Abrantes - Do Método Biográfico Em Sociologia Da Educação

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No presente artigo, discutem-se as oportunidades e desafios da aplicação dométodo biográfico na pesquisa em sociologia da educação, partindo de umadiscussão teórico-metodológica e propondo algumas condições e pistas profícuaspara a consolidação desta linha de trabalho.

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    ARTIGOS

    DO MTODO BIOGRFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAO

    Pedro Abrantes1

    Alexandra Anbal2

    Flvia Paliotes3

    Resumo:

    No presente artigo, discutem-se as oportunidades e desafios da aplicao do

    mtodo biogrfico na pesquisa em sociologia da educao, partindo de uma

    discusso terico-metodolgica e propondo algumas condies e pistas profcuas

    para a consolidao desta linha de trabalho. Assente numa reviso bibliogrfica,

    esta reflexo sobre o mtodo desdobra-se em trs nveis de abstraco: (1) no

    contexto histrico e internacional das cincias sociais, como um todo; (2) no mbito

    da sociologia da educao, como se tem vindo a consolidar nas ltimas dcadas; (3)

    no quadro do sistema portugus de educao de adultos, cujo enfoque actual nas

    abordagens biogrficas nos confere, em simultneo, uma fonte inesgotvel de dados

    e um convite estimulante sua desconstruo analtica.

    Palavras-chave: metodologia, biografia, sociologia, educao

    Abstract:

    Opportunities and challenges in the application of the biographical method to

    research in sociology of education are discussed, including an initial theoretical and

    methodological debate in order to propose some accurate conditions and clues to 1 Doutorado em Sociologia. Investigador do Centro de Investigao e Estudos de Sociologia (CIES-ISCTE-IUL), Lisboa,

    Portugal; Investigador-Visitante do Centro de Investigacin y Estudios Superiores en Antropologa Social, Mxico. 2 Doutoranda em Sociologia no ISCTE-IUL. Tcnica Superior do Instituto do Emprego e Formao Profissional, Lisboa,

    Portugal. 3 Finalista da licenciatura em Sociologia no ISCTE-IUL. Investigadora estagiria no Centro de Investigao e Estudos de

    Sociologia (CIES-ISCTE-IUL), Lisboa, Portugal.

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    the consolidation of such research line. Based on a bibliographical review, this

    essay on the method is developed in three levels of abstraction: (1) in the

    historical and international context of social sciences, as a whole; (2) within

    sociology of education, as it is being established during the last decades; (3) in the

    frame of Portuguese system of adult education, where the currently focus on

    biographical approaches offer us, simultaneously, a huge data source, as well as an

    invitation to analytical de-construction.

    Key words: methodology, biography, sociology, education

    Todos sabemos que os processos e resultados educativos no se reduzem

    interaco em salas de aula, ao desempenho em provas de avaliao ou ao diploma

    atribudo no final do ciclo, pelo que uma sociologia da educao limitada a esses

    fenmenos , necessariamente, redutora. Tal como a intensidade emocional e

    simblica que envolve esses momentos se pode esfumar com o passar dos dias,

    muitas aprendizagens aparentemente irrelevantes, invisveis ou at falhadas, tanto

    formais como informais, adquirem sentido ao longo da vida, constituindo uma boa

    parte da matria de que so feitos os indivduos e as sociedades. Assim sendo, s

    podemos estranhar o lugar marginal que, como veremos adiante, tm ocupado as

    abordagens biogrficas na sociologia da educao, sobretudo num momento em que

    so reconhecidas pelos prprios sistemas educativos, nomeadamente, nos

    dispositivos de formao e certificao de adultos, o que no deixa de proporcionar

    uma fonte preciosa e quase inesgotvel de material emprico, convidando a esforos

    interpretativos acrescidos.

    No entanto, dada a extrema complexidade do ser humano e das relaes

    sociais, uma interpretao cientfica dos modos de socializao e formao de

    competncias, identidades, trajectrias de classe ou histrias de vida que

    ultrapasse o domnio impressionista ou ideolgico implica que, enquanto socilogos

    da educao, mobilizemos modelos analticos e instrumentos metodolgicos mais

    elaborados, no cedendo atraco de uma anlise imediatista de causas e efeitos,

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    que nos tem aproximado do sound-byte poltico-meditico e dos estudos

    organizacionais, mas afastado dos debates tericos mais pujantes em cincias

    sociais. O presente artigo, escrito a trs mos, procura contribuir para a superao

    do hiato observado, discutindo diferentes usos do mtodo biogrfico, as suas

    virtudes e riscos na anlise dos fenmenos educativos e, por fim, uma aplicao

    concreta ao estudo das histrias de vida dos participantes num programa de

    reconhecimento, validao e certificao de competncias de adultos (RVCC), com

    grande expresso no Portugal de hoje.

    Dado o carcter polissmico de alguns dos conceitos centrais deste ensaio

    metodolgico, o rigor cientfico aconselha a alguns esclarecimentos terminolgicos

    prvios. Na linha de autores como Becker (1974), Bertaux (1981), Denzin (1989),

    Pujadas (1992) ou Conde (1994), entendemos o mtodo biogrfico, nas cincias

    sociais, como produo controlada de uma narrativa sobre a vida de uma pessoa,

    atravs de um sistema teoricamente orientado de procedimentos explcitos

    (distinguindo-se assim das suas verses literrias e jornalsticas) de recolha,

    seleco e anlise de um conjunto (ou corpus) relevante de informaes, com o

    intuito de observar e compreender certos processos sociais (diferenciando-se do

    seu uso, por exemplo, na psicologia). Como tcnicas de investigao emprica,

    realizam-se interlocues biogrficas, mas tambm se recolhem outros registos

    produzidos pelo indivduo, por solicitao do estudo ou com outros propsitos em

    particular, aqueles que pretendem expressar ou representar fragmentos

    significativos da sua vida (ex. autobiografias, cartas, ensaios, gravaes, pginas na

    internet) , e ainda testemunhos de pessoas prximas, documentao oficial e

    objectos pessoais.

    Sabemos que qualquer auto-representao da vida no o seu mero reflexo

    mas uma interpretao subjectiva, contextual e interessada, pelo que deve ser

    cruzada com outros dados empricos e analisada luz das condies e relaes

    objectivas da sua produo, mas defendemos que essa mesma iluso biogrfica,

    devidamente desconstruda, contm um poder simultaneamente descritivo e

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    explicativo no negligencivel sobre as aprendizagens, disposies e percursos dos

    indivduos. Como produtos cientficos do mtodo biogrfico, podemos apontar trs

    principais, implicando opes metodolgicas importantes: (1) os biogramas, srie

    limitada de informao mas que, no caso de dizer respeito a amostras significativas

    da populao, permite o tratamento quantitativo; (2) os relatos de vida, cuja

    profundidade relativamente a certos aspectos, contextos ou etapas da vida

    alimenta anlises temticas de cariz qualitativo, sobretudo mediante o cruzamento

    das narrativas de um conjunto de indivduos; (3) as histrias de vida, cujo olhar

    abrangente e integrado sobre as vrias dimenses, fases e relaes que constituem

    o percurso vivencial de um indivduo implica condies metodolgicas especficas,

    nem sempre alcanveis, mas que, como veremos adiante, confere s cincias sociais

    um tipo singular de raciocnios e de conhecimentos.

    Trata-se, pois, de uma acepo lata, por um lado, ao reconhecer uma

    multiplicidade de tcnicas e de registos, e restrita, por outro, ao incluir requisitos

    propriamente cientficos de teorizao, sistematicidade e racionalidade.

    1. O mtodo biogrfico nas cincias sociais

    O recurso ao mtodo biogrfico, em cincias sociais, herdeiro, ainda que

    problemtico, da sua longa tradio no campo dos estudos histricos. Sabemos que,

    pelo menos, desde a Grcia Antiga, a biografia constitui no apenas matria prima

    mas tambm produto cobiado do trabalho dos historiadores, pois o interesse

    pblico que tem despertado atrai frequentemente interesses comerciais e polticos,

    mas, tambm por isso, lhe granjeia crticas no menos recorrentes das escolas

    eruditas e tericas, sempre dispostas a denunciar o populismo destes trabalhos, a

    sua promiscuidade com o gnero literrio e a iluso inscrita na reduo de

    processos socio-histricos aos desgnios de personalidades famosas (Revel, 2005).

    Esta tenso acentuou-se, a partir do sculo XIX, quando se consolidou a histria

    social como disciplina cientfica, com requisitos terico-metodolgicos prprios, mas

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    seria precipitado recusar o mtodo biogrfico como componente legtima do ofcio

    historiogrfico, quando constatamos que inmeros profissionais conceituados

    incluindo alguns que, como Fernand Braudel, Lucien Febvre ou Michel Foucault, no

    podem ser acusados de recusar o peso das estruturas sociais continuaram a

    produzir biografias dos representantes mais conhecidos das diferentes pocas e,

    em alguns casos, tambm de desconhecidos.

    A partir do sculo XIX, o mtodo biogrfico alarga-se Antropologia, atravs

    de estudos sobre histrias de vida de indgenas, sendo que, semelhana da

    disciplina vizinha, a qualidade literria destas primeiras obras superava

    frequentemente o seu rigor metodolgico, suscitando interesse na opinio pblica

    mas tambm reservas entre os acadmicos (Pujadas, 1992). Em todo o caso, ao

    explorar a fora de vontade, os dilemas, as crises, as mudanas, as transgresses

    que assolavam a vida destes indivduos, mesmo que de forma algo mitificada, no

    deixaram de matizar o modo normativo e reificado como as etnografias clssicas,

    dominantes no campo antropolgico, descreviam as culturas primitivas, enquanto

    conjunto rgido de regras e valores que pareciam anular a individualidade, o que se

    manteve como tnica das pesquisas biogrficas at hoje.

    A adopo do mtodo biogrfico pela sociologia realizou-se, durante o primeiro

    quartel do sculo XX, sob o auspcio da prolfica Escola de Chicago, na qual

    figuraram Park, Mead e Burguess, entre outros, muito influenciados por pensadores

    como Simmel e Dewey. Neste quadro, a famosa obra de Thomas e Znaniecki (1984)

    sobre a imigrao dos camponeses polacos, publicada originalmente em 1918, a

    partir da correspondncia pessoal de um conjunto alargado de indivduos e da

    autobiografia de um jovem (Wladek), como modo de determinao das leis da

    mudana social, tem sido apontada como percursora, inaugurando uma linha de

    estudos biogrficos na Polnia que se manteve ao longo do sculo XX e cujas

    tradues so, infelizmente, escassas. O positivismo dos autores evidente, em

    vrias passagens, em que, talvez pela necessidade de legitimarem cientificamente o

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    mtodo, afirmam o princpio de que os valores, comportamentos e atitudes de um

    indivduo so reflexo directo das condies e culturas de um grupo, classe ou povo.

    Dentro deste marco e com ramificaes na psicologia cultural, vrias outras

    pesquisas, no segundo quartel do sculo, utilizaram as histrias de vida

    reconstitudas, sobretudo, a partir do recurso sistemtico a cartas, s entrevistas

    em profundidade e observao participante como elemento central para o

    estudo de fenmenos como a mudana social, a imigrao, o desvio e a

    marginalidade, enfoque temtico que tem persistido at aos dias actuais (Pujadas,

    1992), em curiosa homologia com a prpria posio relativamente marginal do

    mtodo nas cincias sociais. Tratando-se de objectos de estudo em que a anlise

    quantitativa apresenta lacunas evidentes e que tendem a ser menosprezados pelos

    autores mais institucionais, no deixa de ser intrigante, tanto pelo seu carcter

    holista como pelo entusiasmo dos seus promotores, o acantonamento do mtodo

    em temas bastante especficos e a sua quase total omisso, at bem recentemente,

    em reas como a sociologia da educao (ver tpico seguinte).

    Entre os anos 40 e 60, o mtodo biogrfico entra, contudo, num relativo

    esquecimento entre os socilogos, remetido para o mbito da psicologia, o que

    Becker atribui (1974) sua desadequao ao aparelho terico-metodolgico

    funcionalista e que se tornou hegemnico, durante este perodo, afirmando a

    supremacia dos estudos quantitativos. O autor recupera, assim, o legado da Escola

    de Chicago, frisando o interesse do mtodo biogrfico para desafiar e aprofundar a

    teoria sociolgica, em particular, permitindo identificar novas variveis e hipteses

    que reactivam reas de investigao estancadas, bem como observar processos

    em curso e formas de reconstruo do self. Nota ainda que, sendo um importante

    antdoto para os prprios preconceitos dos socilogos, o mtodo biogrfico no

    deixa de lhes abrir caminho para uma comunicao mais profcua com outros

    sectores da sociedade.

    O mtodo biogrfico conhece, nos anos 70 e 80, uma certa revitalizao na

    Sociologia, por autores que recusam tanto o teoricismo como o positivismo,

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    dominantes nas dcadas anteriores, propondo refundar a disciplina a partir de um

    enfoque no actor e nas relaes sociais. Bertaux (1981) assume, ento, a

    importncia do contedo humanista e historiogrfico dos socilogos, na busca de um

    conhecimento sobre os processos sociais concretos e que contribua para a

    superao dos sistemas de dominao. No seu estudo sobre os padeiros numa

    provncia francesa, o autor introduz tambm inovaes metodolgicas, ao definir

    uma estratgia de representatividade por saturao que consiste numa sucesso de

    entrevistas a membros de uma categoria, at que, pela sobreposio de discursos,

    os traos estruturais e culturais do grupo possam emergir a partir dos

    particularismos individuais. Ferrarotti (1990), outro autor influente desta corrente,

    reala que a histria de uma sociedade o resultado das vidas dos seus membros,

    mas tambm que estas so uma sntese de processos estruturais e histricos, pelo

    que defende a importncia de estudar as relaes dialcticas entre biografia e

    sociedade, em particular, a partir da identificao e anlise dos seus elementos

    mediadores, entre os quais, destaca os grupos primrios.

    Porm, o af com que, neste perodo, se defendeu o mtodo biogrfico como

    instrumento de ruptura com as perspectivas hegemnicas nas cincias sociais

    acabou por limitar o seu alcance, ao conferir-lhe uma certa aura de radicalismo que

    alimentou a negao do rigor e da validade de uma anlise propriamente cientfica

    dos fenmenos sociais, deixando-se assim enredar por vias ideolgicas, filosficas,

    jornalsticas ou artsticas. Importa, pois, notar que uma descrio (ou transcrio)

    exaustiva de relatos de um indivduo, sustentada por desgnios crticos, humanistas

    ou activistas anulando a funo de comando da teoria ou os processos que

    escapam conscincia (ou ao discurso) dos actores mas que se impem e

    condicionam a sua trajectria , pode ter um valor heurstico bastante reduzido

    (ou mesmo contraproducente) para a compreenso objectiva dos fenmenos,

    reduzindo notavelmente o campo de anlise das cincias sociais. A este propsito,

    leiam-se, por exemplo, as duras crticas de Bourdieu (1986) iluso biogrfica,

    mtodo que permitiria a converso de cada sujeito em idelogo da sua prpria

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    existncia, seleccionando acontecimentos significativos (reordenando sequncias,

    apagando passagens incmodas, procurando coerncia) em funo de uma inteno

    de auto-justificao, mais ou menos consciente, enquanto se ilude ou distorce a

    influncia dos sistemas de relaes de poder (ou campos sociais) na produo tanto

    da narrativa como da prpria trajectria.

    Estas importantes ressalvas no parecem considerar, contudo, que, entre

    historiadores, socilogos e antroplogos, o mtodo biogrfico, no deixando de

    expor algumas insuficincias das perspectivas dominantes nas cincias sociais, tem

    conhecido importantes aprofundamentos tericos e metodolgicos.

    Recusando a suposta neutralidade do investigador, tem-se apelado definio

    e explicitao detalhada dos protocolos de pesquisa, tanto na interaco com o

    prprio sujeito como na apresentao dos resultados, enquanto a entrevista

    biogrfica se tem institudo como uma tcnica de pesquisa com caractersticas

    particulares (Demziere e Dubar, 1999) e que deve ser triangulada com outros

    materiais (Blanchet e outros, 1985). Tm-se vindo a clarificar critrios na

    construo do corpus de dados a recolher, como a relevncia, a sincronidade e a

    homogeneidade (Bauer e Aarts, 2000). Tambm os objectos pessoais do quotidiano,

    bem como os espaos e os tempos que pautam as vidas, dotados de uma

    materialidade prpria, tm sido convocados, sobretudo pela Antropologia, na busca

    por desenredar a teia de experincias quotidianos, sentidos ntimos e auto-

    definies mltiplas que marcam as biografias, assumindo que o self no uma

    essncia unificada, mas uma construo pautado pela contradio e desunio, um n

    onde se cruzam vrios discursos e interpretaes (Hoskins, 1998).

    Entretanto, a revitalizao da histria oral tem resgatado processos no

    considerados pelas anlises estruturais (Thompson, 1981), enquanto os estudos

    sobre os processos sociais de produo da memria colectiva analisam os modos

    como as sociedades recordam (Connerton, 1993). No campo dos estudos

    histricos, a biografia reconstituda no contexto permite explorar as condies

    sociais que tornaram possvel (e pensvel) uma determinada histria de vida e,

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    desta forma, elaborar uma perspectiva mais rigorosa dessas condies, em figuras

    emblemticas de movimentos sociais ou em momentos particularmente intensos de

    transformao social (Revel, 2005).

    Num movimento anlogo, tem-se vindo a afirmar uma inteligibilidade

    sociolgica centrada no indivduo, na qual se procura restituir o sujeito, no quadro

    da sua especfica experincia social de subjectividade, atravs do tringulo

    memria-identidade-narrao, no cruzamento da noo necessariamente redutora

    de trajectria com o conceito forosamente vago e dificilmente operacionalizvel

    de vida (Conde, 1994 e 1996). Nesta linha, Denzen (1989) estabelece a diferena

    entre vidas vividas, experimentadas e contadas,4 mostrando como estas

    ltimas so influenciadas por aspectos estruturais, culturais e conjunturais, pelo

    que cabe ao socilogo evitar a busca pela veracidade dos testemunhos todas as

    histrias de vida so fices e, por isso, todas so, num certo sentido, verdadeiras

    e, ao invs, descobrir que foras sociais, econmicas, culturais e interaccionais

    moldam a percepo que o indivduo transmite ao investigador sobre a sua prpria

    vida.

    Devemos, pois, reconhecer as diferenas entre os modos de anlise

    paradigmtico e narrativo, mas aceitar tambm que no so mutuamente

    exclusivos (Bolvar, 2002) e que, alis, as cincias sociais, ao longo da sua histria,

    tm sido marcadas por inmeros esforos, mais ou menos conscientes, de concili-

    los.5

    2. Socializao, educao e biografia

    4 A vida vivida refere-se ao conjunto de acontecimentos na vida de uma pessoa; a vida experimentada s imagens, s

    sensaes, aos sentimentos, aos desejos bem como aos significados que o indivduo atribui a um determinado acontecimento; e

    a vida contada, uma narrativa, influenciada por noes culturais e pelas condies em que apresentada e pelo(s)

    destinatrio(s). 5 A este propsito, significativo que, aps transcrever entrevistas a actores em diversas posies sociais, em A Misria do

    Mundo, a derradeira obra de um dos principais crticos do mtodo (Bourdieu, 2005) seja uma anlise da sua prpria vida

    escolar, profissional e intelectual, iniciada com a afirmao orgulhosa isto no uma auto-biografia para nos mostrar, em

    seguida, como o mtodo biogrfico , afinal, compatvel com (ou enriquece mesmo) o seu quadro terico.

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    O papel secundrio que tm representado as histrias de vida nas cincias

    sociais refora-se nos estudos sociolgicos de alguns temas que, como a educao,

    raramente tm merecido abordagens propriamente biogrficas. No entanto,

    possvel advogar que a compreenso do modo como os indivduos aprendem, se

    tornam actores e participam na (ou produzem a) vida social objecto por

    excelncia da sociologia da educao reificada em muitas das teorias da

    Antropologia, da Sociologia ou da Histria, estando, de alguma forma, orf de uma

    anlise aprofundada das relaes entre educao e biografia.

    verdade que o carcter supostamente holista deste mtodo pode afastar os

    estudos temticos, visto que, excepto no caso dos professores, pode dizer-se que a

    educao constitui apenas uma dimenso da vida dos indivduos,6 com a agravante de

    que uma parte importante ocorre numa idade precoce e, portanto, tende a escapar

    conscincia dos prprios sujeitos. No ser, pois, de estranhar que a excepo

    resulte de uma linha slida de estudos endogmicos, nas cincias da educao, sobre

    as histrias de vida dos professores, na qual se tem mostrado como as suas

    identidades, saberes e prticas profissionais esto fortemente ancorados a

    experincias de vida marcantes e, em muitos casos, remotas, na instituio escolar

    e noutros contextos de vida, irredutveis aos momentos de especializao no ensino

    superior (Knowles, 1992; Nvoa, 1992; Bueno, 2002). Esta perspectiva tem-se

    alargado aos usos do mtodo como instrumento central, em simultneo, de

    dispositivos de formao de adultos e de investigao sobre esses mesmos

    dispositivos (Pineaud e Michele, 1983; Couceiro, 1993; Josso, 1999; Cavaco, 2007).

    Apesar da sua inegvel importncia, a primeira corrente tende a constituir-se,

    sobretudo, como modelo de anlise da formao de um corpo profissional (os

    professores) e de uma instituio (a escola), enquanto a segunda se encontra

    impregnada na prpria prtica da formao (ver ponto seguinte), o que, em qualquer

    6 Em analogia, veja-se, por exemplo, como a aplicao do mtodo ao estudo da criminalidade se tende a reduzir

    reconstituio de histrias de vida dos delinquentes.

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    dos casos, apresenta limitaes, alis reconhecidas pelos autores, para o

    desenvolvimento de uma teoria mais lata sobre a educao e a socializao, nas

    sociedades contemporneas.

    Porm, desde que a falcia empirista dos estudos biogrficos foi denunciada

    nas cincias sociais, este mtodo tem-se comprovado til para a discusso de

    problemas tericos diversos e, de facto, tm surgido recentemente alguns

    contributos importantes para uma perspectiva biogrfica sobre os processos

    educativos, entre os quais, nos centraremos aqui em trs: o macro-projecto sobre

    as vidas aprendentes, de uma equipa britnica na qual se incluem Phil Hodkinson,

    Ivor Goodson, entre outros; a sociologia escala individual, atravs da qual

    Bernard Lahire tem coordenado estudos sobre a formao das disposies dos

    actores; uma linha de pesquisas sobre identidades e trajectrias juvenis, em

    particular, na transio para a vida adulta.

    No primeiro caso, os autores, com uma ampla experincia no campo educativo,

    lanam-se na anlise de um conjunto alargado de histrias de vida, reconstitudas

    atravs de entrevistas biogrficas, como modo de explorar a dimenso educativa

    inscrita na vida social, entrando assim em dilogo com as famosas teorias de

    Giddens e de Bourdieu sobre as relaes entre estrutura e aco (Hodkinson et al.,

    2008). Atravs da anlise biogrfica, torna-se tambm evidente que, estando os

    horizontes de aprendizagem duplamente limitados pelas condies sociais

    (passadas e presentes), bem como pela prpria identidade pessoal, os processos

    educativos, implicando uma dose varivel de intencionalidade, no so, em qualquer

    caso, mera adaptao aos papis atribudos pela sociedade, afirmando-se como

    centrais na agncia dos indivduos e na construo do seu projecto identitrio, em

    particular, em momentos de viragem, pretendidos ou no, na sua existncia social

    (turning points). Adquirem especial expresso os repetidos casos em que o xito

    ou o fracasso dos processos educativos, formais ou informais, em diferentes fases

    da vida, adquirem um peso determinante na (re)configurao das vidas e

    identidades, superando, frequentemente, as prprias expectativas dos actores.

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    Esta linha de pesquisas, ainda em curso, mostra tambm que se a educao

    informal tende a sobrepor-se, pela sua transversalidade, educao formal, o que

    inverte uma certa dominao da segunda no campo acadmico, na verdade, ambas

    surgem intimamente entrelaadas, ao longo da vida da grande maioria dos indivduos

    nas sociedades modernas, sendo, de certo modo, artificial e equvoca a sua

    distino em tradies de investigao diferenciadas. Contudo, o recurso exclusivo

    s narrativas dos prprios sujeitos, gerador de uma certa teorizao das prprias

    vidas, subestima os aspectos fsicos, emocionais ou contextuais (frequentemente

    inconscientes, embaraosos e/ou tomados por garantidos), em detrimento de uma

    descrio cognitiva e unificada do self. Entre outras limitaes, este aspecto

    metodolgico conduz a que se negligenciem os processos de socializao, cuja

    amplitude no se reduz ao que se pode definir como educao informal.

    Embora evite usar o conceito de biografia, os retratos sociolgicos de Lahire

    (2002) baseiam-se num aparato metodolgico mais inovador, implicando seis

    entrevistas ao mesmo indivduo sobre diferentes dimenses da sua vida (escola,

    trabalho, famlia, sociabilidades, lazer e corpo), de modo a estudar a variao intra-

    individual dos comportamentos, atitudes e gostos, segundo os contextos sociais.

    Confirmando os seus enunciados anteriores sobre o homem plural (Lahire, 2002),

    esta anlise aprofundada de oito casos permite ao autor concluir que cada

    indivduo produto de uma paleta assaz subtil de disposies variveis (p. 404),

    sem um elo de necessidade lgica ou de perfeita harmonia entre si, ou seja, que

    cada ser humano uma heterogeneidade irredutvel. Sendo, em geral,

    diferenciveis tanto das competncias (mais prticas e delimitadas) como das

    crenas (mais conscientes e intencionais), as disposies distinguem-se,

    internamente, consoante so fortes ou fracas, apaixonadas, rotineiras ou

    contrariadas, mostrando que a sua activao depende de uma interaco entre

    foras internas e externas (ou contextuais), enquanto a inibio prolongada pode

    conduzir sua dissoluo. Tudo depende, portanto, da maneira como se

    desenvolveram essas disposies e hbitos, do momento da biografia individual em

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    que foram adquiridos e, ainda, do contexto actual da sua (eventual) actualizao.

    Por sua vez, a constituio das disposies ocorre na relao com as instituies

    legtimas, atravs de trs modalidades de socializao no necessariamente

    coerentes: o treino ou prtica directa; a organizao das situaes; a inculcao

    ideolgica. curioso que, apesar da multiplicidade de narrativas sobre o self, o

    autor tambm confie exclusivamente no discurso do prprio, no realizando a

    triangulao com testemunhos de outros (familiares, amigos de longa data, ex-

    professores), o que poderia evitar as limitaes das memrias pessoais, em

    particular, quanto ao seu objectivo de identificar a gnese socializadora das

    disposies, caso esta se situe, por exemplo, na infncia.7

    De notar que um primeiro esboo desta proposta j havia sido experimentado

    no estudo dos jovens de meios populares com trajectrias de sucesso escolar

    (Lahire, 1995). Contudo, se a constatao de que as prticas de socializao

    familiar, em particular, na relao com a leitura, constituem um elemento

    determinante para o xito escolar, em contextos desfavorecidos, coloca em causa

    as teorias clssicas da reproduo, no deixa de reafirmar o primado do habitus

    familiar sobre o trabalho pedaggico escolar, no sendo evidentes os efeitos da

    socializao nos contextos propriamente educativos, algo que seria de esperar de

    uma abordagem plural das disposies.

    Recentemente, uma verso simplificada deste aparelho metodolgico foi

    aplicada ao estudo das trajectrias de um conjunto alargado de jovens do ensino

    superior, em Portugal (Costa e Lopes, 2008), mostrando a enorme diversidade e

    complexidade dos percursos, no inteiramente redutveis s condies sociais, 7 Segundo o autor, apreender as matrizes e os modos de socializao que formaram tal ou tal tipo de disposies sociais

    deveria ser parte integrante de uma sociologia da educao, concebida como uma sociologia dos modos de socializao

    (escolares e extra-escolares) e articulada a uma sociologia do conhecimento. Preocupados durante muito tempo

    principalmente com a questo da reproduo social pela famlia, a escola e as diferentes instituies culturais e sociais, os

    socilogos satisfizeram-se em fazer a constatao de uma desigualdade face s instituies legtimas (escola e outras

    instituies culturais) e/ou de uma herana cultural e social intergeracional (famlia). Resumindo, poderamos dizer que

    fora de insistir no isso reproduz-se, acabou-se por negligenciar o que que se reproduz e como, segundo que

    modalidades, isso se reproduz

  • 18

    socializao familiar ou s experincias e projectos no mercado de trabalho. Neste

    caso, j se procurou identificar variveis organizacionais, sobretudo nas

    instituies do ensino superior, que moldam os percursos de vida, no deixando de

    ser influenciadas por estes. Em todo o caso, tal como nos estudos de Lahire, sente-

    se que a riqueza emprica proporcionada por este aparato (que os prprios autores

    caracterizam como experimental) excede, at ao momento, o conhecimento

    terico a que d origem, ressentindo-se de um certo primado (prudente) da anlise

    de caso sobre a extrapolao ou generalizao, o que, evitando um certo

    fetichismo do mtodo, no deixa de abrir um campo frtil produo futura em

    cincias sociais.

    Vale a pena equacionar alguns dos resultados produzidos por uma linha recente

    de estudos sobre identidades e trajectos juvenis (Pais, 2001; Guerreiro e

    Abrantes, 2004; Jeffrey e Dyson, 2008; Sarav, 2009). verdade que a anlise dos

    impactos dos processos formativos pode beneficiar de uma viso de mais longo

    prazo, mas a proximidade temporal relativa a uma etapa de vida decisiva para a

    formao dos indivduos e ocupada, cada vez mais, em instituies educativas,

    permite, por seu lado, uma riqueza narrativa que pode ser preciosa para uma

    sociologia (ou antropologia) da educao, caso se aborde a dimenso propriamente

    formativa das experincias, identidades e trajectrias.

    Embora privilegiando as questes da insero laboral, das culturas juvenis ou

    dos movimentos sociais, esta linha de pesquisas mostra claramente que se, por um

    lado, a educao, o trabalho ou a famlia permanecem instituies fundamentais da

    socializao juvenil e da construo de itinerrios de vida (em oposio s ideias

    mais apocalpticas da sociedade contempornea), as relaes e transies entre

    elas deixaram, em sociedades modernas e plurais, de ser lineares para se tornarem,

    em muitos casos, problemticas. Implicando novos desafios e riscos, esta situao

    est associada a uma maior liberdade dos jovens para gerir as tenses na esfera de

    um projecto identitrio singular que no se encontra plenamente definido no seu

    ADN social (sexo, origem de classe, diploma escolar, etc.). Mas estas

  • 19

    investigaes indicam tambm que, para muitos jovens, a socializao entre pares

    se converteu no principal sentido da escola, sendo a utilidade das aprendizagens

    formais, tanto para sua vida quotidiana como para o seu futuro pessoal e

    profissional, muito questionada e frequentemente reduzida obteno pragmtica

    do respectivo certificado. Reconhecendo que, obviamente, as aprendizagens no so

    redutveis ao seu sentido consciente e intencional, em todo o caso, esta relao

    distanciada com o lado formal da escola no deixa de limitar o seu potencial

    formativo e transformador.

    Neste sentido, salientamos o recente e interessante trabalho de Almeida et

    al. (2010), enquadrado numa comparao internacional, no qual se estuda o percurso

    de vrias famlias residentes numa cidade brasileira, ao longo de trs geraes,

    enfatizando as experincias escolares, bem como os trajectos profissionais

    subsequentes, como forma de compreender os processos de constituio e

    transgresso de fronteiras sociais. O estudo mostra que as realidades educativas

    disponveis para as diferentes classes sociais so profundamente distintas,

    demarcando campos de possibilidades muito assimtricos, ainda que se identifiquem

    tambm vias escolares que permitem a uma minoria, por uma combinao de

    factores, atravessar as referidas barreiras sociais, consagradas pelas relaes de

    produo.

    3. Pontes entre educao de adultos e investigao sociolgica

    Desde os anos 80, um novo paradigma veio revolucionar a educao de adultos,

    muito influenciado por estudos que, em detrimento dos modelos clssicos

    basicamente, adaptaes ad-hoc da formao inicial , propem dispositivos de

    formao e certificao que partem do adulto e da sua experincia de vida (Pineau,

    1983; Couceiro, 1993; Josso, 1999; Cavaco, 2007). A Unio Europeia tem vindo a

    consolidar e a difundir esta perspectiva em referenciais orientadores das polticas

    de educao e formao de adultos nos estados-membro, como o Memorando sobre

  • 20

    a Aprendizagem ao Longo da Vida (Comisso Europeia, 2000), no qual se clarificam,

    legitimam e promovem, lado a lado, os conceitos de educao formal, informal e no

    formal. Em Portugal, estas ideias tm conhecido uma rpida difuso, desde o final

    dos anos 90,8 constituindo a base conceptual e metodolgica do recm-criado

    Sistema Nacional de Qualificaes, bem como da Iniciativa Novas Oportunidades

    (programa concebido para formar e certificar um milho de adultos, cerca de 10%

    da populao portuguesa), consagrada no postulado de que tudo o que se aprende ao

    longo da vida no s de modo formal, mas tambm de modo no-formal ou

    informal pode contribuir para um reconhecimento social, profissional e

    acadmico.

    Esta aposta estratgica passa pela disponibilizao de ofertas de qualificao

    flexveis, em particular estruturadas a partir das competncias adquiridas,

    considerando-se essencial valorizar e reconhecer as competncias j adquiridas

    pelos adultos por via da educao, da formao, da experincia profissional ou

    outras como via de estruturar percursos de qualificao adequados realidade

    de cada cidado e orientados para o seu desenvolvimento pessoal e para as

    necessidades do mercado de trabalho, num contexto econmico particularmente

    exigente e em acelerada mudana (Decreto-Lei n 396/2007 de 31-12-2007).

    Assim, a poltica nacional de educao e formao de adultos, baseia-se no

    imperativo (de justia social) de ver reconhecidas oficialmente competncias

    adquiridas e desenvolvidas em contextos no-escolares, dando sequncia a

    directivas europeias no sentido de promover saberes e capacidades resultantes de

    experincias de vida.

    8 Este impulso foi dado com a criao da Agncia Nacional de Educao e Formao de Adultos (ANEFA), posteriormente, Direco Geral de Formao Vocacional (DGFV), estrutura integrana no Ministrio da Educao; hoje, Agncia Nacional para a Qualificao (ANQ), voltando ao um modelo autnomo, sob a tutela conjunta da Educao e do Trabalho.

  • 21

    Este nova andragogia, aplicada a percursos formativos flexveis9 e aos

    processos de reconhecimento, validao e certificao de competncias10, assume

    uma abordagem (auto)biogrfica de investigao-formao-aco, na qual a

    produo, por parte do adulto, de uma narrativa sobre a prpria vida, orientada

    pelos tcnicos (profissionais RVC e formadores), constitui, simultaneamente, um

    elemento fundamental para o conhecimento (conscincia de si), a (auto-)formao

    e a transformao do sujeito, bem como um instrumento vlido e til para a sua

    avaliao e certificao. Por outras palavras, o trabalho de reflexo e elaborao

    da histria de vida constitui uma actividade formativa per si, fundamental para

    que o adulto tome conscincia das competncias que adquiriu ao longo da vida e, a

    partir da, defina e contextualize aquelas que vai desenvolvendo em contexto

    formativo e/ou demonstrando em contexto de reconhecimento de competncias,

    sendo, simultaneamente, um instrumento para que os tcnicos concebam actividades

    ajustadas ao adulto e o avaliem com base naquilo em que ele competente.

    Ser legtimo discutir os motivos pelos quais o princpio de uma

    educao/formao centrada no indivduo e desenvolvida com base nas suas

    experincias e trajectrias no se aplica tambm a crianas e adolescentes, mas, 9 Estes percursos formativos de dupla certificao, escolar e profissional, designam-se Cursos de Educao e Formao de

    Adultos (Cursos EFA) e tm como ponto de partida um balano de competncias, baseado na histria de vida de cada

    formando (vertida num Porteflio Reflexivo de Aprendizagens) e na sequente validao inicial das competncias j adquiridas

    atravs das suas experincias de vida. Partindo-se do princpio de que no se deve voltar a aprender o que j se aprendeu, a

    formao necessria validao das restantes competncias (exigidas pelo referencial de competncias-chave do nvel e

    vertente de qualificao em causa) deve ser ministrada medida, tendo cada adulto de efectuar o seu prprio percurso

    formativo, mais ou menos longo, conforme o nmero de unidades de competncia em falta. 10 O Processo de Reconhecimento, Validao e Certificao de Competncias (Processo RVCC), nas vertentes escolar e/ou

    profissional, no um processo formativo, centrando-se nos saberes j adquiridos e desenvolvidos pelos adultos ao longo da

    vida, em diversos contextos. Este processo tem por base estruturante a construo de um Porteflio Reflexivo de

    Aprendizagens, ancorado no relato auto-biogrfico (produzido pelo candidato tendo como grelha orientadora o referencial de

    competncias-chave). Pode desembocar directamente numa certificao total das competncias demonstradas pelo candidato,

    com emisso do Diploma de Qualificao, ou numa certificao parcial. Neste segundo caso emitido um Certificado de

    Qualificaes (em que constam as unidades de competncia validadas) e prescrito ao candidato um Plano Pessoal de

    Qualificao (identificao das unidades modulares de formao que o candidato dever frequentar de forma a adquirir as

    competncias correspondentes s unidades em falta).

  • 22

    para o tema do presente artigo, o que importa ressalvar que, ao abrigo desta nova

    metodologia, muitos milhares de adultos, como parte do seu processo formativo

    e/ou de reconhecimento de competncias, tm sido sujeitos a extensas entrevistas

    biogrficas e elaborado, sob orientao, detalhadas histrias de vida.

    claro que esta actividade no escapa s limitaes, iluses e auto-

    justificaes que caracterizam a tradio erudita das autobiografias, alm de que

    os constrangimentos dos autores, ao nvel da literacia escrita, reduzem, por vezes,

    de forma considervel a riqueza das suas memrias orais. Alm disso, a bem do

    rigor cientfico, necessrio advertir que se a abordagem (auto)biogrfica

    assumida nestes programas se aproxima da utilizao do mtodo nas cincias

    sociais, na medida em que visa a construo de um sentido vital dos factos

    temporais (Couceiro, 2002: 31) e apela interrogao permanente,11 os prprios

    referenciais assinalam tambm diferenas entre estes dois gneros (Gomes et al.,

    2006). Assim, a (auto)biografia tem sido aplicada nos Centros Novas Oportunidades

    fundamentalmente como instrumento para orientar o trabalho com os adultos e

    para reconhecer as suas competncias, em permanente confronto com um

    referencial de competncias-chave, enquanto a produo cientfica de histrias de

    vida, como referimos anteriormente, implica uma orientao, mais ou menos

    assumida, pela e para a teoria, ou seja, baseada em protocolos terico-

    metodolgicos e pretende alargar o conhecimento cientfico (de uma pessoa, poca,

    classe ou processo social).

    Porm, considerando a amplitude dos conceitos de competncia e de

    experincia geradora de competncias, podemos apreciar que as narrativas

    produzidas pelos adultos so frequentemente muito investidas pelos prprios, sendo

    verdadeiros espaos de reflexo de si para si e de transformao, potenciadora de

    alteraes nas trajectrias de vida. Tendo sido produzidos para fins que se

    11 Colocar-se face vida, atribuir-lhe um sentido, construir um pensamento legitimado pela experincia existencial, compreender o modo como o sujeito se formou e deu forma sua existncia , de facto, um processo de interrogao, de descoberta, de criao e no de adequao ou eventual transformao em funo de algo previamente definido e conhecido (Honor, 1992 in Couceiro, 1995:360)

  • 23

    diferenciam da pesquisa, no deixam de ser documentos legtimos de apresentao

    da vida pelo prprio indivduo que a viveu, cujas condies de produo se prestam a

    um trabalho de interpretao propriamente sociolgico, existindo dois aspectos que

    o tornam particularmente interessante para o tema deste artigo.

    Por um lado, o processo RVCC de produo interactiva, orientado por

    tcnicos com base em entrevistas sucessivas e na discusso de vrias verses do

    documento, pelo que suposto que o adulto v adquirindo, ao longo do processo,

    diferentes ferramentas para ler e escrever a sua vida, apresentando-as no final, a

    um jri de certificao. Existe, pois, um duplo estmulo para o rigor, o sentido

    crtico e a auto-reflexividade na produo das histrias de vida, embora se deva

    considerar tambm a possibilidade da sua progressiva formatao aos preconceitos

    dos profissionais RVC, formadores e/ou avaliadores. De notar que a construo dos

    Porteflios Reflexivos de Aprendizagens deve incluir trs dimenses: (1) a

    recolha de elementos que permitam a reconstituio da histria de vida individual

    (dirios, fotografias, correspondncia, certificados/diplomas, comprovativos de

    funes desempenhadas, objectos pessoais, obras produzidas, etc.); (2) a produo

    de uma narrativa sobre a vida, escrita, na qual se integram e articulam reflexes

    sobre as vrias experincias de vida produtoras de aprendizagens (ocorridas em

    diferentes contextos e momentos da trajectria individual), tendo sempre como fio

    condutor e grelha orientadora o referencial de competncias-chave; (3) a

    reconstruo contnua do percurso individual, a partir da consciencializao acerca

    da agncia pessoal e colectiva (empowerment). Na verdade, muitas das pessoas que

    criticam o simplismo destes documentos nunca realizaram exerccio semelhante,

    negligenciando a complexidade e morosidade da tarefa. Sendo que as questes da

    veracidade da informao, dos limites da conscincia e da memria, dos mitos e

    crenas, das estratgias de afirmao e auto-legitimao, sempre se colocaram no

    estudo das narrativas autobiogrficas, neste caso, existem alguns dispositivos que

    podem reduzir ou, pelo menos, apoiar a desconstruo desses vrios factores.

  • 24

    Por outro lado, estas autobiografias no so dominadas pelo propsito idealista

    de descrever e explicar a exaustividade de uma vida, mas sim deliberadamente

    orientadas para um fim mais realista: compreender o processo de aquisio e

    mobilizao de competncias ao longo da vida. Em termos concretos, aps a

    contextualizao de alguns aspectos centrais da histria de vida, solicitado ao

    adulto que procure identificar as aprendizagens mais marcantes, tanto nas

    experincias de educao formal como noutros contextos de vida, com vista

    elaborao posterior do Portefolio Reflexivo de Aprendizagens, do qual faz parte

    um balano de competncias.12 Tal como os socilogos pioneiros no uso do mtodo

    biogrfico buscavam, de vrias formas, aprofundar os aspectos das histrias de

    vida que permitiam ampliar o conhecimento sobre a criminalidade ou a mudana

    social, os socilogos da educao tm hoje, mo de semear, milhares de narrativas

    focadas na relao entre processos educativos e trajectos biogrficos.

    verdade que, ao pretender isolar a dimenso educativa, h o risco de se

    perder (ou distorcer) a relao com outros aspectos da vida ou mesmo de ignorar

    algumas das aprendizagens fundamentais na vida dos indivduos, pelo facto de

    ocorrerem em formas e espaos muito diversos, pelo que uma parte central do

    trabalho dos tcnicos dos Centros Novas Oportunidades tem sido levar os adultos a

    reconhecer contra o preconceito enraizado, que os inferioriza, de um suposto

    monoplio da educao formal que em contextos to dspares como a famlia, a

    fbrica, o exrcito ou o caf, no s se accionam mas tambm se desenvolvem

    competncias decisivas para a sua vida. Em poucas palavras, conduzir os adultos a

    atribuir um sentido de aprendizagem sua existncia. O desafio contrrio, com o

    12 atravs da construo do seu Porteflio Reflexivo de Aprendizagens que cada adulto evidencia as aprendizagens que foi

    efectuando ao longo da vida e as competncias que delas decorreram. O Porteflio Reflexivo de Aprendizagens (PRA) dos

    candidatos um documento que se articula e decorre do Balano de Competncias. Ao contrrio de um dossier que compila

    certificados e provas de aprendizagens feitas, o PRA enquadra-se num processo de investigao/aco/formao. Supe o

    desenvolvimento de competncias meta-cognitivas e meta-reflexivas do adulto sobre o prprio conhecimento que devem, elas

    prprias, estar evidenciadas no porteflio. A construo de um Porteflio desta natureza , assim, em si mesma, uma

    experincia promotora de aprendizagens e de aquisio de novas competncias (Gomes et al., 2006).

  • 25

    qual tambm se enfrentam com frequncia, uma apropriao simplista e

    interessada deste novo paradigma educativo, que conduz o adulto a deduzir

    competncias legtimas de todas as suas aces, sendo necessrio um trabalho de

    clarificao do conceito, distinguindo-o de outros como memorizao, atitude,

    crena, hbito, truque, etc.

    Com todas estas ressalvas, no temos dvidas em afirmar que no apenas os

    milhares de narrativas autobiogrficas produzidas tm um valor inestimvel para as

    cincias sociais, permitindo inmeras anlises, como a reconstituio de todo o seu

    processo de produo, a partir de inmeros registos, poder enriquecer, em muito,

    o trabalho interpretativo. Alm da sua utilidade para uma viso mais ampla e

    rigorosa de aspectos complexos e variados da nossa histria social recente, como a

    guerra colonial, o xodo rural, a revoluo ou a transio para a modernidade,

    escapando hegemonia das fontes poderosas ou eruditas, as referidas narrativas

    tornam-se especialmente ricas para o estudo dos agentes, movimentos e processos

    educativos, escolares e no escolares, bem como o seu impacto nas trajectrias de

    vida individuais e colectivas.

    Entre inmeros outros exemplos, leiam-se os inmeros relatos sentidos sobre

    as experincias penosas proporcionadas pela educao primria do antigo regime, do

    ponto de vista daqueles que fracassaram, contrapondo-se, assim, a um discurso

    erudito e hegemnico nos media de glorificao das virtudes do ensino tradicional,

    produzido, em geral, pela minoria eleita por esse mesmo sistema e que a ele deve a

    legitimao do seu estatuto de elite, a quem foi sempre reconhecido o monoplio do

    saber pensar e do saber falar. Ou, ao invs, atente-se na abertura de

    horizontes culturais e sociais, propiciada pelo contacto inusitado com certos

    professores e colegas, em instituies escolares, bem como atravs dos laos

    sociais construdos, nos contextos de vida mais diversos.

    Importa assinalar que no somos os descobridores deste filo analtico. Em

    projectos recentes de mestrado ou de doutoramento, a abordagem biogrfica dos

    adultos envolvidos em processos de RVCC comea a ser explorada, no sentido de

  • 26

    compreender e ilustrar impactos da formao e certificao de adultos nas

    trajectrias de vida (vila, 2005), lgicas que subjazem construo dos saberes

    experienciais e de outras formas de aprender (Barroso, 2005), transformaes das

    competncias implicadas nos processos de xodo rural (Santos, 2006) ou conceitos

    e competncias de cidadania, associados s identidades de gnero (Quaresma,

    2009). Trata-se de importantes contributos pioneiros para pensarmos esta relao

    entre educao e histrias de vida, que no deixam de revelar a infinitude dos

    objectos de estudo em que se pode desdobrar tal empresa, bem como a riqueza dos

    dados empricos em que se pode sustentar.

    Notas finais

    Se o mtodo biogrfico tem funcionado, nas cincias sociais, como contraponto

    aos excessos da sobre-interpretao terica e s omisses provocadas por outras

    metodologias, no se abdicando de reflectir, explicitar e desenvolver os seus

    fundamentos e procedimentos, a sua consolidao parece ainda encontrar-se a

    meio caminho, ressentindo-se de um certo complexo de inferioridade, visvel na

    tenso permanente com certos requisitos de cientificidade, o que conduz ora a

    assumpes foradas dos primados positivistas, ora sua refutao radical, em

    projectos de refundao da prpria cincia.

    Estamos em crer que ambos os argumentos so pouco sustentveis, mas que

    possvel (e importante) desenvolver estudos biogrficos, cuja validade,

    objectividade e representatividade sejam reconhecidas, desde que estes conceitos

    no sejam pensados em homologia com o paradigma quantitativo. A objectividade a

    que devemos almejar , ento, a reconstituio rigorosa, orientada pela teoria e a

    partir de mltiplas fontes, de um percurso de vida, na interaco constante entre

    foras internas e presses externas no pressupondo a sua essncia, unidade ou

    coerncia, nem o seu carcter necessariamente ilusrio, fracturado ou pr-

    determinado como forma de ampliar o nosso conhecimento sociolgico sobre

  • 27

    problemas tericos e sociais relevantes. Tambm a representatividade, impossvel

    de alcanar a partir da sua definio estritamente estatstica, deve ser

    (re)pensada no sentido do conjunto de evidncias empricas necessrias para a

    compreenso de uma histria de vida, em vez da busca de uma suposta frmula

    mgica que demonstre que uma srie necessariamente reduzida de percursos

    individuais pode resumir a histria de uma classe ou populao.

    Claro que permanece o debate sobre que constataes resultantes de uma

    biografia so extrapolveis para o entendimento de grupos e processos sociais mais

    amplos, mas, considerando as limitaes da informao produzida pelas pesquisas

    quantitativas ou pelos estudos etnogrficos, em vez da aporia obstinada do seu

    mtodo ou da negao em bloco das possibilidades de existncia de uma abordagem

    cientfica do social (apangio de alguns socilogos em crise de identidade), ser

    prefervel questionar a auto-suficincia dos diferentes mtodos, aprofundando o

    dilogo e a complementaridade entre eles, na produo de um conhecimento mais

    prudente, mas tambm mais consistente.

    No caso particular da sociologia da educao, consideramos que o mtodo

    biogrfico pode ser um meio interessante de, tal como propunha Becker (1974),

    fazer avanar o conhecimento sobre controvrsias e bloqueios que se arrastam pela

    utilizao hegemnica de outros mtodos, lanar novas problemticas tericas e

    empricas, bem como comunicar de forma eficaz com outras reas das cincias

    sociais ou mesmo da opinio pblica, permitindo-nos participar mais activamente nos

    grandes debates cientficos e sociais do nosso tempo.

    Por fim, o artigo apresenta algumas condies propcias e orientaes

    propostas para que, atravs do recurso comum ao mtodo biogrfico, a investigao

    em sociologia da educao possa reforar a sua relao com os programas de

    educao de adultos, ampliando de forma substancial o material emprico das suas

    pesquisas e, simultaneamente, contribuindo para uma utilizao mais consciente e

    rigorosa desta metodologia, construindo e dotando os intervenientes de uma

  • 28

    perspectiva sociolgica sobre a relao entre formao de competncias e histrias

    de vida.

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