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CUIABÁ – MT 2018
PAMELA CHRISTHI PEREIRA RODRIGUES
A UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE CONSTELAÇÕES FAMILIARES COMO FERRAMENTA DE MEDIAÇÃO NOS
PROCESSOS DE FAMÍLIA NO BRASIL
PAMELA CHRISTHI PEREIRA RODRIGUES
A UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE CONSTELAÇÕES FAMILIARES COMO FERRAMENTA DE MEDIAÇÃO NOS
PROCESSOS DE FAMÍLIA NO BRASIL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Direito da Universidade de Cuiabá –UNIC BEIRA RIO-, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito, no curso de bacharelado.
Orientador: João Rafael Soares
CUIABÁ – MT 2018
PAMELA CHRISTHI PEREIRA RODRIGUES
A UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE CONSTELAÇÕES FAMILIARES COMO FERRAMENTA DE MEDIAÇÃO NOS PROCESSOS DE
FAMÍLIA NO BRASIL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Direito da Universidade de Cuiabá – UNIC BEIRA RIO-, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito, no curso de bacharelado.
BANCA EXAMINADORA
Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)
Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)
Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)
Cuiabá, 27 de maio de 2018
Dedico este trabalho, bem como, todas as
minhas demais conquistas, aos meus amados
pais Adaujiza Pereira Rodrigues e João
Gotardo Rodrigues.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por me conceder sabedoria durante minha
jornada acadêmica, mesmo diante das dificuldades encontradas, bem como a
capacidade necessária para a realização deste trabalho.
Aos meus pais, Adaujiza Pereira Rodrigues e João Gotardo Rodrigues, pelo
apoio incondicional e por terem me dado a base para alcançar os meus sonhos.
Obrigada por fazerem das minhas vitórias, por menores que sejam, as suas vitórias,
isso me dá forças para seguir nesta jornada laboriosa, porém, gratificante. A minha
eterna gratidão.
Aos professores do Curso de Direito da Universidade de Cuiabá – UNIC, pela
paciência, dedicação e ensinamentos disponibilizados nas aulas; cada um, de forma
especial, contribuiu para a conclusão deste trabalho e, consequentemente, para
minha formação profissional.
Aos meus colegas do curso, pelo companheirismo, pela troca de conhecimento
e pela amizade estabelecida.
Agradeço a cada pessoa que soube ou não caminhar ao meu lado até o final
dessa etapa, tenham a certeza, cada um deixou ensinamentos que me
transformaram, contribuíram e me fizeram acreditar que não cabe a mim qualquer
julgamento sobre as escolhas ou a forma de ser de cada indivíduo e sim
compreender, bem como aceitar o que nos é dado como dádivas nessa vida. Os
meus sinceros agradecimentos.
RODRIGUES, Pamela Christhi Pereira. A utilização das técnicas de constelações
familiares como ferramenta de mediação nos processos de família no
Brasil.2018. Número total de folhas 44. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Direito), Universidade de Cuiabá – UNIC, Campus Beira Rio,
Cuiabá, 2018.
RESUMO
O presente trabalho de Conclusão de Curso tem por objetivo o estudo de um tema de suma importância para a sociedade de forma geral, atendendo ao ordenamento jurídico brasileiro. A proposta é de uma didática simples, a fim de alcançar o máximo entendimento acerca de um tema tão inovador, complexo e extenso. Atualmente a visão ampliada dos operadores da Justiça se abre para receber a contribuição de todas as ciências, com a criação de novos dispositivos como a Lei 13.140/2015 - Lei de Mediação, que possibilita a inclusão de novas abordagens como as Constelações Familiares, que está em conformidade com a Resolução 125/2010 do CNJ, que estimula práticas que proporcionam tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário. Em concordância com essa nova visão da Justiça, a possibilidade de introduzir as Constelações Familiares em conjunto com as mediações nos processos da Vara de Família, justifica-se pela necessidade de demonstrar que existem métodos humanizados de se chegar a um consenso. Através desta técnica é possível identificar os conflitos que estão mais subterrâneos com o motivo e a causa do litígio, melhorando a qualidade dos relacionamentos nas famílias e ao mesmo tempo dar celeridade aos processos. Para tanto, é necessário verificar a aplicabilidade desta técnica de Constelações Familiares, discutir suas abordagens teóricas e apresentar os resultados obtidos em outras jurisdições. Dessa forma, além de contribuir para o aperfeiçoamento da Justiça, a prática da técnica também auxilia a melhorar a qualidade dos relacionamentos nas famílias. Assim, o presente trabalho partiu da premissa de atender as necessidades das famílias e automaticamente solucionar algumas mazelas da justiça como, reincidência de processos, lentidão, onerosidade, demonstrando como a aplicação da técnica poderia contribuir no universo das questões que envolvem as famílias. Os resultados dessa pesquisa podem ter impacto de inovação na área da família e ser aplicados para potencializar a Mediação como meio ideal de resoluções de conflitos familiares.
Palavras-chave: Direito de Família; Constelações Familiares; Mediação; Terapia
Sistêmica; Conflitos Intrafamiliares.
RODRIGUES, Pamela Christhi Pereira. The use of family constellation
techniques as a tool for mediation in family processes in Brazil.2018. Total
number of leaves 44. Completion of course work (University Graduate in Direito),
Universidade de Cuiabá – UNIC, Campus Beira Rio, Cuiabá, 2018.
ABSTRACT
The purpose of this work is to study a topic of great importance for society in general, according with the Brazilian legal system. The proposal of a simple didactics, in order to achieve maximum understanding of such a unique, complex and extensive topic. Nowadays the expanded vision of the justice operators opens up to receive a contribution from all the sciences, with a creation of new devices such as Law 13.140 / 2015 - Mediation Law, which makes possible the inclusion of new approaches such as Family Constellations, which is on a Resolution n. 125/2010 of the CNJ, cause stimulate the practices that provide the appropriate treatment of conflicts of interest without the worship of the Judiciary. In accordance with this new view of Justice, one possibility of introducing as family constellations together as mediations in Family Court proceedings is justified by the need to demonstrate that there are humanized methods of reaching consensus. Through this technique it is possible to identify the conflicts that are more subterranean with the motive and a cause of the litigation, improving a quality of the relationships in the families and at the same time, it is necessary to solve the processes. Therefore, it is necessary to verify the application of the Family Constellations technique, to discuss its theoretical approaches and to present the results obtained in other jurisdictions. This way, in addition to contributing to the improvement of justice, a practice of the technique also helps and improves the quality of relationships in families. In view of the present work, the need for care such as the needs of families and simple solutions, interventions of families, recurrence of processes, slowness, onerousness, demonstration as the application. The results of this research and the impact of innovation in the family area and be applied to enhance Mediation as an ideal means of resolving family conflicts.
Key-words: Family right; Family Constellations; Mediation; Systemic Therapy;
Intrafamily Conflicts.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Palestra e Evento de Constelação Sistêmica proferida pelo Dr. Sami
Storch no Fórum de Castro Alves/BA ....................................................................... .42
Figura 2 – Constelação Sistêmica com a utilização de bonecos ............................. .42
Figura 3 – Vivência Sistêmica com Dr. Sami Storch ............................................... .43
Figura 4 – Oficina de Direito Sistêmico no Fórum de Várzea Grande com a Dra.
Jaqueline Cherulli ..................................................................................................... .43
Figura 5 – Palestra vivencial estimula conciliação em questões familiares na
Comarca de Castro Alves/BA ................................................................................... .44
Figura 6 – Constelação Familiar participará do Judiciário de Mato Grosso Do Sul . .44
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10
2 - CONCEITO, CONTEXTUALIZAÇÃO E ASPECTOS HISTÓRICOS DA
CONSTELAÇÃO FAMILIAR ..................................................................................... 14
2.1 - NO QUE CONSISTE O MÉTODO DAS CONSTELAÇÕES FAMILIARES ......... 15
2.2 - NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA SISTÊMICA ........................................................... 18
3 - ASPECTOS JURÍDICOS ..................................................................................... 20
3.1 - MEDIAÇÃO NOS CASOS DE CONFLITOS INTRAFAMILIARES ...................... 20
3.2 - FAMÍLIA E SEUS CONFLITOS PARA A CONSTELAÇÃO FAMILIAR ............. 22
3.3 - OBJETIVOS DA MEDIAÇÃO FAMILIAR: RECONCILIAÇÃO, SEPARAÇÃO E
ACORDO AMIGÁVEL COMBINADO COM A CONSTELAÇÃO FAMILIAR .............. 24
3.4 - REGULAMENTAÇÃO DA MEDIAÇÃO E CONSTELAÇÃO FAMILIAR .............. 25
3.5 - LEI DA MEDIAÇÃO ........................................................................................... 26
4 - APLICAÇÃO DA TÉCNICA NO JUDICIÁRIO BRASILEIRO .............................. 29
4.1 - EXPERIÊNCIAS APOIADAS PELO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA ..... 32
4.2 - TJRJ - TRIBUNAL REGIONAL DO RIO DE JANEIRO: .................................... 32
4.3 - TJPR - TRIBUNAL REGIONAL DO PARANÁ: .................................................. 32
4.4 - TJDFT - TRIBUNAL REGIONAL DO DISTRITO FEDERAL: ............................ 33
4.5 - TJGO - TRIBUNAL REGIONAL DO ESTADO DE GOIAS: ............................... 33
4.6 - TJBA - TRIBUNAL REGIONAL DA BAHIA: ...................................................... 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 36
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 39
ANEXOS ................................................................................................................... 42
10
1 - INTRODUÇÃO
O presente trabalho de conclusão de curso versa sobre a utilização das
técnicas de constelações familiares como ferramenta de mediação nos processos de
família no Brasil. O Judiciário brasileiro está em constante busca por um tratamento
mais humanitário, profundo e duradouro em suas decisões, tendo se voltado e
corroborado com o entendimento de que se devem deixar os métodos antigos de
lado – aplicação fria da Lei – e buscar primeiramente a verdadeira causa do litígio de
modo a solucionar o problema de forma sadia e satisfatória para todos os
envolvidos.
É nesse aspecto que vem a Constelação Familiar ganhar espaço no direito,
uma vez que seu objetivo principal é a descoberta pelo real motivo do conflito, de
maneira a solucionar dramas internos do indivíduo, os quais inconscientemente
suscitam litígios judiciais, muitas vezes sem explicação para as partes.
Nas relações intrafamiliares é contumaz existirem conflitos judiciais,
principalmente quando ocorre a dissolução de um casamento ou de uma união
estável.
Nos casos de divórcio, o casal nem sempre chega a um acordo amigável.
Normalmente, por um dos parceiros estar emocionalmente ferido por conta da
relação, ou por carregar dentro de si “histórias” familiares - até mesmo ocultas –
acabam extravasando, de algum modo, essa frustação em seu ex-parceiro. Essa
atitude (in) consciente influencia diretamente nos filhos do casal.
Um desgaste que gera danos profundos e rachaduras que muitas vezes não
cicatrizam. Brigas e contendas entre pais refletem no comportamento e bem-estar da
criança, que acaba por recepcionar a insatisfação da mãe para com o pai ou vice-
versa e se encolhe num sentimento de culpa e impotência. Se não for tratada, ela
levará dentro de si problemas emocionais, depressão, ou até mesmo instabilidades
em futuros relacionamentos.
Assim, a possibilidade de uma terapia que envolva métodos que permitam às
partes enxergarem o amor como o centro da situação, traz de volta a paz, equilíbrio
e um ambiente saudável entre pais e filhos. Busca-se um bem social, uma terapia
que parte da família e que acaba por atingir toda a sociedade.
11
A Constelação Familiar veio para melhorar o comportamento do homem para
com o homem, de modo que primeiro se chega a paz interior cuja consequência é
revertida grandiosamente em todo o núcleo social que se convive.
Foi a procura da concretização dessa nova visão que o Direito Sistêmico
promoveu a busca desse método, oriundo da psicoterapia, para solucionar conflitos
judiciais. Essa nova ótica do direito, está baseada na visão familiar sistêmica
desenvolvida pelo terapeuta e filósofo alemão Bert Hellinger.
A problemática aqui levantada se refere justamente a essa nova metodologia,
que está sendo abraçada pelo Judiciário brasileiro, indagando acerca de como o
Direito Sistêmico, aliado ao método das constelações familiares, pode ser eficaz na
resolução dos conflitos intrafamiliares.
Como hipóteses para a tentativa de responder ao questionamento
supramencionado, no decorrer desta pesquisa serão apresentadas as Leis
Sistêmicas de Bert Hellinger como meio de obter soluções eficientes, eficazes e
definitivas no que se refere aos conflitos intrafamiliares; será demonstrado como o
Judiciário brasileiro tem ampliado a sua visão para o lado sistêmico como meio
alternativo de solução profunda de litígios; assim como os impactos do Judiciário
com dados e informações gerais de casos verídicos já solucionados com o uso do o
método das Constelações Familiares.
Por oportuno, a presente pesquisa tem, ainda, o objetivo principal, mostrar
como a resolução de conflitos pode ser dada por meios mais céleres, eficazes e
profundos utilizando-se o método das constelações familiares, de maneira a
descobrir e solucionar a real causa do problema, e, como objetivos específicos os de
coletar informações sobre o uso das constelações familiares; verificar como a
técnica atua no indivíduo e como isso pode chegar até o direito; e apontar como o
Judiciário pode se utilizar desse método para solucionar conflitos intrafamiliares.
Nesse diapasão, como justificativa para a presente pesquisa tem-se a
vontade e a determinação em querer disseminar a relevância da utilização das
técnicas de constelações familiares para solucionar, de forma menos traumática, os
conflitos entre membros de uma mesma família, de modo a evitar, em muitos casos,
o uso do Direito Positivo, com a utilização de meios alternativos que possibilitem
resoluções de litígios de forma eficaz, definitiva e humanista, com vistas a preservar
12
as “ordens do amor” entre familiares, ao mesmo tempo em que se busca proteger e
se manter a família.
Visa, ainda, à busca por um judiciário mais participativo, célere e "justo" bem
como sensível às questões relacionadas à família, uma vez que acredita ser
fundamental a atualização da justiça por meio da aplicação das mais
contemporâneas ferramentas existentes no panorama nacional e mundial,
observando-se as que mais se mostram eficazes à resolução de conflitos, para que
esta se amolde aos diversos cenários sociais.
Esta pesquisa é científica e será de abordagem qualitativa, objetivando gerar
conhecimentos para a elaboração do texto monográfico como trabalho de conclusão
de curso, por meio do método da abordagem dedutivo, no qual será realizada uma
pesquisa exploratória, buscando auxilio em pesquisas bibliográficas, de renomados
doutrinadores, estudiosos e especialistas na área, que facilitaram a interpretação
das normas interligando-as ao objeto ventilado nesta pesquisa.
Dá-se por fundamental, ainda, para o deslinde deste trabalho, uma análise
sobre a psicoterapia e a abordagem fenomenológica de Bert Hellinger, assim como
das próprias leis constitucionais e infraconstitucionais que cerceiam o tema, além
dos artigos e reportagens publicados em sites oficiais, revistas, periódicos,
publicações em geral, doutrinas, legislações (Código de Processo Civil, Código Civil,
Constituição Federal), Resolução 125 do Conselho Nacional de Justiça e Lei da
Mediação.
Com o intuito de proporcionar uma melhor compreensão sobre o
desenvolvimento da pesquisa, na seção 2 será apresentado o conceito,
contextualização e aspectos históricos da Constelação Familiar, explicando de forma
sucinta a origem, o funcionamento e os embasamentos do método, a ligação com o
direito e sua origem no judiciário brasileiro.
Na seção 3 serão abordados os aspectos jurídicos que envolvem o tema, tais
como o Código de Processo Civil brasileiro, sendo atingidos os entendimentos sobre
mediação, passando pela seara do Direito Civil brasileiro e da Constituição Federal
no que consiste aos conceitos de família e seus conflitos bem como no viés da
Constelação Familiar, finalizando com os dispostos na Lei de Mediação Brasileira.
13
E na seção 4 vislumbrar-se-á a apresentação de resultados que contribuem
com as relações familiares e a celeridade nos processos judiciais, demonstrando
resultados alcançados com o uso do método das Constelações. E por fim, constam
as considerações finais, a qual reforçará o que já fora trabalhado em toda a
pesquisa quanto à eficácia das Constelações Familiares.
14
2 - CONCEITO, CONTEXTUALIZAÇÃO E ASPECTOS HISTÓRICOS DA
CONSTELAÇÃO FAMILIAR
Antes que se inicie a apresentação dos referenciais teóricos associados ao
tema e conceitos deste trabalho, segundo Grajales (2014) convém destacar que a
mediação, se revela na linha de pesquisa relativa aos métodos auto compositivos de
soluções de conflitos baseados não somente na temática que envolve aspectos
jurídicos, mas também sociológicos, psicológicos e filosóficos.
Entretanto, Staut (2015, p. 303) afirma que, “a vantagem da análise
interdisciplinar é transcender em muito a ‘assepsia’ do discurso jurídico tradicional
fundado na simples análise legislativa e no estudo de conceitos jurídicos abstratos”.
Corrobora Hellinger (2009), considerando as diferentes formas de perceber o
mundo, observa que no território interdisciplinar e multidisciplinar e nos interstícios
da ciência “as Constelações Familiares se localizam”.
Diante da afirmação dos autores, é possível estabelecer a relação entre a
mediação e a Constelação Familiar no âmbito judiciário.
Essa nova interpretação chegou ao conhecimento do sistema jurídico
brasileiro por meio do Juiz de Direito Sami Storch, na época da Comarca de Castro
Alves no Estado da Bahia, o qual vem se dedicando desde meados de 2004 aos
estudos sistêmicos, em especial da Constelação Familiar, ingressando na
magistratura em 2006.
Nesse sentido esclarece Sheldrake que a Constelação Familiar:
É uma ciência que lida com campos mórficos ou morfogenéticos, haja vista de que quando uma pessoa é colocada no lugar de outra (como representante), ela finda por perceber sensações (profundas e até então ocultas) que pertencem àquele que está constelando, denominado como ‘cliente’. É o sistema ganhando forma diante de representações. (SHELDRAKE, 1995, p.46)
Bert Hellinger, pai do método, foi missionário na África do Sul, tendo se
dedicado e se aperfeiçoado como psicanalista e terapeuta (corporal, em grupos e
familiar), encontrou na Constelação Familiar um modo de entender o comportamento
intrafamiliar, podendo assim analisar os relacionamentos externos por meio dos
internos. O mau é descoberto pela raiz, buscando daí a solução. A técnica trabalha
com a premissa de que quando se entende e se descobre a origem do problema, é
possível solucionar o que dele decorre.
15
Desse modo, percebeu o alemão que havia ordens que regiam
comportamentos humanos e que sempre se repetiam dentro da sociedade. Para
esses, não existiam uma explicação científica, razão porque Hellinger então prefere
denominar como abordagem fenomenológica.
Portanto de acordo com o que está sendo trabalhado no momento da
constelação surgem comportamentos que só se explicam por meio desse fenômeno.
É algo regido por ordens familiares superiores pelas quais encontramo-nos ligados.
2.1 - NO QUE CONSISTE O MÉTODO DAS CONSTELAÇÕES FAMILIARES
A Constelação Familiar é uma espécie de reverência ao passado, haja vista
que vai trabalhar com histórias já vividas.
No modelo de Bert Hellinger, o paciente exterioriza a imagem que tem da família posicionando, no espaço, os representantes dos diferentes integrantes de seu sistema familiar. Com base nessa configuração, é possível detectar as dinâmicas que mantêm os problemas e trabalha-las reorientando a imagem inicial na direção de outra que inspire impulsos de soluções. (GARRIGA 2012, p.14)
Deste modo, é possível dissociar o conflito do relacionamento interpessoal,
incluindo a capacidade de se colocar no lugar do outro e a assertividade para lidar
com o conflito.
Acrescenta ainda Mendes e Lima (2017) no Artigo Direito Sistêmico, a terapia
das Constelações Familiares é um método psicoterápico que estuda as emoções, as
memórias consciente e inconscientemente, ou seja, compreendendo todos os
fatores que pertencem ao nosso sistema familiar ou campo da família. O método
pode ser empregado para auxiliar pessoas a ver o que está oculto e a incentivar um
posicionamento assertivo.
Com base nas opiniões dos autores, esse método faz emergir novas
possibilidades de compreensão das dinâmicas existentes no contexto dos conflitos
com os quais a justiça atua. Também é possível estimular os envolvidos no conflito a
perceberem determinado contexto fático por outra perspectiva, na mesma
perspectiva da mediação quando conduzida pelo mediador com técnicas que
permitem dar luz às falhas na comunicação.
16
As sessões se dão de forma dinâmica, em grupos (workshop) ou de forma
individual (com uso de bonecos ou figuras). A mais comum é em grupos, pois se
trabalha com ‘representantes’ humanos para auxiliar o cliente.
O profissional preparado para o exercício é chamado de ‘constelador’, o qual
atua de modo a conduzir os trabalhos, observando o campo fenomenológico que
está se formando e atuando para que a mediação e a resolução de traumas
geradores de conflitos ali se dissolvam.
O cliente (aquele que deseja trabalhar um problema) expõe sucintamente o
conflito que deseja que ser abordado. O constelador então solicita que o mesmo
escolha, entre membros do grupo, pessoas para serem representantes de sua
cadeia familiar, pai, mãe, irmão (a), avô (ó), esposo (a), companheiro (a), tantos
quantos o terapeuta achar que sejam necessários.
Assim, o constelador observa e deixa-se guiar pelos acontecimentos que ali
se apresentam. Não interfere, só deixa-se conduzir pelo campo ali formado.
Os representantes são postos em seus devidos lugares pelo cliente ou pelo
terapeuta, dando início a dinâmica. Cada gesto, sentimento, expressão, sensação e
olhares são observados e analisados.
Os representantes deixam-se levar pela energia que circunda o ambiente, e o
campo da fenomenologia começa a surgir.
Nesse instante, os representantes expressam o que estão sentindo e as
histórias vão surgindo. Aqui a terapia é dada de forma consciente pois se dá a
oportunidade ao cliente para ver ‘de fora’ sua história se desenhando por meio dos
representantes.
O terapeuta permite que os impulsos de se movimentar dos representantes
aconteçam, assim como realiza mudanças na ordem estabelecida. Pode virar os
representantes de lado, de frente, de costas, retirá-los do ambiente, deitá-los,
agachá-los, solicitar que digam algo, enfim da forma como entender melhor para o
deslinde da causa, e assim vai trabalhando o sistema até chegar à solução
almejada.
Normalmente, quando o terapeuta percebe que já está perto da solução (pois
todos os representantes já estão se sentindo confortáveis em sua posição) ele pede
para que o cliente se posicione no grupo continuando a dinâmica rumo à solução.
17
Mas, como Hellinger chegou à conclusão de que há uma ordem para cada um
dentro do sistema? Como percebeu que cada membro tem que estar em seu devido
lugar? Para explicar isso, o famoso psicoterapeuta observou, durante as vivências
por ele conduzidas (assim denominadas as constelações), que há uma ‘consciência’
que atua dentro das famílias, ou quaisquer grupos, e de forma inconsciente age
dentro dos mesmos. Denominou essa consciência como “consciência do clã”, que
tem por função cuidar para que a família fique sempre saudável e equilibrada,
mesmo que isso implique em eliminação de algum (uns) membro (s), e que se
repetem ao longo das gerações. Esse cuidado/zelo se demonstra por meio de leis
ou princípios, o qual Hellinger denominou por “Ordens do Amor”.
As Ordens do Amor ou Lei Sistêmicas são a base para se criar o pensamento
sistêmico, que regem as relações humanas, como também os vínculos familiares,
influenciando na dinâmica da família.
Em vista disso corrobora Garriga que:
O sistema que mais influencia a pessoa é a família, assim como também a rede de vínculos familiares a qual pertence. A principal hipótese sistêmica para isso afirma que os estados de espírito, as vivências, os problemas, os programas de vida e destinos das pessoas se explicam e solucionam ao encararmos a posição que uma pessoa ocupa no sistema. (GARRIGA, 2012, p.55)
Essas são as leis sistêmicas, as quais determinam que, quando um membro
do grupo se posiciona de forma diversa da aqui exposta, gera desequilíbrio na
família, e a “consciência de clã” vai tentar equilibrar a situação.
No caso de um membro ser excluído do grupo, o próximo membro,
inconscientemente, virá com as mesmas características desse, o que seria uma
forma de respeitar a ordem do sistema dizendo: “eu estou ao seu lado”.
Diante disso, conclui-se que se perpetua nas gerações futuras um padrão
repetitivo de comportamentos antepassados.
Surgem, então, padrões negativos, doenças, disfunções, traumas,
impedimentos e complicações em relacionamentos, e dentre tantos outros
problemas que advém da carga trazida do passado.
18
2.2 - NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA SISTÊMICA
Conjecturando, em uma constelação consideram-se três níveis de
consciência: a consciência individual, referência no espaço-tempo sujeito e a
consciência sistêmica denominada por Hellinger de consciência coletiva,
interiorizada pelo sujeito, vinculam-se às memórias do campo mórfico daquele
sistema e está fora do espaço tempo, podendo entrar em ressonância com
acontecimentos localizados em níveis inter, trans e multigeracional, além do próprio
passado em questão. Nessa abordagem e reportando a Sheldrake, a consciência
sistêmica é a que abarca esse campo de memória e informação do campo mórfico
(na qual todos os que pertencem àquele sistema estão imersos) e que, conforme
Hellinger tem uma força maior no destino de uma pessoa em relação à consciência
individual, porque está a serviço do sistema como um todo.
Destaca Zanlorenzi (2013) que a amplitude de abertura às informações do
campo mórfico é definida pelo próprio cliente, em termos de sua disponibilidade para
a resolução da questão que quer abordar. Isso requer um recorte claro e preciso da
questão, o envolvimento emocional consciente do cliente, a expressão verbal de seu
desejo de mudança foco na solução, traduzindo em uma imagem visual da nova
realidade que se quer construir. Trata-se, portanto, de delinear um novo olhar sobre
si, sobre os vínculos e sobre as relações, assumindo a responsabilidade do
movimento sistêmico que a constelação possibilita acessar e transformar.
Através do cliente e seus representantes, acessamos em um campo chamado fenomenológico ou campo mórfico, onde estão as memórias do sistema familiar, partido do pressuposto de que todos os membros do sistema familiar estão em ressonância com sua ancestralidade e padrões de comportamento, sintomas, pensamentos e sentimentos que compõe esse campo.Hellinger denomina emaranhamento o processo de ressonância. (ZANLORENZI, 2013, p.48)
Nesse sentido, merece destaque o posicionamento de Garriga (2012), diante
desse tipo de consciência, desenvolver-se significaria compreender profundamente
que “todos somos um, nem melhores, nem piores. ”
Confiamos na auto regulação espontânea dos processos porque esta abre e dá espaço à verdade, integrando todas as partes da pessoa e superando os limites do auto conceito, no trabalho com constelações familiares confiamos nos movimentos espontâneos da Alma porque eles superam a consciência que faz diferenças e integram todas as pessoas que pertencem e formam parte. (GARRIGA, 2012, p.22)
19
Como se percebe pelas definições, o método das Constelações Sistêmicas
apresenta um universo novo de informações a nível sistêmico que permite ampliar
as percepções a respeito da existência de um sistema maior que envolve todos de
uma forma única. Se olharmos um conflito familiar trazido ao judiciário, na
perspectiva da visão sistêmica pode-se considerar que essas questões geralmente
são a ponta do iceberg de algum emaranhamento sistêmico.
20
3 - ASPECTOS JURÍDICOS
Os aspectos legais que norteiam o assunto têm por base a nova abordagem
do Direito Processual Civil, adentro das possibilidades oriundas da Lei de Mediação.
Não obstante a isso, o Conselho Nacional de Justiça - CNJ, salvaguarda no
assunto, se posicionou a favor de novos meios alternativos que viessem a olhar o
conflito de forma mais humanitária. Eis, portanto, a Resolução n. 125 do CNJ, criada
no ano de 2010, vindo a permitir que o judiciário trouxesse, a seu meio, soluções
diversas e adequadas para tratamentos de litígios.
Partindo dessa premissa, com a chegada do Direito Sistêmico tem-se, nos
casos intrafamiliares, um método humanitário, que soluciona o conflito de forma mais
eficaz e profunda, à vista da Constelação Familiar primar pela saúde da família e das
relações.
3.1 - MEDIAÇÃO NOS CASOS DE CONFLITOS INTRAFAMILIARES
A expressão família pode ser conceituada de inúmeras formas. Afonso Celso
F. Rezende conceitua da seguinte forma:
Família: grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. Trata-se de um grupo de pessoas, ou um número de grupos domésticos ligados por descendência, demonstrada ou estipulada, a partir de um ancestral comum, ou seja, pelo matrimônio ou pela adoção. (REZENDE, 2013, p.124)
Assim entende-se por família um grupo de pessoas ligadas por um ancestral
comum estando elas ligadas ou não pelo casamento.
Segundo o entendimento de Rosane da Rocha Cachapuz,
A família traz, em sua estrutura, aspectos relativos ao momento histórico em que ela se posiciona, apresentando variações de acordo com os costumes da sociedade na qual se insere, transformando-se em cada período, divergindo em culturas e épocas. (CACHAPUZ, 2003, p. 95)
Colhe-se que o homem forma grupos que irão influenciar na sua
personalidade, a convivência entre estes propicia o crescimento psicológico humano.
A interação é fundamental para o mantimento da espécie.
A família no sentido amplo pode ser delineada como um sistema formado por
um grupo de pessoas ligadas por afetividade ou consanguinidade, as quais formam
uma estrutura afetiva.
21
A família em sentido menor (matrimonializada), inicialmente legalizada pela
Lei nº 3.071 de 1º de janeiro de 1916, o antigo Código Civil brasileiro, já intitulava
por família a união com casamento civil entre homem e mulher, sendo o homem
considerado o representante legal da família, vez que era considerado o chefe da
sociedade conjugal (art. 233, I).
Até a vigência dessa Lei, a mulher não era vista em pé de igualdade com o
homem, sendo submissa a ele em alguns casos, não podendo, por exemplo, exercer
profissão sem sua autorização.
Ao longo dos anos, com a entrada da Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002
– Novo Código Civil brasileiro, a situação do gênero feminino já mudara de figura.
Como bem demonstra o artigo nº 1.511 “O casamento estabelece comunhão plena
de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”.
Essa simples e esperada conquista quebrou muitos paradigmas do século
XIX em relação aos direitos de igualmente entre gêneros. Toda transformação é
geradora de conflitos. As constantes mudanças na família são as mais inovadoras.
Assim como se privilegiou a igualdade, é salutar observar que outra grande
mudança causadora de conflitos se deu com a abertura da possibilidade de
reconhecimento da união estável como entidade familiar.
Foi por meio da Lei nº 9.278 de 10 de maio de 1996 a qual regulamentou o
§3º do artigo 226 da Constituição Federal - CF/88, reconhecendo a união estável,
advinda da convivência duradoura, pública e contínua, entre homem e mulher, com
finco de estabelecer família.
O que antes era só por meio de casamento civil, hoje se estende também à
união estável. A família andou adaptando-se às feições e características da nova
sociedade, as quais continuam a crescer. Nestes casos, o Direito acompanhou as
mudanças, o casamento e a família alcançaram novos horizontes e perspectivas e
está cada vez mais voltada à busca da felicidade e satisfação de seus integrantes.
Dentro do cenário atual Tartuce diz que:
Existem muitas lacunas do Poder Judiciário a ser preenchida, a notória insatisfação dos jurisdicionados em face da Justiça estatal e algumas conhecidas mazelas, como escassez de recursos humanos e materiais, lentidão, onerosidade, imprevisibilidade e a solução para seus impasses advém por meio de uma decisão judicial de mérito. (TARTUCE, 2015, p.38)
22
Entretanto, uma solução intermediaria da iniciativa legislativa propõe meios
alternativos que previnem a judicialização de conflitos e facilitam a resolução célere
das lides judiciais, sem necessitar da decisão impositiva de um terceiro que não
reconhece detalhes da sua relação controvertida. Neste contexto destaca-se a
iniciativa legislativa que através da lei de mediação 13.140/2015 trouxe previsões
que contemplam os meios consensuais em posição de destaque, instituindo,
inclusive, a audiência de conciliação ou mediação.
Assim, torna-se necessária a busca por modelos alternativos de gestão de
conflitos, capazes não só de garantir direitos, mas também disponibilizar recursos,
para que os membros da família possam reforçar tal instituição de forma que ela
mesma supra suas necessidades, sem precisar delegar a solução de suas crises a
terceiros.
3.2 - FAMÍLIA E SEUS CONFLITOS PARA A CONSTELAÇÃO FAMILIAR
Na Constelação Familiar o olhar é voltado para o indivíduo e sua família, no
entanto, Hellinger acredita que o segredo do bom ou mau sucesso está alicerçado à
família. Ela é quem delineia o futuro do indivíduo, sendo a base de tudo. É por isso
que demanda tamanha atenção sobre ela.
Há sempre uma hierarquia a ser respeitada, se ferida essa ordem o sistema
ao tentar se equilibrar novamente acaba por transferir uma desordem para os
membros futuros a fim de consertar o erro do passado. É daí que surgem os
dissabores e conflitos sem motivos aparentes.
Num universo tão abrangente, pode-se imaginar inúmeras formas de conflitos
que a Constelação vislumbra e visa dirimir.
Um exemplo clássico e corriqueiro adentra a esfera do divórcio em relação ao
comportamento dos pais para com os filhos. É comum um dos pares se afastar ou
de alguma forma instigar o filho a ficar contra o outro genitor, em busca de vingança
ou por simples mágoa.
Os filhos, independente da união dos pais, serão sempre filhos. Os laços de
amor e afeto que os une são eternos e deve ser respeitado e cultivado. A ruptura
23
desses desequilibra o sistema familiar de todos, causando conflitos emocionais e
materiais que se reverberam aos longos das gerações futuras.
Por oportuno, complementa ainda Hellinger, sobre a relação considerada
ideal àqueles:
"Os filhos ficam bem se o pai respeita e honra neles a mãe e a mãe respeita e honra neles o pai. Então os filhos se sentem completos. Por isso, numa separação, quem deve receber a guarda dos filhos é aquele que mais respeita e honra nos filhos o outro parceiro". (HELLINGER, 2001, p.104)
Outra controvérsia tamanha entre os pais, dentro dos conflitos oriundos do
divórcio, e que pode vir a repercutir na saúde física e mental dos filhos é em relação
aos alimentos prestados a criança.
Os estudiosos Iglesias Fernanda de Azevedo Rabelo, Maria das Dores
Saraiva de Loreto e Gilberto Venâncio Luiz salientam o porquê da existência de
conflitos nesses casos:
[...] o conflito é inevitável entre os grupos sociais, tornando-se evidente na medida em que ocorre escassez de recursos, no contexto da ruptura da sociedade conjugal, onde geralmente se dá uma redução no nível sócio econômico do casal. Efetivamente, a realidade mostra que o conflito é inevitável. Acrescenta-se a isso o fato de que a escassez de recursos vem associada a outras questões, especialmente de natureza sentimental, o que reforça a incapacidade do casal de se administrar o conflito. (RABELO; LORETO; LUIZ, 2018)
Desta feita, surgindo a oportunidade os conflitos nascem, e no instante da
ruptura do casamento inevitavelmente há o choque econômico/financeiro o que já
motiva as partes a conflitarem por quaisquer motivos.
A Constelação Familiar vem nestes casos intervindo e mostrando que muito
embora a sociedade conjugal tenha sido desfeita ainda há vínculos que unem o
casal, e um destes é o dever de prestar alimentos. Um genitor não tem por
obrigação arcar com os encargos financeiros e morais da criação do filho sozinho,
ambos detêm este dever.
Finalizando os exemplos, outro conflito muito corriqueiro entre os casais e que
deságua em inúmeros conflitos judiciais é a traição. Jakob Robert Schneider explica
que a traição tem origem em uma tentativa de equilibrar o sistema que sofreu
desordem no passado, e como não foi devidamente reconhecido e ajustado traz as
consequências para as próximas gerações. Veja-se:
Se uma injustiça é cometida entre um homem e uma mulher, numa geração anterior, não teve a devida compensação, esta é transferida para seus descendentes. Ela atinge então pessoas totalmente inocentes,
24
acrescentando uma nova injustiça à primeira. Assim, por exemplo, uma mulher “bondosa” e compassiva tolera, por anos a fio, os casos públicos de seu marido, que muito a magoa, mas sua filha assume a vingança em nome da mãe. Entretanto, como também ama e protege o pai, vinga-se em seu marido, molestando-o abertamente com um namoro. A transferência no sujeito significa aqui que ela age em lugar de sua mãe. E a transferência no objeto significa que a compensação não se dirige à pessoa do pai, mas ao marido. Embora inocente, este é chamado a pagar por uma injustiça na família de sua mulher. Ao mesmo tempo a filha torna-se semelhante ao pai em seu comportamento, não agindo melhor do que ele. (SCHNEIDER, 2018)
O sistema, erroneamente, trata de um conflito do passado no presente e
futuro. Uma injustiça sempre reverbera caso não tenha sido dirimida. Os filhos,
inconscientemente, trazem consigo energias de seus antepassados que por não
terem sido expiadas no passado tornam-se presentes em seu sistema.
3.3 - OBJETIVOS DA MEDIAÇÃO FAMILIAR: RECONCILIAÇÃO, SEPARAÇÃO E
ACORDO AMIGÁVEL COMBINADO COM A CONSTELAÇÃO FAMILIAR
A mediação familiar tem por objetivo basilar a resolução de conflitos e
restauração do relacionamento existente entre as partes.
É por meio da comunicação que a mágica acontece. A mediação possibilita
um ambiente sadio, tranquilo e predestinado para tratativas de acordos. Há toda
uma estrutura envolvente que instiga às partes a saírem dali com seus problemas
resolvidos, não de forma aparente, e sim real.
Busca a igualdade entre as partes, visa a prestigiar ambos, equilibrando a
relação, buscando tratar e dar as mesmas oportunidades à ambas as partes durante
o procedimento.
Nos casos relacionados à divórcio, em alguns casos, a mediação proporciona
até mesmo a reconciliação do casal, a vista das arrestas aparadas e trabalhadas o
casal se dá outra oportunidade de convivência conjunta.
Em notícia publicada pelo Conselho Nacional de Justiça é relatado um caso
onde o Centro Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania da Comarca de
Sorriso em Mato Grosso –MT, ao realizar sessão de mediação com aplicação de
técnica de Constelação Familiar um casal que estava em processo de divórcio se
reconciliou após a mediação realizada, conforme relatado:
25
JD. conta que o casal percebeu que grande parte das discussões que eles têm é ocasionada por fatores externos, por discussões provocadas por interferência familiar. “Isso ficou bem claro durante a Constelação. A gente pode ver isso de fora e além disso ainda tem sentimento um pelo outro e que as brigas são por coisas tolas. Decidimos tentar novamente, dando uma nova chance a nós, ao nosso casamento, a nossa família e aos nossos filhos”, disse.
Com isso observa-se que a mediação também serve para evitar desfazimento
da sociedade conjugal, o que vem a beneficiar todo o sistema familiar, e aliado ao
método das Constelações Familiares surpreende e inova nas tratativas de casos de
família.
Caso não seja possível mais a reconciliação do casal, a mediação se
preocupa para que essa separação seja feita de forma amigável e saudável,
proporcionando a exploração de alternativas que visem chegar ao acordo, uma vez
que o divórcio vem cerceado de possíveis conflitos entre as partes.
3.4 - REGULAMENTAÇÃO DA MEDIAÇÃO E CONSTELAÇÃO FAMILIAR
Em relação à busca de meios que sanem efetivamente as controvérsias, é
inegável a evolução normativa no cenário brasileiro. Deste modo, ainda não existe
legislação específica tratando do tema, Constelações Familiares. No Código de
Processo Civil, em seu artigo 3º, § 3º, dentre outros, determina que os operadores
do direito (juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público)
estimulem a práticas dos métodos de solução consensual de conflitos, dentre os
quais se insere as Constelação Familiar.
O novo Código de Processo Civil, o qual prima dentre seus princípios
fundamentais a autocomposição, como vem disciplinado em seu artigo 3º, rendendo
se a arte da Mediação e permite a aplicação de outros métodos de solução
consensual de conflitos, se enquadrando a Constelação Familiar. No mesmo
sentido, a Lei nº 9.099/95, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis, estimula
a conciliação e a transação, que podem ser facilitadas pela aplicação destas duas
abordagens.
A Resolução nº 125/2010 do CNJ é outra base normativa que pode ser
invocada pelo operador do direito para fundamentar a aplicação da Constelação
Familiar na solução de conflitos, apesar de traçar diretrizes éticas e princípios, o ato
26
normativo não trouxe a definição dos meios consensuais. Ademais, há também atos
normativos dos Tribunais e convênios firmados por eles, para tornar o uso destas
duas abordagens possível para se consecução da pacificação social.
3.5 - LEI DA MEDIAÇÃO
Inicialmente insta consignar que a mediação é uma forma de autocomposição
de conflitos onde um terceiro, chamado mediador, não decide a lide, apenas induz
as partes a chegarem a uma solução por si própria. Atua normalmente em casos
onde há um vínculo anterior entre as partes, no fito de reestalecer essa relação já
existente.
A mediação vem sendo aplicada sem estar devidamente regulamentada
ganhando agora uma devida regulamentação por meio da Lei nº 13.140 de 26 de
junho de 2015, a qual dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de
solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da
administração pública. Logo em seu art.1º, tanto no caput e no parágrafo único já se
infere informações imprescindíveis para a utilização da lei, tais como aplicação e
conceito:
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio de solução de controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública. Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia.
Visa, portanto, dirimir conflitos no âmbito da administração pública como um
todo, atribuindo ao papel do mediador essa responsabilidade de trabalhar com as
emoções das partes moldando-as para o lado positivo, ou seja, para o deslinde do
conflito.
A Lei consideravelmente concisa, contém 48 (quarenta e oito) artigos,
contendo 3 (três), seções e subseções, tratando de abarcar os princípios
norteadores, a prática da mediação judicial e extrajudicial bem como a possibilidade
de utilização na administração pública.
Em se tratando dos princípios, traz em seu bojo (art. 2º) o quantitativo de dez
que são considerados basilares na mediação, como: 1) independência do mediador;
27
2) imparcialidade do mediador; 3) isonomia entre as partes; 4) oralidade; 5)
informalidade; 6) autonomia da vontade das partes; 7) busca do consenso; 8)
confidencialidade; 9) boa-fé; 10) decisão informada.
No que se refere aos mediadores judiciais, pode se dá de forma pré
processual e no curso dos processos, devendo esses facilitadores serem inscritos
em cadastro nacional com indicação de sua área profissional (art. 167 do CPC
2015).
Na judicial não é necessário o aceite das partes para indicação dos
mediadores, estando estes sujeitos as mesmas regras de suspeição e impedimento.
Importante observar que os andamentos da mediação judicial têm prazo
estipulado na Lei. Preceitua o seu art. 28 que deverá o procedimento ser concluído
em até 60 (sessenta) dias, contados da primeira sessão, salvo se as partes
acordarem em contrário. Havendo acordo, se for o caso, o juiz homologa-o por
sentença, e determinará o arquivamento dos autos. Salienta ainda o art. 29 que se o
acordo se der antes da citação não serão devidas as custas judiciais finais.
Agora em relação a mediação extrajudicial, ocorre quando as partes decidem
resolverem a lide sem adentrar ao Judiciário. Procuram um terceiro imparcial,
mediador, escolhem de acordo com seu alvitre e assim decidem buscar um acordo.
O mediador extrajudicial deve ser pessoa capaz, de confiança das partes,
capacitada para fazer mediação, conforme dispões o art. 9º desta Lei.
Muito embora seja a escolha a bel prazer das partes, esse procedimento
requer requisitos mínimos previstos na Lei em testilha. O artigo 22, I a IV elenca-os
que, na constância de previsão contratual: prazos e local para a primeira reunião,
bem como penalidade à parte que não comparecer nesta e critérios de escolha do
mediador ou da equipe; já em havendo previsão contratual completa, o §2º do
mesmo dispositivo trata-se de enumerar os requisitos destes.
Por fim, e talvez o ponto mais importante desta Lei, encontra-se previsto no
art. 32 e seguintes. Permite-se o uso da mediação pela Administração Direta e
Indireta para solucionar conflitos entre órgãos da administração pública ou entre esta
e particulares, as quais poderão criar câmaras de prevenção e resolução
administrativa de conflitos, no âmbito dos respectivos órgãos da Advocacia Pública,
tendo competência para:
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Art. 32. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão criar câmaras de prevenção e resolução administrativa de conflitos, no âmbito dos respectivos órgãos da Advocacia Pública, onde houver, com competência para: I - dirimir conflitos entre órgãos e entidades da administração pública; II - avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de composição, no caso de controvérsia entre particular e pessoa jurídica de direito público; III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de conduta.
Pode o poder público criar câmaras de tratativas de conflitos administrativos,
com competência para lidar com estes, avaliar controvérsias entre particular e
público, além de promover termos de conduta.
Ademais a essas competências é permitido acordar quanto ao equilíbrio dos
conflitos econômico-financeiro de contratos celebrados pela administração com
particulares (§5º, art. 32), assim como poderá administração pública instaurar
procedimento para mediação coletiva de conflitos relacionados à prestação de
serviços públicos (parágrafo único do art. 33).
Caso, as partes resolvam os conflitos em comum, o acordo será reduzido a
termo e constituirá título executivo extrajudicial.
29
4 - APLICAÇÃO DA TÉCNICA NO JUDICIÁRIO BRASILEIRO
O Juiz de Direito Dr. Sami Storch, da 2ª Vara de Família Órfãos e Sucessões
de Itabuna/BA, pioneiro em introduzir o método terapêutico na Justiça, as
denominadas Constelações Familiares, e com isso, contribuir para a solução de
conflitos, vê seu trabalho, inspirar o restante do Brasil, no sentido de que:
Depois de conseguir índices de acordos em conciliações que chegaram a 100% e receber o Prêmio “Conciliar é Legal”, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pelo projeto “Constelações na Justiça”, o magistrado agora viaja o Brasil disseminando o que ele chama de “Direito Sistêmico”, baseado nas ordens superiores que regem as relações humanas, segundo a ciência das Constelações. (Reconciliação: um novo olhar para a vida, p.40, 2015).
O magistrado a princípio, utilizou-se discretamente dos princípios das
constelações para resoluções de conflitos nas audiências em que realizava, tendo
apresentado alto índice de efetividade, sendo o pioneiro na utilização desse método
nos conflitos judiciais, e por conta de sua iniciativa com o projeto "Constelações
Familiares na Justiça", recebeu o Prêmio Destaque do Núcleo Integrado de
Conciliação do Tribunal de Justiça da Bahia em 2013.
Com o uso frequente de aplicação do método, o juiz Sami Storch, propôs ao
Judiciário da Bahia um projeto com o tema "Separação de casais, filhos e o vínculo
que nunca se desfaz", com a participação de pessoas envolvidas em conflitos na
área de família, realizando seis vivências entre outubro de 2012 e setembro de 2013
na Comarca de Castro Alves/BA com cerca de 40 a 100 pessoas, situação em que
introduziu os vínculos sistêmicos familiares, as causas e as tratativas em crises de
relacionamentos, de maneira a observar o desenvolvimento sadio dos filhos.
Neste caso, o problema a ser trabalhado é um conflito judicial relacionado à
área da família como divórcio, guarda, inventário, alimentos, dentre outros. Inicia-se
com uma meditação e segue-se à Constelação tradicionalmente de forma dinâmica.
Em seu artigo “primeiras experiências com constelações no judiciário”, Sami
Storch relata as observações postas acima, aclarando também alguns resultados
encontrados:
As técnicas aplicadas vêm auxiliando na efetivação de conciliações verdadeiras entre as partes. Durante e após o trabalho com constelações, os participantes têm demonstrado boa absorção dos assuntos tratados, um maior respeito e consideração em relação à outra parte envolvida, além da
30
vontade de conciliar – o que se comprova também com os resultados das audiências de conciliação realizadas semanas depois (os índices de acordos superam os 90%) e com os relatos das partes e dos advogados. (STORCH,2018)
O simples fato de constelarem mostra-se evidente o poder do método na
resolução de conflitos.
As partes já tratadas se predispõem a resolverem de pronto o conflito, ou
seja, a conciliar. Há de se observar que os índices de efetividade são muito
elevados, o que nos permite ver um judiciário mais humano. Em média, uma
abordagem coletiva tem a média temporal de 3 (três) horas e objetiva atingir as
partes envolvidas em centenas de processos.
Ressalta-se que além de contribuir para a melhoria do Judiciário, ajuda a
melhorar o relacionamento das famílias, proporcionado mais qualidade de vida além
de sabedoria para solucionar conflitos, tornando assim o ambiente familiar mais
saudável para o desenvolvimento dos filhos.
A consequência de tudo isso reflete na sociedade, pois com a redução de
conflitos o ambiente do grupo societário fica mais harmônico. Após essas iniciais
experiências, fez ainda o juiz, um "Mutirão da Conciliação", no qual a maioria das
audiências envolveu uma ou mais partes que participaram da vivência de
constelações.
Durante o mutirão, os conciliadores perceberam uma maior flexibilidade dos
participantes para conciliar. Além disso, questionários foram distribuídos a fim de
avaliar a eficácia do método, tanto quantitativa quanto qualitativamente, encontrando
resultados muitos positivos.
Há ainda de se observar que além dos acordos, o método permitiu que o
entendimento afetivo entre as partes melhorasse significativamente, tendo até
mesmo provocado mudanças no seio dos operadores do Direito.
Outros Estados brasileiros inspirados nos relatos e experiências já obtidas
pelo Judiciário da Bahia e outros, vêm acolhendo o método como meio alternativo
para resolução de conflitos judiciais, a exemplo do Tribunal de Justiça de Alagoas,
do Pará, do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul, do Distrito Federal e Territórios, e
o do Estado de Rondônia.
31
A juíza Dr. Jaqueline Cherulli da 3ª Vara Especializada de Família e
Sucessões da Comarca de Várzea Grande/MT, vem desempenhando um trabalho
exemplar com as constelações sistêmicas, desenvolvendo oficinas, palestras, dentre
outros mecanismos com o propósito de solucionar conflitos de forma humanizada,
bem como, qualificar e dividir conhecimento com a equipe do tribunal, a Comarca
tem se destacado nas mídias sociais pelos resultados obtidos. Além do mais, o
fórum possui salas sistêmicas, ou seja, um local apropriado para desenvolver as
vivências, diferentemente das salas de audiência e conciliação presentes nos
tribunais.
O mais recente tribunal que adotou também o uso da terapia foi o Tribunal de
Justiça de Pernambuco, mediante a juíza Wilka Vilela Domingues, titular da 5ª Vara
de Família e registro Civil da Capital, que por meio da Central de Conciliação,
Mediação e Arbitragem, realizou uma palestra e vivência com 30 casais, em conflitos
familiar, trata-se de processos que foram selecionados para a 11ª Semana Nacional
de Conciliação, que ocorreu em novembro nas datas de 21 a 25, para que assim
seja possível a proposta de acordos.
A visão é que ocorra uma diminuição dos processos nas varas de família,
tendo em vista que há uma grande ocorrência de novas ações nessa área, inclusive
de ingressos de ações como cumprimento de sentença, execução, sendo as partes
as mesmas componentes da ação principal, gerando um volume excessivo de
processos.
Os resultados que estão sendo obtidos chegam a ser de 100% (cem por
cento) quando ambas as partes estão presentes na vivência sistêmica, de 91%
(noventa e um por cento) quando apenas uma está presente e de 73% (setenta e
três por cento) nos demais casos, segundo informa o douto magistrado Dr. Sami
Storch em seu site.
Ao final da audiência é disponibilizado um questionário para que as pessoas
respondam, com vista a saber a opinião delas sobre a experiência. De acordo com
alguns depoimentos algumas pessoas já sentiram mudanças comportamentais no
momento da palestra, o diálogo entre elas ficou mais compreensivo, não havia
mágoas, houve melhora no convívio familiar, nos relacionamentos, bem como
facilitação no momento da tentativa de acordo na audiência.
32
4.1 - EXPERIÊNCIAS APOIADAS PELO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
A prática das Constelações Familiares, tem sido incentivada pelo Conselho
Nacional de Justiça e se apoia no Novo Código de Processo Civil, de 2015, que
prioriza a solução consensual de conflitos nas ações de família com auxílio de
profissionais de outras áreas de conhecimento. Neste tópico serão apresentadas
algumas experiências com constelações no Judiciário, todas as informações aqui
demonstradas, foram retiradas da página do Conselho Nacional de Justiça, e estão
disponíveis neste site.
4.2 - TJRJ - TRIBUNAL REGIONAL DO RIO DE JANEIRO:
O juiz da Vara de Família André Tredinnick participa do Projeto de
Desenvolvimento no Centro Judiciário de Soluções de Conflitos no fórum regional.
O magistrado já trabalha com o método terapêutico das Constelações
Familiares nas sessões de conciliação ou mediação, aplica a técnica dois meses
antes de uma audiência, onde estimula os envolvidos a refletir sobre seus vínculos
familiares. O objetivo da prática é que sejam interrompidos os comportamentos
repetitivos que geram conflitos, possibilitando a conversa entre os litigantes, que
frequentemente resulta em acordo.
Para as primeiras experiências do projeto, cerca de 300 processos com
temas semelhantes sobre questões como pensão alimentícia e guarda dos filhos
foram selecionados em 2016. Pelos resultados preliminares da pesquisa. O índice
de aprovação da técnica foi de quase 80% das audiências. Além disso, 86% das
audiências realizadas após as Constelações Familiares resultaram em acordos. A
fonte de pesquisa é do TJRJ.
4.3 - TJPR - TRIBUNAL REGIONAL DO PARANÁ:
Este Tribunal capacitou profissionais para atuarem com as constelações junto
ao Centro Judiciário de Soluções de Conflitos, como ferramenta para conciliação e
mediação. A técnica não substitui as mediações, nem o atendimento psicológico, é
utilizada nos casos pré- processuais, no decorrer de ações judiciais, ou mesmo após
33
encerramento. A execução pode ser postulada pelas partes, pelos procuradores,
assim como encaminhadas pelo juiz de direito.
4.4 - TJDFT - TRIBUNAL REGIONAL DO DISTRITO FEDERAL:
Com o objetivo de reduzir a excessiva judicialização das divergências e elevar
a celeridade processual, este tribunal implementou o Projeto Constelar e Conciliar
que inclui as Constelações como método alternativo.
Para as primeiras experiências dos Projetos, usou 48 processos. Desses
processos, 19 formou acordo, o que representa 43%. As ações eram sobre guarda
de família, divórcio litigioso, inventário e alimentos. Os critérios utilizados foram:
antiguidade (mais antigo e com instrução avançada) por serem mais conflituosos,
com temas semelhantes e que já tinham sido realizados outras audiências sem
êxito.
4.5 - TJGO - TRIBUNAL REGIONAL DO ESTADO DE GOIAS:
Através do Projeto Mediação Familiar aplicado pelo CEJUSC, rendeu primeiro
lugar na categoria Tribunal Estadual avaliado pelo CNJ- Conselho Nacional de
Justiça. A prática consiste no exercício da mediação familiar sob a perspectiva
interdisciplinar e multidirecional envolve, profissionais e acadêmicos do direito e da
psicologia. O juiz Paulo Cesar Alves das Neves, coordenador do Núcleo Permanente
de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos do TJGO e idealizador do projeto.
Alicerçada na Teoria Geral dos Sistemas, na Fenomenologia, no Psicodrama
e na Constelação Familiar, a prática existe desde abril de 2013 e já atendeu 256
famílias de Goiânia e região metropolitana em conflitos que envolvem divórcio,
pensão alimentícia, guarda de filhos e regulamentação de visitas. De acordo com o
magistrado, o índice de solução é de aproximadamente 94% das demandas.
O juiz afirma que, além de reduzir o número de ações judiciais, a prática
também minimiza a possibilidade de novas divergências nos casos já tratados,
permite manter os laços afetivos dessas famílias e reduzir a possibilidade de
sofrimento, principalmente de crianças e adolescentes. Segundo Neves, há casos
que se resolvem na primeira sessão, mas o número de atendimentos vai depender
do grau de ressentimento e mágoa dos envolvidos.
34
4.6 - TJBA - TRIBUNAL REGIONAL DA BAHIA:
Sami Stoch, o pioneiro com os trabalhos de Constelações no judiciário,
apresenta sua experiência, e mostra que a utilização das Constelações Familiares
pode trazer resultados satisfatórios. Anteriormente, nas simples audiências o índice
de conciliação era de 73%, no entanto, quando uma das partes estava presente na
terapia de Constelação o índice de satisfação chegou a 91%. Quando as duas
partes estavam envolvidas, o índice houve 100% de sucesso na conciliação.
Possibilitou verificar que os resultados aplicados nas ações de família, já
estão contribuindo com o indivíduo, com a família e com o judiciário. Além disso,
também condescendeu uma pesquisa de caráter exploratória permitindo obter dados
mais consistentes sobre as etapas da introdução do método no judiciário. A
pesquisa demonstra que é possível incluir as Constelações Familiares como um
recurso a mais para Mediação e obter resultados satisfatórios, tanto nas demandas
processuais, quanto pré-processuais evitando reincidência, desgastes emocionais
dos envolvidos e atendendo as necessidades do Judiciário.
A pesquisa apresenta alguns experimentos com a aplicação do método das
Constelações no judiciário, que recebem o apoio do Conselho Nacional da Justiça e
desenvolvem a prática pelo Centro Judiciário de Soluções de Conflitos. As
experiências das regiões que estão utilizando o método foram identificadas nos
seguintes Tribunais Regionais: Rio de Janeiro, Paraná, Distrito Federal, Goiás e
Bahia.
Os projetos desenvolvidos estão sendo conduzidos por Juízes da Vara da
Família, ou de profissionais que já estão atuando no judiciário como mediadores,
conciliadores e psicólogos, capacitados pelo próprio tribunal ou por recursos
próprios. O método de Constelações Familiares, está sendo aplicado antes das
sessões de mediações ou conciliações, as experiências demonstram que desta
forma estimula os envolvidos a chegarem a um acordo. O TJPR, afirma que o
método é utilizado em casos pré-processuais, no decorrer de ações judiciais, ou
mesmo após encerramento e não substitui as mediações ou o atendimento
psicológico.
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As questões que tem sido abordadas com o método de Constelação Familiar,
são, pensão alimentícia, guarda dos filhos, divórcio litigioso, regulamentação de
visita, inventario entre outros casos. No TJRJ, foram evidenciados alguns resultados,
na mediação do índice de aprovação do método foi de quase 80% das audiências.
Além disso, 86% das audiências realizadas após as Constelações Familiares
resultaram acordo.
No TJDFT, para as primeiras experiências foram selecionados 48 processos,
destes, 19 formou acordo, o que representa 43%. Os critérios utilizados foram:
antiguidade (mais antigo e com instrução avançada) por serem mais conflituosos,
com temas semelhantes e que já tinham sido realizados outras audiências sem
êxito.
No TJGO, a prática das Constelações Familiares alicerçada a outros métodos
já atendeu 256 famílias e o índice de solução é de aproximadamente 94%.
No TJBA, a experiência mostra que quando uma das partes está presente o
índice de conciliação é de 73%, mas, quando as duas partes estavam envolvidas o
índice é de 91%.
As experiências desses tribunais com as Constelações Familiares,
demonstram além de reduzir o número de ações judiciais, pode reduzir também a
reincidência dos casos já tratados, ou até mesmo nos casos pré-processuais a
justiça pode atuar como um veículo de apoio as famílias de uma forma totalmente
humanizada.
A realização deste estudo permitiu vislumbrar sobre a possibilidade de se
chegar um dia a uma forma de fazer Justiça que contribua com as famílias, apoiando
e dando recursos para lidar com as suas questões mais profundas, dando a elas
uma sociedade mais equilibrada e funcional, sem julgamentos que decidem quem
está com a razão e sim quem precisa de apoio e recurso para se desenvolver no seu
núcleo familiar. Consequentemente, a justiça se tornará mais célere, eficaz e
funcional.
36
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do presente estudo permitiu verificar como o método está
sendo aplicado na área do judiciário e a analisar a abrangência da prática do método
e os resultados alcançados no Brasil.
A família é a base de toda sociedade, e como tal necessita ser preservada.
Conflitos existem e vão sempre existir, pois fazem parte da evolução do homem,
competindo a este a constante busca pela melhoria
Os conflitos, em sua maioria, suscitam dentro do seio familiar e deságuam na
justiça, demonstrando que as partes não conseguem, por si só, chegar a um acordo
e, se socorrem no Judiciário em virtude deste imputar uma decisão resolutiva. Isso
não significa que ambas as partes saiam felizes e contentes com o resultado, já que
o direito é decidido em favor de uma delas, restando a outra acatar e cumprir com a
decisão dada por um juiz (ser imparcial).
Mas o que normalmente ocorre (satisfação de um lado e insatisfação do
outro) é novos conflitos judiciais, além de quebra de relacionamentos anteriormente
existentes.
Diante dessa perspectiva de falta de futuro nas relações humanas
intrafamiliares, e lidando constantemente com conflitos judiciais é que o Juiz de
Direito Sami Storch ao conhecer a técnica alemã do filósofo e pedagogo Bert
Hellinger se encantou e vislumbrou o uso do método psicoterapêutico dentro da área
de seu oficio, direito de família.
A Constelação Familiar visa justamente harmonizar relacionamentos, dando
reconhecimento a cada membro de modo que a visão de um torna-se a visão de
todos.
Cada um é visto como parte do sistema, e este é visto conforme a união de
todos, o que permite a ampliação do problema, demonstrando que ele não afeta
nem vem de um único membro; com isso as partes colocam-se uma no lugar da
outra, observando o sistema em busca da solução.
Já conhecedor dos seus e dos problemas alheios, a tendência é tratar o
conflito de forma mais humanitária, com amor, paciência e respeito, o que numa
briga judicial está longe de se imaginar.
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A técnica procura resgatar o amor, amor este que se encontra por trás de
qualquer comportamento - esse é o centro - no qual pode-se começar a trabalhar as
dores, em busca da reconciliação.
Num conflito, as partes encontram-se frágeis, e insatisfeitas com algo,
cabendo a todos os envolvidos conduzirem o ambiente. É necessário ajudar as
partes a entender a origem dos males geradores daquela relação, ou seja, o que as
levou a estarem ali e o que motivou a não conciliação amigável.
Esse é o papel dos operadores do Direito durante as audiências de
conciliação. O Direito Sistêmico acredita que o ser humano tem a chave para
solucionar seus conflitos, basta que encontre os meios certos para tratá-los. Com
isso, a solução parte deles mesmos, sendo esta a mais adequada para uma
resolução duradoura, que visa a preservação do vínculo das relações.
Um quesito muito positivo a se observar é a celeridade na resolução de
conflitos, muito embora uma sessão requeira tempo e paciência, na maioria dos
casos basta uma única sessão para que as partes cheguem ao tão desejado acordo
consensual e com manutenção dos vínculos já existentes.
Na justiça tradicional, os casos judiciais levam anos para serem tratados, o
que gera insatisfação e uma sensação de justiça inacessível e prolongada, não
satisfazendo o desejo de justiça almejado.
Proporcionar novas ferramentas de solução de conflitos é realizar uma
mudança de perspectivas, e a retirada da chamada judicialização dos conflitos,
alterando a postura de julgadores dos magistrados.
Os juízes, atualmente, se capacitam para cada vez mais adquirirem o campo
do saber para dizer quem tem a razão, baseando-se em provas e Leis para assim
chegarem a cognição definitiva. Por ser um ser imparcial analisa de fora o conflito e
aplica o direito ao caso concreto.
Essa realidade dentro do contexto da Constelação Familiar é um pouco
diferente. A partir do uso desta técnica o Direito se moderniza para aceitar que as
partes conheçam e tratem seus conflitos, sendo ambas ganhadoras, e vindo o juiz a
homologar a sentença, sem necessariamente ter que julgar e decidir quem é o
detentor do direito.
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Aqui o juiz se esvazia de seus conhecimentos jurídicos e dá lugar ao desejo
de ajudar as partes a descobrirem a origem de seus conflitos, trabalhando para que
a paz chegue a partir desse ponto.
Todos são tratados de forma igualitária, considerando as histórias ocultas e
vivências, sendo merecedoras da mesma atenção. O juiz olha sem julgar ou predizer
quem está certo ou errado.
Essa nova postura aplicada ao Direito permite um tratamento profundo de
ambas as partes que se permitem ver um ao outro como parte de um sistema maior,
proporcionando crescimento e melhor qualidade de vida.
É esse tipo de justiça que se procura, uma justiça que leva em consideração
emoções, deixando de lado quantitativos e metas, se preocupando em servir
primeiramente à sociedade, à família, e cuidar da preservação de vínculos e
caminhar rumo a paz social.
Investir na aplicação do método de Constelação Familiar é necessário para a
progressão e disseminação da técnica principalmente no campo judiciário, e
preencher as lacunas existentes se torna uma meta a ser alcançada pelos operados
do Direito.
Estimular, resguardar e capacitar o profissional que realizará o método é de
suma importância para uma melhoria e qualidade nos serviços prestados à
sociedade, e o Direito Sistêmico rema em direção a isso.
Assim sendo é exequível o entendimento de que a técnica aplicada na
resolução de conflitos do Judiciário e efetiva e eficaz como instrumento/ferramenta
complementar da conciliação/mediação.
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REFERÊNCIAS
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CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça restaurativa e constelações familiares avançam no Paraná. Disponível em: https://cnj.jusbrasil.com.br/noticias/454407778/justica-restaurativa-e-constelacoes-familiares-avancam-no-parana. Acesso em: 29 de abril de 2018.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Projeto constelação familiar resolve conflitos por meio de conciliação. Disponível em:
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http://www.cnj.jus.br/noticias/judiciario/82949-projeto-constelacao-familiar-resolve-conflitos-por-meio-de-conciliacao. Acesso em: 29 de abril de 2018.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. TJGO é premiado por mediação baseada na técnica de constelação familiar. Disponível em: http://cnj.jus.br/noticias/cnj/79702-tjgo-e-premiado-por-mediacao-baseada-na-tecnica-de-constelacao-familiar. Acesso em: 29 de abril de 2018.
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TARTUCE, Flavio. Direito civil: Direito de Família. 11. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
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ANEXOS
Figura 1: Palestra e Evento de Constelação Sistêmica proferida pelo Dr. Sami Storch no Fórum de Castro Alves/BA.
Figura 2: Constelação Sistêmica com a utilização de bonecos.
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Figura 3: Vivência Sistêmica com Dr. Sami Storch.
Figura 4: Oficina de Direito Sistêmico no Fórum de Várzea Grande com a Dra.
Jaqueline Cherulli.
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Figura 5: Palestra vivencial estimula conciliação em questões familiares na Comarca
de Castro Alves.
Figura 6: Constelação Familiar participará do Judiciário do Mato Grosso do Sul.
