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Questão da Autonomia do Abuso do direito
Em que medida o abuso do direito é autónomo em relação aos restantes actos ilícitos?
Ilicitude Abuso
Violação directa e frontal direito;Ultrapassagem dos limites lógico-formais de uma prerrogativa individual;Responsabilidade Civil e Criminal
Exercício do direito para a violação da intenção normativa do mesmo;Desrespeito pelos respectivos limites axiológico-materiais;Responsabilidade Civil
(*Não é correcto partir da sanção como critério para distinção entre os actos ilícitos e abusivos, pois se se considera que o abuso do direito nem sempre acarreta responsabilidade civil, há igualmente casos referentes a actos ilícitos que também não transportam responsabilidade civil: os casos em que não há prejuízos.
Assim sendo, não é da especificidade da sanção que se deve partir para a autonomia dogmática do acto abusivo, mas sim da construção científica do abuso direito para a determinação da sanção que o abuso do direito lhe faz corresponder.)
Tipologia dos actos abusivos
. Exceptio DoliO acto abusivo centra-se no dolo por parte de um dos sujeitos no momento da
formação da situação jurídica ou no momento da discussão da causa. Trata-se da invocação por parte daquele contra quem uma posição jurídica ou direito é exercido, de que o respectivo titular actua contra boa fé, com a consequência de paralisar o exercício.
. Venire contra factum proprium“Venire” traduz o princípio da não contradição: o agente fica adstrito a não
contradizer o que primeiro fez ou disse.Está relacionado com a Teoria da Confiança - o “venire” propõe um reforço da
protecção das expectativas das partes.Daí a sua relação com a Teoria Negocial, no sentido em que releva o primeiro
comportamento do agente, a forma como este se propôs actuar, como pressuposto fundamental para o cumprimento do negócio.
. As inalegabilidades formaisHá abuso do direito quando a nulidade de um negócio, por inobservância da
forma legal, é invocada por quem a propositadamente provocou, gozando por determinado tempo da aparência desse negócio.
.Suppressio e a SurrectioA Suppressio traduz uma situação em que uma pessoa, por não ter exercido uma
posição juridica durante um certo tempo, não possa exercê-la mais, pois atenta contra a boa fé. Aproximou-se bastante das Teorias da Renúncia, da Confiança, e da Repercussão do Tempo nas relações juridicas.
A Surrectio traduz a posição jurídica inversa: quando uma pessoa, por força da boa fé, vê surgir na sua esfera jurídica uma possibilidade que, de outro modo, não lhe assistiria.
. Tu quoqueAquele que viola uma norma jurídica não pode tirar partido dessa violação,
exigindo, a outrem, o acatamento das consequências daí resultantes.
O desequilíbrio no exercícioa) Exercício danoso inútil – é abusivo o exercício inútil de um direito, apenas
para provocar danos na esfera de pessoa alheia;b) Dolo agit qui petit quod statim redditurus est – è contrário à boa fé exigir
aquilo que depois se deve restituir;c) Desproporcionalidade – é abusiva a desproporcionalidade entre a vantagem
do titular no exercício do direito e o sacrifício imposto a outrem.
A sanção no abuso do direito
Neste casos, a mera Indemnização Pecuniária pelos danos causados considera-se insuficiente ou inútil, sendo necessárias medidas mais eficazes para a prevenção de posteriores actos abusivos. Neste sentido, encontramos a Reparação Natural, que consiste na reposição total das coisas no estado em que estavam antes dos actos abusivos. Assim, a Reparação Natural envolve não só a indemnização pelos prejuízos, mas também uma reparação em espécie, ou seja, a destruição dos factos em que consta o abuso.
No referente ao dever de indemnizar, é unânime que, uma vez que o abuso do direito consiste num acto antijurídico através do qual muitas vezes há prejuizos para terceiros, existe o dever de indemnizaçao. Especificamente nos actos abusivos, encontramos a culpa subentendida no dever de não abusar no exercicio de certo direito, sendo ilegítima essa vontade propositada de prejudicar outrem, e, portanto, susceptível de um juízo de censura a título de culpa.
Por último, consideramos que a indemnização pelo abuso do direito não deve ter apenas em conta o prejuízo a reparar, mas também a culpa do lesante, ou seja, não só o elemento objectivo da ilicitude (a prática de acto ilícito), mas também o elemento subjectivo (o juízo de censura sobre a própria vontade do agente).