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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM A TRAVESSIA DO MUNDO DO ENSINO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM AO MUNDO DA EMPREGABILIDADE EM SAÚDE: A Voz dos Egressos da Turma de Enfermeiros Pioneiros da Univali – CE Biguaçu FRANCILENI PRUDÊNCIO MANOEL ROGÉRIO DOS SANTOS JÚNIOR Biguaçu (SC) 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

A TRAVESSIA DO MUNDO DO ENSINO DE GRADUAÇÃO EM

ENFERMAGEM AO MUNDO DA EMPREGABILIDADE EM SAÚDE:

A Voz dos Egressos da Turma de Enfermeiros Pioneiros da Univali –

CE Biguaçu

FRANCILENI PRUDÊNCIO

MANOEL ROGÉRIO DOS SANTOS JÚNIOR

Biguaçu (SC)

2006

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FRANCILENI PRUDÊNCIO

MANOEL ROGÉRIO DOS SANTOS JÚNIOR

A TRAVESSIA DO MUNDO DO ENSINO DE GRADUAÇÃO EM

ENFERMAGEM AO MUNDO DA EMPREGABILIDADE EM SAÚDE:

A Voz dos Egressos da Turma de Enfermeiros Pioneiros da Univali –

CE Biguaçu

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção de créditos curriculares do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí – CE Biguaçu.

Orientadora: Profª Drª Lygia Paim

Biguaçu (SC)

2006

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FRANCILENI PRUDÊNCIO

MANOEL ROGÉRIO DOS SANTOS JÚNIOR

A TRAVESSIA DO MUNDO DO ENSINO DE GRADUAÇÃO EM

ENFERMAGEM AO MUNDO DA EMPREGABILIDADE EM SAÚDE:

A Voz dos Egressos da Turma de Enfermeiros Pioneiros da Univali –

CE Biguaçu

Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em

Enfermagem e aprovada pelo Curso de Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí,

Centro de Educação Superior de Ciências da Saúde de Biguaçu.

Área de Concentração: Enfermagem

Biguaçu, 21 de Novembro de 2006.

Banca Examinadora:

Prof.ª Dr.ª Lygia Paim

UNIVALI – CSCS de Biguaçu

Orientadora

Prof.ª MsC Ângela Maria Blatt Ortiga

UNIVALI – CSCS de Biguaçu

Membro

Prof.ª MsC Helga Regina Bresciani

UNIVALI – CSCS de Biguaçu

Membro

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom do conhecimento, da amizade, adquirido neste percurso, por

permitir que chegássemos até aqui, na realização deste trabalho.

A nossa estimada orientadora Professora Dra Lygia Paim, que nos deu a honra de

poder trabalhar ao seu lado, compartilhando sua sabedoria, demonstrando seu

companheirismo e sua dedicação, e proporcionando-nos momentos de prazer em aprender,

todos os dias que estivemos juntos nessa jornada.

A Coordenação deste Curso, regido pela Professora MsC Maria Ligia dos Reis

Bellaguarda, pela sua dedicação e forma afetuosa que conduz o curso junto aos acadêmicos.

A banca examinadora: Professora MsC Ângela Maria Blatt Ortiga e Professora MSc.

Helga Regina Bresciani, por ter aceitado a participar de nossa pesquisa, nos abrilhantando

com suas presenças durante nossa vida acadêmica.

Aos sujeitos desta pesquisa, por nos dedicarem seu tempo, e dar atenção necessária

para realização desta pesquisa.

Aos nossos Pais: Vilson José Prudêncio e Edite Maria Prudêncio, Manoel Rogério dos

Santos e Maria Celeste Espíndola dos Santos, por se fazerem presentes em todos os momentos

desta jornada, nos transmitindo fé, força, carinho, dedicação, e por jamais nos deixaram

desanimar em nenhum momento.

Aos nossos irmãos, cunhados e sobrinhos, que nos entenderam nos momentos difíceis

e nas nossas ausências, e além de tudo procuraram nos ensinar o caminho a ser percorrido.

Aos nossos Amores, pela compreensão do tempo que buscamos o conhecimento, e por

estarem ao nosso lado, transmitindo esperança, carinho, amor e atenção em todos os

momentos.

A todos os professores, que em quatro anos ajudaram na construção do conhecimento

e na contribuição direta ou indireta para sermos profissionais competentes.

A todos os nossos amigos, que através de suas experiências nos transmitiram forças

para a realização deste sonho. E a todos que hoje vibram com nossa vitória.

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RESUMO

PRUDÊNCIO, Francileni; SANTOS JR, Manoel Rogério dos. A travessia do mundo do ensino de graduação em enfermagem ao mundo da empregabilidade em saúde: a voz dos egressos da turma de enfermeiros pioneiros da UNIVALI – campus Biguaçu. Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação em Enfermagem – Universidade do Vale do Itajaí, Campus Biguaçu, 2006.

Este estudo foi desenvolvido com alunos egressos da Universidade do Vale do Itajaí –

Curso de Graduação em Enfermagem, que atuam como enfermeiros em âmbitos hospitalares e de outras instituições de saúde. Teve como objetivo contribuir para a teorização do campo de competências desenvolvidas na formação e as requeridas no âmbito da empregabilidade, considerando a transição de egresso de graduação em enfermagem até a chegada ao seu primeiro local de trabalho. A metodologia foi levada a efeito com pesquisa exploratória, descritiva, com abordagem qualitativa e a coleta de dados através de entrevista semi-estruturada, gravada em fita-cassete, compondo a documentação das expressões verbais dos entrevistados e registro por observação do pesquisador das expressões não-verbais. A análise foi orientada segundo Minayo (2002), nominada pela autora como “Hermenêutica Dialética”. Dos resultados emergiram três categorias: ambigüidades na travessia, portais valorativos na travessia e ancoragem no mundo do trabalho.

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ABSTRACT

PRUDÊNCIO, Francileni; SANTOS JR, Manoel Rogério. The passage of the world of the education of graduation in nursing to the world of the job in health: the voice of the egresses of the group of pioneering nurses of the UNIVALI - Biguaçu campus. Work of Conclusion de Course - Graduation in Nursing - University of the Valley of the Itajaí, Biguaçu Campus, 2006. This study Course of Graduation in Nursing was developed with pupils egresses of the University of the Valley of the Itajaí -, that act as nurses in hospital scopes and of other institutions of health. It had as objective to contribute for the theorization of the field of abilities developed in the formation and required in the scope of the empregabilidade, considering the transition of egress of graduation in nursing until the arrival to its first workstation. The methodology was taken the effect with exploratory, descriptive research, with qualitative boarding and the collection of data through half-structuralized, recorded interview in ribbon-cassette, composing the documentation of the verbal expressions of the interviewed ones and registers for comment of the researcher of the not-verbal expressions. The analysis was guided according to Minayo (2002), nominated for the author as "Hermeneutic Dialectic". Of the results three categories had emerged: ambiguities passage, values on passage and anchorage job.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................................9

1.1 Justificativa ....................................................................................................................... 11

2 OBJETIVOS .........................................................................................................................13

2.1 Objetivo Geral ..................................................................................................................13

2.2 Objetivos Específicos........................................................................................................13

3 REVISÃO DA LITERATURA..............................................................................................14

4 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................17

5 METODOLOGIA .................................................................................................................20

5.1 Caracterização da Situação dos Egressos no Momento da Pesquisa...........................20

5.2 Coleta de Dados ................................................................................................................21

5.3 Análise de Dados ...............................................................................................................22

5.4 Ética na Pesquisa ..............................................................................................................23

6 ANÁLISE DE DADOS .........................................................................................................25

6.1 Transição e Ambigüidade de Sentimentos, Expectativas, Sensações e Experiências .25

6.2 Pensamentos e Ações na Transição ao Mundo do Trabalho .........................................27

6.3 Tentativas, Avanços e Recuos no Momento de Transição .............................................30

6.4 Critérios de Escolha e Adequação para Alcance do Trabalho Almejado ....................33

6.5 Estudos Complementares à Formação de Enfermeiro..................................................34

6.6 Inserção no Primeiro Emprego .......................................................................................36

6.7 Implicações de Natureza do Conhecimento e o Novo Emprego ...................................38

6.8 Aprendizagens Novas no Exercício do Atual Emprego .................................................40

7 RESULTADOS......................................................................................................................43

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7.1 Vivendo Ambigüidades na Transição..............................................................................44

7.2 Portais Valorativos na Travessia .....................................................................................50

7.3 A ancoragem no Mundo do Trabalho .............................................................................54

8 CONCLUSÃO EM PROVISORIEDADE ...........................................................................59

8.1 A Chegada a um Lugar Constituído pela Pesquisa .......................................................59

REFERÊNCIAS ......................................................................................................................62

APÊNDICES ...........................................................................................................................65

ANEXOS ..................................................................................................................................68

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1 INTRODUÇÃO

Há uma travessia complexa do término do curso ao campo da empregabilidade. Uma

das preocupações dos estudantes de enfermagem ao final de sua formação está na transição da

etapa de sua educação formal para a sua inserção no campo de trabalho como um trabalhador

de saúde. Tal transição se dá como uma expectativa que vai se instalando com mais lucidez a

partir dos últimos períodos do Curso de Graduação, cujo alerta se dá com os tipos de atividade

assistencial e de estágios ao lado da responsabilidade de geração de conhecimento com o

desenvolvimento do projeto monográfico de conclusão do curso, paralelamente levado a

efeito com as atividades e festividades que configuram o fim da jornada na escola, em

Universidade.

O interesse de estudar essa etapa transicional chamou-nos a atenção porquanto ela

aparenta uma carga emocionalmente expressa por intensa euforia, crises de alternância de

humor, labilidade comunicacional, enfim, francas mudanças no comportamento individual e

grupal. Tais mudanças mostram-se representadas por mais uniões ou desuniões declaradas, em

acertos de contas sobre questões até então sem importância, mas nessa fase, despertadas como

elementos modificados em relação aos desafios e enfrentamentos próprios e objetivos comuns

dos quais bem pouco se dá conta. Por estarem mais cônscios do que estão vivendo no

currículo de sua formação, despertam nesse final de curso e deparam-se com a transição da

saída da escola para a possibilidade de entrada no “mercado de trabalho”.

Na entrada para a Universidade, a escolha do Curso de Enfermagem, na maioria das

vezes, se dá por um prosseguimento no próprio meio de estudantes de enfermagem, como

ascensões do nível médio para o superior e os alunos carregam, na entrada ao curso, uma

expectativa “romântica” do que é ser um enfermeiro. À medida que o curso avança e os

estudos progridem, a substituição da idéia romântica, ingênua, pela observação da realidade

do trabalho do enfermeiro na operacionalidade do sistema de saúde vai mudando. Antes

interpretadas teoricamente, agora ao final do Curso trazem consciência do envolvimento

profissional diante do que se deparam nas vivências, ainda como estudantes, dos últimos

períodos do curso, em atividades assistenciais mais envolventes.

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No decorrer do Curso de Enfermagem até o momento da definição do trabalho final de

curso, o que coincide com os três semestres finais de estudo de graduação, justamente aí o

amadurecimento dos alunos se torna notório e se instala a visibilidade quanto à transição

possibilitando a maior reflexão da passagem, da educação formal para a expectativa da

realidade de tornarem-se trabalhadores no campo da saúde, enfrentando a realidade, na

qualidade de profissionais com autonomia de seu exercício (PEREIRA e BELLATO, 2003).

O que se passa nessa travessia, com os estudantes de enfermagem nesse período de

transição, é o foco deste estudo. As emoções que se instalam, os caminhos que são

imaginados, as oportunidades sonhadas, as dificuldades enfrentadas, os desafios plasmados,

os sentimentos, as implicações dessa travessia e a visibilidade do percurso, conformam o

objetivo de conhecimento que desejamos perseguir nesta pesquisa.

Alguns estudos afins, a maioria deles, têm buscado as representações sociais dos

estudantes de enfermagem, em face de sua posição como egresso dos cursos e recém-

graduados nos serviços de saúde. Há declarações de que os estudantes reconhecem haver

contrastes entre o que a universidade aborda idealizadamente e o que eles percebem na

realidade da prática dos enfermeiros nos serviços de saúde (TEIXEIRA e ARREGUY-SENA,

2004).

Também está visto por outros estudos que a tendência curricular na formação dos

enfermeiros ainda é a ocupação do espaço das atividades curriculares tomando como lugar

privilegiado a assistência secundária em hospitais, o que se ratifica como oferta de trabalho

mais freqüente no contexto da enfermagem, segundo as estatísticas mais atuais do Conselho

Regional de Enfermagem de São Paulo (COREn-SP) 2006.

Em estudo de Vianna et al. (2002) a formação do aluno de enfermagem, no que diz

respeito à auto-estima, está a merecer atenção. O estudante se fragiliza durante as atividades

de cuidado às pessoas, quando não se sente preparado, psicologicamente, para tal. Este

sentimento, se não atendido, aparece como mais um desafio ao seu equilíbrio emocional.

Ademais, enquanto estudante de enfermagem, durante as atividades curriculares

assistenciais nos Serviços de Saúde, quando seu trabalho é acompanhado por professores,

porém de certo modo afastado de uma real inserção na equipe de enfermagem local. As

práticas assistenciais são protegidas na supervisão direta de docentes-enfermeiros, e vai se

tornando mais indireta no último semestre curricular, justamente à época em que se iniciam as

emoções mais concretas, relativas à proximidade maior do período de transição para o

enfrentamento dos serviços de saúde como trabalhador. Assim se percebe como um limite,

junto a essas descrições do problema, a não integração do estudante em suas atividades como

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parte da equipe de enfermagem mesmo no período de práticas assistenciais como acadêmico;

desse modo, na transição que ora se fala, a perspectiva de vir a trabalhar em equipe no sistema

de saúde como trabalhadores, passa a pesar, na hora em que pensam que terão que aprender a

trabalhar nas equipes dos Serviços de Saúde em adaptação à realidade desses Serviços face à

oferta mercado de trabalho. Essa situação é pouco explorada como aprendizagem de

convivência em equipes de Serviços Saúde, sejam as dominantemente hospitalares ou mesmo

as de saúde coletiva, o que se torna um enfrentamento sem a experiência curricular dessa

inserção, o que dificulta quando as equipes dos Serviços deverão ser integradas pelos egressos

ainda inexperientes nessa convivência.

1.1 Justificativa

A integração entre o meio acadêmico e o meio profissional apesar de ser nos cursos

superiores de enfermagem um aspecto explorado pelo currículo de formação, ainda assim a

transição do período entre sair da academia como estudante e chegar aos serviços de saúde

como trabalhadores, passa por um sentido de insegurança emocional, o que vem sendo objeto

de pesquisa ao longo do tempo. Por melhores e mais qualificados que sejam os projetos

pedagógicos dos cursos, por melhores que sejam os ensinos e as aprendizagens articuladas

dos sistemas de educação e de saúde, ainda assim, o rito de passagem do desligamento da

universidade e entrada no mercado de trabalho, vem sempre referido como difícil, em função

de que se atribui ao sistema formador uma base teórica suficiente, porém ainda distante de

uma adequação ao desempenho operacional exigido da profissão do enfermeiro nos campos

de práticas assistenciais, nos Serviços de Saúde.

A indefinição do papel profissional do enfermeiro concorre para a dificuldade dessa

transição porquanto a academia ao ensinar, discute a própria polemização existente, levando

em conta, a prática que se desenvolve nos serviços de saúde; a expectativa no âmbito da

empregabilidade é de um “novo detector de conhecimento e um portador de inovações”, e

muitas vezes, por estas mesmas qualidades é alijado, até que sejam os novos trabalhadores

capturados pelos serviços institucionais e se cristalizem nas rotinas de trabalho. Nestas

condições está o agravante da emocionalidade dos recém-graduados de enfermagem, e,

portanto, este tema passa a ser apropriado a um contexto de importantes estudos a serem

realizados e que se justificam como estudos comuns entre a academia e o campo de realidade

do trabalho profissional.

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Se durante o curso os estudantes de enfermagem sonham em participar de mudanças

inovadoras nos campos de práticas, à entrada nos serviços institucionalizados na qualidade de

iniciante de carreira profissional, estes se têm colocado guardando suas participações e se

mostrando como que absorvidos pelas rotinas e, desta maneira, se tornam adormecidos

(ERZINGER e TRENTINI, 2003).

Como se vê, há uma apreensão mútua, de um lado o ensino na academia, o estudante;

de outro, as rotinas específicas, a instituição de saúde, os trabalhadores – entre estes, um

período de transição, complexo, que se justifica como campo de estudo, de tal modo que se

venha a esclarecer alguns ângulos desta questão de todos os tempos, com nuances diversas.

Portanto, compreendemos que a travessia é um objeto de pesquisa e por isso, consiste em

muitas perguntas e muitas respostas, como convém a qualquer problema de investigação

científica.

Justifica-se, este estudo, até mesmo pela reação inicial do recém-formado nos serviços

de saúde, sobremodo na liderança a ele atribuída, de equipes formadas por pessoal de

enfermagem de nível médio, porém, trabalhadores experientes. Tais equipes já mergulhadas

em intimidade com problemas e soluções de rotina, nesses Serviços em que atuam. Há vários

trabalhos de pesquisa que vêm mostrando que a angústia e a ansiedade desses enfermeiros

iniciantes acabam levando os mesmos a desviarem-se do seu objeto de prática – cuidado. Por

essas razões, este problema de desdobramento da compreensão desta questão transicional do

recém-graduado, da academia para o campo de trabalho, encontra seus argumentos para estar

justificado.

A idéia de base, justificada nesta pesquisa, configura-se na vulnerabilidade do recém-

formado e as discussões possíveis sobre seu fortalecimento a ponto de desafiar a captura que

logo à sua entrada no primeiro emprego lhe propõe o Serviço de Saúde. Acumulado de

fragilidades, o recém-graduado enfrenta a produção de mudanças no contexto profissional em

que chega, após o curso e para isto, desenvolve uma emocionalidade e busca muitos recursos

de apoio a fim de enfrentar os desafios da estrutura e funcionamento das Instituições de Saúde

local.

Diante desta complexidade do contexto de transição, posicionado para situação de

estudante de enfermagem ao final de seu curso de formação, formulamos uma questão

norteadora desta pesquisa, nos seguintes termos:

Como o egresso de enfermagem percebe sua competência na travessia do ensino

acadêmico para recém-graduado ora na condição de membro-líder de equipe de enfermagem

em Instituições de Saúde?

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Contribuir para a teorização do campo de competências desenvolvidas na formação e

as requeridas no âmbito da empregabilidade, considerando a transição do egresso de

graduação em enfermagem.

2.2 Objetivos Específicos

Identificar percepções e sentimentos de egressos da formação de enfermagem no

período vivido entre o final do curso e o primeiro emprego.

Reconhecer a complexidade presente na experiência de egressos do Curso de

Graduação em Enfermagem, na travessia do período prévio ao primeiro emprego.

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3 REVISÃO DA LITERATURA

A literatura aponta diversos aspectos relativos à inserção de egressos de cursos e

mercado de trabalho, sobremodo nessa perspectiva destacada da situação econômica e social

face à empregabilidade.

O interesse contextual desta pesquisa reside não só nesta direção, porém, na focalidade

ampliada do espaço entre o término do curso de enfermagem e a chegada ao primeiro

emprego.

Este é o período em que nem mais a escola tem responsabilidade de cobertura dos

egressos nem o campo de empregabilidade, por vezes, ainda sem ofertas para o acesso do

recém-graduado. Coloca-se aí um vazio de cobertura dos ex-alunos, os quais, se supõe,

exigem de si competências de busca de equilíbrio da emocionalidade, de estratégias de

superação de algumas vicissitudes e até mesmo, encarar alguma complementação de estudos

para não se desatualizar até encontrar a entrada no seu primeiro trabalho profissional.

Sanna e Santos (2003) estudaram a inserção de egressos de curso de enfermagem, em

São Paulo, no mercado de trabalho, e relatam que essa inserção se deu rapidamente e que

muitos deles já faziam cursos de especialização como qualificação que lhes foi necessária por

compatibilidade exigida do órgão empregador no mercado de trabalho. Verificou que os

egressos do curso investigado demonstraram interesse e possibilidade de crescimento e

ampliação de competências.

Feverwerker e Sena (2002) trazem à discussão o movimento de mudança na formação

profissional em saúde a partir do foco na articulação orgânica entre ensino, serviços de saúde

e comunidades, como estratégia integrativa fundamental.

A não articulação entre o ensino e as práticas de saúde vem sendo minimizada graças

aos processos de educação permanente e ao redimensionamento do trabalho de saúde e

empregabilidade despontada no SUS. O SUS em sua política empreende a construção

criteriosa de estudos de suas práticas e oferece o espaço da relevância social, equilibrando aos

poucos a governabilidade que se faz com qualidade da relação profissionais-usuários. Este

espaço em construção requer a expectativa de novos campos no mundo do trabalho em saúde.

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Ribeiro e Motta (2006) divulgam a discussão da educação permanente como estratégia

de reorganização dos serviços de saúde, despertando uma virada no pensamento da educação,

esta valorizando o processo de trabalho e privilegiando a aprendizagem para as competências

profissionais.

Silva e Egry (2003) indicam que passar da lógica do repasse de conhecimentos para a

lógica da construção de conhecimento para instaurar competências na complexidade das

situações, é uma intencionalidade cuja base teórica visa mobilizar, entre enfermeiros, o

sentido pedagógico da integração ou articulação ensino-serviço, ou seja, mundo do ensino e

mundo do trabalho.

Perrenoud (1999) sustenta que o saber tem origem na experiência, mas não provém

apenas dela. Entende ele que a Escola deve haver o aporte de conhecimentos e abrir as mentes

à aquisição de competências, estas sim, implicam em saberes vários tipos de saber. A

competência é aquilo que permite enfrentar um tipo de tarefa e situações, apelando para

conhecimentos, métodos e técnicas. A competência é afinal um “saber-mobilizar”. A nosso

ver, em enfermagem, exercitar no âmbito de uma competência é permitir consolidar

conhecimentos trazidos para a prática, Isto é, relacionar os saberes, às situações no contexto

da prática. Ou seja, a mera acumulação de saberes, não basta. Ao contrário também, lidar com

situações do cotidiano da prática, sem os saberes em mobilização, estamos distantes da

competência, na concepção de Perrenoud (1999).

Deluiz (2006) discute o Modelo das Competências Profissionais no Mundo do

trabalho e na Educação, buscando as implicações, para o currículo e o faz referenciando sua

crítica a lógica da hegemonia capitalista nos modos de gerenciamento da organização do

trabalho e do saber dos trabalhadores. Discute as diferentes concepções de competência nos

Modelos de Educação Profissional, analisando padrões teórico-conceituais que guiam a

identificação e construção de competências. Aponta ainda o sofrimento no trabalho advindo

do estresse e da ansiedade decorrentes do medo de perda do emprego, das relações inseguras

do trabalho, intensificação de jornadas, etc.

Erzinger e Trentini (2003) ao tratar de enfermeiras e enfermeiros frente aos desafios

no início da carreira profissional referem que as tensões iniciais se exacerbam no desafio da

competência para gerenciar o cuidado nos serviços de saúde e apontam o distanciamento do

ensino desse saber a ser mobilizado pelos novos enfermeiros nas situações de prática,

causando-lhes fortes tensões.

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Secaf e Rodrigues (1998) tratam sobre enfermeiros que deixaram de exercer a

profissão, buscando os motivos da evasão profissional e entendem que as saídas são por

situações multicircunstancias e não apenas o desejo puro e simples de quem se evade.

Quanto às tensões no período de transição, encontramos e nos apoiamos em Augras

(1993) quando mostra a necessidade de transcender as limitações oriundas do sistema de

tensões, ao tratar de seu estudo sobre “o ser da compreensão”.

Estas são algumas das revisões de literatura que foram eleitas como base do olhar a

questão central deste estudo.

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4 REFERENCIAL TEÓRICO

Como o objeto de conhecimento, nesta pesquisa, está situado no espaço de transição

entre o egresso recém-graduado em enfermagem e sua entrada no campo da empregabilidade,

um conceito central de embasamento teórico, está na concepção de Phillipe Perrenoud (1999)

no que se refere a competências “... só há competências estabilizadas quando a mobilização

dos conhecimentos supera o tatear reflexivo, ao alcance de cada um, em acionar esquemas

construtivos”; e, além disso, é Perrenoud (1999) que postula para a formação de competências

a exigência de uma micro revolução cultural para passar de uma lógica do ensino formal para

uma lógica da prática ao dizer “... constroem-se as competências exercitando-se situações

complexas”.

A escolha teórica em Perrenoud (1999) traz em si uma pressuposição baseada em

aspectos polemizadores, quais sejam, distanciamentos e contradições entre a formação do

enfermeiro e as exigências de seu exercício profissional no campo da empregabilidade, as

manifestações de emocionalidade no período de transição entre o término do curso e sua

condição de egresso e a entrada na situação de seu primeiro trabalho; a notória indecisão

profissional, visto que a inserção do egresso no mundo do trabalho se dá rodeado por uma

sensação de incompetência diante do novo a enfrentar, como se as competências fosse algo

dado e não habilidades em construção a partir de saberes retificáveis.

Embora os cursos se proponham a desenvolver competências várias e pré-

determinadas e estes cursos de enfermagem tenham compromisso, no seu currículo de

formação, quanto a fazerem os alunos de enfermagem entrar em intimidade com algumas

situações próprias das práticas de saúde onde irão atuar, quando egressos, ainda assim, o

período de transição entre a saída do curso e a primeira atividade como enfermeiro em uma

instituição de saúde é um período de grande emocionalidade conformando certa fragilidade

das competências supostamente adquiridas, segundo avaliações escolares. Diante das idéias

de Perrenoud (1999) as competências enquanto habilidades nos fazeres das práticas, se

efetivam apenas pelo acionar de saberes em atitude construcionista diante da complexidade

das situações cotidianas no mundo do trabalho. Para este teorista, as competências dependem

de saberes e estes, são adquiridos por continuada construção, em situações complexas do

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cotidiano. Assim as competências são sempre vistas como inconclusas pelas possibilidades de

serem continuadamente qualificadas.

Desse modo, há padrões de requalificação que incluem competências e

correspondentes saberes, nesta tendência construcionista para ver a formação e o trabalho de

egressos de enfermagem. Ao lado da concepção de competências em Perrenoud (1999) a

perspectiva de aproximação do mundo do estudo ao mundo do trabalho pode tornar o ensino-

aprendizagem problematizador e significativo.

A significação tem um caráter individual e coletivo e depende de interesses,

experiências anteriores, da própria consciência (FREIRE, 1996). Assim no período de

transição entre recém-egresso e assumir como profissional um primeiro emprego de

enfermeiro há mediações essenciais a considerar: a estrutura dos serviços de saúde, a equipe,

os usuários dos serviços, as situações criadas cotidianamente. Só as vivências não bastam e

sim também: os momentos de síntese; as relações entre conhecimentos práticos e teóricos; a

problematização das situações; a habilidade para ampliar a capacitação em problematizar. Na

verdade, é o próprio agir que configura a possibilidade da construção de competências

continuadas. L´Abbate (1994) analisa que é o próprio agir em competência que implica em ter

profissionais que acreditam e apostam num determinado ideário, ou seja, capacitem-se a saber

fazer bem técnica e politicamente e sob a mediação da ética. Um fazer bem que inclui

responsabilidade, liberdade e compromisso, como todo o fazer ético.

Gomes e Oliveira (2004) analisaram o momento e o processo de transição da

universidade para o mercado de trabalho, a partir das representações sociais de enfermeiros

inseridos no campo assistencial da saúde pública. Os resultados indicaram que a transição

universidade/mercado de trabalho se mostra uma vivência difícil e estressante e ainda, a

residência (como pós-graduação sentido amplo) como um dos atenuantes das dificuldades

dessa transição. Neste sentido, tomamos o período de transição como de alta emocionalidade

e de qualidade estressante.

Embora até 2002 os registros com referência no Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) sinalizem que o maior empregador de enfermeiros seja o hospital, os

egressos de cursos de enfermagem da área privada nas turmas dos últimos três anos, têm

conseguido como primeiro espaço de empregabilidade a entrada em equipes de saúde da

família, o que requer outras diversificadas competências e modos continuados de exercitar

seus saberes. Tal ocorrência revela que tem havido certo acionamento de seus saberes em

atitudes construcionistas diante da complexidade de buscas que se impõem, nesse período,

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para a sua entrada no mundo do trabalho, em grande parte em Programas de Saúde da Família

(PSF).

Quando Perrenoud (1999) define competência como a capacidade de agir eficazmente

numa determinada situação, apoiada em conhecimentos, mas, não limitada a eles, também

propõe exemplos de competências para assegurar o que ele denomina de “capital mínimo”.

São blocos de competências transversais e competências disciplinares, constituindo às novas

gerações, em sua formação profissional, a flexibilidade para múltiplas funções fugindo aos

limites de uma qualificação padrão.

Ao adotar esses conceitos como estruturação teórica de referência, a visão

metodológica dos dados a serem obtidos com os egressos estará sob essa ótica, no caminho do

discernimento de suas competências desde o período inicial da transição até o seu final, após a

entrada no seu primeiro campo profissional de trabalho.

O pressuposto central é de que: os egressos que se valem de seus conhecimentos,

porém, não se limitam a eles, se inserem mais rapidamente no campo da empregabilidade,

com construção de competências, quando agem eficazmente na percepção de sua situação

transitiva de ex-alunos os profissionais recém-graduados, referem blocos de competências que

assegurem o que Perrenoud (1999) denomina “capital mínimo”.

Parafraseia-se Perrenoud (1999) ao se referir à carreira docente para dizer que a

formação dos enfermeiros modifica-se nas relações com o próprio processo de cuidar. Lá no

enfrentamento das situações há uma rede de saberes que se diversificam em competências

específicas ao enfrentamento requerido. Algumas transformações indicadas por Perrenoud

(1999) podem se dar nesse processo, a saber:

1. Considerar os conhecimentos como recursos a serem mobilizados;

2. Trabalhar regularmente por problemas;

3. Criar ou utilizar outros meios de cuidar;

4. Negociar outros meios de cuidar;

5. Negociar e conduzir projetos com as equipes cuidadoras;

6. Adotar um planejamento flexível, indicativo e criativo.

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5 METODOLOGIA

Foi levado a efeito de pesquisa de caráter exploratório, descritivo com abordagem

qualitativa tendo como objeto a transição dos egressos desde a saída do curso de enfermagem

até o ingresso no mundo do trabalho, segundo suas próprias expressões individualizadas.

O espaço da pesquisa esteve sediado em UNIVALI – Biguaçu foram realizadas as

entrevistas em condições itinerantes, processo que esteve sob responsabilidade dos próprios

pesquisadores e 12 (doze) dos 16 (dezesseis) egressos da primeira turma de Graduação de

Enfermagem da UNIVALI – Biguaçu, constituíram a amostra; esta, ficou assim reduzida

porque quatro dos egressos entrevistados, que constituem 25% dos respondentes, tiveram que

ser excluídos do conjunto, pelas seguintes implicações:

a) dois deles embora já tivessem experimentado, por curto prazo de duração um primeiro

emprego de enfermeiros, encontravam-se à época desta pesquisa, atuando em outra

atividade profissional (fora do mercado específico de enfermeiros);

b) um deles por questões de saúde em sua família não pôde comparecer aos agendamentos da

entrevista; e

c) um outro, houve, desafortunadamente, uma perda de material já gravado, porém, com a

falta de qualidade técnica para audibilidade e, embora os pesquisadores continuassem

dispostos a cumprir o dever de recuperar a matéria, tiveram que arcar com este prejuízo,

tanto pelo acesso e aspectos temporais do entrevistado, como também por limites físico-

temporais dos pesquisadores.

Esta pesquisa finalmente deteve 75% da amostra intencional correspondente,

previamente, à cobertura de todos os egressos da turma pioneira de enfermeiros da UNIVALI

– CE Biguaçu.

5.1 Caracterização da Situação dos Egressos no Momento da Pesquisa

Os sujeitos da amostra foram os egressos do ano 2003/2, acadêmicos do Curso de

Graduação em Enfermagem da UNIVALI – CE Biguaçu. Pelos dados obtidos e confirmados

nas falas destes egressos, constatamos que, das 12 entrevistas realizadas, oito deles são além

de graduados em graduação também técnicos de enfermagem em exercício de trabalho, ou

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seja, com empregabilidade; quatro, não são técnicos de enfermagem e destes, três, não

exerciam qualquer trabalho, e, apenas uma, que trabalhava como auxiliar administrativa em

uma instituição de saúde.

Em meio à totalidade das 12 entrevistas, passados quase três anos de formados, sem

qualquer exceção, todos estão exercendo a profissão de enfermeiro. Seis exercem sua função

na área coletiva, sendo que dois deles, além da área coletiva, atuam simultaneamente na área

de ensino; os outros seis, estão em ambiente hospitalar. Seis destes profissionais trabalham

como enfermeiros, ao mesmo tempo em que acumulam a função de técnico de enfermagem,

em períodos alternados e diferentes instituições.

Segundo as entrevistas, nenhum deles deixou de exercer a função de enfermeiro para

continuar estudando. Oito, atualmente, deixaram de estudar para dedicar-se a atuação como

enfermeiro, seja na área hospitalar, ambulatorial ou simultaneamente, de ensino em saúde.

Finalmente, sete dos entrevistados, além de já exercer a profissão de enfermeiros,

estudam em cursos complementares e suplementares à sua formação.

Além disso, dentre os sete trabalhadores que estudam, três já concluíram a

Especialização e outros três, estão cursando pós-graduação. Dentre os que não estudam, dois

iniciaram a pós-graduação e tiveram que trancar seus estudos, por motivo de mudança de país.

Ressalta-se que seis dos entrevistados desta pesquisa pretendem cursar uma pós-graduação, e

se não conseguiram alegam a dificuldade de tempo, devido seus trabalhos no emprego ou

mesmo atividades familiares; também alegam que os cursos oferecidos não são de sua

afinidade profissional ou ainda não estudam continuamente pela questão financeira.

5.2 Coleta de Dados

O processo de coleta de dados e o instrumento para tal esteve no desenvolvimento

como previsto no projeto. Desse modo, o roteiro orientador com tópicos de entrevista, foi

utilizado na íntegra e todos os entrevistados permitiram a gravação, o que tornou possível a

documentação das expressões verbais dos mesmos.

Durante as entrevistas, a rememoração de passagens da fase de vida evocada, os

egressos relembraram com emoções e expressivos sentimentos, cenas e cenários que tocavam

as suas sensibilidades. Alguns mais visivelmente na voz embargada, pausas, olhares

evocativos e reflexivos, outros chegando a lágrimas ao falar de suas conquistas, do significado

de suas lutas para alcançar ser enfermeiro, ou ao se referir a algumas ou alguns dos seus

docentes ou colegas de quem guardavam gratidão, amizade e desejos de reencontro. Diante

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das possibilidades em forma de Diário de Campo, houve muito calor humano e efusividade

quando os entrevistados em suas expressões marcavam uma relação das suas melhores

emoções com as descobertas de si mesmos, suas superações de limites, suas sensações de

crescimento na profissão. Descortinar a sua própria presença no primeiro emprego como

enfermeiro, foi exultante em cada relato. Os modos de inserção, o enfrentamento, as ajudas

recebidas, e o esforço pessoal, tudo conspirava a uma visibilidade de alcance e, quando o ato

de posse no terreno do trabalho, como enfermeiro, se completava, sentia-se muito bem, auto-

estima elevada, mesmo os que se sentiam antes fragilizados adquiriam o sentimento de

competentes e percebiam-se mais plenos para encarar os desafios do conhecimento em suas

práticas profissionais. Constataram em suas “falas” que construir competências não é virar as

costas aos saberes, mas, imergir nas práticas do cotidiano e dar relevância aos saberes da

experiência ao lado dos fundamentos da profissão e o sabor de saber pelo “ir aprendendo mais

e mais” em suas expressões de diversificação das suas próprias competências.

O conceito de competência escolhido para discutir este aspecto da pesquisa, ratifica a

declaração da maioria dos entrevistados quando foi por eles percebido que a competência gera

uma rede de competências específicas manifestas em tarefas e situações que mobilizam

saberes.

5.3 Análise de Dados

A análise foi orientada segundo Minayo (2002) nominada pelo que a autora denomina

“Hermenêutica Dialética”.

Através das entrevistas realizadas pelos pesquisadores, a análise dos dados se deu de

forma a seguir os elementos de seqüência sistematizada e interpretação centrada nas

possibilidades de olhar os contrários. Descreveu-se da seguinte forma: Unidade de Registro,

Unidade de Contexto, Sub-tema e Unidade Categorial, segundo a linha metodológica. Então,

o primeiro passo foi a transcrição das entrevistas, surgindo o registro documental e as

primeiras anotações dos pesquisadores. Logo em seguida as unidades categoriais foram

agrupadas por suas semelhanças ou expressões afins. Após este agrupamento, foram

selecionadas algumas das Unidades de Registro e Contexto que melhor ilustravam as sínteses

de unidades categoriais.

Tais unidades sintetizadas foram processadas em nível de abstração maior,

consubstanciando três categorias de base à discussão e fonte do desenvolvimento da

perspectiva monográfica.

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Finalmente, esta análise que se apresenta, com tópicos seqüenciados, conforme os

diferentes momentos da entrevista, foi objeto de tratamento metodológico, referenciado em

Minayo (2002) compreendendo as etapas do método hermenêutico-dialético: 1° fase –

a)organização do material coletado, de acordo com os objetivos e questão dos estudos; b)

definição de unidades de registro e das unidades de contexto, trechos significativos e unidades

categoriais; 2° fase – o processo de leituras de aprofundamento e achado das unidades

definidas para a análise; 3° fase – desvendamento do conteúdo subjacente, ao que esta

manifesto. Buscou-se ideologias, tendências, e outras características no material analisado (do

interior das falas ao contexto histórico).

5.4 Ética na Pesquisa

Esta pesquisa obteve o parecer nº 340/06 (18-08-2006), favorável do Comitê de Ética

em Pesquisa da UNIVALI. No seu processo de trabalho foram abordados vários pontos éticos,

entre eles, a questão do respeito à privacidade e à intimidade dos sujeitos da pesquisa. A

pesquisa teve um momento preliminar para informarmos de forma verbal e escrita, aos

sujeitos quanto ao seu teor, objetivos e esclarecer a participação dos egressos em todo o seu

contexto. Foram preenchidos os termos de consentimento esclarecido, que seguem em

apêndice no trabalho, e nele, seguidos os preceitos da Resolução 196/96 (BRASIL, 2006).

Para atender todos os requisitos da pesquisa, nos comprometemos a buscar todos os cuidados

de preservação e valorização da cidadania, tanto aos sujeitos como às instituições,

resguardando aos participantes quanto a qualquer prejuízo em relação a todo o processo de

pesquisa, e que os envolvidos não sejam lesados de nenhuma forma, nem financeira, nem de

exposição da sua individualidade. Com este intuito procuramos fazer cumprir os preceitos

éticos e legais da profissão.

Então, a partir destas informações, nesta pesquisa não há qualquer direito de pagar ou

receber financeiramente, nem por parte dos egressos do curso, nem por parte da equipe de

pesquisa.

Em todos os âmbitos da profissão do enfermeiro, seja na assistência ao paciente, seja

em pesquisa com seres humanos, atender aos preceitos que devem ser respeitados e seguidos

na sua íntegra, é um dever ético a ser estendido aos sujeitos, à instituição e à equipe de

pesquisadores. Porque toda pesquisa deve ter uma base ética, pois cada sujeito tem sua

individualidade e privacidade, seja pessoal, profissional ou institucional, esta também

resguardará todo dado que mostre algum vínculo identitário com as instituições e órgãos de

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classe, considerando-os se for o caso, no teor da discussão, porem, sem discriminar sua

identidade.

Assim, foram colocados em anonimato todos os dados de identificação referentes aos

sujeitos da pesquisa, pois, cada declaração feita, pode gerar uma visão de receios, medos e

preocupação de fazer associações sobre o assunto discutido e abordado na pesquisa com

identificações do sujeito, caso não esteja sob a proteção ética.

Aos sujeitos envolvidos nesta pesquisa estão assegurados os direitos de sigilo sobre

todos os dados. Todos têm o direito de ter acesso às suas próprias informações, aquelas que

lhes permitam assumir a responsabilidade pela sua própria vida na pesquisa e, em caso de

qualquer dúvida, no colocamos à disposição para possíveis esclarecimentos.

Ficou assegurado, igualmente, que no caso de qualquer um dos egressos desistir de

continuar na pesquisa, bastava comunicar à equipe, sem que fosse obrigado a relatar os

motivos da desistência, e seria atendido imediatamente.

O local da(s) entrevista(s) ficou por conta do conforto de escolha do entrevistado,

mantidas as exigências técnicas básicas de um ambiente para este fim. O material gravado ou

escrito, bem como todo o acervo da pesquisa, estará sob a guarda da equipe de pesquisa

durante e após a mesma.

As publicações decorrentes desta pesquisa circularão sem que sejam quebrados os

preceitos éticos da Resolução 196/96 (BRASIL, 2006).

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6 ANÁLISE DE DADOS

Os dados obtidos foram descritos a partir da escuta das fitas magnéticas utilizadas,

individualizadamente. O processo de análise hermenêutico-dialético se fez após registros

codificados, tópico a tópico da entrevista. As falas dos atores sociais (os egressos) situadas

nos contextos foram visibilisadas na especificidade histórica e totalizante, à luz do empenho

na descoberta da competência expressa na transição do recém-graduado ao seu primeiro

emprego.

6.1 Transição e Ambigüidade de Sentimentos, Expectativas, Sensações e

Experiências

Todos os entrevistados indicam a passagem de egressos do curso ao mundo do

trabalho, demonstrando suas preocupações com o futuro serviço, expressando suas

expectativas e medos.

Perceberam-se em meio a uma confusão de sentimentos extremos e simultâneos, uma

transição em ambigüidade de sensações: perdas-ganhos, alívios-temores, confortos-

desconfortos, confianças-apreensões, sofrimentos-vitórias, conquistas-frustrações. Esta

transição se fez com a dubiedade de sentimentos e de sensações.

Alguns medos, angústias nos dividindo entre o alívio da sobrecarga do curso e ao mesmo tempo preocupação para enfrentar o desconhecido (E.1).

Foi um período muito difícil, árduo, bastante luta, é complicado, mas sentimos uma conquista muito grande, uma verdadeira vitória, pois quando colocamos objetivos, fica mais fácil alcançar nossos ideais (E.8).

Aqueles que não dependiam financeiramente da empregabilidade, seja por que tinham

tempo para esperar, por estarem confortáveis do ponto de vista de salário, ou seja, por terem

confianças em promessa de emprego já prevista ou em consolidação, mostram-se mais

confortáveis e menos ambíguos nos sentimentos.

Já trabalhava como técnica de enfermagem e minha primeira sensação de conclusão do curso é de

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tranqüilidade, sucesso, alívio, pela sobrecarga anterior de dois empregos como técnico e a escola (curso de graduação) (E.3).

Por complemento, há tranqüilidade nas falas quando entendem que estando como

técnicos reconhecidos profissionalmente obterão a condição de enfermeiro (em processo

seletivo) e por isso não precisam ter pressa.

Tranqüila, já com estabilidade profissional como técnica, abriria mão dos primeiros empregos como técnico, para uma nova função como enfermeiro (E.3).

Quase sempre pensam em conseguir o trabalho de enfermeiro e têm isto como meta,

expressam-se no anseio de reconhecerem-se diferenciados na profissão que já exerciam, há de

técnico de enfermagem, e lutam sempre por esse reconhecimento também com a possibilidade

de ir a caminho da meta de exercício em nova função de enfermeiro.

Expectativa é de dar o melhor de mim, ser reconhecida como um profissional de qualidade (...) (E.9).

Predomina a expectativa de atingir um trabalho como enfermeiro, uma vez que, a

maioria já exercia um trabalho como técnico. Sentimentos de reconhecimento diferenciado na

equipe profissional e esse reconhecimento diferenciado perduram da condição de técnico para

a meta de tornar-se efetivamente enfermeiro, no campo da empregabilidade.

As expectativas e sentimentos nessa travessia de acadêmico para a empregabilidade do

enfermeiro, muitos estavam mergulhados numa segunda dúvida, portanto uma segunda

transição de técnico de enfermagem para enfermeiro, nos campos já habitados como técnico,

o que soma a primeira transição inicialmente procurada neste estudo, a da academia para o

mundo profissional.

Sentimentos e expectativas eram boas, muito otimismo, esperança e muita vontade de iniciar a vida profissional, já era técnica e tinha que assumir outras responsabilidades, as quais vinham então acompanhadas de medo, angústia por não saber qual seria o meu desempenho (E.6).

Há ambigüidade de sentimentos uma aparente dificuldade de identidade no exercício

profissional desses novos enfermeiros, que ainda estão na função de técnico de enfermagem;

quando já se formaram como enfermeiros e ainda detém o exercício de técnico de

enfermagem e aguardam oportunidade no cargo correspondente.

Está é uma segunda instabilidade, a de passar de técnico de enfermagem a enfermeiro,

o que reforça uma transição turbulenta, não só pela procura de um emprego, mas pelo

requerimento de um reconhecimento profissional como enfermeiro, circunstanciado por já

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estarem empregados como técnicos, com sentimentos de esvaziamento do que já se

apropriava nesta função e de frustração pela não assunção como recém enfermeiro.

Esta sensação ambígua e desconfortável, por vezes, trás instabilidade e dúvidas até nas

escolhas já feitas.

Um emprego a vista mais sem sucesso, frustração na espera do mesmo, dúvida na escolha, será que fiz a escolha certa (...)? (E.2).

Sentir-se enfraquecido, fragilizado, angustiado, desacelerando o ritmo anterior do

curso, vem simultaneamente com a esperança e bem-estar da conquista de ser enfermeiro.

Sentimento de vazio diante da correria anterior, a da Universidade, como se tudo estivesse acabando, não me acostumava com aquele novo ritmo (...) (E.4).

A passagem do mundo acadêmico ao mundo do trabalho vem para esta fase de

transição, como uma etapa de vida turbulenta e dividida em sentimentos polarizados entre o

conforto e desconforto, entre o amparo e desamparo. Não há qualquer citação de um recurso

objetivo disponível para apoio. As falas traduzem buscas solitárias e individuais. O acesso ao

campo da empregabilidade constitui-se em franco requerimento, um tempo de sentimento de

despreparo dos egressos do curso, porquanto suas expressões revelam fragilidades e

necessidades de proteção até mesmos riscos à integridade da saúde diante dos requerimentos

desafiantes e potencialidades de enfrentamento emocional na busca de oportunidades de

acesso ao mundo do trabalho como enfermeiro.

6.2 Pensamentos e Ações na Transição ao Mundo do Trabalho

No início da transição, logo ao término do curso, os pensamentos não ficam tão

conectados com as ações (iniciativas). Em verdade, de imediato, os participantes desta

pesquisa, mostram que, agem mais com extrema emoção, e a transição caracteriza-se por este

domínio, até que o egresso do curso vai se apropriando de sua real situação e adquirindo mais

lucidez para enfrentar, com calma a realidade de ingressar no mundo do trabalho. Antes, há

uma visão sonhadora e romântica, a qual traz consigo a ilusão, de que, por estar graduado

enfermeiro, poderá escolher em que local trabalhará, segundo seus desejos e afinidades

desenvolvidas na vida acadêmica, atrelando seus desejos às oportunidades e obrigatoriedades

curriculares.

Por questão de afinidade busquei áreas de meu interesse, mas a primeira oportunidade com certeza não desperdiçaria, pois se adquire experiência no dia-a-dia com o trabalho (E.6).

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Parte como recém-graduado para um campo restrito e busca empregabilidade nos

limites das áreas de enfermagem de sua “afinidade” quando estudante de graduação. O

movimento de procura com esta imediatez é intenso e vai desacelerando pelo descortinamento

da realidade do mundo do trabalho.

(...) busca coisas que a gente tem mais afinidade, a gente sempre espera isto (E.1).

Desinstala-se a ilusão, e aprende-se a superar as frustrações, com certa velocidade e

por necessidade social, intelectual e econômica; alguns chegam a entristecer e, outros, a

defenderem-se com expressões de humor em mecanismos críticos, tais como se

caracterizarem de “egressos “desempregados” antes de empregarem-se de enfermeiros”. Tal

período de transição nesta turma, teve pequena duração. Alguns já saíram do curso com

acesso efetivo ou com pré-compromissos feitos para o primeiro emprego. Para chegar a um

emprego de enfermeiro e assumir a sua iniciação à maturidade profissional e ver ampliadas

suas oportunidades e perceberem-se como generalistas no campo de ofertas de trabalho.

Instala-se nesta transição um jogo de espera do emprego, que o egresso deseja por afinidade

de área surgida durante o curso, e a oferta real de emprego, sem qualquer maior interesse esta

sua consideração. Enquanto a empregabilidade busca os enfermeiros generalistas, os egressos

procuram o trabalho nos limites do próprio celeiro afetivo-profissional. Embora assim seja,

nesta turma apenas um egresso, por motivo circunstanciado em saúde, teve um período de

transição mais longo (um ano e oito meses). Os demais, dentro de, no máximo, um mês de

espera, estavam chamados a algum trabalho ao qual se apresentaram com solicitação.

Busca coisas que a gente tem mais afinidades, a gente sempre espera isto (...) (E.1).

Meu primeiro emprego foi sete dias depois da formatura, fiz a prova em Novembro em (...) e passei (...) (E.5).

Estou num período de readaptação e reconquista, pois por um ano e oito meses fiquei sem muita ação, só mesmo no pensamento (E.8).

Descobrem que, enquanto isso, os acessos de emprego não consideram como

prioridade suas particularidades, tendências imediatas ou prévias opções. O campo de

empregabilidade oferta vagas ao enfermeiro recém-formado, pressupondo seu potencial

qualidade generalista, embora inclua nessa expectativa, aptidões e competências até menos

acentuadas, do ponto de vista da trajetória curricular cumprida, para tornar-se enfermeiro

iniciante.

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(...) Quando nos formamos queremos é começar a trabalhar, não recusamos quase nada, aceitamos quase todas situações, para ver se é aquela área que queremos trabalhar. Eu tinha preferência em trabalhar com criança. A minha realidade é totalmente diferente, apareceu à oportunidade, eu quis pegar para ver se era esta área que eu ia me adaptar (...) (E.2).

Nessas circunstâncias aos interesses do mercado empregador, o enfermeiro generalista

responde como enfermeiro, seja para gestão em Estratégia Saúde da Família, direção em

enfermagem clínica hospitalar, gerenciamento de Unidades de Tratamento Intensivo, serviços

de educação em saúde, educação em serviço e educação continuada, ou mesmo para liderança

de equipes de enfermagem clínica e cuidados diretos aos usuários de determinados serviços de

saúde gerais e especializados. Dificilmente, a vaga ofertada ao recém-graduado, traz

restrições impeditivas a sua atuação generalista. O recém-enfermeiro sim, impõe-se limites à

sua atuação, embora generalista, o que se levado a extremos, deixará o egresso do curso

distante do primeiro emprego.

Sempre tive vontade de atuar na saúde pública, mas não escolhia trabalho, mas tive a sorte, logo de cara, trabalhar no setor público, na Estratégia Saúde da Família (...) (E.11).

Quase sempre os primeiros empregos na ótica do recém-graduado, guardam o caráter

de certa provisoriedade, quando suas funções não coincidem com a ambição do egresso do

curso. Ainda no emprego ele continua desejando, a um só tempo, ajustar-se a as atividades ali

propostas e, a informar-se de novos campos de empregabilidade, buscando reencontrar algo

mais compatível com seu crescente amadurecimento, quanto aos interesses profissionais. Vale

destacar, como o egresso que fez parte desta turma pioneira do curso de graduação em

enfermagem, tem clara noção de sua necessidade de educação permanente e, nenhum deles,

deixou de vislumbrar suas possibilidades de enfrentar desafios, para construir seus estudos

pós-graduados no campo da saúde. Mesmo os que estão bem compatibilizados e fixados em

boas oportunidades no campo da empregabilidade, intelectualmente estão voltados a uma

dimensão relativizada em técnicas e bem ancorados para saltos qualitativos e politicamente

ampliados, no exercício da profissão, daí por diante.

Seus pensamentos e ações ultrapassam a aceitação do emprego e lhes impulsionam

como recém-formados a desbloquear os entraves sociais e mobilizar-se a caminho de mais

realização por estudos e competências continuadas.

Nesta época estava trabalhando como técnico, não estava desempregado, mas sempre em busca de um

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emprego (como enfermeiro) e mais conhecimento (E.2).

Os pensamentos primeiros desconectam-se de ações posteriores, que se tornam

imperativas, na transição do egresso do curso de graduação em enfermagem em face de

chegada ao primeiro emprego. Enquanto estão pensando em trabalhar com o que mais se

identificam, a ação é movida extremamente pelo chamamento da oferta do emprego que

chega à sua possibilidade de alcance.

6.3 Tentativas, Avanços e Recuos no Momento de Transição

Avanços e recuos compõem um movimento pendular durante o enfrentamento de

desafios do egresso em busca de sua entrada no mundo da empregabilidade. Na transição em

que se encontram como recém-graduados, apesar de terem afinidade com algumas das

especificidades do trabalho da enfermagem (por lembranças de suas atividades curriculares

quando estudantes), a insistência nessa preferência não resiste por muito tempo, pois as

ofertas de oportunidade nem sempre coincidem com seus desejos.

Eu preferia trabalhar com criança. Apareceu uma oportunidade em outra área, era só eu me adaptar (...) (E-2).

Aprendem a fazer recuos dessas idéias de modo estratégico e avançam quando aceitam

a experiência de um primeiro trabalho, consciente de que a substituição de um campo de

trabalho concreto por outro, que estava idealizado, pode trazer vantagens de aprendizagens e

novos discernimentos, além de fazê-los em atividade e em contato pelo exercício profissional,

com o mundo da empregabilidade para a enfermagem. Alguns recém-formados não percebem

assim de imediato; estes resolvem aguardar o tipo de trabalho que idealizam e prolongam a

decisão de entrada no primeiro emprego.

Eu deixei currículo em várias clínicas, fiquei esperando por concurso, teve só agora neste ano... Eu não procurei muito; trabalho como técnica de enfermagem durante o dia, não tenho carro para facilitar o acesso a outro emprego (...) (E-4).

(...) meu desejo era trabalhar na rede pública. Tive oportunidade no âmbito privado, em uma clínica oftalmológica, não aceitei (...) (E-11).

A duração do tempo maior para alcance do primeiro emprego esteve, neste grupo

estudado, ligado a motivos: 1) o de esperar campo de atuação antes idealizado e as ofertas de

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trabalho não coincidirem; 2) por já atuarem como técnicos e optarem por aguardar o processo

seletivo de enfermeiro no serviço público;

Fiz concurso (...) Fiquei entre os oitos colocados, mas não fui chamada (...) (E-3).

3) outros por questões de saúde;

Tive um problema de saúde no final do curso, fiquei um ano e oito meses parada.(E-8).

4) ainda outros por temores em assumir as funções no emprego, resolveram estudar em

cursos complementares e suplementares, alguns deles procuraram apoio terapêutico

profissional, até que se sentissem mais aptos ao enfrentamento do primeiro emprego e

qualificações nas funções exercidas.

Uma professora me indicou uma psicóloga e estou fazendo psicoterapia, para não ter medo, ganhar forças, pela minha vida, está ajudando muito, pois ainda estou fazendo (...) (E-4).

Para ser bem sincera, nunca fui em nenhuma clínica deixar currículo. Eu já era estagiária do hospital (...) O hospital já me ofereceu emprego quando eu me formasse (E-12).

Quando já está bem situado funcionalmente como técnico, o recém-graduado

movimenta pendularmente com avanços e recuos, quando sabe e precisa trabalhar como

enfermeiro, e não se esforça, por isso, não deixa o emprego de técnico de enfermagem

recuando assim, por acomodação. Os que assim agem, de modo geral, sentem-se assegurados

na função técnica, pelo tempo de serviço e quase sempre, por ser concursado em instituição

pública.

Eu não procurei muito, já trabalhava como técnica (...) (E-4).

Eu não tentei nada na área privada e PSF (...) sou efetiva no Estado e no Federal como técnica (E-8).

Seu movimento pendular é duplamente forte, pois enfrentaria a passagem da academia

ao primeiro emprego de enfermeira, mas também a passagem de ser técnico experiente, para

vir a ser enfermeiro em outro emprego, sem essa experiência, portanto iniciante.

Alguns egressos do curso de enfermagem, entendem como saudável, o balanço

pendular de avanços e recuos, enquanto esperam o primeiro emprego, mesmo esperando uns

dois meses e, esforçando-se por distribuir seus currículos em várias fontes empregadoras.

Dizem recuar pela mudança de humor, com tendência há dias mais tristes e apreensivos; e

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outros, com esperança de conseguir o almejado trabalho. As oportunidades de abertura de

chamadas com testes seletivos na área pública, têm sido poucas ou menores na atualidade. Os

empregos acenam com suas ofertas raras, mas quase sempre contratos precários, de

substituição ou em caráter de provisoriedade e também são aceitos com esta condição pelos

recém-graduados, até que consigam candidatar-se em processos seletivos e alcance de

empregos mais duráveis e com possibilidade de carreira na profissão.

Tudo parece indicar, que no mundo da empregabilidade, os enfermeiros recém-

graduados, movimenta-se numa oscilação pendular rítmica e priorizam o seu crescimento

profissional, utilizando-se de critérios quanto a escolhas de empregos que ofereçam

coberturas a ascensão profissional, portanto, que respeitem os direitos do trabalhador, e a

qualificação de trabalho em termos de segurança. Perseverança operante em prol da

empregabilidade, fortalece no recém-graduado, a postura de recuos estratégicos e avanços

conscientes na fase de transição, até definir um primeiro emprego de enfermeiro.

Alguns defenderam que é preciso decidir-se politicamente no campo da saúde, como

um avanço na travessia a empregabilidade. Adquire-se têmpera na transição, na medida em

que são feitas tentativas, avanços e recuos estratégicos nesta fase, entendendo-se tal

movimento como esperado e saudável.

Além disso, o auto conhecimento é instigado durante o período de transição; reforçá-lo

nessa oportunidade pode ajudar a qualidade emocional da travessia. Aprende-se a recuar e

avançar e ambos podem ser estratégias importantes, até o atingimento de um emprego

compatível e expressivo com a formação adquirida e a esperança de continuar em ascensão

profissional por capacitações subseqüentes.

Como avanço posso falar da pós-graduação que faço no hospital (...) sobre gestão hospitalar e hoje assumi a chefia de enfermagem no hospital (...), onde “amo” trabalhar.(E-8).

O movimento pendular é um desafio na vida do egresso quanto a tentativas e avanços,

bem como, os recuos na vida profissional. Este movimento é encarado de duas formas quase

simultaneamente, ora por coragem em aceitar a oferta de emprego disponível, ora com

sentimentos de temores e acomodações, insegurança de uma relação para ultrapassar tais

temores, inclusive vencer a insegurança de transpor a situação de técnico de enfermagem já

firmado no trabalho, para ter que iniciar como enfermeiro em vencer para buscar a maturidade

em saber tomar decisão no primeiro emprego, o avançar e recuar se apresentam como um

sinal de crescimento para uma vida em ascensão profissional.

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6.4 Critérios de Escolha e Adequação para Alcance do Trabalho Almejado

Imediatamente após o término do Curso de Graduação, como egressos do curso, os

recém-enfermeiros ambicionam trabalhar em funções compatíveis com a formação adquirida.

Estabelecem para si mesmos, alguns critérios de escolha e adequabilidade para o alcance do

trabalho almejado.

Critério principal é de trabalhar numa instituição que os princípios estivessem compatíveis com os meus (E.1.).

De acordo com suas expressões firmadas nas unidades de registro e unidades de

contexto, o texto subjacente, o sentido ali contido, refletia os diferentes critérios tais como:

responsabilidade, missão e outras características do serviço e se estas correspondem ao

verdadeiro compromisso da instituição com o atendimento proposto. Ao lado disso, as

condições de trabalho, a proposta financeira e a carga-horária têm que ser comprovadas em

documentos construídos da instituição empregadora. Assim, verificando a condição ética da

instituição proponente, alguns recém-graduados, constituem um critério ético de escolha e

adequação para o exercício profissional em seu primeiro emprego.

Observar a responsabilidade, a missão, para ver se é coisa séria, característica do serviço que tu tá começando, as condições de trabalho, pensas na condição financeira, a valorização do profissional, carga horária. (E.1).

Outros constroem um critério técnico e entendem que onde há oferta de trabalho para

atividade de cuidado direto iria aceitar, pois se percebe capaz tecnicamente e o mercado anda

quase saturado. Os egressos não escolhem refinadamente, o primeiro emprego. Propõe-se a

trabalhar apenas.

A gente não escolhe muito o primeiro emprego, vai aceitando a primeira proposta, tu tens ansiedade de estar desenvolvendo aquilo que tu sonhas (E.2).

Outros também utilizam um critério de passividade, em que se um emprego for

oferecido diretamente por estar sendo necessário, para não ficar vago o espaço, o egresso

aceita, mesmo pensando em desistir por temores de assumir. Muito raro, porém existiu esta

possibilidade nesta amostra. Pela necessidade de trabalhar, às vezes, até os egressos se

percebem sujeitos a aceitar trabalhos com “mão-de-obra barata” para preencher seus vazios.

Não segui muitos critérios para o primeiro emprego, sentimos necessidades de trabalhar, e às vezes ficamos sujeitos a aceitar a condição de mão-de-obra barata (E.5).

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Algumas vezes ouvimos sobre critério de adequação a oferta hospitalar desde quando

cursava a graduação de enfermagem, trabalhava numa mesma instituição como estagiária,

com função burocrática. Há também citação de critério de busca de conhecimento como

poder, e fortalecimento de credibilidade. Este foi interpretado como critério de qualificação e

houve acesso ao primeiro emprego, dessa maneira, fortalecida, e bem situada.

Adequação ao alcance do trabalho foi que: como eu enquanto estudava enfermagem, já era estagiária no setor administrativo, isso facilitou de certa forma a minha entrada no mercado de trabalho (E.12).

(...) a gerente de enfermagem do hospital sabendo que eu cursava para ser enfermeira, já me convidou a passar para o setor de enfermagem, quando surgisse uma vaga (...) (E.12).

As escolhas e adequação para se alcançar o trabalho, guardam interesse

correspondente ás aprendizagens feitas na graduação, inclusive em termos da ética

institucional, de quem oferta a vaga de emprego. Observam do órgão empregador sua missão,

a responsabilidade, as condições de trabalho e consideram também as questões financeiras; no

entanto, pela necessidade de trabalhar, o egresso está sujeito a trabalhos que não condizem

com sua afinidade e, muitas vezes, a “mão-de-obra barata”, para poder iniciar sua vida

profissional como enfermeiro. Em compensação à transitoriedade os egressos se mostram

afeitos também à busca do conhecimento, para qualificar-se, fortalecer-se e alcançar o

respeito e a credibilidade profissional na instituição.

6.5 Estudos Complementares à Formação de Enfermeiro

Embora a prioridade de vida dos recém-enfermeiros seja a entrada no mundo da

empregabilidade, esta meta é continuada ao lado do desejo de prosseguir seus estudos na

profissão e, suprir a ausência do conhecimento instrumental de algumas línguas estrangeiras

ainda dominantes como o inglês, nos requerimentos ampliados de trabalho; mas também

espanhol e italiano.

Ao contrário da exigência de outras línguas, alguns (embora poucos) reconhecem a

necessidade de estudar outra língua. Alguns, embora sejam poucos, reconhece a necessidade

de aprimorar a língua portuguesa, a não ser aqueles que se destinaram a concorrer em

processos seletivos para cursos pós-graduados (mestrado e doutorado).

(...) terminei a faculdade, comecei em cursinho de inglês, era o meu desejo (...) (E-4).

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Esta necessidade flui dos egressos quando expressam seus requerimentos para melhor

aproveitamento de ofertas ampliadas de emprego. A prática atual de buscar um emprego por

acesso informatizado vem sinalizando para todas as áreas empregatícias este valor de

expressão lingüística como um valor referencial, segundo os relatos ouvidos.

Comecei a mandar e-mail para tudo quanto é hospital, inclusive de outras cidades como Brusque e Blumenau (...) Me ligaram marcando entrevista e eu nem acreditava (E-1).

A pressa de chegar ao emprego como enfermeiro parece estar sencundarizando a

exigência de expressão lingüística, mesmo a língua materna, como importante, o que pode

prejudicar a continuidade de estudos.

A consciência de priorizar o emprego, até para a construção de sua experiência

profissional vem atrelada a um empenho de continuidade de estudos como uma mentalidade

que leva ao encurtamento de etapas para atingir melhores condições de empregabilidade na

enfermagem.

Fiquei parado, não fiz cursos, continuo lendo e me atualizando (...) Pretendo me estabilizar para depois fazer especialização na área que estou atuando (E-2).

Constata-se pelas declarações dos egressos que, quase 70% da turma em estudo, já

ingressou por conta própria, sem ajudas institucionais, em cursos de especialização, apesar

dos limites materiais e temporais com que se deparam.

Apenas um dos egressos já se inseriu em cursos de Mestrado e trabalha em programa

governamental, de saúde pública, além de estar com aproximações em trabalho de docência

no ensino superior. Alguns poucos dos que já firmaram posição destinada ao ensino dentro da

profissão freqüentam grupos de pesquisa, trabalham em projeto de extensão participam de

eventos científicos, e já completaram alguma especialização. Como exceção há aquele egresso

que está cursando mestrado em saúde pública em fase de dissertação e com planos de

candidatar-se ao doutorado no próximo ano.

Realizei pós-graduação em saúde da família, fui aprovada no mestrado em saúde pública e daqui a um ano e meio quero ingressar no doutorado (E-11).

Esta consciência de prosseguir em educação continuada vem correspondendo a

promoções funcionais nos seus empregos atuais, a exemplo de convites recebidos para

coordenar comissões específicas no âmbito dos serviços de saúde em que trabalham

profissionalmente.

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Acredito que sempre devemos estar reciclando nossos conhecimentos (...) Somos recém-formados devemos buscar atualizações para mostrar nossos ideais (E-13).

Há uma relação direta entre incentivo à atuação profissional e real interesse em

estudos especializados ou direcionados ao tipo de trabalho que realiza no mundo da

empregabilidade. Os depoimentos durante as entrevistas traziam expressamente palavras de

ordem, como, por exemplo, não quero ser apenas mais um (a) enfermeiro (a) exijo de mim

para fazer a diferença.

(...) A exigência faz você correr atrás do conhecimento e isto é bom para o profissional (E-9).

Este espírito de destacar-se para alcance de suas metas vinha nas palavras que

oscilavam orgulhosamente como um caminho à superação continuada de limites.

O primeiro emprego é o desejo do recém-enfermeiro, mas ele tem consciência que

para uma ascensão profissional é necessária a busca contínua do conhecimento; por esse

motivo, grande parte da turma em estudo ocupa-se em fazer cursos complementares e

suplementares.

O fato do recém-enfermeiro não se acomodar ao conhecimento, que já adquiriu, faz ele

exigir de si mesmo uma nova postura para sua segurança, auto-estima e reconhecimento

profissional, construindo sua competência ao longo de sua carreira.

6.6 Inserção no Primeiro Emprego

Em geral, a percepção dos egressos quanto a sua inserção no primeiro emprego, ficou

traduzida como “um ato de coragem”, pois segundo os recém-graduados chegar a assumir o

primeiro emprego é ter a coragem de mudar a si mesmo. Transformar-se em enfermeiro em

cena nos serviços de saúde; ir até eles (os egressos) acompanha-se de algumas renúncias ao

conforto de casa, pois nem sempre o local de trabalho é na mesma cidade em que o

trabalhador mora.

Ato de coragem, pois demonstrei minha insegurança. Mudança de cidade, morar sozinha, tudo é muito novo pra mim, foi mudar de vida. Fui bem recebida, demonstraram interesse em qualificar os profissionais. Tinha medo, angústia, mas depois de duas semanas fui tranqüila (E-1).

Estabelecer-se em outro lugar sem nunca ter saído do seio da família; ter a

responsabilidade de reger seu espaço sozinho; estar diante do “novo” tanto no trabalho como

na vida pessoal assumir a si mesmo e assumir a equipe de trabalho, quase sempre, como líder,

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é uma libertação corajosa, segundo o discurso dos entrevistados nesta turma de egressos. Na

fase de inserção na equipe de trabalho tem que lidar com as perplexidades encontradas, tais

como os “vícios” ou desvios notados na conduta profissional da equipe de enfermagem,

embora esta seja já experiente no local em que o egresso se inicia como enfermeiro.

Como enfermeiro, você trabalha muito, assume várias responsabilidades, tem que assumir uma equipe. Você chega novo em um local onde existem costumes, vício, não pode se impor muito tem que ir “costurando” (ajustando). Este então é um empecilho, esta entrando na equipe, ganhar confiança e tudo se ajeita (E.2).

A despeito de ser bem recebido no local de trabalho, a empreitada de trabalho e

responsabilidade trazem ao recém-graduado uma vivência emocional forte e que requer

amparo, contudo na maioria das vezes, o egresso se sente muito só, sem poder compartilhar

idéias ou receber reforço, numa espécie de estréia como “debutante na área profissional”. Em

meio a essas sensações de medo, de incompetência aparente e real, à vontade de enfrentar o

desafio vem como “enfrentar-se a si mesmo”. Em meio à inserção surgem as provas de

confiança, as alianças com a equipe, às inovações como conquistas empreendedoras.

Me senti um peixe fora d’água, descobri que se ensina muito na faculdade, mas não é suficiente. Precisamos buscar mais conhecimento a respeito do trabalho desenvolvido, assim conseguimos desenvolve-lo bem (E-9).

Para muitos desta turma a inserção se mostrou como possibilidade quando enfrentaram

o diferencial da função de enfermeiro e isto foi um desafio inusitado. Tiveram que fazer

ajustes pessoais e sociais a novas aprendizagens dentro do campo de trabalho.

Já me conheciam, foi gratificante, fiquei realizada, fui bem recebida pela equipe. Melhorei meus conhecimentos. Tive ansiedades, não sabia se conseguiria dar conta (E-3).

A transição neste período de inserção no trabalho se mostra como um teste de auto-

confiança e requer apoio, incentivo, e entrega a um processo difícil, porém não impossível;

mais ainda, gratificante pela qualificação que vai sendo acrescentada no desempenho coletivo

da equipe com a qual o recém-graduado encontra em seu primeiro emprego.

É difícil no início, apesar de se ter bagagem teórica, depara-se com a prática que é diferente, sente-se dificuldades e tem que ter “jogo de cintura” apesar de seu medo (E-11).

Observa-se que a inserção no primeiro emprego passa de uma real necessidade

profissional a um ato de coragem, por estar assumindo áreas que lhes são pouco familiares,

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pelo desafio de estar inserindo-se como iniciante no mercado de trabalho. Nesta inserção

ainda destacamos os desafios, os medos, a falta de confiança que esta equipe e instituição

inicialmente demonstra, então, quase que obrigatoriamente temos que passar por estes

chamados entraves profissionais para poder desempenhar a função de enfermeiro.

6.7 Implicações de Natureza do Conhecimento e o Novo Emprego

Uma das implicações ao se defrontar com o novo emprego, é a comparação que

inevitavelmente o recém-graduado faz com os demais profissionais da equipe, quando os vê

em suas posturas, pelo fato de estar a mais tempo no serviço; vão olhá-los como pessoas já

habituadas ao trabalho naquele local. Se por um lado, trazem a idéia de aprender as rotinas

com os que já estavam mais tempo naquele trabalho, por outro, saltam aos olhos do recém-

graduado, o que denomina de “vícios do trabalho” e são os costumeiros traços de desatenção

no serviço.

Quando se começa a trabalhar temos todo o conhecimento que vai se aprimorando, mas quando chegamos no campo de trabalho nos deparamos com os vícios da profissão e precisamos estar sempre alerta para não cairmos nos vícios também (E-1).

A primeira idéia no recém-graduado iniciante no trabalho, segundo os relatos, é a de

que ele próprio precisará evitar as posturas viciadas como estas, e as entende como sintoma de

estagnação na vida profissional. Arma-se, pensando em estruturar-se politicamente e

socialmente; para combater essa tendência observada o recém-graduado encontra, de modo

geral as respostas a essas duas observações, na busca continuada de conhecimento, como uma

postura profissional constante que aperfeiçoa, dentro desta implicação, como uma defesa ao

choque do percebido.

Correr atrás do conhecimento... estudar, pesquisar. Ato imprescindível para aprendizagem (...) (E-6).

É uma novidade para ele, egresso, pelo fato de que, como acadêmico de enfermagem

sendo ainda estudante, suas observações não entravam nesse tipo de compromisso com os

campos de prática em atividades assistenciais curriculares. A implicação do conhecimento

ligado as atividades específicas é aquilo que o recém-admitido no novo emprego, logo

mobiliza interesse. A revisão de disciplinas estudadas em seu currículo de formação como

enfermeiro é logo retomada, e então faz aprofundamentos com imersão em conteúdos teórico-

práticos importantes à sua liderança no serviço de saúde em equipe. Começa a perceber que

sua competência vai sendo mobilizada em novos saberes.

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Tudo que aprendi na universidade foi de grande valia, a base a gente tem, o restante aprofundado você tem que “correr atrás” fiz muitos cursos e quem tem que fazer esta consolidação deste conhecimento somos nós (...) (E-2).

Re-estudar, na prática assistencial assumida no emprego, corresponde a transitar como

generalista a uma área concentrada de especificidade naquilo que seria o núcleo de suas

atividades no trabalho.

Tive implicações ruins, tive que buscar muito sobre oncologia; na faculdade era muito superficial, tinha que saber tudo sobre quimioterapia, reações (...) (E-2).

Aprender, como tônica, rebate as implicações acompanhadas de temores ao

desconhecido, diante de inovações encontradas no primeiro emprego dos recém formandos

enfermeiros, egresso dessa turma, hora em estudo. Aprende-se com disciplinas científicas

revisadas e na busca filosófica de abordagem humanizada, uma questão colocada como

incorporada, pela maioria dos egressos desta turma.

A universidade te dá uma base na profissão e, na especialidade, você corre atrás, tive que estudar, farmacologia, tratamento, dosagem, fui lendo, buscando na internet... tive que estudar sobres às perdas, a dor, não só a dor física, mas a dor da alma. Graças a Deus tenho uma espiritualidade para passar coisas boas (...) (E-3).

Alguns mencionam a busca necessária de cursos formais (pós-graduação) tão logo seja

possível, evitando a postura profissional de estagnação.

Estudei muito, vi a necessidade de fazer uma pós-graduação na saúde da mulher. A teoria é diferente (complexa) da prática. Só no dia a dia a gente ganha firmeza. Tudo isto é positivo, você vai se acomodando (ajustando) no conhecimento (E-5).

Os entrevistados, quase todos consideram a máquina burocrática no sistema

organizacional, esta máquina devora o tempo que seria dedicado ao aperfeiçoamento do

conhecimento político e tecnológico, que qualificaria o trabalho direto com os usuários dos

serviços e até mesmo com o fortalecimento do desenvolvimento da equipe de enfermagem.

Outra implicação é a de vencer a postura de técnicos de enfermagem e ultrapassá-las

com os acréscimos e substituições de atividade próprias de enfermeiros, uma vez que a

maioria nesta turma de egressos, já assumia como técnicos mesmo antes de estarem neste

novo emprego.

Como técnica não tem complicação; como enfermeira é muito diferente, outra postura e outras atribuições,

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tem a parte burocrática organizacional e todos os funcionários, não é fácil, mas se aprende aos poucos e com tranqüilidade (E-8).

As expressões durante as entrevistas convergiam para o entendimento dos egressos,

consubstanciados em que o amadurecimento com segurança, no campo do trabalho, advêm da

não acomodação ao instituído e aceito nas posturas conseqüentes nos processos de trabalho.

Requer muito estudo continuado, crescente, porquanto entendem o conhecimento como fator

de segurança no papel profissional que exercem nos Serviços de Saúde.

O conhecimento está sempre em construção. É uma coisa contínua, então a gente tem que ficar se policiando para não deixar com que o tempo nos faça perder “bons costumes” (...) (E-1).

Então, na questão de natureza do conhecimento no primeiro emprego, temos como

primeira dificuldade os “vícios da profissão”, o recém-enfermeiro chega ao emprego com

todo conhecimento, dotado de inovações e conhecimentos para iniciar o trabalho, mas, se

depara com a situação já existente na equipe de enfermagem. Resguarda-se para não assumir

uma postura errônea, mas sabe, que não pode deixar-se levar por esta situação, que para ele é

desagradável e que acima de tudo prejudica diretamente o paciente.

A maioria dos recém-enfermeiros cita, a importância da busca do conhecimento da

área que se trabalha, para melhor atender o paciente. A faculdade fornece o conhecimento,

mas o aprender a fazer, na prática, só acontece quando se arruma o primeiro emprego.

A meta para cada profissional é sempre estar aprendendo, renovando seus

conhecimentos e, para a maioria, os cursos de pós-graduação são os que mais ampliam seus

conhecimentos na área escolhida, e garantem uma ascensão profissional.

6.8 Aprendizagens Novas no Exercício do Atual Emprego

Todos os egressos entrevistados falam de suas aprendizagens novas diante dos

cenários e implicações de suas práticas como enfermeiros em seus respectivos campos de

exercício profissional. As aprendizagens referidas diferem segundo seus campos de atividade

e atribuições funcionais. Assim, foi possível ver que há algumas clarezas do que é comum

entre eles, em qualquer campo de atuação, a saber: a aprendizagem de mais humanização. A

busca de abordagens de humanização teórico-sustentáveis operacionalmente em suas praticas

no ambiente e processo de trabalho. Este destaque também vem acompanhado das reflexões

sobre as possibilidades humanizadoras do cuidado em diversificação dos serviços públicos e

dos serviços da área privada.

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Aprendizagens muitas, conhecimento das realidades, da instituição. Conseguir diferenciar a realidade da instituição privada (trabalho como enfermeiro) e a pública (trabalho como Técnico de Enfermagem). Sinto as dificuldades e a facilidades de cada setor(...) (E.2).

Outra aprendizagem nova ressaltada foi relativa à tipificação do Gerenciamento no

Serviço, as diferentes ordens burocráticas, as licitações e negociações para a qualidade do

Serviço, enfim as articulações administrativas entre a enfermagem e outras instâncias mais

ampliadas em macro-esfera de atuação exigidas pelo trabalho em si.

Uma área diferente da enfermagem, eu desenvolvo bem a questão da humanização (...) é um momento difícil para as pessoas. Tem que ter suporte emocional. O gerenciamento é uma parte bem diferente, burocracias, licitações, se aprende muito (E.1).

São questões político-administrativas e burocracias para as quais, suas bases foram

despertadas em disciplinas curriculares do curso de formação como enfermeiro (a); e dos

próprios recém-graduados, depende a continuação de estudos de suas aplicabilidades e

inovações possíveis ao planejamento organizacional, a coordenação de equipes.

...é bem diferente para mim, é uma parte de gerenciamento que a gente faz muito mais, a parte burocrática, licitações, aprende isto assim, melhor na prática. Faz articulações com outras secretarias, outras instâncias, é uma experiência legal (E.1).

Pelos comentários dos egressos, neste estudo, as Políticas de Saúde o gerenciamento

dos Serviços, a Ética como transversalidade em todos os relacionamentos profissionais, a

educação em saúde, e até mesmo uma postura pedagógica em Serviço, a atualização em

Fármacos, reconhecendo, Drogas e Protocolos de Orientação em Tratamentos Específicos,

novas tecnologias, e ainda mais, a reserva de Saúde Mental, tudo é imprescindível aprender

para utilizar no cotidiano das práticas do exercício profissional de iniciantes no emprego.

Alguns se referem genericamente à aprendizagem das realidades da instituição, das realidades

diferenciais de ser técnico e ser enfermeiro, e das diversidades do gerenciamento do cuidado e

da equipe, em cada setor de trabalho.

Estou aprendendo toxidades das drogas, protocolos de quimioterapia. O enfermeiro é responsável por essa questão de encaminhamentos, prescrição, protocolos, até encaminhar a droga para farmácia, prescreve e apraza os horários, o que supervisiona e que orienta o paciente, os técnicos, para com os cuidados (E.3.).

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Aprendi a dar aulas, a lidar com alunos, aprendi que não podemos deixar para amanhã as coisas que a gente pode conseguir. Surpreendo-me comigo, mesmo sabendo que tenho que melhorar. Me senti útil como enfermeira, a vida é feita de desafios, devemos estar sempre preparados (E.4).

Aprendi a ser mais profissional, ter consenso de falar na hora certa, de ouvir, respeitar o paciente, o próximo, ver o paciente como um todo, tanto na vida profissional como na pessoal. Aprendi a ceder e ver os problemas dos outros (E.5).

Em cada dia se aprende, estar direto com o paciente. Sou chefe agora de uma unidade, é mais a parte burocrática, de que, com o paciente, muito papel, formulário é tudo contigo. Na faculdade não se aprende muito isso, cada hospital, posto de saúde, tem sua norma e rotina, tu tem que se adaptar conforme a instituição (E.12).

Finalmente, uma menção é feita por muitos dos egressos e se refere à identificação dos

Programas de Saúde pertinentes aos Serviços Públicos de Saúde dos quais fazem parte como

enfermeiros. Tal aprendizagem corresponde ao desenvolvimento da integralidade nos Serviços

e a responsabilidade participativa da equipe de enfermagem.

Desempenho agora funções como enfermeira relacionada com as questões burocráticas e político-administrativas, completamente diferente da assistencial; não possuo experiência prévia nesta área. Na faculdade temos uma noção geral dessas questões, não nos dá uma real dimensão e complexidade (E.6).

Atualmente vejo esta parte organizacional, ver a instituição como um todo, o enfermeiro acaba incutindo, sendo responsável por muita gente, tendo que orientar, conduzir situações. É um aprendizado constante pelas dificuldades de organização, de trabalhar com pessoas, cuidar ao mesmo tempo ser responsável por pessoas (no que fazem como profissionais) (E.8).

Mesmo quando os egressos vão trabalhar no exterior referem às novas aprendizagens

pelo cotidiano das realidades em que se inserem.

Referem que a aprendizagem no cotidiano do trabalho inclui um elenco das

aprendizagens de vida para o ser humano, ora na condição de profissional enfermeiro.

Aprendo a cada dia, afinal escolhi um novo país para trabalhar, deparo com uma língua nova, costumes diversos, medicinas avançadas, aparelhos nunca vistos, enfim uma vida nova (E.9).

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Você aprende muito, sempre tem a sensação que ainda falta muito a aprender, porque você nunca sabe tudo (E.10).

Aprende-se a lidar com posições diversas e simultâneas; A trabalhar com setor público

e privado, e ainda, exercer papéis assistenciais e de ensino.

Atuo como enfermeira de pediatria e obstetrícia, saúde da mulher, e me identifiquei bem durante a faculdade com estas áreas. Está sendo uma aprendizagem enorme, estou na parte burocrática, teórico-prática, é um aprendizado paralelo, não tem como explicar, é emocionante, estou atuando onde gosto. Estamos envolvidos com a parte das políticas públicas, que é primordial para entender como funciona o processo do Sistema Único de Saúde (E.11).

Outra nova aprendizagem é de tecnologias específicas em recentes áreas

biotecnológicas como a de transplante e acompanhamento de situações oncológicas e

quimioterápicas ao lado dos seres humanos acometidos dessas necessidades terapêuticas.

Aprendi a realizar a infusão das células tronco periféricas, o transplante com o acompanhamento da equipe médica, aprendi a puncionar Port cath, mas sobre as doenças oncológicas e quimioterapias, o que envolve o serviço, é muito gratificante (E.13).

Em aprendizagens novas no atual emprego, os egressos nos mostram algumas

implicações de nível organizacional e assistencial, porém, relatam a importância da

aprendizagem em humanização na enfermagem. Com diversas práticas assistenciais e

administrativas, por exemplo, licitações, protocolos, encaminhamentos, coordenação da

equipe, orientações e tratamentos inovadores, novas tecnologias, entre outros, nos aproxima

da realidade expressada nos novos serviços, e que o profissional enfermeiro precisa estar

atento a todos os novos progressos de desenvolvimento no campo da saúde e da

empregabilidade.

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7 RESULTADOS

Diante do que se apresenta na análise, um refinamento e novo olhar aos elementos

analisados nos faz ver que emergem categorias temáticas importantes, entre elas, destacam-se

três: 1) Vivendo ambigüidades na transição; 2) Portais valorativos na travessia; e, 3) A

ancoragem no mundo do trabalho.

7.1 Vivendo Ambigüidades na Transição

Os enfermeiros egressos reconhecem uma transição do mundo acadêmico-

universitário ao mundo do trabalho como o início de uma travessia cheia de ambigüidades.

Percebem-se tomados de uma emocionalidade e carregados de um estado latente de confusão,

invadindo-o de sentimentos de caráter ambivalente, com sensações compreendidas como:

perdas-ganhos, alívios-temores, conquistas-frustações, enfim uma bipolaridade reconhecida

como um entrelugar conforto-desconforto, esvaziamento-plenitude. Assim, descrevem

verbalmente as manifestações que marcaram esse tempo de passagem desde o término do

curso ao acesso a empregabilidade. No ritmo entre querer estar empregado como enfermeiro e

o receio de enfrentar a realidade dos Serviços está instalado um quadro em descompasso, o

qual os instiga a profunda reflexão e lhes mostra uma oportunidade fronteiriça de

transformação pessoal como ponte à ultrapassagem de uma ilusão a concretude de ser

enfermeiro na realidade dos Serviços, nunca antes assim experimentadas.

Nessa transição percebem-se solitários e distribuem currículos em profusão, em

diversos campos de empregabilidade como que potencializando as possibilidades de ingresso

no mundo do trabalho. Se antes tinham a presença e compartilhamento de situações a decidir

com seus professores (docente-assistenciais) e não se integravam nas equipes de trabalhadores

locais das Instituições de Saúde, nesta fase de recém-graduado enfermeiro, o esvaziamento

parece consubstanciar-se em várias camadas decisórias. Embora exista, nos últimos períodos

curriculares, estágios que pretendem exercitar a autonomia dos alunos de graduação em

enfermagem, a figura do docente que lhe acompanha é uma companhia que ainda acoberta as

decisões que mais tarde como enfermeiros, vão ter que ser tomadas solitariamente, com a

responsabilidade de exercício de liderança com as equipes de trabalho. Erzinger e Trentini

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(2003) tratando sobre os enfermeiros frente aos desafios no início da carreira profissional

refere o que chamaram de choque inicial com geração de muita angústia e ansiedade levando

o recém-graduado a se afastar do objeto de sua prática (o cuidado) e a sentir-se temeroso ao

trabalho de gerenciamento do cuidado, porquanto entendem de imediato que ficam inseguros

ao pensarem que as equipes que vão liderar são constituídas de profissionais de nível médio,

porém, com mais tempo de experiência naquele Serviço de Saúde, onde ingressam.

Os enfermeiros recém-graduados enfrentam tal situação com duas formas possíveis.

Uma delas, acomodando-se ao meio encontrado e, nesse caso, são capturados pelos Serviços

Institucionalizados, tornando-se adormecidos. Por perceber com imediatez que seus saberes e

competências antes sentidos como fortes, apresentam-se lábeis e lhes faltam sobremodo

habilidade para a imersão no cuidado, o que alegam apressadamente, que o ensino

desenvolvido pelo curso de graduação foi superficial; e que eles adquirem os saberes no

mundo do trabalho. Na verdade, o desvelar da competência adquirida pelo recém-graduado se

faz na interface com o contato com os novos saberes que as desdobram, pelas especificidades

locais, e refinamento do objeto de trabalho do qual vai se apropriando nos Serviços.

Perrenoud (1999) discute a noção de competência e a remete a práticas do cotidiano,

mostrando que as práticas do cotidiano mobilizam saberes do senso comum, saberes de

experiência. Fala da caricaturização da noção de competência quando nela se permite

imaginar que a escola tem que ensinar as maneiras, os “como fazer” seja um formulário, um

roteiro de férias, redações de cartas, cálculos de orçamento, etc. E é Perrenoud (1999) quem

distingue isto como habilidades e não verdadeiras e amplas competências, no entanto, não está

nessa diferença a idéia de que as habilidades do cotidiano se separam das competências, como

se estas últimas fossem atividades nobres. As habilidades certamente são expressas por

atividades concretamente desenvolvidas, no domínio prático de várias tarefas, e elas têm

explicações em saberes pertinentes à competência.

O que os recém-graduados não têm claro, é que não há competências sem saberes e

esses saberes práticos (e novos) nas especificidades do seu novo mundo do trabalho são

saberes tecnológicos que necessariamente evocam os fundamentos intelectivos ou uma ampla

e básica competência. Em Perrenoud (1999) ao citar Le Boterf (1994), a competência permite

desdobrar uma família de tarefas e de situações, procedimentos, métodos, técnicas ou mesmo

outras novas competências, mais específicas. A competência é, segundo esses autores o

próprio “saber-mobilizar”. Neste caso, o curso responsabiliza-se pela competência, o

fundamental, o essencial o amplo, de tal modo, que se mantém como reserva de qualidade;

produz abertura à aprendizagem das famílias de atividades em situações específicas nos

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Serviços de Saúde onde, concretamente, os saberes em especificidades nas situações locais,

entram num circuito para o que a competência se faça a base sólida de um “saber-mobilizar”

ou uma capacidade de mobilizar saberes específicos.

Quem sabe se discutirmos essa competência como esse lastro fundamental, de tal

forma que, os recém-graduados no mundo do trabalho percebam que a sua competência não é

uma aprendizagem superficial ou inútil, mas esse “saber-mobilizador”, das habilidades

tecnológicas situadas nas condições específicas requeridas e particularizadas dos Serviços de

Saúde em que se inserem e agregam novos saberes. Assim refletindo, os cursos não por isso

seriam marcados aos olhos dos egressos como se fossem abordagens superficiais, como visto

em algumas entrevistas e sim, como são, ou seja, abordagens fundamentais a quaisquer outros

possíveis desdobramentos em habilidades específicas.

A competência ancora novas habilidades a serem apreendidas nas práticas assistenciais

talvez entre a consideração do que é fundamental como competência com que se graduou um

enfermeiro e a clareza de que os demais saberes a adquirir passam por ela, necessariamente,

como discriminações de novas aprendizagens/habilidades próprias de cada trabalho do

enfermeiro como eles verdadeiramente são; ao contrário disso, há questões de implicação

epistemológica com as quais temos que lidar para prosseguir construindo na formação do

enfermeiro, incluídas aí, as reflexões sobre os saberes concernentes às especificidades das

habilidades requeridas nas práticas correspondentes à competência fundamental de Cuidar e

Gerenciar o Cuidado da Saúde em sua concretude, no fenômeno humano. O que os recém-

graduados chamam de formação teórica e superficial corresponde ao arcabouço paradigmático

que imprime sentido a sua estruturação de competência, e inicialmente o egresso não

distingue, como uma condição básica à incorporação de novos aprenderes de habilidades,

conforme as especificidades das habilidades requeridas em especificidades no seu novo

emprego.

Pensar em modelo de competência profissional para o enfermeiro e se o modelo é

apropriado ao mundo da educação e do trabalho, é remeter esta discussão a argumentos

encontrados em Deluiz (2006) ao apontar para o debate, a lógica das competências; no

perpasse dessa transição do recém-graduado, ao levar sua competência acadêmica para o

mundo do trabalho o egresso o faz de forma contraditória sim, mas complementar: o mundo

concreto do trabalho traz consigo também, a apropriação pelo capital do saber, do saber-fazer

e do saber-ser dos trabalhadores. Ao discutir essa temática Deluiz (2006) diz que a lógica das

competências na gestão de trabalho, com sua perspectiva individualizante e individualizadora

das relações de trabalho levam o trabalhador, a um só tempo, à retração de seus saberes, aos

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estritos limites e necessidades da empregabilidade e, à ruptura da sua filiação social, posto

que todas as relações que se estabelecem no trabalho se dão entre ele e o empregador “(...)

sem uma mediação sindical ou de qualquer outra representação de organização coletiva. De

fato, também assim se passa na busca do primeiro emprego do enfermeiro. Uma busca

marcada pela individualidade, na ausência de uma agregação e proteção coletiva que funcione

como amparo e, até mesmo, tenha referências organizacionais no campo da empregabilidade.

Neste sentido noticiadas iniciativas articuladas ao ensino que minimizariam essa

ambigüidade dos recém-formados, a exemplo do que trata uma publicação sobre um “Curso

Pré-Emprego” justamente voltados para fazer essa ponte entre a educação/formação e a

empregabilidade, capaz de influenciar a ambos os espaços, como um local que se apresenta

também competente e atualizado para demandar serviços de qualidade técnica e ética. Poderia

assim o equilíbrio restabelecer-se entre as ambigüidades e os movimentos pendulares, que têm

tido lugar junto ao recém-enfermeiros em suas atividades de aprender entre os espaços dos

Serviços de Saúde.

Acrescente-se aqui, ainda a contribuição de Gomes e Oliveira (2004) ao tratar sobre a

formação profissional e mercado de trabalho de enfermeiros e encontrar a transição da

universidade ao mercado de trabalho a partir das representações sociais dos próprios

enfermeiros, como uma vivência difícil e estressante; a universidade como um lugar

distanciado da realidade profissional, e ainda, a possibilidade de tomar a “Residência de

Enfermagem” como um atenuante dessa transição. Quem sabe, poderíamos até entender a

Residência aí tomada como atenuante da transição, como uma compreensão próxima ao que

Deluiz (2006) considera como importante na lógica da competência, ou seja, uma

intermediação que se coloque como uma representação de certa organização coletiva à

negociação do trabalho, à entrada do enfermeiro em seu primeiro emprego. Nem por isso

deixam de ser expressivas as tensões apresentadas na transição entre a saída o curso na

universidade e a entrada no emprego no mundo do trabalho. O que ainda parece

incompreensível para o ex-aluno é que o curso feito não o habilite previamente e plenamente

a toda e qualquer demanda específica de habilidades a serem encontradas conforme o novo

emprego no qual ele venha a ter ingresso.

Não se trata de um mito o distanciamento entre o que ensina a universidade e o que

requer de imediato do enfermeiro, um Serviço de Saúde. Há, de fato um distanciamento

porquanto o recém-graduado leva consigo a cobertura de competência, e esta, não se mostra

voltada a especificidades de saberes demarcados e dirigidos a este ou aquele território no

mundo do trabalho. De posse de sua competência, o graduado em enfermagem, vai

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reconhecer na área de seu primeiro emprego, os novos aprenderes desdobrados em

habilidades específicas ao desenvolvimento de seus saberes no novo mundo do trabalho. De

frente para os saberes de base incrustados na competência construída na universidade, embora

diante da ambigüidade da transição, só lhe resta assumir esta sua competência como a própria

reserva de qualidade, de onde podem ser alimentados os novos aprenderes de habilidades

apropriadas ao cenário do trabalho, como um recurso ampliado que tal competência de base,

já comporta.

A situação de travessia pelo seu significado estressante de vivência de maior

autonomia experimentada pela primeira vez após o término do curso, traz consigo o desafio

do amadurecimento para o uso da competência que está com o recém-graduado. Porém, pelo

caráter de um enfrentamento ainda isolado, solitário diante de um mundo do trabalho exigente

de soluções imediatas diante de reclamos de uma estrutura de Serviço de Saúde mais

tecnificada que humanizada, o novo enfermeiro tende, de início, a interpretar o processo

desafiante no mundo do trabalho como algo desligado da competência adquirida no curso em

que se graduou. Ao lado disso, a ausência de estratégias de conexão entre o ensino no curso e

o trabalho na empregabilidade, corrobora para o isolamento e desconforto na travessia até o

seu primeiro emprego.

Tendem os recém-graduados a enfrentarem esse mundo do trabalho em duas posições

contraditórias mas complementares em compassos diferentes: primeiro, vêem os “vícios”,

como denominam os hábitos cotidianos tecnicista e, a eles buscam se acomodar, até

descobrirem o seu verdadeiro lugar do saber na equipe de enfermagem; segundo, enfrentam

com humildade o caminho da nova aprendizagem de habilidades técnicas específicas daquele

Serviço e se propõem a um esforço de construir estratégias de aproximação de sua equipe,

diferenciando-se nas suas contribuições de liderança, pelas propostas criativas que consegue

arquitetar por sua intensa observação, estudos complementares em leituras, planos de

gerenciamento do cuidado, até ir se firmando e, descobrindo que vai cedendo a emoção

estressante e viabilizando sua própria competência, aquela que dela não saiu e veio construída

desde sua formação universitária. Esta é a “transcendência às limitações oriundas do sistema

de tensões” como citado por Rodrigues et al. (2003) ao tratar da auto-imagem do estudante

relacionada à profissão de Enfermeiro.

Descobre que é dessa competência que precisa e a ela recorre com o tempo,

reconhecendo nela, o seu recurso fundamental. A esta época, passados em média 30 dias de

contínuo e intenso interesse no mundo do trabalho em um único emprego, percebe-se o

enfermeiro em sua real competência e sabe que ela não é tudo, é preciso continuar aberto a

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novos e específicos aprenderes. Nesta pesquisa, esta hora está marcada como aquela em que o

novo enfermeiro decide a sua Educação Continuada e busca planejar seus estudos pós-

graduados formais e, além disso, alguns buscam preparo em línguas e outras complementares

culturais.

Pensamentos dúbios, ações em iniciativas pendulares (ao firme e ao frágil) foram

balanceados aos poucos na trajetória dos recém-graduados até chegarem a seus novos e

respectivos mundos do trabalho. Alguns poucos se ressentiram de modo especial desta etapa

inicial da caminhada e de toda a turma, dois deles, conscientemente desistiram no primeiro

emprego e mudaram da atividade profissional. Referem desejar voltar à profissão, enaltecem a

escolha acadêmico-profissional de enfermeiros, porém, encontraram outro emprego fora da

profissão que lhes fez aceitar, temporariamente, como mais confortável ou menos

desconfortável, naquele momento da decisão. Isto inclui aderir ao que discutem Secaf e

Rodrigues (2001) ao tratarem sobre os “porquês” dos enfermeiros que deixaram de exercer a

enfermagem e com estas mesmas autoras, reconhecer que a evasão do enfermeiro para outra

atividade profissional não está baseada em um só ponto crítico ou situacional. Há, segundo

essas articulistas, um conjunto de circunstâncias, desde o estritamente pessoal, passando pelos

meandros de sua formação, da estrutura social do próprio sistema de saúde atual e, chegando

até aos aspectos políticos. Também estas autoras tratam que, conforme o momento do

desligamento, a reação do enfermeiro vai ser influenciada pela fase de inserção profissional

em que se encontrava.

É na lógica das competências no mundo do trabalho que estão implicadas muitas das

vivências ambíguas e decisões pendulares dos trabalhadores. Se a competência, por um lado,

aponta a valorização do trabalho em caráter menos prescritivo e mais intelectualizado e

mobilizador de outros saberes (e competências para além da dimensão técnica), mais

qualificação do trabalhador; ela também ressalta os saberes em ação, aqueles da inteligência

prática dos trabalhadores, uma maior polivalência, a aptidão generalista que lhe permite lidar

com diferentes processos e equipamentos, assumir diferentes funções e tornar-se

multiqualificado a construir competências coletivas no trabalho em equipe, maior e adequada

comunicação, participação e autonomia para o planejamento, execução e controle dos

processos produtivos no trabalho. Contudo, nos alerta Deluiz (2006) a real autonomia, a

decisão, a participação, a subjetividade e intersubjetividade no trabalho, não estão dadas no

modelo, pelas competências, elas estarão condicionadas pelas relações de força e poder entre

o capital (estratégias de gerenciamento e controle de mão-de-obra e extração de mais-valia) e

o trabalho. A forma, na lógica das competências, vai se implantar nos espaços de trabalho e

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dependerá da capacidade de os trabalhadores organizarem-se e mobilizarem-se de modo a

instituir mecanismos que assegurem a materialização de seus interesses.

Assim, a leitura, nesta discussão, faz ver que a visão individual dessa transição do

egresso enfermeiro, de modo solitário, sem intermediação de estratégias de organização

coletiva para a sua chegada no mundo do trabalho – primeiro emprego, correspondem a uma

fragilidade para a imagem e a identidade não mais de um ou outro enfermeiro, porém da

profissão e remonta ao comprometimento das instituições formadoras das competências

essenciais com os aprenderes posteriores no mundo do trabalho.

7.2 Portais Valorativos na Travessia

Um segundo andamento na travessia inclui a iniciativa do recém-graduado estabelecer

critérios de adequabilidade para sua chegada a um primeiro emprego. São basicamente dois:

um deles diz respeito à instituição; e outro, diz respeito a si mesmo. Estabelecem para a

qualificação um limite ético e acercam-se das informações sobre a situação do local do

emprego, de modo a conferir a proposta de trabalho que se oferece com as bases legais e

éticas de desempenho como instituição prestadora de serviços à comunidade. A visão crítica

do recém-graduado tem este aceno de caráter ético na travessia ao emprego. A conduta para

dizer sim ou não, diante de propostas ou de vagas no campo da empregabilidade está colocada

como um marco ético no âmbito de sua competência.

Em Chalita (2003) encontra-se que o aprender a aprender é um desafio enorme, pois,

corresponde a decisão de formar seres aptos a se governar. O que se mostra no recém-

graduado como regra ética adotada para si, a exemplo dele próprio verificar as condições da

instituição antes de adotá-la como possível primeiro emprego, é uma sinalização de sua

autogovernabilidade profissional. Como a ética é o fundamento de qualquer abordagem de

humanização, reconhecido pelo recém-graduado o preceito de compatibilidade ética da

instituição com os seus princípios profissionais, também aí esta a humanização se fazendo

proposta pessoal e decisiva, entre os egressos. Vale lembrar que “(...) o enfermeiro/educador

olha uma nova proposta como união da ciência, da ética, da política e da estética,

privilegiando o cuidado humanizado, conforme Leopardi (1994) e, em Bezerra et al. (2005)

há argumentos do enfermeiro como um educador que participa ativamente da promoção de

mudanças no âmbito institucional. Aqui se discute, que o próprio critério seletivo que adota o

recém-graduado ao observar se a instituição estaria situada no campo ético, já significa um

estágio inicial de compromisso importante por parte destes egressos, ao tempo em que se

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torna uma marca da chegada de sua autoconfiança, atenuando possivelmente os desconfortos

da ambigüidade vivenciada na travessia ao primeiro emprego. Por seu turno, o recém-

graduado que ambiguamente sentia-se vencedor pelo término do curso e fragilizado em seu

enfrentamento ao novo emprego, inaugura a sua autopercepção de inacabado em seus saberes

e pleno de possibilidades de mobilização do saber-fazer no mundo do trabalho.

A consciência do inacabamento, tal como discutido pelo referencial de Freire (1996),

tem especificidade de debate com Backes et al (2002) em reflexões teóricas sobre educação

continuada de alunos egressos, face à indagação de ser este mais um compromisso da

universidade. No Brasil, não se pode dizer que há uma cultura institucional a esse respeito, de

modo que os egressos dos cursos percebem-se desprovidos deste tipo de apoio e recorrem a si

mesmos e buscam, como recursos, o esforço adicional de inserção em um Curso de

Especialização como que a amenizar sua percepção de inacabamento e, extensivamente, a

aquisição inicial de uma demarcação à sua pessoal proposta de Educação Continuada. É desde

a universidade que “(...) o egresso encontra terreno fértil para desenvolver e aprimorar valores

relacionados à sua vida profissional e pessoal” (BACKES et al., 2002). Em verdade esses

valores refletem a consciência crítica e o papel na sociedade, como cidadãos, tal como os

egressos, em geral, têm feito hoje. Embora a legislatura no âmbito do Poder Público (Lei nº

9.394/1996) exista, esta prática ainda não está regulamentada nas instâncias suficientes.

Por outro lado, a universidade, ao perder o contato com o egresso do seu curso, limita

seu conhecimento no que se refere ao mercado de trabalho em que o egresso está inserido,

impossibilitando assim, o desenvolvimento de uma produção de conhecimento mais coerente

com a realidade que o aluno encontra nos Serviços, após a conclusão do curso. Este aspecto é

carência dos cursos, e indica uma certa distância da operacionalidade de sua oferta, à base de

uma filosofia humanística que auxilie o egresso a refletir seus próprios valores e sua

instrumentalização para buscar uma práxis crítica e transformadora.

Também a ausência de apoio continuado, após o curso, enfraquece o vínculo do

egresso com o curso, desfavorecendo a Educação Continuada, como um dos meios mais

esperados para a universidade cumprir seu papel ampliado junto à sociedade. Conciliar

humanização e tecnologia da educação, pode incluir essa vinculação dos cursos com seus

respectivos egressos e, por esta medida, as universidades podem desenvolver a ressignificação

do humano, em propostas que reaproximam os Serviços de Saúde, onde estão seus egressos

empregados e além do que os cursos se apropriam da realidade desses serviços e das situações

da sua realidade organizacional.

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A inserção de egressos de um curso de graduação em enfermagem no mercado de

trabalho foi vista por Sanna e Santos (2003) na qualidade de “rápida aceitação”, e

recomendou cautela e seguimento do estudo de acompanhamento. Neste aspecto, situação

semelhante ocorre nesta pesquisa, quanto ao número de anos de funcionamento do curso a que

se refere esta discussão. Também este tem apenas seis anos de funcionamento e uma situação

de boa receptividade no campo da empregabilidade.

Quanto ao número de empregos ocupado por cada um dos egressos é de 1:1,

entretanto, trabalham cumulativamente como técnicos de enfermagem, condição que já

exerciam durante o tempo em que estudavam na universidade, alegando que no emprego de

técnico de enfermagem já contam com estabilidade e reconhecimento de seu trabalho, fizeram

para isto, concurso ou processo seletivo para Órgãos do Serviço Público e já têm algum tempo

de serviço; enquanto que o emprego de enfermeiro, em sua maioria, entre os técnicos vem

sendo exercido em caráter provisório, contratos precários ou por tempo determinado, ou

mesmo por indicação para a função, o que altera conforme atuais mudanças políticas nas

instituições.

A partir da perspectiva do conhecimento construído compartilhadamente com os

estudantes de enfermagem, Dutra e Medeiros (2003) realçam a sustentação de uma política

pedagógica humanística e geradora de competências vinculadas a pressupostos

epistemológicos que se oponham ao paradigma mecanicista já que este provoca uma ruptura

da práxis do cuidado e adota o pensamento cartesiano, um comportamento verticalizado e um

distanciamento das práticas humanizadas. A proposta de discussão destas autoras se dá pela

busca de dissolução do fechamento epistêmico e existencial, inventariados na evolução do

cuidar como atitude e como unidade de aprendizagem. Assome-se a isto, a mais recente

polêmica de que os profissionais de saúde trabalham o cuidado e não, como muitos

pressupõem, a cura. Deste modo visto, as competências desenvolvidas pela aprendizagem,

quando centradas no núcleo do cuidar, estariam permitindo que o egresso do curso de

enfermagem, ao enfrentar o primeiro emprego como enfermeiro, tivessem suporte

epistemológico para olhar os desafios das oscilações entre o “ser enfermeiro e a realidade”,

presos ao cuidar como atitude de encontro da humanização.

Assim, as atividades de gerenciar, de educar, de assistir, e mais presentemente, de

pesquisar, teriam como base os aspectos epistemológicos da aprendizagem contínua e da

prática do cuidar como atitude fundamental de humanização. Esta competência concentrada,

vitalizaria o egresso na transição ao mundo do trabalho do enfermeiro, este significado de

humanização, superaria e transgrediria as práticas tradicionais, ora buscando o conhecimento

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numa perspectiva epistêmica diferenciada e a convicção de que a aprendizagem é processual e

visualizada singularmente. Isto anuncia outra postura relacional dos novos enfermeiros

desprovidos então do caráter dogmático do saber tecnicista e, distanciados da dimensão

humana do cuidado, tanto para quem cuida como para quem está sendo alvo do cuidado.

Diferente disso, o egresso fica oscilante quanto a suas bases de competência e, mesmo

dentre tantos portais valorativos já apreendidos, constroem certa ansiedade na transição, o que

o faz perceber-se num vazio de conhecimento ao se deparar com a estrutura do Serviço em

sua aparência tecnicista, assentada na quantidade de produção de procedimentos executados.

Ao invés de fazer esta leitura da situação como um desafio do conhecimento, de modo geral,

num primeiro instante, supõe que foi superficial e frágil sua formação no curso. Nesse

instante, arrisca-se a adotar as mesmas posições encontradas de valorização objetal dos

procedimentos ao invés de relativizá-los e, inserir a subjetividade e intersubjetividade como o

valor de equilíbrio ao conhecimento desdobrado em humanização.

Esta crise lhe faz recorrer, simultaneamente ao novo trabalho e a algumas fontes

informais de amparo, tais como ex-professores, colegas enfermeiros mais antigos, para re-

orientação pessoal ainda em caráter afetivo. Refaz-se, nessas conversações, e atenuam a

ansiedade. De modo geral, buscam cursos ou estudos complementares à sua formação durante

estes tempos de transição, quando já inicialmente situados como enfermeiros nos Serviços de

Saúde. Os valores de aprendizagem ficam mais aguçados nesta ocasião; é como se tais cursos

pudessem lhes dar respostas aos impactos do encontro com o mundo do trabalho. De fato,

procuram cursos de especialização numa primeira instância. Fortalecem-se nas discussões

com colegas e professores nesses cursos, buscam suas próprias respostas e, começam a

problematizar as situações encontradas com outra ótica. Conseguem confiança e se

instrumentalizam, gradativamente, na composição de seus apropriados portais valorativos.

São aberturas à sua própria determinação a partir de mobilização de valores ético-sociais com

duas vertentes: uma de critérios de compatibilidade entre a proposta de atuação da instituição

empregadora e a sua própria proposta de trabalho; outra, diante do impacto da realidade do

mundo do trabalho, a mobilização de recursos para superar e transformar qualitativamente a

sua atuação como enfermeiro. Assim, se utiliza das relações éticas com colegas mais

experientes, ex-professores, e buscam logo o caminho de uma especialização, um curso onde

se assegura das respostas que construirá como enfermeiro. São valores de eleição do recém-

graduado no trabalho, a compatibilidade primeiramente ética com o Serviço em que vai

trabalhar; e ao lado da sua decisão no mundo da empregabilidade, a mobilização de seu

recurso para entrada em uma especialização que lhe confira um apoio, como recém-graduado.

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Com este portal de valores, mobilizam-se à custa de esforços individuais, o que suscita

uma discussão a respeito desse espaço à iniciativa de ofertas de cursos de especialização

destinados a recém-graduados em inserção nos campos de emprego. A realidade mostra que a

procura do egresso por fontes de apoio em sua iniciação no mundo do trabalho e, por si só,

um argumento em favor de ofertas desses tipos de curso, a serem propostos por parcerias de

universidades com alguns Serviços de Saúde, constituindo um campo pedagógico nos

Serviços, cuja qualidade de abordagem procurasse indagar e problematizar as situações

impactantes do recém-egresso ao enfrentar os desafios do primeiro emprego.

Fique claro que esta argumentação não considera que a oferta desses cursos seja

finalística como reforço ao curso em suas supostas fragilidades, mas, aqui se discute uma

oferta de especialização focalizada no encorajamento do recém-graduado para lidar com o

desdobramento pedagógico da competência adquirida como egresso do curso. O

fortalecimento de metodologias que abram horizontes de seu enfrentamento diante das

singularidades e especificidades desse primeiro Serviço em que tem atuação profissional. Será

que as relações entre o curso e as situações de prática desses profissionais recém-graduados se

encaminhariam para o enriquecimento dos recém-graduados em seus agires e também para o

entrelaçamento de questões pedagógicas nos Serviços e nos próprios cursos ofertados? Ao que

indica a procura individualizada apontada nos dados desta pesquisa, há uma demanda nos

recém-graduados desta turma, equivalente a cerca de 70% de busca espontânea em

aconselhamentos e inscrição em cursos de especialização. Vale considerar pelas entrevistas

que esses recursos foram muito úteis a sua melhor definição profissional no campo da

empregabilidade. São valores que reconhecem como importantes nos portais de acesso ao

mundo do trabalho como enfermeiros recém-graduados. São portais valorativos à travessia

quando se é profissional recém-graduado enfermeiro num primeiro emprego.

7.3 A ancoragem no Mundo do Trabalho

Quando o egresso se insere no emprego e considera sua inserção como um ato de

coragem ele está reconhecendo que nesse enfrentamento do mundo do trabalho vai consigo a

intrepidez de mudar-se a si mesmo. Gomes e Oliveira (2004) falam sobre a difícil e

estressante transição e as representações sociais de enfermeiros á formação profissional e

mercado de trabalho. Por mais que suas atividades assistenciais curriculares tivessem a

intenção de familiarizá-los com os Serviços de Saúde, tudo era diferente porque entravam em

cena como estudantes, também acompanhados de seus professores e até, com uma atividade

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integral com pouquíssimos pacientes para cada aluno. Na diferença de olhar as atividades de

estudante (como aprendizagem) e voltar a olhar os Serviços como trabalho profissional, vai aí

uma grande distância. Colocar os pés fincados no trabalho, perceber-se trabalhador e ainda,

responsabilizar-se por liderar os demais trabalhadores da equipe de enfermagem, é até um

outro papel, outra cena, e até, o cenário passa a ser outro. Ir ao Serviço de Saúde não mais

para buscar o aprendizado, porem, além disso, ir para deixar algo marcado pela finalidade do

seu trabalho.

O impacto da inserção no primeiro emprego fica por conta das perplexidades diante

das condições de trabalho da equipe de enfermagem e da ausência de uma humanização pela

realidade das relações entre profissionais e usuários. A insuficiência de profissionais para o

cuidado se agrava nos hábitos dentre os poucos existentes de agruparem-se em torno de seus

assuntos particulares, desconcentrados do cuidado, o que provocava um desafio ao recém-

enfermeiro, pois, teria que encontrar maneiras de reaver o conceito e a prática da

humanização na ambivalência, Augras (1993) ao tratar do “transcender as limitações oriundas

do sistema de tensões”. Percebia-se em inserção no trabalho em que, como egresso do curso,

em seu primeiro emprego, era o menos experiente, ao lado de uma equipe já entrosada com as

rotinas e até viciada em situações adversas repetitivas.

Se por parte dos proponentes do trabalho, os novos enfermeiros foram bem recebidos,

a empreitada de atividade provocava vivências emocionais fortes por ter que assumir toda

aquela equipe e encontrar as modalidades de abordagem que harmonizassem o ambiente e

possibilitassem a humanização, a partir da qualidade das relações entre os envolvidos do

trabalho. Este era um primeiro problema diante da ancoragem no mundo do trabalho. Ao

tempo em que era um grande desafio, também era uma questão que os mobilizava a iniciar

com a priorização de iniciativas a uma resposta “com os pés no chão” nas realidades do novo

trabalho. Perguntavam-se se estariam preparados para tal(?) esta tônica da humanização na

proposta curricular por certo é definitória para a entrada do recém-graduado em qualquer

campo de prática no mundo do trabalho. Assim, as atividades assistenciais nos últimos

semestres, quando a autonomia dos alunos formandos é de maior suficiência, adequam-se à

proposta de humanização sob todos os ângulos nos Serviços de Saúde. As etapas de

organização e gerenciamento poderão vitalizar a humanização nos Serviços, uma vez que

neste conceito operacionalizado em práticas de enfermagem, cresce a competência do recém-

graduado, porquanto estas questões éticas estão presentes no cotidiano e definem qualidade no

trabalho de enfermagem.

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Uma atenção especial merece a situação daqueles que já se inseriram no mundo do

trabalho como técnicos, antes mesmo de cursarem a graduação. As orientações não só de

ordem ético-legais, porém uma específica abordagem ao seu futuro exercício profissional,

torna-se imperativa. É que muitos desses técnicos requerem o esforço de ajustes pessoais e

profissionais à nova função que exercerá, no mesmo ambiente de trabalho ou em outro local

onde vá exercer como recém-graduado. Há uma diferença substancial nas formas de

apropriação dos saberes do ensino de graduação, para quem já é inserido no mundo do

trabalho de enfermagem, e para quem ainda não é. O crédito nas mudanças se torna

influenciado por experiências, por vezes, negativas e há riscos de desmotivação às

possibilidades de investimento de propostas transformadoras. A familiaridade de trabalho em

ambiências de desumanização relativizam o potencial do técnico que estudou e se tornou

recém-graduado enfermeiro, e este pode banalizar as cenas e cenários adversos ao cuidado de

enfermagem qualificado tecnicamente pelo adicional de mais humanização (LEOPARDI,

1994).

Há riscos também de acomodação às situações do seu cotidiano de trabalho

experienciado como técnico de enfermagem e, procuram atenuar a pujança de propor

mudanças como enfermeiro. Trazer esta questão é instigar os cursos a atentarem para esta

possibilidade e encontrarem abordagens específicas a alunos que se mostrem nesta situação.

Chama a atenção o percentual de alunos de enfermagem, pelo menos nos cursos da área

privada, que já são profissionais técnicos de enfermagem, portanto, submetidos à

possibilidade do comportamento reativo em discussão. Esta é uma ancoragem que pode ser

perigosa, uma vez que ela pode comprometer a qualidade da formação, além dos prejuízos de

facilitação de uma reprodução, e não, transformação a ser gerada nos Serviços de Saúde,

quando se formam novos enfermeiros (DELUIZ, 2006).

Uma abordagem pedagógica que considerasse essa realidade de procedência e saberes

já incorporados por alunos de graduação em Enfermagem já profissionalizados como técnicos

nas equipes de trabalho nos Serviços de Saúde, significaria mais um componente de qualidade

a ser objeto de interesse nas dinâmicas de ensino-aprendizagem na formação de enfermeiros.

Como não se trata de regra geral e não há um estudo específico sobre o assunto, há de

se supor que alguns já técnicos ultrapassam este limite e até transformam, desde o curso, este

limite em mais possibilidade. Contudo, o que ora se discute é que a presença do técnico de

enfermagem como aluno de graduação, por si só, abre oportunidade para um

acompanhamento pedagógico desafiante e diferente, no ensino de formação em enfermeiro.

Minimamente, reconheceríamos no projeto pedagógico, uma diferença por considerar os

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saberes técnicos já adquiridos pelo aluno no ensino médio, e neles, fazer acuradamente as

pontes com o ensino de graduação. Seria este um olhar apropriado para uma ancoragem mais

firme em suas bases qualificativas? Argumentamos que sim, quando egressos confirmam que

o amadurecimento com relativa segurança no campo de trabalho, advém da recusa à

acomodação exclusiva ao instituído e que lidar com o instituinte requer os saberes

atualizados, atitude de estudo contínuo e interesse em qualificação do conhecimento centrado

no cuidar.

As novas aprendizagens correspondem ao desdobramento de competência, a depender

das especificidades dos locais de trabalho. Percebe-se que são diferentes habilidades com os

saberes tecnológicos, segundo a atividade principal de ordem clínica no seu setor de trabalho;

portanto, os enfermeiros aprendem tecnologias do tipo leve-duras (MERHY et al., 1997). Por

isso, não há aprendizagem desse tipo, que seja comum a todos os recém-graduados. No

entanto, todos os recém-graduados entendem que aprendem em quaisquer dos locais de

trabalho, a busca de mais humanização, sistematização do processo de trabalho, e diferenciam

o trabalho do Serviço de Saúde (o público, do privado).

Ressaltam as tipificações do gerenciamento em Serviços de Saúde e ampliam

necessariamente a aprendizagem do curso de graduação quando, aprendem a negociar,

fazendo articulações administrativas entre a enfermagem e outras esferas mais centrais de

gestão dentro e fora do Serviço (níveis de secretaria, por exemplo). A ancoragem não se dá,

caso as habilidades de aprender relativas a gerenciamento do cuidado, alternativas de

abordagem humanizada do cuidado e sistematização do cuidado, sejam secundarizadas. Esta

discussão requer do ensino uma atenção rigorosa com estes aspectos da competência durante a

formação do enfermeiro. Nesta pesquisa os dados trazidos pelos próprios recém-graduados

nos Serviços de Saúde, contribuem para alguns pontos fortes a serem compreendidos como

tal, cada vez mais, nos projetos pedagógicos e nas dinâmicas em atividades assistenciais

(ERZINGER e TRENTINI, 2003).

Há requerimento de postura pedagógica no interior das práticas de enfermagem.

Percebe-se que o egresso reconhece essa necessidade, porém, a nomeia e considera que seus

recursos são mínimos, neste sentido. Nesta interpretação partem para buscar onde tenham

chance de atualizar-se e a maioria resolve buscar o mais acessível, quase todos fazem ainda no

início da ancoragem, a busca da especialização. Mesmo apenas dois, deste estudo, que ainda

não fizerem especialização, estão em busca de procurá-la, e após, continuarem em pós-

graduação stricto sensu. Aqui recolhe-se a informação e uma certa confirmação de que os

recém-graduados são críticos e requerem de si mesmos, mais condições de qualificação, até

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porque têm criado a consciência de concorrer nos processos seletivos com melhor titulação

como uma exigência que o mercado de trabalho, está refinando. As universidades podem

discutir quando o recém-graduado precisa de pós-graduação, porém, eles próprios entendem

que quanto mais cedo, melhor, ou seja, tão logo terminem a graduação. A questão da

experiência como requisito continua sustentada pelas organizações de enfermagem, a não ser

em casos extraordinários. Entretanto, o grau de especialização parece estar dia-após-dia,

aproximando-se da graduação e até, como fronteira entre a graduação e os serviços de saúde –

ocupando um lugar estratégico da busca de saberes, cobrindo à necessidade de recém-

graduados e servindo de ponte à melhoria dos desempenhos nas práticas de enfermagem

desses recém-enfermeiros. Não é por outra razão a equivalência das Residências de

Enfermagem com este nível de formação. Alguns trabalhos de pesquisa mostram que há um

fosso entre a situação de egresso e a sedimentação do seu trabalho no mundo da

empregabilidade e que, a Residência sob forma de Especialização, tem sido a oportunidade,

não só de gerar mais empregos como familiarizar o recém-graduado com as instituições em

suas práticas cotidianas. Os argumentos em questão inspiram a necessidade de maior número

de Residências sob a forma de Especialização as quais envolvam a parceria entre

Universidades e Serviços de Saúde, ampliando o campo da empregabilidade em enfermagem.

Em outras palavras, a especialização favorece o desdobramento da competência do recém-

enfermeiro em especificidades e com isto, traz favorabilidade a qualificada ancoragem do

recém-graduado nos Serviços de Saúde, com liderança diferenciada das equipes de

enfermagem.

Bem pensado, inexiste uma articulação entre graduação e pós-graduação, algo que

evidenciasse o valor das pontes necessárias, como tratam Carvalho e Castro (2006).

Esta já seria uma medida de incentivo à qualificação, pois, algo em comum os

articularia desde a graduação, a exemplo de Filosofia e Marcos Conceituais, ou ainda

articulação pela Pesquisa, ou melhor ainda, pelas atividades assistenciais, integrando as

equipes de trabalho.

A competência e as respectivas, habilidades não são dadas, são buscadas

continuamente, porém, quase sempre, a custa de atitudes individualizadas e, não como um

compromisso da educação em articulação com os serviços em busca de mais qualificação no

gerenciamento e cuidados à saúde humana.

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8 CONCLUSÃO EM PROVISORIEDADE

8.1 A Chegada a um Lugar Constituído pela Pesquisa

A presente pesquisa procurou analisar a fase de transição do egresso do Curso de

Enfermagem da UNIVALI – CE Biguaçu ao mundo da empregabilidade. Para tanto,

circunscreveu o estudo à turma pioneira de formação em enfermeiros, correspondente ao ano

2003-2. Eram formados 16 profissionais, todos foram localizados e com aceite de participação

no estudo, previamente contatado. Por se tratar de uma transição ao emprego de enfermagem,

duas pessoas, que no momento trabalham fora da profissão, deixaram de ser incluídas. Mais

duas, uma por motivos de incompatibilidade de horário e saúde do filho para agendar as

entrevistas, declinou da participação; e outra, por motivos de falha técnica durante a gravação

fomos obrigados a fazer a retirada da amostra. Finalmente, 12 egressos foram incluídos como

parte desta pesquisa.

Buscamos contribuir para a teorização no campo da competência desenvolvido na

formação e requerido no âmbito da empregabilidade. Para referência dessa busca estivemos

com o olhar voltado à realidade e tomamos como marco teórico o que Perrenoud vem

trazendo de influência à própria concepção de competência compreendida em sua

manifestação (em ação); ela não é inventada no momento da ação. O momento da ação, no

campo da empregabilidade, requer as bases competentes essenciais, fundamentais; estas sim

são fontes de “recursos-a-mobilizar” para que novos “saberes-fazeres” sejam acionados e

venham estar presentes nas novas aprendizagens de habilidades nas práticas requeridas dos

egressos do curso de enfermagem, no seu trabalho – qualquer que seja o ambiente de

enfermagem do seu primeiro emprego.

Assim entendida, a competência do egresso é a base sólida de um saber em

construção, manifesto em habilidades que são aprendidas, justamente porque a competência

tinha sido desenvolvida, por isso, exercitada em práticas reflexivas, críticas e comprometidas

pela responsabilidade do recém-graduado. Como nem toda competência, nem todo saber é

plenamente desenvolvido nos cursos, estes precisam priorizar alguns saberes e competências,

como fundamentais. Perrenoud (1999) exemplifica, para um guia turístico, conhecimentos de

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história; para um laboratorista, conhecimentos bioquímicos, e assim por diante. Para os

enfermeiros, esta pesquisa mostra que a priorização é o gerenciamento do cuidar. Erzinger e

Trentini (2003) expõem em resultados e discussão de pesquisa que o foco prioritário de

trabalho dos egressos de curso, recém-graduados é o gerenciamento do cuidado e o próprio

cuidar. Para chegar a esta competência os cursos de graduação em enfermagem precisam

redimensionar, alargar as bases filosóficas e matemáticas, as línguas escrita e falada, e a

logicidade a fim de que estes fundamentos da competência tornem os egressos destes cursos

mais próximos da mobilização de saberes com criticidade, nas situações de seus primeiros

empregos, na atualidade.

Neste estudo, as aprendizagens novas, derivadas do mobilizar-saberes vinham da

imprescindibilidade de um fundamento filosófico, orientação paradigmática, com alto

significado, como lastro da competência. Se assim foi manifesta a nova aprendizagem de

humanização no gerenciamento do cuidar em enfermagem, este “mobilizar-saberes” entrava

em movimento, quando o recém-graduado se apropriava de sua competência como egresso do

curso e a partir desta competência como matriz definidora, construía as especificidades dos

novos-saberes, manifestos então como habilidades apropriadas a cada um, respectivamente,

no seu mundo do trabalho.

As expressões durante as entrevistas com os egressos traziam a manifestação do viver

a tensão inicial para aprender as novas aprendizagens (pressupõe superficial e inconsistente

seu aprendizado como enfermeiro) ficam expectantes diante do desafio do novo, percebendo-

se inicialmente desolados, impotentes; refletem sobre suas histórias de conhecimento em

construção em suas vidas. Fazem rememorações de aulas, leituras, estudos, professores,

recorrem a suas anotações e procuram cursos pós-graduados, no sentido amplo. Nesta etapa,

contatam e consultam outros profissionais de maior experiência e com ex-professores e

colegas, e assim, chegam às primeiras descobertas de que sua competência está ali, e ao

mobilizar-saberes, estes requerem os fundamentos que a representam. Na verdade, conclui-se

que o recém-graduado, egresso do curso de enfermagem, tem sua decisiva aprendizagem

quando mobiliza-saberes apropriados às específicas habilidades requeridas do novo trabalho,

reconhecendo sua competência como matriz-definidora das demais aprendizagens novas,

continuamente em construção.

Acercar-se da educação continuada e permanente, é uma disposição autêntica que

chega, impulsionada primeiramente pela necessidade e passa a uma consciência do

desenvolvimento profissional e até um prazer para a maioria dos egressos. A oferta de cursos

de especialização dirigida ao recém-graduado em enfermagem está requerida como uma

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responsabilidade em parceria, tanto dos cursos das universidades, ou seja, mundo da

educação/formação, como dos Serviços de Saúde como o mundo da empregabilidade.

Conclui-se da importância de tais cursos a serem ofertados até mesmo sob a forma de

residência ou modalidades menos intensivas, porém, aproximando educação-serviço pela

possibilidade de um lugar pedagógico comum a ambos os setores e, preferencialmente, com

séde no Serviço de Saúde. Um curso voltado ao refôrço da competência de gerenciar e cuidar

em saúde humana, o qual, em suas práticas, discuta e exercite os recém-graduados a

“mobilizar-saberes” pertinentes às habilidades requeridas no cotidiano do trabalho do recém-

enfermeiro.

Quanto a identificar percepções e sentimentos dos egressos de enfermagem no período

compreendido entre o final do curso e o primeiro emprego, a presença de dubiedades, de

movimentos pendulares, compõem uma carga emocional de alta complexidade na travessia.

Possivelmente, essa situação seria amenizada face à existência de recursos disponíveis de

apoio do egresso do curso de enfermagem. A trajetória tortuosa, ainda que vencendo, pode ser

mais amena, mais confortável e mais apoiada pelos cursos em parceria com os Serviços. O

agravante que tem sido alegado, é que o egresso faz o curso em mais de dois terços voltados

ao cuidar direto de alguns poucos usuários de cada vez, além de serem estudantes diretamente

supervisionados por docentes-enfermeiros e desembocam, quase sempre, como graduados

enfermeiros, para liderar a equipe de enfermagem e gerenciar o cuidado, como exigência

regular do campo da empregabilidade. Isto significa que temos posse do que se passa na

realidade da maioria das ofertas dos empregos e que esta, precisa ser também objeto de

tonificação dos Projetos Pedagógicos voltados à formação do enfermeiro.

Contudo, a maior contribuição à teorização no campo de competências na formação do

enfermeiro se mostra na própria concepção de que a competência se mostra em ação no

campo da empregabilidade, pois é quando o recém-graduado “mobiliza-saberes” específicos e

apropriados aos Serviços de Saúde, assim construindo habilidades, a partir dela.

As qualidades reforçadas pelo conhecimento no perfil do recém-graduado durante a

formação, o acompanham e são as referências profissionais a “mobilizar-saberes” como

habilidades requeridas e construídas pelo novo enfermeiro em sua ancoragem no mundo do

trabalho em que se encontra.

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APÊNDICES

Apêndice 1 – Roteiro de entrevista semi-estruturada

ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

1. Antes de você se formar, qual a sensação de sua condição de formando. Percebendo-se na

condição de formando, que sensações e experiências você pode destacar.

2. Expectativas e sentimentos no período de transição da universidade para o mundo do

trabalho de enfermagem.

3. Pensamentos e ações (desafios e superações) presentes na sua busca ao mundo do

trabalho.

4. Tentativas, avanços e recuos na superação desta fase transicional.

5. Critérios de escolha e adequação para alcance de trabalho almejado. Evocação das

competências do projeto pedagógico.

6. Cursos ou estudos complementares à sua formação no período de transição da academia

ao mundo do trabalho.

7. Inserção no primeiro emprego e Função no Sistema de Saúde.

8. Implicações de natureza do conhecimento face ao novo emprego.

9. Aprendizagens novas no exercício da atual função.

10. Situações expressivas na atuação cotidiana da função que exerce, face ao aprender a:

a. Ser

b. Conviver

c. Conhecer

d. Fazer

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Apêndice 2 – Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE ESCLARECIMENTO

Você está sendo convidado à participar de um estudo que se refere ao período vivido entre o

final da formação em enfermagem e seu primeiro emprego no mercado de trabalho.

O objetivo deste estudo é analisar criticamente pela descrição da vivência dos recém-

profissionais, as implicações emocionais, sociais, culturais do referido período na vida após sua

formação em enfermagem.

O procedimento de coleta de dados contará com sua participação no fornecimento de suas

próprias informações, na condição de entrevistado.

Você não terá direito a qualquer retribuição financeira correspondente a sua participação, nem

terá qualquer despesa para participar desta pesquisa.

Por sua vez, poderá obter informações da pesquisa a qualquer hora em que a deseje e, poderá

desistir da sua participação, sem que isto acarrete qualquer dificuldade ou desconforto entre os

pesquisadores e você.

Os resultados desta pesquisa deverão ser difundidos, porém, sob a tutela do anonimato e

confidência de seus dados individualizados. Comprometemo-nos com o retorno da pesquisa em

resultados tão logo os mesmos tenham sido consolidados.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE, APÓS ESCLARECIMENTO

Eu __________________________________________________, li o esclarecimento

anteriormente registrado e compreendi para que serve o estudo e qual o procedimento em que

participarei. A explicação dada pelos pesquisadores esclarece os riscos e benefícios do estudo. Entendi

que sou livre para interromper minha decisão de participar sem precisar justificar e que nada implica

em dificuldades ou desconforto de qualquer ordem para mim ou para os pesquisadores. Sei que meu

nome ou minha imagem não serão divulgados e não terei despesas nem receberei qualquer vantagem

financeira para participar do estudo.

Eu concordo em participar do estudo A Complexidade da Transição do Mundo Acadêmico-

Universitário ao Mundo do Trabalho em Saúde.

Assinatura do Participante da Pesquisa: ___________________________________________

Documento de Identidade: ____________________________ Biguaçu, _____/_____/ 2006.

Francileni Prudêncio

Manoel Rogério dos Santos Júnior

Lygia Paim Em caso de dúvidas em relação a este

documento entrar em contato pelos telefones:

(48) 3346.2905 (Francileni) 3245.5040

(Manoel)

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Apêndice 3 – Termo de aceite de orientação

TERMO DE ACEITE DE ORIENTAÇÃO

Na qualidade de membro do Corpo Docente do Curso de Graduação em Enfermagem

da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI/CE Biguaçu, EU, Lygia Paim, venho declarar

que concordo em orientar os alunos: Francileni Prudêncio e Manoel Rogério dos Santos

Júnior, no decorrer do desenvolvimento da pesquisa: “A Travessia do Mundo do Ensino de

Graduação em Enfermagem ao Mundo da Empregabilidade em Saúde: A Voz dos Egressos

da Turma de Enfermeiros Pioneiros da UNIVALI/CE Biguaçu”, conforme projeto ora

submetido à aprovação.

O orientador está ciente das Normas para Elaboração do Trabalho de Conclusão do

Curso, bem como, dos prazos de finalização da Monografia, como parte de seus créditos no

final de suas formações como Enfermeiros.

Biguaçu, 15 de Abril de 2006.

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Francileni Prudêncio Manoel Rogério dos Santos Júnior

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Professora Dra. Lygia Paim

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ANEXOS

Anexo 1 As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Enfermagem, recomendam em seu

Art. “A formação do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o

exercício das seguintes competências e habilidades específicas”:

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Enfermagem,

recomendam em seu Art. “A formação do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional

dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades

específicas”:

I – atuar profissionalmente, compreendendo a natureza humana em suas dimensões, em suas

expressões e fases evolutivas;

II – incorporar a ciência/arte do cuidar como instrumento de interpretação profissional;

III – estabelecer novas relações com o contexto social, reconhecendo a estrutura e as formas de

organização social, suas transformações e expressões;

IV – desenvolver formação técnico-científica que confira qualidade ao exercício profissional;

V – compreender a política de saúde no contexto das políticas sociais, reconhecendo os perfis

epidemiológicos das populações;

VI – reconhecer a saúde como direito e condições dignas de vida e atuar de forma a garantir a

integralidade da assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e

serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os

níveis de complexidade do sistema;

VII – atuar nos programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente, da

mulher, do adulto e do idoso;

VIII – ser capaz de diagnosticar e solucionar problemas de saúde, de comunicar-se, de tomar

decisões, de intervir no processo de trabalho, de trabalhar em equipe e de enfrentar situações

em constante mudança;

IX – reconhecer as relações de trabalho e sua influência na saúde;

X – atuar como sujeito no processo de formação de recursos humanos;

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XI – responder às especificidades regionais de saúde através de intervenções Planejadas

Estrategicamente, em níveis de promoção, prevenção e reabilitação à saúde, dando atenção

integral à saúde dos indivíduos, das famílias e das comunidades;

XII – reconhecer-se como coordenador do trabalho da equipe de enfermagem;

XIII – assumir o compromisso ético, humanístico e social com o trabalho multiprofissional em

saúde.

XIV – promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades tanto dos seus

clientes/pacientes quanto às de sua comunidade, atuando como agente de transformação

social;

XV – usar adequadamente novas tecnologias, tanto de informação e comunicação, quanto de

ponta para o cuidar de enfermagem;

XVI – atuar nos diferentes cenários da prática profissional, considerando os pressupostos dos

modelos clínico e epidemiológico;

XVII – identificar as necessidades individuais e coletivas de saúde da população, seus

condicionantes e determinantes;

XIII – intervir no processo de saúde-doença, responsabilizando-se pela qualidade da

assistência/cuidado de enfermagem em seus diferentes níveis de atenção à saúde, com ações

de promoção, prevenção, proteção e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da

assistência;

XIX – coordenar o processo de cuidar em enfermagem, considerando contextos e demandas de

saúde;

XX – prestar cuidados de enfermagem, compatíveis com as diferentes necessidades

apresentadas pelo indivíduo, pela família e pelos diferentes grupos da comunidade;

XXI – compatibilizar as características profissionais dos agentes da equip e de enfermagem às

diferentes demandas dos usuários;

XXII – integrar as ações de enfermagem às ações multiprofissionais;

XXIII – gerenciar o processo de trabalho em enfermagem com princípios de Ética e de

Bioética, com resolutividade tanto em nível individual como coletivo em todos os âmbitos de

atuação profissional;

XXIV – planejar, implementar e participar dos programas de formação e qualificação contínua

dos trabalhadores de enfermagem e de saúde;

XXV – planejar e implementar programas de educação e promoção à saúde, considerando a

especificidade dos diferentes grupos sociais e dos distintos processos de vida, saúde, trabalho

e adoecimento;

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XXVI – desenvolver, participar e aplicar pesquisas e/ou outras formas de produção de

conhecimento que objetivem a qualificação da prática profissional;

XXVII – respeitar os princípios éticos, legais e humanísticos da profissão;

XXIII – interferir na dinâmica de trabalho institucional, reconhecendo-se como agente desse

processo;

XXIX – utilizar os instrumentos que garantam a qualidade do cuidado de enfermagem e da

assistência à saúde;

XXX – participar da composição das estruturas consultivas e deliberativas do sistema de

saúde;

XXXI – assessorar órgãos, empresas e instituições em projetos de saúde;

XXXII - cuidar da própria saúde física e mental e buscar seu bem-estar como cidadão e como

enfermeiro;

XXXIII - reconhecer o papel social do enfermeiro para atuar em atividades de Política e

Planejamento em saúde.

E ainda, enfatiza em seu Parágrafo Único que a formação do Enfermeiro deve atender as

necessidades sociais da saúde, com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS) e assegurar a

integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento.

Referência

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ. Projeto Pedagógico 2004/2005 Enfermagem.

Biguaçu, 2006. p.16-18.