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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE LONDRINA ESTADO DO PARANÁ. GABRIELLE CORCINI BLUM, brasileira, solteira, estagiária, titular da Cédula de Identidade RG nº 11.051.067-5-SSPR e inscrita no CPF/MF sob nº 082.521.439-46, residente e domiciliada na Rua Francisco de Assis - nº 195 - Apto nº 52 – CEP: 86.020-510, na cidade de Londrina – Paraná vem perante Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 186 e 927, do Código Civil e artigo 9º da Lei 9.099/95, propor a presente: AÇÃO REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS em face de CINEMARK BRASIL S.A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n° 00.779.721/0060-00, com filial à AV Theodoro Victorelli , 150 - L, Gleba Patrimonio Boulevard Londrina Shopping, CEP 86.027-750, Bairro Interlagos, Londrina/PR, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE LONDRINA ESTADO DO PARANÁ.

GABRIELLE CORCINI BLUM, brasileira, solteira, estagiária,

titular da Cédula de Identidade RG nº 11.051.067-5-SSPR e inscrita no CPF/MF sob nº 082.521.439-46, residente e domiciliada na Rua Francisco de Assis - nº 195 - Apto nº 52 – CEP: 86.020-510, na cidade de Londrina – Paraná vem perante Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 186 e 927, do Código Civil e artigo 9º da Lei 9.099/95, propor a presente:

AÇÃO REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS

em face de CINEMARK BRASIL S.A, pessoa jurídica de

direito privado, inscrita no CNPJ n° 00.779.721/0060-00, com filial à AV Theodoro Victorelli , 150 - L, Gleba Patrimonio Boulevard Londrina Shopping, CEP 86.027-750, Bairro Interlagos, Londrina/PR, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

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01 – DOS FATOS

No dia 23 de dezembro de 2013, a Requerente, desfrutando de suas merecidas férias escolares, dirigiu-se ao estabelecimento da Requerida, localizado no Shopping Boulevard-Londrina-PR, acompanhada com seu namorado, afim assistir ao filme “O Hobbit: a Desolação de Smaug”.

Para tanto, a Requerente dirigiu-se a bilheteria e comprou o ingresso de meia-entrada no cinema, haja vista ser estudante devidamente matriculada na Universidade Estadual de Londrina (doc. anexo).

Na ocasião, a Requerente, para poder assistir ao filme com mais conforto e lazer, comprou pipoca e água no bombonier (lanchonete) e aguardou na fila a permissão para o ingresso nas salas de cinema.

Ocorre que, no momento da entrada nas salas de cinema, a Requerente foi barrada ao entrar no estabelecimento sob a justificativa que a carteirinha não seria aceita, porque segundo funcionário, o documento estudantil não demonstrava de modo suficiente a condição de estudante.

A justificativa espantou a Requerente, pois outros estudantes estavam entrando nas salas de cinema com a apresentação do mesmo tipo de documento estudantil que a Requerente a portava.

Quando a Requerente tentou argumentar com o funcionário, este foi demasiadamente grosseiro, e sequer ouviu as objeções da Requerente, chamou desde logo o gerente do estabelecimento para resolver a situação.

Ocorre que, quando o gerente chegou, a Requerente tentou o convencê-lo do direito de meia-entrada no cinema, apresentando a carteirinha estudantil e afirmando que não era a primeira vez que se dirigia naquele cinema, sendo que no mês de novembro de 2013, a Requerente já havia assistido a um outro filme com o benefício da meia-entrada (comprovante anexo).

Não bastando os todos os argumentos da Requerente, o gerente do estabelecimento foi extremamente desrespeitoso, afirmou que a carteirinha não poderia ser aceita pois não era documento válido para obtenção do benefício da meia-entrada, disse que a carteirinha do estudante por si só não comprovava que a Requerente estava estudando naquele ano de 2013.

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Depois muita discussão o gerente afirmou que a Requerente e seu namorado estavam tumultuando o estabelecimento, e assim, e tentou intimidá-los dizendo que chamaria os seguranças.

A Requerente diante de toda esta situação constrangedora ficou muito decepcionada por não poder assistir ao filme com o seu namorado, como também ficou muito ofendida pelo tratamento desrespeitoso e ofensivo tanto do funcionário como do gerente na frente de várias pessoas na entrada do cinema.

A Requerente foi tratada como se estivesse tentando burlar o direito de meia-entrada, colocando-se a idoneidade de seu comportamento em dúvida, de público, sendo que a carteirinha de estudante demonstrava de modo claro e preciso a regularidade estudantil.

A Requerente diante do desrespeito da Requerida, saiu do cinema aos prantos com a pipoca e água na mão, teve que ir embora sem sequer ter visto o tão desejado filme. A requerida chegou a devolver o dinheiro, mas isso não foi suficiente para apagar os transtornos e a amargura que Requerente sofreu.

Diante desses fatos Excelência, não restam dúvidas, que há de se impor o dever de indenizar, pois sobreveio o dano moral, provocado em razão da conduta da ré, diante de uma relação de consumo com falhas evidentes no serviço prestado.

Trata-se neste caso concreto, de responsabilidade objetiva a

luz do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor. Assim, requer seja julgado procedente a presente ação,

condenando o requerido em reparar a parte autora em danos morais decorrentes do ato ilícito. 02 – DO DIREITO 2.1 – DO DIREITO A CULTURA

A cultura é direito fundamental previsto no artigo 215 da Constituição Federal de 1988. Neste sentido, no campo cultural, assegura-se à pessoa o acesso aos bens culturais, como forma de promoção do desenvolvimento humano social e econômico.

É função do Estado garantir aos cidadãos o pleno exercício dos

direitos culturais e facilitar o acesso às fontes de cultura nacional (art. 216, § 3º, da Constituição Federal).

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2.2 LEGISLAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ

A Lei Estadual nº 11.182/2005 assegura o pagamento de metade do valor efetivamente cobrado para ingresso em cinema. Consoante à dicção do artigo 1º da referida lei. Verbis.

Art. 1º. Fica assegurado o pagamento de metade do valor efetivamente cobrado para ingresso em casas de diversões, espetáculos, praças esportivas e similares, ao estudante regularmente matriculado em estabelecimento de ensino público ou particular, de 1º e 3º graus, no Estado do Paraná, na conformidade da presente Lei. § 1º. Para os efeitos desta Lei, considerar-se-á como casa de diversões ou estabelecimentos que realizarem espetáculos musicais, artísticos, circenses, teatrais, cinematográficos, atividades sociais, recreativas, culturais, esportivas, e quaisquer outras que proporcionem lazer, cultura e entretenimento. § 2º. Serão beneficiados por esta Lei os estudantes matriculados em estabelecimentos de ensino público ou particular, de 1º, 2º e 3º graus, cujo funcionamento esteja devidamente autorizado pelo órgão público competente. O Supremo Tribunal Federal, analisando legislação do

Estado de São Paulo, cujo teor é semelhante à lei paranaense de nº 11.182/1995, declarou que o direito à meia-entrada pelo estudante é constitucional e afirmou que integra as relações de usos e costumes da sociedade de nosso país, devendo ser reconhecido como política complementar da formação cultural, intelectual e acadêmica do estudante (ADIN 1950/SP).

2.3 MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2208/2001

Antes de analisar a Medida Provisória nº 2208/2001, importante destacar que esta MP é anterior a Emenda Constitucional nº 32/2001.

Tal esclarecimento se justifica, pois a EC nº 32/2001

atribuiu lapso temporal indeterminado para as Medidas Provisórias que lhe são anteriores.

Dessa maneira, a Medida Provisória nº 2208/2001 é

aplicável ao caso concreto, haja vista que o fato ocorreu na vigência da referida lei.

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Vejamos a literalidade do art. 1º da Medida Provisória nº 2208/200. Verbis:

Art. 1º. A qualificação da situação jurídica de estudante, para efeito de obtenção de eventuais descontos concedidos sobre o valor efetivamente cobrado para o ingresso em estabelecimentos de diversão e eventos culturais, esportivos e de lazer, será feita pela exibição de documento de identificação estudantil expedido pelos correspondentes estabelecimentos de ensino ou pela associação ou agremiação estudantil a que pertença, inclusive pelos que já sejam utilizados, vedada a exclusividade de qualquer deles. Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se nas hipóteses em que sejam oferecidos descontos a estudantes pelos transportes coletivos públicos locais, acompanhada do comprovante de matrícula ou de frequência escolar fornecida pelo seu estabelecimento de ensino.

Dessa forma, com a publicação da Medida Provisória nº

2208/2001, os estudantes passaram a ter uma previsão legal de âmbito nacional, ao direito à meia-entrada em estabelecimentos de diversões e eventos culturais. 2.4 – DO BENEFÍCIO DO PAGAMENTO DE MEIA-ENTRADA PARA ESTUDANTES – LEI 12.933/2013

Atualmente a questão está regulada pela Lei n° 12.933/2013, que dispõe em seu art. 1°. Verbis:

Art. 1o É assegurado aos estudantes o acesso a salas de cinema, cineclubes, teatros, espetáculos musicais e circenses e eventos educativos, esportivos, de lazer e de entretenimento, em todo o território nacional, promovidos por quaisquer entidades e realizados em estabelecimentos públicos ou particulares, mediante pagamento da metade do preço do ingresso efetivamente cobrado do público em geral. A Lei nº 12.933/2013 ampara todos os estudantes de

qualquer nível de ensino (educação infantil, ensino fundamental, médio e superior, inclusive especialização, mestrado e doutorado).

Os estudantes apenas devem comprovar sua condição de

estudante apenas com apresentação da carteirinha estudantil, no momento da aquisição do ingresso na portaria do local que se destina, e isso foi feito pela Requerente.

No entanto, mesmo assim, a Requerente não conseguiu

exercitar o direito de meia-entrada no cinema, pois houve a negativa da vigência da lei de modo injustificado por parte da Ré.

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2.5- APLICAÇÃO DA TEORIA DO RISCO E A RESPONSABILIDADE OBJETIVA A LUZ DO ART. 14 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A teoria do risco acolhe à responsabilidade objetiva, segundo essa teoria, aquele que, através de sua atividade, cria um risco de dano deve ser obrigado a repará-lo, ainda que sua atividade e o seu comportamento sejam isentos de culpa.

Sobre a matéria em exame, pertinente a transcrição da lição de

Silvio Rodrigues:

"Na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do agente causador do dano é de menor relevância, pois, desde que exista relação de causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha este último agido ou não culposamente. RODRIGUES, Silvio. Direito civil. V. 4: Responsabilidade civil. São Paulo : Saraiva. p. 11

Neste sentido importante destacar o entendimento do Ilustre

doutrinador Sérgio Cavalieri Filho:

(...) pela teoria do risco do empreendimento, todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no mercado de consumo tem o dever de responder pelos eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos, independentemente de culpa. Este dever é imanente ao dever de obediência às normas técnicas e de segurança, bem como aos critérios de lealdade, quer perante os bens e serviços ofertados, quer perante os destinatários dessas ofertas. A responsabilidade decorre do simples fato de dispor-se alguém a realizar atividade de produzir, estocar, distribuir e comercializar produtos ou executar determinados serviços. “O fornecedor passa a ser o garante dos produtos e serviços que oferece no mercado, respondendo pela qualidade e segurança dos mesmos.” (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 171).

Assim, em se tratando de relação de consumo e de falha no atendimento, a responsabilidade é objetiva, consoante prevê o art.14, caput, do Código de Defesa do Consumidor. Verbis:

Art. 14 - O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por

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informações insuficientes ou inadequadas sobre fruição e riscos”.

Isso significa dizer que, a culpa do cinema independe de prova, basta apenas à comprovação do dano e do nexo de causalidade entre ambos – atitude da requerida frente ao prejuízo experimentado pelo consumidor.

2.6 - DA RESPONSABILIDADE DA RÉ DIANTE DA EXPLORAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA - UBI COMMODA, IBI SUNT INCOMMODA

Segundo Sérgio Cavalieri Filho, "onde está o ganho, aí reside o encargo - 'ubi emolumentum, ibi onus'"1

No presente caso, vale o brocardo: “cuius commooda eius ou ubi emolumentum ibi onus” (“quem aufere vantagem com certa atividade, deve responder pelo prejuízo que essa atividade venha a causar”. em suma, onde está à vantagem, está o encargo.

Neste assunto, pertinente julgado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Vejamos:

A doutrina nacional, já se inclinou, de há muito, no sentido da aplicabilidade da teoria da responsabilidade pelo risco profissional ao segmento bancário, consolidando, assim, o entendimento de que firmou-se um princípio geral de acordo com o qual os bancos -- por imperativo de justiça distributiva e responsabilidade social -- respondem pelo risco assumido pela exploração lucrativa de suas atividades, vez que, recolhendo as vantagens do seu comércio, deve sofrer, também, sua desvantagem, a qual se consubstancia no próprio risco inerente ao seu exercício ("ubi commoda, ibi sunt incommoda"). (TJSC - Apelação cível n. , de Brusque. Rel. Des. Eládio Torret Rocha. Julgado em 7.8.2008)

Vejamos o entendimento do Excelso Superior Tribunal de

Justiça:

1 Filho, Sérgio Cavalieri, Programa de Responsabilidade Civil, 6ª ed., São

Paulo: Malheiros, 2005, p. 156

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“A teoria do risco do empreendimento, segundo à qual todo aquele que se dispõe a exercer alguma atividade no mercado deve responder pelos danos resultantes do seu empreendimento, independentemente de culpa conforme previsto no art. 927, parágrafo único, do Código Civil. Aplicação da velha parêmia ubi emolumentum ibi ônus”.(STJ - AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.332.432 - RJ (2010/0128876-4 RELATOR : MINISTRO MARCO BUZZI - 16/12/2013) O risco da atividade econômica é do empresário, assim como o lucro, com base no princípio capitalista insculpido na Constituição Federal de 1988. Pela Teoria do Risco, “aquele que lucra com uma situação deve responder pelo risco ou pelas desvantagens dela resultantes” (ubi emolumentum, ibi onus; ubi commoda, ibi incommoda) (REsp 331496/MG RECURSO ESPECIAL 2001/0086594-7).

O serviço é defeituoso, diz o § 1º do citado art. 14, e aqui está o ponto fundamental, quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar. Temos aqui o princípio da segurança, verdadeira cláusula geral consagrada pelo CDC e que serve de fundamento para toda a responsabilidade civil nas relações de consumo.

O Código de defesa do consumidor criou para o fornecedor um dever de segurança — o dever de não lançar no mercado serviço com defeito —, de sorte que, se ao lançar e ocorrer o acidente de consumo, por ele responde independentemente de culpa. Trata-se, em última instância, de uma garantia de idoneidade, um dever especial de segurança do serviço, legitimamente esperada.

O fato gerador da responsabilidade do fornecedor de serviços, como se vê do próprio texto legal, não é mais a conduta culposa, nem a relação jurídica contratual, mas sim o defeito do serviço. Bastará à mera relação de causa e efeito entre o acidente de consumo e o defeito do serviço para ensejar o dever de indenizar, independentemente de culpa.

2.7 - DANO MORAL IN RE IPSA

A doutrina e jurisprudência têm entendido que tal situação gera dano moral presumido - in ré ipsa -, pois não se precisam demonstrar os danos, mas tão somente o evento danoso e o nexo causal ente ambos.

A humilhação sofrida pela Requerente constitui infração grave perante o consumidor, o que significa dizer que o dano moral ocorre assim “in

re ipsa”, por força do próprio fato, justamente pela conduta ilegal da Ré.

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Nesse caso, como já definido pelo STJ, “o dano é considerado inre ipsa, isto é, não se faz necessária a prova do prejuízo, que é presumido e decorre do próprio fato e da experiência comum” (REsp 786.239).

Vejamos a seguinte Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Verbis:

CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRATAMENTO DESRESPEITOSO PARA COM A CLIENTE. DÚVIDA INFUNDADA QUANTO A AUTENTICIDADE DE DOCUMENTO APRESENTADO. OFENSA CONFIGURADA. DANO MORAL INDENIZÁVEL. 1. A RECUSA MANIFESTADA EM PELO FUNCIONÁRIO DA EMPRESA DE CINEMA, EM ACEITAR A C ARTEIRA DE ESTUDANTE APRESENTADA, SOB A JUSTIFICATIVA, MANIFESTADA EM PÚBLICO, DE QUE PODERIA SE TRATAR DE DOCUMENTO FALSO, CAUSA OFENSA À HONRA SUBJETIVA E DANO À IMAGEM DA CONSUMIDORA, QUE DEVE SER INDENIZADA. 2.A INDENIZAÇÃO ARBITRADA COM OBSERVÂNCIA AO GRAU DE CULPA, A REPERCUSSÃO DA OFENSA E A SITUAÇÃO DAS P ARTES, DE ACORDO COM OS ELEMENTOS DOS AUTOS, ATENDE AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. (TJ-DF - ACJ: 2559820058070005 DF 0000255-98.2005.807.0005, Relator: CÉSAR LOYOLA, Data de Julgamento: 28/09/2005, SEGUNDA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DO DF, Data de Publicação: 20/10/2005, DJU Pág. 114 Seção: 3)

A autora passou por grave constrangimento ao ser barrada na portaria do cinema, na presença de outras pessoas, em razão de dúvida, infundada, acerca da autenticidade do documento que utilizou para obter o benefício da meia-entrada.

A negativa em aceitar a carteirinha estudantil manifestada de público, constitui tratamento desrespeitoso e ofensivo à autora, que sem justa causa se viu, aos olhos dos presentes, na condição de pessoa desonesta, sendo que o documento é válido e autêntico.

Ademais, dentro de nosso ordenamento jurídico, todo aquele que causar prejuízo a outrem, está obrigado a reparar o dano causado, assim estabelece a Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso V, c/c artigos 186 e 927 do Código Civil.

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2.8 - DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

O valor da indenização deve possuir caráter pedagógico para que mantenha a postura de responsabilidade social e respeito ao ordenamento jurídico, o que se espera das empresas de cinema.

Deve servir como sanção suficiente a evitar que novos atos ilícitos sejam praticados contra os cidadãos de um modo geral.

A indenização deve ter ainda o condão de reparar o dano sofrido pela parte autora, que indiscutivelmente foi lesada quando ficou exposta ao constrangimento em público ao ser barrada na entrada do cinema. Inegável o desrespeito da parte Ré.

No caso concreto, a função inibitória só surtirá efeito se o valor da condenação tiver expressão suficiente para forçar uma mudança de conduta, de forma que, valores irrisórios não geram o alerta suficiente para adotar uma conduta positiva, até porque serão poucas as vítimas dispostas a movimentar a máquina judiciária em troca de inexpressivo valor, correndo-se o risco de ter-se mais uma lei ignorada, dentre tantas outras neste país, justamente por inexistir sanção com poder coercitivo satisfatório.

Além do mais, o descaso da Requerida com o consumidor não se paga com irrisória quantia.

Critérios para a fixação do dano moral: análise das circunstâncias do caso concreto, tais como a gravidade do fato, a repercussão do dano, o grau de culpa do ofensor e a situação econômico-financeira dos litigantes. Dita reparação deverá atender ao duplo objetivo de compensar a vítima e afligir, razoavelmente, o autor do dano.

O valor da indenização deve ser suficiente para atenuar as consequências da ofensa à honra da parte autora, sem significar enriquecimento sem causa, devendo, ainda, ter o efeito de dissuadir o réu da prática de nova conduta. (Apelação Cível Nº 70053306965, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Leonel Pires Ohlweiler, Julgado em 24/04/2013) (TJ-RS, Relator: Leonel Pires Ohlweiler, Data de Julgamento: 24/04/2013, Nona Câmara Cível)

A humilhação sofrida pela Requerente no cinema viola a

honra subjetiva da pessoa humana, afetando negativamente sua subjetividade e intimidade.

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Diante do exposto, a parte requerente requer a condenação da parte requerida, ao pagamento do valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), por ser valor que representa a reparação do dano, impelindo o Réu a evitar novas práticas do ilícito.

2.9 - DAS INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 6º,

estabelece a inversão do ônus da prova. É uma exceção à regra, que beneficia o consumidor trata-se de um avanço jurídico, que tem o intuito de proteger o hipossuficiente, sempre que necessário, nas relações de consumo.

Levando-se em conta que se a relação jurídica firmada entre

as partes é considerada relação de consumo, vez que a Ré fornece serviços e produtos, requer se necessária, a inversão do ônus da prova, uma vez que o (a) autor (a) é hipossuficiente na real acepção da palavra, possuindo dificuldades na produção de novas provas.

A jurisprudência têm ainda firmado que a inversão é

admissível, como princípio geral de direito processual, quando a parte adversa é depositária da prova, ou das informações que a ela conduzem. Mesmo em havendo dúvida quanto à necessidade de tal prova, deve ser deferida a inversão, precisamente em virtude da dificuldade em produzi-la, em face da probabilidade de vir a ser ela relevante.

2.10. DAS PROVAS QUE INSTRUEM A INICIAL

Apesar de existir a inversão do ônus da prova nesta relação jurídica processual, a Requerente para reforçar os argumentos explanados nesta peça, junta a estes autos os seguintes documentos para prova constitutiva do direito, nos termos do art. 333, inciso I, do CPC:

1 – Carteirinha Estudantil expedida pela Universidade Estadual de Londrina; 2 – Declaração de Matrícula expedida pela Universidade Estadual de Londrina; 3 – Comprovante de cancelamento do ingresso de meia-entrada do cinema, haja vista que a Requerente não conseguiu adentrar no cinema;

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4 – Comprovante de compra da pipoca e água no bombonier (lanchonete do cinema); 5 – Comprovante de estacionamento do carro no Shopping Boulevard; 6 – Comprovante do Ticket de entrada no cinema em que demonstra que a Requerente assistiu ao filme no mês de novembro de 2013 pagando metade do valor do ingresso. Destaca-se que a carteirinha estudantil da Requerente

comprova cabalmente o vínculo estudantil, tanto que sua validade vai até o ano da conclusão do curso, ou seja, até dezembro de 2015, conforme se infere no documento acostado.

Importante ressaltar a Vossa Excelência que no mês de

novembro a Requerente assistiu a um filme no mesmo estabelecimento pagando meia-entrada, de modo que não existe razão em uma segunda oportunidade da Requerente não conseguir exercitar o direito que já fora experimentado em outra ocasião.

Por fim, caso seja necessária à aferição documental de forma

física, apesar de já apresentado digitalmente via PROJUDI, a parte Requerente informa que armazena os já citados documentos em escritório e está de prontidão para depósito em cartório, caso seja determinado por Vossa Excelência.

3 - PEDIDOS

Diante do exposto requer: 1. Seja a parte requerida citada no endereço inicialmente

apontado para, querendo, apresente defesa em audiência a ser designada, sob pena de revelia;

2. A aplicação do Código de Defesa do Consumidor e a

Inversão do Ônus da Prova, nos exatos termos do artigo 6º do CDC; 3. Seja julgada procedente a presente ação, a fim de

condenar o requerido em reparar a parte autora em danos morais, decorrente de ato ilícito, no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), ou, em valor que Vossa Excelência entender;

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4. Sejam os valores devidos a título de indenização por danos morais fixados desde a data do fato, corrigido, na forma da Lei, até o efetivo pagamento;

5. Seja concedido, os Benefícios da Assistência Judiciária ao

Autor nos termos da lei 1.060/50, uma vez que não possui condições financeiras de arcar com despesas processuais sem prejuízo de seu próprio sustento e de sua família.

6. Requer provar o alegado, além dos documentos acostados,

a juntada de outros se necessários, bem como todos os meios de provas permitidos em direito.

Dá o valor da causa em R$ 4.000,00 (quatro mil reais). Termos em que Pede deferimento. Londrina, 16 de março de 2014.

Jorge Antonio Barros Leal André Fernando Pereira Leal Advogado – OAB/PR n. 39.812 Advogado – OAB/PR n. 64.074

Caio Fernandes Nogueira Acadêmico de Direito