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A TRAJETÓRIA DE CRESCIMENTO DA PETROBRAS: 1954 - 2001 JORGE SOUZA DOS SANTOS JÚNIOR UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS - CCJE INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO MESTRADO ORIENTADORA: PROFª DENISE FLECK Ph.D. RIO DE JANEIRO 2002

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  • A TRAJETRIA DE CRESCIMENTO DA PETROBRAS: 1954 - 2001

    JORGE SOUZA DOS SANTOS JNIOR

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ

    CENTRO DE CINCIAS JURDICAS E ECONMICAS - CCJE

    INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAO

    MESTRADO

    ORIENTADORA: PROF DENISE FLECKPh.D.

    RIO DE JANEIRO

    2002

  • ii

  • iii

    FICHA CATALOGRFICA

    Santos, Jorge Souza dos Jnior

    A Trajetria de Crescimento da Petrobras: 1954 - 2001 /Jorge Souza dos Santos Jnior. - Rio de Janeiro, 2002.

    XI, 336p., il.

    Dissertao (Mestrado em Administrao) - UniversidadeFederal do Rio de Janeiro - UFRJ, Instituto COPPEAD, deAdministrao, 2002.

    Orientador: Denise L. Fleck

    1. Estratgia, 2. Crescimento da Empresa, 3.Administrao - Teses. I. Fleck, Denise L.(Orientador).Ttulo II. Universidade federal do Rio deJaneiro. Instituto COPPEAD de Administrao. III. ATrajetria de Crescimento da Petrobras: 1945 - 2001.

  • iv

    Dedico este trabalho aos meus pais por me ensinarem o quanto valioso o

    ensino.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a minha me Ermelinda pela dedicao, carinho e reviso do

    texto. Ao meu pai Jorge pelo apoio e incentivo fundamental na minha vida.

    A dedicao e apoio de minha companheira Nira, filha Juliana e irm

    Mnica durante todos esses anos.

    professora Denise Fleck, pelo conhecimento compartilhado, orientao e

    incentivo constante durante a execuo deste trabalho, fundamental para a sua

    concluso.

    Aos professores Jos Vtor Bomtempo e Agrcola S. Bethlem, pelas

    valiosas sugestes, interesse e participao.

    Petrobras, em especial a rea de Finanas Corporativa e Tesouraria, pelo

    apoio e patrocnio na realizao deste curso de mestrado: Gerente Executivo

    (Almir Guilherme Barbassa), Gerente de Relaes com Subsidirias e Petros

    (Daniel Lima de Oliveira), Gerente de Tesouraria (Dennis Nvio dos Santos) e

    Gerente de Tesouraria do Pas (Lcia Margarida U. Espinheira).

    Ao Administrador Paulo Dagoberto B. Gonalves pela cesso do material

    valioso sobre a Petrobras.

    A Biblioteca Central da Petrobras pelo apoio na execuo da pesquisa

    bibliogrfica: as bibliotecrias Hilda Helena, Ilvana Amaral e Simone Bispo.

  • vi

    RESUMO

    SANTOS, Jorge Souza dos Jnior. A Trajetria de Crescimento da Petrobras:1954 - 2001. Orientadora: Denise L. Fleck. Rio de Janeiro: UFRJ/CCJE/FD, 2002.Dissertao (Mestrado em Administrao).

    O estudo teve como objetivo fazer uma anlise longitudinal da trajetria de

    crescimento da Petrobras, desde a sua criao at a presente poca, procurando-

    se entender o processo de desenvolvimento da Empresa. Foram identificados

    cinco perodos: 1954 - 1966 (implantao), 1967 - 1973 (diversificao

    relacionada), 1974 - 1984 (diversificao pouco relacionada e internacionalizao),

    1985 - 1998 (reestruturao do portflio de negcios), a partir de 1999

    (diversificao relacionada e geogrfica internacional).

    Para se alcanar esse objetivo foram descritos os fatos mais importantes da

    histria da Empresa, analisadas as mudanas estratgicas e de estrutura sobre a

    tica de Chandler (1962) e Greiner (1998), estudados os objetivo da Empresa sob

    a viso de Doyle (1994) e os traos do comportamento consistente da organizao

    sugeridos por Fleck (2001).

    As concluses do estudo indicam que a Petrobras teve um

    desenvolvimento semelhante ao das empresas descritas na teoria de Chandler

    (1962). Alm disso, as idias de Greiner (1998), parcialmente descrevem o

    desenvolvimento da Empresa. Por outro lado, as evidncias indicaram um forte

    direcionamento aos objetivos do Governo, apesar do esforo da empresa, a partir

    de sua quarta fase, no sentido de atender aos objetivos de seus stakeholders

    (Doyle, 1994). Durante as quatro primeiras fases predominaram os traos (Fleck,

    2001) com propenso a auto-destruio; tal situao s viria a mudar aps a

    flexibilizao do monoplio petrolfero, levando a Empresa a desenvolver mais

    intensamente traos (Fleck, 2001) com propenso sua auto-perpetuao.

  • vii

    ABSTRACT

    SANTOS, Jorge Souza dos Jnior. A Trajetria de Crescimento da Petrobras:1954 - 2001. Orientadora: Denise L. Fleck. Rio de Janeiro: UFRJ/CCJE/FD, 2002.Dissertao (Mestrado em Administrao).

    This study perform a longitudinal analysis of the growth trajectory of

    Petrobras, from its formation years up to year 2001. Five periods were identified:

    1954 - 1966 (formation years), 1967 - 1973 (related diversification), 1974 - 1984

    (unrelated diversification and internationalization), 1985 - 1998 (portfolio

    restructuring), 1999 on (related and geographic diversification).

    In order to understand it's growth process, the study relies on relevant

    internal and external events that took place over the company's existence. Several

    lenses were used to analyze the historical data: Chandler's (1962) ideas on

    strategy and structure, Greiner's (1998) perspective on organizational evolution,

    Doyles's (1994) view about firm's objectives, and Fleck's (2001) notion of

    organizational traits.

    The study suggests that the transformation in Petrobras's organizational

    structure resembles those the American oil companies went through several

    decades before. Greiner's phases of evolution and resolution were found to

    partially describe the company's process of change. As for the company's goals,

    the analysis suggests that, to a large extent, the Brazilian Government policies

    have determined Petrobras's goals during the first three periods. In the last two

    periods, a more balanced set of goals aiming at most stakeholders has been

    established. In what concern Flecks organizational traits, a self-destructive

    propensity has prevailed in the first four periods. Following the flexibilization of the

    oil monopoly (1999), Petrobras has been consistently taking initiatives which

    contribute to the development of a self-perpetuation propensity.

  • viii

    LISTA DE QUADROS

    Quadro Ttulo 2.1 Fases do Crescimento das Empresas (Greiner, 1998)

    2. 2 Traos Associados aos Aspectos Internos (Fleck, 2001)

    2. 3 Traos Associados a Negcios (Fleck, 2001)

    5. 1 Concluses sobre as fases de Greiner (1998)

    5. 2 Concluses sobre os traos associados a aspectos internos e a

    negcios (Fleck, 2001)

    LISTA DE FIGURASFigura Ttulo 4. 1 Curva da trajetria de Crescimento da Petrobras

    4. 2 Organograma da Petrobras (1955)

    4. 3 Organograma da Petrobras (1964)

    4. 4 Investimentos da Petrobras

    4. 5 Organograma da Petrobras (1979)

    4. 6 Organograma da Petrobras (1989)

    4. 7 Organograma da Petrobras (2000)

    4. 8 Unidades de Negcios da Petrobras (2000)

    LISTA DE ANEXOS

    Anexo Ttulo

    1 Documentao Sobre a Petrobras

    2 Quadros de Traos (Fleck, 2001) da Petrobras

  • ix

    SUMRIO

    CAPTULO 1 - INTRODUO 1

    1. 1 - Objetivo do Estudo 1

    1. 2 - Relevncia do Estudo 2

    1. 3 - Organizao do Estudo 3

    CAPTULO 2 - REVISO BIBLIOGRFICA 5

    2. 1 - Estrutura da Organizao 6

    2. 1. 1 - O Desenho Organizacional 6

    2. 1. 2 - A Organizao Linha-Staff 7

    2. 1. 3 - Estrutura Funcional 8

    2. 1. 4 - Estrutura Multidivisional 10

    2. 1. 5 - Estrutura Matricial 11

    2. 2 - A Estratgia Empresarial 11

    2. 3 - A Estratgia e a Estrutura 14

    2. 4 - Dinmica do Crescimento da Empresa 15

    2. 4. 1 - Segundo Greiner (1998) 16

    2. 4. 2 - Segundo Fleck (2001) 23

    2. 5 - Objetivos Empresarias e Medio de Desempenho 27

    CAPTULO 3 - METODOLOGIA 28

    3. 1 - Tipo de Pesquisa 28

  • x

    3. 1. 1 - Quanto aos Fins da Pesquisa 28

    3. 1. 2 - Quanto aos meios de investigao 28

    3. 2 A Empresa Estudada 30

    3. 3 A Coleta de Dados 30

    3. 4 O Tratamento dos Dados 30

    3. 5 As Limitaes do Estudo 34

    CAPTULO 4 - ANLISE DOS DADOS 36

    4. 1 - A Curva Evolutiva 36

    4. 2 - Primeira fase: Implantao (1954-1966) 37

    4. 2. 1 - Descrio dos Fatos Relevantes 37

    4. 2. 2 - Anlise da Estrutura Organizacional 41

    4. 2. 3 - Anlise do Processo de Crescimento 46

    4. 3 - Segunda Fase: Diversificao Relacionada (1967-1973) 51

    4. 3. 1 - Descrio dos Fatos Relevantes 51

    4. 3. 2 - Anlise da Estrutura Organizacional 55

    4. 3. 3 - Anlise do Processo de Crescimento 56

    4. 4 - Terceira Fase: Diversificao Pouco Relacionada e Internacionalizao

    (1974-1984) 60

    4. 4. 1 - Descrio dos Fatos Relevantes 60

    4. 4. 2 - Anlise da Estrutura Organizacional 61

    4. 4. 3 - Anlise do Processo de Crescimento 63

    4. 5 - Quarta Fase: Reestruturao do Portflio de Negcios (1985 - 1998) 68

  • xi

    4. 5. 1 - Descrio dos Fatos Relevantes 68

    4. 5. 2 - Anlise da Estrutura Organizacional 71

    4. 5. 3 - Anlise do Processo de Crescimento 72

    4. 6 - Quinta Fase: Diversificao Relacionada e Geogrfica - Internacional

    (a Partir de 1999) 77

    4. 6. 1 - Descrio dos Fatos Relevantes 77

    4. 6. 2 - Anlise da Estrutura Organizacional 78

    4. 6. 3 - Anlise do Processo de Crescimento 82

    CAPTULO 5 - CONCLUSES E SUGESTES PARA PESQUISAS

    FUTURAS 87

    5. 1 - Concluses 87

    5. 2 - Sugestes para Pesquisas Futuras 93

    5. 3 - Implicaes Estratgicas 94

    5. 3. 1 - Auto-perpetuao 94

    5. 3. 2 - Desafios do Ambiente Competitivo 95

    6 - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 96

    ANEXOS 99

    Anexo 1: Documentao Sobre a Petrobras 99

    Anexo 2: Quadros de Traos (Fleck, 2001) da Petrobras 101

  • CAPTULO 1

    INTRODUO

    1. 1 - Objetivo do Estudo

    Sendo a Petrobras companhia de grande destaque no cenrio nacional e

    internacional, produzindo, importando, refinando e comercializando a maior parte

    das necessidades de petrleo do Pas, sua transformao ao longo de sua

    existncia, de companhia monopolista em companhia operando em mercado

    aberto, trouxe vrias incertezas quanto aos reflexos desta mudana, no que tange

    continuidade de sua existncia, gerando grande preocupao no Pas e criando

    espao para estudos, visando examinar as condies de sua perpetuao.

    Assim, o presente trabalho tem por objetivo fazer um estudo longitudinal da

    trajetria de crescimento da Petrobras desde sua criao, em 1953, at o final do

    ano 2001. A anlise procura entender o processo de desenvolvimento desta

    empresa estatal brasileira, enfatizando os fatores internos e externos mesma,

    que influenciaram seu desenvolvimento estrutural e de negcios e seus esforos

    para atuar num mercado globalizado.

    O presente estudo prope-se a responder s seguintes perguntas:

    a - Pode-se afirmar que as alteraes em estratgia e em

    estrutura da Petrobras, ocorreram segundo a teoria de Chandler

    (1962)?

  • 2

    A resposta a essa pergunta permitir saber at que ponto a trajetria de

    crescimento da Petrobras se assemelhou trajetria seguida pelas grandes

    empresas americanas, principalmente s corporaes petrolferas.

    b - possvel afirmar que o crescimento da Petrobras tenha

    seguido o modelo criado por Greiner (1998)?

    A resposta a esse questionamento poder determinar a aplicabilidade do

    modelo criado pelo autor no caso especfico da Petrobras.

    c - Em que medida, durante sua trajetria de crescimento, tem a

    Petrobras desenvolvido propenso auto-perpetuao/auto-

    destruio (Fleck, 2001)?

    A resposta a essa questo fornecer subsdios para se determinar os

    traos desenvolvidos pela Empresa e de que maneira estes contribuem para o

    desenvolvimento de uma propenso auto-perpetuao ou auto-destruio.

    1. 2 - Relevncia do Estudo

    A relevncia terica desse estudo est em procurar descrever e analisar o

    processo de desenvolvimento de uma empresa estatal brasileira, que atuou

    inicialmente em ambiente de monoplio e, com a transformao do ambiente, seu

    esforo para continuar sendo competitiva, atuando nos mercados interno e externo

    totalmente abertos, desregulamentados e competitivos.

    Sob o ponto de vista prtico, a relevncia desse estudo est em tentar

    contribuir com os administradores da empresa em questo, na formulao da

    estratgia corporativa da mesma, ao revelar possveis falhas e acertos em seus

  • 3

    mecanismos de crescimento, desenvolvidos no s em um ambiente fechado,

    regulamentado e pouco competitivo, como tambm no ora, antagnico, aberto e

    competitivo ambiente.

    1. 3 - Organizao do Estudo

    O presente trabalho est organizado em cinco captulos. O primeiro captulo

    apresenta uma introduo ao estudo, seus objetivos, perguntas s quais a

    pesquisa pretende responder e uma descrio da organizao do trabalho.

    O segundo captulo descreve a reviso bibliogrfica que serviu de base

    para o estudo da trajetria de crescimento da Petrobras. Os principais temas

    abordados foram: a Estrutura da Organizao; a Estratgia Empresarial; e

    Estratgia e a Estrutura, a Dinmica do Crescimento da Empresa e os Objetivos

    Empresariais e a Medio do Desempenho. No primeiro tema procurou-se enfocar

    os principais tipos de estruturas organizacionais descritos pela literatura. Logo

    aps, buscou-se uma definio bem abrangente do tema estratgia empresarial.

    Depois de concludos os dois primeiros temas, apresenta-se a teoria de Chandler

    (1962) que relaciona a estratgia e a estrutura das empresas. O prximo tema

    abordado foi a dinmica do crescimento da empresa. Finalmente, foi estudado o

    tema objetivos empresariais e medio de desempenho.

    O terceiro captulo descreve a metodologia utilizada neste trabalho,

    destacando-se as suas caractersticas e limitaes. Relata-se ainda as razes que

    levaram escolha da Petrobras como objeto desse estudo, como tambm, a

    forma como os dados foram coletados e tratados.

  • 4

    O quarto captulo dedicado anlise dos dados obtidos, relativos s cinco

    fases da histria da Petrobras: Implantao (1954 - 1966), Diversificao

    Relacionada (1967 - 1973), Diversificao Pouco Relacionada e

    Internacionalizao (1974 - 1984), Reestruturao do Portflio de Negcios (1985

    - 1998) e Diversificao Relacionada e Geogrfica - Internacional (a partir de

    1999). A anlise de cada fase foi dividida em trs partes: Descrio dos Fatos

    Relevantes; Anlise da Estrutura Organizacional e Anlise do Processo de

    Crescimento.

    O captulo cinco reuniu as concluses sobre os principais temas abordados

    nesse trabalho, suas limitaes, como tambm as sugestes para o

    desenvolvimento de pesquisas futuras.

    O sexto e ltimo captulo contm as referncias bibliogrficas utilizadas no

    presente trabalho.

  • 5

    CAPTULO 2

    REVISO BIBLIOGRFICA

    O processo de crescimento das empresas est relacionado aos estgios de

    desenvolvimento de suas estruturas e s estratgias adotadas durante o seu

    desenvolvimento. O estudo dos principais tipos de estruturas e as diferentes

    definies de estratgia enfocados pela literatura, como tambm o seu inter-

    relacionamento permitiu formar a base para compreender as linhas de

    pensamento descritas nesse captulo.

    O estudo sobre a estrutura da organizao tomou como base o autor

    Chandler (1962) devido ao seu enfoque histrico do desenvolvimento da grandes

    corporaes americanas.

    Para se estudar a estratgia empresarial foi escolhida a abordagem de

    Mintzberg (1987), julgada a mais abrangente e adequada aos propsitos desse

    estudo.

    A literatura tem abordado o processo de crescimento das empresas sob

    diferentes pontos de vista. Chandler (1962), estudou o crescimento das grandes

    firmas americanas sob a tica organizacional, enfatizando em seu modelo o

    surgimento das estruturas "departamental funcional" e "multidivisional" e a relao

    entre a estratgia da empresa e sua estrutura. Ainda, sob esse enfoque, Greiner

    (1998) criou um modelo no qual as empresas, durante o seu desenvolvimento,

    passam por perodos de evoluo, com crescimento constante e estabilidade e

  • 6

    terminam num perodo de revoluo, com instabilidade organizacional e mudana.

    A resoluo de cada perodo revolucionrio ir determinar se a empresa ir passar

    ou no para a prxima fase de crescimento evolucionrio.

    Por outro lado, Fleck (2001) descreveu a dinmica do processo de

    crescimento das corporaes, focalizando traos associados a aspectos internos

    (organizao, alocao de recursos, resoluo de problemas e formao da

    hierarquia gerencial) e traos associados a negcios (empreendedorismo,

    motivaes para expanso e gesto da mudana), tais traos indicaram a

    propenso da empresa para auto-perpetuao ou auto-destruio.

    Este captulo apresenta, tambm, as idias de Doyle (1994),

    complementando a essncia desse estudo, o crescimento das empresas. Ao

    analisar a determinao de objetivos e as medidas de desempenho, Doyle

    concluiu que necessrio conciliar os interesses de todos os "stakeholders" para

    assegurar o bom desempenho da empresa.

    2. 1 - Estrutura da Organizao

    2. 1. 1 - O Desenho Organizacional

    Chandler (1962) definiu estrutura como sendo o desenho da organizao

    atravs do qual a empresa administrada. E esse desenho pode ser formal ou

    informalmente definido e as informaes e dados devem fluir entre as linhas de

    autoridade e comunicao estabelecidas entre os diferentes nveis hierrquicos.

  • 7

    "As linhas de autoridade e comunicao so essenciais para assegurar a efetiva

    coordenao, avaliao e o planejamento to necessrio para se alcanar os

    objetivos, as polticas e a plena utilizao dos recursos da Companhia. Os

    recursos incluem: capital financeiro, os equipamentos, as fbricas, escritrios,

    armazns e outros locais utilizados pelo marketing e vendas, fontes de matrias

    primas, laboratrios de pesquisa e engenharia e o mais importante de tudo o perfil

    tcnico, de vendas e administrativo de seu pessoal" (pg. 14)

    Segundo Mintzberg (1979), qualquer atividade humana organizada

    necessita de dois pr-requisitos fundamentais e opostos: a diviso do trabalho em

    vrias tarefas a serem executadas e a coordenao destas tarefas para realizar a

    atividade. Assim, estrutura de uma organizao pode ser definida simplesmente

    como sendo a soma total das maneiras pelas quais este trabalho dividido em

    tarefas distintas e como se consegue coorden-las.

    Sero estudadas, mais detalhadamente, o conceito de linha e staff, a

    estrutura funcional e multidivisional descritos por Chandler (1962).

    2. 1. 2 - A Organizao Linha-Staff

    Segundo Chandler (1962), a organizao linha-staff surgiu com a

    necessidade de se definir as linhas de comunicao e autoridade entre o Escritrio

    Central e a Unidades de Campo. Os executivos diretamente ligados a atividade

    principal se tornaram gerentes de linha e aqueles ligados as atividades auxiliares

    ou servios, os gerentes de staff.

  • 8

    Os rgos de linha passaram a se dedicar exclusivamente a alcanar os

    objetivos da empresa, como produzir, vender etc. Assim, os outros rgos, que

    receberam as demais atividades (financiar, comprar, planejar, recursos humanos

    etc), passaram a ser chamados de assessoria (staff), ficando responsveis pela

    prestao de servios especializados e assessoria tcnica, colaborando com os

    rgos de linha atravs de sugestes, consultorias e prestaes de servios.

    No estudo de Mintzberg (1979) sobre a estrutura das organizaes, o autor

    divide os rgos de Linha em: pice Estratgico (assegura a determinao e o

    cumprimentos dos objetivos), Ncleo Operacional (executam a produo de bens

    e servios) e a Linha Mdia (tem autoridade formal sobre o ncleo operacional

    fazendo a ligao entre o mesmo e o pice estratgico). E os rgos de Staff em:

    Tecnoestrutura (realizam a padronizao das atividades) e Assessoria de Suporte

    (suportam todo o trabalho da organizao fora do fluxo operacional, no

    relacionados a produo de bens e servios).

    2. 1. 3 - Estrutura Funcional

    A estrutura organizacional da empresa criada com base nas grandes

    funes, reunindo, sob cada departamento funcional criado, atividades e cargos

    semelhantes, como por exemplo: venda, produo, finanas etc.

    Esse tipo de estrutura beneficia a especializao e a obteno de

    economias de escala, separando o trabalho tcnico do administrativo e

    concentrando o trabalho nas grandes funes. Por outro lado, a excessiva

  • 9

    especializao pode levar os empregados a terem uma viso parcial da empresa,

    pois podem passar a enxergar somente o seu departamento. Alm disso, essa

    estrutura pode apresentar dificuldades na coordenao e integrao das

    atividades, prejudicando o atingimento do objetivo final da empresa, em virtude de

    os esforos se perderem nas atividades meio em detrimento da atividade global.

    Para Chandler esse tipo de estrutura centralizada tinha uma bsica

    fraqueza. "Poucas pessoas eram responsveis por um grande nmero de

    complexas decises. Os executivos no Escritrio Central era o presidente com um

    ou dois assistentes, algumas vezes o presidente do conselho e o vice-presidente

    que chefiavam vrios departamentos. Eles estavam sempre muito ocupados com

    a administrao das funes particulares para dedicar muito do seu tempo para os

    negcios do empreendimento como um todo. Seu treinamento provou ser mais um

    srio problema. Porque esses administradores tinham gasto a maior parte de sua

    carreira em uma simples atividade funcional, eles tinham pouca experincia ou

    interesse em compreender as necessidades e problemas dos outros

    departamentos ou da corporao como um todo. Quando o empreendimento

    industrial pertencia a um mercado cujas fontes de matrias-primas e processos de

    produo permaneciam relativamente imutveis, poucas decises

    empreendedoras tinham que ser alcanadas. Nessa situao uma fraqueza no

    era muito crtica, mas onde a tecnologia, o mercado e as fontes de suprimento

    estavam mudando rapidamente, os defeitos da estrutura se tornavam mais bvios"

    (pg. 41).

  • 10

    2. 1. 4 - Estrutura Multidivisional

    Essa estrutura organizacional baseada no agrupamento das atividades de

    acordo com as sadas ou resultados, reunindo em um nico departamento (ou

    diviso ou unidade de negcios) todas as tarefas e deveres a ele relacionados,

    facilitando a sua coordenao.

    Segundo Chandler (1962) na empresa assim organizada "o escritrio

    central planeja coordena e avalia o trabalho de vrias divises operacionais e

    aloca pessoal, recursos, fundos e o que mais for necessrio para a operao. O

    executivo responsvel por cada diviso tem sob seu comando uma linha de

    produtos ou servios distribudos em uma determinada rea geogrfica e cada um

    desses executivos responsvel pelos resultados financeiros da sua diviso e

    pelo sucesso da colocao de seu produto no mercado. Essa forma de

    administrao geralmente conhecida como estrutura descentralizada" (pag. 9).

    Essa configurao da empresa apresenta como vantagens: as

    necessidades de troca de informao entre as diferentes funes se reduzem, as

    responsabilidades pelas tarefas so bem definidas, o executivo recebe um

    treinamento mais generalista, para poder observar todos os aspectos do seu

    produto/servio e a inovao, o crescimento e a diversificao ficam facilitados.

    Nessa estrutura os esforos se concentram no produto/servio e h um maior

    acompanhamento do ambiente.

    Por outro lado, a estrutura por produtos ou servios tambm apresenta

    desvantagens. A disperso das atribuies por todas as divises acarreta a

  • 11

    multiplicao das estruturas, que pode encarecer os esforos e diminuir a

    especializao dos tcnicos, no mais concentrados em um nico rgo como na

    estrutura funcional.

    2. 1. 5 - Estrutura Matricial

    A estrutura matricial se caracteriza por combinar mais de uma forma de

    organizao, como a funcional e a por produto/servio por exemplo. Procura-se

    resolver os problemas de interdependncia, sacrificando-se a unidade de

    comando ao se instalar o comando duplo. A principal vantagem dessa estrutura

    conservar as vantagens das duas estruturas, eliminando as desvantagens.

    Apresenta como desvantagem: a quebra da unidade de comando, a demora na

    tomada de deciso, o distanciamento do mercado e a disputa pelo poder.

    2. 2 - A Estratgia Empresarial

    Mintzberg (1987) diz que o conceito de estratgia muito complexo para se

    expresso numa nica definio. Portanto, o autor define a estratgia de cinco

    maneiras diferentes, como: plano, estratagema, padro, posio e perspectiva.

    Ao definir estratgia como um plano, Mintzberg ressaltou suas duas

    principais caratersticas: ele feito antecipadamente em relao ao desejada;

  • 12

    desenvolvido com propsito especfico e com plena conscincia da sua existncia.

    Os seguintes autores encontram-se alinhados com essa noo de estratgia:

    ... Conjunto dos principais objetivos, propsitos e metas e as polticas e planos

    essenciais para se alcanar essas metas, estabelecidas de tal forma que

    definam em que classe de negcios a empresa est ou quer estar, que classe

    de empresa ou quer ser (Andrews, 1974, pg. 59).

    "O estabelecimento de metas e objetivos de longo prazo de um

    empreendimento e a adoo de cursos de ao e a alocao de recursos

    necessria para se alcanar as metas preestabelecidas" (Chandler, 1962, pg.

    13).

    ....Um conjunto de objetivos e a forma de alcan-los (Buzzell, Salomon e

    outros): esta simplificao tem a minha simpatia. Creio que a compreenso dos

    conceitos ser sempre diferente para pessoas e organizaes diferentes, e na

    simplificao, s vezes, conseguimos, encontrar o territrio comum" (Bethlem,

    1981, pg. 11-12).

    A estrutura que guia as escolhas que determinam a natureza e a direo de

    uma organizao (Tregoe e Zimmerman, 1988, pg. 14).

    Regras para a tomada de deciso em condies de desconhecimento parcial

    (Ansoff, 1977, pg. 101).

    Ao definir estratgia como estratagema, Mintzberg enfatiza a utilizao de

    planos, estratagemas etc, para a neutralizao da concorrncia ou a sua

    superao. Para Mintzberg a viso da estratgia como algo intencional encontrado

    no plano e no estratagema, no suficiente para caracterizar toda a sua

  • 13

    extenso, sendo necessrio uma definio que englobe tambm a noo de

    comportamento consistente (padro), intencional ou no.

    Mintzberg ao definir a estratgia como posio, mostrou que o

    posicionamento de uma empresa num determinado "nicho", isto , estabelecer um

    lugar no ambiente onde concentrar seus recursos, uma outra forma de

    estratgia. O autor conclui que esta definio compatvel com as trs definies

    apresentadas anteriormente (plano, estratagema, padro) pois, a posio pode

    ser alcanada por um plano ou defesa e ou atravs de um padro de

    comportamento. Exemplificando essa noo de estratgia temos:

    Cada empresa que concorre em uma indstria tem uma estratgia

    competitiva, seja ela explcita ou implcita. Esta estratgia pode ter sido

    desenvolvida explicitamente atravs de um processo de planejamento ou pode

    ter-se revelado implicitamente atravs das atividades dos vrios

    departamentos funcionais da empresa... (Porter, 1980, pg. 13).

    Na definio de estratgia como perspectiva, Mintzberg olhou para dentro

    da organizao, procurando enxergar a estratgia coletiva da organizao, a

    maneira como ela percebe o mundo a sua volta. A palavra chave dessa definio

    o compartilhamento, isto significa que todos os membros da organizao tm a

    mesma perspectiva, observada atravs de suas intenes e ou aes.

    Thompson (1976) definiu a estratgia como uma fora mediadora ou o

    acoplamento (o posicionamento da empresa em relao ao ambiente e o seu

    conseqente padro de comportamento) entre a organizao e o ambiente, isto ,

  • 14

    entre o contexto interno e externo. A estratgia seria um fator redutor das

    incertezas; sendo constituda de planos e tticas intencionais mais relacionadas

    com o esfera da racionalidade. Na viso de Thompson, sendo a estratgia uma

    resposta s incertezas do ambiente, seria constituda principalmente por decises

    e aes emergentes, que proporcionam uma adaptao da empresa s situaes

    de mudana com que ela obrigada a se confrontar.

    2. 3 - A Estratgia e a Estrutura

    Em seu livro Estratgia e Estrutura, Chandler (1962), afirmou que as

    mudanas na estratgia (a determinao de objetivos de longo prazo, planos de

    ao e alocao de recursos para alcanar esses objetivos) das empresas

    afetaram bastante a sua forma de se organizar. Em seu estudo emprico, Chandler

    concluiu que a estrutura segue a estratgia e que a mais complexa forma de

    estrutura o resultado da concatenao de vrias estratgias bsicas.

    Chandler sugeriu que diferentes tipos de expanso trazem necessidades

    administrativas diferentes, requerendo organizaes administrativas distintas. As

    estratgias de integrao vertical (aquisio de novas funes), expanso do

    volume de produo e disperso geogrfica nacional levaram as empresas a

    adotar uma estrutura organizacional centralizada e departamentalizada

    funcionalmente. Enquanto as estratgias de internacionalizao (disperso

  • 15

    geogrfica internacional) e diversificao de produtos levaram adoo da

    estrutura organizacional multidivisional descentralizada.

    No caso especfico da industria petrolfera americana, Chandler sugeriu que

    a diversificao inicial dos seus produtos1 no criou a necessidade de uma

    estrutura multidivisional. Portanto, o autor concluiu que apesar dessa

    diversificao inicial, a estrutura funcional continuava a atender satisfatoriamente

    as necessidades da empresa, porque o nico ajuste necessrio na estrutura era o

    aumento do escritrio do departamento de vendas (todos os produtos eram

    produzidos pelo mesmo processo e equipamento e usavam a mesma matria-

    prima).

    Somente com a diversificao trazida pela petroqumica e a expanso

    internacional que foi adotada a estrutura multidivisional na indstria petrolfera

    americana, devido s fortes presses por descentralizao que essas duas

    estratgias exerciam sobre as empresas.

    2. 4 - Dinmica do Crescimento da Empresa

    2. 4. 1 - Segundo Greiner (1998)

    Ao criar seu modelo de crescimento das empresas, Greiner (1998) se

    baseou no legado dos psiclogos europeus os quais argumentavam que "o

    comportamento dos indivduos determinado principalmente pelas experincias e

  • 16

    eventos do passado do que pelos acontecimentos futuros" (Greiner, 1998). O

    autor, ao aplicar essa tese aos problemas de desenvolvimento organizacional,

    identificou uma sucesso de fases de desenvolvimento pelas quais as empresas

    tendem a passar, no decorrer do seu crescimento. Segundo Greiner (1998), cada

    perodo comea com um perodo de evoluo, com crescimento contnuo e

    estabilidade, terminando com um perodo de forte instabilidade organizacional e

    mudana. A soluo de cada perodo revolucionrio a chave para a instalao

    de um novo estgio de crescimento evolucionrio.

    Greiner (1998) ao desenvolver esse estudo utilizou cinco dimenses

    chaves:

    a) a idade da organizao - considerada por Greiner (1998) a mais bvia

    e essencial dimenso de qualquer modelo de desenvolvimento. "A

    histria tem mostrado que as prticas organizacionais mudam durante o

    perodo de existncia da empresa, demonstrando que os problemas e

    princpios gerenciais so mutveis com o tempo. A passagem do tempo

    tambm contribui para a institucionalizao das atitudes gerenciais e

    que essas atitudes se tornam rgidas e eventualmente ultrapassadas, o

    comportamento dos empregados se torna no apenas mais previsvel,

    mas tambm, mais difcil de mudar" (Greiner, 1998, pg. 56);

    b) o tamanho da organizao - "os problemas de uma organizao e

    suas solues tendem a mudar com o crescimento do nmero de

    1 - A queda da demanda por gasolina em 1929, que as teria levado a fabricar leo paraaquecimento, diesel, gasolina de aviao.

  • 17

    empregados e do volume de vendas. Problemas de coordenao e

    comunicao se ampliam, surgem novas funes, os nveis de

    hierarquia gerencial se multiplicam e as funes se tornam mais

    interrelacionadas" Greiner, 1998, pg. 56);

    c) o estgio de Evoluo - segundo Greiner (1998) esse estgio

    corresponde a um perodo de prolongado crescimento (de quatro a oito

    anos sem problemas econmicos ou internos), sendo necessrio

    apenas simples ajustes para manter a empresa no mesmo padro de

    crescimento);

    d) estgio de Revoluo - perodo caracterizado por grande turbulncia

    onde prticas gerenciais correntes podem se tornar inapropriadas,

    levando as empresas incapazes de abandonar suas prticas correntes a

    desaparecer. Greiner chamou essa fase de Revoluo devido s srias

    mudanas das prticas gerenciais necessrias para fazer a empresa

    entrar numa nova fase de crescimento;

    e) a taxa de crescimento da indstria - "a velocidade com que as

    organizaes experimentam as fases de Evoluo e Revoluo est

    relacionada com o ambiente de mercado da indstria. Por exemplo

    indstrias que crescem muito rapidamente tero que contratar novos

    empregados de forma acelerada, pressionando por uma nova estrutura

    organizacional para acomodar o novo staff e encurtando o perodo de

    evoluo. A Evoluo pode ser prolongada e a Revoluo atrasada

    quando o lucro obtido facilmente, fazendo com que a empresa adie as

  • 18

    mudanas necessrias para o perodo de baixa lucratividade" (Greiner,

    1998, pg. 58).

    O autor descreve "cinco fases de crescimento", sugerindo que "cada

    perodo evolucionrio caracterizado pelo estilo gerencial dominante, usado para

    alcanar o crescimento", afirmando ainda que "cada perodo revolucionrio

    caracterizado pelo problema gerencial dominante que deve ser resolvido antes de

    o crescimento recomear" (Greiner, 1998, pg. 58).

    Greiner (1998), chama a primeira fase de crescimento de "Criatividade" e

    nos diz que nos primrdios da organizao as atividades individualistas e criativas

    dos fundadores so necessrias, mas acabam se tornando um problema medida

    que a empresa cresce e ganha mais complexidade, demandando a cada dia um

    gerenciamento mais profissional. Ao final desse perodo o crescimento

    interrompido pela "Crise de Liderana"; o estilo gerencial dos fundadores passa a

    ser um obstculo ao desenvolvimento da organizao. A soluo apontada por

    Greiner para debelar a crise : encontrar um novo lder, capaz de conduzir a

    organizao de volta ao crescimento. Em sua primeira fase, o autor concentra sua

    anlise na incapacidade do empreendedor de gerenciar todas as atribuies da

    empresa, e como a introduo de uma estrutura organizacional formal s

    mencionada na sua segunda fase, entende-se que a mesma no existia.

    Na fase, chamada "Direo", Greiner mantm que "apesar dos novos

    canais de comando empregarem a energia mais eficientemente em direo ao

    crescimento, eles eventualmente se tornam inapropriados para controlar uma

    organizao mais diversa e complexa" (pg. 60), vindo em seguida a "Crise de

  • 19

    Autonomia", devido ao excesso de atribuies dos controladores, fruto de uma

    hierarquia excessivamente centralizada, cuja soluo, segundo o autor a

    delegao de autoridade.

    Greiner (1998) chama a terceira fase de crescimento de "Delegao" por

    permitir que as companhias se expandam devido grande motivao dos

    gerentes de nveis mais baixos, que possuem a autoridade e o incentivo para

    conquistar grandes mercados, respondendo com rapidez aos consumidores e

    desenvolvendo novos produtos, mas que termina com a "Crise de Controle"

    quando os altos gerentes tentam retomar o controle da empresa como um todo.

    Para Greiner (1998) a empresa na quarta fase "Coordenao" tem na

    implantao dos sistemas de controle uma forma para se alcanar o crescimento

    atravs da alocao mais eficiente dos limitados recursos da companhia. Os

    sistemas ajudam os gerentes locais a enxergarem alm das suas necessidades.

    Tal fase seguida da "Crise Burocrtica", o uso excessivo dos programas

    introduzidos comeam a neutralizar seus benefcios, dando origem a uma perda

    de confiana entre as pessoas de linha e "staff" e entre as do escritrio e campo.

    A organizao se torna muito grande e complexa, para ser controlada atravs de

    programas e sistemas inflexveis.

    Na quinta fase de Greiner (1998), "Colaborao", feito um esforo de

    colaborao interpessoal para superar a Crise Burocrtica. "Ao contrrio da fase

    anterior, que gerenciada atravs de sistemas e procedimentos formais, essa

    fase enfatiza as aes gerenciais espontneas atravs dos grupos de trabalho e

    da utilizao inteligente das diferenas interpessoais. O controle social e a

  • 20

    autodisciplina substituem o controle formal. Essa transio especialmente difcil

    para os especialistas que criaram sistemas de coordenao, tanto como para os

    gerentes de linha que dependem dos mtodos formais de resposta" (Greiner,

    1998, pg. 62). A Crise, que supostamente ir determinar o fim dessa fase, ainda

    no foi descrita pelo autor.

    No quadro 2.1 foram sintetizadas as fase do crescimento das empresas,

    com a descrio de suas principais caractersticas.

  • 21

    Quadro 2.1 - Fases do Crescimento das Empresas (Greiner, 1998)

    Estgio Caractersticas do estgio de crescimento

    1 Fase:

    Criatividade

    Os fundadores da companhia so normalmente orientados para reatcnica ou empreendedora e geralmente no gostam de atividadesadministrativas, suas energias fsicas e mentais so absorvidasinteiramente promovendo e vendendo um novo produto

    A comunicao entre os empregados freqente e informal Longas horas de trabalho so recompensadas por salrios modestos e a

    promessa de benefcios de scio. Ocorre no final dessa fase a Crise de Liderana, devido incapacidade

    dos fundadores de lidarem com a complexidade que a empresa adquiriucom o seu crescimento

    2 Fase:

    Direo

    Uma estrutura organizacional funcional introduzida para separar amanufatura das atividades de marketing, tornando o trabalho algo maisespecializado

    Sistemas de contabilidade para inventrios e vendas so introduzidos Incentivos e padronizao do trabalho so introduzidos A comunicao torna-se mais formal e impessoal com o crescimento dos

    cargos e cresce Os gerentes e seus supervisores-chave assumem a maioria das

    responsabilidades do gerenciamento; os supervisores de nvel mais baixoso tratados mais como especialistas funcionais do que como gerentesautnomos

    Ocorre ao final dessa fase a Crise de Autonomia, devido necessidadedos empregados de mdio escalo almejarem por maior liberdade deao

    3 Fase:

    Delegao

    Muita responsabilidade dada aos gerentes de plantas e de territrios demarketing

    Altos executivos nos escritrios centrais limitam-se a gerenciar porexceo, baseados em relatrios peridicos feitos no campo

    Comunicao com a alta administrao infreqente e usualmenteocorre por correspondncia, telefone ou curtas visitas ao campo

    Ocorre ao final dessa fase a Crise de Controle, devido a necessidade doalto escalo da empresa de ter maior controle sobre as atividades daempresa.

  • 22

    4 Fase:

    Coordenao

    Unidades descentralizadas so combinadas em grupos de produtos Procedimentos de planejamento formal so estabelecidos e

    intensivamente revistos So contratadas inmeras pessoas para as atividades de staff, sendo

    localizadas na sede para iniciar um programa por toda a organizao decontrole e reviso das linhas gerenciais

    O gastos de capital so cuidadosamente ponderados e divididos por todaa administrao

    Cada grupo de produtos tratado como um centro de investimento, ondeo retorno do capital investido um importante critrio usado na alocaode fundos

    Certas funes tcnicas, como o processamento de dados, socentralizadas na sede, enquanto as decises operacionais diriaspermanecem descentralizadas

    Programas de compra de aes e participao nos lucros so utilizadospara encorajar os empregados a se identificarem com a corporao comoum todo

    Ocorre ao final dessa fase o Crise Burocrtica, devido altacomplexidade da empresa que passa a exigir maior agilidadeadministrativa, mas que entra em choque com a rigidez dos sistemas e aformalidade dos processos.

    5 Fase:

    Colaborao

    O foco est na soluo rpida de problemas atravs da criao de gruposde trabalho

    Grupos de trabalho so combinados de vrias funes para manuseartarefas especficas

    O nmero de pessoas nas atividades de staff das sedes reduzido emnmero; so redirecionados e combinados em grupos de trabalhointerdisciplinares para consulta indireta, das unidades de campo

    A estrutura do tipo matriz freqentemente utilizada para montar osgrupos de trabalho corretos para o apropriado problema

    Os sistemas de controle formais so simplificados e combinados emsistemas simples multitarefas

    Conferncias entre os principais gerentes so feitas freqentemente parase focar nos principais problemas da empresa

    Programas educacionais so usados para mudar o perfil comportamentaldos gerentes e facilitar o trabalho em grupo e a soluo de conflitos

    Sistemas de informao em tempo real so incorporados no processodirio de tomada de decises

    Recompensas em dinheiro so mais relacionadas com o desempenho dogrupo de trabalho do que realizao pessoal

    O experimento de novas prticas so encorajadas atravs daorganizao.

    O autor presume que a prxima crise "?" ocorrer em consequncia dosdesgastes fsicos e emocionais dos empregados gerados pelo excessivotrabalho em equipe e as fortes presses na procura de soluesinovadoras.

  • 23

    2. 4. 2 - Segundo Fleck (2001)

    Segundo Fleck, as firmas ao evolurem se vem obrigadas a enfrentar

    problemas inerentes ao prprio processo de crescimento, como: aumento da

    diversidade interna, complexidade, conflito de interesses e demanda por

    gerentes). Por outro lado, a busca constante por crescimento faz com que as

    empresas enfrentem desafios em seus relacionamentos com o ambiente, como: a

    atuao sobre fontes de mudanas, fundamentao da expanso e provocar o

    empreendedorismo. As empresas desenvolvem traos organizacionais em

    resposta a esses desafios. Segundo Fleck o trao organizacional pode ser visto

    como um comportamento consistente da empresa ao longo do tempo. Na viso da

    autora, associado a cada desafio gerencial existe uma tenso, envolvendo dois

    plos opostos, que levam ao surgimento de uma propenso auto-perpetuao

    ou auto-destruio.

    Fleck (2001) identificou dois grupos de traos. Os traos associados aos

    aspectos internos, isto , as polticas e prticas associadas ao gerenciamento dos

    recursos da empresa. O outro grupo de traos descritos so os associados a

    negcios; so as polticas e prticas associadas ao gerenciamento da empresa

    como um negcio. Os dois grupos so:

    Traos associados aos aspectos internos:

    Organizao - o trao indica como a empresa organiza sua diferentes

    partes, se de forma integrada ou fragmentada;

  • 24

    Alocao de recursos - o trao mostra como a alta direo da organizao

    coordena seus recursos, se de forma fraca ou forte;

    Resoluo de problemas - o trao reflete a maneira como a organizao

    resolve problemas, isto , se de forma sistemtica ou casustica;

    Formao de hierarquia gerencial - o trao mostra como a empresa

    desenvolve o corpo gerencial, se de forma deliberada ou emergencial.

    A seguir, no quadro 2.2, encontram-se sintetizadas as principais

    caractersticas dos traos de ordem interna.

    Traos associados a negcios:

    Empreendedorismo - o trao representa a predisposio da empresa a

    empreender expanses e a assumir risco;

    Motivaes para a expanso - o trao indica o tipo de motivo que

    fundamenta as estratgias de expanso;

    Gesto da mudana - o trao indica como a empresa enfrenta as

    mudanas em seu ambiente interno e externo, ou seja, se procura se

    antecipar e manusear a mudana, utilizando as melhores oportunidades de

    negcios, ou deixa-se levar por elas, simplesmente se adaptando aos

    eventos ocorridos.

    A seguir, no quadro 2.3, encontramos sintetizadas as principais

    caractersticas dos traos associados a negcios.

  • 25

    Quadro 2. 2 - Traos Associados aos Aspectos Internos (Fleck, 2001)

    Trao associadoa aspectos

    internos

    Desafiogerencial

    Natureza da tensoassociada

    Plos da tenso(modos de resposta

    ao desafio)

    Implicaes dosplos no longo

    prazoOrganizao medida que a

    empresa cresce,aumenta o graude diversidade

    nfase nassemelhanas

    nfase nasdiferenas

    Integrao viabusca desinergias

    Fragmentao viabusca deautonomia daspartes

    Auto-perpetuao

    Auto-destruio

    Alocao derecursos

    medida que aempresa cresce,aumentam osconflitos deprioridade

    Processodeliberado dealocao derecursos

    Processoemergente dealocao derecursos

    Fortecoordenao daalta direo

    Fracacoordenao daalta administrao

    Auto-perpetuao

    Auto-destruio

    Resoluo deproblemas

    medida que aempresa cresce,aumenta acomplexidade(torna-se maisdifcil entender asquestes)

    Identificaominuciosa egeralmentedemorada deevidnciasbuscandodescrever compreciso osproblemas

    Busca desoluesimediatas medida quesurgem osproblemas

    Modo sistemticode resolverproblemas

    Modo ad hoc(casustico) deresolverproblemas

    Auto-perpetuao

    Auto-destruio

    Formao dehierarquiagerencial

    medida que aempresa cresce,aumenta ademanda portalentosgerenciais

    Investimento derecursos (tempoe dinheiro) naformao degestores

    Recrutamentorpido degestores nomercado namedida danecessidade

    Desenvolvimentode gestores: cedoe de formadeliberada

    Desenvolvimentode gestores:pobre e de formaemergente

    Auto-perpetuao

    Auto-destruio

    Fonte: Fleck(2001)

  • 26

    Quadro 2. 3 - Traos Associados a Negcios (Fleck, 2001)

    Trao associadoa negcios

    Desafio gerencial Natureza da tensoassociada

    Plos da tenso(modos deresposta ao

    desafio)

    Implicaes dosplos no longo

    prazo

    Empreededorismo

    Fomento deiniciativasempreendedoras noseio da empresa

    Otimizao dosretornos(mximos) comriscos (mnimos)

    Subotimizaodos retornose/ou riscos

    Metasaudaciosascom nveis deriscocompatveis

    Metas apenassatisfatriasou metasaudaciosascom nveis deriscoexagerados

    Auto-perpetuao

    Auto-destruio

    Motivaes paraa expanso

    Fundamentao domovimento deexpanso

    Desenvolvimento de domnioscomprodutividadecrescente eeventual defesados mesmos

    Defesa dedomniosexistentes ouconquista denovos domniosque noaumentam aprodutividadeglobal daempresa

    Hbrido ouprodutivo

    Defensivo ounulo

    Auto-perpetuao

    Auto-destruio

    Gesto damudana

    Identificao eatuao sobre fontesde mudana quepodem beneficiar ouprejudicar osnegcios da empresa

    Identificaogeralmentecustosa edemorada depossveis fontesde mudanabuscando podermoldar oambiente

    Identificao demudanasocorridasbuscando omelhor e maisrpido ajuste daempresa aoambiente

    Manuseio dasfontes demudana afavor daempresa

    Adaptao smudanasocorridas

    Auto-perpetuao

    Auto-destruio

  • 27

    Fonte: Fleck (2001)

    2. 5 - Objetivos Empresarias e Medio de Desempenho

    Segundo Doyle (1994), a determinao dos objetivos de negcios de uma

    empresa e a medio de seu desempenho esto ligadas s expectativas dos

    "stakeholders groups"2. Cada medida de desempenho tem a sua perspectiva

    particular e recompensa um determinado grupo de "stakeholders". Alm disso, os

    objetivos de cada grupo podem ser parcialmente conflitantes com os objetivos dos

    outros. Caso um determinado grupo sinta-se desassistido, poder criar uma

    situao de desequilbrio, ameaando a sobrevivncia da empresa. A tarefa do

    gerente seria ento desenvolver uma estratgia que contemple os objetivos de

    todos os "stakeholders" na organizao. Para o autor, uma empresa de alto

    desempenho aquela que consegue alcanar esses objetivos consistentemente,

    satisfazendo a todos ao invs de maximizar os objetivos de poucos. A principal

    preocupao dos gerentes deve ser a busca por desempenho, ficando alerta para

    mudanas ambientais que possam ativar a insatisfao dos "Stakeholders". Isto

    requer o desenvolvimento de uma cultura de respeito e integrao dos diferentes

    interesses dos "stakeholders". O alcance de um desempenho de longa durao

    depende da consistncia na conduo da misso da empresa e a clareza da sua

    comunicao com ambiente externo.

    2 - Entidades que de alguma forma interagem com a empresa, prestando ou no um servio eexigindo uma contra partida da companhia em funo de seus objetivos, que podem ser porexemplo: credores, acionistas, o governo, sindicatos etc.

  • 28

    CAPTULO 3

    METODOLOGIA

    3. 1 - Tipo de Pesquisa

    3. 1. 1 - Quanto aos Fins da Pesquisa

    Este trabalho possui as caractersticas de duas metodologias de pesquisa,

    que podem ser classificadas como: Investigao Exploratria e Investigao

    Explicativa.

    A classificao como Investigao Exploratria est relacionada com a

    abrangncia do estudo da trajetria de crescimento da empresa em questo,

    existindo pouco conhecimento acumulado e sistematizado sobre o assunto.

    Por outro lado, a classificao como Investigao explicativa pode ser

    atribuda tentativa de se identificar fatores internos e externos empresa que

    poderiam explicar o comportamento da curva da trajetria da Petrobras na

    economia brasileira.

    3. 1. 2 - Quanto aos meios de investigao

    Este trabalho possui, ao mesmo tempo, as caractersticas de quatro

    metodologias de pesquisa, podendo ser classificado como Investigao

    Documental, Pesquisa Bibliogrfica, Investigao Ex Post Facto e Estudo de

    Caso.

  • 29

    A classificao como Investigao Documental e Pesquisa Bibliogrfica

    devido grande semelhana existente nestas duas formas de pesquisa, diferindo-

    se basicamente na fonte do material utilizado. Enquanto que a primeira utiliza

    basicamente um material que ainda no recebeu um tratamento formal analtico,

    abrangendo, muitas vezes, fontes diversificadas e dispersas, a segunda utiliza

    basicamente um material escrito segundo um rigor formal analtico, como livros e

    artigos cientficos encontrveis facilmente em bibliotecas.

    Na investigao documental foram utilizados os Relatrios Anuais de

    Atividades da Petrobras, assim como, documentos internos e publicaes da

    empresa versando sobre: estratgia corporativa, reformas estruturais e

    reorganizaes internas, e acontecimentos mais relevantes da histria da empresa

    (anexo 1)

    A classificao como Investigao Ex Post Facto se deve impossibilidade

    de se controlar ou manipular as variveis estudadas, que esto associadas a fatos

    j ocorridos.

    A classificao como Estudo de Caso se deve utilizao de uma nica

    empresa como objeto de estudo, permitindo um estudo mais profundo e exaustivo

    de temas mais complexos para a construo de hipteses ou reformulao do

    problema.

    Ressaltamos, que as classificaes acima descritas quanto aos meios de

    investigao esto de acordo com o carter exploratrio e explicativo da

    classificao quanto aos fins.

  • 30

    3. 2 A Empresa Estudada

    A escolha da Petrobras como objeto alvo deste estudo, se deu devido ao

    seu tamanho e importncia no cenrio nacional. A Petrobras a maior empresa

    brasileira em faturamento, seus produtos so de grande importncia na matriz

    energtica nacional e alto seu poder de alavancagem da indstria nacional.

    Alm disso trata-se de uma das poucas empresas brasileiras com um porte

    semelhante ao das grandes empresas americanas estudadas pelos autores

    citados no decorrer deste trabalho.

    3. 3 A Coleta de Dados

    A coleta de dados se baseou, principalmente, na consulta aos relatrios

    anuais de atividades da Petrobras, desde 1954 at o ano de 2001, publicaes

    internas da Empresa (relacionadas no anexo 1) e no livro sobre petrleo do autor

    Marinho (1989) de onde foram extrados, basicamente, fatos histricos excluindo-

    se as opinies polticas do autor.

    A reviso bibliogrfica foi direcionada para a literatura sobre a estrutura das

    organizaes, dinmica das organizaes, estratgia e o crescimento das

    empresas.

    3. 4 O Tratamento dos Dados

    O tratamento dos dados foi dividido em quatro passos, listados a seguir:

  • 31

    Levantou-se a histria da Petrobras, a partir das seguintes fontes:

    Marinho (1989), PETROBRAS (1995b), PETROBRAS (2000b),

    PETROBRAS (1987b) e PETROBRAS (1954a a 2001a). Nesse

    levantamento procurou-se listar os fatos de maior importncia3 para o

    desenvolvimento da Empresa. Ao final desse levantamento estavam

    compiladas as principais informaes para a descrio dos fatos

    relevantes e anlise da estrutura organizacional.

    Foi traada a curva da trajetria de crescimento da Petrobras, tomando-

    se como base os valores do ndice de tamanho da Empresa (Fleck,

    2001), calculados anualmente. Para se calcular esse ndice foram

    divididos os valores de faturamento bruto da Empresa, extrados dos

    relatrios anuais de atividades, pelos respectivos valores de PIB do

    pas, extrados de publicaes do IBGE - Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estatstica, desde o ano de 1957 at o ano de 2001:

    Tamanho ano i = Vendas ano i * 100 ;

    PIB ano i

    A utilizao de valores correntes, tanto para os valores de venda quanto

    para os valores do PIB, bem como o clculo do percentual do primeiro

    valor em relao ao segundo, tm como objetivo fornecer um valor

    3 - Inauguraes de unidades operacionais (refinarias, terminais, dutos, subsidirias etc), decises estratgicas(entrada em novo segmento, expanso das atividades, explorao em alto-mar etc), decises do poderexecutivo e legislativo que afetaram a indstria do petrleo (flexibilizao do monoplio, desregulamentao

  • 32

    imune s variaes sofridas pelas moedas brasileiras vigentes nesses

    trinta e quatro anos. O ndice de vendas nos permite saber, a cada ano,

    o quanto representa o faturamento bruto da Petrobras em relao

    economia do pas. Ao se traar a curva, temos a trajetria da Empresa

    ao longo dos anos, mostrando como se comportou o faturamento bruto

    da Petrobras (perodos de crescimento, diminuio ou estagnao) em

    relao economia do Brasil.

    Procurou-se dividir a curva da trajetria de crescimento da Petrobras em

    fases de crescimento e queda/estagnao. Aps essa diviso, verificou-

    se que essas fases tinham orientaes estratgicas distintas.

    Compilou-se sob a forma de tabelas os dados encontrados,

    principalmente nos relatrios anuais de atividades, segundo a noo de

    traos de comportamento da organizao (Fleck, 2001). Com o objetivo

    de dar melhor viso e possibilitar a anlise do grande volume de dados

    sobre o comportamento da Petrobras durante o seu processo de

    crescimento, os dados constantes das referidas tabelas foram

    agrupados segundo ordem cronolgica, de forma a facilitar o

    levantamento das tendncias de cada fase da curva evolutiva da

    Petrobras.

    da distribuio etc) , descobertas de petrleo, alteraes estruturais e mudanas poltico-econmicas no pas eno mundo (choque do petrleo, mudanas presidenciais etc).

  • 33

    A seguir (quadro 3.1) temos um exemplo da tabela de traos do

    comportamento da empresa (Fleck, 2001). As tabelas completas

    encontram-se no anexo 2.

    Quadro 3. 1 - Extrato do anexo do Trao Gesto da Mudana

    Num.

    Ano Descrio Gesto daMudana:Manuseio,Adaptao

    Observao Fonte

    1 1953 A Lei 2.004/53 define a PolticaNacional do Petrleo,estabelecendo o monoplio daUnio em todas as atividadesvinculadas explorao eindustrializao do Petrleo.A pesquisa e a lavra de petrleoso realizadas pela Sociedadesegundo planos aprovados peloCNP que, dentro da novaconfigurao legal, age comorgo autnomo de orientao efiscalizao, diretamentesubordinado Presidncia daRepblica, enquanto a Petrobras esuas subsidirias agem comorgos de execuo domonoplio.

    A Mudanalegislativa.Estabelecimentodo monopliopara exploraoe industrializaodo petrleo.

    Rel.1954

    2 1954 As atividades da empresa noltimo trimestre do ano forambastante afetadas pelodesequilbrio da balana cambialdo pas. Essa situao acarretouuma justificvel restrio asdivisas imprescindveis ao seubom funcionamento, dependente,ainda em grande parte, de bens eservios importados.

    A Mudanaeconmica.Obteno dedivisas.

    Rel.1954

    3 1954 Ao encerrar-se o exerccio, jhavia, entretanto, o Governotomado providncias preliminaresde carter decisivo para a soluo,no incio de 1955, do problema dedivisas para a Petrobras, mediantea instituio de um mecanismoautomtico de alocao de cmbiopara a Companhia, baseado naseconomias de divisas por elaprpria produzidas.

    A Mudanaeconmica.Obteno dedivisas.

    Rel.1954

  • 34

    3. 5 As Limitaes do Estudo

    O mtodo de estudo do caso tem na descrio de uma realidade

    observada, dentro do humanamente possvel, a sua principal funo, mostrando-

    se extremamente til para se criar e validar teorias, como tambm se presta a

    estudos exploratrios. Este mtodo requer que o pesquisador descreva de forma

    imparcial o desenrolar dos fatos, sem demostrar qualquer juzo de valor.

    Estas caractersticas descritas acima se tornam tambm um fator limitador,

    pois, ao se analisar uma nica empresa, a possibilidade de generalizaes das

    concluses sobre o caso e extrapolaes de seus resultados so limitadas.

    A impossibilidade de se generalizar as concluses de um trabalho

    utilizando-se o Mtodo Estudo de Caso, limitam a aplicao das concluses aqui

    encontradas, em outras empresas em processo de crescimento, devido s

    limitaes intrnsecas do mtodo. Alm disso, as caractersticas nicas do setor

    petrolfero e a sua importncia no mercado mundial dificultam a comparao com

    empresas dos demais setores.

    Outro fator limitante desse estudo foi a falta de informaes em relao aos

    traos Resoluo de Problemas e Empreendedorismo (Fleck, 2001),

    impossibilitando a construo de um diagnstico mais amplo do processo de

    crescimento da Petrobras, como tambm das sugestes prticas que dele

    resultariam.

    Devido ao tamanho e complexidade da Empresa estudada e as diferentes

    formas de se estudar o tema, no ser possvel se esgotar todos os aspectos

  • 35

    envolvidos no delineamento da trajetria de crescimento da Petrobras. Por isso,

    escolheu-se trabalhar basicamente com a viso oficial dos fatos, segundo a tica

    da empresa. Essa escolha foi um fator limitante do trabalho, mas, ao mesmo

    tempo o tornou exeqvel, evitando-se a viso pragmtica de que os destinos da

    Petrobras so determinados exclusivamente pela influncia poltica do Governo na

    Empresa.

    A anlise de documentos da empresa, referentes ao processo de

    crescimento, s reestruturaes e planos estratgicos implantados, permitiu colher

    na verdade a percepo de algumas das pessoas que participaram do processo,

    sendo impossvel se reproduzir com total verossimilhana o que realmente ocorreu

    nesses processos. Tais documentos constituem mais um campo de delimitao do

    presente estudo, uma vez que representam uma viso delimitada da realidade, no

    tempo e no espao, de acordo com a tica daqueles que os elaboraram.

    Segundo os dados oficiais da Empresa, o perodo de 1985 1988 foi

    marcado pelo uso dos preos dos derivados como instrumento de controle da

    inflao, por parte do Governo, fazendo com que a Petrobras tivesse que reduzir

    seus lucros e consequentemente seus investimentos. Portanto, outra limitao do

    estudo foi a falta de dados comprobatrios para explicar a queda da curva de

    crescimento da Empresa no perodo.

  • 36

    CAPTULO 4

    ANLISE DOS DADOS

    4. 1 - A Curva Evolutiva

    Nessa seo apresentada a curva da trajetria de crescimento da

    Petrobras (figura 4.1). Utilizou-se o indicador de tamanho relativo proposto por

    Fleck (2001), segundo o qual o tamanho da firma em um determinado ano

    corresponde ao percentual das vendas anuais da firma, relativamente ao PIB

    correspondente naquele ano.

    Figura 4. 1 - Curva da trajetria de Crescimento da Petrobras

  • 37

    0,00

    1,00

    2,00

    3,00

    4,00

    5,00

    6,00

    7,00

    8,00

    9,00

    10,00

    1957

    1959

    1961

    1963

    1965

    1967

    1969

    1971

    1973

    1975

    1977

    1979

    1981

    1983

    1985

    1987

    1989

    1991

    1993

    1995

    1997

    1999

    2001

    Tamanho Relativo

    O exame da curva da trajetria de crescimento da Petrobras permitiu

    identificar cinco perodos distintos de crescimento, queda ou estagnao do

    tamanho relativo da empresa. Trs destes foram de crescimento e dois de queda

    e estagnao. Estes cinco perodos serviram de base para o estudo da trajetria

    de crescimento da Petrobras em cinco fases, consecutivas. Estas foram

  • 38

    nomeadas segundo a orientao estratgica observada em cada perodo, a saber:

    Implantao (1954 - 1966), Diversificao Relacionada (1967 - 1973),

    Diversificao Pouco Relacionada e Internacionalizao (1974 - 1984),

    Reestruturao do Portflio de Negcios (1985 - 1998) e Diversificao

    Relacionada e Geogrfica Internacional (a partir de 1999).

    As prximas sees deste captulo apresentam as anlises realizadas

    sobre cada uma das fases. A anlise de cada fase foi dividida em trs partes: um

    breve relato dos fatos relevantes para a indstria do petrleo nacional; uma

    anlise da estrutura organizacional implantada no perodo e uma anlise da

    trajetria de crescimento do perodo.

    4. 2 - Primeira fase: Implantao (1954-1966)

    4. 2. 1 - Descrio dos Fatos Relevantes

    A criao da Petrobras ocorreu com a aprovao, em 3 de outubro de 1953,

    da Lei 2.004/53, que instituiu o monoplio da Unio Federal sobre as atividades

    petrolferas e autorizou a constituio da Petrleo Brasileiro S.A. para a execuo

    desse monoplio. No ano de 1954, a Empresa iniciou suas operaes aps a

    efetivao de sua constituio.

    Inicialmente, a Empresa recebeu do Conselho Nacional do Petrleo - CNP

    os seguintes empreendimentos: a Refinaria de Mataripe processando 5.000 bpd

    (barris de petrleo por dia), a Refinaria de Cubato em fase de montagem

    (projetada para refinar 45.000 bpd), Bens da Comisso de Industrializao do

  • 39

    Xisto Betuminoso, a Fbrica de Fertilizantes de Cubato em fase de montagem,

    Campos de Petrleo produzindo 2.700 bpd, reservas recuperveis de 15 milhes

    de barris, a Frota de Petroleiros com capacidade de transportar 221.295 t e um

    consumo de derivados de 137.000 bpd.

    A Petrobras teve como primeiro presidente Juracy Magalhes, sendo logo

    sucedido pelo Coronel Arthur Levy, a partir de outubro de 1954, cuja experincia

    em petrleo inclua a superviso das obras do oleoduto So Paulo-Santos e da

    refinaria de Cubato. Sua gesto procurou no s assegurar a continuidade dos

    projetos e programas de seu antecessor como tambm procurou obter acesso

    queles que controlavam recursos governamentais estratgicos, descobrindo que

    o fator estratgico primordial para o bom funcionamento da Empresa seria a posse

    de recursos em moedas estrangeiras. Em fevereiro de 1955, Arthur Levy

    conseguiu, atravs do Ministro Juarez Tvora, Chefe da Casa Militar, que o

    governo assegurasse Petrobras divisas no valor de oitenta por cento dos

    recursos em moeda forte economizados em decorrncia das atividades da

    empresa a das refinarias particulares.

    O prximo passo tomado por Levy foi acelerar o programa de treinamento

    de tcnicos em petrleo. Para resolver o problema de escassez de gelogos e

    engenheiros de petrleo foi firmado um convnio com a Universidade da Bahia,

    enquanto o CNP em conjunto com a Petrobras enviavam profissionais e

    especialistas para um curso de refinao no exterior.

  • 40

    Outra iniciativa administrativa tomada por Levy foi a implantao gradual do

    plano de Organizao da Petrobras, preparado logo aps a criao da empresa,

    por Hlio Beltro, ento diretor administrativo da mesma.

    Com a construo da refinaria Duque de Caxias (REDUC), concluda em

    1961, e a ampliao das Refinarias de Mataripe e Cubato, concludas em 1960, o

    pas alcana a auto-suficincia em refinao. Os investimentos continuaram a ser

    feitos no refino e demais atividades: a construo das Refinarias Gabriel Passos

    (REGAP) e Alberto Pasqualini (REFAP), a inaugurao da Fbrica de Asfaltos de

    Fortaleza, os Terminais Petrolferos de Madre e Deus e Aracaju, o Oleoduto Rio-

    Belo Horizonte, o Centro de Pesquisas - CENPES .

    Em 1963, o Decreto n 53.337/63, atribuiu Petrobras o exerccio do

    monoplio da importao de petrleo e derivados para complementar a produo

    nacional, reforando a posio da Empresa diante dos mercados internos e

    externos, transformando as demais companhias instaladas no pas em

    distribuidoras de derivados.

    A entrada no mercado de derivados se deu com a autorizao conseguida

    pela Marinha junto ao CNP para comprar derivados diretamente Petrobras pelo

    mesmo preo cobrado pela Empresa s distribuidoras instaladas no pas.

    Nessa fase inicial, segundo o rgo de planejamento da Empresa (1980) os

    objetivos estratgicos eram: descobrir petrleo no prazo mais rpido possvel;

    formar tcnicos brasileiros ; conhecer a geologia do pas, absorver o "know how"

    dos tcnicos estrangeiros e tornar o pas auto-suficiente em refino e transporte.

    Para se alcanar esses objetivos foram tomadas as seguintes decises: a

  • 41

    contratao do gelogo Link, ex-funcionrio da Standard Oil, que viria a estruturar

    o Departamento de Explorao4; o envio de tcnicos brasileiros para cursos no

    Brasil e no exterior, promovendo a absoro de tecnologia importada;

    desenvolvimento da explorao na Bahia e sondagem das bacias sedimentares

    brasileiras; e continuidade do investimento em refino e transporte.

    A concentrao dos esforos em explorao tinha como principais

    obstculos: o alto custo associado atividade, o macio emprego de tecnologia e

    os preos internacionais em queda, devido superproduo de leo em nvel

    mundial. A deciso de investir na atividade de explorao, considerada de alto

    risco ou de investir na atividade de refinao, considerada de baixo risco e

    geradora de recursos para serem reinvestidos no crescimento da companhia,

    passou a ser o principal "trade off" da empresa.

    Devido ao problema de escassez de divisas do pas, indispensveis ao

    crescimento das atividades da Empresa (compra de petrleo, derivados e

    equipamentos), a Petrobras adotou uma poltica de substituio das importaes

    incentivando o crescimento da indstria nacional. Ao mesmo tempo, o pas estava

    passando por um perodo de crescimento econmico, como por exemplo, a

    instalao da indstria automobilstica e a construo de Braslia, que

    aumentariam a demanda por derivados de petrleo, tornando a industria do

    petrleo um segmento em expanso.

    4 - O DEPEX passou de 53 tcnicos estrangeiros e 29 brasileiros ,em 1958, para 8 tcnicos estrangeiros e 331brasileiros. em 1965 (MARINHO, 1989, p.303).

  • 42

    No campo poltico, o fato de maior destaque do perodo foi a Revoluo de

    64, fato que reforou o apoio poltico do Governo s atividades da empresa.

    4. 2. 2 - Anlise da Estrutura Organizacional

    Segundo o Servio de Planejamento da Petrobras - SERPLAN (Petrobras,

    1987b), a primeiro modelo de organizao estrutural utilizado pela Petrobras foi o

    modelo denominado de Linha e "Staff" (figura 4.2), implantado para atender ao

    princpio da flexibilidade. Nas palavras de seu autor, Hlio Beltro, seria: "Uma

    frmula que consegue conciliar um princpio fundamental da unidade de

    subordinao com a convenincia de permitir o fornecimento direto de orientao

    e assistncia especializada (Staff) s unidades de operao (Linhas)".

  • 43

    Figura 4. 2 - Organograma da Petrobras (1955)

    Para o SERPLAN (Petrobras, 1987b), o primeiro plano organizacional da

    empresa procurou preservar as caractersticas fundamentais da indstria do

    petrleo, a integrao (vertical da cadeia produtiva para compensar os diferentes

    riscos econmicos da explorao e do refino e a interdependncia das atividades)

    e a especializao (devido necessidade de se responder ao desafio

    tecnolgico).

    No entendimento do SERPLAN (Petrobras, 1987b), a escolha desse

    modelo levou elaborao de uma superestrutura de orientao, superviso e

    controle que compreenderia os rgos de cpula do Sistema Petrobras e de uma

    estrutura de operao efetiva, para execuo das funes de explorao e

  • 44

    produo diretamente assumidas pela Empresa. exceo dos Departamentos

    de Explorao e de Produo, responsveis pela coordenao de vrios distritos

    regionais, foram excludas do plano organizacional original unidades

    administrativas intermedirias, capazes de filtrar as comunicaes entre os rgos

    de linha e a cpula da empresa. Para solucionar esta deficincia, Hlio Beltro

    props que a Diretoria Executiva fosse cercada de especialistas que

    assessorassem o Presidente e os diretores da Petrobras na soluo de problemas

    relacionados com refinao, petroqumica, transporte martimo e etc.

    A primeira estrutura da Petrobras, como as evidncias apontam, foi

    totalmente centralizada, ficando todos os rgos operacionais e de staff ligados

    diretamente ao presidente e diretores. Com o aumento da produo (novos poos

    produtores, refinarias, petroleiros, terminais etc) e disperso geogrfica nacional,

    surgiu a necessidade de um modelo organizacional centralizado e

    departamentalizado funcionalmente. Tal desenvolvimento ocorreu de forma bem

    semelhante ao descrito por Chandler (1962).

    De acordo com o SERPLAN (Petrobras, 1987b), com a expanso da

    empresa, os posteriores Presidentes e Diretores da Petrobras passaram a criticar

    este esquema organizacional e procuraram na "Departamentalizao" a soluo

    dos inmeros problemas administrativos.

    Ao final desse perodo implantada na Petrobras uma nova estrutura

    organizacional, que a prpria empresa chama de "Departamentalizao" (figura

    4.3). A grande novidade dessa estrutura foi a criao de quatro rgos de linha

    intermedirios (departamento industrial, explorao, transporte e comercial) entre

  • 45

    os rgos operacionais e a alta administrao (presidente e diretores),

    permanecendo o carter centralizador da estrutura organizacional anterior.

    Figura 4. 3- Organograma da Petrobras (1964)

    Segundo o SERPLAN (Petrobras, 1987b), a principal razo para a

    manuteno, em uma s empresa, das atividades monopolsticas da Companhia,

    ao invs da adoo do sistema "holding-subsidirias" foi atribuda s prprias

    peculiaridades da Petrobras, sociedade de economia mista, sob o controle da

    Unio, responsvel pela execuo do monoplio do petrleo, e ao princpio da

    integrao das fases da indstria do petrleo no mesmo sistema econmico. Isso

    parece indicar que existia uma grande preocupao na Empresa em se manter as

  • 46

    atividades monopolsticas e pertencentes cadeia de produo (integrao

    vertical) sob o controle da Holding.

    Segundo o SERPLAN (Petrobras, 1987b), a "Departamentalizao"

    implantada consistiu em reagrupar as unidades operacionais e rgos de funes

    afins em Departamentos - responsveis pelo desenvolvimento das atividades-fim

    da Companhia -, e em Servios - responsveis pela orientao funcional, em toda

    a Petrobras, das atividades-meio. Os principais motivos que levaram a Petrobras a

    implantar a nova estrutura organizacional foram:

    a) Nmero excessivo de rgos subordinados Diretoria Executiva;

    b) Necessidade de dar uma linha geral de orientao s unidades regionais que

    passaram a sofrer grandes influncias regionais;

    c) Necessidade de adaptar a estrutura da Petrobras s novas necessidades,

    objetivos e programas.

    Assim, foi possvel a Petrobras executar sua estratgia de Integrao

    Vertical e Contnua Expanso da atividade petrolfera, aumentando a produo de

    leo, ampliando a capacidade do parque de refino, investindo nos transportes e

    intensificando as pesquisas e a capacitao de seu corpo tcnico, de modo a

    poder atender crescente demanda resultante do crescimento industrial do pas.

    A nova estrutura sugere que a Petrobras seguiu o modelo proposto por

    Chandler (1962) de estrutura centralizada e departamentalizada funcionalmente,

    semelhante ao perodo de expanso territorial nacional e diversificao dos

    produtos refinados (leo diesel, querosene de aviao e leo para aquecimento)

    das indstrias petrolferas americanas.

  • 47

    4. 2. 3 - Anlise do Processo de Crescimento

    Tendo a Petrobras, j nascido com vrios empreendimentos suportados

    por uma estrutura organizacional, caso tpico da segunda fase de Greiner, as

    evidncias indicam que a crise de liderana, que encerra a primeira fase do

    autor, pode ter ocorrido com os empreendimentos de explorao e produo

    gerenciados pelo CNP. Esses empreendimentos viriam formar o Departamento de

    Explorao e Produo (E&P) da Empresa e a soluo para a crise teria sido a

    contratao do gelogo Link, logo aps a criao da Empresa, abrindo caminho

    para o grande crescimento da atividade explorao e produo. Assim, a "crise de

    liderana" parece ter ocorrido devido s dificuldades do CNP de agir como um

    gerente para essa atividade e no devido ao estilo empreendedor dos pioneiros na

    explorao de petrleo no Brasil, muito til nos primrdios da atividade, mas

    insuficiente para lev-la segunda fase do crescimento, como cita o terico

    Greiner.

    As evidncias indicaram que a Petrobras, no incio da dcada de 60,

    pareceu estar passando pela "crise de autonomia", tpica da segunda fase de

    Greiner (1998). A soluo para o problema foi a criao dos departamentos, que

    passaram a coordenar os diversos rgos, antes subordinados diretamente

    diretoria executiva, aliviando os diretores do excesso de atribuies a que estavam

    submetidos, atravs da delegao de poderes aos departamentos.

    Destaca-se, nesse perodo, o preponderante papel do Governo,

    influenciando o ambiente da Petrobras, agindo ao mesmo tempo como acionista

  • 48

    controlador, regulador da atividade petrolfera e principal fornecedor de capital,

    tornando a Companhia excessivamente vulnervel s mudanas poltico-

    econmicas do pas, que influenciavam, desde a determinao dos preos dos

    derivados at a indicao do Presidente da Empresa.

    Tal fato foi corroborado pela instabilidade poltica apresentada no perodo: o

    suicdio de Getlio Vargas (1954), a renncia de Jnio Quadros (1961), e a

    deposio de Jango (1964). Alm disso, encontrava-se a Petrobras ainda

    extremamente dependente dos fornecedores internacionais e da indisponibilidade

    de divisas para a compra de equipamentos.

    Nesse perodo, as empresas petrolferas internacionais, instaladas no pas,

    passaram a ser, ao mesmo tempo, os maiores clientes dos produtos refinados da

    Petrobras e "concorrentes em potencial" da mesma Petrobras, nas reas de

    distribuio, transporte e refino, posicionando-se contra o monoplio das

    atividades petrolferas e a favor da permanncia do pas como importador de

    derivados.

    Tal panorama teve como causas o controle estrangeiro da importao e

    distribuio de derivados em contraste com o crescimento do refino pela industria

    nacional e do estabelecimento do monoplio de importao de petrleo e

    derivados da Petrobras.

    A deflagrao de greves, na Empresa, no final do perodo, indicaram que a

    Empresa no estava atendendo seus objetivos. No havia sido implantada

    nenhuma poltica ambiental, nem havia a preocupao com a satisfao dos

  • 49

    clientes. Portanto, todos esses indcios sugerem que a Empresa no estava

    direcionada para atender s expectativas de todos os Stakeholders (Doyle, 1994).

    A trajetria da curva evolutiva (figura 4.1) apresentou sua primeira fase de

    crescimento (1957 - 1966), indicando que nesse perodo a Empresa cresceu a

    uma taxa superior economia do pas. Tal observao ratifica as evidncias de

    expanso que a Companhia apresentou nesse perodo.

    Ao se analisar o trao organizao (Fleck, 2001) foram encontradas nesse

    perodo (1954-1964) vrias evidncias de aes tentando buscar a integrao dos

    diversos empreendimentos que formaram a Petrobras, de forma a compensar a

    sua origem fragmentada. O principal ato praticado em direo integrao foi a

    implantao do plano organizacional da Companhia, definindo claramente que

    papel cada rgo executaria formalmente na organizao; foram executados

    treinamentos visando a padronizao dos perfis dos trabalhadores da rea

    administrativa e tcnica, como tambm foram tomadas medidas visando a

    padronizao das atividades (normas e manuais) das seguintes reas: compra,

    suprimento, armazenamento e controle de materiais, consultoria econmica,

    assessorias e assistncias especializadas. Finalmente, com a compra do primeiro

    computador de grande porte, foi criado o Servio de Processamento de Dados

    Mecanizado, sendo implantado a filosofia de processamento centralizado, que

    tambm contribuiu para a integrao da Empresa.

    Com relao ao trao formao de hierarquia gerencial (Fleck, 2001)

    parece indicar que a mesma se deu de forma pobre e emergente, devido s

    seguintes evidncias: o recrutamento de pessoal para exercer os cargos de alta

  • 50

    gerncia (presidente e diretores) foi, na maioria das vezes, realizado fora dos

    quadros da Petrobras; o primeiro esforo deliberado para a formao de gerentes

    s viria a ocorrer em 1974, vinte anos aps o incio da operao da Empresa;

    dessa forma, os indcios sugerem que a mdia gerncia se formava de forma

    emergencial no deliberada.

    Em relao ao trao Alocao de Recursos (Fleck, 2001) no foram

    encontradas evidncias que permitissem descrever o comportamento da

    Companhia.

    No levantamento dos dados no encontramos nenhuma evidncia que nos

    permita descrever o comportamento da Petrobras em termos de Resoluo de

    Problemas (Fleck, 2001).

    Na anlise do trao Gesto da Mudana (Fleck, 2001), foram encontradas

    evidncias de mudanas tecnolgicas, econmicas, polticas e sociais. No campo

    tecnolgico, encontrava-se a Petrobras, aps a sua criao, inteiramente

    dependente da tecnologia de fontes externas. Comeou ento todo um esforo

    para o desenvolvimento tecnolgico da Companhia, como: contratao de

    tcnicos estrangeiros, convnios com universidades brasileiras para formao de

    mo-de-obra e desenvolvimento de tecnologia, convnio com o Instituto Francs

    de Petrleo, concesso de bolsas de estudo no pas e no exterior para formao

    de gelogos, engenheiros etc. Foi construdo um Centro de Treinamento e criado

    um Centro de Pesquisas. Todos esses movimentos fornecem evidncias de aes

    de neutralizao antecipada de possveis ameaas. Portanto, as evidncias

  • 51

    apontam para uma tentativa de manipulao da mudana tecnolgica e de

    adaptao em relao as demais mudanas.

    No cenrio poltico, ocorreram anos conturbados at a revoluo de 1964,

    que afetaram diretamente a Empresa atravs da alternncia de Presidentes e

    Diretores. Alm disso, a legislao do petrleo foi alterada inmeras vezes, em

    funo das mudanas poltico-econmicas. Entre elas destacam-se: criao do

    Imposto nico sobre Combustveis e vrias alteraes em sua alquota,

    alteraes na legislao do cmbio do petrleo, instituio do monoplio da

    importao de petrleo e derivados etc.

    Na poltica internacional, ocorreu a mudana do poder das grandes

    corporaes internacionais para as empresas estatais dos principais pases

    produtores de petrleo, que iria culminar com a criao da OPEP nos anos 60. O

    mundo assistiu tambm crise do Canal de Suez, em 1967, trazendo a ameaa

    da escassez de petrleo e o aumento dos preos. Tais acontecimentos no s

    aumentaram consideravelmente os gastos de divisas do pas para a importao

    de petrleo e derivados, como tambm aumentaram os gastos da empresa com

    divisas.

    Devido impossibilidade de se antecipar aos movimentos polticos

    nacionais e internacionais, as evidncias nos mostram que a Empresa teve que se

    adaptar s mudanas.

    Na rea econmica, o pas passava por uma nova fase de crescimento

    econmico, com a construo de Braslia e a instalao de novas indstrias,

    destacando-se entre elas a indstria automobilstica. A Petrobras aproveitando-se

  • 52

    do crescimento da sua demanda e da ampliao do escopo do monoplio do

    petrleo (importao de petrleo e derivados), expandiu suas atividades, o que

    acabou aumentando as necessidades de divisas para a compra de mquinas,

    equipamentos, petrleo e derivados. Ao mesmo tempo, a Empresa comeou a

    incentivar a indstria, para substituir as importaes. Essas aes sugerem que a

    Petrobras agiu para neutralizar a ameaa da falta de divisas e dependncia dos

    fornecedores estrangeiros, procurando moldar o ambiente ao seu redor.

    Na anlise do trao motivaes para expanso nessa primeira fase, as

    evidncias nos indicaram que ocorreram alguns movimentos hbridos (produtivo e

    defensivo) como: os investimentos em explorao e produo (visavam diminuir a

    dependncia do pas do petrleo importado), os investimentos em refino (visavam

    diminuir a vulnerabilidade do pas em relao aos produtos refinados importados)

    e a construo de navios petroleiros (busca de controle sobre o transporte dos

    produtos). Os demais motivos eram basicamente produtivos.

    No levantamento dos dados no encontramos nenhuma evidncia que nos

    permita descrever o comportamento da Petrobras no que tange ao trao

    Empreendedorismo (Fleck, 2001).

    4. 3 - Segunda Fase: Diversificao Relacionada (1967-1973)

    4. 3. 1 - Descrio dos Fatos Relevantes

    Foi dado prosseguimento ao processo de expanso das atividades da

    Empresa, principalmente, na rea de refino com a inaugurao das Refinarias

    Gabriel Passos (REGAP), Alberto Pasqualini (REFAP) e Planalto Paulista

  • 53

    (Paulnia) dos terminais petrolferos de So Sebastio (TEBAR), Tramanda,

    (TEDUT) e o oleoduto Rio-Belo Horizonte, o Plo Petroqumico de So Paulo;

    como tambm, a construo das Refinarias Presidente Getlio Vargas (REPAR),

    Henrique Lages (REVAP).

    A atividade exploratria comeou a concentrar os investimentos da

    Empresa, chegando a 51% do total no ano 1970 (Figura 4.4), sendo reavaliada a

    estratgia de concentrar-se nas reas j produtoras, devido s poucas

    possibilidades de novas descobertas. A soluo encontrada foi redirecionar os

    esforos de explorao para a plataforma submarina, que demandariam

    investimentos em capacitao nas reas de engenharia, suprimento e geofsica.

    Essa nova diretriz estratgica enfrentaria o mesmo obstculo da anterior: os

    baixos preos do leo nos mercados internacionais. Como tambm, iria aumentar

    os riscos da atividade, exigiria contratao e absoro de tecnologias no

    existentes no pas e o desenvolvimento de tecnologia prpria. Como conseqncia

    direta dessa poltica comeou-se a prestar assistncia tcnica e financeira s

    empresas de engenharia do setor, seguindo, por exemplo, um caminho diferente

    do adotado pela empresa estatal italiana ENI que preferiu verticalizar suas

    atividades (Marinho, 1989).

  • 54

    Figura 4. 4 - Investimentos da Petrobras

    Ao criar suas trs primeiras subsidirias: Petroquisa (1967), Petrobras

    Distribuidora BR (1971) e Braspetro (1972), a Petrobras passou a focalizar mais

    claramente seus investimentos nas reas de petroqumica, distribuio e

    explorao e produo no exterior. A atividade petroqumica e a distribuio, no

    protegidas pelo monoplio da Unio, deixaram de ser rgos do Departamento

    Industrial e Comercial, respectivamente, para serem empresas com seus prprios

    oramentos, enquanto o Departamento de Explorao e Produo estendeu suas

    atividades para o exterior.

    A consolidao da atividade de distribuio ocorreu nesse perodo,

    passando de 10% do mercado, em 1965, para assumir a liderana do mesmo um

    ano aps a criao da subsidiria BR, oriunda do Departamento Comercial da

    Petrobras.

  • 55

    Segundo o rgo de planejamento da Empresa (Petrobras, 1980), nessa

    segunda fase a estratgia da empresa passou a objetivar principalmente o

    abastecimento nacional, em detrimento da auto-suficincia em petrleo. Para se

    alcanar este objetivo se investiu em aumentar a capacidade de refino e

    transporte, como tambm na diversificao relacionada em direo s atividades

    de distribuio e petroqumica.

    O cenrio mundial da indstria petrolfera, at ento dominado pelas

    grandes empresas internacionais, comeou a se alterar com a crescente

    nacionalizao das reservas dos pases produtores. Estes as incorporaram s

    suas empresas estatais, que por sua vez comearam a se organizar fundando a

    OPEP em 1960, terminando quase que completamente as concesses em 1972 e

    culminando com o primeiro choque do petrleo5 de 1973, que aumentou

    abruptamente os preos internacionais do leo. Em funo dessas alteraes do

    ambiente, a Petrobras passou a negociar suas compras externas de leo

    diretamente com as empresas estatais dos pases produtores.

    Essas mudanas no cenrio internacional aumentaram as necessidades da

    Petrobras de diversificar suas fontes de