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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. A unidade plural da Rua da Sofia Autor(es): Craveiro, Maria de Lurdes Publicado por: Editorial do Departamento de Arquitetura URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/37549 Accessed : 29-Jul-2022 04:34:50 digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis,

UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e

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documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por

este aviso.

A unidade plural da Rua da Sofia

Autor(es): Craveiro, Maria de Lurdes

Publicado por: Editorial do Departamento de Arquitetura

URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/37549

Accessed : 29-Jul-2022 04:34:50

digitalis.uc.ptimpactum.uc.pt

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SOFIA CONCURSO PÚBLICO DE IDEIAS PARA REABILITAÇAO DA RUA DA SOFIA

Pedro 'Bandefra I Eduanl Bna li Walter Rossa I João Tor1es campos I Teresa Calix. Ana Sofia .Antunes Moreira 1 Pedro Sá e Costa 1 Sérgio Coneia de Araújo Almeida Mendes Alice Caldeira Cabral Santiago Faria 1 Carlos Jorge Coelho Veloso Paulo Cyme 1 Luís Francisco da Silva de castro Fernandes Franciscc José Miranda Saraiva 1 Ana Blanco 1 Maria de Fátima Fernandes

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APRESENTAÇÃO DO CONCURSO

A UNIDADE PLURAL DA RUA DA SOFIA A NECESSIDADE ASSUMIDA DA INTERVENÇÃO SOBRE A RUA DA SOFIA OBRIGA A PENSAR SOBRE AS QUESTÕES PATRIMONIAIS ENVOLVIDAS, OS IMPERATIVOS DA SUA PRESERVAÇÃO OU A CAPACIDADE DE GESTÃO NA ARTICULAÇÃO DAS CATEGORIAS PRESENTES.

A A exemplaridade da Rua da Sofia num contexto que estimula o debate patrimonial sobre uma unidade plural que integra a arquitectura rel igiosa

dos colégios universitários, a arquitectura privada e a vertente de serviços, constitui uma rara oport unidade de reflexão, alargada ao capítulo das estratégias da qualidade possível em torno da construção contínua da cidadania .

A origem da rua da Sofia deve entender-se na sequência da reforma espiritual e material do mosteiro de Santa Cruz, ocorrida a partir de 1527, nascendo, porvent ura, de um primeiro projecto universitário que aqui acolheria o já desi­gnado Polo O, numa acção concert ada entre o rei D. João Ili e o frade jerônimo frei Brás de Braga. A partir da criação, por 1535, dos colégios de S. Miguel e de Todos-os-Santos, nela se instalaram as várias Ordens religiosas organizadas nos colégios que, sucessivamente incorporados na Universi­dade, asseguraram um espaço privilegiado de Saber.

A redefinição das estruturas académicas obrigou em 1548 à criação do colégio das Artes, instrumento fundamental na reforma em curso. Adaptado aos espaços colegiais dos crúzios e organizado em torno de um pátio com colunata jónica, pelo menos nos três lados norte, nascente e poente, com as respect ivas volutas orientadas de maneira rebelde aos tratados, e provido de uma cape la e das necessárias dependências ao sistema de internato, o colégio sofreria depois as transformações provocadas pela presença dos jesuítas e do Tribunal da Inquisição que vi riam a tornar irreconhecível a primitiva institu ição de ensino. Em Março

de 1548, o Principal André de Gouveia defendia os princípios de um modelo serliano com séries de colunatas sobrepostas, combatendo a exiguidade espacial e promovendo uma estru­tura académica de suporte humanista. O esforço do rei nas negociações levadas a cabo para trazer a Coimbra um con­junto de professores acusados de heresia mas portadores de novas linhas pedagógicas, conduz à suspeita da realização da vontade do Principal bem como da importância das estra­tégias políticas e culturais em j ogo. As campanhas arqueo­lógicas aqui realizadas nos últimos anos para a requalificação do Pátio da Inquisição não resolveram todas as quest ões relativas aos planos ou à organização dos espaços mas reve­laram a extensão do programa arquitectónico, que abrangia a formação de um segundo pátio (inacabado), promoveram a descodificação das sucessivas alterações de cota a que os terrenos foram submetidos e aclararam a geografia de espaços como o amplo refeitório localizado no bloco norte do pát io externo.

É exactamente a partir dos colégios crúzios que ganha corpo a projecção da rua da Sofia, como empreendimento do mosteiro a partir de cerca de 1535, e programada também para a constituição de um complexo urbanístico definido por uma arquitectura civil de grande regularidade. Em casas de três pi sos dispondo de um pequeno pátio interno, aí se instalaram figuras gradas da cidade, cavaleiros nobil i­tados, gente ligada aos Estudos. à administração da cidade, à actividade mercantil ou às Artes.

Maria de Lurdes Craveiro

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A transferência definit iva da Universidade para Coimbra em 1537 desencadeou os circuitos alternativos que favoreceram a f ixação das diversas Ordens religiosas que não se poupa­riam a esforços para acompanhar o processo de instalação das estruturas académicas, salvaguardando estratégias futuras de acesso aos cargos administrativos nos quadros instit ucionais do Império. Franciscanos, cistercienses, domi­nicanos, carmelitas e gracianos encetaram na rua da Sofia e ainda em tempos joaninos, as di ligências necessárias à sua implantação em condições variáveis de disputado favor. Concedidas as respectivas autorizações ec lesiásticas, coube ao rei a superintendência do processo e, em grande parte, ao mosteiro de Santa Cruz a entrega dos terrenos para a construção dos edifíc ios, bem como a ajuda financeira em moment os de dificuldades e a cedência do seu arquitecto, Diogo de Casti lho, para o estabelec imento de um conjunto monumental ordenado e coerent e em que se afirmam os colégios sucessivamente incorporados na Universidade.

Instit uições monásticas em primeiro lugar, os colégios defi· nem-se pela presença dos espaços religiosos como a igreja e o c laustro e pelas dependências necessárias à vivência da comun idade que podiam também contemplar, em alguns casos, salas destinadas ao ensino. Num processo de apertada concorrência, os responsáveis pela construção dos edifícios iriam ter de conjugar o espírito de recolhimento monástico com o bulício estudantil e material izar a sua res­pectiva adequação.

Genericamente construídos a partir da década de quarenta, foram sendo, sobretudo depois da extinção das Ordens religiosas, alvo de profundas remodelações e mutilações, de tal forma que, de alguns deles, apenas resta a memória. Outros conservam ainda part e das instalações originais mas as sucessivas ocupações que foram tendo dificu ltam muit as vezes a reconstituição dos espaços.

Apesar da delapidação verificada ao longo dos tempos, continua a ser possível analisar uma "arquitectura de pro­grama" decorrente de uma grande unidade centrada em idênticos pressupostos de função e expressão. Para além

A UNI DADE PLURAL APRESENTAÇÃO DO CONCURSO DA RUA DA SOFIA

da evidênc ia de domínio das fachadas dos colégios, onde se detectam ainda os vãos dos dormit órios, os espaços da igreja, do claustro e o carácter "triunfal" dos portais, consti· tuem a marca mais audaciosa dessa unidade contaminada.

O claustro, elemento ordenador do complexo conventual e colegial, e com uma ident idade que já mereceu a designa­ção de "claustro castil hiano", sofre um desenvolvimento cujas origens se devem procurar nas experiênc ias levadas a cabo nos espaços do pátio do colégio das Artes, no claus­tro do colégio da Graça e na primitiva construção do colégio do Carmo. Com efeito, a posição anómala das volutas do "lanço novo" do colégio das Artes ou as quatro volutas de canto que prefiguram os capitéis do claustro da Graça e da galeria defronte do noviciado do Carmo, constituem uma etapa do percurso que iria alcançar a sua plena maturi­dade na construção da ordem jônica assumida de forma erudita nos claustros de S. Tomás ou de S. Jerónimo, com uma continuidade mais tardia nos claustros dos colégios do Carmo e de S. Pedro. Por outro lado, a opção sistemática pelas abóbadas de berço nas galerias do piso térreo desen­volvem a anterior variante da abóbada de nervuras do claustro da Hospedaria de Tomar, a referência mais directa para Diogo de Castilho, numa tipologia de arcadas geminadas e sustentadas por grossos cont rafortes. O segundo piso, pelo menos nos claustros da Graça e de S. Tomás, constitui­-se através de uma composição de varandas arquitravadas que, tudo leva a crer, teriam correspondência nos outros espaços c laustrais. Na rua da Sofia, e perdida a referência do caso do colégio de S. Boaventura, a alternativa ao mode­lo encontra-se nos dois c laustros do colégio do Espirita Santo, um deles at ribufdo a Miguel de Arruda, e sob a área de influênc ia do Cardeal D. Henrique. A definição de uma nova estratég ia formal para o c laustro, que encontrará eco noutros recintos c itadinos, prende-se com a rejeição do protótipo casti lhiano de fi liação humanista e ajusta-se t ambém à versão depurada da Contra Reforma.

Tal como acontece no c laustro, a igreja colegial organiza­-se segundo um modelo definido na igreja da Graça, datada de 1555, a única que subsiste da reforma joanina. Nela

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Genericamente construídos a partir da década de quarenta, foram sendo, sobretudo depois da extinção das Ordens religiosas, alvo de profundas remodelações e mutilações, de tal forma que, de alguns deles, apenas resta a memória.

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APRESENTAÇÃO DO CONCURSO A UNIDADE PLURAL DA RUA DA SOFI A

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se constitui o primeiro exemplo quinhentista com cobertura em abóbada de berço em caixotões que haveria de ser intensamente repetido na arquitectura religiosa do designado período maneirista. A solução de nave única e capelas colaterais intercomunicantes e elevadas relativamente à nave não é nova; já a igreja românica de Santa Cruz de Coim­bra tinha optado por semelhante estratégia direccionada que não teve continuidade em tempos medievais. Com fortíssimo desenvolvimento do coro alto, a abertura a uma nova escala modular e a conjugação com as lições extraídas do contexto tratadístico do Renascimento instalam, na rua da Sofia, uma dimensão programada onde a ausência deco­rativa adquire uma expressão simbólica realçada pela geografia calculada do ornamento, convertido em palavra apologética do discurso arquitectónico. Com a ressalva para as igrejas dos colégios das Artes (de localização incerta) e do Espírito Santo (porventura orientada no sentido norte-sul), todas as igrejas que subsistem se organizam voltadas para a rua, reivindicando a sua natureza pública na articulação à comunidade exterior.

O carácter "triunfal" das entradas colegiais desempenha papel importante na divulgação dos valores ecuménicos da política cristã desenvolvida no reinado de D. João Il i. Deste período, subsistem os portais da igreja e da portaria da Graça (este escondido pelas reformas setecentistas posteriores) e o portal do colégio de S. Tomás, deslocado para uma das paredes do Museu Machado de Castro.

A arquitectura dos colégios universitários da rua da Sofia seguiu basicamente duas vertentes decorativas que tradu­zem diferentes leituras do espaço. A primeira, consolidada pelas propostas casti lhianas de contenção e decoro, é a responsável pela consc iência das ordens arquitectónicas e pela opção do jónico que domina a cidade; afinal, a tradu­ção dos ensinamentos serlianos que, já desde 1537, faziam coincidir o jónico com os recintos do saber e, no dizer de Serlio, com os homens "letrados o otros hombres de vida quieta y sossegada". A sobriedade calculada lançaria também as bases de uma arquitectura contra-reformista que

teria decisiva expressão nacional e em Coimbra se reflecte nos espaços colegiais do Carmo, de S. Pedro ou no complexo edificado da Companhia de Jesus. Uma segunda vertente abre o caminho à intensidade decorativa no espaço arquitec­tónico, definida pela influência da escola de João de Ruão, pela insistênc ia na matriz humanista da cultura plástica e pela abertura à expressividade ornamental de origem nórdica e divulgada sobretudo através da gravura.

A dinâmica dos serviços contemplados na rua e a convocaçao da presença humana são outros tantos imperativos obrigatórios na construção eficaz dos valores que agora se reivindicam.

Na rua da Sofia, o espaço cénico do cerimonial laico e relig ioso elogiado por nacionais e estrangeiros, já pouco resta da antiga ambiência feita de azáfama estudantil , devoto recolhimento ou ag itação processional. Qualquer intervenção a realizar terá de ter em conta o carácter domi­nante da arquitectura colegial, que integra as respectivas cercas, mas terá também de assumir uma consciência de articulação aos espaços envolventes e a coragem da recon­versão das prioridades que implicam novos critérios de qualidade. A dinâmica dos serviços contemplados na rua e a convocação da presença humana são outros tantos imperativos obrigatórios na construção eficaz dos valores que agora se reivindicam. m

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COL~GIO DE S .BOAVENTURA

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