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Abordagem Behaviorista Do Comportamento Novo Abby

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comportamento novo

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  • A abordagembehaviorista do

    comportamentonovo

  • A abordagem behaviorista do

    comportamentonovo

    Carmen Silvia Motta Bandini Julio Cesar Coelho de Rose

  • Copyright desta ediqao:ESETec Editores Associados, Santo Andr, 2006.

    Todos os direitos reservados

    Bandini, C.S.M.

    A abordagem behaviorista do comportamento novo. Carmen Silvia Motta Bandini & Julio Cesar Coelho de Rose. 1a ed. Santo Andr, SP: ESETec Editores Associados, 2006.110p. 21 cm

    1. Psicologa do Comportamento: pesquisa, aplicacoes2. Behaviorismo3. Anlise do Comportamento

    CDD 155.2 CDU 159.9.019.4 ISBN 85 88303 73 - 8

    ESETec E d ito res A ssociados

    C apa: D iva B enevid es Pinho(acrlico sobre tela)

    www.divabenevidespinho.ecn.br

    Solicitagao de exemplares: [email protected] Trav. Joo Rea, 120 B - Vila Bastos - Santo Andr - SP

    CEP 09041-070 Tel. 4990 56 83/ 4438 68 66

    www.esetec.com.br

  • Sumrio

    Apresentago vii

    Introdugo 9

    Urna introdugo nogo de comportamento verbal ^e proposta de anlise behaviorista radical

    1. A definigo de Comportamento Verbal e algumasimplicagdes 132. A Anlise do Comportamento Verbal proposta porSkinner 223. Os Operantes Verbais, algumas de suas caractersticas e a Anlise do Comportamento Verbal4. Os diferentes tipos de Operantes Verbais 32

    4.1 - O Mando 324.2-O ComportamentoEcico 364.3 - O Comportamento Textual 384.4 - O Comportamento Intraverbal 404.5 - O Tacto 41

    5. Os autoclticos 456. As mltiplas causas do comportamento verbal ea audiencia 49

    O surgimento de comportamentos verbais novos 521. A concepgo de Comportamento Novo na AnliseSkinneriana 522. A variabilidade comportamental como intrnsecaao modelo causal de selego por conseqncias e 57ao conceito de operante

    2.1 - A Nogo de Operante e sua Relago com a g.jVariabilidade das Respostas

  • 633.1- O Processo de Generalizago e as Extenses de Mandos e Tactos 633.2 - A Recombinacjao na FormaQo de Novas Respostas Verbais j q3.3 - A Fungo dos Processos Autoclticos na Producjo de NovasRespostas Verbais 773.4- O Papel da Auto-Ed9o do Comportamento Verbal noSurgimento de Novas Respostas 803 .5 - A Oiferenciago por Aproximaco Sucessiva naAprendizagem de Novas Respostas 83

    3. Os processos

    Os procedim entos envolvidos no surgim ento de comportamentos verbais novos ^5

    1. Tcnicas de autofortalecimento do ComportamentoVerbal 85

    1.1 - A Manipulaco de Estmulos 861.2- Mudancas no Nivel de Ed9o do Comportamento Verbal 891.3- Comportamento Verbal Produzido de Forma Mecnica. 891.4 - Modifica9es de Variveis Motiyacionais e Emocionis doFalante ou Escritor 901.5 - Utilizaco de Perodos de lncuba9o 90

    2. A produgo de novas respostas verbais nao disponveisno repertorio do falante 91

    2.1 - A Modelagem Como um Procedmento 912.2 - Outras Tcnicas Disponveis 93

    Comentrios adicionis 941. A cincia e a literatura como exemplos dos processos e g^ procedimentos apresentados

    Referencias Bibliogrficas 100

  • Apresentago

    Se a apresentago de um livro tem, entre suas fungoes, a de interessar o leitor no assunto e oferecer alguma referencia sobre sua autora, acho que posso ir logo dizendo do meu prprio entusiasmo com esse livro escrito por Carmen e Julio, sobre temtica to instigante quanto a de onde vem o comportamento novo, se possvel explicar a originalidade e, sobretudo, se possvel urna abordagem behaviorista do comportamento verbal novo.

    Resultado de um trabalho longo e m inucioso de garimpagem no Verbal Behavior de Skinner, o livro analisa e sistematiza as explicagoes skinnerianas para o surgimento do comportamento verbal novo. O texto, a um tempo rigoroso e didtico, torna acessveis entre ns as anlises de Skinner, ainda pouco conhecidas e pouco compreendidas, sobre essa questao. A organizago alcangada na apresentago do material representa, em si mesma, urna contribuigo valiosa para urna viso integrada dos diferentes e mltiplos processos e procedimentos que Skinner aponta como possveis fontes de comportamento verbal novo, mas que se encontram dispersos ao longo do Verbal Behavior. A cuidadosa preocupago dos autores com a preciso conceitual e com os perigos e maleficios de posigoes dogmticas e religiosas adiciona um importante ingrediente as anlises e consideragoes sobre possibilidades e limites no campo terico e as investigagoes empricas sobre a originalidade do comportamento verbal.

    Urna fonte fundam ental para qualquer estudioso do comportamento, o livro tambm constitu excelente material didtico para o ensino de anlise do comportamento e para a ampliago do tratamento ao comportamento verbal.

    Feitas essas breves consideragoes (para nao retardar o encontr do leitor com os autores), preciso ainda de um momento para manifestar o quanto fiquei honrada com o convite, de parte de dois colegas por quem tenho enorme admirago e carinho, para escrever esta apresentago. Tendo acompanhado Carmen desde

  • seu primeiro semestre no Curso de Graduago em Psicologa da UFSCar, impossvel nao ver o livro como um smbolo do seu prprio desenvolvimento como pessoa e como profissional, pensadora, trabajadora, disciplinada e criativa. Sua parceria com meu colega Julio de Rose, tambm seu professor e orientador, resultou nessa obra que, tenho certeza, ser fonte de prazer e de conhecimento para muitos de ns. Agradego, emocionada, por esta oportunidade, desejando ampio sucesso ao livro, certa de que o sucesso editorial significar oportunidade de aprendizagem e de enriquecimento para o leitor em geral e, especialmente, para os jovens alunos que querem e merecem beber em boas fontes.

    Sao Carlos, setembro de 2006 Deisy das Grapas de Souza

    Departamento de Psicologa da UFSCar

  • Introdugo

    Urna caracterstica notvel da linguagem humana que ela permite infinitas combinages de sons para a formago de palavras, assim como de palavras para a formago de sentengas, as quais, por sua vez, tambm podem ser combinadas de infinitas maneiras, de modo a produzir sempre novos discursos. Ns podemos escrever neste momento algo como Nao h um elefante marrom marchando agora sobre o campo de futebol! e voc, leitor deste livro capaz de entender a sentenga. Esta urna sentenga que ns nunca dissemos ou escrevemos antes (e provavelmente nenhuma outra pessoa disse ou escreveu isso antes) e voc est lendo pela primeira vez; mesmo assim, somos capazes de dizer isto e voc capaz de entender.

    Essa geratividade da linguagem, ou seja, essa capacidade de infinitos rearranjos de sons e palavras que podem ser sempre novos e mesmo assim podem ser produzidos e entendidos, parece ser um desafio intransponvel para urna abordagem behaviorista. Afinal de contas, as abordagens behavioristas baseiam-se, em geral, no processo de condicionamento, e de que modo poderamos explicar em termos de condicionamento algo que pode ser sempre novo? Parece evidente que nao fomos condicionados antes a escrever Nao h um elefante marrom marchando agora sobre o campo de futebol! e voc nao foi condicionado a ler esta sentenga. certo que voc provavelmente j teve contato com todas estas palavras, mas nunca nesta ordem e com este significado.

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    Esta propriedade gerativa parece indicar que a linguagem nao um comportamento como os outros, que ela urna expresso do que se passa na nossa mente, urna ferramenta que podemos usar de mltiplas maneiras para expressar as idias sempre diferentes que nossa mente formula.

    Na verdade, nossa frase nao to original quanto parece. O filsofo Alfred North Whitehead disse urna frase semelhante ao psiclogo B. F. Skinner. Whitehead procurava, justam ente, convencer Skinner da impossibilidade de urna anlise behaviorista da linguagem e desafiou Skinner a explicar porque ele tinha dito Nao h um escorpio negro caindo agora sobre esta mesa.. Skinner (1957) lembra que a frase foi dita durante um jantar e que na manha seguinte ele comegou a esbogar o livro Verbal Behavioi3, em que ele aceita o desafio de formular urna explicagao behaviorista do comportamento verbal.

    Nesse livro, Skinner procura descrever e explicar muitas propriedades do comportamento verbal, com base nos principios e leis que regem o comportamento, principalmente o comportamento operante. Entre as propriedades que ele procura explicar, est justamente a propriedade gerativa, a produgo e compreenso da novidade.

    Nosso propsito neste livro sistematizar e analisar as explicages de Skinner para o surgimento de comportamento verbal novo. Acreditamos que esta urna contribuigo ao estudo do comportamento verbal por vrios motivos. Um destes motivos o fato de que as explicages dadas por Skinner ao surgimento do comportamento novo sao pouco conhecidas e ainda bastante difundida a nogao de que a geratividade verbal nao pode ser explicada em termos behavioristas. Outro motivo o fato de que as explicages do comportamento verbal novo esto dispersas ao longo do livro Verbal Behavior, que bastante longo e complexo, e aborda mltiplas propriedades do comportamento verbal. Apresentamos aqui este material organizado de urna nova maneira, sistematizada com base nos processos e procedimentos que, segundo Skinner, podem gerar o comportamento verbal novo.

    Nossa anlise bsicam ente conceitual e terica. Queremos mostrar que urna teora que aborde o comportamento verbal novo possvel e foi formulada por Skinner em seu livro Verbal Behavior. Nosso texto nao discute a validade emprica da abordagem de Skinner. Esta urna tarefa para a ciencia do

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  • A abordagem behaviorista do comportamento novo 11

    comportamento, cujas pesquisas devero confirmar ou refutar as concepges do autor. Skinner deixa claro que sua proposta um exerccio de interpretago do comportamento verbal. Urna das funges de urna tal interpretago fomentar a pesquisa emprica sobre o assunto e um dos resultados mais comuns da pesquisa emprica a reformulago das concepges que Ihe deram origem. O leitor nao deve, portanto, tomar as afirmages em nosso texto como urna doutrina acabada, como freqentem ente sao consideradas as abordagens psicolgicas. O behaviorismo, ou mais especficamente, o Behaviorismo Radical, formulado principalmente por Skinner, urna abordagem ciencia do comportamento e, como tal, admite que o que se conhece acerca do comportamento resultado dos esforgos de pesquisa e pode ser sempre reformulado a partir de novas pesquisas.

    Este texto baseado em urna dissertago de mestrado, que foi apresentada pela primeira autora ao Programa de Ps-Graduago em Filosofa, da Universidade Federal de Sao Carlos, sob orientago do segundo autor. O texto da tese foi, no entanto, bastante revisado, e re-escrito em varias partes, com o objetivo de torn-lo mais claro e didtico, urna vez que este nos parece ser um tema importante para a formago em Psicologa, em relago ao qual h grande carencia de material mais acessvel., Esperamos ter tido algum sucesso ao enfrentar o grande desafio que a produgo de um texto ao mesmo tempo rigoroso e acessvel.

    No podemos deixar de expressar nosso reconhecimento s pessoas e instituiges que contriburam para este trabalho, embora seja impossvel registrar todas as contribuiges relevantes neste espago. A primeira autora contou, durante a realizago do seu m estrado, com urna bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e recebeu apoio tambm, durante a reviso do texto, da Fundago de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP) atravs de urna bolsa de doutorado. O segundo autor tem sido tambm apoiado pelo CNPq atravs de urna bolsa de produtividade em pesquisa. Dois auxilios de agencias de fomento pesquisa foram tambm de grande importancia. A elaborago do mestrado da primeira autora beneficiou-se de um auxilio do CNPQ/PRONEX (Programa de Auxilio a Ncleos de Excelencia) enquanto a reviso do texto contou com auxilio da FAPESP/PRONEX. Dos nmeros colegas professores, que contriburam com sugestes e encorajamento para

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    o trabalho, no podemos deixar de mencionar os professores Jos Antonio Abib e Nilza Michelleto, os quais participaram das bancas de qualificago e/ou defesa da dissertago de mestrado que originou este trabalho e a professora Deisy de Souza, que, alm de estar presente na banca de quaiificago, esteve sempre nos apoiando no dia a dia de trabalho. Alm deles, certamente ficam os nossos agradecimientos aos demais alunos ps-graduandos e graduandos, pesquisadores do nosso laboratorio.

    O comportamento verbal , como define Skinner, estabelecido e mantido pela resposta dos ouvintes a ele. De acordo com a definigo de Skinner, escrever tambm um comportamento verbal. Porm, a resposta da maioria dos leitores fica inacessvel a quem escreve. Seria um grande prazer para ns se os leitores nos dessem a conhecer suas respostas a este texto, enviando comentrios e crticas, que podem ser encaminhadas para nosso enderego eletrnico: [email protected] e [email protected].

  • Urna introdugo nogo de comportamento verbal

    e proposta de anlise behaviorista radical

    Para urna anlise do surgimento de comportamientos verbais novos necessria, primeiramente, urna breve introdugo a alguns conceitos relevantes. O surgimento de comportamientos novos envolve diversos aspectos da anlise skinneriana do comportamento verbal, tais como suas unidades, suas mltiplas causas e os diferentes tipos de relagoes funcionis existentes. Sendo assim, esses e outros aspectos sero abordados neste captulo.

    1 - A DEFINIQO DE COMPORTAMENTO VERBAL E ALGUMAS IMPLICAQES

    Um dos requisitos bsicos para a compreenso da anlise do comportamento verbal proposta por Skinner (1957) a realizago de um exerccio de reaprendizagem de tudo o que sabemos, ou julgamos saber, sobre os fenmenos relacionados linguagem. Esse exerccio necessrio porque Skinner anunciou ter elaborado urna anlise do comportamento verbal diferente de tudo o que j havia sido apresentado por outros estudiosos at aquele momento e, sendo assim, seu trabalho envolveu nao somente a apresentago de suas idias, mas tambm, o apontamento de porque as idias anteriores s suas no poderiam ser aproveitadas. O trabalho do autor, ento, focalizou no somente sua prpria explicago, mas consistiu em urna grande colego de crticas s teoras e abordagens que trataram do tema no passado, em urna tentativa de por abaixo muito do conhecimento previamente estabelecido sobre o assunto, para assim estabelecer a sua viso sobre os fatos verbais. Com isso queremos dizer que muito do que o senso comum ou do que outras teoras conhecem sobre comportamento verbal, e desta

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    forma, muito do que j conhecemos sobre o assunto, ser reinterpretado por Skinner segundo sua viso filosfica e cientfica.

    Alm disso, tal exerccio de reaprendizagem deve ser realizado porque Skinner (1957) reinventou muitos dos termos relacionados ao tema. Para distanciar o seu programa do proposto por teoras mais tradicionais, o autor teve o cuidado de elaborar novos nomes, que pudessem ser empregados para especificar precisamente as suas definigoes. Como pode ser observado, a prpria opgo pelo uso de comportamento verbal no lugar de expresses mais conhecidas, como linguagem ou lngua, foi fundamentada nessa tentativa de separago entre o que foi dito sobre o assunto no passado e o que o autor disse em sua anlise. Mas, mais que urna simples substituigo entre termos, o uso de comportamento verbal teve a fungo de estabelecer um novo objeto de estudo, o qual no pode ser compreendido como um simples sinnimo dos termos substituidos. Assim, para cada novo termo cunhado por Skinner, devemos esperar novas definiges e novos significados.

    Dito isso, podemos iniciar nosso empreendimento de anlise da abordagem skinneriana do comportamento verbal. Skinner (1957) considera que o comportamento verbal um tipo de comportamento operante, no diferente, em termos das leis que o regem, dos comportamientos operantes no verbais. O comportamento operante, de acordo com Skinner, modelado e mantido por suas conseqncias: respostas que sao reforgadas (ou seja, produzem conseqncias denominadas reforgadores ou reforgos) tm maior probabilidade de serem repetidas no futuro. O comportamento operante no , ao contrario do comportamento que Skinner denomina respondente (tambm denominado de reflexo), eliciado por estmulos antecedentes. No entanto, os estmulos antecedentes tambm sao importantes para o comportamento operante: qundo um determinado comportamento reforgado na presenga de um determinado estmulo (denominado estmulo discriminativo) ou logo aps a ocorrnclaHgste estmulo, mas no em sua ausencia, a ocorrncia do estmulo d iscrim inativo~aumenta a probabilidade de ocorrncia do comportamento. Segundo Skinner, portanto, para a anlise do comportamento operante necessrio considerar tres termos: a resposta, o estmulo presente quando ela ocorre (estmulo discriminativo) e as conseqncias que a resposta produz no

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  • A nbordagem behaviorista do comportamento novo 15

    timbiente. Diz-se, assim, que o comportamento operante governado por contingencias de tres termos, ou contingencias trplices.

    Assim, o comportamento verbal, segundo Skinner (1957) um tipo de comportamento operante, tambm governado por i ontingncias de tres termos. O que o distingue dos demais i iperantes o tipo especial de conseqncia que ele produz. Isso porque, o comportamento verbal foi definido por Skinner como o i omporamento modelado e mantido por conseqncias mediadas, i ) lermo mediado aqui indica que, diferentemente do comportamento mo verbal, o comportamento verbal ateta prim eram ente o (.omportamento de outro individuo.

    Para diferenciar essas duas formas de ago, comportamento verbal de no verbal, Skinner (1957) utilizou um exemplo bastante simples. Segundo ele, estamos diante de comportamento no verbal guando tal comportamento altera o ambiente por meio de ago mecnica (p. 1), como quando um homem caminha na dirego de um objeto e o pega. Nesse caso, h um contato fsico e o objeto muda de posigo de acordo com as regras bsicas de mecnica e geometria. J no caso do comportamento verbal h urna diferenga. Como exemplificou Skinner, um homem sedento pode pedir outro homem um copo de gua em vez de busc-lo ele prprio. Nesse segundo caso, as conseqncias ltimas do comportamento verbal, emitido pelo individuo denominado falante, so mediadas pela ago de outro homem, o ouvlnte, que trar o copo com gua.

    Mesmo que os sons produzidos pela fala possam ser descritos fsicamente, o resultado do pedido de gua somente foi alcangado pela mediago da ago do ouvinte. Os sons no foram os eventos fsicos que movimentaram o copo de gua at o falante. Isso significa dizer que, diferentemente do comportamento no verbal, o comportamento verbal , por si mesmo, impotente em relago ao mundo fsico. Entretanto, o comportamento verbal no menos fsico que o no verbal. No h nada de mstico ou material na definigo skinneriana. A mediago aqui descrita refere-se sim plesm ente a urna rede ampia de eventos, inclu indo o com portam ento do ouvinte , que afetam a e fe tiv idade do comportamento do falante e dos quais dependem as conseqncias desse comportamento.

    No exemplo aqui apresentado foram indicados um falante e um ouvinte distintos: o falante como sendo o individuo que pediu a gua e o ouvinte como o individuo que mediou as conseqncias

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    de tal ago. Contudo, Skinner (1957) considerou que nem sempre esse o caso: o falante e o ouvinte podem ser a mesma pessoa. fato que freqentemente as pessoas falam consigo mesmas, ainda que seja urna fala encoberta, que normalmente denominada de pensamento. Esse um caso, segundo Skinner, em que o ouvinte o prprio falante.

    Urna das primeiras implicagoes da definigo apresentada por Skinner (1957) para o comportamento verbal d a esse tipo de comportamento urna caracterstica bastante especial. A ago realizada pelo falante, para ser definida como comportamento verbal, no est restrita ago vocal, como geraimente ocorre as teoras tradicionais. Sendo o comportamento verbal urna ago que tem suas conseqncias mediadas por outro individuo, h urna ampliago do campo de anlise, visto que essa definigo no engloba somente a fala, mas tambm qualquer ago que seja capaz de afetar outro organismo. Sendo assim, em vez de pedir a gua por meio da fala como no exemplo acima, o falante poderia ter apontado para um copo com gua, obtendo-o da mesma forma. A ago de apontar seria tambm considerada um comportamento verbal pela definigo aqui apresentada.

    Essa prim eira defin igo de com portam ento verbal, apresentada no primeiro captulo do Verbal Behavior (Skinner, 1957), foi refinada no oitavo captulo. Aps a apresentago de todos os operantes verbais, de suas propriedades dinmicas e de suas relagoes de contro le , Skinner restringu a defin igo de comportamento verbal, especificando melhor qual tipo de ago mediada por outro seria de fato objeto de sua anlise. Segundo ele, caso o comportamento verbal englobasse todo o comportamento que tem efe ito sobre outro ind iv iduo , qualquer tipo de comportamento social acabara entrando nesta definigo. Sendo assim, a ago verbal foi restringida quela na qual as respostas do ouvinte foram condicionadas. Isso significa dizer que, para que um comportamento seja denominado verbal, o ouvinte deve ter sido exposto a contingncias anteriores que possibilitem que sua resposta medeie o reforgo do comportamento do falante.

    Esse um ponto bastante especial da argumentago de Skinner (1957), principalmente para o desenvolvimento dos objetivos de nosso texto. Isso porque, a restrigo ocasionada pela adigo do condicionamento do ouvinte na definigo de comportamento verbal pode ser alvo de discusso, por no mnimo dois motivos. Primeiro

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  • A abordagem behaviorista do comportamento novo 17

    porque, apresentada desa forma, a definigo do comportamento verbal parece ir contra a possibilidade de que novas respostas possam surgir no repertorio do faiante. Para Chomsky (1959), um dos maiores crticos do Verbal Behavior (Skinner, 1957), por exemplo, considerar que o ouvinte deva ser exposto a contingencias anteriores equivalente a considerar que o comportamento do ouvinte deva ser fruto de treino, ou seja, implica no fato de que o ouvinte precise ser devidamente exposto a um nmero de situagoes anteriores para responder ao comportamento do falante de forma eficaz. Se esta afirmago for verdadeira, ento, de acordo com o argumento de Chomsky, como poderla ser possvel que o ouvinte respondesse ao comportamento do falante em novas situages, as quais nao tivesse ocorrido qualquer espcie de treino? Ou, dito em outras palavras, como um individuo tornar-se-ia apto a mediar adequadamente o reforgo do comportamento do falante guando estivesse diante de respostas novas para ele? O fato que, em multas situages cotidianas, somos capazes de nos comportamos diante de palavras e sentengas arranjadas em combiriages que nunca ouvimos antes, ou seja, diante de comportamientos verbais novos, assim como tambm produzimos, freqentemente, novas combinages verbais. Sendo assim, a definigo de comportamento verbal no seria suficiente para explicar estas ocorrncias. Tentaremos responder a estas perguntas em riosso segundo captulo.

    Um segundo motivo para possveis crticas do refinamento da definigo de comportamento verbal apresentada por Skinner (1957) direciona nossa atengo para questes relacionadas ao conceito de significado. Poderamos interpretar este refinamento da definigo de comportamento verbal como um indicador de que Skinner, aps um longo percurso no livro, no conseguiu livrarsua anlise do persistente conceito de significado. Ao afirmar que o ouvinte deve ter urna historia de reforgameno para responder adequadamente como mediador do reforgo do comportamento do faiante, parece existir a necessidade de que o ouvinte compartilhe do significado da verbalizago do falante. Para entendermos melhoresta questo, pensemos em urna situago em que, como no exemplo do pedido de gua utilizado para definir o comportamento verbal, o falante faiasse um idioma desconhecido. Em um caso como esse, o pedido de gua provavelmente no seria atendido pelo ouvinte. Argumenta-se que nesse caso o ouvinte no responde porque ele desconhece o significado das palavras emitidas pelo faiante. Por outro lado, o ouvinte poderia responder ao mesmo

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    falante de outro idioma, caso este ltimo apontasse para o copo com gua em vez de formular o pedido em palavras. Pela explicago tradicional, a eficcia do apontar para conseguir o copo com gua seria devido ao fato de que ambos compartilham do significado da ago de apontar. Neste ltimo caso, crticas relacionadas ao refinamento da definigo de comportamento verbal poderiam ser formuladas: o condicionamento do comportamento do ouvinte retomaria a necessidade de que ambos, ouvinte e falante, possussem um significado compartilhado do comportamento de pedir a gua. A confirmago de urna hiptese como essa indicara que a anlise de Skinner seria menos original do que parece, envolvendo apenas urna nova definigo do conceito de significado, em termos de condicionamento do ouvinte, ou seja, o ouvinte aprendera o significado ao ser condicionado a reagir ao comportamento verbal. o caso, portanto, de que nesse momento as crticas de Skinner s teoras tradiclonais do significado sejam consideradas e que a nogo de significado que permeia a anlise skinnerlana possa ser comentada.

    Para Skinner (1957), o qqe acontece quando um homem responde fala de outro , sem dvida alguma, urna questo de comportamento. Skinner considera, entretanto, que as teorias sobre o comportamento verbal existentes naquela poca localizavam os determinantes do comportamento no interior do individuo, em sua cabega ou mente. Urna dessas teoras foi denominada de expresso de idias. Nela, as Idias poderiam ter um carter imagtico ou no, e diferentes idias com diferentes significados poderiam ser expressas por diferentes arranjos de palavras. Sendo assim, os significados poderiam ser compartilhados entre os individuos e os diferentes arranjos possveis evidenciariam as caractersticas das idias do individuo, como, por exemplo, sua forga, clareza, criatividade etc.. Nessa mesma dirego, Skinner comentou sobre outras formas anlogas de teorias, as quais utilizavam, entretanto, o conceito de significado no lugar da nogo de idias.

    Posteriores a essa nogo nternalista surgiram tambm doutrinas as quais a prpria nogo de significado se constituiu como urna existencia ndependente. Deste modo, os significados foram colocados no mundo fsico e poderiam ser observados como parte deste. Nesses casos, foi concebida a nogo de significado atrelada a urna relago de referencia entre as palavras e os objetos

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  • A abordagem behaviorista do comportamento novo 19

    do mundo correspondentes a elas e, assim, as entidades lingsticas teriarn um correspondente no mundo. Outra forma terica semelhante surgiu com a suposigo de que a lngua seria independente do comportamento humano e esta seria equivalente a um instrumento propiciador da comunicago. Aqui o objeto no mundo seria representado por urna idia, sendo as palavras consideradas como instrumentos ou ferramentas que o individuo utilizara para expressar suas idias.

    De antemo, Skinner (1957) critica essas formas tericas, expresso de idias e significado/referente, por desencorajarem urna anlise funcional do comportamento verbal. Se a anlise do comportamento verbal fosse baseada em noges como estas, ela estara voltada aos processos de formago de idias ou relago entre o uso da fala ou da lngua e o objeto por ela referido no mundo. O comportamento aqui no teria, portanto, qualquer importancia no estudo e compreenso do significado.

    Alm dessas crticas, outras se apoiaram no fato de que a nogo de expresso de idias, segundo Skinner (1957), no conseguiu identificar a contento um foco para suas anlises, nem elaborou mtodos adequados para que urna anlise causal pudesse ser realizada. No caso de urna teora do significado relacionada expresso de idias, h urna dificuldade muito grande em se provar a existencia das prprias idias. Estas' no podem ser diretamente observadas e as nicas evidencias de sua existencia sao as palavras utilizadas para descrev-las. Nesse sentido, Skinner apontou que tais disciplinas estariam apelando para conceitos situados em nveis de observago e explicago diferentes do nivel no qual est localizado o evento objeto de estudo. as palavras do prprio autor ns parecemos estar talando sobre dois nveis de observago, embora exista, de fato, somente um (p. 6). O nivel existente, para o autor, o nivel do comportamento. Para Skinner as idias so construidas pela amostra de comportamento que presenciamos, ou seja, inferimos idias porque alguns tipos de comportamientos so emitidos.

    J no caso da teora do significado, na qual a fala possui um referente no mundo, Skinner (1957) mostra um cuidado maior em suas crticas. Em primeiro lugar, ele apona que impossvel que cada coisa ou evento no mundo tenha urna palavra diferente para design-los e no h, portanto, urna correspondencia perfeita como se desejaria. Ou seja, sabemos que existem homnimos e urna palavra

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    como manga, por exemplo, pode designar, no portugus, tanto urna fruta como a parte de urna roupa. Como saber ento a que tipo de manga o falante se refere? Da mesma forma, Skinner considera que nao so todas as palavras que tm referentes no mundo.1 Classes de substantivos concretos, por exemplo, podem encontrar seus referentes mais fcilmente, mas, e quanto aos substantivos abstratos, s conjungoes ou preposigoes? Conectivos como de ou para no parecem ter um objeto que corresponda a eles.

    Mesmo quanto aos substantivos concretos, Skinner (1957) leva sua crtica adlante e afirma no ser possvel chegar a um consenso sobre se o que eles realmente desigrtam so classes que envolvem todos os objetos aaquele tipo ou apenas o objeto que o falante est designando naquele momento. Por exemplo, quando o falante diz cadeira, ele se refere a urna cadeira determinada ou classe dos objetos classificados como cadeira?

    Para responder a essas crticas, alguns tericos adicionaram teora da referencia a intengo do falante, ou seja, o que o falante queria dizer com o que disse. Assim, o significado estarla no propsito do falante, no que ele deseja dizer com sua resposta. Apelase agora para o significado conotativo das palavras (Abib, 1994).

    Abib (1994) categrico em apontar que esse um caminho que retorna a urna nogo j desgastada na qual o uso da intengo teve que ser resgatado. Quando utilizamos noges como propsito ou intengo, fazemos com que urna anlise cientfica seja impedida, pois nada poder ser dito sobre o comportamento do falante, visto que a causa da ago, a intengo do falante, interna. Recai-se, portanto, no problema do estudo dos eventos mentis e pouco pode ser acrescentado sobre as causas efetivas do comportamento do faiante.

    Diante de todas essas crticas, podemos dizer que a teora skinneriana no considera legtimo o uso do significado? Porrn, sem s ign ificado, como o ouvinte poderla responder ao comportamento do falante?

    Como resposta primeira pergunta, podemos certamente considerar que o abandono da nogo de significado em um sentido tradicional foi o caminho escolhido por Skinner. Como vimos, para Skinner (1957) o mundo mais difcil de ser analisado do que a correspondencia regular existente entre fala e objeto, segundo a teora da referncia, e urna anlise do comportamento verbal deve lidar com

    1 Abb(1994; 1997) debate essa questo com maior especificidade.

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  • A abordagem behaviorista do comportamento novo 21

    sinnimos, metforas, homnimos, abstrages, entre outras dificuldades enfrentadas pelos tericos tradicionais daquela poca. Entretanto, ao analisarmos a obra deste autor, urna outra forma de significado parece ser apresentada e, nossa tarefa neste momento ser a de analisar o lugar deste novo conceito de significado dentro da proposta de estudo do comportamento verbal, a fim de verificarmos o que o autor est realmente ntroduzindo quando refina a definigo de comportamento verbal. Poderemos, ento, responder nossa segunda pergunta e compreender como o ouvinte torna-se capaz de responder ao comportamento do falante.

    Segundo Skinner (1957), o significado da ago no urna propriedade do comportamento e sim urna propriedade das condiges sob as quais tai comportamento ocorre (p. 13). Como condiges sob as quais o comportamento ocorre Skinner considera o estmulo antecedente, a prpria resposta e sua conseqncia. O autor afirma que quando algum compreeride o significado de alguma resposta, esse individuo pode entender as variveis, ou pelo menos algumas dlas, das quais o comportamento foi urna fungo. Dito de outra forma, ele pode ser capaz de inferir algo sobre as relages de controle e as conseqncias daquela resposta. Assim, podemos concluir que o significado faz parte das prprias contingencias e pode, ento, ser entendido como urna relago entre os eventos antecedentes, resposta e conseqncia (Abib, 1994; 1997).

    Segundo Abib (1997), dispensadas as noges de referencia e expresso de idias, a filosofa do Behaviorismo Radical apresentaria urna teora funcional do significado, pois ao caracterizlo pela relago entre os termos da contingncia podemos considerar que o comportamento verbal somente adquire significado de acordo com as prticas de reforgamento de urna comunidade verbal. Em si mesma, urna reposta verbal no significa nada. Do mesmo modo, verificamos que no o individuo que d forma ao significado, como as teorias tradicionais: o s ignificado faz parte das contingncias e definido de acordo com as prticas da cultura.

    Retornando agora questo do refinamento da definigo de comportamento verbal, podemos considerar que quando o ponto crucial da ciassificago de um comportamento verbal passa a ser o condicionamento do ouvinte, introduz-se a historia de reforgamento individual do ouvinte e do falante. Como dito anteriormente, o comportamento do ouvinte deve ter sido reforgado em ocasies

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    passadas, de acordo com as prticas culturis, de modo a reforgar o comportamento do falante. Skinner escreve:

    Comportamento verbal criado e mantido por um ambiente verbal - por pessoas que respondem ao comportamento de certas maneiras por causa das prticas do grupo do qual elas so membros. Essas prticas e a interago resultante do falante e ouvinte originam o fenmeno, o qual considerado aqui sob a rubrica do comportamento verbal. (Skinner, 1957, p. 226).

    Dito isso e desde que, como foi dito acima, o significado possa ser tomado como intrnseco contingencia, podemos, ento, chegar conclusao de que o condicionamento do comportamento do ouvinte permite a inciuso do significado, porm no em um sentido tradicional do termo. Na medida em que o ouvinte foi exposto a contingencias prvias em seu ambiente verbal, ele agora pode inferir algo sobre as variveis das quais o comportamento do falante foi urna fungo, ou seja, ele pode responder de modo apropriado ao comportamento, o que implica em saber o que aquele comportamento significa em um sentido funcional do termo, como apontado por Abib (1997).

    possvel ento concluir que Skinner (1957) no parece ter incorrido no mesmo conceito de significado das teorias tradicionais, as quais ele fortemente criticou. Se entendermos como interessante a utilizago do termo significado dentro da anlise skinneriana, podemos, ento, afirmar que o conceito de significado funcional aqui utilizado parece ser perfeitamente compatvel com urna anlise behaviorista radical e, sendo assim, a proposta de anlise do comportamento verbal apresentada pelo autor no se configura, em relago a este ponto, como urna reapresentago de velhos problemas em urna nova roupagem. Podemos, ento, dar continuidade nossa anlise para agora apresentarmos qual a proposta de Skinner para o estudo do comportamento verbal, sem que permanega qualquer dvida sobre a coerncia de sua definigo. 2

    2 - A ANLISE DO COMPORTAMENTO VERBAL PROPOSTA POR SKINNER

    O Verbal Behavior (Skinner, 1957) gerou crticas, oriundas principalmente de teorias cognitivistas, por ser considerado urna obra interpretativa de Skinner, visto que a maior parte da argumentago nele contida no vem adicionada a resultados experimentis, como acontece na maioria de suas outras publicages e que, em alguns

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  • casos, a fundamentago dos argumentos est baseada as prprias observagoes cotidianas do autor.

    De fato, em algumas passagens do livro, Skinner (1957) teve que reconhecerque algumas de suas interpretagoes no haviam ainda sido cornprovadas cientificamente. Um exemplo de tai reconhecimento pode ser apresentado quando o autor trata da independencia entre os diferentes operantes verbais, no caso de urna resposta ser tomada como a mesma em duas formas de comportamento distintas, comportamento vocal e comportamento escrito. Sobre essa questo Skinner escreveu:

    Embora seja difcil provar que mudangas na resposta em um meio ocasionam mudangas em respostas em outro meio somente por meio da mediago de processos de tradugo e transcrigo, ao menos o contrro no foi provado. (p. 195).

    Urna anlise desse trecho indica que, apesar de o autor propor os processos de tradugo e transcrigo como urna possvel explicago para a relago entre respostas em diferentes meios, tal proposta ainda no estava comprovada. Entretanto, o autor procurou manter sua posigo como provvel, afirmando que, de fato, ainda no havia conseguido provar que tais processos interferiam naquela questo, contudo tambm no existiam fatos cientficos que rebatessem suas afirmages. Diante dessas ocasies, Skinner (1957) trabalhou como um otimista, indicando que, em um futuro prximo, o desenvolvimiento de novas tcnicas na ciencia do comportamento poderia vir a validar seus argumentos.

    Nesses term os, o Verbal Behavior foi tomado equivocadamente como urna obra meramente especulativa e prxima das anlises do senso comum, sendo a proposta de anlise do comportamento verbal nele apresentada fortemente criticada.

    Segundo Donahoe & Palmer (1989), entretanto, as anlises interpretativas encontradas no Verbal Behavior so um segmento natural de urna ciencia histrica como a Aniise do Comportamento. Dentro da perspectiva de urna filosofa baseada em argumentos evolucionistas como o Behaviorismo Radical, os autores consideram a existencia de urna impossibilidade intrnseca ao modelo, no qual algumas caractersticas passadas no esto disponveis para o estudo na atualidade. Ou seja, comportamentos ocorridos no passado no podem ser estudados nos dias de hoje tal como foram emitidos.2 Essa impossibilidade caracterstica de outras ciencias

    A abordagem behaviorista do comportamento novo 23

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    histricas, como a Biologa Evolucionista ou a Cosmologa, por exemplo.

    De acordo com esses autores (Donahoe & Palmer, 1989), medida que um comportamento complexo, como o caso dos comportamentos verbais, por exemplo, resultado de urna historia de reforgamento, ou seja, de urna selego pelas conseqncias dos comportamentos, lidamos com a necessidade de reconstrugo da historia do comportamento e, dessa forma, com a necessidade da interpretago quando a experimentago no pode ser realizada, ou seja, quando no possvel que se busque resultados pela manipulago direta das variveis. Urna ciencia histrica deve validar a reconstrugo como um mtodo possvel e reconhecer a interpretago como inerente ao modelo. O que deve ser deixado claro que a interpretago dos fenmenos complexos se baseia nos dados empricos encontrados e, desse modo, difere do senso comum, o qual no tem qualquer orientago cientfica em suas argumentages.

    Talvez, urna das questes mais polmicas oriundas da estrutura do Verbal Behavior seja a utilizago nesse livro, no somente da interpretago utilizada na reconstrugo da historia do comportamento verbal, mas tambm da interpretago quando utilizada na extrapolago de resultados de experimentos anteriores realizados com infra-humanos no campo do comportamento no verbal. Como afirma Skinner (1957), teorias tradicionais consideram que a extrapolago desse tipo de resultado experimental no poderia ser legtima devido ao fato de que o comportamento verbal se localiza em nivel explicativo superior ao do comportamento no verbal. Para o behaviorista radical, entretanto, essa urna questo que no se aplica, pois, como j foi dito, o comportamento verbal no representa no Behaviorism o Radical urna form a de comportamento de nivel explicativo diferente do comportamento no verbal, o que nos habilita a interpretar o comportamento verbal com base nos principios e leis formulados a partir do estudo do comportamento no verbal, mesmo que estes estudos tenham sido realizados com individuos no humanos. 2

    2 No estamos aqui querendo afirmar que duas respostas podem ser emitidas exatamente com a mesma topografa ou sob exatamente o mesmo controle. Apenas queremos sinalizar o fato de que urna cincia histrica exige urna reconstrugo para indicar a evolugo de um comportamento.

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    Em defesa da utilizago dos dados encontrados com animis no humanos, Skinner (1953/1965) considera que os principios bsicos do comportamento no precisam ser necessariamente diferentes para espcies diferentes, e afirmar urna diferenga inransponvel entre espcies seria to precipitado quanto afirmar sua iguaidade total. Esse argumento pode ser considerado urna conseqncia natural da forte influencia da teoria da evolugo de Darwin no Behaviorismo Radical:3 Skinner (1957) considera que o organismo humano compartilha com outras espcies certos processos comportamentais e, sendo assim, o estudo desses processos pode ser realizado livre de restrigo entre as espcies. Nesse sentido, o autor afirmou que:

    Trabalhos recentes tem mostrado que os mtodos [utilizados em experimentos com infra-humanos] podem ser estendidos ao comportamento humano sem srias modificages. (Skinner, 1957, p. 3).

    Segundo Skinner (1953/1965), o trabalho cientfico com outras espcies tambm conserva outras vantagens quando comparado ao realizado com participantes humanos. Ele possibilita a facilidade de registro de dados por longos perodos de tempo, elimina a possibilidade de interferencia das relages sociais no experimento, permite o controle gentico e histrico dos sujeitos e, principalmente, viabiliza a realizago de urna maior gama de estudos medida que alguns experimentos seriam ticamente inviveis se realizados com humanos.

    Dito isto, podemos entrar finalmente na proposta de anlise do comportamento verbal apresentada por Skinner (1957).

    A primeira tarefa da anlise proposta por Skinner (1957) a descrgao, ou seja, a definigo da topografa da resposta. Em seguida, possvel que se busque sua explicago, ou seja, as condiges relevantes para a ocorrncia do comportamento ou, em outros termos, as variveis das quais o comportamento urna fungo. De posse dos resultados dessa primeira etapa, a busca da previso e controle do comportamento pode ser realizada, tornndose tambm possvel o estudo de outras caractersticas de igual importancia, como as que envolvem o episodio verbal como um todo, as propriedades dinmicas das respostas e o surgimento de novos comportamentos.

    3 A influncia darwinista na filosofa behaviorista radical ser melhor analisada no segundo captulo deste texto.

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    Nessa anlise, o foco principal , sem dvida, o comportamento do talante4. Segundo Skinner (1957), a anlise do comportamento deve enfocar o comportamento dos talantes individualmente, visto que o mtodo busca descrever e explicar as respostas verbais e estas so emitidas pelo falante. Vale lembrar, inclusive, que a restrigo ao comportamento do falante se d porque o comportamento do ouvinte nem sempre comportamento verba!. Por exemplo, quando um ouvinte traz um copo de gua em resposta a um pedido, o comportamento de trazer um copo de gua no considerado, neste caso, urna resposta verbal. Isso no quer dizer que o comportamento do ouvinte no tenha importancia nesta anlise, principalmente porque o comportamento dele que modela e mantm, de acordo com as prticas de urna comunidade verbal, o comportamento do falante. medida que o ouvinte se torna falante e o falante, ouvinte, podemos ver constituida toda a dinamicidade e complexidade do episodio verbal e ter garantida a importancia do comportamento de ambos.

    3 - OS O PE R A N TE S V E R B A IS , A LG U M A S DE SUAS CARACTERSTICAS E A ANLISE DO COMPORTAMENTO VERBAL

    Os operantes verbais so as unidades de anlise do comportamento verbal. Entretanto, quando Skinner (1957) comenta sobre os operantes verbais, observamos que os comentrios so relativos a respostas. Ele comenta a probabilidade da resposta, os estmulos que estabelecem ocasio para que urna resposta acontega, enfim, o termo operante divide seu espago na anlise com o termo resposta. Contudo, isso no significa que ambos possam ser utilizados como equivalentes. Assim, para que possamos apresentar os operantes verbais de forma clara e precisa, ser necessrio, antes, que algumas das diferengas existentes entre esses termos sejam brevemente especificadas.

    Logo nos dois primeiros captulos do Verbal Behavior, Skinner (1957) estabelece rpidamente a distingo entre um operante e urna resposta. Urna distingo mais elaborada j havia

    4 importante lembrar que, de acordo com a definigo de Skinner (1957), o termo comportamento verbal no se restringe fala e inclu, tambm, a escrita, gestos e varias outras formas de intercambio em que o comportamento e retorgao por conseqncias mediadas pela agao de outro individuo. O termo falante usado por conveniencia, tendo claro que os conceitos aplicam-se tambm a outros modos de comportamento verbal.

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    sido realizada em pub lica res anteriores, como no Science and Human Behavior de 1953 (Skinner, 1953/1965). Segundo Skinner (1957), o termo resposta utilizado comumente para referir-se a um movimiento realizado pelo organismo. A resposta o elemento observvel, o qual pode ser registrado em urna anlise. Esse um termo emprestado da anlise dos reflexos, nos quais urna resposta eliciada por um estimulo. Porm, nem sempre um estmulo pode ser apontado corno o eliciador de urna resposta, pois algumas ages do organismo operam sobre o meio e tm um efeito conseqente sobre o organismo (Skinner, 1953/1965; 1957). isso significa dizer que Skinner aplica o termo resposta tambm aos operantes, ou seja, a comportamentos que nao so eliciados por estmulos antecedentes. A relago entre os estmulos antecedentes e a prpria resposta, neste tipo de comportamento, a de estabelecer urna casio para a emisso da resposta.5 Contudo, tal relago no inexorve como no caso do reflexo: a resposta pode ou no ser omitida, dependendo das variveis presentes na situago.

    Como um elemento observvel, urna resposta ocorre e termina no tempo. Ela desaparece nesse tempo e, desse modo, no pode ser controlada ou prevista porque j ocorreu. Desde que urna anlise do comportamento busque prediz-lo e control-lo, a resposta no pode ser a undade da anlise. A anlise busca explicar a resposta que ocorrer em um tempo'futuro. Assim, a predigo e o controle exigem que respostas sejam agrupadas em classes, as quais ocorrem ao longo do tempo. Ao mesmo tempo, a resposta tem conseqncias sobre o ambiente. Chegamos, ento, ao operante: a classe de respostas mantida por suas conseqncias.

    Temos, assim, que a resposta urna instancia, um exemplo ou caso do comportamento. J o operante designa um tipo de comportamento, urna classe definida pelas suas conseqncias. A resposta pode ser descrita apenas pela sua forma e o operante carrega consigo a caracterstica de classe que faz referncia relago da resposta com urna varivel, o efeito sobre o ambiente. Deste modo, o que podemos observar urna resposta, que um exemplo singular, mas a anlise est preocupada com leis que determinern, prevejam e controlem resposas futuras, ou seja, a anlise trata da classe de respostas denominada operante.

    11 Veremos melhor esta relago quando discutirmos o conceito de probabilidade de resposta, logo abaixo.

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    O tamanho de urna unidade do comportamento verbal pode variar bastante. Podemos denominar como urna unidade um simples afixo, um som mnimo de fala ou frases nteiras. O que est em jogo aqui o controle funcional, pois sendo o operante definido como urna classe de respostas mantida por suas conseqncias, ou seja, urna classe na qual cada resposta ocorre como fungo de certas variveis, temos como decorrncia que quando existe controle funcional, seja em um simples fonema ou em urna longa frase, estaremos diante de urna unidade de anlise (Skinner, 1957). Essas unidades, principalmente os seus mnimos segmentos possveis, sero de extrema importancia para a explicago do surgimento de novos comportamentos, contida no prximo captulo.

    Em estudos voltados para comportamentos no verbais, Skinner apontou que a taxa de ocorrncia de urna classe de respostas indicaria a torga de um operante (Abib, 1997), ou seja, a forga de um operante poderia ser obtida por meio da freqncia com que as respostas dessa classe ocorressem em um dado perodo de tempo. Entretanto, Skinner (1957) apontou que no caso do comportamento verbal o dado bsico seria transferido da taxa de resposta para sua probabilidade de ocorrncia. Isso foi necessrio devido a algumas diferengas entre o comportamento verbal e o no verbal, apontadas pelo autor. Vejamos porque.

    Incialmente, vamos analisar o comportamento reflexo. No caso dos reflexos o dado bsico de anlise , comumente, a magnitude da resposta, pois neste tipo de comportamento encontramos um aumento gradual da magnitude da resposta durante um processo de aprendizagem. A magnitude, ento, ordena os dados obtidos em experimentos com o comportamento reflexo. A probabilidade de resposta no muito til nesse sentido, pois em muitas condiges de estudo a ocorrncia da resposta, dado o estmulo, praticamente certa. Porm, quando tratamos dos operantes, a ocorrncia de urna resposta diante de um estmulo no , como apontado anteriormente, um fato nexorvel. A questo que o operante um fenmeno de emisso de respostas e no de eliciaco destas, por algum estmulo. O fato que ns no gritamos nossas respostas mais alto quando aprendemos material verbal. Nem um rato pressiona a barra com mais forga no processo de condicionamento (Skinner, 1950/1972b, p. 73). A magnitude de urna resposta varia quando algum valor arbitrario de energa de resposta diferencialmente reforgado ou em fungo de variveis

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    emocionis, contudo, estes no so tatos da relago entre o estmulo discriminativo e a resposta.

    Para que exista alguma ordenago dos dados relativos ao comportamento operante preciso, ento, que se encontr outra varivel dependente satisfatria. Este papel desempenhado pela taxa de reposta. Quando o individuo aprende algum operante, verifica-se que a taxa de respostas aumenta e quando tal comportamento colocado em extingo, a taxa diminu. A taxa de respostas , segundo Skinner (1950/1972b), o dado que varia de forma significante para a dirego esperada, as condiges relevantes para o processo de condicionamento. Ela permite que a anlise esteja baseada em condiges observveis e manipulveis e tambm que seja possvel expressar as relages destas condiges em termos, segundo Skinner, objetivos.

    Todava, se o objetivo da ciencia do comportamento previso e controle, ento, preciso que demos com a ocorrncia de urna resposta no futuro e isso somente possvel por meio do uso do conceito de probabilidade. necessrio, segundo Skinner (1950/1972b), que sejamos capazes de avahar a probabilidade de urna resposta e explorar as condiges que a determinam. Contudo, a taxa de respostas no urna medida de probabilidade de ocorrncia de urna resposta, porque a taxa, obviamente, envolve a prpria ocorrncia da resposta. O que acontece que, para Skinner, a taxa funciona como um dado apropriado na formulago de tal probabilidade, porque nunca podemos observar a probabilidade como tal (Skinner, 1953/1965, p. 62), apenas podemos observar a ocorrncia da resposta e, neste sentido, podemos observar a taxa.

    Contudo, no caso do comportamento verbal, observar a taxa de resposta no seria um dado ordenador para se medir a forga de urna resposta verbal. Isso porque, diferente de urna situago controlada em laboratorio no estudo do comportamento no verbal - na qual o sujeito permanece em um ambiente simplificado e a escolha do comportamento direcionada para um comportamento tambm simples, como o de presso barra, escolhido por ser fcilmente estabeiecido e emitido pelo animal - no caso do comportamento verbal, temos urna coridigo peculiar: a taxa, ou seja, a freqncia da emisso da resposta, no faz parte de um episodio verbal natural. A repetigo de urna mesma resposta no se mostra urna tarefa simples como a de presso barra realizada por um rato, pois dificilmente veremos um falante repetindo muitas

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    vezes as mesmas unidades verbais (e muito provavelmente se virmos um individuo repetindo a mesma resposta vrias vezes, ele receber algum tipo de punigo da comunidade verbal). Como parece ser obvio, o falante no emite a mesma resposta vrias vezes, em seguida, da mesma forma que um rato pressiona centenas de vezes urna barra no laboratorio e obtm gua ou comida. A probabilidade de que urna resposta verbal ocorrer em um dado tempo, ento, dever variar atrelada a outras medidas de forga que no apenas a sua prpria emisso. Skinner (1957) escreveu:

    Algumas partes de um repertorio verbal sao mais provveis de ocorrer que outras. Esta probabilidade extremamente importante, embora urna difcil concepgo. Nosso dado bsico no a ocorrncia de urna dada resposta com tal, mas a probabilidade de que ela ocorrer em um dado tempo. Cada operante verbal pode ser concebido como tendo urna probabilidade designvei de emisso sob circunstancias especficas - convenientemente chamada de forga. Ns baseamos a nogo de forga em muitos tipos de evidencia, (p. 22)

    Como conseqncia dessas diferengas, temos ento que, como medida de forga, a freqncia deixa de ser um dado interessante. Skinner (1957) comenta que nesse caso torna-se necessria a troca da taxa de respostas pela probabilidade de que ela seja emitida. Teremos como dado bsico, portanto, no a freqncia de ocorrncia da resposta, mas sua probabilidade de ser emitida, ou seja, consideraremos que, em um determinado ambiente e em um dado tempo, algumas respostas podem ocorrer com urna maior probabilidade que outras.

    Visto que a forga do operante verbal no medida pela taxa de ocorrncia, Skinner (1957) comenta que outras caractersticas das respostas verbais podem ser tomadas para que a forga dlas seja avahada e, nesse sentido, tais caractersticas podem ser tomadas como urna forma de medigo da probabilidade de ocorrncia das respostas. Ele considera: 1) a prpria emisso da resposta; 2) o nivel de energa dessa resposta, como, por exemplo, a intensidade ou volume em que ela emitida; 3) a velocidade da resposta, pois respostas tracas tendem a ser emitidas de modo mais lento e hesitante e; 4) a repetigo da resposta, pois quando urna palavra emitida vrias vezes seguidas, tende-se a interpret-la como mais forte no repertorio do falante do que quando emitida apenas urna vez. importante destacar, contudo, que tais

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    medidas de forga se combinam e interagem entre si, mas que i.nnbm tm suas limitagoes. Em alguns casos, quando outras variveis esto atuando, elas podem nao indicar, de fato, forga da imposta. Um individuo pode faiar baixo, por exemplo, por estar mn um velorio, situago na qual faiar baixo foi reforgado por urna comunidade verbal, enquanto faiar alto foi provavelmente punido. I m um caso como este, verificamos que o nivel de energia da resposta no corresponde a urna condigao de fraqueza da mesma, pois passa a depender de outras veriveis situacionais.

    Dito isso, podemos sumariar o que foi aqui apresentado como i i proposta de anlise skinneriana do comportamento verbal. Tendo em vista que o objetivo principal a descrigao da topografa da resposta, bem como sua explicago, e que a ciencia do comportamento tem o objetivo de predizer e controlar a ocorrncia de repostas futuras, preocupando-se com urna classe de respostas denominada operante, podemos concluir que temos ento como variveis dependentes a probabilidade de ocorrncia de urna dada resposta e, como variveis independentes, as condiges das quais ossa resposta urna fungo (Skinner, 1957).

    Um dado importante para a anlise dos operantes verbais que existe urna independncia entre eles, no que diz respeito s suas aquisigoes. Para Skinner (1957), os operantes podem atetar uns aos outros no repertorio do individuo (como poder ser analisado no prximo captulo), entretanto, isso no significa dizer que a uquisigo de um operante garanta a aquisigo, necessariamente, de outro operante de tipo diferente, mesmo quando a topografa da reposta similar. Por exemplo, urna crianga pode ser capaz de repetir resposta mame logo aps sua me dizermame (nesse caso a resposta seria denominada ecica) porm ela pode ser incapaz de pedir pela presenga da me, chamando mame!, sendo incapaz, portanto, de emitir um mando (esses dois tipos de operantes verbais, ecicos e mandos, sero analisados a seguir). Isso ocorre porque, em diferentes tipos de operantes, a similaridade entre a forma da resposta no implica na identidade funcional, ou seja, os controles dessas repostas so diferentes, como veremos a seguir.

    As interages entre os tipos diferentes de operantes podem existir. possvel, por exemplo, que os eventos que reforgam um lipo de operante sejam estmulos discriminativos para a emisso de um outro tipo de operante. Se isso ocorre, veremos a crianga do nosso exemplo anterior emitindo o mando mame! aps ter emitido

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    a resposta mame! como ecica. Vrios fatores podem influenciar esta interago entre operantes distintos: a relago temporal entre as respostas, a comunidade verbal, a topografa da resposta, entre outros aspectos. Porm, para a anlise proposta neste texto, apenas devemos deixar claro que um individuo no necessariamente adquire, espontneamente, um tipo de comportamento apenas por adquirir outro com topografa similar (Skinner, 1957).

    Q ualquer operante verbal , ento, estabelecido independentemente por meio de condicionamento operante, ou seja, as respostas emitidas devem ser conseqenciadas para que haja a manutengo ou aquisigo do operante. Skinner (1957) argumenta que no h nada no estmulo antecedente (estmulo discriminativo) que mostr qual a forma de urna resposta ou que evoque tal resposta. Urna crianga que est aprendendo a faiar, por exemplo, no sabe como repetir urna resposta emitida pelos pais e ouvida por ela. O estmulo em si no Ihe diz como proceder para emitir urna resposta similar dos pais, ou seja, como movimentar o aparelho vocal para produzir um som similar ao som produzido pelos pais. Sendo assim, para que a crianga consiga emitir urna resposta similar ouvida, teria que emitir vrias respostas, as quais seriam reforgadas, nesse caso pelos pais ou pela prpria crianga como ouvinte de seu comportamento, medida que gradativam ente fossem se aproximando do estmulo auditivo anterior.6

    Essas caractersticas so de extrema importancia para a educago e tambm para o surgimento de novos comportamentos, pois, em alguma medida, elas nos do um indicio de que, para Skinner, comportamentos novos e criativos devem ser de alguma forma propiciados ou produzidos.

    4 - OS DIFERENTES TIPOS DE OPERANTES VERBAISEvidenciadas algumas caractersticas da unidade de anlise

    do comportamento verbal, possvel que os operantes verbais possam ser agora descritos.

    4.1 - O MandoO mando foi o primeiro operante verbal comentado por

    Skinner no Verbal Behavior (1957), talvez pelo fato de que eletenha algumas caractersticas no comuns aos demais operantes. O que

    6 A aprendizagern por aproximapao sucessiva ou modelagem ser apresentada no segundo e terceiro captulos deste texto.

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    caracteriza principalmente um mando o fato de este ser o nico operante verbal no qual urna resposta no tem relago especificada com um estmulo discriminativo anterior. Isso no significa que este seja um tipo de comportamento indeterminado ou que seus antecedentes no tenham qualquer importncia para sua emisso. Como qualquer outro operante, verbal ou no, o mando passa a fazer parte do repertorio do individuo por meio de condicionamento e, dessa forma, a contingencia de trs termos identificada em qualquer operante se mantm, assim como as relages de probabilidade do comportamento continuam sendo atetadas por caractersticas do ambiente. O que fica em foco no mando, entretanto, que o reforgamento est fortemente associado s condiges de estimulago aversiva ou privago.

    A associago entre reforgo e condiges aversivas/privago resultado do fato de que os mandos tm suas conseqncias padronizadas, de certo modo, as diversas comunidades verbais. Isso significa dizer que, desde que, para um determinado operante, urna conseqncia em urna comunidade verbal seja mais comum que outras, este operante torna-se fungo da jungo de tal conseqncia e do nivel motivacional do individuo. Por exemplo, se urna crianga pede um doce emitindo o mando Doce!, como conseqncia ela muitas vezes recebe um doce (Skinner, 1957, p. 35). Pedir um doce ser mais provvel se a crianga estiver privada de doces e menos provvel se estiver saciada deles e o fato de receber doces aps pedi-los deve aumentar a probabilidade de que esta resposta seja apresentada no futuro.

    O exemplo acima nos permite verificar outra caracterstica desse tipo de operante verbal: o mando especifica seu reforgo e, em alguns casos, especifica o comportamento do ouvinte tambm. Vejamos um outro exemplo emprestado de Skinner (1957):~o mando Passe o sal tem como conseqncia comum em urna comunidade o recebimento de sal e, assim sendo, esta resposta no s especifica a conseqncia, o sal, como tambm o comportamento do ouvinte, passar o sal (p. 36).

    H urna outra caracterstica que diferencia o mando dos outros operantes verbais: suaago em beneficio^ do falante. Em condiges de privago/estimuFS^ao^avereTvaT^Taanfe'^fm^m mando e consequenciado pelo ouvinte, que age ou removendo tal estimulago aversiva, ou suprindo o falante privado com a conseqncia especificada. Entretanto, podemos perguntar: se o beneficio do

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    falante, por que o comportamento do ouvinte se mantm? E como o comportamento do ouvinte tem sua probabilidade de emisso elevada?

    O argumento utilizado por Skinner (1957) para esclarecer essas questes desenvolveu-se sobre urna anlise do episodio verbal total, ou seja, pela apresentago do comportamento do ouvinte e do falante em ordem temporal. O comportamento de ambos foi analisado separadamente, mantendo-se, contudo, o conhecimento e o respeito ao tempo de ocorrncia natural de um episodio. O que Skinner pretendeu com essa anlise foi a ampliago da visualizago das condiges motivacionais controladoras da resposta do falante (privago ou estimulago aversiva) e das contingncias de reforgo que mantm o comportamento de ambos, ouvinte e falante. O exemplo analisado foi um pedido de po: a presenga do ouvinte, primeiramente, funciona como um estmulo discriminativo para a resposta do falante, a saber, o mando Po, por favor, visto que a probabilidade de que o falante mande aumentada na presenga de outro. Tal mando, por sua vez, funciona como um estmulo discriminativo para o ouvinte, pois estabelece ocasio para que ele emita o comportamento no verbal especificado pelo mando de passar o po. Esse comportamento no verbal conseqncia o mando do falante e tem o efeito de reforg-lo. Em seguida, muito provvel que, em algumas culturas, o falante ento referee o comportamento do ouvinte agradecendo pelo po com urna resposta do tipo Muito obrigado, e que este ltimo referee tal resposta emitindo outra do tipo No tem de qu (p. 38). Mesmo que os agradecimentos no fagam parte da caracterizago de urna resposta como um mando, estas respostas podem funcionar como um reforgo do comportamento do ouvinte. Neste exemplo, caracterizado comumente como um pedido, podemos ver quais os controles independentes que movimentam o episodio verbal como um todo.

    Alm disso, outros fatores so importantes para a manutengo do comportamento do ouvinte. Em algumas situages, por exemplo, Skinner (1957) considera que o falante pode estabelecer urna situago aversiva, da qual o ouvinte somente pode sair quando medeia adequadamente a conseqncia do mando. Essas situages so geralmente conhecidas como ordens. Um exemplo fornecido por Skinner, o de um assalto: o falante diz Mos ao alto. Seu dinheiro ou sua vida! (p. 38) e o ouvinte somente pode se livrar da ameaga cedendo o dinheiro ao falante. Assim, diferentes formas de mandos estabelecem diferentes situages para o ouvinte e podemos, ento,

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    entender porque o comportamento do ouvinte de mediar a conseqncia para o comportamento do falante mantido.

    Assim , podemos com preender que, na verdade. a probabilidade de reforgo para os mandos varia bastante, dependendo de continancias sociais muito complexas. Por exemplo, quando perquntamos as horas ou pedimos informaqo sobre a localizaqo de cuna ra, muito provvel que o ouvinte reforc o mando ^formando as horas ou a localizaqo da ra (se o ouvinte tiver relqio ou souber a localizacao da ra); ia um peainte que aborda vrias pessoas pedindo comida ou dinheiro provavelmente far muitos pedidos sem sucesso e seus mandos sero reforqados em esquema bastante intermitente.

    Os mandos, como pode ser observado em nossos exemplos, podem ser compreendidos como o que costumamos chamar de pedidos, ordens, splicas, perguntas, etc. Contudo sua classificaqo difere das classificagoes consideradas por Skinner (1957) como tradicionais, as quais se baseiam, em geral, na intengo do falante. Isso porque, a anlise skinneriana est fundamentada as vrias contingencias que atuam sobre o comportamento do ouvinte. Assim, um mando pode ser considerado urna ordem, como vimos, se o falante estimula aversivamente o ouvinte de forma que este somente pode sair da situago aversiva se mediar a conseqncia especificada. J urna splica um mando que gera urna disposigo emocional no ouvinte para promover o reforgo. Urna pergunta, por sua vez, um mando que especifica urna ago verbal por parte do ouvinte, por exemplo, ao dizer seu nome diante de Qual o seu nome? (p. 38). Quando ao executar a ago especificada pelo mando o ouvinte tem conseqncias positivas, o mando um conselho. Em urna advertncia ou aviso, o ouvinte, ao atender o mando, tem como conseqncia escapar de estimulago aversiva, como em Se beber, no dirija. Urna permisso um mando que cancela urna ameaga que impedia o comportamento do ouvinte (Podem sair agora!). Um oferecimento estende para o ouvinte reforgadores disponveis para o falante (Pegue um!). Por fim, um chamado, um mando em que, depois que o ouvinte atende ao mando, o falante emite outro comportamento que funciona como reforgo para o ouvinte. Neste ltimo caso o chamar pode servir para atrair a atengo ou ser um vocativo, como chamar pelo nome. Assim, Skinner tenta remover o critrio de classificaqo de dentro do falante,

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    o que em seu modelo cientfico seria inaceitvel, e tenta mant-lo nos elementos observveis.

    Alm das contingencias que afetam a probabilidade do ouvinte fornecer a conseqncia para o mando, Skinner (1957) procura lidar tambm com outros aspectos da resposta de mando (assim como de outros operantes verbais) que ele denominou de propriedades dinmicas. A probabilidade de emisso das respostas verbais, assim como a intensidade das respostas pode variar em urna escala bastante grande. Por exemplo, o falante pode emitir um mando breve e em baixo tom de voz ou pode emiti-lo repetidas vezes e em intensos gritos, dentre outras possibilidades. Estas propriedades devem interferir na probabilidade de enisso da resposta do ouvinte e na intensidade em que ser emitida tarrlbm. As variages na resposta do falante, segundo Skinner, acontecem porque este pode estar em diferentes estados de privago ou estimulago aversiva e porque pode ter diferentes historias de reforgamento em emitir respostas do tipo. De urna forma mais objetiva, isso significa dizer que o falante pode ter sido reforgado em situages passadas ao emitir mandos estabelecendo fortes condiges aversivas ao ouvinte, por exemplo, talando em um volume incomod e fazendo ameagas. Ao mesmo tempo, um forte estado de privago ou estimulago aversiva pode levar a urna resposta com maior intensidade. Alm disso, o status superior do falante, ou seja, a condigo estabelecida pelo faiante anteriormente de propiciar situages de ameaga ou de perdas de reforgadores para o comportamento do ouvinte, pode ser determinante na obtengo da conseqncia. Um chefe, por exemplo, pode, mesmo com baixa intensidade de voz, estimular o ouvinte aversivamente, de forma a obter a conseqncia desejada. .Da mesma forma, a jntensid_ade.eaprobabilidade da resposta do ouvinte variam de acordo com, alm da prpria predisposigodo ou^rifeTernresponder ao mando cfctilanfeT a efetividade daestimulagao aveTSiva'que'falante prqduz,1S^ *"* - I * I - I i I 1 ^ ^ 3em cor

    4.2 - O Comportamento EcicoAps esta breve apresentago do mando podemos passar

    descrigo de quatro outros tipos de operantes verbais: comportamentos ecico, textual, intraverbal e tacto. Eles tm em comum sua relago especificada com um estmulo anterior, pois, diferentes do mando, esses tipos de operantes verbais so reforgados por conseqncias generalizadas, tais como estmulos

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    que indicam atengo ou aprovago: contato visual, um sorriso, um aceno com a cabega ou mesmo urna resposta verbal do tipo Muito bem!. Assim, ao contrrio do que ocorre no caso do mando, no h especificago do reforgo inclusa na resposta e prevalece um controle frouxo pelos estados motivacionais do falante. O controle principal exercido pelo estmulo anterior, ou seja, por um estmulo discriminativo. ,lSkinneri.1957t argumenta que o controle restrito presente no mando, da privago ou estimulago aversiva em jungo com conseqncias fortment definidas pela comunidade verbal, esses casos deu lugar a outro tipo de controle exercido agora por um estmulo presente no ambiente do falante.

    O primeiro desses comportamentos ser abordado por Skinner (1957) o comportamento ecico. Nesse tipo de operante tem-se urna resposta verbal a qual produz um som similar ao som do estmulo, ou seja, h urna resposta vocal controlada por um estmulo verba! auditivo. controle da resposta, nesse caso, cfeTloifnaSo'co^ controle formal, visto que o som da resposta corresponde ponto a ponto ao som produzido pelo estmulo7.

    Um ecico pode ter como estmulo antecedente um mando do tipo Diga X, aps o qual a resposta mais comumente reforgada pela comunidade verbal X. Entretanto, os ecicos so bastante comuns na ausencia de tais mandos. Por exemplo, em experimentos que utilizam associago de palavras,'o experimentador instru o participante a Ihe dizer qualquer palavra que Ihe ocorra aps ouvir do prprio experimentador urna palavra qualquer. O participante no pode repetir a palavra produzida pelo experimentador. . Como resultado, h muitas vezes um comportamento ecico fraamentrio. com aljtilizagp de rimas ou aliterages (Skinner, 1957, p. 56).

    Urna stuagao^xpMrn^tal como essa serve para ilustrar que o comportamento ecico mais comum do que imaginamos. Em situages naturais de conversas, por exemplo, esse tipo de operante ocorre normalmente quando o falante emite determinada palavra, a qual repetida pouco depois por outro falante na continuago do dilogo (um falante diz dilema no lugar de problema e o outro falante, por este motivo, diz dilema tambm) ou alguma outra palavra de som similar empregada (um fragmento ecicoj. Em situages

    7 O operante ecico est relacionado ao que tradicionalmente denominamos de mitapao vocal. O operante ecico , contudo, definido de forma mais precisa, em termos da relago de controle entre o estmulo discriminativo e a resposta e pode i' icluir instancias que normalmente no chamaramos de imitago.

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    educacionais, um adulto que ensina a urna crianga o nome de um objeto, muitas vezes o faz pedindo que a crianga repita o nome diante do objeto. Nesse caso, o comportamento ecico torna-se um facilitador da aquisigo de um outro tipo de operante verbal, a saber, o tacto (em que a crianga, diante do objeto, diz o seu nome), o qual ser analisado mais tarde. Por estas e outras razes, um repertorio ecico bastante til para o individuo e estabelecido, principalmente, por meio de reforgo educacional. Contudo, o reforgo prvido pela comunidade verbal para esse tipo de operante verbal variado, devido tambm s suas mltiplas funges. O fato de por meio de esse comportamento o falante poder reconstruir um estmulo e reagir a ele de outras formas urna conseqncia naturalmente reforgadora do ecico. Em situages complicadas tambm possvel encontrarmos o falante repetindo o que ouviu para, assim, tomar urna deciso, por exemplo.

    Segundo Skinner (1957), bastante comum que o comportamento ecico seja confundido com respostas de auto- estimulago, as quais o individuo costuma repetir atualmente algo aprendido no passado. Porm, possvel diferenciar um ecico desses outros tipos de respostas. A questo crucial para que tal distingo possa serfeita a relago temporal com o estmulo verbal que o individuo repete: o compojtamento ecico se o estmulo verbal ocorre logo antes da resposta e funciona como estmulo discriminativo para ela. Por outro lado, quando urna resposta cTquicla no passado dita em urna ocasio presente, ela no est sob controle discriminativo do estmulo vocal que a originou anteriormente, mas sim, de outros estmulos discriminativos atuais do ambiente do falante e, desta forma, no pode ser considerada um comportamento ecico de acordo com sua definigo. (A questo das relages temporais entre estmulo discriminativo, resposta e conseqncia bastante complexa na anlise skinneriana. Contudo, no abordaremos essa questo neste texto).

    4.3 - O Comportamento TextualOutro tipo de operante verbal sob controle de variveis

    similares s controladoras do ecico o comportamento textual. Neste tipo de operante verbal tem-se o estmulo visual ou ttil (no caso do B ra ille ) contro lando urna resposta vocal. Mais especificamente, o comportamento textual seria comportamento vocal controlado por estmulos verbais escritos ou impressos, conhecidos como texto (Skinner, 1957). A correspondencia entre o

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    estmulo verbal antecedente e a resposta, nesse tipo de operante, tambm ponto a ponto, como no comportamento ecico, porm em sistemas dlmensionais diferentes.

    O termo comportamento textual. como definido por Skinner

    Skinner faz, no entanto, urna distingo entre comportamento textual e leitura. Comportamento textual smplesmente a produco, diante de um texto, da resposta verbal correspondente. A leitura envolvera, alm disto, a compreenso do texto, o que ocorreria quando o individuo pudesse reagir apropiadamente como ouvinte a seu comportamento textual. O comportamento textual poderia, nesse caso, ocorrer mesmo quando o individuo no compreende o texto. Isto poderia ocorrer quando, por exemplo, um individuo que sabe ler em portugus pronuncia corretamente as palavras de um texto em latim, sem, no entanto, compreender o texto.

    Assim como os ecicos, o comportamento textual amplamente reforjado na comunidade verbal que o mantm. H principalmente reforgo educacional fornecido na aquisigo de um repertorio de leitura. Porm, o comportamento textual pode ser naturalmente reforgador porque permite que o individuo possa reagir adequadamente a contingencias envolvidas em muitas situages prticas, pois na maioria das comunidades verbais de hoje, o individuo capaz de ler o que encontra frente po'de, com isso, ampliar suas chances de sucesso, bem como evitar estimulago aversiva.

    O comportamento textual, assim como o comportamento ecico, tambm amplamente reforgado pela fungo de possibilitar a aquisigo de outros tipos de operantes verbais, como os tactos e os nraverbais. Em um dicionrio ilustrado , por exemplo, as resposas textuais evocadas na presenga das figuras podem evocar respostas de nomeago daquelas figuras, posteriormente. Da mesma forma, um dicionrio no ilustrado pode passar a evocar respostas intraverbais (Skinner, 1957, p. 67), as quais sero analisadas a seguir.

    Por outro lado, no comportamento textual no h o reforgamento diferencial automtico que ocorre no comportamento ecico. Neste ltimo, um falante pode detectar automticamente o grau de semelhanga entre sua produgo ecica e o estmulo verbal correspondente, de modo que o grau de semelhanga reforga aproximages cada vez maiores ao estmulo discrim inativo, i )odelando, assim, um repertorio ecico cada vez mais preciso8. No

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    h essa possibilidade de detectar respostas ncorretas no inicio da aquisigo do comportamento textual. Somente medida que o individuo desenvolve um repertorio de ieitura que ele passa a identificar respostas textuais incorretas, quando elas comprometen! o sentido do texto.

    4.4 - O Comportamento IntraverbalAssim como os comportamentos ecico e textual, existe

    ainda mais um operante verbal sob controle de um estmulo verbal anterior descrito por Skinner (1957). Esse tipo de operante verba! no mostra nenhuma correspondencia ponto a ponto entre o estmulo e a resposta. O que existe aqui so estmulos vocais ou escritos evocando respostas tambm vocais ou escritas. O estmulo verba! anterior pode ter um tamanho completamente diferente do tamanho da resposta correspondente, como, por exemplo, o estmulo Dois mais dois evocar a resposta Quatro. Muito do comportamento verbal que adquirimos so respostas desse tipo, como definiges, regras e fatos aprendidos na escola, deciamages de poesas sem apoio de estimulago textual, algumas metforas padronizadas, mximas, ditados populares, traduges entre lnguas, etc..

    O comportamento intraverbal tem a caracterstica de comportar urna seqncia de respostas que pode ser fcilmente exemplificada com o cantarolar de urna cango ou de um hio corno, por exemplo, o Hio Nacional brasileiro. Urna resposta controla a emisso da resposta subseqente, entretanto, as respostas no esto, necessariamente, sob o controle do elo mediatamente anterior. Sendo assim, urna vez interrompida tal seqncia possvel que o individuo no consiga retom-la apenas emitindo o elo precedente e, em certos casos, torna-se necessrio que o individuo emita toda a seqncia desde o seu inicio. Se, por exemplo, ao cantar o Hio Nacional, o individuo no emitir um elo subseqente, muitas vezes ser necessrio voltar ao comego. Outro fator que interire na relago de controle do intraverbal a emisso de dois elos iguais, os quais podem evocar respostas incorretas. Por exemplo, ao cantara segunda parte do Hio Nacional, urna pessoa 8

    8 O principal requisito para isso que o falante tenha boa audigo. Esta urna das principis dificuldades na aprendizagem da linguagem oral porcriangas com deficiencia auditiva, pois elas nao podem detectar" a similaridade de suas produgoes vocais com os modelos fornecidos pela comunidade verbal e deste modo no podem adquirir um repertorio ecico.

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    pode, depois de O Ptria amada, idolatrada, salve, salve!, prosseguir incorretamente com o elo que se segue a este trecho na primeira parte: Brasil, um sonho intenso, um raio vivido....

    Um repertorio intraverbal tambm se constitu por meio de condicionamento operante. Vrias respostas so reforjadas pela comunidade para um determinado estmulo: a resposta um, dois, tres pode evocar outras respostas como quatro, cinco seis, sete... ou tres, dois, um ou fogo!". Experimentos realizados com associago de palavras.exempllficam tais possibilidades e indicam que as respostas emitidas dependem da historia do falante.

    4.5 - O TactoO termo tacto, criado por Skinner (1957), designa um tipo

    de operante mantido por reforgo generalizado e controlado por estmulos discriminativos no verbais, tais como objetos, eventos, ou propriedades de objetos ou eventos. Respostas como cadeira, carro vermelho, est chovendo, gol do Corinthians9 10 11 ou meu dente di podem ser exemplos de tacto. No entanto, a topografa da resposta por si s no assegura que ela seja um tacto, necessrio que o operante seja mantido por reforgamento generalizado e o estmulo discriminativo seja algum aspecto do ambiente no verbal. Essa a principal caracterstica que torna o tacto diferente dos demais operantes j descritos. No mando, a nfase colocada as condiges de privago ou estimulago aversiva. Nos comportamentos ecico, textual e intraverbal existe um estmulo discriminativo verbal que estabelece a ocasio para a ocorrncia de urna resposta verbal. No.caso do tacto, o estmulo anterior nao verbal e sim urna proprieda3eHb mhiftntft rm tuim to3o ourcomoBerTominou SkfnrjefTuma"pfopriedade do mundo do

    " Este exemplo provocou acirrada discusso entre os autores: o segundo autor defenda que o gol fosse do Santos, mas a primeira autora exigiu que fosse do Corinthians.10 importante salientarmos que em alguns casos o tacto pode no ser controlado, efetlvamente, por urn objeto, um evento, ou por urna propriedade de um objeto ou evento. As mentiras so exemplos de urna espcie de distorgo do controle de estmulos. Em casos especiis de generalizago do reforgo, o falante pode passar a emitir respostas que aumentam ou inventam fatos. Por exemplo, urna crianga perdeu o dinheiro dado pela me para comprar doces. Ao chegar em casa ela conta a me que perdeu o dinheiro e a me Ihe d dinheiro outra vez. O reforgo neste caso pode manter a resposta de dizer que perdeu o dinheiro, sem que, de fato, isso tenha acontecido. Neste caso, como disse Skinner (1957), o controle de estmulos quebrado e o falante pode passar11 descrever cenas que no aconteceram: como um artista criativo, o comportamento dele (falante) controlado agora, inteirarnehte, pelas contingencias de reforgo" (p. 150).

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    tacto sugere

    ante que otacto atua em "beneficio do ouvinte, ao contrario do mando. Ele aumenta o contato do ouvinte com o prprio ambiente (coisas e eventos) e essa urna das razes apontadas por Skinner (1957) para que a comunidade verbal reforc esse operante.

    O controle exercido sobre o tacto pelo estmulo discriminativo no verbal se deve a um tipo de reforgamento similar ao dos comportamentos ecico, textual e intraverbal: o reforgo generalizado. Quando o reforgador de um tacto exclusivamente um reforgo generalizado, temos o que Skinner (1957) denominou de tacto puro. Entretanto, esse tipo de operante no muito comum e, em geral, os tactos so misturados a caractersticas de outras relages verbais, como, por exemplo, s relages de mandos. Nesse ltimo caso, temos tactos impuros. Um exemplo de tato impuro seria a resposta est chovendo dita por urna me ao filho, em parte sob controle discriminativo do evento (chover) e em parte porque esta resposta produziu, no passado, urna conseqncia especfica, o filho pegar o guarda-chuva, de modo que est chovendo seria, em parte, urna forma abrandada do mando peque o guarda-chuva.

    O controle de estmulos nos tactos tem urna caracterstica peculiar: dois processos importantes, que atuam como reguladores entre si, esto presentes no estabelecimento deste tipo de operante, a saber, a generalizago do controle de estmulos, responsvel pelas extenses dos tactos11 (as quais originam, por exemplo, as metforas) e a abstrago. No primeiro caso, a generalizago do controle de estmulos, ela responsvel pela ampliago do nmero de estmulos discriminativos responsveis pela ocasio na qual urna resposta poderia ser emitida e com isso, o aumento das possibilidades de emisso de tactos. Isso acontece porque quando urna resposta, membro de urna classe, reforgada em urna dada ocasio, qualquer estmulo ou propriedade de estmulo presente na ocasio pode exercer controle sobre a emisso daquela classe de respostas. Assim, em 11 12

    11 As extenses sero analisadas em nosso prximo captulo. Para o momento, apenas consideraremos superficialmente o processo.12 Assim como a extenso est relacionada com o processo de generalizago, a abstrago est relacionada com o processo de discriminago: urna resposta reforgada somente em presenga de urna propriedade de estmulo e no reforgada na ausencia desta propriedade. Falamos de abstrago quando o que discriminado urna propriedade abstrata dos estmulos, como a cor, forma, numerosidade etc., lim a

    qual o falante diz faiar sobre" . O prprio termo

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    situages futuras, as quais o estmulo, ou alguma propriedade sua, estiver presente, a resposta poder ser emitida. No segundo caso, o da abstrago, tem-se o contrrio, ou seja, a redugo das situages onde os tactos podem ser emitidos12. Tal restrigao oriunda do reforgamento prvido pela comunidade verbal, no qual urna resposta colocada sob controle de propriedades especficas de objetos ou eventos (Skinner, 1953/1965; 1957). medida que a aeneralizaco expande o controle de estmulos, a abstrago age no sentido inverso, estabelecendo o controle cada vez mais restrito por propriedades oudjmenses dos estmulos tais como cor, forma, tamanho, peso. Assim, respostas como redondo, leve, agudo, intenso", numeroso", etc., sao controladas pela propriedade especfica, independentemente do objeto, evento ou situago em que ocorram: a resposta redondo (a) pode ocorrer diante de urna moeda, urna'bandeja, a ua, etc/. O processo de abstrago pode cstabeecer respostas sob controle de propriedades muito suis como, por exemplo, quando o falante designa o estilo de urna obra de arte.

    O tacto parece ser considerado por Skinner (1957) como o mais importante dos operantes verbais. Ele coloca o individuo em contato com o mundo e tambm com o prprio mundo privado. O que Skinner chama de o mundo de dentro da pele, ou seja, a estimulago da qual apenas o prprio falante tera acesso, como nossos sentimentos, por exemplo, com o uso do tacto, pode se tornar pblica (ou, como veremos a seguir, voltar a ser pblica).

    O fato de se encontrar dentro da pele do individuo no faz, segundo Skinner (1957), com que esse tipo de estimulago seja diferente fisicamente da estimulago pblica. A diferenga encontrase apenas na forma como a comunidade verbal tem acesso a esta estimulago de maneira que possa modelara sua descriga