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CELSO LOPES ABORDAGEM PSICOSSOCIAL DE UMA POPULAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM VITILIGO: avaliação de depressão, ansiedade e qualidade de vida Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do título de Mestre em Ciências pelo programa de pós graduação em Dermatologia. Orientador: Prof a Dr a Valeria Petri São Paulo 2007

ABORDAGEM PSICOSSOCIAL DE UMA POPULAÇÃO DE … fileFigura 3- Distribuição dos escores Beck – depressão segundo o grupo e sexo 27 Figura 4- Escores médios de sintomas de ansiedade

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CELSO LOPES

ABORDAGEM PSICOSSOCIAL DE UMA POPULAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM VITILIGO: avaliação de depressão, ansiedade

e qualidade de vida

Tese apresentada à Universidade Federal de São

Paulo – Escola Paulista de Medicina, para

obtenção do título de Mestre em Ciências pelo

programa de pós graduação em Dermatologia.

Orientador: Profa Dra Valeria Petri

São Paulo 2007

2

Sumário

Lista de figuras......................................................................................................... 3

Lista de tabelas ....................................................................................................... 5

Resumo ................................................................................................................... 7

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8

1.1 Objetivos ........................................................................................................... 10

2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 11

3 MÉTODOS ........................................................................................................... 17

3.1 Sujeitos da pesquisa ......................................................................................... 17

3.2 Instrumentos e materiais ................................................................................... 17

4 RESULTADOS ..................................................................................................... 20

4.1 Sobre a análise estatística dos dados ............................................................... 20

4.2.1 Comparação entre os grupos quanto às variáveis de controle ...................... 20

4.3 Da segunda comparação .................................................................................. 23

4.3.1 Comparação entre os grupos quanto a sintomas de depressão e

ansiedade e parâmetros de qualidade de vida ..............................................

24

5 DISCUSSÃO ........................................................................................................ 38

6 CONCLUSÕES .................................................................................................... 41

7 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 42

8 ABSTRACT .......................................................................................................... 46

9 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .......................................................................... 47

3

Lista de figuras

Figura 1- Escores médios de sintomas de depressão segundo o grupo............ 25

Figura 2- Escores médios de sintomas de depressão segundo o grupo e sexo 26

Figura 3- Distribuição dos escores Beck – depressão segundo o grupo e sexo 27

Figura 4- Escores médios de sintomas de ansiedade segundo o grupo ........... 28

Figura 5- Escores médios de sintomas de ansiedade segundo o grupo e sexo 28

Figura 6- Distribuição dos escores Beck – ansiedade segundo grupo e sexo... 29

Figura 7- WHOQOL – Escores médios do Domínio físico segundo o grupo..... 30

Figura 8- WHOQOL – Escores médios do Domínio físico segundo o grupo e

sexo......................................................................................................

30

Figura 9- Distribuição dos escores WHOQOL – Domínio físico segundo o

grupo e sexo.........................................................................................

31

Figura 10- WHOQOL – Escores médios do Domínio psicológico, segundo o

grupo.....................................................................................................

32

Figura 11- WHOQOL – Escores médios do Domínio psicológico segundo o

grupo e sexo.........................................................................................

32

Figura 12- Distribuição dos escores WHOQOL – Domínio psicológico, segundo

o grupo e sexo.......................................................................................

33

Figura 13- WHOQOL – Escores médios do Domínio social segundo o grupo..... 34

4

Figura 14- WHOQOL – Escores médios do Domínio social segundo o grupo e

sexo.......................................................................................................

34

Figura 15- Distribuição dos escores WHOQOL – Domínio social, segundo o

grupo e sexo........................................................................................

35

Figura 16- WHOQOL – Escores médios do Domínio ambiental segundo o

grupo.....................................................................................................

36

Figura 17- WHOQOL – Escores médios do Domínio ambiental segundo o grupo

e sexo...................................................................................................

36

Figura 18- Distribuição dos escores WHOQOL – Domínio ambiental, segundo o

grupo e sexo........................................................................................

37

6

Tabela 17- Escala Beck - Ansiedade - Distribuição dos indivíduos do grupo controle quanto aos níveis de sintomas de ansiedade.......................

27

Tabela 18-

Escala Beck - Ansiedade - Distribuição dos indivíduos com vitiligo quanto aos níveis de sintomas de ansiedade.....................................

27

Tabela 19- Medidas descritivas da variável Domínio físico (WHOQOL), segundo Grupo e Sexo.......................................................................

29

Tabela 20-

Medidas descritivas da variável Domínio psicológico (WHOQOL), segundo Grupo e Sexo .....................................................................

31

Tabela 21- Medidas descritivas da variável Domínio social (WHOQOL), segundo Grupo e Sexo.......................................................................

33

Tabela 22- Medidas descritivas da variável Domínio ambiental (WHOQOL),

segundo Grupo e Sexo ......................................................................

35

7

Resumo

Objetivo: o vitiligo é doença comum de etiologia desconhecida, crônica, capaz de

determinar grave desfiguração, podendo afetar significantemente a qualidade de vida

dos pacientes. O presente estudo foi realizado com objetivo de pesquisar aspectos

psicossociais em uma população de indivíduos com vitiligo, com ênfase em sintomas

de depressão e ansiedade e avaliação da qualidade de vida, baseados em inventários

de investigação, avaliando o impacto social da doença sobre o indivíduo.

Métodos: foram selecionados 60 voluntários, de ambos os sexos, com idades entre 18

e 40 anos, sendo o primeiro grupo composto de 30 indivíduos sem vitiligo (grupo

controle) e o segundo grupo composto de 30 indivíduos com vitiligo, em tratamento nos

ambulatórios do Departamento de Dermatologia da Escola Paulista de Medicina –

Universidade Federal de São Paulo. Os voluntários foram submetidos aos Inventários

Beck de ansiedade e depressão e Inventário de Qualidade de Vida da Organização

Mundial da Saúde (WHOQOL – bref). Foram comparados os níveis de sintomas de

depressão e ansiedade e parâmetros de qualidade de vida entre os dois grupos.

Resultados: o grupo de indivíduos com vitiligo apresentou maiores escores médios de

sintomas de depressão e ansiedade e menores escores médios dos Domínios Físico,

Psicológico e Social (WHOQOL), quando comparados com o grupo controle.

Conclusões: o vitiligo pode produzir impacto social significativo na vida dos indivíduos

que o apresentam, justificando a instituição de uma política de abordagem

mutidisciplinar visando melhora dos padrões de qualidade de vida. Estudos adicionais

devem ser estimulados para aperfeiçoar a compreensão dos aspectos psicossociais

envolvidos.

8

1 INTRODUÇÃO

O vitiligo é doença auto-imune(1) crônica, de causa desconhecida, que se

apresenta como máculas resultantes da perda progressiva da pigmentação cutânea.

Tais máculas localizam-se em quaisquer pontos da superfície da pele, sem predileção

por sexo ou raça. Quanto à idade de início, admite-se que cerca de metade dos casos

surja antes dos 20 anos(2).

O vitiligo acomete cerca de 1% da população mundial(1-2) e em 30% dos casos há

histórico de ocorrência familiar(3). Ainda que não comprometa a vida, essa afecção

exerce considerável influência sobre o bem-estar psicológico dos pacientes,

promovendo perda da auto-estima, distorção da imagem corporal e deterioração da

qualidade de vida(4).

A patogenia não é de todo conhecida. As teorias atuais buscam explicar a doença

e, até o presente, as causas e os mecanismos envolvidos não estão inteiramente

esclarecidos.

São apresentadas as seguintes teorias:

a) teoria genética: a história familiar é positiva em cerca de um terço dos casos e

foram descritas ocorrências em gêmeos homozigóticos. O padrão de herança

seria autossômico dominante, de natureza poligênica, com penetrância e

expressão variáveis(5);

b) teoria auto-imune: leva em conta alterações do sistema imunológico que

resultam em destruição dos melanócitos. Essa proposição é sustentada pela

observação freqüente de vitiligo na vigência de outras doenças autoimunes

(tireoidopatias, diabetes insulino-dependente, anemia perniciosa, doença de

Addison, alopecia areata, esclerodermia, lúpus eritematoso sistêmico), na

resposta ao tratamento com imunossupressores e na presença de anticorpos

específicos contra antígenos da superfície dos melanócitos(6);

c) teoria citotóxica: tem como base a evidência in vitro de que metabólitos

liberados durante a síntese e degradação da melanina podem ser tóxicos para

os melanócitos(7);

9

d) teoria dos radicais livres: sugere que a destruição dos melanócitos seria

resultado da liberação excessiva de radicais livres (em particular peróxido de

hidrogênio)(8-9), eventualmente com níveis reduzidos de catalase(10), durante o

processo de síntese e degradação da melanina ou em outras reações

químicas orgânicas;

e) teoria neural: sugere que mediadores químicos liberados em algumas

terminações nervosas poderiam ser tóxicos para os melanócitos. Essa teoria

também se apóia na ocorrência das formas segmentares de vitiligo(11) e na

associação com estresse psíquico e distúrbios neurológicos(12-13).

f) teoria convergente: propõe a combinação das teorias anteriores(14).

Assim, o vitiligo não deveria ser interpretado como doença per se, mas sim como

sinal ou parte de condições de origens diversas, a maioria delas desconhecida, que

apresentam em comum a destruição ou inativação dos melanócitos.

Vários estudos têm demonstrado que o vitiligo é uma doença que pode causar

grande impacto na vida dos indivíduos, em diferentes áreas. Algumas das

características marcantes observadas foram: baixos índices em inventários de auto-

estima, sentimento de estigmatização e preconceito. Outras manifestações foram:

alterações do sono e de hábitos alimentares, estresse, depressão, interferência nas

relações sexuais e sentimento de discriminação social.

As reações variam de indivíduo para indivíduo e a doença gera grande

necessidade de informação. Fatores psicossociais ou estressores parecem

desencadear ou modificar a evolução de algumas dermatoses, o que sugere que o

conhecimento desses fatores seja fundamental para melhorar a abordagem e

acompanhamento dos pacientes.

Pesquisas realizadas até o presente justificam o estudo aprofundado dos fatores

psicossociais relacionados ao vitiligo e dos recursos para avaliar o impacto dessa

dermatose no nosso meio.

O tratamento do vitiligo é difícil e, não raro, insatisfatório e, como doença crônica

de difícil manuseio, requer o domínio de aspectos que transcendem a mera utilização

dos recursos terapêuticos convencionais. Assim, o domínio dos fatores psicossociais

associados interessa aos profissionais comprometidos com o acompanhamento dos

10

pacientes e com a busca de resultados terapêuticos mais eficazes, melhor prognóstico

e, principalmente, melhor qualidade de vida.

1.1 Objetivos

1. Avaliar sintomas de depressão e ansiedade e parâmetros de qualidade de vida em

uma população de indivíduos com vitiligo e

2. Verificar possíveis diferenças entre os gêneros em indivíduos com vitiligo quanto aos

sintomas de depressão e ansiedade e a parâmetros de qualidade de vida.

11

2 REVISÃO DA LITERATURA

O vitiligo pode exercer profundo impacto na vida dos pacientes. Panconesi et

al.(15) (1983) observaram que a percepção de uma alteração da pele como

deficiência tem repercussão somatopsíquica que varia entre os indivíduos e

depende do tipo de dermatose. Suas experiências ainda não permitiam a

classificação do vitiligo como doença psicossomática, mas sugeriam abordagem

multidisciplinar.

Os danos psicossociais provocados pelo vitiligo também preocupavam outros

autores(16) e o interesse nos aspectos psíquicos e sociais de várias doenças de pele

foi aumentando a cada dia.

Em 1986, Porter et al.(17) observaram que indivíduos com vitiligo apresentavam

menores índices em inventários de auto-estima quando comparados com um grupo

controle. O estudo sugere, também, que outras dermatoses com alterações de

coloração produzem padrões similares de desajuste social. Porém, quando

comparados com indivíduos com psoríase demonstraram melhor ajuste social e

menor sentimento de discriminação.

Em estudo realizado com questionários enviados a 237 pacientes em

tratamento de vitiligo, Porter et al.(18) (1987) concluíram que 67% manifestavam

preocupação com sua doença. A disseminação das manchas era preocupação de

41% deles. A possibilidade dos filhos herdarem a doença, a estigmatização e o

surgimento de novos tratamentos eram preocupações adicionais. Mais da metade

12

dos pacientes sentiam-se observados pelos circunstantes, 20% já haviam sido

vítimas de comportamentos hostis por parte de estranhos, 23% consideravam que o

vitiligo interferia na relação com o sexo oposto e 8% relatavam discriminação no

ambiente de trabalho, em função da doença. O estresse foi constatado em 32% dos

pacientes, 44% tentavam encobrir as manchas com cosméticos e 51% usavam

roupas especiais para dissimular as manchas (chapéus, luvas, mangas compridas).

Cerca de 7% dos entrevistados referiram depressão grave, três pacientes chegaram

a considerar a hipótese de suicídio e 32% afirmaram embaraço ao lidar com a

doença na vida cotidiana. Os autores concluíram que o vitiligo cria grande

necessidade de informação e constataram que 90% dos indivíduos referiam que a

família lhes dava suporte emocional. Porém, o aprofundamento da investigação

revelou que o sentimento dos pacientes era de que as famílias estivessem mais

preocupadas, de fato, com o efeito do vitiligo sobre elas próprias (contágio,

hereditariedade). Além disso, os pacientes comentaram o fato de muitos médicos

não darem o devido valor à doença ao considerá-la “apenas um problema estético”.

Os autores concluíram que a psicoterapia seria de grande auxílio para atenuar um

problema capaz de exercer profundo efeito na vida desses indivíduos.

Ao estudar a influência do vitiligo sobre as relações sexuais dos pacientes,

Porter et al.(19) (1990) avaliaram 158 pacientes por meio de questionários. Os

indivíduos mais afetados tinham baixa auto-estima e eram, predominantemente, do

sexo masculino. Embora a discriminação tenha sido reconhecida como a origem dos

problemas, muitos pacientes atribuíram o estresse dos encontros sexuais à própria

ansiedade. Os autores concluíram que os dermatologistas deveriam estar

especialmente atentos aos efeitos desfigurantes da doença e à questão da auto-

estima dos pacientes.

13

Estudando um grupo de 117 indivíduos com vitiligo, Salzer e Schallreuter(20)

(1995) observaram níveis elevados de noradrenalina no plasma dos pacientes,

quando comparados com grupo controle. Não foi observado nenhum padrão

específico de personalidade. Dois terços dos pacientes associaram a doença a

fatores físicos, psíquicos, ambientais ou hormonais e um terço deles não se

lembrava de um evento específico desencadeante. Os resultados desse estudo

sugeriram possível ligação entre estresse e susceptibilidade genética no

desencadeamento ou progressão do vitiligo.

O fator estresse, conforme Kent e Al’Abadie(21) (1996), pode exercer importante

papel no desencadeamento ou evolução da doença, porém a relação entre esse

fator e o vitiligo ainda não está completamente elucidada.

Em outro estudo de Kent e Abadie(22) (1996), 614 membros da Sociedade de

Vitiligo do Reino Unido responderam a um questionário combinado de métodos

qualitativos e quantitativos. Quando instados a indicar se a doença teria afetado

suas vidas durante as três semanas anteriores, 59% descreveram pelo menos um

incidente relevante, geralmente relacionado à baixa auto-estima e sentimento de

estigmatização. As dificuldades mais mencionadas foram: escolha das roupas,

necessidade de proteção solar, necessidade de evitar atividades que resultassem

em exposição das manchas, preconceito, fatores emocionais (sentimentos de raiva

ou frustração geralmente ligados à rejeição), desconforto de explicar a natureza da

doença a terceiros, temor dos filhos serem afetados pela doença. Os autores

salientaram que nos casos de doença crônica de difícil tratamento, como o vitiligo, é

importante reconhecer e saber lidar com as conseqüências psicossociais. Com base

em estudos anteriores, os autores observaram que, dada a relação entre estresse e

exacerbação do vitiligo, intervenções psicoterapêuticas, tais como técnicas de

14

relaxamento, podem ser de grande utilidade. Sugeriram, também, que assertividade

e autoconfiança são cruciais e que, quando preparadas para ajustarem-se à

realidade de sua desfiguração, as pessoas são mais hábeis para formar novos

relacionamentos e lidar com preconceitos.

O impacto do estresse sobre o desencadeamento do vitiligo foi estudado por

Papadopoulos et al.(23) (1998), em um grupo de 73 pacientes, na Inglaterra. O

objetivo era estabelecer se os indivíduos com vitiligo vivenciavam eventos

estressantes em proporção significavelmente maior no ano anterior ao surgimento

da doença, em comparação com grupo controle. Os resultados indicaram que a

perda de um parente ou amigo próximo eram fatores desencadeantes relevantes.

Outros eventos relatados foram: alterações do sono, alterações de hábitos de

alimentação e disfunções sexuais que poderiam ser associadas a estados

depressivos. Também foi relatada ocorrência de doenças na família e mudanças de

residência. O artigo discorre sobre estudos que sugerem que indivíduos com vitiligo

apresentam predisposição genética e que eventos estressantes poderiam

desencadear o quadro. Os resultados desse estudo dão suporte à teoria do papel

significativo do estado emocional no desencadeamento da doença em pessoas

predispostas.

Estudos diversos foram invocados por Papadopoulos(24) (1999) para

demonstrar o quanto as doenças da pele podem afetar o bem-estar psicossocial do

indivíduo e o quanto o dano psicossocial, por sua vez, influi sobre as doenças de

pele. A abordagem psicoterapêutica pode melhorar a imagem corporal, a auto-

estima e a qualidade de vida de indivíduos com vitiligo, bem como contribuir

positivamente para a evolução da doença. Há evidências de efeitos benéficos

quando os pacientes são auxiliados na convivência com a doença, utilizando

15

técnicas que permitem desenvolver habilidades sociais, confrontar dificuldades,

melhorar a assertividade, auto confiança e auto-estima. O autor sugeriu que a

terapia cognitiva pudesse ser útil, uma vez que foram observados resultados

satisfatórios em pacientes com vitiligo (o grupo de pacientes submetidos a essa

forma de terapia apresentou melhores índices de repigmentação das lesões). O

autor observou ainda que a maioria das doenças de pele são acompanhadas de

algum desconforto local, o que torna difícil estudar a relação entre as doenças e a

qualidade de vida e a auto-estima. Também seria difícil distinguir os efeitos relativos

às mudanças fisiológicas e os efeitos relacionados à questão estética. O vitiligo

seria, pois, uma doença que possibilita examinar mais especificamente os efeitos

das alterações inestéticas na vida dos indivíduos.

Estudos em psiconeuroimunologia demonstram interação permanente entre

corpo e mente. Azambuja(25) (2000), refere-se à chamada dermatologia integrativa

como a psiconeuroimunologia aplicada a: 1) dar atenção aos aspectos físicos,

mental e emocional do indivíduo; 2) utilizar recursos complementares para reduzir o

estresse e aumentar a eficiência dos tratamentos.

A pele seria parte de um grande sistema integrado, atuando como órgão de

imunovigilância avançado por intermédio dos queratinócitos, células de Langerhans,

células de Merkel, linfócitos residentes e células endoteliais do plexo capilar,

produzindo seus próprios mensageiros químicos e recebendo informações do sistema

nervoso central pelas terminações nervosas. Assim, por meio da pele seria possível

influenciar processos internos, psíquico e emocionais25.

As relações entre o sistema imunológico, o estresse e a pele foram estudadas por

Tausk26 (2001). Fatores psicossociais ou respostas anormais a agentes estressores

poderiam modificar a evolução de algumas dermatoses. Um possível mecanismo para

explicar o efeito do estresse na evolução dessas doenças seria a alteração na

permeabilidade da barreira cutânea em doenças como psoríase e dermatite atópica.

Estudos em animais demonstraram que alterações da função de barreira após o evento

16

estressante coincide com a secreção de cortisona, fenômeno capaz de reversão com a

administração de ansiolíticos, sedativos ou antagonistas de receptores de

glicocorticóides.

Em artigo de revisão, Parsad et al.27 (2003) afirmaram que o vitiligo é doença que

causa profundo impacto sobre a qualidade de vida dos indivíduos e que muitos deles

vivem em estado de estresse crônico, sentindo-se estigmatizados por sua condição.

Destacam ainda que a sociedade trata indivíduos com vitiligo do mesmo modo como

trata qualquer “diferente”. Consideram que, como doença que afeta intensamente a

vida cotidiana, dermatologistas deveriam recorrer a todos os meios terapêuticos

disponíveis, enfatizando a necessidade de um bom relacionamento médico-paciente

para melhor aderência ao tratamento.

Firooz et al.28 (2004) enviaram questionário a oitenta pacientes de vitiligo de uma

clínica de Teerã, com 25 questões relativas a fatores desencadeantes, conseqüências

e controle da doença. O estresse foi considerado fator desencadeante pelos pacientes

em 62,5%, enquanto fatores genéticos foram atribuídos como causa da doença por

31,3%. Metade dos pacientes acreditava que a doença tinha grandes conseqüências

em suas vidas e que seria, ainda, um problema permanente. Os tratamentos foram

considerados bem sucedidos por 60% dos pacientes.

Um estudo avaliando os efeitos do vitiligo e da psoríase sobre um grupo de

homens e mulheres com vitiligo foi realizado por Ongenae et al.29 (2005), na Bélgica.

Os autores concluíram que o vitiligo tem impacto semelhante ao da psoríase na vida

das mulheres. Além do gênero, outro fator associado ao maior impacto foi a gravidade

subjetiva da doença; os autores concluíram que o tratamento para reduzir a gravidade

subjetiva pode ser importante para melhoria da qualidade de vida.

Com aplicação de um questionário para dimensionar a qualidade de vida

(Dermatology Life Quality Index), Ongenae et al.30 (2005) tentaram analisar o benefício

da camuflagem em indivíduos com vitiligo, demonstrando que seu uso pode ser eficaz.

Demonstraram, ainda, que a extensão e localização das lesões (face e nuca) dificultam

a convivência com a doença.

Estudo realizado por Borimnejad et al.31 (2006) revelou que mulheres com vitiligo

têm maior dificuldade para conviver com a doença em relação aos homens. Os autores

demonstraram que a extensão e localização das lesões são elementos que

comprometem significativamente a qualidade de vida, em ambos os sexos.

17

3 MÉTODOS

3.1 Sujeitos da pesquisa

A amostra foi dividida em dois grupos, o primeiro denominado grupo controle,

sem vitiligo, em tratamento de outras dermatoses e o segundo, composto de

indivíduos com vitiligo, em tratamento no ambulatório de dermatologia da Escola

Paulista de Medicina (UNIFESP). Foram incluídos ind

18

O Inventário de Depressão de Beck (Beck Depression Inventory, BDI) fornece a

medida de níveis de sintomas de depressão e foi um dos primeiros recursos

dimensionais desse tipo. Originalmente criado por Beck e colaboradores em 1961, foi

sendo aperfeiçoado a ponto de revelar-se útil aos pacientes psiquiátricos e para a

população geral.Trata-se de escala de auto-relato, com 21 itens, cada um com quatro

alternativas, subentendendo graus crescentes de gravidade de depressão, com

escores de 0 a 3. O escore total, resultado da soma dos escores individuais dos itens

(escore máximo de 63), permite a classificação em níveis de intensidade de estado de

depressão, conforme tabela abaixo.

Tabela 1 - Classificação da intensidade de estado de depressão, com base nos escores do Inventário Beck de Depressão, conforme normas da versão em Português

Nível Escore

Mínimo 0 - 11

Leve 12 - 19

Moderado 20 - 35

Grave 36 - 63

Fonte:

Cunha, JA (3)

O Inventário de Ansiedade de Beck (Beck Anxiety Inventory, BAI) foi criado por

Beck, Epstein, Brown e Steer, em 1988. Com o objetivo de dimensionar os níveis de

estado de ansiedade, esse recurso foi construído com base em vários instrumentos de

auto-relato, dos quais foram selecionados 21 itens. Estes descrevem sintomas de

ansiedade que devem ser avaliados pelo sujeito, em escala de quatro pontos (0 a 3)

que refletem níveis de gravidade crescente. O escore total (máximo de 63) permite a

classificação em níveis de intensidade de estado de ansiedade, conforme a tabela

abaixo.

19

Tabela 2 - Classificação da intensidade de estado de ansiedade, com base nos escores do Inventário Beck de Ansiedade, conforme normas da versão em Português

Nível Escore

Mínimo 0 - 11

Leve 11 - 19

Moderado 20 - 30

Grave 31 - 63

Fonte:

Cunha, JÁ (3)

O Inventário de qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde (WHOQOL)

foi construído baseado em alguns aspectos fundamentais como subjetividade e

multidimensionalidade, bem como dimensões positivas e negativas no contexto da

vida. Divide-se em domínios, sendo: 1) Domínio físico: questões relacionadas à dor e

desconforto, energia e fadiga, sono e repouso; 2) Domínio psicológico: considerações

sobre pensamentos positivos e negativos, questões relacionadas ao aprendizado,

memória, concentração, auto-estima e imagem corporal; 3) Domínio social: avalia as

relações sociais, suporte (apoio) social e atividade sexual; 4) Domínio ambiental:

relacionado à segurança física e proteção, recursos financeiros, oportunidades de

adquirir novas informações e habilidades, recreação e lazer, ambiente físico (poluição,

ruídos, trânsito, clima, transporte). É constituído de um questionário com vinte e seis

questões.

20

4 RESULTADOS

4.1 Sobre a análise estatística dos dados

A análise estatística dos dados dividiu-se em duas partes. Na primeira, procedeu-

se à comparação entre os grupos de pacientes com relação às variáveis: Sexo, Idade,

Raça, Escolaridade, Profissão e Estado civil. Em seguida, os grupos foram comparados

(considerando-se o sexo dos pacientes) quanto aos escores de sintomas de Depressão

e Ansiedade e parâmetros de Qualidade de vida.

4.2 Da primeira comparação

Os grupos foram comparados com relação à Idade com o uso do teste t de

Student para amostras não-relacionadas. Não se verificou diferença entre os grupos.

Para as demais variáveis, empregou-se o teste exato de Fisher e nenhuma diferença

foi detectada.

4.2.1 Comparação entre os grupos quanto às variáveis de controle

Tabela 3 - Resultados da comparação entre os grupos com relação às variáveis de controle

Variável Nível descritivo

Sexo 0,999

Raça 0,612

Estado civil 0,999

Escolaridade 0,905

Profissão 0,959

Idade 0,912

21

Tabela 4 - Medidas descritivas da Idade de início do vitiligo e do tempo de evolução da doença

Média Desvio-padrão Mínimo Máximo

Idade de início do vitiligo 16,5 9,4 3,0 39,0

Tempo de evolução do vitiligo 12,5 9,2 1,0 33,0

Tabela 5 - Distribuição dos grupos com relação à variável Sexo

Grupo

Sexo Vitiligo Controle Total

Masculino 11 10 21

Feminino 19 20 39

Total 30 30 60

Tabela 6 - Distribuição dos grupos com relação à variável Estado civil

Grupo

Estado civil Vitiligo Controle Total

Solteiro 15 15 30

Casado 14 14 28

Divorciado 1 1 2

Total 30 30 60

Tabela 7 - Distribuição dos grupos com relação à variável Raça

Grupo

Raça Vitiligo Controle Total

Branca 27 29 56

Negra 1 0 1

Parda 2 1 3

Total 30 30 60

22

Tabela 8 - Distribuição dos grupos com relação à variável Escolaridade

Grupo

Escolaridade Vitiligo Controle Total

Primeiro grau 8 9 17

Segundo grau 8 10 18

Superior incompleto 10 8 18

Superior completo 4 3 7

Total 30 30 60

Tabela 9 - Distribuição dos grupos com relação à variável Profissão

Grupo

Profissão Vitiligo Controle Total

Do lar 4 5 9

Profissional liberal 2 2 4

Comércio 7 5 12

Estudante 6 5 11

Prestação de serviços 11 13 24

Total 30 30 60

Tabela 10 - Medidas descritivas da Idade em cada grupo de estudo

Grupo Média Desvio-padrão Mínimo Máximo

Controle 29,2 6,6 18,0 40,0

Vitiligo 29,0 7,2 18,0 40,0

Total 29,1 6,9 18,0 40,0

23

Tabela 11- Relação de dermatoses do grupo controle

Doenças Número de indivíduos

Acne 6 Alopécia 3 Dermatite de contato 6 Disidrose 3 Dermatite seborreica 2 Micose superficial 4 Nevo melanocítico 2 Tumor benigno de pele 3 Verrugas virais 1 Total 30

4.3 Da segunda comparação

Os grupos foram comparados, considerando-se o sexo dos pacientes com relação

aos escores médios de sintomas de Depressão e Ansiedade e parâmetros de

Qualidade de vida. Para tanto, foi utilizado o modelo de análise de variância com dois

fatores fixos. Pelos resultados obtidos (Tabela 9) podemos observar que:

a) os grupos Vitiligo e Controle diferem, independentemente do sexo, com

relação aos escores médios de Depressão, Ansiedade, Domínio Físico,

Domínio Psicológico e Domínio Social;

b) homens e mulheres diferem, em ambos os grupos, com relação aos escores

médios de Ansiedade, Domínio Físico e Domínio Psicológico.

24

4.3.1 Comparação entre os grupos quanto a sintomas de Depressão e Ansiedade e parâmetros de Qualidade de vida

Tabela 12 - Níveis descritivos das comparações de interesse

Vitiligo x

Controle

Homens x

Mulheres Interação

Depressão 0,010 0,068 0,572 Beck

Ansiedade 0,001 0,001 0,232

Domínio Físico 0,003 0,004 0,660

Domínio Psicológico 0,003 0,021 0,990

Domínio Social 0,016 0,148 0,740 WHOQOL

Domínio Ambiental 0,127 0,056 0,559

Tabela 13 - Medidas descritivas da variável Beck - Depressão, segundo Grupo e Sexo

Grupo Sexo Média Desvio-padrão Mínimo Máximo

Controle Masculino 4,80 5,98 0,00 17,00

Feminino 7,95 8,67 0,00 39,00

Total 6,90 7,91 0,00 39,00

Vitiligo Masculino 9,36 6,68 1,00 23,00

Feminino 15,32 11,66 0,00 36,00

Total 13,13 10,40 0,00 36,00

Tabela 14 - Escala Beck - Depressão - Distribuição dos indivíduos do grupo controle quanto aos níveis de estado de depressão Masculino Feminino Nível Percentual Nível Percentual Mínimo 80% Mínimo 75% Leve 20% Leve 20% Moderado 0% Moderado 0% Grave 0% Grave 5%

25

Tabela 15 - Escala Beck - Depressão - Distribuição dos indivíduos com vitiligo quanto aos níveis de estado de depressão

Masculino Feminino Nível Percentual Nível Percentual Mínimo 63,7% Mínimo 42,2% Leve 27,3% Leve 26,3% Moderado 9,0% Moderado 26,3% Grave 0% Grave 5,2%

Controle Vitiligo0

2

4

6

8

10

12

14

Figura 1 – Escores médios de sintomas de depressão segundo o grupo.

26

Controle Masculino

Vitiligo Masculino

ControleFeminino

Vitiligo Feminino

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Figura 2 – Escores médios de sintomas de depressão segundo o grupo e sexo.

Figura 3 - Distribuição dos escores Beck – Depressão, segundo grupo e sexo.

27

Tabela 16 - Medidas descritivas da variável Beck – Ansiedade, segundo Grupo e Sexo

Grupo Sexo Média Desvio-padrão Mínimo Máximo

Controle Masculino 2,40 2,63 0,00 7,00

Feminino 8,50 8,49 0,00 31,00

Total 6,47 7,61 0,00 31,00

Vitiligo Masculino 16,00 9,91 2,00 35,00

Feminino 27,68 9,62 5,00 41,00

Total 23,40 11,14 2,00 41,00

Tabela 17 - Escala Beck - Ansiedade - Distribuição dos indivíduos do grupo controle quanto aos níveis de estado de ansiedade Masculino Feminino Nível Percentual Nível Percentual Mínimo 100% Mínimo 70% Leve 0% Leve 20% Moderado 0% Moderado 5% Grave 0% Grave 5% Tabela 18 - Escala Beck - Ansiedade - Distribuição dos indivíduos com vitiligo quanto aos níveis de estado de ansiedade

Masculino Feminino Nível Percentual Nível Percentual Mínimo 27,2% Mínimo 5,2% Leve 36,4% Leve 21% Moderado 36,4% Moderado 47,4% Grave 0% Grave 26,4%

28

ControleVitiligo

0

5

10

15

20

25

Figura 4 – Escores médios de sintomas de Ansiedade segundo o grupo.

Controle Masculino

Vitiligo Masculino

Controle Feminino

Vitiligo Feminino

0

5

10

15

20

25

30

Figura 5 – Escores médios de sintomas de Ansiedade segundo o grupo e sexo.

29

Figura 6 - Distribuição dos escores Beck – Ansiedade, segundo grupo e sexo.

Tabela 19 - Medidas descritivas da variável Domínio Físico (WHOQOL), segundo Grupo e Sexo

Grupo Sexo Média Desvio-padrão Mínimo Máximo

Controle Masculino 87,14 7,38 75,00 96,43

Feminino 71,96 20,05 28,57 100,00

Total 77,02 18,25 28,57 100,00

Vitiligo Masculino 71,10 11,57 53,57 92,86

Feminino 59,77 16,57 35,71 89,29

Total 63,93 15,73 35,71 92,86

30

Controle Vitiligo0

10

20

30

40

50

60

70

80

Figura 7 – WHOQOL – Escores médios do Domínio Físico segundo o grupo.

Controle Masculino

Vitiligo Masculino

ControleFeminino

Vitiligo Feminino

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Figura 8 – WHOQOL – Escores médios do Domínio Físico, segundo o grupo e sexo

31

Figura 9 - Distribuição dos escores WHOQOL – Domínio Físico segundo grupo e sexo.

Tabela 20 - Medidas descritivas da variável Domínio Psicológico (WHOQOL), segundo Grupo e Sexo

Grupo Sexo Média Desvio-padrão Mínimo Máximo

Controle Masculino 79,58 11,86 62,50 91,67

Feminino 68,54 18,11 29,17 95,83

Total 72,22 16,93 29,17 95,83

Vitiligo Masculino 65,53 14,56 45,83 87,50

Feminino 54,61 19,24 12,50 75,00

Total 58,61 18,21 12,50 87,50

32

Controle Vitiligo0

10

20

30

40

50

60

70

80

Figura 10 – WHOQOL – Escores médios do Domínio Psicológico segundo o grupo.

ControleMasculino

Vitiligo Masculino

Controle Feminino

Vitiligo Feminino

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Figura 11 – WHOQOL – Escores médios do Domínio Psicológico segundo o grupo e sexo.

33

Figura 12 - Distribuição dos escores WHOQOL – Domínio Psicológico, segundo grupo e sexo.

Tabela 21 - Medidas descritivas da variável Domínio Social (WHOQOL), segundo Grupo e Sexo

Grupo Sexo Média Desvio-padrão Mínimo Máximo

Controle Masculino 79,17 15,34 41,67 100,00

Feminino 73,33 18,06 41,67 100,00

Total 75,28 17,16 41,67 100,00

Vitiligo Masculino 68,94 14,95 50,00 91,67

Feminino 59,65 23,45 16,67 100,00

Total 63,06 20,95 16,67 100,00

34

Controle Vitiligo56

58

60

62

64

66

68

70

72

74

76

Figura 13 – WHOQOL – Escores médios do Domínio Social segundo o grupo.

Controle Masculino

VitiligoMasculino

Controle Feminino

Vitiligo Feminino

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Figura 14 – WHOQOL – Escores médios do Domínio Social segundo o grupo e sexo

35

Figura 15 - Distribuição dos escores WHOQOL – Domínio Social, segundo grupo e sexo.

Tabela 22 - Medidas descritivas da variável Domínio Ambiental (WHOQOL), segundo Grupo e Sexo

Grupo Sexo Média Desvio-padrão Mínimo Máximo

Controle Masculino 60,63 11,71 46,88 78,13

Feminino 55,00 17,92 15,63 87,50

Total 56,88 16,13 15,63 87,50

Vitiligo Masculino 57,39 14,54 40,63 87,50

Feminino 46,88 14,51 28,13 71,88

Total 50,73 15,17 28,13 87,50

36

ControleVitiligo

47

48

49

50

51

52

53

54

55

56

57

Figura 16 – WHOQOL – Escores médios do Domínio Ambiental segundo o grupo.

Controle Masculino

Vitiligo Masculino

Controle Feminino

Vitiligo Feminino

0

10

20

30

40

50

60

70

Figura 17 – WHOQOL – Escores médios do Domínio Ambiental segundo o grupo e sexo.

37

Figura 18 - Distribuição dos escores WHOQOL – Domínio Ambiental, segundo grupo e sexo.

38

5 DISCUSSÃO

O vitiligo pode comprometer a qualidade de vida afetando a auto-estima e

promovendo estresse, sentimentos de estigmatização e discriminação. O presente

estudo, visando avaliar os níveis de sintomas de depressão e ansiedade e os

parâmetros de qualidade de vida, revela que o grupo de vitiligo apresenta maiores

suscetibilidade emocional e prejuízo da qualidade de vida que o grupo controle.

Os inventários revelam que os indivíduos com vitiligo apresentam mais

freqüentemente, em relação aos controles, sinais de desânimo quanto às perspectivas

futuras, sensação de fracasso e decepção, menos sentimentos de prazer nas

atividades cotidianas, diminuição da auto-estima, maior irritabilidade e sensível perda

de interesse pelo convívio com outras pessoas. É permitido supor também que

indivíduos com vitiligo possam ter menor poder de impor suas idéias no seu ambiente

social, menor capacidade na tomada de decisões e maiores dificuldades na resolução

de seus problemas cotidianos.

O Inventário de Ansiedade revelou considerável diferença entre os grupos com e

sem vitiligo, com níveis de sintomas de ansiedade maiores entre os indivíduos com

vitiligo. Entre eles foram freqüentes as queixas de palpitações, tremores, medo de

perder o controle, sudorese, sensação de calor e “medo de que aconteça o pior”.

É lícito presumir, portanto, que esses indivíduos devam apresentar constante

estado de ansiedade e tenham menor capacidade de relaxamento e concentração. É

possível que, em vista dessas características, apresentem também dificuldades de

organização em setores importantes de suas vidas, demandando maiores tempo e

esforço na realização de atividades cotidianas, profissionais e de subsistência.

O presente estudo sugere que a abordagem multidisciplinar, envolvendo

profissionais de psicologia, pode favorecer a redução dos níveis de sintomas de

ansiedade, resultando em melhoria do desempenho individual.

Vale questionar se os indivíduos com níveis mais elevados de sintomas de

ansiedade e depressão também não seriam mais suscetíveis às doenças

psicossomáticas e dependentes de imunorregulação, incluindo o próprio vitiligo, e se

39

tais sintomas não são (também) fatores desencadeantes de vitiligo em indivíduos

predispostos. Estudos ulteriores são necessários para melhorar o entendimento desses

e de outros aspectos da patogênese do vitiligo.

O inventário utilizado para avaliação de qualidade de vida (WHOQOL) caracteriza-

se por sua subjetividade e multidimensionalidade. Por meio desse inventário podem ser

avaliados parâmetros diversos de qualidade de vida, classificando-os em domínios

físico, psicológico, social e ambiental.

No presente estudo observou-se que o grupo de vitiligo apresentava menores

índices relacionados a esses parâmetros. No domínio físico o grupo de vitiligo

manifestou com mais freqüência queixas de fadiga e dificuldades de sono e repouso.

No domínio psicológico apresentava maiores dificuldades de aprendizado, memória e

concentração. Aparentemente, a suscetibilidade desse grupo foi maior quanto ao

comprometimento da imagem corporal, com predominância de pensamentos negativos

e baixa auto-estima. Os resultados sugerem que os indivíduos com vitiligo podem

apresentar consideráveis dificuldades de convívio com a doença.

No domínio social, os resultados sugerem desajuste nas relações interpessoais,

inclusive comprometimento negativo da atividade sexual e grau de insatisfação em

relação a vários aspectos de suas vidas.

No domínio ambiental as diferenças não foram estatisticamente significantes,

ainda que fossem observadas dificuldades relativas de desempenho individual. As

questões relativas ao domínio ambiental pareceram afetar igualmente indivíduos dos

dois grupos, independentemente das doenças associadas. Isso se explica,

possivelmente, pelo fato desse domínio relacionar-se à qualidade de vida ligada aos

recursos financeiros, segurança física, proteção e ambiente físico (poluição, trânsito,

clima, transporte). Não seriam esperadas, pois, diferenças significativas, uma vez que

os dados demográficos dos dois grupos foram homogêneos.

Chama atenção o fato das mulheres de ambos os grupos apresentarem maiores

escores médios de sintomas de ansiedade e depressão e menores escores médios em

todos os domínios da avaliação da qualidade de vida. Esses dados concordam com a

literatura e são, possivelmente, associados às pressões sociais, exigências relativas à

aparência física, entre outras variáveis que merecem ser averiguadas.

Do presente estudo pode-se inferir que os métodos de avaliação dos níveis de

ansiedade e depressão (Inventários de Beck) e qualidade de vida (WHOQOL) são

40

sumamente úteis, de fácil aplicação e podem ser empregados por profissionais

qualificados na rotina de atendimento dos indivíduos com vitiligo.

O impacto social produzido pelo vitiligo justifica a abordagem multidisciplinar

voltada para a redução dos níveis de estado de ansiedade e melhora da qualidade de

vida. Estudos prospectivos são desejáveis, no sentido de averiguar a possível

interferência dessa abordagem na adesão aos tratamentos convencionais, na evolução

e no prognóstico da doença.

41

6 CONCLUSÕES Utilizando os Inventários Beck de Depressão e Ansiedade e o questionário de

qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde, foram comparados dois grupos

homogêneos, sendo um grupo controle e um grupo de indivíduos com vitiligo. Pode-se

concluir que:

- Os grupos revelaram diferenças, independentes do gênero, com relação aos

escores médios de sintomas de Depressão (p=0,010) e Ansiedade (p=0,001),

Domínio Físico (p=0,003), Domínio Psicológico (p=0,003) e Domínio Social

(p=0,016). O grupo de indivíduos com vitiligo apresentou escores médios maiores

de sintomas de depressão e ansiedade e escores médios menores do Domínio

Físico, Domínio Psicológico e Domínio Social, indicando um maior

comprometimento da qualidade de vida nesse grupo;

- Homens e mulheres diferem, em ambos os grupos, com relação aos escores

médios de Ansiedade, Domínio Físico e Domínio Psicológico;

- As mulheres, em ambos os grupos, apresentaram escores médios maiores de

sintomas de ansiedade e depressão e escores médios menores dos Domínios

Físico, Domínio Psicológico, Domínio Social e Domínio ambiental, em relação aos

homens.

42

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46

8 ABSTRACT

Purpose: vitiligo is a common chronic disease with an unknown etiology which can

cause severe disfigurement and may significantly affect patient´s quality of life. The

main purpose of this study was to evaluate psychosocial impact in a group of volunteers

presenting vitiligo, emphasizing depression, anxiety and quality of life.

Methods: inventories were given to sixty volunteers (thirty presenting vitiligo and a

control group of thirty people with no disease), aged from 18 to 40, attending a public

skin clinic (Federal University of Sao Paulo, Escola Paulista de Medicina, Sao Paulo,

Brazil). They were given the BDI (Beck Depression Inventory), the BAI (Beck Anxiety

Inventory) and the WHOQOL (World Health Organization Quality of Life). Symptoms of

depression and anxiety and parameters of quality of life were compared between both

groups.

Results: the group of volunteers presenting vitiligo disclosed higher medium scores of

symptoms of depression and anxiety and lower medium scores in physical,

psychological and social domains (WHOQOL), when compared to the control group.

Conclusions: vitiligo may significanty affect various aspects of patient´s lives,

producing considerable social impact. Multidisciplinary approach should be provided to

improve quality of life. Further researches are necessary for a better understanding of

psychosocial aspects involved in this matter.

47

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