, defesas esquizides. isso que precisa ser "liquidado". Quando a experincia da regresso a um estado de paz e repouso no seio lquido, nutriente e protetor est disponvel, os traumas podem fazer parte de um processo de progresso saudvel: novas foras, novas estruturas e novas dinmicas so instaladas para fazer frente aos desafios e fraturas. assim que Ferenczi concebe os movimentos evolutivos da vida animal, o desenvolvimento ontogentico e psquico. Diariamente, no sono e nos sonhos, no prazer sexual e na vida de fantasia, nos jogos e no lazer algo dessa liquidao est ocorrendo. Os traumas tornam-se, assim, constitutivos, capazes de engendrar uma progresso natural e orgnica, em uma dialtica vital em que as regresses espontneas e oportunas so possveis. No entanto, os traumas tornam-se patognicos podemos supor que quase que independentemente de sua magnitude absoluta, vale dizer, mesmo se so os pequenos traumatismos inevitveis em um processo de vida quando no h regresso possvel. A famosa tese do trauma por desmentido, desenvolvida por Ferenczi em seus ltimos trabalhos (Ferenczi, 1931, 1932, 1933), uma modalidade especfica do que chamaramos de trauma por ausncia de regresso. Quando o adulto pode assumir e acolher o sofrimento da criana, o traumtico pode ser, ao menos parcialmente, aliviado e liquidado porque o movimento de regresso pode se desenvolver na medida das necessidades. Caso contrrio, quando o adulto levado a desmentir o sofrimento e a desqualificar esta dor, recusando sua existncia ou sua razo de ser, negando sua legitimidade e ocultando suas fontes, quando h uma ausncia de esperana de qualquer ajuda exterior (Ferenczi, 1932, p. 39), no h outro destino para o trauma alm dele mesmo (uma ruptura inesperada) e de seus efeitos mais automticos: a fragmentao e as defesas baseadas em clivagens e petrificaes. Ora, quando a violncia do prprio adulto a fonte do traumatismo, evidentemente, ele no poder funcionar, simultaneamente, como ambiente regressivo, devendo necessariamente desmentir a prpria ocorrncia do episdio traumtico. Ele ser, assim, a personificao mesma da impossibilidade da regresso e da absoluta solido desamparada do traumatizado. Nesta medida, a teoria do desmentido traumatizante,

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explicitada por Ferenczi, pode ser entendida como um caso particular da teoria do trauma por impossibilidade de regresso, que no formulada por ele, mas est, de uma certa forma, contida em seu pensamento sobre a regresso materna e thalssica, principalmente tal como aparece no livro de 1924. Quando o trauma se cronifica e no pode ser minimamente liquidado, a sobrevivncia do indivduo vai depender do que Ferenczi chama de progresso traumtica, totalmente baseada em mecanismo de defesa muito primitivos e invalidantes. Cria-se uma certa precocidade dissociada, uma pseudo-maturidade estabelecida s custas de clivagens e dissociaes, s custas das petrificaes a que j aludimos, gerando estados de quase-morte em que o indivduo se retrai e se defende (Winnicott refere-se ao "congelamento" como processo defensivo). Cria-se uma dilacerante duplicidade: uma parte dolorida e atemorizada o infantil traumatizado sobrepujada (mas tambm protegida, nos dir Winnicott) por outra, pseudo-madura. O mais grave que esta outra parte, cresceu e fortaleceu-se com um forte recurso a um mecanismo de defesa extremamente eficaz e cruel: a identificao com o agressor. Assim sendo, o indivduo fica dividido entre as posies de vtima desamparada e de carrasco implacvel. So pacientes, dizia Ferenczi, que so feitos apenas de id e superego. Hoje, poderamos nomear estas partes dissociadas de outras formas. Uma delas seria a adotada por Winnicott: verdadeiro e falso self. Em Winnicott, a funo adaptativa do falso self est muito bem explicitada, bem como a sua funo de proteo do verdadeiro self, encurralado e timorato. Por outro lado, em Ferenczi est, talvez, mais bem estabelecido o carter cruel, e no apenas ou principalmente defensivo, do falso self, o que o leva a falar em um superego implacvel diante de um id mantido sob seu frreo controle, o que se deveria, justamente, ao fato daquele superego (ou falso self) haver se constitudo pela identificao com um agressor que entrou fora no psiquismo infantil. Tal mecanismo, to bem trabalhado por Anna Freud no texto de 1936, encontra em Ferenczi uma base mais ampla e profunda no que ele denomina de mimetismo puro (Ferenczi, 1932, p. 189-90). Quando comea a ocorrer a diferenciao entre o indivduo e seu ambiente, a partir do narcisismo primrio (onipotncia incondicional), a primeira forma do organismo se constituir e defender (antes mesmo de se instaurar uma possibilidade de alucinao onipotncia alucinatria) atravs da imitao passiva. Quando foras

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externas se abatem sobre o organismo, ele reage apassivando-se e em seguida assemelhando-se a estas foras, ou seja, ele tende a identificar-se com o que o tensiona, pressiona e ataca. Trata-se, portanto, de uma forma muito primitiva de adaptao em que o ambiente hostil incorporado pelo indivduo e transformado em uma parte sua. Algo muito semelhante pode ser encontrado em Winnicott em sua teorizao sobre a gnese do falso self, quando o ambiente no se adapta ao beb desamparado e vulnervel e exige, ao contrrio, que o beb se adapte ao ambiente no-emptico. O falso self, como se sabe, um dos produtos que resultam desta imposio ambiental (impingement) de um ambiente noemptico e demandante. Embora ele se crie para responder adaptativamente ao ambiente inflexvel e assim proteger um verdadeiro self encapsulado, na verdade diante de seu protegido ele tambm ser inflexvel e implacvel. A morte, nos processos descritos por Ferenczi, se insinua duplamente: de um lado, a parte traumatizada fica em um estado de assdio, silenciosa e encolhida (um verdadeiro self protegido e engaiolado, mas tambm amortecido e mortificado). De outro, a parte eficaz e operativa (o falso self), s vezes muito diligente e esperto, na verdade funciona, em casos extremos, quase como um autmato, como um inorgnico em atividade, como um orgnico mineralizado. Sua pseudo-maturidade tambm uma pseudo-vitalidade. Da a sensao de no-vida, de no-realidade, de vazio, de no-nascimento que Winnicott descreveu to bem ao falar dos pacientes esquizide do tipo falso self. Estas diversas modalidades de retorno quase morte como forma de manuteno da vida, seja pelo mimetismo puro, pela identificao com o agressor, pela autotomia (em que partes so descartadas para que o resto sobreviva) e pela auto-anestesia, sempre estiveram no foco ferencziano em seus trabalhos clnicos com os pacientes traumatizados e em suas teorias a respeito. Em contrapartida, no pensamento de Ferenczi tambm encontramos a preservao de uma possibilidade nova, ainda que adormecida, no sujeito traumatizado. o que ele, apoiando-se nas palavras de uma de suas pacientes borderline (Elizabeth Severn), chamou de Orpha (cf. Ferenczi, 1932; Smith, 1999) e poderamos aproximar a esta modalidade de existncia 'primitiva' em uma condio pr-objetal e pr-subjetiva que se realiza em estados de regresso thalssica. Nas palavras de Ferenczi: trata-se de instintos vitais organizadores, adormecidos mas que podem ser despertados pelo mesmo choque que colocou fora de ao os recursos egicos do indivduo. No entanto, a ao de Orpha no

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indivduo traumatizado se d em um estado de no afetao, de dissociao profunda que dever ser tratada na anlise para restituir vida o que pde sobreviver ao choque e ruptura. Ou seja, clivagens e dissociaes aparecem como dispositivos essenciais defesa do indivduo traumatizado quando ele no pde contar com a possibilidade de regresso dependncia em um ambiente confivel, embora mesmo a subjaza uma possibilidade de restaurao que no pode ser desprezada e desperdiada: o que, na verdade, subjaz esperana teraputica inabalvel de Ferenczi. Neste momento pode ser til uma breve comparao entre Freud e Ferenczi no que diz respeito ao que pensam da regresso, para que possamos melhor apontar a posio de Winnicott neste contexto histrico-terico.

Regresso, retorno e repetio em Freud e Ferenczi Sabemos que Freud referiu-se regresso de diferentes maneiras e referindo-se a diferentes aspectos e processos (cf. Stewart, 1992). De incio, distinguem-se trs acepes do termo: a regresso tpica, a temporal e a formal, todas de carter descritivo e referentes a alteraes nas modalidades do funcionamento psquico. Em cada uma delas, inverte-se a direo de um processo psquico. Em seguida, assinala-se a regresso como um mecanismo de defesa que diz respeito ao retorno a pontos de fixao no desenvolvimento libidinal quando o progresso interrompido ou o funcionamento mais avanado encontra um obstculo. Esta noo de regresso pode ser redimensionada em termos das posies kleinianas, em termos de relaes de objeto e em termos estruturais (id, ego e superego). Por fim, temos a regresso como uma tendncia repetio e ao retorno entendida como um dos aspectos mais fundamentais da pulso. A ns interessa neste momento, principalmente, a terceira acepo do termo, a sua dimenso pulsional. Sabemos que foi das tentativas de explicar os fenmenos clnicos da compulso repetio e da reao teraputica negativa que Freud foi conduzido hiptese, altamente especulativa, da pulso de morte como retorno ao zero de tenso e retorno ao inorgnico. No entanto, ao dar a esta tendncia de retorno o nome de pulso de morte em oposio s pulses de vida e a Eros , Freud introduziu uma tonalidade "sombria" na sua

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concepo da regresso. Alis, mesmo nas demais acepes em que foi utilizado o termo, h sempre um carter mais ou menos "negativo", algo que deve ser superado para que o psiquismo se afirme, progrida, se fortalea e se mantenha em boa atividade. evidente em Freud um certo preconceito contrrio regresso e um partis pris favorvel ao 'progressivo'. Por isso o contraste grande quando encontramos em Ferenczi uma positivao do conceito e do processo a que ele se refere: trata-se, como foi antecipado, da regresso s formas primordiais de vida e de ligao com o ambiente e seus objetos. Mesmo se tratando de uma regresso movida pelos traumatismos (de maior ou menor magnitude), a regresso materna ou thalssica faz parte dos recursos vitais do organismo e do sujeito. A tendncia inrcia no uma tendncia ao zero, mas estabilidade em um nvel mnimo, porm vital. Mais adiante ( Ferenczi, 1932) ser postulada uma pulso de retorno (regressiva) original qual caber a noo de pulso de repouso. Repouso (como tambm a inrcia, mas de forma ainda mais ntida) no morte, ainda que possa se parecer a ela, superficialmente, como o comprovam as aproximaes entre a morte e o sono. Repouso, contudo, um estado de abandono, de entrega passiva em que a vida se mantm e se refaz, uma condio para que Orpha (a fora vital adormecida) se reintegre e possa reintegrar os cacos despedaados pelo trauma. claro que a clnica winnicottiana com pacientes esquizides e borderline, com suas longas sesses de propiciao e sustentao da regresso dependncia, com eventuais episdios de sono profundo acompanhado (cf. Little, 1990) pertence a esta corrente da clnica psicanaltica. H, efetivamente, muitas implicaes clnicas do pensamento ferencziano sobre as regresses, muitas das quais ele mesmo transformou em procedimentos psicoterpicos, com suas idias sobre a flexibilizao da tcnica, sobre o relaxamento e a no-catarse. (Ferenczi, 1928, 1930). A nfase nas atitudes do analista, em que a tica e a tcnica se articulam profundamente, tal como postuladas por Ferenczi em seus textos do final da dcada de 20 e incio da de 30, nos assinalam e nos remetem continuamente importncia da regresso e da regresso teraputica. A empatia (sentir com), a elasticidade, o "relaxamento" (Nachgiebigkeit, um deixar rolar e deixar vir) e a sinceridade do analista so elementos propiciadores ou mesmo ingredientes da regresso teraputica, sendo esta considerada

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imprescindvel no tratamento de pacientes difceis, muito perturbados (ele os chamava de gravemente neurticos) e traumatizados.

A questo da regresso nos pensamentos de Balint e de Winnicott Esta proposta clnica, como se sabe, foi imediatamente recolhida e redimensionada pelo discpulo M. Balint, herdeiro de seus papis e de alguns de seus pacientes. A noo de "Amor primrio" (Balint, 1959, 1968), alm de se propor como uma superao do que teria sido o erro de Freud ao sugerir uma fase inicial de narcisismo primrio (que supunha a ausncia de relaes objetais), , no fundo, um resgate, no plano psicolgico, do que fora proposto por Ferenczi em termos de uma especulao bioanaltica. Nesta, o bero ocenico da vida Thalassa era tanto a origem como o modelo do que a vida em sua condio primria e essencial. Neste estgio de desenvolvimento ainda no h objetos, embora j haja um indivduo que est cercado, quase flutua, por substncias sem contornos exatos. (Balint, 1959, p. 67). As patologias que implicam em uma falha bsica e dela derivam so as que dizem respeito a problemas ocorridos neste plano primordial e fundamentalmente harmonioso de integrao entre o indivduo e seu ambiente materno amoroso (Ferenczi usara o termo ressonncia com o ambiente para se referir a este estdio). Do ponto de vista teraputico, algum processo regressivo ser necessrio para restaurar um aparelho psquico defeituoso, afetado pela falha bsica, (mais do que conflituado) e os ttulos e subttulos dos principais livro de Balint fazem uma referncia explcita regresso teraputica (Balint, 1959, 1968; cf Stewart, 1989). No entanto, em que pese seu apreo pela obra do mestre, Balint era obrigado a reconhecer at porque herdara alguns velhos pacientes de Ferenczi que a regresso teraputica no tinha nada de simples nem dava uma suficiente garantia de sucesso (o que tambm ser a viso de Winnicott). nesta conjuntura clnica e terica que ele faz a distino entre a regresso benigna e a maligna, sendo esta uma deteriorao irremedivel e irreversvel das perturbaes mentais do indivduo. Tal diferena nos chama a ateno para dificuldades tcnicas (algumas j entrevistas por Ferenczi) e para a necessidade de uma maior acuidade diagnstica. Em Winnicott reencontramos, alis, algo que j nos vinha de Ferenczi e fora acentuado por Balint: a necessidade de distinguir as tentativas de seduo ao conluio e satisfao dos desejos, por parte do paciente o que pode estar na

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origem das regresses malignas , do que so as expresses genunas das necessidades mais precoces de proviso ambiental e sustentao (holding) em pacientes regredidos dependncia. Atender estas necessidades, sem ceder s 'tentaes', a condio para as regresses benignas ocorrerem. No obstante seu reconhecimento dos fracassos clnicos de muitos processos regressivos (os malignos), Balint foi, de incio, o nico a sustentar, imediatamente aps a morte de Ferenczi e durante o seu longo ostracismo, a proposta ferencziana da regresso teraputica. Em sua tcnica, na qual a nfase no "analista no intrusivo" essencial, encontramos tambm claros ecos da tcnica ferencziana da elasticidade, da empatia, da Nachgiebigkeit , etc. O analista no-intrusivo o que d espao e tempo ao paciente, sem nada dele exigir, o espao e tempo necessrios para que ele possa efetuar sua regresso restauradora, o new beggining. J em Winnicott, temos o conceito claramente explicitado de "regresso dependncia" em oposio conceitual regresso a pontos de fixao. A regresso dependncia, por sua vez, se funda na noo de dependncia absoluta. Vale a pena assinalar que sempre que Winnicott fala em narcisismo primrio, ser neste sentido em que o indivduo e o meio se ligam de forma inseparvel. No caso do processo resultar de uma regresso teraputica, diz ele, ...o paciente e o setting misturam-se ou afundam-se (merge into) na situao original de sucesso do narcisismo primrio. (Winnicott, 1954, p. 286). Nesta medida, o "Amor primrio" de Balint e o "Narcisismo primrio" em Winnicott esto mais prximos entre si, e ambos mais prximos de Ferenczi, do que da acepo freudiana original11. H, sem dvida, um certo parentesco entre a regresso dependncia e a noo freudiana de regresso temporal e formal, pois neste estado, o modo de funcionamento psquico do beb pode ser o do processo primrio e o das produes alucinatrias, posto que ao ambiente cabero as funes egicas mais organizadas e realistas. Assim, na regresso dependncia h, tambm, uma regresso ao processo primrio (Winnicott, 195964, p. 128). No entanto, evidente, o maior parentesco com a regresso thalssica de Ferenczi. Alis, como se viu, a fase da dependncia absoluta suposta por Winnicott na11

Na verdade, nunca muito bem esclarecida.

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verdade uma reinterpretao do narcisismo primrio freudiano a partir da crena ferencziana em uma origem da vida no seio lquido e indiferenciado da me e do ambiente. Nesta medida, retm a noo de uma fase anobjetal sem excluir, ao contrrio, acentuando a importncia do ambiente. No h propriamente "objetos", muito menos objetos da pulso ou do desejo, mas, longe de ser uma mnada isolada, a vida primordial do 'indivduo', segundo Ferenczi, Balint e Winnicott, confunde-se com o meio em que emerge, no qual sobrevive do qual se nutre e em que se protege.12 O pensamento clnico de Winnicott sobre a regresso explicita-se melhor quando se estabelece a oposio, e tambm as passagens, entre a vulnerabilidade do indivduo que regride dependncia e a pretenso auto-suficincia do indivduo que se defende das falhas ambientais traumatizantes pela via do retraimento esquizide (Winnicott, 1965 e 1967). Diz ele: "Com este paciente, extremamente importante que eu entenda a diferena existente entre regresso e retraimento (withdrawal). Clinicamente, os dois estados so praticamente os mesmos, mas ser visto, contudo, que existe uma diferena extrema entre os dois. Na regresso, h dependncia, e no retraimento, uma independncia patolgica". (Winnicott, 1965, p. 116). No entanto, fundamental podermos acompanhar o raciocnio de Winnicott (muito mais dialtico e paradoxal que dualista) que o leva a legitimar a aceitao do retraimento do paciente pelo analista como propiciador de uma regresso posterior. "Aprendi na escola desta anlise que o retraimento algo que fao bem em permitir e, na primeira parte da anlise, ele foi o aspecto importante e resultou em muitas horas em que absolutamente nada era feito". Mas neste no-fazer-nada, h uma crena profunda no analista em que algo est podendo vir a acontecer e, de uma certa forma, j comea a acontecer. Pois Winnicott prossegue: "O processo era silencioso e referia-se ao que acontece na dependncia extrema". Ou seja, trata-se de ser capaz de reconhecer em uma defesa de encapsulamento narcsico que deixa o indivduo petrificado, desconectado da vida de relaes e em um estado de quase-morte, a possibilidade adormecida e mortificada, mas ainda viva, de um retorno vida pela via regressiva da dependncia, da exposio, daO psicanalista que, provavelmente, mais elaborou esta noo de "narcisismo primrio" como situao de indiferenciao foi Hans Loewald (1951, 1952) nos EUA. Nele constitui-se, a partir de Freud e Ferenczi, a noo de uma "realidade materna", em oposio "realidade paterna", justamente pelo fato de ser uma experincia primria com a matria no sentido preciso do termo, o que decorre do radical latino "mater". Alis, o confronto entre Winnicott e Loewald poderia ser de grande interesse.12

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entrega e da vulnerabilidade a um ambiente emptico. Despertar este adormecido , paradoxalmente, um trabalho do silncio analtico. Nancy Smith (1999) trabalhando o conceito ferencziano de Orpha, sugere, como tarefa para o analista, facilitar a transformao de Orpha (instintos de vida dissociados) no Orfeu que desce s profundezas procura dos aspectos Eurdice da personalidade (o infantil e o feminino traumatizados). Talvez seja esta uma maneira sugestiva e potica de se conceber esta lenta passagem do retraimento regresso e da ao processo de restaurao e cura do paciente que foi vtima do trauma. Pois, efetivamente, Winnicott conclui: "Mais difcil o fato de que na prtica, assiste-se mudana do retraimento para a regresso medida em que o paciente se torna capaz de identificar o que h de positivo em nossa atitude". O positivo a espera paciente, tolerante e silenciosa do analista, amparada na crena de que a vida subsiste e de que no seio mais recndito do retraimento j se opera a regresso mais profunda e o reencontro de uma fora vital. Um perfeito modelo de no-intruso la Balint. Da mesma forma, facilita nossa compreenso opor a regresso e a no-integrao o estado no-integrado primrio em que todas as funes estruturantes do ego so exercidas pelo ambiente, enquanto o sujeito se mantem na condio da dependncia absoluta - s estruturas defensivas da loucura organizada e do autismo. A regresso teraputica , em maior ou menor medida, uma regresso dependncia e no-integrao e, nesta medida, s pode ocorrer quando as defesas esquizides, o autismo e a loucura organizada (delirante) puderem ser desfeitas. Todas as caractersticas do estilo tcnico de Ferenczi e de Balint so requeridas e acionadas na clnica winnicottiana para tornar este desfazimento - esta rendio ao outro - possvel e no traumatizante. Do ponto de vista terico, a regresso teraputica em Winnicott corresponde a uma possibilidade de resgate do verdadeiro self em oposio progresso traumtica e precoce do falso self. Um novo despertar de Orpha em melhores condies de integrao, em detrimento de seu duplo, o protetor cruel e implacvel que Ferenczi concebia como um

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superego enlouquecido13. Para isso, em toda a tradio ferencziana, mas alcanando com Winnicott um lugar proeminente, avulta a importncia da confiabilidade: confiabilidade do setting e confiabilidade do analista, o que inclui a capacidade de sustentao, a sobrevivncia aos ataques e a no retaliao. No difcil ao leitor de Winnicott encontrar as razes histricas desta problemtica nos textos ferenczianos do final da dcada de 20 e incio de 30 e muito poderia ir sendo acrescentado s breves indicaes j feitas neste artigo. Mas, como dissemos, no nossa inteno um trabalho exaustivo, incluindo, o que nos parece indispensvel, uma reconsiderao crtica de toda esta proposta com base na experincia clnica acumulada. Baste-nos, por ora, oferecer esta pequena contribuio para o rastreamento e, eventualmente, para os desdobramentos da tradio clnica ferencziana em que Winnicott merece ser situado.

Cabe registrar que Ferenczi foi pioneiro na concepo de um superego cruel muito precoce, o que ser retomado (com uma explicao diversa) por Melanie Klein e, em termos bastante semelhantes aos de Ferenczi, por Jean Laplanche. Na verdade, a teoria laplancheana do superego como enclave psictico antecedida pela idia de Ferenczi do superego como um "transplante" de contedos do mundo adulto que entram fora e que ficaro clivados no psiquismo da pessoa (criana) que sofreu o que Laplanche denominaria de intromisso. (cf. Ferenczi, 1932, p. 118).

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