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A VISÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL ACERCA DA INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NO MERCADO DE TRABALHO CURITIBA 2009

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A VISÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL ACERCA DA INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NO MERCADO DE TRABALHO

CURITIBA2009

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GABRIELA FERREIRA BUBNIAK

A VISÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL ACERCA DA INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NO MERCADO DE TRABALHO

Monografia apresentada como requisito parcial para conclusão do Curso de Terapia Ocupacional, da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Tuiuti do Paraná.Orientadora: Profª Maria José G. de Camargo

CURITIBA2009

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TERMO DE APROVAÇÃOGABRIELA FERREIRA BUBNIAK

A VISÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL ACERCA DA INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NO MERCADO DE TRABALHO

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção de grau em Terapia Ocupacional do Curso de Terapia Ocupacional da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ____de novembro de 2009

Profa Ana Luiza Bender Moreira

Curso de Terapia Ocupacional

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientadora: Prof. Maria José Gugelmim de Camargo

Universidade Tuiuti do Paraná / Curso de Terapia Ocupacional

Banca: Prof. Leila Regina de Carvalho

Universidade Tuiuti do Paraná / Curso de Terapia Ocupacional

Prof. Nazaré de Andrade Monteiro

Universidade Tuiuti do Paraná / Curso de Terapia Ocupacional

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“Em minha civilização,

aquele que é diferente de mim, não me empobrece, me enriquece”.

Saint-Exupéry, 1935

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RESUMO

O presente trabalho buscará refletir sobre algumas questões que tratam das

dificuldades da inclusão profissional do adulto portador de deficiência física,

sob um olhar da Terapia Ocupacional. A inclusão é um processo pelo qual a

sociedade se adapta para permitir a participação das pessoas em todos os

seus setores. Porém, os dispositivos construídos pela sociedade (como as leis

criadas e deferidas nas duas últimas décadas) para a inclusão dessa

população não tem sido suficientes para dar conta da efetivação deste ato. A

inclusão no mercado de trabalho exige preparo da pessoa com deficiência,

educação do empregador e dos demais funcionários, e disposição de boas

políticas públicas. Sendo o terapeuta ocupacional um profissional da área da

saúde, que desenvolve programas para facilitar o máximo uso da função para

atender as demandas do trabalho, sociais, pessoais e do ambiente doméstico

(WORLD FEDERATION OF OCCUPATION THERAPY (WFOT, 2007), está

habilitado a colaborar nesse processo de inclusão, fazendo uso de conceitos

holísticos, análise de tarefas e de atividades assim como de adaptações que se

fizerem necessárias. Neste trabalho, pretende-se levantar alguns

questionamentos que possam contribuir para a desmistificação de um tema

que vem sendo abordado recentemente pela sociedade em suas diferentes

instâncias.

PALAVRAS-CHAVE: deficiência física, mercado de trabalho, inclusão social, Terapia Ocupacional.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................

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1 DEFICIÊNCIA FÍSICA.......................................................................... 10

1.1 PESSOAS ADULTAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA.......................... 11

1.2 LEGISLAÇÃO TRABALHISTA DOS DIREITOS DOS DEFICIENTES

FÍSICOS..................................................................................................

12

1.3 TERAPIA OCUPACIONAL NO CONTEXTO DA REABILITAÇÃO

FÍSICA.................................................................................................... 15

1.3.1 Análise do Desempenho Ocupacional ..........................................16

1.4 A PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA E O MERCADO DE

TRABALHO..............................................................................................

16

1.4.1 A Realidade Sobre o Acesso do Deficiente Físico ao Mercado de

Trabalho....................................................................................................20

1.4.2 Estatísticas de Curitiba................................................................... 21

2 TERAPIA OCUPACIONAL E A INCLUSÃO DO ADULTO DEFICIENTE FÍSICO NO MERCADO DE TRABALHO............................................................................................. 23

2.1 ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL NA INCLUSÃO DO

ADULTO DEFICIENTE FÍSICO NO MERCADO DE

TRABALHO..............................................................................................

27

2.1.2 Ergonomia e Terapia Ocupacional................................................. 29

6

Ao abordar de modo

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3 ANÁLISE QUANTITATIVA DOS RECURSOS DA TERAPIA OCUPACIONAL ABORDADOS NA LITERATURA............................... 32

4. RELATO DE UM DEFICIENTE FÍSICO INSERIDO NO MERCADO DE TRABALHO .............................................................................................36

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 39

REFERÊNCIAS...................................................................................... 41

ANEXOS................................................................................................. 46

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INTRODUÇÃO

O deficiente físico é o sujeito com alteração completa ou parcial de um, ou mais

segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física (GIL,

2002). E como qualquer outro cidadão, possui direitos e deveres, entre os quais, sua

inclusão no mercado de trabalho.

Os deficientes físicos necessitam ser compreendidos como profissionais nos

quais se pode investir. As empresas podem contribuir com o processo de examinar

não só os valores explícitos, mas também os implícitos e que podem estar presentes

nas suas culturas organizacionais.

A inclusão no mercado de trabalho é uma meta a ser alcançada por muitas

pessoas deficientes. Porém, esse objetivo é dificultado por muitas razões, como as

barreiras arquitetônicas, barreiras atitudinais, escolaridade, dificuldade com transporte

e falta de qualificação.

Em uma tentativa de diminuir a situação de exclusão profissional enfrentada

por essa população, leis foram criadas para garantir o direito de igualdade do

deficiente perante a sociedade considerada “normal”. Dentre todas as leis que

definem os direitos e deveres do deficiente, há as leis que tangem o quesito

profissional. Ao vigésimo quarto dia do mês de julho de 1991, foi acrescentada à Lei

de Benefícios da Previdência Social (LBPS) a Lei 8.213, na qual se determina que as

empresas com 100 ou mais empregados são obrigadas a preencher de 2% a 5% de

seus cargos com beneficiários do sistema de Previdência Social, sob a pena de multa.

Por esse motivo, a discussão a respeito da inclusão de deficientes no mercado

de trabalho, tornou-se motivo de polêmica. As empresas aderiram a contratação dos

portadores de deficiência, mas encontraram dificuldades. Numa primeira instância,

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criaram-se setores exclusivos para deficientes, o que caracterizou-se em uma atitude

segregativa. As empresas foram obrigadas mais uma vez a rever sua posição em

relação ao deficiente, e posicioná-los em cargos que remetessem às potencialidades

dos mesmos. Mas o recrutamento de profissionais com deficiência qualificados não é

tarefa fácil, já que os mesmos sofrem com a exclusão desde a época escolar, e a

maioria dos deficientes não concluiu o ensino médio (Mendonça e Pardini, 2007).

O recurso metodológico usado nessa pesquisa, foi a coleta de informações

através da literatura especifica na área de Terapia Ocupacional, deficiência física, do

trabalho e do trabalhador, e entrevistas.

O terapeuta ocupacional é um profissional que pode auxiliar na interação

empregador/deficiente, já que se embasa em conceitos holísticos e tem

conhecimentos na área da saúde e da sociedade.

Por esses e outros motivos, os portadores de deficiência precisam ser tratados

com mais igualdade, no que contemporaneamente se denomina inclusão. Os

empregadores precisam acreditar no potencial dos deficientes físicos, e não nas suas

incapacidades, para que assim possa haver uma interação saudável e produtiva entre

os mesmos.

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1 DEFICIÊNCIA FÍSICA

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Deficiência Física é a alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos

do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física,

apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia,

monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia,

hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros

com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e

as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções. (GIL,

2002).

Podem ser causadas por paralisia cerebral (prematuridade, anóxia perinatal,

desnutrição materna, rubéola, toxoplasmose, trauma de parto, subnutrição,

etc.); hemiplegias (acidente vascular cerebral, aneurisma cerebral, tumor

cerebral, etc.); lesão medular (ferimento por arma, acidentes de trânsito,

traumatismos, processos infecciosos, processos degenerativos, etc);

amputações (causas vasculares, traumas, malformações congênitas, causas

metabólicas); e artropatias (processos inflamatórios, degenerativos, alterações

biomecânicas, distúrbios metabólicos).

As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou

em conjunto, podem produzir quadros de limitações físicas de grau e gravidade

variáveis, segundo o(s) segmento(s) corporais afetados e o tipo de lesão

ocorrida.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 19??), em tempos de paz,

10% da população de países desenvolvidos são constituídos de pessoas com

algum tipo de deficiência. Para os países em vias de desenvolvimento estima-

se de 12% a 15%. Destes, 20% seriam portadores de deficiência física.

Considerando-se o total dos portadores de qualquer deficiência, apenas 2%

deles recebem atendimento especializado, público ou privado. (Ministério da

Saúde - Coordenação de Atenção a Grupos Especiais, 1995).

No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,

2000), foram identificados 24.5 milhões de pessoas com algum tipo de

deficiência, ou seja, 14.5% da população brasileira. Desses 14,5%, os IBGE

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revela que 48.1% possui deficiência visual, 22.9 % deficiência motora, 16.7%

auditiva, 8.3% possui deficiência mental e 4.1% deficiência física.

Nesse trabalho, o foco será para os deficientes físicos adultos, que se

enquadram na população com idade coerente à inserção no mercado de

trabalho..

1.1 PESSOAS ADULTAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA

O termo portador de deficiência vem sendo questionado, e atualmente

seu uso tem sido desaconselhado, como considera Sassaki (2006):

A tendência é no sentido de parar de dizer ou escrever a palavra “portadora” (como substantivo e como adjetivo). A condição de ter uma deficiência faz parte da pessoa e esta pessoa não porta sua deficiência. Ela tem uma deficiência. Tanto o verbo “portar” como o substantivo ou o adjetivo “portadora” não se aplicam a uma condição inata ou adquirida que faz parte da pessoa. (...) Uma pessoa só porta algo que ela possa não portar, deliberada ou casualmente. A quase totalidade dos documentos, (...), foi escrita e aprovada por organizações de pessoas com deficiência que, no atual debate sobre a Convenção da ONU a ser aprovada em 2003, estão chegando ao consenso quanto a adotar a expressão “pessoas com deficiência” em todas as suas manifestações orais ou escritas. (SASSAKI, Romeu. 2003).

O conceito de deficiência inclui a incapacidade relativa, parcial ou total,

para o desempenho da atividade dentro do padrão considerado normal para o

ser humano. A pessoa com deficiência pode desenvolver atividades laborais

desde que tenha condições e apoios adequados às suas características.

Existe uma diferença entre nascer deficiente e tornar-se deficiente. O

modo de encarar a realidade é diferente em cada situação. Geralmente, quem

adquire uma deficiência, após o período de reabilitação, utiliza-se de suas

capacidades para a maior independência possível. Já quem nasce com alguma

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deficiência, já pela sua história de vida, é acostumado com o assistencialismo e

as vezes utiliza-se de sua incapacidade para justificar as dificuldades

encontradas, essas que podem ser superadas com algum esforço.

E de acordo com o IBGE (2000), a chance de um indivíduo tornar-se um

deficiente aumenta proporcionalmente à idade. Esse crescimento se dá pelo

aumento dos riscos a que o indivíduo está sujeito no decorrer da vida, como a

aquisição de doenças transmissíveis, acidentes com lesões e traumas devido a

violência urbana, acidentes automobilísticos, acidentes de trabalho, doenças

degenerativas, entre outras.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), na Declaração dos

Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiências (Resolução nº 2.542/75), a

pessoa com deficiência é aquela que, devido aos seus déficits físicos ou

mentais, não está em pleno gozo da capacidade de satisfazer, por si mesmo,

de forma total ou parcial suas necessidades vitais sociais como faria um ser

humano “normal”.

As pessoas com deficiência possuem necessidades especiais que as

distinguem das outras. Desta forma, é importante compreender que, além dos

direitos relativos a todos, as pessoas com deficiência devem ter direitos

específicos, que compensem, na medida do possível, as limitações e/ou

impossibilidades a que estão sujeitas.

1.2 LEGISLAÇÃO TRABALHISTA DOS DIREITOS DOS DEFICIENTES FÍSICOS

A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), no

décimo dia de Maio de 1944, reuniu-se na Filadélfia na sua vigésima sexta

sessão e criou a Declaração Relativa aos Fins e Objetivos da Organização

Internacional do Trabalho, denominada Declaração da Filadélfia. Esta dispõe

que “todos os seres humanos de qualquer raça, crença ou sexo tem direito de

perseguir seu bem-estar material e seu desenvolvimento espiritual com

liberdade e dignidade, segurança econômica e iguais oportunidades”.

Portanto, toda pessoa com deficiência física tem assegurado seu direito ao

emprego remunerado. Porém, sabe-se que as dificuldades encontradas pelo

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deficiente físico ao buscar um lugar no mercado de trabalho são muitas. É

verdade que ao empresário, o que interessa é a capacidade produtiva do

candidato ao emprego, mas num país onde o preconceito cultural vigora na

sociedade, o portador de deficiência física defronta-se com mais esta barreira.

A Lei 7.716 de 5 de Janeiro de 1989, (anexo IV) caracteriza o preconceito

como crime e define, em seu artigo 3º, pena de reclusão de um a três anos e

multa os crimes resultantes de discriminação ou preconceito. Mas a proibição

de qualquer procedimento discriminatório na admissão do portador de

deficiência física não foi suficiente para incluí-lo parcialmente no mercado de

trabalho.

Em decorrer disto, em 1991 foi acrescentada à Lei de Benefícios da

Previdência Social (LBPS) – Lei 8.213, de 24 de julho de 1991 (anexo II), uma

norma que introduziu o sistema de quotas no preenchimento de cargos de uma

empresa.

Segundo o artigo 93 da LBPS: A legislação determina uma cota de 2% a 5%

dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras

de deficiências nas empresas com 100 ou mais empregados, nas

seguintes proporções: até 200 empregados, 2%; de 201 a 500, 3%;

de 501 a 1.000, 4%; e de 1.001 em diante, 5%.

“§ 1º A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final

de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada,

no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de

substituto de condição semelhante.

§ 2º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social deverá gerar estatísticas

sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por reabilitados e

deficientes habilitados, fornecendo-as, quando solicitadas, aos sindicatos ou

entidades representativas dos empregados." (onde se lê Ministério do Trabalho

e da Previdência Social leia-se Ministério da Previdência e Assistencial Social,

por força do que dispõe a Lei 9.469/98, em seu artigo 13, inciso XVI)”.

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O não cumprimento de qualquer dispositivo desta Lei, de acordo com o Art.

133, sujeita o responsável, conforme a gravidade da infração, à multa variável

de R$ 636,17 (seiscentos e trinta e seis reais e dezessete centavos) a

R$63.617,35 (sessenta e três mil seiscentos e dezessete reais e trinta e cinco

centavos), valores atualizados pela Portaria MPAS nº 4.479, de 4.6.98, a partir

de 1º de junho de 1998.

Para a reserva legal de cargos, existem conceitos que definem a

deficiência. No Brasil há duas normas internacionais devidamente ratificadas, o

que lhes confere status de leis nacionais, que são a Convenção nº 159/83 da

OIT, e a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, também

conhecida como Convenção da Guatemala, de 1999. Ambas conceituam

deficiência, para fins de proteção legal, como uma limitação física, mental,

sensorial ou múltipla, que incapacite a pessoa para o exercício de atividades

normais da vida e que, em razão dessa incapacitação, a pessoa tenha

dificuldades de inserção social.

Sobre esse segmento, existe o Decreto nº 3.298/99, cuja redação foi

atualizada após longas discussões no Conselho Nacional dos Direitos da

Pessoa Portadora de Deficiência (CONADE), pelo Decreto nº 5.926/04.

No seu Art. 3º, o referido decreto considera:

I – deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função

psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o

desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser

humano;

II – deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou

durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter

probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos (Decreto nº

3.298/99, art. 3º, II); e

III – incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de

integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou

recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber

ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar e ao desempenho de

função ou atividade a ser exercida (Decreto nº 3.298/99, art. 3º, III).

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Sendo assim, o sujeito assegurado da reserva de cargos pode se inserir

em uma ou mais das classificações acima descritas. Porem, a legislação não é

suficiente para garantir que a inclusão seja efetuada de forma concisa. O

mercado de trabalho não está totalmente apto a receber deficientes físicos,

algumas alterações / adaptações se fazem necessárias, tanto no mercado de

trabalho, quanto com os empregadores, demais funcionários e com o deficiente

que será inserido nesse mercado.

1.3TERAPIA OCUPACIONAL NO CONTEXTO DA REABILITAÇÃO FÍSICA

A atuação da Terapia Ocupacional na Reabilitação Física nasceu

atrelada à história da 2ª guerra mundial, atendendo aos sequelados de guerra,

privilegiando o cuidado aos problemas motores da incapacidade física, tendo

como foco da intervenção a reabilitação centrada na patologia, com a finalidade

principal de ensinar o paciente a viver dentro dos limites de sua incapacidade

(Lima, 2007). Ao longo do tempo, esse profissional foi ampliando seu campo de

conhecimento, e o surgimento de especialidades acompanhou os avanços

tecnológicos de saúde. Esse movimento permitiu ao terapeuta ocupacional

assumir novas e importantes dimensões.

O terapeuta ocupacional que trabalha na área da reabilitação física tem

por objetivo habilitar ou reabilitar o indivíduo que apresenta uma limitação ou

deficiência em seu desempenho ocupacional(de Carlo, 2001).

Usando o modelo de reabilitação, a Terapia Ocupacional focaliza mais

as áreas de desempenho. A meta do programa é minimizar os obstáculos da

deficiência. O terapeuta ocupacional deve avaliar as capacidades do paciente e

determinar como superar os efeitos da deficiência. A proposta é compreender

elementos da reabilitação física que sejam exclusivos do processo da

atividade, do fazer.

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Ao abordar de modo mais direto a disfunção motora do paciente, o terapeuta ocupacional faz uso de diversos tipos de atividades, como os exercícios, técnicas de manipulação corporal ou de reabilitação propriamente ditas; de equipamentos específicos, como os usados para a mobilização, estabilização, adaptação etc., que traduzem a objetividade da sua proposta e dos seus procedimentos de tratamento. (de Carlo, 2001, p.138).

Pedretti (2004) define desempenho ocupacional como o campo de

atuação da Terapia Ocupacional, sendo que seus componentes são as áreas

de desempenho e os contextos de desempenho.

1.3.1 Análise do desempenho ocupacional

As ocupações podem sem classificadas em três áreas de desempenho

ocupacional, sendo elas as atividades de vida diária (AVD), atividades de

trabalho e produtivas, a atividades lúdicas e de lazer (Pedretti, 2005).

Além disso, o desempenho em ocupações pode ser considerado em termos de componentes de desempenho, ou seja, as habilidades ou funções subjacentes que apóiam a capacidade de desempenho. A ocupação também ocorre dentro de um contexto de desempenho, que tem dimensões temporais e ambientais (Pedretti, 2005, p.126).

A meta deve ser auxiliar e apoiar o paciente, por meio de todos os

recursos técnicos e tecnológicos disponíveis, a fim de encontrar seu nível

máximo de satisfação pessoal, com relação a sua vida ocupacional (Gollegã,

Luzo e de Carlo, 2001).

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Na reabilitação física, o terapeuta ocupacional dispõe de recursos e

desenvolve procedimentos terapêutico-ocupacionais que atuam também sobre

a mente do paciente, e pode promover sua inserção social (de Carlo, 2001).

1.4 A PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA E O MERCADO DE TRABALHO

O processo seletivo de contratação de pessoas com deficiência física deve ser

igual ao das demais pessoas. O contratante deve estar ciente que o deficiente físico é

um candidato como outro qualquer, e nele devem ser enxergadas as suas habilidades

profissionais, e não suas limitações.

Porém, encontrar mão-de-obra qualificada é um desafio, pois as empresas

devem localizar, contratar e treinar esses profissionais, além de preparar, muitas

vezes modificar, criar e adaptar os locais de trabalho para receber o deficiente. E a

falta de conhecimento sobre o potencial dessa população, o despreparo dos demais

funcionários, falta de informação sobre onde recrutar e falta de conhecimento técnico

do recrutamento são fatores que dificultam ainda mais a absorção da mão-de-obra da

pessoa com deficiência física.

Ao disponibilizar um cargo a uma pessoa com deficiência, a empresa deve

viabilizar a contratação, considerando suas peculiaridades. O empregador deve

considerar também, que antes de ser criada a Lei de Cotas, poucas eram as

empresas que contratavam essa população, portanto a exigência de experiência torna

inviável a contratação, assim como a escolaridade. Sendo assim, quando necessária

e experiência, a própria empresa deve oportunizar que a pessoa adquira internamente

tais habilidades.

Não recomenda-se criar oportunidades em setores somente para cumprir a

determinação da lei, e/ou deixar as pessoas com deficiência em um setor isolado na

empresa, pois essa é uma atitude segregacionista, que não permite a integração

social e o progresso no emprego. Tal atitude pode configurar uma espécie de fraude

contra a Lei de Cotas, que foi criada justamente para abrir o mercado de trabalho para

um segmento que não consegue competir em igualdade de condições com as demais

pessoas (art. 36, alínea “c”, da Recomendação nº 168 da OIT, c/c item 4 do

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Repertório de Recomendações Práticas da OIT: Gestão de questões relativas à

deficiência no local de trabalho).

A empresa não deve limitar-se também a contratar apenas um tipo único de

deficiente, ou concentrar-se em pessoas com deficiência leve. Tal ato pode ser

considerado como discriminatório, uma vez que a legislação foi criada para garantir o

acesso ao trabalho à todas as categorias de deficiência (art. 7º, XXXI, da Constituição

Federal, c/c art. 4º da Recomendação nº 168 da OIT).

Após todos os obstáculos percorridos pelo deficiente, ao ser contratado, ele

encontra mais dificuldades.

A primeira dificuldade são as barreiras arquitetônicas, que são todas as

limitações que as pessoas portadoras de deficiência encontram no seu dia a dia, e

que as impedem de exercer o mais básico direito de qualquer cidadão: ir e vir.

Portanto, mudanças no espaço físico se fazem necessárias, e para isso existe a

Análise Ergonômica do Trabalho (AET). Segundo Ferreira (1999), esta análise propõe

um processo de ações para a resolução de uma demanda, com base nos critérios de

segurança, eficiência e bem estar dos trabalhadores nas situações de trabalho.

A demanda é o ponto de partida de toda análise ergonômica do trabalho, a sua análise permite compreender a natureza e a dimensão dos problemas apresentados, assim como elaborar um plano de intervenção para abordá-los. (...) A análise da demanda permite a definição do contrato e a delimitação da intervenção (...). (SANTOS, N.,1997).

O levantamento de informações para formular a demanda pode ser obtido por

meio de visitas à empresa, que possibilitam observar e conhecer a estrutura

organizacional e o processo produtivo.

De acordo com Lancman (2004), para a resolução da demanda, utiliza-se a

análise da atividade, a fim de conhecer as características específicas do cargo

exercido pelo deficiente (motoras, cognitivas, sensoriais, etapas/subtarefas, ciclo

fundamental da tarefa, invariabilidade, repetitividade, monotonia, fragmentação, entre

outras). Lima (1999), pondera que

a análise da atividade de trabalho tem como objetivo identificar o que, o como e o porque do trabalho dos operadores, sendo necessário, portanto, um longo período de observação para compreender a atividade de alguém, utilizando-se de técnicas compatíveis com a natureza do que é observado. Além disso, ao analisar a atividade real dos trabalhadores, devem-se considerar como

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estes são apresentados e percebidos pelos próprios, sendo a articulação desses elementos a representação do trabalho real. (Lima, 1999).

Lancman (2004) afirma que após serem traçados e implantados os objetivos,

mudanças e recomendações necessárias ao posto de trabalho, é de fundamental

importância a participação dos trabalhadores, porque, sem eles, não seria possível

implantá-las durante o processo e na posterior manutenção, visto que o processo de

implantação engloba várias fases, como a de adaptação, treinamento,

desenvolvimento de novas tarefas, entre outras.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) fixa padrões e critérios

visando proporcionar às pessoas com deficiência confortos como:

Condições adequadas de acesso, condições seguras de acesso à edificações, mobiliário, espaço e equipamentos urbanos. Equipamentos urbanos e mobiliário urbano. Circulação, dimensões e limites, janelas, esteiras rolantes, vestiários, acessos, piso, rampas, portas e sanitários. (AACD, p 937, 2007).

Após serem quebradas as barreiras arquitetônicas, o deficiente encontra as

barreiras atitudinais. Para prevenir que a pessoa com deficiência seja tratada de

forma preconceituosa pelos demais funcionários, o empresário deve sensibilizar seu

quadro funcional no sentido de eliminar preconceitos e estereótipos e outras atitudes

que atentam contra o direito das pessoas a serem iguais. Permitindo, dessa forma, o

respeito e a convivência com as pessoas com deficiência (art. III, item 2, alínea “c”,da

Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação

contra as Pessoas Portadoras de Deficiência).

Há também o problema da escolaridade, Mendonça e Pardini (2007) afirmam

que a maior porcentagem da população com deficiência física não tem os estudos

concluídos, ou seja, tem o 2º grau incompleto, sem cursos profissionalizantes e/ou

experiências anteriores, dificultando a integração profissional, já que o mercado de

trabalho, em sua maioria, exige 2º grau completo, alem de cursos e experiências.

A dificuldade de transporte também é observada, pois muitos deficientes

físicos, apesar de estarem aptos a serem encaminhados, encontram dificuldades de

locomoção devido à escassez de ônibus adaptados (Mendonça e Pardini, 2007).

Atualmente, a empresa que oportuniza vagas para pessoas com deficiência,

enfrenta dificuldades, mas também alcança benefícios importantes. O principal deles

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é a imagem empresarial. Segundo a pesquisa de Responsabilidade Social das

Empresas – Percepção do Consumidor Brasileiro, realizada pelo Instituto Ethos, em

2001, 43% dos entrevistados declararam que a contratação dessa população está em

primeiro lugar entre as atitudes que a estimulariam a comprar mais produtos de

determinada empresa (Instituto Ethos de Responsabilidade Social, 2007). Portanto a

empresa passa a contar com a aprovação de seus consumidores.

1.4.1 A Realidade Sobre o Acesso do Deficiente Físico ao Mercado de Trabalho

De acordo com o censo de 2003, o Brasil possui 174 milhões de habitantes,

onde 17,4% são deficientes e de cada 100 brasileiros, pelo menos quatorze

apresentam alguma limitação física (ROZICK 2003). Esse percentual corresponde a

aproximadamente 24,5 milhões de pessoas, cuja média de empregabilidade é de

apenas 2,05% (NERI; CARVALHO; COSTILHA, 2002).

De acordo com Martins (2003), as pessoas com deficiência representam uma

minoria na sociedade, o que favoreceu a sua marginalização e exclusão ao longo dos

tempos, inclusive do acesso à educação, o que ocasionou, de forma mais ampla, a

privação dessas pessoas de uma série de bens culturais e intelectuais, prejudicando-

as no seu processo de inserção social e trabalhista.

Atualmente, na maioria das empresas contratantes de pessoas com

deficiência, vive-se uma fase de integração, onde diversas modalidades de trabalho

são oferecidas a elas, como o trabalho plenamente integrado, no qual as pessoas

com deficiência trabalham em setores de empresas públicas ou privadas sem que

haja qualquer reestruturação ambiental ou cultural da própria empresa para receber

tais funcionários; trabalho integrado, no qual as empresas se dispõem a fazer

pequenas alterações em seu espaço físico ou nos postos de trabalho para favorecer a

colocação desses funcionários; e trabalho semi-integrado, em que as pessoas com

deficiência trabalham em setores exclusivos das empresas, portanto segregativos,

com ou sem alterações (AMARAL, 1993, citada por SASSAKI, 1997). Essa realidade

não pode ser chamada de inclusão, uma vez que, mesmo fazendo parte do mercado

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de trabalho, a pessoa com deficiência ainda encontra barreiras que às segregam das

demais pessoas.

O ideal é que empregadores, instituições formadoras e pessoas com

deficiência enfrentem juntos os desafios da qualificação, da produtividade e da

competitividade. No Brasil, a profissionalização dessa população tem sido oferecida,

prioritariamente, por instituições especializadas, por centros de reabilitação e por

associações de pessoas deficientes. As modalidades de profissionalização oferecidas

vão desde o treinamento para a colocação em emprego competitivo até o programa

de emprego apoiado, passando por alternativas como o trabalho protegido (oficinas),

ou programas de pré-profissionalização (SASSAKI, 1997).

1.4.2 Estatísticas de Curitiba

Em pesquisa realizada em Curitiba no ano de 2006, sobre a visão de empresas

e instituições educacionais especiais acerca da inclusão de deficientes no trabalho

(ARAUJO, 2006), apenas 13% das empresas pesquisadas cumpriam a Lei de Cotas

para contratação de pessoas com necessidades especiais. Observou-se também que

quanto maior o número de funcionários na empresa, maior o número de vagas não

preenchidas por pessoas com necessidades especiais. Na maioria das empresas

(56% delas) os cargos ocupados por pessoas com deficiência eram operacionais.

Quando perguntadas sobre o motivo que as levava à contratação de pessoas

com necessidades especiais, cerca de 42% das empresas fez alusão à exigência da

Lei de Cotas, e 31% delas alegou a contratação em função de sua política de

responsabilidade social. As demais empresas responderam que as contratações eram

feitas porque os profissionais atendiam as exigências da empresa (18%) ou porque os

dirigentes da empresa tinham consciência da necessidade de inclusão de pessoas

com deficiência no mercado de trabalho (9%).

Sobre o perfil das pessoas com deficiência contratadas, foram traçadas as

principais exigências ou preferências das empresas para a seleção de candidatos.

Observou-se que cerca de 43% das empresas exigiam, no mínimo, Ensino

Fundamental completo dos candidatos, e 33% exigiam Ensino Médio (completo ou em

curso). Possivelmente em função dessa exigência de escolarização, a deficiência

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física foi a necessidade especial mais presente nas empresas, com 40% do quadro

de funcionários deficientes contratados.

Para o recrutamento de candidatos, as empresas, em geral, afirmaram procurar

os serviços de agências de emprego (56%), incluindo, aí, os serviços do SINE,

agência de empregos ligada ao Governo Federal. Apenas 15% das empresas fizeram

referência a convênios com instituições educacionais para pessoas com deficiência.

Perguntadas sobre a existência de programas de treinamento ou

acompanhamento de pessoas com deficiência no trabalho, 53% das empresas

respondeu possuir esse tipo de programa. As demais não citaram qualquer ação

nesse sentido.

Todas as empresas participantes afirmaram ter dificuldades para contratar

pessoas com deficiência. Dentre as mais citadas pelas empresas, três estavam

relacionadas ao candidato em si: 30% das respostas fizeram alusão à sua baixa

escolaridade, 16% à sua qualificação profissional ruim e 6% fizeram menção a

possíveis problemas de conduta. Interessante notar que 25% das empresas

afirmaram existir pouca oferta de mão-de-obra no mercado, afirmação que se choca

com a taxa de desemprego encontrada entre as pessoas adultas deficientes físicas.

Tais dados deixam claro a carência da intervenção de um profissional

habilitado para colaborar no processo de inserção do deficiente, trabalhando desde a

adaptação de ambientes (caso necessário) até a conscientização e orientação das

pessoas envolvidas.

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2 TERAPIA OCUPACIONAL E A INCLUSÃO DO ADULTO DEFICIENTE FÍSICO NO MERCADO DE TRABALHO

A Terapia Ocupacional teve importante evolução na área da reabilitação física

e mental após a 1ª e 2ª Guerra Mundial, em vista do aumento de pessoas com

incapacidades física e/ou mental (Watanabe e Gonçalves, 2004). Essa evolução

aconteceu voltada para a melhoria da eficiência e eficácia do desempenho do

indivíduo no exercício de sua função. Spackman (2002) defende o uso da atividade

como exercício para reestruturar a função física.

Watanabe e Gonçalves (2004) relatam que no Brasil, nessa época, os

terapeutas ocupacionais reabilitavam os mutilados brasileiros de acidentes de

trabalho e doenças profissionais, porém, os pacientes/trabalhadores não eram

entendidos como sujeitos dos processos de investigação e intervenção. Em 1994, a

Associação Sueca de Terapeutas Ocupacional definiu que a natureza, saúde e

atividades das pessoas sejam suas experiências e conhecimento sobre o mundo que

as rodeia, que pressupõem atividade e quem elas tenham natureza ativa e sejam

essencialmente autônomas e sociais. A partir disso, a referida Associação definiu

como propósitos da Terapia Ocupacional o desenvolvimento e manutenção das

capacidades ativas dos pacientes, de acordo com seus desejos e necessidades e em

relação às demandas sociais (Watanabe e Gonçalves, 2004).

Na área da Saúde e Trabalho no Brasil, na cidade de São Paulo, em 1898

foram criados centros de referências especializados em Saúde do Trabalhador, e

após isso nas outras grandes capitais também. E os terapeutas ocupacionais estavam

inseridos nessas equipes desde o início, desenvolvendo ações nas áreas de

assistência aos trabalhadores já adoecidos, vigilância aos ambientes de trabalho e

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ações educativas e de formação e capacitação de outros profissionais. (Watanabe e

Gonçalves, 2004).

Tendo em vista a evolução da Terapia Ocupacional na área de saúde e

trabalho, e as definições sobre a profissão nessa área, a inclusão profissional de

deficientes físicos está inserida nos objetivos da Terapia Ocupacional.

A inclusão do deficiente físico no mercado de trabalho pode se dar num plano

econômico, servindo à subsistência, mas não se realizar no plano social, podendo

haver a integração econômica ao lado da desintegração moral e social. Martins

(1997), adota a expressão inclusão, precária para denominar formas comumente

chamadas de exclusão social. Tissi (1998) defende que, no plano da sociabilidade -

integração/ desintegração moral e social, a inserção no trabalho promove a ampliação

das relações sociais, pessoais ou comerciais, sejam boas ou ruins, fazendo oposição

ao isolamento. Numa outra perspectiva, permite aos adultos com deficiência física

superar qualidades socialmente desvalorizadas atribuídas às pessoas com

deficiência, alcançando condições materiais que favorecem a independência de

terceiros para a sobrevivência e o estabelecimento de vínculos sociais, opondo-se

assim ao isolamento, à dependência, à pobreza e ao abandono. São dadas, ainda,

condições que lhes permitem confrontar as representações sociais das deficiências,

num processo de flexibilização dos parâmetros culturais de normalidade, em que

refazem suas concepções acerca da deficiência e de si mesmos.

Por outro lado há processos excludentes que se manifestam no seu interior,

vinculados a um processo mais geral desencadeado na sociedade, que denominamos

exclusão social. No sentido dado por Sposati (1996), a exclusão é um processo

social, uma lógica presente nas várias formas de relações econômicas, sociais,

culturais, políticas e que inclui a subalternidade, a não equidade, a não acessibilidade

e a não representação pública. A análise do profissional terapeuta ocupacional sobre

a inclusão do adulto deficiente físico no mercado de trabalho ilustra como se dão

estes processos de exclusão.

Além das questões financeiras que um emprego aborda, existem outros valores

envolvidos. As representações que o trabalho distingue na vida de um trabalhador é,

sobretudo sua simbolização social, no qual está sendo enfocada como um valor e um

bem maior, no qual se dá um sentido de utilidade na sociedade. O trabalho é visto,

pelo trabalhador, como uma forma de fazer-se útil e se edificar na sociedade. Bezerra

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(2005) relata que a construção simbólica da categoria do trabalho esteve sempre

ligada a construção da noção de indivíduos úteis a sociedade. Nesse contexto são

considerados os pobres trabalhadores em dignos e virtuosos, por serem

trabalhadores, e os pobres indignos, ou seja, que não pertencia a classe dos

trabalhadores, eram considerados os que cedem aos vícios e a delinqüência, portanto

os vagabundos de vida fácil, o avesso do trabalho.

Costa (2006), afirma que o trabalho integra, o trabalho socializa, e o trabalho

redime. Diz ainda que estas afirmações estão presentes no pensamento social e

forjam uma sociabilidade que ata trabalho e trabalhadores. Segundo ela, o trabalho

torna-se um poderoso instrumento de integração social.

O terapeuta ocupacional, como pondera Cavalcanti (2007), não apenas deseja

e busca a participação social com um fim, mas trabalha de maneira tecnicamente

condizente com propostas que envolvem, já na sua execução, a participação ativa

dos envolvidos. Esse profissional pode contribuir de maneira qualificada com a

viabilização de ações voltadas à inclusão e à participação ativa das pessoas com

deficiência física no mercado de trabalho, pois tem uma visão ampliada sobre a

questão da acessibilidade dos serviços e das comunidades, seja da sua organização

ou das barreiras arquitetônicas e/ou psicossociais presentes do território.

Acerca da inclusão do deficiente físico no mercado de trabalho, Mendonça e

Pardini (2007) defendem que a orientação profissional é fundamental, e o Terapeuta

Ocupacional é um profissional habilitado a fazer tal orientação, contato com

instituições e empresas prestadoras de serviço, pesquisar vagas no mercado de

trabalho, realizar encaminhamentos de acordo com o perfil profissional exigido pela

empresa, reavaliação após encaminhamento e suporte aos deficientes e

empregadores durante o período de experiência e efetivação do cargo. Isto pois esse

profissional tem em sua base de conhecimento ciências sociais e de saúde.

O terapeuta ocupacional observa a necessidade de ajustar o deficiente físico

ao trabalho,

orientando-o na escolha da profissão, encaminhando-o para cursos profissionalizantes, como na procura de oportunidades profissionais condizentes com suas aptidões, interesses, motivações e ofertas do mercado de trabalho. O objetivo do terapeuta ocupacional é fazer com que o deficiente físico possa se sentir respeitado, valorizado, com auto-estima e auto-imagem preservadas, a fim de se tornar um indivíduo ativo e produtivo, obtendo assim

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a oportunidade de desenvolver seus potenciais. (Mendonça e Pardini, 2007, pg 935).

Existe também a necessidade de adequar o trabalho ao deficiente, fazendo uso

de adaptações arquitetônicas, palestras esclarecedoras aos demais funcionários e

colaboradores, e trabalhos de conscientização. Pois os deficientes físicos vão de

encontro com estas dificuldades, e que podem não serem solucionadas sem a

intervenção de um profissional qualificado.

Para Sassaki (2006), uma empresa pode facilitar a inclusão de deficientes

físicos utilizando-se da revisão dos programas de treinamento e desenvolvimento de

recursos humanos; revisão da filosofia da empresa; capacitação das pessoas

responsáveis pelo recrutamento de funcionários e revisão desse sistema; adapatação

de locais de trabalho, aparelhos, máquinas, ferramentas e equipamentos (ergonomia);

adoção de esquemas flexíveis no horário de trabalho; criação de empregos a partir de

cargos já ocupados; realização de seminários internos de sensibilização dos

empregadores; cumprimento da legislação relacionada ao trabalho; adoção de

esquemas de prevenção de acidentes e moléstias ocupacionais; informatização da

empresa; participação da empresa em conselhos municipais e estaduais de direitos

de pessoas deficientes; aquisição de produtos da tecnologia assistiva que facilitem o

desempenho profissional de empregados com deficiência severa; participação da

empresa no sistema de colocação em empregos competitivos.

De acordo com Mendonça e Pardini (2007), o suporte aos contratantes e

contratados durante o período de experiência e efetivação de cargo é de fundamental

importância para o trabalho de qualidade, pois dessa forma é possível acompanhar o

desenvolvimento profissional e emocional das partes envolvidas.

No processo de inclusão profissional, o deficiente físico tem papéis que devem

ser desempenhados por eles. Papéis que consistem de atividades de cuidados

pessoais, de auto-realização e desenvolvimento pessoal. Trombly (2005) afirma que

cada indivíduo atribui significados e valores diversos a seus papéis. Características

específicas do ambiente apóiam ou prejudicam a satisfação com papéis valorizados

dentro de casa, na comunidade ou local de trabalho.

Segundo Pedretti (2005), o papel do trabalhador é o foco principal da

intervenção da Terapia Ocupacional.

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Qualquer atividade que contribua para os bens e serviços da sociedade, quer sejam pagos ou não, é considerada uma atividade profissional. O trabalho deve ter um propósito e ter significado, tanto para o individuo quanto para a sociedade. Envolver-se com o trabalho é considerado como uma atividade produtiva e, como tal, um objetivo da intervenção da Terapia Ocupacional. (Pedretti e Early, 2005, pg 243).

O terapeuta ocupacional intervém, então, sobre ou pela ação, atitude, fazer,

produto, isto é, sobre a relação do trabalhador e seu trabalho, contextualizando no

ambiente e na cultura organizacional, considerando a avaliação e a análise da

atividade da atividade, seu principal recurso.

Pinto (1990), conclui que o terapeuta deve possibilitar aos trabalhadores

perceberem, conhecerem e sentirem as suas necessidades, aspirações, limitações e

habilidades, pois almeja-se a transformação dos indivíduos em cidadãos, atores e

autores da história, via concomitante tentativa de transformação do trabalho produtivo.

A intervenção está, então, na busca de uma prática terapêutica que objetive

promover saúde, qualidade de vida, reinserção social e profissional da pessoa, como

um direito de cidadão e trabalhador, “como uma resposta a uma necessidade de

reconstrução subjetiva, como produtividade social, como meio para reconstrução de

uma identidade em relação com a capacidade de troca” (Nicácio, 1989), o que ocorre

reapropriando-se dos objetos de trabalho, a fim de que se redescubra e reafirme suas

habilidades.

2.1 ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL NA INCLUSÃO DO ADULTO

DEFICIENTE FÍSICO NO MERCADO DE TRABALHO

A Terapia Ocupacional está envolvida com a inclusão / reinserção profissional

desde os primórdios da profissão, no início do século XX (Pedretti, 2005). O uso, na

profissão, de conceitos holísticos, análise de tarefas e atividades, como modalidades

terapêuticas, são razões para seu histórico bem sucedido e um papel central em

programa de trabalho. Os terapeutas ocupacionais são treinados em ciências físicas,

cognitivas e comportamentais e têm as habilidades necessárias para desenvolver um

papel vital na inclusão profissional.

Trombly (2005) menciona que os terapeutas ocupacionais, são exclusivamente

qualificados para ajudar os deficientes físicos no trabalho. Um objetivo fundamental

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da Terapia Ocupacional é facilitar o nível mais alto de status do deficiente em todas

as ocupações e contextos da vida, abrangendo as dimensões física, emocional,

social, cognitiva e comunicativa.

Os terapeutas ocupacionais reconhecem que a inclusão bem sucedida dependerá provavelmente da função adequada em muitos aspectos da vida, não apenas do desempenho da tarefa no local de trabalho. Os terapeutas ocupacionais utilizam seu conhecimento do desempenho e da mente humana para determinar se os impedimentos para o trabalho são físico, psicossociais ou ambos. Eles também utilizam seu conhecimento de psicologia humana para discernir possíveis motivações para o cliente obter o bem estar. (Trombly, 2005, pg 719).

A prática do terapeuta ocupacional na inclusão profissional do deficiente físico

pode ser classificada em etapas, que consistem na orientação sobre a escolha da

profissão, pesquisa de vagas e possibilidades de atuação desse sujeito, preparação

para o trabalho, preparação do ambiente e dos demais funcionários para receber o

deficiente.

Diante disso, o terapeuta ocupacional poderá intervir no coletivo, respeitando

as diferenças individuais e amenizando ou evitando sobrecarga física e mental,

mediante atividades ferais e terapêuticas:

de conscientização, orientação e ação, buscando hábitos e atitudes pessoais e profissionais mais salutares em relação aos fatores de risco, à postura nas atividades estáticas e dinâmicas. (...); de manutenção e adaptação de mobiliários, equipamentos, ferramentas e layout; de melhoria da organização, condições e ambiente de trabalho; de envolvimento, compreensão e comprometimento dos funcionários na interdependência do processo de trabalho, contribuindo na construção da identidade e responsabilidade profissional e motivação para com a saúde e trabalho. (Watanabe e Gonçalves. pg 161).

As metas da preparação do deficiente físico para inclusão no trabalho, de

acordo com Pedretti (2005), focalizam o objetivo final de maximizar a capacidade do

trabalhador, de tal forma que possa atingir níveis ótimos em tolerância física e

capacidade, maximizar o funcionamento cognitivo e psicossocial, desenvolver

comportamentos apropriados no trabalhador, reduzir o medo e aumentar a confiança

no trabalho produtivo e identificar problemas que possam necessitar de colocação em

um emprego / função alternativo.

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Citando ainda Pedretti (2005), o processo de preparação para a inclusão

profissional proporciona um vínculo holístico e realístico entre as capacidades e as

limitações de um trabalhador lesado e as demandas essencialmente físicas de um

emprego. O desenvolvimento de um programa individualizado de preparação para o

trabalho começa com uma análise do emprego específica para determinar as

principais tarefas do emprego.

A terapia orientada ao trabalho, prossegue sob a cobertura de prática

profissional por exigir um misto de habilidades especializadas na avaliação e reunião

de dados com raciocínio clínico e tratamento comportamental. A aplicação das

habilidades e conhecimentos da Terapia Ocupacional ao processo é desafiadora

devido à necessidade de utilizar conhecimentos físico e biomecânico em conjunto

com conhecimentos cognitivo e psicossocial.

Os terapeutas especializados na habilitação ao trabalho, segundo Trombly

(2005), devem desenvolver habilidades de observação e comunicação claramente

compreendidas pelo cliente / trabalhador, supervisor, representantes de seguros e

profissionais médicos. Eles devem sentir-se tão confortáveis nos ambientes de

trabalho de seus clientes como em seus próprios ambientes clínicos.

O terapeuta ocupacional pode fazer uso da ergonomia nesse processo. De

acordo com o Congresso Internacional de Ergonomia, 1969, a definição oficial diz que

a ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e

espaço de trabalho. Seu objetivo é elaborar, mediante a contribuição de diversas

disciplinas científicas que a compõem, um corpo de conhecimentos que, dentro de

uma perspectiva de aplicação, deve resultar numa melhor adaptação ao homem dos

meios tecnológicos e dos ambientes de trabalho e de vida. A Ergonomia objetiva

modificar os sistemas de trabalho para adequar a atividade nele existentes às

características, habilidades e limitações das pessoas com vistas ao seu desempenho

eficiente, confortável e seguro (ABERGO).

2.1.2 Ergonomia e Terapia Ocupacional

A Ergonomia e a Terapia Ocupacional se utilizam de conceitos de outras áreas

das ciências humanas, segundo Watanabe e Gonçalves (2004)

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As ergonomia e a Terapia Ocupacional na área da Saúde e do Trabalho estudam e analisam as questões e contradições individuais e coletivas do mundo do trabalho, incluindo o processo de adoecimento pelo trabalho, a fim de formular outras proposições, viabilizando a aplicação técnica de vários conhecimentos, bem como propondo soluções coerentes com as exigências da saúde dos trabalhadores e da produção. Portanto, ambas têm como compromisso analisar o mundo do trabalho e a atividade laboral, sempre com um desígnio transformador. (Watanabe e Gonçalves, pg 20)

Para se fazer uma análise ergonômica, primeiramente deve-se fazer a análise

da demanda (razão da solicitação do caso para o terapeuta). Esta pode ter sua

origem em diversos componentes da empresa, ou do trabalhador. Feito isto, o

terapeuta deverá fazer um levantamento do maior número de informações que puder

obter, e isso poderá ser feito por meio de visitas à empresa e a realização de

entrevistas com diversos interlocutores que estarão envolvidos no processo. Dados

referentes ao perfil da população trabalhadora da empresa irão contribuir com

importantes informações à respeito do funcionamento desta.

Tendo em mãos as informações necessárias sobre o trabalhador e a tarefa que

realizará em seu trabalho, o terapeuta ocupacional deverá analisar como se dará essa

atividade. Segundo Ferreira (1999), a atividade é o modo de agir do trabalhador para

executar as tarefas propostas. Watanabe e Gonçalves (2004) dizem então, que a

atividade inclui tudo que o trabalhador utiliza para realizar a tarefa, ou seja, seu corpo,

por meio dos componentes físicos como posturas, gestos, movimentos; componentes

sensoriais; componentes mentais para tomada de decisões, criação de estratégias,

solução de problemas e inteligência; e componentes relacionados entre os diversos

níveis hierárquicos dentro da empresa. É durante a análise da atividade que as

trocas entre o terapeuta ocupacional e o deficiente físico a ser incluído

profissionalmente se darão de fato.

Segundo Lima (1999), o objetivo da análise da atividade é identificar o que, o

como e o porque do trabalho dos operadores. Nesse momento deve-se considerar as

características dos trabalhadores, os elementos do ambiente de trabalho e como

estes serão apresentados e percebidos por eles.

Com todas as informações e dados colhidos nesse meticuloso trabalho, o

terapeuta ocupacional dará as soluções e recomendações pertinentes ao caso. Mas

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essa transformação somente será efetivada se houver a participação de todos os

componentes envolvidos (empregados e empregadores).

A análise ergonômica do trabalho possibilita ao terapeuta ocupacional

incorporar uma visão mais abrangente no atendimento do deficiente físico desde a

entrevista inicial, incluindo questões relacionadas ao trabalho realizado, posto de

trabalho, organização e condições do trabalho, assim como planejar a intervenção na

promoção de saúde, proporcionando ao deficiente físico uma otimização da sua

produtividade.

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3 ANÁLISE QUANTITATIVA DOS RECURSOS DA TERAPIA OCUPACIONAL ABORDADOS NA LITERATURA

A inserção / reinserção do trabalhador deficiente físico no mercado de trabalho

é uma atividade que faz parte das competências do terapeuta ocupacional, e é um

assunto abordado por diversos autores nacionais e internacionais. Cada autor cita e

elenca ações que consideram pertinentes quando o terapeuta ocupacional trabalha na

área de inclusão profissional.

Em pesquisa realizada na literatura que aborda o assunto, 5 fontes foram

estudadas, sendo elas encontradas em 4 livros e 1 anal de congresso. Os autores

foram Selma Lancman, no livro Saúde, Trabalho e Terapia Ocupacional, 2004;

Catherine A. Trombly e Mary V. Radomski, no livro Terapia Ocupacional para

Disfunções Físicas, 2005; Lorraine W. Pedretti e Mary B. Early, no livro Terapia

Ocupacional: capacidades práticas para disfunções físicas, 2004; Marta Mendonça e

Adriana C. G. Pardini, no livro Medicina e Reabilitação: princípios e prática, 2003; e

Angela P. Simonelli, Daniela da S. Rodrigues e Léa B. T. Soares no artigo

Caracterização do Perfil de Trabalho e de Pessoas com Deficiência no Mercado de

Trabalho, 2006.

Cada autor relata procedimentos, atitudes e recursos disponíveis ao terapeuta

ocupacional no processo de inclusão profissional.

Em uma leitura comparativa dos recursos da Terapia Ocupacional na inclusão

de deficientes físicos no mercado de trabalho, citados em cada fonte pesquisada,

pode-se elencar os procedimentos mais mencionados pelos autores, e fazer, assim,

uma análise quantitativa desses recursos.

A análise foi realizada a partir de categorias/recursos referidos por cada autor,

e o número de vezes em que foi mencionado no capítulo selecionado.

As categorias são:

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a) Reabilitação: processo global e dinâmico orientado para a recuperação física e

psicológica da pessoa portadora de deficiência, tendo em vista a sua

reintegração social;

b) Treinamento: momento em que o deficiente físico reabilitado aprende / treina

as funções que exercerá no cargo onde será empregado;

c) Tecnologia Assistiva: ramo da ciência preocupado com a pesquisa, o

desenvolvimento e a aplicação de aparelhos e/ou instrumentos e

procedimentos que aumentem ou restaurem a função humana (LUZO, 2004);

d) Ergonomia: disciplina científica relacionada ao entendimento das interações

entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de

teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar

humano e o desempenho global do sistema (ABERGO, 2000);

e) Análise da Atividade: avaliação do movimento como um todo, e de suas partes

componentes, identificando as operações motoras realizadas e suas estruturas

morfofisiológicas. Análise de todos os aspectos da vida cotidiana de uma

pessoa, ou seja, auto-cuidados, trabalho e lazer, bem como a gama de

movimentos que se referem à complexidade das atividades e suas

especificidades (APARECIDO, 200?);

f) Análise do emprego/função: verificação realizada pelo terapeuta ocupacional

para conferir se o deficiente físico é apto a realizar as demandas que o

emprego/função solicita;

g) Orientação: recomendações que o terapeuta ocupacional faz ao deficiente

físico e aos demais envolvidos no processo de inclusão profissional acerca da

conscientização da importância da inclusão, procedimentos a serem seguidos,

e sensibilização no sentido de diminuir ou evitar o preconceito;

h) Multidisciplinaridade: envolvimento de várias profissões no processo de

inclusão profissional do deficiente físico.

Essa análise pode ser conferida no quadro abaixo:

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De acordo com os dados explícitos no quadro, a Reabilitação é o recurso mais

importante no processo de inclusão profissional, sendo citado 7 (sete) vezes pelos

autores. Em seguida a Ergonomia, mencionada 4 (quatro) vezes no processo, sendo

que 2 (duas) delas no mesmo artigo. Em terceiro lugar aparecem empatados os

recursos de Treinamento, Análise da Atividade e Multidisciplinaridade, sendo citadas

3 (três) vezes cada, sendo uma vez por cada autor. Em último lugar, aparecendo 2

(duas) vezes, a Tecnologia Assistiva, Análise do Emprego/Função e Orientação.

Esses números podem ajudar o terapeuta ocupacional a traçar um plano de

tratamento, selecionando as atividades mais importantes para serem realizadas

inicialmente, e seguindo assim até completar o processo de inclusão.

Com base na pesquisa realizada, pode-se elaborar uma planilha de atividades

a serem desenvolvidas de acordo com a relevância. Essa proposta visa nortear o

terapeuta ocupacional iniciante na área de inclusão profissional do deficiente físico,

elucidando sobre questões cronológicas da intervenção.

A proposta é que se organize um cronograma para a intervenção,

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INTERVENÇÃO

1 Reabilitação

2 Ergonomia

3 Análise de Atividade

4 Treinamento

5 Multidisciplinaridade

6 Análise do Emprego/Função

7 Tecnologia Assistiva

8 Orientação

Se o plano de atividades for baseado nessa lista de recursos, o processo de

inclusão poderá desenvolver-se de forma concreta, e relativamente rápida, pois a

cada etapa alcançada, todos os pré-requisitos necessários para que ela seja

desenvolvida já estarão completos.

A utilização desses recursos, em outra ordem que não essa, pode ate ser

eficaz, mas tomará mais tempo e talvez alguns recursos deverão ser retomados ao

longo do processo.

4. RELATO DE UM DEFICIENTE FÍSICO INSERIDO NO MERCADO DE TRABALHO

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Em 2003, aos seus 21 anos, F. trabalhava na equipe de produção em uma

importante indústria de automação industrial na cidade de Campo Largo. Sofreu um

acidente automobilístico que o levou a ficar 3 meses internado e amputar os MMII. Em

decorrer disso, por não adaptar-se ao uso de próteses, optou pela cadeira de rodas, a

qual foi comprada pela indústria onde trabalhava.

Após 2 anos de reabilitação, quase foi aposentado por invalidez, porém, relutou

contra esse fato e teve que passar por um período de 15 dias de trabalho gratuito, na

mesma indústria em que trabalhava, para não receber a aposentadoria.

Devido à dependência da cadeira de rodas, foi admitido em outro cargo.

Passou então a trabalhar na área de telecomunicação. Fernando começou a estudar

e fazer cursos de especialização, tudo patrocinado pela própria indústria. 3 meses

depois foi promovido e iniciou seu trabalho na coordenação.

O ambiente em que trabalhava não necessitava de muitas alterações, pois a

empresa era plana, apenas alguns degraus foram substituídos por rampas.

Tudo estava correndo normalmente, até que a indústria fechou. Então pela

primeira vez, Fernando se deparou com a dificuldade se inserir-se profissionalmente.

Durante 3 meses ele enviou currículos a diversas empresas. Até que finalmente, uma

empresa automobilística multinacional o convidou a fazer uma entrevista. Na

entrevista os empregadores elogiaram o currículo, porém a empresa não estava

arquitetonicamente adequada para receber um deficiente físico que faz uso de

cadeira de rodas, e o emprego não deu certo.

Por mais alguns meses, F. continuou enviando currículos, e trabalhando em

casa como freelancer. Então recebeu outra proposta para uma entrevista, dessa vez

em uma empresa nacionalmente conhecida de cosméticos. A empresa também não

tinha adaptações, mas os empregadores dispuseram-se a fazer as alterações

necessárias. Outra barreira que F. encontrou foi a locomoção, pois o ônibus que

levava os funcionários também não era adaptado, e a empresa situava-se a 60km de

sua casa. Então ele concordou em ir com seu próprio carro, ao chegar na empresa

alguém o ajudava a fazer a transferência do carro para a cadeira de rodas. Como a

empresa era dividida em vários blocos, e o trânsito entre um bloco e o outro devia ser

feito pela área externa, não coberta, os engenheiros da empresa adaptaram uma

forma de colocar o guarda-chuva na cadeira de rodas. As calçadas internas tinham

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grama entre os blocos de concreto, então toda grama foi retirada e a calçada passou

a ser apenas de concreto.

Havia apenas 1 banheiro adaptado, que ficava na recepção, a 50m do posto de

trabalho, e Fernando obrigava-se a fazer esse trajeto sempre que necessário. No

refeitório, as portas eram estreitas, a única porta pela qual a cadeira de rodas

passava ficava aos fundos do barracão, e F. entrava por esse acesso.

Assim que se percebia alguma barreira, a empresa fazia questão de solucionar,

com a ajuda do próprio F. Mais de uma vez as adaptações realizadas pela empresa

deviam ser refeitas, pois não eram funcionais, como rampas muito íngremes, ou

barras colocadas de forma errada.

Após algum tempo trabalhando, recebeu novamente uma proposta de emprego

na multinacional citada anteriormente, com maiores vantagens, tanto no quesito

financeiro, como na proximidade, pois essa empresa fica a 20km da casa onde mora

atualmente. Ao comentar que onde estava empregado haviam sido feitas várias

adaptações para aumentar a acessibilidade, a multinacional o informou que nesse

meio tempo também havia feito todas as modificações necessárias para receber uma

pessoa que faz uso de cadeira de rodas. Devido a todas as vantagens, Fernando

mudou de emprego novamente, e encontra-se trabalhando nessa multinacional até

hoje.

Hoje F. trabalha, faz faculdade de Marketing, fala inglês e espanhol e tem

perspectivas de crescimento, ainda encontra limitações e depende de outros em

algumas situações.

Ao ser perguntado sobre como foi lidar com a deficiência, F. respondeu que

tinha duas opções: chorar a vida toda pelo seu acidente, ou levantar a cabeça e

enfrentar as dificuldades, e ele fez a segunda opção (SIC). Relatou que não sofreu

preconceito, pois sempre encarava as situações com bom humor, e quando percebe

algum olhar, faz questão de cumprimentar e esclarecer às pessoas que ele leva uma

vida normal. Relatou também que gosta de conversar com crianças e idosos, pois

esses não sentem-se incomodados em perguntar o que houve.

F. comentou que o preconceito maior surge do próprio deficiente, e que, salvo

em alguns casos, as pessoas olham e comentam pois sentem-se curiosas em saber o

que aconteceu (SIC). Comentou também que já fora chamado de várias formas

diferentes, como “portador de necessidades especiais”, “deficiente”, até mesmo

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“aleijado”, e que apesar de o termo ser pejorativo, compreende que isso acontece

pela falta de conhecimento da população (SIC).

Esse depoimento demonstra como a intervenção da Terapia Ocupacional

poderia facilitar a inserção de um deficiente físico no mercado de trabalho.

No referido caso, o terapeuta ocupacional poderia auxiliar no esclarecimento

aos empregadores e empregado sobre as potencialidades e dificuldades de um

deficiente físico que faz uso de cadeira de rodas. Faria as adaptações arquitetônicas

necessárias e corretas (altura de rampas e barras, largura de portas, altura de mesas,

e armários). Poderia auxiliar também no treino de transferência do carro para a

cadeira de rodas, proporcionando o aumento da independência.

Além disso, o terapeuta ocupacional pode fazer palestras aos funcionários e

colaboradores que esclareçam sobre o processo de deficiência, e sobre as mudanças

necessárias. Fazendo assim com que quebrem-se os paradigmas que envolvem essa

situação, e consequentemente diminuindo o preconceito e/ou curiosidade que possa

existir a esse respeito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma sociedade se desenvolverá justa e saudável na medida em que todos os

seus membros forem atendidos em suas necessidades essenciais. E as pessoas com

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deficiência física, assim como as outras, não podem permanecer desatendidas

(Sassaki, 1999).

Mas o processo de inclusão social tem evoluído bastante no decorrer dos anos.

Sassaki (1999), explica que na fase da exclusão social total, o deficiente não tinha

acesso nenhum ao mercado de trabalho competitivo. Em um passado não muito

remoto, empregar deficientes era tido como uma forma de exploração que deveria ser

condenada por lei. Depois veio a fase da segregação, onde empresas ofereciam

trabalhos para serem executados por pessoas deficientes no interior das instituições

filantrópicas, entre elas as oficinas protegidas de trabalho e também no próprio

domicílio. Essa oferta de trabalhos, e não de empregos, tinha elos com sentimentos

paternalistas e também com um certo objetivo de lucro fácil da parte das empresas,

que assim podiam usar uma mão-de-obra barata e sem vínculos empregatícios. Então,

num movimento de mudança de pensamento e atitude da sociedade, veio a fase de

integração, que consistia na contratação de deficientes em órgãos públicos e

empresas particulares, desde que tivessem qualificação profissional e conseguissem

utilizar os espaços físicos e os equipamentos das empresas sem nenhuma

modificação, ou então trabalhando em setores exclusivos para deficientes.

Finalmente surgiu a fase atual de inclusão. Sassaki (1999) menciona ainda que

no Brasil, a inclusão vem sendo praticada em pequena escala por algumas empresas,

mesmo sem saberem que estão na realidade adotando uma abordagem inclusivista.

Tudo começou com pequenas adaptações especificamente no posto de trabalho e/ou

nos instrumentais de trabalho, com o apoio daqueles empregadores compreensivos

que reconheciam a necessidade de a sociedade abrir mais espaços para pessoas

deficientes com qualificação para o trabalho e desejavam sinceramente envolver suas

empresas no esforço de empregá-las modificando suas empresas.

A inclusão social é o processo pelo qual a sociedade e o portador de deficiência

procuram adaptar-se mutuamente tendo em vista a equiparação de oportunidades e,

consequentemente, uma sociedade para todos. A inclusão significa que a sociedade

deve adaptar-se às necessidades da pessoa com deficiência para que esta possa

desenvolver-se em todos os aspectos de sua vida.

O acesso de portadores de deficiência ao mercado de trabalho é um dos

aspectos do processo de inclusão, importante por proporcionar às pessoas condições

para a satisfação de suas necessidades básicas, a valorização de si mesmas e o

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desenvolvimento de suas potencialidades.

As leis deferidas nas últimas duas décadas, vieram para colaborar no processo

de inclusão do deficiente físico no mercado de trabalho, porém, sem o trabalho

paralelo de conscientização da sociedade e dos próprios deficientes físicos, a inclusão

não se dará de forma efetiva e completa.

Portanto, a simples prescrição de leis, para assegurar os direitos da pessoa

com deficiência de ter um trabalho, não irá mudar a sua realidade se os fatores que

dificultam a sua inserção no meio social não forem detectados, discutidos e

minimizados por meio de uma ação conjunta entre o indivíduo, a família, a sociedade

e o governo. Sendo assim, cabe ao terapeuta ocupacional avaliar os fatores que

impedem essa ação conjunta e desenvolver formas de auxiliar no processo de

inclusão profissional total.

REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 9050. Rio de Janeiro:

2004.

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2002

www.crefito8.org.br/def_to.php. Acesso em 23 out. 2008.

ANEXO I

Declaração de Filadélfia*

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Declaração relativa aos fins e objetivos da Organização Internacional do Trabalho

Constituição

A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho, reunida

em Filadélfia na sua vigésima sexta sessão, adota, neste décimo dia de Maio

de 1944, a presente Declaração dos fins e objetivos da Organização

Internacional do Trabalho, bem como dos princípios nos quais se deveria

inspirar a política dos seus Membros.

I

A Conferência afirma novamente os princípios fundamentais sobre os quais se

funda a Organização, isto é: a) o trabalho não é uma mercadoria;

b) a liberdade de expressão e de associação é uma condição indispensável para

um progresso constante;

c) a pobreza, onde quer que exista, constitui um perigo para a prosperidade de

todos;

d) a luta contra a necessidade deve ser conduzida com uma energia

inesgotável por cada nação e através de um esforço internacional contínuo e

organizado pelo qual os representantes dos trabalhadores e dos

empregadores, colaborando em pé de igualdade com os Governos, participem

em discussões livres e em decisões de caráter democrático tendo em vista

promover o bem comum.

II

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Page 48: A VISÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL ACERCA DA … · gabriela ferreira bubniak a visÃo da terapia ocupacional acerca da inclusÃo de pessoas com deficiÊncia fÍsica no mercado de trabalho

Convencida de que a experiência demonstrou plenamente o fundamento da

declaração contida na Constituição da Organização Internacional do Trabalho,

e segundo a qual só se pode estabelecer uma paz duradoira com base na

justiça social, a Conferência afirma que:

a) todos os seres humanos, qualquer que seja a sua raça, a sua crença ou o seu

sexo, têm o direito de efetuar o seu progresso material e o seu

desenvolvimento espiritual em liberdade e com dignidade, com segurança

econômica e com oportunidades iguais;

b) a realização das condições que permitem atingir este resultado deve

constituir o objetivo central de qualquer política nacional e internacional;

c) todos os programas de ação e medidas tomadas no plano nacional e

internacional, nomeadamente no domínio econômico e financeiro, devem ser

apreciados deste ponto de vista e aceites apenas na medida em que pareçam

favorecer, e não prejudicar, o cumprimento deste objetivo fundamental;

d) cabe à Organização Internacional do Trabalho examinar e considerar à luz

deste objetivo fundamental, no domínio internacional, todos os programas de

ação e medidas de ordem econômica e financeira;

e) ao executar as tarefas que lhe são confiadas, a Organização Internacional

do Trabalho, depois de ter considerado todos os fatores econômicos e

financeiros pertinentes, está autorizada a incluir nas suas decisões e

recomendações todas as disposições que considerar apropriadas.

III

A Conferência reconhece a obrigação solene de a Organização Internacional

do Trabalho secundar a execução, entre as diferentes nações do mundo, de

programas próprios à realização:

a) do pleno emprego e da elevação do nível de vida;

b) do emprego dos trabalhadores em ocupações nas quais tenham a satisfação

de aplicar toda a sua habilidade e os seus conhecimentos e de contribuir da

melhor forma para o bem-estar comum.

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Page 49: A VISÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL ACERCA DA … · gabriela ferreira bubniak a visÃo da terapia ocupacional acerca da inclusÃo de pessoas com deficiÊncia fÍsica no mercado de trabalho

c) para atingir esse objetivo, da concretização, mediante garantias adequadas

para todos os interessados, de possibilidades de formação e meios próprios

para facilitar as transferências de trabalhadores, incluindo as migrações de

mão de obra e de colonos;

d) da possibilidade para todos de uma participação justa nos frutos do

progresso em termos de salários e de ganhos, de duração do trabalho e outras

condições de trabalho, e um salário mínimo vital para todos os que têm um

emprego e necessitam dessa proteção;

e) do reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva e da

cooperação entre os empregadores e os trabalhadores para a melhoria

contínua da organização e da produção, assim como da colaboração dos

trabalhadores e do s empregadores para a elaboração e aplicação da política

social e econômica;

f) da extensão das medidas de segurança social com vista a assegurar um

rendimento de base a todos os que precisem de tal proteção, assim como uma

assistência médica completa;

g) de uma proteção adequada da vida e da saúde dos trabalhadores em todas

as ocupações;

h) da proteção da infância e da maternidade;

i) de um nível adequado de alimentação, de alojamento e de meios recreativos

e culturais;

j) da garantia de igualdade de oportunidades no domínio educativo e

profissional.

IV

Convencida de que uma utilização mais completa e mais alargada dos recursos

produtivos mundiais, necessária para o cumprimento dos objetivos enumerados

na presente Declaração, pode ser assegurada através de uma ação eficaz no

plano internacional e nacional, nomeadamente através de medidas que tendam

a promover a expansão da produção e do consumo, a evitar flutuações

econômicas graves, a realizar o progresso econômico e social das regiões cuja

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valorização esteja pouco desenvolvida, a assegurar uma maior estabilidade

dos preços mundiais das matérias-primas e dos gêneros e a promover um

comércio internacional de elevado e constante volume, a Conferência promete

uma colaboração integral da Organização Internacional do Trabalho com todos

os organismos internacionais aos quais poderá ser confiada uma parte da

responsabilidade nesta grande tarefa, assim como na melhoria da saúde, da

educação e do bem-estar de todos os povos.

V

A Conferência afirma que os princípios enunciados na presente Declaração são

plenamente aplicáveis a todos os povos do mundo e que, se nas modalidades

da sua aplicação tem de ser devidamente considerado o grau de

desenvolvimento social e econômico de cada povo, a sua aplicação

progressiva aos povos que ainda são dependentes, assim como àqueles que

atingiram o estado de se governarem a si próprios, é um assunto que diz

respeito ao conjunto do mundo civilizado.

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ANEXO II

Presidência da RepúblicaCasa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 8.213, DE 24 DE JULHO DE 1991.

Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO IDA FINALIDADE E DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

(...)

Seção VIDos Serviços

Subseção IIDa Habilitação e da Reabilitação Profissional

Art. 89. A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão

proporcionar ao beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho,

e às pessoas portadoras de deficiência, os meios para a (re)educação e de

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(re)adaptação profissional e social indicados para participar do mercado de

trabalho e do contexto em que vive.

Parágrafo único. A reabilitação profissional compreende:

a) o fornecimento de aparelho de prótese, órtese e instrumentos de auxílio

para locomoção quando a perda ou redução da capacidade funcional puder ser

atenuada por seu uso e dos equipamentos necessários à habilitação e

reabilitação social e profissional;

b) a reparação ou a substituição dos aparelhos mencionados no inciso

anterior, desgastados pelo uso normal ou por ocorrência estranha à vontade do

beneficiário;

c) o transporte do acidentado do trabalho, quando necessário.

Art. 90. A prestação de que trata o artigo anterior é devida em caráter

obrigatório aos segurados, inclusive aposentados e, na medida das

possibilidades do órgão da Previdência Social, aos seus dependentes.

Art. 91. Será concedido, no caso de habilitação e reabilitação profissional,

auxílio para tratamento ou exame fora do domicílio do beneficiário, conforme

dispuser o Regulamento.

Art. 92. Concluído o processo de habilitação ou reabilitação social e

profissional, a Previdência Social emitirá certificado individual, indicando as

atividades que poderão ser exercidas pelo beneficiário, nada impedindo que

este exerça outra atividade para a qual se capacitar.

Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a

preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com

beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na

seguinte proporção:

I - até 200

empregados...........................................................................................2%;

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II - de 201 a

500......................................................................................................3%;

III - de 501 a

1.000..................................................................................................4%;

IV - de 1.001

em diante. .........................................................................................5%.

§ 1º A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final

de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada,

no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de

substituto de condição semelhante.

§ 2º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social deverá gerar

estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por

reabilitados e deficientes habilitados, fornecendo-as, quando solicitadas, aos

sindicatos ou entidades representativas dos empregados.

(...)

Brasília, em 24 de julho de 1991; 170º da Independência e 103º da República.

FERNANDO COLLOR

Antonio Magr

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ANEXO III

PORTARIA MPAS Nº 4.479, DE 4 DE JUNHO DE 1998 – DOU DE 05/06/98O MINISTRO DE ESTADO DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL, no uso da atribuição que lhe confere o art. 87, parágrafo único, inciso II, da Constituição Federal,

(...)CONSIDERANDO a Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre o Plano de Benefícios da Previdência Social;

(...)Art. 4º O responsável por infração a qualquer dispositivo do regulamento da Organização e do Custeio da Seguridade Social – ROCSS, para a qual não haja penalidade expressamente cominada, está sujeito, a partir de 1º de junho de 1998, conforme a gravidade da infração, a multa variável de R$ 636,17 (seiscentos e trinta e seis reais e dezessete centavos) a R$63.617,35 (sessenta e três mil, seiscentos e dezessete reais e trinta e cinco centavos).

Art. 5º. O INSS e a DATAPREV adotarão as providências necessárias ao cumprimento do disposto nesta Portaria.

Art. 6º. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

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ANEXO IV

LEI Nº 7.716 - DE 5 DE JANEIRO DE 1989 – DOU DE 6/1/89

Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso

Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de

preconceitos de raça ou de cor.

Art. 2º (Vetado).

Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado,

a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das

concessionárias de serviços públicos.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial,

negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador.

Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em

estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau.

Pena: reclusão de três a cinco anos.

Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos

a pena é agravada de 1/3 (um terço).

Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão,

estalagem, ou qualquer estabelecimento similar.

Pena: reclusão de três a cinco anos.

Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes,

bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público.

Pena: reclusão de um a três anos.

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Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos

esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público.

Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de

cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou

estabelecimento com as mesmas finalidades.

Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou

residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos:

Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões,

navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de

transporte concedido.

Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer

ramo das Forças Armadas.

Pena: reclusão de dois a quatro anos.

Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento

ou convivência familiar e social.

Pena: reclusão de dois a quatro anos.

Art. 15. (Vetado).

Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função

pública, para o servidor público, e a suspensão do funcionamento do

estabelecimento particular por prazo não superior a três meses.

Art. 17. (Vetado)

Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são

automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.

Art. 19. (Vetado).

Art. 20. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 21. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 5 de janeiro de 1989; 168º da Independência e 101º da

República.

JOSÉ SARNEY

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Paulo Brossard

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