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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL WANDERSON DOS SANTOS MONTEIRO A viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos sólidos: um estudo sobre as associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis da Região Metropolitana de Belém (PA). Belém - Pará 2010

a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

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Page 1: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CENTRO TECNOLÓGICO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

WANDERSON DOS SANTOS MONTEIRO

A viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos sólidos: um estudo sobre as associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis da Região Metropolitana de Belém (PA).

Belém - Pará

2010

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WANDERSON DOS SANTOS MONTEIRO A viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos sólidos: um estudo sobre as associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis da Região Metropolitana de Belém (PA).

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil: Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Pará. Orientador: Prof. Dr. José Julio Ferreira Lima.

Belém - Pará

2010

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WANDERSON DOS SANTOS MONTEIRO

A viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos sólidos: um estudo sobre as associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis da Região Metropolitana de Belém (PA).

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil: Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Pará.

Data de aprovação: _____/______________/_____

Banca Examinadora:

_____________________________________________

Prof° José Júlio Ferreira Lima – (Orientador) PhD em Arquitetura Oxford Brookes University / UK ______________________________________________

Profª Ana Cláudia Duarte Cardoso – Coorientadora PhD em Arquitetura Oxford Brookes University / UK

______________________________________________

Profª Elisângela Maria Rodrigues Rocha - (Examinadora) Drª em Engenharia Civil – Saneamento Ambiental Universidade Federal do Ceará - (UFC) _____________________________________________

Prof° Claudio José Cavalcante Blanco – (UFPA) PhD em Sciences I’EAU Université Du Québec – INRS - ETE

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"A Deus e a minha família"

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AGRADECIMENTOS

Toda honra a Deus por ter me dado saúde, força e coragem para vencer mais um

obstáculo da vida.

A Profª. Drª. Ana Claudia Cardoso pela sua orientação, paciência e compreensão. O

meu mais sincero agradecimento.

Ao Prof.Dr. José Julio Lima por ter aceitado me orientar na conclusão desta

pesquisa. O meu muito obrigado.

Ao Coordenador da Câmara de Infraestrutura / SEGOV o Eng. Civil Ms. Raimundo

Alberto Matta (Beto Bicho) por ter compreendido minhas ausências para conclusão

desta pesquisa. Muito obrigado.

Aos amigos da Câmara de Infraestrutura pelo apoio prestado durante o período da

pesquisa. Meu muito obrigado.

Aos catadores (Jonas de Jesus, Marcelo Rocha, Paulo Negrão, Maria Alice, Maria

Trindade, Maria José) pela colaboração para a realização desta pesquisa.

A minha esposa Elizângela Monteiro, pelo incentivo.

Aos Meus pais Walter Monteiro e Maria Monteiro a quem tenho grande admiração e

respeito. Minha eterna gratidão.

Aos meus irmãos que sempre me incentivaram.

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i

RESUMO

A pesquisa foi desenvolvida com as associações e cooperativas dos municípios de

Belém e Ananindeua, são elas: Associação dos Recicladores de Águas Lindas -

ARAL; Cooperativa de Catadores do Bairro da Terra Firme - CONCAVES;

Associação Coleta Seletiva de Belém - ACSB; Associação Cidadania Para Todos -

ACT; Cooperativa de trabalho dos Profissionais do AURÁ - COOTPA; Associação de

Trabalhadores de Materiais Recicláveis da Pedreira - ASTRAMAREPE. Realizou-se

levantamento da quantidade de recicláveis arrecadados pelas seis organizações de

catadores estudadas e comparou-se com o total produzido em Belém. Assim, foi

possível estimar a economia que a Prefeitura Municipal de Belém obtém com o

quantitativo que deixa de ser recolhido pela coleta convencional de lixo. Em posse

do quantitativo arrecadado pelas organizações de catadores comparou-se o ganho

financeiro mensal utilizando como parâmetro os valores tabelados a nível nacional e

local. Em seguida demonstra-se a descrição das condições de trabalho e o perfil

sócioeconômico dos associados/cooperativados.

Palavras – Chave: Catadores de materiais recicláveis; coleta seletiva, inclusão

social.

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ii

ABSTRACT

The research was developed with the associations and cooperatives of the Belém

and Ananindeua cities, they are: Associação dos Recicladores de Águas Lindas [the

recyclables Collectors’ Association on Águas Lindas Quarter] - ARAL; Cooperativa

de Catadores do Bairro da Terra Firme [recyclables Collectors’ Cooperative on Terra

Firme Quarter] - CONCAVES; Associação Coleta Seletiva de Belém [Collects

Selective Association of Belém] - ACSB; Associação Cidadania Para Todos

[Citizenship Association For All] - ACT; Cooperativa de trabalho dos Profissionais do

AURÁ [Cooperative of work of the Professionals on AURÁ] - COOTPA; Associação

de Trabalhadores de Materiais Recicláveis da Pedreira [Recyclables Collectors’

Association on Pedreira] - ASTRAMAREPE. Survey of the amount was carried

through of recyclables materials collected for the six recyclables Collectors’

Association and was compared with the total produced in Belém. Thus, it was

possible esteem the economy that the City hall of Belém gets with the quantitative

one that it leaves of being collected by the conventional garbage collection. In

ownership of the quantitative one collected by the recyclables Collectors’

Associations, it was compared with the monthly financial profit using as parameter

the priced values on national and local level. After that is demonstrated the

description of the conditions to work and the social and economic profile of the

cooperatives/associates collectors.

Words - Key: recyclables Collectors; collect selective, social inclusion.

Page 8: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

iii

LISTA DE TABELA

Tabela 1 – Destino final por número de municípios nas regiões brasileiras...... 34

Tabela 2 – Panorama da produção de resíduos sólidos domiciliares nas regiões de integração...................................................................... 36

Tabela 3 – Domicílios com coleta de RSU no estado do Pará........................... 37

Tabela 4 – Quantidade diária de lixo coletado, por unidade de destino final do lixo coletado no estado do Pará 2000.............................................. 38

Tabela 5 – Produção de resíduos sólidos domiciliares urbanos nos municípios da RMB e Santa Izabel do Pará.............................. 39

Tabela 6 – Forma de destino final dos resíduos sólidos da RMB...................... 40 Tabela 7 – Reciclagem de Plástico Pós-Consumo no Brasil em 2005.............. 61 Tabela 8 – Estimativa Populacional da RMB 2009............................................ 66

Tabela 9 – Quantitativo de recicláveis coletados pela CONCAVES em 2009.................................................................................................. 85

Tabela 10 – Quantitativo de recicláveis coletados – ASTRAMAREPE em 2009.................................................................................................. 88

Tabela 11 – Quantitativo de recicláveis coletados pela ARAL em 2009.............. 93 Tabela 12 – Quantitativo de recicláveis triados pela ACT em 2009..................... 96 Tabela 13 – Quantitativo de recicláveis arrecadados pela ACSB em 2009......... 98 Tabela 14 – Quantitativo de recicláveis arrecadados pela COOTPA em 2009.... 101 Tabela 15 - A sede da organização é?................................................................ 105

Tabela 16 - Distribuição de freqüência do Sexo dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009............................................................................................. 106

Tabela 17 - Distribuição de freqüência da Faixa Etária dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.............................................. 107

Tabela 18 - Distribuição de Freqüência da Escolaridade dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.............................................. 108

Tabela 19 - Número de integrantes das famílias dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009, que estão matriculados na escola..................................... 108

Tabela 20 - Tipo de domicílio dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores e Belém e Ananindeua no ano de 2009..................... 109

Tabela 21 - Material da parede do domicílio dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.................................................................................................. 109

Tabela 22 - Número de pessoas que moram no domicílio dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.............................................. 109

Tabela 23 - Número de familiares dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores que trabalham na coleta seletiva de recicláveis no ano de 2009............................................................... 110

Tabela 24 - Número de crianças da família dos Associados/Cooperados de Belém e Ananindeua que trabalham na coleta seletiva................... 110

Page 9: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

Tabela 25 - Sustento da família?......................................................................... 110

Tabela 26 - Renda familiar dos Associados/Cooperados das organizações de catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009........................ 111

Tabela 27 - Número de horas trabalhadas/dia pelos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009............................................................................................. 112

Tabela 28 - Número de dias trabalhados/semana pelos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.............................................. 112

Tabela 29 - Turnos de trabalho dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.................................................................................................. 114

Tabela 30 - Doenças que os Associados/Cooperados adquiriram em 2009....... 114

Tabela 31 - Distribuição de freqüência do tempo da última consulta médica pelos Associados/Cooperativados no ano de 2009......................... 115

Tabela 32 – Estimativa de receita com 100% de reciclagem nos municípios de Belém em 2009................................................................................ 116

Tabela 33 – Média nacional de quantitativo e receita dos materiais recicláveis no município de Belém em 2009..................................................... 117

Tabela 34 – Estimativa de custos com a coleta seletiva no município de Belém em 2009............................................................................................ 118

Tabela 35 – Comparação dos valores auferidos com a reciclagem nos municípios de Belém com os custos da coleta convencional em 2009.................................................................................................. 119

Tabela 36 - Estimativa de valor da comercialização dos materiais recicláveis em Belém e Ananindeua segundo valores (R$/ton) da média nacional e local em 2009.................................................................. 121

Tabela 37 - Preço dos materiais recicláveis em municípios do Brasil em 2009.................................................................................................. 123

Tabela 38 - Comparação dos quantitativos de materiais recicláveis produzidos e arrecadados................................................................................... 125

Tabela 39 - Economia do município de Belém com a coleta realizada pelos catadores de Belém e Ananindeua em 2009................................... 126

Tabela 40 - Economia do município de Belém com a manutenção do Aterro Sanitário (A.S) do Aurá com a retirada dos recicláveis pelos catadores em 2009........................................................................... 127

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iv

LISTA DE IMAGENS

Imagem 01 - Mapa das Regiões de Integração do Estado do Pará...................... 35 Imagem 02 - Coleta Seletiva em Ponto de Entrega Voluntária............................. 53 Imagem 03 - Localização do aterro do Aurá.......................................................... 67 Imagem 04 - Beneficiados no mercado da reciclagem 79

Imagem 05 - Fotografias do antigo (5a) e o atual (5b) local de armazenamento dos materiais recicláveis da CONCAVES........................................ 82

Imagem 06 Fotografias dos equipamentos de trabalho da coleta de recicláveis da CONCAVE................................................................................... 83

Imagem 07 - Moradia de um catador da CONCAVES.......................................... 84 Imagem 08 - Local de acondicionamento da ASTRAMAREPE............................. 86 Imagem 09 - Material triado e acondicionado em big bag’s.................................. 86 Imagem 10 - Equipamento de coleta de recicláveis.............................................. 87 Imagem 11 - Condição de trabalho na ASTRAMAREPE...................................... 87 Imagem 12 - Sede da ARAL.................................................................................. 89 Imagem 13 - Equipamento de coleta e transporte dos materiais recicláveis........ 90

Imagem 14 - Fotografias dos equipamentos de coleta e transporte dos materiais recicláveis......................................................................... 90

Imagem 15 - Local de acondicionamento dos materiais recicláveis.da ARAL...... 91 Imagem 16 - Triagem de plásticos realizados por mulheres................................. 92 Imagem 17 - Acondicionamento de materiais de construção civil e madeira........ 92 Imagem 18 - Transporte e descarga do material nos boxes dos catadores.......... 94 Imagem 19 - Material plástico triturado................................................................. 95 Imagem 20 - Maquinário utilizado para trituração do plástico............................... 95 Imagem 21 - Acondicionamento do material plástico triturado.............................. 96 Imagem 22 - Carrinhos de metalon utilizados na coleta dos recicláveis............... 97 Imagem 23 - Sede da COOTPA............................................................................ 99 Imagem 24 - Atividade de coleta no lixão.............................................................. 100

Page 11: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

v

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 - Serviço de limpeza urbana e coleta de lixo nas regiões brasileiras......................................................................................... 31

Gráfico 02 - Comparação da produção e coleta dos RSU no Brasil.................... 32 Gráfico 03 - Destinação final de Resíduos Sólidos Urbano no Brasil.................. 33

Gráfico 04 - Produção de resíduos sólidos domiciliares nas Regiões de Integração......................................................................................... 37

Gráfico 05 - Índice de municípios com coleta seletiva no Brasil.......................... 46

Gráfico 06 - Evolução da participação das prefeituras com programa de coleta seletiva............................................................................................. 47

Gráfico 07 - Evolução percentual do índice de reciclagem das latas de alumínio............................................................................................ 55

Gráfico 08 - Taxa de Papel Reciclável em 2007.................................................. 57 Gráfico 09 - Evo Evolução da Reciclagem de Papel no Brasil.................................... 58 Gráfico 10 - Evolução da Reciclagem de Vidro no Brasil..................................... 59

Gráfico 11 - Panorama do Índice de Reciclagem de Plástico PET no Mundo............................................................................................... 62

Gráfico 12 - Evolução da reciclagem de PET no BRASIL.................................... 62 Gráfico 13 - Evolução do índice de reciclagem no Brasil..................................... 63

Gráfico 14 - Empresa e sucataria de comercialização dos materiais recicláveis em Belém e Ananindeua.................................................................. 111

Gráfico 15 – Avaliação quanto as condições de trabalho dos associados/cooperativados das organizações de catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.............................................. 113

Page 12: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

vi LISTA DE SIGLAS

ABAL Associação Brasileira do Alumínio

ABIPET Associação Brasileira da Indústria do PET

ABIVIDRO Associação Brasileira da Indústria do Vidro

ABRALATAS Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade

ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais

ACT Associação Cidadania para Todos

ACSB Associação Coleta Seletiva de Belém

ARAL Associação de Recicladores de Águas Lindas

ASTRAMAREPE Associação de Trabalhadores de Materiais Recicláveis da Pedreira

BRACELPA Associação Brasileira de Celulose e Papel CONCAVES Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis da Terra

Firme

MNCR Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis

CEMPRE Compromisso Empresarial para Reciclagem

RCD Resíduos de Construção e Demolição

PGIRS Programa de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos

PEAD Polietileno de alta densidade

PEBD Polietileno de baixa densidade

PEV Ponto de Entrega Voluntária

PEAD Polietileno de alta densidade

PEBD Polietileno de baixa densidade

PP Polipropileno

PS Poliestireno

PET Polietileno

Page 13: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

Sumário p.

RESUMO................................................................................................................... i ABSTRACT .............................................................................................................. ii LISTA DE TABELAS ............................................................................................... iii LISTA DE IMAGENS................................................................................................. iv LISTA DE GRÁFICOS.............................................................................................. v LISTA DE SIGLAS.................................................................................................... vi INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 14 OBJETIVOS.............................................................................................................. 17 CAPÍTULO I - RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO BRASIL............................... 23 1.1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS......................................................................... 23 1.2 - CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS............................. 25 1.3 – ASPECTOS LEGAIS PARA OS RESÍDUOS SÓLIDOS.................................. 27 1.4 – PANORAMA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL.................................. 31 1.5 - RESÍDUOS SÓLIDOS NO ESTADO DO PARÁ............................................... 35 1.6 - RESÍDUOS SÓLIDOS NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM – RMB... 38 CAPÍTULO II - PANORAMA DA COLETA SELETIVA E RECICLAGEM NO BRASIL..................................................................................................................... 43 2.1 – INTRODUÇÃO.................................................................................................. 43 2.2 - PANORAMA BRASILEIRO DE MUNICIPIOS COM EXPERIENCIAS EM PROGRAMAS DE COLETA SELETIVA.................................................................... 45 2.2.1 - Experiências de Gestão de Resíduos Sólidos com Inclusão dos Catadores no Processo de Coleta Seletiva - Belo Horizonte (MG)..................... 48 2.2.2 - Experiências de Gestão de Resíduos Sólidos com Inclusão dos Catadores no Processo de Coleta Seletiva - Porto Alegre (RS).......................... 49 2.2.3 - Experiências de Gestão de Resíduos Sólidos com Inclusão dos Catadores no Processo de Coleta Seletiva - Belém (PA).................................... 52 2.3 - PANORAMA DA RECICLAGEM NO BRASIL................................................... 55 2.3.1 – Reciclagem de Alumínio............................................................................. 55 2.3.2 – Reciclagem de Papel................................................................................... 56 2.3.3 – Reciclagem de Vidro................................................................................... 59 2.3.4 – Reciclagem de Plástico............................................................................... 60 2.3.4. 1 - Embalagens de PET................................................................................... 61 CAPÍTULO III - MATERIAIS E MÉTODOS............................................................... 65 3.1 - ÁREA DE ESTUDO........................................................................................... 65 3.2 - PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS............................................................. 68 CAPÍTULO IV – AS ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS DE CATADORES DA RMB E SUA INSERÇÃO NA CADEIA PRODUTIVA DA RECICLAGEM................ 77 4.1 - A EXCLUSÃO SOCIAL DOS CATADORES DE LIXO...................................... 77 4.2 – CARACTERIZAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE BELÉM E ANANINDEUA - PA.. 81 4.2.1 - Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis da Terra Firme – CONCAVES.............................................................................................................. 82 4.2.2 - Associações de Catadores de Materiais Recicláveis da Pedreira – ASTRAMAREPE....................................................................................................... 85 4.2.3 - Associação de Recicladores das Águas Lindas – ARAL......................... 89 4.2.4 - Associação Cidadania para Todos – ACT.................................................. 94 4.2.5 - ASSOCIAÇÃO COLETA SELETIVA DE BELÉM – ACSB........................... 97

Page 14: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

4.2.6 - Cooperativa de Trabalhadores dos Profissionais do Aura – COOTPA... 99 5- CAPITULO V – RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................. 104 5.1 – ANÁLISE DA PESQUISA DE CAMPO DAS ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS DE CATADORES ........................................................................ 104 5.2 – POTENCIALIDADE ECONÔMICA DA COLETA SELETIVA E RECICLAGEM NA RMB – PA................................................................................... 115 5.2.1 - Receita Estimada com 100% de Comercialização dos Materiais Recicláveis no Município de Belém....................................................................... 116 5.2.2 - Receita Estimada, Considerando a Média Nacional, com Comercialização dos Materiais Recicláveis no Município de Belém.................. 117 5.3 – CÁLCULO COMPARATIVO DE RECEITA UTILIZANDO PREÇOS DA MÉDIA NACIONAL E LOCAL APLICADOS SOBRE QUANTIDADES DE MATERIAL RECICLADO DAS ORGANIZAÇÕES DE CATADORES EM ESTUDO.................................................................................................................... 121 5.4 - CONTRIBUIÇÕES ECONÔMICAS E AMBIENTAIS PROPORCIONADAS PELAS ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS DE BELÉM E ANANINDEUA........................................................................................................... 124 6 – CONCLUSÃO...................................................................................................... 130 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 134 ANEXOS.................................................................................................................... 138

Page 15: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

14

INTRODUÇÃO

No atual modelo de desenvolvimento econômico, em países como o Brasil, a

questão do crescimento acelerado do volume de resíduos sólidos causados tanto

pelo aumento da população quanto pelo consumo exagerado de bens duráveis e

não duráveis tem sido palco de grandes debates na tentativa de encontrar

alternativas que solucione e/ou minimize a problemática do lixo urbano.

Segundo Barros et all (1995), em relação aos pontos de vista sanitário e

ambiental, a adoção de soluções inadequadas para o lixo faz com que seus efeitos

indesejáveis se agravem, tendo como conseqüências: os riscos de contaminação do

solo, do ar e da água, a proliferação de vetores e de doenças e a catação. Nesse

contexto, como principal meio de destinação inadequada dos resíduos sólidos estão

os lixões, locais onde esses materiais são descarregados sem qualquer cuidado, e

representam uma grave ameaça à saúde pública e ao meio ambiente. O autor

também afirma que do lado econômico, a produção exagerada de lixo e a disposição

final sem critérios representam um desperdício de materiais e de energia.

Além da poluição provocada pelos rejeitos que vão para os lixões ou ficam

dispostos pelas ruas da cidade, existe uma parcela da população que sobrevive

destes materiais, os recicláveis, por meio da catação dos mesmos. Segundo

informações da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), realizada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2000, revela que os lixões

ainda são a alternativa mais comum para a disposição final dos resíduos sólidos nos

municípios (59% dos casos), informa ainda que nos lixões, 24.340 catadores

trabalham diariamente, retirando desses locais o seu sustento e o de suas famílias.

No ano da pesquisa supracitada, pelo menos 7 mil pessoas moravam nos

lixões e 5.598 tinham menos de 14 anos de idade, e em todo o país a estimativa era

que existiam mais 800 mil catadores. A pesquisa realizada pelo UNICEF, em 1998,

estimou que cerca de 45.000 crianças em todo o Brasil trabalhavam na catação de

lixo, sendo que 30% delas sem escola (DIAS, 2007).

Page 16: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

15

O município de Belém enfrenta as mesmas situações expostas acima. De

acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2000), o

sistema de coleta de lixo atende 95% da população, porém não existe separação

prévia e nem reaproveitamento dos resíduos, sendo que grande parte é destinada

para o Aterro do Aurá, e uma porção fica nas ruas e logradouros públicos da cidade

tornando-se, também, uma potencial fonte de poluição e/ou contaminação.

O reaproveitamento destes resíduos, observados critérios sanitários e sendo

economicamente viável, representa novas oportunidades de trabalho e de renda,

principalmente aos catadores, além de economia de custos à Prefeitura com

redução na coleta e aumento da vida útil do aterro, por exemplo.

Este reaproveitamento e novas oportunidades acontecem quando existe, por

parte do Poder Público Municipal, a coleta seletiva e reciclagem com a inclusão de

agentes catadores. Para Barros et all (1995) a coleta seletiva do lixo consiste na

separação de materiais recicláveis como papéis, vidros, plásticos e metais do

restante do lixo, nas suas próprias fontes geradoras. Este processo facilita a

reciclagem, pelo fato de deixar o material mais limpo e com maior potencial de

reaproveitamento.

Segundo Duston apud Calderoni (2003), reciclagem é um processo através

do qual qualquer produto ou material que tenha servido para os propósitos a que se

destinava e que tenha sido separado do lixo é reintroduzido no processo produtivo e

transformado em um novo produto, seja igual ou semelhante ao anterior, seja

assumindo características diversas das iniciais.

Quanto aos catadores, existem os que atuam em aterros sanitários, lixões à

céu aberto, nas ruas, centros urbanos, empresas, comércios, escolas, igrejas etc.

Alguns trabalham sozinhos, por conta própria, sem nenhum tipo de apoio ou

parceria; outros trabalham organizados em grupos (associações, cooperativas,

grupos comunitários etc. (MOTA, 2005).

Page 17: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

16

Aos que trabalham de forma organizada, segundo informações do CEMPRE

(1997), afirma que esta forma de trabalho aumenta o seu potencial de arrecadação

quando existe a substituição dos velhos carrinhos de coleta por outros mais

modernos, e também quando existem campanhas de sensibilização da sociedade,

aliados à aquisição de equipamentos de separação e transformação, que agregam

valor aos materiais, aumentando a renda gerada em sua comercialização para

indústrias de reciclagem. Dessa maneira, os catadores informais podem se

transformar em profissionais e aprender a gerenciar suas tarefas como em uma

empresa, visando à produção, sobrevivência e lucro, além de adquirirem auto-estima

e respeito.

O envolvimento mais estruturado de catadores nos programas de coleta

seletiva aconteceu nos municípios de Santos e do Embu, em São Paulo, no Rio de

Janeiro e em Belo Horizonte: Em Santos, os catadores de rua receberam orientação

profissional da prefeitura. Foram cadastrados, tiveram seus carrinhos identificados e

recebem assistência à saúde. Já no Embu a coleta seletiva permitiu a retirada dos

catadores do lixão, evitando que continuassem trabalhando em condições precárias

de higiene. Com isso, os ex-catadores passaram a acompanhar o motorista no

caminhão de coleta seletiva municipal, dispensando a contratação de garis para esta

tarefa. No Rio de Janeiro os catadores foram beneficiados com a cessão de áreas

para a instalação de centrais de triagem e armazenamento de recicláveis. E no

programa de Belo Horizonte a parceria com os catadores de papel tem, inclusive,

respaldo na Lei Orgânica (Artigo 151), que estabelece que a coleta seletiva deverá

ser realizada preferencialmente por cooperativas de catadores (POLIS, 1998).

No Estado do Pará, a presente pesquisa faz referencia ao Município de

Belém e Ananindeua, onde estão sediadas as organizações de catadores

estudadas, que são: Cooperativa de Catadores do Bairro da Terra Firme;

Associação da Coleta Seletiva de Belém; Associação de Trabalhadores de Materiais

Recicláveis da Pedreira; Associação dos Recicladores de Águas Lindas; Associação

Cidadania Para Todos; Cooperativa de trabalho dos Profissionais do AURÁ.

Page 18: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

17

Sabe-se, porém, que os catadores, por meio dessa atividade, proporcionam

grandes benefícios ambientais, econômicos e sociais, pois evita o consumo de

matéria prima, utiliza de forma racional os recursos naturais esgotáveis, diminui a

poluição do solo, da água e do ar, diminui os gastos com a limpeza urbana; cria

oportunidade de fortalecer organizações comunitárias; gera emprego e renda pela

comercialização dos recicláveis.

Assim, estudar e entender como as associações e cooperativas realizam seu

trabalho, qual a sua contribuição para a sociedade e ao meio ambiente, assim como,

a situação vivenciada por estas organizações, dentro do contexto da problemática

do “lixo” é fundamental para inserir os catadores como agentes de grande

importância dentro da cadeia produtiva da reciclagem, e dessa maneira, conferir

ganhos ambientais, econômicos e sociais que esta atividade proporciona.

A pesquisa tem como objetivo geral verificar a potencialidade econômica da

coleta seletiva e reciclagem no município de Belém e sua interação com as

associações e cooperativas de catadores pesquisadas. Como objetivo específico

busca-se: a) Realizar diagnóstico do perfil sócio-econômico e infra-estrutura dos

trabalhadores envolvidos nas organizações de catadores de Belém e Ananindeua; b)

investigar o potencial econômico da coleta seletiva e reciclagem por meio de

comparação de cenários hipotéticos; c) investigar o potencial de coleta e retorno

financeiro de cada uma das seis organizações, assim como de sua condição de

trabalho.

A partir do diagnóstico obtido pelas análises, buscou-se um melhor

entendimento do nível de dificuldades dos catadores quanto à organização, sua

relação de trabalho, e relação com o poder público, investigando até que ponto

essas organizações estão inseridas no contexto da cadeia produtiva da coleta

seletiva e reciclagem, e com isso, ao verificar o potencial que o município de Belém

oferece quanto à produção de resíduos recicláveis, obteve-se embasamento para

apontar possíveis alternativas de melhorias na condição de vida dessas

organizações.

Page 19: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

18

A dissertação foi estruturada em seis capítulos:

O capítulo I apresenta um contexto geral sobre resíduos sólidos e os

aspectos legais que os norteiam. Em seguida o panorama dos Resíduos Sólidos

Urbanos no Brasil, no estado do Pará e na Região Metropolitana de Belém – RMB

sob os seguintes aspectos: geração de resíduos sólidos urbano; cobertura do

serviço de coleta de lixo; e as principais formas de destinação final adotadas. Neste,

atenta-se para a crescente geração de resíduos que coloca em risco de escassez a

disponibilidade de áreas para implantação de Aterro Sanitário, principalmente nas

capitais do País. Dentro desse contexto, enfatiza-se a Região Metropolitana de

Belém – RMB, com destaque ao município de Belém, que é o mais populoso, e cujo

modelo de limpeza pública urbana, baseado apenas na coleta convencional,

saturando seu único local de destino final, que é o aterro do Aurá, o qual atualmente

já apresenta características de lixão.

O capítulo II abrange os principais conceitos de coleta seletiva e da

reciclagem e faz uma abordagem do panorama da coleta seletiva no Brasil, assim

como algumas experiências de coleta seletiva com inclusão dos catadores. Dentro

deste contexto estão os materiais que os catadores buscam para comercializar.

Finalizando o capitulo, é apresentado o potencial da reciclagem no Brasil, o que dá

suporte para discussão da viabilidade econômica da cadeia produtiva do processo

da reciclagem na RMB, o que veremos com maiores detalhes no capítulo IV. Nesse

caso, é apresentado os seguintes componentes: alumínio, plástico, papel e vidro, e a

posição relativa do Brasil no cenário mundial assinalando o potencial deste mercado

na geração de emprego e renda.

O capitulo III apresenta os materiais e os métodos da pesquisa. Neste, está a

área de estudo, a maneira de obtenção das informações na pesquisa de campo,

entrevistas, e descrito cada etapa do processo de construção do presente estudo

com as seis organizações de catadores.

Page 20: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

19

No capítulo IV, há uma abordagem da exclusão social dos catadores no

contexto dos resíduos sólidos recicláveis, chamando atenção para uma problemática

que contempla uma parcela da população que vive um estigma perante a sociedade,

uma vez que sobrevive da catação do lixo. Apresenta, também, a descrição do

desenvolvimento das atividades, infraestrutura, modo de gestão da organização,

rateio, divisão do trabalho e produção e renda média de cada organização

pesquisada.

No capitulo V é apresentado o resultado do perfil socioeconômico dos

catadores de Belém e Ananindeua. Assim como, o resultado do estudo do potencial

econômico da coleta seletiva e reciclagem no município de Belém – PA,

considerando três cenários. Este estudo foi obtido mediante dados de fontes

secundárias, onde comparou-se os valores auferidos considerando 100% de coleta

e comercialização; a coleta e comercialização acompanhando índices da média

nacional; e a estimativa de custos com a implantação de Programa de Coleta

Seletiva com as duas situações supracitadas. É apresentado, também, o potencial

de arrecadação total das seis organizações de catadores (pesquisa de campo), a fim

de verificar sua representatividade com a produção de resíduos recicláveis gerados

em Belém. Este resultado possibilitou extrair outras informações referentes à custos

evitados com a coleta convencional e manutenção do aterro do Aurá que também

devem ser levados em consideração na contabilidade da viabilidade econômica.

O capitulo VI apresenta as conclusões da pesquisa fazendo uma análise e

reflexão do que foi abordado em todos os capítulos da pesquisa, principalmente dos

resultados obtidos no estudo empírico.

Dessa forma, este trabalho busca despertar a atenção dos órgãos públicos,

das organizações não governamentais e da sociedade civil em geral da atual

situação da Região Metropolitana de Belém frente aos resíduos sólidos, que apesar

da grande cobertura de coleta convencional de lixo, muitos resíduos que poderiam

ter um melhor aproveitamento, neste caso, com a coleta seletiva e reciclagem torna-

se uma alternativa que alia a qualidade ambiental da cidade com a geração de

emprego e renda.

Page 21: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

20

PROBLEMÁTICA DA PESQUISA

A pesquisa originou-se do seguinte questionamento: qual a potencialidade

econômica da coleta seletiva e reciclagem no município de Belém, e como os

catadores organizados estão inseridos nela?

O questionamento surgiu a partir das reuniões, ocorridas em 2007 e 2008, da

“Rede de Apoio aos Catadores da RMB” essa rede de apoio faz parte de um

programa do Governo Federal em parceria com o Movimento Nacional dos

Catadores de Recicláveis (MNCR). As reuniões eram conduzidas por um consultor

do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, e tinha como

objetivo estruturar uma rede de apoio às organizações de catadores na RMB.

Durante as reuniões constatava-se os anseios e dificuldades das associações

e cooperativas. Formaram-se eixos de trabalho que envolveram diversos

participantes. Contudo, o único resultado concreto foi o Decreto Estadual Nº

801/2008, responsabilidade de elaboração do grupo em que a Secretaria de Estado

de Governo (SEGOV) fazia parte. O decreto reza sobre a obrigatoriedade dos

órgãos públicos estaduais em realizar a coleta seletiva e destiná-las às associações

e cooperativas de catadores. A partir deste marco, houve maior aproximação com as

lideranças de catadores e os respectivos membros, facilitando o desenvolvimento da

presente pesquisa.

A imagem 01 ilustra uma reunião realizada pela Rede de Apoio aos

Catadores da RMB.

Imagem 01 – Reunião da rede de apoio em Belém no ano de 2007.

Page 22: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

21

As discussões das reuniões provocaram as seguintes inquietações na

pesquisa, que se desdobraram a parti da questão principal já citada: existe potencial

econômico para desenvolvimento de um programa de coleta seletiva e reciclagem

em Belém? Quanto essas organizações de catadores conseguem arrecadar por

mês, e a comercialização deste quantitativo é suficiente para que essas pessoas

possam suprir suas necessidades básicas? Qual o perfil dos catadores organizados,

em que condições trabalham? Em termos quantitativos e financeiros, o quanto

potencial coletado representa em relação à produção de recicláveis no município de

Belém? Qual o papel dessas organizações dentro da cadeia produtiva da reciclagem

em Belém? Quais são os custos evitados pela Prefeitura de Belém com o trabalho

dos catadores, referentes à coleta convencional e manutenção do aterro do Aura?

Essas foram as questões que fundamentaram esta pesquisa, na busca de conhecer

o trabalho dos catadores e o seu papel no contexto da cadeia produtiva da

reciclagem em Belém.

Page 23: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

22

JUSTIFICATIVA

Apesar da grande cobertura de coleta domiciliar, o município de Belém (PA),

assim como as outras capitais do Brasil, sofre com as conseqüências provenientes

da má disposição e destino final dos resíduos sólidos.

O fato de não haver uma alternativa de minimização da grande quantidade

de lixo que é encaminhado para o aterro do Aurá, já é apontado como uma das

principais preocupações do poder público local, devido a falta de disponibilidade de

áreas para implantação de aterro sanitário em Belém.

Nesse contexto, uma grande quantidade de pessoas, de maneira organizada

ou não, faz esse trabalho preventivo (coleta seletiva do lixo urbano), catando

materiais recicláveis nas ruas ou no local de disposição final (aterro do Aurá), em

condições inaceitáveis sob o ponto de vista social e sanitário. Esta evidência é

confirmada pela exclusão do mercado de trabalho, o que faz da coleta seletiva do

lixo a garantia de sobrevivência de muitas famílias. Além da geração de renda, por

meio de seu trabalho, uma grande quantidade de lixo reaproveitável é desviado do

aterro e/ou dos canais de drenagem, córregos, etc. O que proporciona grandes

vantagens ambientais, de saúde pública, econômicas e sociais ao município.

Verificar a potencialidade econômica da coleta seletiva e reciclagem em

Belém e como os catadores de materiais reciclaveis estão inseridos nesse contexto,

investigar qual o perfil dos catadores, a fim de demonstrar a sua condição,

limitações e reivindicações perante os poderes públicos para melhoria da qualiadade

de vida dessa categoria é o que se propõe a demonstrar nesta pesquisa.

Page 24: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

23

CAPÍTULO I – RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO BRASIL

Neste capítulo apresenta-se uma abordagem sobre o panorama dos resíduos sólidos

urbanos no Brasil, no estado do Pará e na Região Metropolitana de Belém - RMB para que

se tenha uma visualização de quanto lixo é produzido diariamente, o quanto é coletado e o

destino final que é dado a esses resíduos, assim como os principais conceitos e legislações

pertinentes. Esta explanação contribui para entender o contexto do modelo do serviço de

limpeza urbano adotado pelos municípios brasileiros diante da crescente produção de lixo e

seus impactos no meio urbano.

1.1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

A ameaça de exaustão dos recursos naturais não-renováveis já foi tratada em

grandes debates mundiais, dentre esses assuntos, a problemática da crescente

geração de resíduos sólidos aumentou a necessidade de pensar e agir quanto ao

reaproveitamento dos materiais, principalmente inorgânicos, passiveis de serem

reciclados.

A Agenda 21 (1992), documento resultante do encontro intitulado

“Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,

realizado no Rio de Janeiro (Brasil), ECO-92, na seção II sobre “Conservação e

Gestão de Recursos para o Desenvolvimento”, capítulo 21, destaca a gestão

ambientalmente saudável dos resíduos sólidos e questões relacionadas ao

saneamento. Nesse documento fica explícita a preocupação mundial quanto aos

resíduos sólidos, no que concerne a sua geração, formas de tratamento e disposição

final.

As definições sobre resíduos são diversificadas. Araujo (2008) cita alguns

autores que buscam tais definições, como: Paulo Afonso Leme Machado, em sua

obra “Direito Ambiental Brasileiro” afirma que resíduos sólidos são concebidos no

Brasil como refugos e outras descargas de materiais sólidos, incluindo os

provenientes de atividades industriais, agrícolas, comerciais e residenciais.

Page 25: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

24

Segundo a norma brasileira ABNT-NBR 10004, de 1987 – Resíduos sólidos –

classificação, resíduos sólidos são:

“aqueles resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades da comunidade de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face a melhor tecnologia disponível”.

As definições supracitadas deixam clara a diversidade e complexidade dos

resíduos sólidos, evidenciando que não há uma definição homogênea de resíduos

sólidos. Nessa perspectiva, Araujo (2008) afirma que existem pontos em comum na

literatura especializada, os quais identificaram o lixo como orgânico ou não,

produzidos pelo homem e pela natureza, sendo necessário o seu reaproveitamento,

a fim de resguardar a saúde da população e preservar o meio ambiente.

De acordo com Lima (2001), a geração de resíduos sólidos é fortemente

influenciada por fatores sazonais, e afirma que em épocas de chuvas fortes, o teor

de umidade nos resíduos sólidos tende a crescer.

As características dos resíduos sólidos variam ao longo do seu ciclo de vida,

ou seja, da geração até o destino final. Em função da diminuição do ciclo de vida dos

produtos, entre outros motivos, a quantidade dos Resíduos Sólidos vem

aumentando consideravelmente. A diminuição dos ciclos de vida dos produtos e

ciclos de produção obrigam que os produtos sejam consumidos cada vez mais

rápido. Tudo isso associado às constantes melhoras da legislação ambiental tornam

a logística um tema de importância fundamental (CARNEIRO, 2006).

Segundo Lima, (2005) a análise do ciclo de vida de um produto se torna uma

ferramenta fundamental para que se possa esclarecer determinados assuntos,

principalmente os relacionados à reciclagem. Neste caso, considerara-se a logística

reversa como importante ferramenta no processo de reciclagem dos componentes

dos Resíduos Sólidos.

Page 26: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

25

1.2 - CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

Segundo James (1995), a classificação dos resíduos sólidos considera o local

de origem, as fontes geradoras e as características e hábitos de consumo da

sociedade brasileira, dividindo-se em:

Por sua natureza física: seco e molhado;

Por sua composição química: matéria orgânica e matéria inorgânica;

Pelos riscos potenciais ao meio ambiente: perigosos, não inertes e inertes.

Outra forma de classificação do lixo segundo D’Almeida (2000) é quanto à

origem, ou seja, domiciliar, comercial, público, serviços de saúde e hospitalar,

portos, aeroportos e terminais ferroviários e rodoviários, industriais, agrícolas e

entulhos:

Domiciliar: originado na vida diária das residências, constituído por restos de

alimentos (cascas de frutas, verduras, sobras, etc.) produtos deteriorados,

jornais e revistas, garrafas, embalagens em geral, papel higiênico, fraldas

descartáveis e uma grande diversidade de outros itens;

Comercial: aquele originado nos diversos estabelecimentos comerciais e de

serviços, tais como supermercados, estabelecimentos bancários, lojas, bares,

restaurantes, etc. O lixo destes locais tem grande quantidade de papel,

plásticos, embalagens diversas e resíduos de asseio dos funcionários, tais

como papel-toalha, papel higiênico;

Público: é aquele originado dos serviços de limpeza pública urbana: os

resíduos de varrição das vias públicas, limpeza das praias, limpeza das

galerias, córregos e terrenos vazios, restos de podas das árvores, corpos de

animais, etc. Também estão incluídos os de limpeza em áreas de feiras livres,

constituído por restos vegetais diversos, embalagens, etc;

Page 27: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

26

Serviços de Saúde e Hospitalar: Constituem os resíduos sépticos, ou seja,

aqueles que contêm ou potencialmente podem conter germes patogênicos

(agulhas, seringas, gazes, bandagens, algodões, órgãos e tecidos removidos,

meios de culturas e animais usados em testes, sangue coagulado, luvas

descartáveis, remédios com prazo de validade vencido, instrumentos de resina

sintética, filmes fotográficos de raios-X, etc.); oriundos de locais como

hospitais, clínicas, laboratórios, farmácias, clínicas veterinárias, postos de

saúde. Os resíduos assépticos destes locais como papéis, restos da

preparação de alimentos, resíduos de limpezas gerais, e outros materiais

desde que coletados separadamente e não entrem em contato direto com

pacientes ou com os resíduos sépticos são semelhantes aos resíduos

domiciliares;

Portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários: aqueles que contém ou

potencialmente podem conter germes patogênicos, que se constituem de

materiais de higiene, asseio pessoal e restos de alimentos, os quais podem

veicular doenças provenientes de outras cidades, estados e países;

Industrial: originado nas atividades dos diversos ramos da indústria tais como

metalúrgica, química, petroquímica, papéis, alimentícia, etc. O lixo é bastante

variado, podendo ser representado por cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos

ou ácidos, plásticos, papéis, madeiras, fibras, borrachas, metais, vidros,

cerâmicas, etc;

Agrícola: incluem embalagens de fertilizantes e defensivos agrícolas, rações,

restos de colheita e todos resíduos sólidos das atividades agrícolas e da

pecuária, sendo este último preocupação crescente pela enorme quantidade

de esterco animal gerado nas fazendas de pecuária intensiva. As embalagens

de agrotóxicos altamente tóxicas têm sido alvo de legislação específica quanto

aos cuidados na sua destinação final;

Page 28: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

27

Entulhos: resíduo da construção civil, composto por materiais de demolições,

restos de obras, solos de escavações diversas, geralmente um material inerte,

passível de reaproveitamento, porém contém materiais que podem conferir

toxicidade como restos de tintas, solventes, peças de amianto e metais

diversos, cujos componentes podem ser removidos caso o material não seja

disposto adequadamente.

1.3 – ASPECTOS LEGAIS PARA OS RESÍDUOS SÓLIDOS

As iniciativas voltadas a Políticas Públicas de gestão dos resíduos sólidos

ainda acontecem de forma tímida nas três esferas de governo. Contudo, a partir de

1988 com a promulgação da Constituição Federal, a questão dos resíduos sólidos,

passou maior relevância no cenário nacional, uma vez que, passou a relacionar

saúde ao meio ambiente.

Segundo Araujo (2008), o art. 23 da CF/88, em seu inciso VI, indica que é

competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios fiscalizar e

controlar as atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, fixando normas,

diretrizes e procedimentos a serem observados por toda a coletividade. De acordo

com Castilhos Junior, (2003), o artigo 24, estabelece a competência da União, dos

Estados e do Distrito Federal em legislar concorrentemente sobre “(...) proteção do

meio ambiente e controle da poluição” (inciso VI) e, no artigo 30, incisos I e II,

estabelece que cabe ainda ao poder público municipal “legislar sobre os assuntos de

interesse local e suplementar a legislação federal e a estadual no que couber

Em 2005 houve a implantação da Lei Nº 11.107 que reza sobre as normas

gerais de contratação de Consórcios Públicos. Neste caso, alguns municípios

brasileiros já realizam os serviços de limpeza urbana e destinação final dos resíduos

sólidos por meio da gestão associada, o que possibilita dois ou mais municípios

resolverem problemas de interesse comum.

Page 29: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

28

Somente em 2007 houve uma iniciativa de expressão dentro do contexto do

saneamento básico no Brasil, foi por meio da promulgação da Lei nº 11.445/207, Lei

de Saneamento Básico que abrange, dentre outros serviços, o de limpeza urbana e

manejo de resíduos sólidos.

Sendo que, a competência para o tratamento do lixo seja municipal, é

necessário que haja uma política nacional de resíduos sólidos, bem como de normas

gerais e de âmbito nacional, visando não apenas o correto gerenciamento dos

resíduos, mas, principalmente, a redução da sua geração. Para isso, é fundamental

que se estabeleça mecanismos que ultrapassem as competências municipais e

estaduais, como, por exemplo, a atribuição de responsabilidades aos fabricantes

pelo ciclo total do produto, incluindo a obrigação de recolhimento após o uso pelo

consumidor, ou tributação diferenciada por tipo de produto.

A Lei Federal no 6.938, de 31/8/81, que dispõe sobre a Política Nacional de

Meio Ambiente, institui a sistemática de Avaliação de Impacto Ambiental para

atividades modificadoras ou potencialmente modificadoras da qualidade ambiental,

com a criação da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA)1. Também no âmbito da Lei

no 6.938/81 ficam instituídas as licenças a serem obtidas ao longo da existência das

atividades modificadoras ou potencialmente modificadoras da qualidade ambiental.

A Lei de Crimes Ambientais dispõe sobre as sanções penais e administrativas

derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras

providências. Em seu artigo 54, parágrafo 2o, inciso V, penaliza o lançamento de

resíduos sólidos, líquidos ou gasosos em desacordo com as exigências

estabelecidas em leis ou regulamentos. No parágrafo 3o do mesmo artigo, a lei

penaliza quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente,

medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreparável.

Além das Leis apresentadas existem as Resoluções e Normas Técnicas que

tratam dos assuntos referentes aos resíduos sólidos.

1 AIA é formada por um conjunto de procedimentos que visam assegurar que se realize exame

sistemático dos potenciais impactos ambientais de uma atividade e de suas alternativas.

Page 30: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

29

Resolução Conama nº 005, de 31 de março de 1993 – Dispõe sobre o

tratamento de resíduos gerados em estabelecimentos de saúde, portos e

aeroportos e terminais ferroviários e rodoviários;

Resolução Conama no 237, de 19 de dezembro de 1997 – Estabelece norma

geral sobre licenciamento ambiental, competências, listas de atividades

sujeitas a licenciamento, etc;

Resolução Conama no 257, de 30 de junho de 1999 – Define critérios de

gerenciamento para destinação final ambientalmente adequada de pilhas e

baterias;

Resolução Conama no 283/2001 – Dispõe sobre o tratamento e a destinação

final dos resíduos dos serviços de saúde. Esta resolução visa aprimorar,

atualizar e complementar os procedimentos contidos na Resolução Conama

n.05/93 e estender as exigências às demais atividades que geram resíduos de

serviços de saúde.

Da normalização técnica da Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT) são citadas somente algumas mais específicas ao tema tratado:

NBR 7039, de 1987 – Pilhas e acumuladores elétricos – Terminologia;

NBR 7500, de 1994 – Símbolos de riscos e manuseio para o transporte e

armazenamento de materiais;

NBR 7501, de 1989 – Transporte de produtos perigosos – Terminologia;

NBR 9190, de 1993 – Sacos plásticos – Classificação;

NBR 9191, de 1993 – Sacos plásticos – Especificação;

NBR 9800, de 1987 – Critérios para lançamento de efluentes líquidos

industriais no sistema coletor público de esgoto sanitário – Procedimento;

NBR 10004, de 1987 – Resíduos sólidos – Classificação;

Page 31: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

30

NBR 10005 – Lixiviação de resíduos;

NBR 10006 – Solubilização de resíduos;

NBR 10007 – Amostragem de resíduos;

NBR 11174, de 1990 – Armazenamento de resíduos classe II, não-inertes, e

III, inertes – Procedimentos;

NBR 12245, de 1992 – Armazenamento de resíduos sólidos perigosos –

Procedimentos;

NBR 12807, de 1993 – Resíduos de serviço de saúde – Terminologia;

NBR 12808, de 1993 – Resíduos de serviço de saúde – Classificação;

NBR 12809, de 1993 – Manuseio de resíduos de serviço de saúde –

Procedimento;

NBR 13055, de 1993 – Sacos plásticos para acondicionamento de lixo –

Determinação da capacidade volumétrica;

NBR 13221, de 1994 – Transporte de resíduos – Procedimento;

NBR 13463, de 1995 – Coleta de resíduos sólidos – Classificação;

NBR 8419, de 1992 – Apresentação de projetos de aterros sanitários de

resíduos sólidos urbanos.

Page 32: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

31

1.4 – PANORAMA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL

No âmbito de resíduos sólidos, o serviço de coleta e limpeza urbana é

bastante expressivo dentre os municípios brasileiros. No gráfico 01 é demonstrado o

percentual deste tipo de serviço nas regiões brasileiras, de acordo com informações

da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico no ano de 2000.

Limpeza Urbana e Coleta de Lixo nas Regiões Brasileiros

84%

88%

81%

75%

80%

85%

65%

70%

75%

80%

85%

90%

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-

Oeste

Brasil

(%)

Co

bert

ura

de S

erv

iço

Gráfico 01 – Serviço de limpeza urbana e coleta de lixo nas regiões brasileiras. Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000.

Em seguida, apresenta-se no gráfico 02 uma comparação entre os anos de

2007 e 2008 de acordo com pesquisa realizada pela Associação Brasileira de

Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais - ABRELPE sobre a quantidade

de Resíduos Sólidos Urbanos – RSU produzidos e o potencial de coleta desses

resíduos no Brasil.

Page 33: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

32

168.653

140.911

169.659

149.199

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

160.000

180.000

Produção de RSU (Ton/dia) Coleta de RSU (Ton/dia)

To

n/d

ia

Ano 2007

Ano2008

Gráfico 02 – Comparação da produção e coleta dos RSU no Brasil. Fonte: Pesquisa BRELPE 2007 e 2008.

Os dados da pesquisa indicam que houve leve aumento da produção de RSU,

porém, também houve aumento da coleta. Contudo é interessante lembrar que

muitos desses municípios não dispõem de destino final adequado, como por

exemplo, depositá-los em aterro sanitário ou mesmo utilizando o reaproveitamento

e/ou reciclagem desses resíduos.

É necessário frisar que a questão dos resíduos sólidos ainda é um dos

maiores e mais sérios problemas que atinge principalmente as áreas periféricas

devido à ausência de saneamento.

De acordo com Monteiro (2001), a dificuldade de expansão da cobertura dos

serviços de saneamento nas áreas periféricas se dá pela ausência de infraestrutura

viária, pois exige a adoção de sistemas alternativos, que apresentam baixa eficiência

e, portanto, custo mais elevado.

Para melhor entendimento do panorama do destino final adotado pelos

municípios brasileiros, apresenta-se a comparação de acordo com as informações

da Pesquisa Nacional de Saneamento – PNSB 2, realizada em 2002 pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE; e dados do ano de 2008 da Associação

Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE.

2 4,2% dos entrevistados não declaram o destino de seus resíduos na pesquisa da PNSB de 2002.

Page 34: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

33

13,8%18,4%

63,6%

55%

20%

25%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Aterro sanitário Aterro controlado Lixão

PNSB (2002) ABRELPE (2008)

Gráfico 03 – Destinação final de Resíduos Sólidos Urbano no Brasil. Fonte: Pesquisa PNSB (2002); ABRELPE (2008).

Percebe-se pelos dados apresentados no gráfico 03 que cerca de 55% dos

RSU coletados pelo total de municípios brasileiros em 2008 foram dispostos em

aterros sanitários, segundo ABRELPE (2008) este é o primeiro ano em que mais da

metade dos resíduos coletados receberam destinação adequada.

Grimberg (2007) faz referencia a preocupação quanto a utilização de aterros

controlados, uma vez que esses são realizados sem as devidas técnicas de

engenharia de proteção tanto do solo, ar e lençóis freáticos.

“Os depósitos à céu aberto ou lixões é uma forma inadequada de disposição final de resíduos sólidos municipais, que se caracteriza pela simples descarga sobre o solo, sem medida de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública. Já o aterro controlado é outra forma de deposição de resíduo. Este método utiliza alguns princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos com uma camada de solo ao final da jornada diária de trabalho com o objetivo de reduzir a proliferação de vetores de doenças”(CONSONI et al, 2000).

Para se ter um entendimento sobre a composição do destino final dos RSU

nas regiões brasileiras, apresenta-se na tabela 01, de acordo com pesquisa

realizada pela ABRELPE em 2008. A pesquisa contemplou um total de 5.564

municípios.

Page 35: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

34

Tabela 01 – Destino final por número de municípios nas regiões brasileiras.

Disposição Final

REGIÕES BRASILEIRAS

Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total

Aterro Sanitário 67 448 163 789 691 2.158

Aterro Controlado

116 480 163 631 359 1.749

Lixão 266 865 140 248 138 1.657

Total 449 1.793 466 1.668 1.188 5.564

Fonte: Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (2008)

Enfatizando a região Norte, verifica-se que os 67 municípios que promovem a

destinação por meio de aterro sanitário correspondem a 14,9%, o menor índice de

disposição final em aterro sanitário das regiões brasileiras. Este dado reflete um dos

graves problemas sociais como o baixo IDH em muitos municípios dessa região, o

que pode estar associado a falta de infra-estrutura em saneamento básico.

Como apresentado acima, a maioria dos municípios, principalmente Norte e

Nordeste adotam formas inadequadas de destino final aos resíduos que produzem.

Tal panorama pode esta relacionado com alguns fatores, como por exemplo: pouca

informação e conscientização da população quanto aos problemas gerados pela má

disposição do “lixo”; pouca qualificação dos quadros técnico-administrativo

municipais; baixa dotação orçamentária; ausência de estrutura organizacional dos

órgãos públicos nas três esferas de governo para tratar dos resíduos sólidos.

Outro grande problema que ganha cada vez mais destaque sobre destinação

final de resíduos, diz respeito à pouca disponibilidade de áreas para depósitos

adequados (aterros sanitários), principalmente nas grandes cidades. Aliado a isso,

Calderoni (1998) menciona que a dificuldade de implantar e manter um sistema de

manejo de resíduos eficiente pode levar a custos elevados. Esta situação pode

provocar a saturação do tempo de vida útil dos aterros sanitários antes do planejado.

Ainda é dada pouca importância à questão dos resíduos sólidos urbanos, um

dos principais fatores que contribui para esta situação pode estar associada a falta

de conhecimento e de informações atualizadas, uma vez que a dinâmica desta

temática é grande, o que dificulta a implementação de políticas públicas voltadas

aos resíduos.

Page 36: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

35

1.5 - RESÍDUOS SÓLIDOS NO ESTADO DO PARÁ

Os municípios do Estado do Pará passam pelos mesmos problemas que a

maioria dos municípios brasileiros quando o assunto é resíduos sólidos, pois

apresentam coleta deficiente, bem como os locais de destino final. Assim, a

preocupação com os danos ambientais e sociais decorrentes do aumento da

quantidade de lixões à céu aberto nos municípios paraenses, principalmente nos

grandes centros urbanos vem preocupando as autoridades locais. A ineficácia e/ou

inexistência de políticas públicas voltadas à sanar essa problemática faz com que

haja grande contribuição para o agravamento dos impactos ambientais.

De acordo com o Censo Demográfico de 2000 (IBGE), a população total do

Estado de Pará é de 6.192.307 de habitantes. A densidade demográfica é de 4,96

habitantes por km², ocupando uma área de 1.247.703 km². Essa área representa

32,38% da Região Norte e 14,65% de todo o território brasileiro.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,723, segundo PNUD (2000). O

Estado do Pará possui 143 municípios, e está divido em 12 (doze) regiões de

integração, ver imagem 01.

Imagem 01 - Mapa das Regiões de Integração do Estado do Pará Fonte: Secretaria de Integração Regional do Pará (2007).

Page 37: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

36

Na tabela 02 é demonstrada as regiões de integração, população e a

produção de resíduos sólidos no Estado do Pará.

Tabela 02 - Panorama da produção de resíduos sólidos domiciliares nas regiões de integração.

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2007) * / Secretaria de Estado de Governo (2007)**

Os dados apresentados na tabela 02 demonstram a produção de resíduos

sólidos domiciliares em cada região de integração a partir da população de 2007.

Verifica-se, porém, que a maior produção de resíduos sólidos domiciliares urbanos

encontra-se na Região Metropolitana com 1.336.926,90 kg/dia, o que corresponde a

38,2% do total que é produzido no Estado do Pará 3.497.156,00 kg/dia. A menor

produção de resíduos encontra-se na região de Tapajós com 109.905,50 kg/dia, que

corresponde a 3,1% do total.

3 A estimativa de produção de resíduos sólidos foi realizada utilizando os mesmos critérios percapta (kg/hab) do

Ministério das Cidades, onde: 0,4kg/hab (municípios até 100 habitantes); 0,5kg/hab (municípios entre 100 a 200

mil hab); 0,6kg/hab (municípios entre 200 a 500 mil hab) e 0,7kg/hab (municípios acima de 500 mil hab).

REGIÃO DE INTEGRAÇÃO POPULAÇÃO 2007 * PRODUÇÃO (KG/DIA) **

Araguaia 406.196 162.478,40

Baixo Amazonas 640.670 311.125,00

Carajás 497.731,00 232.065,30

Guamá 558.491,00 238.610,80

Lago de Tucuruí 323.834,00 129.533,60

Marajó 410.798,00 164.319,20

Metropolitana 2.043.543,00 1.336.926,90

Rio Caetés 432.880,00 183.330,20

Rio Capim 534.192,00 213.676,80

Tapajós 245.163,00 109.905,50

Tocantins 658.664,00 287.702,30

Xingu 318.705,00 127.482,00

TOTAL GERAL 7.070.867,00 3.497.156,003

Page 38: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

37

Produção de Resíduos Sólidos Domiciliares nas Regiões de Integração (PA)

-

200.000,00

400.000,00

600.000,00

800.000,00

1.000.000,00

1.200.000,00

1.400.000,00

1.600.000,00

Aragua

ia

Baixo

Amaz

ona

s

Carajás

Gua

Lago

de Tuc

uruí

Marajó

Metroppo

litana

Rio C

aetés

Rio C

apim

Tap

ajós

Toc

antin

s

Xingu

Produção de Resíudos Domic.

Gráfico 04 - Produção de resíduos sólidos domiciliares nas Regiões de Integração. Fonte: Secretaria de Estado de Governo (2007).

A diferença na produção de resíduos sólidos em cada região de integração

está melhor representado no gráfico 04. De acordo com o gráfico, verifica-se que os

municípios que fazem parte das regiões de integração, com exceção da

Metropolitana possuem uma média de produção de resíduos sólidos de 200.000

kg/dia.

A seguir é apresentada tabela 03 que informa o quantitativo de domicílios que

dispões de coleta de Resíduos Sólidos Urbanos de forma direta, indireta e os que

não possuem acesso a esse tipo de serviço com base nos dados da Pesquisa

Nacional por Amostras de Domicílios em 2008.

Tabela 03 – Domicílios com coleta de RSU no estado do Pará.

Grandes Regiões, Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas

Domicílios particulares permanentes urbanos

Total (1 000 domicílios)

Distribuição percentual, por existência de serviço de coleta de lixo (%)

Com serviço Sem serviço

(*) Coletado

diretamente Coletado

indiretamente

Pará 1 462 86,2 8,8 5,0

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008.

(*) Inclusive queimado ou enterrado, jogado em terreno baldio ou logradouro, rio, lago ou mar e

outros.

Page 39: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

38

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2000, a forma

de destino final adotado no estado do Pará é apresentada na tabela 04 por

categoria.

Tabela 04 - Quantidade diária de lixo coletado, por unidade de destino final do lixo coletado no estado do Pará - 2000

Estado

Quantidade diária de lixo coletado (t/dia)

Total

Unidade de destino final do lixo coletado

Vazadouro a céu aberto

(lixão)

Vazadouro em áreas alagadas

Aterro controla

do Aterro

sanitário

Estação de

compôs- tagem

Estação de

triagem

Incine-

ração

Locais não-fixos Outra

Pará 5 181,6 3 725,0 42,5 371,5 1 007,5 5 - 7 4 19,1

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de População e Indicadores Sociais, Pesquisa Nacional

de Saneamento Básico 2000.

Quando não existe manejo adequado de resíduos sólidos, os municípios são

diretamente afetados por problemas ambientais como: poluição do solo, água e ar. A

grande quantidade de lixões favorecem o agravante quadro de poluição, assim como

promove atividades de catadores que sobrevivem dos materiais depositados nos

mesmos. Essa situação é presenciada em vários municípios do país, tanto em

cidades de pequeno porte no interior do país, como nas grandes capitais. É uma

situação desumana proveniente da crise econômico-social do Brasil.

1.6 - RESÍDUOS SÓLIDOS NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM - RMB

O acelerado e desordenado crescimento urbano nos municípios da Região

Metropolitana de Belém que traz como conseqüência a grande produção de

resíduos sólidos, aliado ao insipiente sistema de gerenciamento e manejo dos

destes materiais, faz com que acelere o termino do tempo de vida útil da área de

destinação final, nesse caso o aterro do Aura.

A falta de áreas que possam ser utilizadas para destinação final desses

resíduos, vem se tornando uma das maiores preocupações, principalmente do Poder

Público Municipal de Belém, pois este município é o maior produtor de “lixo” desta

região, como observa-se na tabela 05.

Page 40: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

39

A tabela demonstra a quantidade de resíduos sólidos produzidos no ano de

2006, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e também

Carneiro (2006).

Tabela 05 – Produção de resíduos sólidos domiciliares urbanos nos municípios da RMB e Santa Izabel do Pará.

Fonte: IBGE 2006* / Carneiro 2006**

Para o ano de 2006, os dados identificados no item per - capita e produção

diária foram obtidas pela Universidade Federal do Pará, por meio de grupo de

pesquisa do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental que vem desenvolvendo

trabalhos na área de resíduos sólidos, coordenado pelo prof. Norat Carneiro.

O aterro do Aurá recebe “lixo” além do município de Belém, também de outros

como Ananindeua e Marituba. Nesse caso, como não há um sistema de gestão dos

resíduos sólidos eficiente, o tempo de vida útil do aterro do Aura diminui, devido a

grande carga de material que é depositado todos os dias na ordem de 1500 ton/dia,

somente de resíduos sólidos domiciliares. Assim, o que fora aterro do Aura já

apresenta características de “lixão à céu aberto” vindo a causar sérios riscos de

poluição ambiental.

“O depósito do Aurá causa impactos ambientais que constantemente devem ser fiscalizados, além da degradação da área com poluição do solo, modificação da drenagem de águas pluviais e infiltração do líquido percolado dos resíduos orgânicos (chorume) no lençol freático contaminando-o em consequência o manancial do Utinga que abastece a Região Metropolitana de Belém” (BARROSO & TEIXEIRA, 1995).

Quanto à forma de destino final dos resíduos sólidos produzidos na RMB,

temos na tabela 06 a situação para os itens mencionados, segundo dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2000).

Município Pop. 2006* Per-capta

(kg/habxdia)** Produção Diária

Ton/dia **

Ananindeua 498.095 0,60 298.857

Belém 1.428.368 0,73 1.042.709

Benevides 57.844 0,50 28.922

Marituba 132.783 0,50 66.392

Santa Bárbara 132.783 0,38 7.249

Santa Izabel 50.543 0,50 25.272

TOTAL 2.186.709 1.469

Page 41: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

40

Tabela 06 – Forma de destino final dos resíduos sólidos da RMB REGIÃO DE INTEGRAÇÃO – METROPOLITANA

Município Nº de

domicílios Coletado

(%) Queimado

(%) Jogado terreno baldio

ou logradouro (%) Outros*

(%)

Ananindeua 92.479 85 6 7 2

Belém 296.352 95 2 2 1

Benevides 8.049 72 21 3 4

Marituba 17.026 50 27 16 7

TOTAL 413.906 75** 14** 7** 3**

*Outros (Enterrado; Jogado em rio, lago ou mar e outros destinos).

** Percentual Médio

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2000.

Na Região Metropolitana de Belém, o município que possui a maior cobertura

do serviço referente à coleta de resíduos sólidos corresponde ao município de

Belém com 95% do total dos domicílios. Para este mesmo serviço, o município com

menor cobertura de coleta de resíduos sólidos corresponde ao município de

Marituba com 50% do total de domicílios.

Segundo Leão (2007),

“A população de Belém, no ano de 2006, obteve 98% do serviço de coleta de lixo, e que a taxa de crescimento nos últimos cinco anos foi de 1% ao ano”, sendo que a produção per capta foi de 0,58 kg/hab”.

Analisando a tabela acima, percebe-se que todos os municípios mencionados

possuem cobertura de coleta de lixo igual ou superior a 50%, contribuindo para que

os outros itens mencionados como destino final fiquem com um percentual abaixo de

30%. Quanto aos resíduos sólidos que tem a queima como destinação final, o

município que possui a maior quantidade corresponde à Marituba com 27% do total

dos domicílios que adotam esta medida como destino final. O município que menos

adota este tipo de destino final corresponde à Belém com 2% dos domicílios.

Em relação aos resíduos sólidos jogados em terreno baldio ou logradouro, o

município que mais o despeja corresponde à Marituba com 16%, e o que menos

adota esse tipo de destino final é Belém com 2% do total de domicílios.

Page 42: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

41

Sobre os que adotam o item mencionado como outro tipo de destino final,

que podem ser apontados como: enterrado, jogado em rio, lago, córrego, etc, o

município que aparece com maior indicador corresponde à Marituba com 7%, e o

menor é Belém com 1%.

Segundo Monteiro (2001), uma das alternativas para minimizar a quantidade

de lixo que é encaminhado para o aterro sanitário é a implantação de programa de

coleta seletiva e reciclagem, pois esta desperta maior interesse na população,

principalmente por seu forte apelo ambiental, o que pode proporcionar benefícios

ambientais, como: economia de matérias-primas não-renováveis; economia de

energia nos processos produtivos; o aumento da vida útil dos aterros sanitários.

Em Belém, existe um Programa de Coleta Seletiva com a Associação Coleta

Seletiva de Belém desenvolvendo a coleta porta – a – porta, porém seu raio de ação

e sua arrecadação ainda são pouco expressivos em relação à produção de resíduos

da cidade. Os assuntos pertinentes às esta Associação será melhor abordado no

capítulo IV.

Na RMB, principalmente em Belém, apesar da grande eficiência na coleta de

lixo, não há uma forma sustentável de manejo desses resíduos antes de chegar ao

aterro do Aurá”, o que diminui cada vez mais o tempo de vida útil deste. Nesse caso,

uma das grandes preocupações corresponde à possibilidade de não haver áreas

disponíveis em Belém para a implantação de novo aterro sanitário, fazendo com que

os poderes públicos das esferas (Municipal, Estadual e Federal), aliados à

sociedade civil, pensem e promovam alternativas viáveis para o destino final dos

resíduos gerados.

Page 43: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

42

________________________________________

Resumo:

Neste capítulo foi apresentado uma abordagem sobre o panorama dos resíduos sólidos

urbanos no Brasil, no estado do Pará e na Região Metropolitana de Belém - RMB

objetivando demonstrar o quantitativo de lixo urbano que é produzido e as principais formas

de destino final adotado. Dos cenários apresentados, atenta-se para a RMB, e

principalmente os municípios de Belém e Ananindeua, cujo modelo de limpeza pública

urbana coloca em risco de esgotamento o único local de destino final destes, que é o aterro

sanitário do Aurá, situação que proporciona uma série de impactos negativos, caso não se

adote uma forma de minimizar e reaproveitar o quantitativo de lixo produzido, principalmente

os recicláveis. Nesse caso, aponta-se a coleta seletiva e reciclagem como alternativa

ecologicamente correta a ser inserida no contexto do gerenciamento de resíduos sólidos

urbanos.Em relação a reciclagem, no capítulo III será realizado uma abordagem sobre o

panorama da reciclagem do papel, plástico, metal e vidro a nível nacional e mundial.

Page 44: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

43

CAPÍTULO II – PANORAMA DA COLETA SELETIVA E RECICLAGEM NO

BRASIL.

O presente capítulo faz uma abordagem do panorama da coleta seletiva e reciclagem no

Brasil, demonstrando o potencial econômico dos materiais, o que dá suporte para esclarecer

a viabilidade econômica da cadeia produtiva do processo da reciclagem na RMB. Nesse

caso, apresentam-se os seguintes componentes: alumínio, plástico, papel e vidro, e a

posição relativa do Brasil no cenário mundial assinalando o potencial deste mercado na

geração de emprego e renda. Dentro do contexto da coleta seletiva estão os materiais que

os catadores, principalmente os organizados em associações ou cooperativas buscam para

comercializar. É apresentada, também, algumas experiências de coleta seletiva com

inclusão dos catadores, nesse caso, está inserido o município de Belém.

2.1 – INTRODUÇÃO

Em função do contexto ambiental, econômico, social e político o termo lixo

passou a ser chamado de resíduos sólidos. Demajorovic (1995) faz uma analogia

entre esse dois termos, afirmando que:

“enquanto o lixo não possuía qualquer tipo de valor, uma vez que era visto apenas como algo a ser descartado por não possuir mais utilidade, hoje os resíduos sólidos são tratados como insumos de valor econômico agregado pela sua capacidade de reaproveitamento no processo produtivo”.

Nesse contexto, a coleta seletiva e a reciclagem do lixo têm um papel muito

importante para o meio ambiente, uma vez que a matéria prima virgem é poupada e

o que é retirado é recuperado. Seu papel é estratégico na gestão integrada de

resíduos sólidos, assim estimula o hábito da separação do lixo na fonte geradora

para o seu aproveitamento, promove a educação ambiental voltada para a redução

do consumo e do desperdício, gera trabalho e renda.

A coleta seletiva do lixo é um sistema de recolhimento de materiais

recicláveis, tais como papéis, plástico, vidros, metais e orgânicos, previamente

separados na fonte geradora. Estes materiais são vendidos às indústrias

recicladoras ou aos sucateiros (CEMPRE, 1999).

Page 45: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

44

A segregação dos materiais provenientes do “lixo” tem como objetivo principal

a reciclagem de seus componentes. Assim, a coleta seletiva enquadra-se como

recolhimento desses materiais, tais como papéis, plásticos, vidros, metais e matéria

orgânica, previamente separados na fonte geradora (CEMPRE, 1999).

São quatro as maneiras mais utilizadas de realizar a coleta seletiva: coleta

porta-porta, em postos de entrega voluntária, postos de troca e por catadores. A

segregação facilita a reciclagem, pois adquirem características de maior limpeza e

conseqüentemente maior potencial de reaproveitamento, aumentando, dessa forma,

o valor do material no mercado da reciclagem. Aliado a isso, para melhor subsidiar

projetos e programas voltados à coleta seletiva e reciclagem, é de grande

importância a obtenção de dados sobre índices qualitativos e quantitativos em

relação ao perfil dos resíduos sólidos gerados no município (JARDIM, 1995).

Sabe-se, porém que a coleta seletiva dos resíduos sólidos é o processo que

antecede a reciclagem. Como definição, para Jardim (1995) reciclagem é o resultado

de uma série de atividades por vias de materiais que se tornariam lixo ou estão no

lixo e são desviados, sendo coletados, separados e processados para serem usados

como matéria-prima na manufatura de bens feitos anteriormente apenas com

matéria- prima virgem, e que seu maior objetivo é o componente ambiental por meio

da exploração em menor escala dos recursos naturais diante do aproveitamento de

materiais recicláveis como matéria-prima de um novo processo de industrialização,

além de diminuir o lixo acumulado.

Segundo (Bansen & Ribeiro, 2007), menos de 10% dos municípios brasileiros

desenvolvem programas de coleta seletiva. Concentrados nas regiões Sul e

Sudeste, a maioria desses programas tem abrangência territorial limitada e desvia

dos aterros sanitários um volume de materiais recicláveis crescente, porém pouco

significativo, se comparado aos volumes desviados pelos catadores avulsos.

Page 46: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

45

2.2 - PANORAMA BRASILEIRO DE MUNICIPIOS COM EXPERIENCIAS EM

PROGRAMAS DE COLETA SELETIVA.

Os programas municipais de coleta seletiva integram o sistema de

gerenciamento de resíduos sólidos domiciliares. No Brasil, a coleta seletiva e

reciclagem são realizadas, em grande parte, como atividade informal, e segundo

Mota (2005) possui duas vertentes: a do setor empresarial, onde a coleta seletiva

fica nas mãos de empresas particulares, excluindo catadores e catadoras e suas

“empresas sociais”. Outra, diz respeito a inclusão desses trabalhadores, por meio de

sua participação não apenas como prestadores de serviços na coleta seletiva, mas

também como co-gestores da política de resíduos sólidos.

Foi em 1986 que iniciaram as experiências de coleta no Brasil. Mas somente

a partir de 1990 que o poder público municipal começou a estabelecer parcerias com

catadores organizados em associações e cooperativas para a gestão e execução

dos programas, e se operacionalizam, na maior parte dos casos, a partir da cessão

pelas prefeituras de galpões de triagem, equipamentos e veículos de coleta e apoio

nas campanhas de conscientização e divulgação. Com isso, houve grande interesse

de entidade da sociedade civil em se aliar a essas parcerias, e como resultado

houve a redução do custo dos programas, além do estabelecimento de modelo de

política publica de resíduos sólidos com inclusão social e geração de renda

(BANSEN & RIBEIRO, 2007).

Os grandes transtornos sanitários, ambientais e de saúde pública esta

fazendo com que os municípios comecem a adotar medidas ecologicamente

corretas em relação ao manejo dos resíduos sólidos. Com isso, os programas

municipais de coleta seletiva vêm aumentando.

No gráfico 05 é demonstrada a distribuição das regiões brasileiras com a

realização de programas de coleta seletiva.

Page 47: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

46

35%

48%

4%

11%

2%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

SUL SUDESTE CENTRO

OESTE

NORDESTE NORTE

Gráfico 05 – Índice de municípios com coleta seletiva no Brasil. Fonte: CEMPRE (2008).

Pesquisas indicam que menos de 10% dos municípios brasileiros realizam

coleta seletiva. De acordo com o IBGE (2000), 451 municípios brasileiros afirmavam

desenvolver programas de coleta seletiva, e destes, cinco por cento em parceria

com organizações de catadores. Já pesquisa realizada pelo CEMPRE em 2008

afirma que, do total dos municípios brasileiros 405 realizam, de alguma forma, a

coleta seletiva. O custo médio da coleta seletiva é de US$ 221/Ton (US$ 1,00 = R$

1,70), ou seja, R$ 375,70/Ton. Considera ainda que o custo para implantação de

coleta seletiva é cinco vezes maior, em média, do que a coleta convencional.

Percebe-se que os maiores índice de coleta seletiva estão concentradas nas

regiões sul e sudeste do país. Segundo Bansen & Ribeiro (2007), um dos fatores

que pode ter contribuído para essa concentração na região Sul é a existência, desde

1998, da Federação dos Recicladores do Rio Grande do Sul, que promove apoio

permanente às organizações de catadores. Já na região Sudeste se concentra a

maioria das indústrias recicladoras, o que facilita a implementação desses

programas.

Page 48: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

47

No gráfico 06 é apresentada a evolução da participação de municípios

brasileiros na implantação de programa de coleta seletiva.

237

192

135

81

0

50

100

150

200

250

1994 1999 2002 2004

Ano

Mun

icíp

io

Gráfico 06 – Evolução da participação das prefeituras com programa de coleta seletiva. Fonte: CEMPRE (2007)

De acordo com o referido gráfico houve um crescente aumento na

participação de prefeituras que implantaram programas de coleta seletiva. Este

resultado já indica o início de quebra de paradigma no sistema de gerenciamento de

resíduos sólidos adotados pelos municípios brasileiros.

A cobertura dos serviços de coleta seletiva ocorre em 178 municípios na sua

totalidade, apenas no distrito sede de 130 municípios, e em bairros selecionados de

110 municípios (BASEN & RIBEIRO, 2007).

Os catadores que atuam na clandestinidade que circulam pelas ruas das

cidades ainda são responsáveis pela coleta da maior parte dos materiais que

chegam às indústrias para a reciclagem. Essa situação, de acordo com Vieira (2006)

está inserido num contexto social e econômico com base, principalmente na

informalidade desenvolvida por esses agentes ambientais.

Reforçando o exposto acima, serão demonstradas nos tópicos seguintes

algumas experiências municipais de programa de coleta seletiva envolvendo

catadores de materiais recicláveis, e ao final a experiência no município de Belém

(PA). Este tópico dará suporte para o capítulo V, onde será apresentada a

contextualização das organizações de catadores da RMB.

Page 49: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

48

2.2.1 - Experiências de Gestão de Resíduos Sólidos com Inclusão dos

Catadores no Processo de Coleta Seletiva - Belo Horizonte (MG)

De acordo com a Associação dos Catadores do Papel Papelão e Material

Reaproveitável – ASMARE (2009), há 50 anos, os catadores de papel realizam

atividade de coleta nas ruas de Belo Horizonte. Sem nenhuma organização,

integravam a economia de forma marginal, eram discriminados e desconheciam o

importante papel que desempenhavam para a preservação do meio ambiente.

Esta Associação é um espaço consolidado de geração de renda e de

promoção da cidadania de uma parcela significativa da população de rua,

destacando-se no cenário nacional como alternativa viável no combate à exclusão

social. O processo iniciou pela organização coletiva e a criação da Associação em

1990 com o apoio da Cáritas do Brasil (MARTINS, 2005).

Em 1987, com o apoio da Pastoral de Rua, iniciaram o processo de

organização social e produtividade. Em 1992, o Poder Público municipal construiu o

primeiro galpão de triagem em um terreno publico ocioso que já havia sido ocupado

pelos catadores. A partir de 1993, o apoio da administração municipal consolidou-se

com a implantação de um novo modelo de gestão dos resíduos na cadeia produtiva,

que insere os catadores como parceiros prioritários na coleta seletiva.

A ASMARE tem cerca de 269 associados e beneficia, indiretamente, mais de

1500 pessoas. Além do trabalho de coleta realizados pelos catadores, a Associação

desenvolve um trabalho de parceria junto a empresas, escolas, condomínios, órgãos

públicos, entre outros, para a coleta de recicláveis. O material reciclado produzido

pelos parceiros é doado à Associação, o que gera e sustenta postos de trabalho

para catadores e ex-moradores de rua. Esta Associação recolhe cerca de 450

toneladas de resíduos contendo papel, papelão, revistas, jornais, latas de alumínio,

garrafas PET e plásticos. Ao receberem o material é realizado o processo de pré-

beneficiamento com a separação, prensagem e estocagem, antes de seguir para as

indústrias de reciclagem.

Page 50: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

49

Pesquisa publicada pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal

(IBAM), diz que a presença do catador na cidade foi substancialmente alteada

nesses dez anos de existência da ASMARE. Dignidade, trabalho, gente, história,

prêmio, reconhecimento da tão sonhada cidadania substituem, gradativamente, a

negatividade do imaginário social. A nova realidade foi favorecida por um amplo

leque de parcerias entorno da ASMARE, envolvendo o Poder Publico, ONG‟s,

empresas privadas, sindicatos, associações, incluindo entidades internacionais.

A experiência da coleta seletiva no sistema de gerenciamento de resíduos

sólidos no município de Belo Horizonte, apesar das dificuldades, continua se

mantendo, por meio de alianças e apoio estratégicos, o que lhe assegurou

visibilidade política suficiente para se manter como ator político em diferentes

governos municipais. Esses avanços credenciam essa experiência como modelo a

ser seguido em outras cidades do Brasil.

2.2.2 - Experiências de Gestão de Resíduos Sólidos com Inclusão dos

Catadores no Processo de Coleta Seletiva - Porto Alegre (RS)

Diferente de outras cidades do Brasil, Porto Alegre adotou a técnica do aterro

sanitário e implantou a coleta seletiva, assumindo assim uma forma de trabalho

diferente de outros órgãos de limpeza urbana, que costuma expulsar os catadores

que vivem do lixo. Motivado pela questão social e ambiental, o Departamento

Municipal de Limpeza Urbana - DMLU, órgão responsável pelo gerenciamento dos

resíduos sólidos da cidade, optou por utilizar o lixo como instrumento de resgate da

cidadania (MARTINS, 2005).

A coleta seletiva em Porto Alegre atinge 150 bairros que somados totalizam

60 toneladas por dia distribuídos em oito Galpões de Triagem criados a partir da

necessidade de trabalho de grupos de determinadas áreas carentes da cidade,

excluídos da economia formal, que através dessa atividade buscam uma forma de

gerar rendimentos, garantindo sua subsistência. Todo o rendimento proveniente da

venda dos materiais separados revertem-se em renda para 450 trabalhadores, os

catadores de cada Unidade, que constituem diferentes associações.

Page 51: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

50

Com essa iniciativa obteve-se vários benefícios, no que concerne a questão

social e ecológica, devido a destinação ambientalmente correta dos resíduos, além

do aumento da vida útil dos Aterros Sanitários.

Segundo Huergo et al. (2001), em 1990, foi criada a Associação de Mulheres

Papeleiras e Trabalhadoras em Geral. Esta Associação foi organizada pela Igreja

Nossa Senhora dos Navegantes que construiu um Galpão, assim como forneceu

equipamentos, na Ilha Grande dos Marinheiros. A partir de 1991 passou houve a

criação da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis, cuja Unidade de

Reciclagem foi instalada na Vila Santíssima Trindade.

A partir da consolidação das duas Associações supracitadas, a Prefeitura

local despertou o interesse em realizar um estudo que demonstrasse o perfil dos

catadores que sobreviviam da catação no lixão da Zona Norte. Assim, foram

selecionadas as pessoas que trabalhavam diretamente com o manuseio do lixo, com

isso acabaram os pontos de comercialização clandestinos existentes.

Em posse do resultado da pesquisa foram desenvolvidas estratégias de

incorporar e/ou fortalecer outras entidades. Então, várias reuniões foram realizadas

para discutir temas referentes a Cooperativismo, Autogestão, materiais recicláveis.

Com isso, criou-se a Unidade de Reciclagem do Aterro da Zona Norte , em Julho de

1992.

A partir de 1996, o DMLU passou a contar com a parceria da Secretaria

Municipal da Produção Indústria e Comércio. Nesta Secretaria o Projeto de

construção de Unidades de Reciclagem inseriu-se no Programa de Ações Coletivas,

de fomento a grupos, propiciando financiamentos para a construção de novas

instalações e compra de equipamentos. Hoje, os investimentos são disputados no

Orçamento Participativo do Município.

Page 52: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

51

Atualmente são oito organizações que realizam triagem dos materiais

recicláveis em Porto Alegre, que estão descritas a seguir:

Associação dos Recicladores de Resíduos da Zona Norte;

Associação de Mulheres Papeleiras e Trabalhadoras em Geral;

Amontoação Ecológica;

Associação de Reciclagem Ecológica Rubem Berta;

Associação de Catadores de Materiais Recicláveis;

Associação dos Recicladores do Campo da Tuca;

Centro de Educação Ambiental; e

Associação dos Recicladores do Loteamento Cavalhada.

Os associados contaram com o apoio das comunidades eclesiais de base,

por meio da Igreja Católica para organização das Associações. Com isso, criaram

um regimento interno de trabalho, este regimento é fator importante para controle e

gestão do trabalho desenvolvido.

Para melhor gestão dos resíduos recicláveis coletados e destinados às

unidades de reciclagem, foram estabelecidos pelo DMLU critérios de distribuição dos

materiais recolhidos. Estes critérios baseiam-se no número de associados, para

recebimento do quantitativo de recicláveis, produtividade individual, e o nível de

organização da Unidade.

O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis – MNCR teve

importante papel no desenvolvimento e sucesso do trabalho de coleta seletiva e

reciclagem em Porto Alegre. Uma de suas grandes contribuições para visibilidade

desta categoria como fator importante dentro do Sistema de Limpeza Pública

Urbana, foi a realização junto com outras comissões estaduais, do 1º Congresso

Latino Americano de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis, em

Caxias do Sul.

Em seguida, está descrito a experiência em Belém (PA), como forma de

explanar as iniciativas do Poder Público Municipal sobre a coleta seletiva com

inclusão dos catadores de materiais recicláveis.

Page 53: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

52

2.2.3 - Experiências de Gestão de Resíduos Sólidos com Inclusão dos

Catadores no Processo de Coleta Seletiva - Belém (PA)

Em Belém, a primeira iniciativa de trabalhar a gestão de resíduos sólidos com

inclusão social dos catadores se deu a partir de 1997, por meio de um projeto de

melhorias sociais, ambientais e operacionais na área do lixão do Aura cujo nome era

“Projeto de Biorremediação do Aterro Sanitário do Aurá”.

Na oportunidade, foi realizado um estudo objetivando a elaboração de uma

política de resíduos sólidos em Belém. Neste estudo foi constatado um grande

desperdício de materiais reaproveitáveis na composição do lixo, assim como

diversas irregularidades que contribuíram para a baixa qualidade dos serviços

prestados na coleta e no tratamento dos resíduos.

Dentro do contexto da coleta seletiva dos resíduos, de acordo com MARTINS

(2005), no processo de mobilização construída pelos diversos atores envolvidos no

projeto, os catadores do lixão optaram pela organização em uma cooperativa, como

alternativa de emprego e renda, incentivados pela Prefeitura de Belém. Com essa

intervenção a Prefeitura estimulou, em 2001, a criação da Cooperativa de Trabalho

dos Profissionais do Aurá – COOTPA, principal instrumento de erradicação da

catação em cima do lixo, no Aura.

Na concepção do Projeto estavam previstos os seguintes equipamentos a

serem disponibilizados pela PMB a título de cessão para a cooperativa: 01 galpão;

01 Esteira mecânica; 03 prensas verticais; 01 prensa horizontal; 01 Tulha; 01

Triturador de vidro; 01 Triturador de plástico; 02 Elevadores de fardos; 10

Contêineres de aço de 5 metros; 70 Contêineres de plástico de 240 Litros.

A SESAN subsidiaria a operação da coleta, por um período de 02 (dois) anos,

a partir deste período a COOTPA assumiria as despesas referentes a auto-gestão

das atividades da coleta seletiva e reciclagem.

Page 54: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

53

Munida de carro coletor (com carroceria), a COOTPA passou a realizar a

coleta seletiva, buscando o material reciclável nos Pontos de Entrega Voluntária

(PEV‟s); shopping‟s; lojas; agências bancárias; e grandes eventos (ver IMAGEM 02).

Imagem 02 – Coleta Seletiva em Ponto de Entrega Voluntária Fonte: ASSEMAE

Segundo explicação da representante do Estado do Pará no Movimento

Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis – MNCR, e que também faz parte

da COOTPA a Srª Maria Alice, a Prefeitura Municipal de Belém não cumpriu com

instalação de todos os equipamentos listados, o que ainda está inacabado, e se

transformando em sucatas, pois com a mudança de gestor municipal, o projeto foi

totalmente abandonado. Com isso, acorreu a desestruturação organizacional da

cooperativa, abandono de alguns componentes, e consequentemente o quantitativo

de arrecadado diminui bastante. Esta situação fez com que muitos cooperados

voltassem a catar no lixão do Aurá, sem as mínimas condições de trabalho, num

ambiente totalmente insalubre com grandes riscos de acidente tanto pelo lixo

perigoso quanto pelos caminhões da coleta regular.

Page 55: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

54

Retomando o processo de gestão de resíduos sólidos com a inclusão dos

catadores, a RMB criou, em 2006 a Associação Coleta Seletiva de Belém que faz

parte do programa de resgate de cidadania, por meio da erradicação do trabalho no

lixão do Aurá. A idéia é retirar os catadores de cima do lixão e proporcionar um

ambiente de trabalho mais saudável e com dignidade, onde este trabalhador possa

ser enxergado como Agente Ambiental.

A associações dispõe de toda infra-estrutura necessária para realização do

trabalho. Seu trabalho caracteriza-se com coleta porta – a - porta nos bairros do

Reduto, Umarizal e Nazaré, além de receber doações de condomínios, empresas

privadas, órgãos públicos e escolas. A carga horária de trabalho é de 8 (oito) horas

diárias. Trabalham de segunda a sexta-feira, e a renda varia de acordo com a

produção.

Como já dito, a coleta seletiva antecede à reciclagem. Alumínio, papel,

plástico e vidro, são os quatro setores industriais que abrigam as principais

atividades para a reciclagem no Brasil. Dessa forma, no tópico seguinte é realizado

uma breve abordagem sobre o panorama dos principais produtos que são inseridos

na cadeia produtiva da reciclagem e seus impactos socioeconômicos.

Page 56: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

55

2.3 - PANORAMA DA RECICLAGEM NO BRASIL

2.3.1 – Reciclagem de Alumínio

A coleta seletiva e reciclagem tiveram grande destaque nos Estados Unidos,

Europa e Japão, principalmente em relação à reciclagem de alumínio. Contudo,

atualmente o Brasil vem apresentando excelentes resultados na reciclagem deste

tipo de material (gráfico 07).

Segundo Vieira (2006),

[...] a reciclagem de alumínio exige somente 5% da energia para produzir o metal secundário, se comparado ao metal extraído a partir da bauxita, matéria prima de origem, e cada quilo de alumínio reciclado pode economizar de 5 a 8 quilos de bauxita. Além disso, o alumínio tem garantia no mercado e preços significativos.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Ano

Argentina

Brasil

Europa

Estados Unidos

Japão

Gráfico 07 – Evolução percentual do índice de reciclagem das latas de alumínio. Fonte: ABAL (2008)

Nota-se que em 2007 o Brasil foi líder mundial na reciclagem do alumínio.

Segundo ABRELPE (2008), o mercado de reciclagem de latas de alumínio

movimentou cerca de R$ 1,7 bilhão em 2006 e gerou renda e emprego para cerca

de 170 mil pessoas.

Page 57: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

56

A coleta de latas de alumínio movimenta no Brasil R$ 850 milhões por ano e

envolve cerca de 2000 empresas. Dados da Associação Brasileira do Alumínio -

ABAL (2003), afirmam que a contribuição econômica do alumínio representou um

faturamento na indústria brasileira de US$ 6,1 bilhões em 2001. A rentabilidade da

reciclagem do alumínio no Brasil, de acordo com dados obtidos no Compromisso

Empresarial para Reciclagem - CEMPRE (2002) afirma que houve geração de

48.637 empregos diretos em 2002, e estima-se que o setor seja responsável,

atualmente, por cerca de 150 mil postos de trabalho para a cadeia de recicladores

envolvidos no processo.

Em 2002, o Brasil reciclou mais de 9 bilhões de latas alumínio, o que

representa 121,1 mil toneladas, ou seja, 87% de todas as latas consumidas. Esse foi

o maior índice de reciclagem do Brasil, superando o Japão.

Segundo Vieira (2006), no Brasil, a cadeia produtiva da reciclagem de latas

de alumínio inseriu-se num contexto social e econômico com base num trabalho

desenvolvido, principalmente na informalidade, onde apresentam-se como atores

principais a figura dos catadores, os carrinheiros e os sucateiros. Essas pessoas são

responsáveis por grande parte do material reciclado absolvido pelas indústrias

brasileiras, fazendo com que o Brasil esteja entre os países que mais reciclam

alumínio do mundo.

2.3.2 – Reciclagem de Papel

Em relação à reciclagem de papel no Brasil, a atividade vem acontecendo por

indústrias especializadas desde meados de 1920, mas obteve maior expressão a

partir da década de 70. Esta atividade que conta com grande contribuição de

economia energética, também surtiu considerável redução dos impactos ambientais

associados ao processamento da celulose, aliado a isso, ressalta-se o fato da

reciclagem de papel e papelão ter gerado um número significativo de empregos

formais na indústria de reciclados e no comércio de aparas de papel.

Page 58: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

57

Em 2007, o setor brasileiro de celulose e papel foi responsável pela geração de 110 mil empregos diretos (65 mil na indústria e 45 mil em florestas) e 500 mil empregos indiretos, abrangendo 220 empresas localizadas em 450 municípios de 17 estados das 5 macrorregiões brasileiras (ABRELPE, 2008).

Dentro de um panorama mundial, segundo ABRELPE (2007), o Brasil

encontra-se entre os dez países que mais reciclam, sendo que a Espanha é a

liderança nesse ramo. Esta afirmativa é demonstrada no gráfico 08, abaixo.

73%

36%

45%38%

81%

54%

44%

64%

28%

52%

74%

51%47%

71%

33%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

Alem

anha

Argentin

a

Brasi

l

China

Espan

ha

Estado

s Unid

os

Finlâ

ndia

França

Índia

Itália

Japã

o

Mal

ásia

Méx

ico

Reino U

nido

Rússia

Gráfico 08 – Taxa de Papel Reciclável em 2007 Fonte: BRACELPA

No gráfico 09 é demonstrado o índice de reciclagem do papel no Brasil

comparando os anos compreendidos entre 1998 a 2007.

Page 59: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

58

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Anos

%

Taxa de Recuperação (%)

Gráfico 09 - Evolução da Reciclagem de Papel no Brasil Fonte: BRACELPA

Observando o gráfico 09, nota-se que no ano de 1998 foi reciclado cerca de

36% de papel. Com a taxa de reciclagem sempre aumentando em relação ao

consumo, em 2007 chegou a 45%, ou seja, neste período houve um crescimento de

9% na taxa de reciclagem de papel no Brasil. Esta situação demonstra a iniciativa

das indústrias brasileiras em ingressar no ramo da reciclagem de papel, devido a

potencialidade que o mercado oferece.

Segundo Calderoni (2003) o papel, assim como o plástico que diferentemente

da lata de alumínio e do vidro, constitui-se em reciclável que perde parte de suas

propriedades ao ser reciclado. Ainda assim, pode ser reciclado por várias vezes para

usos distintos dos originais.

Os dados mostraram um crescente índice de reciclagem do papel, o que

contribui de forma positiva para viabilidade econômica dentro da cadeia produtiva da

reciclagem deste material no Brasil.

Page 60: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

59

2.3.3 – Reciclagem de Vidro

A reciclagem de vidro para embalagem no Brasil, também vem apresentando

crescimento significativo, tendo o país, segundo ABRELPE (2007), alcançado em

abril de 1996, o índice de reciclagem de 35,09%, superior ao de vários países

europeus, e está mantendo a média de 980 mil toneladas de embalagens de vidro

por ano, usando cerca de 45% de matéria-prima reciclada na forma de cacos.

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do Vidro, 47% das

embalagens de vidro são recicladas no Brasil, somando 470 mil ton/ano. Em 2006,

este o setor vidreiro gerou cerca de 5100 empregos, com faturamento de R$ 1,23

milhões. Quanto aos empregos diretos e indiretos gerados na reciclagem somam-se

3 mil.

Nos EUA, o índice de reciclagem em 2007 foi de 40%, correspondendo a 2,5

milhões de toneladas. Neste mesmo ano, na Alemanha, o índice de reciclagem em

foi de 87%, correspondendo a 2,6 milhões de toneladas, na foi de Suíça (95%) e a

média da reciclagem na Europa é de 62% (CEMPRE, 2008).

No gráfico 10 é demonstrada a evolução da reciclagem de vidro no Brasil

compreendendo os anos de 1991 a 2007.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

 199

1

 199

2

 199

3

 199

4

 199

5

 199

6

 199

7

 199

8

 199

9

 200

0

 200

1

 200

2

 200

3

 200

4

 200

5

 200

6

 200

7

Ano

Gráfico 10 – Evolução da Reciclagem de Vidro no Brasil Fonte: ABVIDRO (2008)

Page 61: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

60

Analisando o gráfico 10 verifica-se que desde 1991 até 2007, o índice de

reciclagem de embalagens de vidro obteve crescimento significativo. Como grandes

contribuintes a este crescimento estão as indústrias de reciclagem, pelo mercado em

oferta; a ampliação das associações e cooperativas de catadores, aliado aos que

atual na informalidade conseguem arrecadar 40% dos vidros velhos e quebrados

que entram na reciclagem, outros 40% vêm das indústrias de envase; 10%, de

estabelecimentos comerciais como bares, restaurantes ou hotéis e 10 % são refugo

da própria indústria de vidros.

2.3.4 – Reciclagem de Plástico

A contribuição do plástico para a viabilidade econômica da reciclagem de lixo

em geral é potencialmente muito elevada, sobretudo em função da economia de

matéria-prima que proporciona. Entretanto, apresenta uma relação preço-volume

desfavorável, razão pela qual não é considerado tão atrativo para carrinheiros e

catadores. O caso dessa baixa atratividade decorre da relação preço por peso.

Segundo dados do Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos, em 2005 existiam

512 empresas que beneficiavam o plástico no país, e que neste ano houve um

faturamento de R$ 1,6 bilhões com produção de 767,5 mil toneladas/ano, ofertando

17.548 empregos diretos. Em 2006, as cerca de 11.300 empresas geravam

aproximadamente 300.000 empregos diretos. Em 2007 R$ 1,8 bilhão foram

movimentados no Brasil.

O panorama da atividade de reciclagem de plástico no Brasil estava dividido

da seguinte maneira:

Região Sudeste: 577,5 mil toneladas;

Regiões Sul: 240,6 mil toneladas;

Nordeste: 115,5 mil toneladas;

Centro-Oeste: 19,2 mil toneladas;

Norte: 9,6 mil toneladas.

Page 62: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

61

Na tabela 07 é demonstrada a quantidade de produzida durante o ano de

2005 e seu respectivo índice de reciclagem.

Tabela 07 – Reciclagem de Plástico Pós-Consumo no Brasil em 2005.

Tipo de Resíduo Plástico1 Quantidade (ton/ano) (%)

PET 244.428 53,70

PEAD 51.896 11,40

PVC 9.742 2,14

PEBD/PELBD 89.995 19,77

PP 32.641 7,17

PS 18.389 4,04

Outros tipos 8.068 1,77

Total 455.159

Fonte: Estudo sobre a Indústria de Reciclagem Mecânica dos Plásticos no Brasil (IRMP), Plastivida – Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos/2005 apud ABRELPE (2007).

Analisando tabela 07, percebe-se que o tipo de plástico que obteve o maior

índice de reciclagem foi o PET com 53% do total, seguido do PEBD. Uma das

explicações é porque o PET é um produto de possui vida útil muito curta, e o seu

recolhimento, principalmente por catadores e carrinheiros, acompanha a sua

produção.

Percebe-se, então o potencial que o PET tem no mercado da reciclagem,

sendo um dos mais procurados, por catadores autônomos, organizados, sucateiros

e carrinheiros. Nesse caso, faz-se necessário realizar uma abordagem do panorama

da reciclagem desse material, o que acontece no tópico seguinte.

2.3.4. 1 - Embalagens de PET

O Brasil apresenta-se como um dos países que mais recicla PET no mundo.

O seu valor no mercado serve de incentivo aos atores que fazem parte da cadeia

produtiva da reciclagem.

1 Polietileno de Baixa Densidade (PEBD); Polietileno de Alta Densidade (PEAD); Poliestireno

(PS); Policloreto de Vinila (PVC); Polipropileno (PP); e Polietileno (PET).

Page 63: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

62

No gráfico 11 é representado um panorama sobre o índice de reciclagem do

PET no mundo. Esta taxa de reciclagem lança o Brasil no cenário mundial como um

dos maiores recicladores de PET, ultrapassando os EUA e Europa, ficando atrás

apenas do Japão.

66,3%

53,5%

40,0%

27,1% 27,0%23,5%

15,0%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Japão

(2006)

Brasil

(2007)

Europa

(2007)

Argentina

(2006)

Austrália

(2006)

EUA (2006) México

(2007)

Gráfico 11 - Panorama do Índice de Reciclagem de Plástico PET no Mundo. Fonte: ABIPET (2008).

No gráfico 12 é apresentada a evolução do índice de reciclagem do PET no

Brasil, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do PET em censo

realizado em 2007.

35,0

51,0

48,0

26,3

17,9

21,0

18,8

-

10

20

30

40

50

60

1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006

Ano

Indi

ce d

e R

ecic

lage

m (%

)

Gráfico 12 – Evolução da reciclagem de PET no BRASIL. Fonte: ABIPET apud ABRELPE (2007)

Page 64: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

63

No ano de 1998 houve uma queda na reciclagem do PET, 17,90% do total

produzido, conforme gráfico 13. Contudo, a recuperação ocorreu nos anos

posteriores. Os índices de aumento da produção ficou ma média dos 25,5%,

viabilizando o aumento na reciclagem desse material.

Dos itens que compõe os plásticos, o PET é o que tem maior índice de

reciclagem, devido suas embalagens serem descartáveis em pouco tempo de usos

dos produtos consumidos.

Para melhor percepção do leitor, demonstra-se no gráfico 13 a comparação

da evolução dos materiais recicláveis apresentados: alumínio, papel, vidro e plástico

no período de 1998 a 2006 no Brasil.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1998 2000 2002 2004 2006

Alumínio

Papel

Vidro

Plástico

Gráfico 13 - Evolução do índice de reciclagem no Brasil. Fonte: ABRELPE (2008)

O alumínio é o material com maior índice de reciclabilidade, isto se justifica

pelo fato de que, dentre os materiais apresentados, este possui maior valor no

mercado, o que consequentemente incentiva a sua crescente procura.

A partir das informações supracitadas observa-se que o Brasil tem grande

potencial de aproveitamento dos materiais provenientes do lixo, e este ramo é

justificado em termos econômicos, tanto para a coleta seletiva quanto a reciclagem,

afirma Calderoni (2003). Também é considerado pelo autor o fato de que a coleta

Page 65: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

64

seletiva juntamente com a reciclagem vem se tornando uma alternativa de mudança

do modelo de desenvolvimento, buscando aliar o tripé da teoria do desenvolvimento

sustentável, por meio de uma atividade economicamente viável, socialmente justa e

ambientalmente correta. Acrescenta-se, neste contexto, que grande parte dos

materiais que são encaminhados às industrias de reciclagem é fruto do trabalho

informal, como os catadores de “lixo”.

Neste contexto, será apresentada, no capítulo seguinte, uma abordagem

sobre a viabilidade econômica da coleta seletiva e Reciclagem na Região

Metropolitana de Belém - RMB, assunto que está diretamente relacionado aos

objetivos desta pesquisa.

_________________________________________

Resumo:

Neste capitulo foi apresentado o panorama da reciclagem no Brasil e no Mundo dos

componentes: alumínio, papel, plástico e vidro. Desses materiais, destaca-se o alumínio,

pois é o que tem maior procura, pelo fato de grande produção e consumo e maior valor no

mercado dos recicláveis. Nesse caso, contatou-se, principalmente no Brasil, a evolução dos

índices de reciclagem desses materiais com grande contribuição na economia, por meio da

geração de emprego e renda. Fez-se necessário realizar esta abordagem para demonstrar o

potencial e um mercado que vem crescendo no Brasil, e que dele faz parte uma parcela da

população que é um dos principais responsáveis pelo sucesso dos índices alcançados, no

entanto, encontram-se no patamar mais baixo da cadeia produtiva da reciclagem, que são

os catadores. Este capítulo tem sua importância para embasar o contexto da viabilidade

econômica da coleta seletiva e reciclagem na Região Metropolitana de Belém, o que

veremos no capítulo V.

Page 66: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

65

CAPÍTULO III - MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia utilizada para o desenvolvimento desta pesquisa contou com

os seguintes procedimentos experimentais por etapa: simulação das alternativas

financeiras para a coleta seletiva e reciclagem em Belém, por meio de comparação

de cenários; simulação das alternativas financeiras para a coleta seletiva e

reciclagem, por meio do potencial de arrecadação das seis organizações de

catadores; definição das associações e cooperativas de catadores e aplicação de

questionários.

3.1 - ÁREA DE ESTUDO

A pesquisa tem como área de estudo o município de Belém, que, dentre os

que compõem a Região Metropolitana, é o mais populoso e o que produz a maior

quantidade de lixo. Na imagem 1 é ilustrado o mapa do município de Belém, e as

localizações das associações e cooperativas estudadas.

Mapa 1 – Município de Belém . Fonte: LEÃO (2007).

ARAL; CPT

ASTRAMAREPE

CONCAVES

CSB

COOTPA

Page 67: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

66

De acordo com o a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

– IBGE (2009), a Região Metropolitana de Belém (RMB) apresentava 2.105.621

habitantes, distribuídos em cinco municípios. Somente a população de Belém

corresponde a 68,3% do total da população da Região Metropolitana conforme a

tabela 08.

Tabela 08 – Estimativa Populacional da RMB 2009.

Município População

(hab) População

(%) Belém 1.437.600 68,3

Ananindeua 505.512 24,0

Marituba 101.158 4,8

Benevides 46.611 2,2

Santa Bárbara do Pará 14.740 0,7

TOTAL 2.105.621 100,0

Fonte:Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2009).

O município de Belém, situado na região norte do Brasil, sendo a capital do

estado do Pará e sua maior cidade, tem como área aproximada 1.065 km², com uma

altitude média de 10m, situada nas coordenadas de 1º 28’ de latitude sul e 48° 29’

de longitude oeste, com população estimada no ano de 2009, de 1.437.600

habitantes (IBGE, 2009).

Na Grande Belém, segundo dados de Leão (2007), a quantidade de lixo

aumentou de 312 mil toneladas, em 2000, para 386 mil toneladas em 2006. Pelo fato

de ter a maior densidade demográfica, Belém apresenta como consequência a

produção de uma maior quantidade de lixo dentre os municípios componentes da

região metropolitana.

A Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN é o órgão responsável pelo

serviço de limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos em Belém, por meio do

Departamento de Resíduos Sólidos (DRES). O serviço de coleta dos RSD é

executado pela terceirização em dois grandes setores operados por duas empresas

distintas.

Page 68: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

67

O destino final é feito na localidade denominada Santana do Aurá, em uma

área que atualmente abrange um aterro controlado, em operação, um incinerador de

resíduos perigosos, desativado a mais de 10 anos, e uma área com vários leitos de

secagem para deságue do lodo proveniente dos veículos “limpa fossa” que atuam na

Região Metropolitana de Belém. Na imagem 03 é ilustrada a localização do aterro

de Belém.

Imagem 03 - Localização do aterro do Aurá. Fonte: LEÃO (2007)

Na imagem supracitada é demonstrado um caso particular em Belém, pois o

aterro do Aurá está localizado a aproximadamente 2 km dos Lagos Bolonha e Água

Preta que, por suas vezes, são os mananciais que abastecem a cidade de Belém e

parte de Ananindeua tornando-se, dessa maneira, potencial fonte de poluição e/ou

contaminação da água.

As associações e cooperativas estudadas têm suas sedes nos seguintes

bairros: Pedreira, Terra-Firme ou Montese; Cremação; Águas Lindas e Aurá. Os três

primeiros no município de Belém e os dois últimos em Ananindeua. Destes, segundo

classificação socioeconômica dos Bairros de Belém apud Carneiro (2006),

Cremação e Pedreira são classificados como classe média baixa. O restante é

classificado como classe baixa. Com a definição da área de estudo e das

organizações a serem pesquisadas, iniciou-se a definição das etapas da pesquisa.

Page 69: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

68

3.2 - PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

Após a identificação das associações e cooperativas e as condições da

delimitação do objeto, procurou-se enfocar os objetivos propostos, e buscar na parte

empírica, a base para formular o questionário das entrevistas realizadas com os

catadores.

A pesquisa foi desenvolvida mediante as seguintes etapas:

Etapa 1 – Aplicação dos questionários e entrevistas para obtenção do perfil e

condição de trabalho dos catadores:

o Realização de visitas nas sedes das associações e cooperativas;

o Realização de reuniões nas sedes e reuniões fora da sede (externas).

No Fluxograma 1 são detalhados os passos da 1ª etapa da pesquisa.

Fluxograma 1 – 1º Etapa da pesquisa.

A interação com os catadores se deu por meio da aproximação, inicialmente

com as reuniões da rede de apoio. Assim, os contatos e uma relação mais madura

vieram com o tempo, e aconteceram com mais frequência, devido a discussão de

um projeto voltado a essa categoria que acontecera durante o Fórum Social Mundial,

evento que ocorreu em Belém no ano de 2009. Estas reuniões colaboraram para

que fosse esclarecida a intenção da aplicação dos questionários e as entrevistas.

Após algumas conversas com os catadores, percebeu-se que era preciso alterar o

contexto de determinadas perguntas no questionário, a fim de melhor

esclarecimento.

PESQUISA EMPÍRICA

Reuniões Externas

Visita nas Sedes das Associações e Cooperativas

Aplicação de Questionários e

Entrevistas

Aplicação de Questionários e

Entrevistas

Diagnóstico

Diagnóstico

Page 70: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

69

As datas e horários das entrevistas eram combinados com as lideranças, que

agiam como facilitadores e adiantava o objetivo com os respectivos trabalhadores. A

intermediação das lideranças era necessária para convencer os catadores a

cooperarem com a resposta aos questionários.

O questionário (ver anexo 1) foi aplicado de forma individual e isoladamente

com perguntas abertas e fechadas e o pesquisador obteve a colaboração de

Elizângela Gomes, formada em engenharia sanitária, como voluntária da pesquisa.

Durante as entrevistas foi necessário, em algumas ocasiões, que o pesquisador,

assim como a voluntária, escrevesse as respostas nos formulários, devido a

existência de analfabetos e outros que tinham dificuldade de escrever (baixo grau de

escolaridade) nas cooperativas e associações. O tempo médio para responder o

questionário foi de quarenta minutos (cada entrevistado).

A aplicação dos questionários aconteceu de duas formas: partes dos

catadores os responderam após as reuniões do FSM 2009, que aconteciam ou no

Centro Integrado de Governo – CIG ou na Casa de Apoio ao Fórum Social Mundial

(local que funcionava a coordenação das ações do FSM 2009); e outra parte era

entrevistada nas suas respectivas sedes. O período da entrevista na sede era das

8:00 às 14:00 horas e acontecia nos finais de semana (o pesquisador e a voluntária

permaneciam nas organizações para conseguir o máximo de entrevistas),

inicialmente entrevistava-se as pessoas que trabalhavam na triagem, e em seguida,

aguardava-se o retorno dos catadores que trabalhavam nas ruas.

Para finalizar a etapa da aplicação de questionários exceto as reuniões

externas, foram necessários, em média, três finais de semana para cada

organização. Esta etapa da pesquisa foi bastante prolongada, devido a dificuldade

de conseguir encontrar, reunidos, todos os catadores no mesmo local (sede da

organização ou local de depósito e triagem).

As questões relativas aos questionários contemplaram perguntas sobre:

habitação, saúde, idade, sexo, renda, escolaridade, infraestrutura, etc., buscando

traçar o perfil dos associados e cooperados. Também foram realizados ensaios

fotográficos, para registrar as condições de trabalho das respectivas organizações.

Page 71: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

70

As informações sobre a forma de organização e gestão foram obtidas

mediante entrevista com as lideranças das respectivas associações e cooperativas,

objetivando identificar diferenças e/ou semelhanças nas mesmas, nível de

articulação com terceiros, organização interna, equipamentos utilizados, escolha da

coordenação, participação nas decisões, espacialização das rotas de coleta, forma

de trabalho, rateio dos recursos auferidos, as dificuldades e necessidades.

Os dados coletados sobre as relações econômicas das cooperativas com

seus cooperados são parte desta pesquisa (capítulo IV), bem como uma

comparação de resultados econômicos entre eles (as cooperativas pesquisadas).

Outros números econômicos (preços) usados para análise e comparação fazem

parte do mercado em nível nacional e local de resíduos recicláveis. Procura-se

mostrar o envolvimento dos agentes catadores e sua relação na cadeia de

agregação de valor.

O total de catadores organizados, no período da pesquisa, era de 186 (cento

e oitenta e seis), e desses, obteve-se resposta de 156 (cento e cinquenta e seis) nas

entrevistas. Não foi possível entrevistar trinta pessoas. Algumas delas por atuarem

no lixão do Aurá (quatro pessoas) que fazem parte da COOTPA, um dos motivos foi

o difícil acesso ao local de trabalho, devido a existência de uma rede de tráfico de

drogas às proximidades. Outras três pessoas não concordaram em ser

entrevistados.

Em relação à CONCAVES, no bairro da Terra Firme (Belém – PA), cinco

pessoas não concordaram responder ao questionário. O mesmo aplica-se à

ASTRAMAREPE, bairro da Pedreira, também em Belém. Sobre a ARAL, bairro das

Águas Lindas (Ananindeua – PA), quatro pessoas não responderam. Já em relação

à Associação Cidadania para Todos, que atua no mesmo bairro, três pessoas não

responderam. Em relação à Coleta Seletiva de Belém, a única organização que é

apoiada pela Prefeitura Municipal de Belém, seis pessoas não aceitaram responder

ao questionário.

Page 72: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

71

Dos que não responderam ao questionário, com exceção dos catadores que

trabalham no lixão, nas outras organizações percebeu-se que um dos motivos

principais foi, em primeiro lugar, não aceitarem parar seu trabalho, devido ganharem

pela produtividade, o que demanda várias horas de serviço pelo fato da

desvantagem na relação preço por peso dos materiais recicláveis.

Contudo, a amostra de cento e cinquenta e seis, considera um erro amostral

máximo de 3%, com intervalo de confiança de 95%.

A fórmula abaixo ilustra o cálculo realizado para obtenção da amostra da

pesquisa, de acordo com Bolfarine, H. e Bussab, W.O. (1994).

Onde n número amostral, δ² é a variância, Z é o nível de significância, N é o

número populacional e ε² é o erro amostral.

Para a compreensão do comércio existente entre os catadores e as

cooperativas e as cooperativas e os sucateiros, foi necessário realizar entrevista

com os três atores: catador, lideranças, e sucateiros (este último de pequeno, médio

e grande porte, no caso de Belém e Ananindeua). Desses, os sucateiros (pequeno e

médio porte) foram os que menos quiseram falar, e informaram somente os preços

dos materiais, nem permitiram realizar ensaios fotográficos. Esta situação pode ter

explicação na relação de clandestinidade em que se encontram as sucatarias da

cidade. Já a de grande porte, uma empresa, não foi possível conversar com o

proprietário, contudo, o encarregado informou apenas o preço dos materiais e o

processo de pré-beneficiamento (equipamentos) da empresa.

O levantamento de informações sobre o quantitativo de materiais recicláveis

foi realizado “in loco” com base nas notas fiscais e planilhas de controle de vendas

semanal dos materiais. Esta situação aplicou-se às seguintes organizações:

CONCAVES, ASTRAMAREPE e ARAL. Quanto a Cidadania para Todos, foi

realizada estimativa tomando como base as anotações diárias da produção dos

Page 73: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

72

associados (documento da Associação), o mesmo procedimento aplicou-se a

COOTPA. Já para a Associação Coleta Seletiva de Belém, tomou-se como base as

planilhas de monitoramento da produção mensal. Esta foi uma das abordagens

mais difíceis da pesquisa, devido à informalidade documental.

Finalizando, foi realizado o perfil sócio econômico dos catadores, por meio da

sistematização dos dados referentes aos questionários aplicados. Seu objetivo foi

demonstrar a real situação vivida pelos catadores organizados. Na oportunidade,

verificar sua condição de trabalho, labuta diária, e sua luta quanto movimento para

melhorar a condição de vida da classe.

Etapa 2 – Simulação das alternativas financeiras para a coleta seletiva e

reciclagem em Belém, por meio de comparação de cenários:

o Buscou-se, por meio de pesquisas já realizadas, o quantitativo de

materiais recicláveis (papel/papelão, plástico, metal e vidro), em

toneladas, gerados no município de Belém;

o Em seguida, identificou-se o índice médio nacional em que os

municípios obtêm de aproveitamento dos materiais recicláveis;

o Posteriormente, investigaram-se os valores de comercialização

(R$/tonelada) dos recicláveis na média nacional;

o De posse das informações supracitadas, foi realizado estudo da

estimativa de receita com 100% de comercialização dos resíduos

recicláveis gerados no município de Belém em 2009; assim como o

estudo de receita estimada, considerando a média nacional com

comercialização dos materiais recicláveis nesse município;

o Calcularam-se os custos que a Prefeitura Municipal de Belém - PMB

obtém com a coleta convencional;

Page 74: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

73

o Calculou-se, também, a estimativa de custos que a PMB teria caso

realizasse a coleta seletiva, considerando 100% (cem por cento) e a

média nacional de aproveitamento dos recicláveis;

o Essa etapa foi finalizada com a comparação dos cenários de receitas

auferidas com a comercialização (reciclagem) dos 100% de

aproveitamento, custos com programa de coleta seletiva com o mesmo

potencial de aproveitamento e custo com a coleta convencional. O

mesmo caso de comparação aplica-se ao estudo de custos e receitas

na média nacional.

Dessa forma, buscou-se no estudo do potencial econômico do processo de

reciclagem do lixo verificar o quão este mercado demonstra ser atrativo no município

de Belém, visto o quantitativo gerado em relação aos demais municípios que fazem

parte da Região Metropolitana.

Os cenários hipotéticos, quanto à produção de resíduos sólidos urbanos nos

Municípios de Belém, foram realizados com dados do Departamento de Engenharia

Sanitária da Universidade Federal do Pará – UFPA, que realiza estudos da

composição gravimétrica da Região Metropolitana de Belém com intervalo médio de

cinco anos. Nesse caso, as informações mais recentes são do ano de 2006, porém

atualizadas com dados de produção per capta da ABRELPE (2009). Já as

informações sobre o potencial médio em que os municípios brasileiros aproveitam

de materiais recicláveis, e sobre os custos para manter programa de coleta seletiva

foram obtidos por meio do Compromisso Empresarial para Reciclagem – CEMPRE

no ano de 2009.

Os valores de custos com a coleta convencional e operação do aterro do

Aurá foram obtidos, por meio de Carneiro (2006). Tendo como referência o

município de Belém quanto à geração de resíduos recicláveis por tipo: papel,

papelão, plástico, metal e vidro, foram quantificados os valores auferidos com a

reciclagem em dois cenários hipotéticos: com 100% de aproveitamento, e o

arrecadado de acordo com a média nacional, a fim de compará-los com os custos do

serviço de coleta convencional e coleta seletiva dos resíduos sólidos urbano.

Page 75: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

74

O Fluxograma 2 são detalhados os passos da 2ª etapa da pesquisa

*Custos com coleta convencional e coleta seletiva ** Receitas auferidas com a comercialização dos materiais recicláveis

Fluxograma 2 – 2º Etapa da pesquisa.

Etapa 3 – Simulação das alternativas financeiras para a coleta seletiva e

reciclagem, por meio do potencial de arrecadação das seis organizações de

catadores:

o Levantamento do quantitativo coletado pelas seis organizações de

catadores de Belém e Ananindeua;

o Identificação dos valores de comercialização (R$/tonelada) dos

recicláveis na média nacional;

o Levantamento de informações sobre os valores de comercialização dos

recicláveis em Belém;

o Comparação dos cenários de potencial de receita auferida pela

comercialização dos recicláveis na média nacional e local;

o Estimativa de custos evitados com a coleta convencional e

manutenção do aterro do Aurá, devido ao desvio do lixo reciclável

pelos catadores organizados.

COMPARAÇÃO DOS

CENÁRIOS (custos e receitas)

Coleta Convencional* Coleta Seletiva* Comercialização** (Reciclagem)

Índice de 100% de Reciclagem

Índice de Reciclagem Igual a Média

Nacional

100% de Aproveitamento

Aproveitamento Iguala a Média

Nacional

Page 76: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

75

A Prefeitura retira diariamente da cidade cerca de 569 toneladas de resíduos

sólidos recicláveis (papel/papelão; plástico; metal e vidro). Praticamente todo esse

material vai para o aterro do Aurá, sendo apenas uma pequena parte coletada

seletivamente pelas associações e cooperativas pesquisadas. As cooperativas de

Ananindeua também contabilizam a soma desta coleta devido receberem doações

de órgãos públicos, privados etc., e realizarem a catação no local de depósito do

lixo. Neste caso, foi realizada a contagem de retirada dos materiais em dois

momentos:

o As organizações de Belém que catam nas ruas e recebem doações, e as

de Ananindeua que recebem doações de Belém, assim contabiliza-se o

quantitativo de lixo que é desviado do aterro do Aurá;

o Outra situação corresponde aos que catam o material em cima do local de

descarrego do lixo. Nesse caso, contabiliza-se o quantitativo retirado do

aterro e que favorece a manutenção do mesmo;

Dessa forma, foi contabilizada a soma das duas situações para diagnosticar o

quantitativo de lixo reciclável que deixa de ter um destino final inadequado e passa a

ser fonte de geração de renda às famílias dos catadores. Assim é realizado o estudo

de custos evitados pela Prefeitura de Belém em relação à coleta convencional e

manutenção do aterro.

Com isso, foi realizada a estimativa de quantidade de materiais recicláveis

arrecadado pelas seis organizações de catadores, estimaram-se os valores

auferidos com a comercialização, comparando os valores tabelados a nível nacional

como os valores tabelados a nível local (pesquisa de campo nas sucatarias do

município de Belém). O resultado deste tópico dá a idéia do quanto de resíduos

sólidos são desviados do aterro do Aurá e/ou teriam outro destino final inadequado,

além do retorno financeiro aos catadores. Nesse contexto, vale ressaltar a

importância econômica que a prefeitura municipal de Belém obtém com a atividade

dos catadores.

Page 77: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

76

No Fluxograma 3 são detalhados os passos da 2ª etapa da pesquisa

Fluxograma 3 – 3º Etapa da pesquisa.

A opção de trabalhar os catadores organizados se deu devido existir um

movimento de catadores que atua em rede nacional e que tem bastante

representatividade no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome -

MDS dentre outros, e que se discute e implementam Políticas Públicas voltadas a

essa categoria em todas as regiões brasileiras, a fim de garantir condições dignas

de trabalho, reconhecimento como importante agente no contexto ambiental e

melhoria de qualidade de vida dessa categoria.

COMPARAÇÃO DOS CENÁRIOS (receitas)

Quantitativo Coletado (Catadores)

Estimativa de Receita de Reciclagem com Valores na Média Nacional

Estimativa de Receita de Reciclagem com Valores na Média Local

Custos Evitados pela PMB

Coleta Convencional

Manutenção do Aterro do Aurá

Page 78: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

77

CAPÍTULO IV – AS ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS DE CATADORES DA

RMB E SUA INSERÇÃO NA CADEIA PRODUTIVA DA RECICLAGEM.

Neste capítulo, apresenta-se uma abordagem da exclusão social dos catadores no

contexto dos resíduos sólidos recicláveis como alternativa de trabalho e renda a essa

categoria. É apresentada, também, a contextualização das associações e cooperativas de

catadores (total de seis organizações. Essas informações objetiva demonstrar

características de cada organização, quantitativo arrecadado e renda mensal, investigar os

obstáculos que dificultam trabalharem quanto organização, seja associação ou cooperativa,

assim como entender como estes trabalhadores estão inseridos no contexto da cadeia

produtiva da coleta seletiva e reciclagem na RMB.

4.1 - A EXCLUSÃO SOCIAL DOS CATADORES DE LIXO.

Em vários países existem pessoas que trabalham e sobrevivem da catação

de materiais recicláveis, esta situação é bem mais evidente nos emergentes, como

por exemplo, os da América Latina, onde a crise social leva grande número de

pessoas a buscarem alternativas de sobrevivência, muitas vezes sub-humanas.

O Brasil está inserido no contexto supracitado, pois a falta de oportunidade de

emprego condiciona um grande número de pessoas a trabalharem catando lixo.

Estas pessoas atuam nas ruas ou em lixões á céu aberto, disputando os materiais

que possuem potencial de reciclabilidade e que tenham valor comercial.

Na RMB são identificadas duas categorias de catadores, que são: os que

atuam nas ruas das cidades, e os que trabalham, catando materiais em cima dos

lixões municipais. Dentre esses catadores, existem os que trabalham de forma

autônoma e os que se organizam em associações ou em cooperativas, a maioria

deles, sem qualquer infra-estrutura e/ou equipamentos adequados.

Page 79: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

78

Em relação aos que se organizam para viabilizar sua atividade Magera

(2003), afirma que: a formação de associações e cooperativas surgiu da

necessidade dos catadores se organizarem para obterem mais força ou poder de

barganha e negociar seus produtos com sucateiros e indústrias do seguimento da

reciclagem de lixo, assim como, satisfazer não somente a necessidade de consumo

por um bem ou serviço, mas também necessidades sociais e educativas.

As cooperativas de reciclagem são formadas por pessoas que se unem,

voluntariamente, para alcançar objetivos comuns. Estas constituem exemplos de

iniciativas que proporcionam postos de trabalho e geração de renda, fato que traz

como conseqüência vários benefícios como: a valorização do cidadão, auto-estima,

respeito dentre outros.

Dentro do contexto da exploração econômica do lixo, ou seja, na cadeia

produtiva da reciclagem, são vários os atores sociais envolvidos. Além dos

catadores, existem empresários, indústrias, atravessadores e comerciantes que

impõe as condições e os preços aos catadores e cooperativas. Nesse caso, Magera

(2003) afirma que esta situação coloca os catadores reféns da exploração da

economia formal sobre a informal. Sobre essa relação RODRIGUEZ (2005), afirma

que a economia informal está articulada com a economia formal, uma vez que os

catadores de lixo independentes passam a vender os seus produtos a intermediários

que, por sua vez, os vendem às grandes indústrias. Afirma ainda que, no caso dos

catadores, as formas econômicas populares são fonte de produtos, serviços e mão-

de-obra barata para o setor moderno da economia, o que facilita, mais do que

impede, a exploração das classes populares.

Na escala social, os catadores de lixo estão posicionados no nível mais baixo

fazendo com que essas pessoas sejam vistas como inferiores perante a sociedade e

reforça a exclusão social dessa categoria (ver figura 03)

Page 80: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

79

Imagem 04 – Beneficiados no mercado da reciclagem Fonte: CEMPRE (2007)

Dentro do universo da exclusão social, Gomes Filho (2004) faz uma analogia

sobre o lixo e as pessoas que são colocadas diariamente à margem do processo

produtivo que, por não possuírem as habilidades requeridas para serem absorvidos

pelos novos processos de produção, tornam-se “desnecessários economicamente”.

O autor aponta como exemplo: moradores e meninos de rua, desempregados das

favelas e periferias, delinqüentes e catadores de lixo que, diferente do lixo, perdem

sua visibilidade e carregam o estigma de não serem aceitos socialmente, tornando-

se “invisíveis” perante uma sociedade que os ignora como algo que não serve mais.

Cristóvam Buarque (1993) propôs o termo “apartação social”, como sendo o

fenômeno de separar o outro, não mais considerado como humano. Nessa

perspectiva, Nascimento (1995) considera que: a exclusão social torna-se apartação

quando o outro não é apenas desigual ou diferente, mas quando o outro é

considerado como "não-semelhante", um ser expulso, não dos meios modernos de

consumo, mas do gênero humano.

Nível 4 - Indústrias

Recicladoras

Nível 3 - Grandes Sucateiros

Nível 2 - Pequenos e Médios Sucateiros

Nível 1A -Cooperativas e Centros de Triagem

Nível 1 - Catadores Autônomos

Page 81: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

80

Maricato (1994) faz a seguinte abordagem sobre a temática da exclusão

social:

“A exclusão social envolve uma situação complexa que abrange a informalidade, a irregularidade, a ilegalidade, a pobreza, a baixa escolaridade, o oficioso, a raça, o sexo, a origem e, principalmente, a falta de voz”.

Uma forma de combater a situação de exclusão das pessoas que sobrevivem

com materiais provenientes do lixo, é criar postos de trabalho, por meio de

associações e cooperativas de resíduos sólidos. Segundo Singer e Souza, (2000),

as cooperativas surgem como uma proposta alternativa ao modelo de trabalho em

nossa sociedade, cada vez mais exigente e complexa [...]. Nesse caso, a

recuperação de resíduos assume uma importância considerável como possibilidade

de ocupação para populações excluídas, principalmente, em países em

desenvolvimento.

A relação do cooperativismo está dentro do âmbito do conceito de “economia

solidária”, pois sua proposta é que estas cooperativas sejam formadas como

alternativa para garantir os direitos daqueles que estão excluídos do mercado formal

de trabalho, aplicando os princípios do cooperativismo como: adesão voluntária;

gestão democrática; participação econômica dos membros; autonomia e

independência; educação, formação e informação; inter-cooperação e interesse pela

comunidade.

Neste contexto, Singer (2003) define economia solidária como um modo de

produção constituído por trabalhadores associados, que possuem em comum o

capital que utilizam formadas, sobretudo, por cooperativas que deveriam ser auto-

gestionárias. O autor afirma que dentro da economia solidária as associações e

cooperativas contém uma gestão participativa, onde todos os operários tem poder

de deliberação sobre a empresa, o que elimina a figura do patrão. Nesta, a

propriedade da empresa é dividida por igual entre todos os trabalhadores, para que

todos tenham o mesmo poder de decisão sobre ela.

Page 82: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

81

Calderoni (1998) afirma que: as perspectivas dos catadores de rua e dos

carrinheiros são limitadas pela “situação de clandestinidade ou semiclandestinidade”

em que eles se encontram, constituindo-se sua atividade em “uma alternativa à

marginalidade”.

A situação supracitada também se aplica aos catadores da Região

Metropolitana de Belém que busca, por meio do trabalho desenvolvido,

reconhecimento, cidadania, melhores condições de trabalho e que tenta articular

com o Movimento Nacional de Catadores políticas públicas para esta região. Assim,

o tópico a seguir abordará a atual conjuntura de cada uma das seis associações e

cooperativas estudadas.

4.2 – CARACTERIZAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS DE

CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE BELÉM E ANANINDEUA - PA.

No Brasil, segundo a ABRELPE (2008) são gerados cerca de 170 mil

toneladas de lixo por dia, dos quais 149 mil ton/dia são coletados, e que uma parcela

destes materiais são encaminhados aos lixões, rios, córregos e terrenos baldios.

Neste contexto, é de grande importância a atuação dos Catadores de

materiais recicláveis, no sentido de minimizar os impactos negativos ao meio

ambiente e a saúde pública provocado por um modo de vida insustentável.

Os Catadores iniciaram suas atividades no Brasil há mais de 50 anos e há

mais de 20 anos vem se organizando, estruturando suas associações e

cooperativas. A partir de 1999 iniciaram a construção do Movimento Nacional de

Catadores de Materiais Recicláveis, o MNCR, e desde 2007, um grande volume de

recursos estão sendo investidos no desenvolvimento de suas organizações, como

resultado das ações do Comitê Interministerial de Inclusão Social de Catadores,

além de diversas ações de apoio e investimento da iniciativa privada e das

fundações de apoio públicas e privadas.

Page 83: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

82

4.2.1 - Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis da Terra Firme –

CONCAVES.

A quantidade de cooperados na CONCAVES conta em 25 pessoas, 14

homens e 11 mulheres, todos moradores do bairro Terra Firme. Esta cooperativa

obteve sua legalização em julho de 2006. Desde outubro de 2007 a sede da

CONCAVES está localizada na Passagem Brasília, nº 125, Terra Firme. Próximo à

sede, situava-se o terreno utilizado pelos catadores como espaço de armazenagem

e separação dos materiais.

A cooperativa trabalha coletando materiais recicláveis nas ruas e também

recebem doações de órgãos públicos e privados. Os bairros percorridos são

principalmente: Terra Firme, Guamá, Curió-Utinga, Canudos, São Braz, Bairro de

Fátima e Marco. Até outubro de 2007 armazenava o material coletado em um

pequeno terreno murado, sem cobertura. Nesse terreno era realizada a triagem para

a comercialização.

Nas imagens 5a e 5b são mostrados o antigo e o atual local de

acondicionamento dos materiais recicláveis da CONCAVES.

Imagem 05 – Fotografias do antigo (5a) e o atual local (5b) de armazenamento dos materiais recicláveis da CONCAVES Fonte: CONCAVES (2008)

Page 84: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

83

Os programas e linhas de financiamento voltados ao apoio e fortalecimento

de cooperativas de catadores, assim como a implementação do Decreto Federal

5.940/2006 e do Decreto Estadual 801/2008, está fazendo com que a CONCAVES

se estruture aos poucos, assim adquiriu sua legalização, além de novo espaço para

armazenamento e com melhores instalações.

Os equipamentos de coleta e transporte são precários nesta cooperativa, pois

contam com 06 (seis) carrinhos de madeira, 01 (uma) bicicleta cargueira e 01 (uma)

balança. Pela falta da prensa, os materiais são amassados com os pés, no caso:

latas de alumínio e garrafas PET. Na imagem 06 são demonstrados os

equipamentos utilizados na coleta dos materiais.

Quanto a divisão de trabalho: os homens saem para recolhê-los e a triagem

fica por conta de grupos de mulheres. Já no período noturno saem tanto homem

quanto mulheres para realizar a coleta. Quem trabalha na triagem ganha menos do

que os que coletam.

Imagem 06 – Fotografias dos equipamentos de trabalho da coleta de recicláveis da CONCAVE Fonte: CONCAVES (2008)

A situação de moradia de alguns catadores são precárias como pode ser

observada na imagem 07.

6a 6b

Page 85: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

84

Imagem 07 – Moradia de um catador da CONCAVES Fonte: CONCAVES (2008)

Grande parte das pessoas que sobrevivem da catação de resíduos sólidos

recicláveis vive em locais com as mesmas características da residência mostrada na

imagem acima, pois dentre os catadores existem pessoas que são ex-moradores de

rua, e conseguem na cooperativa uma oportunidade de trabalho e morada.

Percebe-se também a situação de insalubridade dentro da residência deste

catador, contudo, todos os cooperados e familiares são cadastrados no Programa de

Saúde Saudável, assim recebem visitas de Agentes Comunitários de Saúde em

domicílio.

A CONCAVES mensalmente tem ônus com: aluguel da sede, energia elétrica

e telefone, totalizando uma média de R$ 230,00. Além destes custos, a cooperativa

paga o frete para levar os materiais até o ponto de comercialização. Em alguns

casos, quando a produção é grande, também paga para buscar os recicláveis nos

órgãos públicos. O custo com frete varia de R$ 50,00 a R$70,00.

Em relação ao rateio dos recursos provenientes da comercialização dos

materiais, inicialmente, era realizado de forma igualitária. Mas devido a conflitos

decorrentes da divisão de trabalho, principalmente sobre as metas a serem

alcançadas, foi estabelecido que cada catador receberia a quantia referente ao

material que coletou individualmente. Esta é uma das situações em que

desconfigura a idéia de um sistema cooperativista.

7a 7b

Page 86: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

85

Tabela 09 – Quantitativo de recicláveis coletados pela CONCAVES em 2009.

Cooperativa de Catadores de Recicláveis da Terra Firme

Tipo de Material Kg/mês Venda (R$/Kg) Receita (R$/mês)

Papel Branco 5.700 0,25 1.425,00

Papelão 6.500 0,03 195,00

Papel Misto 4.100 0,2 820,00

Plástico 7.500 0,3 2.250,00

Alumínio 350 1,1 385,00

Ferro 2.500 0,2 500,00

Total 26.650,00 5.575,00

Fonte: Pesquisa de campo

Quanto aos recursos provenientes das vendas dos materiais recicláveis que

provém das doações (órgãos públicos e privados), são divididos igualmente entre os

cooperados. Do total arrecadado com a venda 10% fica para a cooperativa. Os

cooperados trabalham em média 10 horas diárias. A renda média mensal é de R$

223,00 (duzentos e vinte e três) reais. Parte dos cooperados trabalha no período

noturno, e seguem o roteiro das principais ruas e avenidas dos bairros supracitados.

Contudo, segundo informações do presidente da CONCAVES, como o pagamento é

de acordo com a produtividade há quem consiga uma renda maior por mês, nesse

caso, se enquadra as pessoas mais jovens e que trabalham nos finais de semana.

Estes chegam a conseguir cerca de R$ 400,00 por mês.

4.2.2 - Associações de Catadores de Materiais Recicláveis da Pedreira -

ASTRAMAREPE.

Atuando desde 2005, obteve sua ata de fundação em 12 de novembro de

2007. A sede da ASTRAMAREPE fixa no seguinte endereço: Av. Drº Freitas,

Passagem São Luiz, nº 94 (Belém-PA). A ASTRAMAREPE conta com 17

(dezessete) associados, sendo 8 (oito) homens e 9 (nove) mulheres. Todos residem

no bairro da Pedreira. A maioria mora próximo à sede.

A associação ainda não possui local apropriado para acomodar e realizar a

triagem dos materiais arrecadados, ficando expostos à céu aberto. Os locais de

acondicionamento são: o quintal da casa do presidente da associação e a frente da

casa dos associados, conforme as imagens 8 e 9a e 9b.

Page 87: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

86

Imagem 08 – Local de acondicionamento da ASTRAMAREPE Fonte: ASTRAMAREPE (2008)

Imagem 09 – Material triado e acondicionado em big bag’s. Fonte: ASTRAMAREPE (2008)

Na imagem 8 e mostrado que no momento da coleta os materiais são catados

por tipo. Já na imagem 9ª e 9b é apresentada que ao chegar na associação existe

separação dos materiais por tipo e cor. Outra situação, constatada refere-se a falta

de prensa, dessa forma, as garrafas são amassadas com os pés, objetivando

diminuir o volume a ser acondicionado nos big bag’s e conseqüentemente aumentar

a quantidade de material a ser transportados para comercialização.

Quanto aos equipamentos de coleta (imagem 10), a associação conta com os

seguintes: 03 (três) carros de mão de madeira, 01 (um) triciclo com carroceria, 01

(uma) motocicleta. Possuem 01 (uma) balança e utilizam algum tipo de equipamento

de proteção individual, como: luva, botas, calças.

9a 9b

Page 88: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

87

Imagem 10 – Equipamentos utilizados para coleta de recicláveis. Fonte: Foto do autor.

Na imagem 11 a seguir ilustra-se as condições de trabalho dos associados.

Nesta, verifica-se que os materiais encontram-se triados e acondicionados em big

bag’s e prontos para serem comercializados. Os associados e familiares não

recebem nenhum tipo de apoio do Poder Púbico, e não fazem parte de nenhum

programa como por exemplo: bolsa família, trabalho ou assistência à saúde.

Imagem 11 – Condição de trabalho na ASTRAMAREPE. Fonte: ASTRAMAREPE (2008)

Os custos que a ASTRAMAREPE possui são provenientes de telefone e frete

para transporte da carga de recicláveis a serem comercializados que saem

semanalmente. Seu principal comprador é a Companhia de Aparas de Papel –

RIOPEL.

Page 89: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

88

A ASTRAMAREPE trabalha catando materiais nas ruas da cidade e também

recebem doações de órgãos públicos da esfera Federal e Estadual, não recebe de

órgãos privados. O roteiro de coleta abrange os seguintes bairros: Pedreira,

Sacramenta, Marco, São Braz, Nazaré, Telégrafo.

Quanto a divisão de trabalho, existe a equipe que trabalha catando nas ruas e

a equipe que realiza a triagem. Neste caso, não existe divisão por sexo. Contudo,

quem prefere trabalhar na triagem ganha menos.

Tabela 10 – Quantitativo de recicláveis coletados – ASTRAMAREPE em 2009.

Associação de Recicladores da Pedreira

Tipo de Material Kg/mês Venda (R$/Kg) Receita (R$/mês)

Papel Branco 4700 0,25 1.175,00

Papelão 4200 0,03 126,00

Papel Misto 3800 0,15 570,00

Plástico 5200 0,3 1.560,00

Ferro 2000 0,15 300,00

Vidro 300 0,05 15,00

Total 20.200,00 3.746,00

Fonte: Pesquisa de campo

A forma de rateio dos recursos provenientes da comercialização dos materiais

é de acordo com a produção individual. Os associados trabalham cerca de 10 horas

por dia para obterem uma renda média de R$ 220,00 (duzentos e) reais por mês.

Parte dos associados trabalha durante o dia e outra pela noite e madrugada. A

venda dos recicláveis são realizadas semanalmente. Como a ASTRAMAREPE

desenvolve o mesmo modelo de trabalho da CONCAVES, ou seja, pela

produtividade, também existem catadores que conseguem ganhar mais, cerca de R$

380,00.

Os recursos provenientes das vendas dos materiais recicláveis que recebem

das doações dos órgãos públicos, por conta dos Decretos 5.940/06 e 801/08, são

divididos igualmente entre os cooperados, independente da produção individual,

sendo que do total arrecadado com as vendas de todos os materiais, 10% ficam

para a associação, para pagar os custos com os equipamentos de trabalho,

alimentação, etc.

Page 90: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

89

4.2.3 - Associação de Recicladores das Águas Lindas - ARAL

A Associação de Recicladores das Águas Lindas – ARAL localiza-se na Rua

Jardim providência, nº 30, Bairro Águas Lindas (Ananindeua-PA). Sua data de

fundação conta de 15 de junho de 2005.

Imagem 12 – Sede da ARAL Fonte: Pesquisa de campo

Atualmente o numero de componente é de 39 (trinta e nove) associados,

sendo 22 (vinte e duas) mulheres e 17 (dezessete) homens. A associação não

coleta materiais pelas ruas, sua forma de trabalho é por meio de doações de órgãos

públicos federais, estaduais e empresas privadas. A ARAL possui uma articulação

com os moradores locais, assim realizam a coleta porta a porta, mas ainda é pouco

expressiva.

Os bairros que fazem parte do roteiro de coleta são: Águas Lindas, Águas

Brancas, Águas Claras. Os equipamentos utilizados pela ARAL são: carroça com

tração animal, carinhos de madeira, motocicleta, conforme imagem 13.

Page 91: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

90

Imagem 13 – Equipamento de coleta e transporte dos materiais recicláveis

Fonte: Pesquisa de campo

A motocicleta faz em média 12 (doze) viagens por dia e é usada,

principalmente, para coletar materiais provenientes de doações das empresas as

quais possui vinculo de parceira com a ARAL.

Imagem 14 – Equipamento de coleta e transporte dos materiais recicláveis.

Fonte: Pesquisa de campo

A carroça (imagem 14) faz em média 06 (seis) viagens por dia, utilizada,

principalmente para fazer a coleta porta a porta nos bairros supracitados, mas

também auxilia nas doações.

Quanto a divisão do trabalho: uma pessoa faz a contabilidade, parte dos

homens e as mulheres realizam a triagem. A coleta porta a porta e transporte são

realizados por outra equipe de homens. O valor arrecadado é dividido igualmente

entre os que coletam e os que fazem a separação seletiva (triagem).

Page 92: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

91

Em relação ao local de trabalho da associação, percebe-se que é semi-

coberto e com estrutura precária. Não existe divisores adequados de

acondicionamento dos materiais arrecadados, ficam expostos ao tempo. A

alimentação dos associados é armazenada e realizada no próprio local, com

grandes riscos de serem contaminadas por vetores transmissores de doenças,

principalmente por ratos e baratas que tem nestas áreas ambientes propícios para

proliferação (a cozinha está identificada pela seta nas imagens 15a e 15b).

As fotografias a seguir ilustram o local onde é desenvolvido as atividades da

ARAL, triagem e acondicionamento.

Imagem 15 – Local de acondicionamento dos materiais recicláveis da ARAL Fonte: Pesquisa de campo

Na imagem 16 é demonstrada a separação do papelão e dos PET’s, nesta

percebe-se que apesar de o local (terreno) ser isolado (murado), os materiais

recicláveis que são triados e acondicionados ficam expostos sem um padrão de

acondicionamento que configure uma central de triagem.

Foto 1 Foto 2

15a 15b

15c 15d

Page 93: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

92

Imagem 16 – Triagem de plásticos realizados por mulheres. Fonte: Pesquisa de campo

As mulheres separam os materiais considerados leves como os plásticos e

papelão. Já os homens separam e acondicionam para transporte os papéis,

materiais de construção civil, madeira, ferro (imagem 17).

Imagem 17 – Acondicionamento de materiais de construção civil e madeira. Fonte: Pesquisa de campo

A ARAL, além de trabalhar com papel, plástico, metal, vidro, que são os mais

comuns dentro da cadeia produtiva da reciclagem, complementa sua produção

arrecadando e comercializando materiais provenientes de construção civil, madeira

e pneus.

17a 17b

Page 94: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

93

A associação faz parceria com a Fundação Banco do Brasil, EMBRAPA,

Comunidade Celestial de Bases. Nestas parcerias, existem promoção de cursos de

capacitação (gestão de negócios), pesquisas sobre reaproveitamento de materiais

recicláveis. Pelo Banco do Brasil, a ARAL participa do Programa de

Desenvolvimento Regional Sustentável (PDRS). Com a EMBRAPA participa do

“Projeto Lixo Zero” e “Quintal Vivo” que é um projeto que visa produzir embalagens

de fibra de papel, por meio de laboratório criado pela EMBRAPA aos catadores da

ARAL, buscando a alto-sustentabilidade. Existem também parceria com a Pastoral

da Juventude, das Crianças e Idosos, buscando realizar trabalhos sociais com as

famílias dos associados.

Os custos em média é de R$ 380,00/mês e são provenientes de telefone,

manutenção da motocicleta, carroça, carrinhos de madeira, alimentação e frete para

transporte da carga de recicláveis a serem comercializados que saem

semanalmente. O aluguel do terreno é pago pela rede de parceiros.

Tabela 11 - Quantitativo de recicláveis coletados pela ARAL em 2009.

Associação de Recicladores de Águas Lindas

Tipo de Material Kg/mês Venda (R$/Kg) Receita (R$/mês)

Papel Branco 3500 0,25 875,00

Papelão 10000 0,03 300,00

Papel Misto 2800 0,15 420,00

Plástico 5000 0,3 1.500,00

Alumínio 750 1 750,00

Ferro 10000 0,15 1.500,00

Cobre 300 4,5 1.350,00

Vidro 300 0,05 15,00

Resíduos de Construção Civil 30000 0,15 4.500,00

Material Tecnológico 200 unid 1 200,00

Total 67.650,00 11.410,00

Fonte: Pesquisa de campo

Os associados trabalham 08 (oito) horas por dia e sua renda mensal é em

média de R$ 290,00 (duzentos e noventa reais). Os materiais são vendidos

quinzenalmente. Seu principal comprador é a Companhia de Aparas de Papel –

RIOPEL. Segundo o presidente da Associação, em períodos de festas a renda pode

chegar a R$ 400,00.

Page 95: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

94

4.2.4 - Associação Cidadania para Todos - ACT

A Associação Cidadania para Todos localiza-se na Rua Santana do Aurá s/n,

(Belém-PA). Sua data de fundação conta de 15 de junho de 2005.

Atualmente o presidente desta é o Srª Maria Santana Araújo Trindade.

Existem 35 (trinta e cinco) associados, sendo 23 (vinte e três) mulheres e 12 (doze)

homens. Todos são moradores do bairro de Águas Lindas (Ananindeua-PA).

A associação não coleta materiais pelas ruas, nem no lixão. Atua prestando

serviço para a Empresa de Reciclagem cujo nome fantasia é Centro de Reciclagem

da Amazônia – CRA, localizada na rua Santana do Aurá, próximo ao lixão.

A matéria prima desta empresa é o plástico, que é comprado, principalmente

dos catadores locais (lixão Aurá). O transporte do material é realizado pela empresa.

A partir do momento que a carga chega, o material é divido em boxes, onde fica uma

dupla de catadores/triadores da associação (imagem 18)

Imagem 18 – Transporte e descarga do material nos boxes dos catadores. Fonte: Pesquisa de campo

A empresa CRA paga aos associados R$ 0,09 (nove centavos de real) por

quilo triado. Neste processo de triagem, existe a separação de todos os

componentes do plástico. Após esse processo de triagem é realizado a limpeza, e

em seguida a trituração do material (imagem 19).

Page 96: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

95

Imagem 19 – Material plástico triturado. Fonte: Pesquisa de campo

Imagem 20 - Maquinário utilizado para trituração do plástico. Fonte: Pesquisa de campo

O plástico é separado por tipo e cor, segundo a Presidente da Associação

Maria Trindade, não pode ser misturado, pois contamina o material e é

desvalorizado no mercado da reciclagem. Esta é uma exigência, padrão de

qualidade, das indústrias que compram o material quando triturado.

A empresa CRA disponibiliza a infraestrutura para a associação, como:

galpão, transporte do material, big bag’s. Os catadores utilizam algum tipo de

Equipamentos de Proteção Individual como: botas, luvas, calças. A Associação

Cidadania para Todos já presta serviço há quatro anos para a CRA. Os associados

não possuem carteira assinada, mas é pago o INSS aos associados.

Na imagem 20 é ilustrada a produção de material triado pela associação

durante um mês de trabalho. Acrescenta-se as doações de papel e papelão por

órgãos públicos Federais e Estaduais.

19a 19b

20a 20b

Page 97: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

96

Na tabela 12 demonstra-se o quantitativo de materiais recicláveis tipo:

plástico, papel e papelão arrecadado e auferido com a venda desses materiais, a fim

de verificar o potencial de produção desta associação.

Tabela 12 – Quantitativo de recicláveis triados pela ACT em 2009.

Associação Cidadania para Todos

Tipo de Material Kg/mês Venda (R$/Kg) Receita (R$/mês)

Plástico 150.000 0,09 13.500,00

Papel 1.500 0,2 300

Papelão 2.500 0,03 75

Total 154.000,00 13.875,00

Fonte: Pesquisa de campo

Os associados trabalham 05 (cinco) dias por semana, e em média 12 (doze)

horas por dia. A produção é anotada diariamente pela presidente da associação, e a

renda varia de acordo com a produção da dupla de triadores, e que gira entorno de

R$ 390,00 (trezentos e noventa reais) mensais. Dependendo da produtividade da

dupla esse valor pode chegar a R$ 450,00, segundo a presidente da associação.

Segundo a Presidente da Associação Srª Maria Trindade,

Nas sextas-feiras alguns associados trabalham o dia e a noite inteira, pra alcançar a quantidade de produção exigida pela empresa. No sábado é feita a contagem de produção de cada dupla pra fazer o pagamento semanal (Pesquisa de Campo, 2009).

A produção dos materiais já triturados e acondicionados é demonstrada na

imagem 21.

Imagem 21 - Acondicionamento do material plástico triturado. Fonte: Pesquisa de campo

Page 98: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

97

Todo material é ensacado e acondicionado separadamente por tipo no

galpão, ao final de cada mês, após ter um quantitativo representativo, toda a carga é

transportada para as indústrias do sul e sudeste do país.

4.2.5 - Associação Coleta Seletiva de Belém - ACSB

A Associação Coleta Seletiva de Belém localiza-se na Av. Padre Eutíquio,

entre Av. Quintino e São Miguel (Belém-PA). Sua data de fundação conta de 10 de

setembro de 2006.

Atualmente a presidente desta é a Srª Maria José de Moraes. A associação

possui 35 (trinta e cinco) associados, sendo 24 (vinte e quatro) mulheres e 11 (onze)

homens. Moradores do bairro de Águas Lindas (Ananindeua-PA) e Benguí (Belém-

PA). A prefeitura disponibiliza translado para buscar e levar os trabalhadores aos

seus respectivos bairros.

Esta associação é apoiada pela Prefeitura Municipal de Belém, a qual dispõe

de toda infraestrutura necessária para a realização do trabalho. Os equipamentos

são: central de triagem, 02 (dois) caminhões gaiola, 02 (dois) caminhões com

carroceria e 10 (dez) carrinhos de metalon (ver imagem 22). Também utilizam

Equipamentos de Proteção Individual, como: luvas, botas e fardamento.

Imagem 22 – Carrinhos de metalon utilizados na coleta dos recicláveis Fonte: Secretaria Municipal de Saneamento

Page 99: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

98

Os catadores desta associação trabalhavam de maneira informal no aterro do

Aurá, sem as mínimas condições de salubridade. A idéia da Prefeitura é agregar

mais pessoas à medida que o programa de coleta seletiva for crescendo.

É realizado um trabalho de coleta porta a porta, onde ocorre a separação dos

materiais na fonte geradora. A rota de trabalho contempla os seguintes bairros:

Reduto, Umarizal e Nazaré. Além da coleta porta a porta, a associação também

recebe doações de condomínios, empresas privadas, órgãos públicos e escolas.

Para o desenvolvimento das atividades de coleta, a associação é divida em quatro

grupos, que atuam em áreas e roteiros diferentes, nos respectivos bairros citados. A

carga horária de trabalho é de 8 (oito) horas diárias.

Na tabela 13 são apresentados os valores dos materiais arrecadados pela

associação e o quanto esta produção se converte em recursos com a venda dos

recicláveis.

Tabela 13 - Quantitativo de recicláveis arrecadados pela ACSB em 2009.

Associação Coleta Seletiva de Belém

Tipo de Material Kg/mês Venda (R$/Kg) Receita (R$/mês)

Papel 17.207 0,25 4.301,67

Papelão 41.176 0,03 1.235,29

Plástico 15.259,6 0,3 4.577,87

Metal 4.632 1,1 5.094,92

Vidro 669 0,075 50,14

Total 78.942,73 15.259,88

Fonte: Pesquisa de campo

A renda varia de acordo com a produção do grupo. Os associados recebem

mensalmente em média R$ 436,00 (quatrocentos e trinta e seis reais). A produção é

anotada diariamente pela presidente da associação. O rateio dos recursos

proveniente da comercialização dos materiais é dividido de forma igualitária por

grupo. Em relação ao ônus da manutenção dos equipamentos, dentre outros custos

é todo da Prefeitura de Belém.

Os principais compradores dos materiais recicláveis da Coleta Seletiva de

Belém são: RIOPEL, SACOTEC, PLASBEL. Todas sediadas em Belém (PA).

Page 100: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

99

4.2.6 - Cooperativa de Trabalhadores dos Profissionais do Aura - COOTPA

A Cooperativa de Trabalhadores dos Profissionais do Aurá localiza-se na

Estrada Santana do Aurá (Belém-PA). Sua data de fundação conta de 19 de maio de

2001. A cooperativa possui 36 (trinta e seis) integrantes, sendo 24 (vinte e quatro)

mulheres e 12 (doze) homens. Todos Moradores do bairro de Águas Lindas

(Ananindeua-PA).

Imagem 23 – Sede da COOTPA Fonte: Cunha (2007)

Esta cooperativa surgiu, por meio do Projeto Social de Coleta Seletiva que fez

parte do Projeto de Biorremediação do Aurá. Neste, foi assinado um Termo de

Convênio de Cooperação Técnica e Operacional entre a Prefeitura Municipal de

Belém - PMB, por meio da Secretaria Municipal de Saneamento - SESAN e a

COOTPA. O termo objetivava a cooperação técnica e operacional em atividades

geradoras de renda.

A PMB disponibilizou a título de cessão a seguinte infra-estrutura para a

cooperativa: 01 galpão; 01 Esteira mecânica; 03 prensas verticais; 01 prensa

horizontal; 01 Tulha; 01 Triturador de vidro; 01 Triturador de plástico; 02 Elevadores

de fardos; 10 Contêineres de aço de 5 metros; 70 Contêineres de plástico de 240

Litros.

A SESAN ficou encarregada de subsidiaria a operação da coleta, por um

período de 02 (dois) anos, a partir deste período a COOTPA assumiria as despesas

referentes a auto-gestão das atividades da coleta seletiva e reciclagem.

Page 101: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

100

Segundo a presidente da COOTPA, a Prefeitura Municipal de Belém não

cumpriu com instalação de todos os equipamentos listados, o que ainda está

inacabado, e se transformando em sucatas, pois com a mudança de gestor

municipal, o projeto foi totalmente abandonado. Com isso, acorreu a desestruturação

organizacional da cooperativa, abandono de alguns componentes, e

consequentemente o quantitativo arrecadado diminuiu bastante. Esta situação fez

com que muitos cooperados voltassem a catar no aterro do Aurá, sem as mínimas

condições de trabalho, num ambiente totalmente insalubre com grandes riscos de

acidente tanto pelo lixo perigoso quanto pelos caminhões da coleta (imagem 24).

Imagem 24 - Lixão do Aurá. Fonte: Magalhães (2008)

Apesar de todas as dificuldades, ainda tentam manter viva a cooperativa,

pois foi a primeira a ser formada e legalizada da Região Metropolitana de Belém, e a

primeira iniciativa de apoio aos catadores de materiais recicláveis desta região.

A forma de rateio dos recursos provenientes da comercialização dos

materiais é de acordo com a produção de cada cooperado, e o que é proveniente de

doações é rateado igualmente. Os cooperados trabalham cerca de 12 horas por dia

para obterem uma renda média de R$ 412,00 (quatrocentos e doze) reais por mês.

Estes passam mais tempo trabalhando devido aos horários que os carros de coleta

regular de lixo domiciliar chegam para descarregar os materiais, pois é grande o

número de pessoas que disputam os recicláveis. Contudo, existem catadores que

conseguem arrecadar cerca de R$ 530,00.

Page 102: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

101

Na tabela 14 está demonstrada a estimativa de quantidade de material

arrecadado e os valores convertidos pela comercialização, preço local, em 2009.

Tabela 14 - Quantitativo de recicláveis arrecadados pela COOTPA em 2009.

Cooperativa de Trabalhadores Profissionais do Aurá

Tipo de Material Kg/mês Venda (R$/Kg) Receita (R$/mês)

Papel Branco 3500 0,25 875,00

Papelão 17500 0,03 525,00

Papel Misto 5800 0,2 1.160,00

Plástico 38000 0,3 11.400,00

Ferro 4500 0,2 900,00

Total 69.300,00 14.860,00

Fonte: Pesquisa de campo

Os recursos provenientes das vendas dos materiais recicláveis que recebem

das doações dos órgãos públicos, por conta dos Decretos 5.940/06 e 801/08, são

divididos igualmente entre os cooperados, independente da produção individual.

Esta organização já não condiz com que reza um sistema de cooperativista. O que

antes tinha tudo para ser uma forte cooperativa, agora restou somente o nome.

Segundo a representante do Movimento de Catadores da Região

Metropolitana de Belém, Srª Maria Alice, que também faz parte da COOTPA,

atualmente existem cerca de 1500 catadores atuando no lixão do Aurá. Existe

também crianças trabalhando neste local. Apresar dos pais receberem assistência

do poder público, como: bolsa família, muitas crianças são levadas para os lixões,

afim de complementar a renda da família.

O caso dos catadores de materiais recicláveis que atuam no “lixão do Aurá”

demonstra nitidamente o processo de exclusão social, em que a situação de

pobreza, aliada ao trabalho que exercem fazem com que essas pessoas cheguem a

ser vistas como os próprios rejeitos que lá são despejados.

Nenhuma importância é dada ao serviço dos catadores, porém, segundo

Abreu 2001, aproximadamente 90% dos materiais recicláveis que chegam às

indústrias recicladoras no Brasil são de responsabilidade destes trabalhadores.

Page 103: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

102

Sabendo da importância dos catadores na atividade da reciclagem,

ultimamente o Poder Publico, principalmente o Federal, vem realizando programas e

ações voltados aos resíduos sólidos buscando desativar os lixões e apoiar as

organizações de catadores. Contudo, estas ações devem ocorrer, uma vez que

sejam dadas alternativas de trabalho e renda dignas aos catadores de “lixo”,

incluído-os na cadeia produtiva da reciclagem. Caso contraio, estarão aumentando

as oportunidades de agravar os problemas inerentes ao meio urbano.

Percebe-se que em todas as organizações, com exceção da Associação

Coleta Seletiva de Belém, os associados/cooperativados não conseguem alcançar o

valor de um salário mínimo que, em 2009 era de R$ 415,00, pois o preço dos

materiais recicláveis em Belém é baixo e no período da pesquisa, a crise econômica

mundial também influenciou na baixa do preço desses materiais.

Dessa forma, a situação das organizações de catadores da Região

Metropolitana de Belém difere das demais regiões do país, principalmente sul e

sudeste, pois a falta de infraestrutura, aliada ao baixo preço no mercado local, assim

como a ausência de políticas públicas voltadas à apoiar e fortalecer essa categoria,

faz com que ocorra uma série de dificuldades para que o catador possa trabalhar

com dignidade em regime de associação ou de cooperativa, uma vez que a renda

adquirida por essa forma de trabalho é baixa, como demonstrado nos quadros de

arrecadação e receita auferida de cada organização pesquisada. Assim, a maioria

dos catadores prefere optar pelo trabalho avulso, ou seja, na clandestinidade,

ganhando pela produtividade individual, ficando, dessa maneira, sempre dependente

e explorados pelos atravessadores locais, que são os que mais obtém lucro na

cadeia produtiva da reciclagem em Belém.

Page 104: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

103

___________________________

Resumo:

Neste capítulo, houve uma abordagem da exclusão social dos catadores no contexto dos

resíduos sólidos recicláveis, chamando atenção para uma problemática que contempla uma

parcela da população que vive um estigma perante a sociedade, uma vez que sobrevive da

catação do lixo. Assim, o perfil sócio-econômico dos catadores de materiais recicláveis da

RMB, demonstrou que, mesmo organizados, estão aquém de vislumbrar de uma atividade

que dê uma remuneração digna, uma vez que sua arrecadação é pequena aliado ao baixo

preço de comercialização, faz com que a grande maioria obtenha um rendimento menor que

um salário mínimo; o ambiente de trabalho, assim como seu desenvolvimento é considerado

insalubre; o nível de escolaridade dos catadores é baixo, e muitos não possui qualificação

técnica/profissional, o que torna um agravante para seu ingresso no mercado formal de

trabalho; as organizações não possuem apoio do Poder Público (com exceção da Coleta

Seletiva de Belém) nem da sociedade na separação dos materiais; não existe política

pública voltada a sua inclusão na cadeia produtiva da reciclagem, o que dificulta

grandemente a consolidação do trabalho de forma cooperativada. Dessa forma, verifica-se

que os resultados obtidos na pesquisa de campo justificam, o por que? da pouca

arrecadação tanto material quanto financeira, assim como a condição de vida e de trabalho

das associações e cooperativas estudadas.

Page 105: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

104

CAPITULO V – RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir deste capítulo serão apresentados os resultados da pesquisa. Neste, apresenta-se o

perfil socioeconômico das seis organizações pesquisadas, assim como o estudo de

potencialidade econômica da coleta seletiva e reciclagem no município de Belém – PA,

considerando três cenários. Nos dois primeiros adota-se como valor de comercialização

(R$/tonelada) a média nacional. O primeiro considera a comercialização de 100% do

material reciclável (papel/papelão; plástico; vidro e metal) gerado em Belém de acordo com

os valores médios de venda a nível nacional; o segundo analisa o faturamento com a

comercialização dos resíduos recicláveis gerados proporcionais aos índices médios

nacionais de reciclagem e venda. No terceiro é apresentada a estimativa de custos com a

implantação da coleta seletiva e reciclagem em Belém, também considerando os índices de

aproveitamento de 100% e o da Média Nacional de reciclagem. A comparação dos custos

destes três cenários demonstra o resultado da viabilidade econômica. Em seguida, é

analisado o retorno financeiro da comercialização do material reciclável coletado pelas seis

organizações de catadores considerando os valores da média nacional e local de venda,

respectivamente. Nesse capítulo também é apresentada a economia da Prefeitura nos

gastos com a coleta convencional e manutenção do aterro do Aurá considerando o

quantitativo coletado pelas seis organizações de catadores de Belém e Ananindeua.

5.1 – ANÁLISE DA PESQUISA DE CAMPO DAS ASSOCIAÇÕES E

COOPERATIVAS DE CATADORES.

Dos 186 catadores organizados que compõe as 06 associações e

cooperativas, 156 responderam aos questionários. E na pesquisa de campo

obtiveram-se os seguintes resultados:

A pesquisa demonstrou que os locais de acúmulo e separação dos materiais

recicláveis não são de propriedade das organizações, sendo alugados ou cedidos.

Também constatou-se que eles não estão de acordo com o padrão de um galpão de

triagem, com infraestrutura e equipamentos adequados para a realização do

trabalho. Terrenos cercados, quintais e pátios das casas dos catadores também são

utilizados para a separação e acúmulo dos materiais.

Page 106: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

105

Quando perguntados onde é triagem do material, 03 (50%) organizações

declararam que realizam a triagem em galpões, 01 (16.3%) no quintal, 01 (16,7%)

no pátio e 01 (16.7%) em terreno cercado.

Tabela 15 – A sede da organização é:

SEDE Nº %

Alugada 01 16.3

Cedida 05 83.3

Total 06 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo

A pesquisa também mostrou que nenhuma das associações e cooperativas

possuiam todos os documentos necessários para atuarem quanto organização

legalizada. A explicação das lideranças para essa situação é o alto custo dos

documentos a serem retirados, por exemplo, na Junta Comercial do Pará –

JUCEPA, pois são documentos caros. Dessa maneira, as associações/cooperativas

ficam na tentativa de consegui-los, gratuitamente, por meio de parceria com o Poder

Público, mas dificilmente obtêm sucesso em suas solicitações.

O depoimento do presidente da ASTRAMAREPE confirma tal situação

exposta.

“Tem documento que é caro, ninguém vai querer tirar um pouco do seu que

já é pouco pra dar pra associação tirar o documento, ninguém entende”

(Paulo André, Presidente).

Em entrevista com os representantes das Organizações de Catadores foi

levantada a relação de documentos que cada associação/cooperativa possui,

conforme apresentado no quadro 01.

Page 107: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

106

ORGANIZAÇÃO DOCUMENTOS

ASSOCIAÇÃO DE RECICLADORES DE ÁGUAS LINDAS A, B, C, D, E, F, G, J, O, P, Q

CONCAVES A, B, C, D, E, F, I, K, O, S

ASSOCIAÇÃO DE CATADORES DA COLETA CELETIVA DE BELÉM

B, C, H, I, O, R, S

ASSOCIAÇÃO CIDADANIA PARA TODOS A, B, C, D, E, F, H, J, L, M, N, O, P, Q, R, S

ASTRAMAREPE A, B, C, I, R, S

COOPERATIVA DE TRABALHOS DOS PROFISSIONAIS DO AURÁ

A, B, C, D, E, F, G, H, I, K, N, O, P, S

Quadro 01 – Relação de documentos que as organizações de catadores possuem no ano de 2009. Fonte: Pesquisa de Campo Legenda: A: Estatuto Social, B: Ata de fundação ou de Constituição, C: Ata de eleição e posse da última diretoria, D: CNPJ, E: Certidão do Tribunal de Contas do Município, F: Certidão do Tribunal de Contas do Estado, G: Certidão do Tribunal de Contas da União, H: Balanço ou prestação de contas dos últimos 3 anos, I: RG, CPF, Comprovante de residência de toda diretoria, J: Declaração do Imposto de Renda do Presidente e Tesoureiro, K: Declaração do Imposto de Renda da Organização, L: Certidão do Conselho Nacional de Ass. Social, M: Certidão conjunta do INSS e Receita Federal, N: Certidão da Receita Federal, O: Certidão da Receita Federal, P: Registro na Receita Federal, Q: Alvará de licença de funcionamento, R: Nota fiscal de serviços e vendas, S: End. temporário ou permanente completo.

A Associação Cidadania para Todos foi a que declarou ter a maioria dos

documentos necessários para o funcionamento da sua organização, seguida pela

COOTPA e ARAL, a Associação que declarou ter menos documentos foi a

ASTRAMAREPE.

Em relação ao gênero, a pesquisa identificou que 45,5% são do sexo

masculino e 54,5% do sexo feminino. A maior participação das mulheres nas

associações e cooperativas provavelmente ocorre devido à atividade, quando se

trabalha de forma organizada, ser menos desgastante e menos sujeita à competição

e violência, apesar de obterem ganhos menores que os catadores que trabalham de

maneira autônoma.

Tabela 16 – Distribuição de freqüência do Sexo dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.

SEXO Nº PESSOAS %

Masculino 71 45,5

Feminino 85 54,5

Total 156 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo

Quanto a faixa etária, observou-se que a maioria dos

associados/cooperativados têm entre 28 a 38 anos de idade, ou seja, representam

Page 108: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

107

37,8% do total. Percebe-se que nas organizações 81,4% tem menos de 50 anos de

idade, considerado um público com mão-de-obra ativa. Um dos motivos que pode

explicar esse fato é a situação econômica no Brasil, assim como o fenômeno da

globalização que exclui do mercado formal aqueles com menor poder aquisitivo

levando-os a falta de oportunidade de emprego, e encontram na atividade de

catação de lixo reciclável uma alternativa de renda.

Tabela 17 – Distribuição de frequência da Faixa Etária dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.

FAIXA ETÁRIA (IDADE) Nº PESSOAS %

17 a 27 35 22,4

28 a 38 59 37,8

39 a 49 33 21,2

50 a 60 22 14,1

61 ou mais 07 4,5

Total 156 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo

Um dado preocupante refere-se ao grau de escolaridade, pois do total

pesquisado 14,7% são analfabetos, e 42,3% possuem o ensino fundamental

incompleto. Apenas 3,2% possuem ensino médio completo. Essa situação dificulta

o envolvimento dos associados/cooperados com menores escolaridades nas

questões administrativas, fazendo com que haja uma forma de “patrão” dentre os

que possuem maiores níveis de educação, pois assumem a liderança da

organização, uma vez que parte dos membros organizados desconhece o sistema

cooperativista, preços de vendas dos materiais, quanto coletam mensalmente.

Nesse caso, deixam de participar das tomadas de decisões da organização,

contribuindo apenas com a mão-de-obra no ato de catar e separar.

Page 109: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

108

Tabela 18 – Distribuição de Freqüência da Escolaridade dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009

ESCOLARIDADE Nº PESSOAS %

Analfabeto 23 14,7

Alfabetizado 48 30,8

E.F.I 66 42,3

E.F.C 05 3,2

E.M.I 09 5,8

E.M.C 05 3,2

Total 156 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo

Outra informação importante na temática supracitada diz respeito à

quantidade de familiares dos associados/cooperados que estão matriculados na

escola. Os dados mostram que 46 associados/cooperados não possuem nenhum

familiar matriculado em escola; 29 associados/cooperados possuem 01 (um) familiar

matriculado, ou seja, os índices de acesso à educação são considerados baixos. A

não participação nas escolas, principalmente de crianças, é um dos fatores que faz

com que haja maior participação destes na atividade de coleta de lixo, com maior

atuação dos que residem às proximidades do aterro do Aurá.

Tabela 19 – Número de integrantes das famílias dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009, que estão matriculados na escola.

Nº. DE FAMILIARES Nº PESSOAS %

Nenhum 46 29,5

Um 29 18,6

Dois 30 19,2

Três 19 12,2

Quatro 13 8,3

Cinco 11 7,1

Seis 8 5,1

Total 156 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo

A maioria dos catadores é formada por moradores do bairro de Águas Lindas

(Ananindeua-PA) e entorno aproximadamente 70% do número total. Destes, 76,9%

residem em casas e 23,1% em cômodos. E a maioria, ou seja, 55,1% residem em

casas de madeira (tabela 21) e a maioria “própria” (lotes invadidos e consolidados)

com energia elétrica, água encanada e esgotamento sanitário. Existe grande

quantidade de ligações clandestinas de energia e água. O esgotamento sanitário é

realizado com fossa, nos locais que existe vala a céu aberto, e sumidouro onde não

Page 110: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

109

existe vala para escoamento. Nestas moradias, 47,4% dos entrevistados

responderam que residem de quatro a seis pessoas (tabela 22).

Tabela 20 – Tipo de domicílio dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores e Belém e Ananindeua no ano de 2009.

TIPO DE DOMICÍLIO N %

Casa 120 76,9%

Cômodo 36 23,1%

Total 156 100,0%

Fonte:Pesquisa de Campo

Tabela 21 – Material da parede do domicílio dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.

Fonte: Pesquisa de Campo

Tabela 22 – Número de pessoas que moram no domicílio dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.

Nº DE PESSOAS Nº %

1 a 3 58 37,2

4 a 6 74 47,4

7 a 9 21 13,5

10 a 12 03 1,9

Total 156 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo

A pesquisa identificou também que membros das famílias dos catadores

ajudam na coleta e/ou separação dos materiais, a fim de complementar a renda. Na

tabela 23 é demonstrada o quantitativo de familiares dos catadores que trabalham

na atividade de coleta do lixo. Percebeu-se, então que poucos são as

associados/cooperados que não possuem familiares na mesma atividade. Contudo,

verificou-se que as famílias sobrevivem especificamente da catação do lixo.

MATERIAL DA PAREDE DO DOMICÍLIO

Nº %

Barro 1 0,6%

Madeira 86 55,1%

Alvenaria 59 37,8%

Mista 10 6,4%

Total 156 100,0%

Page 111: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

110

Tabela 23 – Número de familiares dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores que trabalham na coleta seletiva de recicláveis no ano de 2009.

Nº DE PESSOAS N %

Nenhum 02 1,3

Um 72 46,2

Dois 64 41,0

Três 15 9,6

Quatro 03 1,9

Total 156 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo

Quanto à quantidade de crianças que trabalham na coleta de lixo para ajudar

a família no complemento da renda, 12 (doze) associados/cooperados responderam

que existem até duas crianças trabalhando. Contudo, o número de crianças que

trabalham com familiares sem associação ou cooperativa é bastante expressivo,

principalmente no lixão do Aurá.

Tabela 24 – Número de crianças da família dos Associados/Cooperados de Belém e Ananindeua que trabalham na coleta seletiva.

Nº DE CRIANÇAS N %

Nenhuma 144 92,3

Uma 07 4,5

Duas 05 3,2

Total 156 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo

Complementando as informações acima, na tabela 25 é demonstrado o resultado

da seguinte pergunta. O sustento vem basicamente do trabalho da catação de

recicláveis?

Tabela 25 – Sustento da família

BASICAMENTE DA CATAÇÃO Nº %

Sim 139 89,1

Não 17 10,9

Total 156 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo

Cento e trinta e nove entrevistados, ou seja, 89,1% do total de 156,

responderam que o sustento da família é basicamente realizado com a atividade da

coleta seletiva do lixo. É importante salientar que os ganhos financeiros são

menores dentre as mulheres, principalmente as mais idosas.

Page 112: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

111

Os associados/cooperados ganham, em média, R$ 17,60 por dia com a

venda dos recicláveis (papel, plástico, papelão e vidro). Do total pesquisado, a

maioria (63 pessoas), ou seja, 40,4% responderam que ganham até meio salário

mínimo. Apenas 10 (dez) pessoas afirmaram ganhar mais de um salário mínimo.

Tabela 26 – Renda dos Associados/Cooperados das organizações de catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.

RENDA FAMILIAR Nº %

Até 1/2SM 63 40,4

De 1/2 até 1SM 47 30,1

1SM 36 23,1

Mais de 1SM 10 6,4

Total 156 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo

Devido a pouca concorrência de mercado no ramo da reciclagem, o preço

pago pelos recicláveis na Região Metropolitana de Belém é muito baixo se

comparados a outras regiões do Brasil. Poucos empresários/sucateiros dominam o

mercado da reciclagem em Belém.

De acordo com o gráfico 17, metade das organizações de catadores de

materiais recicláveis comercializa com a RIOPEL, duas delas declaram negociar

seus materiais coletados com atravessadores e outras empresas da região, apenas

uma comercializa com a CRA e PLASPEL.

50,0

33,3

16,7

RIOPEL Atravessadores e empresas da região CRA E PLAS.PEL

Gráfico 14 – Empresa e sucataria de comercialização dos materiais recicláveis em Belém e Ananindeua. Fonte: Pesquisa de Campo

Page 113: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

112

Os catadores que conseguem um rendimento financeiro maior são os que

fazem parte de associações que tem apoio da Prefeitura Municipal de Belém e/ou

prestam serviços para empresa privada do ramo da reciclagem. Neste contexto

estão inseridos a Associação Coleta Seletiva de Belém e Associação Cidadania para

Todos, respectivamente, as quais obtém toda a infraestrutura necessária para o

desenvolvimento de seu trabalho.

Quanto à carga horária de trabalho, a maioria (42,9%) respondeu que

trabalha oito horas por dia, seguida de 37,2% que trabalha doze horas diárias (a

maioria dos que estão incluídos nesse índice são catadores que residem próximo ao

aterro do Aurá); e 14,1% são os que trabalham seis horas. Sendo que em algumas

associações e/ou cooperativas prevalece a remuneração por produtividade.

Tabela 27 – Número de horas trabalhadas/dia pelos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.

HORAS TRABALHADAS/DIA Nº %

Seis 22 14,1

Oito 67 42,9

Doze 58 37,2

Outras 9 5,8

Total 156 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo

. Em relação ao número de dias trabalhados, a maioria 127 pessoas (81,4%)

respondeu trabalhar seis dias por semana.

Tabela 28 – Número de dias trabalhados/semana pelos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.

Dias trabalhados/semana Nº %

Um 0 0,0

Três 2 1,3

Quatro 5 3,2

Cinco 22 14,1

Seis 127 81,4

Total 156 100

Fonte: Pesquisa de Campo

Page 114: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

113

A maioria dos associados/cooperados avaliou de forma regular quanto ao

item condições de trabalho com 62,8% do total. Os que avaliaram de forma ótima

6,4% ou boa 9,0% são os catadores que anteriormente atuavam catando no lixão e

hoje, estão trabalhando de maneira organizada e fora dele. Contudo, existem

pessoas que acreditam estarem num ótimo local. Estes catadores são os que

possuem pouco ou nenhuma escolaridade e que geralmente já formaram gerações

na catação do lixo.

6,4 9,0

62,8

12,2 9,6

0

10

20

30

40

50

60

70

%

Ótima Boa Regular Ruim Péssima

Avaliação

Gráfico 15 – Avaliação quanto as condições de trabalho dos associados/cooperativados das organizações de catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009. Fonte: Pesquisa de Campo

Algumas organizações têm horário de trabalho definido, outras o próprio

catador define. Assim, 19,9% responderam que trabalham somente pela manhã,

neste geralmente encontram-se as mulheres que além da atividade da coleta

seletiva ou triagem realizam as tarefas domésticas. Outros (31,4%) responderam

que trabalham pela manhã e tarde e 28,2% no turno da noite. Existem os que

preferem trabalhar pela noite e madrugada, os quais corresponderam a 10,9%.

Dentre os entrevistados existem os que coletam e os que separam os materiais

recicláveis nas respectivas organizações.

Page 115: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

114

Tabela 29 – Turnos de trabalho dos Associados/Cooperados das Organizações de Catadores de Belém e Ananindeua no ano de 2009.

TURNO Nº %

Pela manhã 31 19,9

Pela tarde 7 4,5

Pela manhã e tarde 49 31,4

Pela noite 44 28,2

Pela noite e madrugada 17 10,9

Pela manhã e noite 2 1,3

Pela manhã, tarde e noite 6 3,8

Total 156 100

Fonte: Pesquisa de Campo

No desenvolvimento da separação dos materiais recicláveis, os equipamentos

de Proteção Individual mais utilizados pelos associados/cooperados são botas e

luvas com representatividade de 75,64% e 68,59% dos casos, respectivamente.

Muitos catadores utilizam a mesma luva durante meses e até anos, esta situação faz

com que este EPI se torne uma potencial fonte de contaminação, uma vez que a

pessoa que a utiliza, principalmente os que catam no lixão, não toma os devidos

cuidados de manuseio higiênico.

A falta de utilização de EPI’s adequados levam a contrair alguns tipos de

doenças pelo contato direto com o lixo. Também faz parte deste cenário a falta de

hábitos higiênicos corporais e a ausência de infraestrutura de saneamento básico no

local onde residem. Assim têm-se os seguintes resultados quanto ao item tipo de

doenças contraídas:

Tabela 30 – Doenças que os Associados/Cooperados adquiriram em 2009.

TIPO DE DOENÇA N % % Casos

Hanseníase 1 0,40 0,64

Hepatite 6 2,41 3,85

Doenças diarréicas 127 51,00 81,41

DST 1 0,40 0,64

Leptospirose 8 3,21 5,13

Doenças de pele 97 38,96 62,18

Outras 9 3,61 5,77

Nenhuma dessas 0 0,00 0,00

Total 249 100 159,62

Fonte: Pesquisa de Campo

Page 116: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

115

Percebeu-se que o maior número de casos de doenças em que os

associados/cooperativados contraíram estão relacionados à diarréia com 81,41%

dos casos e doenças de pele, com 62,18% dos casos. Sendo que existem pessoas

que contraíram doenças graves como Hanseníase, Leptospirose e Hepatite.

Quanto à freqüência médica em que os associados/cooperados realizaram

para tratamento das doenças relacionadas à atividade da catação, têm-se os

seguintes resultados:

Tabela 31 – Distribuição de freqüência do tempo da última consulta médica pelos Associados/Cooperativados no ano de 2009.

TEMPO (MESES) Nº %

Um 27 17,3

Dois 12 7,7

Seis 43 27,6

Doze 21 13,5

Mais de doze 53 34,0

Total 156 100

Fonte: Pesquisa de Campo

Na tabela acima verifica-se que a maioria dos associados/cooperados (34%)

não realiza consultas médicas a mais de doze meses. O tempo é fator primordial

para o aumento da renda, e devido o retorno financeiro ser baixo os catadores não

usufruem de plano de saúde, por esse motivo poucos são os que procuram

assistência médica.

5.2 - POTENCIALIDADE ECONÔMICA DA COLETA SELETIVA E RECICLAGEM

NA RMB – PA.

No Brasil, a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem são

bastante discutidas, principalmente pelas prefeituras que, geralmente, levam em

consideração somente os custos que têm impacto imediato em seu orçamento.

Nesse sentido, Calderoni (2003) afirma que devem ser levados em consideração os

custos evitados que o processo de coleta seletiva e reciclagem favorecem às

Prefeituras nos aspectos econômicos, além dos ambientais e sociais.

Page 117: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

116

5.2.1 - Receita Estimada com 100% de Comercialização dos Materiais

Recicláveis no Município de Belém.

Sobre a viabilidade, o presente item demonstra o potencial de produção,

segundo dados de Carneiro (2006), IBGE (2009) e ABRELPE (2009), e

comercialização de materiais recicláveis no município de Belém, considerando a

média dos valores tabelados a nível nacional, de acordo com CEMPRE (2009).

A seguir são apresentados dois cenários: o primeiro, considerando

aproveitamento de 100% (cem por cento) dos recicláveis coletados e

comercializados; e o segundo cenário apresenta o potencial de arrecadação

considerando a média do quantitativo a nível nacional.

Na tabela 32 é demonstrado os cenários de produção e valores auferidos

com a comercialização dos materiais recicláveis no município de Belém.

A expressão matemática para os valores apresentados na tabela 32 é a

seguinte:

Tabela 32 – Estimativa de receita com 100% de reciclagem nos municípios de Belém em 2009.

MUNICÍPIO DE BELÉM

COMPONENTES

* Composição 1 Peso

Gerado (ton) ** R$ / ton Receita (R$)/Dia Gravimétrica (%)

Papel/Papelão 17,06 268,55 303,00 81.372

Plástico 14,98 235,81 627,00 147.853,48

Metal 2,64 41,56 1.492,00 62.004,75

Vidro 1,52 23,93 106,00 2.536,31

Mat.Org.Compost. 45,89 - --- ---

Outros 17,91 --- ---

TOTAL DIÁRIO 100 1.574,17 --- 293.766,31

Fonte: * Adaptado de Carneiro (2006) / * *CEMPRE (2009) Elaborado pelo autor

1 O peso gerado foi calculado utilizando a população 2009 (IBGE) e Per capta 1,095 kg/hab/dia em Belém (PA),

dados da ABRELPE em 2009. O mesmo raciocínio segue para as tabelas 33,34 e 35.

Receita (R$) = Peso Gerado (ton) x R$ / ton

Page 118: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

117

O resultado deste cenário demonstrou que em Belém o retorno em receita

com 100% dos materiais, sendo coletados separadamente e comercializados para

serem reciclados, considerando a tabela de preço da média nacional seria de R$

293.766,31 (duzentos e noventa e três mil, setecentos e sessenta e seis reais e

trinta e um centavos) por dia, ou seja, R$ 8.812.989,35 (oito milhões, oitocentos e

doze mil novecentos e oitenta e nove reais e trinta e cinco centavos) por mês.

5.2.2 - Receita Estimada, Considerando a Média Nacional, com

Comercialização dos Materiais Recicláveis no Município de Belém.

Nesse caso, foi realizada a estimativa de receita auferida com o mercado da

reciclagem para os municípios de Belém de acordo com a média nacional, valores

para o ano de 2009. Os valores percentuais da média de aproveitamento dos

resíduos recicláveis estão de acordo com dados estabelecidos pelo Compromisso

Empresarial para Reciclagem no ano de 2009.

Tabela 33 – Média nacional de quantitativo e receita dos materiais recicláveis no

município de Belém em 2009.

MUNICÍPIO DE BELÉM

COMPONENTES

Composição Gravimétrica

(%)

Peso Gerado

(ton)

Média Brasil Reciclado

(% ton/dia)**

Quantitativo Reciclado

(ton)

**

R$ / ton

Receita (R$)

Papel/Papelão 17,06 268,55 56,00% 150,39 303,00 45.568,20

Plástico 14,98 235,81 28,50% 67,21 627,00 42.138,24

Metal 2,64 41,56 68,00% 28,26 1.492,00 42.163,23

Vidro 1,52 23,93 45,00% 10,77 106,00 1.141,34

Mat.Org.Compost. 45,89 ---

Outros 17,91 --- --- ---

TOTAL DIÁRIO 100,00 1.574,17 --- --- 131.011,00

Fonte: * Adaptado de Carneiro (2006) / * *CEMPRE (2009) (Elaborado pelo autor).

A expressão matemática segue abaixo:

Quantitativo Reciclado (ton) = Peso Gerado (ton) x Peso Total Reciclado (ton/dia)

Receita (R$) = Indice (ton) x R$/ton

Page 119: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

118

Nesse caso, em Belém o retorno financeiro (de acordo com a média nacional

de materiais que são encaminhados para reciclagem) fica entorno de R$ 131.011,00

(cento e trinta e um mil e onze reais) por dia, ou seja, R$ 3.390.330,14 (três milhões,

novecentos e trinta mil, trezentos e trinta reais e quatorze centavos) por mês.

Para efeito de comparação com os cenários expostos acima, apresentam-se

os custos com a coleta convencional no município de Belém. Na tabela 34

demonstra-se a estimativa dos custos que o município de Belém possuiria caso

realizasse a coleta seletiva dos resíduos sólidos urbanos. O valor do custo da coleta

convencional esta de acordo com dados de Carneiro (2006), o quantitativo de RSU

tem como referência informações estimadas com dados do IBGE e ABRELPE em

2009.

Custo da coleta convencional em Belém

Custo Total = R$ 65,08 * x 1.574,17**

Custo Total = R$ 102.447,11 / dia

Mensalmente a Prefeitura de Belém gasta cerca de R$ 3.073.413,41/mês

com a coleta convencional de lixo.

A seguir apresentam-se os custos com a coleta seletiva considerando os

cenários de 100% de aproveitamento e a média nacional, respectivamente.

Tabela 34 – Estimativa de custos com a coleta seletiva no município de Belém em

2009.

Itens

100% de

Resultado Itens Média Nacional de Aproveitamento Resultado Aproveitamento

A Peso Total dos RSD

(ton/dia) 1.574,17 A

Peso Total dos RSD

1.574,17 (ton/dia)

B

Peso Reciclável (ton/dia)

569,85

B

Peso Reciclável (ton/dia)

256,62 (B)=(A)-(C) (B)=(A)-(C)

C Peso Aterrado (ton/dia) 1.004,32 C Peso Aterrado (ton/dia) 1.317,55

D Gasto c/ Coleta Seletiva

(R$/ton) 267,1 D Gasto c/ Coleta Seletiva

(R$/ton) 267,1

E Custo da Coleta Seletiva

(R$/dia) (E)= (B) x (D) 152.206,94 E Custo da Coleta Seletiva

(R$/dia) (E)=(B)x(D) 68.543,20

Fonte: * Adaptado de Carneiro (2006) ** CEMPRE (2009)

Custo Total = Valor Médio/ton x Peso Total Gerado

Page 120: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

119

O valor do custo por tonelada baseia-se em informações do CEMPRE em

2009, afirmando que a coleta seletiva é, em média, cinco vezes maior que o custo

da coleta convencional. Aqui são considerados os materiais tipo: papel, papelão,

plástico, metal e vidro.

Em seguida apresenta-se na tabela 35 o resumo dos resultados obtidos

quanto aos custos com a coleta convencional, seletiva e o valor auferido com a

comercialização dos recicláveis.

Tabela 35 – Comparação dos valores auferidos com a reciclagem nos municípios de Belém com os custos da coleta convencional em 2009.

MUNICÍPIO DE BELÉM

Itens CENÁRIO 1 R$/dia R$/mês

A Valor auferido com 100% de Reciclagem 293.766,31 8.812.989,35

B Custo de programa de Coleta Seletiva com aproveitamento de 100% dos recicláveis.

152.206,94 4.566.208,05

C Custo da Coleta Convencional 102.447,11 3.073.413,41

CENÁRIO 2 R$/dia R$/mês

A Valor auferido na Média Nacional de Reciclagem 131.011,00 3.390.330,14

B Custo de programa de Coleta Seletiva com aproveitamento segundo a média nacional

68.543,20 2.056.296,00

C Custo da Coleta Convencional 102.447,11 3.073.413,41

Fonte: * Prefeitura Municipal de Belém / Carneiro (2006) **

(Elaborado pelo autor)

Verifica-se que o valor auferido com a comercialização de 100% de

reciclagem é 48,19% maior que os custos com a coleta seletiva. Já em relação à

média nacional esse valor equivale a 47,68%, ou seja, percebe-se um saldo positivo

nos dois cenários. Percebe-se também que a receita arrecada com a

comercialização é maior que os custos da coleta convencional, nos dois cenários.

Dessa forma, percebe-se no município de Belém o grande potencial para a

reciclagem, uma vez que os cenários apresentados demonstraram-se favoráveis, ou

seja, os dados demonstram a viabilidade econômica para implantar programa de

coleta seletiva e reciclagem. Contudo, apesar do resultado favorável, os catadores

encontram-se na faixa mais baixa da cadeia produtiva da reciclagem.

Page 121: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

120

Na tentativa de mudar essa realidade a Lei 11.445/2007, em seu art. 57, faz

uma modificação na lei de licitação Lei 8.666 em seu art. 24, inciso XXVII dizendo

que: é dispensável a licitação na contratação da coleta, processamento e

comercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis, em áreas

com sistema de coleta seletiva de lixo, efetuados por associações ou cooperativas

formadas exclusivamente por pessoas físicas de baixa renda reconhecidas pelo

poder público como catadores de materiais recicláveis, com o uso de equipamentos

compatíveis com as normas técnicas, ambientais e de saúde pública

Geralmente, os gestores municipais não adotam a coleta seletiva com a

inclusão social dos catadores devido ao alto custo para mantê-la, pois o ônus fica

todo a cargo da Prefeitura que disponibiliza galpão, caminhão, carrinhos-gaiola,

fardamento, EPI’s, etc. Estes apoios que a maioria das prefeituras brasileiras

oferece (e que já ocorreu em Belém com a COOTPA) são verdadeiros marketings

políticos, pois os catadores organizados não são beneficiados com nenhum direito

trabalhista para realizar a atividade de catação dos resíduos sólidos recicláveis, e no

momento de mudança de gestão, os mesmos ficam passíveis de voltar à

informalidade, catando nas ruas e/ou lixões, uma vez toda infraestrutura é retirada e

nada fica com a organização.

No tópico seguinte é realizada uma comparação entre as receitas auferidas

pelas organizações de catadores do município de Belém e Ananindeua utilizando os

valores tabelados de acordo com a média nacional e local.

Page 122: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

121

5.3 – CÁLCULO COMPARATIVO DE RECEITA UTILIZANDO PREÇOS DA MÉDIA

NACIONAL E LOCAL APLICADOS SOBRE QUANTIDADES DE MATERIAL

RECICLADO DAS ORGANIZAÇÕES DE CATADORES EM ESTUDO.

Neste cenário, temos o quantitativo de materiais recicláveis das seis

organizações de catadores dos municípios de Belém e Ananindeua, levantado em

pesquisa de campo. Para isso, considerou-se a cotação da média nacional e local

dos valores em R$/ton dos recicláveis. O valor da média nacional foi realizado de

acordo com CEMPRE em 2009, assim, estimou-se os valores auferidos com sua

comercialização.

A produção total dos resíduos refere-se a papel/papelão, plásticos, metais e

vidros, pois são os materiais que possuem maiores valores na cadeia produtiva da

reciclagem e que são coletados em comum pelas seis organizações de catadores

estudadas.

A tabela 36 demonstra os valores financeiros arrecadados com a

comercialização dos recicláveis pelas organizações de catadores da RMB.

Tabela 36 - Estimativa de valor da comercialização dos materiais recicláveis em Belém e Ananindeua segundo valores (R$/ton) da média nacional e local em 2009.

Organizações de Catadores de Materiais Recicláveis da RMB (Tabela Média Nacional)

COMPONENTES Ton/mês * R$ / Ton ** Receita (R$/mês)

Papel/Papelão 134,5 303,00 40.753,50

Plástico 221,7 627,00 139.005,90

Metal 25 1.492,00 37.300,00

Vidro 1,3 106,00 137,80

Total 382,5 217.197,20

Organizações de Catadores de Materiais Recicláveis da RMB (Tabela Média Local)

Tipo de Material Ton/mês * R$/Ton * Receita (R$/mês)

Papel/Papelão 134,5 140,00 18.830,00

Plástico 221 200,00 44.200,00

Metal2 25 625,00 15.625,00

Vidro 1,3 75,00 97,50

Total 382,5 78.752,50

Fonte: * Pesquisa de campo ** CEMPRE (2009)

2 Os materiais que compõe o item metal são o ferro e o alumínio.

Page 123: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

122

De acordo com os valores apresentados na tabela 36 verificou-se que a

produção arrecadada pelas seis organizações de catadores é de 382,50

toneladas/mês, com esse quantitativo consegue-se uma receita de R$ 217.197,20

(duzentos e dezessete mil, cento e noventa e sete reais e dois centavos),

considerando os valores da média nacional em 2009. Esses valores são referentes

às indústrias das regiões sul, sudeste e nordeste.

No segundo caso, considera-se a tabela de preços local, de acordo com

pesquisa realizada com os compradores (sucateiros) dos municípios de Belém e

Ananindeua. Com isso, percebeu-se que o valor arrecadado pela produção das seis

organizações é de R$ 78.752,50 (setenta e oito mil, setecentos e cinquenta e dois

reais e cinquenta centavos). Este valor corresponde a 36,26% do valor estimado na

média nacional, ou seja, é 63,74% menor.

A tabela 26 que demonstra a renda do catador reforça o que foi constatado no

resultado acima, pois 40% destes recebem menos de meio salário mínimo. Se

considerarmos as entidades isoladamente percebe-se que 50% das organizações

obtêm-se renda média abaixo de R$ 300,00. A ASTRAMARPE, CONCAVES e a

ARAL estão enquadradas nesse grupo. Esse fato tem explicação no baixo preço

pago pelos recicláveis na Região Metropolitana de Belém. Aliado a isso, observa-se

a baixa produtividade na arrecadação dos materiais pelas associações e

cooperativas pesquisadas, uma vez que não usufruem de infraestrutura e/ou

equipamentos adequados para realização de suas atividades.

Ficou evidente que a renda do catador depende de sua produtividade. Nesse

caso, as mulheres são as menos remuneradas, devido a divisão de trabalho

estabelecida, onde estas geralmente atuam somente na separação dos materiais

que são catados nas ruas ou chegam por doações de órgãos públicos. Soma-se o

fato de também serem donas de casa, situação que as condiciona a trabalharem em

período parcial. Estes catadores trabalham em média 10 horas/dia, tanto faz se for

no lixão do Aurá ou nas ruas da cidade, para conseguirem arrecadar a quantidade

demonstrada na tabela 36. Outra situação que merece atenção é o fato de familiares

incluindo crianças trabalharem para complementar a renda, pois foi demonstrado

que a catação é o principal meio de trabalho dos entrevistados na pesquisa.

Page 124: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

123

A tabela 37 demonstra os preços dos materiais recicláveis em alguns

municípios do país.

Tabela 37 – Preço dos materiais recicláveis em municípios do Brasil em 2009.

Município/Estado Papel

R$/Ton

3Plástico R$/Ton

Alumínio R$/Ton

Vidro R$/Ton

* Blumenau (SC) 250,00 530,00 2.000,00 45,00

* São Bernado (SP) 530,00 683,00 1.500,00 100,00

* Itabira (MG) 380,00 973,00 900,00 183,00

* Guaraparí (ES) 140,00 510,00 2.000,00 ---

* Recife (PE) 170,00 867,00 1.000,00 80,00

** Belém (PA) 250,00 300,00 1.100,00 75,00

Fonte: * Compromisso Empresarial para Reciclagem, 2009 ** Pesquisa de campo (Elaborado pelo autor)

A análise da tabelas 37 demonstra que o preço dos recicláveis em Belém é

bastante inferior se comparados aos municípios, principalmente das regiões sul e

sudeste, pois a maioria das indústrias do ramo da reciclagem está sediada nessas

regiões. Constatou-se também que dos municípios apresentados na tabela 37, por

exemplo, em Itabira (MG) o valor da tonelada do plástico chega a ser o triplo do

valor tabelado em Belém (PA). Além disso, conforme gráfico 17, pelo fato de

existirem poucas empresas (médio e grande porte) que compram recicláveis faz com

que haja um monopólio sobre o comércio local, sendo que uma empresa absorve

50% da demanda dos catadores, esse é um dos fatores para os baixos preços

praticados na RMB. Essas empresas agem como intermediárias na cadeia produtiva

da reciclagem, pois compram os materiais dos catadores aplicam um pré-

beneficiamento (limpeza, prensagem, trituração) e comercializam com indústrias de

reciclagem de outros Estados.

´

3 O preço em (R$/Ton) do plástico citado na tabela 37 equivale a média entre os valores do Plástico Rígido, PET

e Plástico Filme, de acordo com a tabela de preço do CEMPRE (2009).

Page 125: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

124

5.4 - CONTRIBUIÇÕES ECONÔMICAS E AMBIENTAIS PROPORCIONADAS

PELAS ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS DE BELÉM E ANAINDEUA.

Os ganhos proporcionados pela reciclagem do lixo decorrem do fato de que é

mais econômica a produção a partir da reciclagem do que a partir de matéria-prima

virgem. Isso se dá porque a produção a partir da reciclagem utiliza menos energia,

matéria-prima, recursos hídricos, reduz os custos de controle ambiental e também os

de disposição final de lixo (CALDERONI, 2003).

Segundo Magera (2003) a reciclagem do lixo proporciona às prefeituras

brasileiras uma economia que pode variar de 5% a 12% do seu orçamento anual.

Calderoni (2003) diz que em nível nacional estima-se que R$ 10 bilhões/ano em

materiais recicláveis são jogados no lixo. Essa situação reflete o descaso do poder

público, principalmente os municípios, em adotarem ou buscarem medidas

sustentáveis a fim de combater o grande desperdício de resíduos sólidos.

A coleta seletiva se torna uma alternativa ao reaproveitamento desses

materiais, e gera ao município benefícios por meio da criação de um fluxo de

recursos na economia local com o rendimento dos catadores envolvidos na

operação da coleta dos recicláveis, o que se converte num consumo local e gera

tributos.

É fato que os municípios e a sociedade obtêm vários benefícios com a

atividade dos catadores. Em relação aos ganhos ambientais destacam-se:

as toneladas de “lixo” que são retiradas das ruas, que potencialmente podem

obstruir o sistema de drenagem da cidade contribuindo para alagamentos e/ou

proliferação de vetores transmissores de doenças, e consequentemente

doenças de veiculação hídrica, que geralmente atinge em grandes proporções

os moradores das áreas periféricas;

a redução do uso de matéria-prima virgem e a economia dos recursos naturais

renováveis e não renováveis;

Page 126: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

125

a economia de energia no reprocessamento de materiais se comparada com a

extração e produção a partir de matérias-primas virgens e da valorização das

matérias-primas secundárias;

a redução na disposição final de resíduos sólidos nos aterros sanitários,

aumentando, dessa forma, o seu tempo de vida útil;

Em relação aos potenciais ganhos sócio-econômicos destacam-se:

a valorização econômica dos materiais recicláveis;

a economia de custos com a coleta convencional e operação de aterro

sanitário por parte da administração municipal;

Impacto positivo na saúde pública com a economia de gastos com remédios,

uma vez que o ambiente limpo torna-se mais salubre;

a geração de trabalho e renda, ou seja, melhoria da qualidade de vida dos

catadores organizados que são excluídos do mercado formal de trabalho;

Outro fator que merece atenção é a identidade e o resgate social, auto-estima

e respeito que os catadores organizados obtêm por meio dessa atividade que traz

benefícios a sociedade.

Apesar dos impactos positivos apresentados acima, percebe-se o pouco

apoio para que essas organizações possam potencializar o desenvolvimento do seu

trabalho. Esta situação é evidenciada quando compararmos a quantidade de

material arrecadado pelas seis organizações em relação ao gerado no município de

Belém, como demonstrado na tabela 13.

Tabela 38 – Comparação dos quantitativos de materiais recicláveis produzidos e arrecadados.

Total de Recicláveis Produzido em Belém

(Ton/mês)

Total de Recicláveis Arrecadado pelas Organizações de

Catadores da RMB (Ton/mês)

(%) Coletado pelas Organizações de

Catadores.

17.095,5 382,5 2,2%

Fonte: Pesquisa de campo

Page 127: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

126

O quantitativo de 382,5 ton/mês coletadas pelas seis organizações de

catadores corresponde a 2,2% do total de papel, papelão, plástico e metal que é

gerado neste município. Contudo, para conseguir alcançá-lo, os catadores trabalham

em média 10 horas por dia com grande dificuldade devido não possuírem

equipamentos apropriados para coleta dos materiais.

Outro fator que contribui para dificultar o trabalho dos catadores corresponde

a não participação da comunidade, uma vez que esta tem papel preponderante com

a separação do lixo na fonte geradora (domicílio). Contudo, a participação desse

ator só acontece no momento em que existem ações educativas continuadas, a

longo prazo, voltadas à preservação ambiental e estabelecimento de parceria entre

o poder público e a sociedade para que este possa destinar o lixo reciclável às

organizações de catadores.

O resultado exposto acima demonstra o quanto o poder público é ausente

com uma situação que atualmente se concretizou como um dos maiores problemas

urbanos.

Várias vantagens são obtidas aos municípios com a atividade desenvolvida

pelos catadores, principalmente econômicas e ambientais. Assim, a quantidade

resíduos recicláveis que deixa de ser levado pela coleta convencional gera uma

economia ao município (tabela 39).

Tabela 39 – Economia do município de Belém com a coleta realizada pelos catadores de Belém e Ananindeua em 2009.

Município Custo com coleta convencional - (a)

Quantidade (Ton/mês) – (b)

Total de Economia (R$/mês) = (a)*(b)

Belém * 65,08 ** 162.443 10.571,79

Fonte: * Carneiro (2006) ** Pesquisa de campo

Neste caso, foram consideradas somente as organizações que catam

resíduos recicláveis nas ruas e/ou recebem doações, pois não contam neste

resultado as que atuam no lixão como a COOTPA e que presta serviço para

empresa de beneficiamento do plástico (Cidadania para Todos), com exceção das

doações recebidas.

Page 128: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

127

As associações e cooperativas que catam nas ruas fazem o roteiro de coleta

de acordo com o roteiro do carro convencional de coleta de lixo, antecedendo-se a

ele, principalmente em supermercados, condomínios fechados, escolas e

estabelecimentos comerciais. Caso contrário, terão que esperar horas para que haja

material suficiente para arrecadar. Muitos catadores preferem trabalhar pelo turno da

noite, nesse caso, o roteiro são pelos bairros mais nobres da cidade, pois a maior

parte dos resíduos gerados é reciclável.

Outra situação refere-se à economia na manutenção do aterro, devido aos

materiais recicláveis que são catados pelas seis organizações. Na tabela 40 é

mostrado o quantitativo e o valor econômico referentes aos materiais extraviados do

aterro do Aurá.

Tabela 40 – Economia do município de Belém com a manutenção do Aterro Sanitário (A.S) do Aurá com a retirada dos recicláveis pelos catadores em 2009.

Município Custo da manutenção do A.S (R$/Ton)

Quantidade (Ton/mês)

Total de Economia (R$/mês)

Belém * 9,00 ** 382,5 3.442,50

Fonte: * Carneiro (2006) ** Pesquisa de campo

Analisando as tabelas 39 e 40, notou-se que as economias com a coleta

convencional e operação do aterro sanitário é considerado baixa, somando R$

14.014,29 (quatorze mil, quatorze reais e vinte e nove centavos) mensais. Contudo,

neste estão contatos somente os catadores organizados, mas segundo a Srª Maria

Alice, da COOTPA e representante do estado do Pará no Movimento Nacional de

Catadores, afirma que existem cerca de 1500 catadores autônomos atuando no

aterro do Aurá. Esta informação indica que são retiradas diariamente bem mais

toneladas de materiais recicláveis do que foi contabilizado pelas organizações de

catadores.

Verificou-se, então que os catadores são agentes importantíssimos dentro do

contexto da Limpeza Urbana da cidade, uma vez que contribuem para manutenção

economia dos serviços de limpeza pública, a operação/manutenção e aumento da

vida útil do aterro do Aurá, além de minimizar a poluição proveniente dos impactos

negativos, devido a má disposição dos resíduos sólidos no meio urbano, além da

redução dos gastos com saúde pública.

Page 129: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

128

Dessa maneira, a situação das organizações de catadores da RMB difere das

demais regiões do país, principalmente sul e sudeste, pois a falta de infraestrutura,

aliada ao baixo preço no mercado local, assim como a ausência de políticas públicas

voltadas a apoiar e fortalecer essa categoria, faz com que ocorra uma série de

dificuldades para que o catador possa trabalhar com dignidade em regime de

associação ou de cooperativa, uma vez que a renda adquirida por essa forma de

trabalho é muito baixa. Assim, a maioria dos catadores prefere optar pelo trabalho

avulso, ou seja, na clandestinidade, ganhando pela produtividade individual, ficando,

dessa maneira, sempre dependente dos atravessadores locais, fator esse com

potencial de agravar os problemas sociais urbanos.

Este panorama mostra o quanto essas organizações são ineficientes e

ineficazes. A falta de equipamentos e infraestrutura, escolaridade, mão-de-obra

precária são alguns fatores que contribuem para tal cenário. Assim, aumenta a

dificuldade de manter um trabalhador sob o regime de associação ou cooperativa, o

que tem como consequência a grande rotatividade dos associados/cooperativados,

essa situação faz com que o catador volte a praticar sua atividade de maneira

informal.

Dessa forma, percebeu-se que o cenário exposto das associações e

cooperativas pesquisadas demonstrou a luta diária dos catadores de lixo reciclável.

Os resultados apontam para poucas possibilidades de crescimento quanto

organização, uma vez que no nicho da reciclagem em Belém, estas associações e

cooperativas são pouco beneficiadas, pois seus ganhos mal suprem as

necessidades básicas do catador. As tímidas iniciativas realizadas pelas sociedades

organizadas ou poder público são importantes, pois já demonstra uma mudança de

pensamento sobre as questões relacionadas ao manejo dos resíduos sólidos com

preocupações sobre: redução, reaproveitamento e destino final adequado, com

mudança no modelo de gestão dos resíduos sólidos urbanos, incluindo neste a

participação das associações e cooperativas, dando, dessa maneira, a oportunidade

desses buscarem a sustentabilidade enquanto organização.

Page 130: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

129

__________________________________

Resumo:

O presente capítulo apresentou o resultado dos três cenários quanto ao estudo de

viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem em Belém. O primeiro cenário, o qual

adota a comercialização de 100% do material reciclável demonstrou-se favorável, uma vez

que a receita adquirida com comercialização (R$ 8.812.989,35 (oito milhões, oitocentos e

doze mil novecentos e oitenta e nove reais e trinta e cinco centavos) por mês, demonstra

ser 48,19% maior que o custo com programa de coleta seletiva, e 65,13% maior que os

custos com a coleta convencional, ou seja, tem-se um saldo positivo, logo há viabilidade

econômica. O segundo cenário o qual considerou o índice de reciclagem, de acordo com os

índices médios nacionais de reciclagem e venda, também demonstrou-se viável

economicamente quanto a implantação de coleta seletiva e reciclagem, uma vez que a

receita auferida (R$ 3.390.330,14) é 47,68% maior que os custos com a implantação de

programa de coleta seletiva e 21,80% maior que os custos com a coleta convencional. Os

custos de implantação da coleta seletiva, apresentados no terceiro cenário, serviram de

base de comparação para o resultado de viabilidade supracitado. O resultado da

comparação quanto aos recicláveis arrecadados pelas seis organizações de catadores

demonstrou que a receita auferida com a comercialização dos materiais recicláveis com

preços na média nacional é 63,74% maior que a receita auferida a nível local. Essa situação

demonstra o quanto é baixo o preço dos recicláveis na RMB, esses preços são taxados

pelos atravessadores que aproveitam a falta de organização e infraestrutura dos catadores,

e ditam as regras do mercado. Os dados do quantitativo arrecadado pelas seis organizações

pesquisadas de catadores proporcionaram chegar aos resultados quanto à economia da

Prefeitura Municipal de Belém referente aos gastos com a coleta convencional e

manutenção do Aterro do Aurá. No primeiro caso, a estimativa de economia é de R$

10.571,79; e no segundo, R$ 3.442,50; ou seja, um total de R$ 14.014,29. Esse resultado é

considerado baixo, mas reflete a pouca expressividade de arrecadação pelas associações

e/ou cooperativas estudadas, devido a falta de apoio do Poder Público local quanto política

pública, aliada a ausência de infraestrutura que dê sustentação ao desenvolvimento das

atividades.

Page 131: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

130

CAPÍTULO VI - CONCLUSÃO

No desenvolvimento da pesquisa buscou-se estudar e demonstrar a realidade

do trabalho desenvolvido pelas associações e cooperativas de catadores de Belém e

Ananindeua, no contexto da coleta seletiva e reciclagem, a potencialidade

econômica, a exploração pelo trabalho e conhecimento do perfil sócio-econômico

dessa categoria.

A pesquisa revelou que as cooperativas estudadas estão em fase

embrionária. O trabalho de seus associados/cooperados é realizado de forma

ineficiente e ineficaz, pois não conseguem produzir nem agregar valor suficiente

para competir no mercado da reciclagem.

A infraestrutura precária, a insalubridade do ambiente de trabalho, o baixo

grau de escolaridade e o pouco retorno financeiro refletem a dependência às

Organizações Não Governamentais (ONG’s) e Poder Público. Principalmente este

ultimo, que detêm a infraestrutura e promove os principais programas e ações,

contudo, tomam as principais decisões, fazendo com que a associação/cooperativa

não tenha a oportunidade de progredir e correrem o risco de voltar a trabalhar de

forma primitiva, nas ruas e lixões, no momento de ocorrer mudança do gestor, o que

pode acarretar uma série de impactos negativos ao meio urbano.

As razões que explicam a situação exposta no parágrafo anterior foram

identificadas em pesquisa de campo, citando os principais entraves: dificuldades no

processo de organização e gestão das associações/cooperativas de catadores;

desorientação do processo de legalização; dificuldade de acesso ao mercado;

dificuldade no processo de comercialização; ausência de estrutura física adequada

(galpão e energia elétrica; prensa; área de armazenamento e área de triagem);

ausência de capacitação organização social dos grupos, gestão e educação

ambiental; deficiência de logística; dificuldade de acesso a programas e projetos

visando a obtenção de recursos financeiros para as organizações; dependência, por

parte dos catadores, da estrutura operacional da prefeitura. Toda essa carência

resulta na grande competitividade com outros catadores, organizados ou não,

principalmente pela latinha de alumínio, que é o material que obtém o maior valor no

Page 132: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

131

mercado. Existe ainda a disputa de materiais com os carros coletores da Prefeitura

local, pois os catadores devem antecipar-se na coleta para conseguir retirar os

recicláveis. Essa situação reflete a falta de programas e ações de educação

ambiental voltados à sociedade, e que incentive a prática da separação dos

materiais na fonte geradora. Uma ação como essa facilitaria a coleta e evitaria

transtornos cometidos por catadores, uma vez que deixariam de rasgar os sacos de

lixo e os espalharem sujando ruas e avenidas ao procurarem recicláveis.

A pesquisa também apontou que as políticas públicas que contemplam os

catadores da RMB, organizados em programas e ações relacionadas à coleta

seletiva e reciclagem, ainda são ineficientes e ineficazes, pois não proporcionam seu

principal objetivo que é a inclusão. Contudo, é importante observar que essas

iniciativas, apesar de ainda atuarem de forma tímida, são essenciais aos catadores,

assim como ao meio ambiente, pois já demonstra a mudança de hábitos, valores, ou

seja, a quebra de paradigmas referentes ao correto destino dos resíduos sólidos

recicláveis, que outrora eram considerados lixo, assim como o reconhecimento do

trabalho do catador.

Apesar da importância do trabalho dos catadores, muito pouco é feito para

que as associações e/ou cooperativas desenvolvam suas atividade com resultados

satisfatórios. O Art.57 da Lei 11.445/2007 diz quais as condições para contratação

de uma associação ou cooperativa, como forma de inclusão dessa categoria. No

entanto, para as organizações de Belém e Ananindeua, principalmente no que se

refere aos equipamentos e infraestrutura, não permite o acesso dessas para

contratações, uma vez que encontram-se em desvantagem se comparadas às

empresas privadas de coleta de lixo, pois são as que detêm o monopólio para este

tipo de serviço em Belém.

Todo esse cenário faz com que aumente o estigma de que o catador carrega

para sobreviver da catação de “lixo”. Nesse caso, percebe-se a importância social

que uma cooperativa obtém no resgate da cidadania e autoestima dos catadores,

uma vez que passam a ser reconhecidos como “Agentes Ambientais”, pois eles

dentro do contexto em questão devem ser vistos como parte da solução e não do

problema.

Page 133: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

132

Sobre a relação de mercado, a pesquisa demonstrou que devido a situação

em que as associações e cooperativa se encontram, os únicos beneficiados são os

atravessadores locais, principalmente os grandes sucateiros, pois são esses que

conseguem beneficiar grandes quantidades e manter um padrão de qualidade

exigido pelas empresas de fora do estado do Pará, que pagam em média, três vezes

mais do que o valor de marcado local. Dessa maneira, fica evidente a dominação e a

exploração do trabalho dos catadores pelos sucateiros locais, pois estes impõem as

condições e os preços de acordo com a sua conveniência.

A baixa eficiência das associações e cooperativas estudadas confirma-se

quando buscou-se verificar seu potencial de arrecadação, que é considerado

pequeno em relação ao montante gerado no município de Belém, sendo 2,2% do

total. Os 97,8% vão para o aterro do Aurá, que tecnicamente já é considerado lixão,

ou ficam dispostos inadequadamente pela cidade. Esses quantitativos verificados

em 2009 representam uma economia para o município em cerca de R$ 14.014,29

por mês. Esse ganho poderia ser bem maior, caso houvesse interesse do poder

público em fortalecer as organizações e incluí-las nas atividades dos serviços de

limpeza urbano do município e repassar às associações os custos evitados pela

atividade desenvolvida. Assim, ficou explicito que a atividade realizada pelos

catadores organizados praticamente não influencia no contexto ambiental e

econômico no município de Belém. Um dos motivos para tal pode ter explicação no

interesse em permanecer com o modelo atual da limpeza urbana e manejo dos

resíduos sólidos, referente à coleta convencional com serviço privado, à incentivar a

participação dos catadores na cadeia produtiva da reciclagem.

Contudo, em relação à viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem,

demonstrou-se positivo nos dois cenários apresentados tanto com 100% de

aproveitamento quanto considerando a média nacional no município de Belém. No

entanto, essa prática não é incentivada pelo poder público municipal. A situação em

questão é reforçada pela ausência de políticas públicas, principalmente no Estado

do Pará, que incentivem os munícipes a adotarem medidas voltadas ao manejo de

resíduos sólidos, incluindo a coleta seletiva e reciclagem, apesar da potencialidade

de obtenção de ganhos econômicos, sanitários, ambientais e sociais que esta

atividade oferece.

Page 134: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

133

O cenário da coleta seletiva e reciclagem exposto nesta pesquisa demonstra-

se favorável aos serviços prestados pelas associações e cooperativas estudadas.

Contudo, para que o processo funcione é necessário que alguns paradigmas sejam

quebrados, como: sensibilizar os prefeitos a incluírem a coleta seletiva e reciclagem

com a participação das associações e cooperativas de catadores dentro de um

Sistema de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos; contratar os serviços das

organizações de catadores o que já é respaldado pela Lei 11.445/2007. Outra

importante providência a ser tomada seria incentivar a implantação de empresas do

ramo da reciclagem no município; criar um marco legal para os resíduos sólidos

municipais; diferenciar a taxa de resíduos sólidos entre empresas e população; criar

programas a longo prazo de educação ambiental nas comunidades e divulgação nos

meios de comunicação e sua implantação como matéria obrigatória nas escolas.

A viabilidade de apoio e fortalecimento das organizações de catadores dentro

do serviço de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos (recicláveis) demonstra

sua importância no momento em que gera postos de trabalho a baixo custo, reduz

os custos da coleta convencional do município de Belém, reduz a quantidade de

pessoas em situação de risco e viabiliza uma atividade ecologicamente correta.

Contudo, o sucesso de um programa dessa natureza não depende apenas do Poder

Público municipal, o qual é responsável pela coleta do lixo, mas do envolvimento e

participação da população em geral.

Uma alternativa seria montar uma central de comercialização, que é um

galpão de grande porte, com bases menores nos bairros de Belém. A finalidade da

Central seria de acumular recicláveis, já pré-beneficiados nas bases menores, e

alcançar escala para comercializar com empresas de outros estados do país. Este

modelo é adotado em municípios com experiências de sucesso de Belo Horizonte

(MG) e Porto Alegre (RS) apresentados no capítulo II desta pesquisa. Contudo,

para que aumentem as possibilidades de sucesso, é importante que o poder público,

principalmente o municipal, esteja comprometido com as organizações de catadores,

dando apoio institucional, no sentido de buscar recursos e viabilizar projetos, investir

em capacitação para que possam desenvolver de forma segura suas atividades,

possibilitando aos catadores o processo da autogestão e, assim, a sua inclusão

social.

Page 135: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

134

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Page 139: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

QUESTIONÁRIO PARA LEVANTAMENTO DE DADOS DAS

ASSOCIAÇÕES/COOPERATIVAS DE CATADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOS

MUNICÍPIOS DE BELÉM E ANANINDEUA

Questionário Associação/Cooperativa

Nº do quest.: ________ Data: _____/_____/_____

DADOS DA ORGANIZAÇÃO DE CATADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS

P1. Tipo de Organização: 1.( ) Associação 2.( ) Cooperativa P2. Data da fundação: ____/____/_____

P3. Nome da Organização: ______________________________________________________________

P3.1 Número de Associados/Cooperados: ___________________

P4. Endereço: _________________________________________________________________________

P5. CEP: ________-______ P6. Cidade/Estado: _____________/_____ P7. Tel.: ( ) ______-________

P8. Celular: ( ) __________ P9. Presidente: _______________________________________________

P11. Qual desses documentos a organização possui: 1.( ) Estatuto Social 2.( ) Ata de Fundação ou

Constituição 3.( ) Ata de Eleição e Posse da Última Diretoria 4.( ) CNPJ 5.( ) Certidão do Tribunal de

Contas do Município 6.( ) Certidão do Tribunal de Contas do Estado 7.( ) Certidão do Tribunal de

Contas da União 8.( ) Balanço ou Prestação de Conta dos Últimos 3 anos 9.( ) Documentos Pessoais

(RG, CPF, Comprovante de residência) de toda diretoria. 10.( ) Declaração de Impostos de Renda do

Presidente, Tesoureiro. 11.( ) Declaração de Impostos de Renda da Entidade. 12.( ) Certidão do

Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) 13.( ) Certidão Conjunta do INSS e Receita Federal

14.( ) Certidão da Receita Federal 15.( ) Cadastro de Pessoa Física (CPF) de todos os integrantes da

Entidade devidamente Regularizados 16.( ) Registro na Receita Federal 17.( ) Alvará de licença de

funcionamento 18.( ) Nota fiscal de serviços e venda 19.( ) Endereço temporário ou permanente

completo.

INFRA-ESTRUTURA DA ORGANIZAÇÃO DE CATADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS

P12. A Organização de catadores possui sede? 1.( ) Sim 2. ( ) Não

P13. Caso sim, a sede é: 1.( ) Própria 2.( ) Alugada 3.( ) Cedida

P14. Qual a área da sede (Km²)? _____________

P15. A organização possui espaço para triagem do material coletado? 1. ( ) Sim 2. ( ) Não

P16. Qual o tipo de espaço? 1. ( ) Quintal 2. ( ) Galpão 3. ( ) Pátio 4. ( ) Na rua

5. ( ) Outros: ______________________________________

P17. Quais desses equipamentos a organização possui?

1. ( ) Prensa 2. ( ) Triturador 3. ( ) Balança 4. ( ) Bag´s 5. ( ) EPI´s 6. ( ) Caminhão/Carro

7. ( ) Triciclo 8. ( ) Outros: ____________________________________________________________

Page 140: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

QUESTIONÁRIO PARA LEVANTAMENTO DE DADOS DAS

ASSOCIAÇÕES/COOPERATIVAS DE CATADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOS

MUNICÍPIOS DE BELÉM E ANANINDEUA

CAPACIDADE DE PRODUÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DE CATADORES

P18. Com quais materiais a organização de catadores trabalha? 1. ( ) Plástico 2. ( ) Alumínio

3. ( ) Ferro 4. ( ) Papel/Papelão 5. ( ) Outros: ________________________

P19. Quanto é coletado de material por dia (Kg)? Plástico: _________ Alumínio: _________

Ferro: __________ Papel: _____________ Papelão: __________.

P20. Por quanto é vendido em média o quilo desses materiais? Plástico: ________ Alumínio: ________

Ferro: __________ Papel: __________ Papelão: __________.

P21. O pagamento dos integrantes da organização é realizado: 1. ( ) Diariamente

2. ( ) Semanalmente 3. ( ) Quinzenalmente 4. ( ) Mensalmente

P21.1 Como é dividido o valor arrecadado com a venda dos materiais recicláveis?

1. ( ) Divido igualmente 2.( ) Proporcional à produção individual

P22. O material coletado é vendido para quem? ____________________________________________

________________________________________

P23. O transporte do material vendido é feito: 1. ( ) Pela própria organização 2. ( ) Pelo

comprador

GRAU DE ORGANIZAÇÃO DOS ASSOCIADOS OU COOPERADOS

P24. De quanto em quanto tempo são realizadas reuniões da organização? 1. ( ) Diariamente

2. ( ) Semanalmente 3. ( ) Quinzenalmente 4. ( ) Mensalmente

P25. Qual o percentual de presença dos integrantes da organização nas reuniões? 1. ( ) 10%

2. ( ) 30% 3. ( ) 50% 4. ( ) 80% 5. ( ) 90% 6. ( ) 100% 7. ( ) Outro: _________

P26. Quando houve a última reunião da organização: 1. ( ) Há uma semana 2. ( ) Há um mês

3. ( ) Há dois meses 4. ( ) Há mais de dois meses

P28. É oferecido aos integrantes da organização algum tipo de curso de capacitação?

1. ( ) Sim 2. ( ) Não

P29. Caso sim, que tipos de treinamentos são ofertados?

1.( ) De segurança alimentar 2. ( ) De manuseio com os materiais recicláveis 3. ( ) De

Associativismo/Cooperativismo 4. ( ) Outros: ______________________

Afirmo que todas as informações são verdadeiras e de minha inteira responsabilidade

_________________________________________ ____________, de ___________ de 2008

Presidente da Associação/Cooperativa

Page 141: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

QUESTIONÁRIO PARA LEVANTAMENTO DE DADOS DAS

ASSOCIAÇÕES/COOPERATIVAS DE CATADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOS

MUNICÍPIOS DE BELÉM E ANANINDEUA

Questionário Associado/Cooperado

Nº do quest.: ________ Data: _____/_____/_____

DADOS SÓCIO-ECONOMICOS DOS ASSOCIADOS/COOPERADOS

P1. Nome do Entrevistado: ______________________________________________________________

P2. Cargo ou função: __________________________

P3. Idade: __________

P4. Escolaridade: 1. ( ) Analfabeto 2. ( ) Alfabetizado 3. ( ) Ensino Fundamental Incompleto

4. ( ) Ensino Fundamental Completo 5. ( ) Ensino Médio Incompleto 6. ( ) Ensino Médio

Completo 7. ( ) Ensino Superior Incompleto 8. Ensino Superior Completo

P4.1 Quantos membros da família estão matriculados na escola? __________

P4.2 Destes, quantos freqüentam a escola regularmente? ___________

P5. Possui alguma formação técnica? 1. ( ) Sim 2. ( ) Não

P6. Se sim, qual? ____________________________________________

P5. Tipo de Domicílio: 1.( ) Casa 2.( ) Cômodo 3.( ) Apartamento

P6. Material da Parede do Domicílio: 1.( ) Barro 2.( )Madeira 3.( ) Alvenaria

4.( ) Mista

P7. Condição de Ocupação: 1.( ) Próprio – Já Quitado 2.( ) Próprio – em aquisição 3.( ) Alugado

4.( ) Cedido de Outra Forma 5.( ) Outra Condição.

P8. Quantas pessoas moram na residência: _______________

P9. Quantas pessoas trabalham na família: _____________

P10. Quantas trabalham na coleta de materiais recicláveis: ____________

P10.1 Quantas crianças trabalham na coleta de materiais recicláveis: ___________

P10.2 Qual a sua renda diária com a catação de materiais recicláveis: ______________

P10.3 O sustento da família vem basicamente do trabalho da catação de materiais recicláveis?

1. ( ) Sim 2. ( ) Não

P10.4 Quantas refeições sua família faz por dia? 1.( ) 1 refeição 2.( ) 2 refeições 3.( ) 3 refeições

P11. Qual a renda familiar: 1. ( ) Até 1/2 SM 2. ( ) Entre 1/2 e 1 SM 3. ( ) 1 SM

4. ( ) Entre 1 e 2 SM 5. ( ) 2 SM 6. ( ) Entre 2 e 3 SM 7. ( ) 3 SM ou mais

Page 142: a viabilidade econômica da coleta seletiva e reciclagem de resíduos

QUESTIONÁRIO PARA LEVANTAMENTO DE DADOS DAS

ASSOCIAÇÕES/COOPERATIVAS DE CATADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOS

MUNICÍPIOS DE BELÉM E ANANINDEUA

CONDIÇÕES DE TRABALHO DO CATADOR DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

P12. Você acha que as condições de trabalho no seu dia-a-dia são: 1. ( ) Ótimas 2. ( ) Boas

3. ( ) Regulares 4. ( ) Ruins 5. ( ) Péssimas

P13. Se ruim ou péssima qual o motivo? __________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

P14. Quais desses equipamentos de proteção individual você utiliza no seu trabalho?

1. ( ) Luvas 2. ( ) Botas 3. ( ) Óculos de proteção 4. ( ) Capacete 5. ( ) Máscara

6. ( ) Nenhum desses 7. ( ) Outros: __________________

P15. Qual o horário que você trabalha? 1. ( ) Pela manhã 2. ( ) Pela tarde 3. ( ) Pela

manhã e tarde 4. ( ) Pela noite 5. ( ) Pela madrugada 6. ( ) Pela noite e madrugada

P16. Quantas horas/dia você trabalha? 1. ( ) 6 horas 2. ( ) 8 horas 3. ( ) 12 horas

4. ( ) Outros: ___________

P17. Quantos dias por semana você trabalha? ______

SAÚDE DO CATADOR DE MATERIAIS RECICLAVEIS

P17. Você ingere bebida alcoólica? 1. ( ) Sim 2. ( ) Não

P17.1 Se sim, há quanto tempo você ingere? ____________

P18. Você é tabagista? 1. ( ) Sim 2. ( ) Não

P19. Se sim, há quanto tempo você fuma? ______________

P20. Quais dessas doenças você tem ou já teve? 1. ( ) Hanseníase 2. ( ) Hepatite

3. ( ) Doenças Diarréicas 4. ( ) DST 5. ( ) Leptospirose 6. ( ) Doenças de pele

7. ( ) Outras: ___________________________

P21. Se já teve alguma, fez o tratamento completo para se curar? 1. ( ) Sim 2. ( ) Não

P21. Se não, qual o motivo de ter interrompido o tratamento? _______________________________

____________________________________________________________________________________

P22. Qual foi a última vez que você foi ao médico? 1. ( ) Há um mês 2. ( ) Há dois meses

3. ( ) Há seis meses 4. ( ) Há um ano 5. ( ) Há mais de um ano

Afirmo que todas as informações são verdadeiras e de minha inteira responsabilidade

_________________________________________ ____________, de ___________ de 2008

Associado/Cooperado