21
7/13/2019 A Valorização do Estrangeiro como Segregação nas Organizações http://slidepdf.com/reader/full/a-valorizacao-do-estrangeiro-como-segregacao-nas-organizacoes 1/21 RAC, Edição Especial 2001: 59-79  59  A Valorização do Estrangeiro como Segregação nas  A Valorização do Estrangeiro como Segregação nas  A Valorização do Estrangeiro como Segregação nas  A Valorização do Estrangeiro como Segregação nas  A Valorização do Estrangeiro como Segregação nas Organizações Organizações Organizações Organizações Organizações Fernando C. Prestes Motta Rafael Alcadipani Ricardo B. Bresler ESUMO ESUMO ESUMO ESUMO ESUMO A marca característica da cultura brasileira é a heterogeneidade. Além dela, alguns traços culturais despontam como marcantes em nosso país: o paternalismo, a malandragem, grande distância entre as camadas sociais e a valorização do estrangeiro. Pretendemos analisar a valorização do estran- geiro, ou melhor, o estrangeirismo, a partir de duas leituras distintas da cultura brasileira, sendo que a primeira servirá de suporte para a segunda, uma vez que são visões complementares e que se sustentam. A primeira análise e primeira parte deste ensaio foi desenvolvida por meio das figuras retóricas do colono e do colonizador apresentadas por Calligaris (1991). A segunda se dará no levantamento histórico-cultural desse traço e sua presença ao longo da formação nacional. Por fim, tentaremos argumentar que, no mundo organizacional, o estrangeirismo tem forte papel de segregação, papel este que vem sendo negligenciado nas análises do estrangeirismo no mundo organizacional. Palavras-chaves : cultura brasileira; cultura organizacional; poder; segregação; estrangeirismo.  A  A  A  A  ABSTRACT BSTRACT BSTRACT BSTRACT BSTRACT The main cultural aspect of the Brazilian culture is its heterogeneity. Besides that, Brazil has other important cultural aspects such as: the paternalism; the social distance among rich and poor people; the eroticism; the Brazilian way and the high value set on foreign things - the estrangeirismo. The aim of this article is to analyse the estrangeirismo from two different readings of the Brazilian culture. The first, written by Calligaris (1991), discusses rhetoric pictures of colonist and coloniser; the second one shows historic-cultural aspects of the Brazilian culture and was written by classic authors: Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Holanda and Gilberto Freyre, demonstrating how this cultural aspect has been present in our country since Brazil-Colony. Moreover, we intend to discuss that the estrangeirismo may assume a feature of segregation in the organisational world. Key words: brazilian culture; organizational culture; power; segregation.

A Valorização do Estrangeiro como Segregação nas Organizações

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A marca característica da cultura brasileira é a heterogeneidade. Além dela, alguns traços culturaisdespontam como marcantes em nosso país: o paternalismo, a malandragem, grande distância entreas camadas sociais e a valorização do estrangeiro. Pretendemos analisar a valorização do estrangeiro,ou melhor, o estrangeirismo, a partir de duas leituras distintas da cultura brasileira, sendoque a primeira servirá de suporte para a segunda, uma vez que são visões complementares e que sesustentam. A primeira análise e primeira parte deste ensaio foi desenvolvida por meio das figurasretóricas do colono e do colonizador apresentadas por Calligaris (1991). A segunda se dará nolevantamento histórico-cultural desse traço e sua presença ao longo da formação nacional. Porfim, tentaremos argumentar que, no mundo organizacional, o estrangeirismo tem forte papel desegregação, papel este que vem sendo negligenciado nas análises do estrangeirismo no mundoorganizacional.

Citation preview

  • RAC, Edio Especial 2001: 59-79 59

    A Valorizao do Estrangeiro como Segregao nasA Valorizao do Estrangeiro como Segregao nasA Valorizao do Estrangeiro como Segregao nasA Valorizao do Estrangeiro como Segregao nasA Valorizao do Estrangeiro como Segregao nasOrganizaesOrganizaesOrganizaesOrganizaesOrganizaes

    Fernando C. Prestes MottaRafael AlcadipaniRicardo B. Bresler

    RRRRRESUMOESUMOESUMOESUMOESUMO

    A marca caracterstica da cultura brasileira a heterogeneidade. Alm dela, alguns traos culturaisdespontam como marcantes em nosso pas: o paternalismo, a malandragem, grande distncia entreas camadas sociais e a valorizao do estrangeiro. Pretendemos analisar a valorizao do estran-geiro, ou melhor, o estrangeirismo, a partir de duas leituras distintas da cultura brasileira, sendoque a primeira servir de suporte para a segunda, uma vez que so vises complementares e que sesustentam. A primeira anlise e primeira parte deste ensaio foi desenvolvida por meio das figurasretricas do colono e do colonizador apresentadas por Calligaris (1991). A segunda se dar nolevantamento histrico-cultural desse trao e sua presena ao longo da formao nacional. Porfim, tentaremos argumentar que, no mundo organizacional, o estrangeirismo tem forte papel desegregao, papel este que vem sendo negligenciado nas anlises do estrangeirismo no mundoorganizacional.

    Palavras-chaves: cultura brasileira; cultura organizacional; poder; segregao; estrangeirismo.

    AAAAABSTRACTBSTRACTBSTRACTBSTRACTBSTRACT

    The main cultural aspect of the Brazilian culture is its heterogeneity. Besides that, Brazil has otherimportant cultural aspects such as: the paternalism; the social distance among rich and poor people;the eroticism; the Brazilian way and the high value set on foreign things - the estrangeirismo. Theaim of this article is to analyse the estrangeirismo from two different readings of the Brazilianculture. The first, written by Calligaris (1991), discusses rhetoric pictures of colonist and coloniser;the second one shows historic-cultural aspects of the Brazilian culture and was written by classicauthors: Caio Prado Jr., Srgio Buarque de Holanda and Gilberto Freyre, demonstrating how thiscultural aspect has been present in our country since Brazil-Colony. Moreover, we intend to discussthat the estrangeirismo may assume a feature of segregation in the organisational world.

    Key words: brazilian culture; organizational culture; power; segregation.

  • 60

    Fernando C. Prestes Motta, Rafael Alcadipani e Ricardo B. Bresler

    RAC, Edio Especial 2001

    IIIIINTRODUONTRODUONTRODUONTRODUONTRODUO

    [...] V se me esgota, me bota na mesaQue a tua holandesa, no pode esperar [...]

    Chico Buarque e Ruy Guerra

    Quando falamos de Brasil, desde logo o que podemos dizer que o trao cul-tural mais marcante de nosso pas e a nossa principal face a heterogeneidade.Somos, como j defendido por Ribeiro (1995), um povo claramente hbrido.

    Alm da patente heterogeneidade e diversidade de nossa cultura, antroplogoscomo Darcy Ribeiro e Roberto DaMatta, e ensastas, socilogos e historiadores,tais como Srgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr. e Raymundo Faoro, defen-dem que temos alguns traos culturais marcantes como, por exemplo: a cordia-lidade e a preferncia por relacionamentos pessoais afetivos ocasionadas poruma valorizao da famlia-paternalista como norteadora de todas as relaessociais (Holanda, 1973); a malandragem e o jeitinho brasileiro (DaMatta, 1983);a grande distncia entre as camadas sociais, ou melhor, entre os donos do po-der e o povo (Freyre, 1963; Prado Jr., 1948; Faoro, 1976); o erotismo (Freyre,1963); a no valorizao do trabalho manual (Freyre, 1963; Hollanda, 1973); avalorizao de outros pases em lugar do nosso, ou melhor, o estrangeirismo(Barbosa, 1999) etc. A pergunta que resta, vendo esses traos, se eles influen-ciam na gesto que se pratica em nosso pas.

    Guerreiro Ramos (1983) destaca que o fenmeno administrativo est sujeitoao condicionamento histrico-social. Conforme j apontado por Hofstede (1984),a cultura nacional influencia, sobremaneira, a cultura organizacional e, almdisso, as estruturas organizacionais so filtradas pelo conjunto de crenas quecada um tem, deixando claro que os traos histrico-culturais de um dado pas semanifestam nas organizaes deste pas (Prestes Motta, 1995). Assim, acompreenso de nossas caractersticas culturais de vital importncia para sepoder entender o comportamento dos indivduos nas organizaes, poroorganizacional em que, de fato, tais caractersticas se expressam cotidianamente.

    No que diz respeito peculiaridade brasileira, inmeras tentativas tm sidofeitas no sentido de explicitar e mostrar as relaes entre a cultura nacional e asorganizaes locais (Barros e Patres, 1996; Borges de Freitas, 1997; Prestes Mottae Caldas, 1997), de se desenvolver uma teoria organizacional brasileira (Guer-reiro Ramos, 1983; Serva, 1990) e de se verificar a influncia de traos especfi-cos de nossa cultura nas organizaes locais, tais como: o paternalismo (Bresler,

  • RAC, Edio Especial 2001 61

    A Valorizao do Estrangeiro como Segregao nas Organizaes

    1997; Davel e Vasconcelos, 1997), a preferncia pelas relaes familiares (Col-bari, 1995), a fixao do brasileiro na figura do estrangeiro (Caldas, 1997), ojeitinho brasileiro (Alcadipani, 1997). Alm disso, anlises muito interessantesvm sendo realizadas a respeito das organizaes tipicamente nacionais, como aGavies da Fiel (Costa, 1997), o jogo do bicho (Fischer e Santos, 1995) e umbarraco de escola de samba (Vergara e Palmeira, 1997).

    Neste ensaio, discutiremos a relao entre subjetividade e gesto de pessoas,ressaltando a realidade de nosso pas, ou seja, como os traos culturais brasilei-ros podem influenciar na maneira pela qual as pessoas so percebidas, geridas,administradas e controladas.

    Dentro deste contexto, nossa contribuio tentar discutir um trao histrico-cultural que vemos como marcante na cultura brasileira e que influencia sobre-modo as organizaes locais tanto em sua teoria como em sua prtica e especial-mente a maneira pela qual a gesto das pessoas se d nas organizaes brasilei-ras, qual seja, a valorizao do estrangeiro, trao alis j analisado por Caldas(1997) no mundo organizacional. Pretendemos fazer isso analisando a valoriza-o do estrangeiro que, muitas vezes, se d mascarada por uma pretensa buscade modernidade, a partir de duas leituras distintas da cultura brasileira. A pri-meira servir de suporte para a segunda, uma vez que so vises complementa-res e que se sustentam.

    Assim, a primeira anlise e primeira parte deste ensaio foi desenvolvida pormeio das figuras retricas do colono e colonizador apresentadas por Calligaris(1991), ao passo que a segunda se dar mediante o levantamento histrico-cultu-ral baseada nas leituras clssicas de nossa formao e de nossa cultura que, deacordo com Cndido (1973), so as obras de Prado Jr. (1948), Freyre (1963) eHolanda (1973) desse trao e sua presena ao longo da formao nacional.Por fim, tentaremos argumentar que no mundo organizacional em geral e nagesto de pessoas em particular o estrangeirismo tem forte papel de segregao,aspecto, alis, freqentemente negligenciado neste mundo. Antes, porm, gosta-ramos de fazer duas consideraes fundamentais.

    A primeira delas destacar que a anlise de traos culturais de um dado pas uma tarefa extremamente difcil de ser realizada e ganha complexidade muitomaior quando se tenta relacion-los com a cultura das organizaes, j que esta-mos inseridos na cultura deste pas e sempre carregamos em nossas anlisesnossos preconceitos, nossas experincias culturais, ou seja, nossa viso de mun-do e nossas convices. Com certeza, esta anlise que fazemos do topo da pir-mide social, posio que os estudiosos em geral ocupam, pode no dar conta darealidade mais importante de qualquer pas: a realidade da rua. Ainda assim,buscaremos ao longo deste ensaio trazer o Brasil de verdade, tentando evitar a

  • 62

    Fernando C. Prestes Motta, Rafael Alcadipani e Ricardo B. Bresler

    RAC, Edio Especial 2001

    viso do antroplogo ingls, do incio do sculo, que olhava com ares de civili-zador uma tribo primitiva de aborgines australianos.

    Ademais, Barbosa (1999, p. 14-15) j apontava que

    todo aquele que se aventure no empreendimento de estabelecer as liga-es de culturas com diferentes formas de administrar, ter que criar seuprprio caminho. E esse caminho passa necessariamente por superar mi-nimamente os dilemas de como enquadrar uma anlise do significado, talcomo a referida por Geertz - as estruturas conceituais que utilizamos paraconstruir a experincia -, que sejam suficientemente abstratas para se cons-tituir numa teoria, mas que, ao mesmo tempo, no se distancie demais doparticular e perca o p da realidade [...] No preciso nenhuma funda-mentao acadmica para afirmar que esse empreendimento uma aven-tura ambiciosa, no s pela novidade que lhe intrnseca, mas tambmpelo tamanho e complexidade da tarefa.

    Desta forma, ficam evidentes os limites do tipo de anlise que propomos, mastambm a sua necessidade; em hiptese alguma podemos acovardar-nos em facede limitaes to claras.

    A segunda considerao que julgamos fundamental destacar que, para ten-tarmos compreender melhor qualquer trao histrico-cultural de nossa socieda-de, necessrio deixar claro que a formao e a estruturao da sociedade brasi-leira foram marcadas pela explorao predatria dos recursos naturais locaispara serem vendidos ao mercado europeu (Prado Jr., 1948; Holanda, 1973; Fao-ro, 1976). Os nossos grandes ciclos econmicos, da extrao do pau-brasil, pas-sando pela cana de acar, minerao e chegando at o caf deixaram este fatopatente. A partir da diferena do tamanho de Portugal e de sua populao, emrelao ao territrio e populao brasileira, h aqueles que sugerem que a maiormatria prima do Brasil tenha sido o ouro vermelho, aquele que extrado damo-de-obra escrava (Hemming, 1978), em um primeiro momento, e da mo-de-obra barata no presente. Alis, se nos detivermos na anlise do nome Brasil,constataremos que ele foi dado pelos portugueses terra descoberta graas grandiosa quantidade de pau-brasil aqui encontrada, deixando no prprio nomedo pas a marca perptua da explorao (Calligaris, 1991).

    Um ponto conseqente do citado acima, mas igualmente importante a se des-tacar o fato de que, ao longo de nossa formao histrica, de modo geral, asiniciativas polticas tomadas no tinham como preocupao as necessidades lo-cais de desenvolvimento, mas o objetivo claro de facilitar a maximizao daexplorao de nossos recursos naturais (Prado Jr., 1948; Holanda, 1973; Faoro,1976), no importando se para tanto deveriam ser implementadas feitorias, lati-

  • RAC, Edio Especial 2001 63

    A Valorizao do Estrangeiro como Segregao nas Organizaes

    fndios ou dadas concesses de explorao. A criao de infra-estrutura local estradas, ferrovias, vilas, aparelhos administrativos governamentais at o in-cio do sculo XX, em larga medida, deu-se para facilitar a explorao de nossosrecursos naturais que seriam vendidos para a Europa. Alm disso, os recursosadvindos destas exploraes ou foram concentrados nas mos de uma elite, comrazes tipicamente europias e com certo desprezo pelo pas, ou foram direta-mente revertidos para os pases europeus: tudo para a elite e sua metrpole enada para o povo, eis o sentido claro de nossa formao histrico-social (Holan-da, 1973; Faoro, 1976).

    Tendo isso em vista, passaremos, a seguir, a analisar o Brasil nas figuras ret-ricas do colono e do colonizador desenvolvidas por Calligaris (1991). Na segun-da parte do ensaio, mostrando como este trao est presente ao longo da forma-o nacional e, com o auxlio da discusso de Calligaris (1991), tentaremos ar-gumentar que o estrangeirismo pode ser visto como catalisador da segregao,tanto entre pessoas como entre empresas, no mundo organizacional. Por derra-deiro, faremos nossas consideraes finais.

    BBBBBRASILRASILRASILRASILRASIL, , , , , OOOOO P P P P PASASASASAS QUEQUEQUEQUEQUE NONONONONO P P P P PRESTARESTARESTARESTARESTA

    A velha piadinha Espera para ver a gentinha que eu vou pr l, referindo-seaos privilgios naturais do Brasil e seu povo, parece ser, na verdade, a visoextremamente negativa do pas, em comparao com uma admirao desmedidados pases do Primeiro Mundo, especialmente Estados Unidos e pases euro-peus.

    Este pas no tem jeito, ou a forma mais direta e indelicada Este pas nopresta, so frases ouvidas nos txis, nos botecos e nos sales. Um nmero mui-to grande de brasileiros orgulham-se de ter um passaporte estrangeiro, graas benevolncia de alguns pases para com brasileiros descendentes de imigrantesdessas origens. Muitos brasileiros, enfim, emigraram, e provavelmente aindaemigram, para os Estados Unidos, Japo e Europa. No mundo organizacional, aemigrao temporria para se civilizar vista como indispensvel tanto paraacadmicos como para executivos (Caldas e Wood, 1997).

    Difcil imaginar um europeu dizendo coisa semelhante de seu pas. Ele pode-ria afirmar que o governo no presta, mas nunca a sua terra (Calligaris, 1991).Tambm se dizia, tempos atrs, o ltimo que sair apaga a luz, coisa impens-vel nos lbios de cidados de outros pases. O que estar por trs disto tudo,seno uma questo de identidade?

  • 64

    Fernando C. Prestes Motta, Rafael Alcadipani e Ricardo B. Bresler

    RAC, Edio Especial 2001

    Calligaris (1991) cria o neologismo UMtegrao para tentar explicar o que sepassa. Usa UMtegrao e no integrao, pois no falta patriotismo aos brasilei-ros, nem capacidade de convivncia entre etnias diferentes, muito embora a eliteseja invariavelmente, ou quase invariavelmente, branca ou que se v como bran-ca e o povo mulato, na maioria dos casos. Casa Grande e Senzala , pois, hojeuma metfora para explicar um Brasil de diferenas sociais enormes, marcadasna cor da pele.

    Calligaris (1991) defende que h no Brasil uma dificuldade relativa ao UM, aoqual toda e qualquer nao refere aos seus filhos. Trata-se de uma dificuldaderelativa significao e histria que dizem respeito ao significante nacional.

    que falam em cada brasileiro um colonizador e um colono. So figuras ret-ricas, as figuras retricas dominantes no discurso brasileiro. Colonizador e colo-no apresentam uma relao com a histria, pois ela que permite pens-los;todavia no se trata de categorias sociais, nem psicolgicas. no discurso decada brasileiro, que falam ou parecem falar, colonizador e colono (Calligaris,1991).

    O colonizador aquele que veio para impor a sua lngua materna a uma novaterra. Para a psicanlise, ela no propriamente nem a lngua, nem a lnguafalada pela me para a sua criana, nem a lngua que cada um comeou a falar.Ela a lngua em que o corpo materno aparece como impossvel. Assim, no uma lngua natural, tampouco nacional. uma lngua singular, qui uma torrede Babel, em que cada pessoa institui o simbolismo de um pai que o aceite comofilho, em troca de uma interdio do corpo materno. A lngua responsvel pelainterdio, a lngua que interdita, a mesma que permite sonhar com o que foiinterditado. Por essa razo, a lngua materna e no paterna. Para cada pessoa a lngua da estrutura simblica que a faz sujeito, mas igualmente a lngua dogozo perdido por ser sujeito (Melman apud Calligaris, 1991).

    Quem veio impor a potncia paterna, veio, ao mesmo tempo, demonstrar apotncia do pai. A lngua do pai, que podia gozar o corpo da me, vem demons-trar que pode gozar outro corpo que no o materno, longe do pai. Talvez a inter-dio diga respeito s me ptria e o novo corpo esteja livre para o gozo dofilho, do colonizador.

    No h diferena notvel na lngua portuguesa entre colonizador e explorador.Ele o primeiro a conhecer a terra, mas diferentemente das demais lnguas, oupelo menos das mais conhecidas entre os latinos, ele tambm o primeiro aarrancar seus recursos (Calligaris, 1991), como vimos no incio deste ensaio.Essa ambigidade de definio permite ver o colonizador como algum quesacode o Brasil como se pode sacudir uma mulher que est sendo possuda. o

  • RAC, Edio Especial 2001 65

    A Valorizao do Estrangeiro como Segregao nas Organizaes

    que grita goza Brasil, ao mesmo tempo que aguarda o momento do seu prpriogozo, quando esgotado, o pas se acaba, comprovando a potncia do estuprador.

    As piadas sobre portugueses no Brasil, que parecem extremamente antigas, eque normalmente falam de uma pretensa pouca inteligncia daqueles que sosemelhantes ao que existe entre outros povos, como por exemplo os francesesvem os belgas. O que torna porm o nosso caso nico o fato de a maioria dosbrasileiros ser descendente de portugueses; porm os portugueses so aquelesque no sabem gozar um corpo no proibido, j que preferiram ficar.

    Calligaris (1991) prossegue colocando que essa possibilidade de gozar ilimi-tadamente, pelo menos para os padres de outros povos, na terra em que tudod, torna os brasileiros, to corteses na maior parte das vezes, tambm arrogan-tes. Muitas situaes os levam a isso, como mostra a desagradabilssima pergun-ta Voc sabe com que est falando?, que aproximadamente significa eu (eminha famlia) soube gozar melhor do que voc, ou eu (e minha famlia) tenhomais direito de gozar do que voc.

    O colonizador, de acordo com o autor, feliz e poderoso, semelhante a ummanaco depressivo, em sua fase de mania, tambm tem mais tristezas, ou o seulado depressivo. O corpo que estreita em suas mos e que por vezes sacode um corpo no qual no recaem interdies. Alm disso, um corpo que goza, isto, que responde ao seu desejo e a sua ao. Ele sabe que no esse corpo quequeria, mas o que deixou um dia, ou que algum que veio antes podia ter deixa-do. Ele sonha com outro corpo, mais belo, mais nobre que este que lhe acess-vel, o corpo materno que ele mal conhece, e que na sua imaginao pleno devirtudes e sem vcios, a exemplo de Ciranda da Bailarina, de Chico Buarque eEdu Lobo, que no tem qualquer coisa feia ou mal vista.

    Ele queria fazer gozar o corpo interditado. O Brasil deve ser explorado, esgo-tado at o fim, sem d nem piedade, uma espcie de manequim nas mos docolonizador, algo que s faz lembrar muito palidamente o nico corpo que real-mente contava, o corpo interditado da me terra. Apropriar-se do pas, demos-trando toda a sua potncia; mas, ao mesmo tempo, constata o fracasso dessaapropriao. A potncia no sua, exerce-a em nome do pai, num corpo que no tambm o da me ptria. O colonizador veio fazer a Amrica, como se diziano passado. Em outras palavras, numa metfora sexual, ele veio gozar a Am-rica; entretanto no era a Amrica que ele queria fazer gozar, mas outras tantasptrias de referncia, como a Frana, Gr-Bretanha, Alemanha, Estados Unidosetc. No a origem que conta, mas o valor da referncia.

    O Brasil jamais poder gozar da forma que os outros imaginariamente gozam,e o Brasil no pode ser a Frana ou os Estados Unidos. O mesmo se d com a gesto

  • 66

    Fernando C. Prestes Motta, Rafael Alcadipani e Ricardo B. Bresler

    RAC, Edio Especial 2001

    de pessoas que dirige brasileiros e no norte-americanos ou franceses. Como ocolonizador no se conforma com isso, ele imagina que tem algo a cobrar perma-nentemente do pas, do seu povo, e tambm de suas autoridades; porm, em vezde cobrana, o que se ouve Este pas no tem jeito, Este pas no presta.

    J o colono aquele que, tendo abandonado sua lngua materna, viajou paraoutra lngua. Isto vale para todos, incluindo os portugueses, que foram os pri-meiros a chegar e continuaram a chegar, mas no tanto por essas razes histri-cas, j que ser colono ou colonizador so na verdade posies subjetivas. No setrata de algum atrasado que espera participar do festim do colonizador. Adere nova lngua no para ter acesso a um corpo materno finalmente permissivo. Ele diferente porque procura um nome, um novo pai que estabelea limites e oreconhea. O pai que o deixou partir no foi na verdade seu pai.

    Calligaris (1991, p. 20) relata que

    existe em Bento Gonalves, um admirvel museu da imigrao italiana.Nele est exposto, entre outras coisas, o passaporte de um imigranteitaliano, vindo ao Brasil com a mulher grvida e os filhos pequenos; comose fosse, o passaporte da poca era um salvo conduto, uma simples folhade papel sem imagens, na qual o Rei da Itlia autoriza s esta viagem, e sesta destinao. O nosso imigrante, provavelmente analfabeto, talvez nestecomeo de sculo encontrasse pela primeira vez, na ata de seu passaporte,alguma forma de reconhecimento de sua existncia de sua consistnciasimblica e jurdica. Deixar a sua lngua materna produzia milagrosamenteum documento no qual, por ele ser nomeado, a sua dignidade humana erareconhecida.

    A divina Ordem e Progresso foi escrita pelo colono, uma interdio paternaque fizesse dele um sujeito. O colono tambm pode dizer, mais dramaticamente,este pas no presta, sancionando o fracasso da UMtegrao: o pas no soubeser pai, o colono no foi assujeitado pelo UM nacional. O colono no encontraum quadro nacional que lhe outorgue a cidadania. Quando um atravessador lheapresenta o novo pai, ele descobre a farsa: o pai prometido tambm est atrs deum pai e, pelo que esse pode representar, descobre tambm que h um coloni-zador por trs do pai.

    Quando emigra, o brasileiro tem dificuldade em voltar. A dificuldade cultural.Como exibir diante de uma lngua que no o reconhecia, outra que tambm noo reconhece. Colono e colonizador parecem suspensos em meio a uma viagem.H sempre a esperana de encontrar uma terra a mais, se no houver mais o queexplorar ou se algum UM nacional no me fizer cidado. Os barcos no foramqueimados (Calligaris, 1991).

  • RAC, Edio Especial 2001 67

    A Valorizao do Estrangeiro como Segregao nas Organizaes

    Num esforo comovente, o brasileiro procura encontrar um norte cultural noescravo, terceira dimenso de seu discurso; todavia o escravo tambm no uma fala integradora, dada a natureza de Casa Grande e Senzala da culturabrasileira, distncias sociais enormes. Parece que a busca de UMtegrao carac-teriza o Brasil e ser por muito tempo o trao fundamental, a cara do pas queno consegue ser me nem pai.

    Tendo por base a discusso aqui apresentada, analisaremos a valorizao doestrangeiro em nossa cultura e como tal valorizao est presente no mundoorganizacional, exercendo um papel de segregao entre pessoas e entre empresas.

    A VA VA VA VA VALORIZAOALORIZAOALORIZAOALORIZAOALORIZAO DODODODODO E E E E ESTRANGEIROSTRANGEIROSTRANGEIROSTRANGEIROSTRANGEIRO (E (E (E (E (ESTRANGEIRISMOSTRANGEIRISMOSTRANGEIRISMOSTRANGEIRISMOSTRANGEIRISMO) ) ) ) ) COMOCOMOCOMOCOMOCOMO S S S S SEGREGAOEGREGAOEGREGAOEGREGAOEGREGAO

    Escrevendo uma crnica a partir de um conto do vigrio sofrido, o articulistaMarcelo Coelho (2000, p. 5), do jornal Folha de So Paulo, afirmou: temos aalegria de no sermos xenfobos. O estrangeiro sempre nos parece superior:mais culto, mais civilizado. Nacionalizamos a patifaria. Se o brasileiro, por de-finio, o malandro, aquele que quer levar vantagem em tudo, decorre mais oumenos logicamente que o gringo honesto e ingnuo. Sentimos orgulho, portan-to (eu senti) ao sermos ingnuos. Curiosa a forma de nacionalismo, a que seexpressa em submisso; mas assim que funcionamos, a meu ver.

    Esta passagem do texto deixa claro o que entendemos por estrangeirismo: avalorizao do que estrangeiro, menosprezando o que brasileiro, ou seja,como o prprio articulista nos mostra que aconteceu com ele: sentir orgulho dese identificar com o estrangeiro e, assim, negar sua brasilidade. Tal fato pareceestar presente pelo menos em todos os brasileiros bem nascidos, chegando aoponto do nacionalista e a defesa do tipicamente brasileiro, em nosso pas, seremestereotipados com cores de ridculo, a exemplo de Policarpo Quaresma. Tam-bm podemos ver isso como uma caraterstica tpica das figuras retricas docolonizador e do colono. O primeiro no valoriza o pas pelo fato de no ser aquia terra que ele queria fazer gozar, ao passo que o segundo no o faz por quererser reconhecido e no o ser por este pas, j que no existe pecado do lado debaixo do Equador.

    Faoro (1976) nos aponta que no perodo de nossa colonizao o aparelho paragerir a colnia surgiu antes da populao e que em nossa peculiaridade os orde-namentos jurdicos sempre foram concebidos com o intuito de criar a realidadee no de regulament-la; as vilas se criaram antes da povoao, a organizaoadministrativa precedia ao fluxo das populaes. Prtica do modelo de ao do

  • 68

    Fernando C. Prestes Motta, Rafael Alcadipani e Ricardo B. Bresler

    RAC, Edio Especial 2001

    estamento, repetido no Imprio e na Repblica: criao da realidade pela lei,pelo regulamento [...] a Amrica seria um reino a moldar, na forma dos padresultramarinos, no um mundo a criar (Faoro, 1976, p. 121).

    Prado Jr. (1948, p. 345) concorda com Faoro (1976) expondo: o poder nobrotou no ntimo da sociedade brasileira, incapaz de tal criao, mas lhe foiimposto do exterior. Ainda nesta linha, Holanda (1973, p. 119) defende que osportugueses trouxeram de terras estranhas um sistema complexo e acabado depreceitos, sem saber at que ponto se ajustavam s condies de vida brasileira esem cogitar das mudanas que tais condies lhe imporiam.

    Assim, o mpeto de explorao metropolitano no perodo colonial fez com queo reino portugus evitasse o desenvolvimento do pas enquanto tal e no levasseem conta as peculiaridades nacionais na implementao das estruturas adminis-trativas, sociais e econmicas. Ele tentou sempre impor seu modo de vida e suasestruturas governamentais. A bem da verdade, como j vimos, o Brasil era vistocomo uma terra a ser explorada e no como terra a ser desenvolvida. O que sedestaca o fato da criao da realidade pela lei estrangeira ter por objetivo do-minar a populao que aqui estava, fornecendo-lhe frmulas prontas e acabadasde como deveria portar-se; os membros da elite nacional eram os defensores dosinteresses da metrpole no pas; portanto a metrpole explorou e pretendia do-minar a colnia; para tanto moldou-a e geriu-a a sua imagem e semelhana(Holanda, 1973; Faoro, 1976).

    Posteriormente, a Independncia do pas se deu e a prpria palavra Indepen-dncia parecia sugerir que o pas comearia a caminhar por si s; entretantocom ela o regime colonial e todos os seus ranos no se extinguiram, mas mo-dernizaram-se. O que ocorreu, de fato, foi uma reorganizao dos papis, j quea figura da metrpole foi trocada pela do Imperador Dom Pedro e seu estamen-to; no auge da centralizao imperial, o pas continuou a sofrer um processo deeuropeizao, trocando, entretanto, Portugal pela Gr-Bretanha. Iniciou-se umprogresso consciente de desenvolvimento calcado nos moldes britnicos. A elitenacional que tinha por guia os lusitanos passou a ter os ingleses. Ao Estadocoube o papel de intermediar o impacto estrangeiro. O Tesouro queria adequar opas ao mundo moderno, impondo-lhe maior ritmo de progresso. O sistema tri-butrio aduaneiro privilegiava a entrada de produtos britnicos. A economia bra-sileira transformou-se em um apndice da britnica (Faoro, 1976).

    No pensemos que a adoo destes modos de sociedades desenvolvidas, im-pondo os interesses de uma elite minoritria sobre os interesses da populaolocal ficaram restritos aos tempos de Brasil Colnia e Imprio. Dando continui-dade ao seu argumento Faoro (1976), em sua fantstica anlise dos Donos doPoder, mostra-nos que ao longo de nossa histria testemunhamos a valorizao

  • RAC, Edio Especial 2001 69

    A Valorizao do Estrangeiro como Segregao nas Organizaes

    pelos donos do poder local da adoo de modos de vida estrangeiros, primordi-almente dos pases tidos como desenvolvidos para cada poca histrica (Portu-gal, Gr-Bretanha, Frana) em nossa sociedade, a fim de que ela pudesse articu-lar-se com o mundo desenvolvido, tido como o ponto de chegada desejado paranosso pas. Baseado em Celso Furtado, Caldas (1997) argumenta que o nossoprocesso de industrializao foi realizado para atender mundializao da eco-nomia norte-americana. Tal processo criou padres de consumo drasticamenteelevados para uma pequena parcela da populao, mantendo a distncia entre ascamadas sociais. Neste cenrio, Barbosa (1999), analisando a maneira com queos brasileiros lidam com a meritocracia, contrapondo nossa sociedade aos Esta-dos Unidos e ao Japo, e buscando as relaes entre antropologia e os estudosorganizacionais, aponta que a sociedade brasileira sempre teve outros prefe-renciais e que desde a Segunda Guerra Mundial at os dias de hoje os EstadosUnidos se encontram neste lugar, servindo de norte para as nossas discussesdomsticas sobre modernidade, cidadania, indivduo, liberdade de mercado etc.Hoje, a ideologia que desponta como geral : o que funciona nos Estados Uni-dos, deve (precisa) funcionar no Brasil.

    Tendo isso em vista, percebemos a pertinncia das figuras retricas desen-volvidas por Calligaris (1991) apresentadas no item anterior e a complementari-dade de sua anlise com a que estamos desenvolvendo neste item. Aqui pode-mos ver que a terra brasileira e o seu povo sempre foram vistos como algo quedeveria ser explorado ao mximo, terra para a extrao do ouro vermelho, algoque deveria gozar infinitamente para satisfazer os desejos do frustrado coloniza-dor; a elite nacional continua a agir como tal, querendo tirar mais e mais do pase de seu povo, perpetuando-se a natureza Casa Grande e Senzala de nossacultura. Como mostramos acima, tanto o colonizador como o colono esto pre-sentes imaginariamente em cada brasileiro. Na anlise histrico-cultural, a figu-ra do colono tambm encontra seu espao, j que ao longo de nossa histria seevitou ao mximo o reconhecimento das caractersticas locais para o desenvol-vimento do pas por si s, deixando claro que o colono no consegue, historica-mente, seu almejado reconhecimento. Analisando-se, portanto, a formao na-cional e o seu desenvolvimento histrico-cultural, pode-se perceber a pertinn-cia das figuras retricas de Calligaris (1991) e a sua importncia na compreen-so de nossa cultura.

    Um exemplo interessante da valorizao e adoo de modos de vida importa-dos nos dado por Sevcenko (1985), relatando uma pesquisa que fez sobre o Riode Janeiro no perodo de 1900 at 1920. Segundo o autor, pelos idos de 1900, oRio pretendia tornar-se uma grande capital burguesa, para poder receber as mer-cadorias europias, seus negociantes, capitalistas e, conseqentemente, seus ca-pitais. O porto do Rio havia-se transformado no terceiro em volume da Amrica.

  • 70

    Fernando C. Prestes Motta, Rafael Alcadipani e Ricardo B. Bresler

    RAC, Edio Especial 2001

    O governo local e a elite achavam que a cidade e a sua populao, em suasfeies tradicionais, eram um entrave para este fato, pois tinham vergonha desua aparncia subdesenvolvida e achavam que os europeus no iriam sentir-seem casa. Tendo por objetivo mudar a feio do local, reurbanizou-se a cidade,jogando todos os pobres que viviam no centro para os morros, e acentuou-se umestilo europeu de vida. Sevcenko (1985, p. 47) nos relata algumas cenas decorrentesdeste fato: as moas no sabiam como usar as roupas europias. Quem sabiadisso eram as prostitutas europias, francesas em particular. Ento o five-o-clock-tea era o momento social da alta burguesia carioca com as prostitutas francesas.Alm das prostitutas ensinando bons modos, tivemos a prtica espria de escondera dimenso negra brasileira: ningum tomava banho de mar. E todos, de manhcedo, era um hbito entre os mais jovens, entre os nubentes, tomavam um copode vinagre em dejejum, para provocar um embranquecimento da pele, uma palidezmeio esverdeada que era tida como de bom gosto (Sevcenko, 1985, p. 48).

    Por outras vias, Riggs (1963) e Guerreiro Ramos (1983) demonstram que aadoo de modelos polticos e modos de vida estrangeiros surgem com o intuitode fazer com que as sociedades em vias de desenvolvimento possam articular-se, por meio de uma aparente modernidade, com as sociedades desenvolvidasdas quais as primeiras so dependentes. No caso brasileiro, como acabamos dever, esta dependncia quer seja no perodo colonial, quer seja em nossaindustrializao, no se deu por meio de ganho mtuo, mas atravs da exploraodos recursos naturais locais e/ou do nosso mercado para o benefcio do estrangeiro,ou seja, configurou-se como forma de dominao e explorao local, voltadapara fora, perpetuando o sentido exploratrio da colonizao.

    Ainda mais, a valorizao destes modos e modelos, alm de servir como for-ma de se articular com o estrangeiro desenvolvido, serviu como fator de diferen-ciao da elite perante o povo em geral, j que ela se juntou s metrpoles es-trangeiras para extrair ao mximo os frutos da nossa terra, como muito bem nosmostraram Prado Jr. (1948), Freyre (1963), Holanda (1973) e Faoro (1976). Spink(1994), tendo por base Faoro (1976), afirmou que o Brasil vem sendo palco desucessivas imposies de modelos modernizadores, cuja funo sempre saltaretapas imaginrias em grandes e populssimos momentos de progresso nacional;entretanto a modernizao imposta pelas elites deixa a maioria da populao margem de seus benefcios sociais, sendo que tais modernizaes sempre favo-receram os interesses das elites em primeiro plano (Spink, 1994), ou seja, amodernizao d frutos para os donos do poder que assim perpetuam sua posiona pirmide social.

    O interessante desta juno entre elite e estrangeiros que ela fazia com quea primeira tentasse subjugar a populao local, ao mesmo tempo que era depen-dente dos pases com os quais queria articular-se.

  • RAC, Edio Especial 2001 71

    A Valorizao do Estrangeiro como Segregao nas Organizaes

    Alm disso, utilizando as figuras retricas de Calligaris (1991) para entender apreferncia pelo estrangeiro, o que parece estar subjacente que, adotando estesmodelos e modos de vida estrangeiros, o colonizador tenta fazer com que estaterra fique parecida com a sua terra de referncia, ou seja, busca criar uma iden-tidade entre a sua terra original idealizada e a terra em que vive; mas sabe, aomesmo tempo, que o Brasil nunca ser como ela.

    Assim, o que significa usar roupas europias no trrido clima carioca, no ir praia e beber vinagre para esconder a dimenso negra brasileira? Significanegar a prpria origem, negar que temos fortes influncias indgenas e negrasem nossa formao histrica, ou seja, negar que muitos de nossos bisavs, muitoprovavelmente, foram escravos, trabalharam duro e foram pobres; significa negarque pertencemos a esta terra que no tem interdio e fazemos gozar, voltando anossa fase de depresso. O que parece estar por trs disso o fato de que serbrasileiro sinnimo de ser escravo, caipira ou jeca tatu; em suma: ser pobre eignorante. Prado Jr. (1948) j defendia que, em nosso pas, a discriminao entreas pessoas no se d de forma marcante na diferena tnica, como nos EstadosUnidos, mas pela diferena de dinheiro e poder, ou seja, de posio social; dequem mora na casa grande contra quem mora na senzala. Freyre (1963) j apon-tava que o binmio Casa Grande e Senzala est notoriamente inscrito em nossacultura.

    Por meio das imagens mostradas por Sevcenko (1985), podemos perceber algoque acompanha o pas desde as suas origens: a elite nacional tem vergonha deser brasileira e menospreza sobremaneira o que nacional, buscando no exterior,na negao de sua brasilidade, a sua identidade. A personagem Caco Antibesdo programa humorstico Sai de Baixo fornece-nos uma caricatura deste brasi-leiro que se identifica com o estrangeiro, tem a sua identidade como se fosseestrangeiro e que odeia pobre, a despeito de ser um deles.

    Como estas caractersticas estariam, ento, presentes tanto nos estudos organi-zacionais como na prtica das organizaes brasileiras?

    EEEEESTRANGEIRISMOSTRANGEIRISMOSTRANGEIRISMOSTRANGEIRISMOSTRANGEIRISMO EEEEE O O O O ORGANIZAESRGANIZAESRGANIZAESRGANIZAESRGANIZAES

    Como vimos, a estruturao e a formao do Estado no Brasil foram emba-sadas nos modelos europeus. Tais estruturas foram transportadas diretamenteda Europa sem saber como se ajustariam s nossas peculiaridades (Holanda,1973).

  • 72

    Fernando C. Prestes Motta, Rafael Alcadipani e Ricardo B. Bresler

    RAC, Edio Especial 2001

    Mas isso no parou por a. Quando se deu o desenvolvimento industrial, eleocorreu calcado na experincia das naes ocidentais mais avanadas, resultan-do deste fato a filosofia que direcionou a criao das escolas de administraonacionais. Na poca da sua fundao e desenvolvimento, as instituies norte-americanas tiveram papel fundamental tanto na seleo dos primeiros professo-res quanto na metodologia de ensino adotada (Serva, 1990).

    A partir da anlise do papel especfico da ideologia gerencial no desenvolvi-mento do sistema fabril em sua fase inicial, em nosso pas, elaborada por Pena,Serva (1992) mostra que a importao de metodologias e modelos administrati-vos foi extremamente importante na solidificao da ideologia burguesa indus-trial naquela poca, gerando a identidade da burguesia industrial de ento. Per-cebemos aqui o papel da adoo de modelos estrangeiros na solidificao daidentidade da elite.

    A criao das escolas de administrao teve papel fundamental na institucio-nalizao da importao desses modelos e metodologias. Em seguida, presen-ciou-se uma rede de diversos atores sociais, tais como empresas de treinamento,consultorias etc, que deram continuidade a este processo, sem que as escolas deadministrao tenham perdido o seu papel fundamental na propagao de meto-dologias e modelos administrativos importados (Serva, 1992) .

    Neste cenrio, Serva (1992) defende que estes mtodos e/ou modelos assumi-ram uma dimenso mitolgica, j que tanto os praticantes como aqueles queensinam administrao acreditam que devem sempre seguir os modelos estran-geiros e defendem que as organizaes somente conseguiro desenvolver-se,implementando os modelos modernos gestados no Primeiro Mundo; caso con-trrio, ficaro obsoletas. Notamos aqui a presena do estrangeirismo como cata-lisador da adoo destes modelos, j que, como vimos no incio deste item, his-toricamente o ser moderno e de boa qualidade est, em nosso pas, associadocom o ser estrangeiro.

    Tais mitos so forjados, surgem para produzir modas e criar uma ansiedadepermanente nos administradores pelo que de mais novo foi produzido no exteri-or (Serva, 1992). A presena destes modismos gerenciais fica patente, quandovemos a realidade das organizaes. Qual empresa brasileira escapou de umprocesso de reengenharia no incio da dcada passada? E da qualidade total?(1)

    A valorizao do estrangeiro e a adoo de modelos e teorias administrativasestrangeiras no ficaram circunscritas ao lado prtico da administrao. Berte-ro e Keinert (1994), analisando 32 anos (1961 a 1993) de artigos publicados narea de anlise organizacional, constataram que consumimos, repetimos e divul-gamos idias produzidas fora do pas, principalmente provenientes dos Estados

  • RAC, Edio Especial 2001 73

    A Valorizao do Estrangeiro como Segregao nas Organizaes

    Unidos, ou seja, a anlise organizacional brasileira limita-se a reproduzir demaneira didtica o que foi produzido no exterior. Corroborando esta anlise,Vergara e Carvalho (1995) comprovam que, na amostra que analisaram, 78,3%das referncias nos artigos da anlise organizacional em nosso pas so estran-geiras, primordialmente norte-americanas, francesas e britnicas. Alm disso,de acordo com os autores, o motivo para a utilizao destes referenciais no sed devido adequao deles nossa realidade, mas pela influncia que taisreferenciais tm na formao dos autores brasileiros. Assim, tanto Bertero eKeinert (1994) quanto Vergara e Carvalho (1995) constatam no haver uma an-lise organizacional propriamente brasileira.

    Examinando as implicaes organizacionais da fixao brasileira na figura doestrangeiro, Caldas (1997) demonstra que, de fato, santo de casa no faz mila-gre, quando se trata de administrao no Brasil. Dando fora a todas as anlisesdescritas acima, Caldas (1997) defende que este comportamento est institucio-nalizado entre ns, e a educao (escolas de administrao), os profissionais(consultores, executivos, conferencistas, palestrantes) e os prprios acadmicosfuncionam como agentes propagadores disso. Alm do mais, a aprovao dosindivduos no mundo organizacional depende do quanto eles mostram comun-gar das fontes de vanguarda estrangeiras, primordialmente americanas (Caldas,1997), ou melhor, quanto mais aceitamos e propagamos o importado, mais pa-recemos civilizados (Caldas e Wood Jr., 1997). Assim, um intercmbio, um MBA,uma expatriao, um doutorado ou ps-doutorado em uma universidade estran-geira aparece para ns como a melhor maneira de legitimar o executivo ou aca-dmico em nosso meio, ou seja, a identidade de moderno est relacionada comrepetir e implementar modelos e teorias gerados fora do pas.

    Desta maneira, quando falamos do mundo dos gestores no Brasil, h umavalorizao extrema de modelos organizacionais, metodologias e teorias gera-dos alhures, no havendo preocupao com a pertinncia (funcional) dessesmodelos nossa realidade. O que h uma preocupao ntida em se mantermoderno, manter-se em contato com o mundo, fazendo com que nossa anliseorganizacional e nossa administrao se desenvolvam a partir destes referenci-ais importados.

    Quando colocamos o foco especificamente no mundo empresarial, notamosque se gastam milhes de reais anualmente com a adoo de metodologias emodelos de gesto que no so adequados nossa realidade. Tais referenciais,no mais das vezes, no esto adequados s nossas peculiaridades histrico-soci-ais, j que no foram concebidos para elas. Nossa temtica no apropriada paraa nossa realidade (Serva, 1990, 1992; Caldas, 1997). A maioria dos modelosimportados, nas organizaes, so implementados para ingls ver, causam

  • 74

    Fernando C. Prestes Motta, Rafael Alcadipani e Ricardo B. Bresler

    RAC, Edio Especial 2001

    frustrao ou tm de ser adaptados de maneira criativa (Caldas e Wood Jr., 1997).At este ponto todas as anlises do estrangeirismo no mundo organizacionalso unnimes. Partindo de um ponto de vista ou de outro, elas sempre chegamaqui: temos enorme simpatia pelo que gerado no exterior; estes modelos gera-dos alhures muitas vezes no condizem com a nossa realidade; precisamos mu-dar isso, e comear a levar nossa peculiaridade em conta etc. Tais anlises noderam conta do papel de segregao que a valorizao do estrangeiro desempe-nha em um pas com um significante hiato entre as camadas socais.

    Conforme analisado anteriormente, a idia de seguir o estrangeiro para noficar atrasado e poder se articular com ele est presente ao longo de nossaformao histrico-social, em nosso imaginrio por meio das figuras retricasdo colono e do colonizador e funcionou como uma forma de diferenciar a elitedos demais, gerando a dependncia e a explorao do nosso pas. Mais uma vez,se destaca o papel paradoxal da elite que, por um lado, tenta subjugar a popula-o local e, por outro, cria a sua identidade, a partir do referencial externo e, paraisso, se obriga a seguir tais ditames, subjugada por eles.

    Somente podem comungar da fonte da vanguarda estrangeira, e assim, sercivilizado e moderno aqueles que estudaram em boas escolas, tiveram a possi-bilidade de morar no exterior (Europa ou Estados Unidos), ou seja, aqueles quepossuem boas condies sociofinanceiras, uma elite enfim.

    Quando falamos de organizaes, o fato se repete. Somente as grandes em-presas tm condies de implementar estes modismos ou mitos, j que somenteelas tm condies de pagar as consultorias que implementam estas maravilhasda gesto americana; somente elas podem dar-se ao luxo de implementar mo-delos organizacionais para ingls ver, ou seja, somente uma elite, tanto deempresas como de pessoas, pode ser moderna em nosso pas.

    Assim, dentro do mundo organizacional, seguindo a cultura de nosso pas, oestrangeirismo funciona como forma de dar identidade elite, tanto de pessoascomo de empresas, e segregar os demais, alm de dificultar que encontremossolues prprias para os nossos problemas, que haja um desenvolvimento demodelos de gesto tipicamente nacionais, que levem em conta nossas especifici-dades na teorizao e anlise organizacional.

    Se fizermos uma analogia com o modelo elaborado por Enriquez (1987), arespeito do controle sobre o pensar nas organizaes, um dos elementos do tri-plo controle exercido (corpo, pensar e psique), veremos algumas coisas interes-santes. Apesar de a organizao pressionar a padronizao do pensar, Enriquez(1987, p. 29) aponta que h uma contradio curiosa, pois ao mesmo tempo quese apela para adeso total do pensar, h a demanda pela criatividade e inovao:

  • RAC, Edio Especial 2001 75

    A Valorizao do Estrangeiro como Segregao nas Organizaes

    o mais integrado, o mais adaptado e o mais conformado (a essa ideologia) rara-mente o mais eficaz [...] mas essa contradio permite manter os colaborado-res em um estado de culpabilidade permanente (nunca suficientemente confor-mado, nem suficientemente criativo), fortalecendo o controle organizacional.Da mesma forma a idealizao dos modelos estrangeiros funcionaria para o es-tado de culpabilidade das empresas nacionais: nem somos to adequados aonovo discurso gerencial, nem suficientemente criativos para enfrentar os novosdesafios organizacionais.

    O estrangeirismo, portanto, auxilia a perpetuar nosso papel de consumidoresde metodologias e idias geradas no exterior; nossa dependncia e a segregaode uma elite dos demais tm um claro papel na perpetuao das relaes depoder, de no permitir a mobilidade entre pessoas e entre empresas, auxiliandona perpetuao da Casa Grande e Senzala como trao cultural brasileiro, pelomenos dentro do mundo das organizaes.

    CCCCCONSIDERAESONSIDERAESONSIDERAESONSIDERAESONSIDERAES F F F F FINAISINAISINAISINAISINAIS

    Antes de mais nada, cumpre dizer que no somos xenfobos que pretendemexcluir totalmente a participao dos estrangeiros e seus modelos em nosso pase culp-los por todos os nossos problemas sociais. Tampouco achamos que oestrangeirismo exera papel fundamental na segregao das pessoas e na perpe-tuao das desigualdades brasileiras como um todo, e no mundo organizacional,em particular. Ele somente mais um fator; agora vem o mais importante: noestamos tratando do estrangeiro em si, mas do imaginrio dos gestores em rela-o a eles.

    Neste ensaio, primeiramente discutimos a cultura brasileira, a partir da leiturade Calligaris (1991), que para tanto desenvolveu as figuras retricas do colono edo colonizador. Ambos dizem a frase este pas no presta em conotaes dis-tintas. O colono a diz por no ter sido interditado (reconhecido) pelo pas, e ocolonizador por no ser esta a terra que ele queria fazer gozar. A importnciadesta anlise est em nos mostrar que todos ns brasileiros, imaginariamente,temos problema com a questo do UM nacional e que buscamos valorizar oestrangeiro para dirimir este problema. Alm disso, ela serviu para mostrar comoo estrangeirismo est inserido nos indivduos brasileiros. Em nossa segunda an-lise, complementar a primeira, fizemos a genealogia do estrangeirismo, a partirdos traos histrico-culturais de nosso pas. Por fim, mostramos como o estran-geirismo assume uma faceta de segregao no mundo organizacional em geral ena gesto de pessoas em particular.

  • 76

    Fernando C. Prestes Motta, Rafael Alcadipani e Ricardo B. Bresler

    RAC, Edio Especial 2001

    O que pretendamos neste ensaio chamar a ateno para a faceta de segrega-o que o estrangeirismo pode exercer e que muitas vezes fica obscurecida atrsde uma pretensa busca pela modernidade. Alis, a modernidade, como mostra-mos, funcionou e funciona como uma ideologia que mascara a segregao queela impe.

    A partir da, configura-se como fundamental tentar desenvolver uma anlise euma prtica organizacional que leve um pouco mais em conta nossa realidade,que as contribuies vindas de fontes estrangeiras sirvam para auxiliar este fime no deix-lo cada vez mais distante, dando maior significado para a teoria e aprtica organizacional e administrativa que se ensinam e se aplicam neste pas,j que estariam mais adequadas sua realidade.

    Este propsito j foi destacado e ressaltado por Guerreiro Ramos (1983) halgum tempo; pouco, muito pouco tem sido feito para operacionalizar isso. Apergunta que resta : A quem interessa o estrangeirismo, ou melhor, interessa aalgum ter uma teoria das organizaes que leve em conta nossa cultura?

    NNNNNOTAOTAOTAOTAOTA

    1 Wood Jr. (1996) apresenta uma anlise interessante a respeito destes modismos na administrao.

    RRRRREFERNCIASEFERNCIASEFERNCIASEFERNCIASEFERNCIAS B B B B BIBLIOGRFICASIBLIOGRFICASIBLIOGRFICASIBLIOGRFICASIBLIOGRFICAS

    ALCADIPANI, R.Formalismo e jeitinho brasileiro luz da gesto de microempresas.In: 50 REUNIO DA SBPC - 5JORNADA DE INICIAOCIENTFICA (1997: Natal).Anais... Natal: SBPC, 1997.

    BARBOSA, L.Ideologia e meritocracia. 2. ed.Rio de Janeiro: Editora da FGV,1999.

    BARROS, B.;PRATES, M.

    O estilo brasileiro de adminis-trar. So Paulo: Atlas, 1996.

    BERTERO, C. O.;KEINERT, T.

    A evoluo da anlise organiza-cional no Brasil (1961-1993).Revista de Administrao deEmpresas, v. 34, n. 3, p. 81-90,1994.

  • RAC, Edio Especial 2001 77

    A Valorizao do Estrangeiro como Segregao nas Organizaes

    BORGES DE FREITAS, A.Traos culturais para uma anliseorganizacional. In: PRESTESMOTTA, F. C.; CALDAS, M.Cultura organizacional ecultura brasilera. So Paulo:Atlas, 1997.

    BRESLER, R.Roupa surrada e o pai: etnografiaem uma marcenaria. In: PRESTESMOTTA, F. C.; CALDAS, M.Cultura organizacional ecultura brasilera. So Paulo:Atlas, 1997.

    CALDAS, M.Santo de casa no faz milagre:condicionamentos nacionais eimplicaes organizacionais pelafigura do estrangeiro. In:PRESTES MOTTA, F. C.;CALDAS, M. Cultura organi-zacional e cultura brasilera.So Paulo: Atlas, 1997.

    CALDAS, M.;WOOD JR., T.

    For the english to see: theimportation of managerialtechnology in late 20th centuryBrazil. Organization, v. 4, n. 4,p. 517-534, 1997.

    CALLIGARIS, C.Hello Brasil! So Paulo: Escuta,1991.

    CNDIDO, A.Introduo. In: HOLANDA, S.B. Razes do Brasil. Rio de Ja-neiro: Editora Jos Olmpio, 1973.

    COELHO, M.O conto-do-vigrio para brasileirover e cair. Folha de So Paulo,19 jan. 2000. Folha Ilustrada, p. 5-8.

    COLBARI, A.Imagens familiares nas organi-zaes. In: DAVEL, E.;VASCONCELOS, J. (Orgs.).Recursos humanos e subjeti-vidade. Petrpolis: Vozes, 1995.

    COSTA, A.Cultura brasileira e organizaocordial: ensaio sobre a Gavies daFiel. In: PRESTES MOTTA, F.C.; CALDAS, M. Cultura orga-nizacional e cultura brasilera.So Paulo: Atlas, 1997.

    DAMATTA, R.Carnavais, malandros e he-ris. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.

    DAVEL, E.;VASCONCELOS, J.

    Gerncia e autoridade nas empresasbrasileiras: uma reflexo histricae emprica sobre a dimenso pa-terna nas relaes de trabalho. In:PRESTES MOTTA, F. C.; CAL-DAS, M. Cultura organizacio-nal e cultura brasilera. SoPaulo: Atlas, 1997.

  • 78

    Fernando C. Prestes Motta, Rafael Alcadipani e Ricardo B. Bresler

    RAC, Edio Especial 2001

    ENRIQUEZ, E.Les jeux du pouvoir et dudsir dans lentreprise. Paris:Descle de Browner, 1997.

    FAORO, R.Os donos do poder formaodo patronato poltico brasileiro.3. ed. Porto Alegre: Globo, 1976.

    FISCHER, T.;SANTOS, J.

    O capo e o jogo do bicho umaorganizao Paratodos. Organi-zao e Sociedade, p. 121-129,1995.

    FREYRE, G.Casa grande e senzala. 12. ed.Braslia: Ed. UnB, 1963.

    GUERREIRO RAMOS, A.Administrao e contextobrasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro:FGV, 1983.

    HEMMING, J.Red gold - the conquest od thebrazilian indians. London:MacMillan, 1978.

    HOFSTEDE, G.Cultures consequences:international differences in work-related values. London: SagePublications, 1984.

    HOLANDA, S. B.Razes do Brasil. Rio de Janei-ro: Editora Jos Olmpio, 1973.

    PRADO JR., C.Formao do Brasil contempo-rneo. 3. ed. So Paulo: EditoraBrasiliense, 1948.

    PRESTES MOTTA, F. C.Organizao e poder. SoPaulo: Atlas, 1986.

    Cultura nacional e culturaorganizacional. Revista daEscola Superior de Propagandae Marketing, v. 2, n. 2, p. 32-47,1995.

    PRESTES MOTTA, F. C.;CALDAS, M.

    Cultura organizacional e culturabrasilera. So Paulo: Atlas, 1997.

    RIBEIRO, D.O povo brasileiro: a formaoe o sentido do Brasil. So Paulo :Companhia das Letras, 1995.

    RIGGS, G.A ecologia da administraopblica. Rio de Janeiro: Editorada FGV, 1963.

    SERVA, M.Contribuies para uma teoriaorganizacional brasileira. Revistade Administrao Pblica,v. 24, n. 2, p. 10-21, 1990.

  • RAC, Edio Especial 2001 79

    A Valorizao do Estrangeiro como Segregao nas Organizaes

    A importao de metodologiasadministrativas no Brasil - umaanlise semiolgica. Revista deAdministrao Pblica, v. 26, n.4, p. 128-144, 1992.

    SEVCENKO, N.As muralhas invisveis daBabilnia moderna. culumRevista da Arquitetura, v. 1,ago. 1985.

    SPINK, P.Cidadania na organizao e cida-dania da organizao: notas paraa desconstruo de recursoshumanos. In: SPINK, M. J. Acidadania em construo. SoPaulo: Cortez, 1994.

    VERGARA, S.;CARVALHO, D.

    Nacionalidade dos autores refe-renciados na literatura sobre orga-nizaes. Revista Brasileira deAdministrao Contempo-rnea, v. 1, p. 170-188, 1995.

    VERGARA, S.;PALMEIRA, C.

    A cultura brasileira revelada nobarraco de uma escola de samba.In: PRESTES MOTTA, F. C.;CALDAS, M. Cultura organi-zacional e cultura brasilera. SoPaulo: Atlas, 1997.

    WOOD JR., T.Gesto prt--porter. CartaCapital, p. 76-78 set. 1996.