A Transdisciplinariedade Do Direito Ambiental

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    A TRANSDISCIPLINARIDADE DO DIREITOAMBIENTAL E A SUA EQUIDADE

    INTERGERACIONAL

    Jos Rubens Morato Leite1 e Patryck de Arajo Ayala2

    Sumrio: Introduo. 1 .Conceito de Meio Ambiente - Neces-sidade de Interao - Viso Holstica2. Direito Ambiental, Novo Ramo da Pesquisa Jurdica. Trans-disciplinariedade e Autonomia. Reviso dos Direitos Tradi-cionais 3. Direito Ambiental, Transdiciplinaridade e Equida-de. Consideraes Finais. Referncias biliogrficas

    Introduo

    O objetivo da organizao deste estudo oferecer elementos de desenvol-vimento de novos pressupostos para a qualificao da transdisciplinaridade doDireito Ambiental, demonstrando a insuficincia cada vez mais acentuada dotratamento jurdico do ambiente, e sua inter-relao com elementos ticos e soci-ais, pouco privilegiados, desde que se procurou legitimar juridicamente uma visoda natureza, paralisando-a temporalmente, sob a qualificao de ambiente.

    Procurar-se-, para este fim, adentar nos matizes do conceito de meioambiente3 e destacar o seu perfil de interdependncia, interao homem natureza e de seu carter transdisciplinar. Ademais, pretende-se discutir aautonomia do Direito Ambiental, como ramo do Direito, bem como a suafuno paradigmtica.

    1 Professor Adjunto do Curso de Graduao e Ps-Graduao em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina,Doutor em Direito Ambiental pela UFSC, com Estgio de Doutoramento na Faculdade de Direito de Coimbra eMestre pelo University College London.2 Mestrando do Curso de Ps-Graduao em Direito da UFSC e bolsista da CAPES.3 Para uma viso mais detalhada do conceito jurdico de meio ambiente vide a nossa obra: LEITE, Jos RubensMorato, Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. So Paulo: Editora Revista dos TribunaisRT, 2000, p.72/96.

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    Ao permitir essa abertura comunicacional com a dimenso ticaque orienta as atividades de relacionamento com a natureza, foi privile-giada a anlise da tica da alteridade, que pressupe a nfase em valo-res de especial fundamentalidade para uma nova organizao do DireitoAmbiental, a responsabilidade, o cuidado e o respeito, sempre em aten-o ao outro, ethos que permite superar o paradigma de dominao, quesempre tensionou as relaes entre homem e natureza e que sub-reptici-amente, tem orientado tambm o discurso dos operadores do Direito notratamento jurdico do ambiente.

    Acredita-se que privilegiando a comunicao da tica da alteridade,especialmente com o texto jurdico constitucional4, pode ser possvel a cons-truo de nova fundamentalidade para o discurso jurdico ambiental, reve-lando, que da alteridade pode ser constituda juridicamente a equidade;equidade que na disciplina ambiental realizada pelo texto constitucional,assume um alargamento peculiar, espacial e temporalmente projetado, im-portando a possibilidade jurdica da proteo atual de direitos e interessesde titulares annimos e futuros, as futuras geraes, permitindo, ao mesmotempo, que seja alargada a compreenso do sentido constitucional da vida,destacada de sua origem iluminista e humana, para contemplar a proteointegral da vida dos seres vivos, presentes, atuais, ou inexistentes e futuros.

    Por fim, apresenta-se uma breve viso da instrumentalizao dogm-tica desta proposta de leitura ecolgica de integridade, a partir da recons-tituio de alguns princpios do Direito Ambiental.

    1. Conceito de Meio Ambiente Necessidade de Interao Viso Holstica

    Um ponto inicial para se discutir a transdisciplinaridade do Direito Am-biental , sem dvida, o conceito de meio ambiente e seus diversos matizes.

    A preocupao jurdica do ser humano com a qualidade de vida e aproteo do meio ambiente, como bem difuso, tema recente. Pode-sedizer que estas questes s vieram alcanar interesse maior dos Esta-dos, a partir da constatao da deteriorao da qualidade ambiental e da

    4 Art. 225, caput, in fine, C.R.B.

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    limitabilidade do uso dos recursos naturais5, ou seja, com a referida cri-se ambiental e do desenvolvimento econmico.

    Pontua-se tambm que os estudos atinentes relao entre seres vi-vos e meio ambiente ramo recente da biologia, atravs da ecologia. Lago6

    destaca que esta surgiu atravs de pesquisa do bilogo alemo Haeckel, em1866, quando props o estudo de uma disciplina cientfica, com o objetivode estudar a funo das espcies animais com o seu mundo orgnico e inor-gnico. Para denomin-la, utilizou a palavra grega oikos (casa) e cunhouo tema ecologia (cincia da casa).

    Nota-se ainda que, nos estudos iniciais da ecologia, prevalecia umaabordagem denominada auto-ecolgica, isto , sem incluir o homem. Bran-co7 esclarece que uma dimenso mais ampla da ecologia, representada pelainterao de vrios outros fatores e circunstncias ambientais, somente sur-giu com a sinecologia. Assim, verifica-se, pela sinecologia8, que, para obterum conceito mais amplo de meio ambiente, h necessidade da integrao einterao de vrias reas do saber.

    Esta viso de integrao e interao destacada por Vieira,9 que sa-lienta que o tema meio ambiente no serve para designar um objeto espec-fico, mas, de fato, uma relao de interdependncia. Tal interdependncia verificada de maneira incontestvel pela relao homem-natureza, posto queno h possibilidade de se separar o homem da natureza, pelo simples fatoda impossibilidade de existncia material, isto , o homem depende da natu-reza para sobreviver. O meio ambiente conceito que deriva do homem, e aele est relacionado; entretanto, interdepende da natureza como duas partesde uma mesma fruta ou dois elos do mesmo feixe.

    No dizer de Branco,10 esta interdependncia assim exemplificada:

    5 Um marco importante neste reconhecimento foi a Declarao de Estocolmo, de junho de 1972, publicada, na ntegra,no livro: SILVA, Geraldo Eullio do Nascimento. Direito Ambiental internacional. Rio de Janeiro: ThexEditora, 1995. p.162-165.6 LAGO, Antnio Pdua, AUGUSTO, Jos. O que ecologia? 7. ed. So Paulo: Brasiliense, 1988. p.7.7 BRANCO, Murgel. Conflitos conceituais nos estudos sobre meio ambiente. Estudos Avanados, So Paulo, v. 9,n. 23, p. 217,222-233, 1995.8 Sinecologia: Ramo da Ecologia que trata das relaes entre as comunidades animais ou vegetais e o meio ambien-te. BRANCO, Murgel. Conflitos conceituais nos estudos sobre meio ambiente. Estudos Avanados, So Paulo, v.9, n. 23, p. 217,222-233, 1995..9 VIEIRA, Paulo Freire. Meio ambiente, desenvolvimento e cidadania. In. VIOLA, Eduardo et ai. (Org.). MeioAmbiente, desenvolvimento e cidadania: desafios para as Cincias Sociais. So Paulo: Cortez, 1995. p.49.10 BRANCO, Murgel. Conflitos conceituais nos estudos sobre meio ambiente, op. cit. p.231.

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    O homem pertence natureza tanto quanto - numa imagem que meparece apropriada o embrio pertence ao ventre materno: originou-se delae canaliza todos os seus recursos para as prprias funes e desenvolvimen-to, no lhe dando nada em troca. seu dependente, mas no participa (pelocontrrio, interfere) de sua estrutura e funo normais. Ser um simplesembrio se conseguir sugar a natureza, permanentemente, de forma compa-tvel, isto , sem produzir desgastes significativos e irreversveis; caso con-trrio, ser um cncer, o qual se extinguir com a extino do hospedeiro.

    Qualquer que seja o conceito que se adotar, o meio ambiente engloba,sem dvida, o homem e a natureza, com todos os seus elementos. Dessaforma, se ocorrer uma danosidade ao meio ambiente, esta se estende cole-tividade humana, considerando tratar-se de um bem difuso11 interdependente.

    Esse carter de interao e interdependncia do meio ambiente pres-supe uma viso holstica e no fragmentria, conforme bem sintetiza oeminente Paulo Roney Fagundes12:

    O holismo oferece outra viso de mundo, diferente daquele que acincia tradicional apresenta, baseada na falsa crena de que a naturezadeve ser fragmentada para ser mais bem compreendida. Para resoluo dosproblemas, a viso de integridade no se satisfaz com as respostas prontas,e nem com os caminhos previamente traados pela cincia tradicional.

    Saliente-se que a noo genrica de meio ambiente pode ser constru-da a partir de diversas perspectivas tericas e de escalas, considerando-se aopo escolhida uma especificao cientfica. Isto se deve ao carter inter-disciplinar ou transdisciplinar13 do meio ambiente e por se tratar de um temadinmico e em constante estado de transformao.

    Elegendo-se uma noo genrica de meio ambiente, a ttulo inicial, adota-se a posio de Jollivet & Pav,14 que o define como o conjunto dos meios

    11 Difuso, a titulo ilustrativo, tem, como uma de suas caractersticas, a indeterminabilidade dos sujeitos, ou seja, defato um direito de interesse annimo.12 FAGUNDES, Paulo Roney vila. Direito e holismo - introduo a uma viso jurdica de integridade. SoPaulo, LTR, 2000, p. 14.13 Sobre a questo interdisciplinar ou transdisciplinar, no enfoque jurdico, ver pesquisa de OLIVEIRA JNIOR,Jos Alcebiades de. O desafio de novos direitos para a Cincia Jurdica. In. OLIVEIRA JNIOR, Jos Alcebiadesde, LEITE, Jos Rubens Morato (Coord.). Cidadania coletiva. Florianpolis: Paralelo 27,1996, p. 21.14 JOLLIVET, Mareei, PAVE, Alain. O meio ambiente: questes e perspectivas para a pesquisa. In. Vieira, PauloFreire (Org.). Gesto de recursos naturais renovveis e desenvolvimento: novos desafios para a pesquisaambiental. So Paulo: Cortez, 1996. p.63.

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    naturais ou artificializados da ecosfera, onde o homem se instalou e queexplora e administra, bem como o conjunto dos meios no submetidos ao antrpica, e que so considerados necessrios sua sobrevivncia.

    Por outro lado, no possvel conceituar o meio ambiente fora de umaviso de cunho antropocntrica, pois sua proteo jurdica depende de umaao humana. Nesse sentido, aponta o princpio n.l da Eco/9215, que ressaltaque os seres humanos esto no centro das preocupaes com o desenvolvimen-to sustentvel. Ressalta-se, no entanto, que essa viso antropocntrica pode seraliada a outros elementos e um pouco menos centrada no homem, admitindo-seuma reflexo de seus valores, tendo em vista a proteo ambiental globalizada.

    Articulada uma noo genrica de meio ambiente, cabe, agora, frisaralgumas preocupaes centrais e alguns valores que devem guiar a condutaantropocntrica em relao ao meio ambiente:

    1. o ser humano pertence a um todo maior, que complexo, articu-lado e interdependente;

    2. a natureza finita e pode ser degradada pela utilizao perdulria deseus recursos naturais;

    3. o ser humano no domina a natureza, mas tem de buscar cami-nhospara uma convivncia pacfica, entre ela e sua produo, sob pena de exter-mnio da espcie humana;

    4. a luta pela convivncia harmnica com o meio ambiente no somenteresponsabilidade de alguns grupos preservacionistas, mas misso poltica, ti-ca e jurdica de todos os cidados que tenham conscincia da destruio que oser humano est realizando, em nome da produtividade e do progresso.16

    obvio que a viso antropocntrica, centrada na posio em queo homem tratava o ar puro como res nullius, est superada, e hoje estebem considerado res omnium, e assim deve ser entendido. Advoga-sea superao de um antropocentrismo do passado e a incluso de valores,como por exemplo a biotica, na proteo jurdica do meio ambiente.Segundo Lima Neto,17 a biotica se relaciona com o Direito, como ramo

    15 Principio 1: Os seres humanos esto no centro das preocupaes com o desenvolvimento sustentvel. Tm direitoa uma vida saudvel e produtiva, em harmonia com a natureza. NAES UNIDAS. Declarao de Estocolmo sobremeio ambiente (1972). In. SILVA, Geraldo Eullio do Nascimento e. Direito Ambiental internacional. Riode Janeiro: Thex, 1995, p. 168).16 AGUIAR, Roberto Armando Ramos. Direito do meio ambiente e participao popular. Braslia: Ministrio doMeio Ambiente e da Amaznia Legal/ IB AMA, 1994. p.20-21.17 LIMA NETO, Francisco Vieira. Responsabilidade civil das empresas de engenharia gentica. Leme: Edi-tora do Direito, 1997. p.46

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    do saber tico que se ocupa da discusso e conservao de valores mo-rais de respeito pessoa humana no campo das cincias da vida. O autorentende que o tema abandona perfeitamente os limites da biologia paraalcanar tambm o Direito, pois

    na sociedade moderna, marcada pela racionalizao do real, todasas condutas morais do homem, em qualquer de suas atividades, necessaria-mente se regulam pelas normas jurdicas, de tal sorte que o debate e a insti-tuio de comportamentos ticos, no campo da medicina e da biologia, tor-nar-se-o juridicamente obrigatrios somente com a chancela do direito.

    Frisando a importncia da vertente tica, salienta-se que a mani-pulao gentica de organismos, como ilustrao, pode ocasionar de-sastres ecolgicos.18

    No se postula ura biocentrismo, apenas uma superao do modeloderrogado do homem como senhor e destruidor dos recursos naturais. Sen-dim19 observa que existe uma tendncia, no domnio do pensamento jurdi-co, de superar a limitao do antropocntrico clssico e admitir a proteodo patrimnio natural pelo seu valor intrnseco, e no apenas pela utilidadeque tenha para o ser humano, sem contudo cair em uma deep ecology (eco-logia profunda). Ao sintetizar a deep ecology20 leciona o autor que esta senutre de um impulso romntico de retornar natureza, adornada, por vezescom a majestade do sagrado. E acrescenta Sendim:

    Assim, a relao dualista cientfica e manipuladora da matria(que uma relao de distanciamento e objetivao) substituda poruma postura de fuso e osmose, naturalizao do corpo e personaliza-o da natureza.21

    A idia do passado, enraizada entre ns, de que o homem domina esubmete a natureza explorao ilimitada, perdeu seu fundamento. Atravsdo desenvolvimento da ecologia22, demonstrou-se que a interveno dohomem no s destrua os recursos naturais no renovveis, assim comopoderia trazer perigo estruturao e ao equilbrio do ser humano na Terra.A tendncia atual evoluir-se em um panorama muito menos antropocn-

    18 Vide, sobre manipulao gentica na Legislao Federal Brasileira, a Lei n. 8.974 de 1995.19 SENDIM, Jos de Souza Cunhal. Responsabilidade civil por danos ecolgicos: da reparao do dano atra-vs da restaurao natural. Coimbra: Coimbra, 1998. p.95-96.20 OST, Franois. A natureza margem da lei: a ecoIogia prova do Direito. Lisboa: Instituto Piaget, 1997. p.169-234.21 SENDIM, Jos de Souza Cunhal. Responsabilidade civil por danos ecolgicos: da reparao do dano atra-vs da restaurao natural, (livro) Op. cit., p.94.22 Vide, para uma anlise maior, ODUM, Eugene. Fundamentos de ecologia. 4a ed. Lisboa: INA, 1988. 459 p.

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    tric, em que a proteo da natureza, pelos valores que representa em simesma, merea um substancial incremento. A natureza necessita proteode per si e por seu prprio fundamento.23

    Nesse sentido, Sendim24 afirma:A descoberta da vulnerabilidade crtica dos sistemas ecolgicos

    interveno humana veio modificar a compreenso tica acerca de nsmesmos, como fator causal no mundo, fazendo surgir a natureza comonovo objeto do agir humano.

    Sobre a evoluo antropocentrista, vale a pena mencionar a po-sio de Antunes,25 afirmando que o Direito Ambiental busca a intera-o homem-natureza. Negando a tendncia do Direito Ambiental em admitiras concepes passadas, segundo as quais, ao ser humano com-petia subjugar a natureza.

    Ratificando o ponto de vista que se vem defendendo, cita-se a posi-o de Leme Machado26 a respeito da viso antropocntrica do compro-misso do homem diante da natureza, que pondera:

    O terceiro caminho coloca o homem como centro das preocu-paes do desenvolvimento sustentado. Onde h centro, h periferia.O fato de o homem estar no centro das preocupaes, como afirma omencionado princpio I, no pode significar um homem desligado esem compromissos com as partes perifricas ou mais distantes de simesmo. No o homem isolado, ou fora do ecossistema, o agressordesse ecossistema.

    Acrescenta-se a esse panorama o fato de que hoje a defesa do meioambiente est relacionada a um interesse intergeracional e com necessida-de de um desenvolvimento sustentvel, destinado a preservar os recursosnaturais para as geraes futuras, fazendo com que a proteo antropo-cntrica do passado perca flego, pois est em jogo no apenas o interes-se da gerao atual. Assim sendo, esse novo paradigma da proteo ambi-ental, com vistas s geraes futuras, pressiona um condicionamento hu-mano, poltico e coletivo mais consciencioso com relao s necessidadesambientais. Neste sentido, as afirmaes de Benjamin:

    23 AMARAL, Diogo Freitas. Direito do ambiente. Oeiras: INA, 1994. p.17.24 SENDIM, Jos de Souza Cunhal. Responsabilidade civil por danos ecolgicos: da reparao do dano atra-vs da restaurao natural. (livro) Op.cit., p.16.25 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Lmem Jris, 1996. p.18.26 LEMES MACHADO, Paulo Affonso. Estudos de Direito Ambiental. So Paulo: Malheiros, 1994. p.18.

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    Pelo ponto de vista da gerao atual, proteger uma determinada esp-cie ameaada de extino pode no valer a pena, diante de eventuais sacrifci-os, principalmente econmicos exigidos. Mas se incorporamos o futuro odesejo de deixar como herana tal espcie para as geraes que nos sucedero a deciso em favor da preservao ganha muito mais fora e legitimidade.27

    Alm do que, as questes do desenvolvimento sustentvel e de equi-dade intergeracional28 exigem restries das atividades econmicas, consi-derando as necessidades da preservao do ecossistema e, assim, uma mai-or reverncia pela natureza29 e distanciamento da viso antropocntricaradical. Trata-se de um alargamento desta viso, que acentua a responsabi-lidade do homem pela natureza e justifica a atuao deste como guardio dabiosfera. Fazendo surgir uma solidariedade de interesses entre o homem e acomunidade bitica de que faz parte, de maneira interdependente e inte-grante. Nota-se que a responsabilidade pela integridade da natureza con-dio para assegurar o futuro do homem.

    De fato, uma aceitao de um antropocentrismo alargado, que se en-contra amparada legalmente no Direito brasileiro (art. 225, caput, Constitui-o Federal, 1988, Lei n. 6.938)30. Nesta acepo constata-se uma responsa-bilidade social perante o meio ambiente, que deve ser executada no s peloEstado, mas tambm pela coletividade como um todo. Esta perspectiva an-tropocntrica alargada coloca o homem como integrante (art. 3., inciso I, Lein. 6.938,1981) da comunidade biota31. Alm do que, impe-se uma verda-deira solidariedade e comunho de interesses entre o homem e a natureza,32

    27Objetivos do Direito ambiental. Lusada: Revista de Cincia e Cultura, Actas do I Congresso Internacional deDireito do Ambiente. Porto, p. 24,1996.Nmero especial. (Srie Direito).28Equidade intergeracional significa a exigncia de que cada gerao legue seguinte um nvel de qualidade ambientaligual ao que recebeu da gerao anterior.29PUREZA, Jos Manuel; FRADE, Catarina. Direito do ambiente. Coimbra.- Faculdade de Economia da Uni-versidade de Coimbra, 1998. p.6.30No direito portugus, CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes; MOREIRA, Vital. Constituio da Repblica Por-tuguesa Anotada. 3ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1993. p.347-348, dizem A constituio estabelece, acertada-mente, a articulao entre ambiente e qualidade de vida. O ambiente um valor em si na medida em que tambm o para a manuteno e alargamento da felicidade dos seres humanos (teleologia antropocntrica).31Neste sentido; Existe, por isso, uma solidariedade de interesses entre o Homem e a comunidade bitica que fazparte. SENDIM, Jos de Souza Cunhal. Responsabilidade civil por danos ecolgicos: da reparao do danoatravs da restaurao natural, (livro) Op. cit., p. 101.32RUFINO, Gilberto Dvila. Le droit de lhomme a lenvironnement dans la Constitution de 1988 du Brsil.Revue Juridique de LEnvironnement

    sParis, n. 4, p. 363-371,1994.

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    como condio imprescindvel a assegurar o futuro de ambos e dependente,de forma insofismvel, da ao do primeiro, como verdadeiro guardio dabiosfera.33 Nessa proposta h uma ruptura com a existncia de dois universosdistantes - o humano e o natural - e avana no sentido da interao destes.Abandonam-se as ideias de separao, dominao e submisso e busca-seuma interao entre os universos distintos e a ao humana.

    Por outro lado, a perspectiva antropocntrica alargada propeno uma restritiva viso de que o homem tutela o meio ambiente nicae exclusivamente para proteger a capacidade de aproveitamento deste,considerando precipuamente satisfazer as necessidades individuais dos

    consumidores, em uma definio economicocntrica.34 Com efeito, essaproposta visa, de maneira adversa, a abranger tambm a tutela do meioambiente, independentemente da sua utilidade direta, e busca a preser-vao da capacidade funcional do patrimnio natural, com ideais ti-cos de colaborao e interao.

    Segundo Sendim,35 essa perspectiva,fundamentando-se, por isso, na considerao de interesse p-

    blico na integridade e estabilidade ecolgica da Natureza, pode, destemodo, justificar o sacrifcio dos interesses humanos no aproveitamen-to imediato dos bens.

    Ost36 esclarece que dever ficar bem claro que proteger a natureza,restringindo subtraes excessivas e reduzindo emisses nocivas, significa,simultaneamente, trabalhar para a recuperao dos equilbrios ecolgicos epara proteo dos interesses humanos.

    No Direito Positivo brasileiro, conforme relatado, a proteo jurdi-ca do meio ambiente do tipo antropocntrica alargada, pois nesta verifi-ca-se um direito ao meio ambiente equilibrado, como bem de interesse dacoletividade e essencial sadia qualidade de vida37. Alm disso, essa tute-la do meio ambiente no Brasil est vinculada no a interesses imediatos e,sim, aos citados interesses intergeracionais. No h como refutar, dessaforma, que no sistema jurdico brasileiro,

    alm da proteo capacidade de aproveitamento do meio ambien-

    33 SENDIM, Jos de Souza Cunhal, Idem, p.101.34 SENDIM, Jos de Souza Cunhal, Idem, p. 102.35 SENDIM, Jos de Souza Cunhal, Idem, p. 102.36 OST, Franois. A natureza margem da lei: a ecologia prova do Direito. Lisboa: Instituto Piaget, 1997.p.310.37 Conf. art. 225, caput, da Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988.

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    te, simultaneamente, visa-se a tutelar o mesmo, para se manter o equilbrioecolgico e sua capacidade funcional, como proteo especfica e autno-ma, independente do benefcio direto que advenha ao homem .38

    Sobre o quadro evolutivo e a aceitao de novas axiologias no campodo Direito e da viso menos antropocntrica, Ost39 comenta:

    Passo a passo, o direito faz, assim, a aprendizagem do ponto devista global. Num sculo, a evoluo significativa, conduzindo de umaposio estreitamente antropocntrica a uma maior tomada de considera-o da lgica natural em si mesma ; evoluo que , tambm, a do pontode vista local para o ponto de vista planetrio, e do ponto de vista concre-to e particular (tal flor, tal animal) para a exigncia abstrata e global (pordetrs da flor ou do animal, o patrimnio gentico). Se nos primeirostempos da proteo da natureza, o legislador se preocupava exclusiva-mente com tal espcie ou tal espao, beneficiado dos favores do pblico(critrio simultaneamente antropocntrico, local e particular), chegamoshoje proteo de objetos infinitamente mais abstratos e mais engloban-tes, como o clima e a biodiversidade.

    2. Direito Ambiental, Novo Ramo da Pesquisa Jurdica.Transdisciplinariedade e Autonomia. Reviso dos Direitos Tradicionais

    O Direito Ambiental congrega um mosaico de vrios ramos do Direi-to e trata-se de uma rea jurdica que penetra, horizontalmente, vrios ra-mos de disciplinas tradicionais.

    Atento conceituao de meio ambiente, em sua concepo antropo-cntrica alargada, pode-se constar que, no que diz respeito natureza jur-dica, o bem ambiental tem sua maior intensidade na proteo de um direitodifuso e qualificado, isto , a qualidade de vida.

    Assim sendo, quando se protege juridicamente o bem ambiental, bus-ca-se a proteo de um direito difuso e, dessa forma, este encontra-se des-vinculado do tradicional Direito pblico e privado, mas, sim, visa conser-vao de um bem que pertence coletividade como um todo e cujo controle feito de forma solidria entre o Estado e os cidados.

    38AFONSO DA SILVA, Jos Direito Ambiental constitucional. So Paulo: Malheiros, 1994. p.55.39OST, Franois. A natureza margem da lei: a ecologia prova do Direito, op. cit., p. 112.

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    Nos termos dos ditames constitucionais, a preservao ambiental necessria tendo em vista as geraes presentes e futuras. Trata-se deuma equidade intergeracional e completamente diferenciada da regra tra-dicional do Direito, pois protegem-se os seres vivos futuros ( humanosou no) e alcana-se a proteo de um direito biodifuso de carter futu-ro, que ser mais detalhado posteriormente.

    Por outro lado, conforme j esboado no conceito de meio ambiente,no s a cincia jurdica que est voltada para a questo ambiental, mas umagrande parte das cincias humanas, exatas e biolgicas, trata de questes in-terligadas com o bem ambiental. Abordando a necessidade da viso de inte-gridade das cincias, Paulo Roney Fagundes40 afirma:

    Todos as questes humanas so complexas. Nenhuma interrogao seapresenta isoladamenente. Todos os problemas esto intimamente interconec-tados. Somente se conseguir a liberao das amarras da cincia tradicional,no momento em que se tiver conscincia de que a destruio do edifcio dacincia s ser possvel a partir das suas prprias contradies internas. Indis-cutivelmente, a grande crise que se vive a da percepo. Os cientistas fazemuma leitura parcial dos problemas. Simplificam o que complexo.

    Verificada, conforme o exposto, a viso complexa das cincias, per-cebe-se que o Direito Ambiental pressupe uma viso de transdisciplinari-dade. A conceituao de transdisciplinaridade formulada por Leff41, aoestudar a epistemologia ambiental:

    A transdisciplinaridade pode ser definida como um processo de in-tercmbio entre diversos campos e ramos do conhecimento cientfico, nosquais uns transferem mtodos, conceitos, termos e inclusive corpos teri-cos inteiros para outros, que so incorporados e assimilados pela disciplinaimportadora, induzindo um processo contraditrio de avano/retrocessodo conhecimento, caracterstico do desenvolvimento das cincias.

    Outrossim, Leff42 menciona, em seu estudo, que o direito tem especi-al papel nesta ideia de transdisciplinaridade e que sua contribuio, tal comode vrias reas do saber, na projeo e instrumentalizao de polticas al-ternativas de organizao social e produtiva.

    40 FAGUNDES, Paulo Rouey vila. Direito e Holismo - Introduo a uma Viso Jurdica de Integridade. SoPaulo: LTR, 2000, p.14.41 LEFF, Enrique. Epistemologia Ambiental. Editora Cortez, So Paulo, 2001, p.42 idemp. 82

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    Da mesma forma, abordando o vis jurdico transdisciplinar doDireito Ambiental o ilustre ambientalista Leme Machado43 assevera:

    O direito ambiental um direito sistematizador, que faz a articula-o da legislao, da doutrina e da jurisprudncia concernente aos elemen-tos que integram o ambiente.

    Observadas as complexas questes que envolvem a questo ambien-tal importante para os juristas avaliar se a abordagem jurdica do ambienteconstitui apenas uma refrao dos ramos tradicionais do Direito ou se, poroposio, pode-se afirmar a existncia de um novo ramo do Direito: o Di-reito Ambiental ou Direito do Ambiente.

    No possvel fugir da evoluo para a maturidade do Direito Ambien-tal, pois este veio para buscar uma tarefa complexa de auxiliar na proteo dobem ambiental, de importncia transcendental para todos seres vivos.

    Mais que isso, no possvel tratar do proteo jurdico do bemambiental sem modificar os ramos tradicionais do Direito e inserir novosmecanismos preventivos e precaucionais, anteriormente pouco utiliza-dos por estes. Um exemplo tpico o estudo prvio de impacto ambien-tal , que apesar de estar inserido em procedimentos clssicos, mostra-seum novo mecanismo do Direito Ambiental, em que possvel medir an-tecipadamente o risco ambiental.

    No Direito brasileiro, essa autonomia do Direito Ambiental maispatente a partir da verificao que a Constituio de Repblica Federati-va estabelece especial tratamento ao meio ambiente e d ao bem ambiental aconceituao de um direito fundamental de todos.

    Com efeito, o Direito Ambiental alcana um patamar de maior auto-nomia, quando se verifica a aceitao dos princpios de Direito Ambientale estes se inserem em um dado sistema jurdico. Um exemplo da admissodos princpios de Direito Ambiental o acatamento, pela jurisprudnciabrasileira, do princpio da precauo no caso da comercializao da sojatransgnica em vrios julgados, aplicando-se a regra da prudncia e do indbio pro sanitas et natura.

    Neste sentido, Canotilho, ao tratar da relevncia dos princpios de Di-reito Ambiental, diz:

    43MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. So Paulo: Malheiros, 8a ed., 2000, p. 122.

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    Tambm nesta linha se insere a autonomizao pela doutrina e poralgumas legislaes dos princpios fundamentais do direito do ambiente, oque s tem sentido como consequncia da verificao de que o direito doambiente constitui disciplina jurdica dotada de especificidade.

    Por conseguinte, pode-se afirmar que o Direito Ambiental detm umfabuloso amadurecimento, que redunda em um esboo de autonomia, ins-trumentos prprios e serve como viso paradigmtica para reviso dos tra-dicionais ramos do Direito.

    3. Direito Ambiental, Trandisciplinaridade e Equidade44

    Nesta oportunidade, preciso que evidenciemos, com clareza, o pontode orientao de nossa proposta de discurso transdisciplinar ou interdiscipli-nar do ambiente. Ultrapassando a perspectiva restrita de horizontalizao doDireito Ambiental, como nico paradigma que frequentemente se dispe aexplicar o fenmeno de sua transdisciplinaridade atravs da revelao danecessidade de utilizao de conceitos e elaboraes cientficos de contedometajurdico , pretende-se apresentar proposta epistemologicamente dife-renciada de leitura do ambiente pelo Direito Ambiental, que deve ser, tam-bm jurdica, mas essencialmente ecolgica.

    Pretende-se, aqui, qualificar a interdisciplinaridade do Direito Ambi-ental, atravs do exerccio de um discurso ecolgico de integridade, quequalifica a juridicidade do discurso ambiental atravs de prvio estabeleci-mento de relao de interdependncia.

    Esta prioriza o desenvolvimento de funo de mediao, definida peloprincpio democrtico, que privilegia seu poder de dialogicidade, de estabeleci-menteo de vnculo de comunicao dialgica e aberta, que relacione homem enatureza, de forma essencialmente interativa e dinmica, de modo que a abertu-

    44Apud WAINER, Ann Helen. Olhar ecolgico atravs do judasmo. Rio de Janeiro: Imago, 1996. DizCerta vez vrios homens se puseram ao mar. Num momento de lazer e leviandade, um dos passageiros comeouafazer um buraco no fundo do barco no lugar em que estava sentado Que est fazendo? gritou um dosseus companheiros de viagem alarmado. Que interessa a voc saber o que estou fazendo? respondeu ohomem. No estou fazendo um buraco onde voc est sentado, e sim sob o meu assento!. Pode ser sob o seulugar, responderam os outros. Mas a gua encher o adernar e todos ns afogaremos!

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    ra comunicacional, proporcionada pelo discurso ecolgico, atue diretivamentena orientao de qualquer conduta e atividade de interveno sobre o ambiente.

    Nesses contornos, a proposta de transdisciplinaridade proporciona areviso da tendncia paralisante que a imposio de leituras dogmticas dedisciplinas afins ou mesmo o Direito, frequentemente, realizam sobre a ques-to ambiental, ao mesmo tempo em que oportuniza o desenvolvimento daessencialidade do princpio democrtico, ao constituir discurso de intera-o/integrao, dialgico e ontologicamente aberto.

    Essa leitura aberta do fenmeno ambiental, que nos permitiu propor oreconhecimento de uma posio antropocntrica alargada, apresenta-nosinicialmente um problema fundamental para a construo do discurso eco-lgico de integridade, que essencialmente tico, importando determinar aespcie de relao que deve estabelecer entre os elementos humano e natu-ral, e determinar como se pretende controlar os limites do razovel e toler-vel quanto interveno humana sobre o espao ambiental45.

    A soluo proposta reside na atualidade da instaurao de um proces-so de constituio de uma nova tica de interao entre os sujeitos relacio-nados, que passa por uma tica da alteridade; tica do cuidado, que secaracteriza pela valorizao cada vez mais acentuada do respeito, do cuida-do, da interdio da leso, do dano e dos estados de periculosidade potenci-alizada, que encontram justificao direta na conservao da qualidade devida de todos os envolvidos nessa relao.

    Entretanto, a viso integral, ao aproximar todos do mbito de prote-o do comando tico, mostra-se, a princpio, insuficiente para a compreen-so da multiplicidade das relaes que a definem, se restringirmos sua reali-zao a circunstncias espacial e temporalmente adstritas ao presente.

    E os elementos para a renovao do discurso ecolgico de integrida-de podem ser reproduzidos a partir da prpria tica de alteridade, do res-peito, do cuidado e da conservao dos interesses do outro, que pode sersintetizada em um nico princpio, o da responsabilidade, que pressupe,agora, a atuao responsvel em face do outro ainda no existente, dosainda no nascidos, dos titulares de interesses sem rosto.

    45 Para uma recuperao completa das principais caractersticas das posturas propostas pelos movimentos ecolgicosna atualidade, interessante a consulta de: PELIZZOLI, M. L. A emergncia do paradigma ecolgico, Rio deJaneiro: Vozes, 1999, pp. 27-44.

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    essa abertura dialgica espacial e temporal, que fundamental epermite que seja integrada a equidade no discurso de integridade, ao mesmotempo em que esta, por recepcionar fundamentos ticos, notadamente ovalor da alteridade, e permitir sua interao dialgica com os textos jurdi-cos, permite a realizao de novas leituras do texto e localizao de locuspara a constituio de novos direitos, a partir da juridicizao do valoressencialmente tico da equidade.

    Somente a partir do reconhecimento de que a alteridade est vincula-da responsabilidade, e de que a atuao responsvel no pode ser limitadaao presente, que podemos iniciar uma postura de leitura do ambiente, que tambm uma nova leitura da equidade, que ultrapassa os limites espaciaisdo respeito pelo alter, para assumir dimenses intergeracionais.

    A constituio da equidade intergeracional revela, assim, tambm aformulao de uma tica de alteridade intergeracional, reconhecendo fi-nalmente que o homem tambm possui obrigaes, deveres e responsabi-lidades compartilhadas, em face do futuro. Evidencia-se a necessidade deintegrao do discurso tico do respeito alteridade, mas, sobretudo, daalteridade intergeracional, como elementos de reviso do moderno dis-curso ecolgico, que atualmente, um discurso de incluso do outro,propulsor de uma democracia ambiental, qualificada pelo novo EstadoDemocrtico do Ambiente46.

    conveniente que se esclarea que objetivamos evidenciar, tam-bm, que a nova proposta de olhar de integridade do Direito Ambientalestrutura-se a partir da realizao da proteo da equidade intergeracio-nal e da transmutao da definio do alter, de modo que a atuao do

    46 Tentando incentivar o debate em prol da renovao da funo que deve ser desenvolvida pelos textos constitucio-nais, o professor Canotilho apresenta a proposta de um constitucionalismo moralmente reflexivo, que A substituiodo autoritarismo de um Direito dirigente por outras frmulas que pudessem produzir maior eficincia na tarefa decompletar o projeto da modernidade onde ele ainda no se realizou, devendo ser consideradas (...) superadas asformas totalizantes e planificadoras globais abrindo o caminho para aces e experincias locais (princpio da rele-vncia) e dando guarida diversidade cultural (princpio da tolerncia). Dessa forma, prope a substituio dadiligncia da lei, pela contratualizao das relaes sociais, a partir do que chama de quatro contratos globais: ocontrato para as necessidades globais (compromisso para a remoo das desigualdades), o contrato cultural (prote-o da tolerncia e promoo do dilogo de culturas), o contrato democrtico (compromisso em prol da proteo dademocracia como modelo global de governo), e o contrato do planeta Terra, que implica a garantia de um modelo dedesenvolvimento sustentvel, que produzir, em ltima anlise, a perda do carter estatizante das Constituiesdirigentes, substituindo a mensagem dirigente pela constitucionalizao da responsabilidade, ou seja, a garantia decondies mnimas de coexistncia da dialogicidade dos valores, aes e conhecimentos (Rever ou romper com aConstituio dirigente? Defesa de um constitucionalismo moralmente reflexivo. In. Cadernos de Direito Consti-tucional e Cincia Poltica, a. 4, n. 15, abr./jun. 1995, So Paulo: RT, p. 17);

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    homem seja responsvel em face do outro, e que esse respeito e reconhe-cimento da dignidade desse outro conduza ao reconhecimento de novoethos para a definio dos sujeitos envolvidos nas relaes ambientais,qual seja a natureza, inserindo-se ambos no espectro global da proteode condies adequadas para o desenvolvimento e conservao da vida,e no simplesmente da vida qualificada pelo elemento humano. Assim,quando tratamos da proteo dos interesses das futuras geraes, preten-de-se desenvolver o discurso da proteo integral da vida, compreenden-do aqui, como sujeitos, os seres vivos.

    Qualificando a emergncia e a dificuldade com o tratamento dos no-vos problemas resultantes da responsabilidade em face das futuras gera-es, observa Ignacy Sachs:

    tica imperativa da solidariedade sincrnica com a geraoatual somou-se a solidariedade diacrnica com as geraes futuras e,para alguns, o postulado tico de responsabilidade com o futuro de to-das as espcies vivas na Terra. Em outras palavras, o contrato social noqual se baseia a governabilidade de nossa sociedade deve ser comple-mentado por um contrato natural47.

    Uma nova leitura do ambiente tambm vincula a elaborao de umaperspectiva ao Direito Ambiental, como ficou demonstrado. Sua fundamen-talidade parece estar localizada em princpios, notadamente no princpio daresponsabilizao. Neste momento, seu complexo principiolgico reveste-sede vinculao perspectiva.

    Dessa forma, o objeto do Direito Ambiental no a conduta irres-ponsvel, mas toda e qualquer conduta, que no precisa ser qualificada,independente de sua origem.

    Todo o contedo dos princpios definido pelo futuro. No se tratasimplesmente de um direito ao futuro, ou de um direito de proteo do futu-ro, mas um Direito essencialmente ordenado e orientado pelo futuro,que objetiva a proteo jurdica de nova espcie de direitos difusos, umavez que a proteo jurdica dos direitos do outro, que no existe, difereessencialmente da proteo jurdica do outro que no se conhece.

    47Caminhos para o desenvolvimento sustentvel. Rio de Janeiro: Garamond, 2000, p. 49.

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    Pode-se trazer como fundamentos tico-jurdicos mais relevantes, doisdesses princpios, a saber, o princpio da solidariedade intergeracional e oprincpio da equidade intergeracional, que representam, dogmaticamente,esse transporte do alcance jurdico da igualdade para relacionar os titula-res de interesses atuais e potenciais de uma gerao48 entre si, e em refern-cia s geraes futuras, garantindo o exerccio de direitos atuais ou poten-ciais, em condies de equivalncia e igualdade, estendendo-os a titularesdesconhecidos de direitos49, cuja avaliao ou mensurao esto submeti-dos ajuzo de probabilidade, que, no entanto, jurdico em face da serieda-de, relevncia, especificidade dos interesses, e, sobretudo, em face da re-cepo jurdica do exerccio de relaes de alteridade50.

    Mesmo o princpio da responsabilizao no impe apenas a atuaoa partir do resultado lesivo natureza, mas, antes, (tem seus con-tornos) definido de modo preventivo, de modo que a direo de seucontedo importa na emisso de mensagem vinculante tambm na for-ma de condutas de absteno.

    A responsabilidade pode ser modificada (contedo) de molde aalcanar uma dimenso difusa temporalmente aberta, irradiando diver-sas espcies de responsabilidade entre os vrios responsveis na socie-dade e no espao pblico.

    Tem-se efetivamente aqui o reconhecimento e a admisso de uma res-ponsabilidade genrica, um princpio de responsabilizao de contornos maisextensos, que difuso, atingindo espaos diferenciados (privado e pblico)e momentos diferenciados (responsabilidade antecipada, responsabilidadede polcia e responsabilidade atual).

    De outra forma, pode-se tratar exemplificativamente, tambm, da re-definio do princpio do desenvolvimento sustentvel, a partir da necessi-dade da tomada de deciso (que pressupe a garantia do desenvolvimento eefetividade de pr-condies democrticas para a convivncia e adequaoda deciso, para que possa adquirir a qualidade real de democrtica) sobre oprprio modelo, que se entenda adequado, de desenvolvimento.

    48Quando possvel a determinao, ainda que potencial desses direitos e interesses;49Que difere dos titulares de direitos desconhecidos.50Edna Cardoso DIAS (lutela Jurdica dos Animais. Belo Horizonte: Mandamentos, 2000, p. 315) opta porprivilegiar trs princpios: o princpio da solidariedade, o princpio da interdependncia e o princpio do direito dasoutras espcies, reunindo-os sob o espectro aglutinante da responsabilidade equitativa, que se realiza atravs daresponsabilidade compartilhada, de que j tratamos.

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    O processo de deciso exige que se oportunize, deforma equitativa,a participao dos interessados e dos destinatrios nas atividades econ-micas de interveno no espao natural. Essa tomada de deciso importaa proteo da garantia do desenvolvimento das geraes futuras, proporcio-nando, a partir de uma tica transgeracional, o igual direito de:

    a) acesso;b) participaoc) uso/utilizao;d) explorao;e) gesto;f ) proteo e conservao;g) repartio dos benefcios.

    Nessa caracterizao da proteo do direito ao desenvolvimento sus-tentvel das geraes no atuais, o que se quer preservar a possibilidadede que o poder de deciso sobre o patrimnio comum no seja usurpado deforma ilegtima pelas geraes atuais. Trata-se de uma formulao proce-dimental de proteo de um domnio axiolgico, a partir de elementos po-tenciais, mensurveis apenas prima facie.

    De outro modo, o princpio tambm privilegia o elemento igualacesso do futuro ao patrimnio atual, a partir de um modelo de repar-tio e distribuio isonmica de responsabilidades, a responsabilida-de compartilhada, em torno do patrimnio comum, que responsabili-dade difusa que instrumentaliza concepo de distribuio equilibradae isonmica dos nus pelos: a)prejuzos ambientais; b)pela tutela (pre-ventiva ou repressiva) a todos os destinatrios e titulares do direito aomeio ambiente ecologicamente equilibrado.

    A estruturao equitativa do princpio do desenvolvimento sustent-vel tambm admite proposta de administrao democrtica da capacidadede produo e suportabilidade da natureza de modo a impedir a reproduode modelos de injustia ambiental, de acelerada (tempo) e acentuada (ex-tenso) concentrao de benefcios (acumulao) parcela destacada (semque se atribua qualquer qualificao a esse grupo), em detrimento do maiorgrupo que concentra os prejuzos pela utilizao irresponsvel dos recursosna forma de degradao e diminuio do espao natural, prejudicando o

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    acesso igualitrio de todos ao patrimnio comum, como orienta com inten-so poder de normatividade irradiante. ( caput do artigo 225 da C.R.B)

    Deve-se compreender o contedo do caput do art. 225 da C.R.B comoinstncia de mediao dialgica que permite a correo e a equalizao dosexcessos e desequilbrios que caracterizam as atividades dos poderes p-blicos e agentes privados, seja corrigindo os excessos das atividades legis-lativas, vinculando a atividade judicial ou orientando a Administrao P-blica e agentes privados, na correta execuo dos objetivos da proteo doambiente, sempre no sentido de conservar a identidade ideolgica do textoconstitucional, atravs de atividade de interveno sobre o texto, que retra-te conduta de impedimento da infidelidade hermenutica.

    Ressalta-se, nesta leitura, a formulao de uma dimenso estruturantedo Direito Ambiental, a partir dos fundamentos da democracia ambiental, e,principalmente, da necessidade da consolidao do Estado Democrtico doAmbiente, que pressupe a realizao de novo processo da legitimao de-mocrtica do Estado de Direito, ocupando-se agora com as condies atu-ais de proteo de um complexo futuro e annimo de interesses, direitos einstituies, realizando funcionalmente o princpio da solidariedade, quese sobressai diante do privilgio da transgeracionalidade.

    Da anlise do texto constitucional ptrio, acredita-se ser perfeita-men-te possvel o enquadramento da Repblica Federativa do Brasil nes-sa proposta de constituio de um Estado Democrtico do Ambiente,atravs da demonstrao da especial importncia que reveste a partefinal do caput de seu art. 225. Ao ter conferido juridicidade essa defe-sa dos direitos e interesses das futuras geraes, espcie de direito ouinteresse difuso qualificado pela indeterminao espacial, que conquan-to seja meramente potencial, de avaliao e mensurao impossveis noplano atual e imediato, contaram com a peculiar ateno do constituinteoriginrio que qualificou de jurdicos e essencialmente justiciveis, di-reitos e interesses de titulares ainda no constitudos formalmente pelateoria jurdica clssica, em sujeitos de direito, e que se submetem a umjuzo essencialmente potencial.

    Por outro lado, vincula a defesa desses interesses ao exerccio de ju-zo hipottico de probabilidade, qualificado pela verossimilhana da relevn-cia dos direitos a serem defendidos, mas fundamentalmente, realizando-seatravs da instrumentalizao dogmtica do princpio da solidariedade.

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    Nesse enfoque, tambm pode ser percebida ntida modificao doparadigma eleito pelo constituinte para a defesa dessa espcie de direitofundamental da pessoa humana, na medida em que optou por protegerdireitos, e no bens, perspectiva que permite que o texto constitucional(art. 225) possa ser realizado e densificado de forma mais eficiente.

    Alm do que, produz problemas discursivos no tocante determina-o da postura do texto poltico (e assim, tambm, a postura e a conduta dosagentes nas atividades de interveno no ambiente), em face do ambien-te, que torna ainda mais complexo o estudo da opo eleita pelo constituin-te, se antropocentrista ou ecocntrica, ou mesmo de ponderao epistemo-lgica, como a que optamos por sustentar, o antropocentrismo alargado.

    A proteo do futuro surge desta forma, enquanto fundamento nor-mativo do art. 225, que revela que o texto poltico fundamental ocupou-seda tarefa de tornar justicivel a proteo do futuro, no apenas dispen-sando tutela, mas qualificando-a como fundamento discursivo das ga-rantias constitucionais. Assim, uma vez que atua contribuindo na redefi-nio dos titulares constitucionais da cidadania, que passa a ser atual epotencial, que pode - apesar da proteo de frmula jurdica especficapara a cidadania ambiental - contaminar o conceito de cidadania, uma vezque a leitura contempornea da proteo dos direitos fundamentais dapessoa humana intenciona a realizao do princpio da interdependncia eindivisibilidade dos Direitos Humanos, o que tornaria inconcebvel a pos-sibilidade das instituies optarem pela defesa tpica de certos direitos oucondies jurdicas, em detrimento de outras.

    Reuniram-se, desta forma, algumas notas, que poderiam tornar vivela justificao de que possvel construir um discurso jurdico que seja aomesmo tempo ecolgico, atravs de uma viso de integridade, que recepci-one o contedo tico da alteridade como fundamento para a realizaojurdica do princpio da equidade transportada para dimenses intergeracio-nais, dirigidas sempre em ateno proteo de novos paradigmas da vida,tornando possvel a justiciabilidade de perspectivas da vida, que no apenaso paradigma cartesiano, humano.

    A extenso do contedo da proteo da vida (no apenas a humana),como fundamento de constituio de novos direitos, torna-se possvel apartir do momento em que reconhecemos que a vida humana que se protegeno texto constitucional no a vida atual, mas concomitantemente a poten-

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    cial. A prpria vida que se protege, no pode ser somente a humana, queestaria inserida no conjunto global dos interesses e direitos das futuras gera-es de todos os seres vivos.

    A perspectiva do operador do Direito, atuao de cuidado com ofuturo, somente pode se mostrar realizvel, em nosso sentir, se pudermospermitir a conservao da abertura permanente deste espao de comunica-o dialgica entre os textos normativos e os fundamentos ticos da ecolo-gia, estruturados a partir do cuidado e da responsabilidade, valores cada vezmais importantes a partir do desencantamento do homem frente aos desen-volvimentos tecnolgicos. O jurista principalmente, posiciona-se na quali-dade de autntico Fausto, que exerce seus poderes de dominao e submis-so absoluta da natureza51 integralidade de seus desejos, pretenses einteresses, todos justificados atravs de frmulas racionalistas, conduta queno entanto, como adverte Michel Serres, qualifica, na verdade, uma relaodefeituosa, que possui um sujeito com vrios Direitos (ou discursos jurdi-cos de justificao racional), sem no entanto possuir um mundo52.

    o que se pretende propor, ao permitir a comunicao dialgica dodiscurso jurdico com a tica da alteridade ou equidade, no apenas resga-tar o mundo, perdido nos processos de racionalizao das relaes sociais,mas devolv-lo aos seus legtimos titulares, todos os seres vivos atuais oufuturos, que por ele so responsveis em torno do compromisso com a pro-teo de condies adequadas para o desenvolvimento da vida.

    Vale registrar a advertncia do professor Canotilho, quando observa que

    O direito deveria, de acordo com as suas posses, assumir a res-ponsabilidade pela defesa da vida na terra e no apenas do ho-mem. Para os fundamentalistas ecolgicos seria olhar com desconfi-ana para os juristas, mesmo para os juristas com alguma conscinciaecolgica. Estes no conseguem abandonar, no obstante as suas jurasambientais, o mito de Ado fora do paraso. Os perigos estariam vista:quando os juristas se interessam pelo ambiente devemos estar semprede viglia, pois existir sempre o risco de, em vez de se conse-guir a ecologizao do direito, se terminar encapuadamente na juri-

    51 Optamos por utilizar, neste momento, o vocbulo natureza e no ambiente, em face da interessante anlise deFranois OST CA natureza margem da lei. Lisboa: Piaget, 1995, p. 10): A modernidade ocidental transformoua natureza em ambiente: simples cenrio no centro do qual reina o homem, que se autoproclama dono e senhor.52 O Contrato Natural. Lisboa: Piaget, 1994, pp. 60-1.

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    dicizao da ecologia. Da as propostas e desafios das correntes eco-lgica-quimicamente puras: s uma viso ecocntrica - a defesa davida, a salvao do planeta terra - constituir um ponto de partidasatisfatrio para um direito do ambiente ecologicamente amigo. Osdesafios a esto: para quando um sistema jurdico reconhecedor dedireitos fundamentais da natureza! Enquanto no se consagrarem,em termos jurdicos, direitos dos animais e direitos das plantas di-reitos dos seres vivos ao lado dos direitos do homem, os ecologistascontinuam a olhar para o direito do ambiente como a expresso maisrefinada da razo cnica. 53

    Consideraes finais

    Diante do exposto, pode-se extrair, sinteticamente, algumas afirmaes:1.O meio ambiente um conceito que pressupe uma interao ho-

    mem e natureza, mostrando-se dois elos do mesmo feixe. Outrossim, pres-supe uma viso holstica e no fragmentria.

    2. Postula-se um antropocentrismo alargado, impondo-se uma ver-dadeira comunho e solidariedade de interesses entre o homem e a nature-za, como condio imprescindvel a assegurar o futuro de ambos. No sis-tema jurdico brasileiro, prevalece a adoo do antropocentrismo alarga-do, pois protege-se o meio ambiente no que concerne capacidade deaproveitamento deste para o uso do homem, mas tambm no que diz res-peito ao bem ambiental, autonomamente, para manter o equilbrio ecol-gico e sua capacidade funcional.

    3. O Direito Ambiental um direito que est desvinculado do tradici-onal Direito pblico e privado, pois visa proteo de um bem pertencente coletividade como um todo e no ao carter dicotmico (do Direito). ODireito Ambiental demonstra autonomia, pois alicerado por princpios dedireito ambiental. Alm do que, conforme j anotado, pressupe uma visotransdisciplinar para o seu aprimoramento.

    4. Procurou-se reunir, aqui, algumas notas que tornassem plausvel ajustificao de que possvel construir um discurso jundico que seja aomesmo tempo ecolgico, atravs de uma viso de integridade, que recepci-onou o contedo tico da alteridade como fundamento para a realizao

    53 Direito do Ambiente e crtica da razo cnica das normas jurdicas. In. Revista de Direito do Ambiente eOrdenamento do Territrio. n 1, setembro 1995; Lisboa: APD, p. 98.

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    jurdica do princpio da equidade, transportada para dimenses intergeraci-onais, dirigidas sempre em ateno proteo de novos paradigmas davida, tornando possvel ajusticiabilidade de perspectivas da vida, que noapenas o paradigma cartesiano, humano.

    5. A extenso do contedo da proteo da vida (no apenas a hu-mana), como fundamento de constituio de novos direitos, torna-sevivel a partir do momento em que reconhecemos que a vida humana

    que se protege no texto constitucional no a vida atual, mas simultane-amente, como a potencial, como a prpria vida que se protege, no podeser somente a humana, que estaria inserida no conjunto global dos inte-resses e direitos das futuras geraes.

    6. Uma atuao perspectiva do operador do Direito, atuao de cui-dado com o futuro, somente pode se mostrar realizvel, em nosso sentir, sepudermos permitir a conservao da abertura permanente desse espao decomunicao dialgica entre os textos normativos e os fundamentos ticosda ecologia, estruturados a partir do cuidado e da responsabilidade, valorescada vez mais importantes a partir do desencantamento do homem frenteaos desenvolvimentos tecnolgicos.

    7. Observou-se a necessidade de dilogo no discurso jurdico, in-serindo a tica da alteridade e equidade, com o intuito de se legitimarseus verdadeiros titulares, todos os seres atuais ou futuros. Trata-se deuma responsabilidade de todos, visando proteo ao direito do de-senvolvimento da vida.

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