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UNIVERSIDADE DOS AÇORES DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na cidade de Angra do Heroísmo: Monitorização e controle dos voos de dispersão e prevenção da colonização Autores: Orlando Guerreiro, Annabella Borges & Paulo A. V. Borges Fundação Gaspar Frutuoso Angra do Heroísmo Novembro de 2009 - 1 -

A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

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Page 1: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

U N I V E R S I D A D E D O S A Ç O R E S

D E P A R T A M E N T O D E C I Ê N C I A S A G R Á R I A S

A t é r m i t a d e m a d e i r a s e c a C r y p t o t e r m e s b r e v i s ( W a l k e r ) n a

c i d a d e d e A n g r a d o H e r o í s m o : M o n i t o r i z a ç ã o e c o n t r o l e d o s

v o o s d e d i s p e r s ã o e p r e v e n ç ã o d a c o l o n i z a ç ã o

Autores: Orlando Guerreiro, Annabella Borges & Paulo A. V.

Borges

Fundação Gaspar Frutuoso

Angra do Heroísmo Novembro de 2009

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Page 2: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

A t é r m i t a d e m a d e i r a s e c a C r y p t o t e r m e s b r e v i s ( W a l k e r ) n a

c i d a d e d e A n g r a d o H e r o í s m o : M o n i t o r i z a ç ã o e c o n t r o l e d o s v o o s

d e d i s p e r s ã o e p r e v e n ç ã o d a c o l o n i z a ç ã o

Orlando Guerreiro, Annabella Borges & Paulo A. V. Borges

Grupo da Biodiversidade dos Açores - CITAA, Dep. Ciências Agrárias, Universidade

dos Açores, 9701-851 Angra do Heroísmo, Portugal.

Resumo

Objectivo: De forma a determinar a extensão da infestação da população de

Cryptotermes brevis, na cidade Património da Humanidade, foi solicitado pela

Câmara Municipal de Angra do Heroísmo um estudo à Equipa de

Monitorização e Combate das Térmitas dos Açores do Grupo de Biodiversidade

CITA-A, liderado pelo Prof. Paulo Borges. A finalidade deste estudo foi

monitorizar e controlar os voos de dispersão bem como a prevenção da

colonização desta espécie nas habitações. Os dados recolhidos neste estudo

tiveram ainda como objectivo: i) mostrar a área de infestação por parte desta

praga; ii) a comparação com estudos realizados anteriormente; iii) e ainda, a

inventariação das zonas (ruas) mais afectadas e habitações em sério risco, do

ponto de vista estrutural, devido ao elevado grau de infestação.

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Page 3: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

Localização: Cidade de Angra do Heroísmo (Terceira, Açores).

Metodologia: Foram seleccionadas 11 ruas da cidade de Angra onde foram

colocadas aleatoriamente as armadilhas. Em cada rua foram colocadas no

exterior 10 armadilhas nos candeeiros de iluminação pública e outras 10

armadilhas foram colocadas no interior de diferentes habitações de

proprietários que quiseram colaborar neste estudo. As armadilhas utilizadas

foram simples placas autocolantes de cor amarela e azul. Com base nesta

metodologia foi possível monitorizar no período de enxameamento a dispersão

e a intensidade da infestação da C. brevis no exterior e interior de algumas

habitações.

Resultados: É no centro da cidade de Angra onde encontramos um maior

nível de infestação, nomeadamente nas Ruas de S. João, Rosa, Santa Luzia e

Miragaia. Também existe um grau Muito Elevado de infestação nas Ruas de S.

Pedro e do Caminho Novo, sendo mesmo na Rua de S. Pedro onde existe a

maior proporção de armadilhas com um grau Muito Elevado de infestação.

Existe uma relação óbvia entre a densidade obtida nas armadilhas Interiores e

Exteriores, o que valida a metodologia empregue.

Tendo em consideração as armadilhas Exteriores nas quatro principais zonas

da cidade é notória que as zonas oeste, central e norte estão muito afectadas.

Conclusões: Os resultados mostram que cinco anos passados sobre a

primeira monitorização a praga continua a alastrar de forma inexorável.

A colocação das armadilhas coloridas com cola mostrou-se bastante eficaz

tendo em consideração a relação custo/benefício.

As armadilhas colocadas no exterior reflectiram adequadamente a densidade

de térmitas observadas no interior das habitações, pelo que passam a ser um

instrumento muito útil para monitorizar o avanço da praga em qualquer ilha dos

Açores. Deste modo a disponibilização de armadilhas deste tipo à população

será uma forma barata de gestão continuada da praga.

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Page 4: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

Tendo em consideração a elevada infestação observadas em muitas

habitações, torna-se urgente actuar em algumas situações em que possa haver

risco estrutural da habitação.

1. Introdução

Existem três tipos de espécies de térmitas, as subterrâneas, as de

madeira viva e as de madeira seca (Milano & Fontes, 2002), totalizando cerca

de 3000 espécies. No entanto, só algumas destas são nefastas para a

economia e para as actividades humanas. De facto, a maior parte das espécies

são benéficas contribuindo para a reciclagem de árvores mortas, oxigenação

do solo e decomposição de restos de celulose. Algumas espécies são

arborícolas construindo a termiteira na copa das árvores, outras vivem no solo,

sendo bem conhecidas as termiteiras gigantes em África e na América do Sul.

No entanto, algumas espécies causam elevados prejuízos nas habitações

humanas, atacando móveis e esculturas mas também partes estruturais como

soalhos e tectos. Em alguns países como os Estados Unidos da América,

Canadá, Brasil, Austrália e África do Sul existe mesmo uma tradição de lidar

com as espécies mais nocivas, investindo-se muito dinheiro e esforço na sua

monitorização, prevenção e no seu combate (Milano & Fontes, 2002).

A importação de madeira para os Açores é conhecida desde a época dos

descobrimentos, época em que os navegadores portugueses chegavam ao

arquipélago ilhas com mobílias de madeiras exóticas provenientes dos mais

diversos cantos do mundo. Mas tem sido ao longo do último século que as

madeiras importadas com a finalidade de serem usadas na construção civil e

também em mobiliário têm sido mais frequentes devido a uma maior facilidade

de transportes. O facto de os Açores estarem localizados numa latitude

temperada com um clima ameno, fomenta as condições ideais para o

desenvolvimento das térmitas de origem temperada e tropical. A térmita de

madeira seca, Cryptotermes brevis, constitui actualmente a praga urbana mais

preocupante nos Açores, cujos impactos económicos e patrimoniais têm

suscitado uma preocupação considerável junto de muitos cidadãos e da

comunidade científica (Borges & Myles, 2007).

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Page 5: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

A presença de térmitas nos Açores foi confirmada recentemente em

cinco das nove ilhas que constituem o arquipélago, tendo sido a primeira

identificação ocorrida no ano 2000, na ilha Terceira (Borges et al., 2004). Até

ao momento sabemos que existem quatro espécies de térmitas nos Açores: a

Kalotermes flavicollis (térmita de madeira húmida Europeia) que é conhecida

nas três ilhas mais populosas (São Miguel, Terceira e Faial); a Cryptotermes

brevis (térmita de madeira seca das Índias Ocidentais), que para além de existir

nas mesmas ilhas, foi identificada também na ilha de Santa Maria e

recentemente registada na ilha de São Jorge; a Reticulitermes grassei (térmita

subterrânea europeia), que está apenas referenciada para a ilha do Faial

encontrando-se num grau de infestação preocupante; e finalmente, a

Reticulitermes flavipes (térmita subterrânea do Leste dos Estados Unidos),

recentemente referenciada pela nossa equipa para zona de Santa Rita no

antigo Bairro Americano (ilha Terceira). Nas restantes ilhas do arquipélago não

há registos da existência de térmitas.

Em 2005-2006 foi realizado pela Universidade dos Açores, com o apoio

da Direcção Regional da Ciência e Tecnologia, um estudo sobre as térmitas

dos Açores a partir do qual se realizou um workshop sob o tema “Medidas para

Gestão e Combate das Térmitas nos Açores” finalizado com a publicação de

um livro intitulado “Térmitas dos Açores” (Borges & Myles, 2007). Esta

publicação foi um contributo valioso para a divulgação das espécies até então

conhecidas, assim como disponibilizou vários tipos de informação cientifica

aplicada para o combate e controlo das térmitas, especialmente úteis para o

público em geral e entidades públicas e privadas que se debruçam sob esta

temática. Num dos vários capítulos podemos encontrar uma descrição

detalhada, onde se refere a filogenia, biogeografia e ecologia das várias

espécies de térmitas identificadas nos Açores (Myles et al., 2007a). Foram

apresentadas diversas experiências relativamente ao voo e fundação de

colónias pelas térmitas da espécie C. brevis (Guerreiro et al., 2007) bem como

o estudo da taxa de consumo de madeiras por parte desta espécie onde se

verificou que duas das espécies de madeiras (Cryptomeria japonica e

Eucalyptus sp.) produzidas localmente e muito usadas na construção eram

preferencialmente escolhidas por esta térmita (Ferreira et al., 2007). Avaliou-se

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Page 6: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

ainda a eficácia de diferentes insecticidas no combate à C. brevis entre os

quais o Terminate, Termidor, Woocosen, Xilofene, XT-2000 e Borowood, onde

se verificou que à excepção do Borowood que todos provocavam elevado grau

de mortalidade entre as térmitas (Myles et al., 2007b). Foi analisado ainda o

comportamento de diferentes tipos de madeira face aos insecticidas

anteriormente descritos, no combate às populações da C. brevis sendo que de

todos os produtos testados apenas o XT-2000 (d-limonene) foi o que melhor foi

absorvido e se difundiu no interior da madeira (Lopes et al., 2007). A técnica de

fumigação muito usado nos Estados Unidos, foi descrita como sendo uma

solução possível no combate à C. brevis (Scheffrahn et al, 2007). No entanto,

os únicos fumigantes homologados para este tipo de tratamento na Europa, ao

serem aplicados nas habitações têm de salvaguardar uma distância de 10

metros entre elas, o que inviabilizou a sua utilização nos Açores. Tratamentos

simples usando o calor, fumigantes sólidos e gases inertes foram também

apresentados como possível tratamento para móveis infestados com térmitas,

com destaque para a empresa PASMAMEDE, especialista no combate de

diferentes tipos de insectos em celulose (Borges et al., 2007a). O impacte da

térmita subterrânea nos Açores foi apresentada como sendo um problema

grave na ilha do Faial onde deveriam ser implementadas medidas imediatas no

controlo e erradicação da praga (Nunes et al., 2007). Finalmente Borges et al.

(2007b), apresentaram uma estratégia integrada para o combate a esta térmita.

Mais recentemente, no âmbito do projecto TERMIPAR foi concebido um

instrumento de comunicação de apoio às populações, o Portal das Térmitas

dos Açores, SOS Térmitas (sostermitas.angra.uac.pt).

No entanto, foi em 2004 que foi realizado o primeiro estudo onde se

procedeu à determinação da distribuição da abundância de térmitas nas

habitações do concelho de Angra (Borges et al., 2004). Verificou-se então que

o nível de infestação nesta cidade era muito elevado, com cerca de 43% dos

edifícios do centro histórico infestados (Borges et al., 2004). Após estes

trabalhos efectuados a população Angrense mostrou-se mais alerta para o

problema das térmitas como praga de referência na zona urbana. Muitas têm

sido as solicitações para avaliação de infestações em habitações públicas e

privadas e também a procura de medidas de controlo e combate. Com base

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Page 7: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

nestas constatações revelou-se a necessidade de monitorizar a população de

térmitas na zona urbana de Angra do Heroísmo, de modo a conhecer com mais

pormenor a sua evolução e dispersão desde o último estudo efectuado em

2004. Neste sentido foram instaladas armadilhas em algumas ruas da cidade

de Angra do Heroísmo com o objectivo de capturar e monitorizar os alados de

forma a conhecer a sua real infestação. Por outro lado pretendeu-se dar a

conhecer à população em geral as medidas de prevenção e de combate mais

acessíveis para o controle da praga de maneira a que cada cidadão tivesse

iniciativa de adoptar as medidas mais adequadas à sua situação tendo em vista

uma estratégia de luta que englobe toda a comunidade de forma continua.

2. Objectivos

Pretendeu-se com este estudo:

a) A realização da monitorização da fase de enxameamento da espécie

Cryptotermes brevis ao longo da fase mais crítica, em algumas ruas da cidade,

de forma a melhorar os conhecimentos actuais acerca da infestação.

b) Monitorizar algumas habitações em Angra do Heroísmo ao longo de todo o

período de enxameamento, de forma a entender melhor os períodos de

dispersão e a intensidade da infestação em algumas habitações.

c) Utilizar as armadilhas interiores, não apenas como material de estudo, mas

como forma de combate à proliferação da praga nas habitações onde estas

foram colocadas.

d) Elaborar um relatório final onde constem as zonas (ruas) mais afectadas e

habitações em sério risco, do ponto de vista estrutural, devido ao elevado grau

de infestação.

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Page 8: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

3. Metodologia

A metodologia do presente trabalho foi definida a partir dos dados

existentes do trabalho realizado em parceria entre a Universidade dos Açores e

a CMAH desenvolvido em 20041 (Borges, et al., 2004). Os dois principais

objectivos, descritos anteriormente, procuram entender a evolução da praga

desde 2004 até ao presente, através da colocação de armadilhas no exterior

em algumas ruas da cidade, e no interior de algumas habitações.

Legenda:

Edifícios

Edifícios Infestação Grau1

Edifícios Infestação Grau2

Edifícios Infestação Grau3

Armadilhas Exteriores

Armadilhas Interiores

Figura 1: Mapa da cidade de Angra do Heroísmo onde estão representadas as ruas mais atingidas pela praga (segundo Borges et al., 2004) e armadilhas colocadas no Verão de 2009.

As armadilhas utilizadas são de um material plástico, cromotrópico

colante (que utiliza cores como atractivo), e foram colocadas em onze ruas de

Angra do Heroísmo, dez armadilhas por rua. Cada armadilha consiste numa

tira de 45cm por 25cm com um pequeno cordel para fixação (ver Fig. 2).

1 Ver relatórios em http://sostermitas.angra.uac.pt//fotos/biblioteca/1232115352.pdf

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Page 9: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

Figura 2: Colocação de uma armadilha exterior.

Estas armadilhas, quando utilizadas no exterior, são suspensas em

candeeiros de iluminação pública de forma a terem uma distribuição uniforme.

Os candeeiros de iluminação pública têm, deste modo, um duplo papel de

suspensão das armadilhas e fonte de atracção luminosa (Fig. 2).

Figura 3: Rua com as armadilhas exteriores nos candeeiros de iluminação pública

Um dos critérios para a determinação das ruas, para além do nível de

infestação (segundo Borges et al., 2004) foi também o tipo de iluminação ser

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Page 10: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

idêntico em todas as ruas. Uma excepção foi a rua de S. João que tem

candeeiros diferentes dos restantes (ver Fig. 4(b)).

a) b)

Figura 4: Candeeiros de iluminação pública utilizados como fonte de luz. a) candeeiro padrão em todas as ruas; b) candeeiro típico da Rua de S. João.

A colocação das armadilhas era também de acordo com a possibilidade e

facilidade de colocação, tendo-se mantido sempre que possível uma

equidistância entre cada armadilha. Em alguns casos foi extremamente difícil a

colocação das armadilhas utilizando-se apenas a vara para sua colocação. Por

várias vezes foi pedido a moradores que autorizassem a subida às suas

varandas ou janelas para a colocação das armadilhas. As ruas e zonas onde

foram colocadas as armadilhas foram as seguintes (Fig. 5): S. João, S. Pedro,

Caminho Novo, Da Rosa, Dos Canos Verdes, Do Galo, Beato João Baptista

Machado, Largo de S. Bento, Corpo Santo, Miragaia, Santa Luzia.

Figura 5: Ruas (cor azul) que foram contempladas no estudo de monitorização.

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Page 11: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

As armadilhas exteriores e interiores foram colocadas nos locais indicados

na Figura 6.

Figura 6: Mapa indicando os locais onde foram colocadas as armadilhas. Circulo Roxo – Armadilhas Exteriores; Circulo Azul – Armadilhas Interiores

Durante os meses de Julho a Outubro as armadilhas foram substituídas

com uma periodicidade mais ou menos quinzenal de acordo com a

disponibilidade existente dos técnicos, tendo sido efectuadas três rondas de

substituição em cada uma das ruas. As asas e os alados capturados foram

contados de forma a se obter valores indicativos da intensidade da praga em

cada uma das ruas em monitorização. As armadilhas foram colocadas

inicialmente com uma forma cilíndrica, tendo-se mais tarde optado por deixar a

armadilha “aberta” de forma a obter uma maior superfície de contacto para a

captura dos alados. As cores escolhidas para as armadilhas foram as cores

existentes no mercado (amarelo e azul) e anteriormente testadas pela equipa

de controlo e combate das térmitas (Guerreiro et al., 2006).

No interior das casas os materiais e dimensões foram em tudo idênticos

às exteriores. No entanto, não foi possível pelas mais diversas razões,

uniformizar as armadilhas. Ou seja, as armadilhas eram colocadas de acordo

com as características da habitação e zona afectada (sótão, quarto, etc.) e os

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Page 12: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

meios existentes. Um dos vários exemplos caricatos foi o de uma armadilha ter

sido colocada junto a um televisor, mas a grande maioria das armadilhas eram

colocadas sob clarabóias ou utilizando luz artificial como atractivo (Fig. 7). A

forma da armadilha também variava de acordo com as condições do local onde

esta fosse colocada.

a) b) c)

Figura 7: Diferentes formas de utilização das armadilhas interiores: a) televisor; b) clarabóia; c) luz artificial.

O objectivo inicial de colocar 10 armadilhas por cada uma das ruas

monitorizadas exteriormente não foi totalmente conseguido, apesar de sua

distribuição ter sido efectuada porta a porta em cada uma das ruas. A escolha

de uma habitação para colocação da armadilha interior, foi aleatória, tentando-

se colocar sempre que possível as 10 armadilhas por cada rua. No entanto, e

apesar do esforço, em certas ruas alguns dos moradores recusaram-se a

aceitar a colocação de armadilha ou não se encontravam em casa. Como tal,

algumas armadilhas interiores foram colocadas onde existiu aceitação dos

moradores nas mais diversas ruas do centro de Angra do Heroísmo.

A abordagem ao morador foi sempre idêntica em todas as habitações,

tendo sido seguido sempre o mesmo procedimento: a) curta apresentação do

projecto e das entidades promotoras (CMAH, Universidade dos Açores e

Fundação Gaspar Frutuoso); b) explicação do objectivo principal da colocação

da armadilha no interior da casa; c) aconselhamentos sobre hora crítica do

enxameamento; d) cuidados a ter com a armadilha; e) cuidados a ter em casa

neste período (fechar as janelas, aplicação de insecticida adequado no interior

das calhas das portas e janelas, etc.); f) substituição ou colocação de lâmpada

de baixo consumo (quando necessária); g) observação ocasional da armadilha

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Page 13: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

(para verificar funcionamento); h) colocação de recipiente sob a armadilha; i)

eliminação de outras fontes de luz concorrentes (clarabóias, outras lâmpadas,

etc.).

Foi também realizado um inquérito que visava completar alguma

informação relativamente às características das habitações onde a armadilha

foi colocada, bem como o contacto do proprietário ou arrendatário do local.

Os Alados capturados nas armadilhas Exteriores e Interiores foram

contados directamente, muitas vezes dividindo a área da armadilha, sempre

que a densidade de indivíduos não era muito elevada (ver Fig. 8a). Quando a

densidade de indivíduos capturados era muito elevada foi utilizado o método de

sub-amostragem por quadrados e desta forma através da área útil de colagem

foi feita uma estimativa do número total (ver Fig. 8b)).

a) b)

Figura 8: Os dois métodos de contagem de alados. a) contagem directa; b) contagem por método de sub-amostragem por quadrado.

Com a informação obtida nos inquéritos de campo e nas armadilhas

interiores e exteriores foi possível criar uma base de dados com informação

bastante detalhada. Essa base de dados foi realizada recorrendo à utilização

de um sistema de informação geográfica (SIG) para a localização das

armadilhas exteriores das ruas e das interiores colocadas nas casas afectadas

pela praga. Desta forma através de uma análise de distância entre as

diferentes zonas afectadas foi possível determinar uma relação entre distâncias

entre casas afectadas, materiais usados e corresponder esta informação para

tentar determinar a probabilidade de infestação de acordo com alguns

- 13 -

Page 14: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

parâmetros, tais como: distância a uma casa fonte de infestação;

características das habitações; atitude dos habitantes face ao problema, etc.

Limitações Metodológicas

Foram colocadas 535 armadilhas entre os meses de Julho e Setembro de

2009, das quais 303 foram colocadas no exterior e 232 no interior de

habitações. No entanto, existiram algumas limitações relativamente aos nossos

resultados. O primeiro, mais importante e determinante factor que influenciou a

nossa amostragem foi o inicio tardio da monitorização. Ou seja, a colocação de

armadilhas, que foi iniciado logo assim que o projecto foi autorizado, não foi na

altura mais indicada, uma vez que existiram focos de enxameamento muito

antes do inicio deste projecto de monitorização.

Nas armadilhas exteriores as razões para a falta de dados em algumas

armadilhas deveu-se principalmente a:

• Condições climáticas, em particular vento e chuva fortes, foram

responsáveis pela perda de algumas armadilhas;

• O não funcionamento de alguns candeeiros de iluminação pública;

• Alguns moradores arrancaram propositadamente as armadilhas

exteriores por estas serem responsáveis por algum barulho quando

soprava vento com mais intensidade ou por estarem a realizar pinturas

no exterior das suas habitações.

Nas armadilhas interiores as principais razões para a perda/ineficácia na

recolha de dados deveu-se principalmente às seguintes razões:

• Alguns proprietários não ligavam a luz para atrair os alados (quando

esta era necessária);

• Algumas armadilhas caiam e não eram colocadas de novo no lugar

inicial (por vezes algumas eram colocadas em janelas, por exemplo);

• Alguns proprietários depositavam as armadilhas ao fim de alguns dias

no lixo (apesar de inúmeras recomendações para que não o fizessem,

devido à importância dos dados para o nosso trabalho);

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Page 15: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

• Alguns proprietários não seguiam as indicações dadas pela nossa

equipa, não sendo assim possível determinar o tempo de funcionamento

da armadilha inviabilizando a padronização com as restantes armadilhas

(quando estes se responsabilizavam pela colocação da armadilha, ou a

mudavam de local por alguma razão alheia a nós);

• Algumas armadilhas entregues nunca foram recuperadas por os

proprietários se ausentarem por longos períodos (que ultrapassaram o

tempo útil de nossa pesquisa).

Pensamos, no entanto que os dados existentes nos permitem avaliar a

situação actual sobre a distribuição e incidência da praga na cidade de Angra

do Heroísmo.

Análise de dados

Para a determinação dos graus de infestação procedeu-se primeiro ao

“ranking” de todos os valores de abundância obtidos para todas as armadilhas

(i.e. número de térmitas por armadilha por número de dias). De seguida

dividiram-se o numero de casos por 4 para obter as top 25% armadilhas mais

abundantes (nível de infestação 4), as segundas 25% mais abundantes (nível

de infestação 3), as terceiras 25% mais abundantes (nível de infestação 2) e

finalmente as últimas 25% armadilhas (nível de infestação 1). Realizou-se este

procedimento de forma independente para as armadilhas exteriores e

interiores, já que as metodologias empregues foram diferentes e as densidades

obtidas não são directamente comparáveis. Com esta metodologia é possível

comparar os dados obtidos nas armadilhas exteriores e interiores, já que os

valores de infestação reflectem na prática uma abundância relativa. Os Graus

de infestação são assim definidos: 1- Inicial; 2- Moderado; 3- Elevado; 4- Muito

Elevado.

O potencial de infestação foi atribuído de acordo com as capturas de

alados (que por sua vez determinou o grau de infestação de cada armadilha) e

a capacidade de voo dos alados. O potencial de infestação apresentado é

baseado na capacidade de dispersão dos alados que foi estudado no ano de

2008 por Guerreiro et al. (2009), tendo sido determinado nesse estudo que os

- 15 -

Page 16: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

alados têm a capacidade de percorrer uma distância média de 100m de

distância entre a colónia onde têm origem e um potencial local para a fundação

de uma nova colónia.

A melhor forma de analisar os resultados de toda a cidade e os diferentes

graus de infestação é através de uma análise de cada zona de forma mais

detalhada (ver Fig. 9).

C

E

N O

Figura 9: Diferentes zonas da cidade de Angra do Heroísmo: O – Oeste; C- Centro; N – Norte; E- Este.

As divisões acima apresentadas estão agrupadas da seguinte forma: O –

Ruas de S. Pedro e Caminho Novo; C – Ruas da Rosa, Canos Verdes e S.

João; N – Ruas da Miragaia e Santa Luzia; E – Ruas do Beato João Baptista

Machado, Galo, Largo de S. Bento e Corpo Santo.

- 16 -

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4. Resultados

Densidade relativa e níveis de infestação

A elevada eficácia deste estudo é demonstrada pelo elevado número de

indivíduos capturados, cerca de 71 342 alados (7 363 no exterior e 63 979 no

interior) o que grosseiramente indica que foram evitadas 35 671 potenciais

novas colónias2.

A partir da Figura 10a podemos observar que é no centro da cidade de

Angra onde encontramos um maior nível de infestação, nomeadamente nas

Ruas de S. João, Rosa, Santa Luzia e Miragaia. Também existe um grau Muito

Elevado de infestação nas Ruas de S. Pedro e do Caminho Novo, sendo

mesmo na Rua de S. Pedro onde existe a maior proporção de armadilhas com

um grau Muito Elevado de infestação.

2 Esta estimativa não contempla a mortalidade dos indivíduos após a fase de enxameamento, inerente a esta espécie.

- 17 -

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0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

S.Pedro

C.N

ovo

Canos Verdes

Rosa

S.João

Sta.Luzia

Miragaia

Galo

Corpo Santo

Beato J.B

.M.

S. B

ento

Ruas/Locais

Grau de Infestação das armadilhas Exteriores por Rua

4321

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

S.Pedro

C.N

ovo

Canos Verdes

Rosa

S.João

Sta.Luzia

Miragaia

Galo

Corpo Santo

Beato J.B

.M.

S. Bento

Ruas/Locais

Grau de Infestação das armadilhas Interiores por Rua

4321

a)

b)

Figura 10: Proporção de armadilhas dos 4 níveis de infestação em cada uma das Ruas/locais em monitorização. a) Armadilhas Exteriores; b) Armadilhas Interiores. Graus de infestação: 1- Inicial; 2- Moderado; 3- Elevado; 4- Muito Elevado.

Apenas duas das onze ruas monitorizadas não apresentam um Elevado

ou Muito Elevado grau de infestação (Rua do Galo e zona do Corpo Santo). No

entanto, mesmo estas ruas apresentam já algumas armadilhas com um

Moderado grau de infestação. No gráfico b), da mesma figura (Fig. 10b), é

possível verificar que existe um grau de infestação Muito Elevado em quase

todas as ruas onde foram colocadas armadilhas interiores, com excepção das

Ruas do Galo, Beato João Batista Machado e Largo de São Bento. No entanto,

- 18 -

Page 19: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

apenas uma destas ruas, mencionadas acima, não apresenta um grau de

infestação Elevado. Esta zona é referente ao Largo de S. Bento e o Inicial grau

de infestação deve-se ao facto de apenas uma armadilha interior ter sido

recuperada. Neste local foi extremamente difícil a colocação de armadilhas

interiores devido ao facto da maioria dos moradores, quando questionados

acerca da problemática das térmitas, não se sentirem preocupados e não

quererem a colocação de armadilhas. É importante ainda salientar o Elevado e

Muito Elevado grau de infestação de todas as armadilhas analisadas na Rua da

Miragaia.

Potencial de infestação

O potencial de dispersão apresentado na Figura 11 é exemplificativo da

potencial e provável área de infestação tendo como fonte de infestação a casa

onde foi colocada a armadilha. Quanto maior o número de alados capturados

maior o índice de infestação e também maior a probabilidade de uma

habitação, no raio de alcance da capacidade de dispersão da C. brevis, ser

infestada. Deste modo as habitações que se encontram na área

correspondente ao grau de infestação Muito Elevado (Grau 4, a vermelho) são

habitações muito severamente afectadas pela praga ou com uma fortíssima

probabilidade de ficar infestadas. Este mapa quando comparado com o mapa

conseguido em 2004 (ver Figura 1Figura 1) demonstra o que parece ser uma

evolução dos graus de infestação da totalidade das zonas já infestadas em

2004, como também uma evolução da praga nas zonas de S. Bento e Corpo

Santo. Estas duas últimas áreas eram pouco ou nada afectadas pela praga e

actualmente já se encontram afectadas.

- 19 -

Page 20: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

Graus de infestação:

4-Muito Elevado

3- Elevado

2- Moderado

1- Inicial

Figura 11: Potencial de infestação de acordo com os dados das armadilhas interiores e a sua capacidade de dispersão. Graus de infestação: 1- Inicial; 2- Moderado; 3- Elevado; 4- Muito Elevado.

O mapa produzido com os dados das armadilhas Exteriores é também

muito interessante (Fig. 12). Este mapa segue o mesmo critério de que os

alados podem voar 100 metros e de que cada armadilha possui um grau de

infestação de acordo com o número de alados capturados que está relacionada

com a abundância de indivíduos numa determinada área.

Este mapa é interessante, tal como o anterior, para ser comparado com o

mapa representativo da praga em 2004 (ver Figura 1). Nessa comparação é

notório um agravamento das áreas inicialmente referenciadas com uma

infestação inicial a moderada, que passaram a ser actualmente áreas com

infestações Elevadas a muito Elevadas.

- 20 -

Page 21: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

Graus de infestação:

4-Muito Elevado

3- Elevado

2- Moderado

1- Inicial

Figura 12: Potencial de infestação de acordo com os dados das armadilhas exteriores e a sua capacidade de dispersão. Graus de infestação: 1- Inicial; 2- Moderado; 3- Elevado; 4- Muito Elevado.

Tendo em consideração as armadilhas Exteriores nas quatro principais

zonas da cidade é notória que as zonas oeste, central e norte estão muito

afectadas (Fig. 13).

0

5

10

15

20

25

4 3 2 1

Grau de Infestação

N.º

Arm

adilh

as

0

5

10

15

20

25

4 3 2 1

Grau de Infestação

N.º A

rmad

ilhas

0

5

10

15

20

25

4 3 2 1

Grau de Infestação

N.º

Arm

adilh

as

0

5

10

15

20

25

4 3 2 1

Grau de Infestação

N.º

Arm

adilh

as

Graus de infestação: 4-Muito Elevado 3- Elevado 2- Moderado 1- Inicial

O E

N C

Figura 13: Número de armadilhas Exteriores e respectivo índice de infestação por zona da cidade.

- 21 -

Page 22: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

0

2

4

6

8

10

12

4 3 2 1

Grau de infestação

Nº A

rmad

ilhas

0

2

4

6

8

10

12

4 3 2 1

Grau de infestação

Nº A

rmad

ilhas

0

2

4

6

8

10

12

4 3 2 1

Grau de infestação

Nº A

rmad

ilha

0

2

4

6

8

10

12

4 3 2 1

Grau de infestação

Nº A

rmad

ilha

Graus de infestação: 4-Muito Elevado 3- Elevado 2- Moderado 1- Inicial

O E

N C

Figura 14: Número de armadilhas Interiores e respectivo índice de infestação por zona.

Tendo em consideração as armadilhas Interiores nas quatro principais

zonas da cidade é notória que todas as zonas estão muito afectadas (Fig. 14).

Comparando ambos os resultados das armadilhas Interiores e Exteriores,

por zona da cidade monitorizada, é possível verificar que existe uma clara

relação entre ambos os dados (Fig. 15).

- 22 -

Page 23: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Arm

adilh

as In

fest

adas

Este Oeste Norte CentralZona

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Arm

adilh

as In

fest

adas

Este Oeste Norte CentralZona

Graus de infestação: 4-Muito Elevado 3- Elevado 2- Moderado 1- Inicial

Interior

Exterior

Figura 15: Comparação entre as diferentes zonas monitorizadas na cidade de Angra do Heroísmo e os diferentes graus de infestação existentes em cada uma das zonas.

Se compararmos os dois mapas de 2009 (armadilhas Interiores e

Exteriores) ambos complementam-se e validam-se pela correlação entre os

dados de ambas as armadilhas (ver Figura 16).

- 23 -

Page 24: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

Abundância Armd. Exteriores / Interiores

Figura 16: Relação entre o logaritmo da abundância nas armadilhas Exteriores e o logaritmo da abundância nas armadilhas Interiores nas ruas estudadas. A rua do Corpo Santo foi excluída devido ao reduzido número de armadilhas interiores conseguidas (apenas duas).

Existe uma relação entre a densidade obtida nas armadilhas Interiores e

Exteriores (log (exterior) = -0,1149 + 0,28 log (interior); R2 = 0,60) (ver Figura

16). Os resultados demonstram que os dados recolhidos nas armadilhas

exteriores das ruas da Rosa, do Beato J. B. Machado e de S. Bento simulam

adequadamente as densidades observadas nas armadilhas Interiores das

mesmas ruas (pontos sob a recta). As ruas dos Canos Verdes e do Galo estão

um pouco mais afastados da recta (para baixo) o que significa que as capturas

Exteriores foram inferiores ao que seria de esperar relativamente às capturas

nas armadilhas Interiores.

- 24 -

Page 25: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

5. Discussão e Conclusões

Com base nos resultados obtidos neste trabalho e em relação ao relatório

de projecto intitulado “Determinação da Distribuição e Abundância de Térmitas

(Isoptera) nas Habitações do Concelho de Angra do Heroísmo”, realizado em

2004, e financiado igualmente pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo

(CMAH) podemos afirmar que nestes últimos cinco anos houve um aumento

significativo de infestação na cidade de Angra do Heroísmo. Este aumento

pode dever-se a dois factores:

1) poderá ser um artefacto devido à diferença metodológica entre a

amostragem realizada em 2004 e a que foi realizada no presente estudo, i.e.

em 2004 a pesquisa foi realizada através de uma amostragem aleatória de

habitações por rua eventualmente subestimando a real dimensão da praga, o

que implica considerar que a nossa forma de amostragem seja muito mais

eficaz para a determinação não só da abundância de indivíduos, bem como da

potencial dispersão.

2) poderemos também considerar o aumento como real, reflectindo a evolução

temporal natural de uma praga deste tipo. Ou seja, a situação de 2004 foi

prevista de forma robusta mas, ao longo dos últimos cinco anos (tempo

decorrido entre o trabalho de campo de 2004 e o actual) existiu uma evolução

da praga quer em número de colónias quer em número de edifícios afectados.

O número elevado de alados capturados nas armadilhas no inicio do

período de monitorização é uma das principais razões para a constatação do

elevado grau de infestação que afecta a cidade património. De facto, é

importante realçar a eficácia das armadilhas tanto exteriores como interiores na

captura de alados, contribuindo para o controlo da praga no interior e no

exterior das habitações. Os valores de abundância (Alados/Dia) obtidos nesta

fase inicial do projecto, levam-nos a crer que, se a monitorização tivesse sido

iniciada mais cedo, os resultados seriam ainda mais consistentes

Em muitas das habitações que participaram neste estudo a infestação não

ocorria apenas no sótão/tecto, encontrando-se já dispersa por os restantes

pisos inferiores. Importante é ainda verificar que existem vários prédios

- 25 -

Page 26: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

abandonados que poderão contribuir para o aumento contínuo da infestação na

zona centro da cidade. Foi ainda, a partir da informação reunida nos inquéritos

aos diversos moradores, possível obter dados importantes para a criação de

uma base de dados. Esta base de dados mostra, as ruas que foram

monitorizadas, e as habitações que se encontram em risco3 estrutural. O

contacto directo com as pessoas deu-nos uma noção real da informação e

interesse que as pessoas têm deste problema, que atinge as suas casas. Por

um lado encontramos pessoas muito interessadas e preocupadas com esta

realidade, por outro lado pessoas completamente indiferentes a esta situação,

mostrando-se desinteressadas do assunto. Mas os casos que realmente

merecem o nosso destaque são aquelas habitações completamente infestadas

por térmitas, onde os moradores são pessoas reformadas, com idades

avançadas e por vezes sozinhas que não têm qualquer noção dos estragos nas

suas habitações.

A maior parte das pessoas não visitam com regularidade os seus sótãos,

o que implica uma falta de controlo da situação real por parte do morador.

Assim, quando ocorrem vestígios num andar abaixo, é sinal que a infestação já

está numa situação de infestação elevada.

É importante fazer chegar informação a toda a população no que diz

respeito ao controlo e combate desta praga. Um exemplo da falta de

informação que constatamos foi que, em algumas habitações vistoriadas houve

uma reinfestação por parte das térmitas, isto é, moradores que substituíram o

forro danificado pelas térmitas nos seus sótãos, e que ao substituírem por um

forro novo, mantiveram as traves iniciais (infestadas por térmitas) que por sua

vez (e apesar de apresentarem uma estrutura sólida) infestaram de novo a

madeira nova colocada.

3 Foram consideradas habitações em risco, aquelas que apresentavam danos, do ponto de vista estrutural, facilmente visíveis, e que se encontravam em um grau de infestação Elevado (3) ou Muito elevado (4).

- 26 -

Page 27: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

6. Recomendações

A colocação das armadilhas coloridas com cola mostrou-se bastante eficaz tendo em consideração a relação custo/benefício. Será bastante

interessante, e muito mais esclarecedor para o estudo da dispersão da praga, a

realização de novas monitorizações a principiar no inicio da primavera.

Infelizmente, e por razões alheias à equipa de Controlo e Combate das

Térmitas dos Açores do Grupo de Biodiversidade, o trabalho de monitorização

iniciou-se já tardiamente em relação ao inicio do período de enxameamento. É

muito provável que a condição da praga da térmita Cryptotermes brevis em

Angra do Heroísmo, apresentada neste relatório, seja bastante mais grave na

realidade, uma vez que não foram capturados alados durante uma fase crítica

do período de enxameamento (Maio-Junho).

Tendo em consideração a elevada infestação observadas em muitas habitações, torna-se urgente actuar em algumas situações em que possa haver risco estrutural da habitação. A apresentação de uma lista de

habitações em “Risco” (ver Anexo), onde constam as moradias com um grau

de infestação Elevado e Muito Elevado deverá ser tida em conta para

salvaguardar problemas graves do ponto de vista da segurança estrutural

desses mesmos edifícios e das pessoas que nele habitam. É urgente que a

CMAH faça uma vistoria a esses edifícios para averiguar a condição de

habitabilidade estrutural e a possibilidade de apoio governamental (se os

proprietários se encontrarem abrangidos pelo legislação actual de apoio) para a

remodelação desses mesmos edifícios.

É também recomendado que a CMAH e/ou o Governo Regional iniciem uma campanha de sensibilização para incutir o sentido de responsabilidade e de uma actuação pró activa para a minimização do problema da dispersão.

As armadilhas colocadas no exterior reflectiram adequadamente a densidade de térmitas observada no interior das habitações, pelo que passam a ser um instrumento muito útil para monitorizar o avanço da praga em qualquer ilha dos Açores. A monitorização da praga deverá ser

- 27 -

Page 28: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

continuada de modo a conhecer melhor a sua dispersão, e simultaneamente

contribuir para o seu controlo. Continuar a utilizar armadilhas similares às

utilizadas neste projecto é bastante importante e eficaz para a redução da

dispersão da praga. Deste modo a disponibilização de armadilhas deste

tipo à população será uma forma barata de gestão continuada da praga.

Sugerimos que a CMAH no próximo ano, no inicio do enxameamento

tenha já armadilhas disponíveis para que todas as pessoas interessadas

possam dirigir-se à Câmara e adquirir uma armadilha para colocar na sua

habitação. Sugerimos ainda a criação de uma equipa de trabalho que possa

ajudar essas pessoas nas dúvidas relacionadas com a colocação e

monitorização das armadilhas ou eventualmente um folheto informativo com

informação importante sobre identificação, monitorização e controlo das

térmitas.

Tendo em consideração o baixo número de indivíduos capturados no

exterior quando comparados com o interior das habitações, será muito

importante desenvolver uma armadilha de captura massiva para colocar nas

ruas das cidades mais afectadas.

- 28 -

Page 29: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

7. Agradecimentos

A Equipa de Monitorização e Combate das Térmitas dos Açores do Grupo de

Biodiversidade CITA-A, agradece:

A todos os moradores que abriram, várias vezes, as portas das suas

habitações para a colocação, substituição e recolha das armadilhas interiores e

exteriores.

À Dra. Maria Teresa Ferreira pela preciosa ajuda na colocação, substituição e

recolha das várias armadilhas.

À professora Ana Simões e ao Sr. António Simões pela cedência do espaço, na

Rua do Rego n.º 13A, local que serviu de laboratório para a preparação das

armadilhas e contagem dos alados capturados.

Ao Sr. Jorge Neves que nos emprestou por várias vezes a escada de sua loja,

a drogaria/loja da ferragens Tomas de Borba (Repapraia), na Rua de S. João

para a colocação e substituição das armadilhas naquela rua.

A todas as pessoas que se mostraram receptivas e interessadas no nosso

trabalho.

- 29 -

Page 30: A térmita de madeira seca Cryptotermes brevis (Walker) na

8. Bibliografia

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- 31 -