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15ª Promotoria de Justiça da Comarca de Anápolis 9ª Promotoria de Justiça da Comarca de Anápolis Defesa de Meio Ambiente, Urbanismo e Patrimônio Cultural Curadoria de Saúde, Fundações e Entidades com Fins Sociais EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL DA COMARCA DE ANÁPOLIS – GO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio da 15ª Promotoria de Justiça e 9ª Promotoria de Justiça da Comarca de Anápolis, com fundamento no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, artigo 5º, inciso I, da Lei nº 7.347/1985, artigo 25, IV, “a” da Lei nº 8.625/1993, artigo 50 e seguintes do Código Civil, no Decreto-Lei nº 41/1966, no Código de Processo Civil e demais dispositivos legais aplicáveis à espécie, bem como no incluso Inquérito Civil Público nº 201500404232, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor a presente: AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA DISSOLUÇÃO DE ENTIDADE CIVIL com pedido liminar em face de: PATRULHA AMBIENTAL DE INTELIGÊNCIA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 09.290.278/0001- 15, representada atualmente por seu Presidente, WALTER ALVES BARBOSA, com sede na Rua “L”, Quadra 19, Lote 06, Bairro São Joaquim, neste Município de Anápolis/GO, com base nos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos. ____________________________________________________________________________________________________ Avenida Senador José Lourenço Dias, nº 1.548, 1º Andar, Sala 102, Centro, Anápolis/GO, CEP: 75020-010 Telefone: (62) 3329-5826 / E-mail: [email protected] 1

AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA DISSOLUÇÃO DE ENTIDADE … · Anápolis em virtude da sede da “Patrulha Ambiental de Inteligência” estar localizada nesta cidade de Anápolis (fls

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15ª Promotoria de Justiça da Comarca de Anápolis 9ª Promotoria de Justiça da Comarca de AnápolisDefesa de Meio Ambiente, Urbanismo e Patrimônio Cultural Curadoria de Saúde, Fundações e Entidades com Fins Sociais

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL

DA COMARCA DE ANÁPOLIS – GO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por

intermédio da 15ª Promotoria de Justiça e 9ª Promotoria de Justiça da Comarca de

Anápolis, com fundamento no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, artigo

5º, inciso I, da Lei nº 7.347/1985, artigo 25, IV, “a” da Lei nº 8.625/1993, artigo 50 e

seguintes do Código Civil, no Decreto-Lei nº 41/1966, no Código de Processo Civil e

demais dispositivos legais aplicáveis à espécie, bem como no incluso Inquérito Civil

Público nº 201500404232, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor

a presente:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA DISSOLUÇÃO DE ENTIDADE CIVIL

com pedido liminar

em face de:

PATRULHA AMBIENTAL DE INTELIGÊNCIA, pessoa jurídica

de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 09.290.278/0001-

15, representada atualmente por seu Presidente, WALTER

ALVES BARBOSA, com sede na Rua “L”, Quadra 19, Lote 06,

Bairro São Joaquim, neste Município de Anápolis/GO,

com base nos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.____________________________________________________________________________________________________

Avenida Senador José Lourenço Dias, nº 1.548, 1º Andar, Sala 102, Centro, Anápolis/GO, CEP: 75020-010Telefone: (62) 3329-5826 / E-mail: [email protected]

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15ª Promotoria de Justiça da Comarca de Anápolis 9ª Promotoria de Justiça da Comarca de AnápolisDefesa de Meio Ambiente, Urbanismo e Patrimônio Cultural Curadoria de Saúde, Fundações e Entidades com Fins Sociais

I – DOS FATOS

A 15ª Promotoria de Justiça da Comarca de Anápolis, com

atribuição na defesa do meio ambiente, urbanismo e patrimônio cultural, recebeu,

em dezembro de 2015, peças informativas encaminhadas pela 8ª Promotoria de

Justiça de Goiânia noticiando que a Srª. Dina Raquel da Silva Carneiro teria sido

autuada, por agentes do IBAMA, no dia 02.07.15 (fls. 07), pela posse de espécimes

de cobras que eram utilizadas em dança exótica na Boate situada na Rua C-159,

Qd. 279, Lt. 10, Bairro Jardim América, na cidade de Goiânia/GO, onde aquela

prestaria serviços de dançarina, a qual teria apresentado, na ocasião, quatro

“Termos de Depósito de Animal Silvestre”, emitidos pela Associação Civil

denominada “Patrulha Ambiental de Inteligência” (PAI), sediada nesta cidade de

Anápolis, que não constitui Órgão Público competente para a expedição desses

documentos (fls. 13/21 e 34/36).

Apurou-se que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) encaminhou cópia do Processo

Administrativo nº 02010.001289/2015-85 ao Ministério Público do Estado de Goiás

para análise e adoção de providências quanto à suspeita de crime ambiental e

usurpação de função pública1 por parte dos agentes da Associação-ré (fls. 04/41),

em razão da emissão de Termos de Guarda de Animais Silvestres, Nativos e

Exóticos a particular mediante pagamento (fls. 04/41), havendo a 8ª Promotoria de

Justiça de Goiânia determinado o envio dos autos a 15ª Promotoria de Justiça de

Anápolis em virtude da sede da “Patrulha Ambiental de Inteligência” estar localizada

nesta cidade de Anápolis (fls. 48).

1 Código Penal - Art. 328. Usurpar o exercício de função pública:Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.____________________________________________________________________________________________________

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Consta no Relatório elaborado pelo IBAMA (fls. 38-verso), que a

autuada Dina Raquel pagou à ré a quantia de R$ 700,00 (setecentos reais) pelos

Termos de Guarda dos animais e pela carteira de militante da referida associação,

cujo trecho abaixo se destaca:

A interessada apresentou ainda, uma Carteira de MilitanteFiscal/Defesa Florestal, emitida pela ONG, com Registro nº21.135.265, atribuindo a interessada o cargo de “Promotora deEventos Educativos”, na qual consta o seguinte texto: “Faço saber asautoridades civis e militares que o portador desta é integrante doserviço sigiloso da ONG “Patrulha Ambiental de Inteligência” (EstatutoSocial da Lei do Voluntário de nº 9.608 de 18/02/1998). Através destapedimos todo apoio em defesa da fauna e flora. Sob o Art. 225 daConstituição Federal. A carteira está assinada pelo Sr. José BarbosaFilho, Diretor Administrativo.De acordo com a interessada, ela pagou R$ 700,00 pelos Termosde Guarda e pela carteira de militante, emitidos pela ONG em 17de junho de 2015. A interessada declarou ainda que, de acordocom o representante da ONG, os documentos eram legais eque a mesma não teria nenhum problema com afiscalização ambiental. A equipe orientou a interessada aprocurar a Delegacia de Meio Ambiente-DEMA, e registrar o boletimde ocorrência em desfavor da ONG, pela cobrança e emissão dosdocumentos sem valor legal para os fins propostos. (Grifo nosso)

Então, a 15ª Promotoria de Justiça de Anápolis instaurou o

inquérito civil público incluso para apurar os fatos, notadamente a emissão de

documentos exclusivos da Administração Pública pela Associação Civil-ré, em

flagrante desvirtuamento de suas finalidades estatutárias (fls. 02/03), requisitando,

inicialmente, ao Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas competente a cópia do

Estatuto daquela entidade (fls. 50/51), a qual foi juntada às fls. 53/73.

Da análise do Estatuto da entidade civil, verifica-se que a

Patrulha Ambiental de Inteligência foi constituída na data de 04.01.2008, possuindo

como objetivos de acordo com o seu artigo 4º:

CAPÍTULO TERCEIRO

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Dos objetivosArt. 4º – A “PATRULHA AMBIENTAL DE INTELIGÊNCIA” tem porfinalidade apoiar e desenvolver ações para a defesa, elevação emanutenção da qualidade de vida do ser humano e do meioambiente, através das atividades de educação profissional, especial eambiental.Parágrafo Primeiro – Para a consecução de suas finalidades, a“PATRULHA AMBIENTAL DE INTELIGÊNCIA” poderá sugerir,promover, colaborar, coordenar ou executar ações e projetos visando:I – preservação, defesa e conservação do meio ambiente e promoçãodo desenvolvimento sustentável;II – promover e incrementar intercâmbios, campanhas, estudos,pesquisas, propostas, programas e mobilização popular pacífica parafins específicos de melhoria das condições ambientais e da qualidadede vida;III – promover educação ambiental e valorização humana;IV – proporcionar, a toda forma de vida, proteção e representaçãolegal junto às autoridades constituídas;V – colaborar com os poderes públicos, dando sugestões,participando de eventos, comissões e auxiliando nas fiscalizações;VI – realizar parcerias com entidades governamentais ou nãogovernamentais visando cumprir os presentes fins;VII – dar publicidade ao trabalho desenvolvido pela entidade,principalmente através de periódico especialmente criado para estefim;VIII – firmar contratos, convênios ou quaisquer outras modalidades deajustes com pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou internacionais,visando cooperação recíproca;IX – o direito de pesquisas ambientais, sociais, tecnológicas eteológicas, e também o direito de exercer o livre pensamento;X – promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos,da democracia e de outros valores universais.Parágrafo Segundo – A dedicação às atividades acima previstasconfigura-se mediante a execução direta de projetos, programas,planos de ações correlatas, por meio da doação de recursos físicos,humanos e financeiros, ou ainda pela prestação de serviçosintermediários de apoio a outras organizações sem fins lucrativos e aórgãos do setor público que atuem em áreas afins.

Denota-se, pois, que a referida entidade não constitui órgão da

Administração Pública, não podendo praticar atos de competência exclusiva ou

privativa desta, como fiscalizações, apreensões e autuações por crimes ambientais,

muito menos emitir documentos “autorizando” particulares a manter sob sua guarda

animais silvestres e protegidos por lei, ainda mais mediante cobrança pela emissão

destes documentos.____________________________________________________________________________________________________

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Entretanto, além do fato que resultou na instauração do inquérito

civil público que instrui a presente ação, cumpre ressaltar que esta 15ª Promotoria

de Justiça já recebeu, anteriormente, algumas representações de cidadãos,

questionando a atuação dessa entidade, uma vez que os seus “militantes” estariam

agindo, neste Município de Anápolis e região, com práticas similares aquelas dos

órgãos fiscalizatórios competentes, causando confusão nas pessoas, principalmente

naquelas residentes na zona rural e com pouco conhecimento, pois utilizam

uniformes semelhantes a militares, o que resultou na instauração de outro

procedimento investigatório nº 201200370255, cujas cópias dos principais atos

foram juntadas às fls. 76/109.

Com efeito, no mês de abril de 2012, a antiga Secretaria

Estadual do Meio Ambiente (SEMARH) encaminhou cópia de Relatório de

Fiscalização, informando que ao proceder a autuação de um cidadão por prática de

infração administrativa (comercialização de material de pesca predatória),

apreendeu com este uma “carteira de militante da Patrulha Ambiental de

Inteligência”, solicitando a abertura de investigação sobre a regularidade desta

entidade (fls. 80/85).

Do mesmo modo, o Juiz titular do 1º Juizado Especial Criminal

desta Comarca de Anápolis encaminhou expediente a esta Promotoria de Justiça

para apuração da existência de associações civis com caráter paramilitar e

nomenclatura de instituições oficiais do Estado (fls. 86), as quais utilizariam,

indevidamente, símbolos nacionais e uniformes idênticos aos dos militares, em clara

afronta à legislação pátria, que restringe a estes últimos o uso de uniformes das

Forças Armadas, bem como de símbolos oficiais, o que ensejou, à época, a

instauração de procedimento próprio para apurar a regularidade dessas associações

(fls. 76/77).

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No curso do mencionado procedimento, apurou-se que

realmente a “PATRULHA AMBIENTAL DE INTELIGÊNCIA” utilizaria, indevidamente,

uniformes idênticos aos dos militares, além de nomenclatura semelhante a

instituições estatais, bem como práticas similares aquelas dos órgãos fiscalizatórios

competentes podendo causar confusão nos cidadãos.

As fotografias abaixo, extraídas do próprio sítio da entidade

(www.patrulhaambientaldeinteligencia.com), ilustram bem essas afirmações:

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Diante da vedação legal expressa às organizações civis, inserta

no art. 76 da Lei Federal nº 6.880/80 (Estatuto dos Militares) e nos arts. 71 e 74 da

Lei Estadual nº 8.033/75 (Estatuto dos Policiais-Militares do Estado de Goiás), o

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Ministério Público notificou o representante legal da Associação ré, o qual celebrou,

em 05.02.13, Termo de Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta

– TAC, com esta Promotoria de Justiça, visando a adequação das atividades da

associação à legislação pertinente (fls. 88/92).

No referido TAC assinado pela Patrulha Ambiental de

Inteligência, as obrigações assumidas foram as seguintes:

Cláusula Segunda – A compromissária assume o compromisso e aresponsabilidade na OBRIGAÇÃO DE FAZER consistente em:

2.1. Modificar o nome da Associação de “Patrulha Ambiental deInteligência”, substituindo por outro que não seja confundido com aatividade policial;2.2. Reformular os símbolos da Associação para outra formageométrica que não seja o emblema oficial;2.3. Retirar dos “Certificados de Bolso” ou carteiras de identificaçãodos Associados o Brasão das Armas e a tarja em verde e amarelo,ficando estabelecido que os documentos antigos serãogradativamente substituídos quando da renovação de sua validade;2.4. Modificar os uniformes e coletes utilizados pelos associados,retirando todos os símbolos nacionais, as designações de “Fiscal” e“Agente”, além de cores similares aquelas utilizadas nos uniformes dePoliciais Militares e do Exército Nacional. 2.5. Substituir as plotagens dos veículos da associação pela novadesignação que será discutida em assembleia.Parágrafo único. A compromissária deverá comprovar até o dia 30 dejunho de 2013, a realização de todas as alterações previstas nascláusulas anteriores, devendo apresentar, antes da confecção dasartes e uniformes remodelados, o novo material perante acompromitente.Fica estabelecido que o compromissário terá o prazo de 12 (doze)meses, a contar da presente data, para comprovar a alteraçãodefinitiva do “nome empresarial” perante o Cadastro Nacional dePessoa Jurídica.

Contudo, a referida entidade não apresentou, perante esta

Promotoria de Justiça, no curso dos 04 (quatro) meses antes do vencimento do

prazo final estipulado no TAC, o novo material para confecção das artes e uniformes

remodelados, conforme estipulado no parágrafo único da cláusula segunda e, ao

término do prazo para o cumprimento do termo, ou seja, 30.06.13, não houve____________________________________________________________________________________________________

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qualquer manifestação por parte da Associação, descumprindo as cláusulas

assumidas e continuando na prática fiscalizatória alheia aos seus objetivos sociais,

reforçado, agora, pela notícia encaminhada pelo IBAMA.

Então, o Ministério Público promoveu a execução do referido

Termo de Ajustamento de Conduta, (Autos nº 201300358711), a qual se encontra em

tramitação perante a Vara da Fazenda Pública Municipal, de Registros Públicos e

Ambiental desta Comarca de Anápolis (fls. 97/109).

Apurou-se, ainda, que recentemente os “militantes” da

Associação Civil ré apreenderam, em 17.11.15, um papagaio na residência da

senhora Neide Pereira de Sousa (fls. 49), neste Município, a qual acreditou se tratar

de órgão de fiscalização ambiental, pois o “militante”, de nome Felício, disse-lhe que

somente poderia recuperar a guarda do animal com ordem judicial.

Ainda, são várias as notícias trazidas, via telefone, que os

“militantes” estariam “fiscalizando” comércios na cidade de Anápolis e se

apresentando como “delegados”, fazendo com que os cidadãos “abordados”

acreditem se tratar de Delegados de Polícia Civil, conforme Atendimento registrado

às fls. 74, cujo cidadão não quis se identificar, o qual narrou o seguinte:

O atendido informou que é empresário e recebeu uma visita de umsenhor se identificando como Delegado e solicitando notas fiscais desuas mercadorias. Ao indagar qual era sua Delegacia, o senhor disseque era Delegado da Patrulha Ambiental de Inteligência, apresentandouma carteirinha da Patrulha Ambiental de Inteligência. O “Delegado”solicitou dinheiro para não adotar as providências cabíveis, masquando o atendido disse que chamaria seu advogado para tratar dasituação, o falso “Delegado” disse que não precisava e saiurapidamente do estabelecimento.

Conclui-se, pois, que a entidade civil ré desvirtuou

completamente as suas atividades, passando a atuar como se fosse órgão

fiscalizatório e, o que é mais grave, emitindo documentos privativos da____________________________________________________________________________________________________

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administração pública, apreendendo animais do interior de residências, exigindo

documentação de particulares, constituindo, atualmente, uma ameaça aos cidadãos

e à ordem pública, ainda mais que vem comercializando coletes, carteiras e

cobrando pela emissão de documentos, obtendo lucro ilegal.

Portanto, não resta alternativa ao Ministério Público senão a

propositura da presente ação visando a extinção da entidade, tendo em vista o

desvirtuamento de suas finalidades estatutárias.

II – DIREITO

II.1 Da Legitimidade Ativa do Ministério Público

De acordo com o disposto no artigo 129, inciso III da

Constituição Federal de 1988, está entre as funções institucionais do Ministério

Público a promoção de ação civil pública para a proteção dos de interesses difusos e

coletivos, in verbis:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:[…]III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteçãodo patrimônio público e social, do meio ambiente e de outrosinteresses difusos e coletivos;

Por seu turno, o art. 25, IV, “a” da Lei Federal nº 8.625 de 1993

(Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) assim dispõe:

Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal eEstadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, aoMinistério Público:[…]IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados aomeio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico,

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estético, histórico, turístico e paisagístico, e a outros interessesdifusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;

A presente ação visa tutelar os interesses difusos e coletivos dos

moradores de Anápolis e região, que não estão sendo devidamente representados

ou beneficiados pela Associação acionada, a qual vem exercendo atividades

incompatíveis com os seus objetivos sociais.

Ademais, a ação em comento objetiva também consolidar

juridicamente – pela extinção da pessoa jurídica – situação já vivenciada de fato,

qual seja, o exercício de atividades exclusivas da Administração Pública, evitando-se

assim o uso da entidade para fins espúrios, com evidente prejuízo a terceiros.

Sobre o tema, colaciona-se o seguinte julgado:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. GESTÃOFRAUDULENTA DE CLUBE DE FUTEBOL (ATLÉTICO MINEIRO).ASSOCIAÇÃO COM PERSONALIDADE DE DIREITO PRIVADO.OFENSA REFLEXA AO SISTEMA BRASILEIRO DO DESPORTO.ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. 1. É entendimentodesta Corte a legitimidade do Ministério Público para proporação civil pública em defesa do patrimônio público, conceito queabrange aspectos material e imaterial, quando há direta lesão aobem jurídico tutelado. 2. Somente de forma reflexa é atingido opatrimônio cultural, quando fraudada organização desportiva privada.3. Inadequação da ação civil pública e ilegitimidade ativa ad causamdo Ministério Público para a defesa do patrimônio ofendido. 4.Recurso Especial não conhecido. (Superior Tribunal de Justiça STJ;REsp 1.041.765; Proc. 2008/0061230-6; MG; Segunda Turma; RelªMinª Eliana Calmon Alves; Julg. 22/09/2009; DJE 06/10/2009) (Grifonosso)

Acresça-se o perigo que uma Associação constituída

juridicamente, mas sem cumprir os seus objetivos sociais pode causar quando

utilizada para usurpar função pública, em prejuízo não somente à comunidade como

também ao patrimônio público, podendo causar, ainda, diversos males a terceiros de

boa-fé.

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Considerando, ainda, que a Associação é entidade de interesse

social sediada neste Município de Anápolis, cabe ao Ministério Público acompanhar

o seu funcionamento e promover a sua extinção nos casos previstos em lei.

Neste aspecto, o Decreto-Lei nº 41/1966, que dispõe sobre a

dissolução de sociedades civis de fins assistenciais, estabelece o seguinte:

Art 2º A sociedade será dissolvida se:

I - Deixar de desempenhar efetivamente as atividades assistenciais aque se destina;

Art 3º Verificada a ocorrência de alguma das hipóteses do artigoanterior, o Ministério Público, de ofício ou por provocação de qualquerinteressado, requererá ao juízo competente a dissolução dasociedade.

Deste modo, afigura-se assaz legítima, a atuação do Ministério

Público para o oferecimento da presente ação civil pública.

II.2 Da Definição e Existência Legal das Associações

O art. 53 do Código Civil Brasileiro traz a definição de

associação nos seguintes termos:

Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que seorganizem para fins não econômicos.

Trata-se, portanto, de modelo organizacional pelo qual pessoas

naturais ou jurídicas se unem em busca de objetivos demandados pela coletividade,

não atrelados à lucratividade. Dada a sua índole congressional, o formato

associativo decorre, exclusivamente, de ato inter vivos.

O direito de se reunir associativamente para fins lícitos insere-se

– como não poderia deixar de ser num Estado que se intitule Democrático – entre os

____________________________________________________________________________________________________

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direitos e garantias fundamentais do cidadão (art. 5º, XVII a XXI, Constituição da

República), restando expressamente vedada qualquer interferência estatal nos atos

de gestão das entidades compostas por pessoas (art. 5º, XVIII).

As relações sociais, mesmo de uma entidade privada, devem ser

analisadas sem se abster de verificar seus impactos sociais; no caso, o

administrador tem o dever não somente com a associação que administra, mas

também com toda coletividade, nos limites de seus atos.

A existência legal de associações, como a de todas as pessoas

jurídicas de direito privado, consolida-se com a inscrição de seus atos constitutivos

no órgão público de registro (art. 45 do Código Civil, arts. 114 e 119, Lei nº 6.015/73

– Lei de Registros Públicos) – no caso específico, Cartório de Registro Civil de

Pessoas Jurídicas.

Em determinadas áreas de atuação, exige-se, além do registro,

autorização estatal para a constituição de tais entidades (arts. 45, in fine e 51, caput

do Código Civil).

II.3 Dos Atos Constitutivos

Como é cediço, a constituição de associação depende de

vontade congregada, orientada à consecução de fins lícitos, determinados e

socialmente relevantes, a qual deve se exprimir com observância das seguintes

regras:

1) a reunião em que definida a criação da entidade haverá de ser transcrita em ata,

da qual constarão: local e data de realização; qualificação, com nome, estado civil e

endereço, bem como as assinaturas de todos os participantes; especificação dos

objetivos da entidade; designação de cargos de administração e fiscalização da

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futura pessoa jurídica e indicação dos responsáveis pelos demais atos necessários à

aquisição de personalidade jurídica;

2) os instituidores deverão estabelecer, em estatuto, as regras para o funcionamento

da entidade. A lei estabelece algumas exigências, sem as quais o ato não será

registrado ou, se o for, será tido como nulo. É o que se extrai dos arts. 54 do Código

Civil e 120 da Lei Federal nº 6.015/1973, sem prejuízo de outros condicionamentos

contidos em atos normativos específicos.

Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:I - a denominação, os fins e a sede da associação;II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dosassociados;III - os direitos e deveres dos associados;IV - as fontes de recursos para sua manutenção;V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãosdeliberativos;VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e paraa dissolução.VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivascontas.

Art. 120. A existência legal das pessoas jurídicas só começa com oregistro de seus atos constitutivos.Parágrafo único. Quando o funcionamento da sociedade depender deaprovação da autoridade, sem esta não poderá ser feito o registro.

Ainda, por força do art. 1º, § 2º, da Lei Federal nº 8.906/1994, o

documento deverá ser subscrito por advogado devidamente habilitado junto à

Ordem dos Advogados do Brasil;

3) os atos constitutivos (ata, eventuais procurações, estatuto) deverão ser levados a

registro perante o Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas da comarca em

que terá sede a nova pessoa jurídica;

4) imperioso, por fim, que os instituidores e administradores, se pessoas naturais,

sejam plenamente capazes e, se pessoas jurídicas, possuam representatividade

legitimada na forma do estatuto.

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Sendo a faculdade associativa direito fundamental do cidadão, a

ser exercido sem ingerência estatal, consoante mandamento constitucional (art. 5º,

XVIII), podem os associados, em termos gerais, estabelecer as regras de

funcionamento da entidade que lhes pareçam mais adequadas.

Entretanto, para que se propicie à máquina estatal zelar pela

manutenção da ordem pública e pela convivência harmoniosa das corporações,

resguardando a esfera de liberdade de cada qual, devem constar dos respectivos

estatutos preceitos básicos, especificados no Código Civil (art. 46) e na Lei de

Registros Públicos (art. 120).

São eles: denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o

fundo social, quando houver; nome e qualificação dos fundadores e dos diretores;

modelo administrativo e forma de representação (ativa e passiva, judicial e

extrajudicial); se os membros respondem subsidiariamente pelas obrigações da

entidade; se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração; hipóteses de

extinção e destino do patrimônio remanescente.

Afora os apontamentos legais, reputamos necessária menção

aos direitos dos associados e aos requisitos para a admissão e exclusão dos

mesmos; às fontes de receita da entidade e ao modo de constituição e

funcionamento dos respectivos órgãos.

Verifica-se que os atos constitutivos da Associação ora

impugnada possuem estas informações, porém tem ocorrido, repetidas vezes, o

desvirtuamento de suas finalidades estatutárias, razão pela qual faz-se necessária a

sua dissolução, com a determinação liminar de suspensão de suas atividades.

Com efeito, a despeito de todas as medidas adotadas pela 15ª

Promotoria de Justiça, com o desiderato de promover o realinhamento às finalidades

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estatutárias da entidade de fins sociais, percebe-se que restaram infrutíferas, na

medida em que, seus dirigentes e associados recalcitraram em práticas que para

muito além de não se amoldarem aos fins originariamente propugnados, também se

identificam como flagrantemente, à margem de diversas leis de regência,

começando pelo exercício írrito de atividade específica de proteção ambiental,

conferida ao Poder Público.

Uma das pedras de toque inerentes às atividades sem fins

econômicos é a sua estrita legalidade, para que, quando for o caso de concorrência

ao fortalecimento de políticas públicas, não haja qualquer dúvida quanto à finalidade

propugnada pelos interessados, no desenvolvimento de ações que agreguem

valores ao interesse público.

No caso em testilha, há flagrante ferimento a tais princípios

norteadores que são da existência da associação demandada.

II.4 Do Controle Exercido pelo Ministério Público

Por vocação constitucional, incumbe ao Ministério Público a

defesa dos interesses maiores da coletividade – ordem jurídica, regime democrático

e interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, caput).

No campo dos direitos sociais, é de destaque a atuação das

instituições do terceiro setor (gênero em que se inserem as associações), com

expressiva repercussão no plexo de interesses de toda a coletividade. Imanente,

pois, a incumbência do parquet de velar por tais entidades, promovendo as medidas

(judiciais e extrajudiciais) necessárias para preservá-los.

A atribuição ministerial, não bastasse escorada em previsão

constitucional, encontra amparo, em seara infraconstitucional, no Decreto-Lei nº

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41/66, que, consoante magistério doutrinário, aplica-se, indistintamente, às

entidades sem fins econômicos, dentre as quais, as associações. A relevância do

mencionado texto legal faz merecer sua integral transcrição:

Art. 1º Toda sociedade civil de fins assistenciais que receba auxílioou subvenção do Poder Público ou que se mantenha, no todo ou emparte, com contribuições periódicas de populares, fica sujeita àdissolução nos casos e forma previstos neste decreto-lei.

Art. 2º A sociedade será dissolvida se:I - Deixar de desempenhar efetivamente as atividadesassistenciais a que se destina;II - Aplicar as importâncias representadas pelos auxílios, subvençõesou contribuições populares em fins diversos dos previstos nos seusatos constitutivos ou nos estatutos sociais;III - Ficar sem efetiva administração, por abandono ou omissãocontinuada dos seus órgãos diretores.

Art. 3º Verificada a ocorrência de alguma das hipóteses do artigoanterior, o Ministério Público, de ofício ou por provocação dequalquer interessado, requererá ao juízo competente adissolução da sociedade.Parágrafo único. O processo da dissolução e da liquidação reger-se-á pelos arts. 655 e seguintes do Código de Processo Civil.

Art. 4º A sanção prevista neste Decreto-lei não exclui a aplicação dequaisquer outras, porventura cabíveis, contra os responsáveis pelasirregularidades ocorridas.

Art. 5º Este Decreto-lei entra em vigor na data de sua publicação,revogadas as disposições em contrário. (Grifou-se)

Ora, se o Ministério Público pode instaurar inquérito civil e

propor a ação civil pública à vista de ilicitudes ou desvios perpetrados em prejuízo

de associações, pode, igualmente, adotar medidas preventivas com o propósito de

evitar que tais males se consumem ou, em outras palavras, exercer o controle social

de tais entidades.

Velar para garantir o cumprimento da lei, dos estatutos e dos

objetivos por parte dos administradores das organizações, jamais interferindo na

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gestão ordinária. Velar para assegurar às pessoas o direito de livre associativismo

para fins lícitos.

II.5 Da Extinção

As associações extinguem-se por deliberação dos associados,

por ação do Ministério Público ou de qualquer interessado, podendo o desfazimento

processar-se administrativa ou judicialmente (arts. 51 e 61 do Código Civil).

Dissolvida a associação, o patrimônio remanescente reverter-se-

á a entidade de fins não-econômicos designada no estatuto ou, omisso este, a

instituição municipal, estadual ou federal de fins idênticos ou semelhantes, a ser

definida pelos associados (art. 61, caput, Código Civil).

Dúvida pode surgir quanto à validade de cláusula estatutária que

estabeleça, em caso de extinção, a destinação do patrimônio remanescente de

associação à entidade com fins econômicos.

Quer-nos parecer que dispositivo assim formulado padeceria de

nulidade, uma vez que implicaria a disposição de patrimônio vinculado ao

atendimento de demanda social, sendo, por consequência, indisponível. A dotação

patrimonial deve, de toda sorte, reverter-se a entidade de fins igualmente

filantrópicos. Terminada a fase de liquidação, deve ser realizado o cancelamento do

registro para que ocorra a extinção definitiva.

III – DA MEDIDA LIMINAR

Como é cediço, para a concessão de medida liminar é

necessário que fiquem demonstrados os requisitos do fumus boni iuris e do

periculum in mora.

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No presente caso, estão presentes a fumaça do bom direito,

evidenciada pelos documentos juntados ao Inquérito Civil Público incluso e o perigo

da demora, já que os danos ocasionados aos interesses difusos e coletivos podem

assumir caráter irreversível diante das condutas arbitrárias praticadas pelos

membros da Patrulha Ambiental de Inteligência.

Nesse sentido, estabelece o art. 12 da Lei da Ação Civil Pública:

Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou semjustificação prévia, em decisão sujeita a agravo.

A respeito da concessão de medida liminar na ação civil pública,

leciona Hely Lopes Meirelles:

Quanto ao processo dessa ação, é o ordinário, comum, do Código deProcesso Civil, com a peculiaridade de admitir medida liminarsuspensiva da atividade do réu, quando pedida na inicial, desdeque ocorram o fumus boni juris e o periculum in mora . (Mandadode Segurança e Ações Constitucionais, 34ª Edição, Malheiros: SãoPaulo, 2012, p. 233-234) (Grifou-se)

O perigo da demora de uma prestação jurisdicional definitiva é

inquestionável, mormente neste caso em que inúmeros cidadãos estão sendo

coagidos pelos “militantes” da Patrulha Ambiental de Inteligência, os quais atuam

com uniformes semelhantes aos dos militares, induzindo as pessoas “abordadas” a

erro, situação recorrente em Anápolis e região, conforme apurado no incluso

inquérito civil público.

A fumaça do bom direito advém das próprias normas

supracitadas que estão sendo infringidas pela entidade ré, mormente os artigos 2º, I

e 3º do Decreto-Lei nº 41/1966.

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Assim, imprescindível a cessação imediata da atividade nociva

ao patrimônio público e social, inclusive sendo desnecessária a justificação prévia

(arts. 11 e 12 da Lei Federal nº 7.347/85).

Igualmente a plausibilidade deste pedido emerge do conjunto

probante em cotejo com os dispositivos legais e constitucionais já analisados, não

sendo crível qualquer justificativa que a ré possam suscitar.

Por esse motivo deve ser expedida ordem para suspensão

imediata das atividades irregulares da associação civil com o recolhimento de

todas as carteiras dos membros da entidade.

Então, devidamente provados o fumus boni iuris e o periculum in

mora, uma vez que a demora na concessão da liminar (suspensão das atividades)

ocasionará ainda mais prejuízo à sociedade.

Deste modo, o Ministério Público requer seja determinada,

liminarmente, a suspensão imediata das atividades da entidade, fixando-se

multa cominatória, em valor a ser arbitrado por este juízo, por dia de

descumprimento, destinado ao Fundo Municipal de Meio Ambiente: Conta-Corrente

nº 426508-4, Agência nº 324-7, Banco do Brasil.

Requer, ainda, a retirada, em prazo a ser assinalado por este

juízo, de todas as plotagens, sirenes, insígnias e designativos constantes nos

veículos da entidade, mediante comprovação a este juízo.

IV – DOS PEDIDOS

Isto posto, na defesa da ordem jurídica, com base na

fundamentação fática e jurídica deduzida nesta peça inaugural, o Ministério Público

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requer a prestação de uma tutela jurisdicional efetivamente protetiva do patrimônio

público e social e, para tanto, apresenta os seguintes pedidos e requerimentos:

1) seja a presente ação recebida, autuada e processada de acordo com o rito

ordinário, observando-se as regras vertidas no microssistema de proteção coletiva

(inaugurado pela conjugação dos arts. 21 da Lei 7.347/85 e 90 da Lei 8.078/90);

2) a citação da ré, na pessoa de seu Presidente, para, querendo, contestar a

presente ação, no prazo legal, sob os efeitos da revelia e suas consequências

jurídicas;

3) que as diligências oficiais sejam favorecidas pelo disposto no art. 172, § 2º, do

Código de Processo Civil;

4) publicação do edital de que trata o art. 94 do Código de Defesa do Consumidor;

5) a comunicação pessoal dos atos processuais, nos termos do art. 236, § 2º, do

Código de Processo Civil, e do art. 41, inciso IV, da Lei nº 8.625/93;

6) a concessão de medida liminar, consistente na suspensão imediata das atividades

exercidas pela PATRULHA AMBIENTAL DE INTELIGÊNCIA, até o julgamento final

da presente demanda;

7) ao final, requer a confirmação do pedido inicialmente formulado para o fim de

determinar a dissolução da associação acionada com o devido cancelamento do

registro, revertendo eventual patrimônio remanescente encontrado à instituição

congênere, legalmente constituída, para ser aplicada nas mesmas finalidades da

associação dissolvida;

8) a condenação da ré ao pagamento das “despesas processuais”.

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Por fim, protesta provar o alegado por meio de todos os meios

de prova em direito admitidos, em especial, pela oitiva de testemunhas a serem

arroladas posteriormente, bem como posterior juntada de documentos.

Observada a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e

encargos, nos termos do art. 18 da Lei nº 7.347/85 e art. 87 do Código de Defesa do

Consumidor, dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais).

Termos em que

Pede deferimento.

Anápolis, 17 de março de 2016.

Marcelo Henrique dos SantosPROMOTOR DE JUSTIÇA

Sandra Mara GarbeliniPROMOTORA DE JUSTIÇA

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