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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XVI • Nº 59 • Segunda jeira • Janeiro, fevereiro e março de 2011 Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista galega Sumário Editorial 3 Cuba: Socializar e democratizar! Narciso Isa Conde 4 Um olhar à actual ofensiva ideológica e repressiva do Capital Carlos G. Seoane 5-6 As incendiárias. Barricadas lilás nas ruas de Paris Noa Rios Bergantinhos 7 A soluçom do desemprego na Colômbia segundo Juan Manuel Santos Jesús Santrich 8 XV Jornadas Independentistas Galegas Saída revolucionária à crise capitalista Miguel liberdade O enganosamente denominado “Acordo Social e Económi- co para o crescimento, o emprego e a garantia das pensons”, assinado a 2 de fevereiro polo governo espanhol do PSOE, o patronato e o sindicalismo corrupto e entreguista, nom foi nengumha surpresa. Era visto! Cándido Méndez e Fernández Toxo levavam meses preparando esta nova traiçom à classe obreira e ao povo trabalhador. A rotunda negativa a convocar greve geral para frear umha das maiores agressons contra as conquistas sociais nas últimas décadas prognosticava este desenlace suficientemente anunciado. As três mentiras do enunciado nom ocultam o engano promovido por quem deve ser caracterizado como integrante do projeto reaccionário do patronato e os partidos burgueses. CCOO e UGT há muito tempo deixárom de ser sindicatos de classe para se transformarem em duas gigantescas em- presas com milhares de assalariados com um objectivo priori- tário: conter a rebeldia, domesticar e neutralizar os sectores operários e populares, procurando incorporá-los na lógica derrotista da conciliaçom. Cada dia parecem-se mais com o sindicalismo peronista argentino: imensas maquinarias burocráticas dirigidas por enriquecidos cleptómanos sem escrúpulos que, combinando a gestom de fabulosos subsídios estatais com a direcçom de um opaco holding de empresas. Fam parte das elites do regime burguês ao qual devem estar eternamente agradecidos. Nom podemos desconsiderar que cada umha destas duas “centrais sindicais”-empresas foi subsidiada com mais de cem milhons de euros o ano passado segundo as informaçons ofi- ciais. Ao que há que acrescentar as mais variadas ajudas e ne- gócios sujos em que investem as suas elites. Ainda está fresco o escándalo imobiliário IGS-PSV que, incompreensivelmente, só provocou a queda de Nicolás Redondo em meados dos noventa. A greve de 29 de setembro foi convocada sem o mais mí- nimo entusiasmo. Inicialmente condicionados pola sua base social basicamente procuravam frear o enorme descrédito que arrastam promovendo umha greve de baixo perfil que nom bus- cava parar o governo amigo. Mas posteriormente à campanha promovida por setores do PP e do PSOE contra os “liberad@s” e delegad@s sindicais, optárom por apostar no seu sucesso para evitar que o regime juancarlista modificasse os acordos da Transiçom que reconhecem a sua representatividade como interlocutores sociais, e os enormes privilégios emanados dos Patos da Moncloa de 1977. A burocracia via perigar a perpe- tuaçom do seu estátus e inclinou-se por apresentar um pulso ao governo. A elevada adesom da greve geral nom agradou aos seus líderes que rapidamente optárom por reconduzir a situa- çom reincorporando-se a mesa de negociaçons, e atingindo mais dinheiro público para comprar consciências e seguir vendendo a classe obreira. Eis porque nom continuárom com a luita e polo que nom se somárom à greve geral nacional de 27 de janeiro. CCOO e UGT som inimigos da classe obreira, som sindi- catos amarelos, simples apêndices do Capital. Há pois que combatê-los sem trégua. E ainda menos deve surpreender a política neoliberal que está aplicando Zapatero. Ao contrário de CCOO e UGT, o PSOE nom atraiçoa ninguém. Tam só aplica o seu verdadeiro pro- grama ao serviço do imperialismo alemám e norte-americano, seguindo instruçons da grande burguesia espanhola tal como acordárom na sua refundaçom em Suresnes em 1974. As comunistas galegas e galegos sempre manifestamos que o PSOE mais cedo que tarde estava obrigado a retirar a máscara, aplicando o seu verdadeiro programa neoliberal e espanholista. Só a pseudo-esquerda burguesa e o autono- mismo depositavam expetativas no novo talante do socialismo espanhol. Foi a pequena burguesia urbana quem contribuiu a construir o falso mito de um novo PSOE de sensibilidade social e cultura democrática, alimentando o medo à volta da direita representada polo PP. Mas o PSOE de Zapatero sempre foi e é o mesmo da época de Felipe González. O PSOE da corrupçom, do ataque sistemático à classe trabalhadora e às conquistas populares, da negaçom do direito de autodeterminaçom, da repressom e corte de liberdades, do intervencionismo subimperialista sob a batuta ianque. O PSOE está a aplicar umha política económica, laboral e social idêntica à do partido de Rajói e Feijó. A única diferença é que o PP teria mais dificuldades para a sua implementaçom. A ofensiva contra as conquistas operárias, populares e sociais, plasmadas na última reforma laboral e no aumento da idade de reforma, está a aplicar-se de forma simultánea com o incremento de cada vez mais intensas pressons e declaraçons hiper-recentralizadoras com as que o espanholismo pretende Conjura de canalhas

Abrente 59

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Abrente 59

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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XVI • Nº 59 • Segunda jeira • Janeiro, fevereiro e março de 2011

J o r n a l c o m u n i s t a d e d e b a t e e f o r m a ç o m i d e o l ó g i c a p a r a p r o m o v e r a I n d e p e n d ê n c i a N a c i o n a l e a R e v o l u ç o m S o c i a l i s t a g a l e g a

SumárioEditorial

3 Cuba: Socializar e democratizar!Narciso Isa Conde

4 Um olhar à actual ofensiva ideológica e repressiva do Capital

Carlos G. Seoane

5-6 As incendiárias. Barricadas lilás nas ruas de Paris

Noa Rios Bergantinhos

7 A soluçom do desemprego na Colômbia segundo Juan Manuel Santos

Jesús Santrich

8 XV Jornadas Independentistas GalegasSaída revolucionária à crise capitalista

Miguel liberdade

O enganosamente denominado “Acordo Social e Económi-co para o crescimento, o emprego e a garantia das pensons”, assinado a 2 de fevereiro polo governo espanhol do PSOE, o patronato e o sindicalismo corrupto e entreguista, nom foi nengumha surpresa. Era visto! Cándido Méndez e Fernández Toxo levavam meses preparando esta nova traiçom à classe obreira e ao povo trabalhador. A rotunda negativa a convocar greve geral para frear umha das maiores agressons contra as conquistas sociais nas últimas décadas prognosticava este desenlace suficientemente anunciado.

As três mentiras do enunciado nom ocultam o engano promovido por quem deve ser caracterizado como integrante do projeto reaccionário do patronato e os partidos burgueses.

CCOO e UGT há muito tempo deixárom de ser sindicatos de classe para se transformarem em duas gigantescas em-presas com milhares de assalariados com um objectivo priori-tário: conter a rebeldia, domesticar e neutralizar os sectores operários e populares, procurando incorporá-los na lógica derrotista da conciliaçom.

Cada dia parecem-se mais com o sindicalismo peronista argentino: imensas maquinarias burocráticas dirigidas por enriquecidos cleptómanos sem escrúpulos que, combinando a gestom de fabulosos subsídios estatais com a direcçom de um opaco holding de empresas. Fam parte das elites do regime burguês ao qual devem estar eternamente agradecidos.

Nom podemos desconsiderar que cada umha destas duas “centrais sindicais”-empresas foi subsidiada com mais de cem milhons de euros o ano passado segundo as informaçons ofi-ciais. Ao que há que acrescentar as mais variadas ajudas e ne-gócios sujos em que investem as suas elites. Ainda está fresco o escándalo imobiliário IGS-PSV que, incompreensivelmente, só provocou a queda de Nicolás Redondo em meados dos noventa.

A greve de 29 de setembro foi convocada sem o mais mí-nimo entusiasmo. Inicialmente condicionados pola sua base social basicamente procuravam frear o enorme descrédito que arrastam promovendo umha greve de baixo perfil que nom bus-cava parar o governo amigo. Mas posteriormente à campanha promovida por setores do PP e do PSOE contra os “liberad@s” e delegad@s sindicais, optárom por apostar no seu sucesso para evitar que o regime juancarlista modificasse os acordos da Transiçom que reconhecem a sua representatividade como

interlocutores sociais, e os enormes privilégios emanados dos Patos da Moncloa de 1977. A burocracia via perigar a perpe-tuaçom do seu estátus e inclinou-se por apresentar um pulso ao governo. A elevada adesom da greve geral nom agradou aos seus líderes que rapidamente optárom por reconduzir a situa-çom reincorporando-se a mesa de negociaçons, e atingindo mais dinheiro público para comprar consciências e seguir vendendo a classe obreira. Eis porque nom continuárom com a luita e polo que nom se somárom à greve geral nacional de 27 de janeiro.

CCOO e UGT som inimigos da classe obreira, som sindi-catos amarelos, simples apêndices do Capital. Há pois que combatê-los sem trégua.

E ainda menos deve surpreender a política neoliberal que está aplicando Zapatero. Ao contrário de CCOO e UGT, o PSOE nom atraiçoa ninguém. Tam só aplica o seu verdadeiro pro-grama ao serviço do imperialismo alemám e norte-americano, seguindo instruçons da grande burguesia espanhola tal como acordárom na sua refundaçom em Suresnes em 1974.

As comunistas galegas e galegos sempre manifestamos que o PSOE mais cedo que tarde estava obrigado a retirar a máscara, aplicando o seu verdadeiro programa neoliberal e espanholista. Só a pseudo-esquerda burguesa e o autono-mismo depositavam expetativas no novo talante do socialismo espanhol. Foi a pequena burguesia urbana quem contribuiu a construir o falso mito de um novo PSOE de sensibilidade social e cultura democrática, alimentando o medo à volta da direita representada polo PP.

Mas o PSOE de Zapatero sempre foi e é o mesmo da época de Felipe González. O PSOE da corrupçom, do ataque sistemático à classe trabalhadora e às conquistas populares, da negaçom do direito de autodeterminaçom, da repressom e corte de liberdades, do intervencionismo subimperialista sob a batuta ianque.

O PSOE está a aplicar umha política económica, laboral e social idêntica à do partido de Rajói e Feijó. A única diferença é que o PP teria mais dificuldades para a sua implementaçom.

A ofensiva contra as conquistas operárias, populares e sociais, plasmadas na última reforma laboral e no aumento da idade de reforma, está a aplicar-se de forma simultánea com o incremento de cada vez mais intensas pressons e declaraçons hiper-recentralizadoras com as que o espanholismo pretende

Conjura de canalhas

Nº 59 Janeiro, fevereiro e março de 20112

alterar os acordos da Transiçom. O “café para todos” já nom lhes vale. Agora procu-ram umha reestruturaçom administrativa involucionista para fazer frente às deman-das de libertaçom nacional dos povos que o Estado imperialista espanhol oprime e explora.

Mas nom vamos ser nós, da Galiza e do comunismo galego, que marquemos o programa de luita e os passos a dar para que o proletariado espanhol se dote de ferramentas de combate que superem os modelos reformistas e jacobinos impres-cindíveis para quebrar o bloco de classes oligárquico espanhol.

A nossa prioridade, sem desatender modestamente os nossos compromissos internacionalistas, está centrada em cons-truir um partido comunista combatente que contribua para a emancipaçom da classe obreira galega e a libertaçom da nossa Pátria com um programa genuina-mente antipatriarcal. Eis a coerente traje-tória dos quinze anos que este 1º de maio cumprimos.

Sabemos que a tarefa é gigantesca e complexa, mas nom avalizamos nem duvi-damos sobre a cada vez maior vigência e necessidade de contar com um forte e im-plantado independentismo socialista nos centros de trabalho e ensino, nas ruas do nosso País.

A luita ideológica é fundamental para poder avançar. Um projeto insurgente como o que estamos cincelando nom se constrói conciliando com o reformismo, nem procurando o seu aplauso e simpatia.

Editorial

lador do enorme cinismo com que agem Espanha e as potências centrais da UE em política internacional. Exigem a Cuba, Venezuela ou Irám respeito polos direitos humanos, mas permitem que os governan-tes dos países aliados violem, reprimam, espoliem com extrema dureza os seus povos.

Os negócios do petróleo, da energia, das armas prevalecem sempre sobre os direitos humanos para o imperialismo.

A posiçom face o regime líbio é com-pletamente diferente a que mantivérom com Mubarak ou Ben Ali. A crueldade do aparelho de dominaçom de Gadaffi nom é qualitativamente diferente das monar-quias feudais do Golfo Pérsico aliadas dos EUA. Som os povos que tenhem que con-seguir a sua libertaçom sem ingerêncais externas. Da Galiza rebelde e combativa saudamos e apoiamos as insurreiçons populares que percorrem o Mediterráneo ameaçando a estabilidade do Estado ter-rorista de Israel e o imperialismo ianque e europeu.

Ao contrário! Só mediante o confronto po-demos avançar, desmascarando e enfra-quecendo toda forma de colaboracionismo e capitulaçom. Nom temos hipotecas nem dívidas com ninguém. A nossa indepen-dência política é plena.

O movimento demonstra-se andando. A Revoluçom Galega é o nosso objetivo. Todas as nossas energias e recursos, a nossa intervençom tática e setorial só se supedita à criaçom de condiçons sub-jetivas que possibilitem o êxito de um processo insurreccional. Poderemos ser aculnhad@s de maximalistas e fantasio-sos por aqueles que levam décadas atola-dos em processos eleitorais, enganado o nosso povo com promessas incumpridas, com avanços inexistentes. Mas nom nos importa! Nós só temos que dar explica-çons à classe obreira e à Pátria.

A crise crepuscular do capitalismo está golpenado com força na Galiza. O incremento do desemprego, a queda do poder aquisitivo e aumento da pobreza e exclusom social, a emigraçom da juventu-de, a precarizaçom dos contratos, coincide com o reforçamento dos mecanismos para disciplinar a classe obreira. O resultado é umha complexa situaçom na que embora cada vez seja maior o mal-estar, este ain-da nom está suficientemente madurecido para cristalizar em revoltas e explosons sociais. Diferentemente doutras latitudes planetárias, aqui ainda há um enorme col-chom social e ideológico que impossibilita traçar com precisom as causas e os res-ponsáveis pola crise económica.

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A atitude vacilante da direcçom do sindicalismo nacional e de classe maiori-tário, e a sua hipoteca com o regionalismo social-democrata, contribui para moderar e apagar a resposta obreira e popular. Apostam exclusivamente em respostas ordeiras e orgánicas. Nom toleram a mais mínima expressom de coerência na luita e combate obreiro. Condenam sem paliati-vos a resistência proletária.

A combinaçom de diversos fatores interligados permitem explicar porque o resultado da greve geral nacional de 27 de janeiro ficou a meio caminho. As dúvidas e contradiçons internas e a morna orienta-çom que a direcçom da CIG imprimiu à jor-nada evitando paralisar serviços, comér-cio e hotalaria, incidir nas vilas e cabecei-ras de comarca, para nom confrontar os setores intermédios a que se dirige o BNG, nom se pode dissociar da ocupaçom poli-cial e do silenciamento mediático. Tam-pouco se pode subestimar os enormes limites e insuficiências de um modelo de sindicalismo que nom ideologiza a enorme estrutura de delegadas e delegados, nem favorece a participaçom ativa da filiaçom na açom sindical da central.

Todo isto impossibilitou que a jorna-da atingisse o sucesso desejado. Porém, constatou a existência de um setor quali-tativa e quantitativamente importante que nom se submete à lógica da resignaçom imperante e que cumpre radicalizar se-guindo a orientaçom dos povos trabalha-dores da Grécia, Tunísia ou o Egipto.

* * *O XXX aniversário do autogolpe de es-

tado de 23 de fevereiro voltou a ser nova-mente aproveitado polo regime da II Res-tauraçom bourbónica para reforçar essa enorme falácia da Coroa como garante da democracia. Todas as forças com repre-sentaçom institucional em Madrid partici-párom na farsa que tam só procura refor-çar um regime que nom momento em que esteja questionado pola imensa forças das naçons oprimidas, da classe trabalhadora e das mulheres, nom duvidará em agir como as estruturas de dominaçom que os povos do norte de África e do Oriente Médio estám conseguindo fazer cair. Em 1981 dérom um autogolpe de estado para restringir ainda mais as conquistas nacio-nais e sociais atingidas nos anos prévios. Que nom som capazes de fazer numha si-tuaçom em que virem os seus privilégios realmente ameaçados?

O tsunami que percorre a Tunísia, Egipto, Bahrein, Iemem, Líbia... é reve-

Tels.: 986 658 209 - 655 477 132Oleiros-Salvaterra de Minho

www.casadasbreas.com

3Nº 59 Janeiro, fevereiro e março de 2011

Cuba -além de suas conquistas quan-to a educaçom, saúde, cultura, soberania, desportos, consciência anti-imperialista e anticapitalista, desenvolvimento cien-tífico- levou a cabo “a expropriaçom dos expropriadores”, isto é, a erradicaçom da propriedade privada capitalista em favor do Estado revolucionário.

O problema foi que essa expropiaçom nom foi um ato de curta duraçom para en-tom socializar progressivamente os meios de produçom, distribuiçom, serviços, cul-tura, ideologia, comunicaçom, produçom científica... Nem, em definitivo, estivo acompanhada de um sistema político democrático-participativo e de um poder popular e cidadao com organizaçons so-ciais autónomas com papéis diferenciados do Estado.

Apesar da forte “cubanidade” desse processo revolucionário e do constante esforço por limitar a sua “sovietizaçom”, com o passar dos anos foi influído pola bipolaridade mundial (EUA-URSS) e im-pregnado do “modelo” euro-soviético, ca-raterizado polo estatismo, o planeamento burocrático centralizado, o estagnamento dos órgaos de poder popular, a fusom Estado-partido-organizaçons de massas, o verticalismo político e a escassez de liber-dades políticas e cidadás.

Para onde mudar?Esse “modelo” já em crise, ao que

todo indica, nom oferece possibilidades de auto-transformaçom de cima, para além de uma espécie de pacto entre estatismo, privatizaçom, economia de mercado e des-centralizaçom administrativa; o qual que tem seu principal referente no chamado “modelo chinês”.

Para ir mais além, isto é, para a socia-lizaçom e a democratizaçom, é imprescin-dével umha forte pressom popular de fora das instituiçons e das bases da sociedade.

As reformas “sinófilas” na Cuba atual -recolhidas nas propostas apresentadas ao próximo VI Congresso do PCC- tendem a combinar estatismo modernizado com neoliberalismo e keynesianismo social: capitalismo de Estado, áreas privatiza-

mia, vai da mao a proposta de um sistema de meios de comunicaçom de caráter so-cial, nom sujeito a censura de Estado (em-bora o Estado-governo poda ter os seus próprios meios); a libertaçom de partidos políticos e movimentos sociais da tutela estatal; o livre exercício de iniciativas e posicionamentos desses atores no plano nacional e internacional, e uma política migratória que garanta os direitos univer-salmente reconhecidos.

Quanto amim, figem questom de im-pregnar a socializaçom e a democratizaçom de políticos que acelerem a superaçom da cultura androcéntrica, o adulto-centro, o racismo, a homofobia, a discriminaçom sexual em todas as ordens, a xenofobia, o ecocidio e todas as modalidades de opres-som que conspiran contra à existência e o bem-estar da humanidade e contra a pre-

atUalidadE

servaçom para futuras geraçons da saudá-vel reproduçom de seu meio natural.

debate crucialOpino que este é um debate crucial

sobre um processo e um tema medular para a nossa América e o futuro imediato do socialismo.

Porque Cuba pós Batista foi um refe-rente da subjetividade revolucionária e a sua afectaçom seria um golpe de conse-qüências negativas incalculáveis e porque o capitalismo atual dá mais que nojo.

O debate deveria ser feito com a maior profundidade e amplitude possíveis, sem intoleráncia, sem desqualificaçons, sem estigmatizaçons, sem temas tabus, a partir de factos e realidades.

Insistir a partir da revoluçom nos de-bates sobre os socialismos necessários e possíveis, e os capitalismos impugnáveis (que som todos), nom equivale a negar méritos históricos no acidentado batalhar a favor desse sonho realizável; porque se em termos de civilizaçom humana vivemos o ocaso do capitalismo (após padecer a crueldade de sua pré-história e de sua his-tória por mais de cinco séculos), quanto ao socialismo mal vivemos no século XX a sua tortuosa e frustrada pré-história, iniciando--se agora, no XXI, o abrente da sua história.

Cuba revolucionária merece honras e a direçom histórica do processo que se iniciou com o assalto ao Moncada (1953), é digna do maior respeito a seu heroísmo e de um estrito respeito pola verdade histórica; o que nos exige assumirmo-la com os seus acertos e erros, inseparáveis das suas grandes faça-nhas e suas valiosas conquistas.

A essência do problema é como ultra-passarmos a crise do capitalismo em dire-çom socialista e como fazermos o mesmo com o esgotamento do modelo estatista--burocrático, sem cairmos no terreno la-macento da privatizaçom e das reformas pró-capitalistas. E, nessa ordem, à revolu-çom cubana apresenta-se hoje um desafio inevitável.

Narciso Isa Conde fai parte da Direcçom do

Movimento Continental Bolivariano

das mercadorias e a processos de inte-graçom continental e mundial nom su-bordinados ao capitalismo central e aos imperialismos.

Esta visom nom descarta desde já, nem o contaproprismo puro e simples, nem os co-investimentos temporários do Estado cubano sócio doutros estados ou de certos capitais privados do exterior (bem regulados e precisada a participa-çom das comunidades de trabalhadoras e trabalhadores na gestom e nos lucros des-sas empresas); embora se objete a políti-ca de portas abertas às chamadas “zonas especiais” de exploraçom de mao de obra barata, às concessons de bens imóveis e de recursos naturais ao capital estran-geiro e a autorizaçom em larga escala da exploraçom do trabalho alheio.

Harmónica com essa visom da econo-

Cuba: Socializar e democratizar!Na

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das (com reintroduçom da exploraçom do trabalho assalariado); descentralizaçom empresarial, cooperativismo em pouca escala, despedimentos em massa progra-mados, abertura ao conta-proprismo (sem perspetivas claras de socializaçom), novo sistema de impostos e economia de mer-cado (sem políticas nem metas precisas quanto à sua substituiçom por uma econo-mia de equivalências).

Prevê, ainda, prolongar o monopólio do poder estatal polo partido comunista e nom precisamente para socializar e demo-cratizar, mas para reger esse processo de reformas sem democracia participativa.

O facto de que essas orientaçons se estejam a executar antes da sua aprova-çom no processo congressual é um dado indicativo de que se trata de uma determi-naçom da direçom do partido e do Estado cubanos, para além de qualquer convite formal à sua discussom.

Claro, que em Cuba - sobretodo na sua populaçom exilada ou emigrante- há quem nom concorde com com essa “via atenua-da” de restauraçom capitalista, propugnan-do a privatizaçom total, o neoliberalismo extremo, a “democracia” made in EUA e a anexaçom polos Estados Unidos. Inaceitá-vel para patriotas e socialistas.

Mas em Cuba estám também os/as que expressam o sentir da parte mais re-volucionária e consciente da sociedade, propugnando a socializaçom progressiva do estatal e a democratizaçom político- institucional.

A socializaçom assim proposta reme-te para converter em propriedade social democraticamente gerida umha grande parte dos meios, empresas e entidades estatais sob controlo burocrático.

Equivale a abrir caminho à autoges-tom operária e popular, à cooperatizaçom de áreas estatais, à cogestom Estado--Comunidades de trabalhadores e traba-lhadoras, às empresas usufruídas coleti-vamente, aos planos de associaçom para microempresas individuais e familiares, à cooperativizaçom do conta-proprismo, ao planeamento democrático-participativo, ao intercámbio em funçom do valor real

A atual orientaçom do processo cubano é preocupante pois se afasta da socializaçom e a democratizaçom da Revoluçom

Raúl Castro

4 Nº 59 Janeiro, fevereiro e março de 2011oPiNioM

Um olhar à actual ofensiva ideológica e repressiva do Capital

Carlo

s G.

Seo

aneA actual crise capitalista internacional

bate com dureza nos elos fracos das eco-nomias de mercado, demonstrando a hie-rarquizaçom das potências e sub-potências nacionais que representam os interesses das burguesias respectivas. O brutal impac-to da crise capitalista no Estado espanhol, com umha economia sustentada na especu-laçom imobiliária, financeira e fortemente dependente dos subsídios da Uniom Euro-peia, torna visível a fraqueza e submissom de umha sub-potência imperialista, como é a espanhola, aos ditados do grande poder do dinheiro representado polo FMI e o Banco Mundial e às grandes potências imperialis-tas centrais, os EUA e a Alemanha.

O enquadramento da Galiza de segunda década de século XXI na periferia do centro capitalista mundial determina um desenvol-vimento próprio das contradiçons do modo de produçom hegemónico na nossa forma-çom social: o capitalismo no início do seu declinar.

A repercussom da crise capitalista na Galiza provoca que a classe trabalhadora ga-lega esteja a pagar com o seu esforço o insa-ciável desejo de lucros do capitalismo espa-nhol. Os principais indicadores sociais assim o revelam: o número de desempregad@s alcançou o seu máximo histórico com o iní-cio de 2011 -entre @s que destaca 27% de jovens menores de trinta anos que se vem privad@s do seu direito ao trabalho e te-nhem que procurar na emigraçom umha saída para se dotar dumhas mínimas pers-pectivas de futuro-, o aumento de preço dos produtos básicos com a conseqüente perda de poder aquisitivo o qual provoca que mais da metade das famílias galegas declarem dificuldades para chegar a fim de mês, o au-mento de pobreza e exclusom social, e umha longa ladainha do que poderíamos denomi-nar condiçons objectivas dumha realidade em que o Capital se dispom à ofensiva contra o Trabalho para evitar o progressivo retro-cesso da sua taxa de lucro.

Reforçamento da dominaçom ideológica burguesa

O actual desastre social e económico demonstra o fracasso do modo de produçom capitalista para garantir a satisfaçom plena das necessidades inerentes ao ser humano, posto que só procura satisfazer a necessida-de do benefício. A agudizaçom extrema das contradiçons da economia de mercado de-terminam umhas condiçons objectivas de fa-lência sistémica recolhidas em inúmeráveis estatísticas nas quais a militáncia anticapi-talista nos apoiamos para nos armarmos de argumentos no combate ideológico e assim poder aumentar a massa de oposiçom diante desta ordem social injusta. Pode parecer que em ocasions nos movamos como peixes na água, porque os números cantam a inviabili-dade do sistema e o povo trabalhador vai ser mais permeável a um discurso libertador do jugo capitalista.

A realidade é outra bem diferente. O ca-pitalismo sabe das suas contradiçons, reco-nhece-as publicamente mediante os estudos estatísticos que fam as suas próprias insti-tuiçons mas, porque o povo trabalhador nom compreende ou nom chega a ver estas con-tradiçons e se organiza com o objectivo de construir umha sociedade nova, socialista?

A maquinaria ideológica do Capital pro-cura constantemente readequar-se perante a necessidade de manter os seus lucros, para o qual precisa reforçar periodica-mente os seus mecanismos de opressom e dominaçom, adormecendo a consciência do povo trabalhador, ofensivas periódicas mediante a introduçom de enganos incons-cientes em todas as esferas da nossa vida que impidam o despertar de qualquer tipo de resistência.

Uns dos grandes partícipes em fazer mover esta maquinaria som os meios de comunicaçom da burguesia. Constituem os grandes alto-falantes da falsa consciência necessária para que @s dóceis explorad@s reproduzam a sua informaçom de maneira acrítica contribuindo para a criaçom de esta-dos de opiniom legitimadores da situaçom de privilégio social para a classe exploradora.

O movimento popular erige-se num dos principais elementos a combater polos mass media enquanto tem a capacidade para ques-tionar a abafante dominaçom ideológica. É paradimático o tratamento do movimento operário na grande campanha mediática de-senvolvida desde Setembro do passado ano, que punha como objectivo a deslegitimaçom da actividade sindical para declarar inopor-tuna a necessidade de criar “crispaçom so-cial” nestes momentos de crise em que “há que arrimar o ombro”, “apertar o cinto” ou “ser exemplo de austeridade”. Os ataques à figura do “liberado sindical”, o linchamento mediático d@s trabalhadores/as que con-trolam o tránsito aéreo ou o questionamento do direito à greve som alguns dos mísseis disparados polos media para bombardear às massas com umha opiniom favorável aos interesses da patronal.

Por outra parte, é igualmente exemplar o tratamento que vem recebendo nestes úl-timos meses o movimento independentista, especialmente na imprensa de corte espa-nholista instalada na Galiza -comandados por La Voz de Galicia, El Correo Gallego ou Xornal de Galicia-, com motivo dos recentes ataques a sedes de partidos e sindicatos es-panhóis, escritórios de emprego ou entida-des bancárias no nosso país. Estes meios de clara inspiraçom sensacionalista procuram fabricar notícias espectaculares que con-tribuam progressivamente para justificar a execuçom de umha eventual operaçom po-licial repressiva de importante magnitude, para o qual precisam estender a criminali-zaçom e estigmatizaçom de centros sociais, organizaçons juvenis e políticas da esquerda independentista. Demandam constantemen-te às forças policiais e judiciárias para que actuem com diligência sem que seja neces-sário que cumpram rigorosamente com os protocolos estabelecidos polas suas pró-prias leis (intervençom da linha telefónica, seguimento policial pessoalizado, etc.)

Endurecimento repressivoQuem optar por denunciar toda esta

rede de falácias destinada à dominaçom ide-ológica da massa explorada e passe a desa-fiar directamente o sistema com umha praxe revolucionária verdadeiramente conseqüen-te, vai deparar com a repressom.

A repressom, como arma de classe, é inseparável da luita de classes. Pode-se es-

tabelecer que na luita de classes da Galiza de 2011, a classe exploradora erige-se em sujeito atacante mediante a actual ofensiva brutal contra as principais conquistas sociais do povo trabalhador, quem se torna em su-jeito resistente, a desenvolver um papel de-fensivo perante os embates da burguesia e os seus principais valedores.

A contínua deterioraçom das condiçons materiais de existência do povo trabalhador e o accionar de forças rebeldes e combativas que procuram despertar da subjectividade revolucionária do povo explorado, demons-tram umha lenta, mas progressiva, radica-lizaçom da luita do movimento popular. O aumento gradual do nível repressivo tem-se manifestado explicitamente desde os centos de sançons administrativas que castigárom @s grevistas do metal e da construçom do sul da Galiza durante a negociaçom dos seus convénios laborais, passando pola enorme ocupaçom policial das nossas vilas e cidades durante todo o ano Jacobeu que provocárom graves problemas para o livre tránsito polas nossas ruas, até o forte dispositivo policial

que cobriu corpo a corpo @s grevistas em 27 de Janeiro passado que deixou um total de 16 detidos entre a própria jornada de gre-ve geral e durante os dias posteriores.

O Estado dispom de mecanismos para se adaptar à realidade em que tem de actuar, polo qual a categorizaçom de repressom de baixa intensidade nom deve continuar a ser empregada polo movimento popular, porque pode desprezar, e inclusive obviar, o nível de endurecimento repressivo que pode ser quem de aplicar. A declaraçom em Dezem-bro do passado ano do estado de alarme realizada polo governo repressor do PSOE demonstra claramente até onde se pode chegar apoiando-se na sua venerada Consti-tuiçom perpetuadora da economia de merca-do e do cárcere de povos. Na nossa memória fica gravada a imagem do estamento militar tomando parte num conflito laboral no qual os media se encarregárom de ganhar a opi-niom pública. A recente reforma do Código Penal caminha na mesma direcçom de se adaptar a novas realidades de luita travadas polo movimento popular e nas quais salienta,

entre outras novidades repressivas, a con-sideraçom de grupo terrorista ao integrado por mais de duas pessoas que reiterem na execuçom de faltas ou delitos que alterem a ordem constitucional, ou aquela que abre a ambigüidade da definiçom de associaçom ilícita em que nom é necessária a existência de forma jurídica algumha da associaçom em questom e, além do mais, permite apoiar-se no critério de umha suposta “natureza intrin-secamente delitiva”.

Que fazermos diante desta ofensiva?

A militáncia revolucionária acha-se ante um cenário muito adverso como parte prin-cipal desse sujeito de resistência colectiva à ofensiva ideológica e repressiva do Capital, mas nunca as condiçons objectivas fôrom tam boas como para argumentar o nosso ódio por esta ordem social que nos explora e oprime. Temos de nos manifestar intran-sigentes na batalha de ideias diária contra as diversas expressons de opressom e domi-naçom ideológica da burguesia, quer venham directamente do seu aparelho propagandís-tico ou por meio das diferentes versons do revisionismo. Há que desenvolver umha praxe revolucionária coerente com o nosso discurso, demonstrar umhas convicçons mui-to firmes para nom cair nos grandes erros e traiçons dos reformismos que se instalárom na lógica do sistema.

@s militantes da nova Galiza rebelde devemos preparar-nos para saber enfrentar a possibilidade de novos cenários em que a forças repressivas executem os planos de-senhados nalgum escritório da Audiência Nacional espanhola ou nalgum gabinete de qualquer jornal da burguesia. Adquirir hábi-tos “saudáveis” de segurança militante tor-na imprescindível e necessário, para o qual devemos interiorizar a repressom como mais umha companheira de viagem, evitando cair na magnificaçom desta ou no vitimismo.

No nosso pensamento revolucionário e no nosso agir está a resposta à actual ofen-siva sistémica. Devemos bater com força quando pudermos e estender a solidarieda-de activa quando tentem bater sobre nós. Eis a dialéctica da luita entre exploradores e explorad@s.

Carlos G. Seoane fai parte do Comité Central de

Primeira Linha

Rubalcaba, máximo responsável político da repressom espanhola

A militáncia da nova Galiza rebelde deve preparar-se para saber enfrentar a possibilidade de novos cenários repressivos

5Nº 59 Janeiro, fevereiro e março de 2011 oPiNioM

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As incendiárias. Barricadas lilás nas ruas de ParisNo

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estas páginas um artigo sobre a Comuna de Paris de 1871 no seu 140 aniversário, e ambos tenhem a ver com a necessidade da recuperaçom e o conhecimento da nossa história no contexto da crise atual. Numha sociedade altamente narcotizada e aliena-da como a ocidental, na qual a saída para a crise por meio do pacto social substituiu a luita obreira nas mentes de amplos sec-tores populares, resgatar do esquecimento imposto factos históricos de indubitável valor exemplarizante torna-se mais neces-sário do que nunca.

Dentro desta amnésia colectiva a que fomos condenadas e condenados cumpre um significativo papel o silenciamento e a ocultaçom sistemática das luitas das mu-lheres pola sua emancipaçom, mais ainda se estas pugérom em prática roles consi-derados de uso privativo dos homens como a prática da violência revolucionária. A Co-muna oferece-nos um bom exemplo disto.

A história do feminismo, como qualquer outra, nom é asséptica nem alheia aos inte-resses de classe e nacionais de quem a re-aliza, e tem havido um interesse consciente de apagar aquelas luitas feministas que es-tavam estreitamente ligadas às luitas socia-listas ao longo do século XIX e XX. A maioria dos estudos, artigos e obras de divulgaçom do feminismo assinalam a Revoluçom Fran-cesa como ponto de partida do feminismo moderno, entendido como a tomada de cons-ciência coletiva por parte das mulheres da sua situaçom de opressom e discriminaçom. Até aí concordamos. O que nom se justifica é o salto que se realiza desde este episódio inaugural até o nascimento do movimento sufragista na Inglaterra e nos EUA na vira-gem de século, passando por alto significati-vas experiências como a de Comuna. A mes-ma pirueta histórica repete-se no século XX com a ocultaçom consciente das conquistas que as mulheres atingírom na Revoluçom de Outubro e o silenciamento maioritário de fi-guras chave como Clara Zetkin ou Alexandra Kollontai. Estas linhas pretendem deitar um pouco de luz sobre um episódio que fai parte por mérito próprio da história da luita pola liberdade protagonizada polas mulheres que nos precedêrom.

A Comuna de ParisAs palavras que melhor caracterizam

o que significou esta breve experiência revolucionária exprimiu-nas Karl Marx ao pouco tempo de se ter produzido, definin-do-a como a primeira tentativa por parte do proletariado de tomar o céu por assalto. Foi a demonstraçom prática de que era possí-vel construir umha sociedade baseada na igualdade e a justiça, e por isso caiu sobre ela de forma interesseira umha lousa de silencio e esquecimento.

O contexto em que se dérom as con-diçons para que nascesse a Comuna foi a queda do II Império Napoleónico como conseqüência da derrota francesa na guerra franco-prussiana de 1870, a proclamaçom da República e a conseguinte capitulaçom da Assembleia Nacional, novo órgao do gover-no francês controlado por representantes da burguesia e dos monárquicos ruralistas. O povo de Paris, altamente proletarizado como conseqüência do importante auge da indústria durante todo o século XIX, que es-tava armado pola necessidade da defesa da cidade perante o exército prussiano, rejeita a capitulaçom do governo e as imposiçons marcadas por Bismarck. Quando Thiers -dignatário francês encargado de assinar a paz com a Prússia- pretenda desarmar a Guarda Nacional -composta por milhares de parisienses pertencentes maioritariamente à classe trabalhadora- e entregar Paris às tropas prussianas, estourará a revoluçom.

Fôrom as mulheres parisienses as pri-meiras a alertar na cidade da presença do exército francês que pretendia levar os ca-nhons apostados nos pontos estratégicos, concentrando-se por milhares enfronte do exército, quem recusa disparar sobre o povo, ao tempo que muitos destacamen-

-se a sanidade pública; a educaçom tornou--se gratuita; o salário dumha pessoa que integrasse o governo nunca poderia supe-rar o salário médio obreiro; estabeleceu-se a liberdade de imprensa; etc.

No referente a medidas que afectavam a situaçom das mulheres a Comuna nom foi menos prolixa: instituiu a igualdade entre os sexos; promulgou-se a separaçom da Igreja e do Estado em todos os ámbitos da sociedade (nacionalizando todos os seus bens); as escolas passárom a ser mistas; as mulheres faziam parte da Guarda Na-cional como expressom do povo em armas; criárom-se infantários ao lado das fábricas; etc. No decreto de 8 de abril estabelecia proteçom para as viúvas e crianças dos cidadaos mortos na defesa de Paris, reco-nhecendo benefícios para as crianças, legí-timas ou nom, e para as mulheres, esposas ou companheiras em unions de facto.

Estas medidas conseguírom-se graças à enorme participaçom das mulheres no pro-cesso revolucionário, as quais nom tardá-rom em organizar-se para defender os seus direitos específicos. Mas esta importante participaçom das mulheres nesta experi-ência revolucionária nom se poderia enten-der sem conhecer a história anterior mais imediata. Nom foi por acaso que fora nessa mesma cidade em que umha centúria antes tivera lugar o nascimento do feminismo mo-derno. As mulheres das classes populares, setor especialmente afetado pola fame, os problemas de abastecimento e a miséria, eram na maioria das ocasions as primeiras a organizar diversas formas de protesto contra o poder estabelecido. Assim detonou a Revoluçom Francesa de 1789 que trouxo como conseqüência a tomada de consciência política das mulheres como grupo oprimido, as quais se organizariam em clubes e as-sociaçons para reivindicar os seus direitos políticos em igualdade aos homens. O preço imediato a pagar por tal ousadia foi a ca-deia, a prisom e mesmo a morte, e no longo prazo a instauraçom dumha das legislaçons mais misóginas e reacionárias que se co-nhecem: o Código Napoleónico, lei civil que consagrava a minoria de idade permanente das mulheres, assim como o seu obrigató-rio enclausuramento no lar. Mas com todo nengumha luita se produz em vao, a semente estava botada e só era questom de tempo que abrolhasse. E nom demorou muito, pois na revoluçom de 1848 a participaçom das mulheres trabalhadoras francesas foi um facto incontestável e de magnitude muito importante. Mas haverá que aguardar até a Comuna para observar os melhores resulta-dos dum século cheio de luitas.

Durante a breve duraçom da Comuna as mulheres ultrapassárom com ousadia e co-ragem os estreitos limites que a sociedade lhes impunha. Além de desempenharem ta-refas que se consideravam próprias do seu sexo, como a assistência às pessoas feridas, a educaçom ou o fornecimento de alimentos nas barricadas, elas mesmas se organizá-rom em cooperativas, associaçons e sindi-catos próprios, como o Comité de Mulheres para a Vigiláncia, o Clube da Revoluçom Social ou a Uniom das Mulheres para a De-fesa de Paris e Ajuda aos Feridos2. Esta úl-tima organizaçom fazia especial fincapê em três aspetos: a necessidade da educaçom das mulheres, a sua integraçom no mundo do trabalho produtivo e a organizaçom da defesa de Paris. Dedicárom nom poucos esforços a suprimir a influência clerical da vida familiar, pois consideravam que na edu-caçom e na integraçom no mundo laboral se encontravam as chaves para a liberdade das mulheres, em consonáncia com as rei-vindicaçons feministas da altura. Dentro das funçons do Comité Central, órgao máximo da

Petroleuses: Ilustraçom na imprensa burguesa da altura no que se acusa às mulheres de incendiar Paris

Louise Michel vestindo fato da Guarda Nacional

tos da Guarda Nacional fam prisioneiros os seus comandantes. Após várias horas de confusom e indecisom, o governo de-cide abandonar Paris e ordena a retirada do exército a Versalhes, nas proximidades da capital. Nos dias posteriores, o Comi-té Central da Guarda Nacional convocará eleiçons, em que ganhará por esmagadora maioria a esquerda. Nascia assim a Comu-na de Paris, que adoptará como símbolo da emancipaçom da humanidade a bandeira vermelha, legando também para o futuro o hino da nossa classe, a Internacional. Será a primeira experiência dum governo obrei-ro que apesar da sua brevíssima duraçom (de 26 de março a 28 de maio de 1871), ensinou, em palavras do Lenine, ao prole-tariado europeu a formular de forma con-creta as tarefas da revoluçom socialista1, experiência que se tornaria muito útil para a seguinte revoluçom que estava por che-gar e da que ele mesmo faria parte.

A burguesia francesa apenas tardou

a colocar-se do lado contrário à Comuna, chegando a acordos com a burguesia prus-siana para libertar parte das tropas que ainda estavam presas por causa da guer-ra e assim poder conseguir a rendiçom de Paris. Todos e cada um dos contributos da Comuna alcançam assim mais valor ainda, pois fôrom postos em prática numhas con-diçons de guerra civil e de sítio militar da capital francesa por parte dos exércitos das burguesias francesa e alemá.

O efémero da duraçom da Comuna contrasta enormemente com a quantidade de medidas promulgadas nesses dous me-ses: aboliu-se a pena de morte, o exército permanente e o serviço militar obrigatório; aboliu-se também o trabalho noturno dal-gumhas profissons; reduziu-se a jornada laboral chegando a propor a jornada das 8 horas; legalizárom-se os sindicatos; tor-nou-se electivo o cargo de juiz; projetou-se a auto-gestom das fábricas; implementou-

1 Os Ensinamentos da Comuna, 19082 Entre suas fundadoras estám algumhas

filiadas à Internacional: Nathalie Lemel, Aline Jacquier, Marcelle Tinayre e Otavine Tardif.

Nº 59 Janeiro, fevereiro e março de 20116 oPiNioM

As incendiárias. Barricadas lilás nas ruas de Paris

Domingo Rodríguez TeijeiroPresos e prisións na Galicia de guerra e posguerra 1936-1945Vigo, Ed. Galaxia, 2010, 315 páginas

O livro realiza umha apro-ximaçom dos diversos tipos de centros de reclusom (cárceres e campos de concentraçom) esta-belecidos na Galiza polo regime fascista espanhol nos seus pri-meiros anos, baseando-se prin-cipalmente na informaçom tirada da documentaçom oficial produzi-da polas próprias prisons e polos organismos administrativos que as controlavam.

Ao longo da obra, o autor apresenta aspetos como a evolu-çom do sistema carcerário e da legislaçom relacionada com o mesmo, os diferentes modelos de prisons que o regime cria para dar cabimento ao enorme número de pres@s, a precariedade e duras condiçons de vida nas mesmas, o ámbito concreto dos campos de concentraçom e da exploraçom laboral d@s pres@s ou os números globais de pres@s polític@s nesta primeira eta-pa do franquismo (indicando estimaçom de 50.000 pessoas só entre 1936 e 1940, nom só galeg@s, mas também doutras na-çons e territórios, com destaque para @s asturian@s).

Salienta como os objetivos do sistema carcerário franquis-ta face @s prisioneir@s polític@s eram a vontade de vingança e extermínio e a repressom planificada, destruir e anular tanto sua a vontade como a sua ideologia, infundindo-lhes a ideologia do regime e procurando o seu arrependimento e a “reintegra-çom” na sociedade aceitando o novo regime. Como podemos comprovar, nada diferente do que pretende o regime monárqui-co atual a respeito d@s pres@s polític@s.

Umha dura realidade à qual os homens e mulheres reprimi-das respondêrom em muitos casos com a sua rebeldia e a sua resistência passiva e ativa, que os levou a organizarem protes-tos, a negarem-se ao doutrinamento, a realizarem sabotagens e fugas, a manterem formas de comunicaçom com o exterior evitando a censura e à reorganizaçom política dentro das ca-deias. (Anjo Torres Cortiço)

Sophie HeineOser penser à gauche. Pour un réformisme radicalBruxelas, Éditions Aden, 2010, 226 páginas

Ousar pensar à esquerda. Sim, mas ha-verá quem considere que o mais premente é pôr fim às divisons e aglutinar as correntes de progresso. Embora também sejam muitos os que acham impossível mudar a sociedade sem umha ideologia analítica e prescritiva, pois a luita de clases nom é estritamente social, vai junto aos conflitos políticos e ideológicos.

Neste livro vê-se de resgatar tres filo-sofemas que, ao serviço de fins particulares, perdêrom a sua significaçom radicalmente emancipadora: liberalismo, cosmopolitismo e reformismo. O primeiro reduziu, ao defender umha teoria económica única, o conflito ao plano cultural e identitário. O cos-mopolitismo permitiu justificar a ultrapassagem das soberanias económicas e políticas. O reformismo mudou-se em chapéu do lento esmorecer dos esta-dos sociais. E frente aos que rejeitam em bloco estas ideias por antiliberais, antipatriotas e antirrevolucionárias, a autora deseja abrir um debate acima da doxa dominante e tratar de refundar as devanditas tradiçons.

Trataria-se de tirar das garras da direita uns ideais para um novo horizonte de avanço com vistas a umha democracia real, que nom pode obviar a economia.

Nom se pode recolher em tam curto espaço a polémica que gerou por fundamentar um pensamento político nos direitos do homem (o velho humanismo!) e por tachar Marx de economicista e determinista.

Certamente, a autora replicou que a sua crítica nom se referia a Marx, mas a interpretaçons dominantes do marxismo. E quanto ao idealismo li-gado à defesa dos Direitos Humanos como discurso ocultador, como falsa consciência, di que nom tem nada a ver com as suas teses, que som mate-rialistas, pois umha ideologia alternativa nom se formula de modo etéreo, tem de reflectir as realidades sociais, económicas e políticas, tem de estar ancorado na realidade.

Longe da filosofia da autora atribuir um poder de acçom aos ideais de justiça social, identidade nacional, et cetera, e descuidar a luta de classes como motor da história.

Como reconhecem os seus críticos, o ensaio está documentado, é pluriverso, com força argumentativa e de obrigatório debate. (Domingos Antom Garcia Fernandes)

Néstor Kohan Marx en su (Tercer) Mundo. Hacia un socialismo no colonizadoCaracas, El perro y la rana, 2009/2010, 406 páginas

A editora estatal venezuelana El Perro y la Rana editou recentemente, pola primeira vez na Venezuela, o livro de Néstor Kohan Marx en su (Tercer) Mundo. Isto supom que a obra terá umha grande difusom em amplas massas que agora estám a realizar a denomi-nada Revoluçom Bolivariana. Precisamente, o livro foi redigido para isso, para ser arma de combate, para superar as teorias mecani-cistas e naturalistas, pondo o sujeito coletivo como eixo principal do marxismo.

Néstor Kohan realiza umha crítica radical à construçom epistemológica do Materialismo Dialético e do Materialismo Histórico, historizando-o e rompendo a falsa ideia do marxismo-leninismo como bloco compacto, a-histórico e aplicável universalmente sem mudanças através da aplicaçom-deduçom. O livro fai um retorno a Marx e a Lenine, ressaltando a importáncia da dialética dentro da teoria marxista e, portanto, elevando a conceito principal a categoria pra-xe. Há também em Marx en su (Tercer) Mundo umha volta ao Gramsci nom deturpado, ao definir o Marxismo como filosofia da praxe e nom da natureza nem da evoluçom determinada e absoluta das forças produtivas.

Este é um excelente livro pedagógico, necessário para socializar e construir hegemonia a partir do Marxismo. E estas virtudes nom som conseguidas a partir da vulgarizaçom teórica e metodológica ao jeito dos “Manuais”, pois estamos perante um livro de barricada, feito ao fragor da luita comum da humanidade oprimida. Nom há outra forma de criar teoria revolucionária a nom ser praticando revoluçom, pois tal como nom se pode pensar sem intervir, é impossível socializar teoria sem ser um reflexo das necessidades e anelos dos e das militantes revolucionárias.

Esta obra é um guia para a açom escrita na e para a América Latina, porém, as suas análises e conclusons som universais, pois simplesmente determinam o imenso poder da prática humana e a construçom da hege-monia como necessidade. A sua filosofia da praxe devolve ao marxismo o seu caráter subversivo, nom-neutral e anti-académico, para o converter numha poderosa arma que os poderosos devem temer. É necessária a maior difusom de Marx en su (Tercer) Mundo e mais obras como estas na Venezuela, na Galiza e lá onde se travarem luitas contra o capital, pois a teoria está pronta já para se converter em força material. (Miguel Cuba)

LIVROS

www.csamiguel.blogspot.com

O Comité de Solidariedade e Apoio a Miguel é o organismo constituído por umha quinzena de entidades e organizaçons solidárias com o jovem trabalhador Miguel Nicolás Aparicio, detido e em prisom desde o passado mês de dezembro com base em arbitrárias acusaçons em relaçom a umha série de ataques a instalaçons do INEM na comar-ca de Vigo.

O objetivo do Comité é dar a conhecer a situa-

Vem da página 5

çom de Miguel, preso sem ter conhecimento concre-to das acusaçons que pesam sobre ele, e reclamar a sua imediata e incondicional liberdade. O caso, claramente enquadrado na perseguiçom política

do Estado espanhol contra a dissidência operária, popular e nacional galega, provocou a resposta coordenada em forma de Comité, que entre outras atividades, mantém na rede um blog informativo e

de denúncia do caso de Miguel.No blog dá-se pontual informaçom de cada ini-

ciativa popular do Comité, com textos, imagens e vídeos, servindo igualmente para recolher fundos de apoio económico contra a repressom que sofre o jovem viguês preso na prisom da Lama.

Nova CaixaGaliciaSucursal Coiro-CangasTitular: Central Unitária de Trabalhadores/AsNúmero: 2080 0079 90 0040012053*

Uniom composto na sua maioria por ope-rárias, tinham as responsabilidades pola questom social e outra pola orientaçom política. Importantíssima foi o seu labor na propaganda contra as campanhas di-famatórias do governo de Thiers com o intuito de desmoralizar as mulheres pari-sienses, o qual, empregando o conceito de “mae amantíssima e pacífica”, lançou um manifesto a favor da paz e do armistício em 6 de abril, ao qual respondêrom do Co-mité Central das Cidadás afirmando que (...) hoje, umha conciliaçom seria umha traiçom. (...) Paris nom recuará, porque ela conduz a bandeira do futuro (...). Es-tas proclamas publicavam-nas em jornais feitos por mulheres como La Sociale ou Le Journal des Citoyennes.

As mulheres da Comuna luitárom para exigir os seus direitos em igualda-de aos homens na defesa de Paris, para o qual tivérom que vencer nom poucas reticências dos seus companheiros. Nom duvidárom em pegar nas armas e situar--se nas barricadas cotovelo com cotovelo em defesa da sua liberdade. O caso mais conhecido é o da revolucionária Louise Michel, primeira mulher a vestir um fato da Guarda Nacional, mas há multidom de mulheres anónimas que dérom a sua vida luitando pola Comuna. Houvo um bata-lhom da Guarda Nacional formado exclu-

sivamente por mulheres e as estimaçons falam-nos de que chegou a haver perto das 10.000 obreiras luitando nas barrica-das, constatando-se em nom poucos ca-sos que fôrom as últimas a abandonar as posiçons perante o avanço das tropas de Versalhes. Um dos casos mais badalados foi o dumha communard de quem desco-nhecemos o nome, que ficou sozinha de-fendendo a barricada da rua Rivoli após a morte do resto do seu destacamento, mas que nom hesitou em içar a bandeira ver-melha aguardando a morte com dignidade enquanto se achegava o exército.

A repressom desatada polo exército da burguesia contra a Comuna de Paris na tristemente conhecida como Semana Sangrante, marcou um ponto de viragem na luita de classes da idade contempo-ránea, tanto pola sua ferocidade como polo seu alcance. As mulheres nom fi-cárom fora desta repressom. O número de assassinadas e assassinados chegou a 30.000, com milhares de execuçons

arbitrárias a pê de barricadas -metralha-das e mesmo espancadas- nas quais as tropas de Versalhes nom reparárom em assassinar qualquer pessoa suspeita de conivência com a Comuna. A este número há que acrescentar 40.000 pessoas mais apresadas ou deportadas a Nova Caledó-nia e outras colónias onde as esperavam trabalhos forçados.

Houvo um interesse especial em demonizar as mulheres que tinham par-ticipado na luita, acusando-as de lhe terem prendido fogo a Paris durante a sua retirada: as denominadas como les petroleuses, as incendiárias. Numerosas amostras gráficas na imprensa burguesa da época som fiel testemunho da tenta-tiva de criminalizar aquelas corajosas mulheres para que nom servissem de exemplo a nengumha outra mulher que ousasse rebelar-se contra a sua opres-som, exploraçom e dominaçom.

A Comuna de Paris foi derrotada, mas só do ponto de vista militar, nom do político nem do histórico. A sua lem-brança serviu desde há cento e quarenta anos para estimular a luita pola emanci-paçom coletiva da humanidade. A pala-vra de ordem Comuna ou Morte ressoa ainda nas nossas consciências.

Noa Rios Bergantinhos fai parte do Comité

Central de Primeira LinhaRetrato de Communards no que se aprecia umha significativa mudança de roles

WEB

7Nº 59 Janeiro, fevereiro e março de 2011 iNtErNacioNal

A soluçom do desemprego na Colômbia segundo Juan Manuel Santos

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farám mais lamentável a vida dos colom-bianos.

Olhemos algumhas das promessas de Juan Manuel Santos

Isto precisamente é o que até o mo-mento ocorre com as promessas eleitorei-ras de Juan Manuel Santos, quem primei-ramente a ofereceu e parece manter-se em isso, a criaçom de 2 milhons quatro-centos mil empregos e a formalizaçom de 500 mil mais; como quem diz, o estabele-cimento de quase três milhons de novos empregos formais.

A partir deste longo bocejo de ilu-sionista falou Juan Manuel das famosas “cinco locomotivas do crescimento” das quais manaria a concretizaçom das suas miragens: minas, agro, infra-estrutura, moradia e inovaçom, ciência e tecnologia, colocando quotas específicas de geraçom de emprego a cada umha das descompos-tas máquinas.

O único certo até o momento, sem contar os estragos ainda nom quantifi-cados do inverno, é que o período pre-sidencial de Uribe, segundo os mesmos números enganadores do DANE, é que a taxa de desemprego numha época de alta ocupaçom como o foi o trânsito de ano 2009 a 2010, até fevereiro era de 12,8%, o qual nom melhorou durante o curso do ano que acaba de culminar. Por entom, a populaçom ocupada foi 18,9 milhons; a desocupada 2,7 milhons, e a inativa 13 milhons de pessoas, com o detalhe de que durante aquele período móvel de transi-çom a maior participaçom de ocupaçom se registava no chamado “trabalho por conta própria (43,5%); isto é trabalho em atividades sem estabilidade laboral nem

garantias sociais nos espaços de informa-lidade como comércio, hotelaria e restau-rantes, nos quais se ocupavam 27,1% do total dos trabalhadores.

2010 foi sem dúvida um lapso em que o que se registou foi uma tendência à precarizaçom do mercado de trabalho co-lombiano, ao ponto que o DANE expressou que de cada 100 trabalhadores ocupados, 58 som informais (11 milhons aproxima-damente); o que equivale a que mais ou menos 63,4 por cento da populaçom eco-nomicamente ativa (13,7 milhons de pes-soas que vendem a sua força de trabalho) trabalha em condiçons de precariedade.

Porém, Santos trata de dar base à sua ilusom expressando com um programa de bolsas para que a juventude posponha a sua entrada ao mercado laboral, com a mudança das isençons tributária ao capi-tal por isençons a quem crêem emprego e eliminando aportes parafiscais que en-carecem a mao de obra, poderia-se coad-juvar a baixar o desemprego, como se no primeiro caso a maioria dos jovens que acedem à U nom tivessem que trabalhar nom só para pagar as suas matrículas, como também para sobreviver eles e as suas famílias; ou como se a lei 50 de refor-ma laborais já nom tivesse marcado umha nefasta experiência de “flexibilizaçom” que se converteu em sobre-exploraçom sem gerar emprego verdadeiro de nen-gum tipo. Geralmente as isençons de um ou outro tipo nom som mais do que bene-fícios para os capitalistas e nom soluçons para os quase 2.700.000 desempregados que di o DANE existem em Colômbia e que coloca ao país no nível da mais alta taxa de desocupaçom da América Latina, facto que nom variou nem ainda se considera-mos o cacarejado e falso crescimento eco-

nômico que se diz se produziu durante o governo de Uribe.

Segundo o Plano do presidente Santos a ideia é colocar o nível do desemprego por embaixo de 9% no ano 2014 e de 6% no 2020. Referirá-se Santos à conserva-dora percentagem média do desemprego estrutural que costumam medir os expe-rientes considerando que nunca está por abaixo de 7 e 8%? Ou se referirá ao con-junto da precariedade laboral que se come vivos aos 13.7 milhons de pessoas que integram a populaçom economicamente ativa?, referirá-se aos 11 milhons de in-formais dos quais falou o DANE?

Santos deveria tomar em conta que o famoso crescimento econômico de Uribe e no que o mesmo estabelece as suas espe-ranças para projetar as falácias do 2014 e do 2020, deu-se basicamente no capítulo da grande mineraçom e outros menores, onde desafortunadamente nom se gerou nem se gerará maior quantidade de postos de trabalho, que além disso existe a expe-riência de que o crescimento mineiro impli-cou umha revaluaçom do peso que subiu o custo da mao de obra em arredor de 40%. De resto, cada dia regista-se um aumento da populaçom em idade de trabalhar sem que existam projeçons claras de ocupaçom de ficar cessante. O único que se enxerga, segundo o discurso vende pátria neoliberal e da chamada “segurança inversionista” espalhado por Uribe e endeusado por San-tos é um atrativo para as grandes trasna-cionais mineiras que quase em nada contri-buiriam para resolver a grave situaçom do desemprego precário e a informalidade ou desemprego disfarçado.

Do Bloco Martín Caballero, reiteramos a nossa insistente busca de umha saída dialo-gada ao conflito político e social armado que

padece a Colômbia. Isso terá que passar por encontrar soluçons a estes e aos antigos problemas que sofre o povo colombiano, o qual só se conseguirá mediante a luita de-cisiva, construindo umha nova alternativa política que junte forças e propósitos em pos da democracia em justiça, liberdade e paz.

Situaçom militar do conflitoA data do accionar militar das FARC

no ano 2010 -sem relacionar os partes que culminam com SDR, ou Se Desconhecem Resultados- estabelece a execuçom da mais de 2.300 açons militares ou choques armados do que produzirom 2.075 mortos nas filas do exército, a polícia e os parami-litares, 2.242 feridos e 21 desaparecidos, para um total de 4.338 baixas nas tropas oficiais, além de 75 helicópteros avaria-dos, 1 derrubado, 19 avionetas e um aviom impactados, bem como 11 lanchas artilha-das e 2 barcos, mais um sem número de prisioneiros que fôrom deixados em liber-dade sem contraprestaçom algumha. Em contraste, o general Álvaro Valencia To-var, porta-voz da institucionalidade do re-gime, informou recentemente sobre 2.516 baixas mortais, 2.242 feridos e 21 desapa-recidos dentro das forças do regime, que somariam um total de 4.779 baixas, o qual indica a necessidade inadiável de procurar soluçons urgentes ao desangre nacional, enquanto avança incontrolável a grande crise sistémica do capitalismo que exige o passo, através da luita generalizada, de um novo ordem social, mais justo, em de-mocracia verdadeira e liberdade.

Juramos vencer e venceremos!

Jesús Santrich é integrante do Estado Maior

Central das FARC-EP

Na Colômbia nom existe controlo al-gum que permita estabelecer as possibi-lidades reais em termos econômicos dos programas que os candidatos às altas magistraturas prometem durante suas campanhas, incluindo as promessas que costumam escuitar-se durante as campa-nhas presidenciais. Assim, qualquer um pode desbocar-se em demagogia e enga-nos frente aos seus eleitores.

A recente reuniom de janeiro de 2011 do Estado Maior do Bloco Martín Caballero das FARC-EP analisou alguns problemas re-lacionados com esta verdade. As reflexons realizam-se em momentos em que, como em todo o país, na Costa Caribe, a profun-da crise humanitária derivada da guerra imposta polo regime, se agrava em propor-çons ainda nom bem quantificadas como conseqüência da terrível onda invernal que causou desastres como a ruptura do Canal do Dique, a inundaçom de mais de um mi-lhom de hectares cultivados, a destruiçom de moradias em mais de 30 mil unidades… e, enfim, a geraçom do ao menos o 70% dos danos e pessoas atingidas de todo o país, os quais no seu conjunto poderiam somar nom menos de 2,5 milhons de vítimas. Fren-te a esta realidade, o EMB prevê a ascen-som do protesto social e a necessidade de estar à altura da conduçom, enfrentando com realismo a demagogia governamental desmobilizante que fala de reformas inve-rossímeis ou enganosas dentro de umha política guerreirista e de esbanjamento militar, como a Lei de restituiçom de terra e a de reparaçom de vítimas, a de geraçom de emprego e primeiro emprego, a de cons-truçom do milhom de moradias, etc. Com um orçamento que esquilma o investimento social real, engrandece o endividamento e fai prever ajustes fiscais e tributários que

As FARC-EP infringírom em 2010 mais de quatro mil baixas às forças militares da oligarquia

Edita: Primeira Linha. Redacçom: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589 / www.primeiralinha.orgConselho de Redacçom: Comité Central de Primeira Linha. Fotografia: Arquivo Abrente. Correcçom lingüística: Galizaemgalego. Maqueta: ocumodeseño. Imprime: Litonor S.A.L. Encerramento da ediçom: 8 de março de 2011Correspondência: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Correios electrónicos: [email protected] / [email protected] / Tiragem: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta.Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados.

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Miguel Nicolás Aparício

Módulo 9

Prisom da Lama

Lama · Galiza

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