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EXEMPLAR CORTESIA AMANDA PEROBELLI R$ 12,00 ANO 2 | N O 08 | ABR 2011 INFRAESTRUTURA Laboratórios ficam ociosos por falta de informação e articulação o desembarque Veículos: a face mais visível da presença chinesa em negócios no Brasil JOSé DE FILIPPI JUNIOR Deputado federal e ex-prefeito de Diadema adverte: sem planejamento, não há inovação ANTONIO LEDES

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EXEMPLARCORTESIA

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ANO 2 | NO 08 | ABR 2011

InfraestruturaLaboratórios ficam ociosos por falta de informação e articulação

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Com a imagem do looping de uma montanha russa, Nicolau Sevcenko descreveu o final do século 20 como um estado de letargia produzido pela veloci-dade das inovações tecnológicas sobre os homens. Pouco mais de uma década e algumas guerras, terre-motos e crises depois, parece que o mundo começa a despertar do torpor apontado pelo historiador.

O Planeta, no entanto, já não é o mesmo: mais polu-ído, mais populoso, mais global e, ao mesmo tempo, mais marcado pela identidade de territórios locais e de corporações que se colocam acima das nações. Até mesmo no mundo do trabalho, a produção de va-lor e, em consequência, as métricas que avaliam o crescimento da economia sofreram seus impactos, como defende Giuseppe Cocco, da UFRJ, ao questio-nar a necessidade de inovar indicadores como o PIB (veja Ponto de Vista).

Mas, acima de tudo, o que o homem do século 21 encontra para viver é um planeta virtualmente conec-tado, com seu centro de gravidade em processo de deslocamento do ocidente para o oriente, dos Esta-dos Unidos para a China. O tigre americano, finalmen-te, se revela o grande tigre de papel de que falava Mao Tsetung, em 1946. E falta muito pouco para que o país mais populoso do Planeta, com 1,341 bilhão de habitantes, se torne, também, o maior produtor de bens e riquezas. É esta a China que a presidenta Dilma Rousseff vai encontrar ao desembarcar este mês em Pequim.

Por suas ligações históricas com a esquerda e o PT, a presidenta tem uma razão a mais para experimen-tar este sentimento do despertar de um estado de inconsciência. A utopia do socialismo, que o Partido

Comunista Chinês fez sobreviver dentro de sua cul-tura milenar, vai deixar de ser para ela apenas um “livrinho vermelho” do camarada Mao, para tornar-se uma possibilidade real de colaboração entre povos que podem ocupar papéis decisivos na história da humanidade.

Esta parceria entre os dois países já é realidade hoje, como mostra a reportagem especial desta edição de INOVA sobre a presença chinesa no Brasil. Ela vai de investimentos na siderurgia, na indústria petrolífera até a estreita colaboração em pesquisas espaciais em centros de alta tecnologia, como é o caso do Par-que Tecnológico do Guamá, em Belém. Também regis-tra o lado cada vez mais aparente desta verdadeira “invasão chinesa”, o dos veículos automotores.

Além de informações preciosas sobre esta colabora-ção internacional, a reportagem especial sobre a Chi-na também traz análises e opiniões de dois dos mais credenciados especialistas no assunto: Wladimir Po-mar e Antonio Fattore. Eles mostram o papel que a inovação e o planejamento têm para a China, relação que é também o foco de outra entrevista destacada desta edição de INOVA: com o deputado federal e ex-prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior.

Depois de encerrar com brilho sua gestão frente ao território municipal, sem dúvida, ele é uma das estre-las em ascensão na constelação petista. Preocupado com o berço do regionalismo, o ABCD, e com as ques-tões metropolitanas, Filippi se credencia cada vez mais para contribuir com a nova versão do Programa de Desenvolvimento Produtivo (PDP) que o governo federal deve anunciar neste mês.

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06 ProdutoSUSTEnTABILIdAdESolvay pesquisa desenvolvimento de PVC Verde

08 Entrevista | José de Filippi JuniorO deputado federal, ex-prefeito de Diadema, especializou-se em Harvard e voltou com muitas ideias, entre elas o projeto da Autoridade de Transporte Público.

11 ProjetoSUSTEnTABILIdAdEO sucesso do evento “A Hora do Planeta” provocou novo processo de discussão

10 notas25 InvestimentodEFESAGrupo francês vai fabricar radares de defesa em São Bernardo do Campo

26 TecnologiaSUSTEnTABILIdAdECentro de Tecnologia da Mercedes Benz está desenvolvendo projetos para baixar a emissão de poluentes em veículos automotores

32 ServiçosFOMEnTO, FInAnCIAMEnTO E SUPORTE à InOVAçãOSENAI e SESI lançam edital Inovação 2011 e Programa PIPE, da Fapesp, recebe inscrições

34 Ponto de VistaGIUSEPPE COCCOProfessor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro discorre sobre novas métricas para indicadores econômicos, como o PIB

ANO 2 | NO 08 | ABR 2011

eXpedIente: INOVA é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. INOVA não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Trav. Monteiro Lobato, 95, Centro São Bernardo do Campo fone (11) 4128-1430 dIretor/edItor: Celso Horta (MTb 140002/51/66 SP) edItora assIstente: Sonia Nabarrete redação: Clébio Cavagnolle Cantares, Felipe Rodrigues, Joana Horta, Maurício Thuswohl, Niceia Climaco, Rodrigo Bruder e Vladimir Ribeiro. Correspondente: Flávio Aguiar arte: Ligia Minami trataMento de IMaGens: Fabiano Ibidi departaMento CoMerCIal: fone (11) 4335-6017 publICIdade: Jader Reinecke assInatura: Jéssica D’Andréa IMpressão: Leograf tIraGeM: 40 mil exemplares

14 O Desembarque Chinês

16 No Rio, minério, aço e Pré-sal

18 No Pará, a busca de parcerias em alta tecnologia

20 Caminhões e carros: negócios da China

23 Wladimir Pomar aponta o que deve ser feito para melhorar as relações comerciais entre o Brasil e a China

24 Antonio Fattore: China, memórias de uma viagem

especial china

28ROnALdO MOTASecretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCT, reconhece falhas nas estruturas de transferência tecnológica: laboratórios bem equipados não estão sendo usados por falta de informação e articulação

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12A Sinotruk Brasil estima trazer da China, neste ano, 1,3 mil caminhões

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investimento sustentabilidade

Para reduzir danos, empresa localizada em meio à Mata Atlântica investe no PVC Verde

lançamento no mercado do PVC Verde, um bio-eti-leno (espécie de plástico) à base de cana-de-açúcar e sal, é esperado com mui-ta ansiedade, sobretudo

pelos ambientalistas. O PVC Verde, cuja patente é disputada internacionalmente por marcas como a Coca Cola, promete fazer diferença nas políticas de inovação tecno-lógica e de preservação da natureza. No Brasil, a Solvay Indupa, que investe na ex-pansão da sua planta entre Rio Grande da Serra e Santo André, também está se prepa-rando para fabricar o produto inovador.

A Solvay trabalha em vários projetos com foco na sustentabilidade. Foi a primeira empresa da cadeia produtiva do Polo Pe-troquímico do ABCD a receber créditos de

carbono, dentro do programa da ONU (Or-ganização das Nações Unidas) para redução de emissões de gás estufa em todo o mundo.

Em 2005, a empresa desenvolveu o projeto de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), que funciona como uma das ferra-mentas de flexibilização criadas pelo Proto-colo de Kyoto para auxiliar no processo de redução de emissões de gases do efeito estu-fa. A proposta da companhia foi aprovada pelas Nações Unidas em 2006. No contexto do programa, a emissão de mais de 42.000 toneladas de CO2 são evitadas anualmente.

O projeto viabilizou a construção de um gasoduto da Comgás com 14 km de ex-tensão, o que possibilitou acesso a energia limpa para a região, em especial nas pro-ximidades do complexo da indústria, além de eliminar emissões de óxidos de enxofre e

material particulado. “O projeto que temos evidencia o compromisso da Solvay Indupa com a sustentabilidade da indústria quími-ca e com a região”, afirma Carlos Nardocci, gerente de Energia da filial brasileira.

Neste ano, a companhia iniciou o mapea-mento de toda a reserva ecológica ao seu redor, com o objetivo de crescer sem desmatar e zelar para preservação ambiental. A empresa possui terreno de 12.068,10 metros quadrados, sendo 287.936,83 ocupados pela área industrial em atividade ao ar livre e uma área construída to-tal de 111.352,41 metros quadrados.

Com a ampliação, ocorrerá a retirada de cerca de 8.000 m2 de vegetação. Como forma de compensação, a companhia, após estudos de remanescentes florestais da área, pretende reflorestar o local com vegetação nativa. (CC)

MEIO AMBIEnTE: NECESSIDADE

Empresa foi a primeira da cadeia produtiva do Polo Petroquímico do ABCd a receber créditos de carbono

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Rodrigo [email protected]

INOVA: Como deputado federal, o senhor tem defendido o projeto de se estabelecer um órgão semelhante à Autoridade Pública Olímpica (APO) no setor de transportes, para atenuar os problemas de mobilidade urbana. O que esse órgão poderia fazer?Filippi – A constituição da Autoridade Metropolitana do Transporte Coletivo (AMTC) é a minha principal proposta para este ano. O transporte da região metropoli-tana é uma vergonha. Não há planejamen-to a médio e longo prazo. Para se planejar o transporte coletivo, é necessário antever de oito a dez anos. O governo federal, de for-ma generalizada, fez muito pouco, embora o governo Lula tenha feito mais do que seus antecessores. O problema de mobilidade ur-bana em São Paulo é um obstáculo ao nos-so desenvolvimento.

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entrevista José de Filippi Junior

depois de entregar a Prefeitura de diadema a Mário Reali, companheiro do PT, José de Filippi Junior, 53 anos, fez uma opção pouco usual aos gestores públicos: decidiu dar um tempo na carreira política para especializar-se na Universidade de Harvard, onde estudou Políticas Públicas de Urbanização e Hegemonia das Potências Econômicas e Políticas. Com base na experiência como prefeito de diadema e no conhecimento adquirido na vida acadêmica, Filippi defende que o setor público precisa fomentar o processo de transformação da indústria por meio de ações planejadas. “Inovação se faz com planejamento de médio e longo prazo”, argumenta. Ele cita exemplos bem sucedidos observados na China e faz uma proposta ousada para os governos federal, estadual e municipal melhorarem o sistema de transporte: a criação da Autoridade Metropolitana de Transporte Coletivo. Esse órgão seria responsável pela captação de cerca de R$ 150 bilhões para investir R$ 15 bilhões a cada ano no setor, nos próximos dez anos.

Após estudar em Harvard, o deputado federal voltou cheio de ideias, entre as quais a criação de um órgão para resolver questões de transporte coletivo urbano

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INOVA: Como esse órgão poderia ser constituído e de quanto precisaria para atuar?Filippi – A AMTC poderia ser formada pelo governo federal, por meio de um ministério, pelo governo estadual e prefeituras. E tem de ter mandato para planejar ações por 10 a 15 anos. Eu vou quebrar a cabeça para via-bilizar isso, levando em conta o que vi lá fora. Temos de ter R$ 150 bilhões em três anos para gastarmos R$ 15 bilhões por ano em dez anos. Tudo isso para fazermos, por exemplo, 200 quilómetros de metrô, melho-rarmos as linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e serviços, como o trem de superfície.

INOVA: O senhor vê avanços na área de transformações tecnológicas e inovações dos setores de produção, a partir de ações do governo federal?Filippi – O Brasil pode e está vivendo outra realidade de inovação, já podemos trans-formar nosso potencial em ações concretas.

Ninguém vive mais de promessas abstratas. A indústria naval é um exemplo disso. Esta-va morrendo, mas o governo Lula a refez. Inovação é dar condições para que os jo-vens do ensino médio e das universidades possam fazer algo diferente daquilo que estamos fazendo dentro do processo produ-tivo, com novas tecnologias.

INOVA: Há indicativos de que o Ministério do Planejamento, chefiado pela ministra Miriam Belchior, hoje funciona também como um órgão voltado para o fomento dessas transformações. Como o senhor avalia essa atribuição? Filippi – Nosso Ministério do Planejamento não podia mais atuar só com a questão da compatibilização orçamentária. Deve ser, também, um instrumento de inovação. Não podemos deixar que inovação seja um pro-blema de competitividade para o mercado resolver. O governo tem que participar. Pre-cisamos debater com o movimento sindical.

A folha de pagamento tem uma quantidade importante de tributos que não motiva in-vestimentos. Temos que desonerar a folha e essa é uma maneira de o Estado contribuir para as empresas investirem em inovação. E isso não é só você trazer máquinas no-vas para um indivíduo operar, diz respeito a mudanças de investimentos em recursos humanos.

INOVA: O setor público parece ter dificuldades de planejar ações voltadas a grandes transformações devido à necessidade de se resolver grandes problemas em pouco tempo. Como um gestor público pode equacionar esse conflito? Filippi – Vamos inovar o Brasil quando ti-vermos um planejamento de médio e longo prazo, atacando os estrangulamentos que temos como as questões de energia, educa-ção, estradas e transportes.

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Após estudar em Harvard, o deputado federal voltou cheio de ideias, entre as quais a criação de um órgão para resolver questões de transporte coletivo urbano

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Temos de reestruturar a malha ferroviária. Não fabricamos mais trilhos. Hoje o Brasil exporta minério de ferro para a Itália e para a China, e depois eles fabricam os trilhos, que voltam ao Brasil em navios. Não tem sentido se transportar suco de laranja e soja em cima de caminhões nessas estradas.

INOVA: Qual é principal ação do governo federal que indica mudanças de gestão planejada. Como prefeito de Diadema por três mandatos, o senhor conseguiu construir os projetos com planejamento?Filippi – O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) representa uma retomada de planejamento tendo o público como ator importante. Em Diadema, não tí nhamos capacidade de chegar nesse ní vel de ousa-dia porque faltavam instrumentos, como o governo federal tem com os ministérios da Ciência e Tecnologia e Planejamento.

INOVA: É difícil se ver um gestor público parar um pouco com a atividade política para se especializar. Ao estudar na Universidade Harvard, entre os anos de 2009 e 2010, o senhor teve uma experiência com as grandes transformações que estão ocorrendo no mundo, como na China. O que diz sobre essa experiência?

Filippi – Harvard é uma esquina do mundo, uma universidade pequena, mas de excelên-cia. Tem quatro mil alunos de graduação e seis mil de pós-graduação. Ganhou o Prêmio Nobel 40 vezes. Eu concentrei 60% do meu tempo na Escola de Arquitetura e Urba-nismo, para o fenômeno Cidades, que eles planejam há 100 anos. Também fiz um curso importante na Kennedy Scholl sobre o Poder do Século XXI. A inovação na China está ocorrendo porque as questões são colocadas no papel e planejadas para 10 a 30 anos.

INOVA: Quais exemplos de planejamento chinês o senhor destacaria?Filippi – A China está fazendo 2.000 quilô-metros de metrô em vários pontos simulta-neamente. A cidade de Shenzen, retaguarda de Hong Kong, fabrica 85% dos celulares do mundo. Em 1985, Shenzen tinha 500 mil habitantes, hoje tem 12 milhões. Cresceu 20% ao ano. Essa cidade construiu 150 qui-lómetros de metrô em três anos. Sabe como eles fazem isso? Financiam 70% do metrô com as terras que são públicas, fazem um leasing por 70 anos para conceder as terras ao empreendedor imobiliário, e cobram 30% do pagamento antecipado. Nós pode-mos aplicar esse mesmo sistema no Brasil para captar recursos necessários à atuação da Autoridade Metropolitana de Transpor-te Público.

Inovação é dar condições para que os jovens do ensino médio e das universidades possam fazer algo diferente daquilo que estamos fazendo dentro do processo produtivo, com novas tecnologias.”

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projeto “Além da Hora” será a continuidade do “Hora do Planeta”, ato simbólico rea-lizado em 26 de março no mundo todo. Articulado pela Rede WWF, governos, empre-

sas e a população simbolizaram a preocupação com o aquecimento global por meio do ato de apagar as luzes de suas edificações durante ses-senta minutos. “A ideia é aproveitar o gancho desse momento de conscientização das pessoas e criar um palco permanente para discussões focadas na busca de soluções para sustentabili-dade e preservação ambiental”, explica Regina Cavini, diretora geral do projeto. Essa platafor-ma para discussões será constituída pela Frente Nacional de Prefeitos, que já congrega cerca de 400 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, e que é parceira do programa.

Pautado na Política Nacional de Resíduos Sóli-dos, aprovada ano passado, que determina a obri-gatoriedade de coleta seletiva em todos os municí-pios até 2014, o “Além da Hora” pretende iniciar as discussões pelas propostas de conscientização da população para redução do lixo, eliminação dos lixões com foco na redução da emissão do gás metano na atmosfera e criar processos de ge-ração de renda por meio da reciclagem. “A partir de fóruns com essa frente de prefeitos, poderemos constituir propostas palpáveis. Não queremos ficar apenas no “Hora”. O que desejamos é que seja a alavanca para despertar as autoridades e as pessoas de um modo geral para a necessidade de discutirmos soluções reais e urgentes para o meio ambiente”, enfatiza Cavini.

A diretora afirmou que o projeto “Hora do Planeta” deste ano ganhou força com a entrada de grandes empresas, prefeituras das principais capitais brasileiras e redes hoteleiras. “O gesto simples de apagar as luzes por sessenta minutos,

possível em todos os lugares do planeta, tem o significado de chamar para uma reflexão sobre a questão ambiental e os desafios impostos pelo aquecimento global. As empresas estão se cons-cientizando sobre isso a cada ano. O apoio que tivemos é a maior prova disso”, ressalta.

Esta foi a terceira edição consecutiva do proje-to no Brasil, concebido pela Rede WWF, a maior organização independente de conservação da natureza, com atuação em mais de 100 países e o apoio de cerca de cinco milhões de pessoas. A WWF-Brasil, organização não governamental brasileira dedicada à conservação da natureza, foi a responsável pela busca de parcerias. Participa-ram do evento 120 cidades, sendo 20 capitais.

No mundo, o “Hora do Planeta” foi lançado em 2007, com a participação de 2,2 milhões de moradores de Sidney, na Austrália. Já em 2008, o movimento reuniu 50 milhões de pessoas, de 400 cidades, em 35 países. Simultaneamente apagaram-se as luzes do Coliseu, em Roma, da ponte Golden Gate, em São Francisco e da Ope-ra House, em Sidney, entre outros ícones mun-diais. Em 2009, a WWF-Brasil realizou o evento pela primeira vez no Brasil, superando todas as expectativas de adesão e visibilidade previstas, agregando 113 cidades (sendo 15 capitais), 1.167 empresas, 527 organizações, 58 veículos de co-municação e milhares de pessoas que registraram a sua participação no site oficial do movimento. Monumentos brasileiros como Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Catedral de Brasília, Ponte Es-taiada e Teatro Amazonas permaneceram no escuro por uma hora. (CC)

ALéM dA HORA WWF lança novo projeto que é desdobramento do “Hora do Planeta”

A ideia é aproveitar o gancho desse momento de conscientização das pessoas e criar um palco permanente para discussões focadas na busca de soluções para sustentabiliade e preservação ambiental”REGINA CAVINI, diretora geral do projeto

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ORçAMENTO DA FINEP ENGORDA 50%A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) ampliou em R$ 2 bilhões os recursos destinados ao financiamento com retorno de projetos de ciência, tecnologia e inovação em empresas brasileiras. Com isso, o orçamento total da financiadora para apoio a empresas e instituições de ensino e pesquisa em 2011 passou de R$ 4 bilhões para cerca de R$ 6 bilhões. No dia 28 de março, em coletiva à imprensa, via “Conferência Web”, o presidente da instituição, Glauco Arbix, confirmou a meta de duplicar a capacidade de crédito da Financiadora, atingindo R$ 8 bilhões ao final de quatro anos. Mas, a criação de uma Agência Nacional de Inovação ainda não é prioridade. “A Finep já atua como uma agência”, justifica.

GESTãO PúBLICA INOVADORATrabalhadores agora participam de conselhos de administração de empresas estataisDesde 11 de março deste ano, as empresas públicas, sociedades de economia mista e suas subsidiárias devem prever a participação de representantes de empregados em seus conselhos de administração. A Portaria n° 026/MP, que detalha a Lei nº 12.353, de 28 de dezembro de 2010, vale para as empresas com mais de 200 empregados, nas quais a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto. A medida abrangerá 59 empresas públicas, no âmbito do Governo Federal.

A alteração na legislação aproxima os trabalhadores das decisões gerais das instituições públicas. O processo de eleição do representante dos empregados deve ser organizado por uma comissão paritária, composta pela empresa e entidades sindicais. Todos os empregados ativos da empresa podem votar e os critérios de exigência para o cargo de conselheiro são os mesmos previstos em lei e no estatuto das respectivas empresas.

A ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, afirmou que a medida contribui para a melhoria do desempenho das empresas. “A participação dos empregados nos conselhos de administração representa um avanço na governança das empresas estatais porque aprimora processos de discussão e de tomada de decisão”. A portaria foi assinada em cerimônia do Palácio do Planalto, com a participação da presidente Dilma Rousseff.

Glauco Arbix quer 8 bilhões para a Finep em quatro anos

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Mais R$ 55 bi para o PSIO ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou em 3 de março que o Progra-ma de Sustentação do Investimento (PSI) será prorrogado até o dia 31 de dezembro de 2011 e terá um novo aporte de R$ 55 bilhões. Os recursos serão repassados pelo Tesouro Nacional ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que gere o programa. O PSI foi lançado em 2009, durante a crise econô-mica mundial, para estimular a produção, aquisição e exportação de bens de capi-tal e a inovação tecnológica. O programa já disponibilizou mais de R$ 130 bilhões e, inicialmente, vigoraria até 31 de março de 2011.

Trabalhadores fomentam inovaçãoO Conselho Deliberativo do Fundo de Am-paro ao Trabalhador (Codefat) aprovou o repasse de R$ 220 milhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para proje-tos de inovação tecnológica por meio da Finep. De acordo com informações do Mi-nistério do Trabalho e Emprego, o foco dos investimentos serão os micro e pequenos empreendedores.

notas

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PROGRAME-SEABRIL | MAIO

26 a 29de abril | fortec | O Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia pretende auxiliar a criação de Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs). LOCAL: Hotel Pestana, Fonte do Boi, 216, Rio Vermelho, Salvador, BA. Mais informações: www.fortec-br.org

26 a 28 de abril | traffic 2011 | A 4ª Feira Internacional de Tecnologia Viária e Equipamentos para Rodovias apresenta fornecedores com tecnologias voltadas para a administração do tráfego de veículos. A visitação é gratuita. LOCAL: Centro de Exposições Imigrantes, km 1,5, São Paulo, SP. Mais informações: feiratraffic.com.br

25 a 27 de maio | InoVabrasIl 2011 | A 2ª Feira Empresarial de Incubadoras e Parques Tecno-lógicos conta com expositores de diversos setores e apresenta serviços e produtos desenvolvidos em incubadoras de empresas e parques. Local: Auditório da Biblioteca Central da Unicamp, Campinas, SP. Mais Informações: www.redeincubadorassp.org.br

ABRIL 2011 | InOVA 13

Cidades do ABCD pleiteiam benefícios da Copa do MundoO ABCD pleiteia conseguir carimbar o passa-porte para ser uma das possíveis subsedes da Copa do Mundo de 2014 e o palco de treinamento de alguma seleção de futebol durante o evento esportivo. Com essa pers-pectiva, o poder público regional trabalha para melhorar a infraestrutura local a fim de recepcionar os turistas. Em São Bernar-do, a expectativa é a de que sejam criados aproximadamente 10 mil empregos diretos e indiretos na cidade.De acordo com secretário de Desenvolvi-mento Econômico e Turismo, Jefferson da Conceição, a Administração está elaborando políticas agressivas para atrair investimen-tos. “Na copa da África nem todas as cida-des foram sedes, mas algumas, por possuir uma riqueza turística, acabaram atraindo inúmeras visitas. No caso de São Bernardo, acreditamos que os turistas vão optar pela cidade por ser um local com representativi-dade, por ser a ‘casa’ do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e tam-bém o berço do sindicalismo”, disse. São Caetano também espera ser subsede. Para o secretário municipal de Desenvolvi-mento Econômico e Relações de Trabalho, Celso Amâncio, a cidade tem condições de obter mais investimentos para ampliar a rede hoteleira e consequentemente gerar inúmeros empregos.“São Caetano sistematicamente vem facili-tando o aprendizado de outras línguas, pro-movendo cursos e encontros, além de roda-das de negócios para melhorar o comércio. Além disso, temos um fator que nos ajuda muito, a nossa posição geográfica, pois es-tamos próximos da Capital. Esses fatores nos levam a crer que a cidade criará gran-des chances de empregabilidade“, pontua Amâncio.Já em âmbito nacional, a presidente Dilma Rousseff anunciou que a expectativa é a de que com a Copa de 2014 sejam criados aproximadamente 730 mil empregos. Dilma ressaltou ainda que o evento poderá atrair 660 mil turistas e R$ 33 bi em investimen-tos durante o maior campeonato de futebol do mundo.

MCT LANçA PEDRA FUNDAMENTAL DE NOVO PARqUE TECNOLóGICOAutoridades do Ministério da Ciência e Tecnologia, empresários, cientistas e representantes de instituições de pesquisa reuniram-se em Campinas, no campus do Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer, para o lançamento da Pedra Fundamental do Parque Tecnológico CTI-Tec. O complexo, com 5 mil metros quadrados, será financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCT) e terá um investimento de mais de R$ 15 milhões. O objetivo é viabilizar a sinergia entre empresas e entidades de pesquisa que atuem em setores tecnológicos de ponta. Com cinco edifícios, estima-se que a Fase I do projeto possa abrigar até 16 empresas. O cronograma de obras prevê a conclusão das obras no primeiro trimestre de 2012. Os editais para que as empresas interessadas possam integrar o parque já estão sendo elaborados e serão publicados ainda em 2011. O diretor do CTI, Jacobus Swart, ressaltou que a instituição promoverá um ecossistema favorável à inovação. “Vamos trabalhar conjuntamente com as empresas, trocando informações que agregarão conhecimento ao instituto, e desenvolvendo produtos finais de alta tecnologia para a indústria”.

atuação – O CTI apoia pequenas e médias empresas, por meio de prestação de serviços tecnológicos e de transferência de conhecimento técnico-científico. Em 2010, o Centro interagiu com 135 empresas, realizando 635 serviços tecnológicos nas áreas de prototipagem rápida, análise de falhas e ensaios de confiabilidade em hardware, reparos e retrabalhos de displays, melhoria de processo e qualidade de software, aplicação de benchmarking industrial e produção de máscaras litográficas. Todos os projetos junto ao CTI contam com o apoio na área de propriedade intelectual através da Coordenação de Inovação Tecnológica.

parques eM rede – O CTI-Tec será o terceiro Parque Tecnológico de Campinas responde por aproximadamente 15% de toda a produção científica nacional.

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Caminhões Sinotruk: em condições de disputar espaço na frota nacional

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chinêsistoriadores sustentam que, não fosse a cultura autocentrada da civili-zação chinesa, o Brasil poderia ter sido “des-coberto” pelos inven-

tores da pólvora e da bussola. E a invasão de capitais e produtos chineses que o País experimenta neste começo de século teria ocorrido há pelo menos 500 anos. A tese de uma cultura voltada para dentro da própria China é também defendida por Wladimir Pomar, um dos mais conceituados consul-tores brasileiros em questões chinesas.

Militante histórico do PCdoB, cujas raí-zes políticas remontam ao rompimento dos comunistas brasileiros com a União Sovié-tica e consequente aproximação dos comu-nistas chineses, Pomar é um dos brasileiros que mais conhecem as entranhas do maior partido comunista da história, o Partido Comunista Chinês. Entrevistado pelo re-pórter Mauricio Thuswohl, Pomar recons-trói a trajetória da sociedade chinesa das últimas décadas e sustenta que a China se transformou no principal parceiro comer-cial do Brasil.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econô-mica Aplicada (Ipea), em 2010, das impor-tações brasileiras, 14,5% eram provenientes da China, uma transação de R$ 21,4 bi-lhões. Em 2005, representava apenas 7,3%. Na contramão deste movimento, ainda se-gundo o Ipea, a China se tornou a maior compradora de soja, minério de ferro e petróleo brasileiro, o que tem garantido su-perávit para o Brasil na balança comercial entre os dois países.

É nesta contabilidade que se encaixam as importações de um mundo de produtos ele-trônicos que o País aprendeu a reconhecer nas mãos de camelôs e lojistas que exploram o comércio popular. Como relata o repórter Vladimir Ribeiro, os preços do varejo de produtos chineses são sempre competitivos

para as camadas populares recém incluídas ao mundo do consumo.

Mas, de alguns anos para cá, conta Niceia Clímaco, esta invasão de mercadorias chine-sas alcançou bens duráveis, como o merca-do de caminhões e automóveis. Depois dos lançamentos espetaculares de marcas como a Chery e a JAC, agora é a vez da rede de caminhões Sinotruck ocupar espaço na fro-ta nacional. Com máquinas poderosas, que nada ficam a dever para carros nacionais, até mesmo porque são fabricados a partir de de-signs europeus e sistemistas internacionais, a indústria chinesa de veículos anuncia a todos os ventos que chegou para ficar, desta vez até mesmo com uma forte rede de concessioná-rias e pós-venda.

O desembarque de veículos chineses, in-clusive, é parte também das preocupações de lideranças sindicais como o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre. Atento para os impactos provocados pelo crescimento das importa-ções brasileiras, em especial no segmento das autopeças, Nobre vai organizar uma ampla discussão sobre medidas capazes de garantir que este movimento não venha a prejudicar os trabalhadores brasileiros e a qualidade de seus empregos.

Mas a presença chinesa no Brasil, hoje, tem caminhado com muita força em especial no que diz respeito a investimentos em infra-estrutura, combustíveis e tecnologia. Visitas ao Parque Tecnológico do Guamá, em Be-lém, e ao Porto de Açu, no norte fluminense, onde será construída a siderúrgica da LLX com a Wisco, mostram que o desembarque chinês deste começo de século, desta vez po-derá ter impacto tão grande sobre a socieda-de e a economia brasileira quanto foi o gesto português de “descobrir o Brasil”. É este o sentimento que salta do texto de Antonio Fattore, um italiano especialista em China que assessorou a ex-governadora do Pará, Ana Julia, do PT.

Os chineses, que poderiam ter descoberto o Brasil há mais de cinco séculos, agora chegam com força total, investindo em várias frentes

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CHINA: PRINCIPAIS METAS SOCIOECONôMICAS (2011 – 2015)

aumento do PIB: + 7% ao ano

aumento real do salários: + 40%

novos empregos: 12 milhões por ano

pobreza: redução de 50% no universo de 140 milhões de pessoas que vivem com menos de dois dólares por dia

consumo interno: + 20% ao ano

aeroportos: + 46

ferrovias de alta velocidade: + 13.000 km

rodovias: + 35.000 km

nova cobertura florestal: + 21%

consumo de agua: - 30 % por unidade de produção industrial

investimentos na área da tecnologia: + 20% ao ano.

produção de grãos: 570 milhões de toneladas

Fonte: China Dayli

Aos poucos, as principais empresas chinesas do setor do petróleo vão marcando presença no Pré-sal, mesmo sem participar de leilões promovidos pela Agência nacional de Petróleo. A porta de entrada para essas empresas é a parceria com o grupo do empresário Eike Batista

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No Rio, minério, aço e Pré-salMaurício [email protected]

Chineses participam de projetos de grande porte

Não dá para contar a história da relação en-tre os chineses e o Rio de Janeiro sem falar na família Batista. Nos anos oitenta, quando era presidente da Companhia Vale do Rio Doce, o empresário Eliezer Batista levou a empresa – que na época ainda era estatal – a impulsio-nar os negócios com a China, o que estreitou a relação daquele país com o Brasil e provocou a vinda das primeiras comitivas de empresários e industriais chineses ao Rio. Atualmente, cabe às empresas de Eike Batista, filho de Eliezer, o papel de parceiras prioritárias na “invasão” do Rio pelos chineses, que passa, sobretudo, pelos setores de mineração e de petróleo e gás.

Terceira maior siderúrgica da China, a Wuhan Iron & Steel Company (Wisco) vem fortalecendo sua parceria com o Grupo EBX, holding dirigida por Eike Batista. Em dezem-bro de 2009, a Wisco adquiriu por US$ 400 milhões cerca de 21,5% da MMX, empresa de mineração do grupo. Outro braço da holding de Eike, a empresa de logística LLX também fechou acordo para construir conjuntamen-te com a Wisco uma siderúrgica no Porto do Açu, localizado em São João da Barra, no Norte Fluminense. Com investimento inicial estimado em US$ 5 bilhões, a siderúrgica deve-rá produzir cinco milhões de toneladas anuais de aço. A Wisco terá 70% do capital do novo empreendimento e a LLX, os outros 30%.

Alguns dias após o fechamento dos negó-cios entre a EBX e a Wisco, uma comitiva com cerca de cem empresários chineses visitou o Porto do Açu. Na ocasião, Eike anunciou que a principal linha de produção da siderúrgica será de chapas de aço naval para atender aos mercados chinês e brasileiro. O empresário estima que o aumento da produção de aço em território brasileiro seja quase todo absor-vido pelo mercado chinês, e vê isso como algo positivo: “É importante garantirmos que não seja exportada somente matéria-prima. O aço vale dez vezes mais do que o minério de fer-

ro”, costuma dizer Eike, para quem o cenário ideal seria aquele em que o Brasil exportasse para a China uma tonelada de aço para cada três toneladas de minério.

Além da mineração e da siderurgia, outro setor que atrai os chineses no Rio de Janeiro é o de petróleo e gás, graças à descoberta do Pré-sal. Em maio do ano passado, a empresa estatal chinesa Sinochem Corporation adqui-riu da empresa norueguesa Statoil, de capital privado, 40% do Campo de Peregrino, locali-zado na Bacia de Campos, pelo valor de US$ 3,07 bilhões. Com início da produção prevista para este ano, Peregrino foi descoberto em 1994 e já tem petróleo comprovado. Sua aqui-sição reforça a política da Sinochem – que é a quarta maior empresa de petróleo da China – de se estabelecer na América Latina.

A compra da participação em Peregrino fica atrás somente da aquisição pela China Petro-leum & Chemical Corporation (Sinopec) de 40% da subsidiária brasileira da empresa es-panhola Repsol, com presença nos campos de Carioca e Guará, também localizados na área do Pré-sal. O negócio, estimado em US$ 7,1 bilhões, foi a maior aquisição do setor no Bra-sil até hoje e também a segunda maior já feita por uma petroleira chinesa no mercado inter-nacional. Agora gerida em conjunto com os chineses, a Repsol Brasil tem participação em 22 blocos exploratórios, além de ser parceira da Petrobras no Campo de Albacora Leste.

Presença crescenteAos poucos, as principais empresas chi-

nesas do setor de petróleo e gás vão mar-cando presença no Pré-sal, mesmo sem jamais ter participado de um leilão pro-movido pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). Essa tática chinesa, segundo rumo-res intermitentes do mercado, pode se es-tender tendo, mais uma vez, o empresário Eike Batista como parceiro fundamental.

Desde setembro do ano passado, as empre-sas Sinopec e China National Oil Offshore Corporation (CNOOC) teriam apresentado à OGX – empresa da holding EBX dedica-da ao setor de óleo e gás – uma proposta de cerca de US$ 7,5 bilhões pela compra de 30% do conjunto de seus blocos exploratórios lo-calizados na Bacia de Campos.

Outras fontes afirmam que existe uma segunda proposta, com valores não reve-lados, de compra direta de parte das ações da OGX pelos chineses, em uma operação semelhante a que envolveu a Wisco e a MMX. Nem Eike nem a OGX se manifes-tam oficialmente sobre o assunto, mas não será surpresa se, ainda este ano, os chineses aumentarem sua presença no Rio de Janeiro e no Pré-sal brasileiro.

Terceira maior siderúrgica da China, a

Wisco vem fortalecendo a parceria com o Grupo

EBX, de Eike Batista

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No Pará, a busca de parcerias em alta tecnologia

A maior prova de que a China busca no Brasil um parceiro que vá além do mero for-necedor de commodities está em curso no Norte do país, mais precisamente no Pará. Nos últimos anos, governo, empresários e universidades paraenses estreitaram os laços com os chineses e firmaram parcerias para o desenvolvimento e transferência de conhe-cimento científico e tecnológico e também para a produção e utilização de produtos e serviços de alta tecnologia. Para os próximos anos, espera-se que diversas empresas chine-sas de ponta se instalem em solo paraense.

A história e o futuro da relação científica entre o Brasil e a China passam pelo Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) do Guamá, em Belém. Na sede do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na Amazônia, localizada dentro do PCT, são analisadas as imagens da cobertura florestal produzida pelo CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Re-cursos Terrestres), projeto desenvolvido em parceria pelos dois países desde 1988. É tam-bém no PCT do Guamá que está prevista a instalação de novos projetos de tecnologia de ponta envolvendo brasileiros e chineses.

Em 2010, delegações chinesas das provín-cias de Shandong e de Sichuan visitaram o PCT Guamá. Demonstraram grande inte-resse em cooperar e investir no Pará: “Os chineses estão muito interessados em ciên-cia e tecnologia e querem colaboração e in-serção nessa área”, conta Antônio Abelém, diretor-presidente do PCT do Guamá.

CBERS: à espera do lançamento

Enquanto espera novos investimentos chi-neses, o PCT Guamá abriga o projeto sím-bolo da colaboração científica entre Brasil e China. No prédio do Inpe, já começam os preparativos para transformar a sede do ins-tituto no principal ponto de monitoramen-to da floresta amazônica em todo o mundo. Isso será possível graças ao lançamento dos satélites CBERS 3, previsto para o ano que vem, e CBERS 4, previsto para 2014.

“Estamos negociando com a China uma nova série de satélites para uso totalmente civil. Desde 2003, o Inpe adotou uma políti-ca de transparência. Todos os dados produ-zidos pelos satélites CBERS são disponibili-zados gratuitamente na rede para qualquer cidadão no mundo que quiser acessar essas imagens”, diz Cláudio Almeida, chefe do Inpe Amazônia.

Os novos satélites desenvolvidos em par-ceria com os chineses, a partir de estudos co-ordenados da sede central do Inpe, em São José dos Campos (SP), apresentarão consi-deráveis inovações, como câmeras Mux, com alta-resolução, que atingem até cinco metros de distância. Outra câmera, a Awfis, tem uma visão larga de cerca de 800 km.

Os chineses estão muito interessados em ciência e tecnologia e querem colaboração e inserção nessa área”ANTôNIO ABELÉM, diretor-presidente do PCT do Guamá

especial china | projetos

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ABRIL 2011 | InOVA 19

Monitoramento solidário

Por enquanto, os dados disponibilizados pelo Inpe só registram a América do Sul, mas, a partir do CBERS 3, um conjunto de antenas ficarão localizadas na África para receber imagens de satélite sobre todo o con-tinente africano e distribuir gratuitamente para todos os países da África.

Ajudar os demais países em desenvolvimen-to foi uma decisão política tomada em conjun-to com os chineses: “O Inpe foi pioneiro ao de-fender a democratização do acesso aos dados, pois até então as agências que produziam ima-gens de satélites, todas de países desenvolvidos, comercializavam caro seus produtos. Depois, outros passaram a distribuir gratuitamente. Satélite significa um investimento muito alto e cabe aos governos custear esse serviço público. Outros começam a entender agora que o mun-do inteiro ganha quando todos têm acesso aos dados de satélite. Brasil e China tiveram coe-rência no discurso e na atitude. Foi uma parce-ria que gerou fato político”, diz Almeida.

Vagão para a Serra dos Carajás

Atualmente, está em curso na fábrica da empresa brasileira Oyamota, localizada na cidade paraense de Castanhal, a construção do protótipo de um vagão com tonelagem diferenciada (37,5 toneladas) para rodar na ferrovia de Carajás transportando minério. O acordo para a produção do protótipo – que, se for aprovado, será produzido em grande escala a partir do ano que vem – foi firmado com a empresa chinesa Qiqihar Railway Rolling Stock, uma das maiores do mundo, no ano passado, durante reunião que contou com as presenças do empresário brasileiro Roberto Kataoka (presidente da Oyamota) e dos empresários chineses Zhao Xiang, Wang Chunlei e Yang Feng, além da então governadora Ana Júlia Carepa e do então secretário de Ciência e Tecnologia do Pará, Maurílio Monteiro.

Um dos principais incentivadores da aproximação entre o Pará e a China, Mon-teiro se diz muito animado com esse pro-jeto: “Trabalhadores da Oyamota foram treinados na China para montar os vagões e já voltaram para fazer o protótipo. O vagão seria produzido aqui no Pará para dar conta de maximizar o uso da ferrovia, utilizando

o peso no limite. É um negócio que começa a ser tabulado e seria a primeira montadora do Pará. É um caso de inovação incremen-tal, onde você pega um vagão para redi-mensionar o tamanho e maximizar o uso e o produz regionalmente”, diz Monteiro.

O ex-secretário estadual de C&T afirma que o maior mérito do governo paraense foi perceber as reais possibilidades de coo-peração com a China: “Essa possibilidade foi em alguma medida moldada a partir do reconhecimento de que o Pará tem uma con-dição periférica do ponto de vista econômi-co e científico. Então, nós buscamos ir além das grandes províncias chinesas do litoral e também estabelecer parcerias com provín-cias com um perfil que permitisse um maior nível de interação. Nossa estratégia foi traba-lhar com foco, já que o Brasil e a China são muito grandes e essa relação Sul-Sul ainda é historicamente pouco desenvolvida”, diz Monteiro, acrescentando que os dois países inauguram um novo modelo de parceria: “Temos com eles um tratamento solidário e respeitoso e um alto nível de simetria nos projetos. Aprofundar essa relação é uma tarefa do povo brasileiro e do povo chinês”. (MT)

Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá deve abrigar projetos de ponta envolvendo

brasileiros e chineses

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Caminhões e carros: negócios da Chinanicéia Clí[email protected]

Um desafio às montadoras tradicionais

Nenhuma semelhança com a experiência fracassada da invasão dos Ladas russos, da década de 1980: desta vez, ao que parece, os chineses mostram que vieram para ficar, em todos os segmentos automotivos. Até mes-mo no fechado clube das montadoras de caminhões, que agora dividem o mercado com a distribuidora Sinotruk Brasil, socie-dade formada por um grupo de investido-res, todos do setor de transporte de carga, com larga experiência no segmento.

Como parte da história do setor, o ABCD também é cenário de mais esta disputa. A Sinotruk inaugurou uma concessionária em São Bernardo, a primeira do estado de São

Paulo e a 23ª do grupo no Brasil. A propos-ta é ampliar a rede em mais 14 unidades até o final do ano.

Logo ao chegar, a marca conquistou um tradicional cliente da Região, o Grupo Tomé, dono de uma frota com 250 cavalos-mecânicos da Mercedes, Volvo e Scania, montadoras com modelos da mesma faixa de mercado dos chineses que começaram a ser comercializados no Brasil.

O Grupo Tomé comprou dois exempla-res do modelo Howo 380, na configuração 6x4, que tem preço sugerido de R$ 290 mil. A decisão de investir na novidade teve al-guns fatores fundamentais, como preço e bom relacionamento com alguns sócios da Sinotruk Brasil, conforme o administrador de frota, Caio Tomé. “O preço foi quase 50% inferior ao de um similar nacional”, compara. Outro ponto positivo destacado pelo empresário é a rapidez na entrega dos dois caminhões: cinco dias, contra os 70 dias habituais.

A Sinotruk Brasil afirma que não vai fal-tar assistência técnica para os caminhões importados da China. “Serão 37 pontos de atendimento em todo o território nacional até o final deste ano”, explica o diretor co-mercial da distribuidora, Joel Anderson.

Com investimentos já aplicados de R$ 12 milhões, a operação prevê orçamento em torno de R$ 130 milhões, apenas no primei-ro ano.

A Sinotruk Brasil estima trazer da China, neste ano, 1,3 mil caminhões. A importação é feita pela Elesonic Comércio Ltda, com base em Campina Grande do Sul, no Pa-raná. “Todos os sócios envolvidos são em-presários focados no transporte, comércio varejista de combustíveis e distribuidores de concessionárias de caminhões”, comenta Joel Anderson.

A fabricante chinesa CNHTC (China National Heavy Truck Group Corpora-tion) atua no segmento de transporte de carga há mais de 70 anos. Neste ano, es-tima produzir cerca de 180 mil caminhões, número maior que a produção brasileira de 2010, que foi de 157,7 mil unidades li-cenciadas, conforme dados da Anfavea, a associação das montadoras.

A partir de 2012, o plano dos importa-dores é comercializar no Brasil o Howo A7 Euro 5, cobrindo faixas de potência que vão de 420 cv até 560 cv. A montagem dos veículos inicialmente utiliza o sistema CKD – veículos parcialmente desmonta-dos. Uma das prioridades será a busca de

Concessionária Sinotruk de São Bernardo é a primeira no estado e a 230 do grupo no País

especial china | mercado

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Metalúrgicos das montadoras revelam atenção O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – o principal sindicato de trabalhadores da base das montadoras internacionais instaladas no Brasil - está atento a esta última onda de ocupação do mercado brasileiro promovida pelas marcas chinesas. Ainda neste semestre, pretende realizar, em conjunto com empresários e com a presença do governo federal, um seminário para propor um conjunto de ações destinadas ao fortalecimento da produção e do emprego industrial. A ideia é discutir tarifas para importados, restrições técnicas, cadeia de fornecedores, transferência de tecnologia, financiamento para a inovação nacional, qualificação de mão de obra entre outros.Segundo Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o investimento estrangeiro no Brasil é bem-vindo e saudável, mas “desde que obedeça padrões de salário e de relações de trabalho compatíveis com os praticados hoje no País”. Para ele, a vinda de montadoras e veículos da China ou de qualquer outro país “não pode rebaixar esse padrão”. Ressalta ainda

a importância de que “as empresas que vierem a produzir aqui gerem empregos qualificados e fortaleçam o parque

nacional de autopeças. O que devemos evitar é que uma empresa venha para cá e importe tudo, traga uma

caixa-preta e só monte o carro”.Se a vinda de novas empresas automobilísticas estrangeiras obedecer a essas condições, os trabalhadores do setor não têm com o que se preocupar, garante Sérgio Nobre.

peças e equipamentos nacionais para al-cançar 60% de nacionalização, conteúdo exigido pelo BNDES para financiamento pelo Finame, linha que viabiliza a venda de caminhões no Brasil.

Carros chineses: bons e baratos

Bem antes dos caminhões, os automóveis chineses aportaram no Brasil. A fabrican-te Chery é uma das que vem apostando no mercado nacional. Um dos modelos da marca, o Chery QQ, é comercializado com preço sugerido de R$ 22.900, tem ar-con-dicionado, direção hidráulica, trio elétrico, airbag duplo, ABS e sensor de estaciona-mento, itens que nos modelos nacionais são considerados opcionais e encarecem o valor para o consumidor final.

Ainda no mercado de automóveis, a JAC Motors, com fábrica em Hefei, na China, adaptou os modelos para o mercado brasi-leiro. Seus carros contam com equipamentos dos principais sistemistas globais, como Delphi, Continental, Jo-hnson Control, Visteon e Bosch.

Sérgio Nobre: “chineses são bem vindos, desde que

respeitem padrões de salário e de relações de trabalho”

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Preço baixo é atrativo para consumidoresAlguns itens chegam a custar menos do que a metade do equivalente nacional

Vladimir Ribeiro [email protected]

Dois fatores definem a preferência do consumidor no momento da compra: qua-lidade e preço baixo, sendo que, na maioria das vezes, o segundo leva vantagem sobre o primeiro.

A constatação é de lojistas que comercia-lizam eletroeletrônicos, onde a presença de produtos chineses é mais intensa. “O preço final de um celular chinês chega a ser até 60% mais barato que o nacional. Muitos clientes procuram aparelhos de vídeogame, pois en-quanto os nacionais chegam a custar R$ 1 mil, os que são fabricados na China saem por R$ 300”, afirma o comerciante Lucas Grimaldi, da Feira da Praça Lauro Gomes, no centro de São Bernardo do Campo.

Nas feiras populares espalhadas pelo ABCD, é fácil encontrar celulares, vídeo-

games, relógios, brinquedos, entre outros produtos chineses. “Os celulares fabricados na China possuem mais recursos, como a possibilidade de colocar quatro chips e TV digital”, conta Grimaldi.

Esse um passo à frente na questão de re-curso é outro fator que acaba ganhando o consumidor no momento da compra. “En-tre os produtos mais procurados, estão o MP7 e o telefone fixo. Hoje há aparelhos importados de MP10, com mais utilidades e com preço menor. Tenho na loja tanto os nacionais quanto os importados, mas por conta do preço mais baixo, a saída maior é dos chineses”, diz o lojista.

O problema na negociação com o clien-te está na questão da garantia do produto. “Se é um aparelho nacional, o tempo de ga-rantia é maior e o consumidor pode levar a qualquer assistência eletrônica para manu-tenção. Com os produtos importados, são 30 dias, pois é o prazo que o fornecedor nos dá”, explica o comerciante Roberval Lima, também de São Bernardo do Campo.

Lima explica que por conta de diversos prejuízos com defeitos em aparelhos impor-tados, resolveu não trabalhar mais com pro-dutos chineses. “Prefiro trocar o produto que apresentou problemas, e arcar com a perda, do que perder o cliente”.

Para alguns varejistas, a venda de eletrodomésticos só não é maior porque a assistência técnica é escassa e precária. Isso porque os produtos chineses possuem mais recursos tecnológicos do que os demais

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Investimentos crescentesEmpresários brasileiros precisam ter mais iniciativa e ousadia na relação comercial com os chineses

o analista político e escritor Wladimir pomar é provavelmente o brasileiro que melhor conhece as singularidades econômicas e políticas da China. autor de livros como “o enigma Chinês: Capitalismo e socialismo” e “China: desfazendo Mitos”, este experiente militante da esquerda nacional – que participou das fundações do pCdob, em 1962, e do pt, em 1980, – passa atualmente parte do seu tempo em pequim e vem acompanhando de perto a aproximação científica e comercial entre o brasil e a China, processo que, em sua avaliação, deve se intensificar nos próximos anos. pomar afirma que os empresários brasileiros precisam mudar de postura para importar mais equipamentos de alta qualidade e menos “bagulheira” da China, e que os dois países ainda precisam conhecer melhor o que cada um faz em termos de inovação científica e tecnológica. ele também critica os que dizem que os chineses buscam no brasil um mero exportador de commodities e afirma que falta iniciativa política no brasil para melhorar as relações comerciais bilaterais. a seguir, um resumo da entrevista que concedeu à InoVa:

InoVa: Como o senhor avalia o papel desempenhado pela China na atual etapa de desenvolvimento econômico e industrial do brasil?Wladimir pomar – Os investimentos chineses tendem a crescer rapidamente no Brasil e em outras partes do mundo. Eles têm excedentes de capital e precisam investir em países que têm necessidade de investimentos diretos, como é o caso do Brasil. A vantagem é que estão dando prioridade a investimentos produtivos. Da parte do Brasil será necessário definir áreas prioritárias para a captação desses investimentos, de modo a adensar nossas cadeias industriais, assim como políticas mais adequadas para atrair investimentos.

InoVa: Como o sr. assinalou em um artigo recente, as importações brasileiras prove-nientes da China dobraram em cinco anos, atingindo us$ 21,4 bilhões em 2010 e o país é o principal parceiro comercial do brasil. dilma rousseff, no entanto, se queixou recentemente da importação de muita “bagulheira” da China. o que falta para a rela-ção comercial entre os dois países se tornar mais próxima do ideal?pomar – A presidenta Dilma tem razão: o Brasil realmente importa muita bagulheira da China. Mas este não é um problema da China, é um problema do Brasil, de seus industriais e importadores. Mesmo porque a China, além dos bagulhos, que fazem a festa de muitos importadores, fabrica equipamentos e máquinas de qualidade a custos muito competitivos, o que representa uma oportunidade muito positiva para o processo de reindustrualização do Brasil. Portanto, são os empresários brasileiros, assim como o governo, que precisam redirecionar seus interesses e importar bens de capital, que ainda não produzimos, para acelerar o processo nacional de industrialização.

InoVa: quais são os caminhos hoje para uma maior colaboração entre brasil e China em termos de inovação científica e tecnológica?pomar – O Brasil já tem algumas experiências bem sucedidas de intercâmbio científico e tecnológico com a China, a exemplo do programa de satélites de sensoriamento re-moto e das pesquisas sobre mudanças climáticas. Mas esses exemplos são muito pequenos diante das possibilidades‚ de complementaridade que os dois países apresentam, em especial nas ciências e tecnologias com aplicação na agricultura, pecuária, indústria e serviços. Os chineses em geral desconhecem as inovações geradas pelo Bra-sil, e nós também temos pouca noção do nível que os chineses alcançaram nas diferentes áreas

InoVa: Como superar essa lacuna?pomar – Para superar esse estado de coisas precisamos ter mais iniciativa no sentido de inventariar as ciências e as tecnologias que cada um dos dois países possui, nos diversos campos, ter o máximo de conhecimento possível sobre as áreas em que estamos mais adiantados e mais atrasados, de modo que o intercâmbio seja nos dois sentidos. (MT)

na Galeria Lauro Gomes, no centro de São Bernardo do Campo, produtos chineses se misturam a produtos nacionais

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China: memórias de uma viagem

Doutor em Direito Internacional e diplomado em História e Cultura Chinesa pelo Instituto de Estudos Orientais de Milão, Antonio Fattore é um profundo conhecedor da China. Ele esteve no país cinco vezes, no período de 2008 a 2010, como Assessor Especial de Relações Internacionais do Governo do Pará. Aqui, ele relata quais foram as principais mudanças produzidas pela abertura e antecipa os desafios que terão de ser enfrentados nos próximos anos:

ANTONIO FATTORE

especial china | depoimento

24 InOVA | ABRIL 2011

Chineses, fiquem ricos”. A campanha, lançada em 1978, tirou um bilhão de

chineses da pobreza e mudou drasticamente o equilíbrio econômico mundial. Depois do caos e da ingovernabilidade da “Grande Revolução Pro-letária”, eles não queriam outra coisa. Foi essa a China que conheci.

Hoje, três décadas após a abertura, como estão os chineses? Sem dúvida, houve um avanço extra-ordinário em todos os setores: saúde, alimentação, escolaridade, emprego, participação das mulheres, defesa dos idosos e liberdades individuais.

É só atravessar de ônibus (custa só o equivalente a 20 centavos de reais!) qualquer grande cidade e o panorama não muda: Edifícios ultra modernos, outros mais velhos, muitos em construção, mas nada que nós, brasileiros, chamaríamos de favelas. As cidades são limpas, é raro encontrar mendigo ou morador de rua e não aparecem sinais de fome ou de subalimentação. A policia fardada é pouco presente. Esse é um dos tra-ços que mais surpreende quem conheceu a ostensiva presença de policiais nos países do socialismo real.

O trânsito é caótico, mas tem seu jeito de se auto-regulamentar, prevalecendo a prudência, a baixa velocidade, o tratamento preferencial aos pedestres, aos ciclistas, aos ônibus, isso tudo num pais que a cada ano joga nas ruas 19 mi-lhões de carros novos.

Em qualquer serviço, as filas são longas, não são respeitadas, mas, ainda assim, as coisas funcionam.

O povo, que há 30 anos vivia e morria no mesmo vilarejo, cultivando minúsculos pedaços de terra, ví-tima das enchentes e das secas, agora começa a viver no que o governo chama de “moderada pros-peridade”. Mas os problemas são imensos.

A grande maioria da população melhorou de vida, mas as diferenças sociais são evidentes. A tradição revolucionaria ainda é forte, mas não é fácil convencer as camadas ricas de que chegou a hora de dividir.

Os problemas ambientais são visíveis. O país pre-cisa de muita energia para garantir o máximo de ren-dimento da pouca terra e 50% da água disponível é usada na irrigação artificial das estufas. É assim que a China produz 540 milhões de toneladas de grãos que garantem a auto suficiência alimentar.

A China é velha! Há muitos idosos, poucos jovens e quase nenhuma criança. É o resultado da política do filho único. Agora faltam trabalhadores e os cus-tos sociais da população idosa são altos. Não é fácil reverter o quadro demográfico: os jovens demoram a casar e preferem consumir a gerar filhos.

O maior desafio é a democracia. A China depen-de dela para conquistar definitivamente o desen-volvimento. Mas qual democracia? Tentativas de experimentar e aprofundar formas velhas e novas de participação popular não faltam. Numa época de forte aceleração da demanda por liberdade dos povos (e também de intervenções armadas das po-tencias ocidentais), a “longa marcha” da China por uma verdadeira democracia socialista parece estar só no inicio.

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Felipe [email protected]

Grupo Thales, líder mun-dial em eletrônica e sis-temas para os mercados de defesa, aeroespacial e segurança, vai investir cin-co milhões de euros, cerca

de R$11,7 milhões, na fabricação de radares de defesa no Brasil. O equipamento Ground Master 400 poderá identificar a altitude dos aviões caças em um raio de até 400 quilôme-tros, determinando a distância e o ângulo do avião. O produto será desenvolvido, a partir deste ano, em São Bernardo, pela Omnisys Engenharia, empresa que tem participação societária do grupo francês, Com o aporte, a Omnisys vai contratar 200 novos funcioná-rios. O lançamento do primeiro equipamen-to brasileiro está programado para 2013.

O anúncio foi feito pelo presidente da Tha-les, Jean-Loïc Galles. Ele destacou que a esco-lha da fábrica de São Bernardo para ampliar a produção de radares deve-se ao potencial econômico da cidade, além da localização estratégica, próxima do Porto de Santos, con-dições ideais para o objetivo da empresa de consolidar seus negócios na América Latina. “Estamos saindo na frente e trazendo para

São Bernardo tecnologias de ponta. Além de produzir, a Omnisys poderá oferecer serviços de manutenção para os clientes”.

Na visão do ex- Ministro de Estado de se-gurança institucional no governo Fernando Henrique Cardoso, General Alberto Mendes Cardoso, a decisão dos franceses é ambiciosa e positiva. “O país deixou de investir no setor de defesa durante anos e agora a demanda já começa a aparecer. Acredito que poderá servir de exemplo para outras empresas”.

Os radares de defesa fabricados no Brasil serão comercializados no mercado nacional e exportados para países sul-americanos. Os equipamentos que hoje são fabricados na matriz da Thales, na cidade de Liomours, na França, serão vendidos para o mercado europeu. Atualmente, Alemanha, Canadá, Eslovênia, Estônia, Finlândia, França e Malásia são os principais clientes.

Luiz Henriques, presidente da Omnisys Engenharia, conta que para produzir o ra-dar de defesa, a empresa vai ampliar sua es-trutura física e promover intercâmbio com técnicos franceses. O Grupo Thales integra o Consórcio Rafale na licitação FX-2, desti-nada a comprar 36 caças supersônicos para renovar a frota da Força Aérea Brasileira. A norte-americana Boeing e a sueca Saab são as concorrentes.

Omnisys, empresa de São Bernardo, foi escolhida em função do potencial econômico, além da localização estratégica, próxima ao Porto de Santos. O objetivo é que além de produzir, ofereça serviços de manutenção aos clientes

investimento defesa

Franceses investem em fábrica de radares de defesaInjeção de R$ 11 milhões consolida os negócios do Grupo Thales na América Latina

da esq. para dir.: Ex- ministro de estado de segurança institucional, no governo

FHC, general Alberto Mendes Cardoso; presidente da Thales,

Jean-Loïc Galles; diretor do Grupo Thales no Brasil, Laurrent Mourre e presidente da Omnisys

Engenharia, Luiz Henriques

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26 InOVA | ABRIL 2011

Clébio Cavagnolle [email protected]

Mercedes-Benz está nos últimos testes para im-plantação da nova tec-nologia BlueTec 5 SCR, equivalente ao Euro 5, que entrará em vigor no

Brasil a partir do ano que vem. Trata-se de um inovador sistema de redução catalí-tica seletiva, com destaque para adição do ARLA 32 (Agente Redutor Líquido Au-tomotivo) nos escapamentos dos veículos para pós-tratamento dos gases de escape. Todo o projeto foi concebido no Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da montadora, em São Bernardo do Campo.

“Estudamos muito para fazer a adapta-ção dessa tecnologia européia à realidade brasileira. Será uma inovação em termos de motores limpos”, enfatiza Gilberto Leal, gerente de Desenvolvimento de Motores da companhia. A ação conjunta do SCR e do ARLA 32 culminará com redução de 80% nas emissões de material particulado e de 60% nas emissões de NOx, atendendo à legislação de emissões Conama P7, que valerá a partir de 2012. Com a adoção do BlueTec 5 SCR, serão liberados na atmosfe-ra apenas nitrogênio puro e vapor de água,

inofensivos à natureza.O CDT também contribuiu diretamente

para a fase de testes do diesel da cana-de-açucar, uma parceria da montadora com a Amyris Brasil, empresa que desenvolveu esse biocombustível. Foram completados 2,6 milhões quilômetros de testes operacio-nais em ônibus abastecidos com esse com-bustível “limpo”, entre avaliações com os tipos B5 e B20. Nas experiências incluem-se ainda testes de operação envolvendo cami-nhões abastecidos com B100, todos com objetivo de atender à legislação de emissões Conama P7.

Criado em 1991, o CDT da Mercedes Benz é pioneiro no Brasil dentro do seg-mento de veículos comerciais, além de figu-rar também como o maior da montadora fora da Alemanha, sede mundial da marca. O centro desenvolve soluções para projetos futuros e melhorias para produtos de série, tendo como base as condições brasileiras de utilização dos veículos. “Este centro possi-bilita pensar em diversas áreas para avan-ços em produtos e pesquisas. Graças a ele, estamos chegando a três anos de pesquisas detalhadas e avançadas para combustíveis sustentáveis e motores limpos”, explica Gil-berto Leal.

Com uma equipe de 500 profissionais especializados, entre engenheiros técnicos,

tecnologia sustentabilidade

Centro de desenvolvimento Tecnológico é o maior fora da Alemanha, sede mundial da montadora

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Mercedes-Benz a um passo da implementação de nova tecnologia para adequação ao Euro 5, que entrará em vigor no Brasil a partir do próximo ano

MENOS POLUEnTESfísicos, matemáticos, projetistas e pessoal de apoio, o CDT conta com uma estrutura so-fisticada formada por bancos de provas de motores, bancos de provas para ensaios de fadiga, laboratórios para testes de freios e outros componentes veiculares, e laborató-rios de acústica, vibrações, medições experi-mentais, termodinâmica, eletrônica e infor-mática. “Sem um centro como este, não há progresso para encararmos a concorrência mundial”, ressalta o executivo.

Leal explica que o relacionamento entre as unidades do CDT e as demais áreas da fábrica segue o princípio da engenharia si-multânea, com times de trabalho multifun-cionais que garantem uma comunicação perfeita e eficiência elevada. “Com isso, a Mercedes-Benz garante contínuos avanços na qualidade dos produtos, agregando evo-lução a aspectos como eletrônica, combus-tíveis, novas tecnologias ecológicas, técnicas de reciclagem e pesquisa de novos materiais, especialmente os renováveis”, destaca.

Além do intercâmbio com outras unidades do grupo, a montadora também promove troca de informações e experiências com ou-tros parceiros, como fornecedores, clientes, institutos de pesquisas e encarroçadores.

Nos bancos de provas do CDT, são re-alizados testes de variação da temperatu-ra e pressão, simulando o funcionamento

dos motores em diferentes altitudes, o que resulta em maior precisão e eficiência dos ensaios. Nos testes de campo, os veículos experimentais circulam por vias urbanas de trânsito e rodovias, além de circuitos confinados fora-de-estrada, especialmente preparados para essa finalidade. Nessas si-tuações são simuladas condições extremas de dirigibilidade, submetendo os veículos a duros testes operacionais e estruturais.

Para Leal, com o mercado mundial foca-do em combustíveis alternativos e limpos, além da necessidade de independência ener-gética por parte dos países, a companhia já está preparada para continuar a atender qualquer demanda nesse sentido. “É uma questão de pensar em futuro e não no ime-diatismo. Foi pensando nisso que criamos esse centro e estamos prontos para novas demandas”, finaliza.

“Esse centro permite pensar em diversas

áreas para avanços em produtos e pesquisas” Gilberto Leal, Gerente

de Desenvolvimento de Motores

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infraestrutura laboratórios

Na verdade, eles existem e estão muito bem equipados, mas faltam divulgação e articulação para que sejam plenamente usados

Joana [email protected]

o tradicional setor energé-tico, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo

Américo (Cenpes), no Rio de Janeiro, guia a Petrobras num mergulho ao Pré-sal. En-quanto isso, nos laboratórios da Universida-de Estadual de Campinas (Unicamp), o País garante a liderança mundial em produção, co-nhecimento e tecnologia de cana-de-açúcar e etanol. Outras áreas também roubam a cena. A Universidade de São Paulo (USP) desen-volve tecnologias pioneiras no estudo do ge-noma humano. Em artigo da revista britânica The Economist, de janeiro de 2011, o Brasil é colocado como líder internacional na área de medicina tropical.

No ABCD, a Faculdade de Tecnologia Termomecânica (FTT), em São Bernardo do Campo, proporciona aos alunos labora-tórios com ampla aparelhagem e tecnologias sempre atualizadas das principais veias pro-dutivas da Região. A instituição recebe cerca de R$ 7 milhões ao ano da sua mantenedora, a Fundação Salvador Arena, para nutrir o padrão de qualidade da infraestrutura.

São laboratórios equipados com alta tecnologia que têm suportado as inúmeras descobertas de cientistas e pesquisadores no Brasil. O País hoje destina 1% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) à Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I), o dobro do que os outros países latino-ame-ricanos investem em média, mas ainda há muito a articular para que se consiga re-cuperar décadas de falta de investimento,

inclusive no incremento do PIB. “A ciência brasileira não está distante do que é desen-volvido nos melhores centros do mundo. Em quase todas as áreas do conhecimen-to, temos grupos de pesquisa competitivos. Mas não é raro perdemos força por falta de laboratórios”, explica o Secretário de De-senvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência Tecnologia (MCT), Ronaldo Mota.

A falta de acesso a equipamentos para pesquisa também é reconhecida pela con-sultora e pesquisadora do Instituto de Ação Tecnológica e Desenvolvimento Inovador (IATDI), Silvana Pompemeyer. “A univer-sidade brasileira está sendo equipada. Mas tem a discussão da vocação para o ensino, se a universidade deve ou não focar tam-bém no atendimento à indústria”, pondera.

POR qUE FALTAM LABORATóRIOS?

Linha de produção 100% automatizada:

equipamento do laboratório da FTT que simula a fabricação de

produtos, como uma mesa de sinuca, sem

nenhum contato direto do trabalhador com a

matéria-prima.

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ABRIL 2011 | InOVA 29

Na verdade, eles existem e estão muito bem equipados, mas faltam divulgação e articulação para que sejam plenamente usados

POR qUE FALTAM LABORATóRIOS?“Além das universidades, existem diversos laboratórios empresariais. É preciso pensar a transferência tecnológica e isso também se dá pela articulação do acesso à infraestru-tura laboratorial.”

Segundo Wilson Carlos da Silva, diretor da FTT, a instituição está aberta a propos-tas de investimentos externos na sua infra-estrutura e se interessa pelo compartilha-mento. Mas, as contrapartidas nem sempre tem sido favoráveis. “O fornecedor das má-quinas de um laboratório da graduação em Tecnologia Mecatrônica Industrial ofereceu o produto em troca da utilização do espa-ço. Mas o tempo exigido era tão grande que preferimos comprar o equipamento com re-cursos próprios e manter a qualidade do en-sino”, pontua. A FTT é referência em labo-ratórios e é procurada por pesquisadores de

Em quase todas as áreas do conhecimento temos grupos de pesquisa competitivos. Mas não é raro perdemos força por falta de laboratórios”

RONALDO MOTA, Secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCT

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diversas instituições e empresas. “Na área de Alimentos, nossos equipamentos são únicos no Brasil. Recebemos pesquisadores das principais universidades, como a Uni-camp, buscando essas atualizações, além de empresas privadas que buscam suporte no desenvolvimento de produtos e processos.”

Ainda que a FTT priorize a educação, a direção da mantenedora orienta para a expansão do diálogo com as demandas go-vernamentais e empresariais para o melhor aproveitamento dos espaços de pesquisa e do conhecimento gerado em seus laboratórios. Por falta de mecanismos externos de articu-lação, há pouco mais de um ano a institui-ção iniciou uma agenda própria de visitas a órgãos públicos e empresas, para buscar projetos conjuntos. “A organização que exis-te ainda é muito pontual. Nossa propagan-da ainda se faz pelo aluno, que no mercado consegue demonstrar capacidade inovativa e indica nossos laboratórios”, coloca Silva.

A Agência de Desenvolvimento Econô-mico do ABC identificou recentemente centenas de capacidades laboratoriais na Região, ao desenvolver o Guia de Serviços Tecnológicos, com o Instituto Mauá de Tec-nologia (Imes), a Fundação Santo André (FSA), a Faculdade de Engenharia (FEI), a Fundação Tecnologia Termomecânica (FTT) e a Universidade de São Caetano do Sul (USCS). Mas não existe uma descrição organizada dos serviços e informações espe-cíficas de cada espaço.

R$ 360 milhões do CT-Infra

Em dezembro de 2010, a Financiado-ra de Estudos e Projetos (Finep) lançou a chamada pública MCT/Finep/CT-Infra/Proinfra, com R$ 360 milhões em recursos a fundo perdido voltados para projetos de implantação, modernização e recuperação da infraestrutura física de pesquisa em ins-tituições públicas de ensino superior.

O Proinfra foi instituído em 2001 e desde então, anualmente, uma chamada pública é lançada e o aporte é definido em reunião do Comitê Gestor do Fundo Setorial – CT In-fra. De acordo com Ricardo Rosa, chefe do Departamento de Infraestrutura das Univer-sidades da Finep, os resultados do programa indicam um efeito benéfico nas instituições apoiadas, proporcionando melhores condi-

Equipamentos dos laboratórios da Faculdade de Tecnologia Termomecânica (FTT): estrutura é completa, mas pouco utilizada pelas indústrias

A instituição recebe propostas de investimentos externos para infraestrutura e se interessa pelo compartilhamento, mas as contrapartidas nem sempre são favoráveis.”WILSON CARLOS DA SILVA, diretor da FTT

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ABRIL 2011 | InOVA 31

ções para o desenvolvimento da pesquisa e a formação de capital humano. “Sem a ca-pacidade laboratorial instalada, não se criam condições e massa crítica de profissionais competentes para sermos mais inovadores”, defende Rosa. “À época da criação do pro-grama de infraestrutura, as instituições esta-vam defasadas em pelo menos duas décadas. Hoje, nós temos uma real melhoria da base de pesquisa nas instituições.”

Silvana, na IATDI, espera acessar os re-cursos do edital Proinfra para promover a articulação das instituições de pesquisa, re-alizando um levantamento detalhado dos laboratórios e suas competências. Hoje, o Instituto oferece em sua página da internet uma lista com dezenas de espaços em todo o Brasil. “Esse serviço é muito acessado, mas é falho, faltam informações básicas, como as especificações dos serviços, e temos muito mais instituições do que as ali cadastradas”, adverte. Para a pesquisadora, é preciso tes-tar novos mecanismos, como a melhoria no compartilhamento das técnicas já desenvol-vidas, ponto inicial de qualquer pesquisa.

No Ministério da Ciência e Tecnologia, a responsabilidade sobre a manutenção e me-lhoria dos laboratórios é vista como respon-sabilidade do Governo e do setor privado. “Não há país competitivo em Ciência, Tec-nologia e Inovação (C,T&I) sem que todos esses segmentos invistam e muito. São áreas muito competitivas e não há nenhuma pers-pectiva de termos uma ciência realmente boa, sem contarmos com a demanda das em-presas e com o financiamento deste setor”, justifica Mota, que vê o marco regulatório nacional, especialmente as “leis de inova-ção” e “do bem”, como instrumentos para estimular a sinergia com o setor privado.

Mas o MCT reconhece as falhas nas es-truturas de transferência tecnológica. “Ainda somos relativamente tímidos em transferir conhecimento. Mesmo pesando nosso cres-cimento no sistema de C,T&I, a taxa de ino-vação nas empresas ainda é insuficiente. Um percentual pequeno dos empresários contrata cientistas e gera produtos novos para o mer-cado”, diz o Secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação. Dispondo de labo-ratórios mais avançados, alterando nossa cultura de inovação no ambiente empresarial e aumentando a articulação das políticas in-dustrial e de C,T&I, por certo ampliaremos nossa capacidade de inovar”, completa.

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Aluna de Alimentos, da FTT, manipulando

equipamento que mede a quantidade de proteína. Laboratórios

do curso estão entre os mais equipados do País

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32 InOVA | ABRIL 2011

serviços | fomento, financiamento e suporte à inovação

UMA IDEIA NA CABEçA E UMA PATENTE NA MãOPara fazer uma boa ideia virar negócio, o empreendedor não pode deixar de patentear seu projeto. No passo a passo a seguir, estão as orientações para a obtenção de patentes de produto:

1 - Procurar o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior. A instituição tem a responsabilidade de tratar de concessão de patentes, do registro de marcas e de desenho industrial. Acesse o conteúdo do INPI em www.inpi.gov.br;

2 – No portal de internet do INPI, é possível realizar uma busca prévia, sob orientação de examinadores habilitados, em pastas contendo patentes que tratam de assunto semelhante ao do interessado. O objetivo é constatar se já existe patente concedida sobre o assunto, ou seja, se há anterioridade. Este ponto é crucial para o empresário, pois a existência de anterioridade impede de antemão a continuidade de suas intenções. A consulta também pode ser realizada na sede do INPI, no Rio de Janeiro, ou por correspondência;

3 – Se o interessado decidir ir avante, precisa elaborar um relatório descritivo, que deve: ser preenchido de modo padronizado; com exposição de ideias de forma clara e convincente; e mostrando que seu pedido de patente não tem anterioridades, mas tem o aspecto de novidade e preenche todas as formalidades exigidas pelo INPI;

4 - Uma vez preenchidas todas as formalidades, o interessado pode fazer o depósito do pedido de patente na sede do INPI, no Rio de Janeiro, ou em suas representações estaduais;

5 – Uma vez submetido, o processo segue várias etapas de exames, entre elas a publicação para que se averigúem eventuais contestações ou um chamamento para prestação de esclarecimentos. Somente após todas as avaliações, a patente é concedida;

6 - A validade de uma patente é de 20 anos para invenção e de 15 anos para modelo de utilidade.

Fonte: Sebrae: www.sebrae.com.br

SENAI E SESI: R$ 26 MILHõES EM INOVAçãO O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Social da Indústria (Sesi) lançaram o edital Inovação 2011, de fomento à inovação nas empresas brasileiras. São R$ 26 milhões destinados ao apoio técnico e financeiro para o desenvolvimento de produtos, melhoria de processos de produção ou criação de serviço que proporcionem qualidade de vida ao trabalhador ou à comunidade onde a empresa está situada. As inscrições podem ser feitas até 6 de maio. “O papel principal dessa iniciativa é promover a transferência de tecnologias para o setor industrial”, ressalta o gerente de Inovação Tecnológica do Senai, Marcelo Gaspar. Do total investido, R$ 16 milhões são do Senai, R$ 7,5 milhões vêm do Sesi e R$ 2,5 milhões serão pagos em forma de bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a pesquisadores que participam do projeto.

O valor supera os R$ 15,5 milhões aplicados em 2010 em 77 projetos. A perspectiva é apoiar o desenvolvimento de 90 a 95 projetos este ano. O aumento dos recursos do edital também ampliou de R$ 200 mil para R$ 300 mil o limite reservado a cada projeto.

Os recursos investidos nos projetos serão repassados aos departamentos regionais das instituições nos estados. Os recursos poderão ser aplicados na compra de equipamentos, contratação de terceiros, despesas com viagens e material de consumo, software, material de laboratório, dentre outros bens.

Somente as indústrias com mais de um ano de vida poderão concorrer ao edital. A contrapartida é de, no mínimo, 5% do valor pedido no edital.

As informações para a submissão de projetos podem ser encontradas no site: www.editaldeinovacao.com.br

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o que propor ao apresentar uM proJeto pIpe

1] Apoiar a pesquisa em ciência e tecnologia como instrumento de promoção da inovação tecnológica, desenvolvimento empresarial e aumento da competitividade das pequenas e microempresas.

2] Criar condições para incrementar a contribuição da pesquisa para o desenvolvimento econômico e social.

3] Induzir o aumento do investimento privado em pesquisa tecnológica.

4] Possibilitar a associação de pesquisadores do ambiente acadêmico em projetos visando a inovação tecnológica e a formação e o desenvolvimento de núcleos de desenvolvimento tecnológico nas pequenas empresas.

5] Colocação de pesquisadores no mercado de trabalho empresarial.

Mais informações em www.fapesp.br/pipe

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PROGRAMA PIPE, DA FAPESP, RECEBERÁ SEGUNDA ETAPA DE INSCRIçõES EM MAIOO Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), criado pela Fapesp, destina-se a apoiar a execução de pesquisa científica e tecnológica em pequenas empresas, sediadas no Estado de São Paulo. O programa oferece até R$ 625 mil por projeto. Em 2011 um lote de propostas já foi avaliado. Quem perdeu o prazo no início do ano pode inscrever sua proposta no segundo ciclo de análise, que receberá inscrições até 16 de maio de 2011.

Os projetos de pesquisa selecionados para apoio no PIPE deverão ser desenvolvidos por pesquisadores que tenham vínculo empregatício com pequenas empresas ou que estejam associados a elas para sua realização.

As propostas de pesquisa submetidas ao PIPE devem ser organizadas em três fases. A primeira consiste na elaboração da análise de viabilidade técnico-científica; a segunda pretende o desenvolvimento da proposta de pesquisa; e a terceira fase prevê a aplicação dos resultados visando a comercialização do produto ou processo que foi objeto da inovação criada a partir da pesquisa apoiada.

A fase 1 do programa deve ser desenvolvida em até nove meses e destina-se à realização de pesquisas sobre a viabilidade técnica da pesquisa proposta. O valor máximo de financiamento previsto é de R$ 125 mil para cada projeto. Este valor deve incluir todos os custos, exceto a Bolsa de Pesquisa em Pequena Empresa, quando couber.

Já a fase 2 do PIPE possui duração de até vinte e quatro meses e destina-se ao desenvolvimento da proposta de pesquisa propriamente dita. O valor máximo de financiamento previsto para esta etapa é de até R$ 500 mil para cada projeto. A pequena empresa deverá desenvolver internamente pelo menos 50% das atividades desta fase, podendo, excepcionalmente, subcontratar o restante de outras empresas ou consultores.

A concessão será feita para os projetos que demonstrem sucesso na fase 1 e a avaliação dará prioridade às propostas que documentem compromisso de apoio financeiro de alguma fonte para o desenvolvimento da fase 3, de desenvolvimento de novos produtos comerciais baseados nas etapas anteriores.

O interessado no apoio de recursos do PIPE poderá entrar diretamente com proposta de pesquisa para a fase 2 do Programa.

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34 InOVA | ABRIL 2011

atual crise do capitalismo global acelera as reflexões e aporta novas urgências ao debate sobre indicadores de mensuração da riqueza (PIB) e da inovação diante

do novo papel do conhecimento. Na moder-nidade industrial, produziam-se mercado-rias por meio de conhecimento; no regime de acumulação contemporâneo, produz-se conhecimento por meio de conhecimento. O conhecimento não é mais instrumental voltado a um fim (o bem), mas contém seu fim dentro dele mesmo, num processo que, justamente, não tem fim. Incerteza e singu-larização (customização) dos produtos, dos produtores e dos consumidores determinam a substituição da informação pelo conheci-mento, enquanto atividade reflexiva de jul-gamento. A informação permitia instaurar um mesmo mundo que os atores compar-tilhavam com base na mensurabilidade e equivalência generalizada: aquela dos pre-ços. O conhecimento diz respeito a uma multiplicidade de mundos. Uma produção de mundos: aquele veiculado pela marca, o marketing, a propaganda, o design. O cálculo (quantitativo - informacional) deve “fazer as contas” com o julgamento (qua-litativo - comunicativo): os saberes sociais, longe de serem unitários e indiscutíveis, se tornam múltiplos e controvertidos.

A crise permite (ou até obriga) uma res-significação da relação entre consumo e produção que passa necessariamente pelo enfrentamento do enigma do valor e esse, por sua vez, implica a redefinição da con-venção que junta dialeticamente trabalho e emprego, trabalho e capital (sendo que a ficção financeira não se reduziu apenas à alavancagem do crédito por meio dos deri-

vativos, mas diz respeito também à ilusória equação constituída pela difusão social do trabalho e a fragmentação de sua remune-ração). Usando a metáfora da colméia e da polinização, podemos dizer que a crise do valor e a crise financeira são resultados da nova condição do trabalho numa sociedade cujas convenções continuam a ser aquelas da colméia. A análise tradicional do valor (e da inovação) se limita à produção (output) de mel, que pode ser negociado no comer-cio, e, pois, a uma racionalidade instrumen-tal voltada a um fim (o mel), apropriável sob as formas de direito de propriedade privada ou pública (estatal). Mas, o valor criado pelo trabalho indireto, imaterial, re-lacional (de polinização) é “n” vezes mais importante que o trabalho material (direto) de produção de mel. Esse descompasso foi preenchido pelo consumo alavancado pelo crédito. Os desafios de uma nova métrica são exatamente aqueles do reconhecimento das dimensões produtivas da polinização e, pois, da construção de instituições e con-venções adequadas a essas redes cognitivas e não mais presas pela lógica de poder da colméia.

A produção e inovação por propagação polinizadora é aquela dos enxames de em-presas territorializadas (APLs), movimen-tos (pontos de cultura, trabalho colabora-tivo em rede Web), territórios de cidadania, bacias de trabalho metropolitano, renda (o Bolsa Família). Precisamos de indicadores de “enxameamento” que reconheçam a di-mensão produtiva e não deixem esgotar-se sua dinâmica propagada.

Giuseppe Cocco é professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro

ponto de vista

a crise do capitalismo

global O valor criado pelo trabalho indireto, imaterial, relacional é muito mais importante que o trabalho material

Giuseppe Cocco

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ABRIL 2011 | InOVA 35

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